Tecnicas

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Manejo Ecológico do Solo Tereza Cristina de Oliveira Saminêz 1 Francisco Vilela Resende 2 Introdução Nos sistemas naturais a ciclagem dos nutrientes ocorre através dos processos de formação e decomposição da biomassa vegetal (fluxo orgânico) e através das entradas e saídas de nutrientes por via não orgânica (fluxo mineral). O fluxo mineral é decorrente da ação de agentes físicos, sendo as entradas via chuva, vento e decomposição de rochas e as saídas por lixiviação, erosão e fixação (a curto prazo). Os ecossistemas naturais possuem mecanismos para minimizar as perdas de nutrientes, sobretudo na vegetação (Khatounian, 2001). Nos agroecossitemas as principais saídas do fluxo mineral se dão por lixiviação, erosão e exportação pelas culturas, e as entradas por fertilizantes e corretivos. A capacidade de reserva de nutrientes dos solos, retenção de nutrientes no complexo coloidal e matéria orgânica (MO), será maior quanto maior a presença de argilas do tipo 2:1 e teor de MO. Para os solos mais intemperizados, pobres em argilas 2:1 e MO, como os de cerrado, maior é a importância do fluxo orgânico de nutrientes. A preservação dos nutrientes nos solos dependerá diretamente do manejo do solo e da biomassa vegetal. Assim, dependendo do manejo da biomassa vegetal dada pelo produtor, maior ou menor será a quantidade de nutrientes a serem incorporados ao sistema, via adubação (fluxo mineral). Segundo Hernani et al. (1995), como alternativas de manejo da biomassa vegetal têm-se a rotação e consorciação de culturas, e o uso de espécies de adubos verdes. Preparo do solo O conceito de solo como um corpo predominantemente mineral, morto, focalizado no manejo agroquímico e como mero substrato para as plantas deve ser abandonado pelo olericultor que se adentrar ao sistema orgânico de produção. Na linha de raciocínio da agricultura orgânica o solo deve ser encarado como um organismo vivo e sua fertilidade baseada em aspectos físicos, químicos e também biológico, que no modelo convencional de agricultura é relegado a um segundo plano. Na olericultura convencional trabalha-se com intensa movimentação do solo para construção de canteiros, leiras, abertura de covas e sulcos, muitas vezes utilizando-se de intensa mecanização, que resultam na degradação física e desequilíbrio biológico do solo. No sistema orgânico de produção de hortaliças deve- 1 Engª Agrª, Msc em Agronomia, Área de Concentração Solos, Pesquisadora da Embrapa Hortaliças. Caixa Postal 218, CEP 70359-970 - Brasília –DF. E-mail: [email protected]. 2 Eng° Agrº, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Hortaliças. E-mail: [email protected] Os tópicos bases e princípios de sistemas orgânicos, Planejamento da horta e Requisitos básicos para produzir organicamente foram adaptados do texto de Carlos Armênio Khatounian.

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Manejo Ecológico do Solo

Tereza Cristina de Oliveira Saminêz1

Francisco Vilela Resende2

IntroduçãoNos sistemas naturais a ciclagem dos nutrientes ocorre através dos processos de

formação e decomposição da biomassa vegetal (fluxo orgânico) e através das entradas esaídas de nutrientes por via não orgânica (fluxo mineral). O fluxo mineral é decorrente daação de agentes físicos, sendo as entradas via chuva, vento e decomposição de rochas eas saídas por lixiviação, erosão e fixação (a curto prazo). Os ecossistemas naturaispossuem mecanismos para minimizar as perdas de nutrientes, sobretudo na vegetação(Khatounian, 2001).

Nos agroecossitemas as principais saídas do fluxo mineral se dão por lixiviação,erosão e exportação pelas culturas, e as entradas por fertilizantes e corretivos. Acapacidade de reserva de nutrientes dos solos, retenção de nutrientes no complexocoloidal e matéria orgânica (MO), será maior quanto maior a presença de argilas do tipo2:1 e teor de MO. Para os solos mais intemperizados, pobres em argilas 2:1 e MO, comoos de cerrado, maior é a importância do fluxo orgânico de nutrientes. A preservação dosnutrientes nos solos dependerá diretamente do manejo do solo e da biomassa vegetal.Assim, dependendo do manejo da biomassa vegetal dada pelo produtor, maior ou menorserá a quantidade de nutrientes a serem incorporados ao sistema, via adubação (fluxomineral). Segundo Hernani et al. (1995), como alternativas de manejo da biomassavegetal têm-se a rotação e consorciação de culturas, e o uso de espécies de adubosverdes.

Preparo do soloO conceito de solo como um corpo predominantemente mineral, morto,

focalizado no manejo agroquímico e como mero substrato para as plantas deve serabandonado pelo olericultor que se adentrar ao sistema orgânico de produção. Nalinha de raciocínio da agricultura orgânica o solo deve ser encarado como umorganismo vivo e sua fertilidade baseada em aspectos físicos, químicos e tambémbiológico, que no modelo convencional de agricultura é relegado a um segundoplano.

Na olericultura convencional trabalha-se com intensa movimentação do solopara construção de canteiros, leiras, abertura de covas e sulcos, muitas vezesutilizando-se de intensa mecanização, que resultam na degradação física edesequilíbrio biológico do solo. No sistema orgânico de produção de hortaliças deve-

1 Engª Agrª, Msc em Agronomia, Área de Concentração Solos, Pesquisadora da Embrapa Hortaliças.Caixa Postal 218, CEP 70359-970 - Brasília –DF. E-mail: [email protected] Eng° Agrº, Dr. em Fitotecnia, Pesquisador da Embrapa Hortaliças. E-mail: [email protected] tópicos bases e princípios de sistemas orgânicos, Planejamento da horta e Requisitos básicospara produzir organicamente foram adaptados do texto de Carlos Armênio Khatounian.

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se adotar uma abordagem conservacionista, evitando-se a mobilização excessiva ecompactação do solo.

O preparo do solo no primeiro ano de cultivo deve basear-se em aração,gradagem e levantamento dos canteiros (Sudo et al., 1997). Nos anos subsequentesevitar, na medida do possível, o uso de enxada rotativa e outros implementos quecausem degradação excessiva de solo. Recomenda-se um sistema de preparo desolo com mecanização reduzida, deixando-o sempre protegido por cobertura mortaou verde.

Os canteiros devem ter de 0,80 m a 1,0 m de largura, 15 a 20 cm de altura eestar distanciados uns dos outros em aproximadamente 30 cm (Vieira et al., 1997).Para hortaliças de canteiro ou leiras como alface, cenoura, alho, rúcula, batata-doce,mandioquinha-salsa, etc, o olericultor orgânico pode trabalhar com canteiros oucamalhões semi-defintivos reduzindo a freqüência de máquinas e implementos nasáreas de produção. Desta forma, os canteiros são apenas reparados com enxadas,após cada cultivo. A adubação orgânica é aplicada sobre os canteiros ou leiras esua incorporação feita pelos próprios organismos do solo.

O cultivo mínimo ou plantio direto é feito sobre a cobertura morta da culturaanterior, normalmente adubos verdes ou restos culturais, sem que seja feito um novopreparo de solo. As espécies a serem usadas como cobertura morta devem serselecionadas segundo seu potencial de formação de palhada. Coquetéis degramíneas e leguminosas, além de espécies de adubos verdes, podem ser utilizadoscomo formadores de palhada. Para isto é necessário aguardar até que as plantascompletem seu ciclo. São relatados com bons resultados os exemplos do plantio detomate e pimentão sobre palhada de aveia preta, e vagem e pepino sobre palhadasde gramíneas. O cultivo mínimo e plantio direto são usados para cultivo orgânico dehortaliças plantadas em covas e/ou sulcos como brássicas, cebola, pimentão,quiabo, berinjela, jiló, tomate, promovendo revolvimento mínimo do solo e usadosespécies adequadas para formação de palhada.

Fertilidade do soloA produção de hortaliças é uma atividade extremamante desgastante quanto

à fertilidade do solo. Apenas as forrageiras de corte, plantas para produção desilagem ou feno causam maior impacto na fertilidade do solo do que as hortaliças.Este desgaste se dá pelo uso intensivo do solo e retirada elevada de biomassa enutrientes da área (Esquema 1).

Portanto, ao iniciar o cultivo orgânico de hortaliças em uma área, éfundamental a realização da análise química do solo para verificar seu pH e teorestotais de nutrientes e de matéria orgânica. Ao longo dos anos, análises periódicasdevem ser realizadas com o objetivo de acompanhar possíveis oscilações do pH edos teores de nutrientes totais. A manutenção do solo em equilíbrio é o foco principaldos sistemas orgânicos de produção e a análise periódica do solo é o principalinstrumento de acompanhamento deste fator, além de fornecer os suportes para seurestabelecimento.

A correção do solo ou calagem deve ser realizada três meses antes doplantio. Recomenda-se usar calcário dolomítico de boa qualidade e em quantidadesnunca superiores a duas toneladas por hectare, por ano (Brasil, 1999). A elevação

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exagerada do pH pode causar redução na produção, por diminuir a disponibilidadede micronutrientes, tais como: Boro (B); Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn) eZinco (Zn) (Vieira, 1997). A quantidade de calcário e adubos a serem utilizadosserão calculados com base na análise química do solo. Em relação a fosfatagemdeve-se utilizar fontes de fósforo permitidas para o cultivo orgânico, que são osTermofosfatos, Fosfatos naturais e /ou Fosfatos Reativos (Brasil, 1999). Todas asfontes de nitrogênio, potássio e micronutrientes permitidas em cultivos orgânicosencontram-se descritas na instrução normativa do Ministério da Agricultura (Brasil1999).

Em solos de primeiro ano recomenda-se a utilização de espécies de adubosverdes, leguminosas como Crotalária juncea, feijão de porco, feijão guandu, dentreoutras, respeitando-se a época de plantio dessas culturas. Utiliza-se tambémalgumas gramíneas consorciadas com essas leguminosas. Neste caso, o sorgo e omilheto são recomendados, devendo-se utilizar por volta de 30% de gramínea e 70%de leguminosas (a adubação verde será tratada mais detalhamente a seguir).

Esquema 1. Desgaste e recuperação da fertilidade do solo segundo o tipo decultura.

Desgaste de Fertilidade Recuperação de fertilidade

Fonte: Khatounian (2001)

Matéria orgânicaA matéria orgânica do solo é o produto da acumulação de resíduos de plantas

e animais parcialmente decompostos e re-sintetizados. Esses materiais, em ativoestado de decomposição, são submetidos ao ataque contínuo de microrganismos. Amatéria orgânica dentre outras vantagens esta relacionada diretamente ao conceitode solo como organismo vivo que é um dos grandes princípios dos sistemasorgânicos de produção. A matéria orgânica do solo pode ser originada no próprio

Feno, silagem, forrageira(corte)

Olericultura

Culturas anuais

Culturas anuais – plantio direto

Culturas perenes – entrelinhas vegetadas

Culturas perenes - arborizadas

Pastagens – pastejo direto

Pastagens – leguminosas fixadoras

Pousio arbustivo

Pousio árboreo

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solo, fazendo parte na formação do solo ou ser originada pela ação do homem:massa vegetal localizada (adubo verde) ou materiais orgânicos trazidos de fora eincorporados ao solo, como adubos orgânicos.

Os solos tropicais apresentam naturalmente uma pequena fração de matériaorgânica, daí a importância da incorporação de materiais externos, como adubosorgânicos e adubos verdes a estes solos. Considerando a natureza da fraçãomineral da maioria dos solos tropicais a maior porção da capacidade de troca decátions destes solos é proveniente da contribuição da matéria orgânica.

Para produção de hortaliças orgânicas, além de funcionar como reservatóriode nutrientes e melhorar as propriedades químicas, biológicas e físicas do solo, amatéria orgânica atua em aspectos importantes para a produção destas culturascomo: permite melhor arejamento do solo, reduz o efeito de erosão provocado pelaschuvas, aumenta a capacidade de retenção de água, melhora a estrutura do solo,melhora a drenagem e facilita o crescimento das raízes.

O olericultor orgânico deve ter em mente a possibilidade de reciclagem derestos vegetais e sobras do preparo e processamento, que na olericultura ocorremcom muita freqüência. A utilização do método de reciclagem de estercos animais ede biomassa vegetal permitem a independência do agricultor quanto à necessidadede incorporação de insumos externos ao seu sistema produtivo, minimizando custos,além de permitir usufruir os benefícios da matéria orgânica em todos os níveis.

Como componente essencial do solo, a matéria orgânica deve ser conservadae manejada em um nível de equilíbrio que permita o desenvolvimento de umaagricultura sustentável, pelo uso de métodos adequados de manejo de solo,compreendendo sistemas de preparo, rotação de culturas, adubação,estabelecimento de sistemas integrados de produção.

Adubação orgânicaApesar da importância da adubação orgânica, o seu uso extensivo é limitado

pela dificuldade de obtenção desses adubos em larga escala, bem como pelosproblemas de transporte e distribuição. Entretanto seu uso é corriqueiro em culturasde exploração intensiva, como é o caso das hortaliças, inclusive no sistemaconvencional de produção. A escolha do adubo orgânico e a eficiência do seu usodependem de alguns fatores, que devem ser considerados. Entre os principaisdestaca-se a qualidade e quantidade, os métodos de aplicação, os custos de suaaplicação e a disponibilidade local, evitando o transporte a grandes distâncias.

Os adubos orgânicos são volumosos, de valor variável em nutrientes, com acomposição total raramente ultrapassando 10 a 20% dos teores encontrados nosfertilizantes minerais e são utilizados em quantidades bastante superiores a estes.Contudo, a utilização de adubos orgânicos não pode levar em conta apenas o seuteor em nutrientes, pois sua presença produz alterações positivas nas propriedadesfísicas e biológicas do solo.

Os adubos verdes, compostos orgânicos, esterco de animais, tortas e restosde culturas são alguns exemplos de adubos orgânicos utilizados no cultivo orgânicode Hortaliças. Nas tabelas 1, 2, 3, 4 e 5 são apresentados dados de caracterizaçãoquímica de alguns materiais.

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O uso de estercos animais puros na olericultura orgânica é menos comumque nas formas compostadas por questões de ordem econômica e sanitária. Nacultura da cebola Pereira et al. (2002) avaliaram o uso esterco de curral (10, 20 e 40t/ha) e esterco de galinha (5, 10 e 20 t/ha). Utilizando a cultivar CNPH 6400, noespaçamento de 0,25 x 0,25 cm, os autores mostraram que o esterco de curral nadose de 20 t/ha apresentou os melhores resultados para os caracteres: stand deplantas/m2, peso total de plantas/m2, peso total de bulbos/m2 e produção de total debulbos do tipo I.

Tabela 1. Relação C/N e teores de N, P e K em fertilizantes orgânicos.MATERIAL C/N N P K

Esterco de carneiroEsterco de gadoEsterco de galinhaEsterco de porcoCompostoPalha de milhoPalha de arrozPalha de feijãoCapim coloniãoGramaCrotalária (C. juncea)*Guandu*Mucuna preta*Serragem de madeira

15:118:110:110:110:1112:139:132:127:136:126:129:122:1865:1

2,131,923,042,541,000,480,781,631,871,391,951,812,240,06

1,281,014,704,930,800,380,580,290,530,360,400,590,580,01

3,671,621,892,350,801,640,411,94

--

1,811,142,970,01

* Dados de florescimento em % na matéria seca. Adaptado de Kiehl (1985)

Tabela 2: Composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interessecomo matéria-prima para o preparo de fertilizantes orgânicos.

MaterialMatéria

Orgânica%

N%

C/N P2O5%

K2O

Abacaxi: fibras 71,41 0,90 44/1 traços 0,46Arroz: cascas 54,55 0,78 39/1 0,58 0,49Arroz: palhas 54,34 0,78 39/1 0,58 0,41Aveia: cascas 85,00 0,75 63/1 0,15 0,53Aveia: palhas 85,00 0,66 72/1 0,33 1,91Café: cascas 82,20 0,86 53/1 0,17 2,07Café: palhas 93,13 1,37 38/1 0,26 1,96Capim-gordura 92,38 0,63 81/1 0,17 -Capim-guiné 88,75 1,49 33/1 0,34 -Capim-jaraguá 90,51 0,79 64/1 0,27 -Capim-meloso 90,00 0,70 75/1 0,22 0,5Capim-mimoso 93,69 0,66 79/1 0,26 -Capim-napier-verde 96,00 1,40 40/1 0,33 0,76Capim-pé-de-galinha 86,99 1,17 41/1 0,51 -Crotalária juncea 91,42 1,95 26/1 0,40 1,81Eucalipto: resíduos 77,60 2,83 15/1 0,35 1,52Feijão-de-porco 88,54 2,55 19/1 0,50 2,41Feijão-guandú 95,90 1,81 29/1 0,59 1,14Feijoeiro: palhas 94,68 1,63 32/1 0,29 1,94Labelabe 88,46 4,56 11/1 2,08 -

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Milho: palhas 96,75 0,48 112/1 0,38 1,64Mucuna-preta 90,68 2,24 22,1 0,58 2,97Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 0,01 0,01Fonte: Adaptado de KIEHL (2001) e SOUZA (2002).

Tabela 3: Teores de macro e micronutrientes de diversos resíduos orgânicos.

C N P2O5 Ca Mg K2O Na Fe Mn Cu ZnResíduo C/N % Ppm

Vinhaça 14 1,3 0,09 0,005 0,06 0,03 0,26 37 55 6 1,4 3,8Torta de filtro 29 7,9 0,27 0,63 0,26 0,13 0,07 92 10960 190 19 49Torta/mamona 6 30,1 5,5 1,99 5,37 0,59 1,44 207 1420 55 80 141Esterco de gado 13 19,4 1,53 0,53 0,83 0,34 1,16 1700 3623 196 8 57Esterco de aves(cama) 20 32,5 1,60 1,50 2,33 0,78 1,76 - 3.125 550 21 266

Fonte: Adaptado de FUNDAÇÃO CARGILL (1983) e SOUZA (2002).

Tabela 4: Composição média e relação de proporção de NPK para diversas fontesde fertilizantes orgânicos e minerais.

% na matéria secaFertilizantes Orgânicos

N P KProporção

NPK

Cinzas - 2,5 10 0-1-4Fosfato de Araxá - 30 - 0-3-0Ossos carbonizados - 35 - 0-3,5-0Torta de Mamona 5,0 2,0 1,1 5-2-1Torta de Algodão 6,0 3,0 1,4 4-2-1Cascas de Café 1,7 1,4 3,7 12-1-26Esterco de Cavalo 0,7 0,4 0,3 2-1-1Esterco de Coelho 2,0 1,3 1,2 1,5-1-1Esterco Bovino de Curral Curtido 5,0 2,5 5,0 2-1-2Esterco Bovino Seco 2,0 1,5 2,2 1,5-1-1,5Esterco de Ovelha 2,0 1,0 2,5 2-1-2Esterco de Cabra 3,0 2,0 3,0 1,5-1-1,5Esterco de Galinha 4,0 4,0 2,0 2-2-1Resíduo de Esgoto 2,0 1,5 0,5 4-31Bagaço de Cana 0,3 0,03 0,02 14-1-1Borra de Café 1,8 0,1 0,01 176-9-1Farinha de Ossos Crua 2,0 20,0 - 1-10-0Guano 2,5 8,8 1,1 2-8-1Serragem de Madeira 0,06 0,01 0,01 6-1-1Lixo Curtido 1,1 0,3 0,6 3-1-2Palha de Arroz 0,8 0,6 0,4 2-1-1Palha de Café 1,4 0,2 2,0 5-1-7Feijão (sementes) 2,6 0,5 2,4 5-1-5Palha de Feijão 1,6 0,3 1,9 6-1-7Guandu – sementes 3,6 0,8 1,8 4-1-2Cascas de Mandioca (raiz) 0,4 0,3 0,5 1-1-1Milho (palha) 0,5 0,4 1,6 1-1-4

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Mucuna (sementes) 3,9 1,1 1,4 4-1-1Fonte: Adaptado de DADONAS (1989), citado por PECHE FILHO & DE LUCCA (1997)

Tabela 5: Composição típica de materiais orgânicos de origem animal, vegetal eagroindustrial (sem secar) utilizados como adubos orgânicos.

U* C N P K Ca Mg S Zn Cu Cd Ni PbMaterial Orgânico C/N

g/kg mg/kg

Esterco bovino fresco 20 620 100 5 2,6 6 2 1 1 33 6 0 2 2Esterco bovino curtido 21 340 320 15 12 21 20 6 2 217 25 0 2 1Esterco de galinha 10 550 140 14 8 7 23 5 2 138 14 2 2 17Esterco de porco 9 780 60 7 2 5 12 3 - 242 264 0 2 3Torta de filtro 27 770 80 3 2 0,6 5 0,8 3 20 13 - - -Torta de mamona 10 90 450 45 7 11 18 5 - 128 73 - - -Mucuna 20 870 60 3 0,6 3 2 0,4 - 6 3 - - -Crotalária juncea 25 860 70 2,8 0,4 3 2 0,4 - 2 1 - - -Milho 46 880 60 1,3 0,2 3 0,5 0,2 - 3 1 - - -

* U- Umidade; Fonte: Raij et al., 1996.

O esterco de aves é um adubo orgânico bastante solúvel com rápidadisponibilização de nutrientes para as plantas. Leal & Silva (2002) compararam oesterco bovino e a cama de aviário na adubação de pimentão orgânico cultivado emambiente protegido e em céu aberto. Foi utilizada a cultivar Cascadura Ikeda, comtransplante das mudas em duas linhas por canteiro espaçadas de 0,5 m entre si. Naadubação de plantio, aplicou-se 250g de cama de aviário ou 500g de esterco bovino,40g de calcário dolomítico, 20g de termofosfato de Yoorin e 20g de cinza. Naadubação de cobertura, realizada aos 60 dias após o plantio, utilizou-se 250g decama de aviário ou 500g de esterco bovino. Os resultados obtidos mostrarammelhor produção para a adubação de plantio com esterco bovino e de cobertura comcama de aviário.

Composto

O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia (na presençade ar) de resíduos vegetais e animais. A compostagem é o processo de degradaçãode resíduos orgânicos em húmus, quando empregadas as técnicas adequadas demanejo. Trata-se de uma prática muito comum na olericultura orgânica, que visa omelhor aproveitamento da matéria orgânica e sua desinfecção contra certas pragas.O composto orgânico funciona como excelente estruturador do solo, favorecendo umrápido enraizamento, aumentando a saúde e resistência das plantas.

A transformação dos resíduos ocorre, principalmente, através da ação deorganismos, podendo ser subdividida em duas etapas: física (desintegração –quebra mecânica dos resíduos) e química (decomposição e transformação dabiomassa – os resíduos são primeiramente decompostos em suas unidadesestruturais básicas por enzimas extracelulares e posteriormente absorvidas e

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oxidadas pelos microrganismos, a fim de obterem energia e nutrientes inorgânicospara o seu desenvolvimento, com conseqüente transformação da biomassa). Ocomposto final ou húmus é constituído de produtos decompostos, partes resistentesdos resíduos orgânicos e microrganismos mortos e vivos (Peixoto, 2000).

A matéria prima para a elaboração do composto deve ser de restos devegetais (galhos, folhas, capim, outros – ricos em C) e animais (esterco bovino,cama de aviário de matrizes, outros – ricos em N). Quando só se dispõe de matériaprima pobre em nitrogênio (plantas nativas, velhas árvores e arbustos e suas partes)pode-se compensar esta falta com camadas de leguminosas. Outro fator importantea ser observado na escolha e seleção da matéria prima é a relaçãocarbono/nitrogênio, pois com uma proporção ideal de 25 a 30 : 1, a decomposiçãoocorrerá com eficiência. Essa proporção poderá ser atingida de duas maneiras:

• 75% de restos vegetais variados + 25% de esterco;• 50% de restos vegetais frescos + 50% de restos de vegetais velhos.

Material muito lenhoso não deve passar de 10% na compostagem, casocontrário deverá ser picado em pedaços menores ou mantido por algum tempo comocama para animais.

A pilha de composto deve ter as dimensões de 1,5m de largura, 1,5m dealtura e 10m de comprimento, para se obter uma melhor eficiência em relação àtemperatura de fermentação, necessária para ocorrer a transformação da matériaprima em composto. As pilhas devem ser formadas por camadas alternadas pormaterial de origem vegetal e animal (Esquema 2). Com 15, 30 e 45 dias, deve-serevirar a pilha (parte de cima para baixo e parte de dentro para fora). No momentoda revirada, deve-se proceder ao umedecimento do material a ser compostado. Aumidade deve ficar em torno de 50 a 60% (em termos práticos, este teor de umidadeocorre quando ao pegar o material, sente-se que o mesmo está úmido e, ao sercomprimido, não escorre água e forma um torrão). Para manter a umidade idealdeve-se cobrir a pilha com palhas, folhas de bananeira ou lona plástica. O local deveser protegido do sol e da chuva (à sombra de uma árvore ou em uma área coberta).Após 90 dias o composto estará pronto para ser aplicado ao solo. Teores denutrientes de alguns compostos são apresentados na tabela 7.

O composto tem sido usado numa faixa de 3 a 10 kg por m², dependendo daexigência da cultura e das condições químicas do solo. Para Cenoura, por exemplo,a quantidade a ser utilizada é de 30 toneladas/ha, sendo 20 toneladas/ha a lançoantes de fazer os canteiros e 10 toneladas/ha em cobertura aos 30 dias após oplantio, no momento da raleação.

Mais informações sobre compostagem podem ser encontradas em Kiehl(1998), Souza (1999) e Peixoto (2000).

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Esquema 2. Formulações de compostos, com cama pobre (I) e rica (II) em N.

I. COMPOSTO (cama pobre em N)

Cada camada de composto deverá conter:• 27 carrinhos de cama de matrizes de frangos (material mais pobre em N) (27 x 3

= 81);• 15 carrinhos de capim roçado (15 x 4 = 60);• 25 carrinhos de capim triturado (25 x 4 = 100);• 13 kg de yoorin Master;• Cabe ressaltar que a meda de composto é formada por quatro camadas, sendo

que a cama de matrizes e o Yorin master só compõem as três primeiras camadas(observar montagem da meda esquematizada abaixo). Total de 241 (81 + 60 +100) carrinhos de pedreiro por meda de composto.

Peso (kg)Fontes Carrinho de pedreiro Camada de composto Pilha de composto

Cama de frango 25 675 2.025Capim triturado 5 125 500Capim roçado 1 15 60

Yoorin 13 39Peso da meda 2.624

II. COMPOSTO (cama rica em N)

Cada camada de composto contém:• 20 carrinhos de cama de matrizes de frango (material mais pobre em N) (20 x 3 =

60);• 15 carrinhos de capim roçado (15 x 4 = 60);• 30 carrinhos de capim triturado (30 x 4 = 120);• 13 kg de yoorin Master.• Cabe ressaltar que a meda de composto é formada por quatro camadas, sendo

que a cama de matrizes e o Yorin master só compõem as três primeiras camadas(observar montagem da meda esquematizada abaixo). Total de 240 (60 + 60 +120) carrinhos de pedreiro por meda de composto.

Peso (kg)Fontes Carrinho de pedreiro Camada de composto Pilha de composto

Cama de frango 21,29 425,8 1.277,4Capim triturado 1,92 57,6 230,4Capim roçado 5,7 85,5 342

Yoorin 13 39Peso da meda 1.888,8

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Esquema 3. Montagem da meda de composto.

O material a ser compostado deve ser dividido em quatro (4) camadas. Naformação de cada camada coloca-se primeiro o material mais fibroso ou de tamanhomaior. A composição de cada camada da pilha de composto é indicada abaixo.

4a camada Capim trituradoCapim roçadoYoorin master

3a camada Cama de matrizCapim trituradoCapim roçadoYoorin master

2a camada Cama de matrizCapim trituradoCapim roçadoYoorin master

1a camada Cama de matrizCapim trituradoCapim roçado

Tabela 7. Teores de macro e micronutrientes de fontes de matéria orgânica.Embrapa Hortaliças, 2003.

Ca Mg K P S Cu Zn Fe Mn BAmostras

g/kg mg/kg

Cama deMatriz 29,96 7,98 20,35 18,69 4,67 145,90 214,90 3524,00 357,20 34,39

CapimNapier 6,53 3,14 13,15 1,92 1,08 11,00 48,80 1444,0 92,20 10,47

Braquiária 8,93 2,68 3,88 1,65 2,74 8,40 13,10 5465,0 96,60 19,44Composto1* 46,24 8,46 9,69 12,09 7,70 54,80 182,40 33366,0 648,70 41,87

Composto2** 73,85 11,38 17,83 17,86 8,78 69,50 245,70 21876,0 656,60 70,28

CompostodeFarelos

55,14 12,74 12,38 16,49 17,67 29,30 80,80 7449,0 398,60 26,92

EstercoBovino 8,70 5,32 13,78 5,08 13,11 27,50 55,50 132540 444,0 31,40

* Composto 1 – cama de matrizes de aves pobre** Composto 2 – cama de matrizes de aves rica

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Adubação verdeA prática de adubação verde consiste no aproveitamento de plantas

cultivadas ou crescidas esporadicamente no próprio local ou importadas de outraárea, deixadas, preferencialmente, na superfície do solo, com a finalidade depreservar e/ou melhorar a fertilidade das terras agrícolas (Chaves & Calegari, 2001).O uso de plantas leguminosas como adubo verde são fundamentais em sistemasorgânicos de produção, pois permitem a melhoria das condições químicas, físicas ebiológicas do solo, destacando-se a fixação biológica de nitrogênio, elementoessencial ao crescimento das plantas.

A terminologia adubação verde está fortemente associada à aplicação deespécies de plantas da família das leguminosas, pelo benefício adicional da fixaçãobiológica de nitrogênio. Mas hoje já são usadas espécies de outras famílias deplantas que também possuem potencial de uso como espécies de adubos verdes.

Levando-se em consideração a cultura comercial, a adubação verde pode serclassificada em: adubação verde em rotação (plantio de espécies de adubos verdesno verão ou inverno, cobrindo o solo por um período de 4 a 6 meses, práticautilizada no preparo de solo no cultivo de plantas perenes), adubação verde emconsórcio (adubo verde plantado em consórcio com a cultura principal), adubaçãoverde em sucessão (plantado logo após a cultura principal), e adubação verde emáreas de pousio temporário (viável em áreas degradadas ou que não estãoincorporadas ao processo produtivo) (Guerreiro, 2002). Cabe complementar, que asespécies de adubos verdes podem ser usadas isoladamente ou em conjunto(coquetel). O coquetel de adubos verdes é a mistura de espécies pertencentes adiferentes famílias, que possuam diferentes hábitos de crescimento (arquitetura daparte aérea) e ocupam diferentes estratos do solo (desenvolvimento do sistemaradicular).

A seleção e o manejo da espécie de adubo verde a ser plantada, dependerádo objetivo pretendido. Na maioria das vezes, procura-se espécies de crescimentorápido, com boa cobertura do solo e com grande produção de biomassa vegetal.Geralmente, a incorporação é realizada na época do florescimento, período de maiorprodução de biomassa e fixação de N. Para obter material de decomposição maisrápida, fazer incorporação antes do florescimento e para obter material dedecomposição mais lenta, deixar as espécies em pé mais tempo. A produção dematéria fresca, seca e extração de nutrientes da parte aérea de algumas espéciesde adubos verdes são apresentados na figura 1 e tabela 8, respectivamente.

Algumas espécies de adubos verdes apresentam tolerância à acidez do solo,dentre elas destaca-se o feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis), o feijão deporco (Canavalia ensiformes) e mucuna preta (Mucuna aterrima). As espécies deadubos verdes apresentam comportamentos diferentes, de acordo com o ambiente.No verão, as principais espécies de adubos verdes mais utilizadas são: mucunapreta (Mucuna aterrima), Crotalaria juncea, Crotalaria ocroleuca, Crotalariaspectabilis, Crotalaria paulina, feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), guandu(Cajanus cajan), girassol (Helianthus annus), milheto (Pennisetum glaucum) e sorgoforrageiro (Sorghum bicolor). No inverno, as principais espécies utilizadas são: aveia

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preta (Avena strigosa Scheb), nabo forrageiro (Raphanus sativus), ervilhaca (Viciasativa) e ervilha forrageira (Pisus arvense).

Na agricultura orgânica, muitos produtores têm manejado as adubações deforma similar ao sistema de agricultura convencional, realizando a mesma freqüênciade adubação. Entretanto, deve-se considerar que os adubos orgânicos são fontespouco solúveis e muitos apresentam liberação lenta de nutrientes para as plantas.Desta forma, aplicações freqüentes de adubos orgânicos em culturas de ciclo curto,como é o caso das olerícolas, podem não apresentar os resultados esperados,sendo aproveitados apenas pela cultura seguinte. Considerando este fator, oolericultor orgânico, dependendo das condições do solo, pode substituir asaplicações de adubos para cada cultura individualmente por adubações por ciclos decultivo, envolvendo maior número de espécies, reduzindo sobremaneira a mão deobra e os custos de sua propriedade.

Sob esta mesma ótica, a necessidade de aplicações de adubos em coberturaem sistemas orgânicos de produção de hortaliças precisa ser bem avaliada peloprodutor. Em alguns trabalhos realizados pela Embrapa Hortaliças com cebola autilização desta prática com compostos a base de farelos e microorganismos nãoinfluenciou na produtividade da cultura.

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Figura 1. Produção média de matéria fresca (a), média dos dias necessários para oflorescimento e produção média de matéria seca da parte aérea (b) de espécies deadubos verdes no verão, em Brasília, DF. Espécies com cores iguais não diferemestaticamente pelo Teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Embrapa Hortaliças,2003.

Fonte: Saminêz et. al. (2003a).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110

Sorgo Forrageiro

Nabo Forrgeiro

Milheto

Crotalaria juncea

Feijão de Porco

Aveia Preta b

Mucuna

Gundu Anão

Crotalaria spectabillis

Feijão Bravo do Ceará

Produção de Matéria Fresca (t/ha)

a

0

5

10

15

20

25

Sorgo F

orrag

eiro

C. junc

ea

Feijão

de Porc

o

Aveia

Preta

Milheto

Nabo F

orrge

iro

Guand

u Anã

o

Feijão

Bravo d

o Cea

Mucun

a Pret

a

C. spe

ctabil

lis

Prod

ução

de

Mat

éria

sec

a (t/

ha)

0

40

80

120

160

Flor

esci

men

to (d

ias)Matéria seca Florescimento

b

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Tabela 8. Teor médio e acumulação total de nutrientes na parte aérea de diferentesespécies de adubos verdes, cultivadas no verão de Brasília, Embrapa Hortaliças, 2001.

N P KESPÉCIE Teor Total Teor Total Teor Total

(g/kg) (kg/ha) (g/kg) (kg/ha) (g/kg) (kg/ha)Guandu anão 42,97 A 277,50 B 3,75 A 24,20 E 23,12 B 149,32 CCrotalaria juncea 40,80 A 461,80 A 4,50 A 50,76 B 19,83 B 222,48 BFeijão-de-porco 37,64 A 415,30 A 3,10 B 34,20 C 23,27 B 256,53 BCrotalaria spectabilis 32,90 B 103,68 C 3,89 A 12,19 F 25,81 A 80,84 CFeijão-bravo-do-Ceará 30,83 B 163,65 C 3,38 B 17,80 F 31,74 A 167,09 CMucuna preta 26,68 C 119,81 C 3,17 B 14,23 F 28,79 A 129,31 CNabo forrageiro 17,75 D 134,69 C 3,67 A 27,43 D 23,23 B 175,01 CAveia preta 14,90 D 146,48 C 3,74 A 36,69 C 20,09 B 197,73 CMilheto 13,75 D 96,65 C 4,23 A 39,82 C 20,29 B 193,39 CSorgo forrageiro 10,33 D 245,87 B 3,33 B 78,18 A 14,13 C 335,24 A

C.V. (%) 10,61 15,40 10,27 14,89 13,30 21,86ESPÉCIE Ca Mg S

Feijão-de-porco 29,74 A 327,60 A 4,49 C 49,48 C 0,40ns 4,38 AFeijão-bravo-do-Ceará 27,91 A 147,30 C 4,16 C 22,17 E 0,35ns 1,73 BCrotalaria juncea 22,90 B 257,20 B 7,28 A 82,20 B 0,37ns 4,15 ACrotalaria spectabilis 21,11 B 65,73 D 4,24 C 13,28 F 0,34ns 1,06 BNabo forrageiro 17,78 B 136,26 C 4,96 B 37,71 D 0,32ns 2,42 BGuandu anão 10,23 C 66,04 D 3,38 D 21,81 E 0,38ns 2,43 BMucuna preta 10,18 C 45,97 D 3,28 D 14,65 F 0,36ns 1,60 BMilheto 5,95 C 56,63 D 3,74 C 35,46 D 0,34ns 3,10 AAveia preta 4,95 C 48,70 D 2,36 D 23,15 E 0,40ns 3,89 ASorgo forrageiro 3,80 C 89,18 D 5,42 B 125,35 A 0,15ns 3,68 A

C.V. (%) 22,81 23,23 14,59 12,67 26,90 25,36Cu Zn Mn

ESPÉCIE Teor Total Teor Total Teor Total(mg/kg) (g/ha) (mg/kg) (g/ha) (mg/kg) (g/ha)

Milheto 16,30 ns 154,98 24,38 A 228,14 B 27,14 A 256,93 BAveia preta 5,30ns 52,68 22,26 A 219,06 B 40,89 A 384,30 BGuandu anão 21,75ns 139,61 18,04 B 116,53 C 28,24 A 182,35 CCrotalaria juncea 24,35ns 277,06 16,77 C 191,90 B 27,46 A 311,41 BSorgo forrageiro 10,48ns 247,27 14,22 C 335,20 A 21,50 B 512,30 ANabo forrageiro 15,08ns 108,48 14,07 C 107,25 C 18,41 B 142,80 CFeijão-de-porco 17,33ns 196,08 13,33 C 147,81 C 32,57 A 358,60 BCrotalaria spectabilis 25,18ns 80,39 13,12 C 41,92 D 16,87 B 54,57 CFeijão-bravo-do-Ceará 23,88ns 127,44 11,88 C 62,46 D 34,99 A 186,71 CMucuna preta 26,35ns 117,42 10,11 C 45,23 D 11,62 B 42,35 C

C.V. (%) 48,35 68,06 13,34 18,16 30,84 33,65ESPÉCIE Fe B MS**

Fejão-bravo-do-Ceará 519,17 A 2.725 B 27,71 A 145,90 C 5,22 DMucuna preta 477,27 A 2.135 B 27,58 A 97,03 D 4,49 DFeijão-de-porco 356,88 A 3.999 A 32,52 A 359,05 A 11,40 BCrotatalaria juncea 355,02 A 3.934 A 25,23 A 285,60 B 11,31 BCrotalaria spectabilis 311,40 A 949 B 33,98 A 107,27 D 3,14 DGunadu anão 226,42 B 1.458 B 23,10 A 149,32 C 6,46 CAveia preta 221,85 B 2.175 B 21,71 A 71,88 D 9,86 BMilheto 202,28 B 1.919 B 7,23 B 66,78 D 9,46 BNabo forrageiro 176,08 B 1.331 B 22,67 A 171,68 C 7,56 CSorgo forrageiro 162,25 B 3.833 A 7,08 B 170,35 C 23,54 A

C.V. (%) 43,65 42,40 40,03 19,88 15,28

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* Valores seguidos de letras iguais dentro da coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% deprobabilidade; ** MS - Matéria seca da parte aérea (t/ha). Fonte: Saminêz et al. (2003b).

Biofertilizantes líquidosO biofertilizante funciona como fonte alternativa de suplementação de

nutrientes, via foliar. São aplicados diluídos em água na proporção de 2 a 5%. Entreesses, destacam-se o biofertilizante líquido (esterco de curral fermentado), oSupermagro e o Agrobio.

O biofertilizante líquido é preparado à base de esterco de curral fresco eágua, na proporção 1:1, fermentado de forma anaeróbia em bombonas plásticas.Nomes: Agrobio, Super Magro, Biofertilizante Vairo, efluentes de biodigestor etc...

O supermagro e o Agrobio são variantes deste processo visando suprirmicronutrientes junto com o biofertilizante. São formados pela mistura demicronutrientes na forma de sais aos materiais orgânicos, juntamente com melaço,leite e água.

Estes produtos, ao serem absorvidos pelas plantas, funcionam como fontesuplementar de micronutrientes e de componentes inespecíficos. Acredita-se quepossam influir positivamente na resistência das plantas ao ataque de pragas e dedoenças, regulando e tonificando o metabolismo. Revelam potencial para controlardiretamente alguns fitoparasitas através de substâncias com ação fungicida,bactericida ou inseticida presentes em sua composição.

Biofertilizante Agrobio (Fernandes, 2002)

Ingredientes para a primeira semana (para produzir 500 litros do Agrobio)

200 litros de água100 litros de esterco fresco bovino20 litros de leite de vaca ou soro de leite3kg de melaço

Modo de Preparo

Os ingredientes devem ser bem misturados e deixados fermentar por umasemana. A este caldo nutritivo, nas sete semanas subsequentes, são acrescentados,semanalmente, os seguintes produtos, previamente dissolvidos em água: 430 g debórax ou ácido bórico, 570 g de cinza de lenha, 850 g de cloreto de cálcio, 43 g desulfato ferroso, 60 g de farinha de osso, 60g de farinha de carne, 143 g determofosfato magnesiano, 1,5 kg de melaço, 30 g de molibdato de sódio, 30 g sulfatode cobalto, 43 g de sulfato de cobre, 86 g de sulfato de manganês, 143 g de sulfatode magnésio, 57 g de sulfato de zinco, 29 g de torta de mamona e 30 gotas desolução de iodo a 1%.

Nas quatro últimas semanas, são adicionados 500 ml de urina de vaca. Acalda deve ser bem misturada duas vezes por dia. Após oito semanas o volumedeve ser completado para 500 litros e coado.

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São indispensáveis para produção do Agrobio em maior escala, os seguintesmateriais: caixa d’água de plástico com tampa e capacidade de 500 litros; bancadade concreto ou madeira; conexões de 2 polegadas; pá; baldes; tela e peneira paracoagem.

A Agrobio pronto apresenta cor bem escura e odor característico de produtofermentado, pH na faixa de 5 a 6. A análise química do biofertilizante fornece osseguintes resultados: 34,69 g/l de matéria orgânica; 0,8% de carbono; 631 mg/l deN; 170 mg/l de P; 1,2 g/l de Ca e 480 mg/l de Mg, além de traços dos micronutrientesessenciais às plantas. O seu uso é isento de riscos à saúde, uma vez que os testesmicrobiológicos, até hoje conduzidos, mão detectaram coliformes fecais, bactériaspatogênicas e toxinas.

Recomendações de uso

Na produção de mudas – tratamento preventivo com Agrobio a 2% (20mililitros do Agrobio para um litro de água), através de pulverizações foliares.

Hortaliças folhosas – após o transplantio das mudas, tratamento preventivocom Agrobio, através de pulverizações foliares semanais, na concentração de 4%(40 mililitros do Agrobio para um litro de água) ou, ainda, duaspulverizações/semana a 2%.

Hortaliças de frutoa) Cultivo orgânico em sistema protegido (estufas) – tratamento preventivo

através de pulverizações foliares semanais com Agrobio a 4% (40 ml/l).b) Cultivo convencional a campo – tratamento preventivo através de

pulverizações foliares semanais com Agrobio a 4% (40 ml/l).

Culturas perenes – Inicialmente, são recomendadas quatro pulverizaçõesfoliares com Agrobio a 4% (duas aplicações a intervalo semanal, seguidas de maisduas pulverizações quinzenais) deverão ser feitas após podas, colheitas e estressehídrico.

Análises químicas de tecidos foliares, com a possível freqüência, sãoindicadas para monitorar os teores de micronutrientes das culturas perenes.

Para hortaliças exigentes em micronutrientes como repolho, couve-flor,brócolos, tomate e alho, os biofertilizantes são alternativas interessantes parafornecimento complementar ou como fonte única destes nutrientes nos sistemasorgânicos de produção.

Conclusões

Entretanto, o uso dos biofertilizantes na olericultura orgânica ainda necessitade estudos efetivos para se entender sua atuação e definir formas e épocasadequadas de aplicação. Souza et al. (2002) avaliaram o efeito do “Agrobio” sobre aprodução de mudas de alface. Foram comparados três cultivares de alface (Elisa,Lívia e Regina) em quatro concentrações do biofertilizante (0, 2, 4 e 6%), aplicados

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semenalmente. A cultivar Elisa apresentou maior crescimento, com maior pesofresco e seco da parte aérea. O efeito do Agrobio só foi observado para o peso secodas raízes. Neste trabalho, provavelmente, não foi observado o efeito do Agrobio,pois foi utilizado um substrato comercial, que geralmente possuem quantidades denutrientes suficientes para o bom desenvolvimento das mudas, isto não inviabiliza aaplicação de biofertilizantes para substratos orgânicos, que possuem menoresconcentrações de nutrientes, além de liberação mais lenta dos mesmos. A ausênciade significância também pode ser atribuída a fitossanidade das mudas, pois nãoocorrendo pragas e doenças, não é possível verificar o efeito do biofertilizante.Novos estudos devem ser realizados para recomendação do uso de biofertilizantesna produção de mudas de alface e outras hortaliças, em substratos orgânicos.Aldrighi et al. (2002) também não encontraram efeito da aplicação de diferentesconcentrações do biofertilizante supermagro e urina de vaca em mudas de tomateem substrato formado por vermicomposto bovino (70%) + casca de arrozcarbonizada (30%) e atribuíram a ausência de significância aos aspectos nutricionaldo substrato e fitossanitário das mudas.

Outras fontes de nutrientesEm alguns casos é necessário complementar a adubação orgânica com

nutrientes ausentes ou pouco disponíveis na fonte, e que limitarão a plena atividadebiológica do solo e das plantas. Entre esses elementos destacam-se o potássio,magnésio, cálcio e o fósforo, principalmente nas condições brasileiras. Os principaisprodutos utilizados como fontes destes nutrientes em cultivos orgânicos são:• Calcários (calcítico, magnesiano e dolomítico).• Fosfatos naturais e semi solubiizados, farinha de ossos, termofosfatos, escórias e

outras fontes com baixa solubilidade.• Minerais de rocha moídos que sejam fontes de cálcio e/ou magnésio, fósforo,

potássio,e outros elementos.• Cinzas vegetais e resíduos de biodigestores.• Húmus de minhoca, guanos e turfas.• Tortas e farinhas de resíduos vegetais e animais.

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