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CCDD Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Tema Doença Mental Projeto Pós-graduação Curso Enfermagem do Trabalho Disciplina Saúde Mental e Trabalho Tema Doença Mental Professor Pablo de Assis Introdução Para conhecer a saúde mental é importante também conhecer a doença mental. Quais são os principais problemas e transtornos? Como lidar com o sofrimento? Qual o sentido da vida? Por mais que não consigamos falar sobre tudo, tentaremos falar sobre o essencial: Uma breve história dos transtornos mentais Transtorno ou Doença? Sintomas e Critérios de Diagnóstico Sistemas de Classificação e Diagnóstico O DSM-5 e controvérsias sobre saúde mental Humor e Depressão Ansiedade e Estresse O problema da medicalização da vida (Vídeo disponível no material on-line) Problematização Você começa a perceber que um colega do seu trabalho, um colaborador de outro departamento, está se comportando de forma diferente. Você o vê mais desanimado, de mal com a vida e quase não fala com ninguém. Depois de um tempo ele chega para você como o enfermeiro do trabalho e apresenta um laudo de depressão e diz que precisa tomar remédios, pois essa condição apareceu

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Tema – Doença Mental

Projeto Pós-graduação

Curso Enfermagem do Trabalho

Disciplina Saúde Mental e Trabalho

Tema Doença Mental

Professor Pablo de Assis

Introdução

Para conhecer a saúde mental é importante também conhecer a doença

mental. Quais são os principais problemas e transtornos? Como lidar com o

sofrimento? Qual o sentido da vida? Por mais que não consigamos falar sobre

tudo, tentaremos falar sobre o essencial:

Uma breve história dos transtornos mentais

Transtorno ou Doença?

Sintomas e Critérios de Diagnóstico

Sistemas de Classificação e Diagnóstico

O DSM-5 e controvérsias sobre saúde mental

Humor e Depressão

Ansiedade e Estresse

O problema da medicalização da vida

(Vídeo disponível no material on-line)

Problematização

Você começa a perceber que um colega do seu trabalho, um colaborador

de outro departamento, está se comportando de forma diferente. Você o vê mais

desanimado, de mal com a vida e quase não fala com ninguém. Depois de um

tempo ele chega para você como o enfermeiro do trabalho e apresenta um laudo

de depressão e diz que precisa tomar remédios, pois essa condição apareceu

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de repente, do nada – quase da mesma forma como se pega uma gripe – e o

remédio é a sua única solução. Ele pede para manter a informação em sigilo,

pois não quer que ninguém do trabalho o julgue por ser depressivo. Depois dessa

conversa, você percebe que outras pessoas estão se comportando da mesma

forma que esse colaborador e você teme que elas também possam apresentar

laudos. Como enfermeiro do trabalho, como lidar com essa situação?

(Vídeo disponível no material on-line)

Uma breve história dos transtornos mentais

Sempre existiu alguma percepção do que pode ser considerado um

comportamento normal, padrão, e, ao contrário, um comportamento desviante.

Em diferentes momentos da história, esses comportamentos desviantes

receberam vários nomes e classificações:

Antigamente, alguns desses comportamentos eram vistos como sinais

dos deuses, tanto positivos quanto negativos. Alguns casos de esquizofrenia,

por exemplo, eram vistos como sinais de profecias. Outras vezes, os deuses

podiam agir de forma a prejudicar ou castigar uma pessoa através da loucura.

Ou seja, a manifestação de comportamentos anormais não era vista como

doença, mas como intervenção divina e usadas como sinal de revelação ou de

punição.

Com a influência do cristianismo na cultura ocidental, esses mesmos

comportamentos passaram a ser vistos como sendo negativos e influenciados

por demônios. A depressão, por exemplo, dizia-se que era influenciada pelo

“demônio do meio-dia”, pois fazia com que pessoas sentissem em plena luz do

dia a falta de ânimo e fatiga próprias do cansaço da noite. Como a Igreja tinha

bastante influência na sociedade, essas pessoas eram ou abandonadas por

estarem possuídas ou eram levadas às igrejas para serem exorcizadas.

No final da idade média e início do Renascimento, pessoas que

apresentavam esses comportamentos eram deixadas de lado pela sociedade.

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Eles eram chamados de loucos e, muitas vezes, eram trancados com criminosos

para afastar suas influências das pessoas ditas normais.

Nessa época, a ciência se consolidou como a ferramenta para a busca da

verdade e ela se consolida baseada em um paradigma naturalista e materialista,

ou seja, a ciência trabalharia com áreas exclusivamente materiais e naturais,

evitando questões filosóficas e espirituais, por exemplo. Isso acaba por fortalecer

muitas áreas, como a física, biologia e até a medicina.

A psiquiatria, desde um século antes com Philippe Pinel, é a área da

medicina que se preocupa em cuidar dos doentes mentais. Foi com Pinel que

problemas relacionados à loucura passaram a ser considerados como doença,

o que para a época foi um grande avanço, pois até então os loucos ou eram

vistos como malandros ou como possuídos por demônios. A psiquiatria começou

a reintegrá-los à atenção social, mostrando que a loucura era um problema de

saúde.

Mesmo assim, a psiquiatria não encontrava um caminho claro para tratar

desses problemas. As doenças mentais não tinham causas tratáveis, como uma

tuberculose ou um osso partido. Um grande psiquiatra do século XIX, Emil

Kraepelin, criador do primeiro modelo de classificação psiquiátrica das doenças

mentais, chegou a admitir que, por mais que consigamos observar diferentes

transtornos, não conseguimos claramente identificar suas causas.

Outro psiquiatra contemporâneo, Karl Jaspers, autor do livro

Psicopatologia Geral, sugeriu que, ao invés de buscarmos as causas das

doenças, deveríamos buscar a significação delas na vida dos doentes – uma

sugestão amplamente ignorada pelo paradigma científico.

Surge então a psiquiatria moderna no final do século XIX e várias

tentativas de tratamento de doenças mentais. Sigmund Freud, por exemplo, com

ajuda de Jean-Martin Charcot, utilizou inicialmente a hipnose para mostrar que

a histeria, doença até então misteriosa que afetava principalmente mulheres e

causava paralisias entre outros sintomas, era uma doença psicogênica, ou seja,

de origem psicológica ou mental.

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Carl Jung, psiquiatra suíço que trabalhou no hospital psiquiátrico de

Burgholzli na suíça, mostrou através de testes de associação de palavras a

existência de complexos autônomos reprimidos e inconscientes, comprovando

assim a tese de Freud. Ele também contribuiu para o desenvolvimento do

diagnóstico de esquizofrenia, elaborado por seu professor e mentor Eugene

Bleuler, doença até então chamada de demência precoce.

Ver mais

O final do século XIX e o avanço nos tratamentos das doenças mentais

foi tão espetacular que motivou a criação de diversos filmes que contam facetas

diferentes dessa história. Quero deixar aqui a recomendação de três filmes.

O primeiro é O Método Perigoso, que conta a história do nascimento da

psicanálise e da relação entre Freud e Jung. O segundo é Histeria, uma comédia

romântica que tem como pano de fundo o avanço médico no estudo da histeria

e o desenvolvimento de métodos pouco ortodoxos para o tratamento dessa

condição. O terceiro é o clássico Freud Além da Alma que, além de contar um

pouco mais sobre a vida do médico austríaco nos anos antes do

desenvolvimento da psicanálise, consegue mostrar com clareza como era a

mentalidade da época com relação às aflições psicológicas.

(Vídeo disponível no material on-line)

Confira o trailer dos dois primeiros filmes a seguir.

https://www.youtube.com/watch?v=NOZso-8auRQ

https://www.youtube.com/watch?v=l01TzferLzY

Transtorno ou doença?

Com o avanço da medicina e psiquiatria no tratamento dos problemas

psicológicos, ficou claro que, se o problema é médico estamos falando de uma

doença e se a doença não é física, ela é uma doença mental. Acabou-se por

convencionar que os problemas psicológicos seriam doenças mentais e seriam

dignos de tratamento médico. Isso de um lado foi bom, pois tirou do descaso

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social as pessoas que sofriam de inúmeras condições e sofrimentos reais e

passou a dar uma atenção médica especializada. Porém, isso também acabou

trazendo outro problema grave: o estigma social.

Temos a noção social de que se tenho uma doença, devo procurar

tratamento, porém se essa doença não tem cura, ela pode ser contagiosa ou

então incapacitar permanentemente uma pessoa. É o caso de síndromes

genéticas ou até mesmo a AIDS. Por mais que medicamente essas doenças

sejam controláveis, até algumas que passaram muito tempo não tendo cura,

como a tuberculose, e que hoje são completamente tratáveis, socialmente ainda

estigmatizamos esses doentes como merecedores de pena ou exclusão social.

O preconceito ainda é grande.

O mesmo acontece com quem sofre de uma doença mental. Por mais que

muitas dessas condições sejam tratáveis ou tenham seus problemas

solucionáveis, ainda temos outras que não compreendemos muito bem e mal

conseguimos controlar. Socialmente, ainda sofremos muito preconceito com

relação às pessoas que sofrem de alguma psicopatologia e ainda usamos de

forma pejorativa termos como “louco” ou “insano”.

Por isso há um movimento entre os profissionais de saúde mental para

não usarmos mais a expressão “doença mental” e passarmos a usar “transtorno

mental”. Assim, tentaremos diminuir o estigma sofrido por essas pessoas que

possuem condições das quais precisam cuidar durante toda a sua vida. Quem

sofre de um transtorno mental precisa de compreensão e apoio de todos e a

última coisa que precisa é de um estigma social, que só agrava a situação.

(Vídeo disponível no material on-line)

Sistemas e critérios de diagnóstico

Um dos papéis da ciência é desenvolver sistemas de classificação de

seus objetos de estudo, para facilitar a aproximação do cientista. Na área da

psiquiatria e dos sistemas de diagnóstico não é diferente. Se aceita o uso da

expressão “transtornos” ou “distúrbios mentais” para se referir aos problemas

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psicopatológicos. Eles são diagnosticados pela presença de sintomas, que são

manifestações únicas e desviantes do comportamento dito normal e um grupo

de sintomas pode ser classificado como uma síndrome. Uma determinada

síndrome psicológica classificada pode, então, receber o nome de transtorno

mental.

Vale, porém, ressaltar que esses sistemas de classificação não são

recortes reais da vida. Eles são somente modelos para auxiliar o profissional da

área da saúde e devem ser vistos como um mapa, um guia apenas e não o

território. Os transtornos e distúrbios mentais não existem de fato, somente um

agrupamento pragmático de manifestações que chamamos de sintomas.

É diferente de dizer que existe uma febre, porque sabemos qual é o seu

agente causador, reconhecemos que a febre é um sintoma criado pelo corpo e

que, nesse caso, ajuda o paciente a se livrar de um vírus ou bactéria indesejada.

Porém, no caso dos transtornos mentais, isso é mais complicado, pois não

sabemos qual é o agente causador do transtorno.

Existem várias hipóteses, como o chamado “desequilíbrio neuroquímico”

que diz que determinado sintoma psicopatológico é causado por níveis

diferentes de neurotransmissores no cérebro. Porém, essa hipótese não

consegue se sustentar, pois não consegue apontar o que causou esse

desequilíbrio e nem se ele é permanente por um impedimento neurológico ou

psicossocial.

Em outras palavras: posso ficar muito triste por conta da morte de um

familiar muito próximo, mas o que irá diferenciar essa tristeza gerada por uma

relação psicossocial específica que provocou um desequilíbrio neuroquímico de

uma tristeza causada por outro princípio que justifique que, de fato, o problema

está no cérebro?

Por isso, é quase um consenso que para alguma condição poder ser

considerada um transtorno mental ela não pode ter nenhum agente causador

conhecido, como uma lesão cerebral ou alguma outra doença associada. Além

disso, o transtorno precisa provocar um sofrimento significativo na vida de uma

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pessoa. Ou seja, não basta a presença de um determinado sintoma, mas ele

precisa provocar um grande sofrimento.

O problema é que, muitas vezes, o sofrimento surge não do sintoma ou

do problema, mas sim da forma como nós nos relacionamos com ele. Por

exemplo, homossexualidade não é um transtorno mental, porém o preconceito e

a não aceitação social e familiar dessa condição pode levar alguém a sofrer

bastante por ser homossexual. O problema aqui não está na homossexualidade,

mas na forma como a sociedade lida com ela.

Tudo isso é só para mostrar que classificar e diagnosticar um transtorno

mental não é algo fácil. Porém, existem alguns manuais e sistemas de

classificação que nos ajudam e que servem para facilitar a comunicação entre

profissionais.

(Vídeo disponível no material on-line)

Ver mais

Para ilustrar como é delicado classificar os transtornos mentais e quão

prejudicial pode ser um diagnóstico mal realizado, quero apresentar aqui o relato

da psicóloga Eleanor Longden:

“Aparentemente, Eleanor Longden era exatamente como qualquer outra

estudante, indo para a universidade cheia de promessas e sem preocupações

com o mundo. Até que as vozes em sua cabeça começaram a falar. Inicialmente

inócuos, esses narradores internos começaram a ser tornar cada vez mais

antagônicos e ditatoriais, transformando sua vida em um pesadelo vivo.

Diagnosticada com esquizofrenia, hospitalizada e drogada, Longden foi

descartada por um sistema que não sabia como ajudá-la. Ela conta a história

comovente de sua jornada de anos para recuperar a saúde mental e constrói o

argumento de que foi aprendendo a escutar suas vozes que ela foi capaz de

sobreviver.”

http://www.ted.com/talks/eleanor_longden_the_voices_in_my_head?language=

pt-br

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Sistemas de classificação e de diagnósticos

A área da saúde mental no mundo utiliza principalmente dois manuais

complementares para a classificação dos transtornos mentais. Um deles é

editado pela Organização Mundial da Saúde e é utilizado por profissionais de

todas as áreas, o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças 10ª Edição).

O capítulo F desse livro é dedicado aos transtornos mentais. O outro é o DSM,

o Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais, atualmente em sua

5ª edição.

O CID-10 foi editado em 1993, o DSM-IV em 1994 e o DSM-5 em 2014.

O CID-10, mais amplamente utilizado como sistema de diagnóstico, foi inspirado

principalmente no DSM-III da década de 1980, junto com várias discussões que

iriam aparecer no DSM-IV. Já o DSM-5 se separa bastante desses sistemas e

merece uma discussão própria sobre ele.

O principal problema desses sistemas é a sua desatualização. Muitos

avanços foram feitos nos últimos 20 anos, não só nas áreas das neurociências,

mas principalmente nas psicoterapias e psicologias que demonstram que

existem muitos fatores diferentes na compreensão do sofrimento humano.

Outro problema é que, muitas vezes, fatores culturais não são

considerados no momento do diagnóstico que segue estritamente o livro. Por

exemplo, em uma determinada cultura pode ser aceitável ou até mesmo imposto

que o luto seja carregado por mais do que os três meses recomendados pelo

livro, o que poderia levar a um profissional mal preparado a um leviano

diagnóstico de depressão.

O DSM-5 e controvérsias sobre saúde mental

Um dos grandes diferenciais do DSM-IV para os outros sistemas de

classificação é o que chamamos de Sistema Multiaxial de Diagnóstico. Ele diz

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que devemos olhar um diagnóstico de um transtorno mental em cinco eixos

diferentes.

O primeiro são os sintomas clínicos, agudos ou crônicos, que provocam

sofrimento significativo na vida da pessoa.

O segundo são os problemas de personalidade que apontam para

formas gerais de comportamento potencialmente prejudicial para si e

para os outros.

O terceiro eixo a ser considerado são as condições médicas gerais,

sejam agudas ou crônicas, como diabetes, hipertensão, lesões

cerebrais, ou até mesmo gripes ou febres (pois uma febre, por exemplo,

pode ser a causa de um delírio, o que descartaria o diagnóstico de

esquizofrenia).

O quarto são fatores psicossociais e ambientais que contribuam para o

transtorno, como saneamento básico, desemprego, violência familiar

etc.

Por fim um teste de funcionamento global a ser realizado.

A ideia é que com o diagnóstico multiaxial os excessos de diagnóstico

diminuam, pois ao reconhecer problemas gerais de personalidade, condições

psicossociais ou até mesmo problemas médicos gerais, podemos perceber

melhor os problemas e o que podemos fazer sobre eles. No entanto, a atual

edição, o DSM-5, não apresenta essa classificação multiaxial e para piorar, ela

volta a chamar os transtornos de “Doenças Mentais”.

Isso levantou severas críticas ao sistema do DSM e muitos começaram a

questionar sua neutralidade científica. A final de contas, os médicos nos Estados

Unidos só são pagos pelos seguros de saúde se sua prática estiver associada a

um transtorno classificado no DSM. Caso contrário seu trabalho – inclusive o de

diagnóstico negativo, naquele caso onde a pessoa não tem nada e pode voltar

para casa sem preocupações – não é remunerado. Então, o quanto dessa nova

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classificação de doenças serviria mesmo para o cuidado do paciente e o quanto

ele serviria para o cuidado do médico?

Outra polêmica existente é a mudança no status de alguns transtornos.

Por exemplo, até o DSM-IV o luto era considerado uma exceção na depressão,

ou seja, se a pessoa estava deprimida, mas estava de luto, então o diagnóstico

não era feito. Agora, qualquer quadro de tristeza profunda que seja maior do que

uma semana – tenha luto ou não – é classificável como depressão e pode, então,

receber o tratamento médico indicado. Isso fez com que muitos grupos se

levantassem contra o DSM-5 e se posicionassem a favor de uma nova forma de

compreender o sofrimento mental.

(Vídeo disponível no material on-line)

Ver mais

O DSM-5, ao contrário de ser uma grande plataforma para o diagnóstico

de transtornos mentais, acabou virando um grande palco de debates, discussões

e tentativas de reformas no campo da psiquiatria. Ao contrário do que se

imaginava, no campo da saúde mental não houve consenso com relação a seu

uso. Para ver algumas dessas polêmicas, sugiro a leitura dos seguintes artigos:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/05/1283359-psiquiatras-ficam-

acuados-em-batalha-sobre-a-saude-mental.shtml

http://www.jornalopcao.com.br/posts/reportagens/as-polemicas-do-dsm-v

http://scienceblogs.com.br/psicologico/2011/02/algumas_polemicas_do_dsm-v/

Humor e depressão

Na classificação original de Emil Kraeplin, o psiquiatra sugeria somente

duas classificações principais: a Psicose Maníaco-Depressiva e a Demência

Precoce (que mais tarde veio a ser chamada de esquizofrenia). O diferencial

dessas duas classificações estaria no estado geral do paciente após o surto.

Caso o paciente não apresentasse sintomas residuais, ou seja, se ele voltasse

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ao “normal”, o diagnóstico seria de Psicose Maníaco-Depressiva. Caso

houvesse sintomas residuais, o caso seria de Demência Precoce.

Hoje em dia, com quase 300 transtornos diferentes, essa classificação

original está obsoleta, porém essas condições permanecem até hoje. A Psicose

Maníaco-Depressiva foi reformulada e hoje compreendemos seus sintomas

como sendo uma série de outros transtornos englobados nos chamados

Transtornos de Humor. Esses transtornos variam entre a depressão e a mania e

abarcam diferentes formas de humor alterado.

Basicamente, compreendemos o humor alterado como um espectro que

vai desde a depressão até a mania, tendo estados mais leves de depressão e

de mania. Também compreendemos que é possível uma pessoa apresentar

somente sintomas depressivos, mas sintomas maníacos sempre são

acompanhados de sintomas depressivos – e por isso chamamos de

bipolaridade. Diante disso, podemos ter os seguintes diagnósticos:

Transtorno Depressivo Maior – quando a pessoa apresenta apenas

episódios de depressão.

Transtorno Bipolar do tipo I – quando a pessoa apresenta episódios de

mania, com ou sem episódios depressivos.

Transtorno Bipolar do tipo II – quando a pessoa apresenta episódios

hipomaníacos (ou seja, episódios maníacos mais leves) sem

apresentar episódios maníacos, com ou sem episódios depressivos.

Além disso, temos os episódios isolados de depressão, mania, hipomania,

distimia e episódios mistos, onde em um mesmo período a pessoa apresenta

sintomas de depressão e mania. É a combinação desses diferentes episódios

que nos darão o diagnóstico do transtorno. Por isso é muito complicado um

diagnóstico feito de forma rápida, sem critérios claros e também vale lembrar

que é sempre recomendado eliminar quaisquer influências externas, como por

exemplo, o uso de medicamentos, drogas, uma dieta irregular, um estilo de vida

estressante, fatores socioculturais que favoreçam a presença dos sintomas etc.

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(Vídeo disponível no material on-line)

Ver mais

O Demônio do Meio Dia é o nome do livro do jornalista Andrew Solomon.

Ele mesmo sofreu de depressão por muitos anos e sentiu-se impelido a descobrir

mais sobre essa condição, o que o levou a uma viagem de exploração pelo

mundo e pela história atrás de fatos e informações novas, muitas vezes,

inacessíveis a nós.

É nesse livro que ele apresenta a forma de vivência da depressão na

Idade Média – mas podemos compreender isso como não sendo exclusividade

da depressão. Vale a pena conhecer mais sobre esse autor e por isso

recomendo assistirem a essa palestra emocionante de Solomon intitulada

“Depressão: o segredo que compartilhamos”:

“‘O oposto de depressão não é felicidade e sim vitalidade, e ela parecia

fugir de mim naquele momento’”. Em uma palestra tão eloquente quanto

devastadora, o escritor Andrew Solomon nos leva aos cantos mais escuros de

sua mente, nos anos em que lutou contra a depressão. Isso o levou a uma

reveladora jornada pelo mundo, entrevistando pessoas com depressão,

descobrindo, para sua surpresa, que quanto mais ele falava, mais as pessoas

queriam contar suas histórias”.

http://www.ted.com/talks/andrew_solomon_depression_the_secret_we_share?l

anguage=pt-br

Ansiedade e estresse

Da mesma forma como a compreensão dos transtornos de humor mudou

com o tempo, o mesmo pode ser dito dos transtornos de ansiedade. Muitos de

seus sintomas são característicos do que no início do século XX eram chamados

de neuroses, ou enfermidades dos nervos, que tinham como principal sintoma a

ansiedade.

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Hoje sabemos que a ansiedade está presente em uma série de

transtornos diferentes, com várias formas de manifestação diferentes. Entre eles

temos as fobias específicas, a fobia social, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo

(TOC), o Transtorno de Ansiedade Generalizado (TAG), pânico, além das várias

formas de estresse.

A grande questão da ansiedade é que ela se apresenta como um sintoma

principalmente mental, ou seja, uma série de ideias, pensamentos intrusivos e

memórias traumáticas que são acompanhadas por um mal-estar físico geral,

como taquicardia, enjoos, suor frio, entre vários outros.

É essa combinação dos sintomas mentais e físicos que provoca

sofrimento, principalmente porque esses sintomas são acompanhados por uma

sensação de falta de controle, justamente porque a vontade de se sentir melhor

não adianta para que a ansiedade possa passar.

A ansiedade foi tema de discussão de vários pensadores desde o século

XVIII. O mais antigo talvez seja o livro O Conceito de Ansiedade do filósofo

dinamarquês Soren Kierkegaard. Nesse livro, o filósofo debate sobre a

necessidade da ansiedade – muitas vezes traduzida como angústia – na vida do

ser humano. Não só ele, mas vários outros pensadores que seguiram por esse

caminho chegam a uma conclusão de que a angústia é inevitável e pode servir

para nos mover de situações de risco pessoal ou social.

Em outras palavras, muitas situações de ansiedade, se bem trabalhadas,

podem ser benéficas à pessoa – se ela aprender como lidar com isso de forma

positiva. Por exemplo, uma pessoa que se estressa no trabalho pode usar essa

insatisfação para começar alguma mudança para beneficiar a todos. Outra

pessoa que sofreu um trauma tende a evitar o evento que foi traumático,

potencialmente evitando futuros riscos desnecessários. O importante aqui é

saber como lidar com isso.

Porém, nesses casos de ansiedade, o que talvez mais se apresente em

ambientes de trabalho sejam os casos de estresse. O estresse em si é muito mal

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compreendido, justamente porque ele pode se apresentar de várias formas

diferentes.

Clinicamente, temos dois diagnósticos para o estresse: o Transtorno de

Estresse Pós-Traumático – que surge algum tempo após um evento traumático

forte como um acidente ou a morte de um ente querido – e o Transtorno de

Estresse Agudo – que surge imediatamente após um determinado evento.

Porém, outros casos de estresse são relatados, como a Síndrome de

Burnout – um conjunto de sintomas fortes de estresse associados à fatiga mental

de determinadas profissões. O Burnout não é considerado um transtorno clínico

de estresse pelo DSM e no CID-10 ele aparece como Esgotamento relacionado

com a organização do modo de vida (Z73.0), não sendo visto como um

transtorno mental.

No entanto, cada vez mais percebemos que determinadas profissões são

mais suscetíveis a sofrerem de alguma forma de estresse ocupacional como o

Burnout do que outras, como os professores e profissionais da saúde, devido às

altas demandas e grande responsabilidade individual.

(Vídeo disponível no material on-line)

O problema da medicalização da vida

O grande dilema que temos diante de tantos problemas de saúde mental

é como tratá-los e temos uma tendência natural de medicalizar os problemas da

vida, ou seja, tratamos questões básicas da vida como sendo problemas

médicos, tratáveis através de procedimentos médicos, como terapias e

remédios. Porém, nem sempre esse é o caso.

É inegável o avanço da medicina e quanto ela pode ajudar a nossa vida,

porém esse lado bom está ofuscando um problema maior que é o excesso do

olhar médico sobre os problemas da vida.

Por exemplo, o que antes era visto como traquinagem e comportamento

típico da infância, hoje recebe o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção

e Hiperatividade. O que antes era visto como rebeldia de adolescente, hoje é o

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Transtorno de Conduta. O que antes era visto como Tensão Pré-Menstrual, hoje

já é diagnosticado como Transtorno Disfórico Pré-Menstrual.

O que antes era visto como problema da vida, hoje é um problema médico,

resolvível através de procedimentos médicos. De certa forma, isso pode até ser

bom, mas no geral, não é o que percebemos. Alguns estudos apontam que o

simples ato de rotular uma pessoa com um diagnóstico como “hipertenso”

aumenta significativamente as chances de essa pessoa faltar ao trabalho,

independente de a pessoa estar ou não realizando tratamento.

Ao mesmo tempo, criamos uma cultura de exame médico que pode ser

muito mais prejudicial do que benéfico. Aqui falamos do sobrediagnóstico, ou

seja, da necessidade de um exame desnecessário que leva a um diagnóstico

que não está ajudando o paciente e só o coloca em uma situação de risco maior.

Por exemplo, por mais que nos últimos anos tenham aumentado os

diagnósticos de câncer de próstata e de mama, não vemos nenhum aumento

significativo no número de mortes, o que nos leva a concluir que os tratamentos

pelos quais os pacientes diagnosticados passam não estão melhorando seus

quadros e estão trazendo todos os efeitos colaterais dos tratamentos. Sem

contar os casos de falsos negativos que levam a pessoas a realizarem

tratamentos sem necessidade.

Isso tudo leva a um abuso no tratamento e, no caso dos problemas de

saúde mental, esse tratamento médico invariavelmente é farmacológico. Muitas

vezes, os próprios pacientes procuram seus médicos buscando uma receita para

um remédio acreditando que ali estará a solução rápida para seus problemas.

Então estamos desenvolvendo uma geração de pessoas medicadas sem

necessidade e cada vez menos possibilitadas de tratar sozinhos de seus

problemas da vida.

Não quero aqui dizer que problemas de saúde mental não precisem de

tratamento. O que quero salientar é que, muitas vezes, o tratamento

medicamentoso indicado é desnecessário, fruto de um sobrediagnóstico ou da

simples medicalização da vida. Grande parte dos transtornos mentais poderiam

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entrar em remissão espontânea – ou seja, seus sintomas sumiriam sozinhos –

sem necessidade do tratamento e, muitas vezes o paciente confunde o ciclo

natural de seu problema com o sucesso do medicamento.

Talvez o mais importante aqui é perceber que alguns problemas vêm e

vão naturalmente na vida de todos e só porque alguns precisam de mais ajuda

ou têm mais dificuldade em lidar com esses problemas, isso não quer dizer que

elas sejam ou estejam doentes, muito pelo contrário. Tratá-las como doentes só

irá trazer o estigma da doença ao invés de realmente ajudá-la.

(Vídeo disponível no material on-line)

Ver mais

O problema da medicalização da vida é uma questão bastante

controversa. Apesar da quantidade de evidências que apontam para um abuso

do olhar médico sobre os problemas de saúde, transformando dificuldades em

doenças, muitos profissionais da área ainda acham necessário esse excesso de

zelo.

Porém, é interessante termos um olhar crítico sobre essas questões. Por

isso quero deixar aqui alguns vídeos que podem servir para questionarmos

essas questões.

O primeiro é de uma propaganda de remédio, que mostra que os

desconfortos cotidianos podem ser tratados com medicamento.

https://www.youtube.com/watch?v=DdHTLQkp0Kc

O próximo vídeo é de uma propaganda de sabonetes que avisa que as

bactérias existentes no ambiente podem provocar doenças e por isso devemos

usar sempre o produto:

https://www.youtube.com/watch?v=y-2pc-rUOSg

Por fim, quero deixar um vídeo de uma grande loja de departamentos que

utiliza como slogan a necessidade de consumir para ser feliz. Ora, se eu preciso

ser feliz sempre, qual é o lugar do sofrimento na minha vida? Será que por conta

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dessa necessidade de felicidade qualquer mal-estar deve ser visto como um

problema a ser resolvido?

https://www.youtube.com/watch?v=XvaULARsomc

Síntese

Tratar de saúde e doença mental é mais do que simplesmente eliminar

sintomas: é promover uma qualidade de vida total, que inclui saúde física,

relacionamentos interpessoais saudáveis, boas relações sociais e uma condição

psicológica estável para poder lidar com as adversidades.

Tratar as dificuldades da vida como se fossem doenças é dar ao

profissional da saúde a responsabilidade de resolver problemas cotidianos. Por

mais que não seja nossa responsabilidade resolvê-los, podemos ajudar a pessoa

a se estruturar, física, mental e socialmente para conseguir então resolvê-los. O

segredo está no equilíbrio!

(Vídeo disponível no material on-line)

Revendo a problematização

Muito bem! Acredito que você já teve tempo suficiente para refletir sobre

o caso apresentado no início dos estudos deste tema. Agora escolha entre as

alternativas a seguir aquela que é a mais adequada para o problema.

a. O sigilo e o respeito profissionais devem imperar e o profissional deve

calar-se diante da situação.

b. Pode ser que alguns casos realmente precisem de acompanhamento

médico, mas se outros casos aparecerem, talvez seja interessante

averiguar se o ambiente de trabalho está provocando essas condições.

c. Antes de mais pessoas aparecerem doentes é melhor investigar e

averiguar se é possível fazer algo para ajudar a todos de forma

preventiva.

Feedback:

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a. Por mais que o sigilo seja importante, talvez conversar com o colega

não seja uma má ideia. Às vezes mais do que um remédio a pessoa

precisa de apoio, acolhimento e orientação, algo que um bom

enfermeiro do trabalho pode fazer. Ao mesmo tempo, ao conversar

com ele talvez seja possível identificar se existe algo no ambiente de

trabalho que possa ser mudado para ajudar nessa situação. Nesses

momentos, o diálogo respeitoso é sempre recomendável.

b. Talvez não seja interessante esperar tanto assim para ver se existe

algum problema. Se o sofrimento aparece em uma pessoa e você

percebe em outras pessoas em situação semelhante, não custa

investigar. Tente encontrar alguma forma de observar os colegas ou

quem sabe até oferecer para conversar com alguém que queira

desabafar ou relatar o que sente. Pode ser que você sozinho não

consiga fazer nada, mas sabendo melhor da situação pode procurar

alternativas antes que as pessoas de fato comecem a sofrer.

c. A prevenção pode ser um caminho interessante. Mas, melhor do que

evitar que pessoas adoeçam, talvez seja interessante usar dessa

situação para encontrar uma forma de melhorar o ambiente de

trabalho como um todo. Talvez investigar o que motiva as pessoas ou

o que possa estar atrapalhando possa ajudar a compreender melhor a

dinâmica de saúde e doença no local de trabalho.

Referências

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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS. CID-10: classificação

estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 7. ed.

São Paulo: EDUSP, 2004.

Atividades

Como diferenciar um caso de depressão de um caso de estresse?

a. Não existe diferença. São ambas condições análogas.

b. Por mais que sejam diferentes, é impossível diferenciar um do outro

sem exames clínicos detalhados.

c. Tanto a depressão quanto o estresse podem apresentar alterações

fisiológicas, porém, as alterações do estresse deixam sequelas em

longo prazo.

d. A depressão se apresenta como uma falta de vitalidade geral,

enquanto o estresse, como uma irritação ansiosa diante de algo

específico.

Levando em consideração questões como estigma, medicalização e a

diferença entre doença e transtorno, como é melhor se referir a uma pessoa

que se apresenta com depressão?

a. Depressivo

b. Pessoa portadora de estado anormal de humor

c. Pessoa com transtorno depressivo

d. Transtornada depressiva

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Qual é a melhor forma de definir “medicalização”?

a. A tendência social de transformar problemas da vida em problemas

médicos.

b. O aumento abusivo do uso irrestrito de medicamentos, principalmente

a automedicação.

c. O ato de receitar um remédio para tratar de uma doença que não

precisa de remédio.

d. É procurar um médico para exames de rotina e cuidar da sua saúde.

Diante dos sistemas de classificação dos transtornos mentais, qual deve ser

a melhor postura?

a. Usar a edição mais atualizada do DSM-5 como principal referência na

área.

b. Devem ser usados como referência interna, apenas para comunicação

entre profissionais da área, justamente para evitar estigmas.

c. Todos os manuais, desde o DSM-I até o CID-10, devem ser utilizados

e comparados para se encontrar o melhor diagnóstico para cada

paciente.

d. Os manuais devem ser ignorados, pois ainda não há consenso sobre

seu uso.

Com relação ao que foi estudado, o que podemos dizer a respeito da

ansiedade e da depressão?

a. São doenças gravíssimas e devem sempre ser combatidas.

b. A depressão é muito mais grave que a ansiedade, pois, se não for

tratada, pode levar a pessoa ao suicídio.

c. Tanto a depressão quanto a ansiedade apontam para condições

problemáticas na vida da pessoa, mas não podem ser vistas

isoladamente como seu principal problema.

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d. A recomendação é que tanto em casos de depressão quanto de

ansiedade, um médico seja procurado para que o remédio apropriado

possa ser receitado.