Terra-Disser Qv Em Hd

download Terra-Disser Qv Em Hd

of 175

Transcript of Terra-Disser Qv Em Hd

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    1/175

    UNIVERSIDADE JOS DO ROSRIO VELLANOCOORDENAO DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    AVALIAO DA QUALIDADE DE VIDA DO

    PACIENTE RENAL CRNICO SUBMETIDO

    HEMODILISE E SUA ADESO AO

    TRATAMENTO FARMACOLGICO DE USO

    DIRIO

    FBIO DE SOUZA TERRA

    Alfenas MG2007

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    2/175

    UNIVERSIDADE JOS DO ROSRIO VELLANOCOORDENAO DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    AVALIAO DA QUALIDADE DE VIDA DO

    PACIENTE RENAL CRNICO SUBMETIDO

    HEMODILISE E SUA ADESO AO

    TRATAMENTO FARMACOLGICO DE USO

    DIRIO

    FBIO DE SOUZA TERRA

    Alfenas MG2007

    Dissertao apresentada a Coordenaode Pesquisa e Ps-graduao daUNIFENAS, como requisito paraobteno do ttulo de Mestre em Sade,rea de concentrao Biofarmacologia.

    Orientadora: Prof. Dra. Ana MariaDuarte Dias Costa.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    3/175

    Terra, Fbio de Souza.

    Avaliao da qualidade de vida do paciente renal crnico submetido hemodilise e sua

    adeso ao tratamento farmacolgico de uso dirio / Fbio de Souza Terra. Alfenas:

    UNIFENAS, 2007.

    173 f. : il.. Orientadora: Prof Dra Ana Maria Duarte Dias Costa

    Dissertao (Mestrado em Sade) Universidade Jos do Rosrio Vellano.

    Referncias bibliogrficas: f. 145-160.

    1. Hemodilise. 2. Qualidade de Vida. 3. Insuficincia Renal Crnica. 4. WHOQOL.

    5. Transplante Renal. 6. Aceitao pelo Paciente de Cuidados de Sade. 7. Adeso ao

    Tratamento. 8. Uso de Medicamentos. 9. Expectativa de Vida. I. Costa, Ana Maria Duarte

    Dias. II. Universidade Jos do Rosrio Vellano. III. Ttulo.

    CDU: 616.61 (043)

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    4/175

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    5/175

    Ter problemas na vida

    inevitvel, ser derrotado por

    eles opcional

    (Autor desconhecido)

    Deus no prometeu dias sem dor, risos

    sem sofr imentos, sol sem chuva, mas ...

    Ele prometeu fora para o dia, confor to

    para as lgrimas e luz para o caminho

    (Autor desconhecido)

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    6/175

    Dedico esta pesquisa a Deus pela

    benevolncia por ter me concedido a

    graa da concluso do trabalho e a

    todos que torceram para a

    realizao de mais esta etapa de

    minha vida.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    7/175

    AGRADECIMENTOS

    A Deus , por me dar foras para enfrentar todos os obstculos encontrados nestacaminhada.

    Em especial Prof Dra. Ana Maria Duarte Dias Costa, orientadora desta

    pesquisa, pela ateno, ensinamentos, incentivo, dedicao durante estes 2 anos,

    em especial nos momentos da elaborao desta pesquisa, e principalmente pela

    amizade, pacincia e palavras amigas. Obrigado pela confiana e por acreditar em

    meu potencial.

    minha faml ia, por estar sempre ao meu lado, apoiando as minhas decises.

    Universidade Jos do Rosrio Vellano UNIFENAS, por me oferecer esta

    oportunidade preciosa de me tornar um Mestre.

    Direo do Hospi tal Universi trio Alzira Velano , por permitir a realizao desta

    pesquisa.

    Coordenao do Servio de Terapia Renal Subst itutiva do Hospital

    Universitrio Alzira Velano, pela compreenso e ajuda durante a realizao deste

    trabalho.

    Coordenao da Unidade de Terapia Renal Subst ituiva - Nefrosul , por permitir

    a realizao do pr-teste.

    A todos os funcionr ios da Clnica de Hemodilise, pelo respeito, compreenso e

    ajuda durante a coleta de dados.

    s Profas. Maria Betnia, Zlia, Eliana, rika e Sueli Leiko , docentes do

    Departamento de Enfermagem da UNIFAL-MG, pela amizade, incentivo e apoio

    durante o mestrado.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    8/175

    Ao Prof. Vin cius Vieira Vignoli , pela ajuda com as tradues dos textos e

    realizao da verso na lngua inglesa.

    Ao Prof. Alessandro Ferreira Alves , pela ajuda com o tratamento estatstico.

    A todos os pacientes que parti ciparam deste estudo, por compartilharem seus

    problemas, anseios e que se mostraram determinados e verdadeiros guerreiros em

    busca de uma vida com melhor qualidade.

    Aos colegas e amigos do Mestrado, pela convivncia, amizade e companheirismo

    durante toda esta etapa.

    E a todos que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao desta

    pesquisa.

    A todos vocs, a minha eterna gratido.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    9/175

    LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 1 Domnios e facetas do WHOQOL-bref....................................................61

    Figura 1 - Distribuio percentual da populao de estudo quanto presena deoutras doenas (comorbidades), em uma clnica de terapia substitutiva de umhospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006................................................81

    Figura 2 - Distribuio percentual da populao de estudo com relao ocorrnciade complicaes durante a realizao da hemodilise, em uma clnica de terapiasubstitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006..................85

    Figura 3 - Distribuio percentual da populao de estudo com relao quantidade de medicamentos utilizados diariamente, em uma clnica de terapiasubstitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006..................93

    Figura 4 - Distribuio percentual da populao de estudo segundo a lembranados nomes dos medicamentos utilizados, em uma clnica de terapia substitutiva deum hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006..........................................97

    Figura 5 - Distribuio percentual da populao estudada de acordo com o mtodode aquisio dos medicamentos utilizados, em uma clnica de terapia substitutivade um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006.....................................98

    Figura 6 - Distribuio percentual da populao de estudo quanto ao conhecimentoda utilizao dos medicamentos (indicao), em uma clnica de terapia substitutivade um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006...................................101

    Figura 7 - Distribuio percentual da populao de estudo quanto necessidade deauxlio de familiares/amigos para tomar os medicamentos, em uma clnica deterapia substitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006....106

    Figura 8 - Distribuio percentual da populao estudada de acordo com ainterrupo do uso dos medicamentos por conta prpria, em uma clnica de terapiasubstitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006................107

    Figura 9 - Distribuio percentual da populao que j interrompeu o uso de algummedicamento segundo os motivos que levaram a esta prtica, em uma clnica deterapia substitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006....108

    Figura 10 - Distribuio percentual da populao que deseja realizar o transplantecom relao presena desse paciente na lista de espera para a realizao dessacirurgia, em uma clnica de terapia substitutiva de um hospital universitrio domunicpio de Alfenas, 2006.....................................................................................134

    Figura 11 - Distribuio percentual da populao que deseja realizar o transplante

    quanto disponibilidade do familiar em doar o rgo, em uma clnica de terapiasubstitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas, 2006................137

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    10/175

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    11/175

    clnica de terapia substitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas,2006..........................................................................................................................114

    Tabela 12 - Escore Mdio das facetas do Domnio Relaes Sociais do instrumento

    WHOQOL-bref., em pacientes renais crnicos submetidos hemodilise em umaclnica de terapia substitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas,2006..........................................................................................................................116

    Tabela 13 - Escore Mdio das facetas do Domnio Meio Ambiente do instrumentoWHOQOL-bref., em pacientes renais crnicos submetidos hemodilise em umaclnica de terapia substitutiva de um hospital universitrio do municpio de Alfenas,2006..........................................................................................................................117

    Tabela 14 - Aplicao do Teste Qui-quadrado ( 2 ) nos cruzamentos das variveiscom os domnios e QV geral do WHOQOL-bref e apresentao do p-valor, Alfenas,2006..........................................................................................................................122

    Tabela 15 - Comparaes dos valores do Escore Mdio de cada domnio equalidade de vida geral do WHOQOL-brefno TESTE e no RETESTE do instrumentoe aplicao do Teste t de Student, Alfenas, 2006....................................................125

    Tabela 16 - Comparaes dos valores do Escore Mdio de cada domnio equalidade de vida geral do WHOQOL-brefno TESTE e no RETESTE do instrumentoe aplicao do Coeficiente de Correlao de Pearson, Alfenas, 2006....................126

    Tabela 17 - Comparaes dos valores do Escore Mdio de cada domnio equalidade de vida geral do WHOQOL-brefno TESTE e no RETESTE do instrumentoe aplicao do Teste de Wilcoxon, Alfenas, 2006....................................................126

    Tabela 18 - Avaliao da consistncia interna por meio da aplicao do CoeficienteAlfa de Cronbach em cada domnio e qualidade de vida geral do instrumentoWHOQOL-bref, Alfenas, 2006..................................................................................128

    Tabela 19 - Distribuio da populao de estudo segundo a expectativa de vida parao futuro com relao sade, em uma clnica de terapia substitutiva de um hospitaluniversitrio do municpio de Alfenas, 2006.............................................................129

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    12/175

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AIDS - Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    CAPD - Dilise Peritonial Ambulatorial Contnua

    CDL - Cateter de Duplo Lmen

    CTI - Centro de Terapia Intensiva

    DM - Diabetes Mellitus

    DPA - Dilise Peritonial Automatizada

    DPI - Dilise Peritonial Intermitente

    FAV - Fstula Arteriovenosa

    HA - Hipertenso Arterial

    HD - Hemodilise

    HLA - Antgenos Leucocitrios de Histocompatibilidade

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIECA - Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina

    IRA - Insuficincia Renal Aguda

    IRC - Insuficincia Renal Crnica

    LORAC - Life Options Rehabilitation Advisory Council

    MLC - Cultura Mista de Linfcitos

    MOS SF-12 - Medical Outcomes Studies 12-item Short-From

    MOS SF-36 - Medical Outcomes Studies 36-item Short-Form

    NIPD - Dilise Peritonial Intermitente Noturna

    NUCRN - Ncleo de Convivncia em Situaes Crnicas de Sade

    OMS - Organizao Mundial da Sade

    PA - Presso Arterial

    PIB - Produto Interno Bruto

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    13/175

    PSF - Programa de Sade da Famlia

    QV - Qualidade de Vida

    Rename - Relao Nacional de Medicamentos

    SBN - Sociedade Brasileira de Nefrologia

    SPSS - Statistical Package for Social Science

    SUS - Sistema nico de Sade

    TRS - Terapia Renal Substitutiva

    Tx - Transplante

    UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

    UNIFENAS - Universidade Jos do Rosrio Vellano

    Unifesp - Universidade Federal de So Paulo

    WHOQOL Group - World Health Organization Quality of Life Group

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    14/175

    RESUMO

    TERRA,Fbio de Souza Terra.Avaliao da qualidade de vida do paciente renalcrnico submetido hemodilise e sua adeso ao tratamento farmacolgicode uso dirio. Orientadora: Ana Maria Duarte Dias Costa. Alfenas: UNIFENAS,2007. Dissertao (Mestrado em Sade, rea de concentrao Biofarmacologia).

    Este estudo avaliou a QV dos nefropatas crnicos submetidos hemodilise e suaadeso ao tratamento farmacolgico de uso dirio; conhecer a expectativa de vidadessa populao com relao ao futuro e as principais complicaes apresentadasdurante a HD. Trata-se de uma pesquisa epidemiolgica, descritiva, transversal equantitativa, realizada em uma clnica de hemodilise, de um hospital universitriode Alfenas-MG, com todos os 30 pacientes submetidos HD no perodo da coletade dados. Utilizou-se para a coleta um questionrio com dados sobre acaracterizao dos participantes, adeso ao tratamento farmacolgico e expectativade vida, e a QV foi analisada por meio do instrumento WHOQOL-bref daOrganizao Mundial da Sade. Os dados foram tabulados no programa estatsticoSPSS verso 10.0 e analisados por meio do escore mdio com aplicao dosseguintes testes: Qui-quadrado, Coeficiente de Correlao de Pearson, Teste deWilcoxon, Teste t de Student, Coeficiente Alfa de Cronbach. Os resultadosmostraram que a maioria dos entrevistados referiram que a HD interferiu em suasatividades profissionais e de lazer e recreao, mas 53,33% se sentem tranqilosdurante a permanncia na clnica. As complicaes de maior ocorrncia foram ahipotenso arterial, vmito e tontura. Todos os pacientes fazem uso de

    medicamentos, sendo os antihipertensivos os mais utilizados. Quanto aoconhecimento da indicao dos medicamentos, 40% dos renais crnicos conhecemtodos os frmacos que usam. Os 30 pacientes estudados informaram tomar osmedicamentos diariamente, mas 16,66% j interromperam o uso por conta prpria,devido a reaes adversas. Os escores mdios referentes QV foram: QV geral,3,26; domnio fsico, 3,10; psicolgico, 3,58; relaes sociais, 4,19 e meio ambiente,3,54. Assim, os participantes do estudo classificaram a QV como sendo acima donem ruim, nem boa, enquanto o domnio relaes sociais foi avaliado entre boa emuito boa. As variveis estudadas no interferiram na QV dos pacientes, ou seja,elas no apresentaram correlao com os domnios do WHOQOL-bref. Por meio dareprodutibilidade verificou-se que a QV dos entrevistados foi estvel entre o teste e

    o reteste, tendo uma confiabilidade satisfatria; enquanto a consistncia interna doWHOQOL-bref foi aceitvel para as facetas e domnios, indicando umahomogeneidade nos itens avaliados. A principal expectativa de vida dos pacientes a realizao do transplante renal, sendo que 82,35% esto na lista de espera e47,06% se depararam com a recusa dos familiares em doar o rgo. Pode-severificar que o instrumento WHOQOL-bref mostrou-se eficaz para avaliar a QV derenais crnicos submetidos HD, sendo confivel para essa medida. Por fim, opaciente submetido HD ter uma melhor QV, quando ele for informado acerca desua doena e tratamento, quando existir um slido sistema de suporte e reabilitao,e ser capaz de levar uma vida ativa, produtiva e autosuficiente.

    Palavras-chave: Hemodilise. Qualidade de Vida. Insuficincia Renal Crnica.WHOQOL. Transplante Renal. Aceitao pelo Paciente de Cuidados de Sade.Adeso ao Tratamento. Uso de Medicamentos. Expectativa de Vida.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    15/175

    ABSTRACT

    Evaluation of the quality of life of end-stage renal patients submitted tohemodialysisand their adhesion to daily pharmacologic treatment.

    This study evaluated the QL of end-stage renal patients submitted to hemodialysis,and their adhesion to daily pharmacologic treatment; knowing their life expectancyand the main complications presented during HD. It is an epidemiologic, descriptive,tranversal and quantitative research, carried out at a hemodialysis clinic of auniversity hospital of Alfenas, State of Minas Gerais, Brazil, with the participation ofall the 30 dialysis patients in the period of the collection of data. A questionnaire wasused for the obtainment of data about the participants' characterization, adhesion topharmacologic treatment and life expectation. QL was analyzed through the

    instrument WHOQOL-bref of the World Health Organization. The data were tabulatedin the statistical program SPSS version 10.0 and analyzed by means of the mediumscore with application of the following tests: Qui-square, Coefficient of Correlation ofPearson, Test of Wilcoxon, Students t test, Cronbachs Alpha Coefficient. The resultsshowed that most of the interviewees referred that HD interfered in their professionalactivities and in leisure and recreation, but 53.33% were calm during the permanencein the clinic. The most frequent complications were the arterial hypotension, vomitand dizziness. All the patients take medicines, mainly antihypertensives. With regardto knowledge of the indication of the medicines, 40% of the dialysis patients know allthe drugs that they take. Thirty patients informed to take the medicines daily, but16.66% have already interrupted the treatment on their own account due to adverse

    reactions. The average scores of QL were: General QL, 3.26; physical domain, 3.10;psychological domain, 3.58; social relationships, 4.19; and environment, 3.54.Therefore, the participants of the study classified their QL as being above "neitherbad, nor good", while the domain social relationships was evaluated between "good"and "very good". The variables did not interfere in the patients' QL; in other words,they did not present any correlation with the domains of WHOQOL-bref. Through thereproducibility it was verified that the interviewees' QL was stable between the "test"and the "retest", having satisfactory reliability; while the internal consistency ofWHOQOL-bref was acceptable for the facets and domains, indicating a homogeneityin the appraised items. The main expectation of the patients' life is receiving a renaltransplantation; 82.35% are in the waiting list and 47.06% encountered the refusal of

    their relatives in donating the organ. It can be verified that the instrument WHOQOL-bref showed to be effective to evaluate QL of end-stage renal patients submitted toHD, thus being a reliable instrument for such a measure. Finally, dialysis patients willhave a better QL when they are informed about their disease and treatment, whencared for in a solid supportive system and rehabilitation, in order to make themcapable to lead an active, productive and self-sufficient life.

    Key words: Hemodialysis. Quality of Life. End-stage Renal Disease. WHOQOL.Renal Transplant. Patients Acceptance of Health Care. Adhesion to Treatment. Useof Medicines. Expectation of Life.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    16/175

    SUMRIO

    1 INTRODUO.............................................................................. 15

    2 JUSTIFICATIVA............................................................................ 20

    3 OBJETIVOS.................................................................................. 21

    4 REVISO DE LITERATURA........................................................ 22

    5 METODOLOGIA........................................................................... 57

    5.1 Tipo de Estudo............................................................................. 575.2 Local de Estudo........................................................................... 575.3 Populao de Estudo.................................................................. 585.4 Perodo de Investigao............................................................. 585.5 Aspectos ticos........................................................................... 585.6 Instrumento para Coleta de dados............................................ 595.7 Procedimento de Coleta............................................................. 63

    5.8 Anlise dos dados....................................................................... 646 RESULTADOS E DISCUSSO.................................................... 66

    6.1 Caracterizao da populao de estudo................................... 666.2 Compl icaes durante as sesses de hemodilise................. 846.3 Adeso dos renais crnicos ao tratamento farmacolgico.... 926.4 Avaliao da qualidade de vida dos renais crnicossubmetidos hemodilise................................................................ 1116.5 Testes de confiabilidade do instrumento de qualidade devida...................................................................................................... 1246.6 Expectativa de vida dos renais crnicos em hemodilise...... 129

    7 CONCLUSES............................................................................. 140

    8 CONSIDERAES FINAIS.......................................................... 142

    REFERNCIAS............................................................................. 145

    APNDICES E ANEXOS.............................................................. 161

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    17/175

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    18/175

    16

    mltiplas e essenciais atividades hemostticas. Almeida (1998) acredita que a

    progresso da IRC decorrente de mltiplos mecanismos vasculares, metablicos e

    imunolgicos, que envolvem fatores hemodinmicos e mecnicos, substncias

    vasoativas, citocinas e fatores de estresse.

    Nesta doena, a capacidade do organismo de manter o equilbrio

    hidroeletroltico e metablico est altamente comprometida. Este fato leva ao

    aumento da uria e creatinina no organismo, gerando sinais e sintomas tpicos de

    distrbios bioqumicos denominados de uremia (BIALY et al., 1999).

    Soares et al.(2003) relatam que a IRC possui etiologia variada, podendo ser

    resultante de doenas que acometem diretamente os rins ou os atingem a partir de

    um acometimento sistmico. Apresenta quadro clnico complexo, envolvendodistrbios hidroeletrolticos, cido-bsicos, do metabolismo de clcio e fsforo,

    endocrinolgicos, nutricionais e repercusses sociais negativas.

    Segundo Tom et al. (1999a), os meios de tratamentos utilizados no

    nefropata crnico so: terapia renal substitutiva, por meio da hemodilise (HD),

    dilise peritonial ambulatorial contnua (CAPD), dilise peritonial cclica, dilise

    peritonial intermitente e transplante. Smeltzer e Bare (2002) mencionam tambm a

    importncia de realizar o tratamento diettico, restrio hdrica e tratamentofarmacolgico.

    O melhor mtodo a ser escolhido deve, portanto, ser individualizado e

    contemplar as caractersticas clnicas, psquicas e socioeconmicas. importante

    apresentar ao paciente e aos familiares, de forma clara e compreensvel, as opes

    de tratamento, assegurando-lhes a possibilidade de modificar a escolha inicial

    conforme a evoluo (TOM et al.,1999b).

    importante mencionar que os portadores de nefropatia crnica devem teruma eficiente adeso ao tratamento, principalmente o diettico e o farmacolgico.

    Este, principalmente por ser constitudo de vrios medicamentos de uso dirio, com

    o intuito de estabilizar a doena e evitar o surgimento de complicaes.

    Para Crespo (1997), a taxa de adeso para tratamento de doenas crnicas

    , em geral, baixa, e isso se agrava significativamente quando associado a uma

    doena com limitada perspectiva de sobrevida. Alguns fatores identificados como

    limitativos ou impeditivos da adeso do indivduo consulta e teraputica so

    aqueles relacionados s caractersticas do indivduo, da doena e do tratamento por

    ela implicado, relao equipe de sade/indivduo, insero social e tambm fatores

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    19/175

    17

    como distncia geogrfica do servio de sade, dificuldades no acesso consulta

    (em face da falta de mdicos, ao grande nmero de indivduos atendidos, s

    numerosas listas de espera) e o grande espaamento do perodo de tempo entre as

    diferentes consultas.

    Referente ao exposto acima, Figueiredo et al.(2001) consideram que fatores

    como a quantidade de medicamentos, as reaes adversas (intolerncia), a

    necessidade de perodos de jejum, a incompatibilidade entre as drogas, a dificuldade

    na compreenso das metas da terapia e da implicao do seu uso inadequado,

    tambm contribuem para dificultar o processo teraputico.

    A aderncia refere-se conduta do indivduo ao seguir as prescries

    mdicas, no que diz respeito posologia, quantidade de medicamentos porhorrio, o tempo de tratamento e s recomendaes especiais para determinados

    medicamentos. Porm, a adeso deve ser entendida como uma atividade conjunta

    na qual o indivduo no apenas obedece orientao mdica, mas segue, entende e

    concorda com a prescrio estabelecida pelo mdico (GIR; VAICHULONIS;

    OLIVEIRA, 2005).

    Vrios autores categorizam os fatores relacionados adeso de acordo com

    caractersticas do paciente, do regime de tratamento, do vnculo com osprofissionais, da insero social e severidade da doena (WILLIANS, 1999;

    ICKOVICS; MEISLER, 1997).

    Por esse motivo, a implantao do planejamento do tratamento pelo prprio

    indivduo, considerando a elaborao de guias e esquemas da teraputica

    medicamentosa com desenhos, nmeros e cores, caixa com identificao, unidade

    para uso de bolso e detalhes especficos da rotina de cada indivduo, constituem

    mtodos eficazes para auxiliar na ingesto das medicaes (LIGNANI; GRECO;CARNEIRO, 2001).

    Ainda para os mesmos autores, a implementao de orientao e

    aconselhamento para avaliar, discutir e sensibilizar o indivduo sobre o impacto

    potencial da doena em sua rotina diria, e posteriormente com ele definir as

    estratgias factveis ao incremento da adeso correta, considerando as condies

    socioeconmicas e culturais que possam impedir ou limitar uma boa adeso,

    constituem tticas imprescindveis para amenizar a m adeso ao tratamento

    farmacolgico.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    20/175

    18

    Dentre as diferentes modalidades teraputicas, a hemodilise a mais

    utilizada e considerada um procedimento complexo, no qual a adequao de

    materiais e equipamentos, o preparo e a competncia tcnico-cientficos dos

    profissionais que dele participam so muito importantes para se evitar riscos e

    garantir melhores resultados na manuteno da vida do cliente e do seu relativo

    bem-estar (LIMA; GUALDA, 2000). Este mtodo de tratamento proporciona uma

    alterao mais rpida na composio de solutos do plasma e na remoo de

    excesso de gua corporal, em comparao com a dilise peritonial ou com

    procedimentos contnuos lentos (DAUGIRDAS; ING, 1999).

    Perso (2005) define a hemodilise como sendo um procedimento que limpa e

    filtra o sangue, liberta o corpo dos resduos prejudiciais, do excesso de sal e delquidos, controlando a presso arterial e ajudando o organismo a manter o equilbrio

    de substncias qumicas como o sdio, o potssio e cloretos. Em mdia, so

    realizadas 3 sesses por semana, com durao de 3 a 4 horas.

    Em relao entrada de pacientes para dilise, a Sociedade Brasileira de

    Nefrologia estima que ocorram aproximadamente 20000 novos casos por ano

    (BRASIL, 2003), sendo que, no Brasil, o gasto anual especfico com dilise

    financiado pelo SUS supera US$ 400 milhes. Apesar da restrio aos gastos com otratamento da IRC, seu custo total vem crescendo, devido ao aumento significativo

    da populao em tratamento dialtico (BARROS et al., 1999).

    Gomes (1997) relata que atualmente as atenes comearam a se voltar para

    uma teraputica que vise melhora da qualidade de vida do portador de nefropatia

    crnica, como um fator relevante no cenrio da teraputica renal, e no apenas a

    extenso de sua vida.

    Isto se deve ao fato de o portador de IRC conviver com uma doena incurvelque o obriga a submeter-se a um tratamento doloroso, de longa durao, que

    provoca muitas limitaes. Geralmente esses problemas so o isolamento social,

    perda de emprego, dependncia da Previdncia Social, perda da autoridade no

    contexto familiar, afastamento dos amigos, impossibilidade de passeios e viagens

    prolongadas em razo da periodicidade das sesses de hemodilise, diminuio da

    atividade fsica, disfuno sexual, entre outros, alm desses pacientes poderem

    apresentar complicaes durante e aps o tratamento (MARTINS; CESARINO,

    2004; GULLO; LIMA; SILVA, 2000).

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    21/175

    19

    Assim, a qualidade de vida dos renais crnicos em tratamento hemodialtico

    sofre influncia de fatores fsicos, biolgicos, psicolgicos, sociais e culturais, alm

    de possurem dependncia de uma mquina e, portanto o cotidiano deles passa a

    ser controlado em funo das restries impostas pela patologia (TRENTINI et al.,

    2004).

    O entendimento de qualidade de vida pode estar relacionado satisfao de

    necessidades fundamentais bsicas do ser humano. Se de alguma forma a

    satisfao dessas for privada, acaba por gerar grande tenso. Porm, esse pode

    no ser um indicador fidedigno de qualidade de vida, se analisado isoladamente

    (LISS, 1994).

    Tambm dentro desse contexto associa-se qualidade de vida noo defelicidade, referindo-se essa a aspectos externos (condies financeiras) e internos

    (condies de sade) do sujeito (NORDENFELT, 1994).

    Schwartzmann (1998) define qualidade de vida (QV) como sendo a percepo

    do cliente de seu bem-estar fsico, psquico e social; a qualidade depende de fatores

    orgnicos (caractersticas da enfermidade de base), psicolgios (caracterstica da

    personalidade, mecanismos de defesa e afrontamento) e sociais (situao

    socioeconmica, suporte social), assim como o momento da vida em que aenfermidade surge.

    Neste contexto, vale ressaltar que a principal meta teraputica para a maioria

    dos pacientes com IRC em tratamento hemodialtico, segundo Wenger et al. (1984),

    no a cura, mas uma melhora resultante da reduo dos sintomas ou da

    severidade da doena ou da limitao da progresso da doena.

    Assim, torna-se fundamental que os profissionais atuantes nesta rea

    empreguem esforos contnuos para o conhecimento das necessidades humanasafetadas, percebendo e identificando as necessidades e expectativas individuais dos

    clientes, alm de tornarem-se imprescindveis o resgate e a valorizao do cliente

    enquanto pessoa que tem a sua forma singular de pensar, agir e sentir. Ao estarem

    alertas e sensveis para tais aspectos, certamente podero criar condies de

    mudana para possibilitar, alm do prolongamento da sobrevida, uma melhoria na

    qualidade de vida do cliente renal crnico submetido hemodilise (LIMA; GUALDA,

    2000; OLIVEIRA, 1994).

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    22/175

    20

    2 JUSTIFICATIVA

    O aumento da incidncia das doenas crnicas na populao, principalmente

    a IRC com tratamento hemodialtico, um fato conhecido que tem suscitado muitas

    discusses. O cuidado das pessoas com essas doenas tem sido um grande

    problema na rea da sade, abrangendo vrias dimenses e representando um

    desafio a ser enfrentado no dia-a-dia, tanto por aqueles que vivenciam a situao

    quando para os cuidadores.

    Tambm, a qualidade de vida desses clientes pode ser alterada pela

    severidade dos sintomas da doena e por intercorrncias clnicas ou complicaes

    paralelas, quantidade de medicao exigida para aliviar os sintomas e alterao da

    vida social, devido a restries sofridas na vida cotidiana impostas pela condio

    crnica. Alm disso, ainda se estabelece uma relao de dependncia a uma

    mquina, a uma equipe especializada e obrigatoriedade de aceitar e assumir um

    esquema teraputico rigoroso para manuteno de sua vida.

    Ao considerar que a maioria dos clientes renais crnicos est em programa

    de hemodilise, que este o mtodo mais utilizado nas ltimas dcadas (ROCHA et

    al., 1990), que, para muitos, a possibilidade de transplante s ser vivel em longo

    prazo e fato dessas pessoas, apesar de resignadas, viverem com incertezas e

    algumas com pouca esperana em relao a um futuro melhor (NAGLE, 1998), ser

    preciso empenhar para conhecer a situao da qualidade de vida desses clientes a

    fim de colaborar para a sua melhoria.

    A realizao de tal estudo permitir um aprofundamento no assunto,

    favorecendo a instrumentalizao e dando subsdios para a criao de critrios que

    possam minimizar as dificuldades geradas pelo tratamento contnuo e presena decomplicaes e sintomas decorrentes da patologia. Tem como intuito buscar maior

    harmonia no setor de hemodilise e maior ajustamento e adaptao dos renais

    crnicos submetidos a essa modalidade de dilise, melhorando assim a sua

    qualidade de vida.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    23/175

    21

    3 OBJETIVOS

    Esta pesquisa teve como objetivos:

    OBJETIVO GERAL

    Avaliar a qualidade de vida dos pacientes renais crnicos submetidos

    hemodilise e sua adeso ao tratamento farmacolgico de uso dirio.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Verificar se as variveis faixa etria, gnero, tempo de IRC, tempo de HD, estado

    civil, escolaridade, renda familiar, profisso (ocupao), tipo de moradia, prtica

    dentro da religio, municpio onde reside, interferncia da HD nas atividades

    profissionais, interferncia da HD nas atividades lazer/recreao, nmero de

    pessoas que residem com o paciente, quantidade de medicamentos utilizados

    diariamente, e mtodo de aquisio dos medicamentos interferem na qualidadede vida dos nefropatas crnicos em hemodilise;

    Identificar as principais complicaes apresentadas pelos pacientes renais

    crnicos durante a hemodilise;

    Verificar se o portador de nefropatia crnica em tratamento hemodialtico possui

    adeso ao tratamento farmacolgico de uso dirio e se conhece a razo principalde seu uso (indicao);

    Identificar qual a expectativa de vida dos renais crnicos em hemodilise com

    relao ao seu futuro.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    24/175

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    25/175

    23

    indivduos com este padro de afeces tende a compor a clientela dos servios de

    sade.

    As doenas crnicas so encontradas em todos os grupos socioeconmicos,

    tnicos, culturais e raciais, porm so mais comuns nos indivduos dos grupos

    socioeconmicos baixos, provavelmente devido ao fato desta populao ter nutrio

    subtima e menos acessos aos cuidados de sade (KIGTON; SMITH, 2002).

    Essas doenas podem comear com uma condio aguda, aparentemente

    insignificante e que se prolonga por meio de episdios de exacerbao e remisso.

    Embora seja passvel de controle, o acmulo de eventos e as restries impostas

    pelo tratamento podem levar a uma drstica alterao no estilo de vida das pessoas

    (LUBKIN, 1990).A este respeito, Trentini et al.(1990) observaram que, a partir do diagnstico

    da doena crnica, os indivduos acometidos passam a ter novas incumbncias,

    como fazer regime de tratamento, conhecer a doena e lidar com incmodos fsicos,

    perdas nas relaes sociais, financeiras, nas atividades como locomoo, trabalho e

    lazer, ameaas aparncia individual, vida e preservao da esperana.

    Assim, tradicionalmente, a assistncia s pessoas em condies crnicas de

    sade tem sido desenvolvida por meio da rotina que se inicia com o diagnstico,confirmado por exames, a definio de um tratamento bsico e o acompanhamento

    para avaliao e ajustes que se fizerem necessrios (SAUPE; BROCA, 2004).

    Dentre as doenas crnicas, destacam-se as degenerativas, como o diabetes

    mellitus, as artrites, a hipertenso arterial e a insuficincia renal crnica.

    No que se refere homeostasia, os rins exercem funes importantes, como

    a regulao do balano de gua e eletrlitos; excreo de escrias metablicas

    (uria, creatinina, cido rico), de produtos finais de degradao da hemoglobina(como a bilirrubina) e de metablitos de diversos hormnios; regulao da presso

    arterial, por meio da excreo de sdio e gua e da secreo de substncias

    vasoativas (por exemplo, a renina); regulao do equilbrio cido-bsico; regulao

    da produo de eritrcitos por meio da secreo de eritropoetina; regulao da

    produo da forma ativa de vitamina D e, atravs da gliconeognese, isto , sntese

    de glicose a partir de aminocidos e de outros precursores (GUYTON, 1997).

    Quando os rins deixam de exercer essas funes, desencadeia a insuficincia

    renal, de acordo com o seu quadro clnico, que pode ser dividida em aguda (IRA) e

    crnica (IRC). A IRA uma sndrome caracterizada por supresso aguda das

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    26/175

    24

    funes renais, em que o dbito urinrio geralmente se reduz a menos de 400 mL/24

    horas e onde h profunda reduo da taxa de filtrao glomerular, resultando em

    reteno das escrias nitrogenadas, que persiste ou aumenta. Nesta doena, a pele

    e as membranas mucosas apresentam-se secas por desidratao, e a respirao

    pode ter o mesmo odor de urina (odor urmico); as manifestaes no sistema

    nervoso central incluem sonolncia, cefalia, tremores musculares e convulses

    (SANTOS,1999).

    A IRA pode ser reversvel dependendo do tipo de tratamento, da extenso da

    leso, e da rapidez da identificao do processo patolgico, ou ainda pode evoluir

    para a insuficincia renal crnica (IRC) (SMELTZER; BARE, 2002).

    Assim, Bialy et al. (1999) definem a IRC como sendo uma degeneraoprogressiva da funo renal e, ao contrrio da IRA, no passvel de reverso. Nesta

    doena, a capacidade do organismo de manter o equilbrio hidroeletroltico e

    metablico est altamente comprometida. Este fato leva ao aumento da uria e

    creatinina no organismo, gerando sinais e sintomas tpicos de distrbios bioqumicos

    denominados de uremia. Para verificar a quantidade de funo perdida, costuma-se

    usar os qualificativos imprecisos como leve, moderada e grave ou terminal,

    conforme o grau de diminuio da filtrao glomerular. Geralmente ela deduzidapor meio da avaliao da depurao da creatinina endgena (TOM et al.,1999a).

    Quanto epidemiologia da IRC, o grande nmero de casos de diabetes

    mellitus, que abrange cerca de 7,6% da populao brasileira, e hiperteno arterial,

    que atinge de 15% a 20%, tem colaborado significativamente para o aumento do

    nmero de casos de IRC no pas, que apresenta aproximadamente 150 mil casos (III

    CONSENSO, 2005). No entanto, dados do DATASUS sobre doena renal mostram

    que entre 1998 e 2001 ocorreram cerca de 400000 internaes e cerca de 9500pessoas foram a bito (BRASIL, 2003).

    As causas da insuficincia renal podem ser classificadas em parenquimatosas

    renais, doena do trato urinrio e doenas sistmicas com comprometimento renal.

    Dentre essas, destaca-se a hipertenso arterial sistmica e a nefropatia diabtica

    (RODRIGUES JNIOR, 1995). Outras doenas sistmicas, como diabetes,

    aterosclerose, alm da insuficincia cardaca, podem alterar a capacidade dos rins

    em responder a alteraes hidroeletrolticas agudas (SWELTZER; BARE, 2002).

    De acordo com Franscischetti (2001), os motivos que levam ao aumento

    exponecial na prevalncia de nefropatia secundria hipertenso arterial no esto

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    27/175

    25

    bem elucidados. A contribuio de fatores socioeconmicos e raciais, associados ao

    controle inadequado da presso arterial e a subutilizao de uma teraputica anti-

    hipertensiva responde em parte, por tal aumento dessa prevalncia.

    Nussenzveig (1994) relata ainda que o envelhecimento um dos principais

    fatores causais da insuficincia renal. Este fato se deve s alteraes morfolgicas e

    anatmicas relacionadas com as disfunes renais, destacando-se a reduo do

    tamanho e do peso dos rins, diminuio do nmero de nfrons, espessamento da

    membrana basal glomerular e tubular, esclerose e hialinizao glomerular, bem

    como reduo do comprimento e do volume dos tbulos proximais.

    Drabe (2002) afirma que a doena renal pode progredir independentemente

    de fator causal inicial. Desse modo, alteraes renais intensas so causadas porglomerulonefrites graves, hipertenso arterial severa, diabetes mellitus no

    controlada, leses renais auto-imunes causadas por lpus eritematoso e doenas

    hereditrias como rins policsticos, alm de ms formaes congnitas, as quais

    quase sempre podem evoluir para esclerose glomerular e atrofia tubular com perda

    total da funo renal.

    Vale mencionar que a magnitude do processo da insuficincia renal deve-se

    no somente s manifestaes clnicas decorrentes da falncia do processo defiltrao, mas tambm s patologias crnicas causais que vm contribuir para o

    agravamento do estado clnico e emocional de seu portador (KINGTON; SMITH,

    2002).

    Dados da literatura indicam que portadores de hipertenso arterial, de

    diabetes mellitus, ou histria familiar para a doena crnica tm maior probabilidade

    de desenvolverem insuficincia renal crnica. No Brasil, dentre 2467812 pacientes

    com hipertenso arterial e/ou diabetes mellitus cadastrados no programa HiperDiado Ministrio da Sade em 29 de maro de 2004, a freqncia de doenas renais foi

    de 6,63% (175227 casos) (ROMO JNIOR, 2004).

    Registros europeus e norte-americanos mostram que as principais causas de

    IRC so o diabetes mellitus (DM) e a hipertenso arterial (HA), sendo a incidncia

    norte-americana de 41,8% e 25,4% respectivamente. Para indivduos que j se

    encontram em tratamento dialtico, esta prevalncia de 33,2% para o DM e 24%

    para a HA (DRABE, 2002). J no Brasil, de acordo com o 2 Registro Latino

    Americano de Dilise e Transplante, publicado em 1997, as principais causas de IRC

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    28/175

    26

    eram a glomerulonefrite crnica (24%), seguida de hipertenso arterial (22%) e

    diabetes mellitus (15%) (RIELLA, 2003).

    Estudo realizado na Argentina, com pacientes submetidos dilise em um

    Hospital Nacional de Clnicas, mostrou como a principal causa da IRC nesses

    pacientes a HA (45,23%), seguido pela DM, com 14,28% dos casos (SCHNIDRIG et

    al., 2003).

    Esse fato justificado por Kusumoto, Rodrigues e Marques (2004) ao relatar

    que DM e a HA so doenas silenciosas, pois nem sempre apresentam sinais e

    sintomas francos. Os portadores dessas patologias podem desconhecer que as

    possuem, ou, ainda, tm conhecimento delas, porm no aderem ao tratamento por

    julgarem-no desnecessrio, uma vez que no h manifestaes clnicas importantes.Assim, o no monitoramento e o tratamento inadequado dessas doenas, com o

    passar dos anos, desenvolvero leses lentas e progressivas nos rins, podendo

    levar IRC.

    De acordo com vrios autores, cerca de 15 a 20% da populao adulta

    brasileira, com idade acima de 20 anos, portadora de HA, sendo que,

    aproximadamente, 12 milhes de brasileiros so atingidos. Na Amrica Latina h

    mais de 30 milhes de hipertensos, com pequenas variaes entre os pases. Dessaforma, aumenta a probabilidade de surgirem novos portadores de insuficincia renal

    crnica, tendo como causa principal a HA (REIS; GLASHAN, 2001; SIMONETTI;

    BATISTA; CARVALHO, 2002).

    Uma vez iniciada a insuficincia renal, a deteriorizao da funo

    progressiva e leva IRC terminal em um perodo varivel de tempo. Alm dos

    mecanismos prprios de adaptao renal, outros fatores podem contribuir para a

    piora mais rpida da funo renal residual, como HA, insuficincia urinria,obstruo e uso de drogas nefrotxicas. Entretanto, embora possivelmente com

    menor velocidade, a insuficincia renal progride independente do controle desses

    fatores. Experimentalmente, a reduo na funo dos nfrons remanescentes leva

    hipertenso sistmica, proteinria, esclerose glomerular e progressiva insuficincia

    renal (TOM et al., 1999a).

    Ainda para os mesmos autores, a IRC apresenta um conjunto de sinais e

    sintomas que constituem a sndrome urmica. Essas manifestaes clnicas so

    conseqncias ou esto associadas s doenas que evoluem com reduo

    progressiva da filtrao glomerular.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    29/175

    27

    Segundo Bandeira (1996), os principais sinais e sintomas apresentados por

    renais crnicos so nictria, poliria, oligria, disria, incontinncia urinria, edema,

    hipertenso arterial, fraqueza, fadiga, adinamia, anorexia, nuseas, vmitos, insnia,

    cibras, prurido, palidez cutnea, xerose, miopatia proximal, dismenorria,

    amenorria, atrofia testicular, impotncia, dfict cognitivo, confuso, sonolncia,

    obnubilao e coma, dor renal no flanco ou regio lombar e edema at anasarca. As

    anormalidades laboratoriais so constitudas pelo aumento de uria, creatinina,

    fsforo, cido rico, potssio, magnsio, fosfatase alcalina, paratormnio, glicose,

    colesterol, triglicerdios, diminuio de bicarbonato, clcio, ferro, albumina, calcitriol,

    eritropoetina e proteinria.

    A sndrome urmica muito freqente em pessoas com IRC, sendo definidapor Bennett e Plum (1997) como o conjunto clnico de sinais e sintomas da

    insuficincia renal terminal que resulta de distrbios funcionais em muitos sistemas

    orgnicos, com presena de nuseas, vmitos, fadiga, confuso mental, coma, entre

    outros, como HA, edema e insuficincia cardaca congestiva, embora a

    predominncia de sintomas especficos possa variar de um paciente para outro.

    Quanto ao exame fsico, pode-se notar no nefropata crnico hlito com odor

    amoniacal, pele amarelada com possvel presena de escoriaes decorrentes deprurido intenso; 10% dos indivduos renais crnicos apresentam a metade proximal

    da unha plida e a metade distal rsea; geralmente apresentam aumento da presso

    arterial, ausculta pulmonar pode apresentar atrito e derrame pleural e no corao

    pode-se auscultar atrito pericrdico, alm de desequilbrio endcrino e fraqueza

    (FERMI, 2003).

    Vale ressaltar que todas essas manifestaes clnicas e laboratoriais

    apresentadas em renais crnicos ocorrem em graus diferentes, dependendo dagravidade, durao e causa da insuficincia renal (TOM et al.,1999a).

    Alm de todos esses sintomas causados pela IRC, os nefropatas crnicos

    podem, com o decorrer dessa doena, apresentar algumas complicaes como:

    encefalopatia urmica, encefalopatia da dilise, neuropatia perifrica, pericardite,

    miocardiopatia, insuficincia cardaca, hipertenso arterial, calcificaes pulmonares,

    anemia, distrbios da coagulao e sangramento, estomatite, esofagite, pancreatite,

    ascite, hepatite, hiperglicemia ou hipoglicemia, diminuio da libido, impotncia,

    abortos espontneos, alopcia, prurido, deficincia da vitamina D, diminuio da

    imunidade celular e humoral (TOM et al., 1999a). O hiperparatireoidismo

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    30/175

    28

    secundrio persistente comum no doente renal crnico, assim como a

    osteodistrofia renal que constituem desordens esquelticas secundrias a alteraes

    do metabolismo de clcio e fsforo (SESSO; FERRAZ, 2003; RODRIGUES JNIOR

    et al.,2004).

    Quanto s complicaes hematolgicas, a anemia a mais comum em

    clientes renais crnicos. A principal causa da anemia na IRC consiste na deficincia

    de eritropoetina, e pode ser agravada por perdas sangneas durante a dilise, por

    inflamaes, acmulo de alumnio, deficincia de fosfato ou vitamina B12 (MAFRA,

    2003).

    Para evitar ou diminuir estes sintomas e complicaes causadas pela IRC, o

    doente precisa ser submetido a alguns tratamentos. Esse tratamento depender daevoluo da doena, sendo que inicialmente ele poder ser apenas conservador, por

    meio da teraputica medicamentosa e diettica. A dilise (terapia renal substitutiva)

    ser necessria quando os medicamentos, dieta e restrio hdrica se tornarem

    insuficientes. Por fim, o paciente ter a possibilidade de submeter-se a um

    transplante renal (BARBOSA; AGUILLAR; BOEMER, 1999).

    Tom et al. (1999b) relatam que o melhor mtodo a ser escolhido deve ser

    individualizado e contemplar as caractersticas clnicas, psquicas esocioeconmicas do paciente, sendo importante apresentar ao paciente e seus

    familiares as opes de tratamento, assegurando-lhes a possibilidade de modificar a

    escolha inicial conforme a evoluo.

    Cabe mencionar que a Sociedade Brasileira de Nefrologia estima que, no

    Brasil, apenas 33% dos clientes com IRC recebem tratamento adequado para a

    doena. Os 67% restantes, cerca de 100 mil doentes, morrem antes mesmo de

    iniciar a dilise (SOCIEDADE, 2005).Em pesquisa realizada por Arredondo et al. (1998), na qual compararam-se o

    custo e efetividade da hemodilise (HD), dilise peritonial (CAPD) e transplante,

    constatou-se que o tratamento de menor custo o transplante (US$ 3 021,63),

    seguido pela dilise peritonial (US$ 5 643,07) e por ltimo a hemodilise (US$ 9

    631,60). Ao analisar a efetividade dos mtodos, observou-se que a sobrevida foi

    maior no transplante, seguido pela CAPD e depois pela HD.

    Referente sobrevida dos renais crnicos, Seidl e Zannon (2004) relatam que

    os avanos nos tratamentos e as possibilidades efetivas de controle dessa

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    31/175

    29

    enfermidade tm acarretado o aumento da sobrevida e/ou a vida longa das pessoas

    acometidas por esse agravo.

    A probabilidade de sobrevivncia de pacientes em HD varia entre pases e

    regies, em funo de variveis como sexo, idade, condio social, presena de

    outras doenas associadas, condies estruturais e organizacionais dos servios,

    suporte social e familiar recebido pelo paciente e recursos tecnolgicos disponveis

    nos servios, dentre outros (CHAVES et al., 2002).

    Os mesmos autores salientam que o diagnstico precoce, medidas

    preventivas adotadas, melhoria da expectativa de vida geral da populao,

    tecnologia empregada nos procedimentos dialticos, qualificao dos recursos

    humanos que atendem estes pacientes, melhoria das condies estruturais e deequipamentos de terapia renal substitutiva, enfim, um conjunto de fatores tem

    contribudo para a qualidade do tratamento, implicando no aumento da sobrevida

    destes pacientes.

    vila et al.(1999) destacam, como fatores que influenciam negativamente a

    sobrevida do renal crnico, a presena de complicaes clnicas concomitantes,

    como doenas cardiovasculares, cirrose, caquexia, doenas malignas e a presena

    de diabetes, alm da idade avanada.Devido s alteraes fisiolgicas ocorridas em portadores de nefropatia

    crnica, tornam-se necessrias mudanas de hbitos e costumes, at ento usuais,

    de maneira radical. Assim, o tratamento diettico baseia-se, de um modo geral, na

    dieta hipercalrica (uma vez que os renais crnicos apresentam catabolismo

    aumentado, resultado da uremia), hipoprotica, hipossdica, com restrio de

    potssio, fsforo, magnsio, e contando com suplementos de clcio e vitaminas.

    Alm disso, a restrio hdrica de fundamental importncia, geralmente de 500 a1000 mL, e deve ser estabelecida de acordo com o ganho de peso e volume urinrio

    do cliente (GULLO; LIMA; SILVA, 2000; BERKOW; FLETCHER, 1995).

    Outro princpio bsico da terapia nutricional da uremia evitar a desnutrio.

    Alm de aumentar o risco para o paciente, h indcios de que a desnutrio protico-

    calrica favorece a liberao de fatores inflamatrios que induzem produo de

    lipoprotena, fator de risco para aterognese. Tambm, como a deficincia vitamnica

    no urmico prevalente, imprevisvel e de etiologia multifatorial, necessrio o uso

    de vitaminas do complexo B e cido flico para diminuir os nveis de hemocistena,

    fator de riso para aterosclerose; alm do consumo de vitamina K e A, se a ingesto

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    32/175

    30

    for pobre. Alguns autores preconizam suplementao tambm de vitamina E e D

    (TOM et al.,1999a).

    Pelo motivo de a IRC poder causar anormalidades nutricionais, torna-se

    imprescindvel a deteco e o tratamento precoce do dficit nutricional, pois assim

    pode-se reduzir os riscos de infeco, outras complicaes e a mortalidade dos

    pacientes (VALENZUELA et al.,2003). Martins e Riella (2001) ressaltam ainda que

    para prevenir a desnutrio importante acompanhar o estado nutricional,

    auxiliando na terapia especfica e na determinao das necessidades de cada

    nutriente.

    H tambm o tratamento farmacolgico que, segundo Black et al. (1996),

    baseia-se no uso de hipotensores (inibidores da enzima conversora de angiotensina- IECA), vasodilatadores centrais e perifricos, tambm diurticos tiazdicos e de

    ala, beta-bloqueadores, bloqueadores de canais de clcio, alm de

    anticonvulsivantes. A eritropoetina humana recombinante e a hemoterapia, com a

    infuso de papa de hemcias, so utilizadas para o tratamento da anemia.

    O uso dessas medicaes tem como meta restituir a pessoa ao estado pr-

    mrbido, ou seja, ao estado de personalidade anterior ao que foi considerado como

    doena. Tambm, a medicao um instrumento, entre outros, capaz de auxiliar oindivduo a superar o seu sofrimento (RODRIGUES, 2003).

    Para o mesmo autor, a medicao vem sendo utilizada principalmente como

    forma de alvio ou de cura de uma determinada doena ou sndrome.

    Os principais medicamentos de uso dirio comumente prescritos aos

    portadores de nefropatia crnica incluem: captopril, lonitem, furosemida, nifedipina,

    atensina, propranolol, metildopa (hipotensores); monocordil (vasodilatador

    coronariano); omeprazol (protetor gstrico reduz a secreo do cido gstrico);cido flico (antianmico); carbonato de clcio (para evitar a hipocalcemia); sulfato

    ferroso (para repor a perda de ferro no sangue residual); complexo B; vitamina C;

    bicarbonato de sdio (anticido gstrico alcalinizante) e eritropoetina humana

    recombinate (para evitar ou tratar a anemia) (TOM et al., 1999a; BERKOW;

    FLETCHER, 1995).

    De acordo com Nies e Spielberg (1996), a utilizao de vrios medicamentos

    tem como objetivos atingir o efeito teraputico desejado ou tratar doenas

    coexistentes, porm o resultado pode ser tanto a potencializao como a inibio

    dos efeitos teraputicos. Para estes autores, a maioria das prescries

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    33/175

    31

    estabelecidas utiliza seis ou mais medicamentos, o que aumenta a incidncia das

    interaes, chegando a 20% em clientes que fazem uso de 10 a 20 frmacos.

    Os mesmos autores afirmam ainda que a utilidade de cada esquema

    teraputico deve ser constantemente avaliada durante a terapia. A utilidade de um

    esquema pode ser definida como o benefcio que ele produz, mais os perigos do no

    tratamento da doena, menos a soma dos efeitos adversos da terapia. Dessa forma,

    o uso simultneo de dois ou mais frmacos aumenta a complexidade da

    individualizao da terapia medicamentosa.

    Assim, de fundamental importncia que os renais crnicos tenham uma

    eficiente adeso ao tratamento farmacolgico de uso dirio, com o intuito de diminuir

    os efeitos adversos e sintomas da doena, e evitar complicaes decorrentes deuma doena no tratada.

    A palavra adeso, do latim adhaesione, significa, do ponto de vista

    etimolgico, juno, unio, aprovao, acordo, manifestao de solidariedade,

    apoio; pressupe relao e vnculo (SILVEIRA; RIBEIRO, 2005).

    Nobre et al. (2001) definem a adeso ao tratamento como sendo o grau de

    coincidncia entre a prescrio e o comportamento do paciente.

    Para Fuchs, Castro e Fuchs (2004), adeso a extenso na qual ocomportamento do paciente coincide com a recomendao mdica ou

    aconselhamento por outros profissionais de sade, seja seguindo a prescrio

    medicamentosa ou as recomendaes sobre a dieta, mudana de hbitos de vida e

    freqncia de consultas.

    Referente aos autores acima citados, a adeso pode ser definida

    operacionalmente por meio da quantificao da dispensao, em servios onde h

    distribuio de medicamentos, recusa em tomar o medicamento, subtrao de umaou mais doses, administrao inferior ou superior dose prescrita, erro na dosagem,

    emprego de medicamento adicional no prescrito, etc.

    A despeito de existirem outras definies, parece bastante adequada aquela

    que estabelece que a no adeso se caracteriza como um desvio significativo do

    tratamento ou do regime teraputico prescrito, mesmo que esse desvio no

    apresente resultados clnicos (HOMEDES; UGALE, 1994).

    Cabe destacar que se deve conceber adeso ao tratamento como um

    processo com trs componentes principais: a noo de doena que possui o

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    34/175

    32

    paciente, a idia de cura ou de melhora que se forma em sua mente, o lugar do

    mdico no imaginrio do doente (SILVEIRA; RIBEIRO, 2005).

    Tambm, Pierin, Gusmo e Carvalho (2004) colocam que a adeso ao

    tratamento relaciona-se a uma srie de fatores. Trata-se de um processo

    comportamental complexo que sofre influncias do meio ambiente, dos profissionais

    de sade e de cuidados de assistncia mdica.

    Assim, algumas caractersticas dos pacientes tm sido associadas adeso

    ao tratamento farmacolgico, tais como idade, gnero, etnia, nvel socioeconmico,

    escolaridade, estado civil, nvel de inteligncia, religio, tipo de personalidade,

    ocupao, hbitos de vida, aspectos culturais e crenas, o conhecimento sobre a

    doena, e, por fim, fatores psicossociais, como percepo individual, auto-eficcia,automotivao, auto-estima, sentimento de bem-estar, ansiedade e depresso

    (FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004; PIERIN; GUSMO; CARVALHO, 2004).

    Uma boa adeso implica na habilidade do paciente em cumprir com as

    recomendaes clnicas conforme o recomendado, utilizar o medicamento como

    prescrito, adotar as mudanas aconselhadas no estilo de vida e realizar os

    procedimentos diagnsticos e de monitoramento recomendados (MARIN et al.,

    2003).Uma forma de facilitar a adeso ao tratamento, principalmente o

    farmacolgico, a introduo de esquemas teraputicos fceis e adequados, tendo

    em conta o perfil biopsicossocial do indivduo, bem como suas rotinas dirias. Outro

    aspecto que tambm facilita a adeso a simplificao e adequao do esquema

    teraputico rotina de cada indivduo, sempre que possvel (GIR; VAICHULINIS;

    OLIVEIRA, 2005).

    Funchal (2000) refere que, no mundo, 50% dos pacientes com doenascrnicas no seguem o tratamento corretamente, principalmente o farmacolgico.

    Outros trabalhos tambm mostram que os pacientes tm uma reconhecida

    dificuldade de adeso ao tratamento (WILKIS et al.,2000; MOREIRA et al., 1999).

    Apesar dos esforos para diagnosticar e tratar a hipertenso arterial (esta

    aparece como uma das principais causas da IRC e tambm como conseqncia

    desta patologia), cerca de 35% a 83% dos portadores de hipertenso desconhecem

    ser sua condio e aproximadamente 75% a 92% daqueles em tratamento no

    mantm a hipertenso descontrolada. Em condies reais da vida diria, h baixa

    adeso ao tratamento anit-hipertensivo, variando entre 51% nos Estados Unidos,

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    35/175

    33

    43%na China, e 27% em Gmbia. Por esse motivo, pode-se inferir que a

    probabilidade de surgir um grande nmero de portadores de IRC relevante e

    merece destaque na rea da sade pblica (FUCHS; CASTRO; FUCHS, 2004).

    Pierin, Gusmo e Carvalho (2004) colocam que a no-adeso um

    impedimento ao alcance dos objetivos teraputicos e pode constituir-se em uma

    fonte de frustrao para os profissionais de sade, alm das srias complicaes

    inerentes ao no-controle tensional.

    Geralmente, a no adeso acarreta conseqncias negativas ao processo de

    cuidado do cliente por desorganizar ou negativizar os potenciais benefcios do

    tratamento; exacerbar ou prolongar a doena; comprometer a avaliao mdica no

    que tange resposta do paciente a um tratamento ou qualidade do tratamentoempreendido; acarretar angstia e dano ao paciente; resultar em sobras de

    medicamentos, situao que pode ocasionar automedicao irracional e

    envenenamento e favorecer a elevao dos custos e do desperdcio de recursos

    (MARIN et al.,2003).

    De acordo com os mesmos autores, a m comunicao entre a equipe de

    sade e o paciente, a m organizao dos servios de sade, o custo e outros

    dificultadores de acesso aos medicamentos, a sensao de melhora do paciente, otipo de tratamento (muitos medicamentos, aparecimento de efeitos adversos e falta

    de confiana), alm de aspectos sociais e culturais que iro influenciar na

    capacidade de compreenso e aceitao das informaes fornecidas podem ser

    entendidos como algumas das razes pelas quais no se cumprem as indicaes

    mdicas.

    Como exemplo de impacto da no adeso ao tratamento, citam-se alguns

    dados dos EUA, onde se tem estimado que esta acarreta aumento das consultasambulatoriais, internao e atendimentos de emergncia com um custo inerente

    estimado em US$ 50 bilhes (JOHNSON; BOOTMAN, 1995). Segundo os mesmos

    autores, as taxas de admisses hospitalares relacionadas a medicamentos variam

    de 2,3% a 27.3%, e 5,3% das internaes seriam devidas no adeso.

    Nos Estados Unidos, em 1998, os gastos com hipertenso arterial (uma das

    principais causas da IRC) e suas complicaes representaram 12,6% do total

    dispensado com o cuidado sade. Em nosso meio, no mesmo perodo, de acordo

    com dados do Ministrio da Sade, houve 1.150.000 internaes por doenas

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    36/175

    34

    cardiovasculares, com um custo de 475 milhes de reais que, na poca, equivalia a

    cerca de 400 milhes de dlares (PIERIN; GUSMO; CARVALHO, 2004).

    A respeito de vrios autores insistirem que no existem sinais absolutamente

    seguros para identificar o paciente no cumpridor, o grau de cumprimento de

    regime teraputico prescrito depende, dentre outros fatores, da percepo que os

    pacientes tm de sua enfermidade e do sistema assistencial, de sua relao com o

    prestador de cuidados de sade, de sua confiana nos medicamentos, do regime

    teraputico e do tipo e aspecto de medicamento receitado. Assim, cabe aos

    profissionais que assistem os portadores de nefropatia crnica avaliar a prescrio

    mdica e reforar os conselhos do prescritor ao paciente e aconselhar para a

    necessidade do cumprimento das medidas no farmacolgicas e farmacolgicas(MARIN et al.,2003; MACEDO JNIOR; ARAJO, 2004).

    Para realizao dessa avaliao e aconselhamento aos renais crnicos, por

    parte dos profissionais de sade, que atualmente, existem os grupos de adeso ao

    tratamento, um espao solidrio que permite o acesso informao, a troca de

    experincias, o intercmbio de motivaes, o apoio mtuo e a vivncia de uma

    pluralidade de situaes que criam oportunidades para pacientes e profissionais de

    sade posicionarem-se, tirarem dvidas, interagirem e superarem dificuldades noprocesso de tratamento (SILVEIRA; RIBEIRO, 2005).

    Esse grupo de adeso uma prtica de sade que se fundamenta no

    trabalho coletivo, na interao e no dilogo. Trata-se de um grupo homogneo

    quanto enfermidade dos pacientes, aberto com relao entrada destes em cada

    reunio e multidisciplinar no que diz respeito coordenao. Tem carter

    informativo, reflexivo e de suporte, e sua finalidade identificar dificuldades, discutir

    possibilidades e encontrar solues adequadas para problemticas individuais e/ougrupais que estejam dificultando a adeso ao tratamento (SILVEIRA; RIBEIRO,

    2005).

    Vale ressaltar que, para Fa et al. (2006), o suporte social tem significativa

    importncia na manuteno do bem-estar e conseqentemente na adeso ao

    tratamento, pois proporciona sustentao emocional, que favorece a sade por

    estabelecer um relacionamento interpessoal baseado em confiana, solidariedade e

    valorizao, proporcionando, assim, melhor adaptao s condies de estresse.

    Ainda, a presena de redes de suporte social encoraja e facilita a participao ativa

    dos sujeitos nas atividades necessrias para o controle da doena.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    37/175

    35

    Por fim, a adeso ao tratamento um processo complexo que envolve no

    somente o esforo do profissional, mas principalmente o engajamento do paciente,

    considerado em seu contexto, conforme as contingncias que permeiam sua vida, a

    forma de apreender a doena, o tratamento e o cotidiano, sua rede de apoio social e

    os modelos de sade e de enfrentamento das adversidades por ele construdos ao

    longo da existncia (FA et al., 2006).

    Descreveu-se anteriormente que o renal crnico inicialmente submetido ao

    tratamento conservador (diettico e farmacolgico) de acordo com o estgio da

    doena. Em caso de leso renal avanada, esses tratamentos no so suficientes,

    tendo o mesmo que ser submetido terapia renal substitutiva (dilise) ou at mesmo

    um transplante (BARROS et al.,1999).Para os mesmos autores, a terapia renal substitutiva pode ser realizada por

    meio da hemodilise (HD) e dilise peritoneal. Esta ltima ainda se subdivide em

    dilise peritoneal intermitente (DPI), dilise peritoneal cclica e dilise peritoneal

    ambulatorial contnua (CAPD).

    Segundo Bevilacqua e Guerra (2001), ao trmino de 1999 havia cerca de 1,2

    milho de sujeitos sob tratamento dialtico em todo o mundo, dos quais 140 mil em

    dilise peritoneal. Nesta mesma poca, dados do DATASUS indicavam a existnciade quase 45 mil sujeitos em dilise no Brasil. Desses, 7,8% encontravam-se em

    dilise peritoneal ambulatorial contnua e 1% em dilise peritonial automatizada

    (DPA).

    Sesso (2002) refere que dados epidemiolgicos da IRC no Brasil datam de

    dezembro de 1999 e foram coletados em janeiro de 2000 pela Sociedade Brasileira

    de Nefrologia (SOCIEDADE, 2005), sendo que 53% dos sujeitos em dilise

    concentram-se na regio sudeste. Alm disso, de 1994 a 1999, a prevalncia deindivduos em dilise no pas aumentou em mdia 12,6% ao ano. Em 1999, 52% dos

    indivduos em dilise eram do sexo masculino, 26% tinham mais de 60 anos,

    havendo tendncia para aumento deste grupo, 2,2% tinham menos de 18 anos e

    somente 297 pessoas tinham menos de 10 anos de idade.

    No ano de 2001, os dados do Anurio Estatstico Brasileiro apontam a

    existncia de 65.534 pacientes em dilise. Em relao entrada de clientes para

    tratamento dialtico, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) estima que ocorram

    aproximadamente 20.000 novos casos por ano, com uma incidncia anual em torno

    de 100 casos novos por milho de habitantes, embora apenas 60 pacientes novos

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    38/175

    36

    iniciem tratamento dialtico, por falta de diagnstico ou por tratamento incorreto

    (BRASIL, 2003; CARREIRA; MARCON, 2003).

    O ltimo censo realizado pela SBN, referente aos dados de 2004/2005,

    apontam que existem atualmente 65.121 pacientes submetidos terapia renal

    substitutiva. Desses, 57.988 em hemodilise, 4.363 em dilise peritoneal

    ambulatorial contnua, 2.485 em dilise peritoneal automatizada e 285 em dilise

    peritoneal intermitente. Cabe ressaltar que 517 desses pacientes tm menos de 15

    anos e 72,4% dos centros de dilise oferecem trs turnos de trabalho (CENSO,

    2006).

    No estado de Minas Gerais, tambm referente aos dados de 2004/2005 da

    SBN, existem 69 centros de dilise, sendo 68 conveniados ao SUS (Sistema nicode Sade); 7.627 pacientes em tratamento dialtico (6.876 em hemodilise); 67

    pacientes com menos de 15 anos e 50 centros com trs turnos de hemodilise

    (CENSO, 2006).

    importante mencionar que, no Brasil, o gasto anual especfico com dilise

    financiado pelo SUS supera US$ 400 milhes. Apesar da restrio aos gastos com o

    tratamento da IRC, seu custo total vem crescendo devido ao aumento significativo

    de populao em tratamento dialtico (BARROS et al., 1999). Dados estatsticosmais recentes (2004) apontam que essa despesa com o programa de dilise e

    transplante renal no pas situa-se ao redor de 1,4 bilhes de reais ao ano (ROMO

    JNIOR, 2004).

    Uma das formas de terapia renal substitutiva a dilise peritonial que

    consiste na infuso de uma soluo hipertnica na cavidade peritonial, na qual a

    membrana peritonial funciona como uma membrana semipermevel. O acesso

    cavidade obtido por meio da introduo de um cateter. A dilise realizada emtrs fases: entrada, permanncia e drenagem da soluo de dilise. Existem duas

    modalidades de dilise peritonial: Dilise Peritonial Ambulatorial Contnua (CAPD),

    que consiste na infuso de 2 a 2,5 litros de soluo de dilise, com 4 a 5 trocas por

    dia, realizado 7 dias por semana, no domiclio do prprio paciente; e a Dilise

    Peritonial Intermitente Noturna (NIPD), que uma tcnica realizada com uma

    cicladora automtica, durante a noite, com volume de infuso de 8 a 20 litros de

    tempo fixo de 9 a 10 horas (TOM et al.,1999b).

    Com relao dilise peritoneal intermitente, vila et al. (1999) relatam que,

    associada a maior nmero de complicaes e importante fator de risco de

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    39/175

    37

    mortalidade, tendo como causa as infeces, na maioria das vezes, de natureza

    hospitalar, este mtodo geralmente utilizada apenas como alternativa para alguns

    pacientes impedidos de realizar outros mtodos dialticos, como por exemplo,

    pacientes sem acesso vascular para a HD e sem condies domiciliares para a

    realizao de CAPD.

    Vale ressaltar que o treinamento do paciente para realizar a CAPD

    desenvolvido pela enfermagem do servio de dilise; entretanto, o tratamento

    propriamente dito, isto , a troca das bolsas de dilise, realizada pelo paciente

    e/ou famlia em seu domiclio. O paciente retorna ao ambulatrio para consultas

    mdicas e de enfermagem peridicos, com objetivo de avaliar o estado de sade,

    bem como o tratamento da CAPD, e possveis complicaes (KUSUMOTA;RODRIGUES; MARQUES, 2004).

    Destaca-se ainda que estes tipos de terapias so os mtodos mais simples,

    eficientes e de baixo custo, uma vez que no necessitam de aparelhos sofisticados e

    energia eltrica. um procedimento adequado s caractersticas sociais e recursos

    limitados da populao de um pas como o nosso. Apesar dessas vantagens, a

    dilise peritonial pode apresentar algumas complicaes como: formao de hrnia,

    vazamentos pericateter e na parede abdominal, edema genital, complicaesrespiratrias e dor lombar (DAUGIRDAS; ING, 1999).

    Todos esses mtodos dialticos (CAPD e NIPD) visam melhoria do estado

    de sade do cliente, porm, o transplante renal, de acordo com Vieira (2005),

    apontado como um procedimento que garante ao portador de IRC uma vida mais

    longa e com maior qualidade.

    Bastos, Medeiros e Manfro (1994) apontam que o transplante renal, alm de

    permitir a reabilitao do paciente e um estilo de vida normal, possibilita tambmuma economia significativa para o sistema de sade.

    importante destacar que dados da literatura demonstram que a qualidade

    de vida, aps o transplante, embora melhore do ponto de vista social e fsico, se

    comparado com a populao em geral, a baixa auto-estima e autopiedade

    permanecem, comprovando que, apesar de no serem mais portadores de

    insuficincia renal terminal, ainda consideram-se doentes, agora transplantados

    renais susceptveis a intercorrncias clnicas (TSUJI-HAYASHI et al., 1999).

    O transplante renal, segundo Ferreira e Heilberg (2001), uma importante

    opo teraputica para o paciente com IRC, tanto do ponto de vista mdico, quanto

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    40/175

    38

    social ou econmico. um procedimento cirrgico que consiste na reposio de um

    rgo ou tecido de uma pessoa doente (receptor) por outro rgo normal de um

    doador. Este novo e nico rim deve substituir totalmente os dois rins que pararam de

    funcionar.

    Pode-se dizer que todo paciente portador de insuficincia renal terminal um

    candidato, em potencial, a um transplante de rins, mas autores relatam que as

    principais indicaes para a realizao do transplante so: paciente em terapia renal

    substitutiva, pacientes com clearance de creatinina < 10 mL/min em tratamento

    conservador, diabticos e crianas com clearance de creatinina < 20 mL/min, e

    nefropatas no diabticos e maiores de 18 anos com clearancede creatinina

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    41/175

    39

    de pacientes urmicos em lista de espera para o transplante. Por esses motivos, o

    transplante renal realizado preferencialmente com doadores vivos (DIRETRIZES,

    2006).

    Mesmo realizando o transplante com doadores vivos, os pacientes podem vir

    a desenvolver complicaes ps-transplante. Dentre essas complicaes, Ferreira e

    Heilberg (2001) citam como as principais a infeco do trato urinrio e a rejeio.

    Para evitar ou diminuir o risco do paciente transplantado desenvolver uma

    rejeio ao rgo, faz-se necessrio o uso de medicamentos imunossupressores. A

    grande limitao da imunodepresso na clnica sua inespecificidade, significando

    que ela afeta no s as clulas imunocompetentes, mas todas as outras do mesmo

    modo, originando vrios fenmenos colaterais indesejveis (TVORA, 1992).De acordo com Ianhez (2003) e Kalil (2003), o tratamento imunossupressor

    busca, em primeiro lugar, prevenir o desencadeamento da resposta imune do

    receptor contra o enxerto e, em segundo lugar, conter quando necessrio o

    processo de rejeio j instalado. Dessa forma, atualmente, existem cinco tipos de

    drogas usadas como manuteno, profilaxia e tratamento da rejeio: corticide,

    azatioprina, ciclosporina, anticorpo monoclonal e anticorpos policlonais.

    A imagem que os pacientes possuem do transplante antes de realiz-lo modificada com as novas limitaes que lhes so impostas. Eles tomam conscincia

    de que no so normais como se achavam antes, e que, embora no precisem mais

    da mquina, vem-se obrigados a tomar medicaes pelo resto da vida, para evitar

    a rejeio, mas que provocam efeitos colaterais nocivos sobrevida do enxerto.

    Tero tambm de adequar-se a uma rigorosa dieta, assim como tomar rigorosos

    cuidados com a higiene e ambientes freqentados, devido aos riscos das

    medicaes (MENDES; SHIRATORI, 2002).Cabe ressaltar que, embora o transplante tenha sido considerado o

    tratamento de melhor custo-efetividade, deve-se considerar a dificuldade de

    captao dos rgos e a necessidade de uma central de transplante bem equipada

    e uma equipe multidisciplinar definida e competente (ARREDONDO et al.,1998).

    Por esses motivos, o sucesso de um programa de transplante renal est na

    dependncia no s do treinamento da equipe clnica e cirrgica, mas tambm do

    auxlio de outras especialidades mdicas, como imunologia, infectologia, radiologia,

    patologia e terapia intensiva, e do concurso de outros profissionais de sade, como

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    42/175

    40

    enfermeiros, psiclogos, assistentes sociais, bioqumicos e bilogos (GONALVES

    et al., 1999).

    De acordo com Brasil (2003), a lista de espera para realizao de transplante

    compe-se de 28.659 pessoas, at maio de 2003, sendo que no ano de 2001 foram

    realizados cerca de 3.099 transplantes de rins, dos quais 1.256 com doador cadver.

    Dados mais recentes apontam que em 2004 foram realizados 1.728 transplantes

    com doador cadver e 1.604 com doador vivo; em 2005, o nmero de transplantes

    com doador cadver elevou-se para 1.768 e com doador vivo diminuiu para 1.594

    (TRANSPLANTE, 2006).

    Pode-se verificar pelos dados referidos acima que o acesso ao transplante

    renal no Brasil ainda restrito a uma parcela muito pequena dos pacientes que delenecessitam. Enquanto os pases do primeiro mundo realizam entre 30 a 40

    transplantes renais por 1 milho de habitantes, este nmero no excede a 10

    transplantes por 1 milho de habitantes no Brasil (IANHEZ et al., 2006).

    O nmero de candidatos a receptores crescente a cada ano, e mesmo com

    o esforo do Ministrio da Sade e dos profissionais envolvidos nesse processo, o

    fator determinante para aumentar o nmero de doaes a conscientizao e

    sensibilizao da populao sobre essa modalidade teraputica, uma vez que agrande expectativa de um renal crnico submetido hemodilise a realizao do

    transplante (PESTANA,2002).

    evidente a necessidade de educao dirigida sociedade, como

    campanhas educativas, palestras, aulas e esclarecimentos por meio de

    comunicao em massa, com o intuito de possibilitar a mudana de atitude da

    populao frente doao de rgos (PADRO; LIMA; MORAES, 2006).

    Antes da realizao do transplante, um dos mtodos dialticos mais utilizadosem nefropatas crnicos como substituto da funo renal para a manuteno da vida,

    por tempo indeterminado ou permanente, a hemodilise (HD). Essa vem

    gradativamente ampliando seu espao enquanto modalidade teraputica para

    pacientes com problemas renais crnicos. Constitui-se um procedimento de alto

    custo/complexidade que envolve uma assistncia altamente especializada,

    tecnologia avanada, aes de alta complexidade e requer uma articulao entre os

    nveis secundrios e tercirios. Alm disso, apresenta nos ltimos anos, uma

    demanda crescente, o que tem implicado em considervel consumo de recursos

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    43/175

    41

    financeiros, aproximadamente R$ 15000 por paciente, ao ano. Cada sesso de HD

    tem o custo de R$ 93,58 (CHAVES et al.,2002; BRASIL, 2003).

    No perodo de 1996 a 1999, houve um crescimento de aproximadamente

    39,4% na quantidade de sesses de HD realizadas e faturadas pelo Sistema nico

    de Sade (SUS). Em 2000, para 5.982.639 sesses, foram gastos R$ 559.855.357,

    62 (CHAVES et al., 2002).

    Os autores acima citados observaram nos ltimos anos a ampliao dos

    gastos com terapia renal substitutiva (TRS), que pode ser justificada pelo aumento

    da demanda e pelas mudanas na legislao sobre as condies estruturais e

    organizacionais de funcionamento dos servios que, ao se adequarem s

    determinaes governamentais, implementaram melhorias no atendimento, as quaispodem estar ocasionando um aumento na sobrevivncia dos pacientes

    hemodilise.

    A histria da hemodilise a histria tambm dos componentes necessrios

    para sua realizao: anticoagulante, circuito extracorpreo, bomba de sangue,

    membrana dialisadora, filtro dialisador e acesso circulao sangnea (TOM et

    al., 1999b).

    Os conceitos de osmose e dilise descritos por Thomas Graham, em 1854, sforam aplicados para tratamento da uremia em humanos em 1918 por G. Ganter

    (primeira dilise peritoneal) e em 1924 por George Hass (primeira hemodilise).

    Aps um perodo inicial de dificuldades, a era da dilise como tratamento efetivo da

    insuficincia renal comeou em 1945, quando, coincidentemente, ocorreram a

    primeira dilise peritoneal (com a equipe de Frank, Seligman e fine) e a primeira

    hemodilise (utilizando as tcnicas do Dr. Willem Kolff) bem-sucedidas. Ambos

    trataram pacientes com insuficincia renal aguda. Os primeiros pacientes com IRCforam tratados com sucesso em Seattle, em 1960 (TOM et al., 1999b).

    Com o passar dos tempos, novos sistemas foram inventados, como o filtro de

    fibras ocas, o sistema de proporo para banho de dilise, e a hemodilise

    expandiu-se em todo o mundo como uma tcnica salvadora de vidas, que permitiu

    que os pacientes renais crnicos sobrevivessem e pudessem ser transplantados

    (TOM et al., 1999b).

    Ainda para os mesmos autores, a dcada de 80 trouxe o desenvolvimento de

    mquinas mais seguras, com monitores, controles e sistemas automticos. Tambm

    foram idealizados os mtodos contnuos de dilise em Centro de Terapia Intensiva

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    44/175

    42

    (CTI) para pacientes com insuficincia renal aguda instveis hemodinamicamente.

    Desenvolveu-se tambm o conceito de dilise de alta eficincia e novas membranas

    mais biocompatveis foram comercializadas.

    Apesar dos importantes avanos em tcnicas, equipamentos e manuseio

    teraputico, Salomo (2002) salienta que, ainda assim, a IRC uma condio com

    problemas mdicos, sociais e econmicos devastadores em todo o mundo,

    principalmente em pases do terceiro mundo, havendo regies pobres da sia e

    frica Central onde nem h a possibilidade regular de suporte dialtico.

    A hemodilise definida como um processo teraputico capaz de remover

    catablitos do organismo e corrigir as modificaes do meio interno por meio da

    circulao do sangue em uma mquina idealizada para este fim. O mtodo consiste,essencialmente, na circulao extracorprea do sangue em tubos ou

    compartimentos feitos de uma membrana semipermevel e constantemente

    banhados por uma soluo eletroltica apropriada soluo de dilise ou banho.

    Durante o tratamento, o sangue flui, por tubos, para o dialisador, este filtra os

    resduos e o excesso de lquidos, sendo que este flui por meio de outro tubo e volta

    para o organismo do paciente (PERSO, 2005; MARCONDES, 1999).

    O filtro dialisador engloba dois compartimentos, um por onde circula o sanguee outro por onde circula o dialisato. A comunicao entre esses dois compartimentos

    ocorre por uma membrana semipermevel disposta de modo a ampliar ao mximo a

    rea de contato entre os dois lquidos. O sangue entra por uma ponta, distribuindo-

    se por dentro dos inmeros e finos tubos capilares dispostos em feixe at sair na

    outra extremidade, e externamente a essas fibras, circula o dialisato (TOM et al.,

    1999b).

    As mquinas modernas de hemodilise possuem equipamentos quecontrolam e monitorizam vrios parmetros. Existem alarmes e sistemas de

    segurana que anunciam quando algum desses parmetros desvia-se do desejado e

    pode mesmo suspender o processo para evitar riscos ao paciente (TOM et al.,

    1999b).

    Segundo Daugirdas e Ing (1999), as indicaes para o incio deste tratamento

    dialtico so a sndrome urmica, a insuficincia renal aguda e a insuficincia renal

    crnica ou doena renal terminal; e tem como finalidade a remoo de substncias

    endgenas e exgenas, txicas ao organismo, correo do equilbrio cido-bsico e

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    45/175

    43

    remoo de excesso de lquidos no organismo (BARBOSA; AGUILLAR; BOEMER,

    1999).

    Com relao ao tempo de permanncia em tratamento hemodialtico, o

    processo normalmente feito em quatro horas, e em mdia, trs vezes por semana

    (BARROS et al.,1999). Assim, esses usurios da hemodilise passam, em mdia,

    40 horas mensais durante anos e anos na unidade de hemodilise ligados a uma

    mquina e monitorados por profissionais de sade (TRENTINI et al.,2004).

    Alm disso, o renal crnico ainda estabelece uma relao de dependncia a

    essa mquina, a uma equipe especializada e obrigatoriedade de aceitar e assumir

    um esquema teraputico rigoroso para manuteno de sua vida (LIMA; GUALDA,

    2000).No Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia,

    89,53% dos nefropatas crnicos so submetidos hemodilise, e o restante dos

    pacientes encontra-se em tratamento por meio da dilise peritonial contnua,

    automatizada ou intermitente; e esto distribudos em 518 centros de dilise, sendo

    490 conveniados ao SUS e 28 no conveniados (SOCIEDADE, 2005).

    Devido a esse grande nmero de clientes renais crnicos submetidos ao

    tratamento hemodialtico, faz-se necessria uma maior ateno prestada a eles, comorientaes e explicaes, visando o seu esclarecimento. Tambm, a adequao de

    materiais e equipamentos, o preparo e a competncia tcnico-cientficos dos

    profissionais que dele participam so muito importantes para se evitar riscos e

    garantir melhores resultados na manuteno da vida do cliente e do seu relativo

    bem-estar (LIMA; GUALDA, 2000).

    Contudo, para a realizao da hemodilise, necessrio um acesso vascular

    que pode ser temporrio ou permanente. A insero percutnea de um cateter emveia de grande calibre (jugular, femoral, subclvia) denominado cateter de duplo

    lmen (CDL), fornece um acesso temporrio. Um acesso permanente obtido por

    meio da confeco de uma fstula arteriovenosa (FAV) ou por meio da insero de

    um cateter de luz dupla de silicone com cuff (como o Perm Cath) ou um par de

    cateteres de luz nica com cuff - cateter Tesio em uma veia jugular interna

    (DAUGIRDAS; ING, 1999).

    O acesso permanente de escolha para a hemodilise a fstula

    arteriovenosa, que consiste na anastomose de veia com artria, sendo que este

    acesso mais seguro e duradouro, porm necessita de tempo para sua maturao

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    46/175

    44

    (2 a 3 semanas). No entanto, em algumas situaes, torna-se difcil a FAV,

    principalmente em pacientes com veias de pequeno calibre ou profundas, em

    pacientes com mltiplas punes venosas devido leso vascular e em pacientes

    idosos (SMELTZER; BARE, 2002).

    Embora possua algumas vantagens sobre os cateteres, a fstula possui a

    desvantagem da realizao das punes com agulhas extremamente calibrosas em

    cada sesso de hemodilise. Os cateteres so bastante incmodos para os

    pacientes, limitando os movimentos naturais, devido sua localizao. Mas no so

    apenas esses os motivos que incomodam tanto os pacientes dependentes da

    hemodilise. Aps o trmino da HD, faz-se necessrio cobrir o cateter com um

    curativo, com o objetivo de proteger o paciente de infeces (MENDES;SHIRATORI, 2002).

    Por esse motivo, de acordo com os autores referidos acima, esses curativos

    so geralmente grandes e visveis quando localizados na subclvia ou jugular. A sua

    constante presena tambm acarreta um desconforto psicolgico, provocado pela

    alterao de sua aparncia. No caso da fstula, as punes repetidas, com o tempo,

    levam ao desenvolvimento de aneurismas, que se caracterizam pela dilatao dos

    vasos. Cabe ressaltar que grandes hematomas tambm podem acontecer devido aoerro da puno.

    Mesmo com a sofisticao crescente das mquinas de hemodilise nas

    ltimas dcadas, tornando esse procedimento seguro e capaz de manter a vida dos

    pacientes por longos perodos, vale mencionar que, em 30% das sesses de

    hemodilise, pode ocorrer algum tipo complicao decorrente desta modalidade

    teraputica (CASTRO, 2001). Essas complicaes incluem: hipotenso arterial

    (sendo uma das principais), cibras, nuseas e vmitos, cefalia, dor no peito, dorlombar, prurido, febre e calafrios, diarria, reaes alrgicas, arritmia cardaca,

    embolia gasosa, hemorragia gastrintestinal, problemas metablicos, convulses,

    espasmos musculares, insnia, inquietao, demncia, infeces, pneumotrax ou

    hemotrax, isquemia ou edema da mo e a anemia (BERKOW; FLETCHER, 1995;

    TOM et al.,1999a).

    Segundo Carmo et al. (2003), uma vez iniciada a hemodilise, a sobrevida

    dos renais crnicos est diretamente relacionada s complicaes cardiovasculares,

    como a hipertrofia ventricular esquerda, o infarto agudo do miocrdio, o acidente

    vascular enceflico, as disritmias cardacas e a hipertenso arterial sistmica.

  • 7/22/2019 Terra-Disser Qv Em Hd

    47/175

    45

    Portanto, alm de constituir a segunda causa da IRC no nosso meio, a hipertenso

    arterial pode exercer influncias na mortalidade cardiovascular nos pacientes em

    fase mais tardia da terapia renal substitutiva. Tal influncia se deve ao controle

    inadequado da presso arterial, alteraes hemodinmicas durante a perda do

    volume no tratamento hemodialtico e ganho de lquido no perodo interd