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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAO
DEPARTAMENTO DE EDUCAO, POLTICA E SOCIEDADE
GUSTAVO CORDEIRO CURTO
LUIZ CARLOS CONDE JUNIOR
NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES
STANLEY SULKE BARBOSA
THAS BATISTA LOVATE
DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA
OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
VITRIA ES
2014
-
GUSTAVO CORDEIRO CURTO
LUIZ CARLOS CONDE JUNIOR
NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES
STANLEY SULKE BARBOSA
THAS BATISTA LOVATE
DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA
OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade do Centro de Educao da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Vilmar Jos Borges
VITRIA ES
2014
-
GUSTAVO CORDEIRO CURTO LUIZ CARLOS CONDE JNIOR
NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES
STANLEY SULKE BARBOSA
THAS BATISTA LOVATE
DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA
OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade do Centro de Educao da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em Geografia.
Aprovado em ___________________ de 2014.
COMISSO EXAMINADORA
___________________________________________ Prof. Dr. Vilmar Jos Borges - Orientador
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO
___________________________________________ Prof. Dr. Marisa Terezinha Rosa Valladares
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO
___________________________________________ Prof.
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AGRADECIMENTOS
Gostaramos de agradecer a instituio Universidade Federal do Esprito Santo
UFES, da qual fazemos parte como estudantes, pela possibilidade de exerccio do
nosso curso em plenitude e, neste momento, o Trabalho de Concluso de Curso
(TCC) em Geografia.
Aos professores e professoras do departamento de Geografia-UFES, que durante
todo o decorrer do curso, nos ensinaram, motivaram, inspiraram, guiaram, criticaram,
informaram, e principalmente, formaram, formaram professores(as) e cidados
conscientes e crticos do seu cotidiano, da sua realidade. Formaram, ao mesmo
tempo, leitores, no s da sua rea de estudo, mas, tambm de reas afins, pois os
conhecimentos esto imbricados e a realidade mutvel, com isso, uma viso crtica
e atenta se torna imprescindvel.
professora Marisa Valladares, que num encontro com alguns alunos que
elaboraram este trabalho, durante o meio do curso de geografia, fez com que estes,
que j estavam com a ideia de trabalhar com propaganda futuramente em seu
TCC, tivessem certeza daquilo que queriam.
Ao professor Vilmar Borges, pela orientao em aula e extra aula, por se mostrar
disponvel em diversos horrios, sempre preocupado conosco enviando e-mails,
entrando em contato, facilitando nosso trabalho. Agradecemos, tambm, aos
conselhos que nos foram dados no s dentro, mas, tambm, fora da sala de aula,
sobre os mais diversos assuntos que so, para ns, de muita valia. No podemos
esquecer-nos de sua preocupao incansvel em relao postura que devemos ter,
se queremos formar indivduos para o exerccio da cidadania plena, em nossa
prtica docente. Professor Vilmar, cujo nome, talvez por rimar com mar nos ajudou
a enxergar longe, vislumbrar todo o horizonte de possibilidades dentro de um
caminho.
Agradecemos as escolas da rede estadual de Vitria-ES, seu corpo pedaggico, sua
direo e, sobretudo, a seus professores e professoras, que, generosos(as), nos
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ajudaram na coleta de dados para nossa pesquisa e agiram sempre, de maneira a
facilitar nosso trabalho.
Agradecemos a todos os alunos que tivemos e teremos contatos, pois a razo
primordial da nossa pesquisa so eles, uma vez que, objetivamos, principalmente,
que nosso trabalho contribua na formao de alunos crticos e cidados autnomos
a partir do ensino de geografia nas escolas.
Por fim, agradecemos aos nossos familiares, amigos(as), namorados (as), affairs,
etc. Pois sem eles, no haveria estrutura para que este trabalho prosseguisse e
chegasse a cabo.
Gostaramos de ressaltar que, nenhum dos pargrafos acima (dentro de
Agradecimentos) podem ser vistos isolados, ou em comparao, pois este
trabalho, tal como foi feito e concludo, s o foi, com ajuda de todos os supracitados
enlaados, caso contrrio, o resultado seria outro.
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Corro e lano um vrus no ar
Sua propaganda no vai me enganar
(Cano A propaganda do grupo Nao Zumbi)
Diante de tanta mentira nesta guerra nossa de todos os dias, me
lembrei de um episdio curioso na vida de Proust (pra quem no sabe,
um escritor francs, um pouco mais divertido do que tudo o mais):
Durante a primeira guerra mundial ele lia diariamente, nos jornais
parisienses, notcias das vitrias francesas sobre os alemes.
E acreditava, claro. At o dia em que se deu conta de que cada vitria
francesa era em uma cidade mais perto de Paris.
(Guerra guerra Millr Fernandes)
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo socializar a potencialidade das propagandas como
recurso didtico, no ensino de Geografia e na formao de alunos crticos. Para
tanto, parte-se de uma coletnea, que explora e aponta algumas maneiras
alternativas de sua utilizao no processo de ensino-aprendizagem.
Visando subsidiar, teoricamente, a pesquisa, procedemos a um levantamento terico
acerca da histria do ensino de geografia no Brasil, enfatizando a sua importncia
para a compreenso da complexibilidade do contexto atual, complexidade esta que
apontada por Santos (2000). Autores como Valladares (2000) e Cerri (2005) se
tornaram os pilares tericos sobre os quais buscou-se compreender e evidenciar a
importncia e potencialidade das propagandas no ensino.
Como metodologia de pesquisa, na coleta de dados empricos, utilizou-se da
aplicao de questionrios aos professores de Geografia, atuantes na rede estadual
de ensino de VitriaES, no intuito de verificar se e como utilizam as propagandas
como recurso didtico-metodolgico.
Realizou-se, tambm, a elaborao de algumas propostas de utilizao de
propagandas nas aulas de geografia.
Esses procedimentos nos possibilitaram produzir, a ttulo de contribuies, uma
coletnea que apresenta algumas opes de prticas de utilizao das propagandas
no ensino, que podem ter seu contedo utilizado na compreenso de contedos
geogrficos.
Conclui-se que reavaliar, refletir e reestruturar a prtica docente so aes muito
importantes no contexto escolar e que as propagandas podem contribuir no
processo de formao da conscincia crtica-cidad dos alunos.
Palavras-chave: propagandas; criticidade; prtica docente; ensino de
geografia.
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ABSTRACT
This work aims to socialize the potentiality of the advertisement as a teaching
resource in the teaching of Geography and the formation of critical students. So, we
start from a collection that explores and points out some alternative ways of its use in
the teaching-learning process.
Aiming to support the research, we proceededa theoretical survey on the history of
geography teaching in Brazil, emphasizing its importance for understanding the
complexity of the current context. This complexity is pointed by Santos (2000).
Authors like Valladares (2000) and Cerri (2005) became the theoretical pillars on
which we sought to understand and highlight the importance and the potential of
advertisements in teaching.
As a research methodology, in the collection of empirical data, we used the
questionnaires to teachers of Geography, working in state schools in Vitria-ES, in
order to verify whether and how they use advertisements as didactic-methodological
resource.
Also, we realize the development of some proposals for use of advertisements in
geography lessons.
These procedures allowed us to produce by way of contributions, a collection that
features some practical usability options of teaching advertisements, which may have
your content used to understanding the geographic contents.
We conclude that reevaluate, reflect and restructure the teaching practice are very
important actions in the school context and that advertisements can contribute to the
process of formation of critical citizen students.
Keywords: Advertisements; criticality; teaching practice; geography education.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1. Propaganda da FedEx, empresa internacional de entrega ............................ 23
Figura 2. Propaganda de absorvente nica, que destaca os benefcios de seu uso
durante o perodo menstrual ......................................................................................... 32
Figura 3. Propaganda da Coca-Cola, com o lema: abra a felicidade ......................... 33
Figura 4. A propaganda da Devassa compara um de seus novos produtos mulher
negra ............................................................................................................................ 33
Figura 5. Propaganda do chocolate Baton, incitando o seu consumo .......................... 36
Figura 6. Imagem de um trecho da propaganda televisiva da empresa Amanco
demonstrando uma paisagem da Venezuela ............................................................... 37
Figura 7. Propaganda do carro 147, lanado pela empresa Fiat em 1976 .................... 40
Figura 8. Pgina inicial do portal UOL .......................................................................... 68
Figura 9. Trecho da propaganda 1 Uma hora volta pra voc ................................... 71
Figura 10. Trecho da propaganda 2 Love story in Milk ............................................ 71
Figura 11. Trecho da propaganda 3 O Novo Refrigerador Ecotecnolgico
Panasonic .................................................................................................................... 71
Figura 12. Propaganda de condominio em Jornal.. ....................................................... 76
Figura 13. Propaganda de automveis em revista. ....................................................... 78
Tabela 1. Distribuio dos meios utilizados ................................................................................. 59
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1. Nveis de ensino de atuao dos professores de Geografia nas Escolas
Estaduais de Vitria-ES ....................................................................................................................... 52
Grfico 2. Formao/titulao dos professores de Geografia nas escolas estaduais
de Vitria-ES ........................................................................................................................................... 53
Grfico 3. Situao funcional dos professores de Geografia nas escolas estaduais de
Vitria-ES ................................................................................................................................................ 54
Grfico 4. Tempo de experincia dos professores de Geografia nas escolas
estaduais de Vitria-ES ...................................................................................................................... 54
Grfico 5. Conhecimento sobre trabalho/experincia com propagandas dos
professores de Geografia das escolas estaduais de Vitria-ES ............................................. 56
Grfico 6. Utilizao de propaganda pelos professores de Geografia nas escolas
estaduais de Vitria-ES ...................................................................................................................... 57
Grfico 7. Frequncia de utilizao de propaganda pelos professores de Geografia
nas escolas estaduais de Vitria-ES .............................................................................................. 57
Grfico 8. Meios utilizados pelos professores de Geografia nas escolas estaduais de
Vitria-ES Nmero de vezes em que apareceram nos questionrios .............................. 59
Grfico 9. Frequncia de utilizao de propaganda pelos professores de Geografia
nas escolas estaduais de Vitria-ES ............................................................................................. 60
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LISTA DE MAPAS
Mapa 1. Localizao das escolas estaduais na cidade de Vitria-ES .................................. 45
Mapa 2. Regionalizao de Vitria-ES e localizao das escolas estaduais ..................... 48
Mapa 3. Quantidade de questionrios recolhidos por escola ................................................ 50
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LISTA DE SIGLAS
CEEJA - Centro Estadual de Educao de Jovens e Adultos
DIT - Diviso Internacional do Trabalho
EEEFM Escola Estadual de Ensino Fundamental e Mdio
EEEM Escola Estadual de Ensino Mdio
EJA - Ensino de Jovens e Adultos
FAPESP - Fundao de Apoio Pesquisa do Estado de So Paulo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
LDB - Lei de Diretrizes Bases da Educao Nacional
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
SEDU - Secretaria de Educao do Esprito Santo
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SUMRIO
INTRODUO ........................................................................................................................... 15
CAPTULO I O CONTEXTO ATUAL E O USO DE PROPAGANDAS NO ENSINO
DE GEOGRAFIA ........................................................................................................... 17
1.1. Ensino e desenvolvimento da Geografia Escolar no Brasil ............................... 17
1.2. Geografia crtica escolar no Brasil ..................................................................... 19
1.3. Ser crtico ... ..................................................................................................... 22
1.4. A importncia da criticidade em tempos de globalizao .................................. 23
1.5. Conceituao de propaganda e publicidade ..................................................... 27
1.6. A propaganda .................................................................................................... 29
1.6.1. A propaganda como fbula ............................................................................ 31
1.6.2. A propaganda como perversidade .................................................................. 33
1.6.3. A propaganda como possibilidade .................................................................. 36
CAPTULO II PESQUISA EMPRICA E ANLISE DE DADOS ................................ 43
2.1. Metodologia da pesquisa emprica: desenhando caminhos .............................. 43
2.2. O universo da pesquisa: delimitando o campo de pesquisa .............................. 44
2.3. Coleta de dados: garimpando informaes ....................................................... 47
2.4. O perfil dos professores .................................................................................... 51
2.4.1. Nvel de atuao .............................................................................................. 51
2.4.2. Formao ......................................................................................................... 52
2.4.3. Experincia ....................................................................................................... 53
2.5. Anlise e discusso dos dados ........................................................................ 55
2.5.1. Contato com a relao propaganda e ensino ................................................... 55
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2.5.2. Prtica de utilizao .......................................................................................... 57
2.5.3. Meios de utilizao ........................................................................................... 58
2.5.4. Aproveitamento na utilizao ............................................................................. 60
2.5.5. A no-utilizao .................................................................................................. 61
CAPTULO III POR UMA OUTRA PROPAGANDA - PROPOSTAS DE
UTILIZAO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................... 63
3.1. Internet ................................................................................................................... 64
3.1.1. Proposta de atividade prtica .............................................................................. 68
3.2 Televiso ................................................................................................................. 69
3.2.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 70
3.3. Jornal...................................................................................................................... 73
3.3.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 75
3.4. Revista ................................................................................................................... 77
3.4.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 77
3.5. Livro Didtico .......................................................................................................... 79
3.5.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 80
3.6. Outdoor .................................................................................................................. 81
3.6.1. Atividade proposta com aula de campo............................................................... 83
CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 85
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................. 87
APNDICES ................................................................................................................. 92
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15
INTRODUO
No atual momento, a mdia exerce grande influncia na formao de costumes,
comportamentos e convices da sociedade. Nesse contexto, os diversos atores
sociais se utilizam dessa influncia para vender cada vez mais suas ideias por meio
das propagandas. Para Silva e Santos (2009)
Ela surge como um novo fenmeno que invade a todos, que arquiteta, numa sociedade midiada, uma cultura miditica. A cultura da mdia vigente na sociedade se aspira dominante, estabelecendo formas e normas sociais, fazendo um grande nmero de pessoas enxergar o mundo por suas lentes, seus vieses. Utilizada como instrumento de manipulao a servio de interesses particulares, reordena percepes, faz brotar novos modos de subjetividade, o que trs vantagens e/ou desvantagens, tanto no aspecto individual como no
aspecto social (p.2).
Nesse sentido, estando as diversas propagandas to presentes no cotidiano dos
alunos, veiculadas por meio da televiso, outdoors, internet, revistas, jornais, rdio
etc., que visualiza-se, tambm, uma relevante possibilidade que elas nos oferecem,
no sentido de explorar sua utilizao, de maneira crtica e auxiliar ao ensino da
Geografia no contexto escolar.
Pensar em sala de aula pensar na diversidade e, portanto, necessrio que haja
uma diversificao dos recursos didticos no processo de aprendizagem, pois nem
todos aprendem da mesma forma. Dessa forma, a prtica reflexiva deve ser
constante no cotidiano do professor. E as propagandas apresentam-se como uma
forma diferenciada e prazerosa de ler o mundo.
Destaca-se, de imediato, a percepo acerca da necessidade de se trabalhar com
os professores atuantes na Educao Bsica, o potencial da utilizao das
propagandas no ambiente escolar. Isso pode fornecer-lhes uma nova possibilidade
de recurso didtico, ferramentas que so muito importantes quando se trata de
entender e desvendar as perversidades que se instalam no momento atual de
globalizao e de se compreender, de uma maneira diferenciada, diversos
contedos geogrficos.
-
16
Nesse sentido que se desenvolveu a presente investigao, cujo relatrio final foi
estruturado em trs captulos. No primeiro captulo O contexto atual e a utilizao
das propagandas no ensino de Geografia realizamos um levantamento terico
sobre a histria do ensino de Geografia no Brasil, tendo como objetivo destacar a
importncia da criticidade para o aluno, principalmente para que ele compreenda a
complexidade do mundo atual: a globalizao. Nesse contexto, as propagandas
revelam-se como importantes ferramentas quando se trata desta compreenso.
No segundo captulo, intitulado Pesquisa emprica e anlise de dados,
apresentamos a tabulao e triangulao dos dados empricos, decorrentes de
questionrios aplicados junto aos professores da rede estadual de Vitria-ES, com o
qual objetivamos demonstrar a realidade da utilizao das propagandas nas escolas
visitadas e as percepes dos professores acerca desse recurso. Tais dados so
imprescindveis para a elaborao das propostas de ensino, que sero apresentadas
no captulo trs.
No terceiro captulo, Por uma outra propaganda: propostas de utilizao, aps
entabular um dilogo com o nosso referencial terico, apresentado, principalmente,
no primeiro captulo e com os dados empricos, discutidos no captulo dois,
apresentamos uma Coletnea, com diversas propostas de utilizao com
propagandas para serem exploradas como alternativas ao ensino da Geografia.
Por fim, mas sem a inteno de concluir definitivamente a investigao empreendida,
conclui-se que possvel a elaborao de propostas alternativas de ensino, com
vistas utilizao de propagandas na sala de aula com os mais variados meios de
comunicao, para que todos os professores, mesmo os que trabalham em escolas
com poucos recursos, as utilizem em suas aulas. Assim, objetivamos que tal material
possa contribuir sobremaneira na construo de um conhecimento autnomo e
crtico dos alunos.
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17
CAPTULO I
O CONTEXTO ATUAL E O USO DE PROPAGANDAS NO ENSINO DE
GEOGRAFIA
Neste captulo realizamos um levantamento terico sobre a histria do ensino de
Geografia no Brasil, seus processos de renovaes at desencadear no
desenvolvimento da Geografia Crtica, alm de destacar a importncia da criticidade
para o aluno.
Mostramos a importncia da criticidade em tempos de globalizao, onde a
abundncia de informaes ronda o dia-dia do indivduo e paira por todos os lados
como se fosse poluio atmosfrica. Vale, portanto, esforos no sentido de
compreendermos as conceituaes de propaganda e publicidade, j que essas so
fortes fontes distribuidoras de informao e de se considerar o poder que a
propaganda possui em nossa sociedade contempornea.
Partimos do pressuposto de que assim como acontece com a globalizao, existem
pelo menos trs propagandas em uma s: a propaganda como nos fazem v-la, ou
seja, como fbula; a propaganda tal como ela , perversa, diante da sua capacidade
de persuaso; e a propaganda como pode ser, uma possibilidade para o ensino
crtico de Geografia.
1.1 Ensino e desenvolvimento da Geografia Escolar no Brasil
Uma (re)visita histria da geografia escolar pode nos revelar os caminhos
percorridos na sua constante busca por processos de renovaes. Segundo
Gonalves (2007), esta disciplina possui uma dinmica prpria e certa autonomia
frente geografia acadmica.
-
18
As discusses acerca da trajetria da geografia escolar no Brasil propiciam perceber
sua importncia e sua identidade. Este debate pode nos revelar as reformas
educacionais que perpassaram a geografia escolar e como a disciplina geogrfica foi
se renovando at o surgimento da Geografia Crtica.
Conforme destaca Pessoa (2007), em 1599 os portugueses trouxeram para o nosso
pas um padro eurocntrico 1 de educao e os missionrios jesutas
desenvolveram o plano de estudos no pas. Nesse primeiro momento e, nessa
concepo eurocntrica, a geografia e seus conhecimentos eram trabalhados
indiretamente, sem a autonomia necessria sua importncia e relevncia.
Os conhecimentos geogrficos se davam em conexo com a aprendizagem da leitura, verso e comentrios dos autores clssicos. [...] durante os mais de duzentos anos de monoplio da educao jesutica no Brasil a geografia no teve vez e nem voz nas escolas enquanto disciplina escolar. O ensino dos conhecimentos geogrficos eram secundarizados no currculo subsistente. No existiam, tambm, cursos de formao de professores(as) para atuar com o ensinamento destes saberes. Os conhecimentos geogrficos, embora de grande interesse do Estado, eram at ento pouco
propagados nas salas de aulas (PESSOA, 2007, p.31).
Com a fundao do Colgio Pedro II2 em 1837, a geografia consegue um lugar de
destaque no currculo e adquiri o estatuto de disciplina autnoma. No entanto,
durante todo o perodo Imperial3 no Brasil, o ensino de geografia manteve o seu
carter de disciplina descritiva, enumerativa, mnemnica e enciclopdico.
1Corrente que traz a Europa como o elemento fundamental na constituio da sociedade moderna,
sendo necessariamente a protagonista da histria do homem. Acessado em 11 de dezembro de 2013.
2Fundado na poca do Perodo Regencial brasileiro, integrava um projeto civilizatrio mais amplo do
imprio do Brasil, do qual faziam parte a fundao do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e o Arquivo Pblico do Imprio, seus contemporneos. No plano da educao pretendia-se a formao de uma elite nacional. Deste modo, a instituio propunha-se formar quadros polticos e intelectuais para os postos da alta administrao, principalmente pblica. . Acessado em 12 de dezembro de 2013.
3 Umperodo da histria brasileira entre 7 de setembro de 1822 (Independncia do Brasil) e 15 de
novembro de 1889 (Proclamao da Repblica). Neste perodo, o Brasil foi governado por dois monarcas: D. Pedro I e D. Pedro II.
-
19
Entre 1890 e 1942, o ensino brasileiro passou por diversas reformas educacionais4.
No obstante, o que se viu, foi que apesar destes avanos o ensino de geografia:
[...] ainda se mostrava dividido em segmentos, apresentando uma postura metodolgica e conceitual copiosamente tradicional. A geografia ensinada ainda conservava os preceitos da memorizao, da exaltao a ptria, da descrio das paisagens, caracterizando o espao, a ao do homem e a economia como elementos desarticulados, sem nenhuma preocupao em relacion-los
(PESSOA, 2007, p. 58).
Assim, nesse processo histrico, vo ganhando vozes as constantes e vrias crticas
forma que se praticava geografia nas escolas do Brasil. Crticas estas que
desencadearam no desenvolvimento da Geografia Crtica, corrente que defendia um
ensino de geografia que estimulasse o esprito crtico do aluno.
1.2 Geografia Crtica Escolar no Brasil
Segundo Antunes (2001) citado por Pessoa, (2007, p. 72) existem duas
caractersticas marcantes para se entender o processo de renovao da geografia
no Brasil, que resultou no aparecimento da Geografia Crtica:
A primeira refere-se forma/processo, que tm no ano de 1978 sua referncia emblemtica. Essa renovao , ao mesmo tempo, epistemolgica e poltica. As crticas que eram feitas e as insatisfaes que acabaram por gerar a ruptura eram no apenas sobre qual estatuto epistemolgico a Geografia deveria ser produzida nas universidades e nas escolas, remetendo a um olhar cientfico, mas tambm sobre qual e paraquem seria produzida a Geografia, completando um claro projeto de sociedade, do qual a Geografia deveria participar. A segunda caracterstica refere-se aos agentes dessa renovao. Diferentemente de outras cincias no Brasil, a Geografia teve no nos acadmicos os principais atores da transformao cientfica. A Geografia talvez a nica cincia que, no Brasil, em sua histria recente, passou por um processo to radical de transformao do pensar/produzir sem a direo exclusiva, ou mesmo principal, da Academia. Para a Geografia, o processo de renovao teve incio e meio na interveno daqueles que
4 Reformas: Benjamin Constant (1890); Epitcio Pessoa (1901);Rivadvia da Cunha Corra (1911);
Carlos Maximiliano (1915); Luis Alves-Rocha Vaz (1925); Francisco Campos (1931); Capanema (1942).
-
20
estavam fora da Academia os professores de 1. e 2. graus , e naqueles que estavam nas Universidades e que eram tratados como espectadores os estudantes. Foi a unio desses dois
segmentos que garantiu o processo de renovao (PESSOA, 2007, p. 72, grifo nosso).
Ressalta-se, assim, a importncia de no se menosprezar a Geografia Crtica
Escolar, concebendo-a como uma repetio simplificada do que se produz na
academia.
[...] A geografia escolar tem, como enfatizam vrios autores (CHERVEL, 1990; GOODSON, 1990; VESENTINI, 2004) entre outros, certa autonomia, visto que traz em suas prticas e propostas tericas mtodos especficos, diferentes estilos de abordar os mais diversos contedos, isto lhe confere um carter peculiar e ao mesmo tempo pouco dependente da geografia produzida no ensino superior
(PESSOA, 2007, p. 66).
Fica, portanto, bastante evidenciado que a geografia escolar traou caminhos que
em muito contriburam para a sua renovao. vlido considerar, ainda, como fortes
indcios de contribuio da Geografia Escolar para a efetivao da Geografia Crtica,
o fato de que para que haja uma renovao de mtodos e conceitos, torna-se
necessria a fomentao de novas prticas e meios de se transmitir o contedo para
os alunos, tendo em vista que,
Um ensino crtico da geografia no se limita a uma renovao do contedo com a incorporao de novos temas/problemas, normalmente ligados s lutas sociais: relaes de gnero, nfase na participao do cidado/morador e no no planejamento, compreenso das desigualdades e das excluses, dos direitos sociais (inclusive os do consumidor), da questo ambiental e das lutas ecolgicas etc. Ela tambm implica em valorizar determinadas atitudes combate aos preconceitos; nfase na tica, no respeito aos direitos alheios e s diferenas; sociabilidade e inteligncia emocional e habilidades (raciocnio, aplicao/elaborao de conceitos, capacidade de observao e de crtica etc.) (VESENTINI, 2004, p. 228).
Nesse sentido, a busca pela to decantada criticidade na Geografia escolar
pressupe esforos docentes no sentido de propiciar aos estudantes condies de
se posicionarem crtica e conscientemente como sujeitos-cidados atuantes na
sociedade. Para tanto, h que se considerar que estes alunos possuem um vasto
-
21
conhecimento obtido em seu cotidiano. Estes conhecimentos devem ser
aproveitados para o estudo da realidade em que os mesmos se encontram
inseridose, dessa forma, pode-se fazer um jogo de relao entre sua escala de
vivncia e a compreenso da totalidade. Esse jogo de relao pode contribuir para
que se compreenda o espao e a organizao de poder.
Vale ressaltar que, conforme bem enfatiza Yves Lacoste (1974) referenciado por
Vesentini (s/d) pensar em espao significa
[...] ter um raciocnio geogrfico, no sonhar com as estrelas e sim pensar o espao com uma viso poltica, saber pensar o espao com vistas a nele atuar mais eficazmente. [...]. Nele atuamos como
pessoas(...) ( p.1).
Assim, considerando a criticidade da/na Geografia e em seu ensino, no se pode
mais ficar agarrado numa forma de educao que, lamentavelmente ainda resiste,
pautada em prticas e posturas, onde o professor tido como um mero repassador
de informaes.
Segundo Kaercher (2007), no obstante os avanos propiciados pela Geografia
Crtica Escolar, a ocorrncia de posturas e prticas docentes de Geografia nas
escolas brasileiras, pautadas nos pressupostos da Geografia Tradicional, pode estar
atrelada, muitas vezes uma distorcida formao inicial dos professores licenciados.
possvel, ainda, segundo o referido autor, encontrar cursos de licenciatura em
Geografia que adotem um currculo onde se trabalha "numa lgica demasiadamente
conteudista e dicotmica" (KAERCHER, 2007, p.3). Primeiro, os contedos
especficos da Geografia e, posteriormente, de forma desvinculada e dicotmica, os
contedos pedaggicos.
Nessa direo, Kaercher (2007) contribui ao afirmar que, para enfraquecer/quebrar
este paradigma de repassadores de informao, devemos nos propor a levar nosso
aluno
[...] a criar-se na autonomia e a independentizar-se, desenvolvendo nele a capacidade de agir livremente, mas sempre lembrando que nossa opinio uma crena com a conscincia de ser insuficiente. E, por saber-se insuficiente, muitas vezes, formula mais questes do
que finaliza com respostas (p.4).
-
22
Assim, pertinente se faz desenvolver reflexes que nos possibilitem alternativas de
respostas crucial questo: o que ser crtico?
1.3. Ser crtico ...
Existe, muitas vezes, uma associao entre criticar e falar mal, apontar os defeitos,
difamar. Essa associao indevida. Lima (2008), se referenciando a John
Passmore (1979) observa que
(...) ser crtico no simplesmente se posicionar contra, por exemplo, disparar contra uma obra ou autor sua opinio pessoal (ex.:no gosto de Picasso, pera para aristocratas e burgueses, msica x chata), ou usar argumentos estereotipados ou falaciosos sobre um determinado sistema de idias que ele discorda (p.1).
Crtico aquele que toma conscincia de que deve investigar, pesquisar e analisar
aquilo que se deseja conhecer. Examinar apenas um lado da moeda no tornar a
pessoa capaz de dizer com propriedade sobre as caractersticas e peculiaridades
dela como um todo. Para tanto, preciso ser questionador e ter um pensamento
autnomo. Uma crtica, propriamente dita, aquela na qual os argumentos so
consistentes e fundamentados.
Para Vesentini (2009),
Na filosofia, na epistemologia e nas cincias humanas em geral, o significado de crtica o de um procedimento que implica em discernimento, critrio, apreciao minuciosa e julgamento que no precisa ser, necessariamente, negativo. Mais ainda: um procedimento tido como necessrio e at mesmo imprescindvel para
o aprimoramento e o avano do conhecimento (p.109).
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1.4 A importncia da criticidade em tempos de globalizao
Existem diversos pontos de vista sobre a origem do processo de globalizao, mas a
predominncia de que esse processo teve incio com a expanso martimo-
comercial europeia, nos sculos XV e XVI, concomitantemente do prprio
capitalismo, e continuando nos sculos seguintes, at atingirem suas formas atuais.
Figura 1: Propaganda da FedEx, empresa internacional de entrega
Fonte: https://blogdamarco.wordpress.com/2010/04/
A globalizao, segundo Santos (2000), de certa forma, o pice do processo de
internacionalizao do mundo capitalista. E os fatores que, de acordo com o referido
autor, contribuem para explicar a arquitetura da globalizao atual so: a unicidade
da tcnica, a convergncia dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a
existncia de um motor nico na historia, representado pela maisvalia globalizada.
Sobre os pilares da globalizao atual, numa anlise menos aprofundada, podemos
verificar que o seu:
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Primeiro fator, a unicidade da tcnica, se deve ao fato da chegada da tcnica da
informao, por meio da ciberntica, da informtica e da eletrnica. Esse fato
possibilitou que outras tcnicas j existentes pudessem se comunicar entre elas
simultaneamente, criando uma convergncia dos momentos.
O segundo, a convergncia dos momentos, se deve ao fato que, hoje, com o tempo
real, possivelmente podemos estar em mltiplos lugares a partir de um s lugar,
como trazido na ideia de um mundo s, de aldeia global. No entanto, esse
tempo, ou a velocidade que hoje alcanvel esta nas mos dos atores
hegemnicos, assegurando a esses, exclusividade em seu uso.
J o terceiro fator, a cogniscibilidade do planeta, verifica-se que atravs de um
sistema tcnico nico, torna-se possvel se manifestar em nvel mundial, fornecer a
possibilidade de, hoje, podermos ter um conhecimento amplo e aprofundado sobre o
planeta, jamais visto em outro perodo histrico. No entanto, as empresas globais se
utilizam desses conhecimentos que emergem, para se apropriarem e, por vezes,
expropriarem os lugares espalhados pelo globo.
Por ultimo, o motor nico representado pela mais-valia universal onde, agora, a
produo se d em escala mundial, por intermdio de empresas globais, e numa
voracidade competitiva jamais vista. De maneira que, as empresas que adquirem
maior mais-valia, continuam a competir.
O processo de globalizao, ento, de certa maneira, borrou os limites geogrficos,
quebrou/ultrapassou certas barreiras. Ainda assim, grandes mazelas
socioambientais no esto sanadas. Pelo contrrio, as tragdias sociais se
avolumam, os problemas ambientais triunfam a despeito das novas tcnicas e dos
novos conhecimentos.
Vale aqui, de imediato, lembrarmos a clebre frase do economista estadunidense
John Kenneth Galbraith, citado por Gonalves (2006, p.22), ao afirmar que
globalizao um termo que os americanos inventaram porque americanizao
ficava feio.
Conforme nos adverte Santos (2000), vivemos num mundo confuso e confusamente
percebido. Da a importncia da Geografia e de sua criticidade na formao dos
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nossos estudantes, visto que cada vez mais, a tecnologia tem oferecido, sobretudo,
aos jovens, uma possibilidade de se comunicarem de maneira veloz, instantnea,
online.
Portanto, mister se faz aos educadores a reflexo acerca de at que ponto e como
o cotidiano destes jovens est sendo influenciado. Valendo, assim, a advertncia
que nos faz Defleur, Ball-Rokeach (1993),
Nossa impressionante capacidade atual de enviar mensagens instantaneamente a distncias imensas, e para suscitar significados semelhantes em milhes de pessoas ao mesmo tempo, to familiar para todos ns que fcil encar-la com indiferena. Na perspectiva da vida humana como foi em pocas anteriores, contudo, o que fazemos hoje ao abrirmos nosso jornal, ligarmos nosso radio, irmos a um cinema, ou assistirmos televiso, representa uma mudana no comportamento da comunicao humana de grandeza verdadeiramente extraordinria.(...)Todavia, parece claro a esta altura que nossos veculos de massa influenciam mesmo suas audincias, e, deveras, a sociedade como um todo. O que no
entendemos plenamente como e at que ponto isso ocorre (p.17).
Os veculos de massa atuais esto a, cada vez mais enlaados/enlaando o dia-dia
de cada um. Porm, nem sempre foi assim. Ao levarmos em considerao os dados
histricos, percebemos que a comunicao humana passou e passa por vrios
perodos, se no, fases transicionais. Essa recente e rpida mudana no cenrio e
nas relaes sociais repercute diretamente na educao, tornando-se, assim, um
grande desafio aos educadores, haja vista que:
Nossos veculos de massa contemporneos: apesar de s terem chegado recentemente, j so to fundamentais em nossa vida cotidiana que podero ajudar a modelar o destino de nossa espcie no futuro. () A histria da existncia humana, pois, deve ser mais adequadamente explicada por uma teoria de transies isto , explicada em funo de etapas distintas no desenvolvimento da comunicao humana, cada uma das quais teve profundas consequncias tanto para a vida individual quanto para a coletiva e social. Em suma, essas eras foram associadas ao desenvolvimento da sinalizao, da fala, da escrita, da impresso e da comunicao com os veculos de massa conforme os conhecemos hoje
(DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.18-23).
Aparentemente, as novas tecnologias da informao deveriam facilitar o
conhecimento do aluno sobre aquilo que o sonda. Entretanto,
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Nas condies atuais, as tcnicas da informao so principalmente utilizadas por um punhado de atores em funo de seus objetivos particulares. Essas tcnicas da informao (por enquanto) so apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criao de desigualdades. desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais perifrica, seja porque no dispe totalmente dos novos meios de produo, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle (SANTOS, 2000, p.39).
Nesse cenrio, ao tomarmos, como exemplo, a propaganda dentro do mundo
globalizado, podemos afirmar que a mesma visa, dentre outras coisas, o consumo.
Dentro desta mxima, apresenta a possibilidade do consumo como se todos
vivssemos numa aldeia global, onde todos supostamente vivem bem, comem
bem, tem acesso as tcnicas e tecnologias que abundam. S que no. A
propaganda neste sentido presta um (des)servio, posto que, com essa forma de
apresentao do mundo, refora, maquia, desvia, esconde embaixo do catre 5 ,
diversas problemticas como, a fome, as desigualdades, os problemas ambientais, o
caos urbano, etc.
Depreende-se da que a propaganda tem, via de regra, um objetivo bastante claro:
transmitir ao maior nmero de pessoas (consumidores de ideias, produtos, etc.)
informaes ideologicamente manipuladas aos interesses daqueles que as
produzem, conforme bem salienta Santos (2000),
O que transmitido maioria da humanidade , de fato, uma informao manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto mais grave porque, nas condies atuais da vida econmica e social, a informao constitui um dado essencial e imprescindvel. Mas na medida em que o que chega s pessoas, como tambm s empresas e instituies hegemonizadas, , j, o resultado de uma manipulao, tal informao se apresenta como ideologia. (...) No de se estranhar, pois, que realidade e ideologia se confundam na apreciao do homem comum, sobretudo porque a ideologia se
insere nos objetos e apresenta-se como coisa (p.39).
Assim, vive-se um momento em que somos bombardeados diuturnamente por
propagandas dos mais diversos tipos, que,- como discutido anteriormente -, em vez
de esclarecer, obscurecem. nesse cenrio que se situa um dos grandes desafios
postos aos professores de Geografia, ou seja, lidar com a espacialidade no ensino
5Trecho do poema Confisso, do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
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em meio a tanta mistificao, aliada aos individualismos e a competitividade do
mundo contemporneo. Considera-se, portanto, que a competitividade, sugerida
pela produo e pelo consumo a fonte dos novos totalitarismos, mais facilmente
aceitos graas a confuso dos espritos que se instala (SANTOS, 2000, p.37).
A abundncia de informaes que rondam o dia-dia os indivduos, paira por todos os
lados como se fosse a poluio atmosfrica. Apesar de sua onipresena no mundo
atual, ela no necessariamente trar algo de bom queles que a consomem.
Desenha-se, assim, um cenrio onde no se pode deixar de considerar que a
informao fundamental e cada vez mais irrevogvel, porm, ela pode, tambm,
ser manipulada.
Todos queremos t-la e ela, por sua vez, chega de todos os lados, de modo que,
sua manipulao grave. Vale, portanto, esforos no sentido de compreendermos
as conceituaes de propaganda e publicidade, j que essas so fortes fontes
distribuidoras de informao.
1.5. Conceituao de propaganda e publicidade
Conforme discutido anteriormente, bastante considervel o poder que a
propaganda possui em nossa sociedade contempornea. Antes, porm, de discutir
sua influncia em nosso meio, torna-se necessria a conceituao de dois termos
que muitas vezes se confundem: propaganda e publicidade.
So muitas as definies de propaganda. Quanto a sua etimologia, de acordo com
Pinho (1990), citado por Areu (2008), a palavra gerndio latino do verbo propagare
e significa propagar, multiplicar, estender, difundir. Pinho (1990), define propaganda
como expresso de opinio ou ao por parte de indivduos ou grupos,
deliberadamente destinada a influenciar opinies ou aes de outros grupos
relativamente a fins predeterminados (PINHO, 1990, apud VALLADARES, 2000,
p.55).
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Sentimentos, atitudes e opinies de um pblico so influenciados por tcnicas
informativas que buscam persuadi-lo e, consequentemente, gera reaes no grupo
social. Outra definio do termo de acordo com Giacomin Filho (1991), : estratgia
de comunicao identificada como persuasiva e empreendida de forma paga,
atravs dos meios de comunicao de massa (GIACOMIN FILHO, 1991, apud
VALLADARES, 2000, p. 55).
Valladares (2000) afirma que a palavra publicidade originada do latim publicus
(pblico) e que deu origem ao termo publicit (publicidade) na Frana. Segundo a
referida autora, com o tempo, a palavra publicidade assumiu diferentes conceitos e
funes. Inicialmente, o termo estava associado prtica de divulgao, anncio,
enfim, que objetivava tornar algo pblico (especificamente assuntos jurdicos).
Posteriormente passou a se referir divulgao de produtos e servios em meios de
comunicao.
Vale ressaltar que a prtica de trocas humanas est presente desde tempos remotos,
pr-histricos, como destacado por Areu (s/d):
[...] a prtica de anunciar muito antiga, desde os tempos pr-histricos pode-se pressupor que de alguma forma os membros de uma tribo expunham o que estava sobrando ou faltando com o intuito de realizar trocas (...) Com o desenvolvimento de organizaes sociais mais complexas e o consequente nascimento do comrcio (...)
foram estabelecidas as mais variadas formas de anunciar (AREU, s.d., p.3).
Para Valladares (2000), a divulgao das diferenas e a provocao do desejo,
presentes em pocas passadas, foram duas das responsveis pela origem das
propagandas, como hoje conhecemos.
Ao analisarmos a literatura disponvel, percebemos que h certa confuso quanto
utilizao correta dos termos propaganda e publicidade. Nesse sentido, nos
apoiamos em Valladares (2000), para explicitar que:
No Brasil (...) a nominao propaganda suscita algumas discusses por ser empregada comumente como equivalente ao termo publicidade, no havendo clareza de definio nem mesmo entre os profissionais da rea, seus rgos e sequer pela legislao. (...) , tambm, comum a incluso do termo comercial no grupo dos dois
termos, funcionando todos, praticamente, como sinnimos (p.56).
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Dessa forma, tambm utilizaremos como similares os termos propaganda e
publicidade, objetivando facilitar o entendimento do presente trabalho.
1.6 A propaganda
A comunicao algo natural e os seres humanos necessitam se comunicar. Assim,
ao nascer j possuem essa impulso de se direcionar ao outro. Nesse sentido,
Alvarez (2011, p. 87) em dilogo com autores da psicanlise, ao discutir a
comunicao humana, destaca a naturalidade da pessoa em se comunicar desde o
incio da vida a partir de estmulos iniciais do desenvolvimento emocional do beb,
na interao afetiva dele com a me.
Com o desenvolvimento da tecnologia, o homem desenvolveu tambm novas
ferramentas de se comunicar, com novos recursos audiovisuais. E para entender
melhor como se deu essa diversificao, nos apoiamos em da Silva (2001), que
aponta trs marcos histricos, nas formas humanas de se comunicar.
O primeiro marco se refere oralidade. o nascimento da linguagem, onde o
homem se descobre em se comunicar. A escrita seria o segundo marco, onde a
humanidade passa a registrar e consultar o andamento de sua histria (SILVA,
2001, p. 135). Aps isso, a imprensa traz uma nova forma de civilizao da escrita,
que seria o terceiro marco histrico.
Segundo Silva (2001) algumas invenes como a fotografia em 1822, a imprensa
em massa (em 1833 surge o primeiro anncio publicitrio), a reproduo tipogrfica
da fotografia (1884), entre outros, deram aporte para o momento da era da imagem
e do som6. A linguagem mvel a partir de 1895, como a autora afirma, consegue
dominar o tempo e o espao.
6Yanaray Joana da Silva, uma das autoras do projeto "Outras linguagens na escola: publiidade,
cinema e TV, rdio, jogos, informtica", utiliza a expresso "a era da imagem e do som" para se referir a inveno do cinema pelos irmos Lumire em 1895.
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Assim, com o transcorrer do tempo, vrios meios foram criados e revolucionaram as
tcnicas de comunicao. O cinema, a televiso, o jornal, a revista e a internet
trouxeram inmeras possibilidades de transmitir e comunicar ideias e esto inseridos
nos moldes de uma indstria cultural7. E esses meios se aperfeioam com grande
rapidez.
A evoluo dos meios de comunicao leva a possibilidades at ento
desconhecidas. Os instrumentos portteis como os smartphones, por exemplo,
podem levar algum a qualquer lugar em qualquer situao.
Diante disso, vale refletir sobre a atuao da escola nesse contexto de novas
tecnologias. fundamental que a escola no ignore os meios de comunicao. A
sociedade moderna habituou-se a obter informaes atravs da televiso, do
jornal/revista, do rdio e da internet. No entanto, deparamos com a crucial questo:
essas informaes so totalmente confiveis?
Essa questo refora a importncia de o professor levar contedos presentes nos
meios de comunicao para a sala de aula, pois podem possibilitar reflexes e
esclarecimentos, antes no percebidos pelo o aluno. Assuntos dos mais variados
podem ser explorados, tais como drogas, sexo e violncia que entram na escola
junto com o aluno. Por exemplo, anncio de greve de rodovirios, ao ser levado em
discusso numa aula pode abordar tema como o desemprego, e a partir da
desmembrar vrios outros assuntos. Citelli (2011, p.21) trata esses meios como
linguagens institucionalmente no escolares.
Justifica-se, assim, esforos no sentido deanalisar com mais afinco o papel da
propaganda em nosso mundo globalizado. Para tanto, de suma importncia
reconhecer as valiosas contribuies deixadas por Santos (2000), no que se refere
ao processo de globalizao e, nesse sentido, buscarmos uma analogia com o
7ADORNO. In: COHN, p.287-8, (...) A indstria cultural a integrao deliberada, a partir do alto, de
seus consumidores. Ela fora a unio dos domnios, separados h milnios, da arte superior e da arte inferior. Com o prejuzo de ambos. A arte superior se v frustrada de sua seriedade pela especulao sobre o efeito; a inferior perde, atravs de sua domesticao civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social no era total. Na medida em que nesse processo a indstria cultural inegavelmente especula sobre o estado de conscincia e inconscincia de milhes de pessoas s quais ela se dirige, as massas no so, ento, o fator primeiro, mas um elemento secundrio, um elemento de clculo; acessrio da maquinaria. O consumidor no rei, como a indstria cultural gostaria de fazer crer, ele no o sujeito dessa indstria, mas seu objeto.
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processo globalizatrio e os modos como se d a atuao da propaganda em nossa
sociedade.
Nessa direo, j destacamos de imediato, conforme bem ressalta Santos (2000)
que devemos considerar a existncia de trs mundos em um s: o mundo como nos
fazem v-lo (o mundo das fbulas), o mundo como ele realmente (perverso) e o
mundo como ele pode ser (uma outra globalizao). Partimos, pois, do pressuposto
de que assim como acontece com a globalizao, existem pelo menos trs
propagandas em uma s: a propaganda como nos fazem v-la, ou seja, como fbula,
na qual tudo belo e perfeito; a propaganda tal como ela , perversa, diante da sua
capacidade de persuaso; e a propaganda como pode ser, uma possibilidade para o
ensino crtico de Geografia, capaz de desvendar as perversidades atuais. Todas as
trs sero tratadas abaixo.
1.6.1. A Propaganda como Fbula
A propaganda muitas vezes nos mostra uma realidade que mais parece uma fbula.
Para entend-la, necessrio se faz compreender como as fbulas se manifestam em
nosso mundo atual. Para Santos (2000), elas no so poucas. Destacando-se: a
fbula da ideia de aldeia global; do espao e do tempo contrados; da humanidade
desterritorializada; alm da defesa da morte do Estado para melhores condies
de vida da sociedade.
Sua ideia central quando pensa essas fabulaes de que h uma falsa noo
difundida a partir de interesses prprios das classes dominantes (destacados como
atores hegemnicos) de que o planeta est mais integrado, com a existncia de
uma padronizao cultural, com fronteiras eliminadas, com maiores relaes
interpessoais. Todavia, defende que essas relaes so agora intermediadas por
objetos relacionadas aos meios de comunicao, deixando-se de lado as relaes
diretas entre as pessoas, alm do aumento da desigualdade social. Nesse contexto,
ganha fora a mdia que pratica a interpretao interessada, seno interesseira, dos
fatos (SANTOS, 2000, p. 21).
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Como ento poderamos pensar as propagandas como fbulas? Ao utilizar-se de
diferentes maneiras para persuadir o consumidor, as propagandas atravs da mdia,
muitas vezes, nos apresentam um mundo com caractersticas irreais. Tomemos, por
exemplo, a seguinte propaganda de absorventes femininos:
Figura 2: Propaganda de absorvente nica, que destaca os benefcios de seu uso durante o perodo menstrual.
Fonte: http://www.fotolog.com.br/saby86/68322155/
No incomum assistirmos propagandas de absorventes, como o exemplo posto
acima, que mostram mulheres satisfeitas, extremamente felizes, no obstante os
desconfortos que, via de regra, so vivenciados pela grande maioria das mulheres,
nos seus perodos menstruais. Outros exemplos: marcas de refrigerante propagam
que seus produtos levam felicidade. Propagandas de automveis consideram
seus produtos como necessrios para uma vida melhor, segura. Enfim, esses foram
apenas trs exemplos de atuao da propaganda em nossa sociedade
contempornea. Propagandas essas que com uma anlise mais aprofundada
apresentam caractersticas de verdadeiras fbulas.
Talvez seja otimista demais imaginar que o simples uso de um determinado
absorvente faa o perodo menstrual da mulher mais feliz. Que consumir refrigerante
leve apenas felicidade, desconsiderando seus possveis malefcios. E que
automveis sejam apenas sinnimos de segurana e tranquilidade. Mas isso nos
imposto como uma verdade absoluta. Consumir o que propagado quase uma
obrigao transmitida por essas marcas.
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Enfim, na busca de persuaso do leitor para que ocorra o consumo, as propagandas
tratam o mundo, muitas vezes, como uma fbula. Portanto, a propaganda pode, em
si, ser uma fbula. E, como veremos adiante, refora a perversidade sistmica no
mundo.
Abaixo um exemplo de propaganda bastante conhecida e de um produto totalmente
globalizado, veiculada como uma fbula.
Figura 3: Propaganda da Coca-Cola, com o lema: abra a felicidade.
Fonte: http://blog.pa.sebrae.com.br/inovacaoetecnologia
1.6.2. A Propaganda como Perversidade
Pensar a propaganda no atual contexto em que vivenciamos, requer que se
considere o seu poder, bem como se assimile o carter perverso que ela denota.
Tomemos, por exemplo, a propaganda de uma cerveja:
Figura 4: A propaganda da Devassa compara um de seus novos produtos mulher negra.
Fonte: http://consciencia.blog.br/
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Necessrio se faz, em um primeiro momento, esclarecer nossa concepo de
perversidade e de como ela se manifesta contemporaneamente.
Santos (2000) defende precisamente que junto globalizao, uma srie de
perversidades tm se manifestado mundialmente nas ltimas dcadas.
Analfabetismo, desemprego, fome, doenas, muitas so mazelas agravadas a partir
da globalizao. E pior, h uma perversidade sistmica, em que os diversos
problemas passam a ser vistos na sociedade como algo natural.
O fato (...) que a pobreza tanto quanto o desemprego agora so considerados como algo natural (...) Vivemos num mundo de excluses, agravadas pela desproteo social (...) de insegurana. Na verdade, a perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados (...) para se estabelecer como um sistema. (...) a causa essencial da perversidade sistmica a instituio, por lei geral da vida social, da competitividade como regra absoluta (...) O outro, seja ele empresa, instituio ou indivduo, aparece como um obstculo realizao dos fins de cada um e deve ser removido (...) Decorrem da a celebrao dos egosmos, o alastramento dos narcisismos, a banalizao da guerra de todos contra todos, com a utilizao de qualquer que seja o meio para obter o fim colimado, isto , competir e, se possvel,
vencer (SANTOS, 2000, p.29-30).
Assim, ao analisarmos a globalizao como ela realmente , notamos que, para
alm dos benefcios e vantagens desse processo, a perversidade maquiada
ideologicamente da a ocorrncia de problemas para a humanidade. Conforme j
discutido anteriormente, com as novas condies tcnicas emergentes no fim do
sculo XX, o mundo torna-se essencialmente unificado. E, conforme bem salienta
Santos (2000), nesse novo mundo surgem dois protagonistas que do sustentao a
esse novo perodo histrico: a informao e o dinheiro (classificados como
violncias). O carter das pessoas muda. A competitividade, relacionada
produo e ao consumo, uma marca dessa nova sociedade. Encolhe o Estado
com preocupao social, crescem as empresas.
A informao violenta medida que busca confundir ao invs de esclarecer. Que
j nos chega manipulada, dotada de uma ideologia dominante. O dinheiro violento
quando o motor da vida social e econmica, sendo base para a explorao de
empresas em territrios pelo mundo.
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E como as propagandas se relacionam com esse mundo que assumiu carter to
perverso? O excerto abaixo pode contribuir para a construo de respostas
possveis a esse questionamento:
Estamos diante de um novo encantamento do mundo (...) a informao atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este o trabalho da publicidade. Se a informao tem, hoje, essas duas caras, a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produo. Brigando pela sobrevivncia e hegemonia, em funo da competitividade, as empresas no podem existir sem publicidade, que se tornou o nervo do comrcio. [...] A publicidade tem, hoje, uma penetrao muito grande em todas
as atividades (SANTOS, 2000, p.20).
A propaganda possui intrnseca relao com esse mundo perverso em que vivemos.
E mais, a propaganda pode, em si, assumir um carter de extrema perversidade.
Nesse sentido, pertinente se faz as contribuies de Valladares (2000), ao explicitar
que ao informar sobre o seu produto ou servio, a propaganda, muitas vezes,
transmite mais que uma informao. Propaga uma alienao em nosso mundo
consumista, que favorece aos proprietrios dos meios de produo.
A propaganda pode ser percebida como uma prtica perversa. Se a tomarmos como
ela realmente : a incitao ao consumo. Nessa perspectiva, a propaganda, como o
mundo atual, tambm assume papel de crueldade nesse cenrio competitivo que
vivenciamos. Propaga-se uma necessidade de padronizao do consumo. Muitas
so as propagandas preconceituosas, como na imagem acima (Figura 4), que
inferiorizam um grupo social em prol de seu objetivo comercial. H, ainda,
propagandas que exaltam, a todo custo, o consumo de seus produtos (compre,
beba...) e que buscam agir sobre um pblico jovem, mais sujeito as suas
determinaes. Esses so, alguns entre tantos outros exemplos que demonstram
como agem as propagandas, nesse contexto de perversidade sistmica.
A seguir, mais um exemplo de propaganda perversa.
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Figura 5: Propaganda do chocolate Baton, incitando o seu consumo.
Fonte: http://www.fotolog.com.br/saby86/68322155/
1.6.3. A Propaganda como Possibilidade
O mundo est em constante mudana. Perodos histricos iniciam-se e findam-se
ininterruptamente, cada um apresentando caractersticas e tcnicas prprias.
Segundo Santos (2000), o atual perodo apresenta bases materiais, tais como a
unicidade da tcnica, a convergncia dos momentos e o conhecimento do planeta,
nas quais o grande capital se apoia para construir uma globalizao perversa, como
discutido anteriormente. Ressalta-se, contudo, que essas mesmas bases tcnicas
podem e devem servir a outros objetivos. Para tanto, devem ser postas a servio de
outros fundamentos polticos e sociais, visto que, j se pode observar indcios de
que a emergncia de uma globalizao mais humana possvel.
O primeiro desses fenmenos a enorme mistura de povos, raas, culturas, gostos, em todos os continentes. [...] Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanas, a produo de uma populao aglomerada em reas cada vez menores, o que permite um ainda maior dinamismo quela mistura entre pessoas e filosofias. [...] Junte-se a esses fatos a emergncia de uma cultura popular que serve dos meios tcnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta ltima uma verdadeira vingana ou revanche. [...] No plano terico, o que verificamos a possibilidade de produo de um novo discurso, de uma nova
metanarrativa, um novo grande relato (SANTOS, 2000, p.20-1).
Diante dos fatos, pode-se afirmar, conforme bem salienta Santos (2000) que a
globalizao perversa atual no irreversvel, apesar de ser uma ideia bastante
difundida. O referido autor explica que essa maneira de pensar, que o atual estado
no apresenta alternativas de mudana, se prende fora com a qual a globalizao
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se revelou e se instalou nos mais diversos lugares e esferas da vida das pessoas.
Contudo,
[...] essa viso repetitiva do mundo confunde com o que j foi realizado com as perspectivas de realizao. [...] O mundo datado de hoje deve ser enxergado como o que na verdade ele nos traz, isto , um conjunto presente de possibilidades reais, concretas, todas factveis sob determinadas aes (SANTOS, 2000, p. 160).
Depreende-se, pois que o mundo nos apresenta possibilidades. Acreditar nisso o
primeiro passo para uma mudana efetiva. Nessa direo, assim como pode emergir
uma outra globalizao, pode tambm emergir um novo uso/sentido para as
propagandas, que no apenas o seu lado perverso. Trata-se, pois, de utilizar as
propagandas no ensino de Geografia, numa perspectiva crtica; de enxerg-las na
esfera das possibilidades. Possibilidade de alcanar algo novo e significativo para o
ensino.
Uma empresa de tubos e conexes, por exemplo, lanou uma propaganda televisiva
em 2009, na qual relata ser lder de vendas na Amrica Latina e, durante o anncio
aparecem paisagens de alguns dos pases que a compe, como a Venezuela (figura
6). A exibio dessa propaganda seria uma excelente estratgia metodolgica
quando o docente fosse abordar o contedo Amrica ou ainda quando fosse tratar
de globalizao, problematizando a integrao que h entre os pases.
Figura 6: Imagem de um trecho da propaganda televisiva da empresa Amanco, demonstrando uma paisagem da Venezuela.
Fonte: youtube.com
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No to comum encontrar literaturas que abordem e relacionem a educao e a
propaganda numa perspectiva crtica, nem mesmo ensino de Geografia utilizando
propaganda. No entanto, possvel realizar algumas analogias entre o papel do
publicitrio e o do professor. Ambos tm que chamar a ateno para o
contedo/mensagem a ser transmitido; tm que despertar o interesse e estimular o
desejo do pblico alvo; planejar suas aes; possuir conhecimento cientfico, estudar
a sua clientela e avaliar o processo e trmino de seu trabalho. preciso enfatizar
que apesar das semelhanas superficiais, os objetivos de cada um so, via de regra,
completamente opostos. A educao pretende libertar o aluno, enquanto as
propagandas, quando no problematizadas, objetivam prender as pessoas ao
consumismo e s ideias prontas.
Nessa direo, pertinente se faz a advertncia de Valladares (2000), no sentido de
afirmar que a ao da escola
[...] deve considerar o que ocorre na sociedade como parte do conhecimento necessrio ao indivduo, provocando sua analise criteriosa, voltada para esclarecimento e crtica constante.Partindo dessa constatao, as semelhanas e diferenas entre as metodologias da educao escolar e as metodologias da propaganda se apresentam como um tema de discusso estimulante e problematizador, em especial para o processo de formao de
professores (p. 72).
Essa advertncia de Valladares (2000) se aplica Educao de uma maneira geral
e, de forma bastante especfica ao processo de formao e atuao de professores
de Geografia, pois a aprendizagem dessa cincia
(...) deve possibilitar a reflexo crtica sobre o espao: uma reflexo que incorpore as diferentes leituras de um mesmo objeto, que fundamentada no confronto de ideias, interesses, valores socioculturais, estticos, econmicos, evidencie as diferentes interpretaes e as diferentes intencionalidades que marcam a construo de um espao; uma reflexo que possibilite a elaborao
que questionamentos sobre o espao, a vida, o mundo (PEREZ, 2001, p.216).
O que prope-se, portanto, utilizar as bases da propaganda a servio de um
ensino reflexivo e crtico, propiciando, assim, a construo de um conhecimento
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geogrfico que interfira positivamente nos modos de ser/viver dos alunos, que os
afete no sentido de se perceberem como participantes e agentes transformadores do
mundo.
Existem inmeras maneiras de ler as propagandas. Cerri (2005), apoiado nos
estudos desenvolvidos por Barthes (1988), explica que este autor utiliza uma
estrutura prpria de ler peas publicitrias, iniciando pela identificao da denotao,
que a apreenso literal, lingustica, de decodificao do smbolo, partindo para a
conotao (mensagem) e logo aps para a referenciao, que o emissor ou o
produto que est sendo oferecido. Retomando e reforando a questo da criticidade,
deixa claro que:
O que mais importante nesse trabalho de leitura analtica, que pode ser feito coletivamente no ambiente educacional, desenvolver um leitor crtico, que deve substituir o espectador passivo e que acabar depois por surpreender-se defendendo prticas e portando convices, cuja origem no conhece, no sabe quando, onde e nem
porque esto fazendo parte de sua bagagem (BARTHES, 1988, apud, CERRI, 2005, p.324).
Nessa mesma linha, encontramos contribuies em Valladares (2000), ao afirmar
que
A leitura crtica da propaganda pode contribuir no s para desmistificao de muitos processos sociais, como tambm como exerccio efetivo da criticidade para entendimento de como se d a
hegemonia e a ao da ideologia, como parte dela (p.74).
Percebe-se, assim, que os referidos autores concordam que uma abordagem crtica
fundamental quando se utiliza propagandas no ambiente escolar. E, ainda, que
essa utilizao importante para ajudar na compreenso da complexibilidade do
contexto atual. Alm disso,
Uma vez tomada como elemento do conjunto da sociedade capitalista em que vivemos, a propaganda pode ser compreendida tambm como expresso da poca em que ocorre e, portanto, como uma fonte histrica de primeira ordem, principalmente se o que temos em mente pesquisar o recorte da realidade para o qual ela se dirige, isto , os sonhos, desejos, as expectativas das pessoas, isoladas ou em grupos, s quais os anncios se dirigem para
satisfazer suas necessidades (CERRI, 2005, p.321, grifo nosso).
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Essa questo trazida por Cerri (2005) pode ser exemplificada com as propagandas
abaixo.
Figura 7: Propaganda do carro 147, lanado pela empresa Fiat em 1976.
Fonte: Propagandashistricas.com.br
Esse carro, demonstrado na propaganda acima, foi o primeiro produzido pela Fiat no
Brasil e trazia um novo conceito em tecnologia. Em tempos de crise do petrleo
atendia a um mercado que exigia um carro econmico, e para provar esse aspecto,
em uma de suas propagandas, a empresa o exibiu atravessando a ponte Rio-Niteri,
no Rio de Janeiro, que possui cerca de 14 quilmetros, com apenas um litro de
gasolina.
Com esse anncio, percebe-se que a empresa lanou um carro para atender s
necessidades das pessoas de uma poca que passava por uma crise do petrleo,
ou seja, essa propaganda uma expresso desse momento histrico e, com certeza,
uma fonte de pesquisa muito rica.
No obstante tantas possibilidades, o que se observa que, lamentavelmente, no
so todos os docentes que utilizam da propaganda como alternativa para o ensino e,
ainda, muitos no esto preparados para aplic-las de maneira crtica. Em muitas
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ocasies, os livros didticos so tidos como os nicos recursos, mesmo quando as
escolas possuem recursos diversos e alternativos.
Nesse sentido, o uso das propagandas pode ser uma rica alternativa de ensino e
adquire um novo papel, nesse contexto, podendo, propiciar ao prprio professor a
reflexo sobre sua prtica, conforme salienta Valladares (2000),
Acredito que um professor que treine seu olhar na leitura de como a propaganda funciona, ser mais capaz de agir reflexivamente sobre a sua prpria prtica, podendo analisar, com mais propriedade, sua ao pedaggica junto aos alunos. Com essa aprendizagem crtica, o professor poder provocar nos alunos uma reflexo contnua sobre suas necessidades verdadeiras e sobre os desejos que lhe so
incutidos pelas propagandas (p.19).
O que se ressalta que tanto a no utilizao, quanto o uso inadequado das
propagandas so caracterizadas como um dano muito grande ao aprendizado e
vida dos alunos. Valladares (2000, p.20) alerta que caso os docentes no as utilizem
de maneira crtica estaro fazendo uso autoritrio delas, por ignor-las e por no
dar ferramentas aos seus alunos para lidar com elas e, caso as desconsiderem
como mtodo ou tenham receio de utiliz-las, no estaro impedindo que os alunos
sejam por elas impactados, diariamente, sem nenhuma resistncia (VALLADARES,
2000, p. 21).
Retomando a ideia de que o mundo est em constante mudana, resgata-se uma
justificativa para que o professor esteja/mantenha-se em constante reflexo. O
mundo muda, a escola muda, os alunos mudam, os mtodos mudam, nascem, se
renovam, assim, no poder o professor ser sempre o mesmo.
Castoldi&Polinarski (2009), revelam que h uma influncia dos recursos didtico-
pedaggicos e das atividades criativas na motivao dos alunos na participao e
interesse nas aulas. Ou seja, realizar leituras das propagandas utilizando diversos
meios de comunicao, tais como internet, jornal, revista, televiso etc. pode
contribuir para que se propicie um novo dinamismo s aulas.
Deve-se considerar como nos lembra Valladares (2000, p. 21), uma concepo de
ensino capaz de incluir vrias leituras, at aquelas tradicionalmente
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desconsideradas, como o caso das propagandas, principalmente pelo fato de
estarem to presentes no cotidiano dos alunos.
Essa preocupao apontada por Valladares, tambm abordada no Currculo
Bsico da Escola Estadual do Esprito Santo, ao explicitar que A leitura no-restrita
aos livros didticos, dever ser ampliada em outras possibilidades (...) nas diferentes
expresses literrias (PROPOSTAS CURRICULARES DO ESPRITO SANTO, 2009,
p. 110). Portanto, a busca por se manter atualizado e ampliar as opes
metodolgicas torna-se um dever cotidiano de todo professor, para que, assim,
consiga atingir a totalidade do ambiente escolar, que se apresenta sempre to
heterognea.
De imediato, esclarece-se que no nosso objetivo apontar os professores como
responsveis pelas mazelas presentes no ensino, nem mesmo afirmar que se
houver a apropriao das propagandas pelos mesmos, essas mazelas sero
superadas. O que almejamos, enfatiza-se, socializar uma nova possibilidade
alternativa de recurso de ensino. Com isso, proporcionar ao docente um novo ponto
de vista sobre as propagandas e a compreenso de que podem ser importantes
instrumentos, se utilizadas criticamente, no desvendamento das ideologias que
cercam a sociedade atual. Sempre lembrando a importante lio de Santos (2000,
p.161), ao afirmar que lcito dizer que o futuro so muitos; e resultaro de arranjos
diferentes, segundo nosso grau de conscincia, entre o reino das possibilidades e o
reino da vontade.
Assim, na perseguio ao nosso objetivo principal de elaborao de uma coletnea
de propagandas difundidas pelas mdias, como alternativas ao ensino de Geografia,
nosso prximo desafio gravitou em torno de traar um perfil das percepes de
professores de Geografia, atuantes em Escolas pblicas da rede estadual de ensino
de Vitria, acerca da temtica em questo. Trata-se, pois, de exerccios no sentido
de conhecer melhor a realidade, para melhor nela atuar.
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CAPTULO II
PESQUISA EMPRICA E ANLISE DE DADOS
Embasados na fundamentao terica, discutida no capitulo anterior e com o intuito
de propor alternativas que possam contribuir para a utilizao das propagandas
criticamente nas atividades de ensino da Geografia, realizou-se, uma pesquisa
emprica com o objetivo de diagnosticar se/como os professores que lecionam a
disciplina nas escolas estaduais da cidade de Vitria costumam utilizar esses
recurso em suas aulas.
A tabulao e triangulao dos dados coletados empiricamente e apresentados no
presente captulo, nos forneceu subsdios para a apresentao de propostas
alternativas de ensino de Geografia, com utilizao das propagandas, conforme ser
apresentado no captulo III.
2.1. Metodologia da pesquisa emprica: desenhando caminhos...
A nossa pesquisa de campo passou por algumas etapas. Inicialmente, decidimos
que coletaramos os dados por meio de questionrios e, em seguida, selecionamos
as escolas, onde os professores de Geografia seriam convidados a responderem os
respectivos questionrios.
As etapas posteriores essa delimitao do universo, se constituram na elaborao
e aplicao dos questionrios para a coleta das informaes bsicas com fim de
diagnosticar a situao da utilizao, ou no, das propagandas em atividades
cotidianas de ensino.
Ento, partiu-se par ao momento da triangulao dos dados constantes dos
respectivos questionrios, quando foi possvel realizar grficos e tabelas que nos
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permitiram traar o perfil dos professores participantes, bem como analisar e discutir
os dados colhidos com maior clareza.
2.2. O universo da pesquisa: delimitando o campo de pesquisa.
Realizar a escolha do campo de pesquisa uma tarefa difcil. O que almejvamos, a
princpio, era verificar a realidade sobre a utilizao das propagandas no maior
nmero possvel de escolas. E, ainda, era pretenso inicial, que os dois nveis de
ensino da educao bsica fossem representados pelas falas e respostas de seus
professores: o ensino fundamental (a pesquisa no ensino fundamental no incluiria
os anos iniciais, uma vez que, via de regra, no h um professor para disciplina
especfica) e o ensino mdio, incluindo a modalidade Ensino de Jovens e Adultos
(EJA). Nesse momento nos deparamos com a necessidade de adequar nosso
espaotempo disponvel para a realizao das atividades investigativas. Era preciso
delimitar o campo de pesquisa..
Nesse sentido, partindo da constatao de que as escolas municipais no oferecem
o ensino mdio, optamos por direcionar nossa pesquisa para as escolas da rede
estadual de ensino da cidade de Vitria. Esse foi um critrio de delimitao do
universo.
Fizemos, ento, um levantamento sobre as escolas da rede estadual, presentes na
cidade de Vitria. Esse levantamento foi efetuado no stio da Secretaria de
Educao do Esprito Santo (SEDU). Constatou-se, ento, que na cidade de Vitria
possui uma escola, da rede estadual, que oferta somente ensino fundamental, sete
escolas que ofertam ensino fundamental e mdio, seis escolas que ofertam apenas
ensino mdio e uma que oferta somente matrcula para a modalidade da EJA.
Ficou constatado, assim, que na cidade de Vitria-ES, no momento de realizao da
presente pesquisa, existem um total 15 (quinze) escolas da rede estadual de ensino
em funcionamento. Diante disto, optou-se por contactar todas as escolas e aplicar os
questionrios aos professores de Geografia atuantes em cada uma delas.
A localizao das escolas est apresentada no mapa a seguir.
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Mapa 1: Localizao das escolas estaduais na cidade de Vitria-ES
Fonte: Resultado da Pesquisa.
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Todas as escolas que participaram da pesquisa funcionam nos turnos matutino,
vespertino e noturno, seja com ensino regular ou tcnico. Todos os turnos foram
includos e representados no trabalho.
Assim, definidos os critrios de seleo, conforme supracitado, as escolas cujos
professores de Geografia foram convidados a participarem da presente pesquisa
foram: EEEFM Aflordzio Carvalho da Silva, EEEFM Almirante Barroso, EEEFM
Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto, EEEFM Elza Lemos Andreatta,
EEEFM Hildebrando Lucas, EEEFM Major Alfredo Pedro Rabaioli, EEEFM Maria
Ortiz, EEEM Arnulpho Mattos, EEEM Colgio Estadual do Esprito Santo, EEEM
Gomes Cardim, EEEM Irm Maria Horta, EEEM Fernando Duarte Rabelo,
EEEM Professor Renato Jos da Costa Pacheco e o Centro Estadual de Educao
de Jovens e Adultos (CEEJA). A EEEF Maria Ericina Santos, no entrou na
pesquisa, pois os professores no nos deram retorno no prazo estipulado.
Conforme explicitado anteriormente, uma dessas escolas oferece apenas o ensino
fundamental, algumas escolas oferecem os nveis de ensino fundamental e mdio e,
outras, somente ensino mdio. O tamanho das escolas so bem distintos. H, ainda,
unidades que oferecem o ensino mdio integrado ao ensino tcnico. Esses so
alguns fatores que propiciam a diferena do nmero de professores de Geografia
atuantes de escola para escola. Umas possuem trs ou quatro, por turno, outras,
somente um docente dessa disciplina.
Tanto os professores, quanto a clientela dessas escolas so bastante heterogneos.
Se h ampla diversidade em uma nica escola, h de se imaginar em um municpio
inteiro! H alunos com os mais diferentes traos sociais, culturais e econmicos.
Tambm comum a existncia de professores com os mais diferentes pensamentos
e opinies. Enfim, h o que podemos classificar como um verdadeiro mosaico nas
escolas, tamanha diversidade nelas presente.
Trabalhar com dados das escolas de um municpio inteiro (salva a exceo),
trabalhar com a diversidade, por isso, esse universo to favorvel ao nosso
projeto. A partir de todo esse contexto apresentado, ser explicitado como se deu
todo o processo de coleta dos dados da pesquisa.
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2.3. Coleta de dados: garimpando informaes
Para realizar a coleta dos dados elaboramos, primeiramente, um questionrio, de
carter fechado. Por meio deste, buscamos identificar o perfil dos professores
englobados na pesquisa, com questes sobre a formao acadmica, faixa etria,
tempo de experincia no magistrio, se so professores efetivos ou em designao
temporria.
Num segundo momento, o questionrio referiu-se relao que os professores
tinham com as propagandas em suas prticas. Procuramos saber se conheciam
algum estudo, texto ou mesmo se tinham relatos de experincias sobre a utilizao
da Propaganda no ensino. E, ainda, se a utilizao desse recurso como auxlio ao
ensino de Geografia poderia ser considerada positiva no processo de aprendizagem
de seus alunos; se consideram essa utilizao vivel, se j haviam utilizado esse
recurso, com quais meios, frequncia e o retorno que obtiveram de seus alunos.
Verificou-se, tambm, nos casos negativos, as justificativas da no utilizao.
Pedimos para que deixassem o seu e-mail para que, quando da concluso do
trabalho, o envissemos com as possibilidades de aplicao em sala de aula
Antes de dar incio coleta de dados propriamente dita, definiu-se a distribuio das
escolas para a aplicao dos questionrios entre todos os integrantes da pesquisa.
Para tanto, buscando delimitar o campo geogrfico e o agrupamento das escolas por
pesquisador, nos apoiamos a Lei Municipal N 6.077/2003 que organiza o Municpio
de Vitria em 83 Bairros e Sete Regies Administrativas, conforme apresentado no
Mapa 2.
Cada integrante do grupo ficou responsvel em coletar os dados em pelo menos
uma regio, distribudos de acordo com a logstica para o melhor deslocamento em
direo as escolas.
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Mapa 2: Regionalizao de Vitria-ES e localizao das escolas estaduais.
Fonte: Elaborao prpria com base nos dados da Prefeitura de Vitria.
Por meio deste mapa, foi possvel planejar as visitas s escolas, uma vez que cada
pesquisador pde perceber quais instituies lhes eram mais acessveis para a
futura aplicao dos questionrios, sabendo que haveria a possibilidade de ter que
voltar s escolas mais de uma vez, em diferentes turnos. Cada pesquisador se
responsabilizou, em mdia, por trs escolas.
O primeiro contato com as escolas foi realizado em 22 de outubro de 2013, uma
tera-feira. Escolhemos esse dia, pois o mesmo destinado ao planejamento dos
professores de Geografia das escolas estaduais. E mais, acreditvamos que todos
os professores da disciplina estariam nas escolas nessa data que destinamos ida
as escolas.
Fomos com o objetivo de aplicar os questionrios a todos os professores de
Geografia da rede estadual, mas sabamos que poderiam acontecer imprevistos
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e/ou negaes, por isso fixamos a meta de ter todas as escolas representadas com
no mnimo um questionrio.
Vale esclarecer que o CEEJA no estava, inicialmente, cotado como parte do
universo da pesquisa, por apresentar um aspecto diferenciado no processo de
ensino-aprendizagem. Nesse Centro, os alunos se matriculam nas disciplinas,
recebem um material, e caso necessitem, buscam eliminar suas eventuais dvidas
com os professores responsveis pelas disciplinas. Quando se sentem preparados,
realizam a prova para tentar concluir a disciplina. Mesmo assim, optamos por inclu-
lo na pesquisa e, alguns professores responderam ao questionrio.
Em algumas escolas, todos os professores estavam presentes no dia destinado ao
planejamento; em outras, havia professores afastados por motivos no
especificados. Alguns professores ministravam aula, outros no trabalhavam
naquele dia. Tambm nos foi informado fatos em que os professores no estavam
em uma determinada escola, pois no havia internet em seu espao (que era
provisrio), impossibilitando a realizao do planejamento e registro das pautas on-
line.
No caso em que os professores estavam presentes na escola, aplicamos os
questionrios e conversamos com os mesmos. Quanto aos professores ausentes,
optamos por deixar os questionrios nas escolas, em posse de seus coordenadores
ou pedagogos, que se comprometeram a repass-los aos professores assim que
possvel para que respondessem e, estipularam uma data para que voltssemos
para buscar.
Assim, conforme previsto, voltamos s escolas para recolher os questionrios
deixados para os professores que no estavam presentes. Alguns professores
haviam respondido todas as informaes, outros no. Uns haviam deixado e-mail,
outros no. E, conforme previsvel, alguns professores simplesmente se negaram
a responder. Ocorreu, tambm, o fato de determinados professores nos enviarem os
questionrios por e-mail, uma vez que havamos deixado nosso contato nas escolas.
Visitamos as escolas em diferentes turnos e contamos com a hospitalidade dos
funcionrios, to importantes pesquisa. Somente em uma escola no conseguimos
recolher os questionrios. Nessa unidade, no ofertado, no turno matutino, o
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ensino regular, portanto, no havia professor de Geografia. Como no pudemos
comparecer escola nos outros dois turnos, deixamos os questionrios com a
pedagoga da manh, para que ela encaminhasse s professoras do vespertino e
noturno, mas, quando voltamos, as professoras no haviam deixado os
questionrios respondidos.
Abaixo segue um mapa com a indicao do nmero de questionrios recolhidos por
escola.
Mapa 3: Quantidade de questionrios recolhidos por escola
Fonte: Elaborao prpria, a partir de Resultados da Pesquisa.
Vale, de imediato, destacar a importncia e relevncia de visitas s escolas para
aplicao dos questionrios. Esses momentos foram ricos em aprendizagens, visto
que, nos contatos e dilogos com professores, coordenadores, pedagogos e
diretores das escolas, muit