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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    CENTRO DE EDUCAO

    DEPARTAMENTO DE EDUCAO, POLTICA E SOCIEDADE

    GUSTAVO CORDEIRO CURTO

    LUIZ CARLOS CONDE JUNIOR

    NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES

    STANLEY SULKE BARBOSA

    THAS BATISTA LOVATE

    DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA

    OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    VITRIA ES

    2014

  • GUSTAVO CORDEIRO CURTO

    LUIZ CARLOS CONDE JUNIOR

    NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES

    STANLEY SULKE BARBOSA

    THAS BATISTA LOVATE

    DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA

    OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade do Centro de Educao da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Vilmar Jos Borges

    VITRIA ES

    2014

  • GUSTAVO CORDEIRO CURTO LUIZ CARLOS CONDE JNIOR

    NATHAN MORETTO GUZZO FERNANDES

    STANLEY SULKE BARBOSA

    THAS BATISTA LOVATE

    DAS PERVERSIDADES E FABULAES S POSSIBILIDADES: UMA

    OUTRA PROPAGANDA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e Sociedade do Centro de Educao da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em Geografia.

    Aprovado em ___________________ de 2014.

    COMISSO EXAMINADORA

    ___________________________________________ Prof. Dr. Vilmar Jos Borges - Orientador

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    ___________________________________________ Prof. Dr. Marisa Terezinha Rosa Valladares

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    ___________________________________________ Prof.

  • AGRADECIMENTOS

    Gostaramos de agradecer a instituio Universidade Federal do Esprito Santo

    UFES, da qual fazemos parte como estudantes, pela possibilidade de exerccio do

    nosso curso em plenitude e, neste momento, o Trabalho de Concluso de Curso

    (TCC) em Geografia.

    Aos professores e professoras do departamento de Geografia-UFES, que durante

    todo o decorrer do curso, nos ensinaram, motivaram, inspiraram, guiaram, criticaram,

    informaram, e principalmente, formaram, formaram professores(as) e cidados

    conscientes e crticos do seu cotidiano, da sua realidade. Formaram, ao mesmo

    tempo, leitores, no s da sua rea de estudo, mas, tambm de reas afins, pois os

    conhecimentos esto imbricados e a realidade mutvel, com isso, uma viso crtica

    e atenta se torna imprescindvel.

    professora Marisa Valladares, que num encontro com alguns alunos que

    elaboraram este trabalho, durante o meio do curso de geografia, fez com que estes,

    que j estavam com a ideia de trabalhar com propaganda futuramente em seu

    TCC, tivessem certeza daquilo que queriam.

    Ao professor Vilmar Borges, pela orientao em aula e extra aula, por se mostrar

    disponvel em diversos horrios, sempre preocupado conosco enviando e-mails,

    entrando em contato, facilitando nosso trabalho. Agradecemos, tambm, aos

    conselhos que nos foram dados no s dentro, mas, tambm, fora da sala de aula,

    sobre os mais diversos assuntos que so, para ns, de muita valia. No podemos

    esquecer-nos de sua preocupao incansvel em relao postura que devemos ter,

    se queremos formar indivduos para o exerccio da cidadania plena, em nossa

    prtica docente. Professor Vilmar, cujo nome, talvez por rimar com mar nos ajudou

    a enxergar longe, vislumbrar todo o horizonte de possibilidades dentro de um

    caminho.

    Agradecemos as escolas da rede estadual de Vitria-ES, seu corpo pedaggico, sua

    direo e, sobretudo, a seus professores e professoras, que, generosos(as), nos

  • ajudaram na coleta de dados para nossa pesquisa e agiram sempre, de maneira a

    facilitar nosso trabalho.

    Agradecemos a todos os alunos que tivemos e teremos contatos, pois a razo

    primordial da nossa pesquisa so eles, uma vez que, objetivamos, principalmente,

    que nosso trabalho contribua na formao de alunos crticos e cidados autnomos

    a partir do ensino de geografia nas escolas.

    Por fim, agradecemos aos nossos familiares, amigos(as), namorados (as), affairs,

    etc. Pois sem eles, no haveria estrutura para que este trabalho prosseguisse e

    chegasse a cabo.

    Gostaramos de ressaltar que, nenhum dos pargrafos acima (dentro de

    Agradecimentos) podem ser vistos isolados, ou em comparao, pois este

    trabalho, tal como foi feito e concludo, s o foi, com ajuda de todos os supracitados

    enlaados, caso contrrio, o resultado seria outro.

  • Corro e lano um vrus no ar

    Sua propaganda no vai me enganar

    (Cano A propaganda do grupo Nao Zumbi)

    Diante de tanta mentira nesta guerra nossa de todos os dias, me

    lembrei de um episdio curioso na vida de Proust (pra quem no sabe,

    um escritor francs, um pouco mais divertido do que tudo o mais):

    Durante a primeira guerra mundial ele lia diariamente, nos jornais

    parisienses, notcias das vitrias francesas sobre os alemes.

    E acreditava, claro. At o dia em que se deu conta de que cada vitria

    francesa era em uma cidade mais perto de Paris.

    (Guerra guerra Millr Fernandes)

  • RESUMO

    Este trabalho tem por objetivo socializar a potencialidade das propagandas como

    recurso didtico, no ensino de Geografia e na formao de alunos crticos. Para

    tanto, parte-se de uma coletnea, que explora e aponta algumas maneiras

    alternativas de sua utilizao no processo de ensino-aprendizagem.

    Visando subsidiar, teoricamente, a pesquisa, procedemos a um levantamento terico

    acerca da histria do ensino de geografia no Brasil, enfatizando a sua importncia

    para a compreenso da complexibilidade do contexto atual, complexidade esta que

    apontada por Santos (2000). Autores como Valladares (2000) e Cerri (2005) se

    tornaram os pilares tericos sobre os quais buscou-se compreender e evidenciar a

    importncia e potencialidade das propagandas no ensino.

    Como metodologia de pesquisa, na coleta de dados empricos, utilizou-se da

    aplicao de questionrios aos professores de Geografia, atuantes na rede estadual

    de ensino de VitriaES, no intuito de verificar se e como utilizam as propagandas

    como recurso didtico-metodolgico.

    Realizou-se, tambm, a elaborao de algumas propostas de utilizao de

    propagandas nas aulas de geografia.

    Esses procedimentos nos possibilitaram produzir, a ttulo de contribuies, uma

    coletnea que apresenta algumas opes de prticas de utilizao das propagandas

    no ensino, que podem ter seu contedo utilizado na compreenso de contedos

    geogrficos.

    Conclui-se que reavaliar, refletir e reestruturar a prtica docente so aes muito

    importantes no contexto escolar e que as propagandas podem contribuir no

    processo de formao da conscincia crtica-cidad dos alunos.

    Palavras-chave: propagandas; criticidade; prtica docente; ensino de

    geografia.

  • ABSTRACT

    This work aims to socialize the potentiality of the advertisement as a teaching

    resource in the teaching of Geography and the formation of critical students. So, we

    start from a collection that explores and points out some alternative ways of its use in

    the teaching-learning process.

    Aiming to support the research, we proceededa theoretical survey on the history of

    geography teaching in Brazil, emphasizing its importance for understanding the

    complexity of the current context. This complexity is pointed by Santos (2000).

    Authors like Valladares (2000) and Cerri (2005) became the theoretical pillars on

    which we sought to understand and highlight the importance and the potential of

    advertisements in teaching.

    As a research methodology, in the collection of empirical data, we used the

    questionnaires to teachers of Geography, working in state schools in Vitria-ES, in

    order to verify whether and how they use advertisements as didactic-methodological

    resource.

    Also, we realize the development of some proposals for use of advertisements in

    geography lessons.

    These procedures allowed us to produce by way of contributions, a collection that

    features some practical usability options of teaching advertisements, which may have

    your content used to understanding the geographic contents.

    We conclude that reevaluate, reflect and restructure the teaching practice are very

    important actions in the school context and that advertisements can contribute to the

    process of formation of critical citizen students.

    Keywords: Advertisements; criticality; teaching practice; geography education.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1. Propaganda da FedEx, empresa internacional de entrega ............................ 23

    Figura 2. Propaganda de absorvente nica, que destaca os benefcios de seu uso

    durante o perodo menstrual ......................................................................................... 32

    Figura 3. Propaganda da Coca-Cola, com o lema: abra a felicidade ......................... 33

    Figura 4. A propaganda da Devassa compara um de seus novos produtos mulher

    negra ............................................................................................................................ 33

    Figura 5. Propaganda do chocolate Baton, incitando o seu consumo .......................... 36

    Figura 6. Imagem de um trecho da propaganda televisiva da empresa Amanco

    demonstrando uma paisagem da Venezuela ............................................................... 37

    Figura 7. Propaganda do carro 147, lanado pela empresa Fiat em 1976 .................... 40

    Figura 8. Pgina inicial do portal UOL .......................................................................... 68

    Figura 9. Trecho da propaganda 1 Uma hora volta pra voc ................................... 71

    Figura 10. Trecho da propaganda 2 Love story in Milk ............................................ 71

    Figura 11. Trecho da propaganda 3 O Novo Refrigerador Ecotecnolgico

    Panasonic .................................................................................................................... 71

    Figura 12. Propaganda de condominio em Jornal.. ....................................................... 76

    Figura 13. Propaganda de automveis em revista. ....................................................... 78

    Tabela 1. Distribuio dos meios utilizados ................................................................................. 59

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1. Nveis de ensino de atuao dos professores de Geografia nas Escolas

    Estaduais de Vitria-ES ....................................................................................................................... 52

    Grfico 2. Formao/titulao dos professores de Geografia nas escolas estaduais

    de Vitria-ES ........................................................................................................................................... 53

    Grfico 3. Situao funcional dos professores de Geografia nas escolas estaduais de

    Vitria-ES ................................................................................................................................................ 54

    Grfico 4. Tempo de experincia dos professores de Geografia nas escolas

    estaduais de Vitria-ES ...................................................................................................................... 54

    Grfico 5. Conhecimento sobre trabalho/experincia com propagandas dos

    professores de Geografia das escolas estaduais de Vitria-ES ............................................. 56

    Grfico 6. Utilizao de propaganda pelos professores de Geografia nas escolas

    estaduais de Vitria-ES ...................................................................................................................... 57

    Grfico 7. Frequncia de utilizao de propaganda pelos professores de Geografia

    nas escolas estaduais de Vitria-ES .............................................................................................. 57

    Grfico 8. Meios utilizados pelos professores de Geografia nas escolas estaduais de

    Vitria-ES Nmero de vezes em que apareceram nos questionrios .............................. 59

    Grfico 9. Frequncia de utilizao de propaganda pelos professores de Geografia

    nas escolas estaduais de Vitria-ES ............................................................................................. 60

  • LISTA DE MAPAS

    Mapa 1. Localizao das escolas estaduais na cidade de Vitria-ES .................................. 45

    Mapa 2. Regionalizao de Vitria-ES e localizao das escolas estaduais ..................... 48

    Mapa 3. Quantidade de questionrios recolhidos por escola ................................................ 50

  • LISTA DE SIGLAS

    CEEJA - Centro Estadual de Educao de Jovens e Adultos

    DIT - Diviso Internacional do Trabalho

    EEEFM Escola Estadual de Ensino Fundamental e Mdio

    EEEM Escola Estadual de Ensino Mdio

    EJA - Ensino de Jovens e Adultos

    FAPESP - Fundao de Apoio Pesquisa do Estado de So Paulo

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    LDB - Lei de Diretrizes Bases da Educao Nacional

    UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

    SEDU - Secretaria de Educao do Esprito Santo

  • SUMRIO

    INTRODUO ........................................................................................................................... 15

    CAPTULO I O CONTEXTO ATUAL E O USO DE PROPAGANDAS NO ENSINO

    DE GEOGRAFIA ........................................................................................................... 17

    1.1. Ensino e desenvolvimento da Geografia Escolar no Brasil ............................... 17

    1.2. Geografia crtica escolar no Brasil ..................................................................... 19

    1.3. Ser crtico ... ..................................................................................................... 22

    1.4. A importncia da criticidade em tempos de globalizao .................................. 23

    1.5. Conceituao de propaganda e publicidade ..................................................... 27

    1.6. A propaganda .................................................................................................... 29

    1.6.1. A propaganda como fbula ............................................................................ 31

    1.6.2. A propaganda como perversidade .................................................................. 33

    1.6.3. A propaganda como possibilidade .................................................................. 36

    CAPTULO II PESQUISA EMPRICA E ANLISE DE DADOS ................................ 43

    2.1. Metodologia da pesquisa emprica: desenhando caminhos .............................. 43

    2.2. O universo da pesquisa: delimitando o campo de pesquisa .............................. 44

    2.3. Coleta de dados: garimpando informaes ....................................................... 47

    2.4. O perfil dos professores .................................................................................... 51

    2.4.1. Nvel de atuao .............................................................................................. 51

    2.4.2. Formao ......................................................................................................... 52

    2.4.3. Experincia ....................................................................................................... 53

    2.5. Anlise e discusso dos dados ........................................................................ 55

    2.5.1. Contato com a relao propaganda e ensino ................................................... 55

  • 2.5.2. Prtica de utilizao .......................................................................................... 57

    2.5.3. Meios de utilizao ........................................................................................... 58

    2.5.4. Aproveitamento na utilizao ............................................................................. 60

    2.5.5. A no-utilizao .................................................................................................. 61

    CAPTULO III POR UMA OUTRA PROPAGANDA - PROPOSTAS DE

    UTILIZAO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................... 63

    3.1. Internet ................................................................................................................... 64

    3.1.1. Proposta de atividade prtica .............................................................................. 68

    3.2 Televiso ................................................................................................................. 69

    3.2.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 70

    3.3. Jornal...................................................................................................................... 73

    3.3.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 75

    3.4. Revista ................................................................................................................... 77

    3.4.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 77

    3.5. Livro Didtico .......................................................................................................... 79

    3.5.1. Proposta alternativa de utilizao ........................................................................ 80

    3.6. Outdoor .................................................................................................................. 81

    3.6.1. Atividade proposta com aula de campo............................................................... 83

    CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 85

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................. 87

    APNDICES ................................................................................................................. 92

  • 15

    INTRODUO

    No atual momento, a mdia exerce grande influncia na formao de costumes,

    comportamentos e convices da sociedade. Nesse contexto, os diversos atores

    sociais se utilizam dessa influncia para vender cada vez mais suas ideias por meio

    das propagandas. Para Silva e Santos (2009)

    Ela surge como um novo fenmeno que invade a todos, que arquiteta, numa sociedade midiada, uma cultura miditica. A cultura da mdia vigente na sociedade se aspira dominante, estabelecendo formas e normas sociais, fazendo um grande nmero de pessoas enxergar o mundo por suas lentes, seus vieses. Utilizada como instrumento de manipulao a servio de interesses particulares, reordena percepes, faz brotar novos modos de subjetividade, o que trs vantagens e/ou desvantagens, tanto no aspecto individual como no

    aspecto social (p.2).

    Nesse sentido, estando as diversas propagandas to presentes no cotidiano dos

    alunos, veiculadas por meio da televiso, outdoors, internet, revistas, jornais, rdio

    etc., que visualiza-se, tambm, uma relevante possibilidade que elas nos oferecem,

    no sentido de explorar sua utilizao, de maneira crtica e auxiliar ao ensino da

    Geografia no contexto escolar.

    Pensar em sala de aula pensar na diversidade e, portanto, necessrio que haja

    uma diversificao dos recursos didticos no processo de aprendizagem, pois nem

    todos aprendem da mesma forma. Dessa forma, a prtica reflexiva deve ser

    constante no cotidiano do professor. E as propagandas apresentam-se como uma

    forma diferenciada e prazerosa de ler o mundo.

    Destaca-se, de imediato, a percepo acerca da necessidade de se trabalhar com

    os professores atuantes na Educao Bsica, o potencial da utilizao das

    propagandas no ambiente escolar. Isso pode fornecer-lhes uma nova possibilidade

    de recurso didtico, ferramentas que so muito importantes quando se trata de

    entender e desvendar as perversidades que se instalam no momento atual de

    globalizao e de se compreender, de uma maneira diferenciada, diversos

    contedos geogrficos.

  • 16

    Nesse sentido que se desenvolveu a presente investigao, cujo relatrio final foi

    estruturado em trs captulos. No primeiro captulo O contexto atual e a utilizao

    das propagandas no ensino de Geografia realizamos um levantamento terico

    sobre a histria do ensino de Geografia no Brasil, tendo como objetivo destacar a

    importncia da criticidade para o aluno, principalmente para que ele compreenda a

    complexidade do mundo atual: a globalizao. Nesse contexto, as propagandas

    revelam-se como importantes ferramentas quando se trata desta compreenso.

    No segundo captulo, intitulado Pesquisa emprica e anlise de dados,

    apresentamos a tabulao e triangulao dos dados empricos, decorrentes de

    questionrios aplicados junto aos professores da rede estadual de Vitria-ES, com o

    qual objetivamos demonstrar a realidade da utilizao das propagandas nas escolas

    visitadas e as percepes dos professores acerca desse recurso. Tais dados so

    imprescindveis para a elaborao das propostas de ensino, que sero apresentadas

    no captulo trs.

    No terceiro captulo, Por uma outra propaganda: propostas de utilizao, aps

    entabular um dilogo com o nosso referencial terico, apresentado, principalmente,

    no primeiro captulo e com os dados empricos, discutidos no captulo dois,

    apresentamos uma Coletnea, com diversas propostas de utilizao com

    propagandas para serem exploradas como alternativas ao ensino da Geografia.

    Por fim, mas sem a inteno de concluir definitivamente a investigao empreendida,

    conclui-se que possvel a elaborao de propostas alternativas de ensino, com

    vistas utilizao de propagandas na sala de aula com os mais variados meios de

    comunicao, para que todos os professores, mesmo os que trabalham em escolas

    com poucos recursos, as utilizem em suas aulas. Assim, objetivamos que tal material

    possa contribuir sobremaneira na construo de um conhecimento autnomo e

    crtico dos alunos.

  • 17

    CAPTULO I

    O CONTEXTO ATUAL E O USO DE PROPAGANDAS NO ENSINO DE

    GEOGRAFIA

    Neste captulo realizamos um levantamento terico sobre a histria do ensino de

    Geografia no Brasil, seus processos de renovaes at desencadear no

    desenvolvimento da Geografia Crtica, alm de destacar a importncia da criticidade

    para o aluno.

    Mostramos a importncia da criticidade em tempos de globalizao, onde a

    abundncia de informaes ronda o dia-dia do indivduo e paira por todos os lados

    como se fosse poluio atmosfrica. Vale, portanto, esforos no sentido de

    compreendermos as conceituaes de propaganda e publicidade, j que essas so

    fortes fontes distribuidoras de informao e de se considerar o poder que a

    propaganda possui em nossa sociedade contempornea.

    Partimos do pressuposto de que assim como acontece com a globalizao, existem

    pelo menos trs propagandas em uma s: a propaganda como nos fazem v-la, ou

    seja, como fbula; a propaganda tal como ela , perversa, diante da sua capacidade

    de persuaso; e a propaganda como pode ser, uma possibilidade para o ensino

    crtico de Geografia.

    1.1 Ensino e desenvolvimento da Geografia Escolar no Brasil

    Uma (re)visita histria da geografia escolar pode nos revelar os caminhos

    percorridos na sua constante busca por processos de renovaes. Segundo

    Gonalves (2007), esta disciplina possui uma dinmica prpria e certa autonomia

    frente geografia acadmica.

  • 18

    As discusses acerca da trajetria da geografia escolar no Brasil propiciam perceber

    sua importncia e sua identidade. Este debate pode nos revelar as reformas

    educacionais que perpassaram a geografia escolar e como a disciplina geogrfica foi

    se renovando at o surgimento da Geografia Crtica.

    Conforme destaca Pessoa (2007), em 1599 os portugueses trouxeram para o nosso

    pas um padro eurocntrico 1 de educao e os missionrios jesutas

    desenvolveram o plano de estudos no pas. Nesse primeiro momento e, nessa

    concepo eurocntrica, a geografia e seus conhecimentos eram trabalhados

    indiretamente, sem a autonomia necessria sua importncia e relevncia.

    Os conhecimentos geogrficos se davam em conexo com a aprendizagem da leitura, verso e comentrios dos autores clssicos. [...] durante os mais de duzentos anos de monoplio da educao jesutica no Brasil a geografia no teve vez e nem voz nas escolas enquanto disciplina escolar. O ensino dos conhecimentos geogrficos eram secundarizados no currculo subsistente. No existiam, tambm, cursos de formao de professores(as) para atuar com o ensinamento destes saberes. Os conhecimentos geogrficos, embora de grande interesse do Estado, eram at ento pouco

    propagados nas salas de aulas (PESSOA, 2007, p.31).

    Com a fundao do Colgio Pedro II2 em 1837, a geografia consegue um lugar de

    destaque no currculo e adquiri o estatuto de disciplina autnoma. No entanto,

    durante todo o perodo Imperial3 no Brasil, o ensino de geografia manteve o seu

    carter de disciplina descritiva, enumerativa, mnemnica e enciclopdico.

    1Corrente que traz a Europa como o elemento fundamental na constituio da sociedade moderna,

    sendo necessariamente a protagonista da histria do homem. Acessado em 11 de dezembro de 2013.

    2Fundado na poca do Perodo Regencial brasileiro, integrava um projeto civilizatrio mais amplo do

    imprio do Brasil, do qual faziam parte a fundao do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e o Arquivo Pblico do Imprio, seus contemporneos. No plano da educao pretendia-se a formao de uma elite nacional. Deste modo, a instituio propunha-se formar quadros polticos e intelectuais para os postos da alta administrao, principalmente pblica. . Acessado em 12 de dezembro de 2013.

    3 Umperodo da histria brasileira entre 7 de setembro de 1822 (Independncia do Brasil) e 15 de

    novembro de 1889 (Proclamao da Repblica). Neste perodo, o Brasil foi governado por dois monarcas: D. Pedro I e D. Pedro II.

  • 19

    Entre 1890 e 1942, o ensino brasileiro passou por diversas reformas educacionais4.

    No obstante, o que se viu, foi que apesar destes avanos o ensino de geografia:

    [...] ainda se mostrava dividido em segmentos, apresentando uma postura metodolgica e conceitual copiosamente tradicional. A geografia ensinada ainda conservava os preceitos da memorizao, da exaltao a ptria, da descrio das paisagens, caracterizando o espao, a ao do homem e a economia como elementos desarticulados, sem nenhuma preocupao em relacion-los

    (PESSOA, 2007, p. 58).

    Assim, nesse processo histrico, vo ganhando vozes as constantes e vrias crticas

    forma que se praticava geografia nas escolas do Brasil. Crticas estas que

    desencadearam no desenvolvimento da Geografia Crtica, corrente que defendia um

    ensino de geografia que estimulasse o esprito crtico do aluno.

    1.2 Geografia Crtica Escolar no Brasil

    Segundo Antunes (2001) citado por Pessoa, (2007, p. 72) existem duas

    caractersticas marcantes para se entender o processo de renovao da geografia

    no Brasil, que resultou no aparecimento da Geografia Crtica:

    A primeira refere-se forma/processo, que tm no ano de 1978 sua referncia emblemtica. Essa renovao , ao mesmo tempo, epistemolgica e poltica. As crticas que eram feitas e as insatisfaes que acabaram por gerar a ruptura eram no apenas sobre qual estatuto epistemolgico a Geografia deveria ser produzida nas universidades e nas escolas, remetendo a um olhar cientfico, mas tambm sobre qual e paraquem seria produzida a Geografia, completando um claro projeto de sociedade, do qual a Geografia deveria participar. A segunda caracterstica refere-se aos agentes dessa renovao. Diferentemente de outras cincias no Brasil, a Geografia teve no nos acadmicos os principais atores da transformao cientfica. A Geografia talvez a nica cincia que, no Brasil, em sua histria recente, passou por um processo to radical de transformao do pensar/produzir sem a direo exclusiva, ou mesmo principal, da Academia. Para a Geografia, o processo de renovao teve incio e meio na interveno daqueles que

    4 Reformas: Benjamin Constant (1890); Epitcio Pessoa (1901);Rivadvia da Cunha Corra (1911);

    Carlos Maximiliano (1915); Luis Alves-Rocha Vaz (1925); Francisco Campos (1931); Capanema (1942).

  • 20

    estavam fora da Academia os professores de 1. e 2. graus , e naqueles que estavam nas Universidades e que eram tratados como espectadores os estudantes. Foi a unio desses dois

    segmentos que garantiu o processo de renovao (PESSOA, 2007, p. 72, grifo nosso).

    Ressalta-se, assim, a importncia de no se menosprezar a Geografia Crtica

    Escolar, concebendo-a como uma repetio simplificada do que se produz na

    academia.

    [...] A geografia escolar tem, como enfatizam vrios autores (CHERVEL, 1990; GOODSON, 1990; VESENTINI, 2004) entre outros, certa autonomia, visto que traz em suas prticas e propostas tericas mtodos especficos, diferentes estilos de abordar os mais diversos contedos, isto lhe confere um carter peculiar e ao mesmo tempo pouco dependente da geografia produzida no ensino superior

    (PESSOA, 2007, p. 66).

    Fica, portanto, bastante evidenciado que a geografia escolar traou caminhos que

    em muito contriburam para a sua renovao. vlido considerar, ainda, como fortes

    indcios de contribuio da Geografia Escolar para a efetivao da Geografia Crtica,

    o fato de que para que haja uma renovao de mtodos e conceitos, torna-se

    necessria a fomentao de novas prticas e meios de se transmitir o contedo para

    os alunos, tendo em vista que,

    Um ensino crtico da geografia no se limita a uma renovao do contedo com a incorporao de novos temas/problemas, normalmente ligados s lutas sociais: relaes de gnero, nfase na participao do cidado/morador e no no planejamento, compreenso das desigualdades e das excluses, dos direitos sociais (inclusive os do consumidor), da questo ambiental e das lutas ecolgicas etc. Ela tambm implica em valorizar determinadas atitudes combate aos preconceitos; nfase na tica, no respeito aos direitos alheios e s diferenas; sociabilidade e inteligncia emocional e habilidades (raciocnio, aplicao/elaborao de conceitos, capacidade de observao e de crtica etc.) (VESENTINI, 2004, p. 228).

    Nesse sentido, a busca pela to decantada criticidade na Geografia escolar

    pressupe esforos docentes no sentido de propiciar aos estudantes condies de

    se posicionarem crtica e conscientemente como sujeitos-cidados atuantes na

    sociedade. Para tanto, h que se considerar que estes alunos possuem um vasto

  • 21

    conhecimento obtido em seu cotidiano. Estes conhecimentos devem ser

    aproveitados para o estudo da realidade em que os mesmos se encontram

    inseridose, dessa forma, pode-se fazer um jogo de relao entre sua escala de

    vivncia e a compreenso da totalidade. Esse jogo de relao pode contribuir para

    que se compreenda o espao e a organizao de poder.

    Vale ressaltar que, conforme bem enfatiza Yves Lacoste (1974) referenciado por

    Vesentini (s/d) pensar em espao significa

    [...] ter um raciocnio geogrfico, no sonhar com as estrelas e sim pensar o espao com uma viso poltica, saber pensar o espao com vistas a nele atuar mais eficazmente. [...]. Nele atuamos como

    pessoas(...) ( p.1).

    Assim, considerando a criticidade da/na Geografia e em seu ensino, no se pode

    mais ficar agarrado numa forma de educao que, lamentavelmente ainda resiste,

    pautada em prticas e posturas, onde o professor tido como um mero repassador

    de informaes.

    Segundo Kaercher (2007), no obstante os avanos propiciados pela Geografia

    Crtica Escolar, a ocorrncia de posturas e prticas docentes de Geografia nas

    escolas brasileiras, pautadas nos pressupostos da Geografia Tradicional, pode estar

    atrelada, muitas vezes uma distorcida formao inicial dos professores licenciados.

    possvel, ainda, segundo o referido autor, encontrar cursos de licenciatura em

    Geografia que adotem um currculo onde se trabalha "numa lgica demasiadamente

    conteudista e dicotmica" (KAERCHER, 2007, p.3). Primeiro, os contedos

    especficos da Geografia e, posteriormente, de forma desvinculada e dicotmica, os

    contedos pedaggicos.

    Nessa direo, Kaercher (2007) contribui ao afirmar que, para enfraquecer/quebrar

    este paradigma de repassadores de informao, devemos nos propor a levar nosso

    aluno

    [...] a criar-se na autonomia e a independentizar-se, desenvolvendo nele a capacidade de agir livremente, mas sempre lembrando que nossa opinio uma crena com a conscincia de ser insuficiente. E, por saber-se insuficiente, muitas vezes, formula mais questes do

    que finaliza com respostas (p.4).

  • 22

    Assim, pertinente se faz desenvolver reflexes que nos possibilitem alternativas de

    respostas crucial questo: o que ser crtico?

    1.3. Ser crtico ...

    Existe, muitas vezes, uma associao entre criticar e falar mal, apontar os defeitos,

    difamar. Essa associao indevida. Lima (2008), se referenciando a John

    Passmore (1979) observa que

    (...) ser crtico no simplesmente se posicionar contra, por exemplo, disparar contra uma obra ou autor sua opinio pessoal (ex.:no gosto de Picasso, pera para aristocratas e burgueses, msica x chata), ou usar argumentos estereotipados ou falaciosos sobre um determinado sistema de idias que ele discorda (p.1).

    Crtico aquele que toma conscincia de que deve investigar, pesquisar e analisar

    aquilo que se deseja conhecer. Examinar apenas um lado da moeda no tornar a

    pessoa capaz de dizer com propriedade sobre as caractersticas e peculiaridades

    dela como um todo. Para tanto, preciso ser questionador e ter um pensamento

    autnomo. Uma crtica, propriamente dita, aquela na qual os argumentos so

    consistentes e fundamentados.

    Para Vesentini (2009),

    Na filosofia, na epistemologia e nas cincias humanas em geral, o significado de crtica o de um procedimento que implica em discernimento, critrio, apreciao minuciosa e julgamento que no precisa ser, necessariamente, negativo. Mais ainda: um procedimento tido como necessrio e at mesmo imprescindvel para

    o aprimoramento e o avano do conhecimento (p.109).

  • 23

    1.4 A importncia da criticidade em tempos de globalizao

    Existem diversos pontos de vista sobre a origem do processo de globalizao, mas a

    predominncia de que esse processo teve incio com a expanso martimo-

    comercial europeia, nos sculos XV e XVI, concomitantemente do prprio

    capitalismo, e continuando nos sculos seguintes, at atingirem suas formas atuais.

    Figura 1: Propaganda da FedEx, empresa internacional de entrega

    Fonte: https://blogdamarco.wordpress.com/2010/04/

    A globalizao, segundo Santos (2000), de certa forma, o pice do processo de

    internacionalizao do mundo capitalista. E os fatores que, de acordo com o referido

    autor, contribuem para explicar a arquitetura da globalizao atual so: a unicidade

    da tcnica, a convergncia dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a

    existncia de um motor nico na historia, representado pela maisvalia globalizada.

    Sobre os pilares da globalizao atual, numa anlise menos aprofundada, podemos

    verificar que o seu:

  • 24

    Primeiro fator, a unicidade da tcnica, se deve ao fato da chegada da tcnica da

    informao, por meio da ciberntica, da informtica e da eletrnica. Esse fato

    possibilitou que outras tcnicas j existentes pudessem se comunicar entre elas

    simultaneamente, criando uma convergncia dos momentos.

    O segundo, a convergncia dos momentos, se deve ao fato que, hoje, com o tempo

    real, possivelmente podemos estar em mltiplos lugares a partir de um s lugar,

    como trazido na ideia de um mundo s, de aldeia global. No entanto, esse

    tempo, ou a velocidade que hoje alcanvel esta nas mos dos atores

    hegemnicos, assegurando a esses, exclusividade em seu uso.

    J o terceiro fator, a cogniscibilidade do planeta, verifica-se que atravs de um

    sistema tcnico nico, torna-se possvel se manifestar em nvel mundial, fornecer a

    possibilidade de, hoje, podermos ter um conhecimento amplo e aprofundado sobre o

    planeta, jamais visto em outro perodo histrico. No entanto, as empresas globais se

    utilizam desses conhecimentos que emergem, para se apropriarem e, por vezes,

    expropriarem os lugares espalhados pelo globo.

    Por ultimo, o motor nico representado pela mais-valia universal onde, agora, a

    produo se d em escala mundial, por intermdio de empresas globais, e numa

    voracidade competitiva jamais vista. De maneira que, as empresas que adquirem

    maior mais-valia, continuam a competir.

    O processo de globalizao, ento, de certa maneira, borrou os limites geogrficos,

    quebrou/ultrapassou certas barreiras. Ainda assim, grandes mazelas

    socioambientais no esto sanadas. Pelo contrrio, as tragdias sociais se

    avolumam, os problemas ambientais triunfam a despeito das novas tcnicas e dos

    novos conhecimentos.

    Vale aqui, de imediato, lembrarmos a clebre frase do economista estadunidense

    John Kenneth Galbraith, citado por Gonalves (2006, p.22), ao afirmar que

    globalizao um termo que os americanos inventaram porque americanizao

    ficava feio.

    Conforme nos adverte Santos (2000), vivemos num mundo confuso e confusamente

    percebido. Da a importncia da Geografia e de sua criticidade na formao dos

  • 25

    nossos estudantes, visto que cada vez mais, a tecnologia tem oferecido, sobretudo,

    aos jovens, uma possibilidade de se comunicarem de maneira veloz, instantnea,

    online.

    Portanto, mister se faz aos educadores a reflexo acerca de at que ponto e como

    o cotidiano destes jovens est sendo influenciado. Valendo, assim, a advertncia

    que nos faz Defleur, Ball-Rokeach (1993),

    Nossa impressionante capacidade atual de enviar mensagens instantaneamente a distncias imensas, e para suscitar significados semelhantes em milhes de pessoas ao mesmo tempo, to familiar para todos ns que fcil encar-la com indiferena. Na perspectiva da vida humana como foi em pocas anteriores, contudo, o que fazemos hoje ao abrirmos nosso jornal, ligarmos nosso radio, irmos a um cinema, ou assistirmos televiso, representa uma mudana no comportamento da comunicao humana de grandeza verdadeiramente extraordinria.(...)Todavia, parece claro a esta altura que nossos veculos de massa influenciam mesmo suas audincias, e, deveras, a sociedade como um todo. O que no

    entendemos plenamente como e at que ponto isso ocorre (p.17).

    Os veculos de massa atuais esto a, cada vez mais enlaados/enlaando o dia-dia

    de cada um. Porm, nem sempre foi assim. Ao levarmos em considerao os dados

    histricos, percebemos que a comunicao humana passou e passa por vrios

    perodos, se no, fases transicionais. Essa recente e rpida mudana no cenrio e

    nas relaes sociais repercute diretamente na educao, tornando-se, assim, um

    grande desafio aos educadores, haja vista que:

    Nossos veculos de massa contemporneos: apesar de s terem chegado recentemente, j so to fundamentais em nossa vida cotidiana que podero ajudar a modelar o destino de nossa espcie no futuro. () A histria da existncia humana, pois, deve ser mais adequadamente explicada por uma teoria de transies isto , explicada em funo de etapas distintas no desenvolvimento da comunicao humana, cada uma das quais teve profundas consequncias tanto para a vida individual quanto para a coletiva e social. Em suma, essas eras foram associadas ao desenvolvimento da sinalizao, da fala, da escrita, da impresso e da comunicao com os veculos de massa conforme os conhecemos hoje

    (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.18-23).

    Aparentemente, as novas tecnologias da informao deveriam facilitar o

    conhecimento do aluno sobre aquilo que o sonda. Entretanto,

  • 26

    Nas condies atuais, as tcnicas da informao so principalmente utilizadas por um punhado de atores em funo de seus objetivos particulares. Essas tcnicas da informao (por enquanto) so apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criao de desigualdades. desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais perifrica, seja porque no dispe totalmente dos novos meios de produo, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle (SANTOS, 2000, p.39).

    Nesse cenrio, ao tomarmos, como exemplo, a propaganda dentro do mundo

    globalizado, podemos afirmar que a mesma visa, dentre outras coisas, o consumo.

    Dentro desta mxima, apresenta a possibilidade do consumo como se todos

    vivssemos numa aldeia global, onde todos supostamente vivem bem, comem

    bem, tem acesso as tcnicas e tecnologias que abundam. S que no. A

    propaganda neste sentido presta um (des)servio, posto que, com essa forma de

    apresentao do mundo, refora, maquia, desvia, esconde embaixo do catre 5 ,

    diversas problemticas como, a fome, as desigualdades, os problemas ambientais, o

    caos urbano, etc.

    Depreende-se da que a propaganda tem, via de regra, um objetivo bastante claro:

    transmitir ao maior nmero de pessoas (consumidores de ideias, produtos, etc.)

    informaes ideologicamente manipuladas aos interesses daqueles que as

    produzem, conforme bem salienta Santos (2000),

    O que transmitido maioria da humanidade , de fato, uma informao manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto mais grave porque, nas condies atuais da vida econmica e social, a informao constitui um dado essencial e imprescindvel. Mas na medida em que o que chega s pessoas, como tambm s empresas e instituies hegemonizadas, , j, o resultado de uma manipulao, tal informao se apresenta como ideologia. (...) No de se estranhar, pois, que realidade e ideologia se confundam na apreciao do homem comum, sobretudo porque a ideologia se

    insere nos objetos e apresenta-se como coisa (p.39).

    Assim, vive-se um momento em que somos bombardeados diuturnamente por

    propagandas dos mais diversos tipos, que,- como discutido anteriormente -, em vez

    de esclarecer, obscurecem. nesse cenrio que se situa um dos grandes desafios

    postos aos professores de Geografia, ou seja, lidar com a espacialidade no ensino

    5Trecho do poema Confisso, do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.

  • 27

    em meio a tanta mistificao, aliada aos individualismos e a competitividade do

    mundo contemporneo. Considera-se, portanto, que a competitividade, sugerida

    pela produo e pelo consumo a fonte dos novos totalitarismos, mais facilmente

    aceitos graas a confuso dos espritos que se instala (SANTOS, 2000, p.37).

    A abundncia de informaes que rondam o dia-dia os indivduos, paira por todos os

    lados como se fosse a poluio atmosfrica. Apesar de sua onipresena no mundo

    atual, ela no necessariamente trar algo de bom queles que a consomem.

    Desenha-se, assim, um cenrio onde no se pode deixar de considerar que a

    informao fundamental e cada vez mais irrevogvel, porm, ela pode, tambm,

    ser manipulada.

    Todos queremos t-la e ela, por sua vez, chega de todos os lados, de modo que,

    sua manipulao grave. Vale, portanto, esforos no sentido de compreendermos

    as conceituaes de propaganda e publicidade, j que essas so fortes fontes

    distribuidoras de informao.

    1.5. Conceituao de propaganda e publicidade

    Conforme discutido anteriormente, bastante considervel o poder que a

    propaganda possui em nossa sociedade contempornea. Antes, porm, de discutir

    sua influncia em nosso meio, torna-se necessria a conceituao de dois termos

    que muitas vezes se confundem: propaganda e publicidade.

    So muitas as definies de propaganda. Quanto a sua etimologia, de acordo com

    Pinho (1990), citado por Areu (2008), a palavra gerndio latino do verbo propagare

    e significa propagar, multiplicar, estender, difundir. Pinho (1990), define propaganda

    como expresso de opinio ou ao por parte de indivduos ou grupos,

    deliberadamente destinada a influenciar opinies ou aes de outros grupos

    relativamente a fins predeterminados (PINHO, 1990, apud VALLADARES, 2000,

    p.55).

  • 28

    Sentimentos, atitudes e opinies de um pblico so influenciados por tcnicas

    informativas que buscam persuadi-lo e, consequentemente, gera reaes no grupo

    social. Outra definio do termo de acordo com Giacomin Filho (1991), : estratgia

    de comunicao identificada como persuasiva e empreendida de forma paga,

    atravs dos meios de comunicao de massa (GIACOMIN FILHO, 1991, apud

    VALLADARES, 2000, p. 55).

    Valladares (2000) afirma que a palavra publicidade originada do latim publicus

    (pblico) e que deu origem ao termo publicit (publicidade) na Frana. Segundo a

    referida autora, com o tempo, a palavra publicidade assumiu diferentes conceitos e

    funes. Inicialmente, o termo estava associado prtica de divulgao, anncio,

    enfim, que objetivava tornar algo pblico (especificamente assuntos jurdicos).

    Posteriormente passou a se referir divulgao de produtos e servios em meios de

    comunicao.

    Vale ressaltar que a prtica de trocas humanas est presente desde tempos remotos,

    pr-histricos, como destacado por Areu (s/d):

    [...] a prtica de anunciar muito antiga, desde os tempos pr-histricos pode-se pressupor que de alguma forma os membros de uma tribo expunham o que estava sobrando ou faltando com o intuito de realizar trocas (...) Com o desenvolvimento de organizaes sociais mais complexas e o consequente nascimento do comrcio (...)

    foram estabelecidas as mais variadas formas de anunciar (AREU, s.d., p.3).

    Para Valladares (2000), a divulgao das diferenas e a provocao do desejo,

    presentes em pocas passadas, foram duas das responsveis pela origem das

    propagandas, como hoje conhecemos.

    Ao analisarmos a literatura disponvel, percebemos que h certa confuso quanto

    utilizao correta dos termos propaganda e publicidade. Nesse sentido, nos

    apoiamos em Valladares (2000), para explicitar que:

    No Brasil (...) a nominao propaganda suscita algumas discusses por ser empregada comumente como equivalente ao termo publicidade, no havendo clareza de definio nem mesmo entre os profissionais da rea, seus rgos e sequer pela legislao. (...) , tambm, comum a incluso do termo comercial no grupo dos dois

    termos, funcionando todos, praticamente, como sinnimos (p.56).

  • 29

    Dessa forma, tambm utilizaremos como similares os termos propaganda e

    publicidade, objetivando facilitar o entendimento do presente trabalho.

    1.6 A propaganda

    A comunicao algo natural e os seres humanos necessitam se comunicar. Assim,

    ao nascer j possuem essa impulso de se direcionar ao outro. Nesse sentido,

    Alvarez (2011, p. 87) em dilogo com autores da psicanlise, ao discutir a

    comunicao humana, destaca a naturalidade da pessoa em se comunicar desde o

    incio da vida a partir de estmulos iniciais do desenvolvimento emocional do beb,

    na interao afetiva dele com a me.

    Com o desenvolvimento da tecnologia, o homem desenvolveu tambm novas

    ferramentas de se comunicar, com novos recursos audiovisuais. E para entender

    melhor como se deu essa diversificao, nos apoiamos em da Silva (2001), que

    aponta trs marcos histricos, nas formas humanas de se comunicar.

    O primeiro marco se refere oralidade. o nascimento da linguagem, onde o

    homem se descobre em se comunicar. A escrita seria o segundo marco, onde a

    humanidade passa a registrar e consultar o andamento de sua histria (SILVA,

    2001, p. 135). Aps isso, a imprensa traz uma nova forma de civilizao da escrita,

    que seria o terceiro marco histrico.

    Segundo Silva (2001) algumas invenes como a fotografia em 1822, a imprensa

    em massa (em 1833 surge o primeiro anncio publicitrio), a reproduo tipogrfica

    da fotografia (1884), entre outros, deram aporte para o momento da era da imagem

    e do som6. A linguagem mvel a partir de 1895, como a autora afirma, consegue

    dominar o tempo e o espao.

    6Yanaray Joana da Silva, uma das autoras do projeto "Outras linguagens na escola: publiidade,

    cinema e TV, rdio, jogos, informtica", utiliza a expresso "a era da imagem e do som" para se referir a inveno do cinema pelos irmos Lumire em 1895.

  • 30

    Assim, com o transcorrer do tempo, vrios meios foram criados e revolucionaram as

    tcnicas de comunicao. O cinema, a televiso, o jornal, a revista e a internet

    trouxeram inmeras possibilidades de transmitir e comunicar ideias e esto inseridos

    nos moldes de uma indstria cultural7. E esses meios se aperfeioam com grande

    rapidez.

    A evoluo dos meios de comunicao leva a possibilidades at ento

    desconhecidas. Os instrumentos portteis como os smartphones, por exemplo,

    podem levar algum a qualquer lugar em qualquer situao.

    Diante disso, vale refletir sobre a atuao da escola nesse contexto de novas

    tecnologias. fundamental que a escola no ignore os meios de comunicao. A

    sociedade moderna habituou-se a obter informaes atravs da televiso, do

    jornal/revista, do rdio e da internet. No entanto, deparamos com a crucial questo:

    essas informaes so totalmente confiveis?

    Essa questo refora a importncia de o professor levar contedos presentes nos

    meios de comunicao para a sala de aula, pois podem possibilitar reflexes e

    esclarecimentos, antes no percebidos pelo o aluno. Assuntos dos mais variados

    podem ser explorados, tais como drogas, sexo e violncia que entram na escola

    junto com o aluno. Por exemplo, anncio de greve de rodovirios, ao ser levado em

    discusso numa aula pode abordar tema como o desemprego, e a partir da

    desmembrar vrios outros assuntos. Citelli (2011, p.21) trata esses meios como

    linguagens institucionalmente no escolares.

    Justifica-se, assim, esforos no sentido deanalisar com mais afinco o papel da

    propaganda em nosso mundo globalizado. Para tanto, de suma importncia

    reconhecer as valiosas contribuies deixadas por Santos (2000), no que se refere

    ao processo de globalizao e, nesse sentido, buscarmos uma analogia com o

    7ADORNO. In: COHN, p.287-8, (...) A indstria cultural a integrao deliberada, a partir do alto, de

    seus consumidores. Ela fora a unio dos domnios, separados h milnios, da arte superior e da arte inferior. Com o prejuzo de ambos. A arte superior se v frustrada de sua seriedade pela especulao sobre o efeito; a inferior perde, atravs de sua domesticao civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social no era total. Na medida em que nesse processo a indstria cultural inegavelmente especula sobre o estado de conscincia e inconscincia de milhes de pessoas s quais ela se dirige, as massas no so, ento, o fator primeiro, mas um elemento secundrio, um elemento de clculo; acessrio da maquinaria. O consumidor no rei, como a indstria cultural gostaria de fazer crer, ele no o sujeito dessa indstria, mas seu objeto.

  • 31

    processo globalizatrio e os modos como se d a atuao da propaganda em nossa

    sociedade.

    Nessa direo, j destacamos de imediato, conforme bem ressalta Santos (2000)

    que devemos considerar a existncia de trs mundos em um s: o mundo como nos

    fazem v-lo (o mundo das fbulas), o mundo como ele realmente (perverso) e o

    mundo como ele pode ser (uma outra globalizao). Partimos, pois, do pressuposto

    de que assim como acontece com a globalizao, existem pelo menos trs

    propagandas em uma s: a propaganda como nos fazem v-la, ou seja, como fbula,

    na qual tudo belo e perfeito; a propaganda tal como ela , perversa, diante da sua

    capacidade de persuaso; e a propaganda como pode ser, uma possibilidade para o

    ensino crtico de Geografia, capaz de desvendar as perversidades atuais. Todas as

    trs sero tratadas abaixo.

    1.6.1. A Propaganda como Fbula

    A propaganda muitas vezes nos mostra uma realidade que mais parece uma fbula.

    Para entend-la, necessrio se faz compreender como as fbulas se manifestam em

    nosso mundo atual. Para Santos (2000), elas no so poucas. Destacando-se: a

    fbula da ideia de aldeia global; do espao e do tempo contrados; da humanidade

    desterritorializada; alm da defesa da morte do Estado para melhores condies

    de vida da sociedade.

    Sua ideia central quando pensa essas fabulaes de que h uma falsa noo

    difundida a partir de interesses prprios das classes dominantes (destacados como

    atores hegemnicos) de que o planeta est mais integrado, com a existncia de

    uma padronizao cultural, com fronteiras eliminadas, com maiores relaes

    interpessoais. Todavia, defende que essas relaes so agora intermediadas por

    objetos relacionadas aos meios de comunicao, deixando-se de lado as relaes

    diretas entre as pessoas, alm do aumento da desigualdade social. Nesse contexto,

    ganha fora a mdia que pratica a interpretao interessada, seno interesseira, dos

    fatos (SANTOS, 2000, p. 21).

  • 32

    Como ento poderamos pensar as propagandas como fbulas? Ao utilizar-se de

    diferentes maneiras para persuadir o consumidor, as propagandas atravs da mdia,

    muitas vezes, nos apresentam um mundo com caractersticas irreais. Tomemos, por

    exemplo, a seguinte propaganda de absorventes femininos:

    Figura 2: Propaganda de absorvente nica, que destaca os benefcios de seu uso durante o perodo menstrual.

    Fonte: http://www.fotolog.com.br/saby86/68322155/

    No incomum assistirmos propagandas de absorventes, como o exemplo posto

    acima, que mostram mulheres satisfeitas, extremamente felizes, no obstante os

    desconfortos que, via de regra, so vivenciados pela grande maioria das mulheres,

    nos seus perodos menstruais. Outros exemplos: marcas de refrigerante propagam

    que seus produtos levam felicidade. Propagandas de automveis consideram

    seus produtos como necessrios para uma vida melhor, segura. Enfim, esses foram

    apenas trs exemplos de atuao da propaganda em nossa sociedade

    contempornea. Propagandas essas que com uma anlise mais aprofundada

    apresentam caractersticas de verdadeiras fbulas.

    Talvez seja otimista demais imaginar que o simples uso de um determinado

    absorvente faa o perodo menstrual da mulher mais feliz. Que consumir refrigerante

    leve apenas felicidade, desconsiderando seus possveis malefcios. E que

    automveis sejam apenas sinnimos de segurana e tranquilidade. Mas isso nos

    imposto como uma verdade absoluta. Consumir o que propagado quase uma

    obrigao transmitida por essas marcas.

  • 33

    Enfim, na busca de persuaso do leitor para que ocorra o consumo, as propagandas

    tratam o mundo, muitas vezes, como uma fbula. Portanto, a propaganda pode, em

    si, ser uma fbula. E, como veremos adiante, refora a perversidade sistmica no

    mundo.

    Abaixo um exemplo de propaganda bastante conhecida e de um produto totalmente

    globalizado, veiculada como uma fbula.

    Figura 3: Propaganda da Coca-Cola, com o lema: abra a felicidade.

    Fonte: http://blog.pa.sebrae.com.br/inovacaoetecnologia

    1.6.2. A Propaganda como Perversidade

    Pensar a propaganda no atual contexto em que vivenciamos, requer que se

    considere o seu poder, bem como se assimile o carter perverso que ela denota.

    Tomemos, por exemplo, a propaganda de uma cerveja:

    Figura 4: A propaganda da Devassa compara um de seus novos produtos mulher negra.

    Fonte: http://consciencia.blog.br/

  • 34

    Necessrio se faz, em um primeiro momento, esclarecer nossa concepo de

    perversidade e de como ela se manifesta contemporaneamente.

    Santos (2000) defende precisamente que junto globalizao, uma srie de

    perversidades tm se manifestado mundialmente nas ltimas dcadas.

    Analfabetismo, desemprego, fome, doenas, muitas so mazelas agravadas a partir

    da globalizao. E pior, h uma perversidade sistmica, em que os diversos

    problemas passam a ser vistos na sociedade como algo natural.

    O fato (...) que a pobreza tanto quanto o desemprego agora so considerados como algo natural (...) Vivemos num mundo de excluses, agravadas pela desproteo social (...) de insegurana. Na verdade, a perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados (...) para se estabelecer como um sistema. (...) a causa essencial da perversidade sistmica a instituio, por lei geral da vida social, da competitividade como regra absoluta (...) O outro, seja ele empresa, instituio ou indivduo, aparece como um obstculo realizao dos fins de cada um e deve ser removido (...) Decorrem da a celebrao dos egosmos, o alastramento dos narcisismos, a banalizao da guerra de todos contra todos, com a utilizao de qualquer que seja o meio para obter o fim colimado, isto , competir e, se possvel,

    vencer (SANTOS, 2000, p.29-30).

    Assim, ao analisarmos a globalizao como ela realmente , notamos que, para

    alm dos benefcios e vantagens desse processo, a perversidade maquiada

    ideologicamente da a ocorrncia de problemas para a humanidade. Conforme j

    discutido anteriormente, com as novas condies tcnicas emergentes no fim do

    sculo XX, o mundo torna-se essencialmente unificado. E, conforme bem salienta

    Santos (2000), nesse novo mundo surgem dois protagonistas que do sustentao a

    esse novo perodo histrico: a informao e o dinheiro (classificados como

    violncias). O carter das pessoas muda. A competitividade, relacionada

    produo e ao consumo, uma marca dessa nova sociedade. Encolhe o Estado

    com preocupao social, crescem as empresas.

    A informao violenta medida que busca confundir ao invs de esclarecer. Que

    j nos chega manipulada, dotada de uma ideologia dominante. O dinheiro violento

    quando o motor da vida social e econmica, sendo base para a explorao de

    empresas em territrios pelo mundo.

  • 35

    E como as propagandas se relacionam com esse mundo que assumiu carter to

    perverso? O excerto abaixo pode contribuir para a construo de respostas

    possveis a esse questionamento:

    Estamos diante de um novo encantamento do mundo (...) a informao atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este o trabalho da publicidade. Se a informao tem, hoje, essas duas caras, a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produo. Brigando pela sobrevivncia e hegemonia, em funo da competitividade, as empresas no podem existir sem publicidade, que se tornou o nervo do comrcio. [...] A publicidade tem, hoje, uma penetrao muito grande em todas

    as atividades (SANTOS, 2000, p.20).

    A propaganda possui intrnseca relao com esse mundo perverso em que vivemos.

    E mais, a propaganda pode, em si, assumir um carter de extrema perversidade.

    Nesse sentido, pertinente se faz as contribuies de Valladares (2000), ao explicitar

    que ao informar sobre o seu produto ou servio, a propaganda, muitas vezes,

    transmite mais que uma informao. Propaga uma alienao em nosso mundo

    consumista, que favorece aos proprietrios dos meios de produo.

    A propaganda pode ser percebida como uma prtica perversa. Se a tomarmos como

    ela realmente : a incitao ao consumo. Nessa perspectiva, a propaganda, como o

    mundo atual, tambm assume papel de crueldade nesse cenrio competitivo que

    vivenciamos. Propaga-se uma necessidade de padronizao do consumo. Muitas

    so as propagandas preconceituosas, como na imagem acima (Figura 4), que

    inferiorizam um grupo social em prol de seu objetivo comercial. H, ainda,

    propagandas que exaltam, a todo custo, o consumo de seus produtos (compre,

    beba...) e que buscam agir sobre um pblico jovem, mais sujeito as suas

    determinaes. Esses so, alguns entre tantos outros exemplos que demonstram

    como agem as propagandas, nesse contexto de perversidade sistmica.

    A seguir, mais um exemplo de propaganda perversa.

  • 36

    Figura 5: Propaganda do chocolate Baton, incitando o seu consumo.

    Fonte: http://www.fotolog.com.br/saby86/68322155/

    1.6.3. A Propaganda como Possibilidade

    O mundo est em constante mudana. Perodos histricos iniciam-se e findam-se

    ininterruptamente, cada um apresentando caractersticas e tcnicas prprias.

    Segundo Santos (2000), o atual perodo apresenta bases materiais, tais como a

    unicidade da tcnica, a convergncia dos momentos e o conhecimento do planeta,

    nas quais o grande capital se apoia para construir uma globalizao perversa, como

    discutido anteriormente. Ressalta-se, contudo, que essas mesmas bases tcnicas

    podem e devem servir a outros objetivos. Para tanto, devem ser postas a servio de

    outros fundamentos polticos e sociais, visto que, j se pode observar indcios de

    que a emergncia de uma globalizao mais humana possvel.

    O primeiro desses fenmenos a enorme mistura de povos, raas, culturas, gostos, em todos os continentes. [...] Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanas, a produo de uma populao aglomerada em reas cada vez menores, o que permite um ainda maior dinamismo quela mistura entre pessoas e filosofias. [...] Junte-se a esses fatos a emergncia de uma cultura popular que serve dos meios tcnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta ltima uma verdadeira vingana ou revanche. [...] No plano terico, o que verificamos a possibilidade de produo de um novo discurso, de uma nova

    metanarrativa, um novo grande relato (SANTOS, 2000, p.20-1).

    Diante dos fatos, pode-se afirmar, conforme bem salienta Santos (2000) que a

    globalizao perversa atual no irreversvel, apesar de ser uma ideia bastante

    difundida. O referido autor explica que essa maneira de pensar, que o atual estado

    no apresenta alternativas de mudana, se prende fora com a qual a globalizao

  • 37

    se revelou e se instalou nos mais diversos lugares e esferas da vida das pessoas.

    Contudo,

    [...] essa viso repetitiva do mundo confunde com o que j foi realizado com as perspectivas de realizao. [...] O mundo datado de hoje deve ser enxergado como o que na verdade ele nos traz, isto , um conjunto presente de possibilidades reais, concretas, todas factveis sob determinadas aes (SANTOS, 2000, p. 160).

    Depreende-se, pois que o mundo nos apresenta possibilidades. Acreditar nisso o

    primeiro passo para uma mudana efetiva. Nessa direo, assim como pode emergir

    uma outra globalizao, pode tambm emergir um novo uso/sentido para as

    propagandas, que no apenas o seu lado perverso. Trata-se, pois, de utilizar as

    propagandas no ensino de Geografia, numa perspectiva crtica; de enxerg-las na

    esfera das possibilidades. Possibilidade de alcanar algo novo e significativo para o

    ensino.

    Uma empresa de tubos e conexes, por exemplo, lanou uma propaganda televisiva

    em 2009, na qual relata ser lder de vendas na Amrica Latina e, durante o anncio

    aparecem paisagens de alguns dos pases que a compe, como a Venezuela (figura

    6). A exibio dessa propaganda seria uma excelente estratgia metodolgica

    quando o docente fosse abordar o contedo Amrica ou ainda quando fosse tratar

    de globalizao, problematizando a integrao que h entre os pases.

    Figura 6: Imagem de um trecho da propaganda televisiva da empresa Amanco, demonstrando uma paisagem da Venezuela.

    Fonte: youtube.com

  • 38

    No to comum encontrar literaturas que abordem e relacionem a educao e a

    propaganda numa perspectiva crtica, nem mesmo ensino de Geografia utilizando

    propaganda. No entanto, possvel realizar algumas analogias entre o papel do

    publicitrio e o do professor. Ambos tm que chamar a ateno para o

    contedo/mensagem a ser transmitido; tm que despertar o interesse e estimular o

    desejo do pblico alvo; planejar suas aes; possuir conhecimento cientfico, estudar

    a sua clientela e avaliar o processo e trmino de seu trabalho. preciso enfatizar

    que apesar das semelhanas superficiais, os objetivos de cada um so, via de regra,

    completamente opostos. A educao pretende libertar o aluno, enquanto as

    propagandas, quando no problematizadas, objetivam prender as pessoas ao

    consumismo e s ideias prontas.

    Nessa direo, pertinente se faz a advertncia de Valladares (2000), no sentido de

    afirmar que a ao da escola

    [...] deve considerar o que ocorre na sociedade como parte do conhecimento necessrio ao indivduo, provocando sua analise criteriosa, voltada para esclarecimento e crtica constante.Partindo dessa constatao, as semelhanas e diferenas entre as metodologias da educao escolar e as metodologias da propaganda se apresentam como um tema de discusso estimulante e problematizador, em especial para o processo de formao de

    professores (p. 72).

    Essa advertncia de Valladares (2000) se aplica Educao de uma maneira geral

    e, de forma bastante especfica ao processo de formao e atuao de professores

    de Geografia, pois a aprendizagem dessa cincia

    (...) deve possibilitar a reflexo crtica sobre o espao: uma reflexo que incorpore as diferentes leituras de um mesmo objeto, que fundamentada no confronto de ideias, interesses, valores socioculturais, estticos, econmicos, evidencie as diferentes interpretaes e as diferentes intencionalidades que marcam a construo de um espao; uma reflexo que possibilite a elaborao

    que questionamentos sobre o espao, a vida, o mundo (PEREZ, 2001, p.216).

    O que prope-se, portanto, utilizar as bases da propaganda a servio de um

    ensino reflexivo e crtico, propiciando, assim, a construo de um conhecimento

  • 39

    geogrfico que interfira positivamente nos modos de ser/viver dos alunos, que os

    afete no sentido de se perceberem como participantes e agentes transformadores do

    mundo.

    Existem inmeras maneiras de ler as propagandas. Cerri (2005), apoiado nos

    estudos desenvolvidos por Barthes (1988), explica que este autor utiliza uma

    estrutura prpria de ler peas publicitrias, iniciando pela identificao da denotao,

    que a apreenso literal, lingustica, de decodificao do smbolo, partindo para a

    conotao (mensagem) e logo aps para a referenciao, que o emissor ou o

    produto que est sendo oferecido. Retomando e reforando a questo da criticidade,

    deixa claro que:

    O que mais importante nesse trabalho de leitura analtica, que pode ser feito coletivamente no ambiente educacional, desenvolver um leitor crtico, que deve substituir o espectador passivo e que acabar depois por surpreender-se defendendo prticas e portando convices, cuja origem no conhece, no sabe quando, onde e nem

    porque esto fazendo parte de sua bagagem (BARTHES, 1988, apud, CERRI, 2005, p.324).

    Nessa mesma linha, encontramos contribuies em Valladares (2000), ao afirmar

    que

    A leitura crtica da propaganda pode contribuir no s para desmistificao de muitos processos sociais, como tambm como exerccio efetivo da criticidade para entendimento de como se d a

    hegemonia e a ao da ideologia, como parte dela (p.74).

    Percebe-se, assim, que os referidos autores concordam que uma abordagem crtica

    fundamental quando se utiliza propagandas no ambiente escolar. E, ainda, que

    essa utilizao importante para ajudar na compreenso da complexibilidade do

    contexto atual. Alm disso,

    Uma vez tomada como elemento do conjunto da sociedade capitalista em que vivemos, a propaganda pode ser compreendida tambm como expresso da poca em que ocorre e, portanto, como uma fonte histrica de primeira ordem, principalmente se o que temos em mente pesquisar o recorte da realidade para o qual ela se dirige, isto , os sonhos, desejos, as expectativas das pessoas, isoladas ou em grupos, s quais os anncios se dirigem para

    satisfazer suas necessidades (CERRI, 2005, p.321, grifo nosso).

  • 40

    Essa questo trazida por Cerri (2005) pode ser exemplificada com as propagandas

    abaixo.

    Figura 7: Propaganda do carro 147, lanado pela empresa Fiat em 1976.

    Fonte: Propagandashistricas.com.br

    Esse carro, demonstrado na propaganda acima, foi o primeiro produzido pela Fiat no

    Brasil e trazia um novo conceito em tecnologia. Em tempos de crise do petrleo

    atendia a um mercado que exigia um carro econmico, e para provar esse aspecto,

    em uma de suas propagandas, a empresa o exibiu atravessando a ponte Rio-Niteri,

    no Rio de Janeiro, que possui cerca de 14 quilmetros, com apenas um litro de

    gasolina.

    Com esse anncio, percebe-se que a empresa lanou um carro para atender s

    necessidades das pessoas de uma poca que passava por uma crise do petrleo,

    ou seja, essa propaganda uma expresso desse momento histrico e, com certeza,

    uma fonte de pesquisa muito rica.

    No obstante tantas possibilidades, o que se observa que, lamentavelmente, no

    so todos os docentes que utilizam da propaganda como alternativa para o ensino e,

    ainda, muitos no esto preparados para aplic-las de maneira crtica. Em muitas

  • 41

    ocasies, os livros didticos so tidos como os nicos recursos, mesmo quando as

    escolas possuem recursos diversos e alternativos.

    Nesse sentido, o uso das propagandas pode ser uma rica alternativa de ensino e

    adquire um novo papel, nesse contexto, podendo, propiciar ao prprio professor a

    reflexo sobre sua prtica, conforme salienta Valladares (2000),

    Acredito que um professor que treine seu olhar na leitura de como a propaganda funciona, ser mais capaz de agir reflexivamente sobre a sua prpria prtica, podendo analisar, com mais propriedade, sua ao pedaggica junto aos alunos. Com essa aprendizagem crtica, o professor poder provocar nos alunos uma reflexo contnua sobre suas necessidades verdadeiras e sobre os desejos que lhe so

    incutidos pelas propagandas (p.19).

    O que se ressalta que tanto a no utilizao, quanto o uso inadequado das

    propagandas so caracterizadas como um dano muito grande ao aprendizado e

    vida dos alunos. Valladares (2000, p.20) alerta que caso os docentes no as utilizem

    de maneira crtica estaro fazendo uso autoritrio delas, por ignor-las e por no

    dar ferramentas aos seus alunos para lidar com elas e, caso as desconsiderem

    como mtodo ou tenham receio de utiliz-las, no estaro impedindo que os alunos

    sejam por elas impactados, diariamente, sem nenhuma resistncia (VALLADARES,

    2000, p. 21).

    Retomando a ideia de que o mundo est em constante mudana, resgata-se uma

    justificativa para que o professor esteja/mantenha-se em constante reflexo. O

    mundo muda, a escola muda, os alunos mudam, os mtodos mudam, nascem, se

    renovam, assim, no poder o professor ser sempre o mesmo.

    Castoldi&Polinarski (2009), revelam que h uma influncia dos recursos didtico-

    pedaggicos e das atividades criativas na motivao dos alunos na participao e

    interesse nas aulas. Ou seja, realizar leituras das propagandas utilizando diversos

    meios de comunicao, tais como internet, jornal, revista, televiso etc. pode

    contribuir para que se propicie um novo dinamismo s aulas.

    Deve-se considerar como nos lembra Valladares (2000, p. 21), uma concepo de

    ensino capaz de incluir vrias leituras, at aquelas tradicionalmente

  • 42

    desconsideradas, como o caso das propagandas, principalmente pelo fato de

    estarem to presentes no cotidiano dos alunos.

    Essa preocupao apontada por Valladares, tambm abordada no Currculo

    Bsico da Escola Estadual do Esprito Santo, ao explicitar que A leitura no-restrita

    aos livros didticos, dever ser ampliada em outras possibilidades (...) nas diferentes

    expresses literrias (PROPOSTAS CURRICULARES DO ESPRITO SANTO, 2009,

    p. 110). Portanto, a busca por se manter atualizado e ampliar as opes

    metodolgicas torna-se um dever cotidiano de todo professor, para que, assim,

    consiga atingir a totalidade do ambiente escolar, que se apresenta sempre to

    heterognea.

    De imediato, esclarece-se que no nosso objetivo apontar os professores como

    responsveis pelas mazelas presentes no ensino, nem mesmo afirmar que se

    houver a apropriao das propagandas pelos mesmos, essas mazelas sero

    superadas. O que almejamos, enfatiza-se, socializar uma nova possibilidade

    alternativa de recurso de ensino. Com isso, proporcionar ao docente um novo ponto

    de vista sobre as propagandas e a compreenso de que podem ser importantes

    instrumentos, se utilizadas criticamente, no desvendamento das ideologias que

    cercam a sociedade atual. Sempre lembrando a importante lio de Santos (2000,

    p.161), ao afirmar que lcito dizer que o futuro so muitos; e resultaro de arranjos

    diferentes, segundo nosso grau de conscincia, entre o reino das possibilidades e o

    reino da vontade.

    Assim, na perseguio ao nosso objetivo principal de elaborao de uma coletnea

    de propagandas difundidas pelas mdias, como alternativas ao ensino de Geografia,

    nosso prximo desafio gravitou em torno de traar um perfil das percepes de

    professores de Geografia, atuantes em Escolas pblicas da rede estadual de ensino

    de Vitria, acerca da temtica em questo. Trata-se, pois, de exerccios no sentido

    de conhecer melhor a realidade, para melhor nela atuar.

  • 43

    CAPTULO II

    PESQUISA EMPRICA E ANLISE DE DADOS

    Embasados na fundamentao terica, discutida no capitulo anterior e com o intuito

    de propor alternativas que possam contribuir para a utilizao das propagandas

    criticamente nas atividades de ensino da Geografia, realizou-se, uma pesquisa

    emprica com o objetivo de diagnosticar se/como os professores que lecionam a

    disciplina nas escolas estaduais da cidade de Vitria costumam utilizar esses

    recurso em suas aulas.

    A tabulao e triangulao dos dados coletados empiricamente e apresentados no

    presente captulo, nos forneceu subsdios para a apresentao de propostas

    alternativas de ensino de Geografia, com utilizao das propagandas, conforme ser

    apresentado no captulo III.

    2.1. Metodologia da pesquisa emprica: desenhando caminhos...

    A nossa pesquisa de campo passou por algumas etapas. Inicialmente, decidimos

    que coletaramos os dados por meio de questionrios e, em seguida, selecionamos

    as escolas, onde os professores de Geografia seriam convidados a responderem os

    respectivos questionrios.

    As etapas posteriores essa delimitao do universo, se constituram na elaborao

    e aplicao dos questionrios para a coleta das informaes bsicas com fim de

    diagnosticar a situao da utilizao, ou no, das propagandas em atividades

    cotidianas de ensino.

    Ento, partiu-se par ao momento da triangulao dos dados constantes dos

    respectivos questionrios, quando foi possvel realizar grficos e tabelas que nos

  • 44

    permitiram traar o perfil dos professores participantes, bem como analisar e discutir

    os dados colhidos com maior clareza.

    2.2. O universo da pesquisa: delimitando o campo de pesquisa.

    Realizar a escolha do campo de pesquisa uma tarefa difcil. O que almejvamos, a

    princpio, era verificar a realidade sobre a utilizao das propagandas no maior

    nmero possvel de escolas. E, ainda, era pretenso inicial, que os dois nveis de

    ensino da educao bsica fossem representados pelas falas e respostas de seus

    professores: o ensino fundamental (a pesquisa no ensino fundamental no incluiria

    os anos iniciais, uma vez que, via de regra, no h um professor para disciplina

    especfica) e o ensino mdio, incluindo a modalidade Ensino de Jovens e Adultos

    (EJA). Nesse momento nos deparamos com a necessidade de adequar nosso

    espaotempo disponvel para a realizao das atividades investigativas. Era preciso

    delimitar o campo de pesquisa..

    Nesse sentido, partindo da constatao de que as escolas municipais no oferecem

    o ensino mdio, optamos por direcionar nossa pesquisa para as escolas da rede

    estadual de ensino da cidade de Vitria. Esse foi um critrio de delimitao do

    universo.

    Fizemos, ento, um levantamento sobre as escolas da rede estadual, presentes na

    cidade de Vitria. Esse levantamento foi efetuado no stio da Secretaria de

    Educao do Esprito Santo (SEDU). Constatou-se, ento, que na cidade de Vitria

    possui uma escola, da rede estadual, que oferta somente ensino fundamental, sete

    escolas que ofertam ensino fundamental e mdio, seis escolas que ofertam apenas

    ensino mdio e uma que oferta somente matrcula para a modalidade da EJA.

    Ficou constatado, assim, que na cidade de Vitria-ES, no momento de realizao da

    presente pesquisa, existem um total 15 (quinze) escolas da rede estadual de ensino

    em funcionamento. Diante disto, optou-se por contactar todas as escolas e aplicar os

    questionrios aos professores de Geografia atuantes em cada uma delas.

    A localizao das escolas est apresentada no mapa a seguir.

  • 45

    Mapa 1: Localizao das escolas estaduais na cidade de Vitria-ES

    Fonte: Resultado da Pesquisa.

  • 46

    Todas as escolas que participaram da pesquisa funcionam nos turnos matutino,

    vespertino e noturno, seja com ensino regular ou tcnico. Todos os turnos foram

    includos e representados no trabalho.

    Assim, definidos os critrios de seleo, conforme supracitado, as escolas cujos

    professores de Geografia foram convidados a participarem da presente pesquisa

    foram: EEEFM Aflordzio Carvalho da Silva, EEEFM Almirante Barroso, EEEFM

    Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto, EEEFM Elza Lemos Andreatta,

    EEEFM Hildebrando Lucas, EEEFM Major Alfredo Pedro Rabaioli, EEEFM Maria

    Ortiz, EEEM Arnulpho Mattos, EEEM Colgio Estadual do Esprito Santo, EEEM

    Gomes Cardim, EEEM Irm Maria Horta, EEEM Fernando Duarte Rabelo,

    EEEM Professor Renato Jos da Costa Pacheco e o Centro Estadual de Educao

    de Jovens e Adultos (CEEJA). A EEEF Maria Ericina Santos, no entrou na

    pesquisa, pois os professores no nos deram retorno no prazo estipulado.

    Conforme explicitado anteriormente, uma dessas escolas oferece apenas o ensino

    fundamental, algumas escolas oferecem os nveis de ensino fundamental e mdio e,

    outras, somente ensino mdio. O tamanho das escolas so bem distintos. H, ainda,

    unidades que oferecem o ensino mdio integrado ao ensino tcnico. Esses so

    alguns fatores que propiciam a diferena do nmero de professores de Geografia

    atuantes de escola para escola. Umas possuem trs ou quatro, por turno, outras,

    somente um docente dessa disciplina.

    Tanto os professores, quanto a clientela dessas escolas so bastante heterogneos.

    Se h ampla diversidade em uma nica escola, h de se imaginar em um municpio

    inteiro! H alunos com os mais diferentes traos sociais, culturais e econmicos.

    Tambm comum a existncia de professores com os mais diferentes pensamentos

    e opinies. Enfim, h o que podemos classificar como um verdadeiro mosaico nas

    escolas, tamanha diversidade nelas presente.

    Trabalhar com dados das escolas de um municpio inteiro (salva a exceo),

    trabalhar com a diversidade, por isso, esse universo to favorvel ao nosso

    projeto. A partir de todo esse contexto apresentado, ser explicitado como se deu

    todo o processo de coleta dos dados da pesquisa.

  • 47

    2.3. Coleta de dados: garimpando informaes

    Para realizar a coleta dos dados elaboramos, primeiramente, um questionrio, de

    carter fechado. Por meio deste, buscamos identificar o perfil dos professores

    englobados na pesquisa, com questes sobre a formao acadmica, faixa etria,

    tempo de experincia no magistrio, se so professores efetivos ou em designao

    temporria.

    Num segundo momento, o questionrio referiu-se relao que os professores

    tinham com as propagandas em suas prticas. Procuramos saber se conheciam

    algum estudo, texto ou mesmo se tinham relatos de experincias sobre a utilizao

    da Propaganda no ensino. E, ainda, se a utilizao desse recurso como auxlio ao

    ensino de Geografia poderia ser considerada positiva no processo de aprendizagem

    de seus alunos; se consideram essa utilizao vivel, se j haviam utilizado esse

    recurso, com quais meios, frequncia e o retorno que obtiveram de seus alunos.

    Verificou-se, tambm, nos casos negativos, as justificativas da no utilizao.

    Pedimos para que deixassem o seu e-mail para que, quando da concluso do

    trabalho, o envissemos com as possibilidades de aplicao em sala de aula

    Antes de dar incio coleta de dados propriamente dita, definiu-se a distribuio das

    escolas para a aplicao dos questionrios entre todos os integrantes da pesquisa.

    Para tanto, buscando delimitar o campo geogrfico e o agrupamento das escolas por

    pesquisador, nos apoiamos a Lei Municipal N 6.077/2003 que organiza o Municpio

    de Vitria em 83 Bairros e Sete Regies Administrativas, conforme apresentado no

    Mapa 2.

    Cada integrante do grupo ficou responsvel em coletar os dados em pelo menos

    uma regio, distribudos de acordo com a logstica para o melhor deslocamento em

    direo as escolas.

  • 48

    Mapa 2: Regionalizao de Vitria-ES e localizao das escolas estaduais.

    Fonte: Elaborao prpria com base nos dados da Prefeitura de Vitria.

    Por meio deste mapa, foi possvel planejar as visitas s escolas, uma vez que cada

    pesquisador pde perceber quais instituies lhes eram mais acessveis para a

    futura aplicao dos questionrios, sabendo que haveria a possibilidade de ter que

    voltar s escolas mais de uma vez, em diferentes turnos. Cada pesquisador se

    responsabilizou, em mdia, por trs escolas.

    O primeiro contato com as escolas foi realizado em 22 de outubro de 2013, uma

    tera-feira. Escolhemos esse dia, pois o mesmo destinado ao planejamento dos

    professores de Geografia das escolas estaduais. E mais, acreditvamos que todos

    os professores da disciplina estariam nas escolas nessa data que destinamos ida

    as escolas.

    Fomos com o objetivo de aplicar os questionrios a todos os professores de

    Geografia da rede estadual, mas sabamos que poderiam acontecer imprevistos

  • 49

    e/ou negaes, por isso fixamos a meta de ter todas as escolas representadas com

    no mnimo um questionrio.

    Vale esclarecer que o CEEJA no estava, inicialmente, cotado como parte do

    universo da pesquisa, por apresentar um aspecto diferenciado no processo de

    ensino-aprendizagem. Nesse Centro, os alunos se matriculam nas disciplinas,

    recebem um material, e caso necessitem, buscam eliminar suas eventuais dvidas

    com os professores responsveis pelas disciplinas. Quando se sentem preparados,

    realizam a prova para tentar concluir a disciplina. Mesmo assim, optamos por inclu-

    lo na pesquisa e, alguns professores responderam ao questionrio.

    Em algumas escolas, todos os professores estavam presentes no dia destinado ao

    planejamento; em outras, havia professores afastados por motivos no

    especificados. Alguns professores ministravam aula, outros no trabalhavam

    naquele dia. Tambm nos foi informado fatos em que os professores no estavam

    em uma determinada escola, pois no havia internet em seu espao (que era

    provisrio), impossibilitando a realizao do planejamento e registro das pautas on-

    line.

    No caso em que os professores estavam presentes na escola, aplicamos os

    questionrios e conversamos com os mesmos. Quanto aos professores ausentes,

    optamos por deixar os questionrios nas escolas, em posse de seus coordenadores

    ou pedagogos, que se comprometeram a repass-los aos professores assim que

    possvel para que respondessem e, estipularam uma data para que voltssemos

    para buscar.

    Assim, conforme previsto, voltamos s escolas para recolher os questionrios

    deixados para os professores que no estavam presentes. Alguns professores

    haviam respondido todas as informaes, outros no. Uns haviam deixado e-mail,

    outros no. E, conforme previsvel, alguns professores simplesmente se negaram

    a responder. Ocorreu, tambm, o fato de determinados professores nos enviarem os

    questionrios por e-mail, uma vez que havamos deixado nosso contato nas escolas.

    Visitamos as escolas em diferentes turnos e contamos com a hospitalidade dos

    funcionrios, to importantes pesquisa. Somente em uma escola no conseguimos

    recolher os questionrios. Nessa unidade, no ofertado, no turno matutino, o

  • 50

    ensino regular, portanto, no havia professor de Geografia. Como no pudemos

    comparecer escola nos outros dois turnos, deixamos os questionrios com a

    pedagoga da manh, para que ela encaminhasse s professoras do vespertino e

    noturno, mas, quando voltamos, as professoras no haviam deixado os

    questionrios respondidos.

    Abaixo segue um mapa com a indicao do nmero de questionrios recolhidos por

    escola.

    Mapa 3: Quantidade de questionrios recolhidos por escola

    Fonte: Elaborao prpria, a partir de Resultados da Pesquisa.

    Vale, de imediato, destacar a importncia e relevncia de visitas s escolas para

    aplicao dos questionrios. Esses momentos foram ricos em aprendizagens, visto

    que, nos contatos e dilogos com professores, coordenadores, pedagogos e

    diretores das escolas, muit