TESTES DE CONTROLE NO JUDÔ

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No cenário desportivo atual, as necessidades de se estabelecerem métodos confiáveis de controledo treinamento do atleta é uma das principais preocupações dos pesquisadores em Ciências doDesporto. No caso do judô, como desporto acíclico com elevada exigência física, é importantemensurar tal esforço empregado pelos judocas de alto rendimento, para que tais indícios possamservir de ferramenta para uso dos técnicos, durante o cotidiano de trabalho. Sendo assim, oobjetivo principal da pesquisa é de formular novo processo de avaliação física do atleta,denominado TC3 e TC15, de modo a responder às especificidades da modalidade, através derelações com o Special Judo Fitness Test (SJFT) ...

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO FSICA

    RODRIGO RIBEIRO ROSA

    TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca

    CAMPINAS 2006

  • i

    RODRIGO RIBEIRO ROSA

    TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca

    Dissertao de Mestrado apresentada Ps-Graduao da Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas para obteno do ttulo de Mestre em Educao Fsica

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira

    CAMPINAS

    2006

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA BIBLIOTECA FEF - UNICAMP

    Rosa, Rodrigo Ribeiro.

    R71t

    Testes de controle no jud: proposta de avaliao da resistncia especial do judoca. / Rodrigo Ribeiro Rosa. - Campinas, SP: 2006.

    Orientador: Paulo Roberto de Oliveira. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Educao Fsica,

    Universidade Estadual de Campinas.

    1. Jud. 2. Avaliao. 3. Lactato. 4. Treinamento desportivo. I.

    Oliveira, Paulo Roberto de. II. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao Fsica. III. Ttulo.

  • iii

    RODRIGO RIBEIRO ROSA

    TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca

    Este exemplar corresponde redao final da Dissertao de Mestrado defendida por Rodrigo Ribeiro Rosa e aprovada pela Comisso Julgadora em: 18/08/2006.

    ________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira

    Orientador

    CAMPINAS 2006

  • v

    COMISSO JULGADORA

    Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira

    Orientador

    Prof. Dr. Emerson Franchini (titular)

    Prof. Dr. Jos Julio Gavio de Almeida (titular)

    Prof. Dr. Valdir Jos Barbanti

    (suplente)

    Profa. Dra. Mara Patrcia Traina Chacon-Mikahil (suplente)

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus. Fora onipresente e onipotente, que nos

    criou e nos deu a possibilidade de escolha. Escolhas que fazemos da nossa vida nos levam ao

    caminho da evoluo, e isto est relegado a todas as pessoas. Por tal razo, me vejo ultrapassando

    mais uma etapa da minha vida com fora elevada e nimo, para tentar sempre ser melhor, sempre

    agradecendo a Ele.

    minha famlia: meu pai Clodoaldo, minha me Ermelinda, meu irmo Gustavo e

    minha irm Renata (in memoriam) pelo apoio dado em todas as minhas escolhas, pelo sacrifcio e

    pelo amor que sempre tiveram comigo. Amo vocs !!!

    Lygia Shimizu, pessoa que participou e muito de minha vida e que proporcionou a

    maior das minhas alegrias at hoje: meu filho Filipe Shimizu Rosa. Por causa dele, vejo uma

    razo de viver cada dia melhor. As boas lembranas estaro sempre bem guardadas no meu

    corao. Muito obrigado por tudo !!! Grande beijo pra vocs !!!

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira, grande guri, a quem tenho

    enorme admirao, pelo carter sempre firme e justo, pelos ensinamentos e pela grande lio de

    respeito que aprendi. Aquele que sabe menos, sempre deve ouvir aquele que sabe mais. Muito

    obrigado por tudo em que voc me orientou, Paulinho !!!

    Aos componentes da banca, Prof. Dr. Emerson Franchini e Prof. Dr. Jos Julio Gavio

    de Almeida, pela contribuio na concepo deste trabalho, sempre com uma conversa aberta e

    sem vaidades. Graas a vocs, este trabalho teve um desfecho, na minha opinio, brilhante. Muito

    obrigado, Emerson e Gavio !!!

    Profa. Dra. Mara Patrcia Traina Chacon-Mikahil, professora do DCE e FISEX,

    grande profissional e pessoa, que me auxiliou e muito nos diferentes momentos deste trabalho.

    Muito obrigado, Paty !!!

  • ix

    Aos acadmicos Andria Gulak, Augusto Barbosa Ipatinga, Bruno Bezerra e

    Leonardo Tiroli, pelo auxlio nas coletas de dados e pela descontrao em nossas viagens para

    So Jos dos Campos e Ribeiro Preto. Muito obrigado !!!

    Aos professores e judocas Elessandro Lima Ded e Felipe Zanetti, que possibilitaram

    a reunio do grupo de atletas nas cidades de So Jos dos Campos e Ribeiro Preto,

    respectivamente, sem os quais, este trabalho no seria possvel. Alm do trabalho, obrigado pela

    disposio e pelas novas amizades feitas. Muito obrigado !!!

    Aos judocas participantes deste projeto, que estiveram sempre altamente motivados e

    dispensaram grande esforo nos momentos de realizao dos testes. Muito obrigado a todos !!!

    Ao Prof. Dr. Valmor Tricoli e Prof. Dr. Valdir Barbanti, responsveis pelo Laboratrio

    de Desempenho Esportivo (LADESP) da Universidade de So Paulo (USP), que possibilitaram a

    realizao das anlises de sangue nos equipamentos disponveis no local. Obrigado !!!

    Ao tcnico do LADESP Edson, pessoa que esteve sempre pronto a ajudar e me auxiliou,

    e muito, nos momentos de anlise do material. Obrigado !!!

    Profa. Dra. Denise Vaz de Macedo, responsvel pelo Laboratrio de Bioqumica do

    Exerccio (LABEX), que permitiu que fossem utilizados equipamentos e materiais para a

    realizao das coletas de sangue. Muito obrigado, Denise !!!

    Aos amigos do LABEX, em especial ao meu amigo Rodrigo Hohl. Graas s muitas

    conversas que tivemos, foi possvel concluir a idia do desenho do TC3 e TC15, idia essa que

    teve tambm a participao do professor Armindo. voc, Hohl, meu muito obrigado pela luz

    no fim do tnel !!! Obrigado, Armindo, pelas dicas dadas para o trabalho !!!

    Ao grupo do jud da cidade de Taubat, sensei Roberto, Vicente e Rgis e atletas, que

    participaram do incio da concepo deste trabalho. Muito obrigado pela dedicao e pelos

    momentos vividos em nossa longa trajetria dedicada prtica do jud !!!

  • xi

    Aos meus amigos e amigas da FEF, em especial: meu compadre Marcio Lazari,

    Mauricio Coelho Mau-Mau, Cristian Ramirez Tatan e Diego Ferrer Cari, pelos momentos

    vividos em nossa jornada e pela amizade construda; ela ser eterna !!! Muito obrigado por tudo,

    caras !!!

    Ao pessoal da Biblioteca da FEF (Dulce, Marli, Andria, Carmem, Helena, Gonzaga e

    Geraldo) pelo auxlio competente, prontamente disposio e sempre muito gentil. Muito

    obrigado a todos pela ajuda !!!

    CAPES e CNPq, rgos do Governo Federal, e FAEPEX, rgo da UNICAMP, pela

    colaborao e auxlio financeiro destinado realizao deste estudo. Obrigado !!!

  • xiii

    ROSA, R. R. Testes de controle no jud: proposta de avaliao da resistncia especial do judoca. 2006. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

    RESUMO No cenrio desportivo atual, as necessidades de se estabelecerem mtodos confiveis de controle do treinamento do atleta uma das principais preocupaes dos pesquisadores em Cincias do Desporto. No caso do jud, como desporto acclico com elevada exigncia fsica, importante mensurar tal esforo empregado pelos judocas de alto rendimento, para que tais indcios possam servir de ferramenta para uso dos tcnicos, durante o cotidiano de trabalho. Sendo assim, o objetivo principal da pesquisa de formular novo processo de avaliao fsica do atleta, denominado TC3 e TC15, de modo a responder s especificidades da modalidade, atravs de relaes com o Special Judo Fitness Test (SJFT), proposta validada por Sterkowicz (1995) e situao de Luta, sendo esta a mais prxima da situao competitiva propriamente dita. O desempenho de 11 atletas, subdivididos em dois grupos, com diferentes desempenhos competitivos, foi mensurado atravs de quatro situaes especficas do jud (SJFT, Luta, TC3 e TC15). Atravs da anlise do desempenho motor (marcador externo) e da cintica da concentrao do lactato sanguneo ([Lac], marcador interno) ps-testes, postulou-se que tais variveis possam explicar a condio fsica entre os atletas nessas situaes. Os resultados mostraram que: houve diferena significante entre os grupos no desempenho do TC3 e TC15 e [Lac] no TC3; no houve diferena significante entre o desempenho no SJFT, mostrando que o SJFT no discriminou grupos de atletas com desempenho competitivo diferenciado, conforme afirma Sterkowicz (1995); TC3 apresentou alta fidedignidade; TC3 e TC15 apresentou correlao e concordncia com resultados apresentados pelo SJFT. Atravs desses resultados, concluiu-se que as novas propostas de avaliao fsicas so aplicveis e que podem ser utilizadas como parmetro do desempenho de atletas de jud. PALAVRAS-CHAVE: Jud; Avaliao; Lactato; Treinamento Desportivo.

  • xv

    ROSA, R. R. Control tests in judo: a purpose of evaluation of judoists special endurance. 2006. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

    ABSTRACT In the actual sporting scenery, the need to establish a reliable method of controlling the athlete training is one of the main concerns of science sports researches. In the case of judo, a sport with a high physical demand is important to measure the effort required by the high-performance athlete so that the sign can be used as a tool for the coach during their work. As a consequence, the most important point of this research is to formulate a new physical evaluation process, denominated TC3 and TC 15. To answer all specifications of its classification through the relations with Special Judo Fitness Test (SJFT), this proposal was validated by Sterkowicz (1995), and fight simulation, being the closest to the competitive situation. The performance of 11 athletes, divided in 2 groups, with different competitive performance, was mentioned by 4 specific situations of judo (SJFT, fight, TC3 and TC15) through the analysis of performance (external marker) and kinetics of blood lactate concentration (internal marker) tests concluded that such variable could explain the physical condition among athletes. The outcome showed that: there was a significant difference among the performance of groups TC3 and TC15, but there wasnt a significant difference among SJFT groups. Therefore, SJFT didnt make distinction on those groups with a better competitive performance, according to Sterkowicz (1995); TC3 had a high reliability; TC3 and TC15 showed correlation and harmony with the results presented by SJFT. According to this, we can conclude that the new proposals of physical evaluation are applicable and can be used as a reference to the athletes performance.

    KEYWORDS: Judo; Evaluation; Lactate; Sports Training.

  • xvii

    LISTA DE FIGURAS

    Pgina

    FIGURA 1 Desenho esquemtico da estrutura temporal do combate de jud (ROSA, 2000)

    6

    FIGURA 2 Desenho esquemtico do SJFT 21

    FIGURA 3 Desenho esquemtico do TC3 e TC15 29

    FIGURA 4 Correo de curva da [Lac] do atleta TL na situao SJFT 31

    FIGURA 5 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no SJFT e TC3 42

    FIGURA 6 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no SJFT e TC15 42

    FIGURA 7 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no TC3 e TC15 43

  • xix

    LISTA DE QUADROS

    Pgina

    QUADRO 1 Estrutura temporal do combate de jud (em segundos)

    7

    QUADRO 2 Concentrao do lactato sanguneo em situaes especficas do jud

    9

    QUADRO 3 Potncia aerbia de atletas de jud 17

  • xxi

    LISTA DE TABELAS Pgina

    TABELA 1 Caractersticas morfolgicas dos judocas 33

    TABELA 2 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G1

    34

    TABELA 3 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G2

    34

    TABELA 4 Resultados do desempenho dos judocas no SJFT 35

    TABELA 5 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao SJFT

    35

    TABELA 6 Pontuao e condio dos judocas na situao de Luta 36

    TABELA 7 Scout da pontuao dos judocas na situao Luta

    36

    TABELA 8 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao Luta

    37

    TABELA 9 Resultados do desempenho dos judocas na situao TC3

    37

    TABELA 10 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao TC3

    38

    TABELA 11 Resultados do desempenho dos judocas na situao TC15

    38

    TABELA 12 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao TC15

    39

    TABELA 13 Nmero total de arremessos dos judocas na situao TC15

    39

    TABELA 14 Diferenas entre [Lac] nas situaes propostas no estudo

    40

    TABELA 15 Indicadores morfolgicos e de desempenho e nvel de significncia entre as diferenas dos grupos de judocas nas situaes propostas no estudo

    40

    TABELA 16 Indicadores internos e nvel de significncia entre as diferenas dos grupos de judocas nas situaes propostas no estudo

    41

    TABELA 17 Correlaes entre indicadores externos e internos 41

    TABELA 18 Reprodutibilidade do TC3 com as trs primeiras sries do TC15 43

  • xxiii

    LISTA DE APNDICES E ANEXOS

    Pgina

    APNDICE A Grupo de pesquisa 58

    APNDICE B Situao 1 SJFT 59

    APNDICE C Situao 2 Luta 60

    APNDICE D Situao 3 TC3 61

    APNDICE E Situao 4 TC15 62

    APNDICE F Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 63

    APNDICE G Questionrio sobre a vida desportiva do atleta de jud 65

    ANEXO A Parecer Comit de tica em Pesquisa (FCM-UNICAMP) 66

  • xxv

    LISTA DE SIGLAS e ABREVIATURAS

    FIJ

    Federao Internacional de Jud (em ingls, IJF)

    RAA

    Reserva Atual de Adaptao

    TC3

    Teste de Controle com 3 sries de arremessos

    TC15

    Teste de Controle com 15 sries de arremessos

    SJFT

    Special Judo Fitness Test

    TL

    Tempo de Luta (Luta em P + Luta no Solo)

    TLS

    Tempo de Luta no Solo

    TR

    Tempo de Recuperao

    GS

    Golden Score

    ATP-CP

    Sistema Adenosina Tri-Fosfato + Fosfocreatina

    [Lac]

    Concentrao do Lactato Sanguneo

    DP

    Desvio-Padro

    NADH

    Nicotinamida Adenina Dinucleotdeo

    NAD+

    Forma oxidada do NADH

    H+

    ons de hidrognio

    pH

    Potencial de Hidrognio Inico (indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer)

    H2O

    Molcula de gua

    ADP

    Adenosina Di-Fosfato

    Pi

    Fosfato Inorgnico

    LDH

    Enzima Lactato Desidrogenase

    MCT

    Transportadores de Monocarboxilato (Lactato)

  • xxvii

    VO2mx Volume de Captao Mxima de Oxignio

    bpm

    Batimentos Por Minuto

    FC

    Freqncia Cardaca

    CO2

    Gs Carbnico

    MI

    Membros Inferiores

    MS

    Membros Superiores

    VLAn

    Velocidade no Limiar Anaerbio

    FCpr Freqncia Cardaca Pr-Esforo

    FCps

    Freqncia Cardaca Ps-Esforo

    FC1ps

    Freqncia Cardaca 1 minuto Ps-Esforo

    MC

    Massa Corporal

    kg

    Quilogramas

    m

    Metros

    Alt

    Estatura

    FCA-B

    Freqncia Cardaca entre Sries A e B do SJFT

    FCB-C

    Freqncia Cardaca entre Sries B e C do SJFT

    T0, , T5

    Momentos de coleta do sangue para anlise da [Lac]

    L

    Microlitros

    [Lac] Pico Aj

    Concentrao de Lactato Pico Ajustado

    S1, ..., S15

    Sries de Arremessos do TC3 e TC15

    CCI

    Coeficiente de Correlao Intraclasse

    IC Intervalo de Confiana

    1RM Teste de 1 Repetio Mxima

  • xxix

    SUMRIO Pgina

    1 INTRODUO

    1

    2 OBJETIVOS

    4

    3 REVISO DE LITERATURA 5 3.1. Caracterizao da modalidade 5 3.1.1. Estrutura temporal da luta de jud 6 3.1.2. Metabolismo energtico envolvido em combates de jud 8 3.1.2.1. Lactato: produo, metabolismo e perspectivas de anlise da capacidade

    anaerbia 10

    3.2. Teoria do Treinamento 13 3.2.1. Conceito de Adaptao ao Treinamento 14 3.3. Processo de Controle do Treinamento como parte da preparao do atleta 15 3.3.1.Avaliao da capacidade aerbia 16 3.3.2. Avaliao da capacidade anaerbia 20 3.3.3. Avaliao motora especfica do jud 21 3.3.4. Critrios para elaborao de testes 23 3.3.4.1. Validade do teste 23 3.3.4.2. Fidedignidade do teste 25

    4 MATERIAL E MTODOS 25 4.1. Sujeitos da pesquisa 26 4.2. Procedimentos de utilizao do aparelho Yellow Springs 1500 Sports 27

    4.3. Special Judo Fitness Test (SJFT) 27 4.4. Luta 27 4.5. TC3 e TC15 28 4.6. Delineamento do protocolo de avaliao 29 4.7. Anlise da Concentrao do Lactato Sanguneo 29 4.8. Anlise Estatstica

    30

    5 RESULTADOS 33 5.1. Caracterizao do grupo de trabalho 33 5.2. Situao 1 Special Judo Fitness Test (SJFT) 34 5.3. Situao 2 Luta 35 5.4. Situao 3 TC3 37 5.5. Situao 4 TC15 38 5.6. Diferena entre [Lac] nas situaes propostas 40 5.7. Testes de diferenas entre grupos 40 5.8. Correlaes entre indicadores externos e internos 41 5.9. Concordncia dos testes 42 5.10. Fidedignidade do TC3 43

  • xxxi

    Pgina

    6 DISCUSSES

    44

    6.1. Grupos de judocas 44 6.2. Desempenho nos testes SJFT, TC3 e TC15 44 6.3. Correlaes e concordncia entre desempenho nos testes SJFT, TC3 e TC15 46 6.4. Correlaes entre desempenho na Luta e testes 46 6.5. Correlaes entre [Lac] pico ajustado nas situaes SJFT, Luta, TC3 e TC15 47 6.6. Correlaes entre [Lac] Pico Ajustado e desempenho 48 6.7. Fidedignidade do TC3

    49

    7 CONCLUSES

    50

    8 REFERNCIAS

    52

    9 APNDICES E ANEXOS

    58

  • 1

    1. INTRODUO

    No atual cenrio desportivo de alto nvel, as crescentes preocupaes acerca da

    racionalizao dos meios e mtodos de preparao dos atletas, levaram os pesquisadores da

    cincia do treinamento desportivo a procurar regras gerais e especiais do processo de adaptao a

    longo prazo dos atletas s condies da atividade desportiva competitiva e dinmica da

    condio do atleta, em funo da carga de treinamento proposta a ser desenvolvida. A anlise de

    variveis qualitativas e quantitativas ao longo do processo de treinamento dos atletas de alto nvel

    contribuiu, em parte, para responder a certos questionamentos em torno dos princpios do

    treinamento desportivo contemporneo.

    No caso do jud, observa-se uma evoluo significativa dos resultados

    competitivos de pases como Rssia, Frana e Cuba, comparada ao Japo, que detm a

    hegemonia dentro do jud mundial, possivelmente, em virtude da crescente preocupao dos

    tcnicos dos pases citados em buscar solues tericas e prticas para a construo de uma

    programao de treinamento que possa suprir as necessidades atuais do desporto de alto nvel.

    A pesquisa do treinamento desportivo de jud brasileiro deve buscar essas

    solues, porm, fato que tais indicativos no so construdos em curto prazo. A realidade

    desportiva nacional mostra grande potencial dos nossos atletas, que poderia ser explorado de

    maneira mais sistematizada, tendo em vista as dificuldades em conseguir: primeiramente, apoio

    instrumental para a execuo da programao de treinamento proposto. Em segundo, a

    implementao de um plano elaborado em bases cientficas; tais dificuldades derivam da cultura

    conservadora que prevalece no desporto. Nesse novo panorama do desporto de alto rendimento, a

    nova gerao de tcnicos, que pela formao acadmica, deve conciliar os conhecimentos de

    profissionais j renomados em nosso pas, para que sejam propostas novas solues estruturadas

    em conformidade com a complexidade do desporto atual.

    Os passos a serem trilhados na concepo de um processo estruturado de

    sistematizao do treinamento desportivo nacional podem ter exemplos de pases como Cuba

    que, apesar de uma estrutura econmica frgil, dispem de ferramentas prticas, que podem ser

    teis nesse contexto, conseguindo ainda hoje, resultados expressivos internacionalmente.

    Em informaes colhidas no site da Federao Internacional de Jud (IJF

    www.ijf.org), a preocupao atual de boa parte dos tcnicos de jud est em como controlar os

  • 2

    nveis de rendimento desportivo dos atletas desde as etapas de iniciao, at atingir o nvel da

    maestria desportiva. Fandino (2001) ressaltou, durante apresentao no 2 Congresso Mundial de

    Jud da IJF, que Cuba possui um programa de deteco de talentos, na qual os alunos em fase

    escolar so avaliados, dentro de uma faixa etria que varia de 7 a 12 anos, sendo as variveis

    fisiolgicas avaliadas, em conjunto com o desempenho em testes gerais de campo (como

    exemplo: salto vertical, corrida de 800 metros, entre outros), considerando que tais dados

    indicariam bom nvel de desempenho futuro dos avaliados.

    Como possvel observar, a realidade da aplicabilidade de testes gerais na

    situao em que foi apresentada, nos d a dimenso do processo que formar um atleta de nvel

    internacional. Como defendida pelos cientistas do desporto, a especificidade de um atleta

    determinada em longos anos de treinamento, onde as cargas so ministradas procurando explorar

    a chamada reserva atual de adaptao (RAA) do organismo ao treinamento

    (VERKHOSHANSKY, 1990). As tarefas nas quais o atleta, que est direcionado para o alto

    rendimento, dever estar apto a cumprir, devem ser programadas de modo que sua evoluo

    desportiva respeite as manifestaes adaptativas do organismo ao estresse provocado pela

    aplicao das cargas de treinamento.

    Encontrar um atleta que possa atender as necessidades do atual desporto de alto

    nvel uma tarefa difcil, mas com certeza, programar esse atleta para que possa render o

    mximo de suas capacidades fsicas, tcnicas e psicolgicas, requeridas no desporto praticado,

    uma tarefa ainda mais complexa. Assim, se fazem justas todas as procuras, por parte dos

    pesquisadores do desporto, de respostas aos atuais problemas em torno do treinamento desportivo

    de elite.

    Posto isto, observa-se as reais preocupaes dos tcnicos de jud no mundo em

    saber no s as potencialidades dos atletas, mas tambm como realizar intervenes durante o

    processo, onde a qualidade do treinamento a ser realizado seja pea fundamental na programao

    de treinamento (FANDINO, 2001).

    Os tericos do treinamento desportivo, como Matveev (1980), Verkhoshansky

    (1990) e Zakharov (1992), comentaram sobre vrios aspectos estudados intensamente nessa rea

    do conhecimento durante a existncia da antiga Unio Sovitica, com respeito ao treinamento de

    alto nvel de desportos de luta. Isso colaborou para uma construo da teoria do treinamento da

    luta, embora tais informaes precisem, dentro das devidas propores, ser adaptadas ao que

  • 3

    ocorre especificamente no jud, visto que os pases componentes do antigo bloco sovitico

    tambm so expoentes no desporto.

    Bondarchuk apud Gilad (2002) cita que nos desportos ligados ao

    desenvolvimento da fora explosiva, possvel encontrar pelo menos um grupo de cinco atletas

    com diferentes caractersticas quanto converso dos ganhos de treinamento em capacidade

    competitiva propriamente dita. Para cada tipo necessrio: planejamento especfico para

    desenvolver a melhor performance e mtodos diagnsticos para determinar em qual planejamento

    cada atleta se encaixa; com isso, o tcnico tem maiores condies de controlar os diversos planos

    de treinamento individual dentro da programao mais generalizada.

    fato que, conforme a cincia do desporto evolui, surgem novos problemas

    dentro do contexto apresentado. Com o jud no diferente, visto a sua natureza desportiva, que

    de difcil avaliao. Conforme Verkhoshansky (1990, p. 29), o jud sendo uma luta, pode ser

    considerado como desporto combinado, caracterizado por uma elevada variabilidade de aes

    motoras em condies de fadiga compensada e de trabalho de intensidade varivel. Posto isso,

    pode-se pensar como um desporto no qual as situaes de combate so diversas, porm, existem

    certos pontos que podem ser esclarecidos, atravs de padres de combate dos judocas e da

    estrutura temporal da luta.

    A regulao de tais variveis realmente se torna um problema de grande

    extenso para os tcnicos, pois fato que controlar o treinamento do judoca no tarefa fcil;

    reproduzir dentro do treinamento a realidade competitiva do jud se tornou um desafio, que deve

    ser respondido altura da potencialidade do desporto brasileiro.

    Por isso, a busca na concepo de instrumentos prticos de controle do

    treinamento de jud se faz necessrio, para que as verdadeiras possibilidades do judoca possam

    ser mensuradas. Com isso, concebe-se de maneira precisa o rendimento desportivo em funo da

    aplicao de cargas de treino estruturadas de maneira racional, otimizando, assim, as capacidades

    fsicas inerentes modalidade. Nessa tarefa, o desenvolvimento de Testes de Controle em Jud

    aparece como real condio em se idealizar tal ferramenta, e nessa proposta, est fundamentado o

    atual projeto de trabalho com o desporto jud.

    O nico mtodo existente validado para o controle de treinamento em jud

    oriundo dos estudos conduzidos por Sterkowicz (1995) apud Franchini et al. (1999), onde se

    procurou estruturar modelo de avaliao baseado no nvel de esforo, avaliado em uma tarefa

  • 4

    fechada, utilizando como variveis o nmero de golpes aplicados em tempo definido (em trs

    sries de 15, 30 e 30 segundos, respectivamente), e a freqncia cardaca (FC) ps-esforo, para o

    clculo do ndice que determina o nvel de rendimento do atleta.

    Porm, dentro dos estudos direcionados neste projeto de pesquisa,

    considerando-se os referenciais tericos, existem certos pontos que fogem especificidade do

    desporto, como deslocamentos em forma de corrida, no condizentes com o observado na

    modalidade. Tais aspectos so tratados com grande nfase pelos cientistas do desporto, como

    Kuznetsov (1986), Verkhoshansky (1990), Matveev (1980, 1996), Bompa (1999) e Zatsiorsky

    (1999), procurando levar o Princpio da Especificidade como um dos pontos fundamentais na

    estruturao de elementos que possam ser vlidos na avaliao e prescrio do treinamento de

    atletas de alto nvel.

    Desta forma, o presente projeto de trabalho est nesta procura: definir novo

    mtodo de avaliao de rendimento do atleta, levando-se em considerao fatores como demanda

    metablica, estrutura temporal observada em combates e utilizao de alavancas especficas

    empregadas na luta.

    2. OBJETIVOS

    O objetivo principal do presente trabalho, levando em conta as metas atingidas

    em pesquisas conduzidas durante o projeto-piloto, problematizar o processo de controle do

    treinamento do jud de alto nvel, de acordo com a teoria contempornea. Com tais elementos,

    elaborar propostas de novos mtodos de controle, em face s evidncias observadas na obteno e

    discusso dos dados a serem coletados nas situaes propostas.

    Dentro do estudo, ainda sero observadas outras situaes, a considerar:

    1) se as situaes de testes sugeridas (TC3, TC15 e SJFT) discriminam atletas de diferentes

    nveis competitivos;

    2) se as situaes de testes aplicadas mostram relao com a situao de Luta, em funo dos

    indicadores externos (desempenho nos testes e Luta) e interno (concentrao do lactato

    sanguneo), evidenciando se possvel reproduzir o esforo de exerccio competitivo em

    teste especfico;

  • 5

    3) se os novos testes propostos no presente trabalho (TC3 e TC15) possuem validade e

    fidedignidade, frente ao SJFT, levando em conta esse teste como sendo o nico validado

    dentro da literatura.

    O presente trabalho est alicerado no seguinte contexto: saber o que acontece

    com o judoca, no contexto biolgico e das capacidades biomotoras especficas, com

    embasamento cientfico, tem maior validade para ser utilizado com ferramenta no processo de

    treino do atleta.

    3. REVISO DE LITERATURA

    3.1. Caracterizao da modalidade

    Quando se trata do desporto de combate, logo se relacionam duas caractersticas

    inerentes modalidade: esforo intermitente de alta intensidade e elevada demanda energtica

    pelo metabolismo glicoltico.

    Quanto s caractersticas fsicas gerais, descreve-se o jud como modalidade

    com nvel tcnico-ttico elaborado, onde a capacidade e potncia aerbia e anaerbia, fora e

    flexibilidade so determinantes para o sucesso competitivo (LITTLE, 1991). Dentro dessa

    afirmao, possvel refletir que o desenvolvimento da flexibilidade pode ser importante em

    alguns aspectos, como o trabalho na luta de solo, porm, no parece ser possvel que seja

    determinante para o sucesso competitivo.

    Alm das capacidades fsicas desenvolvidas, sugere-se tambm que o atleta de

    jud deve possuir os processos metablicos, principalmente a via glicoltica, adaptados ao

    esforo especfico, tendo como suporte boa capacidade aerbia, durante o combate (THOMAS et

    al., 1989).

    Posto isso, buscou-se caracterizar a modalidade jud, frente a dois contextos:

    tempo de esforo competitivo e metabolismo energtico correspondente, sendo que tais variveis

    sero norteadores no pensamento a respeito do presente trabalho.

  • 6

    3.1.1. Estrutura temporal da luta de jud

    A luta de jud, quando analisada em relao sua estrutura temporal, mostra

    seqncias de eventos, que se sucedem de acordo com o esquema representado na figura 1:

    1) os oponentes no esto em contato;

    2) os lutadores entram em contato, tentando estabilizar uma pegada (situao tcnica

    denominada briga de pegada);

    3) tentativa de golpe por parte de um dos judocas;

    4) mesmo o golpe sendo ou no pontuado, existe a possvel continuao da luta no solo;

    5) dependendo da situao apresentada, o juiz permite ou no o prolongamento dessa

    situao, sendo que a sua interveno possibilita o momento de recuperao parcial dos

    atletas, durante a volta s marcas iniciais para a continuao do combate.

    Tempo de luta em tachi waza (luta em p)

    Tempo de luta em n waza (luta no solo)

    Recuperao entre cada interveno de luta

    FIGURA 1 Desenho esquemtico da estrutura temporal do combate de jud. Fonte: ROSA (2000).

    Ao analisar as formas de luta, possvel distinguir tticas de combate que

    podem mostrar uma configurao diferente da mostrada no esquema acima. Alguns judocas usam

    de determinadas tcnicas que no necessariamente precisam ter uma pegada estabilizada (dentro

    do meio judostico chamamos de pegada clssica, ou seja, pegada na manga e gola do

    adversrio).

    Alm disso, determinadas tticas podem variar conforme o andamento da luta,

    Combate de jud (tempo determinado pela faixa etria)

  • 7

    como por exemplo, o placar a favor ou contra. Os perodos de tempo nos quais essas seqncias

    de evento acontecem so amplamente variados, sugerindo uma das caractersticas marcantes do

    desporto de combate: a imprevisibilidade. As situaes do combate podem estender um ou mais

    momentos como os acima descritos, e gerar inmeras possibilidades, seja atacando ou

    defendendo.

    Com a combinao desses eventos, sugere-se que o jud tem como

    caracterstica o trabalho intermitente, com tempos de luta e recuperao variveis. Tais

    evidncias so encontradas na literatura e apresentadas no quadro 1, com dados que descrevem a

    estrutura temporal da luta de jud. Entre eles, esto alguns dos estudos conduzidos como parte do

    plano-piloto do presente trabalho.

    Essa estrutura temporal foi objeto de estudo em diversas situaes competitivas,

    com atletas de diferentes idades e nveis competitivos, onde os tempos de cada interveno

    (tempo de luta, ou TL entendido como tempo de luta em p e no solo como um todo; tempo de

    recuperao, ou TR; tempo de luta no solo, ou TLS), possibilitam predizer a demanda de trabalho

    competitivo decorrente dessa configurao para cada nvel.

    QUADRO 1 Estrutura temporal do combate de jud (em segundos)

    Autores (nmero de lutas) TL TR TLS Sikorski et al. (1987) 30,0 13,0 -

    Monteiro (1995) Europeu Jnior (140) 1 min 2 min 3 min 4 min 5 min

    25,8 7,8 27,0 9,0 27,0 9,7 22,4 9,3 18,9 10,4

    9,5 3,2 10,4 4,5 13,4 7,6 13,2 7,3 13,9 9,0

    - - - - -

    Castarlenas e Planas (1997) Campeonato Mundial e Olmpico (144)

    18,00 8,50

    12,4 4,1

    -

    Sterkowicz e Maslej (1998) Campeonato Polons (92) 18,90 13,16

    10,32 10,44

    15,79 14,26

    Rosa (2000) Paulista Jr. (95) 20,70 12,40

    11,20 8,50

    11,40 11,20

    Silva (2002) Regional Brasileiro (20) 20,50 11,30

    - 8,70 6,30

    Rosa et al. (2003) Seletiva Brasil Mundial 2003 (42) 30,41 20,69

    7,41 5,19

    9,51 7,28

    Obs.: Valores expressos em mdia desvio-padro (DP).

  • 8

    O atual problema da preparao fsica recai na nova regra do Golden Score

    (GS), instaurada no ano de 2002, que aumenta o tempo possvel de luta de 5 para 10 minutos. Os

    dados disponveis na literatura, at o momento, diziam respeito regra vigente, ou seja, eram

    esforos competitivos de, no mximo, 5 minutos de durao.

    Rosa et al. (2003) constataram, em estudo realizado com judocas brasileiros de

    alto nvel, que em todas as fases da luta (TL, TR e TLS), no houve diferena estatisticamente

    significante entre lutas em que ocorreu ou no ocorreu GS. Os autores concluram que devido ao

    GS, as alteraes dos contedos das cargas especficas de treino devem ocorrer, buscando

    otimizar racionalmente o rendimento desportivo nessa nova realidade encontrada na competio:

    o observado aumento do tempo total de combate.

    Porm, em observaes no site www.ippon.org, onde esto disponveis todas as

    informaes sobre os tempos de combate do ltimo Campeonato Mundial de Jud, realizado em

    2005, no Cairo (Egito), notada a baixssima ocorrncia do GS nos combates de jud de alto

    nvel. Na categoria masculina, foram realizados 451 combates, sendo que em 280 lutas (62 % do

    total) ocorreram ippon, e apenas em 3 combates ocorreu GS. Na categoria feminina, em 310 lutas

    realizadas, 190 (61 % do total) finalizaram com ippon, e em 5 lutas ocorreu GS.

    Levando em conta tais indicativos, a nova regra do GS parece no ter afetado a

    dinmica da luta, no que diz respeito ao aumento do volume de trabalho competitivo, j que

    ocorre em pequena parcela em relao ao total de lutas.

    3.1.2. Metabolismo energtico envolvido em combates de jud

    A estrutura temporal, acima descrita, permite dizer que o esforo fsico gerado

    em combates de jud desenvolvido em momentos alternados de alta intensidade de esforo, que

    duram em torno de 15 a 20 segundos, com intervalos ativos de recuperao, que duram de 5 a 10

    segundos.

    Com relao natureza da demanda metablica de tal atividade, os momentos

    de mxima exigncia podem ser desenvolvidos s custas do metabolismo anaerbio (sistema

    ATP-CP e glicoltico), com pequena contribuio do sistema aerbio durante o exerccio, visto

  • 9

    em trabalhos cclicos intermitentes de alta intensidade, analisados em movimentos no-

    especficos do jud (GAITANOS et al., 1993; BOGDANIS et al., 1996; TABATA et al., 1997).

    Na literatura especfica, existe certo consenso quanto ao seguinte fato: o jud

    possui atividades motoras sustentadas, principalmente, pela capacidade anaerbia ltica, devido

    ao trabalho de alta intensidade, com pausas muito curtas (TAYLOR E BRASSARD, 1981;

    THOMAS et al., 1989; CALLISTER et al., 1990; CALLISTER et al., 1991); por ser indicador

    sistmico da atividade glicoltica, as concentraes de lactato sanguneo encontrados em

    combates de jud so alteradas em relao aos valores de repouso, de acordo com os estudos

    abaixo citados, evidenciando a participao dessa via no suporte energtico para o trabalho

    muscular desenvolvido em lutas de jud.

    Alguns estudos esto descritos no quadro 2, com dados sobre a concentrao do

    lactato sanguneo ([Lac]) aps eventos competitivos propriamente ditos e combates simulados

    (randori).

    QUADRO 2 Concentrao do lactato sanguneo em situaes especficas do jud

    Autor Situao [Lac] (mmol.l-1) (Mdia DP)

    Sikorski et al. (1987) Competio De 10,0 5,0 a 17,0 2,0 (1)

    Callister et al. (1990) Randori (intervalado) 8,9 0,5

    Callister et al. (1991) Randori (intervalado) 9,1 1,1

    Cavazani (1991) Competio 10,56 3,04

    Franchini et al. (1998) Randori (uma simulao) 10,95 3,27 (2); 10,68 1,19 (3); 11,77 3,93 (4)

    Degoutte et al. (2003) Randori 12,3 1,8 (1) lutas de diferentes fases da competio; (2) judocas da classe Juvenil; (3) judocas da classe Junior; (4) judocas da classe Snior.

    evidente que as outras vias de obteno de energia para o trabalho muscular

    so importantes, visto que as atuais concepes sugerem um novo aspecto quanto aos processos

    de obteno energtica, j que no possvel mais levar em conta o sistema linear de

    desenvolvimento dos processos de ressntese do ATP. A participao em diversas parcelas das

    diferentes fontes energticas, em conjunto com o sistema de transporte de CP atravs da

  • 10

    membrana mitocondrial para o sarcoplasma, garantiria a disponibilidade de energia necessria

    para esforos consecutivos de curta durao e de curta recuperao (VERKHOSHANSKY,

    1990).

    Tais disposies vo de encontro ao que comumente observado em combates

    de jud. Em estudo recente a respeito do metabolismo especfico da luta de jud, Degoutte et al.

    (2003) analisaram a demanda de energia aps combate de jud e a cintica de recuperao dos

    compostos do ciclo das purinas e das vias glicoltica e oxidativa. As concentraes de lactato

    sanguneo ([Lac]) aumentaram para 12,3 1,8 mmol.l-1 aps a luta, com retorno aos valores de

    base aps 1 hora; marcadores do catabolismo protico, como a uria e cido rico, mantiveram-se

    alterados desde o momento aps o combate, at o perodo de 24 horas. O metabolismo de

    triglicrides, cidos graxos e glicerol tambm tiveram alteraes significantes (p < 0,05) durante

    perodo de 24 horas. Os autores concluram que a concentrao de carboidratos, nvel de

    treinamento e estresse metablico podem ter contribudo para a necessidade de explorao das

    diferentes vias de obteno de energia.

    Tais evidncias mostram a citada no-linearidade dos eventos bioqumicos

    inerentes obteno de energia, j que todas as vias foram evidentemente utilizadas para

    sustentar o esforo decorrente do combate de jud. Alm disso, importante salientar fato

    importante: essas medidas so decorrentes de um nico combate, permitindo induzir que em

    eventos competitivos, o desgaste pode ser maior. Em lutas de alto nvel, so necessrios, pelo

    menos, quatro combates para se chegar fase final.

    Posto isso, as perspectivas de utilizao de marcadores internos devem servir

    como suporte em estudos dentro do jud, na tentativa de mostrar relaes entre suas alteraes e

    o desempenho em tarefas especficas ou competitivas propriamente dita. Sendo assim, sero

    abordados no item a seguir os referenciais tericos a respeito do lactato, pois possibilitaro dar

    um panorama mais adequado frente aos protocolos de anlise desse substrato, que ser o

    marcador interno explorado dentro do presente estudo.

    3.1.2.1. Lactato: produo, metabolismo e perspectivas de anlise da capacidade anaerbia

    Toda a energia necessria para o exerccio provm dos alimentos que so

  • 11

    consumidos diariamente, na forma de trs substncias orgnicas bsicas, ou macronutrientes:

    carboidratos, lipdeos e protenas. A oxidao desses nutrientes d condies para que se obtenha

    o ATP, que a moeda de troca do nosso organismo para a manuteno de suas funes vitais.

    O nosso corpo possui uma parcela quantitativamente maior de carboidratos, na

    forma de glicose. Sem dvida, o maior fornecedor de energia para o organismo, sendo, por

    exemplo, utilizado exclusivamente por clulas sanguneas e nervosas (McARDLE et al., 2003).

    Para a obteno do ATP a partir da glicose, as clulas realizam a oxidao parcial at piruvato;

    esse processo qumico denominado gliclise.

    Ao iniciar o trabalho muscular, o corpo lana mo do sistema ATP-CP para

    manter o trabalho no mximo de rendimento, porm, esse processo prolonga-se por poucos

    segundos. Assim, medida que o exerccio continua, a gliclise torna-se parte principal do

    processo de obteno do ATP, com queda do desempenho fsico (MARZZOCO E TORRES,

    1999).

    Quando a atividade fsica de alta intensidade, como acontece nas lutas de

    jud, o oxignio pode se tornar insuficiente para promover a oxidao de grande quantidade de

    NADH (coenzima aceptora de prtons e eltrons durante a oxidao da glicose at piruvato).

    Assim, a oxidao de NADH pelo piruvato gera o lactato, permitindo assim, que continue

    ocorrendo a regenerao de NAD+ (forma oxidada do NADH) para obteno do ATP. Na medida

    que o exerccio intenso, a parcela de provimento de ATP atravs da glicose se d de forma

    anaerbia, com acmulo de lactato no msculo e aumento da concentrao de H+. Assim, pode-se

    definir a gliclise anaerbia como uma via que converte glicose a lactato e aproveita uma parte

    da energia derivada desta transformao para sintetizar ATP (MARZZOCO E TORRES, 1999).

    Como a caracterstica do exerccio desportivo do judoca intervalada, com

    curtas pausas durante a luta, os mecanismos aerbios (como a prpria gliclise, porm, em maior

    parcela aerbia) contribuem em determinada parcela na obteno do ATP, parcela essa difcil de

    ser definida, em funo da complexidade do exerccio competitivo do jud, devido a alternncias

    na mobilizao muscular e de esforo durante o combate.

    Levando em conta tais pressupostos, o lactato passa a ser uma forma de

    substrato que pode prover uma parcela considervel de ATP para o organismo em exerccio

    intenso. Durante o exerccio intenso, como observado no jud competitivo, o aumento da

    concentrao de lactato no msculo e no sangue e a diminuio coincidente do pH em ambos

  • 12

    tecidos, tm sido explicados como causas de queda do rendimento fsico e fadiga (FITTS, 1994).

    No incio do descobrimento da molcula de lactato, havia pouco conhecimento

    sobre o comportamento qumico de cidos-bases quanto ionizao de cidos no tradicionais,

    bem como o funcionamento da mitocndria como tampo de prtons (ROBERGS et al., 2004).

    Simplesmente, leva-se em conta a relao causa-efeito: se havia uma grande concentrao de

    lactato sanguneo, ele era considerado como o causador da fadiga.

    Na gliclise, quando no h formao de lactato, h a liberao de dois prtons

    para o meio, que se juntam aos prtons liberados na hidrlise do ATP pelas miosinas

    responsveis pela contrao muscular. Quando o exerccio de baixa intensidade, os sistemas de

    tamponamento intramuscular do conta dos prtons liberados pela hidrlise do ATP e pela

    gliclise, no havendo formao de lactato, nem reduo do pH. Nesta condio, os prtons

    servem como substrato mitocondrial, que os utiliza na formao do gradiente de prtons da

    cadeia de transporte de eltrons e de molculas de H2O.

    Com o aumento da intensidade do exerccio, como ocorre durante o combate de

    jud, aumenta-se a taxa de hidrlise do ATP e o concomitante aumento da via glicoltica, pelo

    acmulo de efetores estimuladores da gliclise como ADP e Pi.

    Neste ponto, comea a haver o aumento do piruvato e do NADH, que ativam a

    enzima equilbrio dependente lactato desidrogenase (LDH), no sentido da formao de lactato

    (consumindo um prton) e reoxidando o NADH em NAD+. Com isso, a formao de lactato

    auxilia os sistemas de tamponamento intracelular, contribuindo tambm com a retirada de prtons

    da clula ao ser transportado por protenas de membrana especficas (transportadores de

    monocarboxilato - MCTs), que colocam para fora da clula H+ em co-transporte com o lactato.

    Como a reao da LDH equilbrio dependente, quanto mais lactato se retira da

    clula, mais a sua formao ser favorvel e maior ser a retirada de prtons do meio. A acidose

    ocorrer quando a intensidade do exerccio chegar a um ponto de saturao dos MCTs, e a no

    retirada eficiente do lactato vai favorecer o seu acmulo na clula diminuindo sua formao

    sendo, neste caso, conseqncia e no causa de acidose.

    Por isso, melhor capacidade de remoo leva a um concomitante aumento na

    formao de lactato o que retarda a acidose metablica, alm de reoxidar o NADH e escoar os

    substratos da gliclise mantendo sua atividade e fornecendo ATP para o sistema de contrao

    muscular numa taxa mais alta. A mxima capacidade de remover o lactato e, conseqentemente

  • 13

    produzi-lo, sem a limitao de altas concentraes dentro da clula muscular, propicia a

    manuteno da via glicoltica, que pode se resumir a um novo conceito de capacidade anaerbia.

    Tal conceito tem como ponto de partida a anlise da cintica da concentrao

    do lactato sanguneo ps-exerccio. Levando em conta as recentes descobertas dos mecanismos

    de funcionamento dos MCTs e seu desenvolvimento em funo do treinamento de resistncia

    (BONEN, 2000; PILEGAARD et al., 1999), o presente estudo levar em conta tais observaes,

    para atestar se pode ser possvel analisar a capacidade anaerbia atravs do protocolo

    desenvolvido, ao observar as concentraes pico de lactato sanguneo durante o processo de

    recuperao dos judocas.

    3.2. Teoria do Treinamento

    O conceito da Preparao Fsica Especial, preconizado por diferentes cientistas

    do desporto (MATVEEV, 1980, 1996; VERKHOSHANSKY, 1990; ZAKHAROV, 1992;

    ZATSIORSKY, 1999; BOMPA, 1999) tem sido amplamente desenvolvido dentro do contexto

    desportivo nacional. As pesquisas sobre aplicaes de diferentes mtodos de periodizao em

    atletas de diversas modalidades (OLIVEIRA, 1998; CAMPEIZ, 2001; TOLEDO, 2002;

    MOREIRA, 2002; RIZZOLA NETO, 2004), mostram que os desportos de combate tambm

    deveriam ganhar ateno dentro dessa perspectiva.

    Dentro desses trabalhos cientficos, observou-se a relao das diferentes

    caractersticas de determinada modalidade, com meios e mtodos de treinamento aplicados, para

    o desenvolvimento das capacidades fsicas, como velocidade, resistncia e fora; ou seja, toda a

    programao em funo da maior aproximao possvel com a realidade desportiva.

    Para o jud, o desenvolvimento dessas trs capacidades acima citadas estaria

    totalmente envolvido com o desenvolvimento tcnico-ttico inerente luta, atravs da aplicao

    racional dos meios e mtodos de treinamento especficos. O aumento do desempenho competitivo

    deve ser conseguido atravs desse treinamento especial, procurando a adaptao do organismo do

    atleta a condies desportivas.

    Em se tratando de adaptao, devem ser citados conceitos fundamentais a

    respeito dessa terminologia. Quando se fala em meios e mtodos de treinamento e sua sucesso

  • 14

    dentro do ciclo de treino, esse termo deve sustentar todo pensamento sobre o desenvolvimento da

    condio desportiva do atleta de alto nvel.

    3.2.1. Conceito de Adaptao ao Treinamento

    As adaptaes do organismo, em funo da sucesso das cargas de treinamento,

    foram primeiramente conceituados em estudos de Selye (1952), sobre a sndrome geral de

    adaptao. O aumento do rendimento est de acordo com mudanas funcionais, promovidas em

    funo da aplicao de sobrecarga 1, envolvida durante o processo de treinamento do atleta. Essa

    alterao est intimamente ligada aos processos biolgicos em diferentes nveis, do celular ao

    organismo como um todo.

    Este conceito base das idias sobre a metodologia do treinamento desportivo

    contemporneo. Para Verkhoshansky (1990), adaptao definida como fenmeno de

    adequao, que se caracteriza por reaes globais do organismo, nos quais se refletem as

    particularidades das aes externas (sobrecarga) que so exercidas sobre o atleta. fato que essa

    adaptao, conduzida atravs do treinamento, s possvel pela influncia dos diferentes meios

    de treino, procurando explorar a reserva de adaptao do desportista, para otimizar mudanas

    funcionais positivas no rendimento desportivo.

    Para Zatsiorsky (1999), a palavra adaptao, num sentido mais amplo, significa

    o ajustamento do organismo ao seu meio ambiente. Para o atleta, o trabalho fsico regular o

    meio que potencializa as mudanas adaptativas em seu organismo, sendo que quatro

    caractersticas bsicas so norteadoras no processo de treinamento: sobrecarga, acomodao,

    especificidade e individualidade.

    Posto isso, ao pensar no treinamento desportivo aplicado luta, num sentido

    amplo, a direo do processo de programao e organizao das cargas de treinamento deve

    partir do seguinte pressuposto: os desportos de combate possuem tcnica e ttica especfica, em

    funo das particularidades encontradas em cada modalidade.

    1 Dentro da literatura, o termo sobrecarga amplamente utilizado pelos autores, dando a entender como a sucesso dos efeitos do treinamento. Porm, dentro do contexto do presente trabalho, o termo carga parece mais adequado, em funo de que o atleta se sujeitaria a foras externas que seriam possveis de serem suportadas durante uma unidade de treinamento, sem levar em conta a sucesso delas.

  • 15

    Nos desportos olmpicos 2, como o jud, luta livre, luta greco-romana, boxe e

    tae-kwon-do as caractersticas vo do extremo contato corporal, com projees e imobilizaes

    (no caso das trs primeiras), socos (como no boxe) e combinao de chutes e socos (tae-kwon-

    do), como forma de obter pontos ou via mais rpida para finalizar o combate, como nocaute, ou o

    ippon que ocorre no jud.

    Ainda assim, o ponto fundamental desses tipos de combate est na sucesso de

    esforos intermitentes complexos (devido ao repertrio motor de cada luta, com diferentes tipos

    de golpes), e a alta intensidade de esforo, na tentativa de subjugar o adversrio, dentro das regras

    vigentes em cada desporto.

    Por isso, os mtodos de treinamento devem estar centrados no desenvolvimento

    de golpes velozes, realizados sempre em fundo de fadiga, devido alternncia dos esforos

    durante o combate.

    Os diferentes meios de treinamento e combinaes de aplicao dessas cargas

    geram efeitos adaptativos positivos ou negativos ao organismo do atleta. Sendo assim,

    necessrio saber o potencial de estmulo dos exerccios aplicados, pois a sucesso desses

    exerccios gerar a elevao ao mximo possvel das possibilidades motoras do desportista.

    Para isso, devem-se possuir instrumentos prticos na tentativa de estabelecer

    nveis de condio fsica, em funo do controle do treinamento desportivo, como parte

    integrante do processo de treino.

    3.3. Processo de Controle do Treinamento como parte da preparao do atleta

    De acordo com Verkhoshansky (1990), o processo de treinamento possui trs

    pontos fundamentais que devem ser bem orientados, para que se obtenha o sucesso competitivo, a

    saber:

    a) Programao: nessa parte, est localizado o conhecimento cientfico sobre os princpios,

    como leis da adaptao do organismo, especializao morfofuncional e funcional do

    2 Como fenmeno desportivo, a esgrima considerada combate, porm, no presente trabalho, o pensamento sobre desporto de combate est em funo do contato corporal, no qual no se caracteriza o uso de qualquer arma.

  • 16

    organismo, as relaes da condio do atleta e a carga de treino, e o desenvolvimento da

    maestria desportiva, como condio final do processo (mximo resultado competitivo).

    b) Organizao: ao organizar o treino, relaciona-se carter especfico do processo de treino

    e atividades competitivas propriamente ditas, as relaes entre a carga de treino e direo

    do potencial do treinamento e a durao e conexo tima das cargas de diferentes funes.

    c) Controle: neste ponto, est a metodologia de avaliao do atleta, anlise dos dados das

    cargas e os modelos de mudana da condio fsica do atleta.

    As principais orientaes a serem conduzidas durante o processo de preparao

    do atleta ao alto rendimento desportivo devem ser minuciosamente estudadas e refletidas, como

    parte da resoluo dos problemas atuais em torno da metodologia correta a ser aplicada.

    Por isso, o presente trabalho evidencia nova perspectiva dentro do processo de

    controle do treinamento: desenvolvimento de ferramenta prtica, para uso no cotidiano de treino.

    As representaes da condio fsica do atleta de jud, dentro da literatura, so, na sua maioria,

    baseadas em protocolos gerais, o que no atual panorama do desporto, parece no ser aplicvel,

    visto o desenvolvimento complexo do fenmeno desportivo de alto nvel.

    Dentro da literatura cientfica, so inmeros os trabalhos que fazem meno ao

    processo de avaliar e ou determinar parmetros de desempenho de atletas de jud, dentro de

    determinadas tarefas de ordem gerais e especficas, que sero abordados nos tpicos seguintes.

    3.3.1. Avaliao da capacidade aerbia

    Na anlise dessa capacidade fsica do judoca, os protocolos de avaliao

    encontrados na literatura tm contedo, basicamente, de testes de corrida em esteira, onde

    possvel identificar diversos parmetros fisiolgicos inerentes condio aerbia, como VO2mx,

    que definido como a capacidade mxima de transporte e utilizao de oxignio pelo organismo

    durante o exerccio (POWERS E HOWLEY, 2000).

    Para McArdle et al. (2003), outros termos esto associados com o VO2mx,

    como potncia aerbia mxima ou capacidade aerbia, e define-se como o momento onde o

    consumo mximo de oxignio alcana um plat ou aumenta levemente com os aumentos

  • 17

    adicionais na intensidade do exerccio.

    Alguns autores traaram perfis de judocas de diferentes categorias em funo

    da sua condio aerbia, dentro de diferentes protocolos em esteira, sendo apresentados no

    quadro 3 os valores de VO2mx em mdia desvio-padro.

    QUADRO 3 Potncia aerbia de atletas de jud

    Judocas N VO2mx (ml.kg-1.min-1) Estudo conduzido por

    Universitrios (Canad) 11 2,30 0,95 (*) DeMeersman e Ruhling (1977)

    Seleo Canadense 19 57,5 9,5 Taylor e Brassard (1981)

    Seleo Australiana 8 53,2 5,7 Tumilty et al. (1986)

    Clube Polons 15 50,1 6,5 Sikorski et al. (1987)

    Seleo Canadense 22 59,2 5,2 Thomas et al. (1989)

    Regional Canadense 17 53,8 5,6 Little (1991)

    Seleo Americana 18 55,6 1,8 Callister et al. (1991)

    Seleo Polonesa 17 55,6 3,2 Borkowski et al. (2001)

    (*) medida expressa em l.min-1.

    Um dos estudos que merecem considerao pioneiro, no que diz respeito

    sobre rendimento de atletas de jud. DeMeersman e Ruhling (1977) analisaram variveis ligadas

    capacidade aerbia, dentro de situao especfica da modalidade, em onze atletas de nvel

    universitrio (idade 23,3 3,5 anos; estatura 174,8 11,0 cm; massa corporal 71,8 9,9 kg), que

    realizaram treinamento de sete semanas, com trs unidades de treino por semana, sendo a

    intensidade de treinamento elevada gradualmente durante o perodo experimental. Nos momentos

    pr e ps-treinamento foram conduzidos os seguintes protocolos de exerccios: entradas de

    golpes sem arremessar o oponente, no ritmo de 92 bpm, durante dois minutos, combinado com

    randori de dois minutos de durao, na mxima intensidade. No momento de recuperao ps-

    esforo foram realizadas medidas da FC, presso arterial mdia, consumo de oxignio e produo

    de CO2 (em l.min-1). Os resultados mostraram alterao positiva estatisticamente significante

    (p

  • 18

    trouxe melhoras no componente aerbio desses atletas.

    Esse estudo, apesar de pioneiro, ainda vlido dentro da atual perspectiva deste

    trabalho, pela metodologia utilizada: aplicao de situaes especficas do jud, com medidas

    realizadas em funo do perodo de treinamento aplicado e da tecnologia disponvel para a

    realizao do trabalho.

    verdade que nos estudos citados, boa parte dos judocas possui valores de

    VO2mx prximos e que tal capacidade talvez no seja a que torna judocas com maior condio

    desportiva que outros. Isso remete ao citado anteriormente por Little (1991), em que o sucesso

    competitivo no jud est intimamente ligado condio tcnico-ttica do lutador, e que tal

    prerrogativa, se faz importante nos resultados de alto rendimento. Outro fator importante que o

    VO2mx relativo baixo em atletas das categorias mais pesadas, conforme atestado por Thomas et

    al. (1989). Alm disso, h o fato de que foram utilizados diferentes protocolos de esteira, o que

    torna mais difcil saber se eles realmente tm condies aerbias diferenciadas.

    Ainda permanecem dvidas sobre esse assunto no jud, ainda que o

    componente aerbio, como utilizado em modalidades cclicas, seja amplamente utilizado como

    parmetro de esforo. Estudos em que as graduaes de intensidade no combate e nos exerccios

    especficos so estruturadas exclusivamente no monitoramento da FC, talvez no sejam capazes

    de explicar o nvel de esforo do lutador na situao observada.

    Cottin et al. (2004) analisaram 10 judocas franceses de nvel nacional,

    procurando estabelecer relaes entre o exerccio cclico (atestado em cicloergmetro de

    membros inferiores) e o exerccio de combate simulado (randori), atravs da anlise da

    variabilidade da FC, e constataram que apesar da FC mxima encontrada nos dois exerccios ser

    prxima, a energia espectral 3 computada na luta de jud foi estatisticamente maior (p

  • 19

    tipos: exerccio dinmico em regime de steady state, como o realizado no cicloergmetro e

    exerccio realizado s custas de esforos isomtricos e dinmicos irregulares, como acontece nas

    lutas de jud.

    Outro trabalho recente publicado na literatura cientfica faz meno

    mensurao da FC em situaes especficas do jud. Houvenaeghel et al. (2005) analisaram dez

    judocas do sexo masculino (17,1 0,9 anos, 72,6 7,9 kg e 170 5 cm) e dez judocas do sexo

    feminino (17,1 1,3 anos, 58,1 5,8 kg e 158 9 cm), em uma unidade de treinamento com

    durao de 1 hora. Entre os meios utilizados, encontravam-se exerccios especficos do jud,

    como: uchi-komi (entradas de golpes), briga de pegada (situao onde os atletas disputam

    somente a fase inicial da interveno de luta, conforme citado na figura 1), randori (luta

    simulada) com esquivas, randori com bloqueio dos golpes e randori livre de 10 minutos. Em

    todas as situaes, foi monitorada FC a cada 5 segundos, atravs de frequencmetro da marca

    Polar (Electro Oy, Finlndia). A rotina de treinamento foi filmada, para posterior anlise em

    conjunto com os resultados da FC.

    Os resultados mostraram que os nveis da FC mxima foram de 196 7,2 bpm,

    e que alguns judocas tiveram comportamento diferenciado, ou seja, alguns tiveram os valores da

    FC mxima fora dos parmetros do grupo, o que os autores consideraram como duvidoso,

    levantando a seguinte questo: houve m execuo, por parte dos judocas ou eles estavam em boa

    condio fsica ?

    Atravs desses resultados, sugerido pelos autores que possvel determinar

    zonas de treinamento, atravs da FC. Porm, levando em considerao os achados de Cottin et al.

    (2004), h certas dvidas quanto a essa afirmao. Pois, se a variabilidade da FC em situao de

    luta mostra espectros indefinidos, devido natureza das contraes musculares e esforos do

    jud, fato que as zonas de treinamento no sero fielmente controladas, o que pode acarretar

    erros na prescrio de treino com o controle pela FC.

    Isso pode ser refutado com outras pesquisas acerca do assunto, porm, fato

    que as observaes do treinamento de jud com a utilizao da FC ainda podem trazer equvocos

    no controle das cargas de treino, de acordo com os resultados encontrados nesses estudos.

  • 20

    3.3.2. Avaliao da capacidade anaerbia

    Para atestar as condies dessa capacidade, boa parte dos estudos conduzidos

    est relacionada ao desempenho no teste de Wingate (BAR-OR, 1987), atravs da potncia

    desenvolvida em exerccio mximo no cicloergmetro, possvel de ser aplicado tanto para

    avaliao dos membros inferiores (MI), como nos superiores (MS).

    O trabalho dentro desse protocolo de mxima intensidade durante todo tempo

    de execuo (30 segundos), o que implica na utilizao elevada do metabolismo anaerbio ltico.

    Alm disso, tambm possvel atestar alteraes funcionais da capacidade anaerbia, atravs da

    anlise da potncia desenvolvida durante o teste de Wingate.

    O desempenho no teste de Wingate de MS e [Lac] so comumente citados

    como principais medidas da capacidade anaerbia em judocas. Os trabalhos conduzidos do

    amplo panorama de aplicabilidade com outros testes gerais, mas tambm utilizado na validao

    de metodologia especfica, como o Special Judo Fitness Test (SJFT), proposto por Sterkowicz

    (1995) e analisado por Franchini et al. (1999); esse estudo ser abordado adiante, no tpico a

    respeito da avaliao motora especfica do jud.

    Thomas et al. (1989) conduziram testes de avaliao da capacidade anaerbia

    para MS e MI, atravs do teste de Wingate, em atletas da seleo canadense de 1987. Para MI, foi

    utilizada sobrecarga de 80g/kg, e para MS, 65 g/kg da massa corporal do atleta. A potncia

    anaerbia foi estimada a partir da potncia pico (em Watts), a cada cinco segundos e a capacidade

    anaerbia foi calculada pelo trabalho total (em Joules), durante os 30 segundos. Os resultados

    mostraram que existe alta correlao entre potncia (r = 0,89, p < 0,05) e capacidade (r = 0,88; p

    < 0,05) anaerbia de MS e MI; a potncia pico e trabalho total gerado pelos MS representam

    cerca de 80% dos valores encontrados em MI. Outro dado interessante que a fora mxima

    (avaliada atravs do exerccio supino reto: 100 21 kg) teve alta correlao com a potncia

    anaerbia (r = 0,72; p < 0,05).

    Franchini et al. (1999a) observaram, atravs de exerccio em esteira, que

    existem diferenas entre atletas com condio aerbia melhor, dentro de teste considerado

    essencialmente anaerbio, como o teste de Wingate. Onze judocas brasileiros foram analisados,

    subdivididos em atletas com melhor aptido aerbia (> AA, n = 6) e pior aptido aerbia (< AA,

    n = 5), onde se observou correlao inversa entre VLAn e [Lac] mximo (r = -0,77; p = 0,01), o

  • 21

    que sugere que atletas que possuem maior capacidade aerbia tendem a terminar o teste com

    menor [Lac]. Alm disso, foram conduzidos quatro testes consecutivos de Wingate, com pausas

    de recuperao de 3 minutos entre eles, na tentativa de se observar queda de desempenho em

    tarefa anaerbia intermitente. O principal fato observado foi que os atletas que tiveram melhor

    AA tiveram melhor desempenho nos quatro testes de Wingate e no houve diferena

    estatisticamente significante entre os grupos, quanto potncia mdia relativa e potncia pico

    relativo no primeiro teste de Wingate, indicando que os atletas possuam mesma capacidade e

    potncia anaerbia, inferida atravs do teste de Wingate.

    3.3.3. Avaliao motora especfica do jud

    Na busca de mtodos de avaliao especfica aplicada ao jud, Sterkowicz

    (1995), citado por Franchini (2001), props um teste especfico chamado Special Judo Fitness

    Test, ou SJFT. De acordo com estudo de Franchini et al. (1999), o autor polons tomou como

    base os estudos de Sikorski et al. (1987), corroborado por outros autores (citados no quadro 1),

    atravs da estrutura intermitente da luta de jud, para definir o modelo do SJFT.

    O teste tem a seguinte estrutura, descrita no esquema da figura 2: dois judocas

    (denominados uk), distantes 6 metros um do outro, so arremessados por outro judoca

    (denominado tori), pela tcnica ippon seoi nague o maior nmero de vezes possvel, em trs

    sries de durao 15 (A), 30 (B) e 30 (C) segundos, com intervalos de 10 segundos entre cada

    perodo.

    FIGURA 2 Desenho esquemtico do SJFT.

    3m 3m Uk 1 Tori Uk 2

  • 22

    O ndice desenvolvido para representar o desempenho no SJFT obtido atravs

    de clculo, onde FCps, FC1ps e nmero total de arremessos nas sries (Total) seriam as

    variveis:

    ndiceSJFT = [FCps + FC1ps] / Total

    Equao 1

    Portanto, quanto melhor o desempenho no teste, menor ser o valor do ndice.

    Para isso, o atleta pode expressar a melhora no rendimento devido a dois fatores: menor FC ps-

    teste e ou 1 minuto ps-teste e maior nmero de arremessos. A FC representaria a condio

    aerbia, relacionada ao momento de recuperao, e o nmero de arremessos, relacionado

    condio anaerbia, devido ao esforo intervalado de alta intensidade do teste.

    De acordo com Franchini et al. (1999), o SJFT tem as seguintes limitaes: (1)

    o nmero de golpes no pode ser fracionado, impedindo que haja distino entre um atleta que

    termina o teste logo aps ter executado o arremesso e outro atleta que termina o teste ao iniciar o

    arremesso; (2) a FC sofre influncia de fatores externos, como temperatura e umidade, e de

    fatores internos, como estresse e overtraining, mostrando que as condies devem ser bem

    controladas.

    Outros fatores que tornam o SJFT limitado so: a distncia muito extensa em

    forma de corrida, que pode acarretar esforo demasiado nos MI, fugindo da caracterstica da

    exigncia fsica do jud; o teste no tem tempo correspondente durao da luta, que no caso,

    pode chegar a 5 minutos (ou 10 minutos, com GS).

    Mesmo encontrando tais limitaes, Franchini et al. (1999), atravs de estudos

    com cinco judocas, obtiveram valores elevados entre teste de reprodutibilidade (atravs da anlise

    de correlao intraclasse, com valores entre 0,73 e 0,93). Atravs da anlise de judocas do sexo

    masculino (n = 6) e feminino (n = 8), atestou-se sua confiabilidade, pelo protocolo de Wingate

    (coeficiente de correlao de Pearson de 0,82 e 0,94, respectivamente). No mesmo estudo, a

    anlise do lactato sanguneo teve diferena significante (p < 0,05) no SJFT entre judocas da

    classe Juvenil (n = 6; [Lac] = 8,2 3,5 mmol.l-1) e Snior (n = 6; [Lac] = 10,7 2,3 mmol.l-1); o

    ndice proposto pelo teste foi sensvel a mudanas em funo de treinamento aplicado em 4

  • 23

    judocas do sexo masculino (Pr = 15,15 1,74; Ps = 13,28 0,84; p < 0,05). Com esses

    resultados, os autores atestaram a validade do SJFT como ferramenta de avaliao de judocas,

    apesar das colocaes dos autores encontrarem limitaes, em funo do pequeno grupo de

    atletas analisados.

    Levando em conta tais prerrogativas, o SJFT pode ser utilizado como

    ferramenta de avaliao de judocas. Porm, o presente trabalho est na busca de uma estrutura de

    controle de treino, que seja mais adequada s caractersticas do jud, procurando minimizar os

    esforos decorrentes da corrida e ajustar o tempo de esforo em relao ao encontrado em

    situaes competitivas propriamente ditas.

    3.3.4. Critrios para elaborao de testes

    Neste tpico, que de grande importncia no contexto do presente estudo, so

    abordados dois pontos fundamentais na elaborao de testes. Os dois critrios utilizados, segundo

    Thomas e Nelson (2002), so: a validade e a fidedignidade. Ambos os critrios sero mais bem

    explicados nos itens a seguir.

    3.3.4.1. Validade do teste

    Dentro do processo de treinamento do atleta de alto nvel, a utilizao de testes

    de controle se faz importante, pois podem mostrar se o efeito do treinamento est provocando

    alteraes funcionais positivas ou negativas nas capacidades fsicas especficas do desportista;

    assim, o treinador ou preparador fsico pode organizar, de forma mais coerente, as cargas dentro

    dos diferentes ciclos de treino.

    Para isso, os testes a serem utilizados devem possuir uma validade, ou seja, a

    validade da medida deve indicar o grau no qual o teste ou instrumento mede o que se espera

    medir (THOMAS E NELSON, 2002).

    Sendo assim, um teste que procure medir a resistncia especial do judoca deve

    permitir observar o nvel de rendimento do lutador dentro de situao caracterstica da

  • 24

    modalidade. O desempenho, nesse caso, ser observado em funo da manuteno do esforo

    dentro da tarefa proposta no teste.

    De acordo com Thomas e Nelson (2002), para atestar a validade da medida,

    existem quatro tipos bsicos de observao da varivel:

    a) validade lgica: quando a medida retrata obviamente o desempenho na tarefa que est

    sendo proposta. Como exemplo, um teste de velocidade de deslocamento, onde a pessoa

    percorre determinada distncia no menor tempo possvel, considerada uma medida de

    validade lgica.

    b) validade de contedo: est relacionado ao aprendizado de contedo em ambientes

    educacionais, o que comumente chamado de prova, onde os temas abordados em sala

    de aula so avaliados dentro de uma estrutura de teste organizada pelo professor.

    c) validade de critrio: este tipo de validade amplamente utilizado dentro do ambiente de

    pesquisa em atividade fsica. Ela pode ser observada atravs de dois fatores:

    - validade concorrente: quando um teste proposto utilizado em concorrncia

    com os resultados de outros testes realizados em ambientes controlados, atravs

    da anlise de marcadores internos do organismo, ou testes j validados, mesmo

    em ambientes no controlados. Como exemplo, temos a utilizao dos testes de

    avaliao cardiorrespiratria com anlise espiromtrica em concorrncia com

    testes de campo, como o utilizado por Krustrup et al. (2003), na validao do

    Yo-Yo Intermittent Recovery Test.

    - validade preditiva: utilizado um critrio a ser predito. Atravs da medida de

    pesagem hidrosttica e das medidas das dobras cutneas de determinadas reas

    do corpo, pode-se obter uma equao de predio do percentual de gordura,

    atravs do clculo de regresso mltipla dessas variveis.

    d) validade de construto: o grau no qual se mede um construto hipottico; geralmente

    estabelecido relacionando os resultados de testes com algum comportamento.

  • 25

    3.3.4.2. Fidedignidade do teste

    Outro ponto importante para validar um teste a sua fidedignidade (tambm

    denominado de reprodutibilidade ou consistncia), que diz respeito possibilidade de se repetir

    determinada medida. Um teste no considerado vlido se no for fidedigno (THOMAS E

    NELSON, 2002).

    Dentro da pesquisa em atividade fsica, utiliza-se a reprodutibilidade de um

    teste para atestar a fidedignidade da medida. De acordo com Thomas e Nelson (2002), so trs os

    mtodos para se estabelecer a fidedignidade de uma amostra:

    a) determinao de estabilidade: quando o mesmo teste aplicado em dias diferentes,

    sendo considerado um teste de consistncia bem rigoroso, pois os erros podem ser

    evidenciados quando aplicados em dias diferentes.

    b) construo de formas alternadas: esse mtodo se prope a aplicar dois testes diferentes

    com o mesmo objetivo, o que chamado de mtodo de equivalncia. considerado o

    mtodo preferido, porm, o problema obter dois testes especficos que se destinem a

    medir a mesma capacidade.

    c) observao de consistncia mnima: dentro desse mtodo, a reprodutibilidade uma

    forma simples de se obter tal medida, usando o mtodo de teste-reteste no mesmo dia para

    atestar se o teste fidedigno. Tal forma de anlise pode ser observada no estudo de Wragg

    et al. (2000), a respeito da reprodutibilidade e validade do Bangsbo Test para jogadores de

    futebol.

    Observadas tais prerrogativas na validade e fidedignidade dos testes, a metodologia a ser

    apresentada no presente trabalho tem a utilizao dessas duas estruturas de anlise, dentro de

    quatro situaes totalmente especficas do jud.

    4. MATERIAL E MTODOS

    Os judocas foram submetidos a quatro situaes caractersticas do jud como

  • 26

    critrio para anlise do rendimento: SJFT, luta de cinco minutos (mesmo ocorrendo ippon, ou

    ponto que define a luta, continua-se at o tempo pr-estabelecido), TC3 e TC15, sendo essas

    novas propostas de controle do rendimento do atleta.

    O equipamento comum a todas as situaes propostas foi o analisador de

    lactato sanguneo Yellow Springs 1500 Sports (Yellow Springs Co., Estados Unidos), sendo

    explicada a sua utilizao no item 4.2.

    4.1. Sujeitos da pesquisa

    O grupo de estudo da pesquisa foi composto por 11 atletas do sexo masculino,

    todos com no mnimo, graduao de faixa marrom (1 kyu) e 18 anos de idade completos, estando

    sob regime de treinamento sistematizado e com nvel competitivo para a realizao dos trabalhos.

    Os atletas tambm foram subdivididos em dois grupos: seis atletas no grupo 1 (G1) e cinco

    atletas no grupo 2 (G2), sendo equipes de cidades diferentes, o que ser um dos critrios de

    anlise no decorrer do trabalho.

    Para o nvel competitivo, foi determinado que o judoca tivesse participado, pelo

    menos, de campeonato de nvel estadual. A avaliao mdica prvia foi de total responsabilidade

    das agremiaes, sendo que todos foram consultados a respeito dessa condio, junto aos

    respectivos integrantes das comisses tcnicas participantes.

    O trabalho foi devidamente aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa

    (processo n 177/2005) envolvendo seres humanos e todos os atletas participantes foram

    devidamente informados e esclarecidos quanto realizao dos testes, assinando Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido para a realizao do trabalho. Os critrios de excluso

    utilizados foram: atletas com leses de qualquer natureza; atletas que tivessem ingerido

    medicamentos ou substncias estimulantes; atletas que no estivessem sob treinamento

    sistematizado; atletas que treinaram no dia anterior ao momento da pesquisa; atletas que estavam

    em processo de perda de massa corporal.

    Os atletas tiveram aferidas as medidas de massa corporal (MC), em

    quilogramas (kg) e estatura (Alt), em metros (m), atravs de balana antropomtrica digital

    (Filizola, Brasil).

  • 27

    Com o intuito de traar perfil mais detalhado do grupo, foi aplicado

    questionrio contendo perguntas sobre a vida desportiva do atleta, com respeito ao tempo de

    prtica do jud, graduao atual no jud, freqncia atual de treinamento, ttulos conquistados e

    nmero de desportos praticados regularmente durante a vida. Atravs desse questionrio, foi

    observado se os grupos de judocas tinham diferenas quanto ao nvel competitivo, levando-se em

    conta os ttulos conquistados em campeonatos de diferentes nveis, sendo esse dado importante

    no momento de anlise das relaes entre os resultados nas situaes propostas.

    Apesar de, em alguns casos, os judocas terem conquistado seus ttulos em

    diferentes anos, levou-se em conta o passado competitivo do judoca, como uma forma de atestar

    sua condio dentro do quesito nvel competitivo.

    4.2. Procedimentos de utilizao do aparelho Yellow Springs 1500 Sports

    O aparelho Yellow Springs 1500 Sports (Yellow Springs Co., Estados Unidos)

    foi calibrado anteriormente s anlises do sangue, com soluo de [Lac] conhecida de 5 mmol.l-1,

    fornecida pela empresa citada. As anlises no foram feitas em duplicata, conforme citado por

    Franchini (2001a), a respeito da variao apresentada pelo aparelho.

    4.3. Special Judo Fitness Test (SJFT)

    O SJFT segue o modelo proposto por Sterkowicz (1995) apud Franchini et al.

    (1999). Em nosso trabalho, a FC durante o teste foi registrada nos momentos pr-teste (FCpr),

    entre as sries (FCA-B, FCB-C), ps-teste (FCps) e FC 1 minuto ps-teste (FC1ps). Para aferio

    da FC foi utilizado monitor especfico da marca Polar, modelo Accurex (Electro Oy, Finlndia).

    4.4. Luta

    As lutas tiveram durao de cinco minutos, mesmo que fosse obtido o ippon, a

    pontuao que, em competio, finaliza a luta. Assim, todos os atletas estariam sujeitos a realizar

  • 28

    o mesmo tempo de esforo dentro da situao especfica. Os combates foram organizados de

    modo que os judocas fossem da mesma categoria de peso, conforme regra estabelecida pela

    Confederao Brasileira de Jud, ou com diferena mxima de 10% da MC.

    Em todos os combates, foi realizado modelo de anotao das ocorrncias da

    Luta (scout), desenvolvido no estudo de Rosa (2000), para marcao dos pontos obtidos e golpes

    utilizados. Nessa situao, no foi obtida FC, devido ao fato de que em estudo piloto foram

    constatadas srias dificuldades para registro dessa varivel durante a luta.

    4.5. TC3 e TC15

    O desenvolvimento do TC3 e TC15 tem a seguinte estrutura:

    1 - o posicionamento de trs judocas que sero arremessados (chamados de uk), em

    disposio triangular, com 3 (trs) metros de distncia entre si. No centro do tringulo,

    encontra-se o atleta ser avaliado (ou tori), sendo que todos os envolvidos na situao

    apresentada so de massa corporal semelhante.

    2 - Com relao ao mbito tcnico optou-se pelo golpe ippon seoi nague, que tem uma das

    maiores incidncias de aplicao, conforme atestam Sterkowicz e Franchini (2000) e

    Silva (2002), em observaes das lutas em atletas de nvel olmpico e mundial.

    3 - O teste prope a aplicao de sries de esforo, na mxima intensidade possvel, divididos

    em duas situaes: 3 sries (TC3) e 15 sries (TC15) de 20 segundos de esforo. Em cada

    srie, registrado o nmero de arremessos realizados; entre cada srie, realizado

    intervalo de recuperao passiva de 10 segundos, registrando a FC no momento de pausa.

    4 - Para a anlise do desempenho no TC3 e no TC15, levou-se em considerao o volume

    total de arremessos realizados.

    O esquema do modelo do TC3 e TC15 descrito na figura 3. As

    caractersticas do teste propem-se em mostrar o desempenho em funo do nvel de esforo

    empregado pelo judoca, tanto na rapidez de execuo dos golpes, quanto na capacidade de

    manuteno da intensidade do esforo durante o teste.

  • 29

    Uk 1

    Uk 3 Uk 2

    FIGURA 3 Desenho esquemtico do TC3 e TC15

    Para aferio da FC em ambos os testes, foram utilizados monitores especficos

    da marca Polar, modelo Accurex (Electro Oy, Finlndia).

    4.6. Delineamento do protocolo de avaliao

    O protocolo de avaliao foi subdividido em dois momentos: no primeiro

    momento, foram realizados SJFT e Luta; no segundo momento, TC3 e TC15. A opo de seguir

    essa seqncia foi pelo fato de que as situaes teriam tempo prximo de esforo (SJFT = TC3 e

    Luta = TC15), sujeitando assim, teoricamente, o atleta ao mesmo tempo de trabalho fsico.

    Os testes foram separados da seguinte forma: realizou-se o protocolo de

    avaliao com pausa de pelo menos uma hora entre os testes; entre os momentos, houve pausa de

    pelo menos quatro (4) horas. Em funo dos resultados encontrados por Degoutte et al. (2003),

    foram estabelecidos tais intervalos, pois os autores constataram que o perodo de uma hora

    suficiente para que a [Lac] sanguneo volte aos valores de repouso, aps esforo de combate

    simulado (randori).

    4.7. Anlise da Concentrao do Lactato Sanguneo

    De cada judoca, em cada situao proposta (SJFT, Luta, TC3 e TC15), foram

    Tori

    3m 3m

    3m

  • 30

    coletadas seis amostras de sangue, atravs de tubos capilares pr-calibrados, com volume de 25

    L (microlitros), nos seguintes momentos: pr-teste (T0), imediatamente aps o teste (T1), 2 (T2),

    4 (T3), 6 (T4) e 8 (T5) minutos de recuperao passiva ps-teste, ou seja, o atleta permaneceu

    parado durante o perodo de recuperao do teste. O sangue total coletado de cada amostra foi

    armazenado em eppendorf contendo 50 L de soluo de fluoreto sdico (concentrao 1%), para

    que o sangue fosse conservado para anlise em momento posterior. Sua estocagem foi feita em

    biofreezer com temperatura de 80C, e todo transporte foi realizado em recipiente contendo gelo

    seco, devidamente vedado.

    Atravs do equipamento Yellow Springs 1500 Sports, utilizado em parceria

    firmada com o Laboratrio de Desempenho Esportivo (LADESP) da Universidade de So Paulo

    (USP), foi analisada a [Lac], onde o procedimento descrito indica a cintica deste composto,

    sendo importante marcador interno do nvel de condio fsica do atleta em conjunto com a

    avaliao dos indicadores motores, expressos atravs das variveis dos testes realizados.

    4.8. Anlise Estatstica

    O planejamento geral experimental proposto durante o projeto procurou

    identificar padres e relaes de comportamento entre as variveis e parmetros a serem

    analisados.

    A primeira observao realizada foi em relao aos dados sobre o lactato

    sanguneo. Em 306 amostras de sangue coletadas, houve perda de 13 amostras (4% do total). Em

    funo disso, algumas observaes sobre o lactato pico podiam ser equivocadas.

    Assim, adotou-se procedimento matemtico onde atravs da derivada das

    equaes das curvas da cintica do lactato sanguneo, os valores pico do lactato sanguneo foram

    corrigidos, obtendo-se assim, medida mais segura em todas as anlises. Essa medida foi

    denominada de lactato pico ajustado ([Lac] Pico Aj).

    Um exemplo de como foi realizado esse clculo est descrito a seguir:

  • 31

    Correo da curva Atleta TL Teste SJFT

    O teste SJFT dura 95 segundos (srie de 15, 30 e 30 segundos com duas pausas

    de 10 segundos entre as sries). Os valores da [Lac] encontrados foram os seguintes:

    Os tempos das coletas foram realizadas em 0, 95, 215, 335, 455 e 575

    segundos.

    y = - 7,4346E-5X2 + 0,05219X + 4,21968

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    0 95 215 335 455 575

    Tempo (s)

    [Lac] (m

    mol.l

    -1)

    FIGURA 4 Correo de curva da [Lac] do atleta TL na situao SJFT.

    Atravs da equao da curva obtida com os valores de [Lac] encontrados,

    calcula-se o tempo onde a [Lac] pico acontece, utilizando-se da derivada da equao (onde Y =

    0):

    JR -81 TL 2,69 11,79 10,07 X x 9,83

  • 32

    - 7,4346 E-5 X2 + 0,05219 X + 4,21968 = 0 2 * (-7,4346 E-5) X + 0,05219 = 0 X = 0,05219 / 0,000148692 X = 350,99 segundos

    Substituindo X na equao original:

    Y = - 7,4346 E-5 (350,99 * 350,99) + 0,05219 (350,99) + 4,21968 Y = -7,4346 E-5 (123193,9801) + 18,318 + 4,21968 Y = - 9,15897 + 18,318 + 4,21968 Y = 13,378 mmol.l-1

    De posse das variveis, realizou-se a anlise descritiva dos dados de todas as

    situaes de G1 e G2, com respeito aos marcadores externos e internos.

    De posse dos dados, realizou-se o teste de normalidade para saber quais

    procedimentos para testes de diferenas seriam tomados. No caso, utilizou-se o teste de Shapiro-

    Wilk. Em trs variveis no houve normalidade dos dados: [Lac] na situao SJFT, Luta e

    Desempenho no TC15. Levando em considerao os resultados encontrados (algumas variveis

    no possuam distribuio normal), os testes no-paramtricos foram adotados para testar as

    diferenas entre os grupos e as correlaes entre os dados das caractersticas morfolgicas, bem

    como para os marcadores externos (desempenho nos testes e na Luta) e internos ([Lac] Pico Aj).

    Para testar diferenas entre os grupos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney,

    com nvel de significncia p

  • 33

    intraclasse (CCI) entre os resultados do TC3 e as trs primeiras sries do TC15, atravs da

    consistncia mnima entre as variveis externas obtidas nos testes, sendo o grupo de judocas

    tratado tambm como grupo nico.

    5. RESULTADOS

    Em todos os itens, os resultados sero apresentados com o grupo como um

    todo, e subdivididos em G1 e G2, conforme proposta sugerida na anlise estatstica.

    5.1. Caracterizao do grupo de trabalho

    Os dados a respeito das caractersticas morfolgicas dos atletas esto dispostos

    na tabela 1, com os valores sobre idade (em anos), MC (em quilogramas) e Alt (em metros).

    TABELA 1 Caractersticas morfolgicas dos judocas

    Grupos Valores Idade MC (kg) Alt (m)MDIA 21,65 75,25 1,76DP 3,54 8,13 0,06

    MEDIANA 21,83 77,15 1,76MNIMO 18,00 65,00 1,65MXIMO 26,08 83,10 1,82MDIA 28,28 79,70 1,72DP 5,28 11,13 0,02

    MEDIANA 30,00 83,50 1,72MNIMO 19,25 67,60 1,70MXIMO 32,08 94,00 1,75MDIA 24,67 77,27 1,74DP 5,43 9,38 0,05

    MEDIANA 24,17 81,70 1,75MNIMO 18,00 65,00 1,65MXIMO 32,08 94,00 1,82

    G2

    G1+G2

    G1

  • 34

    Na tabela 2 esto registradas as respostas do questionrio a respeito da vida

    desportiva dos atletas do G1. Dos 11 atletas, apenas um no respondeu ao questionrio.

    TABELA 2 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G1

    RG IG SP BR AM M/O JR JAISR -66 LC 2 dan 17 3 jud, GA e vlei 1 1 P X X X 1 PSR -66 MR 1 dan 11 5 jud, jiu-jitsu e futebol 1 2 P X X X 1 PSR -73 FZ 2 dan 10 5 jud 1 1 P X X X 2 PJR -81 TL 1 kyu 8 3 jud, futebol e natao 1 1 P X X X 2 XJR -81 DL * * * * * * * * * * * *JR -90 PM 1 kyu 14 2 jud, tnis e natao 1 1 3 X X X 3 P

    MDIA 12 4DP 4 1

    Titulos ConquistadosG1 Graduao TJ STJ Esportes na vida

    LEGENDAS: TJ: tempo de prtica do jud, em anos; STJ: sesses de treino de jud, em vezes por semana; RG: Regional; IG: Inter-Regional; SP: Estadual; BR: Brasileiro; AM: Continental; M/O: Mundial ou Olmpico; JR: Jogos Regionais; JAI: Jogos Abertos do Interior; P: participao no evento; X: no participou do evento; *: no respondeu.

    Os atletas foram identificados conforme sua classe e categoria de peso em que

    competem regularmente. As respostas dos atletas do G2 ao questionrio esto descritos na tabela 3.

    TABELA 3 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G2

    RG IG SP BR AM M/O JR JAISR -66 EL 2 dan 22 5 jud 1 1 1 3 P X 1 1SR -81 LF 1 dan 18 9 jud e futebol 1 1 3 3 X X 1 2SR -90 AK 1 dan 26 7 jud e kurash 1 1 1 1 1 3 1 1SR -90 AS 1 dan 23 7 jud 1 1 2 3 X X 1 2JR -66 IS 1 kyu 7 9 jud, futebol e capoeira 1 2 1 X X X X X

    MDIA 19 7DP 7 1

    Esportes na vidaTitulos Conquistados

    G2 Graduao TJ STJ

    LEGENDAS: Campeonato Mundial Universitrio.

    5.2. Situao 1 Special Judo Fitness Test (SJFT)

    Os resultados a respeito do desempenho dos atletas na situao SJFT esto

    dispostos na tabela 4.

  • 35

    TABELA 4 Resultados do desempenho dos judocas no SJFT Grupos Valores A B C Total FC pr FC A-B FC B-C FC ps FC 1' ps ndice

    MDIA 6 10 9 25 106 162 174 180 139 12,89DP 1 1 1 2 22 15 18 9 16 1,16