Sobre a continuidade da nossa consciência
-
Upload
lua-em-escorpiao -
Category
Documents
-
view
22 -
download
4
Transcript of Sobre a continuidade da nossa consciência
1
Sobre a continuidade da nossa consciência
Pim van Lommel é um cientista e cardiologista holandês nascido em 1943 que
tem sido um dos maiores estudiosos e divulgadores das experiências de quase
morte (EQM). Já publicou sobre este tema na conhecida revista de cariz
científico “The Lancet” e lançou um livro entretanto traduzido para inglês,
francês, alemão e espanhol. O título em inglês é: “Consciousness Beyond
Life, The Science of the Near-Death Experience” [A Consciência além da
vida, a Ciência das Experiências de Quase-morte]. Neste livro van Lommel
postula um modelo em que a consciência está para lá da atividade neurológica
do cérebro, sugerindo que o cérebro é meramente um terminal para aceder a
uma consciência que é não-local (ou seja, está situada fora do corpo físico),
um pouco como um terminal ligado a um computador central.
Dr. Pim van Lommel
Como não podia deixar de ser, as conclusões do cientista holandês foram
contestadas por outros investigadores do campo da neurociência e da
neurobiologia. Contudo, temos de aceitar esta dialética que constitui a forma
habitual da evolução da ciência. Atitudes de tipo cavernícola, de olhar para a
ciência com desdém ou de forma desconfiada são extremamente
contraproducentes e apenas dificultam a divulgação da Teosofia. Por alguma
razão um dos Mahatmas escreveu em 1882 que a ”ciência moderna [seria] o
nosso melhor aliado” e HPB fez questão de dedicar muitas páginas da sua
“Doutrina Secreta” a tentar ligar a sabedoria perene às descobertas científicas
da sua época. Obviamente que o chamado cientismo, tem de ser combatido,
bem como todas as tentativas de censura à construção de novos paradigmas,
como foi este caso.
2
Richard Dawkins, um dos "sacerdotes"
do cientismo (foto:wikipedia)
O objetivo do artigo que começamos a publicar esta semana é o de dar a
conhecer algum do trabalho do Dr. van Lommel através da tradução de
excertos do seu artigo “About the continuity of our consciousness” [Sobre a
continuidade da nossa consciência].
Fica o agradecimento a van Lommel pela permissão expressa dada para esta
tradução, que repito, não é completa.
Eis a introdução:
“Algumas pessoas que sobreviveram a uma crise onde a sua a vida esteve
ameaçada relatam uma experiência extraordinária. As Experiências de Quase
Morte (EQM) ocorrem com frequência crescente devido às maiores taxas de
sobrevivência resultantes de técnicas modernas de reanimação. O conteúdo de
uma EQM e os efeitos nos pacientes parecem semelhantes em todo o mundo,
independentemente da cultura ou da época. A natureza subjetiva e a ausência
de um quadro referencial para estas experiências levou a que fatores
individuais, culturais e religiosos determinassem o vocabulário utilizado para
descrevê-las e interpretá-las. A EQM pode ser definida como as memórias do
conjunto total de impressões recolhidas durante o estado especial de
consciência, incluindo o número especial de elementos tais como experiências
fora-do-corpo, sensações agradáveis, visão de um túnel, de uma luz ou de
familiares já falecidos, ou uma revisão de vida. Há muitas circunstâncias sob
as quais se descreve uma EQM, tais como uma paragem cardíaca (morte
clínica), choque devido à perda de sangue, lesão cerebral traumática ou
hemorragia intra-cerebral, quase-afogamento ou asfixia, mas também doenças
graves que não constituam ameaça imediata à vida. Experiências semelhantes
às EQM podem ocorrer durante uma fase terminal da doença e são designadas
por visões no leito da morte. Além do mais, experiências idênticas, chamadas
3
de “medo da morte”, são relatadas principalmente depois de situações em que
a morte parecia inevitável como acidentes graves de viação ou de alpinismo.
A EQM é transformacional, causando mudanças profundas na atitude perante
a vida e de perda do medo da morte. As EQM parecem ser de ocorrência
relativamente frequente e para muitos médicos é um fenómeno inexplicável e
portanto um resultado de sobrevivência face a uma situação médica crítica que
é ignorada.
Último livro do Dr. Pim van Lommel
Devemos também considerar a possibilidade de experiência consciente
quando alguém em coma foi declarado pelos médicos como tendo tido uma
morte cerebral e está prestes a ser iniciado o transplante de órgãos?
Recentemente vários livros foram publicados na Holanda sobre o que
pacientes experienciaram na sua consciência durante um coma na sequência
de um grave acidente de viação, de uma encefalomielite disseminada aguda
(ADEM), ou depois de complicações com hipertensão cerebral após uma
operação a um tumor cerebral, tendo inclusive no caso deste paciente ter sido
declarada a morte cerebral pelo seu neurologista e pelo seu neurocirurgião. A
família recusou-se porém a dar permissão para a doação de órgãos. Após
recuperarem a consciência, todos estes pacientes reportaram que tinham
experienciado uma perfeita consciência com memórias, emoções e perceção
fora e acima do seu corpo durante o período do seu coma, também vendo as
enfermeiras, médicos e familiares dentro e à volta da Unidade de Cuidados
Intensivos (UCI). A morte cerebral significa mesmo morte ou é apenas o
início do processo de morte que pode durar desde horas a dias? E o que
acontece à consciência durante este período? Devemos considerar a
possibilidade de alguém que está clinicamente morto durante uma paragem
4
cardíaca, possa experienciar consciência, e mesmo que possa haver
consciência depois de alguém ter morrido, quando o seu corpo está frio?
Como está a consciência relacionada com a função cerebral no seu todo? É
possível entender melhor esta relação? Na minha perspetiva, a única
abordagem empírica para avaliar teorias sobre a consciência é a investigação
sobre EQM, porque ao estudar os vários elementos universais que são
relatados durante as EQM, temos a oportunidade de verificar todas as teorias
existentes sobre a consciência que têm sido discutidas até agora. A
consciência apresenta experiências tanto duradouras como temporárias. Existe
um fim ou um princípio para a consciência?”
Sobre a morte
Primeiro quero abordar a questão da morte. A confrontação com a morte
levanta muitas questões básicas, mesmo para os médicos. Porque temos medo
da morte? Estarão os nossos conceitos sobre a morte corretos? A maior parte
de nós acredita que a morte é o fim da nossa existência; acreditamos que é o
fim de tudo aquilo que somos. Acreditamos que a morte do nosso corpo é o
fim da nossa identidade, dos nossos pensamentos e memórias, que é o fim da
nossa consciência. Teremos de alterar os nossos conceitos sobre a morte, não
apenas com base naquilo que foi pensado e escrito sobre a morte ao longo da
história da humanidade em todo o mundo em muitas culturas, muitas religiões
e em todas as épocas, mas também com base na informação de mais recente
investigação científica em EQM?
O Dr. Pim van Lommel é um grande divulgador das EQM.
Este é um anúncio da sua presença num famoso programa de
rádio dos EUA.
O que acontece quando morro? O que é a morte? Durante a nossa vida, 500
mil células morrem a cada segundo, em cada dia cerca de 50 mil milhões de
células são substituídas, resultando num novo corpo cada ano. Portanto a
morte celular é completamente diferente da morte corporal quando morremos.
Durante a nossa vida, o nosso corpo muda continuamente, a cada dia, a cada
minuto, a cada segundo. Em cada ano cerca de 98% das moléculas e átomos
no nosso corpo foram substituídos. Cada ser vivo encontra-se num equilíbrio
5
instável entre dois processos opostos de desintegração e integração contínuos.
Mas ninguém dá por esta mudança constante. E de onde vem a continuidade
do nosso corpo em mudança constante? As células são apenas os blocos
constitutivos do nosso corpo, tal como os tijolos de uma casa, mas quem é o
arquiteto que coordena a construção desta casa? Quando alguém morreu,
apenas ficam restos mortais: somente matéria. Mas onde está o diretor do
corpo? E a nossa consciência quando morremos? Somos o nosso corpo, ou
“temos” um corpo?”
Na terceira secção do seu artigo, o cientista holandês aborda a pesquisa
científica no domínio das Experiências de Quase-Morte (EQM).
Dr. Pim van Lommel
“Em 1969, durante o meu estágio médico rotativo, um paciente foi reanimado
com sucesso na ala de cardiologia através de desfibrilhação elétrica. O
paciente recuperou consciência e ficou muito, muito desapontado. Falou-me
de um túnel, de cores belas, de uma luz e música maravilhosas. Nunca esqueci
este episódio, mas nunca fiz nada com ele. Anos mais tarde em 1976 [NT: Na
verdade, o livro foi lançado em 1975] Raymond Moody Jr. descreveu pela
primeira vez as chamadas EQM e apenas em 1986 li sobre estas experiências
num livro de George Ritchie chamado “Return from tomorrow” [Regresso de
amanhã], que relata o que ele experienciou durante um período de morte
clínica, com a duração de seis minutos, no ano de 1943, durante os seus
estudos em medicina. Depois de ler este livro, comecei a entrevistar os meus
pacientes que sobreviveram a uma paragem cardíaca. Para minha grande
surpresa, no espaço de dois anos cerca de cinquenta pacientes falaram-me do
seu EQM.
6
A minha curiosidade científica começou a crescer, porque de acordo com os
nossos atuais conceitos médicos, não é possível experienciar consciência
durante uma paragem cardíaca, quando a circulação e a respiração cessam.
Dr. Raymond Moody Jr.
Várias teorias já foram propostas sobre a origem de uma EQM. Alguns
pensam que a experiência é provocada por alterações fisiológicas no cérebro
como por exemplo células cerebrais que morrem em resultado de anóxia
cerebral, ou então possivelmente causadas pela libertação de endorfinas, ou
bloqueios do recetor NMDA. Outras teorias abordam a reação psicológica à
morte próxima ou uma combinação deste fator com a anóxia. Mas até agora
[2004] não existe qualquer estudo prospetivo, meticuloso e cientificamente
elaborado para explicar a causa e conteúdo de uma EQM.“
Num estudo de 1988, com 344 sobreviventes de paragens cardíacas, 62 (18%
do total) revelaram ter alguma ideia sobre a altura da morte clínica. Destes 62,
41 experienciaram uma EQM mais do que superficial e deste grupo de 41, 23,
ou seja 7% da amostra do estudo, revelou ter passado por uma EQM bastante
intensa. Nos EUA um estudo semelhante, mas com uma amostra de um terço
face ao estudo holandês, dava 10% de pacientes a experienciar uma EQM,
enquanto um estudo britânico com uma amostra de 63 pacientes, deu para a
mesma variável a percentagem de 6,3%.
No estudo holandês cerca de 50% dos pacientes com uma EQM relataram
consciência de estarem mortos, ou de emoções positivas, 30% reportaram
estar a atravessar um túnel, de observarem uma paisagem celeste ou de terem
7
encontrado parentes falecidos. Cerca de 25% dos pacientes com uma EQM
teve uma experiência extra-corporal, comunicou com a “luz” ou observou
cores. 13% experienciou uma revisão de vida e 8% a sensação de estar numa
fronteira.
Pim van Lommel refere que não é a duração da paragem cardíaca, nem do
período de inconsciência que influencia o ter ou não ter uma EQM. Não há
também qualquer relação entre um episódio desta natureza e os medicamentes
administrados, medo da morte antes do ataque, conhecimento prévio sobre as
EQM, religião ou educação. A EQM era mais frequente em pacientes abaixo
dos sessenta anos, por pacientes com mais de uma reanimação
cardiopulmonar durante o período de internamento e por pacientes que já
tinham experienciado uma EQM antes. A memória de curto-prazo também é
essencial para se recordar de uma EQM. “De forma inesperada”, refere van
Lommel, “descobrimos que mais pacientes com uma EQM profunda [em
comparação à média], morriam nos 30 dias após a reanimação
cardiopulmonar.”
Entrevista com o Dr. Pim van Lommel
Foi feito um estudo de tipo longitudinal acompanhando os pacientes com
EQM, dois e oito anos após o episódio para avaliar os efeitos em termos
psicológicos. “Os pacientes que passaram por uma EQM não mostravam
nenhum medo da morte, acreditavam fortemente numa vida após a morte, e a
sua visão sobre o que era importante na vida tinha mudado: amor e compaixão
por eles próprios, pelos outros e pela natureza. Agora entendiam a lei cósmica
que aquilo que fazemos aos outros irá nos ser devolvido: ódio e violência,
bem como amor e compaixão. Incrivelmente, muitas vezes havia prova de
sentimentos intuitivos ampliados. Além do mais, os efeitos transformacionais
duradouros de uma experiência que dura apenas alguns minutos foi uma
descoberta surpreendente e inesperada.”
Face à ausência de provas de outras teorias na explicação para as EQM, o
conceito até agora assumido mas nunca cientificamente provado, de que a
consciência e as memórias estão localizadas no cérebro deve ser discutido.
Tradicionalmente, tem sido afirmado que os pensamentos ou consciência são
produzidos por grandes grupos de neurónios ou redes neuronais. Como pode
uma perfeita consciência ser experienciada fora do corpo quando o cérebro já
não funciona durante um período de morte clínica, com o encefalograma
mostrando morte encefálica? Além do mais, invisuais também já descreveram
perceções verídicas durante experiências fora-do-corpo aquando das suas
EQM. O estudo científico das EQM puxa-nos ao limite das nossas ideias
8
sobre neurofisiologia e medicina, acerca do alcance da consciência humana e
da relação da consciência e das memórias com o cérebro.
Prossigamos pois com a descrição de alguns elementos típicos das
Experiências de Quase-Morte (EQM).
Mais uma entrevista com o Dr. Pim van Lommel
A Experiência fora-do-corpo
Nesta experiência, as pessoas têm perceções verídicas a partir de uma posição
fora e acima do seu corpo sem vida. Há a sensação de que se despiram do seu
corpo como quem tira um velho casaco e para sua surpresa parece que
retiveram a sua própria identidade com a possibilidade de perceção, emoções
e perfeita consciência. Esta experiência fora-do-corpo é cientificamente
importante porque médicos, enfermeiras e familiares podem verificar as
perceções relatadas. Este é o relatório de uma enfermeira de uma unidade de
cuidados coronários:
“Durante o turno da noite uma ambulância chega com um homem de 44 anos,
cianótico [pele azul-arroxeada] e em estado comatoso à unidade de cuidados
coronários. Ele tinha sido encontrado em coma cerca de 30 minutos antes num
prado. Quando fomos intubar o paciente reparámos que ele tinha uma
dentadura na boca. Eu removi a sua dentadura superior e coloquei-a no
carrinho de enfermagem. Depois de cerca de uma hora e meia, o paciente
apresentava suficiente ritmo cardíaco e pressão sanguínea, mas ainda estava
ventilado e intubado e em estado comatoso. Ele é transferido para a unidade
de cuidados intensivos para continuar a necessária respiração artificial.
Passada mais de uma semana encontro-me novamente com o paciente, que
passou para a ala de cardiologia. Quando me vê diz-me: “Oh, aquela
enfermeira sabe onde está a minha dentadura”. Fico muito surpreendida.
Então ele explica: ”Você estava lá, quando eu fui transportado para o hospital
e você retirou a dentadura da minha boca e pô-la em cima do carrinho, onde
estavam muitos frascos e havia esta gaveta deslizante por baixo e foi aí que
você pôs os meus dentes.” Eu fiquei especialmente atónita porque lembrei-me
de isto ter acontecido enquanto o homem estava num coma profundo e no
processo de reanimação cardiopulmonar. Parece que o homem tinha-se visto a
si próprio na cama e apercebido de cima, do modo como as enfermeiras e os
médicos tinham estado ocupados na reanimação. Ele também foi capaz de
descrever correta e detalhadamente o pequeno quarto onde havia sido
reanimado bem como daqueles que estavam presentes, como eu. Ele está
9
profundamente impressionado com a sua experiência e diz que não tem mais
medo da morte.”
Foto:dailymail.co.uk
A revisão de vida holográfica
Durante esta revisão de vida o sujeito sente não só a presença e a experiência
renovada de cada ato, mas também de cada pensamento da sua vida passada e
percebe que tudo isso é um campo de energia que o influencia assim como aos
outros. Tudo aquilo que foi feito e pensado parece ter sido significativo e
armazenado. Fica-se a saber se foi dado amor ou pelo contrário, negado.
Porque estamos ligados às memórias, emoções e consciência dos outros,
experienciamos as consequências dos nossos próprios pensamentos, palavras e
ações nessas pessoas no exato momento do passado em que elas ocorreram.
Portanto, durante a revisão de vida existe uma ligação com os campos de
consciência de outras pessoas, bem como os nossos próprios campos de
consciência (interligação). Os pacientes examinam toda a sua vida num abrir e
fechar de olhos; tempo e espaço parecem não existir durante uma experiência
destas.
Instantaneamente eles estão onde se encontram focados (não-localidade) e
podem falar durante horas sobre o conteúdo da revisão de vida embora a
reanimação tenha demorado apenas minutos. Um relato:
“Toda a minha vida até ao presente parece-me ter sido posta à frente numa
espécie de revisão panorâmica tridimensional e cada acontecimento pareceu
ser acompanhado por uma consciência de bem ou de mal ou por um
conhecimento de causa e efeito. Não só compreendia tudo do meu próprio
ponto de vista, mas também entendia os pensamentos de todos os envolvidos
10
no acontecimento, como se os seus pensamentos estivessem dentro de mim.
Isto significa não só aquilo que tinha feito ou pensado, mas mesmo de que
modo isso tinha influenciado outros, como se visse as coisas com olhos de
quem tudo vê. Parece que os nossos pensamentos não desaparecem
simplesmente. Durante todo o tempo da revisão, a importância do amor era
enfatizada. Olhando retrospetivamente não consigo dizer quanto tempo durou
esta revisão e perceção de vida; poderá ter sido longa pois todos os assuntos
foram abordados, mas ao mesmo tempo pareceu apenas uma fração de
segundo, porque percecionei tudo no mesmo momento. O tempo e a distância
pareciam não existir. Eu estava em todo o lado ao mesmo tempo e às vezes a
minha atenção era atraída para alguma coisa e então eu ia para lá”.
Também uma antevisão pode ser experienciada, em que imagens de
acontecimentos pessoais futuros (mais tarde recordados sob a forma de “déjà
vu”) bem como de imagens gerais do futuro aparecem, embora deva ser
relevado que estas imagens devem ser consideradas apenas como
possibilidades. Uma vez mais parece que tempo e espaço não existem durante
esta revisão: Um relato:
“Eu tive um agradável contacto visual, olharam-me cheios de amor e então
examinei grande parte da minha vida vindoura; a preocupação com os meus
filhos, a doença terminal da minha esposa, as circunstâncias em que estaria
envolvido no meu trabalho e não só. Eu examinei de forma completa, e senti
que teria de decidir naquele momento: “Poderei ficar aqui ou ir embora”, mas
teria que decidir naquele momento.”
O encontro com parentes falecidos
Se conhecidos ou parentes já falecidos são encontrados numa outra dimensão,
são habitualmente reconhecidos pela sua aparência, sendo a comunicação
possível através de transferência de pensamento. Portanto, durante um EQM é
11
também possível entrar em contacto com o campo de consciência de pessoas
falecidas (interligação). Durante uma EQM, encontram-se algumas pessoas
sobre cuja morte era impossível saber e às vezes pessoas desconhecidas para
elas, são encontradas durante uma EQM. Um relato:
Foi este livro que espoletou todo o
frenesim à volta das EQM. Esta
é a capa da versão portuguesa.
O livro foi originalmente publicado
nos EUA, em 1975.
“Durante a minha paragem cardíaca eu tive uma ampla experiência (…) e
mais tarde vi, além da minha falecida avó, um homem que olhou para mim de
forma amável, mas que eu desconhecia. Mais de 10 anos depois, no leito de
morte da minha mãe, ela confessou-me que eu tinha nascido de uma relação
extramarital, sendo o meu pai um judeu que tinha sido deportado e morto
durante a II Guerra Mundial, e a minha mãe mostrou-me a fotografia dele. O
homem desconhecido que eu tinha visto mais de dez anos antes durante a
minha EQM, afinal era o meu pai biológico.”
O regresso ao corpo
Alguns pacientes podem descrever a forma como eles regressaram ao seu
corpo, a maior parte das vezes através do topo da cabeça, depois de terem
percebido através de uma comunicação sem palavras com um ser de luz ou
com um parente falecido que “não era ainda a sua vez” ou que “tinham uma
tarefa para cumprir”. O regresso consciente ao corpo é experienciado como
algo muito opressivo. Eles recuperam a consciência no seu corpo e percebem
que estão “presos” nele, o que significa novamente a dor e a restrição da sua
12
doença. Também entendem que lhes foi retirada novamente uma parte da sua
consciência com profundo conhecimento e compreensão, bem como o
sentimento de amor e aceitação incondicionais. Um relato:
“E quando recuperei a consciência no meu corpo, foi tão mau, tão
mau…aquela experiência foi tão bela, nunca teria querido regressar, queria lá
ficar…e mesmo assim voltei. A partir desse momento foi uma experiência
muito difícil viver a minha vida outra vez no meu corpo, com todas as
limitações que sentia nesse período.”
O desaparecimento do medo da morte
Quase todas as pessoas que experienciaram uma EQM perdem o medo de
morrer. Isto é devido a compreenderem que existe a continuidade da
consciência, mesmo quando foram declarados mortos por observadores ou
mesmo por médicos. Ficamos separados do corpo sem vida, retendo a
capacidade de perceção. Um relato:
Foto: dailymail.co.uk
“Está para lá do meu domínio discutir algo que só pode ser provado pela
morte. Para mim, contudo, a experiência foi decisiva em convencer-me de que
a consciência vive para além da sepultura. A morte não é morte, mas outra
forma de vida.”
Outro relato:
“Esta experiência é uma bênção para mim, pois agora tenho a certeza que o
corpo e a mente estão separados, e que existe vida após a morte.”
Antes da conclusão, o Dr. van Lommel faz uma série de considerações sobre
questões médicas, descrevendo as paragens cardíacas e os efeitos da mesma
13
no corpo humano e também sobre neurofisiologia, tendo com pano de fundo a
questão da consciência funcionar ou não dentro do cérebro. Posteriormente ele
introduz conceitos da física quântica para ajudar a explicar alguns os
episódios relacionados com as EQM.
De qualquer modo esta parte do artigo é bastante mais técnica e não
fundamental para o objetivo deste post. Avancemos pois para a parte final do
artigo.
Reportagem da TV Globo
A certa altura, escreve o Dr. Pim van Lommel:
“Poderá o nosso cérebro ser comparado a um aparelho de TV, que recebe
ondas eletromagnéticas e as transforma em imagem e som, ou como uma
câmara de filmar que transforma imagem e som em ondas eletromagnéticas?
Esta radiação eletromagnética detém a essência de toda a informação, mas
apenas é percetível aos nossos sentidos através de instrumentos adequados
como uma câmara e aparelho de TV.”
Conclusão
“De acordo com a nossa conceção, baseada nos aspetos reportados sobre a
consciência durante uma paragem cardíaca, podemos concluir que a nossa
consciência pode ser baseada em campos de informação, consistindo de ondas
que têm origem no espaço fásico. Durante a paragem cardíaca, o
funcionamento do cérebro e de outras células no corpo para, devido à anóxia.
Os campos eletromagnéticos dos nossos neurónios e de outras células
desaparecem e a possibilidade de ressonância, a interface entre a consciência e
o corpo físico, é interrompida.
Esta explicação altera fundamentalmente a nossa opinião sobre a morte,
devido à quase inevitável conclusão de que na altura da morte física a
consciência continuará a ser experienciada noutra dimensão, num mundo
invisível e imaterial, o espaço fásico, no qual todo o passado, presente e futuro
estão englobados. A pesquisa sobre EQM não nos pode dar provas científicas
irrefutáveis sobre esta conclusão, porque as pessoas que passaram por EQM
não chegaram a morrer, mas estiveram todas muito próximas da morte,
privadas de um cérebro em funcionamento.
14
Dr. Pim van Lommel, capa de revista
A conclusão de que a consciência pode ser experienciada independentemente
da função cerebral pode muito bem induzir a uma grande mudança no
paradigma científico na medicina ocidental, e poderá ter implicações práticas
em efetivos problemas médicos e éticos tal como o cuidado prestado a
pacientes a morrer ou em coma, eutanásia, aborto e remoção de órgãos para
transplante a alguém no processo de morte com um coração a bater num corpo
quente, embora com diagnóstico de morte cerebral.
Ainda existem mais questões que respostas, mas, com base nos aspetos
teóricos acima mencionados da continuidade da nossa consciência obviamente
experienciada, devemos finalmente considerar a possibilidade que a morte, tal
como o nascimento, poderá ser uma mera passagem de um estado de
consciência para outro.”
E assim termina o artigo do Dr. Pim van Lommel.
Este texto já tem perto de dez anos e desde então as pesquisas têm continuado,
quer por parte do Dr. van Lommel, quer por parte de outros investigadores.
Recentemente, o médico e cientista canadiano Bruce Greyson conseguiu
fundos para uma investigação que poderá trazer informação crucial sobre esta
questão. Aqui a reportagem do canal de TV norte-americano WTVR (fica o
agradecimento a Odin Townley por esta dica).
15
Além dos muitos livros que existem sobre esta matéria, o primeiro dos quais
publicado pelo também médico Raymond Moody Jr. em 1975, “Vida depois
da vida”, volta e meia a imprensa generalista pega no assunto normalmente
carregando na tónica do ceticismo ou do sensacionalismo. Contudo, em agosto
de 2012, a revista portuguesa “Sábado” publicou um artigo intitulado “O
mistério dos relatos sobre o céu”, por sinal bastante equilibrado. O artigo
contém alguns relatos semelhantes aos referidos no texto do Dr. van Lommel,
mas que tiveram lugar em Portugal. O papel do médico holandês é
"desempenhado" pelo Dr. Manuel Domingos. O artigo da Sábado faz ainda
referência à abordagem religiosa e também aos céticos.
O que diz a Teosofia
Recentemente, o Lua em Escorpião publicou um texto sobre o processo pós-
morte de acordo com a Teosofia original, que pode ser lido aqui (1ª parte) e há
16
algum tempo mais, um artigo também em duas partes traduzido do blog de
Odin Townley, a primeira das quais está aqui.
Em português, as melhores fontes são “A Chave para a Teosofia” e as “Cartas
dos Mahatmas para A.P. Sinnett”.
Em inglês, recomendo “When we die” e “After death consciousness and
processes” de Geoffrey Farthing que compilam tudo o que existe escrito por
HPB e os Mahatmas (particularmente no segundo livro) sobre o que acontece
após a morte do corpo físico. Abaixo fica um video baseado no livro "When
we die", produzido pela Blavatsky Trust, organização criada por Farthing e
Christmas Humphreys.
Video inspirado num dos livros de Farthing
Publicado em 4 partes, em http://lua-em-escorpiao.blogspot.pt entre 25 de janeiro e 15 de
fevereiro de 2014