Slides Andara

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Este [o emaranhado] não tem fim, seus rios que não existem e estas árvores ausentes ao redor se estendem a perder de vista. Isto vai até onde um homem puder ir. E vai mais longe ainda. Esta é a região” (1988, p. 162). E o emaranhado não deixa de ser também o conceito do todo “(...) E Andara é mais: Andara é o emaranhado inteiro

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Trechos de Viagm a Andara

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Page 1: Slides Andara

Este [o emaranhado] não tem fim, seus rios que não existem e estas árvores ausentes ao redor se estendem a perder de vista. Isto vai até onde um homem puder ir. E vai mais longe ainda. Esta é a região” (1988, p. 162). E o emaranhado não deixa de ser também o conceito do todo “(...) E Andara é mais: Andara é o emaranhado inteiro

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“É preciso amar os mortos como se ama os vivos”.“Um homem racional está perdido. Ele não pode dizer que não compreende aquilo que acaba de compreender”.“Andara é a África que temos dentro de nós” “A infância. Ela é bem esse tempo de espantos por toda parte. E ela não acaba nunca, eu sei.” (1988, p. 164),

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“Embora a ave mais bela seja aquele que se recusa a voar”.“E dito isso, então dizer: muletas./E: sozinho se descobre as coisas melhor./ Aí começam as chances de alguém se tornar centopeia.” “A fome vem na ora inicial da vida, quando é manhã e os olhos se abrem./Está então dizendo uma outra voz./E é só?/Então, nada mais irá acontecer além dessas vozes? Não?/Ainda não sabemos. Inquietos, os viciados da continuidade.”

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“Andara é a Amazônia. Nasceu a partir da natureza amazônica, mas uma Amazônia sonhada, transfigurada em uma dimensão que simboliza toda a vida. Quero dizer, desde o que vemos, as coisas ao nosso redor, até o que não vemos, mas pressentimos. Os livros que escrevo, os chamados ‘livros visíveis de Andara’, são sempre convites a viajar além, até o invisível.”

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Bem no começo da viagem, é preciso dizer o que contém este primeiro livro. Ele é o relato da aparição de uma assombração militar em Santa Maria do Grão. (1988, p. 14)(...)

Mais tarde, virão os esquecimentos, e nasce um dia na vida do homem sem memória.Arte mecânica e revolta. Isso anuncia dois finais. Falsos. Para escolher

E bem no finzinho, cairá a chuva. Mas essa, irmãozinhos, é uma outra, e rara, chuva (1988, p.15)

Eles ainda entregarão outras crianças às águas, arrastados pelo desejo de tocar o fundoPor que estas palavras, e não outras, para contar pela primeira vez a vocês a história?

Agora passo a narrar, sem fôlego,às vezes alegre, às vezes triste,todo o conteúdo de um dos meus sonos.Um dos mais reais (1988, p. 16)

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“O morto voltou numa tarde, então começo por esta tarde. Também retornam os guinchos e os animais que fazem uma careta cômica para a origem do bem e do mal. E esta é a mesma história. Como verão. Eu falo do tecido fino onde a vida dá sentido à vida”.

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“As vozes da terra não cessam.São tantas.Falam várias línguas.Sobre homens condenados ao trabalho escravo numa plantação de urtigas. Sobre insetos, peixes e aves na grande orgia da vida fecundando a mulher do opressor. O cruel cego Dias. O nascimento luminoso do deus vermelho.É uma delas que dá início, agora, para dizer:Este texto poderia ter duas epígrafes:”

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“Não serão os textos da inquietação, e este quer ser um deles, aqueles que fornecerão fórmulas. Estes textos não são textos práticos, não querem ser isso. Sempre teremos um segredo. E para negar a farsa das aparências, sem necessariamente se aliar ao mito da profundidade, nada mais didático que o espetáculo de uma voz onírica devorando a fala prosaica. Este é o sentido do outro texto contido neste texto”.

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“Este que virá coçara a cabeça, extrairá dela um inseto, que estala entre os dedos, de tanto andar sob as árvores eles já aprenderam a viver no seu corpo, e não entenderá. Não entenderá isso, que eu repito. É preciso amar os mortos como se ama os vivos.Ele virá a Santa Maria do Grão para entender e não entenderá. E de Santa Maria do Grão ira até Andara. E não entenderá Andara, onde Santa Maria do Grão vai para a floresta.(...)E irá entrando devagar em Andara, como faz um estranho que chega e ninguém aparecerá.E verá que vem pela rua alguma coisa, rolando. Parece água amarga, ele dirá então. E depois já estará diante dele um velho, e não sabe o que lhe aconteceu. E esse velho vai dizer a ele nada fica no seu lugar em Andara. Foi sorte que saiu do caminho e escondeu-se numa nesga de porta enquanto aquilo passava para afundar lá no fim da rua, no rio. “

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“[o cego] Vem contra mim.Ele tem um espelho.Tira do bolso o espelho, e é nele que vivem os outros cegos Dias, os seus duplos, e deixa que eles saiam aqui para fora, e a noite se enche de pulos e cercos dos duplos do cego Dias ao meu redor.Empurro-o quando quer me agarrar.Primeiro ri como se se tratasse de uma perseguição que se brinca, nada sério, nada sério menino, e no espelho há um outro cego Dias, um dos duplos que não veio aqui para fora, que apenas olha tudo, depois isto é sério o bastante para que comecem a gritar, todos, e o que não saiu do espelho também, que eu vá embora.”