Sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética exclusão inclusão

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SAWAIA, Bader Burihan. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética exclusão/inclusão. In: SAWAIA, Bader Burihan (Org.). As Artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 11ed. Petrópolis: Vozes, 2011. Fichamento: Zelfa. “É o indivíduo que sofre, porém, esse sofrimento não tem a gênese nele, e sim em intersubjetividades delineadas socialmente” (p. 101). Sofrimento ético-político Afetividade – “Não é desconsiderada, é olhada negativamente como obscurecedora, fonte de desordem, empecilho para a aprendizagem, fenômeno incontrolável e depreciado do ponto de vista moral” (p. 100). Heller, Espinosa e Vygotsky são tomados como referencial analítico. Para Espinosa, “O corpo é imaginante é memorioso” (p. 103). HELLER : filósofa neomarxista da escola de Budapeste Leitora de Espinosa. Psicológico como ético. Emoção e necessidades como “fenômenos ideológicos e orientativos da vida em sociedade” (p. 103). Vergonha e culpa “são apresentadas como sentimentos morais generativos e ideologizados com a função de manter a ordem social excludente, de forma que a vergonha das pessoas e a

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Psicologia Social Brasileira

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SAWAIA, Bader Burihan. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética exclusão/inclusão. In: SAWAIA, Bader Burihan (Org.). As Artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 11ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

Fichamento: Zelfa.

“É o indivíduo que sofre, porém, esse sofrimento não tem a gênese nele, e sim

em intersubjetividades delineadas socialmente” (p. 101).

Sofrimento ético-político

Afetividade – “Não é desconsiderada, é olhada negativamente como

obscurecedora, fonte de desordem, empecilho para a aprendizagem, fenômeno

incontrolável e depreciado do ponto de vista moral” (p. 100).

Heller, Espinosa e Vygotsky são tomados como referencial analítico.

Para Espinosa, “O corpo é imaginante é memorioso” (p. 103).

HELLER : filósofa neomarxista da escola de Budapeste

Leitora de Espinosa.

Psicológico como ético.

Emoção e necessidades como “fenômenos ideológicos e orientativos da

vida em sociedade” (p. 103).

Vergonha e culpa “são apresentadas como sentimentos morais

generativos e ideologizados com a função de manter a ordem social

excludente, de forma que a vergonha das pessoas e a exploração social

constituem as duas faces de uma mesma questão” (p. 104).

VYGOTSKY

Unidade de análise do comportamento humano: significado – “principal

organizador de desenvolvimento da consciência, é inseparável da palavra

(embora não idêntico a esta). Como comportamento da linguagem,

concentra em si as riquezas do desenvolvimento social de ser criador – o

povo e, como palavra, vive na comunicação” (p. 104-105).

“O cérebro reage às ligações semânticas e não apenas às

neurobiológicas” (p. 105).

“Saúde e felicidade são mercadorias compradas em prateleiras, sob receita

médica” (p. 108).

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Dialética exclusão/inclusão

Habermas – Estados de obediência às normas sociais:

1. Medo do castigo

2. Reciprocidade concreta (é dando que se recebe)

3. Reciprocidade ideal

4. Reciprocidade mediada pelo sistema

5. Orientação legalista de contratos

6. Respeito aos princípios éticos universais (justiça social)

Paugam – Tipos de vivência da exclusão na França:

1. Os frágeis

2. Os assistidos

3. Os marginais

Potência de ação como objetivo da práxis da Psicologia Social frente à dialética

exclusão/inclusão

Práxis psicossocial – “deve preocupar-se com o fortalecimento da legitimidade

social de cada um pelo exercício da legitimidade individual, alimentando ‘bons

encontros’, com profundidade emocional e continuidade no tempo, mas atuando

no presente” (p. 116)

“[...] a vontade comum a todos é mais poderosa do que o conatus individual, e o

coletivo é produto do consentimento e não do pacto ou do contrato.” (p. 117).

“Enfim, introduzir a afetividade na análise e na prática de enfrentamento da

exclusão é colocar a felicidade como critério de definição de cidadania e do

cuidado que a sociedade e o Estado tem para com o seu cidadão, sem cair no

excesso de negar as determinações estruturais e jurídicas, e enaltecer a

estatização individualista, promovendo o enfraquecimento da política e das

ações, na esfera pública e aprisionando os homens em egos escravizados pela

tirania do narcisismo e da intimidade” (p. 117).

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CONCEITO DEFINIÇÃO CATEFORIAAFETIVIDADE “A tonalidade e a cor emocional que impregna a existência

do ser humano e se apresenta como: 1) sentimento: reações moderadas de prazer e desprazer, que não se refere a objetos específicos; 2) emoção, fenômeno afetivo intenso, breve e centrado em fenômenos que interrompem o fluxo normal da conduta” (p. 100).

“Olhada positivamente, a afetividade nega a neutralidade das reflexões científicas sobre a desigualdade social” (p. 100).

Para Heller, Espinosa e Vygotsky é “constitutiva do pensamento e da ação, coletivos ou individuais, bons ou ruins, e como processo imanente que se constitui e se atualiza com os ingredientes fornecidos pelas diferentes manifestações históricas. Portanto, um fenômeno objetivo e subjetivo, que constitui a matéria-prima básica à condição humana” (p. 102).

“Por afetos, entendo as afecções do corpo pelas quais a potencia de agir desse Corpo é aumentada ou diminuída, secundada ou reprimida e ao mesmo tempo as ideias dessas afecções (ESPINOSA, 1957: 144)” (p. 103).

“A capacidade do homem de ser afetado e o modo como o é é determinante à constituição dos valores éticos, pois o que faz a coisa boa ou má é o afeto de que deriva (FERREIRA, 1997: 474)” (p. 115).

EMOÇÕES “São fenômenos históricos, cujo conteúdo e qualidade estão

sempre em constituição. Cada momento histórico prioriza uma ou mais emoções como estratégia de controle e coerção social” (p. 104).

Para Vygotsky, emoção e sentimento são “significados radicados no viver cotidiano, que afetam nosso sistema psicológico pela mediação das intersubjetividades” (p. 105).

“Cada emoção contém uma multiplicidade de sentidos (positivos e negativos), os quais, para serem compreendidos, precisam ser inseridos na totalidade psicossocial de cada indivíduo. Não basta definir as emoções que as pessoas sentem, é preciso conhecer o motivo que as originaram e as direcionaram, para conhecer a implicação do sujeito com a situação que os emociona” (p. 111).

PAIXÃO Para Espinosa, “constitui caminho à compreensão e ao combate da servidão e da tirania, pela sua positividade, pois ela é a base ética, da sabedoria e da ação coletiva democrática, tornando-se negativa, quando associada à ignorância e à superstição” (p. 102).

SUPERSTIÇÃO Para Espinosa, “é condição imediatamente política, que

constitui a base da legitimidade de um governo corrupto (NEGRI, 1993:172), sendo o medo e as condições políticas de desigualdade e de dominação as causas que geram, mantêm e favorecem a superstição” (p. 102).

DESEJOExpressão consciente do apetite.

CONATUS

“Representa a força que constitui o desejo e está presente em

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todas as coisas. É o impulso vital, esforço de resistência, de apropriação e afirmação que leva as coisas a perseverarem no próprio ser” (p. 108).

POTÊNCIA DE PADECIMENTO “Gera a servidão, situação em que se colocam nas mãos do

outro as ideias sobre as afecções do próprio corpo” (p. 112-113).

POTENCIALIZAR “Atuar, ao mesmo tempo, na configuração da ação, significado e emoção, coletivas e individuais. [...] realça o papel positivo das emoções na educação e na conscientização” (p. 114-115).

“Pressupõe o desenvolvimento de valores éticos na forma de sentimentos, desejo e necessidades, para superar o sofrimento ético-político” (p. 115).

POTÊNCIA DE AÇÃO “Direito que cada indivíduo tem de ser, de se afirmar e de se

expandir” (p. 112).

SOFRIMENTO ÉTICO-POLÍTICO

“Abrange as múltiplas afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas. Qualifica-se pela maneira como sou tratada e trato o outro na intersubjetividade, face a face ou anônima, cuja dinâmica, conteúdo e qualidade são determinados pela organização social. [...] retrata a vivência cotidiana das questões sociais dominantes em cada época histórica, especialmente a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade. Ele revela a tonalidade ética da vivência cotidiana da desigualdade social, da negação imposta socialmente às possibilidades da maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de se movimentar no espaço público e de expressar desejo e afeto (SAWAIA, 1995)” (p. 106).

“Conhecer o sofrimento ético-político é analisar as formas sutis de espoliação humana por trás da aparência da integração social, e, portanto, entender a exclusão e a inclusão como as duas faces modernas de velhos e dramáticos problemas – a desigualdade social, a injustiça e a exploração” (p. 107)

SOFRIMENTO Com base em Heller, a autora o define como “a dor mediada

pelas injustiças sociais. É o sofrimento de estar submetido à fome e à opressão, e pode ser sentido como dor por todos” (p. 104).

FELICIDADE ÉTICO-POLÍTICA “É sentida quando se ultrapassa a prática do individualismo e

do corporativismo para abrir-se à humanidade” (p. 107).

DIALÉTICA Exclusão e inclusão “não constituem categorias em si [...], EXCLUSÃO

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EXCLUSÃO/INCLUSÃO

mas que são da mesma substancia e formam um par indissociável, que se constitui na própria relação. A dinâmica entre elas demonstra a capacidade de uma sociedade existir como um sistema. Essa linha de raciocínio permite concluir, parafraseando Castel (1998), que a dialética exclusão/inclusão é a aporia fundamental sobre a qual nossa sociedade experimenta o ‘enigma de sua coesão e tenta conjurar os riscos de sua fratura’” (p. 110).

“Ao falar de exclusão, fala-se de desejo, temporalidade e de afetividade, ao mesmo tempo que de poder, de economia e de direitos sociais” (p. 100).

Estudo da exclusão pelas emoções de que está submetido a ela: “são indicadoras do (des)compromisso com o sofrimento do homem, tanto por parte do aparelho estatal quanto da sociedade civil e do próprio indivíduo” (p. 101).

“Processo complexo, configurado na confluência entre o pensar, sentir e o agir e as determinações sociais mediadas pela raça, classe, idade e gênero, num movimento dialético entre a morte emocional (zero afetivo) e a exaltação revolucionária” (p. 112).

INCLUSÃO Com base em Foucault, a autora afirma que “a inclusão social

é processo de disciplinarização dos excluídos, portanto, um processo de controle social e manutenção da ordem na desigualdade social” (p. 109).

Com base em Marx, tem-se que “a sociedade inclui o trabalhador alienando-o de seu esforço vital. Nessa concepção, a exclusão perde a ingenuidade e se insere nas estratégias históricas de manutenção da ordem social” (p. 109).

“Também variam as formas de incluir e reproduzir a miséria, quer rejeitando-a e expulsando-a da visibilidade, quer acolhendo-a festivamente, incorporando-a à paisagem como algo exótico” (p. 110).