Terceira edição do Campus 2/2009

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BRASÍLIA, 27 de outubro a 8 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 341 Campus PM no campus Ciclistas inseguros Prostitutas universitárias Fiação mais resistente Mesmo sem convênio, presença de policiais no Darcy Ribeiro é cada vez mais percebida pela comunidade acadêmica Acostamentos pintados pelo GDF no Lago Sul fazem bicicletas e carros disputarem o mesmo espaço em trechos descontínuos e mal sinalizados Jovens com título de estudante se diferenciam na hora de conseguir clientes Laboratório produz tecnologia para aumentar durabilidade de cabos que cortam a Floresta Amazônica 6 6 Levantamento inédito do Campus mostra onde os aprovados no último vestibular concluíram o ensino médio p. 4 e 5 Marcela Ulhoa João Paulo Vicente 3 Menos de um terço dos alunos da UnB vem da rede pública 64% 31% 3

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O Campus é o jornal laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, produzido pelos alunos do sexto semestre. O jornal é feito pensando nos leitores. Ajudem-nos a melhorá-lo. Mandem suas críticas e sugestões para o email [email protected]

Transcript of Terceira edição do Campus 2/2009

BRASÍLIA, 27 de outubro a 8 de novembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR | ANO 39, EDIÇÃO 341

Campus

PM no campus

Ciclistas inseguros

Prostitutas universitárias

Fiação mais resistenteMesmo sem convênio, presença de policiais no Darcy Ribeiro é cada vez mais percebida pela comunidade acadêmica

Acostamentos pintados pelo GDF no Lago Sul fazem bicicletas e carros disputarem o mesmo espaço em trechos descontínuose mal sinalizados

Jovens com título de estudante se diferenciam na hora de conseguir clientes

Laboratório produz tecnologia para aumentar durabilidade de cabos que cortam a Floresta Amazônica6 6

Levantamento inédito do Campus mostra onde os aprovados no último vestibular concluíram o ensino médio p. 4 e 5

Marcela Ulhoa João Paulo Vicente

3

Menos de um terço dos alunos da UnB vem da rede pública

64% 31%

3

Uma baita confusãoCAMILA GUEDES

PROFESSOR MARCELO BIZERRIL

RAFAELA FELICCIANO

Ombudskvinna*

*Ombudskivinna, feminino de ombudsman. Na imprensa, pes-soa que analisa o jornal do pon-to de vista do leitor

Carta do editor-chefe Carta do leitor

Expediente Opinião

Editora-chefe: Ana Clara MartinsSecretária de Redação: Rafaella ViannaDiretora de Arte: Marina RochaDiagramação: Camila Santos, Mariana de Paula, Priscila Crispi, Renata ZagoFotografia: Fabiana Closs (editora), Ana Carolina Seiça, Isabela Horta, João Paulo Vicente, Marcela Ulhoa, Plácida LopesPerspectiva: Rafaela Felicciano (editora)Cotidiano: Heitor Albernaz (editor), Marcella Cunha, Luana Richter, Mel Bleil GalloContexto: Alessandra Watanabe (editora), Cláudio Vicente, Gabriel de Sá, Juliana Reis, Laís Miranda Laboratório: Verônica Honório (editora), Vanessa VieiraBloco C: Ludmilla Alves (editora), Mariana Haubert, Tiago PadilhaContraCapa: Mariana Tokarnia (editora), Guilherme OliveiraProjeto Gráfico: Ana Clara Martins, Heitor Albernaz, Juliana Reis, Laís Miranda, Marcella Cunha, Marcela Ulhoa, Marina RochaRevisão: Mariana Niederauer, Marina Marquez, Maíra MoraisProfessor responsável: Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaMonitor: Leonardo MunizSuporte Técnico e assistência em Fotografia: Pedro FrançaIlustrações: Amanda Gerk, Fernanda Mujica, Henrique Eira, Iuri Lopes

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte.Contato: (61) 3307-2519 Ramal 207/241 – Caixa Postal 01660CEP: 70910-900 - [email protected]

Não é de hoje que a entrada da PM na Universidade assusta. Se não assusta, no mínimo traz discussões. Em maio de

1990, a edição 136 do Campus mostrou a entra-da da polícia no Darcy Ribeiro e suas repercus-sões: algumas positivas, várias negativas. Para os moradores da Colina e proprietários de carros, a sensação de segurança aumentou. Para os es-tudantes do Centro Olímpico (então alojamen-to estudantil), o que redobrou foi a repressão e discriminação.

A edição revelou a falta de recursos na con-tratação de vigilantes do Serviço de Proteção ao Patrimônio (SPP). O resultado foi o pedido do então reitor, Antônio Ibanez, de patrulhamento na UnB pela Polícia Militar. O Consuni aprovou. Uma patrulha do Detran e 12 homens da PM passaram a fazer vigilância nos estacionamentos e a organizar o trânsito, mas só até as 19h.

A reportagem trouxe como saldo positivo a re-dução no número de ocorrências registradas pela SPP. Caiu pela metade. Entretanto, o medo da onda de estupros que já durava dois meses persistia. A reportagem Universidade é caso de polícia? mostrou que, com ou sem PM, o que não pode haver é a falta de debate e consulta. O que indignou foi a ausência de conversa com a co-munidade acadêmica. Há 19 anos, ninguém foi consultado sobre ter ou não polícia. Nada muito diferente do que está ocorrendo hoje.

Campus 40 anos

Escrevo para manifestar mi-nha impressão a respeito da matéria de capa da e-dição 339 do Campus, pu-blicada em 28 de setembro.Ainda que reflita alguns as-pectos reais das dificulda-des nos processos de com-pras e uso de recursos, amatéria apresenta em umtom de denúncia o mal uso do “orçamento” nos novoscampi da UnB. O formatoda matéria contribui parapropagar a ideia equivoca-

da de fracasso da expansãoda UnB, fato ainda mais surpreendente por vir deum órgão de comunicaçãosediado na Universidade.

Seis prédios estão sendoconstruídos e recursos consideráveis foram e es-tão sendo aplicados. Os campi começam a apre-sentar impactos no dia a dia das cidades. Há muitaluta e resultados positivosna expansão. Precisamos é de matérias que reno-vem nossas energias e di-vulguem o que os novos campi têm de bom.

Diferentemente doque muitos pen-sam, as críticas

também podem ser posi-tivas. Então, lá vai: bravo!O jornal está mehor e tudo indica que há luz nofim do túnel. Mas, como são as mazelas que nos fa-zem crescer, vamos a elas.

Tudo bem que a maio-ria dos leitores do Cam-pus são universitários, mas inferir que todos vão en-tender o título Alunos des-

conhecem o bônus, é de-mais. Que alunos? Que bô-nus? A informação está confusa no sutiã. E mesmo ao começar a ler, quem não sabe que diabos é esse benefício, fica perdidinho por um bom tempo. Ou-tra reportagem que causa confusão é a Centros à margem. Vamos combinar, galera, muitos alunos não sabem que a UnB tem cen-tros, então porque leriam uma matéria com esse tí-tulo? Além disso, o tanto de siglas que aparecem no texto cansa qualquer um.

Neste momento, qua- tro milhões de estu-dantes não pensam

com confiança, estão meio perdidos. Relembram casos, fatos e polêmicas. Desconfi-am de fiscais, distribuidores, elaboradores e contratados para a realização do Enem. Não adianta pedir nada consta, pois não há fichaslimpas. Vamos apagar damemória provas vazadas,fraudes e prisões?

As provas vazaram da Gráfica Plural, o que não significa o fim das empresasligadas ao Consórcio Conna-

Diretor da FUP - Faculdade UnB de Planaltina

Dizem que os jornalistas querem abraçar o mun-do, que muitos deles são donos de egos imensoscultivados há muito. Num jornal como o Cam-

pus, com anos de existência e uma história importantena UnB, o risco desses egos aparecerem é grande. Masaqui, além da produção de reportagens, a convi-vência intensa com os colegas e a participação em vá-rias etapas do processo, nos faz aprender que o maisimportante é o leitor. Engolimos egos e trabalhamosem conjunto por um produto final que tenha relevância.

Nesta edição, tratamos um pouco do perfil dos estu-dantes da UnB. A matéria demonstra preocupação comnosso público, pois damos meios para cada umentender o universo em que está inserido. Nesse sen-tido, os cursos que demandam gastos altos para seremconcluídos e a presença da PM no campus Darcy Ri-beiro também mereceram espaço. O crescimento dos coletivos de música e o status de universitária que al-gumas garotas de programa usam são temas um pouco mais distantes, mas ainda pertencem ao nosso mundo.

Esperamos que você, leitor, se reconheça neste jornalque lhe entregamos agora.

Gráfica Guiapack - 4000 exemplares

Enem: revivendo fraudes do Cespe

Mande sua opinião para o Campus: [email protected]

fac.unb.br/campusonline

Acesse o

sel, responsável pela produção do material. Trocam-se direto-res, gerentes e empregados envolvidos. Muda a gestão administrativa e pronto. Foi assim com o Cespe/UnB, que agora foi escolhido para cuidar do Enem. Em uma rápida retrospectiva: o Centro de Promoção e Seleção de Even-tos esteve envolvido em uma das maiores operações da Polícia Civil do DF. Foram mais de cem prisões. Gali-leu virou nome de operação especial, e toda uma máfia dos concursos foi desmantelada. A ação da polícia reper-cutiu em 2005, mas foram reviradas provas desde 2001.

Galileu vasculhou dez concursos. Entre eles, sete eram rea-lizados pelo Cespe. Os maiores foram o do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, o da Câmera Legislativa e o da Polícia

Outra que comete pecado parecido é a que fala das fundações da UnB. A ma-téria começa da seguinte forma: “as últimas três fundações que se manti-veram ligadas à UnB es-tão...” Últimas desde quan-do? Quem não sabe fica sem saber. Já a matéria Coisa para gente pequena é apaixonante e mostra um lado da UnB desco-nhecido, mas no texto o leitor não encontra uma mísera criança para dizer “o planetário até que é le-gal”. Falha imperdoável.

Depois de ler a última matéria da ContraCapa, quem não tremeria ao che-gar ao fim do Campus desta edição? E voilà! Nãoé que o leitor teve umaboa surpresa? Misturar li-teratura e reportagem é osonho de muitos, mas pou-cos vão se tornar um Ca-pote na vida. Melhor expe-rimentar por aqui mesmo.

Civil do DF. A vaga era garantida com valores entre R$ 40 mil e R$ 70 mil. Havia opções pelo tipo de dolo. Você pode-ria receber as respostas na hora da prova; fazer só a redação, um funcionário do Cespe preencheria o gabarito; ou pode-ria receber a prova em casa, antes da data do concurso. Tudo era questão de quanto se queria e estava disposto a pagar.

As manchas não foram completamente apagadas. Ficao medo pela repetição do erro, do primeiro trago, da primeirataça. Ainda que as medidas de segurança tenham sido qua-druplicadas, o Enem significa oportunidades, abre as portas de 40 universidades. O prêmio é alto, sempre tem alguém disposto a pagar, resta-nos saber se não haverá alguém para vender a prova, as respostas.

Aman

da G

erk

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Perspectiva

Universitárias de programa Status de estudante de curso superior rende ganhos maiores para jovens prostitutas. Clientes procuram mulheres que possam acompanhá-los em ambientes refinados

Fernanda Mujica

LUANA RICHTER

MARCELLA CUNHA

Polícia ‘ocupa’ UnB MEL BLEIL GALLO

Bruno Pereira, estu-dante do segundo semestre de Enge-

nharia Florestal, saiu da prova de química com mais cinco amigos a cami-nho do Centro Acadêmi-co (CA) do seu curso. “De repente, passou uma via-tura, ligou a sirene, subiu pela grama, e os policiais vieram nos revistar.” Mo-chilas, estojos, nécessaires

e tubos de pasta de dente foram inspecionados, mas os policiais militares cons-tataram que não havia nada de ilegal. “Não con-deno a atitude. Se tivésse-mos drogas, eles estariam cumprindo sua função”, diz Pereira.

A presença constante depoliciais na Universidade de Brasília (UnB) passou a ser percebida em agosto. Se antes eles vinham ape-nas quando solicitados porseguranças internos, ago-

ra estão diariamente nos estacionamentos, corredo-res e CAs.

Em junho, uma pesqui-sa com 143 estudantes da Faculdade de Estudos So-ciais Aplicados (FA) mos-trou 81% de apoio à PM na UnB, mas há opiniões divergentes. Ugo Todde, representante discente no recém-criado Conselho Co-munitário de Segurança da UnB, explica que o Di-retório Central de Estu-dantes (DCE) é contra.

“A polícia tem um cará-ter opressor e deixa a co-munidade com medo, re-ceosa”, argumenta. Segun-do Ugo, a PM não está pre-parada para atuar em am-bientes de ensino, e a so-lução seria investir na con-tratação e capacitação deseguranças da própria UnB. “A polícia não deve-ria estar preocupada emfechar CAs por causa dehappy hours, mas sim emproteger a comunidade próxima ao campus dePlanaltina, por exemplo,onde a situação é muitomais complicada.”

Convênio

O coordenador de Se-gurança da Universidade,Edmilson Lima, considera saudável a parceria entre aUnB e a PM, mas acredita que os policiais não de-vem intervir em ativida-des estudantis, como fes-tas e manifestações.“Não queremos criar um mal estar com a comunidade a-cadêmica. O ideal é que os

PMs desempenhem um serviço de orientação”, diz.

O major Roosevelt, do 3° Batalhão da PM, con-corda. “Atuamos nas áre-as públicas da UnB e só entramos quando solicita-dos” afirma. “O policia-mento é o mesmo. Às ve-zes determinadas deman-das são acionadas e o nú-mero de policiais varia.”

Até 2006 havia um convênio entre a UnB e a PM, como em outras uni-versidades. “Em institui-ções de ensino e órgãospúblicos quem tem po-der é o dirigente, no ca-so da UnB, o reitor. Não cabe à PM decidir a po-lítica de policiamento do campus”, esclarece o pro-curador federal Sídio Mes-quita, que atua na UnB. “A polícia tem autonomia para intervir em casos de crime, mas não pode ado-tar uma política de intro-missão na gestão pública.”

No momento, não e-xiste nenhum convênio en-tre Universidade e a PM. “Não houve nenhuma ini-

ciativa ou acordo por par-te da reitoria para o patru-lhamento do campus pela PM”, afirma a decana de Assuntos Comunitários e presidente do Conselho Comunitário de Seguran-ça da UnB, Rachel Nunes.“A administração vai dis-cutir isso com toda a co-munidade na próxima reu-nião do conselho, para en-contrar uma solução.”

Na FA, apesar do apoio de estudantes à presença de PMs, foi encontrada uma alternativa com osseguranças da Universida-de. “Conseguimos reduzir de dois semanais para zero o número de furtos a veí-culos na FA, apenas com o conserto da iluminação e aumento do efetivo de seguranças”, explica Ro-nald Barbosa, coordena-dor do grupo de trabalho formado para solucionar o problema. “Não posso dizer que a PM é desne-cessária no resto do cam-pus porque não conheço a realidade das outras facul-dades”, ressalta. •A presença de policiais militares na UnB é cada vez mais percebida pela comunidade acadêmica

Ana Carolina Seiça

Enquanto outros a-lunos de EducaçãoFísica ganham em

média R$ 500 no fim do mês com um estágioem academia, Carolina*ganha a mesma quantiaem apenas uma noite.É que, além de univer-sitária, Carolina é garo-ta de programa. “Come-cei a me prostituir dois meses antes de entrar na faculdade. A minha ami-ga deu a dica, e eu perce-bi que ia conseguir pagara faculdade. Se eu traba-lhasse numa loja, ficariaapertada”, diz.

Algumas das jovens enxergam a prostituiçãosomente como um meiode financiar os estudos. “Vou largar completamen-te, com certeza. Eu querosair disso. Quero ser pro-fessora de educação fí-sica em um colégio. Dápara viver bem”, acre-dita Carolina. Justificativa semelhante

é usada por muitas jovensque se anunciam em jor-nal como garotas de pro-grama universitárias. “Seeu não me prostituir, nãotermino meu curso”, falaJuliana, estudante de Di-reito. Para a sociólogae coordenadora do Nú-cleo de Estudos e Pes-quisa sobre a Mulher (Ne-pem), Lourdes Bandei-

Enem: revivendo fraudes do Cespe

ra, essa explicação é a mo-ralmente mais aceitável,mas nem sempre é a ver-dadeira. “Uma coisa é cer-ta, o fato de elas se tor-narem garotas de progra-ma não é exclusivamen-te para pagar o curso.Existem demandas muito menos nobres.”

Segundo Lourdes Ban-deira, o desejo de não a-brir mão do status eco-nômico adquirido ao fa-zer programas de luxo é oque mantém as jovens ven-dendo seus corpos. “Com

Falar que é universitária jáseleciona até mesmo os clientes.

Não é qualquer um que pode pagar’

isso elas penetram em ou-tro segmento social, têmacesso a outras esferasde circulação, como hotéiscinco estrelas, restauran-tes caros e casas de espe-táculo.” A pesquisadoraacompanhou o caso deduas ex-alunas da UnB. Uma nem chegou a exer-cer a nova profissão apósconcluir a faculdade. Três

Desde agosto, há presença constante da PM no campus Darcy Ribeiro, apesar de o convênio da corporação com a reitoria ter vencido

Auto-imagem

Essa diferenciação in-fluencia no preço do pro-grama. E muito. Uma pros-tituta de rua cobra em mé-dia 10 vezes menos que uma universitária, segun-do pesquisa realizada em Brasília por Marlene Tei-xeira em tese de doutora-do em Serviço Social pela UnB. Ser universitária é uma forma que as jovens encontram para amenizaro fato de se prostituírem.“Elas não deixam de serprostitutas, mas, na cabe-ça delas, ser universitáriaas torna mais importantese mais respeitadas”, afirmaCláudia Rinaldi. “Estão vendendo o corpo da mes-ma forma.” Quem procu-ra as universitárias são, geralmente, homens de al-to poder aquisitivo. Po-rém, para atrair esse tipo de cliente é preciso preen-cher alguns pré-requisitos. “Colocar (no anúncio) queé universitária garante quea menina é alto nível, tem instrução. Um deputado, uma pessoa mais fina exi-

anos depois, ainda eraprostituta. A outra ganhouum consultório de umcliente casado para atuarna área da sua gradua-ção. Não foi suficiente pa-ra ela conseguir mantero alto padrão de vida.Passou, então, a exerceras duas profissões. “Aporta de entrada para omundo do sexo pago nãoé só a necessidade econô-mica. Algumas desejam aumentar seu padrão de consumo”, analisa a psi-cóloga Cláudia Rinaldi.

ge isso. Não quer uma me-nina que fale tudo erra-do”, explica Mariana, quecursa Administração. “Fa-lar que é universitária já seleciona até mesmo os clientes. Não é qualquer um que pode pagar”,sus-tenta Mariana. Para Cláu-dia, a seletividade dos cli-

entes é uma ilusão. “Em qualquer relacionamento sexual existem riscos. Ain-da mais nessa profissão. O alto preço do progra-ma não garante nenhuma proteção para a garota.” •

*Os nomes das garotas de programa foram trocados

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Cotidiano

Nota de corte

A grande disputa nas universidades públicas não está relacionada apenas ao fato de serem gratuitas, mas também por elas ocu-parem as primeiras posi-ções no Exame Nacional de Desempenho de Estu-dantes (Enade), do Minis-tério da Educação. Esse é o caso da UnB, que abriu 80 pontos de vantagem sobre a instituição parti-cular melhor classificada no DF. No ensino médio essa lógica é invertida. Das 40 instituições do DF melhores colocadas no E-xame Nacional do Ensi-no Médio (Enem), 38 são particulares. As únicas pú-blicas que entram na lista são o Colégio Militar de Brasília e o Colégio Mili-tar Dom Pedro II.

Nos cursos de Medici-na, Direito e Engenharia Civil, que têm as maiores notas de corte, o número de estudantes saídos de escolas públicas equivale, em média, a 15%. Entreos 20 aprovados em O-dontologia no último ves-tibular, Victor Tavares foi o único aluno que saiu de escola pública. A base que teve não foi suficien-te para ele entrar na pri-meira tentativa na UnB. Foram dois anos de cursi-nho e duas tentativas para Medicina antes de resol-ver fazer Odontologia. “Estava ficando inviável, eu não conseguia melho-rar a nota. Desisti, mas ainda queria um curso na área de saúde”, conta o estudante.

Em cursos com notas de corte mais baixas, os egressos da rede pública superam o número de alu-nos de particulares. “Não é em qualquer curso que o aluno da rede públi-ca consegue entrar, pois muitos são só para a eli-te”, afirma Ailton Melo, o estudante que recém-ingressou em Direito. “Os cursos de licenciatura são aqueles que os alunos da escola pública mais alcan-çam.” Ele tem razão. Em graduações como as de Filosofia, Física, História e Letras, os alunos saídos da rede pública são, em média, 45%.

Inclusão esquecida

Algumas instituições públicas, como a Univer-

Minoria na UnBvem de escolas públicas

Mais de dois terços dos alunos aprovados no último vestibular estudaram em instituições particulares

CLáUDIO VICENTE

JULIANA REIS

Depois de quatro cursinhos e 10 vestibulares, Ail-

ton Melo acaba de ingres-sar no curso de Direito aos 36 anos. Ele concluiu o terceiro ano no Centro de Ensino Médio 3 de Ceilândia e faz parte de uma minoria. Do total de aprovados no último ves-tibular da UnB, apenas 31% - pouco menos de um terço - saíram da rede pública de ensino.

Esse é o resultado de um cruzamento inédito de dados oficiais feito pelo Campus. Ao se matricular, o calouro fornece à Secre-taria de Administração A-cadêmica (SAA) uma série de informações, inclusive o local onde cursou o últi-mo ano do ensino médio. Só há dados referentes ao último vestibular, e mesmo assim não são de todos os 76 cursos presenciais ofe-recidos pela UnB.

O Campus analisou apenas os 38 cursos que tinham informações de mais de 70% dos alunos. Transformados em per-centuais e somados, os números absolutos forne-cidos pela SAA mostram que 64% dos calouros vi-eram de escolas privadas. Há ainda um grupo de 5% computado como sem informação.

No último processo se-letivo da UnB, realizado em junho, foram ofereci-das 3.294 vagas para mais de 24 mil inscritos. Essa concorrência desestimula muitos alunos de escolas públicas, que se sentem em desvantagem. “Eu nem pensei em fazer (o vestibu-lar da) UnB porque sabia que não conseguiria pas-sar”, explica Mateus Ma-cedo, estudante de Admi-nistração na Unieuro. Ele conta que na sua turma a maioria dos alunos saiu de escolas públicas.

Um dos motivos é que em faculdades particula-res há incentivos para os alunos do ensino público, além dos programas go-vernamentais de inclusão. Na Unieuro, são ofereci-das bolsas de até 50% para quem conclui o ensi-no médio na rede pública. A Unieuro estima que 55%dos alunos são originários de escolas públicas.

Ana Carolina Seiça

CURSO% de egressos

de escolas privadas

% de egressos de escolas

públicas

% não informado

Odontologia 95% 5% 0%

Medicina 86% 14% 0%

Nutrição 85% 15% 0%

Educação Física 84% 16% 0%

Engenharia Elétrica 80% 8% 13%

Arquitetura e Urbanismo 78% 12% 10%

Ciências Farmacêuticas 78% 23% 0%

Engenharia de Computação 78% 23% 0%

Geofísica 77% 23% 0%

Geologia 76% 20% 4%

Engenharia de R edes de Comunicação 75% 25% 0%

Engenharia (Gama) 74% 24% 2%

Estatística 73% 20% 7%

Engenharia Civil 73% 7% 20%

Enfermagem 71% 29% 0%

Comunicação Social 70% 18% 12%

Engenharia Florestal 67% 31% 2%

Matemática - diurno 67% 25% 8%

Fisioterapia (Ceilândia) 65% 35% 0%

Geogra�a 65% 32% 3%

Enfermagem (Ceilândia) 63% 37% 0%

Gestão de Saúde (Ceilândia) 63% 37% 0%

História - diurno 58% 43% 0%

Letras - Tradução 57% 26% 17%

Direito 55% 20% 25%

Farmácia (Ceilândia) 54% 46% 0%

Física 54% 43% 3%

Letras - diurno 54% 42% 5%

Ciências Sociais 53% 40% 8%

Serviço Social 51% 44% 5%

Engenharia Mecatrônica 51% 20% 29%

Ciência da Computação 50% 50% 0%

Gestão Ambiental (Planaltina) - noturno 49% 51% 0%

Terapia Ocupacional (Ceilândia) 48% 52% 0%

Filoso�a 45% 55% 0%

Gestão do Agronegócio 32% 68% 0%

Ciências Naturais (Planaltina) 27% 68% 5%

Ciências Naturais (Planaltina) - noturno 16% 84% 0%

sidade de Campinas e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, têm cotas sociais para incentivar o ingresso de alunos origi-nários de escolas públicas. Na falta de programa se-melhante na UnB, estu-dantes saídos do ensino público acabam se benefi-ciando de outros projetos de inclusão não destina-dos a esse fim. É o caso das cotas raciais.

Não há dados oficiais sobre o ingresso de alunos de escola pública por meio dessas cotas. “Na UnB, as cotas raciais não têm cri-térios sociais de seleção”, justifica Déborah Santos, assessora da reitoria res-ponsável pelo apoio aos cotistas. “Um aluno negro de escola particular ain-da tem vantagens sobre um aluno negro de escola pública.” Para ela, outros programas devem ser cria-dos para resolver o pro-blema do acesso de alunos da rede pública.

O Campus identificou casos nos quais esse sis-tema serviu como forma de acesso para alunos da rede pública. Victor Tava-res, que cursa Odon-tologia, entrou nas va-gas reservadas a afrodes-cendentes. “As cotas fo-ram um atalho”, reconhe-ce. Procurado, o Decana-to de Ensino e Graduação não comentou os dados referentes à presença de alunos originários de esco-las públicas e privadas.•

O estudante Victor Tavares é o único aprovado no último vestibular da UnB para o curso de Odontologia saído do ensino público

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Contexto

Planaltina, a exceçãoAo contrário de todos os outros três campi da UnB, a cidade-satélite registra maior número de alunos da rede pública do que da privada. Além disso, 22% das vagas do último vestibular não foram preenchidas porque candidatos não atingiram a nota mínima

O campus de Pla-naltina é o único dos quatro campi

da UnB em que a maioria (67%) dos aprovados no último vestibular concluiu o ensino médio na rede pú-blica. O curso noturno de Ciências Naturais registra o recorde, com 84% dos calouros vindos de colé-gios públicos.

Lucas dos Santos Car-neiro ficou surpreso por passar no curso de Gestão Ambiental, pois achava quenão estava preparado pa-ra o vestibular. Questio-nado sobre a principal di-ficuldade dos alunos no ensino público, ele é en-

fático. “Lá é bagunçado demais”, queixa-se. “A ga-lera não tá nem aí.”

Em Planaltina, 75% dos alunos são da pró-pria região. Mesmo que tenha havido candidatos suficientes para o preen-chimento de todas as va-gas de Planaltina, muitos inscritos não atingiram a nota mínima para ingres-so. Por isso, 35 das 160 va-gas ficaram ociosas. Nocurso diurno de Ciências Naturais, por exemplo, 23 das 40 vagas não foram preenchidas.

Em situação oposta, ocampus do Gama tem omenor percentual de alu-nos de escola pública (24%). Por ter apenas cur-sos na área de engenharia com nota de corte três ve-

zes menor que no Darcy Ribeiro, o Gama atrai alu-nos de todo o DF. Apenas 20% das vagas do Gama ficaram com alunos da re-gião do campus. A maior parte dos alunos é do Pla-no Piloto (30%) e Tagua-tinga (29%).

Mateus Oliveira Tris-tão, mesmo tendo estuda-do em uma escola públi-ca do Plano Piloto, onde mora, optou por graduar-se no Gama. Um dos mo-tivos da escolha, admite, foi a maior facilidade de aprovação. “Ainda assim é difícil”, avalia o estudan-te. “Tem que ir muito além do que a escola te passa.”

No campus de Ceilân-dia, 41% dos aprovados no último vestibular eram da rede pública. A grande

procura pelos cursos ofe-recidos no campus eleva a nota mínima para apro-vação. No caso de Far-mácia e Enfermagem, a nota de corte chega a su-perar a exigida em cursos equivalentes no campus Darcy Ribeiro. Mesmo

Os caros cursos gratuitosGraduações como Medicina Veterinária, Farmácia, engenharias e Arquitetura têm feito alunos da Universidade sofrerem para se manter estudando. Em alguns casos, são exigidos computadores, calculadoras, livros e materiais de preços elevados

LAÍS MIRANDA

O estudante do 3º semestre de Arquitetura, Gabriel Ernesto, já gastou R$ 2.500 em materiais desde que entrou na Universidade

Ao entrar na univer-sidade pública, o aluno tem a espe-

rança de que suas despe-sas acabem. Com o tem-po, ele percebe que não contava com gastos como cópias e livros. Em alguns cursos, essa surpresa pode ser muito grande.

“Já comprei um livro de R$ 400”, lembra Fili-pe Lima, que está no 4º semestre de Medicina Ve-terinária. Ele conta que a biblioteca não tem alguns livros e, quando tem, são exemplares desatualizados. Além disso, Lima gasta cerca de R$ 100 por se-mestre com cópias e gaso-lina, pois tem aulas na Granja do Torto e no Park Way.

Dentre todos esses cus-tos, o maior problema é a compra de instrumentos e equipamentos para uso em classe. Até agora, Lima já gastou R$ 200 em ins-trumentos como bisturis, tesoura cirúrgica e pinça. Essa despesa excessiva é um obstáculo para todos os cursos de saúde. “Tem que ter jaleco, óculos, lu-va”, conta Lia Guazzelli, aluna do 4º semestre de Farmácia.

Tecnologia

Nas engenharias, a de-pendência da tecnologia é que traz o maior custo. “Ter um computador é essencial”, afirma André Terez, estudante do 7º se-mestre de Engenharia Me-cânica, que cursou duas disciplinas que exigem es-se uso. A UnB disponibili-za computadores na bibli-oteca, mas esses não per-mitem a instalação de pro-gramas, o que inviabiliza os trabalhos.

Martha Farah está no 7º semestre de Engenha-ria Civil e diz que alguns professores fazem prova no laptop. Disponibilizamtambém conteúdo de au-las no Moodle, plataforma virtual de apoio à apren-dizagem, ou via e-mail. A estudante ainda aponta outra despesa necessária: uma calculadora científica de R$ 500.

A solução apresentada para alunos que não têm acesso a um computador pessoal são laboratórios nos departamentos. “Es-tão sempre lotados, e os computadores são cheios de vírus”, reclama o aluno do 6º semestre de Enge-nharia de Redes, Vinícius Lima.

O mais caro

Arquitetura e Urbanis-mo tem três laboratórios disponíveis e uma área de Wi-fi, mas isso não é su-ficiente. “Desembolso até R$ 500 por semestre com impressão, maquetes e li-vros”, afirma Gabriel Er-nesto, aluno do 3º semes-tre. Ele destaca que os gastos dependem do alu-no. “Fiz um trabalho no 1º semestre (em Geome-tria Construtiva) em que gastei R$ 120. Conheço gente que usou R$ 800”.

A tendência é que os custos aumentem no de-correr do curso. Mariana Portela, que está no 8º semestre, diz que já gas-tou mais de R$ 1.000 só em material. “Isso porque nem cheguei ao trabalho final ainda. Tem gente que gasta R$ 3.000”, ressalta a estudante.

A aluna do 2º semes-tre, Marília Tuller, garante que para fazer Arquitetu-ra “é necessário ter quem banque”. Ela explica que, devido à carga horária pe-sada, os alunos não con-

seguem trabalhar. Marília ainda reforça que muita gente nem tenta entrar no curso, pois já sabe das demandas financeiras. “Se você não tem dinheiro, não se forma nesse curso.”

Neusa Cavalcante, pro-fessora de Geometria Cons-trutiva, diz que os alunos exageram. Ela esclarece que, na disciplina, eles pre-cisam materializar uma i-deia, mas que é possível fazê-lo “sem gastar um tostão”. Segundo a pro-fessora, “é preciso correr atrás, pois quanto mais

barato, mais criativo você tem que ser”. Ela diz que até mesmo no trabalho final de graduação é pos-sível gastar pouco, basta fazer tudo à mão.

O segredo, segundo An-dré Terez, é que “os alunos acabam se ajudando”. Os que podem comprar ma-teriais, livros ou que têm computadores emprestam para os outros. “Tudo se baseia em uma questão de solidariedade”, diz Lia Guazzelli. E Vinícius Lima completa: “Dando um jei-tinho, tudo dá certo.” •

Plácida Lopes

CLáUDIO VICENTE

JULIANA REIS

assim, em Ceilândia há mais egressos de públi-cas que no Plano Piloto.

Nos 28 cursos do Darcy Ribeiro analisadospelo Campus, apenas 27% dos alunos aprovados ter-minaram o ensino médio em instituições públicas.

A alta concorrência é uma das barreiras para o in-gresso. Medicina, por e-xemplo, teve mais de 80 candidatos por vaga. Das 36 vagas preenchidas no curso, apenas cinco foram ocupadas por alunos de escolas públicas.•

Divisão nos campi Partilha dos alunos que ingressaram na UnB no último vestibular

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Dependência da UnB Confira o percentual máximo de receita que cada segmento do comércio recebe da comunidade universitária

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Egressos deescola pública

Egressos deescola privada

Sem informação

5

Contexto

GABRIEL DE Sá

LUCAS LEON

Ciclismo improvisadoNova modalidade de ciclovia deixa usuários inseguros e insatisfeitos

Tecnologia que atravessa a Amazônia Pesquisas do Laboratório da Engenharia Mecânica da UnB contribuem

com soluções para linhas de transmissão de energia na floresta

VANESSA VIEIRA

O setor elétrico bra-sileiro tem gran-des desafios pela

frente. As duas maiores li-nhas de transmissão do mundo, cada uma com 2,375 km, serão implan-tadas entre Porto Velho

(RO) e Araraquara (SP), chamadas de linha do Madeira. Maior ainda é o desafio na implantação de uma terceira linha, que sai da usina hidrelétrica de Tucuruí (PA) chegarão a até Manaus (AM). Esse percurso exige que os ca-bos atravessem grandes distâncias de uma margem

à outra do rio Amazonas. Simulações de alta pre-

cisão realizadas no Labo-ratório de Fadiga e Inte-gridade Estrutural de Ca-bos Condutores de Ener-gia do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB têm sido fundamen-tais para viabilizar os tra-balhos de empresas do se-tor, que antes recorriam a centros de pesquisas de outros países.

Dentro da floresta

Os cabos das linhas de transmissão têm suas ex-tremidades presas a torres de energia. Os mais utili-zados são de alumínio, que ao serem fixados nas torres possuem um estica-mento máximo, ou seja, o quanto é possível esticar o fio sem que surjam fendas e seu tempo de vida dimi-nua. Simulação realizada pela empresa Nexans, for-necedora dos cabos da li-nha Tucuruí-Manaus, con-cluiu que com o estica-

mento e o material geral-mente utilizados seria ne-cessário construir torres de 348 m de altura, para atravessar os 2 km de lar-gura do rio Amazonas. Maiores, por exemplo, que a Torre Eiffel (324 m).

Engo Sidnei Ueda, ge-rente de engenharia da Nexans, explica que existe uma distância de seguran-ça entre o nível das águas do rio e a altura dos cabos, permitindo, por exemplo, o tráfego de grandes em-barcações. Segundo ele, o estudo realizado pela em-presa e pelo laboratório da UnB resultou na esco-lha de outro material para a fabricação do cabo. Isso possibilitou aumentar o es-ticamento do mesmo, re-duzindo em 98 m a altura das torres. Economia de milhões de reais, já que se gasta menos aço. “Antes enviávamos os cabos para serem ensaiados no Cana-dá. Agora, reduzimos os custos e podemos acompa-nhar melhor todo o proces-

so”, afirma Engo Sidnei. Outra dificuldade em

passar o cabeamento pela região amazônica é a altura das árvores, que varia en-tre 30 m e 50 m, o equi-valente a um prédio de 14 andares. Como a altu-ra das torres geralmente é de 50 m, o topo da vege-tação é cortada para não interferir na linha de trans-missão. Porém, isso não é permitido em áreas de pre-servação, exigindo maior altura para os cabos.

A Eletronorte é uma das responsáveis pela im-plantação da linha do Ma-deira. De acordo com Mar-cos César de Araújo, ge-rente da área de projetos de linhas de transmissão da empresa, apesar da ex-tensão dos cabos, não há maiores dificuldades, pois em grande parte do terri-tório a vegetação já foi de-vastada e, por isso, eles es-tão na altura padrão. Para onde isso não acontece, as pesquisas ainda estão sen-do finalizadas.

O laboratório

Inaugurado em 2006, o centro de pesquisa simula de forma acelerada a ação dos ventos sobre os cabos e investiga os fatores que afetam a durabilidade de-les. Segundo José Alexan-der Araújo, coordenador do laboratório, existem dois outros laboratórios no país, mas as inovações tecnológicas tornam o da UnB destaque no hemis-fério sul.

Ele menciona a impor-tância das pesquisas ao lembrar que, em 2001, a ruptura de um cabo deenergia em São Paulo re-sultou em um apagão em três estados do Brasil, deixando 67 milhões de pessoas sem energia por algumas horas. “Além de fornecer novas soluções para as demandas do se-tor, o centro pretende ge-rar conhecimentos para a manutenção das linhas a-tualmente existentes”, diz o professor Araújo. •

Pista do Lago Sul é compartilhada por carros, motos e bicicletas nas novas ciclovias do Governo do Distrito Federal

Simulação em equipamento prepara cabos para intempéries

João Paulo Vicente

Plácida Lopes

Os acostamentos do Lago Sul foram pintados para que ciclistas pudessem trafegar com maior facilidade, mas a demarcação incorreta das divisórias e a desconti-nuidade das faixas têm dificultado a segurança dos que utilizam o espaço.

Houve a pavimentação e a pintura de alguns trechos, mas ainda faltam as sinalizações verticais e horizontais. Para Kruel, obras inacabadas só pioram a situação. “O ci-clista acha que está seguro, como eu achava, já que su-postamente tem uma via só para ele”, diz o estudante de Direito da Universidade de Brasília. “Grande parte dos mo-toristas não deve nem saber que aquilo é para ciclistas.”

Fábio de Souza, 29, que usa a bicicleta para resol-ver questões do escritório onde trabalha, no Lago Sul, conta que carros e ônibus invadem a ciclovia. “Tem que mudar a cor da faixa, de branco para vermelho ou ama-relo, para chamar atenção, além de colocar tartarugas para dividir a pista”, sugere. O caseiro Ivan Araújo, 38, utiliza a bicicleta para fazer compras, mas se recusa a

usar os acostamentos cicláveis. “Não confio nos carros, sempre ando na calçada para não correr risco. O pesso-al não respeita os ciclistas”, lamenta.

Para o deputado distrital Chico Leite (PT), que tem criticado as ciclovias do Lago Sul, o Governo do Distri-to Federal (GDF) não tem alternativas definitivas para solucionar os problemas de trânsito. “Esse tipo de obra é, lamentavelmente, mais uma variável de enganação do governo, que, com o pretexto de incentivar alternativas ao uso de carros, apenas pinta meios-fios”, contesta.

A jornalista Lígia Medeiros acredita que essas obrassão um desserviço duplo. “É um absurdo. Em vez de construírem ciclovias de verdade, eles tiraram o acosta-mento dos carros e deixaram os ciclistas inseguros. Se o carro precisar parar (no acostamento) ou entrar nos conjuntos, os ciclistas fazem o quê?”, questiona. Lígia acrescenta que o canteiro central do Lago Sul seria uma boa opção para a construção da ciclovia, por ser mais contínuo que o acostamento. Ronaldo Alves, presidente da ONG Rodas da Paz, concorda com a ideia. “O ciclis-tas que sai do ponto A tem que chegar ao B numa rota segura e que seja contínua. Falta engenharia”, afirma.

Leonardo Firme, gerente do Pedala-DF, projeto ci-

cloviário do GDF, diz que apenas a primeira parte das obras foi concluída e que a sinalização ainda está sendo licitada. Para ele, é necessário um convívio harmonioso entre motoristas e ciclistas. “Os espaços de parada de ônibus e entrada de ruas devem ser de compartilhamen-to”, argumenta.

Meta

Os acostamentos cicláveis não estão incluídos nos 200 km de ciclovias que o GDF pretende fazer até o cinquentenário de Brasília em 2010. No primeiro ano do atual governo, esses 200 km eram 600 km. A crise reduziu a meta, segundo o gerente do Pedala-DF.

Até agora, o governo contabiliza 42 km de ciclovias já construídos em cinco trechos. Leonardo Firme diz que outros 125 km já estão em obras. Ronaldo Alves, da Rodas da Paz, diz que grande parte ainda está em processo de licitação. A ONG vai realizar, no dia 8 de novembro, um evento no Parque da Cidade para cobrar do GDF as promessas feitas em relação às ciclovias e os documentos que comprovam quanto e como foi gasto o dinheiro destinado a elas. •

Por volta das 18h45 do dia 30 de setembro, o uni-versitário Eduardo Kruel foi atropelado por um carro. O jovem de 20 anos andava de bicicleta a

1 km de casa, na altura da QI 27 do Lago Sul, quando foi jogado no chão. Ele utilizava o novo modelo de ci-clovia implementado pelo governo, o chamado ‘acosta-mento ciclável’.

6

Contexto

Laboratório

Cooperativasda música

LUDMILLA ALVES

Livro

Álbum

Filme

Crônica da casa assassinada (1959)

Dizzy Gillespie Toronto, 1953

Permanent Vacation (1980)

Bandas de rock, DJs e produtoras do Distrito Federal juntam esforços para divulgar trabalhos de forma independente

No primeiro filme de Jim Jarmusch, desajustados detodo tipo cruzam o cami-nho de Aloysious Parker enquanto ele, também um exilado de convenções so-ciais, vagueia por uma de-cadente atmosfera beatnik.

TIAGO PADILHA

Eles não têm apoio do governo, os pa-trocínios rareiam e

a imprensa lhes dá pouca atenção. Decidem se reunir e, com o próprio dinhei-ro, tentam divulgar seus trabalhos. Os chamados coletivos de arte agregam pessoas ou grupos com atividades independentes, mas que se juntam para ter mais chances de fazer suas obras e ideias chega-rem ao público, como se fossem uma espécie de

cooperativa. No DistritoFederal, pelo menos três coletivos foram criados só neste ano, todos ligados à música e com a internet como poderosa aliada.

O mais recente é o cole-tivo Esquina, formado pe-las produtoras Bloco e Mundano e as bandas de rock Tiro Williams, Ene-ma Noise, Cassino Super-nova e Brown-Há. O show de lançamento aconteceuem setembro. “A gente se reúne semanalmente, dis-cute os pontos que surgem e decide tudo coletivamen-te, com voto e tal”, expli-

João Paulo Vicente

ca Jacque Bittencourt, da Bloco. A ideia surgiu em fevereiro, quando o grupo descobriu o Circuito Fora do Eixo, uma rede de tra-balho que interliga produ-tores culturais e coletivos de todo o país. “A gente foi entrando em contato

com pessoas de coletivos de outros estados, até que conseguiu se organizar”, recorda a produtora.

Os integrantes do Es-quina se dividem em gru-pos de trabalho que cui-dam de áreas como divul-gação, assessoria de im-prensa e viabilização de e-quipamentos de som e ilu-minação dos shows. Um dos grupos é responsável pelo blog do coletivo e planeja pôr em funciona-mento uma rádio web. “Eu represento o GT de sus-tentabilidade, que fica de olho em editais públicos e privados e busca par-ticipar de discussões sobre políticas culturais”, diz Ja-cque. O coletivo ainda não tem perspectivas de lucrar com as apresentações. “Quando surge um patro-cínio, só cobre as despesas do evento. Normalmente trabalhamos pra ficar no zero ou perto do zero”, reconhece a produtora.

“Mas a gente está evoluin-do nessa coisa de escre-ver um bom projeto pra captar os recursos.”

O coletivo Cultcha também. “Ainda esta-mos aprendendo a escre-ver projeto. No próximo ano, vamos tentar nos

inscrever no FAC (Fundo de Apoio à Cultura do GDF)”, antecipa Diego Mendes. Ele é vocalista e guitarrista da banda Val-dez, que se juntou às ban-das Lacuna, Leda, Deluxe Jazz Fuckers, River Phoe-nix e Vitrine para lançar o coletivo em julho. Para a ocasião, o coletivo de Taguatinga gravou uma coletânea com recursos próprios. Os membros, que incluem as namora-das dos músicos, dão uma contribuição mensal em dinheiro. “Cada um dá o que pode”, diz Mendes.

Todos são amigos, al-guns tocam em mais de uma das bandas. “A gente sempre tenta se reunir de 15 em 15 dias para dire-cionar as atividades. O objetivo, por enquanto, é fazer, pelo menos, um show por mês até o fim do ano”, afirma. Mendes conheceu essa forma de trabalho colaborativo em

fevereiro, quando foi com sua banda ao Grito Rock Festival, promovido pelo Fora do Eixo em Cuiabá (MT). “Foi aí que deu um estalo”. Pela internet, ele e os amigos continuaram se comunicando com cole-tivos de outros lugares.

“Cada coletivo tem seu papel. Se as pessoas que-rem somente se divertir e tocar a música que elas fazem, tudo bem, mas a gente quer uma transfor-mação cultural”, avisa Guilherme Pereira, que se apresenta nas noites de Brasília como DJ Oblon-gui. Em fevereiro, ele se juntou aos também DJs Sergio Collares e Ezy para lançar o coletivo O Resga-te. “A gente quer retomar, aqui em Brasília, uma pis-ta (de dança) mais com-promissada com a música, valorizando as pessoas que estão ali, sem tratá-las como uma forma de ga-nhar dinheiro”, define Pe-reira. “Nos últimos anos, o talento (dos DJs) passou a ser menos importante que o marketing pessoal, a exposição na mídia.”

O coletivo promoveu duas festas este ano. Como no caso dos outros grupos, a internet é o principal meio para divulgar even-tos e ideias. “A gente quer resgatar não só uma músi-ca mais inquieta, mas uma sociedade mais inquieta.”•Alguns dos integrantes das bandas do coletivo Cultcha

No banquinho Internet e TV estimulam o stand up em Brasília. A modalidade teatral exige percepção aguçada e diálogo com a plateia

MARIANA HAUBERT

Um banquinho e um microfone. Nenhum outro recurso cê-

nico. Durante a apresen-tação, a única arma que o comediante tem para se defender é o texto bem ensaiado e um bom jogo de cintura. Assim funcio-na o Stand Up Comedy, uma vertente que ganhou os palcos do Brasil recen-temente e já começa a in-teressar artistas na cidade.

A comédia feita em pé é uma velha conhecida do cenário norte-americano. Em terras brasileiras, co-meçou a ganhar destaque com a popularização de vídeos na internet e o apa-recimento de nomes co-

mo Rafinha Bastos, Da-nilo Gentili, Oscar Filho e Marcelo Adnet em progra-mas televisivos como o CQC, da Bandeirantes, e o 15 minutos, da MTV. “Estamos vendo o que es-tá sendo feito lá fora e adaptando para a nossa realidade, para que o hu-mor funcione aqui”, afir-ma o ator Hugo Veiga, que há pouco tempo se ar-risca no formato stand up.

O primeiro grupo bra-siliense, o Comédia Capi-tal, começou com dois a-tores. Fernando Booyou e Edson Duavy, do grupo Anônimos da Silva, come-çaram a se apresetar sema-nalmente em um bar da ci-dade. Durante a apresen-tação, os dois davam es-paço para que os presen-

tes pudessem subir ao palco por alguns instan-tes. Em uma dessas opor-tunidades, abrir o micro-fone para a participação da plateia permitiu que outros quatro comedian-tes se juntassem ao grupo.

“O texto é muito im-portante no stand up. E, ao contrário do que muita gente pensa, o improviso existe, é claro, mas não é o que move a apresenta-ção”, afirma o publicitá-rio Thiago Negreiros, in-tegrante do Comédia Ca-pital, que se apresenta às quintas-feiras em um bar da cidade. Segundo Negreiros, para que uma apresentação desse tipo dê certo, duas coisas são fun-damentais: uma percepção aguçada da atualidade,

do cotidiano e do ambien-te ao redor, e uma capaci-dade de dialogar com o pú-blico. “Ainda que tenha-mos que nos ater ao texto, é importante prestar aten-ção às reações do público para saber o que funciona ou não”, explica.

Mesmo que o stand up tenha alcançado projeção nacional, artistas afirmam que o público de Brasília ainda não está acostuma-do ao formato. “Como não têm apresentações fre-quentes, as pessoas não criam o hábito de ir ao teatro ver uma apresenta-ção de stand up. Por isso estamos tão empenhados em formar um público na cidade”, afirma Hugo Vei-ga, integrante do grupo Comédia Capital.• Negreiros acha importante prestar atenção às reações do público

Isabela Horta

A gente quer resgatar não só uma música, mas uma sociedade mais inquieta

Conhecido como o maior concerto de jazz de todos os tempos, o álbum reúne Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell, Char-les Mingus e Max Roach tocando juntos – e ao vivo – na mesma banda.

Reeditado em 2008, o ro-mance de Lucio Cardoso é dessas obras que absorvem o leitor. Relatos permeados de segredo e revolta con-duzem à impressionante trama de ruína e deteriora-ção da família Meneses.

Dicas

7

Bloco C

As vozes de Pistóia

GUILHERME OLIVEIRA

É em Pistóia, na Itália, que descansam os brasileiros caídos, porém não derrotados, na 2ª Guerra Mun-dial. Dormem sem saber que não entraram para a

história nacional com a mesma grandeza que conquista-ram na neve dos Apeninos. Os feitos, porém, ecoam dos leitos em solo estrangeiro. Os companheiros que atra-vessaram o Atlântico de volta para a terra natal são os guardiões dessas memórias ignoradas.

Volta ao mundo

Às primeiras horas de 4 de junho de 1944, o navio-auxiliar Vital de Oliveira foi atacado por um cruzador alemão. A embarcação brasileira respon-deu e afundou o inimigo, destinando 35 almas para o fundo do oceano. A bordo do Vital estava o mari-nheiro cearense José Francisco da Cruz, que navegou os sete mares na juventude.

Cruz esteve por todas as partes da Grande Guerra. Foi figura fácil na Normandia ou na Itália, no Mediter-râneo ou no Pacífico, em Gibraltar ou nas Ilhas Maria-nas. Esteve ao lado de americanos, franceses, ingleses e mesmo dos “inimigos” alemães. “A gente falava um para o outro: ‘Fui eu que fiz a guerra? Foi você? Então vamos tomar uma bebidinha’”, lembra, entre gargalhadas sinceras.

Feito soldado por convocação, não por escolha, Cruz estava no Amazonas quando recebeu a notícia de que par-ticiparia da guerra. “A gente tem que aguentar a picada da cobra e seguir em frente. Eu aguentei”, proclama. Guarda boas experiências, mas não repetiria. “A guerra é boa... para estar bem longe!”

Bom filho

Quando Vinícius Vênus Gomes da Silva, auxiliar de enfermagem do 1º Grupo de Caça da Força Aé-rea Brasileira, foi visitar seu pai septuagenário em Ponte Nova (MG), levava a notícia de que parti-ria em breve para a Itália. Silva fazia um curso de cabo no Campo dos Afonsos (RJ) quando se voluntariou para servir na guerra. O pai mos-trou preocupação. Não achava certo defender a pátria fora dela.

Pois Silva defendeu-a no 12º andar de um hospital de Livorno, cuidando de aviadores e combatentes feridos em missão e dando-lhes segundas chances para lutar. Além dos companheiros de farda, estendia a mão para outro grupo: os cidadãos italianos. “Eles estavam passando necessidade e nós os ajudávamos. Repassávamos rações e cigarros, que recebíamos semanalmente dos americanos, para a população. Nossa relação era boa.”

Com o fim das batalhas em solo europeu, o novo destino da Força Aérea

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ContraCapa

Brasileira (FAB) seria o Pacífico – seria, se a guerra não houvesse terminado an-tes. Pouco depois das forças terrestres, Silva embarcou de volta. Logo estava em

casa, trazendo abraços e alentos a seu velho pai.

Modéstia à parte

O ano de 1924 foi glorioso para o Vasco da Gama, bicampeão estadual de futebol, e para a família Duarte Ferreira, que batizou um filho

com o nome do time. Vasco Duarte Ferreira, filho de co-merciante português, alistou-se no exército após ter dois

parentes envolvidos em afundamentos de navios da Marinha Mercante por parte de submarinos alemães.

Chegou a Nápoles aos 19 anos, como membro do segundo escalão da Força Expedicionária Brasileira.

Ferreira esteve em toda a campanha brasileira, foi ferido três vezes, teve a audição comprometida e

completou 20 anos de idade no hospital. Tudo que fez está restrito a suas lembranças. “As novas gerações nem sabem que o Brasil esteve lá”. Isso

não é de todo ruim. “Somos um povo pacífico, que não cultua feitos de guerra”, avalia, com ressalvas.

“Não somos passivos. Sabemos ser valen-tes quando necessário. Nossa participação na

guerra não foi enorme, mas, pelas circunstâncias, fizemos até demais.” Na família, ele é discreto em relação à experiência.“Meu filho guarda algumas fotos e medalhas e meus netos às vezes perguntam algumas coisas, mas eu não faço questão de contar muito. Não sou herói pra ficar contando vantagem.”

O mensageiro

Lincoln Moreira da Costa está em missão. Des-de que foi incorporado ao Batalhão de Transmissões

do Exército, em 5 de outubro de 1942, até hoje, quando dá palestras em escolas e universida-

des, leva mensagens. Aportou na Itália como sar-gento, com o 1º Escalão da Força Expedicionária

Brasileira (FEB). Sentiu a guerra desde seu primeiro dia, quando foi recebido com um ataque aéreo.

Um avião foi abatido. Lembra-se do piloto alemão, que tinha 16 anos. Em outra ocasião, recebeu

quatro dias de férias em Florença. Seu posto de operações foi bombardeado enquanto estava

fora. Já teve que dar duras em um superior. Era um 2º tenente que, ao receber cartas da família, chorava à vista de todos. A vivência da história

persiste em seus olhos claros. Seu caminho, hoje, é repassar cada partícula de sua memória

a jovens soldados e estudantes. É bem recebi-do, e percebe muita curiosidade. Há nobreza no que faz. “O país que não cultiva os feitos heroicos de seus filhos está fadado a desapa-

recer. Não fui à guerra matar. Fui cumprir uma missão, que estou cumprindo até hoje.

Tenho orgulho de ter participado e de ter realizado o meu dever.”

Fui eu que fiz a guerra? Foi você?Então vamos tomar uma bebidinha!

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