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    RODRIGO DA SILVEIRA VASCONCELOS

    DOENAS NEGLIGENCIADAS:

    REVISO DAS INTERVENES PROPOSTAS PARA

    SEU CONTROLE E ERRADICAO.

    Trabalho apresentado Universidade

    Federal de Santa Catarina, como requisito

    para a concluso do Curso de Graduao

    em Medicina.

    Florianpolis

    Universidade Federal de Santa Catarina

    2015

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    RODRIGO DA SILVEIRA VASCONCELOS

    DOENAS NEGLIGENCIADAS:

    REVISO DAS INTERVENES PROPOSTAS PARA

    SEU CONTROLE E ERRADICAO.

    Trabalho apresentado Universidade

    Federal de Santa Catarina, como requisito

    para a concluso do Curso de Graduao

    em Medicina.

    Presidente do Colegiado: Prof. Dr. Fabrcio de Souza NevesProfessor Orientador: Prof. Dr. Douglas Francisco Kovaleski

    Florianpolis

    Universidade Federal de Santa Catarina

    2015

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    DEDICATRIA

    Aos que se indignam.

    Aos que fazem de sua indignao estmulo para a mudana.

    iii

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    AGRADECIMENTOS

    A Funo da arte/1Diego no conhecia o mar.

    O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.

    Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

    Quando o menino e o pai enfim alcanaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar,

    o mar estava na frente de seus olhos.

    E foi tanta a imensido do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

    E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

    -Me ajuda a olhar!

    Eduardo Galeano

    Agradeo especialmente minha me e ao meu pai por aguentarem as interminveis conversas

    sobre doenas negligenciadas, sade e determinao social. So meus maiores exemplos,

    meus amigos e apoiadores. Amo vocs.

    s meninas, minhas irms. Crescemos juntos e amadurecemos nosso olhar sobre a vida. So

    parte de mim.

    minha famlia pelo apoio desde sempre.

    Mel por tudo que representa pra mim e pelo apoio na rdua conciliao do curso com o TCC.

    Aos grandes amigos e camaradas dos tempos de CALIMED e DENEM. Aprendemos juntos que

    sade no pode ser mercadoria e que s a luta muda a vida. Que sigamos a vida em luta.

    Aos grandes professores Marco e Cutolo por nutrirem esperanas em um curso to

    conservador.

    Agradeo muito ao professor orientador Douglas Kovaleski pela disponibilidade, pelos livros

    emprestados e por ter me ajudado a concluir um trabalho de concluso de curso a partir de

    temas de meu interesse.

    Muito obrigado a todos vocs que me ajudam a olhar.

    iv

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    DOENAS NEGLIGENCIADAS:

    REVISO DAS INTERVENES PROPOSTAS PARA

    SEU CONTROLE E ERRADICAO.

    Rodrigo da Silveira Vasconcelos; Douglas Francisco Kovaleski.

    RESUMO

    Introduo: Doenas Negligenciadas ou Doenas Tropicais Negligenciadas, segundo a OMS, so ao

    todo 17, notoriamente doenas infecciosas que se disseminam e se perpetuam em meios em que h

    precria estrutura sanitria, condio de moradia e alimentao alm da dificuldade em se acessar o

    sistema de sade. So doenas negligenciadas por sua irrelevncia enquanto nicho econmico rentvel,

    no atraindo o interesse de investimentos por instituies financeiras internacionais ou mesmo daindstria de medicamentos, conferindo elevada morbidade s populaes acometidas, as populaes mais

    pobres do globo. Objetivos: Analisar o tema das doenas negligenciadas a partir das intervenes

    propostas para seu controle e erradicao para refletir sobre possveis alternativas para lidar com esta

    realidade na perspectiva da determinao social do processo sade/doena. Mtodos:Foi realizada uma

    reviso narrativa no sistemtica de literatura acerca das propostas de interveno em Doenas

    Negligenciadas utilizando-se a base de dados do peridico The Lancet. Resultados: As primeiras

    iniciativas de interveno em doenas negligenciadas foram propostas pela Fundao Rockefeller no

    incio do sculo XX, que sustentava um modelo de sade pblica orientado a preparar regies para

    investimentos macios e aumento de produtividade, passando pelos caractersticos programas

    internacionais de distribuio de medicamentos no ps II Guerra Mundial, que ainda se mantm, at

    iniciativas mais recentes de colaborao interinstitucional sobre o tema. Discusso: As formas de

    interveno em doenas negligenciadas se caracterizaram por programas heterogneos em relao s

    doenas priorizadas, cobertura geogrfica contemplada, insero nos sistemas de sade local e aos

    provedores de fundos. Quando se compreende que programas de interveno em doenas negligenciadas

    foram sendo propostos medida em que estas molstias se apresentavam como obstculos ao

    desenvolvimento econmico percebe-se que a heterogeneidade desses programas foi consequncia natural

    desse processo. Concluso: As Doenas Negligenciadas so consequncia de um processo de

    desenvolvimento desigual que determina hoje populaes pobres sujeitas a mecanismos que perpetuam

    sua condio de dependncia. A atuao limitada proposta pela comunidade internacional desde o incio

    do sculo XX parte de uma perspectiva biomdica/curativa que, se age em prol de populaes s margens

    da ordem econmica, o faz de forma a submet-las aos mnimos tolerveis no mbito da

    governabilidade. A soluo passa por construir cotidianamente junto a movimentos sociais pautas

    correspondentes aos anseios mais imediatos da populao.

    Palavras-chave: Neglected; Diseases; Intervention

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    INTRODUO

    comum que se vincule, no meio acadmico ou de forma casual, o progresso na

    rea da sade ao desenvolvimento de novas tecnologias para tratar doenas. O

    desenvolvimento da penicilina exemplifica essa constatao. Trata-se do primeiroantimicrobiano desenvolvido para uso humano que em 1942 mudou o destino de um

    homem que contrara uma infeco disseminada. No fosse a nova droga seu destino e

    de milhes de pessoas beneficiadas que o sucederam seria tragicamente comprometido.1

    Nessa perspectiva a humanidade atingiu patamares significativos de sade, uma

    vez que inmeras molstias antes incurveis tem agora tratamento eficaz. Entretanto

    preciso atentar para o fato de que esta uma compreenso limitada acerca de sade.

    Nos pases desenvolvidos o perfil de morbimortalidade principalmenterelacionado s doenas infecciosas se alterou profundamente com o desenvolvimento

    econmico e a consequente repercusso em melhores condies de vida, o que se deve

    principalmente garantia de direitos conquistados nesses pases (moradia e alimentao

    garantidos, acesso ao sistema educacional e de sade de qualidade e outros), ainda que

    no sejam plenos e estejam constantemente ameaados.2,3

    (R. M. Anjana, M. K. Ali, R. Pradeepa et al., The need for obtaining accurate nationwide estimates of

    diabetes prevalence in Indiarationale for a national study on diabetes, Indian Journal of MedicalResearch, vol. 133, no. 4, pp. 369380, 2011.MODIFICADO)

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    A mesma mudana de perfil epidemiolgico no observada em todos os pases,

    sendo que os situados periferia do sistema capitalista, notoriamente pases da frica,

    sia e Amrica Latina, ainda mantm perfil de alta morbimortalidade por doenas

    infecciosas endmicas, muito embora j exista tratamento eficaz e inclusive a baixo

    custo disponvel. Estas doenas so denominadas negligenciadas.4

    (Peter J Hotez, Alan Fenwick, Lorenzo Savioli, David H Molyneux.Rescuing the bottom billionthrough control of neglected tropical diseases. The Lancet. Maio, 2009. Vol. 373, No.9674, p15701575. MODIFICADO)

    Doenas Negligenciadas ou Doenas Tropicais Negligenciadas, segundo a

    definio da OMS, so ao todo 17, notoriamente doenas infecciosas que se disseminam

    e se perpetuam em meios em que h precria estrutura sanitria, condio de moradia e

    alimentao alm da dificuldade em se acessar o sistema de sade pelas pessoas. So

    doenas negligenciadas por sua irrelevncia enquanto nicho econmico rentvel, no

    atraindo o interesse de investimentos por instituies financeiras internacionais ou

    mesmo da indstria de medicamentos, embora estudos recentes sobre a viabilidade

    econmica das intervenes venham demonstrando o impacto financeiro causado poressa endemia que acomete um tero da populao mundial.4

    http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(09)60233-6/abstracthttp://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(09)60233-6/abstracthttp://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(09)60233-6/abstracthttp://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(09)60233-6/abstract
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    (Von Philipsborn, Peter et al. Poverty-Related and Neglected Diseases an Economic and

    Epidemiological Analysis of Poverty Relatedness and Neglect in Research andDevelopment. Global Health Action 8 (2015). Maio, 2015. 10.3402/gha.v8.25818. PMC.MODIFICADO)

    A repercusso mais evidente dessa endemia global a alta morbidade causada

    por essas doenas, que so atualmente tratveis, mas persistem em alta prevalncia,

    evidenciando que progresso em sade no se resume ao proposto desenvolvimento

    tecnolgico to somente.

    A relevncia do tema explicita-se na alta prevalncia das doenas

    negligenciadas, que embora seja estarrecedora tem nfima relevncia nos projetos de

    pesquisa atuais. Ainda que este panorama venha se modificando nos ltimos 10 anos

    inmeras lacunas apresentam-se ao se referir ao tema, notoriamente questes

    relacionadas determinao do processo sade-doena que evidencie os pontos chave

    de interveno.5,6

    Em vista das questes previamente apresentadas objetivo deste artigo

    interpretar do ponto de vista histrico o processo de determinao das doenas

    negligenciadas com foco na Amrica Latina e Brasil, analisar as propostas de

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    interveno com base na anlise de conjuntura para refletir sobre possveis alternativas

    para lidar com esta realidade catastrfica.

    Doenas Negligenciadas: conceituao

    Em 2003 o Departamento do Reino Unido para o Desenvolvimento

    Internacional afirmou que ainda no existira uma definio padro para doenas

    negligenciadas, indefinio que ainda persiste 12 anos aps essa constatao e que

    reflete a forma como o tema vem sendo abordado ao longo dos anos: por meio de

    iniciativas isoladas, por vezes efmeras, focadas em doenas especficas, desenvolvidas

    por entidades estatais ou privadas com sede em pases desenvolvidos, de forma geral.2

    Ainda que no haja definio precisa e que cada entidade apresente o tema sua

    maneira possvel distinguir duas formas de conceituao de doenas negligenciadas,

    assim como observado em artigo de reviso pelo peridico mdico The Lancet.

    A primeira definio tem como foco o aspecto da negligncia dessas doenas

    pela comunidade internacional, o que se evidencia no trecho 1, em definio da OMS

    2007:

    (1) Doenas tropicais endmicas que tem impacto negativo significativo na vida

    das populaes mais pobres e permanecem criticamente negligenciadas pela

    agenda de sade pblica global...7

    Ressalta-se assim a condio de negligncia das populaes acometidas, que

    pode ser exemplificada pelos dados seguintes, que sero detalhados no decorrer do

    artigo:

    - Das novas teraputicas desenvolvidas entre 2000-2011, entre vacinas e medicamentos,

    4% correspondem s doenas negligenciadas.8

    - Do oramento oficial internacional entre 2003-2007 0,6% foram destinados s doenas

    negligenciadas.2

    - As doenas negligenciadas so as mais prevalentes para os 2,7 bilhes de pessoas quevivem com menos de $2 ao dia.2

    De maneira distinta o trecho 2 tem como foco o impacto dessas doenas nas

    condies de pobreza e desenvolvimento dos pases acometidos, assim como suas

    caractersticas fisiopatolgicas comuns, mas no explicita o significado do termo

    negligenciadas:

    (2)

    Doenas negligenciadas um grupo diverso de infeces causadas por uma

    variedade de patgenos como vrus, bactrias, protozorios e helmintos. As 17

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    doenas tropicais negligenciadas priorizadas pela OMS afetam mais de 1 bilho

    de pessoas pelo mundo e so endmicas em 149 pases. 9

    Atualmente a segunda definio apresentada a mais prevalente nos discursos

    das entidades envolvidas com o tema, como a Organizao Mundial de Sade, Global

    Network for Neglected Tropical Diseases, Public Library of Sciences - Neglected

    Tropical Diseases (PLOS).

    Essa distino, em aparncia meramente conceitual, importante na medida em

    que desconsiderar o aspecto da negligncia pode apontar para uma linha de interveno

    que no se vincula s determinaes principais do problema.

    Evidencia-se portanto que o termo Doenas Negligenciadas, mais que definir

    um grupo limitado de doenas com seus agentes etiolgicos especficos, abrange

    processos que ratificam a desigualdade social persistente, a qual mantm as pessoas

    mais pobres em sua condio de persistente excluso.

    Doenas Negligenciadas: epidemiologia

    A tabela abaixo apresenta as doenas mais prevalentes evidenciando o impacto

    econmico (DALY - Disability Adjusted Life Years), mortalidade anual estimada por

    doena e prevalncia global estimada.10

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    O termo Disability Adjusted Life Years (DALY)possui correspondncia com

    o termo Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (AVAI) e sua mensurao

    evidencia o impacto econmico e social relacionado condio estudada, ainda que

    seja um parmetro permeado por limitaes. A OMS define AVAIs da seguinte

    maneira: OsAnos de Vida Ajustados por Incapacidadede uma doena ou condio

    so calculados pela soma dos anos de vida perdida devido morte prematura na

    populao e aos anos de vida perdidos por incapacidade pelas pessoas acometidas

    por tal doena ou condio e suas consequncias.11

    Ascaridase, tricurase, acilostomase/necatoriose, que so helmintases,

    apresentam-se como as mais prevalentes, correspondendo aos mais de 2 bilhes de

    infectados, sendo todas as outras infeces responsveis por cerca de meio bilho de

    infectados.

    O mapa abaixo apresenta a distribuio global das doenas negligenciadas

    ratificando sua distribuio desigual, estando presentes em praticamente toda a extenso

    da Amrica Latina, frica e sia, com algumas poucas excees, notoriamente

    Austrlia e Nova Zelndia.

    Os pases do hemisfrio norte, notoriamente pases desenvolvidos, so poupados

    praticamente em sua totalidade.

    Determinao Social do Processo Sade/Doena:

    Em seu Epidemiologia Crtica: cincia emancipadora e interculturalidade

    Jaime Breilh prope: Na ordem coletiva enrazam-se as determinaes histricas no

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    observveis na ordem singular, que, ao moldarem os modos de vida e as condies

    essenciais para a sade constituem elementos-chave para se compreender a gnese dos

    fenmenos de sade, pois nelas (determinaes histricas) se enraza a compreenso da

    estrutura de poder, que base da iniquidade na distribuio dos bens, apoios ou

    protees que a promovem.3

    O que de mais fundamental se depreende do excerto a compreenso de

    sade/doena como processo profundamente influenciado pelo modo de vida das

    pessoas em determinado contexto, a denominada ordem coletiva, que indissocivel

    da ordem individual.

    Uma famlia, por exemplo, em cujo cotidiano surge um caso de infeco aguda

    das vias respiratrias, cria respostas e explicaes segundo seu livre arbtrio e de acordo

    com as possibilidades materiais e as formas culturais inscritas em seu estilo de vida

    pessoal, mas todo esse movimento no se d em um vazio de relaes sociais mais

    amplas, mas est inscrito em um modo de vida cujos padres influenciam

    poderosamente as construes cotidianas, um modo de vida acumulado pela histria do

    grupo (...) A equidade/inequidade de que um grupo desfruta/padece em determinado

    momento histrico resulta das relaes de classe, de sua histria etnocultural e das

    caractersticas de suas condies de gnero.3

    Evidencia-se assim que o que foi historicamente construdo pela humanidade

    determinante no modo de vida hoje e, portanto, em toda anlise sobre esse processo

    sade/doena que vise promover ou induzir intervenes efetivas necessrio que se

    aprofunde na compreenso do processo histrico e a conjuntura determinada.

    Assim a seguir parte-se do processo histrico de formao das naes hoje

    afetadas diretamente pelas denominadas Doenas Negligenciadas para se

    compreender como a dinmica das relaes sociais ao longo do tempo define a

    conjuntura presente, com o objetivo de proporcionar uma anlise das intervenespropostas.

    O enfoque ser no processo de formao e conjuntura do Brasil/Amrica Latina.

    Naes latino-americanas: processo de formao

    Na dcada de 1970 Ruy Mauro Marini em seu Dialtica da dependncia

    analisa a formao das naes latino-americanas a partir do sculo XVI, sendo

    retomado em uma perspectiva crtica por Virgnia Fontes em 2010 em captulo

    especfico de seu O Brasil e o capital-imperialismo.12,13

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    Marini parte da perspectiva de declarado crtico das anlises da dependncia

    latino americana at ento propostas, argumentando que o campo da histria econmica,

    ao utilizar-se de uma ortodoxia marxista eurocntrica, no contemplava as

    peculiaridades da Amrica Latina e portanto incorria no mais puro empirismo, que no

    se fundia s elaboraes tericas. J o campo da sociologia incorria na falta de rigor

    conceitual e metodolgico. Ambas as linhas de investigao portanto eram tidas como

    incapazes de explicitar a forma como as naes latino-americanas se inseriam na ordem

    capitalista internacional.

    Assim, para definir o conceito de dependncia Marini retoma o processo de

    expanso comercial das naes europeias no sculo XVI, quando a Amrica Latina

    passava a se inserir na dinmica internacional. A princpio como colnia produtora de

    metais preciosos e gneros exticos, o que permitiu o desenvolvimento do capital

    comercial e bancrio nas metrpoles, constituindo-se as bases de sustentao do sistema

    manufatureiro europeu.

    Entre o final do sculo XVIII e incio do sculo XIX o conjunto de pases latino

    americanos inicia o processo de independncia poltica, ao mesmo tempo em que

    sustentam relaes comerciais com a metrpole inglesa, exportando bens primrios e

    importando manufaturas. Na metade do sculo XIX a balana comercial dos pases

    latino-americanos encontrava-se deficitria, iniciando-se assim a constituio da dvida

    pblica, que em momentos de balana comercial favorvel apresentava-se como

    mecanismo de transferncia metrpole dos excedentes da Amrica Latina. O caso do

    Brasil ilustrativo: em 1860 o servio da dvida externa correspondia a 50% do saldo da

    balana comercial e uma dcada aps a correspondncia passa a ser de 99%.

    a partir desse momento que se configura a dependncia, entendida como uma

    relao de subordinao entre naes formalmente independentes, em cujo mbito as

    relaes de produo das naes subordinadas so modificadas ou recriadas paraassegurar a reproduo ampliada da dependncia.12

    dinmica das relaes entre a Amrica Latina e os centros capitalistas nesse

    momento denomina-se Diviso Internacional do Trabalho (DIT), em que as naes

    latino americanas garantem o abastecimento das metrpoles com bens primrios, o que

    possibilita que o eixo de acumulao capitalista na economia industrial se desloque da

    produo da mais valia absoluta (explorao direta do trabalhador) para mais valia

    relativa (aumento da capacidade produtiva do trabalho). Essa mudana qualitativa na

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    organizao do trabalho nas metrpoles ocorre s custas da maior explorao do

    trabalhador da Amrica Latina.

    Em outras palavras, mediante sua incorporao ao mercado mundial de bens-

    salrio, a Amrica Latina desempenha um papel significativo no aumento da mais-valia

    relativa nos pases industriais.12

    A teoria da dependncia de Ruy Mauro Marini tem como componente central o

    conceito da superexplorao do trabalho, composto por 3 mecanismos que se

    concretizam nas naes dependentes: intensificao do trabalho, aumento da jornada de

    trabalho e expropriao de parte do trabalho necessrio ao operrio para garantir a sua

    prpria reproduo.

    O fruto da dependncia s pode assim significar mais dependncia e a sua

    liquidao supe necessariamente a supresso das relaes de produo que ela

    supe.12

    A historiadora Virgnia Fontes retoma a teoria da dependncia de Marini de

    forma crtica afirmando que o truncamento estrutural da lei do valor (aumento da mais

    valia relativa no centro s custas do aumento da mais valia absoluta nas periferias) no

    pode ser tratado como uma exceo, mas deve ser explicado por condies reais e

    concretas da existncia da populao (...) nas condies sociais e histricas dadas.

    Entretanto ratifica o conceito de superexplorao, propondo que mais do que um centro,

    genrico, quem a promove so as classes dominantes: 13

    O conceito de superexplorao conserva, todavia, sua importncia, pois indica a

    possibilidade efetiva de que classes dominantes, por razes polticas/econmicas, se

    apropriem de parcela do trabalho necessrio dos trabalhadores (recursos do fundo de

    reposio do trabalho) para convert-lo em capital.13

    Em seguida apresenta os mecanismos mais atuais da superexplorao:

    As expropriaes de direitos que ocorrem pelo mundo afora, em paralelo oferta de servios industrializados para aliviar as necessidades antes supridas como

    direitos, podem ser analisadas como formas de superexplorao do trabalho. A

    converso em capital, atravs de fundos de penso, de parte do salrio de variadas

    camadas de trabalhadores, como mostrou Graneman (2006), outra de suas formas.

    Num caso como no outro, parcela do salrio destina-se seja compra de um bem

    expropriado aos trabalhadores, como sade, educao, etc., seja constituio de fundos

    para suportar tais despesas no futuro, como planos de sade ou fundos de penses paraas aposentadorias mitigadas ou extintas (...) h ainda uma nova modalidade de

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    superexplorao: o uso capitalista da fora de trabalho sem contrato, ou a expropriao

    do prprio contrato de trabalho, de tal forma que se instaura uma jornada sem limites,

    cuja remunerao explicita uma imposio econmica, social e poltica de patamares

    infra-histricos de subsistncia dos trabalhadores.13

    Hoje se constata a existncia de uma classe dominante estruturada, articulada

    internacionalmente e profundamente integrada ao Estado, concentrada nos pases de

    capitalismo desenvolvido, e uma classe explorada, com escassos direitos sociais

    constantemente ameaados, situada majoritariamente em pases subdesenvolvidos como

    consequncia do movimento histrico precedente.

    nesse contexto em que se inserem hoje os mais de 2 bilhes de acometidos

    diretamente pelas Doenas Negligenciadas e qualquer forma de interveno que se

    proponha eficaz no pode tangenciar esta realidade.

    OBJETIVOS

    Objetivo geral:Analisar o tema das doenas negligenciadas baseando-se em uma reviso narrativa daliteratura acerca das intervenes historicamente propostas para seu controle e erradicao.

    Objetivos especficos:

    1.Analisar o termo "doenas negligenciadas".

    2.Analisar o processo histrico de constituio das doenas negligenciadas na perspectiva dadeterminao social do processo sade/doena.

    3.Revisar a literatura acerca das intervenes historicamente propostas para a erradicao oucontrole das doenas negligenciadas.

    4. Identificar os principais atores envolvidos na problemtica das doenas negligenciadas eanalisar seus respectivos papis.

    METODOLOGIA

    Este artigo uma reviso narrativa no sistemtica de literatura acerca das propostas

    de interveno sobre Doenas Negligenciadas.

    Realizou-se pesquisa na base de dados do peridico The Lancet, tratando-se de revista

    de publicao mdica com reconhecida relevncia acadmica (Impact Factor 39.207

    General Medicine2013 Journal Citation Reports, Thomson Reuters 2014) e com publicao

    de srie recente de artigos de reviso sobre o tema.

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    Realizou-se em 27 de Novembro de 2014 pesquisa na base de dados do peridico com

    os termos: Neglected Diseases AND Intervention , encontrando-se 95 resultados, dos

    quais os 10 mais relevantes foram selecionados de forma a conduzir a discusso.

    Os 3 relatrios da OMS sobre Doenas Tropicais Negligenciadas tambm foram

    usados como referncia, por centralizarem dados apresentados de maneira no sistemtica na

    literatura.

    RESULTADOS

    1aParteIncio do sculo XX ao ps II Guerra Mundial

    No sculo XX a primeira iniciativa de interveno em doenas negligenciadas

    documentada se deu entre 1910-1914, quando os consultores da ento recm criada Fundao

    Rockefeller, do magnata do petrleo John D Rockefeller, propuseram que a alta prevalncia

    de anemia crnica associada a doenas infecto-parasitrias (ancilostomase/necatoriose) podia

    estar relacionada ao atraso econmico e dificuldade de industrializao dos estados ao sul

    dos Estados Unidos.14

    Organizou-se programa para erradicao da parasitose pela comisso sanitria da

    fundao, garantindo-se financiamento para distribuio de medicaes antiparasitrias,

    calados e propaganda em sade para prevenir o ciclo de reinfeco. Com o xito do

    programa criou-se a Diviso para a Sade Internacional (IHD), articulada em diversos pasese colnias. Atuou at 1951 se inserindo nos sistemas de sade, fundando escolas nacionais de

    sade pblica em diversos continentes, como a Universidade de So Paulo (USP) no Brasil, a

    Johns Hopkins e Harvard nos EUA e a Escola de Higiene e Medicina Tropical em Londres,

    baseando-se em um modelo de sade pblica orientado a preparar regies para investimentos

    macios e aumento de produtividade, investindo, nesse perodo, o equivalente a bilhes de

    dlares.

    As intervenes para erradicao da febre amarela evidenciam a perspectiva deatuao apresentada.Em 1898 o congresso norte americano declarou guerra Espanha,

    intervindo militarmente em Cuba, alegando se tratar de medida necessria para conter a

    endemia de Febre Amarela que se alastrava pelo sul dos Estados Unidos. No ps guerra e nos

    anos seguintes os esforos para o combate febre amarela eram imprescindveis para se

    garantir tanto a influncia norte americana sobre territrio cubano quanto outras conquistas

    estratgicas importantes, como a construo do Canal do Panam. Este teve sua edificao

    iniciada ainda no sculo XIX e sua finalizao se estendeu para alm do planejado devido morte de milhares de trabalhadores franceses e caribenhos acometidos pela doena. 15

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    13

    As intervenes para erradicar a Febre Amarela foram portanto cruciais para a

    efetivao de conquistas estratgicas pelos EUA e renderam Fundao Rockefeller o prmio

    Nobel pelo desenvolvimento da vacina em 1936.

    O combate Febre Amarela evidencia que o objetivo primrio das intervenes em

    Doenas Negligenciadas mediadas pela Fundao Rockefeller sustentavam-se no plano

    geoeconmico, uma vez que para as populaes acometidas poca doenas como malria e

    tuberculose eram significativamente mais deletrias, mas no foram colocadas como

    prioridades.15

    Por meio da Diviso para Sade Internacional (IHD) a Fundao Rockefeller

    consolidou sua perspectiva de atuao no cenrio global, sendo referncia para a Organizao

    de Sade da Liga das Naes, no ps I Guerra Mundial, e posteriormente para a OrganizaoMundial de Sade (OMS), em 1948, quando se desfaz a IHD.

    2aPartePs II Guerra Mundial aos anos 2000

    No perodo ps II Guerra Mundial consolidam-se, pelas naes vitoriosas, as

    principais organizaes polticas internacionais: Organizao das Naes Unidas (ONU),

    Banco Mundial, Fundo Monetrio Internacional (FMI) e outras das quais derivam a

    Organizao Mundial do Comrcio (OMC) e a Organizao Mundial de Sade (OMS).

    Se aparentemente os Estados Nacionais tm papel central na gesto dessasorganizaes, com o passar dos anos ratifica-se cada vez mais a desigualdade na arena de

    governana global, devido assimetria de poder entre as naes e progressiva insero de

    capital privado (como corporaes financeiras, fundaes, organizaes da sociedade civil e

    indivduos) nos processos decisrios.16

    Apesar de quase se quadruplicar o nmero de pases que compem cadeiras na ONU

    desde 1945 isso no significa maior poder decisrio em conjunto. A lgica um pas, um

    voto presente nas instncias de deliberao da ONU, que pressupe a igualdade de poderdecisrio por Estados soberanos na esfera internacional, mostra-se artificial quando se

    constata a influncia que as maiores potncias militares da atualidade tem, por exemplo

    podendo definir 5 membros permanentes com poder de veto no Conselho de Segurana da

    ONU. O Grupo Banco Mundial, conjunto de cinco instituies financeiras internacionais

    vinculadas ONU, possui mecanismo de funcionamento semelhante, reprodutor da mesma

    lgica que subordina a maioria dos pases aos interesses das maiores potncias globais, ainda

    que anunciem intenes louvveis de combate misria internacional.16

    Nesse contexto se inserem tambm os mecanismos de assistncia global, em que

    Estados Nacionais e mediadores do capital privado (empresas, organizaes da sociedade

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    civil, fundaes) fornecem doaes a pases ou organizaes que necessitem. Se primeira

    vista esse funcionamento parece legtimo e necessrio uma investigao mais atenta

    esclarecedora. Os doadores decidem quais pases ou organizaes recebero financiamento e

    quais no, definem em quais setores se deve investir e por quanto tempo e assim orienta

    polticas internas de acordo com seus interesses, que podem corresponder aos interesses da

    populao que recebe os recursos ou no. Configura-se assim uma relao de dependncia

    entre doador e receptor, em que este, grande parte das vezes endividado e sem outras opes,

    aceita tanto o financiamento quanto as condies impostas de forma a lidar com problemas

    mais imediatos, como a pobreza, podendo se comprometer com determinaes deletrias a

    longo prazo. As orientaes provenientes do Consenso de Washington so emblemticas

    nesse sentido. A Fundao Bill & Melinda Gates uma das principais entidades privadas queatuam no cenrio global como mediadora dessa assistncia global e suas especificidades so

    apresentadas em artigo referenciado.17

    Em 2013 as 5 maiores corporaes da indstria do tabaco possuam em conjunto um

    valor de mercado de 400 bilhes de dlares e as 5 maiores da indstria farmacutica 800

    bilhes de dlares, segundo levantamento realizado pela revista Forbes na base de dados

    FactSet Research Systems.Assim quando se constata que 124 pases possuem um PIB menor

    que 100 bilhes de dlares cada, do total de 184 pases com dados registrados junto ao BancoMundial, a influncia do capital privado na arena de governana global fica evidente. Seria

    portanto ingenuidade compreender que uma nao possui controle sobre as empresas de

    capital privado que operam em seu territrio, tanto pelo poder econmico dessas corporaes

    quanto pelos mecanismos para se transpassar a legislao local que apresentam.16

    As intervenes em Doenas Negligenciadas no perodo ps II Guerra Mundial esto

    inseridas nesse contexto internacional complexo e para traar suas caractersticas gerais as

    iniciativas mais notrias so apresentadas em seguida.Entre 1968 e 1974 um dos primeiros programas de interveno em doenas

    negligenciadas com articulao internacional teve incio, foi denominado Programa para o

    Controle da Oncocercose (OCP), coordenado pela OMS, Banco Mundial e duas entidades

    vinculadas ONU, a Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO)

    e o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (UNDP). Os objetivos do programa

    se resumem em controlar a cegueira dos rios no continente africano de forma a

    disponibilizar extensas reas de terra frtil para a agricultura, remetendo importante

    morbidade relacionada parasitose e ao consequente impacto econmico que provoca,

    evidenciando a perspectiva de sade pblica atrelada dimenso econmica.2

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    O programa passou por diversas interrupes, sendo retomado em 1987 com a

    perspectiva de controle do vetor com a pulverizao de inseticidas em 11 pases africanos; em

    seguida essa estratgia deu lugar disponibilizao em massa de Ivermectina (Mectizan) sem

    custos pela companhia farmacutica Merck para quimioprofilaxia e tratamento da doena por

    quanto tempo fosse necessrio.

    O programa se encerrou em 2002 e as estimativas apontam que a cegueira em

    decorrncia da doena foi evitada em cerca de 40 milhes de pessoas dos 11 pases africanos

    com a distribuio de cerca de 2,7 bilhes de comprimidos de ivermectina. Ainda hoje a

    infeco considera uma hiper-endemia em pases da frica Subsaariana, pela prevalncia

    maior que 20% em 2011, segundo dados da OMS.18 Em 1991 se iniciou o Programa para

    Controle da Oncocercose nas Amricas (OEPA), que se estendeu at 2007 e em 1995 oPrograma Africano para o Controle da Oncocercose (APOC), que se estendeu at 2010.

    Ambos se caracterizaram por manter a estratgia de distribuio massiva de medicamentos

    para reas endmicas, sendo que a APOC agiu de forma complementar OCP atuando nos

    pases no contemplados por essa, mantendo a mesma rede de colaboradores. A OEPA incluiu

    colaboraes mais diversas, como a participao de governos nacionais, Fundao Bill &

    Melinda Gates, Carter Center, Lions Club International, Centro de Controle e Preveno de

    Doenas dos EUA (CDC) entre outros.2

    Outros programas desenvolvidos foram o Programa para Erradicao da

    Dracunculase (GWEP), Iniciativa do Cone Sul para Controle/Erradicao da Doena de

    Chagas (INCOSUR), Aliana Global para Eliminao da Filariose Linftica (GAELF),

    International Trachoma Initiative(ITI), Federao Internacional de Associaes Anti-Lepra

    (ILEP), Iniciativa para o Controle da Esquistossomose (SCI) e outros.2

    De forma geral esses programas surgiram nas dcadas de 1990 e 2000 como

    articulao entre diversas entidades: governos, notoriamente de pases desenvolvidos como osEUA e de pases acometidos pelas doenas negligenciadas, e principalmente na esfera

    privada, com a participao de fundaes como a Bill & Melinda Gates e de diversas

    companhias farmacuticas, como a Merck, Bayer, Pfizer, Novartis, Johnson & Johnson,

    GlaxoSmithKline entre outras, estando a OMS e o Banco Mundial quase sempre articulados a

    esses programas.2

    Os programas tem em comum o foco na distribuio de medicamentos e em poucos se

    observam iniciativas para preveno de doenas, como se destaca o Programa para

    Erradicao da Dracunculase (GWEP), que se iniciou ainda na dcada de 1980, sendo um

    dos poucos que teve como foco a quebra do ciclo de reinfeco, estimulando medidas de

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    educao em sade, controle do vetor e fornecimento de gua limpa, j que no h medicao

    para se combater a infeco.

    A distribuio de medicamentos tem como objetivo tratar doenas, mas comum que

    se observe programas de distribuio de medicamentos que tenham como objetivo a

    quimioprofilaxia. Esta consiste na distribuio de medicamentos para determinadas doenas

    para toda a populao, infectados ou no, de forma a reduzir apresentaes graves das

    doenas e de interromper o ciclo de reinfeco, j que o indivduo tratado continua inserido na

    mesma dinmica social associada doena.18

    3 Parte Doenas Negligenciadas no sculo XXI

    Desde o incio dos anos 2000 inmeras iniciativas de interveno em doenas

    negligenciadas tem sido criadas, destacando-se a organizao Drugs for Neglected Diseases

    initiative (DNDi), fundada em 2003 com a proposta de promover transferncia de tecnologia

    no campo da pesquisa e desenvolvimento a para produo de medicamentos em pases

    acometidos por essas doenas, tendo entre seus membros a Fundao Oswaldo Cruz

    (Fiocruz), fundao pblica ligada ao Ministrio da Sade do Brasil, e a organizao privada

    Mdicos Sem Fronteiras (MSF).19

    O peridico PLOS Neglected Tropical Diseases outra iniciativa criada em 2007 a

    partir do financiamento da Fundao Bill & Melinda Gates e tem como escopo (...) servoltado patologia, epidemiologia, tratamento, controle e preveno das doenas

    negligenciadas, assim como s polticas pblicas relevantes a esse tipo de patologia. 20

    Em 2012, em Londres (UK), foi criada a Unio para o Combate s Doenas Tropicais

    Negligenciadas (Uniting to Combat the Neglected Tropical Diseases), composta por uma lista

    extensa de participantes, como inmeras companhias farmacuticas e fundaes privadas (Bill

    & Melinda Gates, Carter Center), DNDi, Banco Mundial, UKAID, USAID entre outros. A

    Declarao de Londres sobe Doenas Negligenciadas (London Declaration on NeglectedDiseases) o documento de uma pgina que expe as metas da organizao que se prope a

    agir de forma complementar OMS para a erradicao de 10 das 17 doenas at 2020.21

    Apesar de existirem poucas definies sobre como est se dando esse eixo de

    interveno possvel inferir que o foco na distribuio de medicamentos a principal

    estratgia, tanto pela extensa lista de companhias farmacuticas participantes quanto pelas

    intervenes que j vinham sendo desenvolvidas pelas organizaes de forma isolada, como

    fica evidente nos objetivos da USAID: O Programa para Doenas Tropicais Negligenciadas

    da USAID se iniciou em 2006, quando o Congresso dos EUA determinou o investimento

    anual de 15 milhes de dlares para quimioprofilaxia (distribuio de medicamentos) das 7

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    doenas negligenciadas mais prevalentes. Essas doenas podem ser combatidas pelo

    tratamento em massa integrado das comunidades acometidas.21

    DISCUSSO

    De forma geral as primeiras iniciativas de interveno em doenas negligenciadas

    foram propostas pela Fundao Rockefeller no incio do sculo XX, passando pelos

    caractersticos programas internacionais de distribuio de medicamentos no ps II Guerra

    Mundial, que ainda se mantm, at iniciativas mais recentes de colaborao interinstitucional

    sobre o tema.

    As formas de interveno em doenas negligenciadas se caracterizaram por programas

    heterogneos em relao s doenas priorizadas, cobertura geogrfica contemplada, insero nos sistemas de sade local e aos provedores de fundos, ainda que esses sejam

    classicamente fruto da parceria de entidades privadas (companhias farmacuticas e fundaes)

    com governos nacionais, OMS e Banco Mundial. Tem em comum a perspectiva de

    interveno biomdica com foco na distribuio de medicamentos para tratamento/

    quimioprofilaxia de doenas, raramente atuando de forma preventiva no combate aos vetores

    ou na estruturao de saneamento bsico.2,18

    Quando se compreende que programas de interveno em doenas negligenciadasforam sendo propostos medida em que estas molstias se apresentavam como obstculos ao

    desenvolvimento econmico percebe-se que a heterogeneidade desses programas foi

    consequncia natural desse processo. Fica evidente que as instituies que se destacavam no

    cenrio internacional por seu poder econmico eram as mesmas que protagonizavam o

    combate s doenas negligenciadas desde o incio do sculo XX.

    A conjuntura em que foi criado o Departamento de Controle de Doenas Tropicais

    Negligenciadas da OMS em 2005 apresentada a seguir por ser didtica ao evidenciar comoessa mesma lgica ainda persiste hoje.

    Em 2005 a Agncia Alem para Cooperao Tcnica (GTZ) e a OMS realizaram

    conferncia especfica sobre o tema e apontaram que o impacto sobre a sade, tendo como

    referncia o parmetro DALYs (Disability Akdjusted Life Years), de todas essas doenas em

    conjunto se mostrava considervel.2 Justificava-se assim maior aporte de recursos pela

    comunidade internacional. Alm disso intervenes a baixo custo e custo efetivas j estavam

    amplamente disponveis evidenciando que a estratgia de interveno nessas doenas

    provavelmente seria de interesse de outras instituies no cenrio global.4O que de fato se

    concretizou, uma vez que a maior expanso de investimentos sobre o tema se deu nos ltimos

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    10 anos, aps se mostrar claramente um investimento custo-efetivo, como ratificado por

    relatrio do Banco Mundial: 22

    De acordo com a Comisso para o Investimento em Sade -Lancet 2013 a eliminao

    de Doenas Tropicais Negligenciadas a custos to baixos representa boa valorizao para o

    capital 22

    Assim a perspectiva hegemnica de atuao em doenas negligenciadas, restrita

    esfera biomdica, se apresenta como estratgia compreensvel uma vez que dessa forma

    possvel reduzir a elevada morbimortalidade relacionada a estas doenas, de maneira custo-

    efetiva, sem se alterar a correlao de foras que as produz e sustenta.

    CONCLUSOAs Doenas Negligenciadas so consequncia de um processo de desenvolvimento

    desigual que determina hoje populaes pobres sujeitas a mecanismos que perpetuam sua

    condio de dependncia.

    Se essas doenas tem impacto importante e devem ser combatidas, no considerar a

    determinao social implicada repercute em solues limitadas, que ao mesmo tempo em que

    reduzem mortalidade e evitam desfechos mrbidos para muitos refletem os mesmos

    mecanismos que as produzem.Essa perspectiva de atuao limitada a que tem sido extensivamente apresentada pela

    comunidade internacional desde o incio do sculo XX, uma perspectiva de interveno

    biomdica/curativa que, se age em prol de populaes s margens da ordem econmica, o faz

    de forma a submet-las aos mnimos tolerveis no mbito da governabilidade, como afirma

    Breilh:

    A epidemiologia dos mnimos de sobrevivncia (bottom-line epidemiology) um

    instrumento necessrio concepo de medidas estratgicas do neoliberalismo. Elacompartilha a lgica dos mnimos tolerveis, a medio de fenmenos que expressem a

    mxima resistncia governvel de uma populao ante a pobreza e as privaes, e

    compartilha, em suma, a lgica que substitui as aspiraes mximas de sade integral de um

    povo pela lgica dos mnimos tolerveis no mbito da governabilidade. 3

    Os dois excertos abaixo apresentam a essncia dos mecanismos que perpetuam as

    relaes desiguais entre os pases sobre um pretexto de vis humanitrio pela comunidade

    internacional. O primeiro:

    As Naes Unidas, a Unio Europeia e a justia internacional realmente intervm na

    vida de muitos pases africanos. Se essa ao se revela, na maior parte do tempo,

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    19

    indispensvel para salvar vidas, por meio da ao humanitria ou interferncia nos conflitos,

    as populaes observam que, apesar da gravidade dos crimes cometidos por certos Estados no

    Oriente Mdio, so os acusados africanos que inauguraram a Corte Penal Internacional (CPI).

    Isso tende ao absurdo quando lembramos, por exemplo, que as Naes Unidas apoiaram o

    adiamento das eleies marfinenses. Assim, o continente parece ser cada vez mais

    administrado pelo estrangeiro, sem que jamais se questione uma das principais causas de sua

    instabilidade: a violncia e a iniquidade das relaes mundiais23

    O segundo, sobre o contexto de democratizao na frica dos anos 1990:

    O advento do pluralismo coincide com a contrao do crculo financeiro

    internacional aps a exploso da dvida nos anos 1980. Ao condicionar sua ajuda

    instaurao do multipartidarismo e ao respeito dos direitos humanos, as instituiesfinanceiras internacionais e a Unio Europeia impuseram vrias restries econmicas. Isso

    resultou em um jogo poltico inspido, onde os partidos dispem de uma nica opo

    macroeconmica: a dos Planos de Ajuste Estrutural (PAE) e outros esquemas diretores de

    reduo () pobreza.23

    Portanto no h dvidas de que a transformao dessa realidade passa necessariamente

    por questionar a ordem poltico-econmica estabelecida, o que de interesse exclusivo das

    populaes subjugadas a esta estrutura e afronta os princpios j estabelecidos no cenriointernacional.

    Entretanto no se trata de esperar passivamente a conformao de uma conjuntura

    ideal para se concretizar tais aes, mas de se construir cotidianamente junto a movimentos

    sociais pautas correspondentes aos anseios mais imediatos da populao.

    No Brasil o movimento de Reforma Sanitria ilustrativo. Iniciando-se na dcada de

    1970 em uma conjuntura repressiva por parte de um Estado Ditatorial que vivia seu perodo

    mais violento, a articulao progressiva de setores populares, sindicatos e universitriosproporcionou na dcada seguinte a garantia de uma das mais importantes conquistas do povo

    brasileiro, o Sistema nico de Sade. Sistema de sade pblico que, embora constantemente

    ameaado por iniciativas privatistas e com limitaes financeiras por parte do Estado, prev

    uma estrutura de participao popular na forma de conselhos e conferncias de sade e tem

    entre seus preceitos a considerao universal e integral sade dos brasileiros. 24Pases como

    Cuba, Costa Rica, Estado Indiano Kerala e Chile no perodo de Salvador Allende tiveram

    experincias semelhantes.16

    O excerto abaixo exemplifica a importante atuao de movimentos sociais africanos

    contra os Acordos de Parceria Econmica (APE) que conferem Unio Europia

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    possibilidade de importar produtos africanos com iseno de impostos, enquanto de suas

    exportaes no so taxadas nas alfndegas africanas:

    Os APEs preveem, com efeito, a supresso dos direitos de alfndega sobre trs

    quartos das exportaes da Unio Europeia, enquanto esta continuar a importar da frica do

    Oeste a totalidade de seus produtos com iseno de impostos. Um mercado de tolos. Como

    chegamos a tal desastre? Desde 2008, os Estados da frica do Oeste resistiam s presses de

    Bruxelas, incitados por poderosos movimentos sociais reunidos no seio de diversas redes: o

    Third World Network Africa, sediado em Acra (Gana); a Plataforma das Organizaes da

    Sociedade Civil da frica do Oeste sobre o Acordo de Cotonou (Poscao), em Dacar

    (Senegal); e a Rede das Organizaes Camponesas e de Produtores Agrcolas da frica do

    Oeste (Roppa), em Uagadugu (Burkina Faso). 25

    Em 2011 houve sucesso de manifestaes sociais que expressavam o

    descontentamento com a poltica econmica vigente, como o movimento Occupy Wall Street

    que sustenta o lema Ns somos os 99%, as manifestaes na Espanha e na Grcia e

    movimentos de massa no mundo rabe, como na Tunsia, Lbia, Egito e Yemen. Alguns

    obtiveram conquistas, outros expressam a necessidade imperiosa de se consolidar

    movimentos sociais organizados que deem conta de materializar os anseios da populao. 16

    Rudolf Virchow, renomado mdico patologista alemo, em suas recomendaes sobrea epidemia de Tifo na Alta Silsia em 1848, encomendadas pelo Governo da Prssia, aps

    averiguar a repercusso de tal epidemia afirmou que o surto de Tifo no poderia ser

    controlado com o tratamento individual dos doentes, mas com garantias democrticas plenas e

    ilimitadas, educao, construo de estradas, conselhos de administrao regionalizados e

    outras garantias sociais, responsabilizando a aristocracia feudal diretamente pelos

    acontecimentos. Foi despedido e algumas semanas aps se associou a mobilizaes populistas

    em Berlim, participando das revolues de 1848 na Europa e se tornando uma das figurascentrais para a medicina social.26,27

    Passados mais de 100 anos esta ainda parece ser a postura mais coerente a ser tomada.

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    21

    REFERNCIAS

    1)

    M Wainwright. The history of the therapeutic use of crude penicillin. MedHist. Janeiro 1987. 31(1): 4150.

    2)

    Bernhard Liese, Mark Rosenberg, Alexander Schratz.Programmes, partnerships, andgovernance for elimination and control of neglected tropical diseases. TheLancet. Janeiro, 2010. Vol. 375, No. 9708, p6776.

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    4) Lesong Conteh, Thomas Engels, David H Molyneux. Socioeconomic aspects ofneglected tropical diseases.The Lancet. Janeiro, 2010. Vol. 375, No. 9710, p239247.

    5)

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    7) WHO. The Global Burden of Disease: 2004 update; [Homepage na internet].Disponvel em:http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/2004_report_update/en.

    8)

    Belen Pedrique, Nathalie Strub-Wourgaft, Claudette Some, Piero Olliaro, PatriceTrouiller, Nathan Ford, e outros. The drug and vaccine landscape for neglected

    diseases (200011): a systematic assessment. The Lancet Global Health. Outubro,2013. Vol. 1, No. 6, e371e379.

    9) WHO. First WHO report on neglected tropical diseases: working to overcome theglobal impact of neglected tropical diseases. [Homepage na internet]. Disponvel em:http://www.who.int/neglected_diseases/2010report/en/;2010.

    10)WHO. Global burden of disease/metrics. [Homepage na internet]. Disponvel em:http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/metrics_daly/en/

    11)

    Peter J Hotez, Alan Fenwick, Lorenzo Savioli, David H Molyneux. Rescuing thebottom billion through control of neglected tropical diseases.The Lancet. Maio, 2009.Vol. 373, No. 9674, p15701575

    12)

    MARINI, Ruy Mauro. Dialtica da dependncia. So Paulo: Vozes/CLACSO, 2000.13)FONTES, V. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e histria. 2.ed. Rio de Janeiro:EPSJV/Editora UFRJ, 2010.

    14)Anne-Emanuelle Birn, Elizabeth Fee. The Rockefeller Foundation and theinternational health agenda. The Lancet. Maio, 2013. Vol. 381, No. 9878, p16181619.

    15)Mariola Espinosa.Epidemic Invasions: Yellow Fever and the Limits of CubanIndependence, 18781930. Chicago: University of Chicago Press. 2009

    16)Ole Petter Ottersen, Jashodhara Dasgupta, Chantal Blouin, Paulo Buss, VirasakdiChongsuvivatwong, Julio Frenk, e outros. The political origins of health inequity:

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