TCC Globalização e ambientes de aprendizagem - pedagogia hospitalar
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SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................06
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
CAPÍTULO I – A GLOBALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO...................09
A globalização e as exigências ao ser humano contemporâneo...............................09
A educação na nova ordem mundial.........................................................................19
CAPÍTULO II – A PEDAGOGIA E A CONTEMPORANEIDADE................................28
O conceito de pedagogia...........................................................................................28
O pedagogo e os ambientes de aprendizagem.........................................................29
A pedagogia hospitalar..............................................................................................35
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................39
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RESUMO
Com o advento da globalização, que para muitos se confunde com uma nova era, a do conhecimento, a educação é tida como o maior recurso de que se dispõe para enfrentar essa nova estruturação do mundo. Dela depende a continuidade do atual processo de desenvolvimento econômico e social, também conhecido como era pós-industrial, em que notamos claramente um declínio do emprego industrial e a multiplicação das ocupações em serviços diferenciados: comunicação, saúde, turismo, lazer e informação. A pedagogia contemporânea tornou o aluno sujeito do ensino e substituiu o individualismo do século XVIII por uma visão mais complexa dos fatores envolvidos no trabalho de ensinar. Com base nesse pressuposto o presente trabalho propõe estudar através de levantamento bibliográfico e pesquisa de campo os trâmites do processo educação, depois da globalização e ainda uma breve apresentação da Pedagogia Hospitalar.
Palavras-chave: Educação; Globalização; Pedagogia Hospitalar.
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INTRODUÇÃO
O termo globalização tem vários significados e conceitos que exercem força
política, econômica e social na nova ordem mundial, que expressa o
desenvolvimento do capitalismo.
Globalização é o conjunto de transformações na ordem política e econômica
mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto central da mudança é
a integração dos mercados numa “aldeia-global”, explorada pelas grandes
corporações internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras
tarifárias para proteger sua produção da concorrência dos produtos estrangeiros e
abrem-se ao comércio e ao capital internacional. Esse processo tem sido
acompanhado de uma intensa revolução nas tecnologias de informação - telefones,
computadores e televisão.
As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial e
à crescente popularização dos canais de televisão por assinatura e da Internet. Isso
faz com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da
economia e comecem a provocar certa homogeneização cultural entre os países.
A escola como instituição social, vem sendo questionada sobre o seu papel
dentro desse mundo contemporâneo e globalizado.
Desde os primórdios tempos, a educação está constantemente passando por
várias transformações na sociedade capitalista. Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 52),
descrevem as maneiras que os acontecimentos do mundo afetam a educação escolar:
a) Exigem um novo tipo de trabalhador, ou seja, mais flexível e polivalente, o que provoca certa valorização da educação formadora de novas habilidades cognitivas e de competências sociais e pessoais;
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b) Levam o capitalismo a estabelecer, para a escola, finalidades mais compatíveis com os interesses do mercado;c) Modificam os objetivos e as prioridades da escola;d) Produzem modificações nos interesses, nas necessidades e nos valores escolares;e) Forçam a escola a mudar suas práticas por causa do avanço tecnológico dos meios de comunicação e da introdução da informática;f) Induzem alteração na atitude do professor e no trabalho docente, uma vez que os meios de comunicação e os demais recursos tecnológicos são muito motivadores.
A revolução tecnológica vem trazendo muitas inovações para o meio
educacional e para área do conhecimento. Não é somente na escola que o indivíduo
aprende, em todas as camadas sociais o aprendizado ocorre, e com a modernidade
do mundo virtual, a alta tecnologia está facilitando o processo de conhecimento.
Na atualidade, a escola está inserida no processo de formar cidadãos
flexíveis e pensantes. Há muita concorrência no mundo capitalista, principalmente,
na formação de profissionais qualificados que exigem muito dos indivíduos.
A reflexão sobre os impactos e as conseqüências da globalização e da
política neoliberal na esfera da educação não é algo recente. Entretanto, parece que
tais conseqüências e impactos foram gradativamente absorvidos, de tal modo que
passaram a ser vistos como algo “normal”. Essa suposta normalidade é justamente
um dos fatores que influenciam o silêncio e o abandono do diálogo crítico sobre a
realidade. Com o presente trabalho pretende-se não apenas questionar essa postura
passiva, mas demonstrar a urgência em re-introduzir sua tematização no horizonte
de nossas preocupações teóricas.
Com base no exposto acima, este trabalho se propõe a estudar a globalização
e a formação do pedagogo, dando ênfase nas exigências ao ser contemporâneo e a
educação na nova ordem mundial. Neste sentido, será apresentada a pedagogia
hospitalar como uma das possibilidades do pedagogo expandir seu alcance
formativo.
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CAPÍTULO I
GLOBALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO
A globalização e as exigências ao ser humano
Não há um consenso sobre o momento do surgimento do processo de
globalização, mas pode-se afirmar que este fenômeno, por ter sua ênfase no âmbito
econômico, iniciou-se no século XV e XVI, mediante a constituição de um mercado
mundial que culminou na economia global de nossos dias, e, assim, a globalização
não é um fenômeno novo: é um novo nome que compreende diferentes processos
sócio-políticos e econômicos.
Apesar de ser um processo antigo, datado desde 1450, com o expansionismo
mercantilista, apenas na década de 90 a globalização se impôs como um fenômeno
de dimensão realmente planetária, a partir, sobretudo, de países como os Estados
Unidos e Inglaterra e, de quando a tecnologia de informática se associou à de
telecomunicações.
A globalização, cujo termo nos remete inicialmente às questões econômicas,
realmente transmite uma idéia de supervalorização do ingrediente financeiro nas
estruturas formadoras das diversas sociedades, oferecendo substrato para uma
padronização de mercados e de comportamentos monetários induzidos pelo
totalitarismo do poder econômico das grandes potências mundiais, agredindo até a
soberania de países mais vulneráveis.
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Não existe uma definição que seja aceita por todos, mas é basicamente um
processo ainda em curso de integração de economias e mercados nacionais. No
entanto, ela compreende mais do que o fluxo monetário e de mercadoria; implica a
interdependência dos países e das pessoas, além da uniformização de padrões
sociais e culturais. Fruto também da chamada de "terceira revolução tecnológica"
(processamento, difusão e transmissão de informações), acredita-se que a
globalização define uma nova era da história humana.
A globalização traz, como uma de suas conseqüências, o enfraquecimento do
Estado, no que tange às decisões tomadas internacionalmente, primeiro porque este
deve adequar-se aos regimes internacionais, segundo porque, uma vez que o
processo de globalização significa que o espaço econômico é global, as decisões
que incidem sobre o planejamento dos Estados escapam cada vez mais ao seu
controle.
O que realmente globaliza o mundo? Na sociedade contemporânea,
capitalista e neoliberal, o que globaliza o mundo são as relações econômicas
estabelecidas entre as nações. Mas não qualquer relação econômica e sim uma
que conte, entre seus fatores de maior relevância, com o suporte técnico-
educacional a altura de suas necessidades.
Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 75) afirmam que:
As transformações gerais da sociedade atual apontam a inevitabilidade de compreender o país no contexto da globalização, da revolução tecnológica e da ideologia do livre mercado (neoliberalismo). A globalização é uma tendência internacional do capitalismo que, juntamente com o projeto neoliberal, impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem restrições, a competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica e social.
Partindo dessa afirmação de Libâneo, Oliveira e Toschi (2003), pode-se
afirmar que a globalização é sentida com maior intensidade em suas manifestações
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relacionadas a produtos, capitais e tecnologias sem identidade nacional; automação,
informatização e terceirização da produção; implementação de programas de
qualidade total e de produtividade (processos de reengenharia em vista de maior
racionalidade econômica); demissões, desemprego, subemprego; recessão,
desemprego estrutural, exclusão e crise social; diminuição de salários, diminuição do
poder sindical, eliminação de direitos trabalhistas e flexibilização dos contratos de
trabalho; desqualificação do Estado, como promotor do desenvolvimento econômico
e social, e minimização das políticas públicas.
A tendência à expansão, à globalização, acompanha o capitalismo desde que
este modo de produção substituiu o modo de produção da velha sociedade. A
vontade de construir uma sociedade global, racional e harmônica já estava presente
no Iluminismo, que sustenta, idealmente, a sociedade capitalista desde sua origem.
Então, o movimento de expansão é uma característica de sua trajetória em busca de
sua finalidade, de sua plena realização e seu estado atual explicita esta tendência
histórica.
No entanto, a globalização pode ser entendida também como uma nova
modalidade de acumulação de capital. Em momentos anteriores, a principal
estratégia de acumulação capitalista concentrava-se na extensão da produção de
valor e de mais valia. Nesta nova modalidade da acumulação, a apropriação de
riquezas é resultado, principalmente, de atividades especulativas do mercado
financeiro. “Com o seu surgimento, os processos de produção e consumo em massa
passam a integrar o cotidiano dos cidadãos, o que acaba gerando uma
desqualificação do trabalho e um domínio da tecnologia” (LIBÂNEO, OLIVEIRA E
TOSCHI, 2003, p. 85). Esta especificidade dos processos industriais estende-se aos
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comunicacionais, convertendo a informação, aos poucos, em um bem de consumo
necessário e padronizado, homogeneizado.
A aceleração da automação da produção somada à agilização dos processos
de comunicação, os quais possibilitam afetar de forma imediata o mercado
financeiro, permite a troca não de mercadoria, nem de moeda física, mas de
informação. O que caracteriza mais claramente o processo de globalização é a
revolução tecnológica informacional. Não há, a rigor, troca de mercadorias nem de
papel moeda; há, sim, troca de informações sobre dinheiro, há troca de informações
sobre papéis que significam dinheiro.
Há uma grande abstração da troca, “a fase concorrencial global apresenta,
como características fortemente marcadas, a velocidade das alterações técnico-
científicas e a valorização do conhecimento e da educação” (LIBÂNEO, OLIVEIRA E
TOSCHI, 2003, p. 35). É o momento em que a sociedade passa a integrar a
chamada Sociedade da Informação, em que o conhecimento é o bem de maior valor
e que integra com mais intensidade o sistema de trocas simbólicas.
A evolução da internacionalização foi o resultado de acontecimentos diversos.
Esse processo alterou a correlação existente entre Estados-nação e os mercados
globalizados. Os fluxos financeiros e a velocidade de suas circulações no mundo
fizeram com que o dinheiro virtual pudesse circular livremente sem fronteiras
nacionais, com objetivos de maximização dos lucros e de minimização dos riscos.
No Brasil, os investidores estrangeiros, como estratégias de lucro, promovem
freqüentes retiradas de altos volumes de dólares do mercado financeiro,
conseqüentemente, essas movimentações provocam a desvalorização da moeda
nacional e o aumento da dívida externa.
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O avanço da mundialização, a assim chamada globalização, é acompanhada
pelo neoliberalismo, um fenômeno que atinge países de forma diferenciada, suas
conseqüências continuam se aprofundando, especialmente nos países do "Terceiro
Mundo", aumentando o abismo que separa ricos e pobres.
O modelo neoliberal defende a existência do Estado mínimo e a adoção de
critérios empresariais na organização e gestão escolar. O que se percebe é que
esse Estado busca fugir da responsabilidade de grande parcela de seus serviços. A
ênfase do discurso neoliberal gira em torno da mercadorização da Educação, desta
forma, a Educação passa a ser um serviço que se compra, que se vende e que se
consome.
O discurso neoliberal no âmbito educacional, além de ser mais enfático no
aspecto econômico do que no político, traduz valores da ética pública sob a ótica da
ética do livre mercado e do livre consumo.
O neoliberalismo em associação com o neoconservadorismo propõe governos
fortes como garantia de estabilidade política e ideológica da governabilidade do
sistema. A legitimidade não se fundamenta mais na promoção do bem-estar social
coletivo, mas na sua capacidade de inserir os Estados nacionais no jogo das
relações planetárias. Enquanto o Estado de bem-estar social propunha uma luta
pela igualdade, ou, pelo menos, pela minimização das desigualdades, o Estado
neoliberal defende que estas desigualdades somente podem ser aliviadas com a
liberdade de mercado.
A educação ocupa um papel estratégico no projeto neoliberal. De um lado, de
preparação para o trabalho, garantia da formação do trabalhador, sob nova base
técnica: automação e multifuncionalidade. De outro lado, a consolidação da
educação, inclusive a escolar, com a função ideológica de transmitir as idéias
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neoliberais. Assim, o processo educativo incorpora as idéias de organização social
oriundas do projeto neoliberal, como a competição, o individualismo, a busca da
qualidade, etc.
A meta, dentro do ideário neoliberal, é a transformação, autorizada, das
universidades em empresas econômicas. Autorizada porque a política para o ensino
superior pressupõe que as universidades aceitem se reorganizar em busca da
qualidade e da eficiência. A estratégia dos governos tem sido o abandono das
Instituições de Ensino Superior à sua própria sorte, até que, pelo esgotamento e
estrangulamento, elas procurem - ou seja, aceitem - soluções que, a rigor,
descaracterizam sua função de produção e distribuição democrática do
conhecimento e, principalmente, da cultura.
A década de 90 caracterizou-se por um processo de transformação e
globalização da economia, com abertura dos mercados e redefinição do papel do
Estado. A ênfase posta nos estudos das globalizações e seus efeitos estimularam a
preocupação em compreender a variedade das mudanças sócio-econômicas que
afetam o mundo ocidental. A recessão econômica mundial que eclodiu no princípio
da última década de 80, os temores profundamente enraizados de uma guerra
nuclear e a crescente preocupação pela degradação ambiental em escala mundial
tendem a acentuar a tomada de consciência acerca do surgimento de uma situação
global. No âmbito da Educação, o impacto desta polarização foi imediato.
As políticas públicas educacionais devem ser entendidas como um todo, em
que a avaliação é parte que se relaciona com os demais elementos constitutivos do
processo educacional, como orientação para uma política que respalda um currículo
escolar, pressupondo conhecimentos, habilidades e atitudes a serem difundidos
para a população e que estabelece programas concretos de ação para responder às
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demandas sociais e culturais. As transformações do modelo de Estado conjugam
novos interesses e forças sociais, definem novos objetivos e fins, traduzidos em
políticas específicas. No campo escolar, isto significa reformas de programas
educacionais e curriculares, mas que, na prática, nem sempre atendem às
necessidades prioritárias. No Brasil, podemos citar como necessidades pendentes
de atenção, a valorização do profissional da educação (melhoria de planos de
carreira e salário, maior investimento na formação continuada), a diminuição da
quantidade de turmas e de alunos por professor, maior autonomia na definição dos
currículos, para melhor atender as especificidades locais.
A importância dos conhecimentos do mundo atual, a nova realidade mundial,
a ciência e a inovação tecnológica têm levado os estudiosos a denominar a
sociedade atual de sociedade do conhecimento e sociedade tecnológica.
Atualmente, o conhecimento, o saber e a ciência assumem um papel muito mais
destacado do que em períodos anteriores. Hoje as pessoas aprendem na fábrica, na
televisão, na rua, nos centros de informação, nos vídeos, no computador e cada vez
mais, conquistam os espaços de aprendizagem, resultando na ampliação dos seus
conhecimentos.
Logo, o processo de globalização vem interferindo de maneira significativa
nas políticas educativas, acarretando conseqüências indesejáveis. Pode-se, mesmo
afirmar, que a educação está em crise e vem sendo responsabilizada por não
solucionar problemas tidos como desafios do momento. No contexto educacional,
vive-se uma fase de medos, incertezas, especulações, profecias, e, sobretudo,
desafios. É imprescindível compreender com a suficiente clareza este fenômeno,
para viabilizar a construção de alternativas capazes de enfrentar os problemas
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educacionais advindos da globalização, especialmente em sua vertente neoliberal,
que concebe a Educação sob uma perspectiva mercadológica.
O processo de globalização passa a exigir a formação de um profissional da
educação, com capacidade de adaptação às inovações tecnológicas, em
permanente processo de atualização. Nesse sentido, o processo de formação de
professores - tanto inicial como continuada – são alvos de políticas empreendidas
por instituições formadoras destes profissionais que usam uma formação de novo
tipo, adequado às novas necessidades da sociedade contemporânea.
Os países ricos efetuam suas reformas educacionais, em que, na maioria dos
casos, submeteram a escolarização às exigências da produção e mercado. Os
organismos multilaterais acoplados ao capitalismo traçam uma política educacional
voltada exclusivamente para a otimização dos sistemas escolares, no intuito de
atender as demandas da globalização, dentre as quais, de uma escola provedora de
educação que correspondesse a intelectualização do processo produtivo e formador
de consumidores.
No âmbito da educação, as medidas viabilizadas pelas reformas neoliberais
impostas pelas corporações internacionais e pelas instituições financeiras, como o
FMI (Fundo Monetário Internacional), o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento) têm buscado vincular educação e mercado.
As exigências do mundo contemporâneo, no âmbito da educação, impõem
desafio de educar as crianças e os jovens, propiciando-lhes um desenvolvimento
humano, cultural, científico e tecnológico. Essa educação deve contar com a
participação de todos envolvidos diretamente na escola, como: diretor, professores,
funcionários, pais de alunos e de sindicatos, governantes e outros grupos sociais
organizados.
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Nessa conjuntura, o governo brasileiro vem implementando suas políticas
econômicas e educacionais de ajuste às exigências da globalização, estabelecidas
pelas instituições financeiras e pelas corporações internacionais, para adequação às
demandas e exigências do mercado. Institui-se, na realidade, todas essas políticas,
o discurso da modernidade educativa, da diversificação, da flexibilidade, da
competitividade, da produtividade, da eficiência e da qualidade dos sistemas
educativos, da escola e do ensino, na ótica das reformas neoliberais.
Portanto, é necessário entender que educação é o processo de
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser
humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. A
Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que o acesso ao ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, é direito público subjetivo, ou seja, é direito
plenamente eficaz, de aplicabilidade imediata e, se não for prestado
espontaneamente, passa a ser exigível judicialmente.
A escola como uma instituição social educativa, vem sendo questionada
acerca do seu papel no mundo globalizado. As transformações políticas, sociais e
culturais do mundo contemporâneo, decorrem, sobretudo, dos avanços tecnológicos,
da reestruturação do sistema de produção e desenvolvimento globalizado,
envolvendo em uma movimentação intensa de pessoas, em meio a um acelerado
processo de integração e de reestruturação capitalista.
É evidente que a preocupação do capital com a educação não é gratuita.
Existe uma coerência do discurso liberal sobre a educação no sentido de entendê-la
como “definidora da competitividade entre as nações” e por se constituir numa
condição de empregabilidade em períodos de crise econômica. Como para os
liberais está dado o fato de que todos não conseguirão “vencer”, importa então
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impregnar a cultura do povo com a ideologia da competição e valorizar os poucos
que conseguem se adaptar à lógica excludente, o que é considerado um incentivo à
livre iniciativa e ao desenvolvimento da criatividade.
Com base no pressuposto acima, percebemos que os serviços de educação
estão totalmente inseridos nas exigências do mercado globalizado, sob a hegemonia
das idéias neoliberais. O tom das reformas pretendidas para a educação superior é
o da eficiência e racionalidade, desarticulando, com isso, as possibilidades de
resistência.
Como se opor a reformas que pretendem a eficiência das instituições de
ensino superior? As estratégias de caráter administrativo racionalizado escondem a
intenção de descaracterização das instituições de ensino superior, como instituições
sociais de produção autônoma e desinteressada de conhecimento e de cultura,
submetendo-as às novas formas de organização do capitalismo, usando-as como
mais um instrumento de controle a seu favor. Caminhamos para a transformação
dessas instituições em espaços políticos sem autonomia, sem efetiva participação
social e sem possibilidade de colaborar para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.
Sabemos que a educação é uma responsabilidade do governo, mas também
dos seus protagonistas imediatos: professores, pais e alunos. Por isso,
possibilidades de crítica e oposição ainda podem ser visualizadas. Um exemplo
disso é constatado na decidida e corajosa resistência de estudantes, professores e
diversos outros segmentos da sociedade ao processo em curso, pois, mesmo sendo
um projeto perverso, não alcança a dominação total. O comprometimento dos
profissionais da educação com a construção de uma sociedade pautada em valores
promovedores de humanização e cidadania é fundamental para reverter a lógica das
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políticas educacionais que vêm sendo progressivamente implementadas pela
maioria dos governos.
Pois, se para construir uma nova educação é necessário construir uma nova
sociedade, a estrutura social só é modificada na medida em que são transformadas
as relações sociais que a sustentam. E nisso, a educação, sem dúvida, continua
tendo uma grande influência e contribuição a dar à humanidade.
A Educação na Nova Ordem Mundial
A abertura econômica e a crescente limitação dos poderes dos Estados
nacionais têm como extensão a ampliação da autonomia do mercado mundial, a
interdependência econômica e o aumento do poder transnacional.
Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 81) “o poder decisório do capital
transnacional é desconcentrado e desarticulado, como pode parecer em um primeiro
momento, ao contrário, é cada vez mais articulado e centralizado”.
As alterações ocorridas fizeram com que o panorama geopolítico nacional e
internacional passasse a buscar novos arranjos. Logo, novas diretrizes foram
traçadas; elaboradas novas legislações e tratados; modas padronizadas; um novo
mapa mundial foi estabelecido, como resultado de conflitos e guerras; acordos
econômicos passaram a predominar na pauta dos assuntos mais importantes e a
palavra de ordem atualmente passou a ser a globalização.
Uma maior abrangência e atenção às políticas educacionais tornaram-se um
verdadeiro desafio para a sociedade na atualidade. Nesse sentido, acredita-se ser
necessária uma reflexão sobre a importância da função social e a forma com que os
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movimentos sociais vêm se inserindo e participando na busca por um espaço de
discussões e ampliação da cidadania.
A globalização, além de suas limitações, trouxe também alguns avanços
possíveis ao indivíduo, cujo poder aquisitivo permite ter acesso às tecnologias de
comunicação, tornar-se cidadão do mundo: participante da aldeia global. Assim, a
educação deixa de ser vista exclusivamente como instrução para ser entendida
como descoberta capaz de alcançar maior eficiência em seus resultados.
Ela distanciou-se da rigidez acadêmica dos currículos, organizada segundo
disciplinas estanques rumo à inter-relação dos conhecimentos, o que levou à
construção de pontes para transposição das rígidas fronteiras disciplinares, mesmo
que isso tenha abalado também os limites dos profissionais preparados para atender
às exigências específicas do mercado de trabalho. Além disso, a tecnologia
eletrônica produziu a integração do mundo com a aceleração neural da informação,
que se multiplica intensivamente e avassala a mente humana, confusa diante da
quantidade de informações veiculadas, que são acontecimentos produzidos pelos
meios de comunicação, considerados extensões do homem e agentes “produtores
de acontecimentos”, mas não agentes “produtores de consciência”.
O desemprego em massa produzido pelo neoliberalismo em todas as partes
do mundo é o componente mais perverso da nova ordem. Partindo do pressuposto
de que só o capital concentrado cria riquezas, isto é, aumento de capital significa
investimentos, o desemprego, ou melhor, a taxa natural de desemprego, que faz
diminuir os salários, garante maior taxa de lucro e, portanto, maior acumulação de
capital. Desta forma, o desemprego não é uma conseqüência indesejada da
economia neoliberal, mas um de seus componentes estratégicos.
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A solução neoliberal para o avanço tecnológico é jogar fora parte da força de
trabalho para manter um excedente de reserva que permita manter a concentração,
pela taxa de lucro cada vez maior.
Quando falamos de neoliberalismo e globalização estamos falando de uma
nova ordem mundial. Tal ordem é capaz de tornar obsoleta a já existente: o Estado
entra em crise, e é obrigado a redefinir o seu papel; problemas sociais agravam-se
cada vez mais e a desigualdade aumenta.
Libâneo, Oliveira e Toschi (2003) conceituam a Nova Ordem Mundial, como o
nome pelo qual é designado comumente, o governo oculto do mundo, embora na
verdade não se trate de algo novo.
O século XX se revelou o século das transformações cuja base foi e é o
capital. Assim, a Nova Ordem Mundial no final do milênio expressa essas
transformações. Ela é simplesmente o atual sistema ou Ordem Internacional
Capitalista, dada política, econômica e ideologicamente. Estabeleceu-se no final da
década de 80, com o fim da Guerra Fria - a queda do muro de Berlim se deu em
1989, no quadro das transformações ocorridas no leste europeu com a
desintegração do bloco soviético. Sua base é a própria globalização, que significa a
unidade, a integração e a complementarização capitalista em nível mundial. Busca
garantir o desenvolvimento do capitalismo e estrutura-se segundo um conjunto de
países, hierarquizados de acordo com seu desenvolvimento.
A nova ordem mundial caracteriza-se por um sistema de integração de
mercado, que torna dependentes da economia global as economias nacionais, cujas
atividades produtivas são orientadas para o mercado externo. Esse sistema não
unifica o mundo, pois nem todos se incluem no poder globalizado, sob cujas asas se
aconchegam economia e mercado dos países em desenvolvimento, que são
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abafados e manipulados pela legitimação do poder dos blocos nacionais (União
Européia, Nafta e outros), que direcionam também o Sistema Educacional.
De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 97) “os elementos dessa
nova ordem mundial e desse novo tempo podem ser encontrados no âmbito da
economia, da política e da educação”.
Essa nova ordem mundial alicerçada em um sistema de integração de
mercado levou os países dos blocos nacionais, para garantir seu equilíbrio
econômico, a criarem medidas de cerceamento e restrição ao mercado de
importações para os produtos provenientes das nações em desenvolvimento, que
aumentaram seus índices de pobreza.
Por isso, é necessário clareza a respeito da globalização, para que se
possam tomar decisões conscientes: as que signifiquem a atualização do sistema
educativo, como as que fazem parte da memória da educação direta ou formal, para
que ela não perca seu rosto.
Utiliza-se como marco inicial para a assim chamada “Nova Ordem Mundial” a
queda do Muro de Berlim e a unificação da Alemanha, porém muitos aspectos
anteriores como, EUA representando o capitalismo e a URSS, representando o
socialismo, já indicavam uma nova era econômica em formação.
No tocante à educação, a orientação política do neoliberalismo de mercado
evidencia, ideologicamente, um discurso de crise e de fracasso da escola pública,
como decorrência da incapacidade administrativa e financeira de o Estado gerir o
bem comum. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 101),
A necessidade de reestruturação da escola pública advoga a primazia da iniciativa privada, regidas pelas leis de mercado. Desse modo, o papel do Estado é relegado em segundo plano, ao mesmo tempo em que se valorizam os métodos e o papel da iniciativa privada no desenvolvimento e no progresso individual e social.
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A escola desejada por essas políticas neoliberais tem duas características
principais: a submissão aos imperativos econômicos, onde os estabelecimentos
escolares são agora dirigidos por chefes que se tornaram "patrões"; as
especificidades do ofício de docente se apagam em benefício de definições
assimiladas às dos técnicos da pedagogia ou dos executivos. E a dependência das
demandas dos diferentes componentes da sociedade, entre os quais estão os pais,
onde ela apenas concebe o saber na sua dimensão de ferramenta para agir, de
instrumento para ter êxito social, de capital individual para aumentar as rendas
futuras.
Entre os anos de 1960 e 1970, houve uma transferência muito grande de
alunos dos estabelecimentos públicos para os da iniciativa privada. Nessa época, de
acordo com um ranking classificatório, alunos oriundos das classes populares e
portadores de atestado de pobreza, tinham prioridade no acesso às vagas nas
escolas públicas de ensino básico. Face a acordos e interesses políticos à época, se
configurou um quadro de migração das classes médias em direção ao ensino
privado.
A escola pública - infelizmente - foi se modificando e assumindo-se como
escola popular, ou seja, escola somente para pessoas com baixa renda. O que
causou um aspecto ruim, pois a partir desse momento, a qualidade dos serviços
oferecidos pela escola pública começou a se deteriorar. A transferência de
professores para as escolas particulares seduzidos por melhores condições de infra-
estrutura e salários, bem como o abandono dos estabelecimentos públicos por parte
dos governantes, consolidaram essa caótica situação. Desta forma, o ensino público
inicia o seu período crítico.
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Os diversos estabelecimentos públicos de ensino com qualidade comprovada
foram se extinguido, restando atualmente, um número reduzido daqueles que
possamos referendar.
Desobrigado dessa tarefa, o ensino privado pode investir com mais
profundidade no preparo para o vestibular com o conseqüente ingresso daqueles
com condições de pagar, competirem em melhores condições, tendo acesso às
carreiras mais valorizadas social e economicamente.
Nas orientações neoliberais, a palavra escola designa um certo modelo
escolar que considera a educação como um bem essencialmente privado e cujo
valor é antes de tudo econômico. Não é mais a sociedade que garante a todos os
seus membros um direito à cultura, mas os indivíduos que devem capitalizar
recursos privados aos quais a sociedade garantirá um rendimento futuro.
No discurso neoliberal, a educação deixa de ser parte do campo social e
político para ingressar no mercado e funcionar à sua imagem e semelhança. Atribui
à participação do Estado em políticas sociais a fonte de todos os males da situação
econômica e social, tais como a inflação, a corrupção, o desperdício, a ineficiência
dos serviços, os privilégios dos funcionários. Defende uma reforma administrativa,
fala em reengenharia do Estado para criar um "Estado mínimo", afirmando que sem
essa reforma o país corre o risco de não ingressar na "nova ordem mundial".
No que diz respeito à universidade pública, o discurso neoliberal condena o
populismo, o corporativismo, o ensino ineficaz e a falta de produtividade.
Com o termo populismo, critica-se desde a relação dialógica entre
professores e alunos até o funcionamento da democracia universitária, as eleições,
as campanhas eleitorais. Com a palavra corporativismo, a retórica neoliberal ataca
desde os direitos trabalhistas, que passam a ser chamados de privilégios, até as
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reivindicações salariais. A expressão falta de produtividade tem em contrapartida a
produtividade da pesquisa relevante, isto é, utilitária, bem financiada, altamente
rendosa, segundo critérios mercantis.
O discurso neoliberal insiste no papel estratégico da educação para a
preparação da mão-de-obra para o mercado. Mas não se pode esquecer que o
neoliberalismo torna-se hegemônico num momento em que a revolução tecnológica
impõe o desemprego estrutural.
A retórica neoliberal atribui um papel estratégico à educação e determina-lhe
basicamente três objetivos, segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 101):
1) Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. 2) Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. Esta precisa sustentar-se também no plano das visões do mundo, por isso, a hegemonia passa pela construção da realidade simbólica. 3) Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que aliás é coerente com a idéia de fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os neoliberais condenam a participação direta do Estado no financiamento da educação, na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar.
A escola continua sendo um espaço com grande potencial de reflexão crítica
da realidade, com incidência sobre a cultura das pessoas. Apesar da exclusão
social, característica do descaso com as políticas públicas na maioria dos governos,
ser um dos grandes agravantes, o ato educativo pode contribuir imensamente na
acumulação de forças contrárias à dominação.
Os serviços públicos de educação estão totalmente inseridos nas exigências
do mercado globalizado, sob a hegemonia das idéias neoliberais. O tom das
reformas pretendidas para a educação superior é o da eficiência e racionalidade,
desarticulando, com isso, as possibilidades de resistência.
21
À universidade pública, o neoliberalismo propõe, segundo Libâneo, Oliveira e
Toschi (2003):
a) que parte dos estudantes arque com os custos do ensino nas
universidades federais, o que obviamente ampliaria as barreiras sociais que
entravam o acesso à universidade e elitizaria o ensino superior, talvez para melhor
distinguir as escolas de elite das de massa;
b) novos tipos de contrato de trabalho, que tendem a eliminar a dedicação
exclusiva e ampliar o quadro de professores de tempo parcial, o que representa
diminuição de gastos estatais e, conseqüentemente, achatamento do salário. Mas a
retórica neoliberal afirma que o professor de tempo parcial, por ter outro emprego,
tem condições de levar à sala de aula ensinamentos do mercado de trabalho;
c) que vá buscar recursos para suas pesquisas nas empresas industriais e
comerciais, associando-se a estas por meio de pesquisa, consultoria, oferta de
cursos etc., obrigando-a assim a responder às demandas de mercado, a fazer
pesquisas utilitárias de curto prazo. Isso certamente favoreceria ainda mais as áreas
de microeletrônica, biotecnologia, engenharia de produção, administração, em
detrimento da tão desvalorizada área de humanas. É o modelo competitivo de
universidade.
A retórica neoliberal resume este modelo na palavra qualidade. Dita como se
fosse uma palavra mágica que representasse uma idéia definitiva, do tipo Oitava
maravilha do universo: a excelência do ensino e da pesquisa, professores
competentes, com domínio de conteúdos, científicos substantivos de alto nível e de
conhecimentos instrumentais, pesquisas de ponta capazes de gerar tecnologias
competitivas na aldeia global, alunos aptos a ingressarem no mercado internacional
etc.
22
Diante da mudança do mundo, as universidades brasileiras, a fim de
promover a reestruturação curricular, colocaram como princípio a formação técnica e
profissional do estudante mais que a humanística, que o dimensiona como ser
histórico, social e político.
Interessam agora a interdisciplinaridade, a atualização de informações, a
aceleração da formação e a integração do conhecimento ao mercado mundial.
Enfim, a universidade preocupa-se com a inserção do estudante no mercado de
trabalho.
Na época da interdisciplinaridade, quando os conhecimentos não mais são
compartimentados, é importante saber o que se pode “tomar emprestado dos
vizinhos” para que o sistema não se desfaça e nem se confunda. Importa definir
limites para a Educação, para que não se submeta só aos interesses do mercado,
ao abandonar sua história de avanços a partir da observação, da reflexão e da
crítica, com vistas à consecução da sociedade mais justa.
O objetivo da educação é levar o estudante a observar a realidade
criticamente, para modificá-la, portanto; a sala de aula deve estar isenta das
relações de mercado, porque nela se forma o cidadão consciente - crítico - e, muitas
vezes, insatisfeito com o mundo globalizado, que exclui milhares de pobres da
educação, a qual, antes de tudo, é um bem social.
Até então, o conhecimento pode ser visto como produto, pois satisfaz
necessidades e/ou desejos por meio de troca, com envolvimento de partes
interessadas, que reconhecem valor mútuo e são capazes de comunicação e livres
para aceitarem ou rejeitarem a oferta.
23
CAPÍTULO II
A PEDAGOGIA E A CONTEMPORANEIDADE
O conceito de pedagogia
O primeiro passo para entendermos o que é pedagogia inclui uma revisão
terminológica. Precisamos localizar o termo “pedagogia”, e ver o que cai sobre sua
delimitação e o que escapa de sua alçada. Para tal, a melhor maneira de agir é
comparar o termo “pedagogia” com outros três termos que, em geral, são tomados,
erradamente, como seus sinônimos: “filosofia da educação”, “didática” e “educação”.
Para Freire (1996), a pedagogia é a ciência da Educação - estudo do
comportamento humano em suas diferentes fases, ou seja, o curso é voltado para o
estudo da educação do ser humano desde quando nasce até envelhecer e
procuramos saber quais os meios que mais influenciam, qual a zona de
desenvolvimento em cada idade, maturação (psicológica e dos órgãos), pois cada
fator é determinante para o indivíduo para o seu desenvolvimento.
Freire (1996) explica também que a pedagogia contemporânea tornou o aluno
sujeito do ensino e substituiu o individualismo do século XVIII por uma visão mais
complexa dos fatores envolvidos no trabalho de ensinar. Hoje, admite-se no plano
teórico que a mente humana é originalmente ativa, enquanto na prática, no Brasil,
ainda se costuma despejar conhecimento sobre o aluno.
A pedagogia contemporânea vê no educando, considerado na sua totalidade
e complexidade, o principal sujeito da educação. Ele deve ser ajudado,
especialmente numa relação de confiança, a desenvolver as suas capacidades para
24
o bem. Com muita facilidade isto é esquecido, quando é dada demasiada
importância à simples informação com prejuízo das outras dimensões da formação
humana. Na educação, de fato, goza da máxima importância, o conhecimento de
novos conceitos, vivificado, porém, pela assimilação dos valores correspondentes e
por uma vida tomada de consciência das responsabilidades pessoais relacionadas
com a idade adulta.
A pedagogia contemporânea tem plena consciência do fato de que a vida
humana é assinalada por uma evolução constante e de que a formação pessoal é
um processo permanente. Isto é também verdade para a formação humana como
um todo, que se exprime com características particulares nas diferentes fases da
vida. Dessa forma, ela evidentemente traz consigo riquezas e várias dificuldades a
cada etapa do seu amadurecimento
O pedagogo e os ambientes de aprendizagem
Vivemos numa era em que o conhecimento assume novas configurações. Ele
se modifica permanentemente, sendo atualizado dia-a-dia pelas descobertas das
ciências e por essa inteligência coletiva que produz saberes em conjunto, na grande
rede do ciberespaço. A memória da humanidade já não está confinada nas
bibliotecas, mas sim em contínua reconstrução. Nesse contexto, a capacidade de
gerenciar a informação se torna, muitas vezes, a competência mais valiosa.
A escola formal deixa de ser a principal fonte de informação e cada um
procura sua formação através de uma conjugação de ensino regular, cursos avulsos
e, principalmente, o desenvolvimento de sua capacidade de ser autodidata. A
recepção passiva de informações já não mais é realidade e, tanto as empresas
25
como escolas, privilegiam a capacidade de aprender e de buscar as informações de
que o indivíduo necessita e a capacidade de se auto-desenvolver.
Cada vez mais, constata-se que o mercado procura profissionais experientes,
com capacidade de ajustar-se a situações novas, remetendo para segundo plano o
diploma fornecido pelas entidades de ensino tradicional.
A situação da educação não é um fato isolado neste processo. Toda
sociedade está sofrendo bruscas transformações.
Lévy (1999), referindo-se à velocidade da renovação do saber e do saber
fazer, cita que, pela primeira vez, na história da humanidade, a maior parte dos
conhecimentos adquiridos por uma pessoa no início de sua vida profissional será
obsoleta ao final de sua carreira. Outra observação estreitamente ligada à primeira
refere-se à nova natureza do trabalho. Cada vez mais, trabalhar é aprender,
transmitir e produzir conhecimentos.
A formação de profissionais adaptados às bruscas transformações da
sociedade exige que alunos e professores sejam flexíveis para se ajustarem à nova
dinâmica. As metodologias empregadas no ensino precisam priorizar a construção
do conhecimento, única forma de dar ao aluno capacidade de se ajustar às
características do mercado de trabalho atual.
Um ambiente de aprendizagem deve permitir ao aluno construir seus próprios
conhecimentos a partir da sua visão empírica. Porém, esse ambiente deve ter
características abertas e pouco estruturadas e não as características de um
programa de treinamento, tampouco ser mais um livro eletrônico, mas sim, um
ambiente capaz de despertar no aluno o interesse pelo conteúdo sugerido.
O pedagogo está sempre à frente da educação, ensinando a ensinar. São
funções do pedagogo: administrar, planejar cursos, avaliar currículos, orçamentos e
26
programas escolares, além de estabelecer vínculos entre instituições de ensino,
comunidade, familiares dos alunos e autoridades do setor educativo.
O mercado de trabalho para o pedagogo a cada dia se amplia mais. Ele pode
atuar em escolas públicas e particulares de Educação Infantil, Ensino Fundamental,
Médio e Superior, e empresas em treinamento de pessoal e recursos humanos,
clínicas psico-pedagógicas, diretorias de ensino e escolas e classes para alunos
especiais.
A importância do papel do pedagogo, enquanto agente da mudança,
favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, ganha atualmente maior
significado. É inegável que os professores desempenham um papel importante na
formação de atitudes face ao processo de ensino e aprendizagem. Cumpre-lhes a
árdua e difícil tarefa de despertar nos alunos o espírito de curiosidade, o
desenvolvimento da autonomia, do rigor intelectual e a criação de condições
indispensáveis para a promoção do sucesso da educação informal e da educação
permanente.
Moraes (2005, p. 115) propõe em seu trabalho a construção de um novo
paradigma para a educação, paradigma este que possa corresponder às
expectativas do novo modelo que vivemos,
A matriz educacional que se apresenta com base no novo paradigma é muito mais ampla em todos os sentidos, revela o início de um período de aprendizado sem fronteiras, limites de idade e pré-requisitos burocráticos, traduz uma nova abertura em relação à comunidade na qual a escola está inserida. (...) no paradigma emergente, a escola é vista como um sistema aberto, uma estrutura dissipadora que troca energia com a comunidade que a cerca. (...) É uma matriz que implica a ampliação dos espaços, a criação de novos espaços de convivência e aprendizagem, que pressupõe uma melhor interação e um aproveitamento mais adequado dos recursos humanos, físicos e materiais que a comunidade tem a oferecer.
27
Em sua formulação sobre o paradigma educacional emergente, a autora
relata sua proposta sobre o processo educacional:
Se uma das metas educacionais é levar o indivíduo a manejar e produzir conhecimentos, a desenvolver valores e atitudes que permitam a adaptação às mudanças e às novas exigências do mercado de trabalho, como desafio fundamental que decide a possibilidade e a qualidade de sua participação no mundo atual, então, o processo educacional deve levá-lo a desenvolver uma atitude construtiva, uma competência construtiva, modos construtivos de conceber, fazer e compreender, uma prática adequada para a produção de conhecimentos (MORAES, 2005, p. 117).
A educação, segundo a autora, não pode deixar de contemplar uma das mais
marcantes características desta fase de nossa humanidade, que é chamada pela
autora de "Era das Relações". Assim, uma educação para a Era das Relações
almeja uma proposta educacional que reflita e englobe tanto as dimensões materiais
quanto espirituais da sociedade, que busque a superação de metas voltadas para a
erradicação do analfabetismo, a melhoria da qualidade com eqüidade, a superação
dos índices de evasão e repetência, mas que, simultaneamente, favoreça a busca
de diferentes alternativas que ajudem as pessoas a aprender a conviver e a criar um
mundo de paz, harmonia, solidariedade e fraternidade.
Uma educação para um mundo em constante transformação solicita o
fortalecimento da unidade interior e a necessidade de privilegiar o desenvolvimento
da intuição e da criatividade. Isso é importante para que o indivíduo possa
sobreviver a qualquer tipo de mudança, para que saiba lidar com o imprevisto, as
injustiças, o novo e o caos, que exigem um novo pensar, mais coerente, articulado,
rápido, múltiplo e exato, para que possa estabelecer novas relações, novas
ordenações e novos significados.
É essa capacidade de reflexão que leva o indivíduo a aprender a conhecer, a
pensar, a aprender a aprender, a aprender a fazer, a aprender a conviver e a
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aprender a amar, para que possa aprender a ser, e estar em condições de agir com
consciência, autonomia e responsabilidade.
Esta transformação na concepção da educação ultrapassa rapidamente as
fronteiras da educação clássica e acaba por determinar o perfil do trabalhador nesta
Era das Relações.
A aprendizagem é um processo de interação social, em que o ser humano
interioriza, se apropria e adapta esse conhecimento pedagógico oferecido pelo seu
cotidiano. A mediação seria a utilização desses recursos oferecidos por esse dia-a-
dia, na promoção do ato educativo. Porque na verdade, o nosso viver no cotidiano é
onde se dá a pratica pedagógica entendida como mediação. Porém, nem todo
conhecimento pode ser totalmente livre, muitas vezes ele precisa ser direcionado,
contudo, essa ação pedagógica deve acentuar a alegria do viver, através do prazer
da vida. Haverá a confiança no eu e a capacidade de aceitação mútua, como atitude
básica e essencial no jogo de relações, em que a paz de cada ser com ele mesmo,
proporcionará condições para um viver harmônico com o outro e com a natureza.
A aprendizagem individual tem como benefício permitir que o estudante
determine o próprio ritmo de estudo como também defina as metas de
aprendizagem, sendo um paradigma adequado para a aprendizagem à distância.
Seria interessante, se possível, combinar o melhor dos dois mundos em um
ambiente de aprendizado comum. Porém, esta combinação não é facilmente
atingível.
Por outro lado, na aprendizagem individual não há uma meta uniforme, e até
mesmo o conteúdo pode ser adaptado a perfis de estudantes diferentes
(D’AMBRÓSIO, 1997). Em tais casos, não há o conceito de uma “classe”
trabalhando junto para atingir uma meta comum, e o tempo gasto em tópicos
29
distintos pode variar significativamente de estudante para estudante. Não obstante,
até mesmo em tal cenário de aprendizagem pode haver outros estudantes que
compartilham metas comuns durante alguns períodos de tempo. Em tal cenário, é
valioso que estes estudantes compartilhem dúvidas, perguntas, e comentários entre
eles, já que, neste processo, eles devem ter a oportunidade de refletir sobre o tópico
sendo estudado e expressar claramente seu raciocínio. Desenvolver tais habilidades
é um dos benefícios da aprendizagem colaborativa que a aprendizagem individual
não apresenta.
A tradicional concepção de sala de aula, com alunos-expectadores
enfileirados diante de um professor-especialista detentor da informação, deve ser
modificada tanto nos ambientes presenciais quanto nos virtuais. Combater o
instrucionismo, a reprodução de conhecimentos e fragmentação do saber é o grande
desafio.
Os novos paradigmas epistemológicos apontam para a criação de espaços
que privilegiem a co-construção do conhecimento, o alcance da consciência ético-
crítica decorrente da dialogicidade, interatividade, intersubjetividade.
Isto significa uma nova concepção de ambiente de aprendizagem-
comunidade de aprendizes que se constituam numa nova perspectiva, auto-
organização, autonomia, interdependência e conscientização.
Neste contexto, é fundamental que os aprendizes sejam sujeitos
“cognoscentes”, ou seja, sujeitos que valorizam a ação, a reflexão, a curiosidade, o
senso crítico, o questionamento, a inovação. E o professor, por sua vez, deve
ocupar o papel de aprendiz e mediador pedagógico, responsável por provocar
situações desafiadoras, estimular criticidade, argumentação, desconstrução e
reconstrução.
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Para que assim, a comunidade possa desenvolver as suas habilidades e
competências, em busca de inovação, de um saber-fazer novo, mais consciente e
crítico articulado com o contexto não só individual, mas global.
A Pedagogia Hospitalar
O campo da Pedagogia Hospitalar surgiu da necessidade expressa de
pessoas, que por motivos ligados a enfermidades, afastam-se do momento de
escolarização e, com isso, tornam-se excluídos das instituições de ensino e da
própria comunidade a que pertencem. De certa forma, as escolas não possuem
nenhum tipo de tratamento especial para alunos que se enquadram nestas
modalidades, desestimulando-os a continuarem sua escolarização e confrontando-
se com o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, que garante uma educação
gratuita, para todos e com qualidade.
Contudo, este trabalho busca preservar o vínculo entre o processo educativo
e a criança/adolescente, executando seu papel transformador da realidade presente.
O profissional que tem a intenção de atender a essa educação hospitalizada
necessita de uma formação diferenciada que desenvolva suas habilidades e
competências, bem como um trabalho emocional qualificado que o beneficie diante
de determinadas situações. Nesta perspectiva, propor a inserção, permanência e
continuidade do processo educativo, aliviar possíveis irritabilidades e promover
ocasiões que oportunizem a exteriorização de situações conflituosas do escolar
doente, nela encontram-se alguns objetivos da Pedagogia Hospitalar.
A estrutura física do hospital também deve favorecer condições de se efetuar
com êxito este trabalho humanizador. Tanto ambiente como equipe hospitalar, a
31
família e a escola devem trabalhar juntos, carregados de humanismo e com
propostas pedagógicas, além das demais intervenções de fundamental importância
que já estão envolvidas no contexto hospitalar, e, neste caso, a Pedagogia
Hospitalar, mediada e coordenada por um educador da área, poderá vir a beneficiar
de forma surpreendente determinados aspectos ali situados. De acordo com
Fonseca (2003), o ambiente hospitalar exige um planejamento bastante
diversificado, pois, as crianças e os adolescentes internados têm faixas etárias
diferenciadas, o quadro clínico é variável, a medicação a ser utilizada é diferente de
um para outro, os aspectos emocionais do processo de internação podem variar de
criança para criança, a aceitação da doença é vista de diversas maneiras tanto pela
família como pelo paciente, o tempo de internação é variável, entre outros aspectos.
Tudo isso faz com que tenhamos que organizar o trabalho didático-
pedagógico no ambiente hospitalar de maneira a garantir que as atividades tenham
início e fim todos os dias, bem como, atendam as diferentes faixas etárias. Isso
significa o planejamento de diversas atividades para um determinado dia, e que a
mesma não pode ser repetida outras vezes, a não ser de formas diferentes. Por
exemplo, quando estamos trabalhando os animais marinhos, vários livros de
literatura infanto-juvenil podem auxiliar na temática, mas, o livro a ser trabalhado, ou
os livros, necessariamente têm de ser contados naquele dia, bem como, as
atividades a serem realizadas, porque nos dias posteriores as crianças e os
adolescentes podem receber alta, ou ainda, estarem usando uma medicação
específica e não poderem sair de seus quartos, ou então, terem realizado alguma
cirurgia e permanecerem nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), ou mesmo
estarem indispostos por fatores próprios do processo de internação.
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A Pedagogia Hospitalar tem como objetivo possibilitar à (ao) criança/jovem
hospitalizada (o) a continuação de suas atividades educativas, envolvendo o lúdico e
o pedagógico no seu contexto geral. O elo entre a escola e o hospital visa
proporcionar ao educando enfermo a continuidade de seus estudos mesmo estando
hospitalizado, pois algumas enfermidades requerem a permanência dos mesmos
durante longo período em ambiente hospitalar. O afastamento do internado de sua
família, da escola e dos amigos acaba alterando sua auto-estima, criando
ansiedade, medo, desânimo, depressão e tornando lenta sua recuperação. As ações
da pedagogia no hospital trouxeram novas perspectivas e desafios para o enfermo,
no que diz respeito à sua condição emocional, psicológica e criativa para instalar no
hospital, ambientes adequados a um procedimento próprio ao educando,
respeitando, contudo, as condições ambientais e adequadas às restrições do
tratamento médico do enfermo, buscando reduzir os impactos causados pela
internação, tanto na vida escolar quanto no desenvolvimento da(do)
criança/adolescente doente.
A visão humanística que muitos dos hospitais do Brasil procuram enfatizar na
sua prática vem demonstrando que não é só o corpo que deve ser "olhado", mas o
ser integral, suas necessidades físicas, psíquicas e sociais. O pedagogo, ao
promover experiências vivenciais dentro de um hospital - brincar, pensar, criar,
trocar - estará favorecendo seu desenvolvimento, que não deve ser interrompido em
função de uma hospitalização.
O trabalho pedagógico em hospital não possui uma única forma de acontecer.
O pedagogo tem de se reconhecer como pesquisador do seu fazer, buscando novas
respostas para eternas novas perguntas.
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo permitiu ampliar conhecimentos sobre o contexto educacional
através do advento da globalização, que modificou os métodos de ensino, abrindo
novos horizontes e criando novos ambientes de aprendizagem.
Essas modificações tornaram necessário aperfeiçoamento do pedagogo e a
adaptação do mesmo aos diversos ambientes, como ensino à distância, o ensino
através da internet e até mesmo a pedagogia hospitalar, um trabalho pedagógico
que apresenta diversas interfaces de atuação e está na mira de diferentes olhares
que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa enquadrar.
No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação não é elemento
exclusivo da escola quanto à saúde não é elemento exclusivo do hospital.
Tentar definir pedagogia hospitalar trouxe esclarecimentos quanto à função e
possíveis contribuições do pedagogo no hospital. E ajudou também a analisar a
formação e preparação para atuar com pessoas nesse ambiente visivelmente
diferente da sala de aula.
Embora possa ter a impressão que esta proposta se trata de uma
fragmentação do trabalho do pedagogo, na verdade se converte numa visão
holística da educação, por meio da qual não se fragmenta o humano. O humano é
um ser em construção, esteja onde estiver. Neste sentido, o ambiente de
aprendizagem é o próprio mundo e o tempo em que a educação ocorre é a própria
vida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D'AMBRÓSIO, Ubiratan. A Era da Consciência: aula inaugural do primeiro curso de
pós-graduação em ciências e valores humanos no Brasil. São Paulo, Ed. Fund.
Peirópolis, 1997.
FONSECA, S. E. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo:
Memmon, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 1999.
LIBÂNEO, José Carlos.; OLIVEIRA, João Ferreira de.; e TOSCHI. Educação
escolar, políticas, estruturas e organização. Cortez Editora, 2003.
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. 11. ed. São
Paulo: Papirus, 2005.
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