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Processos de comunicação interpessoal e grupal: A transgressão no jogo de futebol

Instituto Federal de Alagoas, Maceió, AL Centro Universitário CESMAC, Maceió, AL

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012

Rossana Viana GAIALucas Fernandes SILVA

Janaína Gaia Ribeiro DIAS

Trabalho apresentado no GP Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local do XII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

RESUMO

O futebol é considerado o esporte de maior popularidade no Brasil e também inserido em lógica mercadológica e comercial e que inclui venda dos pacotes de jogos em TV fechada e/ou aberta, bem como em outras mídias mais tradicionais, como o rádio e também contemporâneas, como a Internet. A sedução do futebol está relacionada a instintos humanos primitivos que envolvem sentimentos de ganho, perda ou empate e cujas identificações se configuram já nas relações familiares. A pesquisa investigou aspectos teóricos sobre transgressão simbólica e processo discursivo e de comunicação.

PALAVRAS-CHAVE: futebol, transgressão, comunicação

Instituto Federal de AlagoasCentro Universitário CESMAC

INTRODUÇÃO

Instituto Federal de Alagoas Centro Universitário CESMAC

O ser humano é coletivo e tem em sua constituição psíquica a influência direta do grupo mais próximo ao qual será inserido;

Observa-se a importância do contexto familiar na formação da identidade do indivíduo, sendo de grande relevância que este espaço sirva como o primeiro modelo social deste ser humano;

O comportamento humano é dicotomizado entre os espaços públicos e privados.

Os atos de vandalismo provocados por indivíduos inseridos em grupo de torcedores de futebol têm como consequência o aumento da criminalidade no contexto civilizatório.


Ilustração I: Policiais do Bope enfrentam torcidas organizadas

Fonte: Internet [Fotógrafo: Márcio Ândrei]

Ilustração II: Vestígios da violência no gramado

Fonte: Internet [Fotógrafo: Márcio Ândrei]

Cada pessoa encontra no grupo a possibilidade de manifestar a sua agressividade no contexto público/social, sendo assim, indivíduos com esta mesma finalidade buscam agrupar-se, distinguindo-se dos outros grupos para formar a sua própria identidade.

MATERIAL E MÉTODOS Pesquisa de cunho bibliográfico, através de levantamento

sócio histórico sobre o comportamento dos indivíduos em grupo, ao considerar o desenvolvimento psicossocial no contexto civilizatório;

Aporte relevante em Marx e Freud, junto a Teoria da análise do discurso, considerando os significantes e significados contidos em fotos veiculadas no espaço midiático virtual;

Desenvolvimento de análise comparativa em notícias veiculadas em dois meios de comunicação. Os sites Tudo na Hora e Primeira Edição, com sede em Maceió, possibilitaram o levantamento de dados sobre comportamento dos indivíduos e violência em grupos de torcida de futebol;

Os estudos do material coletado foram relacionados com as informações desenvolvidas no processo de levantamento bibliográfico.


Vencer ou perder: a guerra no futebol

A lógica do futebol e sua dinâmica de guerra, ao intitular ganhadores e perdedores, contaminam outros aspectos da vida social, conforme destacou Pêucheux (1990) em clássico estudo sobre política no qual problematiza a opacidade do enunciado Ganhamos (On a gagné) a partir de aspectos variados, tais como: pronome indefinido em posição de sujeito e a ausência de complementos;

O futebol promove a sublimação dos instintos e permite aos seres humanos reviverem emoções que

fazem parte de sua constituição psíquica primitiva. Para que isto ocorra sem nocividade ao contexto social o jogo estabelece regras que regulam as emoções e punem possíveis manifestações desaprovadas pela sociedade;


Ilustração III: Criminosos usaram o próprio sangue da vítima para descrever a sigla C.V

Fonte: Internet

Os espectadores do jogo de futebol identificam a possibilidade de reviver sensações de identificação simbólica comparáveis ao processo de completude e deserção ou ao complexo de Édipo em Freud e Lacan.

Neste processo de reviver emoções é possível que os indivíduos reencontrem sensações de satisfação ou de frustração, o que pode resultar em agressividade a outros indivíduos e a estabelecimentos públicos como forma de tentar sinalizar um desajuste emocional. Ilustração V: Torcida do CSA.

Fonte: InternetInstituto Federal de Alagoas

Centro Universitário CESMAC

Ilustração IV: Torcida do CRB. Fonte: Internet

Observa-se que o jogo de futebol, possui uma dinâmica na qual, através da idealização, envolve a satisfação plena, assim como o encontro com o a neurose ao revisitar o Real, na frustração.

No contexto alagoano identifica-se o aumento dessa violência provocada por sujeitos inseridos em grupos de torcidas organizadas de futebol. Estes grupos ostensivos agridem outros sujeitos e/ou estabelecimentos públicos, causando agressões. Em alguns casos este comportamento resulta em mortes (agredidos e agressores).

No contexto das torcidas organizadas do futebol, os recorrentes conflitos entre as duas maiores torcidas de Maceió, resultam muitas vezes na morte de membros dos grupos durante os combates. A partir desta situação, Lisboa (2009) registra:

Os conflitos entre as torcidas não têm escrúpulos, no início deste ano, outro caso espantou os maceioenses. Em frente ao Shopping Maceió, os integrantes do Comando Vermelho e Mancha Azul tiveram em confronto que se estendeu pelas ruas da cidade e acabou no bairro do Jacintinho. Os torcedores "organizados" jogavam pedras uns nos outros e acabavam atingindo a pessoas que passavam próximo a eles, além de carros e casas dos locais por onde passavam (negritos nossos).

Ilustração VI: Torcedores do CRB são presos em Goianinha – RN, com armas de fogo e drogas. Fonte: Tribuna do Norte/Internet.


Wisnik (2008) registra que os grupos violentos que utilizam o contexto do futebol para manifestarem suas necessidades agressivas, podem ter - em sua formação - jovens não incluídos no processo de representação social de produção e consumo, como também os que não participaram do processo de Simbolização no complexo de Édipo.

Dor (1989, p. 87) sintetiza a visão lacaniana acerca do Édipo:

O pai real, que aparece como “representante” da lei, é investido pela criança de uma significação nova, a partir do momento em que, [...], ele é suposto deter o objeto do desejo da mãe: ele é assim elevado à dignidade de pai simbólico. A mãe que aceita a enunciação da lei paterna, ao reconhecer a palavra do pai como única suscetível de mobilizar seu desejo, contribui igualmente para atribuir à função do pai um lugar simbólico aos olhos da criança.

Compreende-se aqui a transgressão no futebol a partir da reflexão sobre patologia egóica em Freud e a Lei do Pai em Lacan.

Fonte: Internet


Fonte: Internet

O futebol representa, na Idade Mídia, tanto um momento de lazer e diversão, inserido na lógica do capital, quanto um momento de transgressão das normas na qual se institui e prevalece a pulsão de morte.

Verifica-se também que a intenção de agredir, no contexto das torcidas de futebol, é um modo de manifestar insatisfação e dialoga com instintos primatas, conforme se constata nas superfícies discursivas dos diversos suportes como transmissões televisivas, periódicos ou Internet.


Fonte: Internet

Ilustração VII:Jovens de torcidas adversárias seguram armas, antes de ir para o Estádio.Fonte: Internet.

Conclusões possíveis

O futebol reúne indivíduos que através de um processo de identificação simbólica com o jogo, com os clubes e com os demais indivíduos do grupo, encontram um espaço para canalizar pulsões instintivas e frustrações do ambiente social e economicamente excludente em que vivem;

A mercantilização do produto futebol, um dos mais populares esportes do planeta, encontra um amplo espaço para a venda universal e recebeu adesão dos extratos sociais com maior poder de capital, o que resulta em novas formas de exclusão.


Constata-se o processo de produção burguesa no futebol, com o aumento do valor dos ingressos, com a transmissão dos jogos com maior repercussão junto ao torcedor, geralmente por canais pagos assim como a proibição da existência nos estádios dos setores com preços populares.

Nesta perspectiva, ocorreu a mudança gradativa e agressiva de exclusão dos torcedores de baixa renda econômica por todo o mundo. O estádio de futebol deixou de ser espaço privilegiado para o torcedor anônimo extravasar suas emoções e passou a ser deliberadamente local privilegiado ao torcedor detentor de capital.


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