Sustentação 30 / Revista do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará

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SUSTENTAÇÃO n.30.jan.fev.mar.abr. de 2012.venda proibida Redes de Atenção à Saúde: O desafio de permitir acesso integral

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Redes de Atenção à Saúde: O desafio de permitir acesso integral. Será possível superar as fragilidades de acesso ao Sistema Único de Saúde, resultantes em parte da grande fragmentação de suas políticas? Conectar esses pontos de acesso e fazê-los trabalhar em sintonia, dentro desta mesma engrenagem, é a solução? O Ministério da Saúde aposta que sim. Acompanhe. p.23

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SUSTENTAÇÃOn.30.jan.fev.mar.abr. de 2012.venda proibida

Redes de Atenção à Saúde:O desafi o de permitir acesso integral

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Fazendo o SUS acontecer no Ceará!

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04 editorial

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07 entrevistaHelvécio Miranda Magalhães Júnior

45 vivências municipaisAracatiBrejo SantoCratoCruzPedra BrancaSobralBarbalhaJuazeiro do Norte

galeria

60 cultura

62 outras palavras

21 opiniãoEugênio Vilaça Mendes

29 coberturaHospital Regional Monsenhor Murilo:A jóia de Cariri

23 especialRedes de Atenção à Saúde: O desafio de permitir acesso integral

43 opiniãoCícero Luis Bezerra França

28 opiniãoJosé Policarpo de Araújo Barbosa

35 coberturaCrato e a Saúde:um município comprometido com grandes desafios

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COSEMSConselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Wilames Freire Bezerra (Morada Nova)Vice-presidente: Francisco Pedro da Silva Filho (Cruz)Secretária Geral: Olímpia Maria Freire de Azevedo (Aratuba)Secretária de Articulação: Marilza Lima dos Santos Galvão (Aracati)Diretor Financeiro: Josete Malheiro Tavares (Guaiúba)

CONSELHO FISCALTitular: José Afrânio Pinto Pinheiro Júnior (Umirim)Suplente:Maria de Fátima Carvalho (Redenção)Titular: Cícero Luís Bezerra França (Crato)Suplente:Elisian Macedo Fechine (Missão Velha)Titular: Fernando Wilson Fernandes Silva (Varzea Alegre)Suplente: Lisiane Chaves Machado (Jaguaruana)

COMISSÃO INTERGESTORES BIPARTITEMembro NatoTitular: Ana Maria de Carvalho Fontenele (Fortaleza)

GRANDE PORTETitular: Carlos Hilton Albuquerque Soares (Sobral)Suplente: José Edison Pessoa Evangelista (Maracanaú)

MÉDIO PORTETitular: Rodrigo de Oliveira Teófi lo (Pacatuba)Suplente:Tereza Cristina Mota de Sousa Alves (Acopiara)

PEQUENO PORTETitular: Audyoneda Sampaio Aires (Caridade)Suplente: Alexandre Almino de Alencar (Araripe)Titular: Valéria Maria Viana Barbosa (Pindoretama)Suplente: Maria do Carmo Xavier de Queiroz (Iracema)

CESAUTitular: Francisco Rosemiro Guimarães Ximenes Neto (Cariré)Suplente: Luís Carlos do Nascimento (Ipu)

PRODUÇÃODireção artística: Janaína Teles Designer : Janaína TelesFotografi a: Hercílio AraújoCapa: Janaina TelesJornalista: Clarisse Cavalcante MTB 1765/CERevisão: Ângelo Nóbrega, Lucélia Ribeiro, Jocélia Maria de OliveiraIlustração: Janaína Teles

Impressão: TiprogressoTiragem:3.000 exemplares

Revista Sustentaçãojan.fev.mar.abr. de 2012.n.30.venda proibida

ISSN 16764218

COSEMS-CERua dos Tabajaras, 268 Praia de Iracema

Fortaleza-CE CEP 60060-510Fones/Fax:

(85)31015444 / 31015436 / 32199099

www.cosemsce.org.br

editorial

Reciclepela vida!

É notória a crescente impor-tância que vem sendo dada às dis-cussões inerentes a Saúde Pública no Brasil com especial destaque para a gestão dos sistemas locais de saúde, que têm ocupado um lugar de centralidade no Sistema Único de Saúde. Graças à militância de diver-sos atores, o acesso e a partilha de

informação, a aprendizagem e o exercício da cidadania e da atividade dos gestores de saúde, são aspectos que têm sofrido alterações positivas. Afi gura-se, por isso, um grande desafi o: o aces-so com qualidade aos serviços de saúde. Por mais que o Sistema Único de Saúde desenvolva importantes inova-ções tecnológicas, a qualidade dos serviços é a primeira coisa que necessitamos em qualquer lugar de atendimen-to e isso se relaciona diretamente aos recursos humanos. Estamos certos de que valerá a pena os dias que pretendemos dedicar a discutir a Municipalização com Regionalização: um desafi o para o acesso com qualidade ao SUS, Tema central do nosso congresso. E não poderia haver melhor momento para rea-lizar este XII Congresso quando a Lei Orgânica de Saú-de é regulamentada através do Decreto 7508, trazendo em seus dispositivos o Contrato Organizativo de Ação Pública. Este processo vai permitir melhor controle, ce-leridade na tomada de decisões, e fl exibilidade na reso-lução dos problemas. Estamos plenamente convencidos que este é o melhor caminho para ultrapassarmos os pro-blemas crônicos na gestão do SUS. A abordagem correta e consistente nas discus-sões, bem como a analise da dimensão histórica do SUS, pode ser fonte de orientação, na medida em que a pres-são dos problemas atuais, alguns dos quais, produtos de crescimento e crises afi ns, associados à urgência e impe-rativa necessidade de vê-los resolvidos, podem contri-buir para os caminhos e as estratégias mais adequadas a uma gestão de qualidade. Que todos se sintam bem e encontrem reno-vados motivos para participar de forma ativa, criativa e inovadora, nos debates a que se propõem, porque de-les nós esperamos encaminhamentos consistentes para alimentar cada vez mais a nossa luta por um SUS cada vez melhor.

Wilames Freire BezerraPresidente do COSEMS - CE

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entre os entes federativos em base regional será

Helvécio Miranda Magalhães Júnior nasceu em Minas Gerais. É médico, epi-demiologista e Doutor em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Cam-pinas. Há 24 anos é funcionário da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, onde foi secretário de Saúde por seis anos e secretário de Planejamento e Orçamento por dois anos. No Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde foi diretor, vice Presidente e Presidente. Desde 2000 é consultor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).Desde o início do Governo da Presidenta Dilma Roussef assumiu a Secretaria de Atenção à Saúde do Minis-tério da Saúde com o desafi o de reorientar o modelo de atenção vigente. Em entrevista exclusiva à Revista Sustentação, o secretário fala sobre o processo de organização das Redes de Atenção à Saúde, elogia o Ceará e assume que, apesar de difícil, este é um momento histórico de reestruturação do Sistema Único de Saúde.

“Somente uma rede interconectada

capaz de garantir o direito à saúde integral”

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Revista Sustentação: O conceito de Rede de Atenção à Saúde é bastante antigo e já foi recomendado há muito tempo pela Orga-nização Mundial de Saúde. No entanto só agora o Brasil está tomando essa decisão. Por que?Helvécio Miranda: É antigo, já foi recomen-dado pela OMS e é um mandamento cons-titucional: Redes hierarquizadas e regiona-lizadas. Estamos cumprindo a Constituição neste aspecto mais operacional, que dá um caminho para o Sistema Único de Saúde. A mesma Constituição que criou o SUS, de 1988, criou o Município como ente fede-rado, com igual prerrogativa dos Estados e da União. A nossa tradução para a descen-tralização no bojo do movimento sanitário foi a municipalização, aproximar das pesso-as cada vez mais a maior parte das ações e serviços de saúde, respeitando um outro as-pecto igualmente importante, também cons-titucional, que é o comando único. É uma decisão dessa gestão continuar defendendo isso. Nós sempre defendemos no Conasems, e continuo defendendo aqui, que o comando das ações e serviços de saúde é do Municí-pio, a não ser que ele, por diversas razões, compartilhe com o Estado este comando. No entanto, nós criamos um termo no Co-nasems que eu considero muito vivo, que é a ‘municipalização incompleta’. Logo em

seguida à Constituição, o Brasil tomou uma posição muito importante que foi a de radi-calizar a Atenção Básica, com o Programa Saúde da Família.

Sustentação: O Ceará foi muito importante nesse movimento inicial, com várias experi-ências muito singulares...HM: Isso, exatamente. Hoje o Programa Saúde da Família é um fenômeno, um pa-trimônio brasileiro. E uma coisa reforçou a outra: a Atenção Básica se faz no Municí-pio e a municipalização viabilizou ter Saúde da Família em larga escala. Por que então chamamos de municipalização incomple-ta? Porque não foi acompanhada ao mesmo tempo de duas coisas: um fi nanciamento adequado e a regionalização adequada. Os Municípios continuam se ressentindo de um subfi nanciamento da saúde porque já pas-saram do limite do seu esforço, com rarís-simas exceções, inclusive no cumprimento da Emenda 29, com alguns destinando até 25%, 30% dos seus recursos, prejudicando inclusive as outras políticas. Faltou o papel do Estado nesse processo, porque só mui-to recentemente ele assumiu o papel regu-lador do Sistema, de articulador regional e de provedor de serviços suplementarmente. E também faltou o papel da União, porque o Governo Federal fi cou normatizando e

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transferindo recursos, fundo a fundo des-de o Governo do Itamar Franco, mas com o Ministério da Saúde muito ausente desse processo. O Município ficou muito sozinho e conseqüentemente surgiu a necessidade de outras perspectivas. Com 5565 Municípios, a imensa maioria sendo muito pequenos, não se completa no seu território o princípio da integralidade. Essa é uma realidade do Ceará, mas não apenas dele.

Sustentação: A organização regional, então, seria a solução para garantir essa integra-lidade?HM: Claro. Isso seria completar a descentra-lização, mas melhorando o financiamento e avançando na regionalização solidária, real, pactuada. Os Municípios continuam com comando único, sem invasão das suas prer-rogativas, mas vão ofertar além do que pro-duzem em seu território, completando e pac-tuando claramente a oferta de serviços que seus cidadãos precisam. Esse é o caminho e é neste ambiente que estamos construindo as Redes de Atenção à Saúde. Ao mesmo tempo em que elas reforçam a regionali-zação, elas são o ca-minho mais fácil para o cidadão transitar em busca das suas necessidades de saúde. Ou seja, a força da idéia de Rede, além de ser constitucional, é a lógica de que ela tem que se conformar de forma a atender todos os cidadãos onde eles moram, na integralidade das suas necessidades. Se não for assim nós corremos o risco, e já temos algumas evi-dências disso, infelizmente, de voltar a ter cidadãos de duas categorias: os que nascem em Municípios pequenos e se limitam a usufruir os serviços da Atenção Básica e os que nascem na capital e têm acesso a todo o resto. Não podemos deixar isso acontecer. Este Governo tem tratado as Redes de Aten-ção à Saúde como a prioridade mais abso-luta, especialmente a Secretaria de Atenção à Saúde, que coordena toda a Atenção no País, junto aos Estados e Municípios. Essa é a idéia-força das Redes.

Sustentação: Esse movimento também foi um compromisso assumido em campanha pela então candidata Dilma Rousseff.

HM: Exatamente. Nós falamos isso na cam-panha. Nos comprometemos a fazer as Re-des, a completar a municipalização, a for-talecer os Municípios. E a mudar também o papel do Ministério da Saúde, tornando-o mais propositivo, mais ativo, com equipes nos estados, compartilhando as discussões junto com os Cosems, com as Secretarias Estaduais de Saúde, fazendo as oficinas de condução das Redes, reinventando os fluxos dos serviços. O fato de estarmos nos per-mitindo construir juntos as Redes tem nos apontado os verdadeiros problemas do fluxo das pessoas. O que parecia uma coisa, por exemplo uma pactuação de um atendimento em ortopedia, quando vimos na prática era outra. Ou o paciente não era atendido ou era atendido com restrição. A medida que esta-mos desenhando as Redes em diálogo com os prestadores, com os gestores, estamos vendo a vida real dos usuários. Então isso está dando um choque de realidade para o SUS, o que é um caminho muito importan-

te. E nós nos compro-metemos com alguns temas. Se a região é um espaço privile-giado, como eu disse diante da prerrogativa federada dos Muni-cípios, onde temos solidariedade, onde

temos uma regulação regional, é lá que nós vamos montar as Redes. Não vamos a par-tir das Redes inventar as regiões, mas serão essas, com suas adequações que estão sendo discutidas em cada local, os cenários para a implementação das Redes.

Sustentação: Qual foi o papel do Decreto 7508 neste processo?HM: Foi ele que nos permitiu reforçar esse conceito de regionalização real. Fizemos isso usando esse instrumento poderoso, um Decreto Presidencial, que regulamentou a Constituição, a Lei 8080 no seu aspecto de construir regiões de saúde como um grande espaço de planejamento, de operação e de gestão. Ele fala de tudo o que importante neste processo. Fala das portas de entra-da, da Atenção Básica, da Saúde Mental, da Urgência, da Saúde do Trabalhador, da assistência do feto neonatal e da busca da integralidade. Da necessidade de criar uma relação de serviços e reforçar uma relação

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de medicamentos. O Decreto nos dá esse corpo legal, além de apontar um instrumento mais poderoso, que é o Contrato Organiza-tivo de Ação Pública – COAP, que vai ser o fecho final para dar mais transparência, mais rigor no acompanhamento, e mais clareza aos usuários e aos gestores. E nós optamos por alguns temas organizativos das Redes, para dar mais lógica a elas, a partir dos ter-ritórios, que são as regiões. Então optamos por razões epidemiológicas, assistenciais e de relevância política. Esse é o caso das Urgências, que além de uma grande deman-da assistencial da população é também uma fragilidade política muito grande do SUS, e até para dar legitimidade ao Sistema estamos atacando muito as Urgências e Emergências. Então a Rede de Urgência e Emergência, a Rede Cegonha, a Rede de Saúde Mental, a Rede de Cuidados com Doenças Crônicas, começando pelo câncer, e em especial aque-les que mais causam sofrimento e morte nas mulheres que são o câncer de colo e de mama, esses são os grandes temas que nós optamos para ir dando vida às Redes nos de-terminados territórios.

Sustentação: Esses temas eleitos buscam en-frentar os principais desafios do SUS. Mas também podemos dizer que as Redes estão pensando em promoção e prevenção, e desta maneira fugindo da ‘ditadura das condições agudas’, colocada por Eugênio Vilaça como uma tendência da assistência em todos os países do mundo?HM: O tempo todo as Redes pensam neste aspecto. Podia ser outro formato, mas qual a característica absolutamente fundamental do nosso conceito de Redes? Que elas são centradas, ordenadas pela Atenção Básica. Então nós estamos pro-pondo à Atenção Básica o desafio de um segundo papel: além de cuidar das pessoas diretamen-te, através das equipes multiprofissionais, bus-cando dar cada vez mais resultados verdadeiros para boa parte dos problemas de saúde que as pessoas têm, ela também vai ordenar a Rede, coordenar o cuidado das pessoas. No território de responsabilidade da equipe de Saúde da Família aquela população tem

que ser cuidada por essa equipe ao longo da vida. Não é só fazer o primeiro atendimento e encaminhar. Ela tem que saber o que é que aconteceu com aquela pessoa: foi ao neuro-logista? Fez o exame? Retornou para acom-panhamento? Tem diagnóstico? Está usando a medicação adequada? Esse medicamento está disponível? Será preciso internar? Foi atendido na urgência e voltou? Descompen-sou o diabetes? Enfim, isso é o que a gente chama de gestão contínua do cuidado. E só a Atenção Básica pode fazer isso. Não é a porta de urgência que pode fazer, não é a ma-ternidade que pode fazer. Então essa é uma aposta muito maior na Atenção Básica.

Sustentação: Acho que é importante a gente falar então do investimento que está sendo feito na qualificação da Atenção Básica, de forma a prepará-la para este cenário.HM: Fizemos um esforço muito grande em 2011 reforçando o financiamento, transferin-do financiamento da média e alta complexi-dade, e inauguramos uma nova era, que veio do acúmulo desses anos todos, mas que é um projeto de qualificação da Atenção Básica. Vamos passar a financiar de acordo com re-sultados, melhorar o financiamento de quem aposta na qualidade, de quem aposta na sa-tisfação dos usuários. Estamos investindo pesadamente na estrutura, na área física, na tecnologia, promovendo reformas e amplia-ções, implantando o Telessaúde, informa-tizando as Unidades. E estamos colocando como condição de avaliação exatamente o enfrentamento de doenças crônicas: o bom controle da hipertensão, diabetes, doenças negligenciadas como tuberculose e hansenía-se, além do cuidado com a criança. Enfim, os

diversos pontos que vão dando direção às Redes. Não podemos mais con-viver com uma casinha de Saúde da Família, e também precisamos pen-sar na dignidade dos pro-fissionais e na relevância do trabalho. Ter equipes fixadas é outro grande desafio. Garantir uma

fixação baseada na possibilidade de fazer carreira, de ser um profissional bem remune-rado, e que vai exercer várias atividades ao mesmo tempo, interagindo com a comunida-de. Há Programas pensando nisso tudo.

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Sustentação: O Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) foi bem recebido nos Municípios brasileiros?HM: Muito. Nós consideramos um suces-so absoluto, altamente elogiosa, a respos-ta que foi dada ao PMAQ. Tínhamos uma expectativa muito menor quando abrimos, porque foi por adesão, e quando vimos 18 mil equipes, mais de 50% do total no Brasil, se dispuseram a serem avaliadas externamente. Ou seja, elas estão dizendo que apostam na qua-lidade do que fazem e que querem melhorar. Isso foi uma resposta, legitimamente muni-cipal, da potência dos Municípios em res-ponder aos desafios do Sistema Único de Saúde. Isso é muito valioso, porque essa avaliação vai analisar a satisfação do usu-ário, que será entrevistado em casa. Terá também a auto-avaliação, o incentivo à cultura da negociação interna, de pactua-ção dos indicadores, de contratualização dos trabalhadores. Esse é um caminho sem volta. Vamos ampliar o PMAQ, pôr mais equipes, ampliar o financiamento. O PMAQ pode, inclusive, dobrar os recursos para a Atenção Básica para quem tiver a avaliação aprovada em 100%. É um mo-vimento vigoroso e os Municípios deram resposta. Outro Programa, de valorização

do profissional da Atenção Básica (Provab) vai atuar na fixação dos profissionais, e está dando mostras que vai ser bem positivo também, pois mais de 5 mil profissionais se inscreveram em todo o Brasil. E tem os cerca de 10 mil médicos de escolas priva-das que nós poderemos pagar os créditos do Financiamento Estudantil (FIES) se eles ficarem na Atenção Básica, cada mês uma prestação. Estamos localizando os 10 mil médicos que já têm o crédito educativo e entregando seus endereços aos prefeitos.

Enfim, é um esforço permanente.

Sustentação: Esse or-denamento a partir do PSF já funciona bem, por exemplo, com procedimentos eleti-vos, mas é bem claro

que a Rede é bem mais complexa que isso. Então que instrumentos de apoio estão sendo pensados neste sentido, por exemplo no que se refere a sistemas informatizados de controle do histórico de cada paciente?HM: Este é um ponto crítico. Entendemos que uma proposta dessas condiciona uma boa Atenção Básica, com as condições fí-sicas adequadas e de recursos humanos idem. Mas também sabemos que uma Rede dessas, com pontos de atenção em vários locais, exige um sofisticado siste-ma de informação. Neste sentido um nú-mero identificador é fundamental. Temos

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que vislumbrar para o País um prontuário único, mesmo na extensão territorial do Brasil, com tecnologia, interconectividade, interoperabilidade. Não é possível o sujei-to ter uma vida toda na Atenção Básica e quando ele for numa UPA, ou num pron-to atendimento, ou numa urgência, tudo começar de novo. Ou mesmo o contrário, ele ser atendido nos serviços especializa-dos e quem cuida dele na Atenção Básica não ter acesso ao que ele fez de exame etc. Este acompanhamento da vida ao longo do tempo exige prontuário eletrônico, exige núme-ro identificador, que es-tamos colocando como uma grande questão com o Cartão Nacional de Saúde. É um ponto crítico para as Redes te-rem vida, para que haja uma verdadeira governança, e por isso es-tamos investindo pesadamente. Mas é um caminho longo, que ainda vai exigir mui-to esforço, muita paciência. Por isso não vamos esperar a situação ideal para fazer tudo. Estamos agindo concomitantemente. Então as filas têm que ser acompanhadas, das eletivas, dos exames, nem que seja na mão. Já temos muitas iniciativas pelo Bra-sil, não apenas de prontuários eletrônicos, mas de sistemas de regulação, e estamos avançando em regular melhor os leitos, as ofertas, a tecnologia etc.

Sustentação: O Ceará está tendendo a or-ganizar essas Redes a partir de uma regio-nalização que já existe. Isso se repete nos demais estados do Brasil, ou as realidades são mais diversas?HM: São mais diversas. Como gastamos boa parte de 2011? Pactuando as regras com o Conass e o Conasems do funcionamento e financiamento das Redes. O Ministério da Saúde tomou uma decisão, compartilhada com estados e Municípios, que recurso novo é somente através das Redes. Nós não es-

tamos mais transferindo recursos para teto livre, para equalização de pla-nos percapta de média e alta complexidade. O foco agora é a Atenção Básica, a qualidade, e as Redes, respeitando o desenho de cada região.

Então é muito diverso. Não só porque as re-giões são diferentes, mas porque a história de cada estado é muito diferente. Estados que já tinham o acúmulo, uma história de se dedicar mais à questão da regionalização, têm mais capacidade de organizar a Rede, porque já têm o desenho mais ou menos fei-to. O Ceará é um bom exemplo disso. Mas há estados em que isso não avançou muito ao longo dos anos. E nós estamos tendo que apoiar iniciativas mais primárias, no sentido de que ainda é preciso avalizar as regiões, e desenhar quais são os serviços. E outro

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aspecto muito importante é que a oferta é muito desigual. Nós temos uma super con-centração na região litoral do País e no sul e sudeste. Por isso no desenho das Redes não podemos nos contentar com o que já temos. Precisamos vislumbrar vazios assistenciais de modo a ir lá e fazer o serviço. Um bom exemplo é a questão da atenção oncológica. Não podemos mais conviver com distâncias de centenas de quilômetros para a pessoa ter acesso a um tratamento de câncer. Então estamos criando parâmetros para falar o se-guinte: hoje o Ceará é assim. Mas nós que-remos em curto, médio e longo prazo que a atenção oncológica seja de outro jeito. Va-mos fazer isso usando todos os dispositivos de fi nanciamento, quer seja de Emenda Par-lamentar, de Emenda de bancada, pode ser recurso de Programa... mas num determina-do pólo, lá na região do cariri, nós vamos ter isso, isso e isso. Pode demorar quatro anos, mas vamos ter. Vamos ter ressonância, to-mógrafo... E aí você projeta o futuro.

Sustentação: Mas as necessidades de cada região também mudam muito, não?HM: Com certeza. As necessidades mudam em diferentes períodos. E dependendo do que você necessita, isso muda um pouco a regionalização também, porque ela tem que ser dinâmica. E muda a Rede. Enquanto isso a gente vai fortalecendo a Atenção Básica, vai fortalecendo a Rede, vai construindo e avaliando os fl uxos. Por isso é preciso ter comitê gestor, que tra-balhe junto com os Cosems, porque esse é o desenho estratégico. Mas o Ceará tem tra-dição nessa discussão. As pessoas já estão antenadas. Podem não ter todos os dados, as informações ainda não são as ideais, mas acho que isso facilita mui-to a dinâmica. As pessoas têm muita clareza do que é necessário, de onde é necessário ter determinados serviços, porque já tem uma certa idéia dos vazios.

Sustentação: O que a gente percebe é que há duas angústias e eu gostaria de conversar um pouco sobre elas. Primeiro é a questão do fi nanciamento e o que muda com a im-plementação das Redes e a segunda é que

a partir dessa proposta de regionalização, cada vez fi ca mais claro que a organização do Sistema não vai partir do Município, mas da região, o que angustia muito o pre-feito do pequeno Município, que é a pessoa a quem a população mais recorre na hora da agonia. Há os critérios técnicos que pre-cisam ser considerados, epidemiológicos também...HM: Certo. Vamos começar por essa segun-da questão, que tem que ser bastante con-versada. Nós já percebemos que existe esse mal estar, mas que na verdade ele não tem bases reais. As Redes vão levar em conta o conjunto de necessidades de cada região, que nada mais é que o somatório dos diver-sos conjuntos das demandas municipais, que partem obviamente do Município. A intenção clara e a disposição é que as de-mandas municipais somadas resultem na demanda regional, e não o contrário. Agora a resposta a essas demandas, por razões de escala, de lógica organizativa, é que terá o caráter regional, às vezes micro e às vezes mais macrorregional. Porque os serviços, até pela qualidade, têm que ter mais escala. Às vezes por razão econômica, já que você também conta com prestadores privados no mercado contratados pelo SUS, ou às vezes por questão técnica. Vou dar um exemplo: para um cirurgião infantil ser considerado um bom cirurgião, ele tem que operar um número mínimo de crianças. Então se a gen-te quer ter qualidade em vários aspectos,

não podemos ter alguns serviços pulverizados. Qual é a delicadeza que temos que preservar? É o acesso, aquilo que fa-lei um pouco no início. Independente de onde o cidadão é, da distân-cia, que ele tenha que percorrer, e é claro que

isso é um transtorno, a garantia do acesso é que fundamental. Ele tem que entender que aquele cirurgião vai operá-lo bem na capital e que ele não faria isso no seu Mu-nicípio, mas ele teve acesso. E vamos evi-dentemente pensar no transporte também como parte da garantia desse acesso. Essa discussão é muito importante, tem que ser feita, mas tem que ser melhor colocada para que jogue luz sobre isso, e daí a importân-cia do COAP, que vai dar transparência ao

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processo. Se nós estamos acertando que um número x de pessoas desse Município preci-sa ser encaminhado para a oncologia, para a cirurgia cardiovascular, temos que garan-tir isso. Não em razão de outro que é mais importante politicamente porque é a capital. Em tese, a Rede garante o acesso com quali-dade, mas isso precisa acontecer na prática. Então essa angústia não é a toa, mas temos que desconstruir alguns fantasmas sobre essa legitimidade municipal, porque nós entendemos que estamos reforçando a capa-cidade do Município de ordenar a saúde da sua população.

Sustentação: O COAP, ao mesmo tempo que lança luz sobre uma série de coisas, também assusta um pouco porque reforça essa fi s-calização já permanente sobre a saúde, que se manifesta muitas vezes sobre a forma de judicialização.HM: Sim, e essa judicialização pode au-mentar no aspecto do descumprimento, porque o Município não deve assumir responsabilidades acima de suas condi-ções. Assim como o Estado e a União não devem assumir também. Por isso o COAP é de difícil execução, porque ele tem que ser muito responsável. Mas é um avanço no sentido de que responsabiliza gestores e aí nós começamos a diferenciar o bom gestor do mau gestor. O bom prefeito do mau prefeito. E a saúde precisa avançar nisso. Hoje não tem mais nenhum prefei-to que discuta a responsabilidade sobre a educação fundamental, mas ainda dis-cutimos responsa-bilidade na Atenção Básica. Acho que vai separar o joio do trigo. A gente preci-sa se esforçar para realizar essa discus-são de forma muito transparente, muito calma e clara. Não precisa ser correndo, de um dia para o outro. E estamos num momento difícil, onde findam as gestões municipais, então o prefeito pensa: ‘Ah, mas eu vou mesmo assinar isso?’. Muitos já estão no segundo mandato. Mas vamos construindo devagar a cultura da respon-sabilização, da negociação.

Sustentação: E voltando ao aspecto do fi -nanciamento...HM: Também é um problema enorme a questão do fi nanciamento. Esse sim é um problema real. Não acho que seja uma coisa boa contrapor necessidade de fi nanciamento e gestão, porque nós precisamos dos dois. A própria organização em Rede dá mais ra-cionalidade ao gasto. Mas ainda temos mui-tos serviços duplicados, triplicados, ofertas desnecessárias, ofertas defi nidas pelo mer-cado, pelo interesse do prestador e não pela necessidade de saúde. Temos também bai-xa qualidade, e é bom lembrar que ela gera gastos desnecessários, e a baixa qualidade profi ssional gera encaminhamentos desne-cessários, exames desnecessários. Você ter 80% de normalidade em um exame é porque alguma coisa está errada. Isso é gasto mal feito. Porque quando se fala nisso, a gente sempre lembra da corrupção, que é crime e está em outra esfera, mas estamos falando do contraponto que é o bom gasto. A boa prescrição, não prescrever medicamentos desnecessários, cuidar melhor, encaminhar direito. Então temos muitas coisas para avançar na capacidade gestora, no treina-mento das equipes e no funcionamento das Redes. E há os arranjos mal feitos, do Muni-cípio que tem pronto atendimento e pactua a UPA estadual, tem um hospital e constrói outro. Não dá. Temos ainda muito a avan-çar nesse sentido. Mas mesmo que isso tudo aconteça, ainda vai faltar dinheiro no SUS para a atender as necessidades, para garantir a integralidade. Então nós temos que con-

tinuar brigando pelo fi nanciamento.

Sustentação: Muitas pessoas acreditam que regulamentação da Emenda 29 foi frus-trante neste sentido.HM: Eu discordo. Acho que a regula-mentação da Emen-

da 29 foi um passo extraordinário porque acaba com parte desse problema, do que é gasto com a saúde, e avança nisso. A Lei Complementar 141, que é a regulamen-tação da Emenda 29 sancionada no dia 13 de janeiro pela Presidenta Dilma, ela tem muito mais coisas do que a questão

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Sustentação: Secretário, existe um medo real que o Cosems vem acompanhando, do secretário de saúde se perguntar e nos per-guntar: eu vou conseguir manter essa UPA?HM: Claro, e com toda razão. Por isso eu acho que ele só pode se aventurar, e nós te-mos discutido isso com os Municípios, se ele tiver condições de arcar. Nós até inver-temos a lógica no PAC 2, pensando nessa questão. Como foi no PAC 1? Foi um pouco a pergunta: quem quer UPA? Porque isso era o possível naquele momento. Então muitos Municípios aderiram dessa maneira. Agora nós fizemos um desenho, apesar da preca-riedade das informações, de onde víamos que havia necessidade de uma UPA. Então as 500 Unidades, 367 mais especificamen-te, pois algumas já estavam em andamento, nós destinamos olhando este mapa, priori-zando as ausências de pronto atendimento, as distâncias dos serviços etc. A partir disso, apresentamos a todos os estados em feve-reiro, falando de nossa proposta para cada um deles, para os secretários de saúde e re-

presentantes dos Co-sems, para que eles validassem ou não. E o Município fez essa avaliação, aceitando o que era realmente de acordo e rejeitan-do o que não era, mas consciente de que o Ministério ofertou. E

na hora de aceitar, o Município tem que ter clareza de qual vai ser o financiamento. Nós estamos disponibilizando os custos e o que mudamos do ano passado para cá? Dobra-mos o financiamento da UPA, o componente federal. Não cobre todo o custo e o Municí-pio tem que entrar com uma parte. Quere-mos que o Estado também entre com uma parte. E também dobramos o financiamen-to federal para o SAMU. Fizemos algumas exigências a mais no sentido da qualidade, mas não tem nada de muito misterioso. Também inovamos numa coisa muito inte-ressante, que foi a Atenção Domiciliar, que funcionava apenas em alguns estados, 100% financiada pelos Municípios. Nós coloca-mos 100% do custo real dentro do financia-mento federal. Então estamos pagando por cada equipe de Atenção Domiciliar o valor de R$ 35 mil, baseado em pesquisas em vá-rios Municípios, como Salvador, Belo Hori-

do financiamento. Tem muitos aspectos regulatórios, muitos aspectos de transpa-rência da gestão, ou seja, avançou muito, embora tenha ficado mais famoso o aspecto do financiamento. Mas claro que ela ainda tem coisas a serem complementadas. Não na Lei, mas na disputa política pelo finan-ciamento. A União precisa crescer o finan-ciamento, e essa é a postura do Governo, inclusive da Presidenta. Nós tivemos para 2012 o cumprimento da Emenda 29, que o Governo Federal vem cumprindo desde o início do Governo Lula, inflação mais PIB, e, além disso, tivemos mais 5 bilhões de reais além dessa variação, o que nos fez crescer 17% o orçamento federal, que já é o primeiro efeito do cumprimento da pro-messa da Presidenta, de ampliar os recur-sos da saúde, mesmo sem a exigência da Emenda 29. E para ser coerente com nos-sa proposta, é importante lembrar que nós já crescemos 24% na Atenção Básica, um crescimento ainda maior que a média e alta complexidade. Mas ainda precisamos mui-to de financiamento e quem mais sofre são os Municípios, por-que eles não têm para onde correr. Os Esta-dos vão aportar mais recursos a partir da EC29, entre 3 e 4 bi-lhões de reais, o que vai dar mais clareza ao financiamento. E a União tem que conti-nuar crescendo e nós continuarmos fazen-do essa disputa na sociedade. Enquanto a sociedade não estiver convencida de que precisa de mais recursos na saúde, ela não vai empurrar o Congresso, que é a expres-são da sociedade, neste rumo. Não é só uma vontade da Presidenta, porque você precisa colocar um recurso que vai acabar saindo de outra área. Mas se a sociedade estiver convencida, ela empurra o Congresso. E nós claramente temos que continuar falan-do, porque é verdade, que gastamos pouco percapta em saúde. E que o SUS precisa melhorar a sua eficiência, mesmo que no geral já seja bastante eficiente. Precisamos de mais financiamento, por exemplo, na Atenção Básica, para conseguir pagar me-lhor as equipes, fixar mais os médicos, am-pliar mais a formação médica para ter mais ofertas. É um grande desafio.

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zonte. É um serviço novo, são mil equipes e uma média de 60 mil pessoas internadas em casa. Isso é importante porque não estamos mais onerando os Municípios. E outros ga-nhos como ampliação do pagamento de lei-tos de UTI, no sentido de que os Municípios que estavam aportando recursos próprios possam deixar de aportar.

Sustentação: Essa organização das Redes também está pensando nas estruturas que já existem, como os Hospitais de Pequeno Por-te, no sentido de realizar um aproveitamento desses espaços? Inclusive a maioria deles sobrevive a duras penas nos Municípios...HM: Está sim. É uma boa pergunta porque essa é uma realidade no Ceará e no restan-te do País. É possível que mais de 50% dos hospitais brasileiros tenham menos de 50 leitos, o que em tese nem poderia ser um hospital. Mas aí tem uma mudança impor-tante na postura do Ministério e de alguns estados. O discurso sempre foi assim: esses têm que fechar. E este discurso nunca se efetivou por uma razão óbvia: não podem fechar. Estamos mudando essa postura com toda a clareza, admitindo que esses peque-nos hospitais existem e têm como desafi o mudar o seu papel. Eles não podem ser hos-pitais no sentido clássico da palavra, com internação, clínica, pediatria, execução de partos. Eles não têm escala para isso. A es-terilização nunca vai ser a melhor possível, o padrão de qualidade não será. Por isso estamos trabalhando alternativas em várias experiências. Primeiro: ele pode ser satélite, anexo de um outro hospital, consorciando com ele. Ou ele pode ter o papel claro de leito de retaguarda para doente crônico; ou base do PSF, casa de parto e leito de reta-guarda; ou pode ser só pronto atendimento e casa de parto; ou internação de curta du-ração, com pacientes mais complexos trans-feridos para os centros regionais. Enfi m,

predominantemente estamos investindo, na Rede de Urgência, nos leitos de retaguarda como um papel para os pequenos hospitais. Estudamos muito as experiências portugue-sa e espanhola do cuidado compartilhado. Em resumo signifi ca que o hospital tem um poder dentro da Rede, podendo comparti-lhar o cuidado, hora o paciente estando lá, hora estando na Atenção Básica. O certo é que queremos redesenhar o papel desses hospitais. Podemos até continuar chaman-do de hospitais, porque tirar o nome seria muito desagradável para o gestor e para a população, mas ele vai ser uma outra coi-sa por dentro, pactuada, negociada. Essa é uma experiência muito importante, porque vai atingir todo o nordeste, principalmente. E aí a gente muda inclusive o fi nanciamen-to disso. Não será mais por internação, por AIH, mesmo o fi lantrópico. Vamos fazer um fi nanciamento global com metas de resulta-dos. Não precisa internar só para se man-ter, muda muito a lógica. Estamos falando com os Estados e vamos aceitar propostas, vamos incentivar experiências, vamos fi -nanciá-las, dentro da idéia de Rede. E esse pequeno hospital tanto poderá servir para a Rede de Urgência, quanto para a Rede Ce-gonha, obstétrica e neonatal.

Sustentação: Existe uma previsão para essa organização plena das Redes?HM: É um processo bastante demorado, porque as Redes também precisam dialogar entre si. Mas a meta pactuada com a Presi-denta é de que pretendemos para a Rede de Urgência e Emergência, prioritária diante de todas as outras, termos o plano de ação de todas as regiões metropolitanas fi nanciado e em execução até o fi nal de 2012. O que é possível, pois já temos todas as normas e já estamos validando essas Redes nos Estados. Para a Rede Cegonha o plano é mais ousado, porque são todas as regiões metropolitanas e

toda a Amazônia Legal e o Nordeste. A Rede de Saúde Mental nós estamos desenvolven-do prioritariamente em oito estados mais críticos em termos de dependência ao crack. Mas a seguir, a medida que se organize, pois já temos a normatização toda aprovada e pu-blicada, dos leitos de internação em saúde mental nos hospitais gerais, vamos expandir para o resto do Brasil. E Fortaleza está inse-rida nisso. São sete capitais e mais São Ber-nardo do Campo. Todos os estados poderão se organizar, desenhar a Rede dentro dessa normatização, negociar com os Cosems e encaminhar para o Ministério, para que pos-samos validar. E essa idéia do Ministério es-tar construindo junto já facilita, porque não se torna só um documento em nossas mãos, mas um projeto que contou com o envolvi-mento de nossos apoiadores temáticos nos estados. Para a Rede de Pessoa com Defi ci-ência nós vamos aprovar a primeira Portaria ainda em fevereiro. Vai ser bacana a idéia do Centro de Referência para a pessoa com defi ciência, com ofi cinas ortopédicas, trans-porte adequado para as crianças com defi ci-ência se dirigem às suas escolas, equipes do PSF treinadas para receber essas crianças, enfi m, muitas novidades legais. A doença crônica é muito focada na Atenção Básica, e vai depender dos encaminhamentos que estão acontecendo e que já expomos aqui. Estamos redesenhando a Rede Oncológica do País, ampliando radicalmente a oferta de radioterapia e de serviços, com foco em câncer de colo e progressão para outros cân-ceres. Nossa expectativa é ter essas Redes no Brasil todo até 2014, em pleno funcio-namento e já mostrando aonde é preciso in-vestir. O investimento de 2011 foi todo nas Redes, de Emenda Parlamentar individual aos programas, não tivemos nenhum serviço lançado fora das Redes. Persistindo no ca-minho, dentro de quatro anos teremos uma nova face para o SUS.

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A situação da saúde no Brasil caracteriza-se por uma transição demográfi ca acelerada e por uma situação epi-demiológica de tripla carga de doenças com forte predo-mínio relativo das condições crônicas. A forma como o sistema de atenção à saúde responde a esta singular situação de saúde é por meio de um sistema fragmentado e voltado prioritariamente para a atenção às condições agudas.

Esta incoerência entre a situação de saúde e a resposta social do siste-ma de atenção à saúde caracteriza a principal crise do SUS que só será supera-da por mudanças signifi cativas no sistema de atenção à saúde, o que convoca a instituição das redes de atenção à saúde. As redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjun-tos de serviços de saúde vinculados entre si por uma missão única, por ob-jetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permitem ofertar atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela atenção primária à saúde – prestada no tempo certo, no lugar certo, com custo certo, com qualidade certa e de forma humanizada – e com responsabilidades sanitária e econômica por essa população. As redes de atenção à saúde compõem-se de três elementos constitu-tivos: a população, a estrutura operacional e os modelos de atenção à saúde. A população é a razão de ser de uma rede de atenção à saúde e deve ser a base da gestão da saúde baseada na população. Para isso, ele deve ser cadastrada na atenção primária à saúde e estratifi cada por subpopulações de riscos. A estrutura operacional está constituída pelos nós das redes e pelas li-gações materiais e imateriais que comunicam esses diferentes nós. Estrutural-mente, as redes de atenção à saúde compõem-se de cinco elementos: o centro de comunicação, a atenção primária à saúde; os pontos de atenção secundários e terciários; os sistemas de apoio: sistema de apoio diagnóstico e terapêutico, sistemas de assistência farmacêutica e sistemas de informação; os sistema lo-gísticos: o cartão de identifi cação das pessoas usuárias, o prontuário clínico, os sistemas de acesso regulado à atenção e os sistemas de transporte em saúde; e o sistema de governança.

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É fundamental entender que as redes de atenção à saúde têm como centro de comunicação a atenção primária à saúde. O maior desafi o para a implantação das redes de atenção à saúde está no fortalecimento da estratégia da saúde da família para que ela, além se resolver 85% dos problemas mais comuns, faça a coordenação dessas redes. Os modelos de atenção à saúde são sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à saúde, articulando, de forma singular,. as relações entre a população e suas subpopulações estratifi cadas por riscos, os focos de intervenções dos sistemas de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias , defi nidos em função da visão prevalecente de saúde, das situações demográfi ca e epidemiológica, e dos determinantes sociais da saúde vigentes em determinado tempo e sociedade. Os modelos de atenção à saúde são diferentes para as condições agu-das e para as condições crônicas. O modelo de atenção às condições agudas é constituído por um tipo de classifi cação de risco que defi ne o tempo-resposta e o local de atendimento. Alguns lugares no Brasil estão utilizando o sistema Manchester de classifi cação de risco. Os modelos de atenção às condições crô-nicas é mais complexo. Há várias propostas, mas, todas, têm sua origem no modelo dos cuidados crônicos, desenvolvido nos Estados Unidos no fi nal da década de 90. Esse modelo sofreu adaptações a diferentes países. No meu livro sobre redes de atenção à saúde proponho o modelo de atenção às condições crônicas que parte do modelo dos cuidados crônicos, porém compreende dois outros modelos: o da pirâmide de riscos e o da determinação social da saúde de Dahlgren e Whitehead. É, assim, um modelo expandido, para dar conta de um sistema público universal, o SUS. Há evidências, provindas de diferentes países, de que as redes de aten-ção à saúde podem melhorar a qualidade clínica, os resultados sanitários e a sa-tisfação das pessoas usuárias e reduzir os custos da atenção à saúde. No Brasil, a experimentação de redes de atenção à saúde é recente. Mas já há experiências bem avaliadas, como o Programa Mãe Curitibana.

Eugênio Vilaça Mendes Consultor em Saúde Pública

[email protected]

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O desafio de permitir acesso integral

Será possível superar as fragilidades de acesso ao Sistema Único de Saúde, resultantes em parte da grande fragmentação de suas políticas? Conectar esses pontos de acesso e fazê-los trabalhar em sintonia, dentro desta mesma engrenagem, é a solução? O Ministério da Saúde aposta que sim. Acompanhe.

Redes de Atenção à Saúde

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Até 2014 viveremos sob o prenún-cio de mudanças avassaladoras para o Sis-tema Único de Saúde. Parece um veredicto meio profético, mas a organização da Aten-ção em Redes inova em tantos aspectos e põe o dedo em tantas feridas, que de fato, em al-guns segmentos, não deverá restar nada que já esteja acostumado. Ao menos é ideal que seja assim, no sentido de cumprir mais um mandamento constitucional: redes hierar-quizadas e regionalizadas de saúde. Eugênio Vilaça Mendes, autor do livro As Redes de Atenção à Saúde, explica que elas “têm sido propostas para administrar políticas e pro-jetos em que os recursos são escassos e os problemas complexos; onde há interação de agentes públicos e privados; e onde se mani-festa uma crescente demanda por benefícios e por participação cidadã”. “As redes não são, simplesmente, um arranjo poliárquico entre diferentes atores dotados de certa au-tonomia, mas um sistema que busca, delibe-radamente, aprofundar e estabelecer padrões estáveis de inter-relações”. O Ceará, como os demais estados no Brasil, está vivendo o processo de im-plementação de suas Redes de Atenção, que exigem um criterioso exercício de redesenho das regiões de saúde e de discussão detalha-

da dos milhares de dispositivos e termos que compõem esse processo. A Revista Susten-tação acompanhou de perto a maior parte das discussões que cercearam os primeiros passos, a elaboração dos planos estaduais, os conflitos latentes e a tentativa de garan-tir a municipalização para um processo que será essencialmente regionalizado. Até o final do mês de fevereiro foi possível pac-tuar na Comissão Intergestores Bipartite os planos regionais para a Rede de Urgência e Emergência e a Rede Cegonha. A primei-ra vai enfrentar o que a Presidenta Dilma Rousseff afirmou durante o lançamento do Programa SOS Emergências de “um dos setores mais decisivos, não só do ponto de vista da realidade, mas do ponto de vista da percepção de nossa população, como decisi-vo para sua qualidade de vida”. E a segunda, vai de encontro a dois grandes e vergonho-sos problemas que o SUS ainda não con-seguiu eliminar, apesar de seus mais de 20 anos de experiência: a mortalidade materna e a mortalidade infantil. Nesta edição, inauguramos uma série de reportagens sobre este processo de construção, iniciando com a Rede Cegonha e os desafios do Ceará na luta para garantir assistência à mãe e ao bebê.

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A Rede Cegonha

De todos os dados reunidos duran-te o processo de construção do diagnóstico para a implantação da Rede Cegonha no Ceará, um chamou especial atenção dos secretários de Saúde e técnicos presentes à Reunião Ampliada do Cosems em fevereiro último: 82% dos óbitos maternos ocorridos entre 1997 e 2009, principalmente durante o parto, poderiam ter sido evitados. A di-vulgação do número caiu como um chum-bo sobre a atenção dos ouvintes. Naquele instante estava sacramentada a missão da Rede no Ceará, que também deverá pre-ocupar-se prioritariamente com um outro número igualmente perverso: onze, em cada mil bebês nascidos vivos, morrem antes de completar um mês de idade. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde do Ceará. Mortalidade infantil, neonatal e pós-neonatal, e mortalidade materna são os problemas-chave em torno dos quais se mo-vem todas as iniciativas da Rede Cegonha. O Brasil está, pela primeira vez na história, montando armadilhas concomitantes para derrubar esses dois grandes monstros que ainda assombram e desafiam o Sistema Úni-co de Saúde, apesar das reduções ano após ano. Numa olhada panorâmica, os números gerais são decrescentes, mas é preciso tomar cuidado com dados negativos que se escon-dem atrás de grandes sucessos e que quase nunca são apresentados em estatísticas ofi-ciais, como os dois acima citados.

No primeiro semestre de 2011, o Ministério da Saúde, ao lançar nacional-mente a Rede Cegonha, apresentou uma queda de 19% na mortalidade materna em relação ao mesmo período de 2010, de 870 para 705 óbitos. De 1990 a 2010, a razão da mortalidade materna caiu de 141 para 68 óbitos a cada 100 mil parturientes. No en-tanto, o número está longe de alcançar os Objetivos do Milênio, que anseiam reduzir para 35/100mil. No que se refere à mortalidade in-fantil, o Brasil tem ainda muito mais a co-memorar. Um estudo da revista inglesa The Lancet apontou que esta taxa caiu 61,7% en-tre 1990 e 2010, reduzindo de 52,04 mortes por mil nascimentos em 1990 para 19,88/mil em 2010. Dessa maneira, o Brasil subiu nove posições no ranking internacional de morta-lidade infantil nas últimas duas décadas e estaria, desta vez sim, a caminho de cumprir uma das metas do Milênio da ONU: dimi-nuir a mortalidade infantil em dois terços até 2015. Apesar do esforço, o estudo também apontou que o Brasil está em 90º lugar no ranking, com número bem mais alto de mor-tes na faixa etária de 0 a 5 anos do que o encontrado nos países desenvolvidos. Por isso mesmo, foram pensados grandes investimentos em quatro compo-nentes: pré-natal; parto e nascimento; puer-pério e atenção integral à saúde da criança; sistema logístico de transporte e regulação.

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O Ceará

Apesar da mortalidade infantil es-tar decrescendo no estado, a mortalidade neonatal coloca em alerta gestores e demais profissionais de saúde. Dos 15.6 óbitos para mil nascidos vivos em 2009, 10,9 foram de recém-nascidos, antes de completarem um mês de idade. Numa escala comparativa, dentre as principais causas de óbitos - do-enças diarréicas, infecção respiratória agu-da e as causas perinatais – as últimas repre-sentam 61% do total. As microrregiões de saúde onde as taxas de mortalidade infantil estão mais elevadas são: Brejo Santo, Ju-azeiro do Norte, Crato, Quixadá e Sobral, apresentando no mínimo 15 óbitos a cada 1000 nascidos vivos. Sobre a mortalidade materna, de 1997 a 2009, o número de óbitos caiu de 104 para 98 a cada 100 mil parturientes, embo-ra tenha apontado em 2006 o número de 90 óbitos, voltando a crescer posteriormente. A razão média do período ficou em 74, 7/100 mil. As microrregiões cujo número de óbi-tos foi maior, ultrapassando 99/100 mil no período foram: Camocim, Acaraú, Baturité, Aracati, Limoeiro do Norte, Tauá, Iguatu e Icó. As causas obstétricas diretas lideram as razões, com 58,2% dos casos, sendo a doença hipertensiva específica da gestação responsável por 394 dos 890.

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Para a coordenadora de Políticas de Atenção à Saúde da SESA/CE, Vera Co-elho, é preciso buscar uma harmonia entre os componentes da Rede Cegonha, afi m de obter os melhores resultados. “Estamos tra-balhando para compor um plano de cuidado que se responsabilize pela gestante durante todo o processo e até que a criança comple-te dois anos, porque é o equilíbrio entre os componentes que vai fazer a diferença”. A primeira etapa da Rede Cegonha concluída pelo grupo condutor da discussão, liderado pela SESA e acompanhado pelo Cosems, foi a região Fortaleza-Cascavel. Todos os 11 Municípios deverão ter estru-turas básicas para a realização e pré-natal e parto de risco habitual. Nos níveis mais especializados, apenas Fortaleza e Euzébio possuirão UTI adulta, UTI neonatal e UCI neonatal, além de leitos canguru e casas de apoio à gestante. “Não adianta nos preocu-parmos excessivamente com o parto e o nas-cimento de alta complexidade quando existe Município com cobertura pré-natal abaixo de 50%”, explica Vera Coelho. O total de in-vestimentos propostos para a região – con-siderando construções, reformas e aquisição de equipamentos, será de R$12,5 milhões. O planejamento foi realizado e pactuado para todo o Ceará, resultando, além de Fortaleza-Cascavel, nas regiões de

saúde de: Caucaia, Maracanaú – Baturité, Canindé – Tauá, Itapipoca, Quixadá, Russas – Aracati – Limoeiro do Norte, Sobral, Aca-raú, Tianguá, Camocim, Icó, Iguatu, Brejo Santo, Crato e Juazeiro do Norte. A apresen-tação detalhada pode ser acessada no site da SESA (www.saude.ce.gov.br). O total de in-vestimentos propostos para todas as regiões soma cerca de R$117 milhões. Para o secretário de Saúde de Guai-úba, e diretor fi nanceiro do Cosems, Josete Malheiros, apesar do grande impacto positi-vo esperado pela Rede Cegonha, é preciso ter cuidado para não “projetar o futuro sem uma visão de melhoria para as estruturas existentes, o que é angustiante para os pe-quenos municípios”. O município do qual é gestor possui um Hospital de Pequeno Porte que não realiza partos, encaminhando suas parturientes para Fortaleza. Vera Coelho concorda que o pro-blema existe, mas que ele vem anterior à discussão das Redes, que vão sim vislum-brar novos papéis para os pequenos hospi-tais (para o Ministério da Saúde, eles pode-rão se conveniar ou funcionar como leitos de retaguarda e até casa de parto). “A verda-de é que a lógica do fi nanciamento tem sido número de procedimentos. Quem atende mais, recebe mais. Vamos ver se isso muda com as Redes”.

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O sistema de saúde organizado de forma regional tem historicamente melhor capacidade de atender seus usuários, racionalizando recursos e pro-porcionando uma maior integralidade no atendimento. Em países continentais como o Brasil o processo de descentralização é de fundamental importância para organizar o setor, nos níveis estaduais e até nas grandes cidades.

O Ceará tem uma longa historia de organizar de forma regionalizada os serviços de saúde. Já em 1933 no âmbito da chamada “Reforma Pellon”, di-rigida pelo médico sanitarista Amilcar Barca Pellon, o estado foi dividido em cinco Distritos Sanitários, compreendendo Fortaleza (distrito sede da então

Diretoria da Saúde) e quatro outras regiões: Aracati (Região Jaguaribana); Quixadá (Região Central); Juazeiro do Norte (Região do Cariri) e Sobral (Região Norte). O órgão central desta estrutura era o Centro de Saúde de Fortaleza, localizado ao lado do Theatro José de Alencar. As outras regiões contavam com postos fi xos de higiene (PH) e um posto itinerante cobrindo os outros municípios. Com a implantação do estado novo, a então diretoria de saúde foi reestruturada, sendo criado em 1939 o Departamento de Saúde Pública do Estado do Ceará (DSP). No período de redemo-cratização, observou-se uma fortifi cação do órgão e uma considerável ampliação dos serviços, com a construção de dezenas de postos de saúde, ocorrendo aumento dos Distritos Sanitários, que já em 1953 eram 25. Com a criação da Secretaria Estadual de Saúde, em 1961, e logo depois o golpe militar de 1964, toda esta estrutura foi reestruturada, tendo sido criadas oito (8) Delegacias Regionais de Saúde em 1974. Em 1997, foi contratada uma consultoria internacional de Ezequiel Paz Zavalia, com apoio do Department For International de Development do Reino Unido- DFID/UK. O Estado foi dividido em 14 departamentos, que posteriormente foram ampliados para 21 microrregiões de saúde. Em 2005 foi criada a 22ª de Cascavel. Este breve histórico do processo de regionalização da saúde do Ceará nos mostra que o estado tem uma grande acumulação neste setor. No momento estamos passando por avanços signi-fi cativos no processo de fortifi cação das regionais, cada vez mais estruturadas e efi cientes. Foram criados e fortifi cados hospitais pólos. No atual governo Cid Gomes, com os seus Secretários de Saúde João Ananias (1º mandato) e Arruda Bastos (2º mandato) está sendo implantada uma rede de hospitais terciários, localizados nas macrorregiões, além de Policlínicas e Centros de Especialidades Odontológicas (CEO’s), em todas as regiões. A atenção básica também vem sendo fortifi cada com construção de grande número de unidades básicas de saúde. As Redes de Atenção a Saúde (Rede Cegonha, Saúde Mental, Urgência e Emergência e outras a serem implementadas), bem como o COAP (Contrato Organizativo da Ação Pública da Saú-de) estão vislumbrando um papel cada vez mais relevante para as Regionais de Saúde do Estado do Ceará, criando condições para que o SUS se fortifi que, possibilitando maior acesso por estar cada vez mais próximo aos usuários, propiciando o atendimento a saúde de forma integrada e de qualidade.

José Policarpo de Araújo BarbosaCoordenadoria das Regionais de Saúde - CORES

Secretaria da Saúde do Estado do Ceará[email protected]

Regionalização

da Saúde

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A jóia do Cariri

Um palácio em meio à cidade de clima tropical, com temperatura sempre acima dos 18 graus. A obra foi construída por mais de 20 mil ho-mens, e chama atenção por sua suntuosidade. É visitado diariamente por centenas de pesso-as, curiosos de todas as partes do mundo, atra-ídos pela beleza da estrutura e o sentido de sua construção.

Hospital Regional Monsenhor Murilo

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A descrição acima se refere ao Taj Mahal, mausoléu indiano construído por um príncipe em homenagem a uma de suas espo-sas, a mais querida, morta após dar luz ao 14º filho do casal. No entanto, se visto do alto, o Hospital Regional do Cariri tem as suas se-melhanças com o idílio monumental. É opo-nente e, guardadas as devidas proporções, é a construção que mais se destaca e desperta curiosidade de quem visita Juazeiro do Nor-te. É impossível passar de carro, se conduzi-do por algum habitante da região, sem ver o Hospital apontado com orgulho, como quem diz: e este é o nosso palácio. O Hospital foi inaugurado em 23 de agosto de 2011. Em fevereiro, pouco mais de seis meses após sua inauguração, já havia realizado mais de 22 mil atendimen-tos de emergência. E mesmo que paire sobre este número o mérito sempre mais lembra-do, pois representa um alívio para a lotação de outras emergências do Estado, as inter-nações e procedimentos de apoio diagnós-tico e terapêutico - sendo o único hospital público no interior do Ceará a contar com ressonância magnética e tomografia compu-tadorizada, além de raio-x, ultrassonografia e exames laboratoriais – também fazem to-tal diferença para a história da saúde pública no Ceará. São cinco andares, com 58 leitos de clínica médica, 29 de traumato-ortopedia, 29 leitos cirúrgicos, 49 de emergência, 2 de ressucitação e 10 leitos de UTI funcionando atualmente. Em breve funcionará também como Hospital-Ensino, com internato e re-sidência médica em Cirurgia Geral e Clíni-ca Médica. Mas é um passeio pelo Hospital que aponta os detalhes que os números não dizem: em cada elevador, por todos os anda-res, nos mobiliários, nos equipamentos com tecnologia de ponta, nos rostos dos profis-sionais, há sempre alguma coisa de bonita e agradável. É um hospital e como todos eles tem sofrimento e dor, mas ainda assim é di-ferente. “Já zeramos algumas filas por espe-ra de exames, por exemplo a da endoscopia. E são equipamentos de última geração, que não deixam a desejar de qualquer outro hos-pital do País”, diz a diretora geral do HRC, Demostênia Coelho.

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Por tudo isso é que é possível com-preender a angústia que hoje sentem os se-cretários de Saúde da maior parte dos 44 municípios da macrorregião do Cariri, além de Iguatu e Icó, que não têm conseguido usu-fruir o acesso à estrutura do HRC. Em torno de 93% de todos os atendimentos realizados pelo Hospital são de pacientes do Município de Juazeiro do Norte. Na prática, são eles que ocupam quase todos os serviços oferta-dos, preenchendo as vagas que deveriam ser distribuídas por toda a região. A polêmica teve início quando o prefeito de Juazeiro do Norte, Manoel Santana, fechou o Hospital de média com-plexidade (Santo Inácio) que realizava os atendimentos de nível secundário no Muni-cípio. “Quanto mais investíamos no hospital privado, menos víamos resultados. Tínha-mos 65% de reprovação na saúde em nossa gestão. Quando o governador Cid Gomes inaugurou o Hospital Regional, vimos nele a possibilidade de reverter esse quadro”, ex-plicou o prefeito durante a realização de um evento do Cosems em Juazeiro do Norte. Sem deslegitimar a questão, a diretora ge-ral esclarece o problema. “O perfi l terciário do Hospital foi muito bem trabalhado antes de ser inaugurado, numa negociação muito responsável do Estado com os Municípios. Se essa porcentagem majoritária ocorresse apenas pelo número de pacientes graves que exigem atenção terciária, estaria justifi cado. Mas a urgência vive cheia de pacientes de todos os níveis de complexidade porque fi -caram sem acolhida em Juazeiro do Norte”. Para a secretária de Saúde de Mis-são Velha, Elizian Fechine, “no começo o HRC foi ótimo para os Municípios do Ca-riri, mas após o fechamento do Hospital Santo inácio, muita coisa fi cou restrita para Juazeiro do Norte, e o antigo de caminho de voltar a fazer referência para o Município de Barbalha foi a solução”. A situação divide opiniões. Limitar o acesso para pacientes de Juazeiro seria possível? Nem possível, nem ideal, é o que pensa Demostênia. “A emer-gência é porta aberta e por princípio consti-tucional não podemos voltar pacientes sem atendimento, de qualquer perfi l, a não ser que eles tenham onde serem acolhidos em seus Municípios”.

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Riscos por cores Enquanto a questão é discutida en-tre Governo do Estado e Prefeituras da re-gião, o HRC segue sua rotina de classifi cação de riscos com sucesso absoluto. A conduta segue as orientações do Protocolo de Man-chester, acolhendo e dividindo os atendi-mentos por cores, que representam ordem de prioridade da maior para a menor gravidade. Pacientes graves, que devem ser atendidos imediatamente por correrem risco de morte, usam pulseiras vermelhas, colocadas quando o paciente já está em atendimento. Pacientes muito urgentes usam uma pulseira laranja, devendo se atendidos em até 10 minutos. Já para os menos urgentes, a pul-seira é amarela, quando o tempo de espera pode se estender em até uma hora. Menos graves, pulseira verde, até duas horas de es-pera. E os casos leves são classifi cados com pulseira azul, podendo demorar até 4 horas para serem atendidos. “A classifi cação é muito importante porque dá ênfase a quem precisa de atendimento mais rápido. Às vezes a pessoa está calada, calma, mas está infar-tando. E às vezes quem chega com um dedo cortado, gritando, pode esperar”, explica a enfermeira Elielma Leite, uma das responsá-veis pela Classifi cação de Risco. “Eu nunca tinha visto, em nenhuma Unidade por onde passei, uma qualidade como essa”, declara.

Hospital - Ensino

O Hospital Regional do Cariri dispõe de três salas de aula, que comportam 30 estudantes cada. To-das com equipamentos audiovisuais, que possibilitam a realização de videoconferências. Possui também um anfi teatro para 95 pessoas. Desde o mês de dezembro de 2011, foi instalada a Comissão Interna de Treina-mento e Ensino Continuado, que tem o objetivo de capacitar a equipe interna do hospital, dentro dos pa-râmetros da necessidade de atualização e modifi cação normais da Unidade, buscando o melhor atendimento do paciente. Em janeiro deste ano, foi instalada a Comisão Interna de Ensino Médico, que está trabalhando tanto a estrutura predial quanto o corpo clínico do HRC para a realização de internato médico em Cirurgia Geral e Clínica Médica, com início previsto ainda para o pri-meiro semestre de 2012. Serão benefi ciados estudantes da Universidade Federal do Ceará, campus Cariri, e da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte. Nos próximos dois anos, também está prevista a oferta de Residência Médica nas duas mesmas áreas. A Comissão Interna de Pesquisa Científi ca tem o objetivo de implantar o ensino e a pesquisa cien-tífi ca em consonância com as instituições de ensino do Cariri, dentro do perfi l terciário do HRC. “Sinto que a evolução é mais rápida do que nossa capacidade. Vai acontecer uma transformação e um impacto para o en-sino na região imenso”, afi rma o coordenador de Ensi-no e Pesquisa e doutor em Cirurgia Plástica, Rodolpho Bussolaro.

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Revista Sustentação: O que a construção do Hospital Regional do Cariri representa para o Ceará e especialmente para os mu-nicípios da região?Arruda Bastos: Ao longo da história do Ceará toda a população do interior, quando neces-sitava de assistência médica mais complexa, precisava vir para a capital. Vir de qualquer região implica numa difi culdade em trans-porte do paciente, estadia para acompanhan-tes, sem falar no efeito que sair de perto de casa provoca na cabeça de quem já está sofrendo com a doença. Imagina de quem mora a quase 600 quilômetros da capital, como é o caso da população do Cariri. Com a construção do Hospital Regional do Ca-riri, essa história mudou para os moradores dos 44 municípios das regionais de Juazeiro do Norte, Crato, Brejo Santo, Icó e Iguatu que formam a macrorregião. Desde o ano passado, com o funcionamento do HRC, a população é assistida na própria região. Tem acesso lá mesmo a consultas em 13 espe-cialidades médicas e a exames modernos. Podemos destacar a tomografi a computado-rizada e a ressonância magnética. No HRC, foi realizada a primeira ressonância da rede pública no interior do Estado. Para compro-var que o acesso a esse exame sofi sticado está mais fácil, de junho a dezembro do ano passado foram feitas no hospital 434 resso-nâncias. Antes os pacientes teriam que vir para a capital, para o HGF.

Atendendo gentilmente ao nosso pedido, o se-cretário da Saúde do Estado, Raimundo José Arruda Bastos, nos conferiu uma entrevista exclusiva sobre as políticas de saúde para a região do Cariri, com foco no Hospital Regional – seus desafi os e perspectivas.

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unidade de alta complexidade, agregar no-vos serviços à saúde da população de toda a região. Como o hospital é novo e provo-ca também um novo fl uxo de pacientes, é natural que o processo de regulação ainda precise de ajustes. Estamos trabalhando pra isso.

Revista Sustentação: O Estado está conse-guindo enfrentar as difi culdades de interio-rizar médicos especialistas com o Hospi-tal? Quantos estão trabalhando e quantas vagas existem?AB: Para ser bem franco, esperava que as difi culdades de interiorização de médicos especialistas fossem maiores. A decisão de colocar o hospital para funcionar a partir de um cronograma contribuiu para a gestão dos profi ssionais. Não precisamos de todos os especialistas de uma vez só já que colo-camos a emergência para funcionar numa etapa, o setor de internação noutra, a UTI noutra. Claro que não podemos fazer vis-ta grossa para difi culdades de médicos em áreas que são desafi os no país inteiro, como a neurologia.

Revista Sustentação: Como o Estado visu-aliza o HRC em todo o seu potencial e em quanto tempo imagina que ele esteja em pleno funcionamento?AB: O Hospital Regional do Cariri signifi -ca uma mudança de perfi l na assistência da saúde no interior. Não só para a população que deve ser informada e compreender que o hospital tem um papel diferente de uma Unidade Básica de Saúde e de um hospi-

Revista Sustentação: Pela falta de uma sé-rie histórica, o HRC não vai ser, por en-quanto, porta de entrada para a Rede de Urgência e Emergência no Ceará, mas já é possível falar em impactos nos números de procedimentos, de serviços?AB: Estamos estruturando uma nova rede de urgência e emergência no Estado, con-templando todas as regiões. Os números da emergência mostram o impacto da assistên-cia do HRC na melhoria da saúde. No pe-ríodo de quatro meses, do dia 23 de agosto quando a emergência foi aberta, até o dia 31 de dezembro de 2011, foram atendidas 28 mil e 945 pacientes.

Revista Sustentação: Existe uma queixa de que o HRC estaria priorizando ou favo-recendo mais os pacientes de Juazeiro do Norte. O que o Estado tem a dizer sobre isso?AB: O HRC foi construído em Juazeiro do Norte, numa localização estratégica no tri-ângulo que liga esse município ao Crato e Barbalha para facilitar o fl uxo de pacientes de toda a macrorregião. O hospital é regio-nal. Planejado pelo governo do Estado para ampliar e facilitar o acesso dos pacientes que moram na região a serviços de saúde que não existiam na rede pública do inte-rior. Lembro como se fosse hoje que no dia da inauguração, no dia 9 de abril do ano passado, o governador Cid Gomes na sua fala deixou bem claro aos gestores presen-tes e á população que o Hospital Regional do Cariri não foi construído para susbtituir nenhum outro hospital e que veio, como

tal pólo. Os gestores, em especial, podem contribuir, efetivamente, para que o Hospi-tal Regional do Cariri cumpra na sua totali-dade o papel de garantir à população aten-dimento aos casos de alta complexidade. Podem contribuir através de uma regulação efi ciente.

Revista Sustentação: Fora o HRC, que ou-tras políticas estão em funcionando, e con-sequentemente dando suporte ao Hospital, na região do cariri?AB: A macrorregião do Cariri, além das ações rotineiras de apoio aos hospitais po-los e hospitais estratégicos, está recebendo o maior investimento de toda a história da saúde. A nova rede de assistência na região inclui, além do HRC, seis policlínicas re-gionais, localizadas em Juazeiro, Crato, Brejo Santo, Icó, Campos Sales e Iguatu. Inclui ainda quatro CEOs regionais em Icó, Crato, Juazeiro e Brejo Santo. O número de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs 24 horas) na região chega a 9. O SAMU tam-bém terá um polo no Cariri. Não podemos esquecer que a atenção básica fortalecida melhora os outros níveis de atenção. Em apoio aos municípios, o governo do Esta-do decidiu construir 35 Unidades Básicas de Saúde a partir de critérios de expansão e qualidade do Programa Saúde da Famí-lia. A maioria delas inauguradas e já estão em funcionamento, garantindo atenção às crianças, adultos e idosos. Foram construí-das com recursos do governo do Estado nos padrões da Anvisa. Em cada UBSF, o Esta-do investiu R$176.660,00.

“Não precisamos de todos os espe-cialistas de uma vez só já que colo-camos a emergência para funcionar numa etapa, o setor de internação

noutra, a UTI noutra.”

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A realização do XII Congresso das Secretarias Municipais de Saúde no Crato nos oportunizou a aproximação e o conheci-mento mais profundo do trabalho desenvolvido pelo Município na área de saúde, nosso foco e nossa missão. Pensamos, então, que não poderíamos perder a oportunidade de divulgar uma par-te do que vem acontecendo de positivo nos serviços de saúde do Crato, um dos três município pilares da região do Cariri.

um Município comprometido Crato e a saúde:

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Ao longo desta reportagem, busca-mos responder à seguinte questão, que todo Município, pequeno ou grande, estratégico ou não, tem condições de responder: o que o Crato pode mostrar de bom no SUS para o Brasil e para o mundo? Foram muitas as res-postas, mas fomos obrigados a resumir em destaques que podem e devem ser reconhe-cidos porque fazem total diferença na vida da população. Os números nos dizem muito. São três unidades com serviço de policlínica (adulta e pediátrica), 28 Unidades Básicas de Saúde com 33 equipes de Saúde da Fa-mília, 4 hospitais, sendo três gerais e um

psiquiátrico, um Centro de Reabilitação e uma Unidade de Transplante Renal. Além disso, o Município já fi nancia, antes da pro-posta das Redes de Atenção, o Serviço de Atendimento Domiciliar, com mais de 30 pacientes atendidos em casa, realizando oxigeno-terapia. Foi nos serviços a seguir, entre tantos outros que poderiam ser, que conhe-cemos, mais uma vez, profi ssionais extre-mamente comprometidas com a missão de garantir saúde de qualidade às pessoas, das quais sempre teremos grande orgulho de sermos parceiros e admiradores. Porque é justo que seja assim.

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PAM – Posto de Atendimento Médico

O prédio ainda está identifi cado como Posto de Assistência Médica (PAM), como herança dos idos anos de Inamps. Da-quele tempo, restaram também funcionários federais, que hoje dividem espaço com fun-cionários estaduais e municipais. Mas além dos profi ssionais em atendimento, adultos só circulam mesmo acompanhados de crian-ças. E elas estão por todos os lados: peque-nas, muito pequenas, um pouco maiores, quase moças ou rapazes. Isso porque hoje o PAM, que em breve se chamará Centro de Atendimento à Criança, tem um perfi l bem defi nido, com limite de idade de 18 anos para atendimento. A coordenadora do Posto, Adiléia Almino de Alencar, explica que estabelecer um foco foi a solução encontrada para o enfrentamento de um grave problema. “Ha-via no Crato um Hospital Pediátrico, que fechou. Não tínhamos para onde levar as crianças, tampouco como dar continuidade ao tratamento delas, e pensar num Centro especializado foi a solução”, explica. Para Iolanda Bezerra dos Santos, que no mo-mento de realização da reportagem estava grávida de oito meses do quinto fi lho – uma menina, Vitória, e aguardava a vacinação de Luís Otávio (1 ano e 2 meses), a idéia deu certo. “Já vim muitas vezes aqui, e nunca aconteceu de eu não ser atendida”. Isso porque o PAM conta com pronto atendimento diário, de manhã e a tarde. Às segundas e sextas, o atendimen-to segue até meia noite. Além dos clínicos gerais, são três neurologistas, um psiquiatra, um alergologista e uma psicóloga. O ambu-latório realiza vacinação, aplica injeções e

aerosol. “Nós só percebemos a quantidade de crianças com problemas neurológicos quando implantamos o serviço. Às vezes até durante o parto se originam problemas deste tipo”, declara a coordenadora, sobre a im-portância do trabalho realizado pelo PAM. São em média 700 atendimentos/mês, que variam de acordo com a época do ano. “No começo do ano tem sempre muita virose, que pode ser dengue ou não. A gente noti-fi ca e espera a comprovação laboratorial”, completa. Apesar da agitação natural causada pela presença de várias crianças, a espera pelo atendimento não conota desorganiza-ção. As consultas são agendadas, como for-ma de humanizar o atendimento. Ana Pau-la Guedes, mãe de Patric (12) e Pedro (5), aguardava a consulta do clínico geral para os dois fi lhos, cuja escola exigia atestado médico para o exercício das aulas de edu-cação física. “Já aconteceu de eu procurar e não ter a vaga, mas eles fazem o agenda-mento. Além disso, é muito bom o fato de ter os plantões a noite, porque criança não marca hora para adoecer”, diz. Outro ponto importante do PAM é destacado pela médica Maria Auxiliadora Ferreira Brito: a presença de médicos resi-dentes e de internos. “O caráter de ensino possibilita que as consultas sejam mais es-truturadas, com a anamnese feita de maneira bem acadêmica. A população ganha porque o exame não poderia ser mais bem feito. E a Universidade ganha porque tem a estrutura para trabalhar a prática do curso”, diz. “Os pais dizem que a consulta parece particu-lar”, e sorri.

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Unidade de Transplante Renal - Unirim

Antônio não sabia se existia no mundo algo pior do que fazer hemodiálise. “Aquilo não era vida. Imagina o que é sen-tir sede e não poder beber água!? Nasci de novo, com certeza”. Isso porque há sete me-ses e sete dias do dia em que a reportagem conheceu a Clínica Unirim, Antônio Teófa-nes tinha recebido a doação do rim de sua esposa, cujo órgão era compatível ao seu. Naquele momento, encerrou-se a prática de um ano e oito meses na fi la de transplantes da Clínica. Em 2011, a Unidade, que hoje atende quase que exclusivamente pelo SUS, embora privada, comemorou o número de 200 transplantes realizados. Um número que poderia ser maior, de acordo com o médico Gilberto Pinheiro, um dos coordenadores de equipe de trans-plante da Clínica. “Hoje nós temos uma mé-dia de 500 pacientes fazendo hemodiálise, e só temos 40 na fi la de transplante. Algu-ma coisa está errada”, analisa. Entre outras razões, o número pequeno de pacientes se deve à falta de apoio diagnóstico nos Mu-nicípios, especialmente os de pequeno por-te. Isso porque o paciente só entra na fi la quando atende aos critérios necessários para isso, muito rigorosos, como explica o cirur-gião. “Antes de se submeter a uma cirurgia de transplante, o paciente tem que realizar uma série de exames, muitos, e a realidade é que na maior parte dos casos eles não têm acesso a isso, ou têm de maneira muito frag-mentada. Quando conclui o último exame, o primeiro já está defasado”. Ainda assim, o número de cirurgias é reconhecidamente alto, especialmente se considerada a estrutura da Unirim, muito simples quando comparada a grandes cen-tros de transplante do Ceará e do Brasil. A cirurgia é realizada no Hospital Filantrópico São Raimundo e o criterioso acompanha-mento é feito na Clínica. O maior número de transplantados é da região do Cariri, mas outros Estados já foram benefi ciados, o que tornou a Unirim referência no norte e nor-deste na realização do transplante de rins.

São dois médicos cirurgiões, três nefrolo-gistas, um anestesista e três enfermeiras. Considerando o período em que o paciente se prepara para ingressar na fi la de trans-plante, outros profi ssionais de saúde como psicólogo, dentista e assistente social estão inseridos no processo. A enfermeira Maroli Barreto Araú-jo, que coordena o acompanhamento dos pacientes, explica o imenso comprometi-mento e a organização que precisam estar em consonância com o processo. “A equipe tem que estar constantemente preparada, porque não é possível ter certeza de quan-do será realizado um transplante. Ninguém escolhe a hora de morrer. Mas se essa hora se aproxima, os exames no possível doador, que geralmente está na UTI, já são realiza-dos para comprovação da compatibilidade com os pacientes da fi la. A recomendação é que o processo de transplante não leve mais que 24 horas”. Pinheiro explica que outra gran-de fragilidade do sistema de transplantes é a falta de uma estrutura adequada para a captação de órgãos no Ceará. Existe a pers-pectiva de implantação de uma Organização de Procura de Órgãos (OPOs) na região do Cariri, cujo projeto ainda não saiu do papel. “Quando isso acontecer, certamente iguala-remos nosso número de transplantes à Forta-leza, especialmente de pacientes mortos, que é a situação ideal para sobrecarregar menos a vida das pessoas”, diz. Apesar das difi culdades, não demo-ra muito para que nossa equipe perceba que todo transplante bem sucedido é uma espé-cie de renascimento. Antônio Marcos, que conhecemos ainda em fase de estabilização pós-cirurgia, não vê a hora de voltar a tra-balhar. Fotógrafo, viveu seis anos realizando hemodiálise, e confessa que só esperou mui-to por descuido. “Sou de Barbalha e lá eu tinha acesso a todos os exames, mas morria de medo era do dentista”, relembra sorrindo. Se tudo correr bem como parece que vai cor-rer, Antônio em breve voltará a fotografar.

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Centro de Reabilitação

Foram dois anos apostando fi xa-mente numa idéia. O Projeto do Centro de Reabilitação do Crato foi encaminhado ao Ministério da Saúde em 2008, e somen-te no fi nal de 2010 foi liberado o recurso para custeio. O Centro é um dos quatro que existem no Ceará, e tem mudado a vida de muitas pessoas que recebem órteses e próteses desde a sua inauguração, além de pacientes com problemas reumatológicos, dermatológicos e ortopédicos. “Nós já fa-zíamos a dispensação de órteses e próteses, mas achávamos que aquilo era pouco dian-te da imensa demanda que tínhamos. Por isso queríamos um Centro que comportas-se as necessidades da população”, explica a coordenadora de atenção especializada do

Crato, Saionara Cidade. De fato, são muitas as necessida-des e bastante delicadas as condições de quem procura este tipo de serviço. Emer-son Sérgio dos Santos Silva sentia tanta dor no momento de nossa visita, que pediu que sua esposa, Sandra Batista, falasse em seu nome. Ele sofre de espondilite anqui-losante, um tipo de infl amação dos tecidos conectivos, que causa mais infl amação das articulações da coluna e grandes articu-lações, como os quadris, ombros e outras regiões. Não possui cura, mas com trata-mento precoce pode ser bem tolerada (Wi-kipedia). “Ele já fazia tratamento da gota, mas foi piorando muito. Aí começou a ser acompanhado aqui no Centro, fez resso-

nância magnética no Hospital Regional do Cariri, e já vai começar o tratamen-to”, explica a esposa. Mesmo debilitado, Emerson faz questão de enfatizar: “Gra-ças a Deus, quando chego aqui sempre sou bem atendido”. No fi nal de 2011, o Centro de Re-abilitação já somava mais de VVV órteses e próteses distribuídas, a partir do trabalho realizado por médicos, enfermeiros e fi sio-terapeutas. “Imagine o que é você poder garantir uma prótese mamária a uma mu-lher que viveu sem seio e teve com con-viver com toda uma frustração a vida in-teira?! É como possibilitar uma vida nova para quem jamais poderia pagar por isso”, explica Saionara.

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PSF Campo Alegre

As duas goiabeiras fartas e o sorriso no rosto de Danielle Mota, a enfermeira que nos aguarda na porta da Unidade Básica de Saúde, já nos fazem sentir uma alegria acom-panhada de uma certa esperança. Uma sensa-ção que não pode ser causada por nenhuma estrutura, apenas por pessoas. O dilema de não ter um terreno para construir uma Unida-de adequada se dilui em meia hora de conver-sa com a enfermeira, que nos explica porque o PSF Campo Alegre, ou Guaribas – como é mais conhecido, está fazendo a diferença no município do Crato. Tudo começou quando a equipe, captaneada pela médica Sandra Barreto, re-solveu enfrentar com inovação e criatividade o número imenso de hipertensos catalogados pela territorialização das famílias atendidas pelo PSF. “O número de pessoas com pressão alta era enorme e assustador, porque severo, com risco de infarto. E nós percebemos que eles não entendiam que a doença era con-tínua e precisava de um acompanhamento constante”, explica Danielle. Foi quando sur-giu a idéia de trabalhar o problema usando a linguagem das cores. Cada paciente que chegava e era diagnosticado como hipertenso, recebia uma aula baseada nas três cores do semáforo: ver-melho, amarelo e verde. “Nós explicávamos que precisávamos reduzir o grau da doença dele da cor vermelha, a pior, para a verde, a menos pior. Nós dizíamos que se eles con-tinuassem na cor vermelha, até podiam não morrer, mas corriam risco de fi carem inca-pacitados, dependentes de outras pessoas, e isso era terrível para eles”. A idéia deu certo. Com a linguagem das cores os pacientes pas-saram a ter uma melhor compreensão sobre a necessidade de adesão ao tratamento, espe-cialmente os analfabetos e os assintomáticos, possibilitando o alcance de metas relaciona-das à pressão arterial e em seguida o controle da glicemia de pacientes diabéticos.

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A estratégia adotada pela equipe é ba-seada na literatura disponível e adotada no Bra-sil para o controle da hipertensão e também do diabetes: o Sistema de Cadastramento e Acom-panhamento de Hipertensos e Diabéticos e o Es-core de Framingham. O trabalho realizado apon-tou, inclusive, a necessidade de incluir uma nova cor, que seria um grau de hipertensão localizada entre os níveis amarelo e verde. Já se passaram quase cinco anos do início da estratégia e já é possível comemorar muitos resultados. Alguns mensuráveis, como a redução de 38% para 10% do número de pacientes em estado severo (ver-melho) para o menos grave (verde). E outros cujo ganho não se pode medir, como uma mudança na cultura dos pacientes atendidos. “Hoje eles já chegam aqui querendo saber em qual cor estão, se estão progredindo ou não. Eles já cobram este acompanhamento”, orgulha-se a enfermeira. Um passeio pela Unidade Básica de Saúde nos mostra ainda outro aspecto para o qual não havia nenhuma pergunta elaborada na entre-

vista: a organização em cada pequeno espaço des-tinado às várias atividades que o PSF realiza. Os consultórios, os prontuários, a farmácia e a própria recepção, tudo muito zelado, apesar da limitação do espaço. “Para que a gente chegasse nesse resul-tado foi preciso contar com o apoio de todo mundo – dos agentes comunitários de saúde, dos líderes comunitários, do restante da equipe composta de auxiliar e técnica de enfermagem – e da grande adesão da comunidade. E de muita organização por parte de cada um dos envolvidos. Não traba-lhamos sozinhas nunca”, reconhece Danielle. Na saída, conseguimos de presente várias goiabas maduras, retiradas pelo motorista que nos conduziu a todas as visitas, Sr. Renato Correia, e a promessa de voltarmos depois para visitar a equipe completa (a médica estava ausente por motivo de força maior). Já no carro, Sr. Renato resume em poucas palavras o sentimento que fi ca registrado em nossa memória. “Já trabalhei com quase todo mundo aqui no Crato, mas igual ao que essas me-ninas estão fazendo, eu mesmo nunca vi”.

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Esta edição o COSEMS manteve costumeiro zelo e a responsabilidade pelo conteúdo, ideias e propostas para o sistema SUS e os seus usuários. Teremos a oportunidade de vivenciar um momen-to extraordinário para nós secretários e secretárias municipais de saúde do estado do Ceará no XII Congresso do COSEMS no nosso estado. Todos nós sabemos das diversas circunstâncias extenuantes e limitadoras ao SUS no dia a dia. O

tema proposto para nosso conclave não poderia ter melhor contextuali-zação, na medida em que vamos discutir “Municipalização com regiona-lização” faz com que criemos uma possibilidade de fortalecer a base dos executores do SUS, que são os municípios. Com este intuito o município do Crato, após deliberação do CO-SEMS em 2011, esta tendo a honrosa missão de sediar este encontro, para o fortalecimento do SUS. Tradicionalmente o Crato sempre foi personagem histórico na realização de ações públicas, e não poderia ser diferente na execução de políticas públicas na saúde. Confi ante no sucesso e na efi caz contribuição do XII Congres-so do COSEMS ao SUS, entregamos aos nossos leitores uma edição da revista Sustentação agradecendo a todo o COSEMS, na pessoa do nosso presidente Dr. Wilames Freire Bezerra, afi rmando que o Crato sente-se honrado e diz aos congressistas: Sejam bem vindos, no Crato há lugar para as pessoas de boa vontade.

Cícero Luis Bezerra FrançaPresidente do Congresso

[email protected]

XII Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará

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Fazendo o SUS acontecer no Ceará!

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As vivências municipais desta edição foram selecionadas dos trabalhos inscritos no XII Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará.Todas as informações divulgadas nos textos a seguir são de inteira responsabilidade dos seus respectivos autores.

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Aracati

Projeto De Implantação Do Programa De Prevenção Em Saúde Do Trabalhador Para Professores Das Escolas Municipais De Aracati - CE

O Centro de Referência em saúde do Trabalhador (CEREST) tem o intuito de assegurar um ambiente e condições de trabalho saudáveis, além de garantir a participação de traba-lhadores e fornecer subsídios para sua organização, por meio de sua inserção ativa no processo de produção e transformação das relações de trabalho. O CEREST conta com uma equipe multidisciplinar, composta por vários profi ssionais, a saber: médico do trabalho, enfermeira do trabalho, fi sioterapeuta, psicóloga, fonoaudiólo-ga, técnico de enfermagem do trabalho, técnico de segurança do trabalho, contador / auditor, auxiliares administrativos, téc-nico de vigilância á saúde, serviços gerais e motoristas. As atividades do Cerest devem, necessariamente, es-tar articuladas com os demais serviços da rede do SUS e outros setores de governo que possuam interfaces com a Saúde do Trabalhador através de parcerias e articulações interinstitucio-nais. Os mesmos devem orientar e fornecer retaguarda, a fi m de que os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho possam ser atendidas em todos os níveis de atenção do SUS, mediante o acompanhamento e execução de práticas conjuntas de inter-venção, incluindo ações de vigilância, prevenção, diagnóstico e tratamento, além da formação de recursos humanos capaci-tados para monitorar, agir e disseminar informações sobre am-bientes de trabalho seguros , ergonômicos e adequados para a prática diária da atividades laborais de maneira a preservar a saúde dos trabalhadores ali inseridos. Sobre a era da produtividade e da modernização, Bar-bosa (2002) afi rma que as empresas brasileiras procuram a cada dia inovar e produzir mais, e isso faz com que indiretamente, e muitas vezes de forma impercebível, elas acabam exigindo dos seus funcionários maior tempo de dedicação ao trabalho, tendo os mesmos que se adaptarem a novos hábitos em suas tarefas diárias, muitas vezes com falta de adequação no treinamento e no ambiente de trabalho, gerando a tríade da lesão ocupacio-nal: mobiliário inadequado, ausência de conhecimento sobre ergonomia e principalmente estilo de vida incoerente que pode trazer prejuízos tanto para o funcionário como para a empresa. Apesar da grande preocupação com a qualidade de vida dos trabalhadores nas empresas, poucas adotam mediadas que pos-sam benefi ciar os funcionários quando se trata de programas de promoção de saúde.

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Estudos epidemiológicos demonstram que o núme-ro de funcionários que são obrigados a se afastar do trabalho, muitas vezes definitivamente, acontece somente pela falta de um programa que seja voltado a promoção de saúde juntamen-te com a falta de conhecimento ergonômico de todos os com-ponentes envolvidos no ambiente de trabalho. Mostrando-nos que a resposta é negativa para a empresa, e que seria bem mais benéfico para ambos – empresa/funcionário – se existissem programas voltados para esses aspectos. A criação do programa de prevenção em saúde do tra-balhador para professores das escolas municipais de Aracati surgiu da investigação de casos de professores que procuraram a unidades do CEREST de Aracati e que se se encontravam acometidos por problemas relacionados à voz, e/ou distúrbios osteomusculares, e/ou transtornos mentais ocasionados pela execução de suas atividades laborais. Os professores apresentam duas a três vezes mais queixas relacionadas à voz, tais como disfonias, que outros profissionais. O que evidencia a importância do problema, e que devemos agir seguindo o preceito da atenção básica de saúde, visando à prevenção de doenças e promoção da saúde. A disfonia é um sintoma relacionado a toda e qual-quer dificuldade na emissão vocal que impeça a produção na-tural da voz. Atualmente, a disfonia recebe importante enfoque ocupacional quando relacionada ao uso profissional da voz, principalmente na prática docente, fato que evidenciamos du-rante os atendimentos realizados no Cerest de Aracati. A prevenção desta afecção relacionada ao uso profis-sional da voz envolve a identificação de condições que pre-disponham à disfonia (anatômicas, infecciosas, psicológicas), a promoção de oportunidades de formação quanto a técnicas vocais e o cuidado com o nível de ruído no ambiente escolar e ao seu redor. Sabemos que o aparecimento de transtornos mentais relacionados ao trabalho dos professores também se relacio-na ao nível de ruído e as pressões psicológicas decorrentes do acúmulo de responsabilidades que podem ser geradoras de es-tresse físico e mental. No Brasil, segundo as estatísticas do Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS), de 2001, os distúrbios psíquicos ocupam o terceiro lugar entre as causas de concessão de benefício previdenciário, com afastamento do trabalho em tempo superior a 15 dias e de auxílio doença por invalidez. Fatores como estilo de gestão, estresse, periculosidade, ruídos, condição ambiental, entre outros, afetam não só fisicamente, mas mentalmente o individuo. As principais reclamações es-tão relacionadas à depressão, ansiedade e transtorno do pânico, entretanto, existe uma doença que está veiculada diretamente ao ambiente de trabalho chamada Síndrome de Burnout que se refere à exaustão emocional. Tais tensões se refletem também na musculatura oca-sionando os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Tra-

balho. É bastante comum o trabalhador apresentar ao longo do dia dores em diversas regiões do corpo, oriundas de atividades musculares estáticas ou mesmo pela exigência de diversos mo-vimentos repetitivos inseridos nas demandas dos processos de execução das atividades. No setor da educação, o processo de reestruturação produtiva apresenta novas demandas que impulsionam trans-formações na organização do trabalho docente. A inserção dos indivíduos no mercado de trabalho exige níveis de escolariza-ção cada vez mais elevados. Para atender às novas demandas de organização dos sistemas de produção, espera-se da escola e, principalmente, do docente, a formação de um profissional flexível e polivalente. Entretanto, as cobranças realizadas na tentativa de alcançar maior autonomia no trabalho docente são, muitas vezes, acompanhadas por restrições das políticas edu-cacionais com efeitos diretos nas atividades dos professores, no modo de execução de sua atividade e em sua própria saúde.No Brasil, as transformações na organização do trabalho do-cente como novas exigências e as competências requeridas modificam a atividade de ensinar, e por não proverem os meios compatíveis, criam uma sobrecarga de trabalho. Citam-se o volume de trabalho, e a precariedade das condições existen-tes, mas também à diversidade e à complexidade das questões presentes na sala de aula e, ainda, uma expectativa social de excelência. Os fatores mencionados podem estar na origem de queixas e no aparecimento de doenças ocupacionais na catego-ria da docência.

Objetivo Geral Promover a melhoria da qualidade de vida, atuando de forma preventiva no surgimento dos Distúrbios Osteo-musculares Relacionados ao Trabalho DORT’s – Transtornos Mentais e Disfonias nos professores das Escolas Municipais de Aracati, através da implantação programa de palestras edu-cativas na área de ergonomia, saúde do trabalhador e qualida-de de vida.

Objetivos Específicos• Orientar os professores da importância da prevenção no exer-cício do trabalho;• Apresentar as patologias (Disfonia, Transtorno Mental, LER/DORT) relacionadas à Saúde do Trabalhador;• Identificar através da avaliação ocupacional as regiões corporais que estão mais susceptíveis a lesões pelo trabalho realizado; • Promover a prevenção das doenças ocupacionais, como trans-torno mental, disfonia, LER/DORT (relacionados ao trabalho);• Melhorar o rendimento do trabalho;• Evitar o afastamento do trabalho;• Avaliar a relevância atribuída aos temas abordados durante o ciclo de palestras.

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Atividades Executadas pelo Programa• 11/05/2011 – Palestra sobre a saúde vocal na Escola Gercina Nepomuceno.Palestra ministrada pela Fonoaudióloga do CEREST Aracati, parceria com a Secretária de Educação do Município de Araca-ti com os professores e coordenadores da Instituição de Ensino Escola Gercina Nepomuceno para Promoção e Prevenção da Disfonia Vogal aos Mestres da Educação.

03/08/2011 – Reunião com a Secretaria de Educação do Mu-nicípio de Aracati.

Reunião com a Secre-taria de Educação de Aracati com os Coor-denadores e Diretores de Escolas Municipais, para apresentação do projeto sobre a qualida-de de vida dos profes-sores nas áreas de Psi-cologia, Fonoaudióloga e Fisioterapia, tendo

como objetivo a prevenção de doenças ocupacionais relacio-nadas às áreas descritas (Palestra realizada pela psicóloga).

• 29 e 30/08/2011 – Projeto Saúde da Voz.Apresentação de pales-tra com a temática: Saú-de Vocal e apresentação do Projeto: A Qualidade de Vida dos Professo-res, nas áreas de Psico-logia, Fonoaudióloga e Fisioterapia, ministrada pela Fonoaudióloga de CEREST Aracati, tendo como público alvo 35

(trinta) professores da Instituição SESC Ler – Serviço Social do Comércio realizado na instituição pelo período da tarde.

• 14/09/2011 – Oficina com os Coordenadores das Escolas Mu-nicipais de Aracati.Evento realizado no Auditório do colégio Marista de Aracati, para a continuação do projeto sobre a qualidade de vida dos professores nas áreas de Psicologia, Fonoaudióloga e Fisiote-rapia, tendo como objetivo a realização de um questionário de como seria realizado com cada um dos profissionais, minis-trada pela Fisioterapeuta do CEREST Aracati. O publico alvo 40 participantes entre Coordenadores e Diretores das Escolas Municipais.

ReferênciasBARBOSA, Luís Guilherme, Fisioterapia preventiva nos distúrbios osteomus-culares relacionados ao trabalho – DORT’s, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2002.

PROFISSIONAIS DO CERESTFrancisca Andrea Maruqes de Albuquerque- Enfermeira do TraabalhoFca Isabel Firmino da Silva- serviços geraisFrederico Gondim de Lima- motoristaFrancisco Christian Viana Porto- motoristaJosé Wagner da Silva Lima- contador /auditorJosé Edgar de Almeida- tec. de segurança do trabalhoLouise Myrella Santos de Sousa- fisioterapeutaMarivalda Nunes de Holanda- recepcionistaPoliana Vieira da Costa- Psicóloga/ coordenadoraRebeka da Silva Emidio Cunha- fonoaudiólogaTiara Nascimento dos Santos- tec de enfermagem do trabalhoJoão Moreira Falcão- médico do trabalhoRosivânia Barbosa da Silva- tec. administrativo

Francisca Andrea Marques de AlbuquerqueEnfermeira do Trabalho

Louise Myrella Santos de SousaFisioterapeuta

Poliana Vieira da CostaFonoaudióloga

Rebeka da Silva Emidio CunhaPsicóloga

Expedito Ferreira da CostaPrefeito

Marilsa Lima dos Santos GalvãoSecretária Municipal de Saú[email protected]

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Brejo Santo

Programa Fisioterapia Na Saúde Escolar

O município de Brejo Santo-CE, através da Secretaria Municipal da Saúde, sai à frente na região do Cariri Oriental na 19ª CRES e inclui na Estratégia Saúde da Família o profis-sional de Fisioterapia. Atualmente, conta com a atuação de 13 fisioterapeutas e mais um (01) no NASF, totalizando 14 profis-sionais abrangendo a população da zona urbana e rural, como alternativa capaz de fortalecer a Atenção Básica. O papel do fisioterapeuta na atenção à saúde desta população vai desde aspectos educacionais e preventivos, como a identificação de agravos e o monitoramento da sua capacidade físico-funcional, até medidas de reabilitação naqueles com limitações funcio-nais que os impedem de se submeter a um processo de reabili-tação de forma ambulatorial. Esse novo conceito potencializa o desenvolvimento de ações promocionais e preventivas garantindo uma melhor qualidade de vida à comunidade. A Secretaria da Saúde, em parceria com a Secretaria da Educação, traz uma novidade para os alunos do município: o “Programa Fisioterapia na Saúde Escolar”. O programa está sendo realizado pelas fisioterapeutas Elieldina Alves e Cibelle Feijó com o propósito de corrigir as alterações posturais nos alunos das escolas municipais, objetivando melhorar o rendi-mento escolar e prevenindo assim, complicações futuras na fase adulta. As principais alterações posturais em escolares ocor-rem devido às posturas inadequadas em consequência dos dis-túrbios anátomo-fisiológicos e a vários hábitos no contexto escolar que contribuem para o surgimento dos problemas pos-turais, dentre eles: a posição incorreta nas cadeiras escolares

dos alunos em sala de aula e o peso das mochilas. Diante da grande incidên-cia de alunos com alterações posturais e da necessidade de conhecimento das orientações preventivas destas, o presente estudo objetiva relatar a ex-periência de uma Estratégia Fisioterapêutica no contexto da saúde na escola de Ensino Fundamental Professor Padre Pedro Inácio Ribeiro no mu-nicípio de Brejo Santo-Ce.

Foram avaliados 148 alunos do 6º ao 9º ano, turno manhã e tarde, com queixa de dores na coluna vertebral. Desse total, 55 alunos foram selecionados para participarem do pro-grama de intervenção fisioterapêutica. Os resultados apontam que as alterações posturais são decorrentes da desarmonia muscular levando a anormali-dades nas estruturas anatômicas, dentre estas a hiperlordose, hipercifose e escoliose. Como sintomatologias em conseqüên-cia das alterações posturais, têm-se: lombalgias, cervicalgias e dorsalgias. Assim, orientar um bom posicionamento de pos-tura, maneiras adequadas para realizar as atividades da vida estudantil, melhor posição para dormir, sentar, fazer alonga-mento na própria sala de aula, fortalecimento muscular, cons-cientização da postura e da respiração, é imprescindível para promover o equilíbrio entre as musculaturas, diminuir a pro-gressão dessas patologias e contribuir para uma melhor quali-dade de vida. Esse projeto conta com o apoio incondicional da gestão municipal, Prefeito Municipal Dr. Guilherme Landim, Vice Prefeito Arnou Pinheiro Feijó, a Secretária Municipal da Saúde Dra. Heloísa Miranda e da Dra. Sheslla Pinheiro Al-meida, primeira dama do município, que estão comprometi-dos com a melhoria da educação e da saúde dos nossos jovens.

Francisca Elieldina AlvesCibelle Feijó

Fisioterapeutas [email protected]

Intervenção fisioterapêutica na correção postural dos alunos da E. E. F. Prof. Padre Pedro Inácio Ribeiro

Fisioterapeutas do Município de Brejo Santo - CE, Elieldina Alves e Cibelle Feijó.

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Crato

A dengue mata, o trabalho em parceria salva: A experiência do município do Crato

O quadro epidemiológico da dengue no Crato carac-teriza-se pela a ampla distribuição do Aedes aegypti em todos os bairros da zona rural e urbana, com complexa dinâmica de dispersão do vírus Den V1, 2 e 3. Essa situação epidemiológica tem, ao longo dos anos, apesar dos esforços da Secretaria de Saúde do município, pro-vocado ocorrência de epidemias desde 2001. As intervenções desse agravo, por transcender o setor saúde, são reconhecidas como de difícil implantação. Ações impactantes foram deter-minadas pelo gestor de saúde local, provocando mudanças efetivas no quadro atual, com destaque para redução do Ín-dice de Infestação Predial (IIP) e consequentemente mudan-ças no perfil da morbidade e redução da letalidade por Febre Hemorrágica do Dengue (FHD). Nessa direção, a Secretaria de Saúde desenvolveu um Plano de Intensificação das ativi-dades do Programa de Controle da Dengue, desenvolvido por técnicos do setor de endemias, epidemiologia e programas de saúde da família, em parceria com a 20º Cé-lula Regional de Saúde e Secretaria de Saúde do Estado, com elaboração, execução e monitoramento. Dentre as ações destacam-se: Amostragem com Ovitrampa no campo, que consis-te na pesquisa com recolhimento de ovos da fêmea do Aedes, tendo sido selecionados seis bairros de maior infestação pelo mosquito vetor. Com a utilização da armadinha ovitrampa

foi permitido o conhecimento da população de fêmeas numa localidade. Esta armadilha de oviposição vem demonstrando seu modo sensível e econômico para detectar a presença de Aedes aegypti principalmente quando os níveis de infestação das localidades estão baixos de modo que o levantamento lar-vário não os revelava. A pesquisa teve início no dia 14 de maio de 2011, tendo sido recolhidos 10.789 ovos, quebrando a cadeia evo-lutiva do Aedes, com o prazo de dois meses para sua conclu-são. O município apresentava um índice geral de 3,42% sendo o IIP de 3,47% na zona urbana e 3,01% na zona rural, com 312 casos de dengue confirmados de Janeiro à Março, período que antecede o plano. O plano de intensificação foi realizado em parceria com a Secretaria de Educação, Tiro de Guerra, Corpo de Bombeiros, Projeto Boa Noite, etc. Foi realizado treinamento pessoal, telamentos em caixas de água, limpeza

de terrenos baldios e premiação com aparelhos de DVD’s sorteados para as casas que não apresentavam focos de dengue. Com todas as ações re-alizadas, o IIP obtido foi de 0,85%, após 2 (dois) tratamentos focais e um levantamento de Índice Rápido Amostral(LIRA) resultando em 79 casos de Dengue nos meses de Abril a Junho. Os trabalhos foram realizados no período programado, tendo alcançado situação de baixo risco de transmissão.

Marcos Aurélio Monteiro da SilvaLídia Maria Feitosa Guedes

Regina Petrola Bastos RochaMaria de Lourdes Coelho de Alencar Barreto

Cícero Luiz Bezerra FrançaFrancisco Cialdine Frota Carneiro

[email protected]

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Cruz

A qualidade da assistência a partir da melhoria das condições de trabalho dos profi ssionais de saúde de Cruz-CE

O Sistema Local de Saúde de Cruz é pautado na ges-tão democrática e transparente, voltada para o planejamento estratégico, com refl exo permanente na melhoria das condições de trabalho dos profi ssionais, facilitando o melhor desempenho para que o usuário tenha acesso as ações e serviços de saúde. Partindo da premissa de que o profi ssional de saú-de traz consigo sentimentos e expectativas, estando sempre à procura de crescimento profi ssional, é preciso considerar a importância da satisfação das necessidades de acolher e dispor de seus conhecimentos para desenvolver suas atividades aos usuários do SUS. Nesse contexto, a ambiência de trabalho é fundamental para o seu desempenho. Assim, com o objetivo de fortalecer a gestão dos pro-fi ssionais que atuam na Estratégia Saúde da Família, propomos a melhoria de suas condições de trabalho acreditando que um melhor ambiente oportuniza um maior desempenho também nas ações de saúde. Com base no levantamento das necessidades dos pro-fi ssionais e, sobretudo, nos anseios da população cruzense em relação à saúde pública, realizamos reuniões com as comuni-dades e equipes de saúde da família. A partir destas discussões foram propostas ações de melhoria das condições de trabalho dos profi ssionais que compõem os serviços de saúde de Cruz.Vale salientar que todas as ações planejadas foram incluídas no Plano Plurianual de Saúde 2009 – 2013, sendo reavaliadas a cada ano, por ocasião da elaboração da Programação Anual de Saúde.

Como estratégia de ação, pautamos o planejamento relacionado às demandas e necessidades através de reuniões periódicas; do investimento na infraestrutura, melhorando o ambiente físico, assegurando o maior conforto possível, dis-pondo de salas climatizadas (consultório médico, enfermagem, administração, sala de vacina...); da aquisição de veículos com ar-condicionado; da informatização das unidades de saúde, com sistema de marcação de consulta, ligado em rede e 100% com internet; bem como do fortalecimento da central de mar-cação de consultas internas, proporcionando a integração das unidades básicas com o hospital, CAPS, NASF, CEO, labora-tório, fi sioterapia. Dentre os resultados esperados temos a satisfação dos profi ssionais expressa nas reuniões mensais; o maior desem-penho nas ações e serviços (otimização de recursos); a fi xação dos profi ssionais nas unidades de saúde; o melhor desempenho no fl uxo de acesso aos serviços especializados disponíveis a ní-vel local; o respeito às múltiplas dimensões do profi ssional que atua no sistema público de saúde a fi m de construir serviços mais humanos e de melhor qualidade; e a melhoria dos indica-dores de saúde, na aproximação dos profi ssionais com a gestão e na adoção de uma postura proativa desses funcionários para com a saúde local.

Francisco Pedro da Silva FilhoGestor Municipal

Silvia Lorena Girão B. B. Nogueira NobreTécnica em Planejamento

fpedrofi [email protected]

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Pedra Branca

Gripe Infl uenza A H1N1 No Município De Pedra Branca-CE: Um Surto, Um Susto, Uma Superação

Introdução A Infl uenza ou gripe é uma infecção viral aguda das vias respiratórias, de elevada transmissibilidade e de distribui-ção global. Um indivíduo pode contraí-la várias vezes ao longo da vida e, em geral, tem evolução autolimitada. Contudo, de acordo com a diversidade antigênica de seu agente etiológico esta doença pode variar em sua gravidade, podendo se apre-sentar como uma síndrome gripal autolimitada ou evoluindo com complicações para uma síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O modo de transmissão mais comum é direto (pes-soa a pessoa), por meio de aerossóis expelidos pelo indivíduo infectado com o vírus da infl uenza, a pessoas suscetíveis, ao falar, espirrar e tossir. O período de incubação pode variar de 1 a 7 dias, sendo mais comum de 1 a 4 dias. O período de trans-missibilidade em adultos pode variar de um dia antes até o 7º dia após o início dos sintomas e, para menores de 12 anos, um dia antes até o 14º dia após o início dos sintomas. No mundo, o paciente zero da gripe A H1N1 surgiu no vilarejo de La Gloria no México a nove de Março de 2009, e em 25 de abril de 2009 a OMS decretou emergência na saúde publica internacional, atingindo a elevação para o nível máxi-mo em 11 de junho de 2009, porém em 10 de agosto de 2010 a OMS anuncia o fi m da Pandemia (2009). No Ceará em 2009 foram notifi cados 401 casos sendo 117 confi rmados com três óbitos na capital, a maioria dos casos eram graves e todos pa-cientes de risco, em 2010 foram notifi cados 92 casos com 13 confi rmados e cinco óbitos. O município de Pedra Branca localizado no sertão central do Estado do Ceará a 280 km da Capital com uma po-pulação de 41.480hab., ao fi nal do ano de 2011 vivenciou algo excepcional em seu sistema de saúde, haja vista que na 1ª quin-zena do mês de novembro foi observado no Hospital Munici-pal de Pedra Branca um aumento signifi cativo de atendimento a um grupo de escolares, apresentando sintomas parecidos. Inicialmente foram atendidos 51 estudantes e um professor, além de 20 pessoas que não fazem parte do grupo escolar, mas que eram contatos dos adolescentes acometidos. Os principais sintomas apresentados pelos acometidos foram febre, cefaleia, tosse, mialgia e dor de garganta. Após investigação in loco, a equipe do CIEVS/CE (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde) encaminhou amostras de espécimes clínicos dos pacientes para investigação de vários agravos, inclusive infl uenza. Das 18 amostras coletadas de swap de nasofaringe, 11 eram positivas para Infl uenza H1N1.

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Apesar de não haver dados quantitativos, Pedra Branca possui um razoável contingente de pessoas que mi-gram para o trabalho de corte de cana sazonal no Sudeste do país. Este ciclo faz parte da cultura do município e pode ser relatado como uma possível porta de entrada do vírus. Vale ressaltar que, à época do surto, no interior de São Paulo existia a presença do vírus circulante e, como mencionado o ciclo migratório entre aquele estado e o município de Pedra Branca, o caso índice referiu que dias antes de apresentar os sintomas, o mesmo manteve contato direto com uma dessas pessoas, egressa do corte de cana e que já havia contraído o vírus. Metodologia Diante da confi rmação do surto do vírus H1N1, o Sis-tema Único de Saúde local foi categórico no empenho ao con-trole e eliminação do mesmo iniciando com as seguintes ações:-Ofício à instituição de ensino onde surgiram os casos infor-mando sobre a ocorrência de uma possível virose e solicitan-do que suspendesse o funcionamento das atividades da escola até que o caso fosse esclarecido (Esta ação foi revogada sob orientação do CIEVS Estadual, solicitando a retomada das ati-vidades da instituição, uma vez que os casos detectados foram prontamente identifi cados e, permanecendo a Escola funcio-nando, poderia monitorar os discentes e seus familiares e ado-tar medidas imediatas).-Contactar à 8ª CRES – Quixadá (Núcleo de Vi-gilância Epidemiológica)-Encaminhamento do paciente caso-índice com sintomatologia ao Hospital São José(Referência em Infectologia do Estado).-Criação de um Grupo Gestor de Enfrentamento de Crise, constituído pelas principais coordena-ções de saúde, setores administrativos e socie-dade civil.-Visita técnica para inspeção das instalações e estrutura física da escola onde surgiu o caso-índice.-Mobilização de todos os profi ssionais da rede de atenção a saúde para planejar o enfrentamento do surto.- Sensibilização de todos os serviços para diagnosticar, tratar, notifi car e investigar oscasos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave),- Formação de equipes para realização do trabalho de mobili-

zação e prevenção da doença realizando palestras nas escolas, repartições, praças, instituições publicas eprivadas, comercio, com distribuição de álcool gel e panfl etos.-Recrutamento de todos os Agentes comunitários de saúde e Agentes de endemias para monitoramento dos grupos de ris-cos. Ressalte-se que Pedra Branca apresentacobertura satisfatória (≥95%) nas campanhas vacinais, bem como de rotina, demonstrando que a população estava de certa forma imunizada e orientada para o enfrentamento da H1N1;-Realização de audiência publica, envolvendo represen-tantes do Executivo, Legislativo e Judiciário, Conselhos, e toda a sociedade civil para esclarecer sobre as medidas adota-das pelo município no combate ao surto, bem como explicar sobre a efi cácia do uso da vacina naquele momento;- Administração do medicamento Oseltamivir (Tamifl u) aos pacientes notifi cados com sintomas da gripe, por orientação da coordenação de Vigilância a Saúde do Estado.- Utilização de toda a mídia local para informações pre-ventivas e divulgação de boletins diários sobre os números de notifi cações.- Parceria com todos os setores da administração municipal e população no trabalho de prevenção e controle do vírus.-Reunião com representantes da defesa civil.-Suspensão por quinze dias dos pré-natais e transferências de todos os partos para o município vizinho.

Foram analisadas 791 fi chas de notifi cação de sur-to, sendo 52 fi chas de atendimento dos estudantes da escola e que, em 47 dessas foi possível estabelecer uma prevalência dos sintomas apresentados pelos mesmos. Foram registrados em uma planilha o nome, idade, sintomas endereço e data do atendimento de todos os estudantes. Foram ouvidos 5 estu-dantes e 2 professores, que exprimiram suas opiniões sobre porquê do grande número de doentes na escola.

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Discussão e Resultados Os gráficos abaixo mostram a evolução no número de casos notificados e monitorados:

No gráfico acima, nota-se que o caso-índice egressou ao Hospital Municipal no dia 18/11/12, atingindo seu ápice no 10º dia após o inicio da suspeita, com 160 casos notificados. Das 791 fichas analisadas, verificou-se que a maioria é do gênero feminino (545 – 69%) e que a maioria está na faixa etária entre 14 a 17 anos. A partir dos endereços declarados na ficha, verificou-se que houve prevalência maior em determina-do bairro. Houve um maior aumento dos casos a partir do dia 21/11/11.

Com relação à sintomatologia, os sintomas mais pre-valentes foram febre, cefaléia, tosse e mialgia. Foram relatados também dor em orofaringe, náuseas ou vômitos, dispnéia, dor torácica e dor abdominal. (gráfico 2) O fato de 28% dos notificados terem apresentado tosse e 23% dor em orofaringe nos direciona para uma doença relacionada às vias aéreas. Não houve relato nos prontuários de sinais de meningite, insuficiência respiratória ou instabilidade hemodinâmica. Em uma avaliação geral das fichas, apesar de não bem detalhadas, alguns poucos casos pareciam se tratar de casos de gripe enquanto outros apenas rinofaringite por outros vírus. Apenas quatro relataram dispnéia, mas possuíam ausculta pulmonar normal.

Dos 20 hemogramas realizados entre os notificados, 10 evidenciaram leucocitose com predomínio de segmentados (19.900/mm³ e 20100/mm³) e outros 10 evidenciaram plaque-

topenia 140.000/mm³ e 100.000/mm³.

Considerações Finais Foram notificadas 791 pessoas, cuja maioria residia na zona urbana nos bairros Santa Maria e Santa Terezinha, 18 casos foram confirmados la-boratorialmente. Não foi registrado nenhum caso com síndrome respiratória aguda grave ou óbito. Em 06/12/11 o número de notificações começou a diminuir, em 09/12/12 foi registrado o último caso, sendo que à partir desta data, o número de notificações manteve-se zerado. Foi declarado

encerramento do surto no dia 20/12/12, sendo encaminhado Ofício Circular para os meios televisivos, sociedade civil e ins-tituições públicas municipais e estaduais. Diante o exposto, concluímos que, só com os esforços conjugados entre todos os setores públicos do Município, a cooperação técnica entre a Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da Saúde, a participação popular nas ações de pre-venção de contágio e agravos, foi possível em tão pouco tempo contornarmos tal situação, que de início foi um princípio de temor e porquês entre os próprios técnicos de saúde, mas que se transformou no verdadeiro espírito de superação, através de um trabalho articulado, intersetorial com vista a um objetivo único - o controle e eliminação do vírus da Influenza A H1N1 em Pedra Branca-Ce.

Tânia Maria Leite ParenteSecretária Municipal de Saude

Ana Kaline RodriguesAssistente Social do NASF

Leila MachadoCoordenadora Epidemiologia

Roberto MarrocosCoordenador Atenção Bá[email protected]

Gráfico 1

Gráfico 2

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Sobral

Conhecimento dos Benefícios da Prática de Atividades das Primigestas

Introdução Em nossa civilização, durante muitos séculos, a mu-lher, origem do pecado, foi condenada a “dar a luz na dor”. Foi preciso muito tempo para vencer os princípios ancestrais a fim de chegar ao parto “sem dor”. Os médicos passaram a se preocupar, em primeiro lugar, com a parturiente e tentaram me-lhorar seu conforto, preparando-a física e psiquicamente para o evento. Barros (2004), considera que o ser humano é um con-junto dinâmico de fatores biológicos, psicológicos e sociais e suas manifestações envolvem a participação conjunta de todos esses elementos. Muitas dúvidas e questões já foram levantadas acer-ca de práticas corporais realizadas por mulheres grávidas. Ao longo da história, deparamo-nos com fatos e relatos que evi-denciam a importância da atividade física no período graví-dico-puerperal. Já na Bíblia encontramos a primeira possível evidência da influência de uma vida ativa no desenrolar da ges-tação e do parto, quando é reconhecido que mulheres escravas hebréias tinham partos mais fáceis que suas patroas egípcias sedentárias. “E as parteiras disseram a faraó: É que as mulhe-res hebréias não são como as egípcias; porque são vivas e já têm dado à luz os filhos antes que as parteiras venham a elas” (ÊXODO I, 19, p. 67-68). Meu interesse por esta temática surgiu no ano de 2004 quando comecei a trabalhar voluntariamente na Estraté-gia Saúde da Família (ESF) do bairro Vila União no Município de Sobral-CE como parceira da equipe de atenção básica que na época, iniciava um trabalho de implantação de atividades físicas para as gestantes assistidas naquela unidade, com vistas a promover qualidade de vida às mesmas. No início de 2005, engravidei e pela experiência vivi-da anteriormente, tive curiosidade em saber como era na práti-ca fazer exercícios durante o período gestacional. Partindo da realidade vivenciada no Centro de Saúde, aliada ao fator pesso-al, me instigou a querer realizar este estudo que teve como ob-jetivos de averiguar o conhecimento das primigestas atendidas na Estratégia Saúde da Família no município de Sobral, acerca dos benefícios das atividades físicas durante a gestação; identi-ficar o perfil sócio-econômico-cultural das gestantes e observar o grau de interesse delas sobre o assunto. A pesquisa, de caráter exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, realizada no Centro de Saúde da Fa-mília do bairro do Junco foi composta por dez gestantes jo-vens e seguras que demonstravam extrema felicidade com o fato de “Gestar”. Para a coleta utilizou-se uma entrevista semi-estruturada aplicada no período de março a abril de 2007, cuja

interpretação e análise das informações ocorreram por catego-rização a partir de suas falas. Partindo do ponto de vista das entrevistadas, obser-vou-se que a faixa etária era de 17 a 31 anos, somente uma não era alfabetizada, sete casadas, oito moravam na zona urbana e cinco trabalhavam fora de casa. A renda familiar estava entre 1/2 e dois salários mínimos, e sobre o assunto, mostraram-se interessadas fazendo alguns questionamentos e esclarecendo dúvidas. Em face ao exposto, pudemos constatar que estes fa-tores não foram condicionantes para que o conhecimento so-bre práticas de atividades físicas para mulheres grávidas fosse obtido, visto que, tanto mulheres bem instruídas quanto com pouca escolaridade afirmaram saber sobre o assunto, mas não souberam associar tais conhecimentos aos benefícios que estes proporcionariam, mas ficou evidente que há grande interesse delas em relação ao tema tratado. Praticar atividade física requer conhecimento, mo-tivação e consciência pessoal dos resultados que essa prática pode trazer para o dia-a-dia de cada um, pois sem esses fatores não se pode ter estímulo para superar as possíveis dificuldades que podem surgir. Isso nos faz acreditar que para o sucesso de uma gestação com menores desconfortos e um trabalho de par-to e parto menos sofrido, a prescrição e a orientação de ativi-dades físicas durante este período representam uma oportuni-dade para que as mulheres possam desfrutar muito mais desse momento, sem complicações como ganho de peso excessivo, diabetes gestacional, baixa autoestima, ansiedade e estresse. É satisfatório saber que também está nas mãos dos profissionais de educação física o poder de transformar o coti-diano e até o estilo de vida das pessoas. O que é incontestável é que a prática de atividades físicas é de suma importância em qualquer momento de nossas vidas, seja por lazer ou com fins terapêuticos, por tanto, mexa-se!

ReferênciasBARROS, S.B., MARIN, H.F., ABRÃO, A.C. Enfermagem Obstétrica e Gine-cológica: Guia para a prática assistencial. 1ªed. São Paulo: Roca, 2002.Bíblia Sagrada. Ed. de 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.BATISTA, D. C., CHIARA, V. L., GUGELMIN, S. A. et al. Atividade físi-ca e gestação: efeito do exercício no contexto materno fetal. Revista Brasi-leira de Saude Materno Infantil, Abr/Jun 2003, vol.3, no.2, p.151-158. ISSN 1519-3829. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519> Acesso em: 12 mar 2007

Karla Mara Coelho Ponte OliveiraEducadora Física do Nasf

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Barbalha

Programa de incentivo ao aleitamento materno:nutrição, proteção e amor para o bebê

Introdução O estado do Ceará tem vivenciado, nos últimos anos, uma intensa mobilização, liderada pelas secretarias de estado e apoiada por organizações não-governamentais, especialmente o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que ob-jetiva melhorar as condições de vida e de saúde da sua popu-lação. Este esforço coletivo, que pode ser exemplifi cado pela ação efetiva de um exército de agentes de saúde a nível comu-nitário, tem-se traduzido em importantes melhoras nos indica-dores de saúde, principalmente no que se refere ao segmento materno-infantil. Frente a essa realidade Dr. Cícero Cruz, médico pediatra do mu-nicípio de Barbalha materializou uma idéia, que já vinha sendo amadurecida na prática do seu consultório. Oferecer acessibilidade a um cuidado voltado à promoção do aleitamento materno era o grande divisor para uma assistência humanizada e regionalizada para mães, em sua grande maioria, carentes de tal cuidado. A desmistifi cação de tabus e crenças que permeavam o aleitamento materno também era trabalhada pela equipe de Dr. Cícero, afi nal as questões culturais poderiam ser impeditivas para a consolidação do amamentar, pois du-rante o processo, na prática, muitos fa-tores contribuem para o desmame. O início dessa experiência inovadora no município de Barbalha, bem como na região do Cariri, contribuiu para uma mudança no comportamento das mães frente à oferta do aleitamento materno exclusivo e sensibilizou os gestores da importância em promover e apoiar essa iniciativa ao analisar as pequenas, mas importantes mudanças nos indicadores de saúde do seu município. Esses indicadores retratavam uma melhora no núme-ro de crianças menores de 4 meses que estavam em aleitamento materno exclusivo, na diminuição dos internamentos por diar-réia e doenças respiratórias.

Se considerarmos todas as vantagens que o aleita-mento materno pode trazer para a mãe, o fi lho e a família, en-tão podem ser percebidos a promoção da qualidade de vida, mesmo sendo uma variável difícil ou mesmo impossível de ser medida. Diante dessa prática o município de Barbalha, em 2011, por intermédio do Projeto de fortalecimento de Capaci-dades para o Desenvolvimento Humano Local – CapaCidades numa parceria com a Confederação Nacional de Municípios – CNM e o Programa das Nações Unidas para o Desenvol-

vimento – PNUD foi contemplado com um premio em experiência exitosa na I Feira do Conhecimento que busca identifi car atividades que fomentem ações inovadoras na área de turismo com foco no turismo e erradicação da pobreza.

Metodologia O Programa de Incentivo ao Alei-tamento Materno (PIAM) foi criado desde 1995, e funcionava na Casa de Apoio São Bento. O médico pe-diatra idealizador desse Programa, Dr. Cícero Cruz Macedo, foi esti-mular a realizar tal assistência, vis-to que na região a prá tica do aleita-mento materno exclusivo era muito incipiente, e a realidade percebida nessa época era de uma mortalidade infantil com índices bastante eleva-

dos. A prática do leite artifi cial era difundida de forma natural e os mitos e tabus contra o aleitamento materno eram cada vez mais fortalecidos. Na percepção do médico pediatra, faltava informação e apoio para essas nutrizes enfrentarem o desafi o do aleitamen-to exclusivo. Então, em parceria com a maternidade do mu-nicípio de Barbalha, Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, as crianças eram envolvidas em uma rede de assistência através do seguimento para o PIAM, desde o dia do seu nasci-mento.

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A princípio o público não era tão expressivo, apesar de con-templar não só as crianças barbalhenses, como também crianças de municípios vizinhos, mas que nasciam no Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo. A grande e fundamental contribuição que o Programa de In-centivo ao Aleitamento Materno vem ofertando é contribuir para a reduçã o da mortalidade infantil, estimulando as mães a ofertarem de forma exclusiva o leite materno. Estudos demonstram a importância desse alimento para o binômio mãe-bebê, quando traz os benefícios do vínculo afetivo, da redução de doenças como diarréia e desnutri-ção, redução do câncer de mama, dentre outras.

Diacussão e Resultados O Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno atende ao 10o passo dos 10 passos de sucesso para o aleitamento materno. O resultado dessa prática ao longo de dezesseis anos evidencia:•Maior cobertura de crianças menores de 6 meses em aleitamento ma-terno exclusivo;•Menor taxa de internamento por doenças prevalentes na infância (diarréia, pneumonia);• Maior acessibilidade das crianças as consultas com pediatras de 0 a 2 anos. • Cobertura vacinal acima de 95%;

Considerações Finais Apesar de registros recentes na literatura científi ca de au-mento dos índices de aleitamento materno, as condições ideais ainda estão distantes de serem alcançadas e justifi cam estudos como este, que resgatam medidas de baixo custo na promoção da prática da ama-mentação. Atividades de promoção, apoio e proteção ao aleitamento materno representam importantes estratégias para redução da morbi-dade infantil, especialmente em países em desenvolvimento. O resultado local representa uma particularidade da cidade, que conta com um hospital “Amigo da Criança”, realizando a maioria dos partos do município e região adjacente contribuindo para o rele-vante impacto dos indicadores de aleitamento materno. Essa situação favorece a cultura do aleitamento materno, com início precoce da amamentação na sala de parto, incentivo ao aleitamento materno sob livre demanda no alojamento conjunto e de-sestímulo ao uso de utensílios que favoreçam o desmame, além das atividades educativas de promoção da prática que são desenvolvidas no Hospital Amigo da Criança, tendo sua continuidade no ambulató-rio de aleitamento materno.

Cícero Cruz MacêdoMédico Pediatra do Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno,

Docente da Universidade Federal do Ceará (UFC) Cinthia Gondim Pereira Enfermeira Especialista em Saúde da Família,

Coordenadora do Programa Saúde na Escola (PSE) e Docente da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Jacqueline Cavalcanti SampaioSecretária da Saúde do município de Barbalha

[email protected]

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Juazeiro do Norte

Mais de 31 mil juazeirenses são beneficiados com o PSE

A SESAU – Secretaria de Saúde – de Juazeiro do Norte tem realizado de forma exitosa e intersetorializada com a SME – Secretaria Municipal de Educação – o PSE - Programa Saúde na Escola -. O objetivo é ofertar atenção integral de prevenção, promoção e atenção a saúde de crianças, adolescentes e jovens do ensino público. Em Juazeiro a pactuação do município com os ministérios da Saúde e da Educação preconiza através do SIMEC - Sistema Inte-grado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Ministério da Educação -, a média mínima de mil alunos acompanhados por equipes da ESF – Estratégia Saúde da Família. 31.451 alunos entre cinco e 19 anos estão senso assistidos no PSE em 39 escolas municipais, três estaduais e uma federal. O Departamento de Atenção Básica é parcei-ro do programa com 32 equipes da ESF e 38 profissionais do NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família –. Foram pactuadas para 2012 ações de promoção a saúde, serviços de saúde bucal, detecção precoce de HAS, DM, tuberculose e hanseníase, avaliação auditiva, nutricional, oftalmológica, antropométrica, atualização de calendário vacinal e acompa-nhamento psicossocial. A atuação dos profissionais no PSE acontece nos bairros Jardim Gonzaga, São José, Frei Damião, Pirajá, Romeirão, Triângu-lo, Palmeirinha, Horto, Salesianos, Socorro, Centro, Pio XII, Santa Tereza, Novo Juazei-ro, Franciscanos, Tiradentes, Betolândia, João Cabral, Limoeiro, Timbaúbas, Aeroporto, Fá-tima, Juvêncio Santana e São Miguel. A força da intersetorialidade foi testada durante a Semana Saúde da Escola promovida entre cinco e nove de março com o tema “Pre-venção da Obesidade”. Foram realizadas também avaliações nutricionais, antropométrica e oficinas de alimentação saudá-vel. O intuito foi alertar para a importância das boas con-dições de saúde para a melhoria no desenvolvimento pleno da criança/adolescente tanto na escola como na formação da cidadania, visando a aproximação da população e da comu-nidade escolar com a Atenção Básica à Saúde. Uma caminha marcou o encerramento da programação.

Beto FernandesAssessor de imprensa da secretaria de saúde

[email protected]

Crianças sendo assistidas por profissionais da saúde nas escolas \ Equipes da SESAU e SME com crianças do PSE.

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A revista Sustentação é quadrimestral com distribuição por todo o território nacional. É uma revista que mes-cla cientificidade e jornalismo, com espaços para publicações de artigos com experiências positivas no SUS, artigos de opinião, além de várias sessões para divulgação de notícias, eventos, entre-vistas etc. Nosso intuito é proporcionar, na área de saúde, uma verdadeira troca de informações entre os municípios.É o COSEMS CEARÁ fazendo o SUS acontecer com jornalismo de qualidade.

Divulgando o SUSque dá certo!

REVISTA SUSTENTAÇÃO

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Sustentação 30

CD“Women of Latin America””Putumayo World MusicVárias artistas

Com a proposta de apresentar ao mundo a sonoridade das mais diferentes regiões do planeta, a Putumayo World Music, aportou no Brasil no final do ano passado, uma equipe própria que estará desenvolvedo projetos ligados à cultura e ao investimento no mer-cado tradicional e não tradicional de discos. Desde 1993 no merca-do mundial. A Putumayo World Music já fincou raízes em mais de 80 países com a presença em todos os continentes, nos quais mais de 100 títulos foram lançados. Mais um da coleção, “Women of Latin America” junta o melhor do estilo destas incríveis mulheres.São 11 faixas espetaculares, “Icnocuicatl” (Lila Downs) e “Caras Lindas” (Susana Baca), são alguns dos sucessos presentes nesta coletânea. Este é um álbum que não pode faltar em sua coleção. Vale a pena conferir!

LIVRO“Saúde em Questão”Francisco Inácio BastosEditora Claro Enigma

Existem diversos conceitos que fazem parte de nosso cotidiano e que, apesar de evidentes para os nossos sentidos e intuição, são muito difíceis de definir – como os de tempo, espaço e também de saúde. Sabemos quando estamos ou não saudáveis, mas explicar em palavras o que é, afinal, a saúde é uma tarefa que tem mobilizado séculos de pesquisa em medicina. Em Saúde em Questão, Fran-cisco I. Bastos expõe os desdobramentos dessa palavra – que diz respeito, antes de tudo, à conservação do bom funcionamen-to do corpo humano – nos vários níveis de operação da vida. Das sutis interações das partículas primordiais da matéria até o mapa em grande escala dos siste-mas ecológicos da Terra, Bastos explica os fundamentos químicos, fisiológicos, psíquicos e sociais da saúde, procurando demonstrar como o almejado bem-estar físico e mental depende de um complexo equilíbrio de fatores, que, a despeito dos avanços tecnológicos da medicina, tem sido cada vez mais afetado pelos perigos da vida contemporânea.

para ouvir para ver para ler

FILME“Raul - O Início, o Fim e o Meio”Walter CarvalhoDocumentário, 2011, 120 min, Brasil

Raul Seixas teve muitas mulheres, como mostra o documentário “Raul: o início, o fim e o meio”, de Walter Carvalho, que estreia no próximo dia 23 nos cinemas. A primeira, no entanto, Edith, é considerada por amigos e familiares do músico o grande amor de sua vida e até, para alguns, a causa da entrega ao alco-olismo, vício que ajudou a matá-lo precocemente, aos 44 anos. De 2009 a 2010, a equipe entrevistou 94 pessoas, entre amigos e familiares, mas 44 foram cortadas na edição final, restando 50. Com mais de 400 horas de material, o diretor levou um ano e seis meses para montar o filme. Entre os famosos, estão, Pau-lo Coelho, amigo, principal parceiro e por ano desafeto de Raul; além de Caetano Veloso, Tom Zé, Zé Rama-lho, Pedro Bial e Roberto Menescal, entre outros. Vale a pena ver!

60 . cultura

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CDGuingaCasa de VilaRio de Janeiro

Um dos mais inspirados compositores brasileiros, o carioca Guinga ingressa na gravadora Biscoito Fino com Casa de Vila, CD em que estréia como letrista e se aventura como cantor. Guinga assina os versos de faixas como Maviosa e Bigshot. O repertório inclui parcerias do composi-tor com Edu Kneip (Mar de Maracanã e Via-Crúcis), Paulo César Pinheiro (Porto de Araújo), Aldir Blanc (Tudo Fora de Lugar e Jongo de Compadre - esta também com Simone Guimarães, co-autora ainda de Capital). A valsa instrumental que fecha o disco, Comendador Albuquerque, foi composta em tributo ao saudoso produtor Paulinho Albuquerque, que, no comando da gravadora Velas, lançou Guinga no mercado fonográfico em 1991. A propósito, o produtor de Casa de Vila é o violonista Marcus Tardelli, discípulo de Guinga que reverenciou seu mestre no belo CD Unha e Carne, editado em 2005 pela mesma Biscoito Fino (Mauro Ferreira).

LIVRO“Ser médico no Brasil: o presente no passado”André de Faria Pereira NetoEditora Fiocruz

Da coleção História e Saúde, o livro examina de forma muito original como elites médicas se mobilizaram no início do século XX, com o objetivo de avançar o processo de profissionalização dessas carreiras no país. Esmiuçando os debates ocorridos entre participantes de um con-gresso de médicos realizado em 1922, o autor destaca no passado vários aspec-tos que continuam marcando a prática médica nos dias de hoje, dando novo significado às situações que presencia-mos no cotidiano da medicina. Privilegia o Congresso Médico realizado em setem-bro de 1922 por ter acontecido em um mo-mento de mudanças significativas no país, em especial, na área médica. Este livro pode interessar tanto aos profissio-nais da área quanto aos amantes da his-tória do Brasil, na medida em que insere as transformações da profissão médica no contexto político, social e cultural do Brasil no início do século XX.

para ouvir para ver para ler

FILME“Billi Pig”José Eduardo BelmonteComédia, 2011, 95 min , Brasil

Durante três décadas, a chanchada foi o gênero de cinema que predominou no Brasil. Empregando elementos das comédias de erros, em que situações dão errado apenas para piorar, esse tipo de filme foi marcado pelos persona-gens caricatos e regionais (a gostosa, o malandro, o padre...) e foi a grande preferência popular até 1960, tornando famosas produtoras como Atlântida e Cinédia. Em Billi Pig, José Eduardo Belmonte aposta em um revival da chanchada com toques de comédia “screwball”, com direito até a sequ-ências musicais - obrigatórias na fase mais prolífica das chanchadas. A comé-dia segue Wanderley (Selton Mello), um corretor de seguros falido que tenta ajudar a mulher, Marivalda (Grazi Massafera), a realizar o sonho de ser atriz enquanto ela recebe conselhos do seu porquinho de brinquedo.

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Se um dia nós se gostasse;Se um dia nós se queresse;Se nós dos se impariásse,Se juntinho nós dois vivesse!Se juntinho nós dois morasseSe juntinho nós dois drumisse;Se juntinho nós dois morresse!Se pro céu nós assubisse?Mas porém, se acontecessequi São Pêdo não abrisseas portas do céu e fosse,te dizê quarqué toulíce?E se eu me arriminassee tu cumigo insistisse,prá qui eu me arrezorvessee a minha faca puxasse,e o buxo do céu furasse?...Tarvez qui nós dois fi cassetarvez qui nós dois caíssee o céu furado arriassee as virge tôdas fugisse! Zé da Luz

Poesia> Zé da LuzXilogravura> João Pedro, Juazeiro do Norte, Ceará, 2009, [email protected]

62 . outras palavras

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