Sou - rl.art.br filePorém a história é um grande atrativo. ... uma doce índia Do fruto desse...

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Sou nascido e criado em uma cidade vulgarmente chamada de cidade do “Já

teve”.

Já teve cinemas, carnaval, a primeira ferrovia do Brasil, Primeira indústria

têxtil, primeira pista particular de aviação, o maior gênio da Bola, Mané Garrincha

e tantos outros atrativos.

Porém a história é um grande atrativo.

Este mini livro é a primeira parte de boas lembranças próprias e que me foram

contadas por pessoas mais velhas sobre a nossa cidade de Magé, que fica no

interior do Rio de Janeiro e é o terceiro município do Estado, estando entre os 10

do país.

A tristeza contrasta com o meu orgulho de ser mageense.

Eric Fanuel

Eric Fanuel

Índia Menina Árvore (Eric Fanuel)

Crenã era cantor, Caxi, uma doce índia

Do fruto desse amor surge ela

Das Timbiras, a mais bela

Mirindiba se chamava

Flores, frutos e animais

Se rendiam a sua beleza

Era dona da natureza

E por Guatapi se apaixonou

Às margens do rio a cantar

Bem depois de se banhar

Colhia os frutos de Caxí

Sua morte logo ali

Na serpente a lhe picar

Toda tribo chorou tanto

E por ordem de Tupã

O Pajé a transformou

Na árvore protetora

Lá no alto acolhedora

Linda, agora imortal

Mirindiba, és a índia

Nossa árvore-menina

Madrinha da cidade

Magé, já sem Timbiras

Ancestrais de todos nós

Mirindiba, estás aí

Junto ao Senhor do Bonfim

A ouvir a nossa voz

Lendas e histórias do Morro do Bonfim ( Eric Fanuel)

Ao subir sua ladeira

Me peguei sonhando

Com um tempo em que não vivi

Mas pelos mais velhos ouvi

As lendas do Morro do Bonfim

Desde antes do Brasil

Dizem que ali existiu

Uma tribo de especial

Timbira: povo robusto

Guerreiro, porém justo

Que na lenda da árvore-menina

A uma cidade ensina

Que a vida é tão frágil

Mas o amor é eterno

A seja verão ou inverno

Lá está ela feliz

Ancorada em sua raiz

Maria Conga por lá

Muitos escravos libertou

Do túnel secreto ao quilombo

O canto livre ecoou

E os casais de namorados

Na Caixa d’água apaixonados

Vendo à frente o Redentor

E atrás a benção

Do Dedo de Deus, criador

O Senhor do Bonfim mora lá

Na Capela esplendorosa

Pequena, mas maravilhosa

Esperando a procissão

De um povo que sobe o morro

À procura de sua proteção

MARIA CONGA ( Eric Fanuel )

O negro lutando no morro

Contra os jagunços, capitães do mato

Fugir pro Quilombo da negra guerreira

Na força da luta de um bom capoeira

Maria do Congo, onde foi rainha

Veio escravizada pras terras de cá

De corpo escravo, mas alma liberta

Foi ela que fez esse povo lutar

Quilombola, salvadora

De outros irmãos, tutora

Quem viveu este tempo viu

Maria Conga mudando a história do Brasil

O quilombo hoje é diferente

Abriga tantas rças, tanta gente

Talvez fosse essa sua missão de paz

Ver a diferença de povos iguais

SESMARIA (ERIC FANUEL)

Um pedaço de terra

Simão da Mota recebeu

Que faz nascer um povoado

E lá no Morro da Piedade

Nascia o que seria

A minha querida cidade

Começando assim

A mais bela trajetória

Que as redondezas do Rio de Janeiro

Viu, em forma de história

Sobre um povo, dos mais hospitaleiros

Que procura o resgate de seu patrimônio

Sorrindo, pois seu sorriso é tudo que tem

Para dividir com aqueles que o conhecem

Quem já brilhou como símbolo de um país

Quem já teve seu momento mais feliz

E hoje se lembra no marear dos olhos

Imaginando que tudo pode voltar

Basta acreditar

Basta lutar

Pela Magé, que um dia

Foi um prêmio, Sesmaria

E que ninguém imaginaria

Que seu nome brilharia

Voltarás a ser destaque

Sem zombaria, sem ironia

Voltarás a ser a grande

Magé, linda Magé

Orgulho do Brasil

Liberdade(Eric Fanuel)

Aportava em Piedade

Trazendo todo o ouro

Dentre tantos, o maior tesouro

Vinha em forma de gente

Era o negro, ferramenta

Nos sonhos da construção

Daquilo que se tornaria

Uma imensa nação

Amontoados nos negreiros

Muitos nem sobreviveram

Ao tanto que sofreram

Como simples animais

Mas a dor também ensina

O negro trouxe a doutrina

Na fé de seus orixás

No clamor de axé, paz

Na culinária deslumbrante

Seus pratos tornam-se referência

Sua música, na cadência

Invade todo o Brasil

Na roda de capoeira

Que o mundo abençoou

Magé já brilha há tempos

Pelas praças onde eu vou

E o negro que era escravo

Hoje é rei, no seu gingado

Na sua luta por igualdade

Dentro do peito, o tesouro

A sonhada liberdade

Morro das Almas (Eric Fanuel)

Às margens do roncador

Tinha um morro, uma lenda

Dizem que almas repousavam

E por vezes assombravam

Quem perturbava seu sono

Eram gritos e gemidos

Gigantes, educados e temidos

Fazendo os mais corajosos

Correrem temerosos

Pelo oculto,vencidos

Tempo passa e o morro

É refém da modernidade

Derrubado, vira um monte

Ponto marcado

Dos meninos transviados

A seus pés, não há temor.

Só o lixo, que tristeza.

A história, a natureza.

Nada mais tem seu valor

Quem viveu tempos de glória

Vai carregar na memória

E talvez, passar pros seus.

O que nem o mais medroso

Vai se assustar, acanhado.

Pois o homem assustou

Até os mal assombrados

É, homem, como pode

Uma história apagar

No seu simples desejo

Do mundo inteiro conquistar

Invadiu, destruiu

Mas deixou abandonado

Um fantasma assustado

Vendo de perto seu fim

O Morro das almas

O temido morro das almas

Logo vai virar um bairro

E o homem

Que parece não ter alma

Derruba tudo, com calma.

Matando da velha Magé

A cada dia mais um pouco

De tudo que ela é

Boleiros (Eric Fanuel)

Dribla o eterno anjo

Com as suas pernas tortas

Toca a bola pra Pardal

E as redes se estufam

Sicura, Adão,Jairzinho

Umbá, Varte,Serginho

Pixura olha Pastel que dribla Bacurau

É bola na rede, é Magé e seu futebol genial

Cocota deita e rola

Jorge Luís manda a bola Para as redes do gigante

Magé conquista o Rio, Na grama do Maracanã

Como nunca feito antes

Garrincha foi o gênio que o mundo aplaudiu

E a história trouxe tantos

Escondidos na cidade

Onde um dia se jogou Um futebol de verdade

No comando, Clóvis Mendes

Outras vezes Mauro Danilo

Seu Tamár, Ferreira, Salvador

Hoje tem Vila e Pau Grande

Tem Mageense e Bomfim

Grêmio e Suruí

Andorinhas e Guarany

Não seria poesia

Uma enciclopédia sim, seria

Pra citar todos os nomes

Que nos deram a alegria

De ver a bola rolar

E o povo delirar

E eu criança, na laranja

Ou até no raspa-raspa

Sem saber que aquela hora

Escreviam a nossa história

Rivalidade Brilhante (Eric Fanuel)

De um sonho, surge a Flor

E da Flor nasce o Canal

Desse encanto nasce a mais bela

Rivalidade do Carnaval

Samba antológico aqui

Samba antológico lá

Mestre sala tira dez

A bateria é de arrepiar

Na passarela de madeira

Emoções em forma de samba

As escolas são de bambas

De sonhos e fantasias

A Rua Doutor Siqueira

Era um sonho divinal

Muitas vieram e brilharam

Mas a luta era Flor e Canal

Os poetas? Nem posso citar

Para por esquecimento

Em meio a tantos talentos

Injustiça não causar

E que venham os desfiles

Ou que falte o carnaval

Mas que nunca falte o brilho

De Flor de Magé e União do Canal

Casa de Saúde onde eu nasci (Eric Fanuel)

Quem tem trinta ou quarenta

E boa memória ostenta

Vai lembrar deste lugar

Bem em frente à Barbuda

Na BR, nada muda

A importância de lá

Leva a Padroeira no nome

E viu tanta gente nascer

Quase todas essas gerações

Lá na minha certidão

Quase apagado, Está escrito

É verdade e dou fé, o referido

Testemunhas assinaram bonito

Magé, o nome da cidade

Registrado em dona Idalina

Nascido na Casa de Saúde

Nossa Senhora da Piedade

Minha infância (Eric Fanuel)

Nos meus tempos de criança

Tia Lúcia me ensinava o bê-á-bá

Saia pra andar de charrete na praça

Era um bode a puxar

Sorvete era na cinderela

Oh, que saudades daquela

Doce Padaria Vitória

Onde lema era Pão quente a toda hora

Lambe-lambe tirando fotos

E com Dona Presentina

Aprendia a doutrina

De a Cristo respeitar

Mergulhei no Roncador

Alegria nunca nos faltou

Rodeios e tombos com os primos

Nos bezerros de meu avô

Juro que tentei jogar bola

Lá no campinho do Hulk

Mas menino, só chorava

Toda vez que alguém me olhava

Venci muitos traumas e lembro

Que um dia, fui o pior

Humilhações eram sempre

Era de todo o tipo de gente

E hoje vejo que foi melhor

Aprendi a me amar

Hoje vivo a cantar

E aqueles que zombavam

Só queriam era brincar

Hoje cantam os meus sambas

Até vejo alguns deles

Desse nego se orgulhar

Minha fé ( Eric Fanuel)

Aprendi com minha mãe

A entender minha fé

Fé é seguir a vida

Do jeitinho que Deus quer

É pedir, sim, é pedir

Mas também agradecer

Em palavras é importante

Mas principalmente no viver

Batizado na matriz

Lá também fiz comunhão

Crismado na São José

Na matriz também casei

E até hoje eu não sei

O porquê da decisão

Os caminhos me levaram

A expandir a minha fé

Respeitar todos os caminhos

Cada um é como é

Orixás me abençoaram

Santos me abriram caminhos

Mas enquanto houver um Deus

Eu nunca estarei sozinho

Dia de Reis – Minha avó e meu avô (Eric Fanuel)

Era manhã de domingo

No quintal de meu avô

Batia na porta a cultura

De uma linda história de amor

A saga dos reis ao encontro

De Jesus, o Salvador

Eu com medo de um palhaço

Com seu jeito arteiro

E versos sem embaraço

Que lhe rendiam algum dinheiro

As canções eram perfeitas

Respostas de trato fino

Cada um ia pra um canto

E assim surgia o canto

Que no meu jeito menino

Posso chamar de um divino

“Afinado” desafino

Era dia de reis

A Folia de Genésio

Reunia a comunidade

Que aproveitava a oportunidade

Pra ter uma refeição

Pois nem sempre a situação

Permitia a alguns dos irmãos

Um simples café com pão

Saindo do coração de meus avós

Que a nenhum dos seus vizinhos

Nunca deixaram sozinhos

Pois os reis visitam o Deus

E os pobres ajudam os seus

Minha avó e meu avô

Meus exemplos de amor

China e Dódi – A Segunda de Primeira (Eric Fanuel)

No futebol eu sou Castelo

Um pequeno preto e amarelo

Que no amor se faz gigante

De conquistas tão brilhantes

E fez os domingos mais belos

No começo a gente ia lá

Torcia por torcer

Pois era certo perder

O Tiririca era de se encantar

O rival de verde e branco

Com China e Dódi a desfilar

A maior dupla de craques

Que eu nos campos vi jogar

Aplaudindo a quem vencia

A minha filosofia

Ainda não me permitia

Torcer contra quem irradia

Futebol, pura alegria.

Não era fácil pra eles

Era tempo de Renascença

Alagoas, São Jorge, Palmeiras

Meu Castelo deu trabalho

A segunda era de primeira

O Castelo foi crescendo

Muitos títulos vencendo

Inspirou-se nesses caras

Eu duvido, pois não há

Quem dos tempos não se lembre

De China e Dódi a jogar