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HUDSON JUSTINO DE ANDRADE DELÍRIOS: TIRINHAS DIGITAIS CAMPO GRANDE - MS 2016

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HUDSON JUSTINO DE ANDRADE

DELÍRIOS: TIRINHAS DIGITAIS

CAMPO GRANDE - MS

2016

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HUDSON JUSTINO DE ANDRADE

DELÍRIOS: TIRINHAS DIGITAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Banca Examinadora da Universidade Federal

de Mato Grosso do Sul/ Campus Campo

Grande, como exigência parcial para obtenção

do título de Bacharel em Artes Visuais, sob a

orientação do Prof. Me. ElomarBakonyi.

CAMPO GRANDE - MS

2016

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HUDSON JUSTINO DE ANDRADE

DELÍRIOS: TIRINHAS DIGITAIS

Monografia defendida no curso de Bacharelado da Faculdade de Artes Visuais da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, para obtenção do grau de Bacharel, aprovada

em 25 de Abril de 2016, pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores:

___________________________________________

Prof. Me. ElomarBakonyi

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________________

Prof. Dr. Paulo César Antonini de Souza

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________________

Prof. Me. Sérgio de Moraes Bonilha Filho

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Campo Grande, MS, 25 de Abril de 2016

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Aos invisíveis no mundo.

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AGRADECIMENTOS

A minha mais sincera gratidão aos meus pais, Sra. Maria Onice Justino de Andrade e

Sr. José Mário de Andrade, a minha companheira de todas as horas Srta. Letícia Brandão

Simões, pois sem vocês, sem nenhuma dúvida, esta monografia teria sido impossível de se

fazer.

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“Ninguém baterá tão forte quanto à vida. Mas

isso não se trata de quão forte se pode bater. Se

trata de quão forte pode ser atingido e

continuar seguindo em frente... O quanto você

pode apanhar e continuar em frente. É assim

que a vitória é conquistada.”

BALBOA, Rocky (2006).

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RESUMO

O mundo contemporâneo está pautado pelas novas mídias digitais que modelam e alteram as

relações sociais, econômicas, culturais e educacionais. A arte não escapa desta tendência

mundial e adere às novas expressões que a tecnologia proporciona. Neste quadro artístico,

muitas expressões do mundo analógico passaram a incorporar e desenvolver uma nova forma

de traduzir a sua linguagem artística. Neste contexto, esta pesquisa visa analisar o potencial

contido nas histórias em quadrinhos dentro do ambiente digital, chamadas de webcomics,

especificamente, no campo das tirinhas digitais. As webcomics já assumiram diversos

formatos diferentes ao longo dos últimos anos, e continuam a explorar novas opções

narrativas. Portanto, a obra apresentada neste projeto tem caráter experimental, utilizando um

dos formatos propostos neste novo suporte.

Palavras-chave: Tirinhas digitais, webcomics, Histórias em quadrinhos.

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ABSTRACT

The contemporary world is guided by new digital media that shape and change the social,

economic, cultural and educational relations. The art does not escape this global trend and

adheres to the new expressions that provides technology. In this artistic context, many

expressions of the analog world began to incorporate and develop a new way to translate his

artistic language. In this context, this research aims to analyze the potential contained in

comic books into the digital environment, call webcomics, specifically in the field of digital

comic strips. The webcomics have already taken many different forms over the past few years,

and continue to explore new narrative options. Therefore, the work presented in this project is

experimental, using one of the proposed formats this new support.

Keywords: Digital Comic Strips, webcomics, Comic books.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10

CAPÍTULO I: A ARTE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: .......................... 11

1.1 Quadrinhos e a origem das tirinhas: ................................................................. 14

1.2 As tirinhas conquistando o mundo: .................................................................. 15

1.3 Tirinha: O teor de gênero em discussão: .......................................................... 16

CAPÍTULO II: HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E SUAS MÚLTIPLAS

LINGUAGENS: ............................................................................................................ 18

2.1 Ideologias que permitem Histórias em quadrinhos, questão midiática: ........ 19

2.2 As tirinhas e a cultura de convergência: ........................................................... 20

2.3 Convergência midiática: ..................................................................................... 20

2.4 As tirinhas nas mídias digitais: .......................................................................... 21

CAPÍTULO III: DELÍRIOS: ...................................................................................... 23

3.1 Históricos de criação: ......................................................................................... 24

3.2 Processo de criação: ............................................................................................ 26

3.3 Elementos: ........................................................................................................... 31

3.4 Redes sociais: ....................................................................................................... 37

CAPÍTULO IV: O CAÇADOR DE ESTRELAS: ..................................................... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS: ..................................................................................... 44

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ...................................................................... 45

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INTRODUÇÃO

Com a convergência midiática, as tiras diárias (ou tirinhas) publicadas em jornais e

revistas estão ganhando cada vez mais espaço dentro da web. Novas possibilidades de

criação e veiculação deste gênero tem surgido, principalmente através das redes sociais e

blogs. O objetivo desta monografia é mostrar como o modelo de produção das tirinhas está

sendo modificado dentro das novas mídias, principalmente com a possibilidade de publicar

seus trabalhos dentro de blogs e redes sociais.

A convergência faz surgir uma nova dinâmica em que os usuários estão exigindo cada

vez mais sua participação no processo de produção e distribuição de conteúdo.

Este trabalho está dividido em três partes. Na primeira, traremos um pouco da

história dos quadrinhos e seus conceitos, para poder conceituar as tirinhas, na ótica de

autores como Scott McCloud (1995), Marcos Nicolau (2011), Jacques Marny (1970).

A segunda parte discutiremos sobre as mídias digitais e suas possibilidades de

interação com o usuário, passeando por autores como Henry Jenkins (2008), Lucia Santaella

(2002), além de estudiosos em quadrinhos nas mídias digitais Scott McCloud (2006) e Edgar

Franco (2004).

E finalizando, na terceira parte será apresentada a produção dos Delírios, são tirinhas

digitais divulgadas dentro das redes sociais onde um pensamento ou história pode ser

contada em apenas uma imagem ou numa série de imagens que produzem interpretações e

sensações individuais nos expectadores. Um desenho estilizado e lúdico com influência de

autores de tirinhas de jornal e grande influência da cultura pop.

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CAPÍTULO I: A ARTE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS:

De acordo com o texto de GUIMARÃES (1999), Uma caracterização Ampla para

História em Quadrinhos e seus limites com outras Formas de Expressão,

“História em quadrinhos é a forma de expressão artística que tenta representar um

movimento através do registro de imagens estáticas. Assim é a história em

quadrinhos, toda a produção humana, ao longo de sua história, que tenha tentado

narrar um evento através do registro de imagens, não importando se esta tentativa foi

feita em uma parede de caverna há milhares de anos, em uma tapeçaria, ou mesmo

em uma única tela pintada. Não se restringe, nesta caracterização, o tipo de

superfície empregado, o material usado para o registro, nem o grau de tecnologia

disponível”.

Embora o referido texto não descaracterize como história em quadrinhos a tentativa de

representar um movimento através de uma única imagem (como o cartum e a charge, por

exemplo), a história em quadrinhos tem seu maior potencial quando faz uso de uma sequência

de imagens encadeadas, o que lhe permite realizar narrativas mais complexas.

O pesquisador americano Scott McCloud cunhou uma definição de comics que

considera estas criações pré imprensa na obra “Desvendando os Quadrinhos”, além de dar um

novo escopo as pesquisas em quadrinhos: “Imagens pictóricas e outras justapostas em

sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no

espectador”. (McCLOUD, 2005, p. 09).

Por mais limitada que possa ser uma definição, a de McCloud tem a vantagem de

desfazer alguns dos equívocos mais comuns sobre o estudo das histórias em quadrinho, por

desviar o entendimento sobre sua especificidade das partes que a constituem para a maneira

como se organizam. Em outras palavras descreve um meio através do qual é possível construir

textualidades, que fazem uso da justaposição de painéis (quadrinhos), com desenhos, textos

ou ambos na construção de sequências que emulam a passagem de tempo, lugar ou ideia

através de sua disposição espacial.

Segundo McCLOUD (2005), a partir desta definição foi possível compreender o termo

histórias em quadrinhos como algo muito mais antigo, provavelmente a forma mais difícil de

narrar. Assim, a história em quadrinhos embarca narrativas pré imprensa como: As pinturas

rupestres da caverna de Lascaux; A tapeçaria de Bayeux; Um bordado com 70,34 metros de

comprimento, representando em 58 cenas a conquista da Inglaterra pelos normandos,

concluída no ano de 1066; A coluna de Trajano, construída entre 112 e 114 em Roma no

fórum de Trajano sobre o túmulo do imperador para comemorar a vitória dos Romanos sobre

os Dácios; O Códice Zouche-Nuttall no México pré-colombiano; As sequências de vitrais (em

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alguns casos mesmo as catedrais bizantinas); Os quadros Trípticos, etc, entre diversas outras

obras.

Detalhe da tapeçaria de Bayeux.1 DUARTE, Rafael Soares, 2013, p. 31.

As Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do contexto

histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e isentas de influências.

Na verdade, as ideologias e o momento político moldam, de maneira decisiva, até

mesmo o mais descompromissado dos gibis (...) (DUTRA, 2001).

As primeiras manifestações das Histórias em quadrinhos são no começo do século

XX, na busca de novos meios de comunicação e expressão gráfica e visual. Com o avanço da

imprensa, da tecnologia e dos novos meios de impressão, possibilitaram o desenvolvimento

desse meio de comunicação de massa.

Entre os precursores estão o Suíço Rudolph Töpfler, o Alemão Wilhelm Bush, o

Francês Georges (Christophe) Colomb, e o Brasileiro Angelo Agostini. Alguns consideram

como a primeira história em quadrinhos a criação de Richard Fenton Oultcalt, The yellowkid

em 1895, Oultcalt essencialmente sintetizou o que tinha sido feito antes dele e introduziu um

novo elemento, o balão.

Segundo MARNY (1970) Oultcalt foi o criador da série de desenhos conhecida como

Hogan’sAlley (algo como O Beco de Hogan), no qual transitavam uma série de personagens:

varredores negros, chineses de tranças, mulheres com laços e, entre eles, um garoto de orelhas

largas vestido com uma camisola. Certo dia o garoto apareceu com a camisola pintada de

amarelo e foi imediatamente batizado pelos leitores de yellowkid, o chinesinho amarelo. Seu

desenhista passou a explorá-lo como personagem principal, dando-lhe vos por meio de balões.

1 Na página da Wikipédia é possível encontrar a imagem completa da tapeçaria de Bayeux.

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Outcault, R. F. "The Yellow Kid and His New Phonograph." The Yellow Kid. New York Journal. 25 Oct. 1896.2

Nas primeiras décadas os quadrinhos eram essencialmente humorísticos, e essa é a

explicação para o nome que elas carregam ainda hoje em inglês, comics (cômicos). Algumas

destas histórias eram Zitte Nemo (de Winsor McCay), Mutt e Jeff (de Bud Fisher), Popeye (de

E. C. Segar) e Krazy Kat (de Georges Harriman).

Os temas das histórias eram basicamente travessuras de crianças e bichinhos, e dessa

época vem às designações kid strips, animal strips, family strips, boy-dog strips, boy-family-

dog strips, dentre outros.

A queda da bolsa de 1929 teve relevante importância em relação a perspectiva da

história em quadrinhos, e nos anos 30 eles cresceram, invadindo o gênero de aventura. Flash

Gordon, de Alex Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould e a adaptação de Hal Foster para

Tarzan, de E. R. Borroughs são conhecidos como o início da era de ouro (Golden age). Nesta

década, três gêneros essenciais eram produzidos: ficção cientifica, o policial e as aventuras na

selva.

2 Disponível em: http://xroads.virginia.edu/~ma04/wood/ykid/images/centennial/yk_phonograph.jpg, acesso,

Abril, 2016.

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Nos anos 50 os quadrinhos foram alvo da maior caça às bruxas que já aconteceu por

meio de comunicação de massa. O psiquiatra Frederic Wertham escreveu um livro, A sedução

do Inocente (The Seduction og the innocent), onde ele acusava os quadrinhos de corrupção e

delinquência juvenis.

Nas 400 páginas de sua obra o psiquiatra Alemão, esmiuçou suas idéias sobre o

“verdadeiro intento subversivo” por trás dos quadrinhos. Dentre as hipóteses do tratado, havia

a de que a Mulher Maravilha representava idéias sadomasoquistas e a da homossexualidade

da dupla Batman & Robin.

Entre outros argumentos de Whertham, também estão que os quadrinhos incitavam a

juventude à violência havendo então o código de ética, para limitar e regular o que podia (e o

que não podia) aparecer nas páginas, limitando assim o alcance e a maneira de enfocar

assuntos, o que acabou por destruir todos os títulos de terror da EC Comics, exceto um, a

revista humorista: Mad.

Foi quando surgiu numa tira de jornal aparentemente inocente sobre um grupo de

crianças: Peanuts, de Charles M. Schulz. Charlie Brown, o personagem principal, é um garoto

de 6 anos, perdedor nato, simboliza insegurança, a ingenuidade, a falta de iniciativa; um

eterno esperançoso. Seu cão Snoopy, é um beagle filosófico em cima de sua casinha

vermelha. Esta tira marcou o começo da era intelectual dos quadrinhos, como uma maior

valorização do texto com as imagens.

1.1 QUADRINHOS E A ORIGEM DAS TIRINHAS:

A tirinha, também conhecida como tira diária, pode ser definida como uma sequência

narrativa em quadrinhos humorística e satírica que utiliza a linguagem verbal e não verbal

transmitindo, em sua grande maioria, uma mensagem de caráter opinativo.

Através da utilização de metáforas, que a aproxima da sua representação do cotidiano,

ela é capaz de burlar censuras e se afirmar dentro dos jornais impressos como um gênero

jornalístico que apresenta as mesmas propriedades de uma crônica, artigo, editorial ou charge.

Tomando empréstimo de narrativas e diálogos próprios dos folhetins e romances,

associando-os às ilustrações e gravuras, as histórias em quadrinhos alcançaram uma expressão

suigeneris com recortes visuais de ações e expressões linguísticas em balões.

Segundo MARNY (1970), foi the yellow kid, criação de Richard Fenton Oultcalt,

publicado em 1895 no jornal sensacionalista New york World, com a incursão de texto

naquele formato que viria a ser o balão.

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Vendo o interesse dos leitores por essas narrativas deflagrarem o aumento da venda de

jornais, seus proprietários passaram a investir no gênero e em pouco tempo já havia uma série

de personagens preenchendo as coloridas páginas dos suplementos dominicais.

Com relação ao surgimento das tirinhas, de acordo com PATATI e BRAGA (2006,

p.23), o formato clássico do gênero com piadas desdobradas em três tempos ou três quadros

surgiu graças à escassez de espaço nos jornais, bem como a popularidade dos personagens.

A tirinha é uma excelente forma de expressão no jornal e na revista. A mídia impressa

precisou se diversificar e atender a diversos públicos, dando a possibilidade de o autor adoçar

suas vivências, experiências e problemas da vida cotidiana de forma divertida e provocativa,

em uma realidade metaforizada.

Fonte: NICOLAU, 2011, p. 3.3

1.2 AS TIRINHAS CONQUISTANDO O MUNDO:

O celeiro da criação de tirinhas foram os Estados Unidos com a força de suas

empresas de distribuição. Em 1912, segundo MARNY (1970), Hearst funda o primeiro

“sindicato” encarregado de comercializar as histórias em quadrinhos, conhecido como King

Features Syndicate.

Além do King Features Syndicate, surgiram o Universal Press Syndicate, o United

Feature Syndicate, entre outros, encarregadas de espalhar tirinhas para jornais e revistas de

todo o mundo. Para se ter uma idéia da força mercadológica alcançada pelas tirinhas, segundo

MARNY (1970, p. 15), no final dos anos 1960, trezentas histórias em quadrinhos aparecem

no mercado americano em 1.700 jornais diários, sendo lidas por cerca de 100 milhões de

3 Calvin & Haroldo, WATTERSON, 2007, p. 26

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leitores: “Um jornal conhecido, Washington Post, um dos mais sérios dos Estados Unidos,

publica todos os dias cinco páginas de comics. Total de umas trinta histórias diferentes”.

Por essa época, o gênero já estava consolidado com presença marcante para gerações

de leitores, em jornais de diferentes partes do mundo. Foram fontes de inspiração para jovens

desenhistas em seus países, que passaram a criar seus próprios personagens, embora não

conseguissem competir com a força mercadológica de produção em massa dos syndicates

americanos.

1.3 TIRINHA: O TEOR DE GÊNERO EM DISCUSSÃO:

Segundo NICOLAU (2010), a tirinha tem como característica básica o fato de ser uma

piada curta de um, dois, três ou até quatro quadrinhos, e geralmente envolve personagens

fixos: Um personagem principal em torno do qual gravitam outros. Mesmo que se trate de

personagens de épocas remotas, de países diferentes ou ainda de animais, representam o que

há de universal na condição humana. A estereotipia dos personagens facilita sua identificação

por parte de leitores das mais diversas culturas.

Quanto à temática, apesar da função inicial das tirinhas terem sido o de fazer rir, e que

permanece até hoje, de acordo com MARNY (1970, as tirinhas americanas não tiveram medo

de adentrar em todos os campos, tais como a metafísica, a sátira social, e política, a

psicanálise, atraindo a leitura, inclusive, dos intelectuais.

Além de Jules Feiffer, com seus anti-heróis, MARNY (1970) cita como exemplo de

temática metafísica, os personagens de Peanuts, publicado aqui no Brasil com o nome de seu

principal personagem: Charlie Brown, de Charles M. Schulz, criação de 1950.

“Sinto-me inquieto. Penso no fim do mundo. Experimento terror, pânico e

nervosismo de descaídas, cujo focinho está adornado com uma “penca”. O seu

nome: Snoopy. Do fundo da casota, tortura-se com considerações metafísicas. Mas

isto nunca dura muito, por que surge o dono, Charlie Brown, a trazer-lhe a comida e,

bruscamente, o mundo passa a ser novamente cor-de-rosa”. (MARNY, 1970, p. 200)

Segundo ainda o autor, em pouco mais de dez anos, ainda nos anos 60, Peanuts já era

publicado em 900 jornais dos Estados Unidos e em 100 jornais estrangeiros. A temática do

cotidiano ancorada, geralmente, pelas circunstâncias da época sempre foi uma constante nas

tirinhas.

Na primeira metade dos anos 1970, por exemplo, era muito comum encontrar

crônicas, artigos e charges tratando da guerra do Vietnã, e as tirinhas não ficaram fora desse

universo crítico e irônico, como bem demonstra um exemplar da personagem Mafalda,

desenhada pelo Argentino Quino e publicada nos jornais de então.

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Fonte: M. NICOLAU, 2010, p. 3118. 4

Em um período mais atual, podemos verificar a pertinência dessas comparações,

quando retiramos uma situação tratada por qualquer um desses gêneros e a observamos longe

das funções que lhes poderiam ser atribuídas pelo gênero. Vejamos o seguinte diálogo: ”Eu

trabalho para mim mesmo. - Eu pensava assim, mas só até pagar meu imposto de renda.”

Esse trecho bem que poderia ser tema de um artigo de coluna do articulista econômico

Joelmir Betting ou da crônica de Arnaldo Jabor, entretanto encontra-se na tira dos

personagens Frank & Ernest, de autoria Bob Chaves e que já chegou a ser publicada em mais

de mil e trezentos jornais de várias partes do mundo desde as suas primeiras publicações em

1972.

Fonte: M. NICOLAU, 2010, p. 3118.5

As tirinhas brasileiras também seguem esse padrão comum às tiras internacionais e

apresentam questionamentos cotidianos que estão presentes nos demais gêneros. A exemplo

da criação de Laerte, intitulada Piratas do Tietê. Neste exemplar, dois personagens, gatos

preto e branco, fazem uma leitura crítica da conjuntura sócio-política:

4 Toda Mafalda (Martins Fontes)

5 Jornal Estadão

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Fonte: M. NICOLAU, 2010, p. 3118.6

CAPÍTULO II: HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E SUAS MÚLTIPLAS

LINGUAGENS:

Cada período da história é mercado por meios de produção de linguagem que lhe são

próprios. Quando novos meios surgem, seus potenciais e usos, ainda desconhecidos,

têm de ser explorados. (SANTAELLA, 2008, p. 36)

Uma narrativa, para existir e chegar ao seu receptor necessita de uma estrutura que a

suporte, seja língua falada, visual ou um meio mais complexo comunicação, uma narrativa

precisa recorrer a alguma mídia para poder ser comunicada e ao fazer será condicionada as

articulações especificas do meio ao qual utilizou para ser narrada. Não existe uma narrativa

“pura”, que não irá se ancorar em nenhuma linguagem, em nenhum sistema semiótico que a

carregue.

Entretanto, a questão é mais profunda do que isso, pois a narrativa é um dos discursos

do homem sobre o mundo e o homem para enunciar seus discursos a outros, faz, para isso,

uso da linguagem, tanto visual, textual ou verbal.

Esta, para ser possível, se baseia em códigos que sejam mais ou menos conhecidos

tanto pelo emissor quanto pelo receptor. A linguagem é a faculdade que possibilita e

condiciona a comunicação.

6 Jornal Folha de São Paulo

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2.1 IDEOLOGIAS QUE PERMITEM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, QUESTÃO MIDIÁTICA:

Contemporaneamente, vive-se também em um período de forte transição midiática. Se

ao fim do século XIX havia uma tendência a multiplicação de canais e conteúdo que se

dispersam em diversas frentes, o cenário midiático atual tende a convergência. Talvez

nenhuma outra sociedade tenha sido tão ávida por informação quanto à atual, em nenhuma

outra forma como a mensagem chega até de e em como ela é construída.

Ainda que não tenha ciência disso, é justamente o consumidor midiático quem detém o

poder. Se antes, a informação eram escassas, e diferentes meios atendiam diferentes

demandas, presumia-se um receptor passivo, uma lógica mercadológica que condiciona toda a

produção cultural, este panorama irá se inverter totalmente a favor do receptor, que ele é

quem decide a informação que vai consumir, é ele quem, em última instância, escolhe o canal

pelo qual quer receber essa informação.

Não é necessário dizer as inúmeras formas de essa informação chegar até ele.

Tampouco da miríade de escolha, em termos de conteúdo, que tem a sua disposição. Mas o

receptor ainda pode mais, ele pode participar na produção ou mesmo produzir conteúdo, ele

pode interferir, se tornando em essência um prossumer midiático.

O acelerado desenvolvimento técnico-científico e o consequente “boom” comercial

das novas tecnologias, aliados a outros fatores culturais, inerentes a sociedade contemporânea,

acarretaram em implicâncias significativas para o campo das comunicações. Acrescentadas as

formas através das quais a sociedade até então dialogava consigo mesma, novas plataformas,

mostram diariamente ao que vieram.

Os principais pilares da tradicional comunicação em massa tiveram de sair de sua zona

de conforto e se adaptar a era digital, para se manterem enquanto plataformas viáveis ao novo

paradigma e cultural. Nesse sentido, cabe enfatizar que não basta interagir ou se inserir dentro

do plano digital, é necessário se integrar e agregar a este.

A rede mundial, a velocidade de informação são apenas alguns dos pontos a se citar

desse admirável mundo novo, cuja característica de que se pode ter certeza são as suas

constantes mudanças.

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2.2 AS TIRINHAS E A CULTURA DE CONVERGÊNCIA:

As novas tecnologias permitiram que vários gêneros midiáticos migrassem para a

internet adaptando-se as exigências do seu público, principalmente procurando formas

inovadoras de interação e participação no processo de produção de conteúdo. Surgiu então o

conceito de cultura da convergência, trazido por JENKINS (2008) e que explora as

possibilidades de confluência de dispositivos midiáticos e de produção de conteúdo como

uma transformação cultural, à medida que os consumidores são incentivados a procurar novas

formas de se comunicar.

Neste contexto, as tiras diárias (ou tirinhas) surgiram como um meio de expressão

adaptado e atrativo, principalmente com a possibilidade de integração de todos os recursos

disponíveis na hipermídia.

Este gênero, que habitava os jornais há mais de cem anos, teve suas perspectivas

renovadas dentro da web, mas o processo de criação das tirinhas ainda exigia habilidade de

seus autores que não permitiam uma produção democrática, já que utilizar programas de

edição de imagens era a única forma de criar tirinhas digitais.

Contudo, um aumento ocorreu quando alguns sites começaram a disponibilizar

sistemas que permitiam aos usuários criar suas tirinhas com apenas alguns cliques. Assim a

produção deste modelo de arte sequencial tornou-se verdadeiramente democrática, bastando

apenas ter boas idéias.

2.3 CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA:

Atualmente, estamos vivendo aquela que pode ser considerada a era do usuário.

Graças à convergência midiática, as novas e velhas mídias se cruzam, fazendo com que o

consumidor e o produtor de mídia interagindo na produção de conteúdo cada vez mais

diversificado e imprevisível.

Segundo, JENKINS (2008), em seu livro Cultura da Convergência, define esta nova

era através do fluxo continuo de conteúdo entre múltiplos suportes, da cooperação entre

mercados midiáticos e do comportamento migratório do público em busca de novas

experiências e formas de interagir.

Contudo, JENKINS (2008), mostra este fenômeno como uma transformação cultural,

à medida que os consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer

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conexões entre os conteúdos midiáticos. Neste novo paradigma da convergência, as novas e as

antigas mídias estão interagindo de forma cada vez mais complexa, principalmente devido às

novas tecnologias midiáticas, que permitem que o mesmo conteúdo transite por vários canais

e com diferentes pontos de recepção.

A palavra mídia de acordo com SANTAELLA (2002), não pode mais ser considerada

como um meio de comunicação de massa. O surgimento de novos equipamentos técnicos e da

internet começou a minar o exclusivismo dos grandes meios. Ela considera que o termo

“indústria” se tornou obsoleta nos dias de hoje.

A convergência é um processo de mudança nos padrões dos meios de comunicação e

impacta principalmente o modo como consumimos aquilo é veiculado por estes meios. Ela

não envolve apenas coisas materiais e serviços produzidos comercialmente, mas ocorre

quando pessoas começam a assumir o controle das mídias.

A cultura de convergência representa uma mudança no modo de encararmos nossas

relações com as mídias. O público que ganhou espaço com as novas tecnologias está exigindo

o direito de participar intimamente da produção de conteúdo e da cultura.

A interatividade é uma das peças chave da convergência. Ela é compreendida por

JENKINS (2008) como o modo que a novas tecnologias foram planejadas para responder as

necessidades de se comunicar do consumidor. A participação por parte do usuário é ilimitada

e cada vez menos controlada pelos produtores dos grandes meios de comunicação.

A web está fornecendo um ponto de exibição para o produtor alternativo, além de

servir de espaço para a experimentação e inovação, onde os amadores podem desenvolver

novos métodos e temas, com o objetivo de atrair seguidores. E, algumas destas produções

independentes ainda podem ser absorvidas pelas grandes mídias de maneira comercial.

2.4 AS TIRINHAS NAS MÍDIAS DIGITAIS:

Com o advento das mídias digitais, as histórias em quadrinhos e as tirinhas têm

encontrado na web um novo espaço, utilizando-se, inclusive, dos elementos disponíveis nas

mídias interativas, como considera McCLOUD (2006). A agilidade e o imediatismo da

tirinha, características estas também presentes nas mídias digitais, nos faz entender que elas

são imprescindíveis para a construção do pensamento crítico, quando elas não se dobram à

massificação e se permitem à liberdade inventiva.

Agora a produção experimental é livre, ficando a critério do autor e não da formatação

dos meios impressos, que tipo de estilo ele irá seguir na transmissão da sua mensagem.

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McCLOUD (2006) considera que o intercâmbio entre os quadrinhos e as novas

tecnologias já é uma realidade e a partir destes cruzamentos uma reconfiguração do gênero

tirinhas e um novo produto cultural pode estar surgindo.

Para FRANCO (2004), traz a arte sequencial dos quadrinhos e das tirinhas para o

contexto da web, onde podemos encontrar os principais elementos agregados à linguagem dos

quadrinhos clássicos, produzidos para serem veiculados em suporte de papel, nas mídias

digitais, mas alguns deles apresentam inovações, como animações, diagramação dinâmica,

efeitos sonoros, narrativas multilineares e interatividade, criando um gênero hibridam com a

linguagem da hipermídia.

Muitas das tirinhas digitais não são mais do que adaptações das impressas, levadas

para o meio digital. Por mais de cem anos as tirinhas habitaram a imprensa e hoje a mídia

digital está convergindo para um único suporte: o computador. Sua evolução dependerá de

sua capacidade de se adaptar a este novo ambiente, que inclui tanto as novas tecnologias

como os desejos do público de consumi-las.

Neste contexto, os blogs tem sido a principal plataforma de divulgação das tirinhas

digitais. Eles proporcionam que novos desenhistas expusessem seus trabalhos, sem depender,

por exemplo, dos conhecidos Syndicates, que se encarregavam de espalhar tirinhas para

jornais e revistas de todo o mundo, e selecionavam previamente as tirinhas que pareciam ser

mais mercadológicas, assim como influenciavam o modelo de produção dos artistas.

Mesmo que a veiculação das tirinhas esteja cada vez mais simples, a produção ainda

exige o domínio de programas de edição de imagens, como o Photoshop, o GIMP, entre

outros. Esta necessidade ainda limitada que alguns usuários publiquem suas idéias e faz da

tirinha, mesmo que nas mídias digitais, um gênero com autores reduzidos.

Contudo, alguns sites estão desenvolvendo Softwares que permitem a todos aqueles

que tenham boas idéias criar tirinhas de maneira simples e rápida. Bons exemplos são o Strip

Generator, o ToonLet, o ToonDoo, o StripCreator e o Pixton, este ultimo com suporte em

português.

No Brasil, destaca-se o site da Máquina de Quadrinhos, criado por Maurício de Sousa

durante a comemoração de 50 anos da Turma da Mônica em 2009. Na página você pode criar

histórias da Turma da Mônica e as melhores são publicadas em revistas e gibis.

A DC Lançou uma divisão de quadrinhos on-line, a Zuda Comics, no site, os usuários

podem votar em histórias feitas por artistas e fazer alguns comentários em relação a eles,

estabelecendo um canal direto entre quem produz e quem consome. Neste caso, estamos

falando da produção de quadrinhos em si e não especificamente da produção de tirinhas, mas

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o site é um embrião do que pode se tornar uma rede social de produtores de quadrinhos e uma

boa janela para exposição de produções amadoras, tanto de histórias em quadrinhos como de

tirinhas.

Com a produção de tirinhas cada vez mais simples e acessível, além da facilidade de

sua divulgação, uma nova geração de produtores está surgindo, com novas idéias e cada vez

mais interessados em explorar as potencialidades das novas tecnologias das mídias digitais.

Diferentes denominações que as histórias em quadrinhos receberam em diferentes

línguas de certa forma influíram no modo de como esta forma textual e artística já foi

encarada. Através do estabelecimento de alguns parâmetros sobre os aspectos formais das

histórias em quadrinhos será pensada a relação com as formas narrativas que Scott McCloud

entende como quadrinhos pré-imprensa, as mudanças nas suas possibilidades narrativas

quando de seu advento na página, e a dupla relação de retomada e desenvolvimento nos

quadrinhos para internet.

No tocante aos webcomics, suas possibilidades narrativas serão analisadas em dois

aspectos: a possibilidade de recriar e reformular os processos pré-imprensa, e as

possibilidades relativas unicamente ao meio digital.

CAPÍTULO III: DELÍRIOS:

O mundo contemporâneo está pautado pelas novas mídias digitais que modelam e

alteram as relações sociais, econômicas, culturais e educacionais.

A arte não escapa desta tendência mundial e adere às novas expressões que a

tecnologia proporciona. Neste quadro artístico, muitas expressões do mundo analógico

passaram a incorporar e desenvolver uma nova forma de traduzir a sua linguagem artística.

Neste contexto, viso analisar o potencial contido nas histórias em quadrinhos dentro

do ambiente digital, especificamente as tirinhas digitais.

As Tirinhas digitais já assumiram diversos formatos diferentes ao longo dos últimos

anos, e continuam a explorar novas opções narrativas.

Portanto, a obra apresentada neste projeto tem caráter experimental, utilizando um dos

formatos propostos neste novo suporte.

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24

Fonte: Elaborada pelo autor

Criada pelo ilustrador baiano Hud Justino, os Delírios são um desabafo, recheado de

referências a cultura pop e também de boas mensagens, vitórias e derrotas vividas

pelo próprio autor. É um diário auto motivacional nonsense, no qual você

acompanha as aventuras (e desventuras!) de um ilustrador que viaja no tempo para

encontrar consigo mesmo, enfrenta os terríveis monstros da falta de

responsabilidade enquanto descobre, nas pequenas coisas do dia-a-dia, razões para

seguir adiante. (BRUEH, Luís, 2015).

3.1 HISTÓRICOS DE CRIAÇÃO:

Os delírios nasceram como uma forma de desabafar e narrar o que acontecia comigo

através de um personagem, que também, foi inspirado em minha aparência. Tudo começou

com uma mistura de desabafo e vontade de criar tirinhas em quadrinhos. As inspirações são

normalmente baseadas no meu cotidiano às vezes um questionamento profundo, um filme,

uma musica, frustrações, vitórias, basicamente tudo pode virar uma tirinha.

O traço e a finalização têm bastante inspiração com o que foi aprendido com o

cartunista Luís Augusto (criador do Fala Menino!) na Bahia, ainda sim guarda um pouco do

que foi aprendido com revistas sobre criação de desenhos em mangá ainda na infância.

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25

Fonte: Blog Fala Menino! Luís Augusto, 13 de Abril, 2016.7

Segundo NICOLAU (2010), a tirinha tem como característica básica o fato de ser uma

piada curta de um, dois, três ou até quatro quadrinhos, e geralmente envolve personagens

fixos: Um personagem principal em torno do qual gravitam outros.

Levando em conta as inspirações do trabalho realizado nas tiras do Fala Menino! Os

Delírios apresentam uma idéia mais contemplativa, mesmo assim, não deixa de ser

humorística. Buscando por um traço único e agradável ao público é constante, a estrutura do

personagem passa por mudanças freqüentes tênues desde a criação delas em 2014.

Delírios ainda é um projeto em constante metamorfose, mantendo o foco no carisma

do estilo de desenho para apoiar seus textos. Onde procuram manter uma linguagem lúdica,

que conversa com todo o tipo de receptor, seja um adulto ou mesmo criança, de várias crenças

e culturas diferentes. O importante é proporcionar um momento para o receptor, que através

de um Delírio, possa conversar também com seus próprios pensamentos e diálogos interiores.

7 Disponível em: http://blogfalamenino.blogspot.com.br/, Acesso, Abril, 2016.

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26

Fonte: Página do Facebook, Delírios.8

3.2 PROCESSO DE CRIAÇÃO:

O processo de criação começa com a criação de um texto, normalmente inspirado em

alguma situação do dia-a-dia, uma olhada para o céu vendo o formato das nuvens, ou mesmo

um dia chuvoso, alguma derrota ou vitória pessoal, pequenos ou grandes feitos, alguma

lembrança dolorosa ou mesmo sublime, ver pessoas passando nas ruas, uma canção ou um

filme são bons pretextos para a criação de um delírio. A prática é rotineira, diariamente são

lançadas tiras para os meios de divulgação.

Após o texto pronto é feito o esboço inicial, buscando criar uma metáfora visual para

agregar valor de interpretação para a tirinha. Normalmente o esboço é feito em grafite azul ou

vermelho, caso não use mesa de luz, poder facilitar o tratamento digital.

8 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/pb.1454970454749450.-

2207520000.1460747242./1658794377700389/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016.

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27

Fonte: Elaborada pelo autor.

O traçado é finalizado com bico de pena e tinta nanquim, muitas vezes com o auxílio

de uma mesa de luz, a fim de preservar o esboço caso ocorra algum erro.

Fonte: Elaborada pelo autor

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28

Feito isso, a imagem é digitalizada em alta resolução para um melhor tratamento.

Fonte: print screen da aplicação no sistema operacional Windows 8.

A imagem digitalizada é levada ao software Adobe Illustrator, para ser transformada

em vetor e poder finalmente ser enviada para o Layout.

Fonte: print screen da aplicação no sistema operacional Windows 8.

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29

No software Adobe Photoshop, onde receberá o texto o acabamento final para

postagem.

Fonte: print screen da aplicação no sistema operacional Windows 8.

Fonte: print screen da aplicação no sistema operacional Windows 8.

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30

Finalmente o Delírio está pronto para ser enviado para as redes sociais.

Fonte: #0446 - By hud-justino.9

Fonte: Página do Facebook, Delírios.10

9 Disponível em: http://hud-justino.deviantart.com/art/0446-603185381, acesso, Abril, 2016.

10 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/, acesso, Abril, 2016.

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31

3.3 ELEMENTOS:

Os elementos que compõem os Delírios são simples, mas ajudam a padronizar a

produção e agilizar o processo, alguns para dialogar e melhorar o contato do receptor com o

personagem.

Do personagem:

Nosso personagem, como dito antes, foi inspirado em mim, o criador, porém, ele

carrega elementos que dão muita singularidade e dinâmica.

A ausência da boca, serve para aumentar a conexão com o personagem, será preciso

olhar diretamente para os olhos para identificar suas expressões.

A aparência infantil foi dada para ele poder dialogar com o lado mais lúdico e infantil

do receptor, o traço simplificado também ajuda em sua reprodução constante.

Fonte: Elaborada pelo autor

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Dos Textos:

Conforme produzidos, os textos são arquivados e preferencialmente usados em ordem,

a fonte (Blessings through Raindrops regular), é usada para os textos de diálogo, a fonte

(Arial) é usada para o registro e a data do trabalho.

A ausência de balões é devida a ausência de interlocução, o texto encontrado

representa um fragmento de pensamento, uma vontade, algo ligado intimamente ao leitor e o

personagem, esse texto é um recorte de pensamento do momento representado na tira. Não

existem conversas ou diálogos dentro dos Delírios eles podem ser considerados tirinhas

“mudas e “silenciosas”.

Fonte: Página do Facebook, Delírios.11

11 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/pb.1454970454749450.-

2207520000.1460772306./1535141386732356/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016

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Do Layout:

O Layout dos delírios é bem simples, 10x20cm, com bordas de 2mm, a fonte do texto

interno é Blessings through Raindrops regular 14pt, a assinatura feita em Arial 12pt, A

assinatura ocupa um espaço de 1x1cm. Os elementos internos não têm um local definido,

sua posição vai depender da leitura e composição da imagem final. O próprio Layout é

dividido em nove partes proporcionais para auxiliar a colocação dos elementos.

Fonte: Elaborada pelo autor

Outros personagens:

Os personagens que circulam o mundo dos Delírios são poucos e em sua grande

maioria apenas funcionam para apoio visual de algumas séries ou contos, seguem os mais

comuns.

Senhor e senhora Delírios:

O senhor Delírios, como o público o nomeou, logo recebeu uma companheira (nada

mais justo, baseá-la em minha real companheira), chamada de Senhora Delírios, ela é a

personagem de maior interação com o protagonista, apesar de não conversarem verbalmente

nas tiras, ela está sempre lá com seu companheirismo e carinho de sempre, ajudando a encarar

os problemas e celebrar as vitórias.

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Fonte: Página do Facebook, Delírios.12

12 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/pb.1454970454749450.-

2207520000.1460752463./1654553284791165/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016.

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35

A cadelinha:

Inspirada na cadelinha que tive, por muito tempo participou e protagonizou várias

tiras, mas da mesma maneira que ela se foi, decidi que seria digno e menos doloroso mantê-la

nos Delírios.

Fonte: Página do Facebook, Delírios.13

13 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/pb.1454970454749450.-

2207520000.1460752463./1666116116968215/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016.

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36

Irresponsabilidade:

É um monstrinho que fez parte da série composta por sete tiras, chamada

Irresponsável, que narram a história de um monstrinho alimentado pela irresponsabilidade e

cresce junto com os problemas acumulados.

Fonte: Página do Facebook, Delírios.14

14 Disponível em:

https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/a.1520784388168056.1073741841.1454970454749450/15215

79161421912/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016.

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Estrelinha:

Este personagem faz parte da primeira série lançada pelos Delírios, chamada “O

Caçador de Estrelas”, que narra à história de uma estrela que caiu perto do personagem e é

ajudada por ele a voltar para casa, mostrando o valor de uma amizade e de ajudar o próximo.

Fonte: Página do Facebook, Delírios.15

3.4 REDES SOCIAIS:

Segundo FRANCO (2004), os blogs tem sido a principal plataforma de divulgação das

tirinhas digitais. Porém, atualmente isso mudou com a abrangência das redes sociais, elas

tornaram mais fácil o acesso a este material, sendo mais intuitiva a pesquisa, disposição de

imagens ou mesmo links para os blogs de tirinhas.

15 Disponível em:

https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos/a.1454977261415436.1073741829.1454970454749450/14549

77334748762/?type=3&theater, acesso, Abril, 2016.

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38

Facebook

É um site e serviço de rede social que foi lançado em 4 de fevereiro de 2004, operado

e de propriedade privada da Facebook Inc. Em 4 de outubro de 2012, o Facebook atingiu a

marca de 1 bilhão de usuários ativos, sendo por isso a maior rede social em todo o mundo. Em

média 316.455 pessoas se cadastram, por dia, no Facebook, desde sua criação em 4 de

fevereiro de 2004 (Wikipédia, a enciclopédia livre. Acessado em Abril de 2016).

Com o grande número de pessoas acessando, torna-se automático o contato com as

tirinhas digitais, uma vez que a rede edita o conteúdo baseado nos interesses dos usuários, o

crescimento de acessos e interações é constante.

Fonte: Álbuns da página do Facebook, Delírios16

16 Disponível em: https://www.facebook.com/DeliriosdoHud/photos_stream?tab=photos_albums, acesso, Abril,

2016.

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Deviantart

É uma empresa virtual estadunidense, formando uma rede social que permite aos

artistas iniciantes e consagrados, exporem seus trabalhos, promovê-los, compartilhá-los bem

como interagir com seus pares ou interessados, através do envio das imagens digitalizadas.

Fundada em 2000, até março de 2013 o site possuía mais de 25 milhões de membros,

que superavam 246 milhões de submissões. Em julho de 2011 foi avaliado como a 13ª maior

rede social da internet, com 3,8 milhões de visitas semanais. A comunidade incorpora desde a

fotografia digital, foto manipulação, arte tradicional e digital,mostrando muito da produção

contemporânea, entre outros. (Wikipédia, a enciclopédia livre. Acessado em Abril de 2016).

Dentro desta rede tenho contato com vários artistas, amadores ou não, que observam a

produção, dando suas avaliações e críticas, além de expandir a o alcance das tirinhas para

usuários internacionais.

Galeria dedicada ao Delírios no Deviantart.17

17 Disponível em: http://hud-justino.deviantart.com/gallery/47997841/Delirios, acesso em Abril, 2016.

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Feedbacks

A vantagem de utilizar as redes sociais como veículo das tiras, é poder ver o retorno

que os receptores têm com a produção, se estão agradando ou não, se surtem algum efeito

social ou moral. As pessoas que comentam, além de mostrarem reconhecimento, ajudam a

estimular a produção, ver imediatamente o resultado de um trabalho dá ânimo para continuá-

lo.

Múltiplas interpretações

Os delírios trazem aquele rápido momento de reflexão, que aos olhos do autor fazia

um sentido, mas nem sempre para o receptor terá aquele mesmo sentido, as tiras permitem a

todo o momento diversas maneiras de interpretá-las.

Sendo assim, o objetivo é que, cada Delírio traga uma experiência única para cada

expectador, divertir, esclarecer, ponderar, desdenhar, adorar e até inspirar as pessoas, é o que

torna cada delírio uma história do próprio leitor para ele mesmo, cada um conversará com a

obra à sua maneira, e principalmente, trazendo à tona a criança interior de cada um.

CAPÍTULO IV: O CAÇADOR DE ESTRELAS:

Uma série de sete Delírios que narram a jornada para devolver uma estrelinha que caiu

do céu e onde podemos lembrar ou aprender; como é doloroso dizer adeus; relações de

amizades e fundamentalmente fazer o que é certo acima de tudo.

Contamos com a estética clássica dos Delírios em preto e branco, acrescida com os

amarelos vibrantes da estrela como personagem central, além de outras cores usadas no meio

da série para levantar o ar animado de uma grande aventura e dar vida a pequenos detalhes em

meio às ilustrações.

A exposição inicial aconteceu na Morada dos Baís em Campo Grande – MS e ocorreu

entre os dias 02 de Dezembro de 2015 e 20 de Janeiro de 2016. As sete tiras foram

distribuídas em quatro suportes de madeira, impressas em papel couche 230g fosco, em

impressora de alta definição.

O processo de produção para uma mídia física foi um pouco mais cuidadoso, quanto

às medidas, o espaço, a iluminação, qualidade da impressão, posicionamento e leitura da obra,

diferente de quando divulgo nas redes sociais.

Durante a exposição, tive o prazer de dialogar diretamente com as pessoas que viram a

obra e ver a reação delas, o encanto e suas próprias interpretações, é uma experiência

diferente, ver o sorriso das pessoas ao lerem as tiras, vendo-as comentar com outras pessoas,

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chamando seus filhos e amigos para verem também, foi um momento bem especial e único

para mim, que apenas podia imaginar como as pessoas reagiam a um trabalho desse tipo.

Fonte: Fotográfa Bruna Motta

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Acervo pessoal do Autor

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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

As tirinhas sempre tiveram um papel importantíssimo em nossa cultura, mesmo em

seus primórdios como atualmente, uma forma de arte que sobreviveu tantas mudanças

tecnológicas e midiáticas, sem perder seu charme, carisma, poder opinativo, e claro, o senso

de humor. De piadas simples a questionamentos existenciais, podemos dizer que as tiras

cumprem bem seu papel como objeto de arte, textual e jornalístico.

Com a pesquisa, pude aprofundar um projeto que servia apenas para desabafar e

desenhar aos finais de dias puxados e transformá-los em peças de entretenimento e apreciação

cultural, independente de qual for seu receptor, mais uma dentre muitas maneiras de lembrar

que todos nós somos eternas crianças, mesmo que por dentro, é um sentimento fundamental

para passar para gerações futuras, espero que os Delírios também possam exercer essa função,

assim como tantas outras tiras consagradas e personagens que guardamos e levamos muitas

dessas pequenas, mas poderosas, lições para nossas vidas.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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LTDA, 2005.

______. Reinventando os quadrinhos. São Paulo: M. Books do Brasil Editora LTDA, 2006.

MARNY, Jacques. Sociologia das histórias aos quadradinhos. Portugal: Civilização, 1970.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009.

FRANCO, Edgar Silveira. Hqtrônicas. Do suporte papel à rede Internet. São Paulo,

Annablume, 2004.

EISNER, Will. Narrativas gráficas. São Paulo: Devir, 2005.

BRAGA, Flávio; PATATI, Carlos. Almanaque dos quadrinhos: 100 anos de uma mídia.

São Paulo: Ediouro, 2006.

NICOLAU, Marcos. Tirinha: a síntese criativa de um gênero jornalístico. João Pessoa:

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SOUSA, Frederico Duarte, A análise estrutural da narrativa gráfica. UFG, Goiás, 2013.

SANTAELLA, Lúcia. A crítica das mídias na entrada do século XXI. ADAIR PRADO, José

Luiz. A crítica das práticas midiáticas: da sociedade de massas às ciberculturas. São

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FREITAS, Deise J. T.; DUARTE, Rafael Soares. Literaturas entre o digital e o analógico,

Teresina, Edupfi, P. 29-39, 2013.

DUTRA, JOATAN PREIS. História & História em Quadrinhos. A utilização das HQs.Ilha

de Santa Catarina – SC, 2002.

BRUEH, Luís. Papo de autor. Recomendação: Delírios. Halifax. Canad. 2015. Disponível

em: http://www.papodeautor.com.br/recomendacao-delirios/. Acessado em 10 de Abril de

2016.