SINALIZAÇÃO DE TRILHAS: IMPORTÂNCIA E EFICIÊNCIA

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SINALIZAÇÃO DE TRILHAS: IMPORTÂNCIA E EFICIÊNCIA Vanessa Andretta Turismóloga e Mestranda em Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras - UFLA, E-mail: [email protected]; Tel: (35) 3829-1122/ 9127-6424 Renato Luiz Grisi Macedo Professor do Depto. de Ciências Florestais; Universidade Federal de Lavras – UFLA; E-mail: [email protected]; Maria Rachel Vitorino Professora do Depto. de Educação Física; Universidade Federal de Lavras – UFLA; E-mail: [email protected] Gustavo Salgado Martins Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Federal de Lavras – UFLA E-mail: [email protected] Eixo temático: Ecologia de paisagem: percepção e conservação ambiental. Resumo As trilhas em áreas naturais são a principal ligação entre o visitante e o ambiente natural. Elas podem conduzir o visitante aos atrativos ou ainda ser o próprio atrativo. Para que as trilhas tenham uso adequado, sofram o mínimo impacto e realizem seu papel integralizador do visitante com o ambiente natural, a sinalização é fator primordial. Em muitas Unidades de Conservação e áreas de uso público os visitantes não contam com o auxílio de guias. As placas servem como principal meio de comunicação entre o visitante e os gestores da área. A introdução de placas de sinalização em trilhas é uma importante ferramenta de manejo. Esta sinalização pode se restringir a oferecer informações sobre: localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e proibições ou ainda, servir como instrumento para a interpretação ambiental e educação ambiental. O uso de placas de sinalização podem ser um meio eficiente de comunicação com o visitante, porém existem alguns requisitos importantes para assegurar esta eficiência. As placas devem ser harmoniosas com o ambiente; devem ser construídas com matérias primas locais que ofereçam resistência e durabilidade; devem conter mensagens objetivas com linguagem adequada; devem ser apresentadas em todo percurso dando continuidade à comunicação; podem apresentar pictogramas comumente utilizados no trade turístico agilizando a comunicação; podem apresentar linguagem persuasiva que motivem o

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SINALIZAÇÃO DE TRILHAS: IMPORTÂNCIA E EFICIÊNCIA

Vanessa Andretta Turismóloga e Mestranda em Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras

- UFLA, E-mail: [email protected]; Tel: (35) 3829-1122/ 9127-6424

Renato Luiz Grisi Macedo Professor do Depto. de Ciências Florestais; Universidade Federal de Lavras –

UFLA; E-mail: [email protected];

Maria Rachel Vitorino Professora do Depto. de Educação Física; Universidade Federal de Lavras –

UFLA; E-mail: [email protected]

Gustavo Salgado Martins Graduando em Engenharia Florestal; Universidade Federal de Lavras – UFLA

E-mail: [email protected]

Eixo temático: Ecologia de paisagem: percepção e conservação ambiental.

Resumo As trilhas em áreas naturais são a principal ligação entre o visitante e o ambiente

natural. Elas podem conduzir o visitante aos atrativos ou ainda ser o próprio atrativo. Para

que as trilhas tenham uso adequado, sofram o mínimo impacto e realizem seu papel

integralizador do visitante com o ambiente natural, a sinalização é fator primordial. Em

muitas Unidades de Conservação e áreas de uso público os visitantes não contam com o

auxílio de guias. As placas servem como principal meio de comunicação entre o visitante

e os gestores da área. A introdução de placas de sinalização em trilhas é uma importante

ferramenta de manejo. Esta sinalização pode se restringir a oferecer informações sobre:

localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e proibições ou ainda, servir

como instrumento para a interpretação ambiental e educação ambiental. O uso de placas

de sinalização podem ser um meio eficiente de comunicação com o visitante, porém

existem alguns requisitos importantes para assegurar esta eficiência. As placas devem

ser harmoniosas com o ambiente; devem ser construídas com matérias primas locais que

ofereçam resistência e durabilidade; devem conter mensagens objetivas com linguagem

adequada; devem ser apresentadas em todo percurso dando continuidade à

comunicação; podem apresentar pictogramas comumente utilizados no trade turístico

agilizando a comunicação; podem apresentar linguagem persuasiva que motivem o

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visitante a seguir as orientações oferecidas; dentre outras orientações que podem garantir

o sucesso dessa comunicação. O presente trabalho de análise e reflexão teórica tem o

objetivo de analisar a importância da sinalização de trilhas, a fim de garantir a satisfação

do visitante e principalmente auxiliar os gestores de áreas naturais para conservação das

mesmas.

1. Introdução Trilhas são um tradicional meio de deslocamento, que podem ser definidos

simplesmente como caminho estreito em meio natural que promove o deslocamento entre

os pontos A e B. Porém, as trilhas são caminhos que permitem que o transeunte

atravesse não só o espaço geográfico, como também o espaço histórico e cultural. A trilha

não é apenas o meio que leva o visitante ao atrativo, ela é também a inserção do homem

ao ambiente, podendo ser o próprio atrativo. Podem ser utilizadas como meio de acesso,

como instrumento educativo, como ferramenta recreativa, dentre muitos usos.

Para GUILLAUMON (1977) as trilhas são percursos em um sitio natural, que

propiciam explicações sobre o meio ambiente flora, fauna, fenômenos naturais, usos e

hábitos do local.

SALVATI (2006) afirma que trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com

diferentes formas, comprimentos e larguras, que possuam o objetivo de aproximar o

visitante ao ambiente natural, ou conduzi-lo a um atrativo específico, possibilitando seu

entretenimento ou educação através de sinalizações ou de recursos interpretativos

Um sistema de trilhas é formado por um conjunto de caminhos e percursos

construídos com diversas funções, desde a vigilância até o turismo. Dentre os objetivos

de um sistema de trilhas está a percepção da natureza, ferramenta indispensável para o

manejo de Unidades de Conservação, pois desperta nos visitantes a idéia da importância

desta região. (DUTRA & HERCULIANI) apud. (PAGANI et al., 1997)

As trilhas são classificadas quanto à função (educativas, administrativas,

recreativas, interpretação do ambiente natural e viagens de travessia), quanto à forma

(circular, oito, linear e atalho) e quanto ao grau de dificuldade (caminhada leve, semi-

pesada e pesada) (ANDRADE & ROCHA, 1990).

Se bem construídas e devidamente mantidas, as trilhas protegem o ambiente do

impacto do uso e ainda asseguram aos visitantes maior conforto, segurança e satisfação,

tendo papel significativo na experiência do visitante e na impressão que este levará sobre

a área visitada.

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Apesar das trilhas proporcionarem esta importante interação entre o homem e o

ambiente, elas também proporcionam efeitos adversos. Iniciando pela superfície da trilha,

onde a área afetada pode ser de um metro a partir de cada lado, elas facilitam o

crescimento de plantas tolerantes à luz. O constante pisoteio na trilha acaba destruindo as

plantas por choque mecânico direto e pela compactação do solo. A erosão do solo expõe

as raízes das plantas, dificultando sua sustentação e facilitando a contaminação por

pragas. Os caminhantes também trazem novas espécies para dentro do ecossistema,

principalmente gramíneas e plantas daninhas em geral As trilhas provocam impacto

físico, visual, sonoro e, até, de cheiro. (GUILLAUMON, 1977).

Estes impactos ambientais decorrentes do uso de trilhas são inevitáveis, a questão

a ser discutida é: em que intensidade esses impactos podem ser aceitáveis? É preciso

observar também que o uso de trilhas é uma forma de concentrar e restringir o impacto

ambiental a um itinerário restrito.

O manejo de trilhas é uma ferramenta indispensável às áreas naturais que

recebem uso turístico. Para que o manejo se efetive é necessário realizar um

levantamento de informações e uma coleta de dados sistemática, além de monitoramento

destes impactos, buscando adaptar os métodos de monitoramento por indicadores para

verificação das condições e de amostragem utilizados.

Porém, ainda estamos longe de definirmos como as peculiaridades de cada local

afetam a aplicação de tais métodos e seus indicadores, para podermos adaptá-los e

aplicá-los com facilidade em cada situação encontrada. Isto porque faltam experiências

com o uso destes métodos relatando quais as dificuldades enfrentadas, as soluções

adotadas e seus resultados nas diferentes situações de uso de trilhas observadas no

Brasil (ALVES, 2004).

Dentro das possibilidades dos métodos de manejo de trilhas têm-se diferentes

estratégias para transformar as trilhas em oportunidades prazerosas de educação

ambiental, traduzindo para o visitante os fatos que estão além das aparências, tais como

leis naturais, interações, funcionamentos, história ou fatos que, mesmo aparentes, não

são comumente percebidos, desenvolvendo um novo campo de percepções.

O trabalho de educação ambiental e de interpretação ambiental são as ferramentas

que podem surtir em resultados positivos para a conservação ambiental. Para tanto, são

utilizados dois métodos para desenvolver este importante trabalho: as trilhas guiadas e as

trilhas auto-guiadas, descritas por SALVATI (2006a) como:

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Trilhas guiadas são aquelas acompanhadas por guias ou condutores. Sua principal

característica é o estabelecimento de um canal de comunicação e uma relação afetiva

entre o intérprete e os visitantes. A preparação física e técnica, e os conhecimentos

ecológicos do guia/ condutor de ecoturismo são os principais instrumentos de

investigação e interpretação da região a ser conhecida. Além disso, a vocação natural e a

experiência do guia/ condutor de ecoturismo também são fundamentais para o sucesso

da trilha. A preparação, o conhecimento e a experiência para a interpretação de trilhas

são adquiridas em cursos especializados, em livros, praticando caminhadas e

acompanhando o trabalho de guias/ condutores de ecoturismo mais experientes ou de

mateiros.

As trilhas guiadas são uma boa forma de garantir um contato positivo entre

visitante e a comunidade local, além de oferecer oportunidades de renda à comunidade

receptora.

Já as trilhas auto-guiadas tem como principal função facilitar a caminhada e

permitir o contato dos visitantes com o meio ambiente sem a presença do guia. Assim,

recursos visuais e gráficos indicam a direção a seguir, os elementos a serem destacados

(árvores nativas, plantas medicinais, ninhos de pássaros etc.) e os temas desenvolvidos

(mata ciliar, recursos hídricos, etc.).

As trilhas auto-guiadas oferecem mais liberdade aos visitantes, porém, podem ser

um risco tanto ao visitante, como ao ambiente, caso o mesmo não julgue necessário

atentar-se as comunicações visuais.

Desta forma é mais aconselhável o uso de guias/ condutores locais, mas nem

todas as destinações ecoturísticas contam com guias capacitados para o ecoturismo,

neste caso é essencial que se estabeleça algum tipo de comunicação com o visitante.

A introdução de placas de sinalização em trilhas pode ser uma importante

ferramenta de manejo. Esta sinalização pode se restringir a oferecer informações sobre:

localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e proibições ou ainda, servir

como instrumento para a interpretação ambiental e educação ambiental.

Mas como se comunicar com o visitante através de placas? Essa comunicação

pode ser eficiente?

O objetivo do presente trabalho é descrever a importância da sinalização de trilhas

por meio de placas, e os cuidados necessários para que se possa obter resultados e

efeitos positivos tanto com relação ao visitante como para a conservação ambiental.

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2. Necessidade da Sinalização em trilhas É através da sinalização que são oferecidas informações que substanciam o senso

de posicionamento e o reconhecimento espacial, além de suprir as necessidades básicas

para deslocamentos em lugares desconhecidos do visitante. Muitas áreas naturais de uso

público e Unidades de Conservação (UC´s) carecem de sinalização quanto à localização,

acesso, nome do local, risco de acidentes, possíveis dificuldades, dentre outras

informações que podem por em risco o visitante desinformado.

As destinações turísticas brasileiras contam com o auxílio do Guia Brasileiro de

Sinalização Turística, que é um trabalho desenvolvido pela EMBRATUR com o objetivo de

orientar os gestores de áreas publicas e privadas envolvidas com o turismo, sobre a

melhor forma de sinalizar uma localidade turística.

De acordo com o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (EMBRATUR, 2001) “a

finalidade da sinalização é orientar os usuários, direcionando-os e auxiliando-os a atingir

os destinos pretendidos. Dessa forma, para garantir sua homogeneidade e eficácia, é

preciso que seja concebida e implantada de forma a assegurar a aplicação dos objetivos

e princípios básicos:

a) Legalidade;

b) Padronização;

c) Visibilidade, legibilidade e segurança;

d) Suficiência;

e) Continuidade e coerência

f) Atualidade e valorização

g) Manutenção e conservação “

Porém, no caso especifico de sinalização em áreas naturais deve-se atentar as

peculiaridades. Perder-se em local desconhecido não é nada agradável, contando ainda

que o visitante na maior parte das vezes está: a pé, com poucos suprimentos (água e

alimentos), sem abrigos, sem equipamentos de comunicação e muitas vezes assustado e

cansado.

A presença de placas de sinalização em áreas naturais é primordial em qualquer

localidade que receba visitantes, podendo garantir a segurança destes, e demonstrando

respeito e cuidado com os mesmos.

Em muitas UC´s e áreas de uso público os visitantes não contam com o auxílio de

guias, as placas servem como principal meio de comunicação entre o visitante e os

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gestores da área. Informações sobre a conduta do visitante e sobre cuidados especiais

também devem ser comunicadas através desse meio.

Alguns gestores de áreas naturais optam por comunicar-se com seus visitantes

através de folhetos e folders. Esta prática deve ser realizada com cautela, já que muitos

desses folhetos ou folders acabam sendo descartados pelos visitantes nas trilhas, o que

pode gerar mais lixo.

3. Interferência no ambiente natural Qualquer tipo de instalação realizada em ambiente natural promove certo impacto

ambiental e modifica a paisagem natural. Entretanto, as placas são interferências

estritamente necessárias.

O processo de percepção tem início com a atenção que não é mais do que um

processo de observação seletiva, ou seja, das observações por nós efetuadas. Este

processo faz com que nós percebamos alguns elementos em desfavor de outros. Deste

modo, são vários os fatores que influenciam a atenção, e podem ser fatores externos

(próprios do meio ambiente) e a dos fatores internos (próprios do nosso organismo).

Portanto, para chamar a atenção dos visitantes para que observem a sinalização deve-se

ter cuidado, esta não pode passar despercebida no ambiente, porém não pode destoar do

ambiente e chamar mais atenção que a paisagem natural.

As placas devem ser harmoniosas com o ambiente, dando-se preferência a

matérias-primas locais que apareçam em abundância, e apresentem resistência e

durabilidade.

Os materiais mais utilizados para esta finalidade são a madeira, rochas e metais,

porém todos exigem manutenção e tratamento com vernis ou resinas especiais, que além

de garantir mais durabilidade ao material, podem facilitar a limpeza e dificultar o

vandalismo (pixações). È muito importante que na escolha do material tenha-se a

preocupação de gerar o mínimo impacto, tanto com relação à utilização de recursos

naturais como também com relação a poluição visual.

A dimensão, formato e as cores usadas devem atender as necessidades de

comunicação. Placas com a finalidade de informarem sobre área de risco ou alerta de

perigo devem se destacar com cores quentes e chamativas.

Nunca se deve fixar as placas em árvores e plantas do local. A fixação deve ser

feita em um suporte, que pode ser de madeira ou de rochas empilhadas (tótem) com

altura adequada.

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4. Comunicação Visual A primeira forma utilizada pela humanidade para promover a comunicação foram

os signos e símbolos. No trade turístico é muito comum o uso dos pictogramas (do latim

pictus que significa pintura e do grego gramma que significa escrita), que é um desenho

que sugere uma atividade, serviço ou instalação.

“Pictograma corresponde às ilustrações que sintetizam os tipos de atrativo

turístico e de serviço auxiliar, cujo uso é recomendado para facilitar a identificação do

destino, complementando a função do topônimo e melhorando o esquema de

comunicação com o usuário. O pictograma deve ser de fácil identificação à distância,

constituída por um símbolo na cor preta, sobre campo na forma quadrada de cor branca”.

(EMBRATUR, 2001).

Existem três tipos diferentes de pictogramas:

• O figurativo que representa um objeto ou uma ação referente a este, sendo

que seu desenho está bem próximo à coisa representada;

• O semântico cujos traços gráficos são simplificados, sugerindo

esquematizadamente a idéia, ação ou comportamento através de simples

contornos que as pessoas entendam, pois aprenderam, pelo uso constante,

a entender;

• O abstrato que não representa um objeto específico, mas que faz parte ou

cria um código que será entendido apenas por aquelas pessoas que

aprenderam como usá-lo.

A intenção de qualquer sinalização pictórica é atingir o maior número de

receptores. Entretanto verifica-se que tal procedimento metodológico não é possível

devido a espontaneamente, a criatividade e a cultura de cada região (CARNEIRO, 2001).

A padronização é necessária a fim de que se estabeleça a comunicação entre

emissor e receptor. Esta se mostra possível apenas, a partir do conhecimento prévio de

seus sinais. O uso constante de determinada simbologia permite sua assimilação e

decodificação de tal modo que, quando necessário, é possível interpretá-la corretamente.

No entanto, no Ecoturismo o uso de pictogramas não é comum. Existe a

necessidade de se desenvolver projetos de sinalização ecoturística para se chegar a um

consenso de padronização, o que seria muito útil, já que as informações transmitidas

através de pictogramas podem ser assimiladas com mais rapidez pelo receptor.

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Se de um lado, todo planejamento e implantação do sistema de sinalização devem

contemplar a necessidade do indivíduo, por outro, este último só entenderá a mensagem

se o repertório apresentado for igual ao seu, considerando-se as experiências pessoais e

a diversidade de sua cultura com a cultura da sociedade que o recepciona.

O uso sistemático de pictogramas para a sinalização turística induz ao

aprendizado e conseqüente interpretação.

5. Linguagem persuasiva e afirmativa A comunicação com o ecoturista deve partir da premissa de que ele próprio já

sofreu, ou sofre, em seu cotidiano, com algum tipo de problema ambiental e a viagem ao

ambiente natural objetiva primeiramente o contato positivo com o meio ambiente

(SALVATI, 2006b).

Para que a comunicação através de placas seja eficiente é preciso dar atenção

especial ao tipo de linguagem utilizada. Assim como os textos publicitários, as mensagens

utilizadas nessas placas devem ser objetivas, lúcidas e persuasivas. O leitor deve

assimilar a idéia com facilidade, o mecanismo deve ser: ler, entender e agir.

Recursos lingüísticos e o conhecimento de técnicas podem adequar a linguagem

de tal forma que a tornem mais expressiva no ato de manifestar emoções, intenções,

pensamentos e impressões subjetivas. A linguagem persuasiva pode ser uma técnica

funcional nas mensagens das placas.

De acordo com CITELLI (2003) quem persuade leva o outro à aceitação de uma

dada idéia. È aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da palavra

per + suadere = aconselhar. Persuadir não é sinônimo de enganar, mas também o

resultado de certa organização ao discurso que o constitui como verdadeiro para o

receptor.

Desta forma, a persuasão pode e deve ser usada em placas de sinalização de

trilhas, com um objetivo maior, que é de aconselhar os visitantes sobre a melhor forma de

se portar em determinado ambiente, como forma de auxiliar na conservação ambiental.

A mensagem das placas devem “vender” ao leitor a boa conduta, a prática de

mínimo impacto e a conservação ambiental.

Em muitos dos parques brasileiros e outras áreas utilizadas para o ecoturismo, as

placas limitam a comunicação em apenas ameaçar, restringir e punir o leitor. É comum

encontrarmos placas informando: “È PROIBIDO A PASSAGEM”, “NÃO ENTRE”, ”NÃO

PISE NA GRAMA”, “NÃO PERTURBE OS ANIMAIS”, NÃO ALIMENTE OS ANIMAIS”,

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“PROIBIDO NADAR”, “NÃO JOGUE LIXO”, dentre outras mensagens negativas. Porém,

muitas vezes este tipo de comunicação é tão agressiva ao leitor, que este acaba

rejeitando a informação.

De acordo com os estudos de LORENTZ (2000) a palavra “não” é uma abstração.

O "não", por si só, não diz nada, logo o cérebro se fixa no que vem depois do "não". O uso

de uma linguagem negativa muitas vezes provoca o comportamento que se quer evitar.

A mesma autora afirma que é muito mais difícil e demorado pensar primeiro no

que não fazer para depois pensar no que fazer. A linguagem mais rápida e que obtém

melhores resultados é a linguagem afirmativa; dizer o que deve ser feito. Termos como

“nunca”, “evite”, e outras negativas, tem o mesmo efeito que um “não”.

Assim, as mensagens das placas terão o efeito esperado quando informarem ao

leitor o que estes devem fazer, reforçando o bom comportamento e a conduta adequada.

A comunicação com os ecoturistas, seja ela através de placas ou não, deve

transmitir informações que privilegiem os problemas locais sem esquecer os de âmbito

global. Para tanto, é necessário um profundo conhecimento em ciência ambiental e em

comunicação. A mensagem transmitida não deve ser somente expositiva e unidirecional.

Deve promover a reflexão, a reação, de forma a induzi-lo e motivá-lo a assumir

responsabilidades. Deve-se evitar as mensagens sensacionalistas e catastróficas ou

aquelas que provocam medo e culpa. (SALVATI, 2006b).

SALVATI (2006b) reforça que é fundamental na comunicação, basear-se em

conceitos científicos e introduzir um histórico sobre a relação homem-meio ambiente,

como forma de participar o ecoturista do processo que culminou com o atual estágio de

degradação ambiental. Deve-se salientar que a ciência e a tecnologia são as ferramentas

da destruição e da salvação e que a partir de suas pesquisas é que será construído os

modelos de desenvolvimento sustentável de todas as atividades humanas. A

comunicação no núcleo receptor deve estimular o contato humano entre as diferentes

culturas e ambientes, de forma a estimular e despertar o respeito por todas as formas de

vida.

6- Público-alvo

Para a elaboração das mensagens a serem transmitidas através das placas é

preciso conhecer inicialmente quem é o público alvo.

Tratando-se de UC´s e áreas de uso público destinadas ao ecoturismo existem

estudos que traçam um perfil destes visitantes.

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De acordo com os estudos de BARROS & DINES (2000) e WEARING & NEIL

(2000) os ecoturistas são em maioria de classe média, tem entre 23 e 30 anos e possuem

nível superior completo, e se orientados podem apresentar alto grau de comprometimento

para conservação ambiental

BRACKENBURY citado por SALVATI (2006b) comenta que os consumidores do

ecoturismo tem dado maior atenção aos produtos que dão suporte às comunidades

locais, incrementam a conservação e educam seus clientes sobre como minimizar os

impactos ambientais e como respeitar as culturas locais. De modo geral, querem

informações sobre o destino, as características do meio ambiente e da cultura local.

SALVATI (2006b) cita os resultados da pesquisa da Ecosfera (2001) relacionada

ao perfil dos ecoturistas como:

“- Oriundos de grandes centros urbanos, vivendo cotidianos agitados, estressantes e

isento de contato com a natureza;

- São ávidos por um contato positivo com o meio ambiente e atividades de relaxamento,

contemplação e lazer;

- Procuram acesso às informações sobre o meio ambiente e sobre problemas ambientais;

- Procuram ambientes e culturas diferentes, incomuns e até exóticos, inclusive sobre o

pretexto do "antes que acabem”;

- Possuem bom nível cultural e educacional (maioria possui nível superior) e financeiro;

- Estão situados na faixa etária de 25 a 40 anos;

- Possuem consciência de que pagam mais caro por programas culturalmente e

ambientalmente corretos;

- São preocupados com a qualidade do ambiente e com a qualidade de vida da

comunidade local.”

Tendo em vista este perfil, acredita-se que a linguagem apresentada nas placas

pode ir além de sinalizar localização, acesso, alertas sobre áreas de risco, regras e

proibições, é possível transmitir informações técnicas a estes ecoturistas, que muitas

vezes tem interesse em compreender melhor os processos ecológicos, conhecer o nome

de espécies da fauna e flora, entender costumes locais e principalmente compreender o

limite do seu espaço para que promova o mínimo impacto.

A interpretação ambiental é uma importante e interessante ferramenta, mesmo

com diferentes enfoques continua sendo uma tradução da linguagem da natureza para

linguagem comum das pessoas, fazendo com que percebam um mundo que nunca

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tinham visto antes. E tem sido um dos meios mais utilizados para a sensibilização

ambiental.

A forma como esta tradução é feita é que diferencia a interpretação da simples

comunicação de informações. É uma forma cativa que provoca e estimula a reflexão, com

uma comunicação amena, pertinente, organizada e temática. (VASCONCELLOS, 1997)

7. Considerações finais A introdução de placas de sinalização em trilhas não substitui o importante

trabalho de guias e condutores em UC´s e áreas de uso publico destinadas ao

ecoturismo, porém, sabe-se que a sinalização pode ser uma importante ferramenta de

manejo contribuindo para a sensibilização, conscientização e conservação ambientais.

Alguns cuidados especiais devem ser observados na introdução desta sinalização

para que esta garanta sua eficiência como:

- as placas devem ser harmoniosas com o ambiente;

- devem ser construídas com matérias primas locais que ofereçam resistência e

durabilidade;

- devem conter mensagens objetivas com linguagem adequada;

- devem ser apresentadas em todo percurso dando continuidade à comunicação;

- podem apresentar pictogramas comumente utilizados no trade turístico agilizando

a comunicação;

- podem apresentar linguagem persuasiva que motivem o visitante a seguir as

orientações oferecidas;

- dentre outras orientações que podem garantir o sucesso dessa comunicação.

Aproximar o ecoturista do ambiente natural é um dos objetivos desta comunicação.

Utilizar-se de métodos que desenvolvam a interpretação ambiental e educação ambiental

pode ser garantia de eficiência para a sinalização ecoturística.

8. Referências bibliográficas ALVES, R. G. Manejo e monitoramento de impactos causados pelo uso recreativo em

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