TCC Leonardo Final 04-07-12JNB

44
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA EEL CENTRO TECNOLÓGICO CTC CAMPUS UNIVERSITÁRIO - TRINDADE - CEP 88040-900 FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA Desenvolvimento de instrumentação para medição da componente tangencial de campo magnético em lâminas de aço Acadêmico: Leonardo Augusto Feler Orientador: Nelson Jhoe Batistela, Dr. Co-orientador: Mauricio Rigoni, M.Sc. Florianópolis, Julho de 2012.

Transcript of TCC Leonardo Final 04-07-12JNB

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA – EEL

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC CAMPUS UNIVERSITÁRIO - TRINDADE - CEP 88040-900

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA

Desenvolvimento de instrumentação para

medição da componente tangencial de

campo magnético em lâminas de aço

Acadêmico: Leonardo Augusto Feler

Orientador: Nelson Jhoe Batistela, Dr.

Co-orientador: Mauricio Rigoni, M.Sc.

Florianópolis, Julho de 2012.

ii

Desenvolvimento de instrumentação para

medição da componente tangencial de

campo magnético em lâminas de aço

Leonardo Augusto Feler

_______________________________

Nelson Jhoe Batistela, Dr.

Orientador

_______________________________

Mauricio Rigoni, M.Sc.

Co-orientador

_______________________________

Jean Vianei Leite, Dr.

Avaliador

_______________________________

Tiago Staudt, M.Sc.

Avaliador

iii

Resumo

Este trabalho de conclusão de curso aborda o desenvolvimento e implementação de

uma instrumentação para medição de campo magnético em lâminas de aço baseada no método

da conservação da componente tangencial. A instrumentação é composta de um conjunto de

sensores de campo magnético, circuitos eletrônicos de condicionamento de sinais, e placas de

aquisição de sinais com comunicação com computadores pessoais. Estudos teóricos e

experimentais acerca dos sensores de campo magnético por indução, do tipo bobina-H, são

apresentados neste trabalho, bem como as técnicas empregadas na confecção destes sensores.

Em virtude da baixa sensibilidade destes sensores, circuitos de amplificação e filtragem foram

implementados, condicionando assim os sinais para a etapa de aquisição. Após o

condicionamento, os sinais foram adquiridos por placas de aquisição e os dados foram

tratados numericamente por meio de instrumentos virtuais desenvolvidos em LabVIEW. Por

fim, são apresentados resultados dos ensaios de medição da componente tangencial de campo

magnético.

iv

Sumário

Lista de Figuras ........................................................................................................... v

Lista de Tabelas ........................................................................................................ vii

Capítulo 1: Introdução ................................................................................................. 8

1.1: Objetivos ...................................................................................................... 9

Capítulo 2: Revisão Bibliográfica .............................................................................. 10

2.1: Perdas e Métodos de medida .................................................................... 10

2.1.1: Medição de perdas em campos magnéticos alternados .................. 12

2.1.2: Perdas sob campos magnéticos rotacionais .................................... 14

2.2: Conservação da componente tangencial do campo magnético ................ 15

Capítulo 3: Materiais e Métodos ................................................................................ 18

3.1: Dispositivo sob Ensaio ............................................................................... 19

3.2: Sensoriamento: Sensor Bobina-H ............................................................. 20

3.2.1: Confecção de Sensores Bobina-H ................................................... 24

3.2.2: Aferição dos sensores ...................................................................... 26

3.3: Condicionamento de Sinais ....................................................................... 28

3.3.1: Filtragem........................................................................................... 29

3.3.2: Amplificação ..................................................................................... 29

3.4: Aquisição de Dados ................................................................................... 31

3.5: Tratamento Numérico de dados ................................................................ 32

Capítulo 4: Resultados .............................................................................................. 36

Capítulo 5: Considerações Finais e Perspectivas ..................................................... 41

5.1: Perspectivas .............................................................................................. 42

Capítulo 6: Referencias Bibliográficas ...................................................................... 43

v

Lista de Figuras

Figura 2.1: Curva de Histerese ....................................................................... 10

Figura 2.2: Corte em um material magnético mostrando as correntes

induzidas ................................................................................................................... 11

Figura 2.3: Quadro de Epstein ....................................................................... 12

Figura 2.4: Corte Quadro de Epstein .............................................................. 12

Figura 2.5: Configuração com duplo circuito do SST. .................................... 13

Figura 2.6: Configuração do RSST proposta por Enokizono et. al. [9] ........... 15

Figura 2.7: Refração do campo magnético .................................................... 16

Figura 2.8: Fronteira entre dois meios magnéticos ........................................ 16

Figura 3.1: Diagrama de blocos do sistema de medição ................................ 18

Figura 3.2: Fotografia do dispositivo sob ensaio ............................................ 19

Figura 3.3: Corrente induzida na espira devido a uma variação temporal do

campo magnético ...................................................................................................... 20

Figura 3.4: Tensão induzida nos terminais da espira interrompida ................ 21

Figura 3.5: Modelo elétrico para a bobina-sonda ........................................... 23

Figura 3.6: Geometria do Núcleo do Sensor .................................................. 24

Figura 3.7: Fotografia de um sensor construído ............................................. 25

Figura 3.8: Fotografia do suporte para os sensores ....................................... 26

Figura 3.9: Calibração dos Sensores ............................................................. 27

Figura 3.10: Diagrama de Blocos resumido do sistema de aquisição ............ 28

Figura 3.11: Filtro Passa-baixas passivo diferencial....................................... 29

Figura 3.12: Diagrama Esquemático de um amplificador de instrumentação 30

Figura 3.13: Fotografia dos amplificadores desenvolvidos no trabalho .......... 31

Figura 3.14: Fluxograma geral do software implementado em LabVIEW ...... 34

vi

Figura 3.15: Painel Frontal do Instrumento Virtual utilizado ........................... 35

Figura 4.1: Fotografia do ensaio de medição do campo magnético externo ao

transformador ............................................................................................................ 36

Figura 4.2: Forma de onda da corrente de magnetização do transformador . 36

Figura 4.3: Forma de onda do campo magnético externo ao transformador . 37

Figura 4.4: Fotografia da montagem do aparato experimental ....................... 38

Figura 4.5: Forma de onda da componente tangencial de campo magnético.

.................................................................................................................................. 39

Figura 4.6: Fotografia da montagem do aparato experimental ....................... 39

Figura 4.7: Corrente de alimentação do circuito magnético ........................... 40

Figura 4.8: Formas de onda da componente tangencial de campo magnético

.................................................................................................................................. 40

vii

Lista de Tabelas

Tabela 3.1: Dados dos Sensores ................................................................... 25

Tabela 3.2: Erros Relativos Percentuais dos Sensores ................................. 28

Tabela 3.3: Dados dos ADCs ......................................................................... 32

8

Capítulo 1: Introdução

Com a demanda crescente no setor elétrico, novas tecnologias são procuradas para

atender às exigências do setor. Novos produtos, processos e materiais são buscados pelo

mercado, principalmente quando se pode melhorar a eficiência energética. Por isso cada vez

mais se aprimora os dispositivos para atender as tendências tecnológicas, econômicas e de

conservação do meio ambiente. Sob este aspecto, um dos focos de pesquisa hoje em dia são a

determinação e melhoria das perdas em materiais ferromagnéticos, já que estes materiais são

componentes fundamentais nos equipamentos utilizados na indústria.

Desenvolver equipamentos com o maior rendimento possível é um dos principais

focos na indústria. E para efetuar tal tarefa, determinar e minimizar as perdas eletromagnéticas

são fatores de extrema importância, pois como os materiais magnéticos compõem parte

principal dos dispositivos eletromagnéticos, é neste ponto que as melhorias mais significantes

podem ser efetuadas.

Uma das principais partes no processo de determinação de perdas eletromagnéticas é a

obtenção do valor do campo magnético no interior do material. Vários métodos de obtenção

do campo magnético são estudados, entre eles a estimação pelo cálculo utilizando a corrente

de magnetização do circuito magnético ou através da medição da componente tangencial do

campo magnético no exterior da lâmina.

Neste trabalho é desenvolvida uma instrumentação para a estimação de campos

magnéticos através da componente tangencial, que é um método baseado na utilização de

sensores de campo magnético para a obtenção da componente tangencial. Vários sensores,

como: SQUIDs (Superconducting Quantum Interference Device), sensor de Efeito Hall,

sensores magnéto-resistivos e sensores por indução são utilizados para a medição de campos

magnéticos. O desempenho de cada um deles depende da amplitude e frequência dos campos

a serem medidos.

Os sensores por indução do tipo bobina-H (H-coil, em inglês) são aplicados mais

comumente devido à sua relativa facilidade de confecção. Outras vantagens deste tipo de

sensor são sua excelente linearidade e imunidade à componente ortogonal do campo

magnético.

9

1.1: Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal o desenvolvimento de um sistema para

medir o campo magnético a partir de sua componente tangencial. Definem-se metas que irão

compor o caminho a ser trilhado para a conclusão do trabalho. Os seguintes itens são

definidos como metas principais do trabalho:

Projetar e confeccionar sensores de campo magnético por indução do tipo

bobina-H para campos na faixa de 1 Hz a 100 Hz;

Projetar e construir circuitos eletrônicos de filtragem e amplificação para o

condicionamento dos sinais provenientes dos sensores, de modo que seja

possível utilizar todos os sensores ao mesmo tempo e em qualquer faixa de

amplitude e de freqüências definidas anteriormente;

Implementar na plataforma LabVIEW® um software de aquisição e tratamento

numérico dos dados coletados dos sensores, em tempo real e oferecendo uma

interface para que o usuário possa visualizar tais dados;

Realizar medições de campos magnéticos com a instrumentação para validar o

funcionamento da mesma.

10

Capítulo 2: Revisão Bibliográfica

Neste capitulo são apresentados os principais conceitos sobre correntes induzidas e

conservação da componente tangencial do campo magnético, além das aplicações onde estes

fenômenos têm influência, como a avaliação de perdas magnéticas em aços elétricos.

2.1: Perdas e Métodos de medida

Determinar as perdas em materiais magnéticos laminados em chapas é um tema de

interesse da comunidade científica, principalmente por ainda não existir um modelo definitivo

para sua previsão [1].

A metodologia mais utilizada para estimação, análise e caracterização de materiais

com respeito às perdas magnéticas é o princípio da separação, ou seja, as perdas totais na

lâmina são devido a três tipos de perdas: perdas por histerese, perdas por correntes de

Foucault e perdas excedentes, sendo que as duas últimas são também chamadas por perdas

dinâmicas [2].

Um material sob a ação de um campo magnético )(tH apresenta uma característica

)(HB representada pela seguinte equação

HB (2.1)

Para alguns materiais esta curva é aproximadamente linear. Porém, para materiais

ferromagnéticos, ela apresenta uma forma de histerese, conforme mostra a Figura 2.1 – que

pode ser mais ou menos pronunciada na sua forma de sigmóide dependendo do material

ferromagnético.

Figura 2.1: Curva de Histerese

11

Este fenômeno de histerese ocorre devido à locomoção das paredes dos domínios

magnéticos [3], que exigem certa quantidade de energia para trocarem as suas polaridades

magnéticas e magnetizar o material. Esta energia gasta pelos deslocamentos das paredes dos

domínios magnéticos é então denominada perda por histerese.

A perda por correntes de Foucault é originada das correntes induzidas no material.

Estas correntes, induzidas pela variação de fluxo magnético, percorrem o material em forma

de anéis fechados, como representado na Figura 2.2, tendo como um limitador a resistividade.

As perdas por correntes de Foucault em lâminas de aço dependem diretamente da espessura da

lâmina, condutividade do material, frequência e amplitude da indução magnética.

Figura 2.2: Corte em um material magnético mostrando as correntes induzidas

Como dispositivos eletromagnéticos operam em uma frequência fixa, para tentar

minimizar esse efeito, as lâminas são cortadas com espessura mais fina possível. Isto explica o

porquê de os circuitos magnéticos de equipamentos serem constituídos de várias lâminas

finas, ao invés de utilizar apenas uma massa de material. Fazendo isso, a formação de grandes

anéis de correntes induzidas no material é limitada.

As perdas excedentes estão incluídas nas perdas dinâmicas, mas ainda não há uma

teoria definitiva. Atualmente o modelo mais aceito foi proposto por Bertotti [4], o qual é

baseado em uma análise estatística da organização dos domínios e paredes magnéticas. Tais

perdas estão separadas em outra classe devido ao fato de que o cálculo clássico das perdas por

correntes de Foucault não leva em consideração a divisão do material em domínios

magnéticos.

12

2.1.1: Medição de perdas em campos magnéticos alternados

Dentre os métodos mais utilizados para a medição de perdas em campos magnéticos

alternados estão: o método do quadro de Epstein e o método SST (Single Sheet Test).

O quadro de Epstein é um dispositivo sugerido por Burgwin em 1936 [5] e até hoje é o

mais utilizado na medição de perdas magnéticas em lâminas de aço. Este quadro é constituído

de dois enrolamentos: um enrolamento primário, responsável pela geração do campo

magnético e um enrolamento secundário responsável pela medição do fluxo magnético

induzido. O quadro de Epstein é composto de quatro bobinas, ligadas em série, para cada

enrolamento, conforme mostra a Figura 2.3.

Figura 2.3: Quadro de Epstein

As amostras de lâminas de aço são colocadas no interior dos enrolamentos (Figura 2.4)

formando um circuito magnético. A norma brasileira NBR5161

[6] prevê a utilização de no mínimo doze lâminas para realizar o ensaio.

Figura 2.4: Corte Quadro de Epstein

13

As perdas são calculadas de um modo indireto através das seguintes grandezas

elétricas: )(tip é a corrente do enrolamento primário, que é uma imagem do campo magnético

)(tH , e a tensão induzida no enrolamento secundário )(tvs . A indução )(tB é a integral

proporcional da forma de onda da tensão no secundário )(tvs . As duas equações que

descrevem as relações entre as grandezas elétricas e magnéticas são:

)()( til

NtH p

m

p (2.2)

T

s

s

dttvSN

tB )(1

)( (2.3)

onde pN e sN são o número de espiras dos enrolamentos primário e secundário,

respectivamente; ml é o caminho médio magnético; S é a área de seção magnética efetiva; T

é o período do sinal.

Para o cálculo das perdas é possível usar wattímetros, amperímetros e voltímetros,

como previsto em norma. Mas a abordagem mais atual é adquirir os sinais oriundos do

quadro, utilizando placas de aquisição de dados, e através de tratamento numérico adequado

em um computador, calcular as perdas.

O SST (Single Sheet Tester) o difere do quadro de Epstein basicamente por utilizar

uma única lâmina para o ensaio, ter o seu próprio núcleo magnético e poder empregar

métodos diretos de medição de campo magnético através de sensores de campo magnético [7]

como o sensor bobina-H [8]. Como o SST possui seu próprio núcleo, varias configurações são

possíveis. Contudo a mais recomendada pelas normas internacionais é a de duplo circuito

magnético, representada na Figura 2.5.

Figura 2.5: Configuração com duplo circuito do SST.

14

A grande vantagem do método SST é o número reduzido de lâminas necessárias para o

ensaio. Utiliza-se de apenas uma enquanto o método do quadro de Epstein necessita de 12

lâminas. Porém são necessários vários ensaios para obter uma “característica média” do

material e no quadro de Epstein a magnetização do circuito é mais homogenia do que no SST.

2.1.2: Perdas sob campos magnéticos rotacionais

Nas ranhuras de máquinas elétricas e em algumas regiões dos núcleos de

transformadores, a indução magnética se comporta de uma maneira diferente do que no

quadro de Epstein ou no SST. Ela não tem um comportamento apenas alternante no espaço,

mas também muda a direção em pontos diferentes do material magnético Erro! Fonte de

referência não encontrada.], formando campos rotacionais.

Levando em consideração este fato, os ensaios convencionais, como os mostrados na

seção anterior, não fornecem informações suficientes para caracterização e avaliação das

perdas, pois possuem apenas uma fonte de campo magnético. Então, para avaliar as perdas e

caracterizar os materiais sob esta circunstância existe um método denominado Teste

Rotacional de Chapa Única (RSST – Rotacional Single Sheet Test, em inglês). Ele pode ser

realizado hoje graças à evolução dos computadores e circuitos amplificadores mais precisos e

eficientes.

Para a execução deste teste, pode ser utilizado um dispositivo semelhante ao proposto

por Enokizono et. al. [9], apresentado na Figura 2.6. Nele estão dispostos sensores de campo

magnético e de indução com enrolamentos perpendiculares entre si, para que possam ser

medidos campos em duas direções. Os sinais medidos por estes sensores são então

condicionados via circuitos eletrônicos analógicos e posteriormente os dados são tratados

numericamente em um computador onde são calculadas as perdas.

15

Figura 2.6: Configuração do RSST proposta por Enokizono et. al. [9]

Em Silva Erro! Fonte de referência não encontrada.] é feita uma análise de vários

aspectos envolvendo as disposições e tipos de sensores de indução magnético e campo

magnético, inclusive sobre o sensor Bobina-H, que será abordado no próximo capitulo deste

texto.

2.2: Conservação da componente tangencial do campo magnético

Como visto na seção anterior, alguns métodos para avaliação de perdas magnéticas

utilizam métodos diretos de estimação de campos magnéticos a partir de sensores de campo

magnético. Os campos no interior do material são calculados a partir do principio de

conservação da componente tangencial do campo magnético.

O fenômeno descrito em livros clássicos de eletromagnetismo [3,10] é tratado a partir

de um sistema que possui dois, ou mais meios, onde as permeabilidades magnéticas são

diferentes. O campo magnético sofre refração ao atravessar a fronteira entre um meio e outro,

apresentando uma diferença angular, como mostrado na Figura 2.7.

16

Figura 2.7: Refração do campo magnético

Para explicar o fenômeno de conservação da componente tangencial do campo

magnético, utiliza-se a Lei de Gauss para campos magnéticos

0dSB (2.4)

e a lei de Ampère

IdlH (2.5)

Considera-se uma região de fronteira entre dois meios magnéticos distintos 1 e 2

caracterizados, respectivamente, por 1 e 2 , como na Figura 2.8.

Figura 2.8: Fronteira entre dois meios magnéticos

Aplicando a Lei de Ampère no caminho fechado formado por abcda, onde a corrente

de interface é denotada por I e considerada normal ao caminho abcda, obtém-se

2222122211

hH

hHLH

hH

hHLHLI nnftgnnftgf (2.6)

Como a região de interesse é muito próxima à interface, considera-se que a distância

h é muito pequena, ou seja, 0h . Então, tem-se

17

ftgftgf LHLHLI 21 (2.7)

e, consequentemente, pode-se escrever

tgtg HHI 21 (2.8)

Isto mostra que a componente tangencial do campo magnético não se conserva quando

há corrente elétrica em um dos meios. Porém em uma situação onde a fronteira esteja livre de

corrente, tem-se

tgtg HH 210 (2.9)

ou seja,

tgtg HH 21 (2.10)

Sendo assim, para a condição onde não há corrente na interface entre os dois meios,

magnéticos a componente tangencial do campo magnético se conserva, conforme explicitado

na Equação 2.10.

18

Capítulo 3: Materiais e Métodos

Neste capítulo serão descritas as partes integrantes do sistema de medição da

componente tangencial de campo magnético.

A Figura 3.1 mostra um diagrama de blocos das partes que compõe a instrumentação

para medição de componente tangencial do campo magnético.

Figura 3.1: Diagrama de blocos do sistema de medição

Nas próximas seções se descreve cada bloco funcional do diagrama acima.

19

3.1: Dispositivo sob Ensaio

Utilizou-se uma topologia em forma de aro (coroa circular) para o circuito magnético,

como a fotografia mostra a Figura 3.2. No caso deste trabalho optou-se por utilizar a própria

lâmina sob ensaio como o circuito magnético.

Figura 3.2: Fotografia do dispositivo sob ensaio

Utilizando este formato para o circuito magnético, o campo magnético tem uma

distribuição espacial e vetorialmente comportada, o que é contrário, por exemplo, às

alterações significativas na direção do vetor do campo magnético no quadro de Epstein na

região de acesso nos vértices do quadro. Outra vantagem é simplicidade da determinação do

caminho médio magnético ml no toróide e é dada pela Equação 3.1 [11].

i

e

ie

m

R

R

RRl

ln

2 (3.1)

Neste trabalho foi utilizada uma lâmina, no formato de um aro, de espessura 3,3mm,

raio interno 0,8m e raio externo de 0,88m. Além disso, para que um campo magnético

pudesse ser imposto ao circuito magnético um enrolamento com 1000 espiras foi

confeccionado.

Como este dispositivo foi construído de modo que o circuito magnético seja a própria

lâmina sob ensaio, o enrolamento não foi distribuído por todo o perímetro, deixando arcos

sem enrolamentos para realizar as medições de campo.

20

3.2: Sensoriamento: Sensor Bobina-H

Existem várias métodos de mensurar campos magnéticos. Cada técnica apresenta

vantagens e desvantagens dependendo da aplicação a que se destinam. Entre todas estas

técnicas conhecidas, os sensores por indução são praticamente os únicos que podem ser

confeccionados pelo próprio usuário. Esta é uma grande vantagem deste tipo de sensor, pois

pode ser construído especificamente para a aplicação desejada, além de ter um menor custo.

Outra grande vantagem é a sua faixa de operação virtualmente ilimitada, tanto em amplitude

quanto em frequência [12].

Para apresentar o princípio de funcionamento do sensor bobina-H é conveniente

introduzir o conceito do sensor elementar. Constituído por apenas uma espira de material

condutor, o sensor elementar é o mais simples dos sensores de campo magnético por indução.

O fenômeno que descreve o funcionamento deste sensor é dado pela equação de Maxwell

t

HErot

0 (3.2)

ou seja, uma variação temporal do campo magnético H

, cria um campo elétrico E

rotacional

à direção do primeiro. A permeabilidade magnética é representada por 0 .

Se uma espira constituída por um material condutor for imersa em um campo

magnético )(tH

, o campo elétrico E

rotacional induzirá uma corrente elétrica ii na espira,

conforme a Figura 3.3.

Figura 3.3: Corrente induzida na espira devido a uma variação temporal do campo magnético

A circulação da corrente elétrica estabelecida na espira, por sua vez, cria um campo

magnético rotacional à direção do seu fluxo [3]. Este efeito é formalizado pela equação de

Maxwell (3.3) para baixas frequências.

21

JHrot i

(3.3)

Na equação (3.3), J

é a densidade superficial de corrente elétrica que percorre um condutor

de seção transversal fioS . A relação entre a corrente I e o módulo de J

é descrita pela

equação

fioS

IJ (3.4)

As duas equações de Maxwell (3.2) e (3.3) interagem, de maneira que a direção da

circulação da corrente induzida na espira seja tal que o campo magnético criado pela Equação

3.3 tenha sentido oposto ao campo magnético mensurado (externo). O sentido da corrente e do

campo magnético criado por ela são explicados pela “regra da mão direita” [3].

Ao interromper o circuito da Figura 3.3, a circulação da corrente )(tii dará lugar a uma

diferença de potencial )(tv estabelecida entre os terminais criados, como mostrado na Figura

3.4.

Figura 3.4: Tensão induzida nos terminais da espira interrompida

A circulação do campo elétrico E

, descrita matematicamente pela Equação 3.5 como

a integral de linha ao longo do perímetro L da espira, estabelece a relação com a tensão

induzida )(tv nos terminais do sensor.

)()( tvldtEL

(3.5)

Aplicando o Teorema de Stokes à integral da Equação 3.2, pode-se chegar à relação

entre a tensão )(tv induzida nos terminais da espira e o campo magnético H

.

S S

sdt

HsdErot

0 (3.6)

22

)(

0

SL S

sdt

HldE

(3.7)

onde S é a área interna da espira.

A partir das Equações 3.5 e 3.7, chega-se a Equação 3.8 que nos fornece a relação

generalizada entre a tensão induzida e o campo magnético

S

sdt

Htv

0)( (3.8)

Se o campo H

for homogêneo na área da espira, ou seja, que varie em amplitude

apenas na direção normal ao plano da espira e dependa somente do tempo, pode-se considerar

o seguinte

dt

Hd

t

H

(3.9)

A partir desta simplificação, a Equação 3.8 pode ser escrita como

S

dsdt

dHtv 0)( (3.10)

assim,

dt

dHStv 0)( (3.11)

A Equação 3.11 é a Lei de Faraday-Lenz escrita em termos do campo magnético. Esta

lei representa a resposta de um sensor constituído por uma única espira retangular.

A derivada do campo também é responsável por oferecer uma amplificação natural das

componentes harmônicas do campo magnético. Seja um campo )(tH dado pela Equação 3.12

...)52()32()12()( tfCsentfBsentfAsentH (3.12)

O sinal do sensor )(tv , de acordo com a Equação (3.11), é dado pela Equação (3.13). Cada

componente harmônica do sinal )(tv é multiplicada pelo inteiro que representa a ordem de sua

harmônica (1,3,5, etc).

...])52cos(5)32cos(3)12cos(1[2)( 0 tfCftfBftfAfStv (3.13)

23

Entretanto, quando se está interessado no campo magnético, faz-se necessária a

integração do sinal )(tv (Equação 3.14).

dttvS

tH )(1

)(0

(3.14)

Em virtude da baixa sensibilidade do sensor de uma espira, a amplitude do sinal de

tensão induzida )(tv é também pode ser muito baixa relativamente. Uma forma de aumentar a

sensibilidade do sensor, sem aumentar a área da espira, é utilizar vários sensores elementares

em série, configurando o que se conhece por bobina, sendo construída pelo enrolamento

contínuo do fio condutor sobre um suporte físico não-magnético. Desta forma a tensão

induzida nos terminais do sensor é multiplicada pelo número de espiras N ,

dt

dHSNtv 0)( (3.15)

O aumento do número de espiras melhora a sensibilidade do sensor, entretanto gera

capacitâncias parasitas distribuídas ao longo do enrolamento. O valor destas capacitâncias

depende de fatores construtivos das bobinas como: espessura do dielétrico do fio, distribuição

das espiras e a forma geométrica do enrolamento. Estas capacitâncias distribuídas podem ser

representadas por um único parâmetro concentrado, que é um capacitor entre os terminais da

bobina. O circuito da Figura 3.5 apresenta o modelo elétrico de uma bobina.

Figura 3.5: Modelo elétrico para a bobina-sonda

No diagrama esquemático acima, L é a indutância própria da bobina, R a resistência do

enrolamento e C representa a capacitância parasita. Esta capacitância altera a função de

transferência do sensor, acrescentando termos relacionados a frequência, caracterizada por

uma resposta de um filtro passa-baixas de segunda ordem cuja frequência de corte é dada por

LCfc

2

1 (3.16)

24

Portanto, a faixa de frequência do sensor é limitada pelos elementos parasitas próprios

do sensor.

3.2.1: Confecção de Sensores Bobina-H

Na medição da componente tangencial do campo magnético, o tipo de sensor por

indução mais utilizado é o sensor bobina-H. Este tipo de sensor é muito utilizado porque ele

possui um baixo custo e pode ser confeccionado manualmente, permitindo assim que os

sensores sejam otimizados para uma aplicação especifica.

Na confecção destes sensores algumas considerações devem ser feitas. Uma delas é em

relação ao suporte físico do sensor, que deve ser constituído de um material cuja superfície

seja lisa para facilitar o enrolamento do sensor. Neste trabalho foi escolhido o fenolite como

suporte físico do sensor por adequar-se com facilidade à formatação necessária aos núcleos

desenvolvidos. A Figura 3.6 mostra a geometria das bobinas desenvolvidas.

Figura 3.6: Geometria do Núcleo do Sensor

Dadas as pequenas dimensões geométricas do sensor, é necessário utilizar um número

relativamente grande de espiras para aumentar sua sensibilidade. Isto implica em um

enrolamento com várias camadas, as quais devido à disposição das espiras umas sobre as

outras, tornará a área uma variável de determinação imprecisa. Mas, pode-se estimar uma

seção média do sensor, dada por

)2

( eim

eelS

(3.17)

25

onde l é o comprimento efetivo do sensor; ie é a espessura do núcleo; ee é a espessura

externa da última camada. O erro proveniente do cálculo desta área pode ser corrigido a partir

de um processo de calibração dos sensores, que será descrito na próxima seção.

A confecção das bobinas-H utilizadas neste trabalho foi feita em uma bobinadeira

microcontrolada desenvolvida no GRUCAD [12]. A Figura 3.7 mostra uma fotografia de um

dos sensores construídos.

Figura 3.7: Fotografia de um sensor construído

O levantamento dos valores de indutância e capacitância dos sensores confeccionados

foi feito com um analisador de impedâncias BK Precision Bench LCR/ESR 889B Meter do

GRUCAD. A Tabela 3.1 mostra os parâmetros para os quatro sensores utilizados nos estudos

que serão apresentados no Capítulo 4.

Tabela 3.1: Dados dos Sensores

Sensor N esp mS [m²] L [µH] C [nF] R [Ω]

1 500 13,76x10-6

506,3 56,0 94,73

2 500 13,79x10-6

575,5 63,5 95,29

3 500 13,71x10-6

494,5 62,5 84,32

4 500 13,69x10-6

458,3 71,3 87,44

26

Um suporte foi desenvolvido e construído para manter os sensores fixos e alinhados na

posição desejada, pois erros devido ao posicionamento podem afetar a medição do valor

verdadeiro do campo. A Figura 3.8 mostra uma fotografia do suporte para os sensores.

Figura 3.8: Fotografia do suporte para os sensores

Com este suporte é possível comportar até cinco sensores empilhados, sendo que o

primeiro está em contato direto com a lâmina.

3.2.2: Aferição dos sensores

O processo de medição de uma grandeza física é inevitavelmente acompanhado de

erros de incertezas. Por este motivo, a medida de uma grandeza física também é chamada de

estimativa, já que o “valor real” não pode ser conhecido.

No desenvolvimento de uma instrumentação, procura-se descobrir e examinar as

possíveis fontes de erros com o objetivo de atenuar estes efeitos. Como nem todas as fontes de

erros podem ser determinadas procura-se calibrar o instrumento de medição em relação a um

padrão, de maneira que esta incerteza seja estimada em relação ao padrão. Existem várias

maneiras de calibrar um equipamento ou instrumento de medida. Neste trabalho será feita a

aferição a partir da comparação entre um valor fornecido por um equipamento tomado como

referência e o valor medido pelos sensores.

O erro relativo percentual entre as duas medidas foi escolhido para a realização da

aferição, pois apesar de simples, fornece uma avaliação consideravelmente satisfatória sobre a

27

qualidade das medidas. A Equação 3.18 é a expressão do erro relativo percentual, onde x é o

valor da medida feita pelo instrumento a ser avaliado e x é o valor adotado como referência.

100%

x

xxE (3.18)

Os sensores foram aferidos por meio de um campo magnético de referência criado no

interior de um solenóide, que possuí um comprimento muito maior que o raio, garantindo

assim a homogeneidade do campo magnético em seu interior [3]. O solenóide é alimentado

por um gerador de funções, permitindo assim, a alteração da amplitude e frequência do campo

magnético gerado. Em Rigoni [12] são detalhadas mais informações sobre a construção do

solenóide.

A calibração foi feita ajustando a amplitude do campo magnético para 125 A/m, sendo

um valor de amplitude de campo típica na superfície de uma lâmina de aço magnetizada na

região do joelho. A Figura 3.9 apresenta as formas de ondas adquiridas do processo de

calibração dos sensores.

Figura 3.9: Calibração dos Sensores

Devido à linearidade destes sensores, o fator de ajuste necessário para aferi-los pode

ser determinado em qualquer faixa de frequência (neste caso 60Hz), sendo que seu valor não

será modificado nas demais faixas.

A Tabela 3.3 apresenta os valores calculados do erro relativos calculados através da

Equação 3.23.

28

Tabela 3.2: Erros Relativos Percentuais dos Sensores

Sensor Valor de Referência [A/m] Valor medido [A/m] Erro Percentual %

1 125,00 125,95 0, 760

2 125,00 124,13 0, 696

3 125,00 123,83 0, 936

4 125,00 120,55 3,56

Os sensores apresentaram um baixo erro relativo. O único sensor que apresentou um

erro maior que 1% foi o Sensor 4. Mesmo assim, o erro foi inferior a 4%.

3.3: Condicionamento de Sinais

A tensão induzida nos terminais do sensor bobina-H é na verdade uma composição de

vários sinais de tensão, sendo eles sinais de informação, sinais de ruídos internos e próprios

dos equipamentos, e sinais de interferência externa [12].

Conhecendo, ou estimando, algumas características básicas dos sinais de informação,

tais como espectro de frequência, amplitude do sinal e referência, é possível projetar filtros e

amplificadores para que os sinais de ruído e interferência sejam atenuados ou suprimidos,

restando assim o sinal de informação.

O diagrama de blocos a seguir fornece uma visão geral do sistema de medição

desenvolvido para condicionar o sinal dos sensores.

Figura 3.10: Diagrama de Blocos resumido do sistema de aquisição

Nas próximas seções se descreve cada bloco funcional do diagrama mostrado na

Figura 3.9.

29

3.3.1: Filtragem

A etapa de filtragem consiste em um filtro passa-baixas passivo e diferencial. A

função do filtro é atenuar as interferências de alta frequência presentes no ambiente antes do

estágio de amplificação. Estas componentes de alta frequência podem saturar os

amplificadores de instrumentação, caso não sejam suprimidas ou pelo menos atenuadas.

O filtro da Figura 3.11 é uma topologia constituída de uma rede resistor-capacitor

(RC) simétrica, com um ponto de referencia central, de primeira ordem, com atenuação de

20dB por década para sinais de diferenciais e de modo comum. Os componentes utilizados

neste filtro devem ser componentes de precisão, pois a assimetria entre as constantes de tempo

de cada braço (que podem ocorrer caso os valores dos componentes sejam diferentes)

conduzirão a uma limitação da taxa de rejeição de modo comum (CMRR Common-Mode

Rejection Ratio) do circuito. Mesmo com a possível diminuição do CMRR devido à precisão

dos componentes, ainda esta configuração é mais vantajosa do que utilizar um filtro do tipo

diferencial com alguma técnica de conversão do sinal diferencial em um sinal de terminação

simples, e depois filtrá-lo utilizando topologias convencionais.

Figura 3.11: Filtro Passa-baixas passivo diferencial

3.3.2: Amplificação

Como discutido na Seção 3.2, os valores de tensão induzida na saída dos sensores são

relativamente de baixas amplitudes, na ordem de nano a mili volts. Devido a isto, faz-se

necessário um estagio de amplificação do sinal com elevados valores de ganho e também que

a relação sinal/ruído torne-se suficientemente alta na entrada do estágio de amostragem.

Assim, a escolha do amplificador deve levar em consideração alguns pontos importantes, tais

30

como entrada diferencial, rejeição de modo comum [12,15], alta impedância de entrada e uma

grande largura de banda para ganhos elevados. Como já utilizado em [12], optou-se em

escolher um amplificador de instrumentação.

O amplificador de instrumentação é uma estrutura composta por três amplificadores

operacionais (Figura 3.12), com várias vantagens em relação aos amplificadores operacionais

convencionais. Essa arquitetura permite a fabricação de circuitos integrados com tolerâncias

de 0,01% nos resistores de realimentação, fazendo com que a rejeição de modo comum seja

muito maior do que nos amplificadores operacionais comuns.

Figura 3.12: Diagrama Esquemático de um amplificador de instrumentação

Os amplificadores operacionais A1 e A2 da Figura 3.12 estão conectados na

configuração de seguidores de tensão que atribuem ao circuito com uma alta impedância de

entrada, da ordem de Giga Ohms. Impedâncias de entrada desta magnitude impedem o

carregamento elétrico da fonte de sinal. Por último, o amplificador operacional A3 é um

amplificador diferencial, que tem como função amplificar a diferença de tensão da saída dos

amplificadores A1 e A2. Em amplificadores de instrumentação comerciais, o resistor RG é

colocado externamente para que o ganho do amplificador, dado pela Equação 3.23, possa ser

ajustado.

1

221R

R

R

RG

G

F (3.19)

O componente utilizado foi o INA118P da Texas Instruments [14]. Este circuito

integrado (CI) atende a todas as especificações, com exceção da largura de banda para ganhos

elevados. Porém, como neste trabalho nenhum campo com mais de 100 Hz será mensurado, a

largura de banda não afeta as medições.

31

A Figura 3.13 mostra uma fotografia da fonte de alimentação e do dispositivo que

contém os amplificadores, ambos construídos neste trabalho.

Figura 3.13: Fotografia dos amplificadores desenvolvidos no trabalho

3.4: Aquisição de Dados

Neste trabalho, adquirir dados consiste em converter o sinal analógico do sensor em

um sinal digital que possa ser interpretado por um software. A aquisição é dada por um

processo denominado de amostragem [17] que é dividida em dois processos: discretização e

quantização.

A discretização é feita por um amostrador, que recolhe amostras em intervalos de

tempos iguais. A frequência de amostragem é o inverso do período de amostragem, ela indica

quantas vezes por segundo o sinal é amostrado. Esta frequência deve obedecer ao Teorema da

Amostragem [17]. Para um sinal de limitado em M Hz, a menor frequência de amostragem

que se pode ter é o dobro da largura ao qual o sinal é limitado

Mf s 2 (3.1)

onde sf é a freqüência de amostragem.

Caso esta condição não for respeitada ocorrerá o fenômeno de recobrimento espectral,

onde componentes de frequências superiores à metade da frequência de amostragem se

sobrepõem ao espectro do sinal original, distorcendo o mesmo [17]. Neste trabalho utilizou-se

32

uma frequência de amostragem muito superior à frequência dos sinais medidos, garantindo

que não haja recobrimento espectral.

A quantização do sinal é a maneira de dividir a amplitude do sinal analógico em vários

níveis. O número de níveis depende da resolução do ADC (Analog Digital Converter)

(número de bits utilizado para representar o valor da amostra) e da faixa dinâmica (valores

máximos e mínimos de tensão) de entrada do ADC.

A menor variação do sinal analógico que um ADC pode detectar é chamada de largura

de código, definida por

R

DC

2 (3.20)

onde C é a largura de código, D é a faixa dinâmica de entrada do ADC e R é o número de

bits de resolução do amostrador. Quanto menor a largura de código, melhor o sinal analógico

será representado após a amostragem.

Após a discretização e a quantização, o sinal é armazenado em um buffer de memória,

e está disponível para o tratamento numérico.

A Tabela 3.3 apresenta os dados dos ADC da National Instruments utilizados neste

trabalho.

Tabela 3.3: Dados dos ADCs

ADC Resolução Frequência de Amostragem

PCI-MIO-16E-1 12 bits 1,25 MS/s

USB 6259 16 bits 1,25 MS/s

3.5: Tratamento Numérico de dados

O tratamento numérico pode ser feito de algumas maneiras, as principais são o uso de

microcontroladores (no caso de um sistema único de aquisição) e por meio de softwares.

Neste trabalho foi feita a opção pelo uso do software LabVIEW para o tratamento numérico

dos dados.

33

O LabVIEW (Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench) é uma

linguagem de programação gráfica (por blocos) criada pela empresa Norte-Americana

National Instruments. A programação é feita de acordo com o modelo de fluxo de dados, o

que oferece a esta linguagem vantagens para a aquisição de dados e para a manipulação dos

mesmos.

Os programas em LabVIEW são chamados de instrumentos virtuais ou, VIs (Virtual

Instruments). Os VIs são compostos pelo painel frontal, contendo a interface com o usuário e

pelo diagrama de blocos, onde é feito o código propriamente dito. Em um VI, podem ser

implementadas várias funções de forma versátil que, usando a linguagem de programação

gráfica (linguagem G), pode simular equipamentos de medição, controlar equipamentos, fazer

geração e aquisição de sinais. Como o VI é um software, ele pode ser programado para vários

usos, sendo necessário apenas um hardware compatível para que se possam fazer as mais

diversas atividades de aquisição e geração de sinais elétricos.

O programa final não é processado por um interpretador, que reduziria sua velocidade

de execução, mas sim compilado, o que permite que programas feitos no LabVIEW sejam

executados tão rápidos quanto outros programas feitos em linguagens de alto nível.

Assim, para o tratamento numérico dos dados, desenvolveu-se neste trabalho um VI. A

Figura 3.14 apresenta o fluxograma do software (VI) desenvolvido.

34

Figura 3.14: Fluxograma geral do software implementado em LabVIEW

35

Como apresentado no Capítulo 3, o sinal da tensão induzida no terminal dos sensores é

uma função da derivada do campo magnético. Sendo assim, para obter o campo magnético é

necessário fazer uma integração do vetor de pontos adquiridos. A primeira etapa do

tratamento de dados é atenuar ao máximo as tensões de offset introduzidas pelos circuitos de

condicionamento de sinais e pelo ADC. Esta componente contínua pode causar um erro

bastante significativo no cálculo do valor médio do sinal. Para contornar este problema, o

valor médio do vetor adquirido da tensão (vetor da forma de onda da tensão) é calculado e

decrementado do mesmo a componente contínua do sinal.

Posteriormente a etapa de integração, a forma de onda do campo magnético é

apresentada, conforme mostra a Figura 3.15. Esta figura apresenta o Painel Frontal do VI

desenvolvido neste trabalho. Valores de pico e RMS, bem como a frequência fundamental do

campo mensurado, são calculados e também apresentados no painel frontal. Todos estes

cálculos são feitos em tempo real. A representação digital do sinal adquirido pode ser salva

em arquivos de formato de texto para uma posterior análise dos dados.

Figura 3.15: Painel Frontal do Instrumento Virtual utilizado

36

Capítulo 4: Resultados

Neste capítulo são apresentados resultados de medições utilizando a instrumentação

desenvolvida no trabalho.

A fim de mostrar o funcionamento do sistema, alguns ensaios preliminares foram

realizados medindo o campo magnético externo a um transformador a vazio (vide Figura 4.1).

Figura 4.1: Fotografia do ensaio de medição do campo magnético externo ao transformador

A corrente de magnetização do transformado (Figura 4.2) foi medida utilizando um

osciloscópio e o campo magnético foi medido utilizando o sistema desenvolvido no trabalho.

Figura 4.2: Forma de onda da corrente de magnetização do transformador

37

Figura 4.3: Forma de onda do campo magnético externo ao transformador

Analisando qualitativamente as formas de onda da Figura 4.2 e da Figura 4.3, percebe-

se que as formas de onda são semelhantes, conforme o esperado, mostrando assim que o

sistema pode medir satisfatoriamente o campo magnético.

A Figura 4.6 mostra a montagem do aparato experimental utilizado durante os ensaios

de medição da componente tangencial de campo magnético. O enrolamento foi alimentado

por um variador de tensão e a corrente foi monitorada por um amperímetro e um osciloscópio.

De posse do valor de pico da corrente pode-se calcular o valor de pico do campo magnético

imposto ao circuito magnético através da equação

p

m

p

p il

NH (4.1)

onde pN é o número de espiras do primário; ml é o caminho médio magnético; pi é a

corrente de pico injetada no enrolamento.

38

Figura 4.4: Fotografia da montagem do aparato experimental

Procurou-se manter a mesma condição operacional durante o ensaio. A Figura 4.5

mostra a forma de onda da componente tangencial de campo magnético medida. O valor de

pico do campo magnético calculado por meio da corrente elétrica foi de 536,41 A/m e o valor

de pico medido a partir da instrumentação foi de 50,65 A/m. Nota-se que o valor está abaixo

do esperado. Um dos fatores a que se pode atribuir a diferença entre o valor calculado pela

corrente e o valor medido com a instrumentação é a relação entre a resistência e a reatância

indutiva do circuito magnético. Neste caso a indutância reativa de 21,11Ω (em regime

senoidal a 60Hz) não é suficientemente maior que a resistência de 6Ω, fazendo com que a

forma de onda do campo magnético não tenha o comportamento típico de um circuito

predominantemente indutivo.

39

Figura 4.5: Forma de onda da componente tangencial de campo magnético.

Outro ensaio foi realizado (Figura 4.6) utilizando um circuito magnético constituído de

32 lâminas, cada lâmina com 250mm de comprimento, 30mm de largura e 0,5mm de

espessura, dispostas na mesma configuração de um quadro de Epstein. O circuito magnético

também possui dois enrolamentos: um de 700 espiras no primário e outro de 300 espiras no

secundário.

Figura 4.6: Fotografia da montagem do aparato experimental

Procurou manter a mesma condição operacional durante este ensaio. Os resultados

foram obtidos com um campo magnético praticamente constante nos ensaios de

aproximadamente 170 A/m. A Figura 4.7 mostra a forma de onda da corrente de alimentação

40

do circuito e a Figura 4.8 a forma de onda da componente tangencial de campo magnético. O

valor de pico calculado por meio da corrente elétrica é de 171,27. O valor de pico do campo

magnético medido foi de 168,55 A/m, tendo uma diferença de 1,59%. Percebe-se que há um

problema de simetria em relação ao eixo dos tempos na forma de onda do campo medido. Este

problema pode ser causado pela ausência de um casamento de impedâncias ideal nos circuitos

de condicionamento de sinais.

Figura 4.7: Corrente de alimentação do circuito magnético

Figura 4.8: Formas de onda da componente tangencial de campo magnético

41

Capítulo 5: Considerações Finais e Perspectivas

O objetivo principal deste trabalho de conclusão de curso foi o desenvolvimento de

uma instrumentação para medição da componente tangencial de campo magnético. Para

atingir este objetivo, o trabalho englobou: construção de um circuito magnético onde as

medições foram feitas; a confecção de sensores de campo magnético por indução do tipo

bobina-H; desenvolvimento de circuitos eletrônicos para o condicionamento de sinais; e ainda

a implementação de softwares, na plataforma LabVIEW, tratamento numérico dos dados

provenientes dos sensores.

Os sensores de campo magnético por indução demonstraram que, apesar de possuírem

um principio de funcionamento simples, apresentam algumas características pouco discutidas

na literatura. Neste estudo, a amplitude do sinal do sensor é relativamente baixa, havendo

poucos trabalhos abordando pontos de operação semelhantes em trabalhos publicados. Neste

sensor, há uma amplificação natural das componentes harmônicas do campo magnético. No

que diz respeito à confecção dos sensores, devido às pequenas dimensões geométricas, um

elevado número de espiras deve ser utilizado para aumentar a sensibilidade do sensor. Este

fato implica em um enrolamento com várias camadas, o que pode tornar a determinação da

área do sensor imprecisa. Porém, esta imprecisão pode ser corrigida a partir de um processo

de calibração dos sensores, como a realizada no trabalho.

A baixa amplitude do sinal dos sensores e o ambiente de medições com muitos ruídos

proporcionam uma baixa relação sinal-ruído na saída do sensor. Em uma etapa de

condicionamento de sinais, por meio de circuitos eletrônicos, utilizando topologias simples e

eficazes de filtros e amplificadores, uma melhor relação sinal-ruído foi proporcionada. Os

resultados finais mostraram que estes circuitos eletrônicos necessitam ainda serem

aprimorados, pois eles apresentaram uma falta de simetria que pode ter sido causada pela falta

de um casamento de impedâncias dos circuitos. Sob este aspecto um estudo mais aprimorado

sobre estes circuitos deve ser feito a fim de melhorar o desempenho da instrumentação.

O sistema de aquisição e tratamento dos dados utilizando a plataforma LabVIEW é

muito vantajoso. Pois, através de ADCs (Analog-Digital Converters) em placas de aquisição

feitas pela mesma empresa do LabVIEW, os códigos do software de aquisição e tratamento

42

numérico tornam-se muito simples, reduzindo assim o tempo gasto e proporcionando ao

usuário uma interface bastante pratica e intuitiva.

Os resultados apresentados no Capítulo 4 mostram que a instrumentação desenvolvida

neste trabalho de conclusão de curso é capaz de medir satisfatoriamente a componente

tangencial de campo magnético. Porém melhorias podem ser feitas nas partes que compõem a

instrumentação.

5.1: Perspectivas

A seguir algumas propostas para melhorias e continuidade deste trabalho:

Melhoria das técnicas de confecção dos sensores de campo magnético,

principalmente para aperfeiçoar a precisão em campos de baixa amplitude;

Estudos sobre os circuitos eletrônicos: casamento de impedâncias, novas

topologias de amplificação e filtragem e diminuir o tamanho dos circuitos

analógicos, por exemplo, utilizando tecnologia SMD;

Fazer o tratamento numérico em microcontroladores, assim dispensado o uso

de um computador, dando uma maior mobilidade e consequentemente

diminuindo o tamanho do instrumento;

Estudo de blindagem eletromagnética dos sensores, pois os mesmos podem

apresentar um nível considerável de interferência em suas medidas;

Estudo de posicionamento dos sensores, pois a variação na posição dos

sensores na lâmina de aço influencia na estimação do campo magnético;

Estudo acerca da influência de correntes induzidas na lâmina de aço nos

valores medidos da componente tangencial do campo magnético.

43

Capítulo 6: Referencias Bibliográficas

[1] Silva, P. A. Bancada para Ensaios de Materiais Ferromagnéticos em Chapa única sob Campos

Rotacionais. Florianópolis 2007.

[2] Batistela, N. J. Caracterização e Modelagem Eletromagnética de Lâminas de Aço ao Silício.

Florianópolis, 2001.

[3] Bastos, J.P.A. Eletromagnetismo para Engenharia: Estática e Quase-estática. 2ª Edição.

Editora UFSC, 2008.

[4] BERTOTTI, G. General Properties of Power Losses in Soft Ferromagnetic Materials. IEEE

Transactions on Magnetics, v. 39, n.2, março 2003.

[5] SIEVERT, J. Recent Advances in the Onde and Two-Dimensional Magnetic Measurement

Technique for Eletrical Sheet Steel. IEEE Transactions on Magnetics, v. 26, n. 5, p. 2553-2558, setembro

1990.

[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Produtos Laminados Planos de

Aços para Fins Elétricos - verificação das propriedades, NBR 5161. 1996.

[7] Tanaka, T.; Ishibahara, Y.; Nakaji, M.; Todaka, T. Comparision between the H-coil method

and the magnetizing current method for the single sheet tester.

[8] Tumanski, S. A mult-coil sensor for tangencial magnetic field investigations.

[9] ENOKIZONO, M.; SUZUKI, T.; SIEVERT, J; XU, J. Rotational Power Loss of Silicon Steel

Sheet. IEEE Transactions on Magnetics, v. 26, n. 5, p. 2562-2564. Setembro, 1990.

[10] SADIKU, M.N.O. Elementos de Eletromagnetismo. 3ª Edição. Editora Bookman. 2004.

[11] STAUDT, Tiago. Estudo de Transformadores de Corrente Utilizados em Instrumentação.

Florianópolis, 2009.

[12] RIGONI, M. Desenvolvimento e Aplicações de Sensores de Campo Magnético por Indução.

Florianópolis, 2009.

[13] IEEE Std 1308-1994. Recommended Practice for Instrumentation: Specifications for

Magnetic Flux Density and Electric Field Strength Meters - 10Hz to 3kHz. IEEE, 1995.

[14] INA118 - Precision, Low Power, Instrumentation Amplifier, tech. rep., Texas Instruments,

April 1998.

[15] T.L Santos. Desenvolvimento de um Sistema Embarcado para medição de corrente.

Florianópolis, 2010.

44

[16] TLC04/MF4A-50, TLC14/MF4A-100 Butterworth Fourth-order Low-pass Switched-

Capacitor Filters, tech. rep., Texas Instruments, March 1995.

[17] B.P. Lathi, Sinais e Sistemas Lineares. Porto Alegre: Bookman, segunda ed., 2007.