SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

28
 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL “A desordem financeira global do fim dos anos 90 foi o mais recente episódio numa série de „manias,  pânicos e colisõesfinanceiros (para usar o título do livro de Charles Kindleberger  ) que abalaram o capitalismo internacional nos últimos trezentos anos.” (Robert Gilpin)  CONCEITO DE SISTEMA FINANCEIRO - “O sistema financeiro se compõe das instituições econômicas que ajudam a promover o encontro entre poupadores e investidores. (...) poupança e investimento são ingredientes-  chave do crescimento econômico. Quando um país poupa uma parcela substancial de seu  PIB, mais recursos se tornam disponíveis para o investimento em capital, e mais capital aumenta a produtividade e o padrão de vida do país. (...) No nível mais amplo, o sistema financeiro transfere os recursos escassos da economia dos poupadores (pessoas que gastam menos do que ganham) para os tomadores de empréstimo (pessoas que gastam mais do que ganham.” (Mankiw)  As instituições podem ser divididas em duas categorias amplas  mercados financeiros e intermediários financeiros. Mercados financeiros : são as instituições mediante as quais uma pessoa que deseja poupar pode oferecer diretamente fundos a uma pessoa que deseja tomar um empréstimo.  Os dois principais mercados financeiros da economia são o mercado de títulos (um  certificado de endividamento) e o mercado de ações (direito a uma parcela da propriedade de uma empresa). Intermediários financeiros : são instituições financeiras (bancos e fundos mútuos) mediante as quais os poupadores podem fornecer fundos para os tomadores de empréstimos. (Mankiw). HOJE: fundos soberanos, hedge funds e investidores institucionais têm grande peso também. NOTA: A taxa de juros é o preço que se ajusta para equilibrar a oferta e a demanda por dinheiro, para consumo ou investimentos. NOTA: Com a atual crise financeira (que envolve crise de confiança, crise econômica com a queda da produção e diminuição do fluxo de comércio internacional, crise de crédito, etc), a maioria dos países desenvolvidos passou a adotar medidas fiscais expansionistas após verificarem a limitação da eficácia de políticas monetárias, em razão do empoçamento da  liquidez (em momentos de incerteza, a diminuição dos juros, mesmo que a níveis mínimos,  perde parte de sua eficácia em estimular a demanda, vez que a interrupção do empréstimo interbancário e o encarecimento do crédito em geral criam uma preferência pela liquidez  e o sistema financeiro pára de funcionar como intermediador entre poupança e investimentos). A VULNERABILIDADE FINANCEIRA GLOBAL:  Em consequência da desordem  financeira global do fim da década de 1990, os profissionais de economia e muitos governos passaram a mostra-se cada vez mais preocupados (e divididos) quanto às finanças internacionais e à regulação dos fluxos internacionais de capitais e investimentos. Muitos economistas americanos, para não falar do governo Clinton, acreditam que os fluxos financeiros internacionais desempenham um papel de crucial importância; consideram  também que esses fluxos devem manter-se livres de regulamentações governamentais. A

Transcript of SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 1/28

O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E

A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL

“A desordem financeira global do fim dos anos 90 foi o mais recente episódio numa série de „manias,

 pânicos e colisões‟ financeiros (para usar o título do livro de Charles Kindleberger  ) que abalaram o capitalismo internacional nos últimos trezentos anos.” (Robert Gilpin) 

CONCEITO DE SISTEMA FINANCEIRO

- “O sistema financeiro se compõe das instituições econômicas que ajudam a promover oencontro entre poupadores e investidores. (...) poupança e investimento são ingredientes-chave do crescimento econômico. Quando um país poupa uma parcela substancial de seuPIB, mais recursos se tornam disponíveis para o investimento em capital, e mais capitalaumenta a produtividade e o padrão de vida do país. (...) No nível mais amplo, o sistemafinanceiro transfere os recursos escassos da economia dos poupadores (pessoas que

gastam menos do que ganham) para os tomadores de empréstimo (pessoas que gastammais do que ganham.” (Mankiw) 

As instituições podem ser divididas em duas categorias amplas  – mercados financeiros eintermediários financeiros.

Mercados financeiros: são as instituições mediante as quais uma pessoa que desejapoupar pode oferecer diretamente fundos a uma pessoa que deseja tomar um empréstimo.Os dois principais mercados financeiros da economia são o mercado de títulos (umcertificado de endividamento) e o mercado de ações (direito a uma parcela da propriedadede uma empresa).

Intermediários financeiros: são instituições financeiras (bancos e fundos mútuos)mediante as quais os poupadores podem fornecer fundos para os tomadores deempréstimos. (Mankiw). HOJE: fundos soberanos, hedge funds e investidores institucionaistêm grande peso também.

NOTA: A taxa de juros é o preço que se ajusta para equilibrar a oferta e a demanda pordinheiro, para consumo ou investimentos.

NOTA: Com a atual crise financeira (que envolve crise de confiança, crise econômica com aqueda da produção e diminuição do fluxo de comércio internacional, crise de crédito, etc), amaioria dos países desenvolvidos passou a adotar medidas fiscais expansionistas após

verificarem a limitação da eficácia de políticas monetárias, em razão do empoçamento daliquidez (em momentos de incerteza, a diminuição dos juros, mesmo que a níveis mínimos,perde parte de sua eficácia em estimular a demanda, vez que a interrupção do empréstimointerbancário e o encarecimento do crédito em geral criam uma preferência pela liquidez – eo sistema financeiro pára de funcionar como intermediador entre poupança einvestimentos).

A VULNERABILIDADE FINANCEIRA GLOBAL:  “Em consequência da desordemfinanceira global do fim da década de 1990, os profissionais de economia e muitos governospassaram a mostra-se cada vez mais preocupados (e divididos) quanto às finançasinternacionais e à regulação dos fluxos internacionais de capitais e investimentos. Muitoseconomistas americanos, para não falar do governo Clinton, acreditam que os fluxos

financeiros internacionais desempenham um papel de crucial importância; consideramtambém que esses fluxos devem manter-se livres de regulamentações governamentais. A

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 2/28

maioria pensa que o sistema financeiro deve garantir que o capital se movimente deeconomias com poupanças superavitárias para quelas nas quais as oportunidades deinvestimento superam a poupança local, e que o capital deve ter liberdade para mover-seem direção aos lugares e atividades onde seria usado mais eficazmente; desse modo,obter-se-ia uma utilização eficiente dos recursos mundiais de capital, que são escassos.

Com esta finalidade, os mercados, e não os governos ou as organizações internacionais, éque devem governar o sistema financeiro internacional. Além disso, pelo menos desde ogoverno Reagan, os Estados Unidos acreditam firmemente que os interesses financeirosamericanos se haveriam de beneficiar muito com a liberdade de movimentos do capital,tendo empreendido esforços coordenados para abrir economias estrangeiras a estesinvestimentos. O governo Clinton, pela ação do secretário do Tesouro, Robert Rubin, e dovice-secretário Lawrence Summers, levou adiante com entusiasmo esta política. O governoadotou a estratégia de usar a política econômica para promover objetivos de políticaexterna, fazendo da abertura do mundo à irrestrita movimentação de capitais americanosum dos principais objetivos dessa estratégia. Esta ênfase no uso dos mercados abertospara promover a democracia baseou-se na influente e polêmica doutrina da „paz

democrática‟, segundo a qual, como afirmou o presidente Clinton, „as democraciasraramente guerreiam umas às outras‟. 

Entretanto, a crise financeira do Leste Asiático levou muitos outros americanos e muitosgovernos e cidadãos de outros países a se preocuparem cada vez mais com o impactofrequentemente devastador dos movimentos financeiros internacionais. Nos Estados Unidose em outros países, um número significativo e crescente de destacados economistas temcontestado a importância dos fluxos internacionais irrestritos de capitais. Ponderam eles játer sido amplamente demonstrado que o comercio internacional beneficia a economiaglobal, mas que os benefícios da liberdade de movimentos de capital ainda não foramdevidamente demonstrados. Os custos das crises financeiras frequentes para a economiainternacional, por outro lado, tornaram-se dolorosamente flagrantes. Como demonstrouKindleberger, com efeito, a história financeira internacional deixou registro de manias,pânicos e crises especulativos recorrentes. Desse modo, muitos são levados à conclusãode que as relações financeiras internacionais não devem ser totalmente deixadas ao livre jogo das forças de mercado, sendo necessária a adoção de algumas regras ou mecanismospara regular os movimentos internacionais de capital.” (Robert Gilpin, O Desafio doCapitalismo Global – a economia mundial no século XXI, pág. 184)

NOTA: Como cada país decide soberanamente as regras que regem seus mercadosfinanceiros e seus intermediários financeiros, existe uma multiplicidade de regrasdivergentes e certos loopholes (brechas legais) que são aproveitados pelos agenteseconômicos para maximizar seus lucros, furtando-se, ao máximo, a controles

governamentais e a supervisão (isso estimulou, por exemplo, a criação do euromercado nadécada de 1950/1960). O sistema financeiro internacional possui como objetivo evitar queessa disparidade de regras e brechas legais criem riscos sistêmicos que possam gerarcrises financeiras. Essa missão é, no entanto, dificultada hoje pela prevalência dopensamento econômico liberal que defende a não intervenção dos governos na Economia eque rejeita a criação de um órgão internacional que regulamente de forma efetiva asfinanças mundiais, ficando as medidas apenas em apelos a maior transparência, diminuiçãode exposição a riscos, elaboração de regras de conduta e de níveis de capitalização, etc(ver Acordos de Basiléia).

Assim, sem regras rígidas ou um órgão regulamentador das finanças internacionais, aestabilidade do sistema financeiro internacional depende da estabilidade (e credibilidade)

das regras gerais que lhe dão sustentação (principalmente das regras cambiais, queassegurem a manutenção do fluxo de comércio internacional e que evitem ciclos viciosos de

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 3/28

políticas estilo beggar-thy-neighbour) e da disponibilidade de crédito acessível que financieas expansões econômicas e o comércio internacional, por meio de um sistema financeirointernacional saudável e estável. No atual momento, as regras encontram-se (especula-se)em estágio de redefinição, face à crise financeira/econômica internacional. Até pouco tempoatrás, a estabilidade (ou, segundo alguns críticos, a instabilidade) era garantida pelosistema informal chamado de Bretton Woods II (somado a regras de conduta bancáriaestabelecias pelos Acordos de Basiléia I e II), que seguiu ao fim do Sistema Bretton Woodsoficial, em 1971, e que por sua vez havia substituído o sistema do padrão ouro-libra, quevinha do início do século XIX.

A CRISE DA DÉCADA DE 1930 E O FIM DO PADRÃO-OURO DE ESTABILIZAÇAO

TESE : para cada ciclo sistêmico, deve haver uma potência (ou conjunto de potências)hegêmona que estabeleça os paradigmas institucionais e os valores praticados no sistema internacional (ex. alternâncias de Pirenne entre liberdade econômica ou controle econômico 

pelos governos) e que arque com os custos da hegemonia, como a Inglaterra fez sustentando o padrão-ouro no século XIX e os Estados Unidos com o padrão dólar-ouro até 1971 (e as instituições hegemônicas, como a ONU, o FMI e o Banco Mundial)

“A teoria dos ciclos longos [de Krondatieff] permite situar a revolução tecnocientíficacontemporânea [quinto ciclo, de 1990 até ...] na trajetória evolutiva da economia industrial.Esse ciclo de inovações corresponde à ruptura do padrão tecnológico do pós-guerra,assentado sobre a eletrônica de consumo, a petroquímica e a aeronáutica. No seu lugar,estrutura-se um padrão apoiado na microeletrônica, na informática, nas telecomunicações ena biotecnologia.

Os dois primeiros ciclos tecnológicos de Schumpeter estão associados à consolidação e aoapogeu do ciclo britânico do modelo histórico de Arrighi. O terceiro ciclo tecnológicoschumpeteriano assinala a substituição do ciclo britânico pelo ciclo americano de Arrighi.(...)

Esse terceiro ciclo tecnológico ativou a fase de prosperidade econômica e expansãofinanceira dos anos 1920, que desembocou no crash da Bolsa de NY em 1929. O círculovicioso de deflação desencado com o crash foi agravado pelas políticas monetáriasrestritivas e pelas políticas comerciais protecionistas adotadas nos principais paísesindustriais. As importações globais entraram em queda livre, retrocedendo de cerca de 3bilhões de dólares em janeiro de 1929 para menos de 500 milhões em março de 1933. Arecessão tornava-se depressão global, que não foi inteiramente superada até a eclosão da

Segunda Guerra Mundial.

O padrão-ouro constituiu o arcabouço financeiro do “ciclo britânico”, proporcionando umambiente de estabilidade cambial no qual se estruturou a economia global. A GrandeDepressão dos anos 1930 representou o golpe mortal sobre o padrão-ouro e as tentativasde conservá-lo só serviram para agravar a crise econômica global. O colapso desse padrãoassinalou o encerramento da longa hegemonia financeira britânica.” (Demétrio Magnoli,Relações Internacionais – teoria e história)

RESULTADO:  fim do padrão-ouro e da hegemonia britânica e início do ciclo sistêmico americano, calcado em novo padrão tecnológico (petroquímicos, eletrônicos, aviação civil),em nova expansão do capitalismo no globo e em novas estruturas hegemônicas (FMI,Banco Mundial, ONU, etc). O controle de capitais e o capitalismo oligopolista substituiu a 

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 4/28

grande liberdade econômica (políticas de livre-comércio) do século XIX, que correspondia aos interesses da Inglaterra, a potência hegemônica de então.

A ORDEM DE BRETTON WOODS E O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA FINANCEIROINTERNACIONAL PÓS-2GM

- “As grandes guerras mundiais, a recessão dos anos 30 e o desenvolvimento da economiainternacional provocaram perturbações nas economias de todos os países e, porconseguinte, nas relações econômicas internacionais. Isso exigiu a criação de váriasinstituições que regulassem as relações comerciais e financeiras entre países.” (MarcoAntonio Sandoval Vasconcellos, Economia: Micro e Macro)

- As principais instituições do pós-guerra são: ONU, FMI, Banco Mundial, BID e OMC

- Bretton Woods, 1944: criação do FMI e do BIRD (Banco Mundial)

- 1959: criação do BID (ligação com Operação Panamericana, do governo JK)

- 1994: criação da OMC, institucionalizando o GATT, dotando o sistema de comérciointernacional de um órgão de solução de controvérsias e adicionando “novos temas” àsnegociações (propriedade intelectual, compras governamentais, serviços, etc)

- os sistemas de supervisão basearam-se em agências avaliadoras de riscos (queclassificavam a credibilidade de empresas e de países), em avaliações periódicas do FMI(teoricamente, voltado para prevenir o surgimento de crises, por meio de sugestões depolíticas) e do BIS (Banco de Compensações Internacionais) e em acordos internacionais

entre Bancos Centrais (como os Acordos de Basiléia)

AS FINANÇAS INTERNACIONAIS DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:  “No fim daSegunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e outros governos temiam que a totalausência de controles dos movimentos financeiros internacionais desestabilizasse aeconomia internacional, como aconteera na década de 1930, e isto levou à adoção deestritos controles dos fluxos de capital nos primeiros anos do pós-guerra. O Sistema deBretton Woods destinava-se a evitar um retorno à anarquia financeira da GrandeDepressão. Seus fundadores queriam evitar que grandes fluxos internacionais de capitalviessem minar um sistema de taxas de câmbio estáveis e restringir as políticas econômicasdomésticas. A imposição de controles de capital efetivamente contribuiu para a estabilidadee o bom funcionamento do sistema de taxas de câmbio fixas adotado no pós-guerra. Masesta situação mudou nas décadas de 1960 e 1970, à medida que os fluxos internacionaisde capital aumentavam dramaticamanete; a „revolução financeira‟ que então se verificouteve um efeito significativo tanto nas economias nacionais quanto na internacional.

Podemos datar o início de um sistema financeiro verdadeiramente internacional do meadoda década de 1970, quando a Arábia Saudita e outros países exportadores de petróleo,enriquecidos com o aumento dos preços em 1973, investiram seus enormes fundossuperavitários no mercado do eurodólar. Com a estagflação imperando no mundoindustrializado, os bancos internacionais reciclaram uma quantidade substancial de capitaisem eurodólares em direção a países menos desenvolvidos da América Latina e da zona deinfluência socialista no Leste Europeu. Embora muitos economistas e dirigentes políticos se

mostrassem inquietos com os riscos apresentados pelos investimentos em economias tãoinstáveis, sentiram-se tranquilizados pelo presidente do Citibank, Walter Wriston, segundoquem os países „não vão à falência‟. Infelizmente Wriston estava errado, e este boom de

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 5/28

investimentos terminou no fim dos anos 70 e início dos 80 com uma crise financeira da qualcertos países devedores ainda não se recuperaram. Posteriormente, a desregulamentaçãodos mercados financeiros nacionais, as inovações advindas em matéria de instrumentosfinanceiros (como os derivativos) e os avanços nas comunicações redundaram numaumento significativo do nível de integração dos sistemas financeiros nacionais em todo omundo.” (Robert Gilpin, O Desafio do Capitalismo Global  – a economia mundial no séculoXXI, pág. 190)

A CONSTRUÇÃO DAS ESTRUTURAS HEGEMÔNICAS: DIVIDINDO OS CUSTOS DAHEGEMONIA E ASSEGURANDO A PERMANÊNCIA DO SISTEMA

TESE : a ordem de Bretton Woods foi criada para assegurar uma americanização (em termos de valores e ideologias) do sistema internacional e trocar hegemonia por liderança (teoricamente) compartilhada, de forma a encaminhar a visão dos EUA pelo soft-power (convencimento e cooperação voluntária dos outros) e de dividir os custos da hegemonia 

com os demais países do sistema internacional, assegurando sua perduração por meio de desincentivos a políticas que atentem ao status-quo. O Sistema de Bretton Woods, por ser maleável (mas com limites impostos pelos EUA e, em menor proporção, pelos seus co- garantes europeus), consegue absorver contestadores do status-quo (como poderiam ser a China e outros países então economicamente periféricos no pós-2GM) tornando-os „ responsible stakeholders ‟ (na expressão de Robert Zoellick) do sistema.

“In this view, the drama of China‟s rise will feature an increasingly powerful China and adeclining United States locked in an epic battle over the rules and leadership of theinternational system. And as the world‟s largest country emerges not from within but outsidethe established post-World War II international order, it is a drama that will end with the granascendance of China and the onset of an Asian-centered world order.

That course, however, is not inevitable. The rise of China does not have to trigger awrenching hegemonic transition. The US-Chinese power transition can be very different fromthose of the past because China faces and international order that is fundamentally differentfrom those that past rising states confronted. China does not just face the United States; itfaces a Western-centered system that is open, integrated, and rule-based, with wide anddeep political foundations. The nuclear revolution, meanwhile, has made war among greatpowers unlikely  – eliminating the major tool that rising powers have used to overturninternational systems defended by declining hegemonic states. Today‟s Western order, inshort, is hard to overturn and easy to join.

This unusually durable and expansive order is itself the product of farsighted US leadership.After World War II, the United States did not simply establish itself as the leading worldpower. It led in the creation of universal institutions that not only invited global membershipbut also brought democracies and market societies close together. It built and order thatfacilitated the participation and integration of both established great powers and newlyindependent states. (It is often forgotten that this postwar order was designed in large part toreintegrate the defeated Axis states and the beleaguered Allied states into a unifiedinternational system.) Today, China can gain full access to and thrive within this system. Andif it does, China will rise, but the Western order  – if managed properly – will live on.” (JohnIkenberry, The Rise of China and the Future of the West  – can the liberal system survive?,Foreign Affairs jan/feb 2008, vol. 87, number 1)

No mesmo sentido, Daniel Drezner argumenta que: “China‟s efforts do not necessarilyconflict with US interests, but they could IF Beijing so desired. From a US perspective, it

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 6/28

would be preferable for China and India to advance their interests within US-led globalgovernance structures rather than outside of them. The United States could get something inreturn for accommodating these institutions such as the UN and the IMF and giving them therecognition and prestige they demand: a commitment by Beijing and New Delhi that theyaccept the key rules of the global game.” (The New New World Order, Foreign Affairs,march/april 2007, vol. 86, number 2)

TESE:  Assim, as alterações hoje demandadas pelos países emergentes (como os BRICs)em relação ao poder de voto no FMI e EM outras instituições de governança mundial correspondem a natural tentativa desses países de se integrarem no sistema ao invés de tentar derrubá-lo (ou de criarem suas próprias estruturas hegemônicas). Os EUA e a Europa, que possuem grande interesse na manutenção do atual sistema, agirão em conformidade com seus interesses nacionais se abdicarem de parcela de seu poder nesses órgãos para acomodar as demandas por representatividade (poder) dos países emergentes,ao que o Brasil poderá se beneficiar.

O SISTEMA DE BRETTON WOODS: ORIGENS

“Quatro dias após Pearl Harbor, o secretário do Tesouro, Henry Morgenthau Jr., pediu aoseu secretário assistente [...] que preparasse um esboço para o sistema monetário do pós-guerra. [...] A irrealidade de tudo isso facilitou o desenho de uma visão integrada e ideal daordem no pós-guerra. As propostas de segurança (Nações Unidas) e econômicas (BrettonWoods) caminharam lado a lado, „tão interdependentes quanto as lâminas de uma tesoura‟,como as descreveria depois Morgenthau. Em conjunto, as propostas americanasprojetavam a visão abrangente de uma comunidade política compartilhada no pós-guerra,baseada em valores liberais de liberdade econômica (lei) e competição econômica(comércio). „A segurança econômica‟, conforme observa Robert Pollard, significava que „osinteresses americanos seriam servidos por um sistêma econômico aberto, em contrastecom um grande sistema militar em tempos de paz.” (Henry Nau, citado por DemétrioMagnoli, obra cit.)

“A Conferência de Bretton Woods foi precedida pelos planos White e Keynes, queapresentavam abordagens distintas no que diz respeito ao problema do financiamento dossaldos devedores nacionais. O Plano White, formulado em 1942 pelo secretário-assistentedo Tesouro americano, Harry D. White, focalizava a sua atenção na estabilidade de preçosinternos e internacionais. O plano preconizava a criação de um Fundo de Estabilizações dasNações Unidas, que deveria estabelecer bandas cambiais estreiras. Essas bandas sópoderiam ser alteradas pelo voto de 80% dos Estados integrantes do Fundo. Na votação

sobre as taxas de câmbio, cada Estado teria apenas um voto, o que representava, do pontode vista de Washington, uma surpreendente abdicação de soberania sobre a sua própriamoeda.

O plano americano repudiava o capitalismo nacional de comando, tal como praticado nadécada de 1930 pela Alemanha. Sustentava a necessidade de liberalização progressiva docomércio internacional, por meio da redução negociada das barreiras tarifárias, masoferecia níveis modestos de financiamento externo para países atingidos por desequilíbriosno balanço de pagamentos, de modo que o ajuste econômico desses países dependeriadas suas políticas internas. Nesse aspecto, a proposta assemelhava-se perigosamente aoantigo padrão-ouro.

(...) Em Bretton Woods chegou-se a um compromisso entre os dois projetos [Plano White ePlano Keynes]. O FMI foi criado com recursos totais de 8,8 bilhões de dólares, muito menos

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 7/28

que os 26 bilhões sonhados por Keynes para a União de Compensação. No entanto, osEstados Unidos acabaram por aceitar muito menos ingerência internacional que a previstapelo Plano White, possibilitando ajustes nacionais baseados na desvalorização cambial e noprotecionismo.

O padrão dólar-ouro, que emergiu de Bretton Woods, expressava o compromisso e erguia-se sobre a ambiguidade. No acordo que criou o FMI, permitia-se uma mudança única de10% na taxa de câmbio dos países-membros, desde que justificada como forma de corrigir„desequilíbrios fundamentais‟ no balanço de pagamentos. O Fundo poderia publicar umrelatório criticando políticas dos países-membros que atentassem contra o equilíbrio dascontas externas. White revelou a sua adesão ao compromisso ao qualificar o sistemamonetário como „estável, ainda que moderadamente flexível‟, e comparou a flexibilidadecambial ca oscilação normal do Empire State Building.

No fim das contas, a ordem de Bretton Woods acabou refletindo a tríade de políticas deestabilidade de preços, mercados flexíveis e comércio internacional tendente ao liberalismoque era advogado por Washington. Essa tríade de políticas foi, na prática, imposta à Europa

por meio de acordos do Plano Marshall, que selaram a hegemonia estratégica americana(grifos meus)

As instituições de Bretton Woods desempenharam funções marginais na fase dareconstrução do pós-guerra. O FMI funcionou como emprestador de porte relativamentepequeno até o início da década de 1960, para só depois ampliar os Direitos Especiais deSaque (SDRs). O Banco Mundial praticamente circunscreveu a sua atuação à reconstruçãodurante as primeiras duas décadas de existência, até que finalmente voltou-se para ofinanciamento do desenvolvimento. O GATT, criado em 1947, realizou a sua primeiranegociação verdadeiramente global  – a Rodada Kennedy  – entre 1964 e 1967. Essasinstituições passaram, de fato, a desempenhar papéis de primeiro plano no momento emque se completava a descolonização afro-asiática e os países em desenvolvimentoincorporavam-se plenamente ao sistema internacional de Estados.” (Demétrio Magnoli, obracit.)

PROBLEMA: a literatura muitas vezes omite, mas o fato é que o FMI só conseguiu exercer realmente seu mandato de controle/estabilização das taxas de câmbio após 1958, e desse ano somente até 1971 (data em que houve a ruptura unilateral americana com o sistema de Bretton Woods, com o retorno à flutuação das moedas). Isso ocorreu porque muitos países europeus (principalmente a Inglaterra) passaram, no imediato pós-2GM, a adotar medidas protecionistas (ex. libras bloqueadas) e a desvalorizar suas moedas em níveis muito superiores à banda permitida, em razão da crise econômica gerada pela destruição da Segunda Guerra Mundial. A estabilização efetiva veio a ocorrer somente a partir de 1958,

quando a Europa já havia se recuperado, encontrava-se em fase de grande expansão comercial (catching up com EUA) e começava a sua cooperação intra-estatal,desenvolvendo o que viria a se tornar a União Européia.

O FIM DO SISTEMA DE BRETTON WOODS, A FLUTUAÇÃO DAS MOEDAS E OSISTEMA BRETTON WOODS II

“ Se cair a roda de seu carro, não adianta rebatizá-lo de triciclo .” (Sir Kit McMahon) 

REFORMULAÇÃO DO SISTEMA: “A partir de 1973 o mundo convive com taxas de câmbioflutuantes determinadas pelo mercado e sujeitas a intervenções dos Bancos Centrais e aacordos multilaterais. Esta nova ordem é um sistema ou um não sistema?

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 8/28

Em Janeiro de 1976, em reunião realizada em Kingston, Jamaica, o FMI alterou seusestatutos: o preço oficial do ouro foi abolido e deu-se maior importância aos DireitosEspeciais de Saque (DES) nas reservas internacionais; deu-se liberdade aos países-membros do Fundo para administrar suas taxas de câmbio, embora se defendesse a“supervisão firme” do FMI; o dólar, o iene e a libra flutuavam, mas com a intervenção deseus bancos centrais.

Os membros da CEE assinaram acordos para restringir as flutuações das taxas de câmbioentre suas moedas, permitindo no entanto flutuações com referência a terceiras moedas.Este sistema ficou conhecido pelo nome de Serpente (1971). Em 1979 ele foi substituídopelo Sistema Monetário Europeu. (fonte: site do Prof. Luiz Carlos Delorme Prado)

EXPLICAÇÃO DO FMI: “By the early 1960s, the U.S. dollar's fixed value against gold, underthe Bretton Woods system of fixed exchange rates, was seen as overvalued. A sizableincrease in domestic spending on President Lyndon Johnson's Great Society programs anda rise in military spending caused by the Vietnam War gradually worsened the overvaluationof the dollar.

End of Bretton Woods system 

The system dissolved between 1968 and 1973. In August 1971, U.S. President RichardNixon announced the "temporary" suspension of the dollar's convertibility into gold. Whilethe dollar had struggled throughout most of the 1960s within the parity established at BrettonWoods, this crisis marked the breakdown of the system. An attempt to revive the fixedexchange rates failed, and by March 1973 the major currencies began to float against eachother.

Since the collapse of the Bretton Woods system, IMF members have been free to choose

any form of exchange arrangement they wish (except pegging their currency to gold):allowing the currency to float freely, pegging it to another currency or a basket of currencies,adopting the currency of another country, participating in a currency bloc, or forming part of amonetary union.” (fonte: site do FMI)

TESE: Pelo fato de o dólar ter se tornado a moeda de reserva internacional e o referencial de conta nas transações, os EUA puderam se beneficiar das poupanças externas e assim aumentar seu bem-estar por meio do aumento consumo da população, mesmo depois do fim do sistema de Bretton Woods em 1971, quando iniciou-se o que muitos economistas chamam de Bretton Woods II. A estabilidade do sistema financeiro internacional, até então garantida pelo sistema de convertibilidade do dólar em ouro, passou a ser  “ garantida ” por um arranjo altamente instável, chamado de Bretton Woods II, a que economistas como 

Nouriel Roubini previam não ser possível durar por muito tempo.

“The Bretton Woods regime for managing the international monetary system was inherentlyunstable because of the Triffin dilemma. Nevertheless, the true Bretton Woods system didlast for 14 years (1958-1971). It lasted for eleven years after Triffin explained the systemcouldn't last forever.

Economists are labelling the current monetary arrangements as Bretton Woods 2. Under thissystem, the U.S. is running massive current account deficits to be the source of export-ledgrowth for other countries. To fund this deficit, central banks, particularly those on the PacificRim, are buying up dollars and dollar-denominated assets.

The dollar‟s fall in value relative to the euro is costly for the central banks holding largeamounts of dollar-denominated assets. In purchasing so many dollars, these banks have a

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 9/28

powerful incentive to ensure that their investment retains its value -- but they have an equallypowerful incentive to sell off their dollars if it appears that they will rapidly depreciate. Thiscost creates a dilemma for these central banks. Collectively, these central banks have anincentive to hold on to their dollars, so as to maintain its value on world currency markets.Individually, each central bank has an incentive to sell dollars and diversify its holdings intoother hard currencies. This fear of defection leads to a classic prisoner‟s dilemma and therisk that these central banks will simultaneously try to diversify their currency portfoliosposes the greatest threat toward a run on the dollar.

So, the stability of this arrangement depends heavily on how much cooperation there isamong the official purchasers of the dollar, and the extent to which these institutions arewilling to absorb the costs of holding a depreciating asset compared to the benefit ofsubsidizing export-led growth as a means of absorbing underutilized labor.” (fonte: DanielDrezner, site http://www.danieldrezner.com/archives/001912.html)

O DILEMA DE TRIFFIN:  “The Triffin dilemma, less commonly called Triffin paradox, isthe fundamental problem of the United States dollar's role as reserve currency in the Bretton

Woods system, or more generally of a national currency as reserve currency.

Briefly, the use of a national currency as global reserve currency leads to a tension betweennational monetary policy and global monetary policy.

This is reflected in fundamental imbalances in the balance of payments, specifically thecurrent account: to maintain all desired goals, dollars must both overall flow out of the UnitedStates, but must also flow in to the United States, which cannot both happen at once.

The dilemma is named after Belgian-American economist Robert Triffin, who first identifiedthe problem in 1960” (fonte: wikipedia) 

NOTA: “Atualmente, a China tem um enorme interesse em tudo o que acontece com o dólarporque acumulou bem mais do que US$ 1 trilhão em bens graças a seu recentecrescimento econômico. Por isso, a China tem interesse em um dólar forte. Mas Pequimtambém tem o poder de prejudicar a moeda americana se escolher mudar seus bens. Osecretário do Tesouro americano, Henry Paulson, descreveu isso com "equilíbrio do terrorfinanceiro".” (site BBC Brasil, 21 de novembro de 2008) 

TESE: o constante déficit comercial dos EUA, que por muito tempo funcionou como fonte de crescimento mundial da economia, somente pode se sustentar enquanto o dólar se mantiver como a principal moeda de reserva internacional e enquanto o resto do mundo continuar disposto a investir sua poupança nos EUA, por meio de empréstimos ou de investimentos 

(sistema Bretton Woods II). A atual crise financeira/econômica mundial aparentemente impossibilita que esse arranjo informal continue (ao menos em sua intensidade atual), em razão da crise de confiança no valor do dólar como reserva de valor e na capacidade de longo prazo dos EUA em continuarem a manterem déficits gigantescos. Isso impõe a criação de novas regras que efetivamente estabilizem o sistema financeiro internacional, por meio da melhora da supervisão e da regulamentação bancária e dos mercados de capitais,algo a que os EUA refutam (para superar a atual crise, os Estados Unidos favoreceriam mais gastos governamentais, enquanto a maior parte dos líderes europeus seria favorável a uma regulamentação maior do sistema financeiro). Caso um novo sistema financeiro internacional seja criado, com o fortalecimento de instituições de governança global como o FMI, o BIS, ou mesmo de organizações como o G-8 ou o G-20 financeiro, isso representará grande oportunidade para o Brasil (e os BRICs) aumentar seu perfil internacional e seu poder global (tanto em termos absolutos quanto em termos relativos).

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 10/28

 

O FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI)

- O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que pretende

assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial pelo monitoramento dastaxas de câmbio e da balança de pagamentos, através de assistência técnica e financeira.Sua sede é em Washington, DC, EUA. 

- O FMI é uma organização de 185 países.

NOTA: à exceção de Coréia do Norte,  Cuba,  Liechtenstein,  Andorra,  Mônaco,  Tuvalu eNauru, todos os membros da ONU fazem parte do FMI. Para um país ser membro do BancoMundial, ele também deve ser aceito no FMI.

- Objetivos do FMI:

  Promover a cooperação monetária internacional, fornecendo um mecanismo deconsulta e colaboração na resolução dos problemas financeiros;

  Favorecer a expansão equilibrada do comércio, proporcionando níveis elevados deemprego e trazendo desenvolvimento dos recursos produtivos;

  Oferecer ajuda financeira aos países membros em dificuldades econômicas,emprestando recursos com prazos limitados;

  Contribuir para a instituição de um sistema multilateral de pagamentos e promover aestabilidade dos câmbios

Autoridade decisória máxima do FMI:  Assembleia de Governadores, formada por umrepresentante titular e um alterno de cada país membro, geralmente ministros da economia

ou presidentes dos bancos centrais.

Diretoria executiva: composta por 24 membros eleitos ou indicados pelos países ougrupos de países membros, é responsável pelas atividades operacionais do Fundo e devereportar-se anualmente à Assembleia de Governadores. A diretoria executiva concentrasuas atividades na análise da situação específica de países ou no exame de questões comoo estado da economia mundial e do mercado internacional de capitais, a situaçãoeconomica da instituição, monitoramento economico e programas de assistência financeirado Fundo.

Em razão de um acordo não escrito entre EUA e países europeus, o presidente do FMI ésempre um europeu, enquanto que o presidente do Banco Mundial é sempre um americano.

As discussões a respeito dos problemas financeiros das nações e suas possíveis soluçõessão discutidas três vezes por semana, e constitui dever da Diretoria Executiva. Ela écomposta por 24 representantes. Existem 8 assentos permanentes e 16 membros dadiretoria são eleitos bienalmente entre grupos de países. Os membros e seus respectivosgrupos são:

  Permanentes: Estados Unidos (único acionista com poder de veto, pois as decisõesdevem ser tomadas com 85% dos votos e os EUA detém, sozinhos, 17% dos votos),Japão, Alemanha, França, Reino Unido, China, Rússia e Arábia Saudita. 

  O Brasil é um dos membros eleitos. Seu grupo é composto, em sua maioria, de

países da América Central/Caribe. Atualmente, Paulo Nogueira Batista é orepresentante brasileiro (e de mais 8 países) na Diretoria Executiva do FMI.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 11/28

Brasil Brasil,  Colômbia,  República Dominicana,  Equador,  Guiana,  Haiti,  Panamá, Suriname, Trindade e Tobago

Nota: Existe perspectivas de aumento no poder decisório dos países emergentes(principalmente os BRICs), com apoio expresso dos EUA: “O secretário americano afirmouespecificamente que a composição do Conselho Executivo do FMI "deve refletir melhor asrealidades da economia mundial". Esse órgão, no qual 24 diretores representam os 185países-membros, é o que toma as decisões cotidianas no organismo. "Apoio a redução dotamanho do conselho de 24 a 22 cadeiras em 2010 e a 20 cadeiras para 2012, ao mesmotempo em que se preserva o número existente de cadeiras dos mercados emergentes e dospaíses em desenvolvimento", explicou Geithner. Na prática, essa proposta implica aredução da presença da Europa nesse órgão. Os representantes do continente europeudesignam ou têm grande influência na nomeação de nove dos 24 ocupantes do Conselho.”(Folha de SP, 25 de abril de 2009)

Moeda: O ativo financeiro do FMI é o Direito Especial de Saque. Substitui o ouro e o dólar

para efeitos de troca. Funciona apenas entre Bancos Centrais e também pode ser trocadopor moeda corrente com o aval do FMI. Tendo sido criado em 1969, começou a ser utilizadoapenas em 1981. Seu valor é determinado pela variação média da taxa de câmbio doscinco maiores exportadores do mundo: França (Euro), Alemanha (Euro), Japão (iene),Reino Unido (libra esterlina) e Estados Unidos (dólar estadunidense). A partir de 1999, oeuro substituiu as moedas francesa e alemã neste cálculo. O Fundo possui hoje,aproximadamente, U$ 310 bilhões, ou DES 213 bilhões, disponíveis para empréstimo.

NOTA: a China propôs que uma nova moeda, a ser criada  – ou então o próprio DireitoEspecial de Saque, de forma temporária -, substitua o dólar enquanto moeda internacionalde reserva (ver adiante).

*A CHINA E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL: “(...) papel crescente da China,que está se impondo como um dos principais protagonistas do G-20. A cúpula de Londressem dúvida consagra o dragão chinês como uma das principais potências emergentes. Atébem pouco tempo se discutia se a China poderia ou deveria se somar à Rússia no âmbitodo G-8. Como observava o ensaísta Timothy Garton Ash, até pouco tempo atrás a políticachinesa parecia vestir-se de modéstia, como se o dragão fosse um lagarto. Há poucotempo, o dragão despertou. Prova disso são as multiplicações das turnês internacionais dopresidente e do vice-presidente da China pela África, Ásia e inclusive pela América Latina.(...) Também chama a atenção como, já há alguns meses, os líderes chineses vemmultiplicando as ações e propostas para mudar o sistema internacional. Em artigo recente,o presidente do Banco Central chinês sugere a criação de uma moeda de reserva

internacional acima do dólar e das demais divisas. No mesmo âmbito monetário, a exemplodo Federal Reserve (banco central dos EUA), o BC também concretizou acordos de swapde moeda. Até agora, assinou seis acordos no total, na maioria com países asiáticos, mas oúltimo ocorreu com um país da América Latina - a Argentina. Como se não bastasse, aChina agora está fechando o seu terceiro acordo comercial com um país da América Latina,ou seja, com a Costa Rica, depois de tê-lo feito com Chile e Peru. Na recente Cúpula doBanco Interamericano de Desenvolvimento, ocorrida em Medelin no fim de março, a Chinaestreou como novo membro deste organismo. O fato de a América Latina estar no radarchinês é em si positivo para a região.” (Valor Econômico, 27 de abril de 2009) 

TESE:  a presente crise mundial é vista como oportunidade para a China renegociar sua inserção internacional e acelerar a alteração de seu status na comunidade das Nações,

efetuando sua “ascensão pacífica” à condição de potência, destoando do perfil discreto atéentão praticado. Outros indícios disso: Olimpíadas em Pequim, que visaram passar ao 

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 12/28

mundo uma imagem de modernidade; realização de teste de mísseis anti-satélites; declarações oficiais mais altivas; confrontações com embarcações americanas (supostamente praticando espionagem) em águas chinesas; etc.

NOTA: o G-20 financeiro propôs aumentar o dinheiro disponível para empréstimos do FMI,

como medida de auxílio aos países em crise (ver adiante).Cotas: cada país membro detém no FMI uma cota determinada, de início, com base emseus indicadores econômicos, entre eles o PIB (hoje as proporções encontram-sedefesadas, com países como a Bélgica com cotas semelhantes a de paíseseconomicamente maiores, como Brasil). Quanto maior a contribuição ao FMI, maior é opeso do voto nas decisões. Há uma revisão geral das cotas a cada cinco anos. O Fundopode propor um aumento nas cotas de determinado país, mas é necessária a aprovaçãopor 85 % dos votos para qualquer modificação. Os membros que queiram aumentar suacota devem pagar ao Fundo a mesma quantia em DES correspondente ao aumento. Oscinco maiores acionistas são: Estados Unidos,  Alemanha, Japão,  França e Reino Unido. Cada país pode sacar 25 % de sua cota correspondente. Acima deste percentual, é preciso

assinar um termo (carta de intenções, atrelada geralmente a um memorando técnico deentendimento) onde se compromete a reduzir o déficit fiscal e promover a estabilizaçãomonetária. A partir de 1980, o FMI passa a funcionar como supervisor da dívida externa.Recentemente, o combate à pobreza mundial vem-se tornando uma preocupação central.

Formas de Financiamento a países:

  SBA - Acordo Stand-by (Stand-by agreement) - é a política mais comum deempréstimos do FMI. É utilizada desde 1952 em países com problemas de curtoprazo na balança de pagamentos. Essa política envolve apenas o financiamentodireto de 12 a 18 meses. O prazo de pagamento vai de três a cinco anos. Sãocobrados juros fixos de 2,22% mais uma taxa variável que pode chegar a 2%

  ESF - Programa de Contenção de choques externos (Exogenous ShocksFacility) - Crises e/ou conflitos temporários vinculadas a outros países e que influemno comércio, flutuações no preço de commodities, desastres naturais. Duram de 1 a2 anos. Foca apenas nas causas do choque. Todos os membros podem pleitearesse empréstimo, mas sob as regras de um Plano de Assistência Emergencial.

  EFF - Programa de Financiamento Ampliado (Extended Fund Facility) -Problemas de médio prazo, destinados àqueles países que possuem problemasestruturais no balanço de pagamentos. Procura-se resolver os problemas através dereformas e privatizações. Seu prazo vai de 3 a 5 anos.

  SRF -Programa de Financiamento de Reserva Suplementar (SupplementalReserve Facility) - problemas de curto prazo de mais difícil resolução, como a

perda de confiança no mercado ou ataques especulativos. Esses empréstimos sãopagos em um prazo de até dois anos e, sobre eles, são cobrados juros fixos de2,22% ao ano mais uma taxa que varia de 3% a 5%

  PRGF - Programa de Financiamento para Redução da Pobreza eDesenvolvimento (Poverty Reduction and Growth Facility) - destinada a paísespobres. Está ligada às estratégias de combate à pobreza e retomada docrescimento. É exigido um documento do país membro contendo as estratégias paracombate à pobreza. Com taxas de 0,5 % anuais, e podem ser pagos com prazo de5½ a 10 anos.

  Assistência Emergencial (Emergency Assistance), para auxilio a países quesofreram catástrofes naturais ou foram palco de conflitos militares e ficarameconomicamente desestabilizados.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 13/28

NOTA: recentemente, em razão da crise financeira mundial, foi criada a Linha de CréditoFlexível, que permite a países em dificuldade sacar recursos sem as tradicionaiscondicionalidades do Fundo - como intromissão na política de juros ou de despesaspúblicas.

LINHA DE CRÉDITO FLEXÍVEL: “A organização reformulou o modo de fazer empréstimosa países membros, tendo em vista a piora da crise econômica global, e criou uma novalinha de crédito flexível para economias emergentes bem geridas. A nova linha de créditonão estabelece condições após a realização do empréstimo nem impõe limites às quantiasemprestadas. Mas ela é voltada para países em desenvolvimento que, na avaliação doFundo, estejam conduzindo bem as suas economias. (...) Segundo Strauss-Kahn, a medidaajudará o FMI a ''responder de forma eficaz às diferentes necessidades de nossosmembros. E, por sua vez, ajudá-los a avaliar a crise e retomar o crescimento sustentável''.Segundo o Fundo, a linha de crédito serviria como um ''instrumento de precaução'' epoderia ser acionada a qualquer momento pelos países-membros. Com a crise econômica,o FMI tem sofrido pressões para apresentar mudanças.” (site da BBC Brasil, 24 de marçode 2009)

FMI E A CRISE:  “O FMI (Fundo Monetário Internacional) distribuirá US$ 250 bilhões nospróximos seis meses para fortalecer as reservas dos países-membros, segundo o decididohoje pelo Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, em inglês), principal órgãoexecutivo da entidade. Cada país receberá recursos de acordo com sua cota departicipação no FMI. Com isso, os países desenvolvidos ficarão com aproximadamente 60%dos US$ 250 bilhões. Apesar de apoiarem a distribuição, Brasil e Argentina, em nome dediversas nações da América Latina, se queixaram na reunião do IMFC por causa de taldesigualdade. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu uma segunda distribuição derecursos especificamente para os países em desenvolvimento.” (Folha de SP, 25 de abril de2009)

AUMENTO DOS RECURSOS PARA EMPRÉSTIMOS DO FMI: “Em abril, durante oencontro em Londres, os principais líderes mundiais concordaram em cooperarestreitamente para impulsionar a economia mundial e reformar as instituições financeiras.Entre as principais medidas anunciadas no encontro, as nações concordaram em reservarfundos da ordem de US$ 1 trilhão ao FMI.” (Folha de SP, 27 de abril de 2009) 

NOVOS RUMOS/PERFIL PARA O FMI: “Em pouco mais de seis meses, a crise financeiraglobal produziu mudanças no FMI (Fundo Monetário Internacional) que quase cinco anos denegociações entre países desenvolvidos e emergentes não haviam conseguido.Paradoxalmente, a crise também tirou o FMI do "limbo" em que estava metido. Há um ano,a discussão em Washington era como o Fundo se financiaria e quantos funcionários

demitiria. Agora, o FMI sai de sua reunião encerrada ontem com a promessa dos países dereforçar seu caixa em pelo menos mais US$ 500 bilhões. (...)Na prática, o "secretariado" dos países emergentes que participam no G20 são, quasetodos, seus funcionários no FMI. Por isso, têm tentado avançar em grupo tanto na direçãode consolidar as mudanças no Fundo quanto para estabelecer o G20 como principal fóruminternacional do mundo. Além de procurar consolidar o G20, os emergentes conseguiram,nos últimos seis meses, ao menos três avanços de seu interesse e consideradosfundamentais, entre eles:1) Já está funcionando a Linha de Crédito Flexível, que permite a países em dificuldadesacar recursos sem as tradicionais condicionalidades do Fundo - como intromissão napolítica de juros ou de despesas públicas. O México já tomou US$ 47 bilhões. Colômbia(US$ 10 bilhões) e Polônia (US$ 20 bilhões) são os próximos;

2) Ficou marcada para janeiro de 2011 a data-limite para um acordo sobre a reforma dosistema de cotas do Fundo, que dará mais poder de voto aos emergentes. Hoje, alguns

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 14/28

países europeus com economias menores têm mais poder no Fundo do que China e Brasil.Hoje, a cota do Brasil é de 1,8%. Dos EUA, 17%. Dos europeus juntos, cerca de 30%;3) O Fundo concordou com a proposta dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) de criar um"bond" (título) que os emergentes comprarão do FMI para reforçar seu caixa.Os detalhes desse "bond" estão sendo negociados, mas o diretor-gerente do FMI,Dominique Strauss-Khan, disse no fim de semana ter "certeza de que este instrumento seráusado". A estratégia dos Brics é que esse título seja temporário, pois não querem permitirque o FMI tenha um instrumento que acabe resolvendo seu problema de caixa. Pois issopoderia adiar a reforma das cotas, que é por onde tradicionalmente o Fundo levantadinheiro entre seus 185 sócios.

Ontem, na entrevista de encerramento da reunião, Strauss-Khan reafirmou a intenção demudar o peso das cotas, mas frisou que não é só por meio delas que os países têm voz noFundo. "Em 2008, por exemplo, o Brasil teve sua cota aumentada de 1,4% para 1,8%, oque não muda muito. Mas o país está se transformando em um grande "player"[participante] da economia mundial graças à liderança do presidente Lula. Claro que amudança será importante, mas o Brasil e outros emergentes não são ouvidos só pelo

tamanho de suas cotas", afirmou Strauss-Khan. Já o presidente do Banco Mundial, RobertZoellick, afirmou que "já é tempo de promover a mudança nas cotas para que os paísesemergentes sejam melhor representados". (Folha de SP, 27 de abril de 2009)

TESE:  não é possível mais se pensar o Brasil de hoje como se fosse o Brasil dos anos 1980/1990, assim como não é mais possível se pensar o FMI de hoje (pós-crise financeira iniciada em 2008) como se ele ainda fosse o FMI dos anos 1980/1990 (ou mesmo o FMI dos anos 1960 e o da década de 1970). Assim como o mandato (não-escrito) do FMI foi fundamentalmente alterado com o fim do sistema Bretton Woods em 1971 (antes ele defendia o controle cambial pelos governos, depois ele passou a defender a livre circulação das finanças, sem a regulamentação dos governos), o mandato do período da crise da dívida externa dos anos 1980/90 (imposição de políticas ortodoxas que desregulamentem a 

economia, liberem o fluxo de capitais, etc) encontra-se, aparentemente, em vias de ser alterado, para a regulamentação do sistema financeiro internacional (dos fluxos financeiros,das transações bancárias, etc) e sem a imposição de medidas ortodoxas de ajuste externo.

O FMI, O FIM DO SISTEMA DE BRETTON WOODS EM 1971 E O TRILEMA DAPOLÍTICA ECONÔMICA:

Trilema da política econômica:1) Câmbio fixo2) Livre mobilidade de capitais3) Autonomia da política monetária

Só é possível ter dois destes três de cada vez, o que geram 3 arranjos possíveis (daí otrilema).O período do padrão ouro caracterizou-se por câmbio fixo e livre mobilidade de capitais,mas aí não havia autonomia da política monetária (a oferta de moeda era endógena eseguia o acúmulo de reservas em ouro do país).O período de Bretton Woods caracterizou-se por câmbio fixo e pela necessidade de mantera autonomia da política monetária para atingir o pleno emprego (estávamos na erakeynesiana), o FMI permitia os controles de capitais para evitar dificuldades no balanço depagamentos devido a fugas de capitais, que comprometeriam a manutenção da paridadeentre moeda doméstica e dólar acordada com o Fundo.O período pós-Bretton Woods caracteriza-se pela liberalização dos fluxos de capitais (nãohá mais controles na maioria dos países  –  é a chamada “globalização financeira”) e ao

mesmo tempo, para se manter a autonomia da política monetária, a tendência apontadapelo Barry Eichengreen é a flexibilidade da taxa de câmbio. Os países que optaram pelo

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 15/28

câmbio fixo foram acometidos por fugas de capitais nos momentos de turbulência (criseasiática, russa, argentina, brasileira etc) que levariam à necessidade de juros exorbitantespra manter o cambio fixo, com os prejuízos que essa política acarretaria em queda da taxade crescimento e aumento do desemprego (veja a Argentina, que insistiu nessa idéia pormuito tempo). Assim, a tendência foi os países saírem de regimes de cambio fixo oupróximo (como o regime de bandas adotado pelo Brasil de 1995 a 1999) para adotaremregimes de flutuação da taxa de câmbio (Brasil a partir de 99).

EUA E O FMI: os EUA alteraram seu posicionamento da era Bush e se manifestaramfavoráveis a nova redistribuição das cotas/poder de voto no FMI, favorecendo os paísesemergentes. Quem perderia poder nessa redistribuição seria a Europa.

FRANÇA E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL/FMI: “O presidente da França,Nicolas Sarkozy, pediu hoje uma "revisão total" do sistema financeiro internacional, eprincipalmente das instituições de governança, como o FMI (Fundo MonetárioInternacional), e sugeriu submeter os hedge funds --instrumentos pouco regulados-- à

supervisão. Sarkozy defendeu também a reforma dos marcos regulatórios das agências dequalificação de riscos, eliminar os chamados "paraísos fiscais" e comprovar se os saláriosdos executivos se adequam à sua responsabilidade.” (Folha de SP, 15 de outubro de 2008) 

REINO UNIDO E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL: “O primeiro-ministro doReino Unido, Gordon Brown, disse hoje ao Parlamento Europeu que é preciso reformar ossistemas de fiscalização de maneira a garantir que todo o setor financeiro seja controladoapós a crise. Brown insistiu em que essa supervisão deve incluir todos os produtosfinanceiros e todas as partes do mundo e, portanto, significar o fim dos paraísos fiscais."Nossas leis devem ser aplicadas a todos os bancos, em todas as partes, o tempo todo,sem possibilidade para atividades sombrias e sem esconderijos em nenhum lugar do mundopara a evasão fiscal", ressaltou.” (Folha de SP, 24 de março de 2009) 

OS ACORDOS DE BASILÉIA

ACORDOS DE BASILÉIA I (1988): A sofisticação das atividades bancárias, a reboque daglobalização das economias, trouxe dinamicidade ao setor financeiro, expandindo a suaexposição aos eventos que podem interferir nos resultados esperados pelos atoresenvolvidos. As crises financeiras e os eventos relevantes serviram, neste contexto, de panode fundo aos marcos de regulação, que buscam livrar o sistema dos efeitos decontaminação dessas ocorrências e promover um ambiente de gestão eficiente. Esforços

realizados ao longo do tempo em várias jurisdições acabaram por determinar a necessidadede ações de alcance mundial, o que justifica a existência de acordos com esse escopo deaplicabilidade. Esse é o cenário em que se estabelecem as regras prudenciais de gestãofinanceira mundial. Em 1988 o Comitê de Basiléia para Supervisão Bancária1 divulgou oAcordo de Capital, que propunha um conjunto mínimo de diretrizes para adequação decapital em bancos. O objetivo do Acordo foi fortalecer a solidez e a estabilidade do sistemabancário, evitar o chamado “efeito dominó”, por meio da recomendação para os bancosconstituírem um capital mínimo, de forma a minimizar os riscos de insolvência dasinstituições bancárias, e que fosse suficiente para fazer frente a boa parte das ocorrênciascom materialização de perdas. Como ponto central o Comitê definiu uma medida comum desolvência, que cobria o risco de crédito, com adequação de capital igual à pelo menos 8%dos ativos do banco, ponderados pelo risco. Essa ponderação, arbitrada pelo Comitê,

considera a relação dos ativos da instituição com os demais envolvidos  – as contrapartes.(fonte: site da Febraban)

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 16/28

ACORDO DE CAPITAL DE BASILÉIA II: também conhecido como Basileia II, foi umacordo assinado no âmbito do Comitê da Basiléia em 2004 para substituir o acordo deBasileia I. O Basileia II fixa-se em três pilares e 25 princípios básicos sobre contabilidade esupervisão bancária. O Novo Acordo de Basileia (Basileia II) define apenas os standardsmínimos que as instituições financeiras terão de cumprir na modelização, gestão e reportedos requisitos mínimos de capital transversais às múltiplas dimensões de risco.

BRASIL E O COMITE DE BASILEIA PARA SUPERVISAO BANCÁRIA: “O Banco Centralinformou hoje (13) que o Brasil foi convidado a integrar o Comitê de Basileia paraSupervisão Bancária (BCBS, na sigla em inglês para Basel Committee on BankingSupervision), com sede na Suíça. Também foram convidados Rússia, Índia, China,Austrália, México e Coreia. A decisão atende a proposta do grupo de países emdesenvolvimento, também conhecido como G20, que reivindica há tempos a revisão doscritérios de associação aos mais importantes órgãos formuladores de padrões de regulaçãofinanceira. O Comitê de Basileia busca promover e fortalecer as práticas de supervisão e degerenciamento de riscos mundialmente. Os presidentes dos bancos centrais desses paísespassam a ter representação de governança no comitê, que até então era formado por

Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Suíça, Bélgica,Luxemburgo, Países Baixos e Japão. "O convite ao Brasil é reflexo da qualidade daregulação e supervisão do sistema financeiro, implementadas pelo país", diz o BancoCentral, em nota distribuída hoje. Por isso, o Brasil foi convidado a integrar também oFórum de Estabilidade Financeira, cujo objetivo é promover a estabilidade em nívelinternacional por meio do intercâmbio de informações e de cooperação. Além do Brasil,também foram convidados a fazer parte do fórum outros países do G-20, como África doSul, Arábia Saudita, Argentina, China, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia.” (Folhade SP, 13 de março de 2009)

A CRISE MUNDIAL

O BRASIL E A CRISE MUNDIAL  – RESTRIÇÃO DE CRÉDITO E POLÍTICA ANTICÍCLICA

José Luis Oreiro e Luiz Fernando de Paula

“ A restrição de crédito e política anticíclica” (Valor Econômico, 25 de março de 2009) 

“Entre os economistas brasileiros, é consenso que um dos fatores que contribuiu paraagravar a desaceleração econômica no Brasil foi a contração no crédito bancário, que vinhapassando por acelerado processo de crescimento nos últimos anos. A contração no créditodoméstico, junto com a parada no fluxo de capitais do exterior, resultou em uma duplarestrição de liquidez e financiamento na economia.

No caso do setor bancário brasileiro, os efeitos da crise financeira se fizeram sentirinicialmente pelas dificuldades de obtenção de fundos no mercado financeiro internacional.É verdade que o peso de tais recursos sobre o funding dos bancos era relativamente

pequeno, mas aparentemente foi suficiente, junto com a deterioração das expectativascausada pela percepção da gravidade da crise internacional - deterioração essa que foi

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 17/28

reforçada pelos prejuízos que várias empresas brasileiras tiveram com os derivativoscambiais em decorrência da demora do Banco Central do Brasil em intervir no mercado decâmbio após a falência do Lehman Brothers - para dar um início de crise de liquidez nosetor bancário brasileiro, resultando em uma situação de “empoçamento da liquidez”. 

O setor bancário vinha passando por um boom de crédito desde 2004, aumentando arelação crédito total sobre o PIB de 22%, em maio de 2003, para 36% em julho de 2008,puxado tanto pelo crédito a pessoa física quanto a pessoa jurídica. Neste processocresceram tanto a carteira de crédito de grandes bancos varejistas quanto de pequenosbancos especializados em alguns segmentos do crédito (consignado, “middle market” etc.). 

Deve-se ressaltar a diferença entre uma crise de insolvência, como ocorreu no setorbancário americano, com uma crise de liquidez. Uma crise de insolvência ocorre quando hábancos cujos ativos disponíveis a preços de mercado são incapazes de cobrir as obrigaçõescom terceiros (depositantes, por exemplo), o que pode levar à falência do banco. É o queaconteceu com bancos de investimento dos EUA, em função da existência de ativos“podres” em seu portfólio.

Uma crise de liquidez, por seu turno, refere-se a uma situação na qual o banco é solvente,mas não tem momentamente liquidez para cobrir a demanda por recursos por parte de seusclientes. Corriqueiramente problemas de liquidez, que são normais na atividade bancária,em função do descasamento de maturidades entre ativos e passivos que caracterizam aatividade de intermediação, são facilmente resolvidas no mercado de reservas bancárias noqual bancos superavitários emprestam para os bancos deficitários.

Os bancos, como qualquer outro agente, têm preferência pela liquidez determinada porsuas expectativas quanto ao futuro. Em particular, na definição de sua estratégia deportfólio se defrontam com o trade-off liquidez versus rentabilidade, sendo a liquidez

apreciada em momento de maior incerteza (em detrimento da rentabilidade), e arentabilidade (e maior propensão a riscos) apreciada em função da menor incertezapercebida. Bancos têm, portanto, um comportamento pró-cíclico: na fase do boomeconômico tendem a acomodar a demanda por crédito dos agentes, resultando no aumentode endividamento destes, na suposição da continuidade do crescimento dos lucros e rendana economia; na fase de desaceleração, a maior preferência pela liquidez resulta em umracionamento do crédito, justamente no momento em que os agentes precisam refinanciarsuas dívidas.

No caso brasileiro, obviamente não houve crise de insolvência dos bancos, mas observou-se uma crise de liquidez causada pelo “empoçamento da liquidez”, resultando em umadesaceleração e maior seletividade na oferta de crédito, em parte causada pelo próprio

encarecimento do custo do dinheiro para os bancos (interbancário e CDBs). Uma vez que oquadro de desaceleração econômica mundial e doméstica se configurou, deterioraram-seas expectativas dos agentes quanto ao futuro que, conjugada com a queda na renda e noemprego, por um lado, e o aumento do spread bancário (de 25,6% em julho de 2008 para30,5% em janeiro de 2009), de outro, resultou em uma retração na demanda por crédito dasfirmas e das famílias - com queda respectiva de 10,8% e 10,5% em fevereiro deste ano,segundo dados da Serasa. Em outras palavras, a crise do crédito, que começou do lado daoferta, chegou também do lado da demanda.

Mais recentemente, o governo anunciou que irá adotar novas medidas para destravar ocrédito. Entre as principais, incluem-se a criação da CaixaPar, subsidiária da CEF a serconstituída com patrimônio de R$ 3 bilhões para adquirir participações minoritárias embancos médios; e a criação de um mecanismo de seguro - uma espécie de Fundo de DireitoCreditório gerido pelo BNDES e com recursos de Tesouro e dos bancos - para garantir o

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 18/28

crédito privado. No primeiro caso, pretende-se prover os bancos médios de “funding” paravoltarem a operar normalmente, já que estes operam em nichos importantes para estimularo crescimento, como consignado e financiamento de veículos; no segundo, objetiva-se criarum mecanismo que permita superar a desconfiança dos bancos de pagamento do tomadorde crédito, uma vez que, em caso de inadimplência, o seguro cobriria uma boa parte da

perda dos bancos. A proposta da Febraban é que o fundo seja constituído inteiramente derecursos públicos - o que é um verdadeiro acinte ao cidadão-contribuinte!

As novas medidas deverão ter impacto limitado sobre o crédito, em função da maiorpreferência pela liquidez dos bancos e, mais recentemente, da retração da demanda porcrédito, como visto acima. Contudo, com o cenário de redução da taxa de juros é possívelque possa ter um maior efeito, já que a redução da taxa de juros deverá produzir umaredução (ainda que defasada) sobre o spread bancário. Mas quando as expectativas dosagentes estão deterioradas, o melhor antídoto para a crise é a adoção de políticas fiscaiscontracíclicas, em particular investimento público, em função de suas externalidades sobreo investimento privado. Uma política de enfrentamento da crise deve ser feita através de ummix de políticas que inclui a redução de taxas de juros, o aumento do investimento público e

a atuação ativa dos bancos públicos no financiamento ao setor privado.

José Luis Oreiro é professor do Departamento de Economia da UnB e membro daAssociação Keynesiana Brasileira (AKB). [email protected] 

Luiz Fernando de Paula é professor da Faculdade de Economia da UERJ e vice-presidente da AKB. [email protected] 

O G-20 FINANCEIRO E A CRISE: (matéria do site da BBC Brasil)

“Reunidos em Londres, os mandatários do grupo concordaram em uma série de medidas,que somadas chegam a US$ 5 trilhões, até o final de 2010. De acordo com o comunicadooficial, esse esforço deverá resultar em um aumento de 4% do PIB mundial. 

Algumas ações já haviam sido prometidas na reunião anterior, em Washington. Entre elas,maior rigor na supervisão e na fiscalização de instituições financeiras.

Entre as novidades do texto está uma força-tarefa contra os paraísos fiscais e o anúncio demais verba para o financiamento do comércio mundial.

O comunicado de Londres também menciona a "economia verde". Ou seja, os paísesdeverão acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.

Entenda como algumas das medidas podem afetar o Brasil.

Mais dinheiro para o FMI 

De acordo com o comunicado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) será o principal canalde transferência de recursos aos países.

Para isso, os membros do G20 concordaram em expandir os recurso do fundo em US$ 750bilhões. O objetivo é auxiliar os países na adoção de medidas anticíclicas.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 19/28

Nos últimos dias, o Fundo anunciou uma nova linha de crédito, voltada para a recuperaçãoeconômica dos países. Batizada de "flexível", a linha ainda exige contrapartidas, mas ascondições são consideradas mais simples.

O primeiro empréstimo já foi pedido: veio do México, que precisa de US$ 47 bilhões para

aumentar o crédito às empresas e ainda gerar empregos.

Essa linha é uma reivindicação antiga dos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil.Dentre os motivos está o fato de que os países em débito não precisarão cumprir metasfiscais, como em outras linhas no passado.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil, a princípio, não precisarárecorrer à nova linha do FMI. Por enquanto, o país vem adotando medidas anticíclicas queainda podem ser implementadas com o caixa do governo.

No entanto, poderá beneficiar indiretamente o Brasil, por exemplo, ajudando países queimportam produtos brasileiros.

Mais dinheiro para financiamento ao comércio 

Considerado o principal motor da economia mundial, o comércio entre países já sente osefeitos da crise econômica.

Segundo a Organização Mundial do Comércio, o fluxo de bens e serviços deve cair 9% esteano, a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial.

Uma das explicações para essa freada está na falta de crédito no mercado internacional.

Empresas importadoras e exportadores dependem fortemente de financiamentos. Com acrise, os bancos ficaram mais receosos, diminuindo o volume de dinheiro à disposição - achamada "crise de liquidez".

O volume aprovado hoje pelo G20 poderá atenuar o problema, que atinge principalmentepaíses que dependem das exportações, como o Brasil.

O governo brasileiro prevê uma queda de 20% nas exportações este ano. Se isso

acontecer, o país voltará ao patamar de 2007.

Expansão fiscal 

Segundo o Fundo Monetário internacional, os países precisam gastar mais. Essa seria amaneira mais eficaz para retomar o crescimento econômico mundial.

O Fundo sugere que os países gastem, em média, 2% do seu PIB em medidas fiscais, sejapor meio de gastos diretos ou via redução de impostos.

Os países do G20 concordaram. No documento assinado hoje, eles se comprometem aadotar planos fiscais no valor total de US$ 4 trilhões.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 20/28

A teoria econômica diz que os governos devem gastar mais em épocas de crise, mas osespecialistas alertam para excessos, já que os gastos precisam ser compensados comeconomias. Caso contrário, o gasto de hoje se tornará a dívida de amanhã.

Entre os países do G20, o Brasil é um dos que menos adotou medidas com impacto fiscal.

De acordo com levantamento do FMI, esses gastos no país correspondem a 0,5% do PIB.Pelos cálculos do governo brasileiro, essa relação é de 1,3%.

Os especialistas afirmam que a comparação é complicada. O economista Kevin Gallagher,da Universidade de Boston, diz que os investidores costumam ser mais desconfiados emrelação a economias como o Brasil.

"Brasil e Estados Unidos são vistos de forma de diferente aos olhos do investidor, ainda queo déficit brasileiro seja bem menor", diz o economista.

Política monetária expansionista (juros menores) 

Uma das principais armas no combate à crise, a política monetária também foi citada nadeclaração de Londres.

Os países do G20 reafirmaram o compromisso de adotarem políticas monetáriasexpansionistas, ou seja, com juros menores.

É nesse campo que o Brasil ainda tem muito a contribuir. Isso porque os juros no país,apesar dos últimos cortes implementados pelo Banco Central, ainda são um dos maiores domundo.

Estados Unidos e União Européia, que já praticavam taxas de juros relativamente baixas, jánão encontram mais espaço para reduções significativas

"Durante um bom tempo tivemos uma política monetária mais prudente, conservadora.Agora podemos reduzi-la. De certa forma é uma vantagem", diz o economista Felipe Salto,da consultoria Tendências.

No caso brasileiro, os juros altos - tão criticados - passaram a ser o grande trunfo. Espera-se que o país reduza ainda mais suas taxas, a fim de estimular o crédito e o consumo.

Maior supervisão do sistema financeiro 

Os países do G20 concordaram que a falta de fiscalização e supervisão sobre o mundofinanceiro foi a base da crise. Por isso, decidiram que é preciso apertar o cerco a essasempresas.

Além das instituições financeiras, o grupo de países também decidiu regulamentar efiscalizar o trabalho das agências de rating.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 21/28

Essas empresas são especializadas em avaliar e classificar outras empresas e governos deacordo com sua capacidade pagadora. Foi por meio das agências de rating, por exemplo,que o Brasil conquistou o "nível de investimento" (investment grade).

Os países do G20 também declararam guerra contra os paraísos fiscais. "A era do segredo

bancário acabou", diz o texto. O grupo concordou em adotar sanções contra os países quenão se adequarem às regras de transparência bancária.

Muitas empresas, inclusive brasileiras, costumam utilizar esses paraísos como forma depagar menos impostos. Mas elas não deverão ter prejuízos, na avaliação do economista eex-diretor do Banco Central, Carlos Langoni.

"Esse tipo de mudança é feita gradualmente. As empresas que têm conta nos paraísosfiscais terão tempo para se adaptar", diz o economista.

Segundo Langoni, de uma forma geral uma maior supervisão bancária será bem-vinda. "Osbancos brasileiros já são pouco alavancados (menos risco), mas o sistema mundial éintegrado", diz. Ou seja, instituições mais sólidas lá foram também poderão beneficiar osistema financeiro no Brasil.

Mais voz para os países em desenvolvimento 

Houve finalmente consenso entre os países do G20 de que é preciso ampliar a participaçãode países pobres e emergentes no comando das instituições multilaterais, entre elas o FMIe o Banco Mundial.

Uma das recomendações do G20 é de que a reestruturação aconteça até 2011.

O Brasil tem sido um dos principais defensores dessa reforma. O governo brasileiro, noentanto, não definiu quanto o país pretende destinar ao Fundo, a fim de aumentar seupoder decisório.

Ainda assim, a medida pode ser considerada uma vitória para os países emergentes, naavaliação de especialistas.

Langoni vê uma certa carga de "retórica" nessa discussão, mas concorda que o Brasil deve,

sim, aumentar sua participação no Fundo.

"Tem retórica também. Participa mais quem paga mais, e o Brasil ainda não disse quantoestá disposto a pagar", diz.

"No entanto, o Brasil tem agora uma grande chance de participar mais. O FMI ainda é agrande instituição financeira mundial. Estar presente ali é também participar das decisõesda economia internacional", diz o economista.

Compromisso com Doha e com livre comércio 

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 22/28

Assim como na declaração anterior, assinada em Washington, a reunião de Londrestambém conclamou os países a resistirem a tentações protecionistas.

Uma das medidas sugeridas é a conclusão da Rodada Doha de comércio, que poderiaimpulsionar a economia mundial com US$ 150 bilhões ao ano.

Além disso, os países pediram maior transparência na adoção de medidas protecionistas.Segundo o texto, essas medidas devem ser evitadas. Mas se adotadas, deverão serimediatamente notificadas à Organização Mundial do Comércio.

Como resultado, a OMC irá divulgar trimestralmente todas as medidas protecionistasadotadas por cada um dos países.

Um dos principais exportadores do mundo, o Brasil tem a ganhar com a decisão. O país temsido um dos principais defensores da conclusão da Rodada Doha.

O Brasil não está entre os que adotaram medidas protecionistas. No entanto, seu principalparceiro comercial, a Argentina, vem recorrendo a medidas de proteção contra produtoresbrasileiros.

Estímulo a uma economia mais limpa 

Ainda que de forma rápida, o documento do G20 fala da importância de que a recuperaçãoeconômica aconteça de forma "limpa". Ou seja, os países deverão estimular a economia,mas de olho nas mudanças climáticas.

Se o conselho for considerado de forma séria pelos países, o Brasil pode se beneficiar. Opaís é um dos maiores produtores mundiais de etanol de cana, mas encontra barreiras emoutros países, como nos Estados Unidos.

No entanto, mesmo com o etanol, a recomendação do G20 também vale para o Brasil.Segundo especialistas, o país tem falhado em dar prioridade para uma economia de baixocarbono.

Uma das medidas do governo, o estímulo à venda de carros vai de encontro ao conceito deeconomia de baixo carbono.

A energia solar e a eólica, por exemplo, também não foram contempladas no pacotehabitacional anunciado pelo governo.” 

CRONOLOGIA: CRISE NOS MERCADOS FINANCEIROS (fonte: site da BBC Brasil)

Entre 2004 e 2006: problemas no subprime 

Depois de dois anos, entre 2004 e 2006, quando a taxa de juros subiu de 1% para 5,35%, omercado imobiliário americano começou a sofrer, com preços dos imóveis caindo eaumento na inadimplência de mutuários.

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 23/28

A inadimplência em empréstimos do tipo subprime  – hipotecas de alto risco para pessoascom histórico ruim de crédito – atingiu níveis recordes.

Abril a agosto de 2007: contágio do subprime 

Abril 

A New Century Financial, especializada em empréstimos subprime, pediu concordata edemitiu metade dos seus funcionários.

Com suas dívidas sendo repassadas para outros bancos, o mercado subprime começou aentrar em colapso.

Julho 

O banco de investimentos Bear Stearns diz que seusinvestidores não conseguirão resgatar o dinheiro investidoem seus fundos hedge.

O diretor do Federal Reserve (o banco central americano),Ben Bernanke, diz que a crise do subprime pode custarUS$ 100 bilhões.

Agosto 2007: Tamanho da crise é revelado 

9 de agosto 

O banco de investimentos PNB Paribas diz a seus investidores que eles não conseguirão

resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado.

É um sinal claro de que os bancos estão se recusando a emprestar dinheiro uns aos outros.

O Banco Central Europeu investe 95 bilhões de euros no setor bancário, para melhorar aliquidez. Em seguida, mais 108,7 bilhões de euros são investidos.

Os bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá e Japão começam a intervir.

17 de agosto 

O Federal Reserve corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos, para5,75%.

Setembro 2007: Corrida aos bancos 

13 de setembro 

O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do bancocentral britânico. No dia seguinte, os correntistas retiraram mais de US$ 2 bilhões, em umadas maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.

18 de setembro O Federal Reserve corta a taxa de juro em meio ponto percentual, para 5,75%.

Crise atingiu mercadosfinanceiros do mundo todo

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 24/28

Outubro de 2007: perdas começam a surgir 

No dia 1º, o banco suíço UBS revelou perdas de US$ 3,4 bilhões. Em seguida, o giganteCitigroup divulgou que perdeu US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime  – US$ 40 bilhõesno acumulado de seis meses.

No fim do mês, o diretor do Merrill Lynch se demite, depois de revelar que o banco tinhaUS$ 7,9 bilhões de dívidas que incluíam papéis podres.

Dezembro 2007: Ajuda do governo 

No dia 6, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar milhõesde mutuários com problemas. O Federal Reserve coordenou ao lado de cinco bancoscentrais uma ação para empréstimos a outros bancos.

Fevereiro e março 2008: Nacionalizações e compras 

7 de fevereiro 

Ben Bernanke alerta para os efeitos da crise do sistema financeiro na economia real. Oslíderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) dizem que as perdascom o mercado subprime podem chegar a US$ 400 bilhões. O governo britânico nacionalizao banco Northern Rock.

Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos emdificuldade.

No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan

Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).

Abril 2008: Mais efeitos na Europa

8 de abril 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que as perdas devido à crise financeirainternacional podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca.

Segundo o FMI, os efeitos da crise estão se espalhando para outros setores como créditoao consumidor e dívidas de empresas.

Dois dias depois o Banco da Inglaterra diminui sua taxa de juros para 5%, um corte de0,25%.

21 de abril 

O Banco da Inglaterra divulga os detalhes de um plano ambicioso, da ordem de 50 bilhõesde libras (cerca de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos, um plano que permitiria que estesbancos trocassem dívidas de hipoteca que potencialmente arriscadas por títulos dogoverno, mais seguros.

Abril a junho de 2008: Bancos tentam conseguir dinheiro 

22 de abril 

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 25/28

O banco britânico Royal Bank of Scotland anuncia o plano para levantar dinheiro junto aosacionistas, lançando novas ações no mercado, que chegam ao valor 12 bilhões de libras(mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha.

2 de maio O banco UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lança ações novalor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37bilhões, mais do que qualquer outro banco afetado pelas turbulências do mercadointernacional.

19 de junho 

O FBI prende 406 pessoas, incluindo corretores e empreiteiros, como parte de umaoperação contra supostas fraudes em financiamentos habitacionais, que alcançaram valorde US$ 1 bilhão.

25 de junho 

Outro banco britânico, desta vez o Barclays, anuncia os planos para levantar 4,5 bilhões delibras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.

Julho de 2008: Grandes financiadores no limite 

13 de julho 

O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior

banco a falir na história dos Estados Unidos.

14 de julho 

Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setorde hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac.

Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dosEstados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e sãocruciais para o mercado imobiliário americano.

Agosto a setembro de 2008: Outros gigantes sofrem 

4 de agosto 

O gigante do setor bancário HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros sãoas mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucrossemestrais.

Dos grandes bancos europeus, o HSBC estava entre os mais atingidos pela crise domercado imobiliário e de crédito dos Estados Unidos.

30 de agosto 

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 26/28

O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, afirma que a economia da Grã-Bretanhaenfrenta sua pior crise dos últimos 60 anos em uma entrevista ao jornal The Guardian .

1º de setembro 

Dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.

5 de setembro 

Números do mercado de trabalho americano mostram que a taxa de desemprego no paíssubiu para 6,1%, causando ainda mais turbulência nos mercados financeiros.

7 de setembro 

O governo dos Estados Unidos anuncia que estáassumindo o controle das empresas de hipoteca FreddieMac e Fannie Mae, numa operação que foi consideradauma das maiores do gênero na história americana.

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirmaque os níveis das dívidas das duas companhiassignificavam um "risco sistêmico" para a estabilidadeeconômica e que, se o governo não agisse, a situaçãopoderia piorar.

10 de setembro 

O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra

perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto.

O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia,afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o finalde 2008.

15 de setembro 

Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido deconcordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o inícioda crise financeira.

O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias tambémpoderão cair.

No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos,concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízosmaiores.

16 de setembro 

O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar afalência da seguradora AIG, a maior do país.

Governo dos EUA ajudougigantes do setor de hipotecas

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 27/28

Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e ogerenciamento dos negócios.

25 de setembro 

Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechadopor agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.

28 de setembro 

A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupobelga Fortis, para garantir sua sobrevivência.

Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros naoperação.

Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário paraaprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pelacrise.

29 de setembro 

A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pelacrise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.

O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo deresgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o

Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.

Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford &Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valorde 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança eagências são vendidas para o Santander, da Espanha.

O governo da Islândia assume o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depoisque a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo” 

FONTES:

- Wikipédia- Folha de São Paulo- Valor Econômico- BBC Brasil

- http://www.imf.org/external/about/histend.htm - Demétrio Magnoli, Relações Internacionais – teoria e história

5/17/2018 SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/sistema-financeiro-internacional 28/28

- Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, Economia – micro e macro- Robert Gilpin, O Desafio do Capitalismo Global – a economia mundial do século XXI- John Ikenberry, The Rise of China and the Future of the West  – can the liberal systemsurvive?, Foreign Affairs jan/feb 2008, vol. 87, number 1- sitehttp://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080929_crise_timeline_dg.shtml