Texto 5 - Fraude e Plagio Em Pesquisa e Na Ciência Motivos e Repercussões

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III Série - n.° 3 - Mar. 2011 Abstract Resumen pp.47-55 Resumo Revista de Enfermagem Referência ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO Fraude e plágio em pesquisa e na ciência: motivos e repercussões Fraud and plagiarism in research and in science: reasons and repercussions Fraude y plagio en la investigación y la ciencia: razones y repercusiones Marta Sauthier* Antonio José Almeida Filho** Mariana Pereira Matheus*** Patrícia Matheus Lopes da Fonseca**** Têm sido publicadas em revistas e jornais de grande circulação, no Brasil e no exterior, notícias e reportagens sobre fraudes e plágios em ciência e nas pesquisas científicas. Como profissionais atuantes na academia e pesquisadores, devemos considerar tais ocorrências, e ainda, debatê-las e difundi-las. O objeto desse estudo são as fraudes e plágios nas pesquisas e na ciência. Os objetivos: caracterizar a fraude e o plágio em ciência, pesquisas científicas e publicações e analisar as repercussões desses fenômenos contra a ética na pesquisa científica e respectivas publicações. Utilizou-se o método indutivo e a abordagem qualitativa nesta pesquisa descritiva e documental. As fontes primárias foram notícias de jornais, revistas e documentação eletrônica. As motivações para as fraudes e plágios vão desde a competitividade, passando pela globalização e possibilidades da documentação eletrônica ao reconhecimento da necessidade de aprimoramento moral do corpo social das diferentes classes sociais, nível sócio econômico, cultural ou grau de formação. Palavras-chave: ética; enfermagem; fraude; plágio. Han sido publicadas en revistas y periódicos de gran circulación, en Brasil y en el exterior, noticias y reportajes sobre fraudes y plagios en la ciencia y en las investigaciones científicas. Como profesionales actuantes en la academia e investigadores, debemos considerar tales ocurrencias, y además, debatirlas y difundirlas. El objeto de este estudio son los fraudes y plagios en las investigaciones y en la ciencia. Los objetivos: caracterizar el fraude y el plagio en la ciencia, en investigaciones científicas y publicaciones; y analizar las repercusiones de estos fenómenos contra la ética en la investigación científica y respectivas publicaciones. Se utilizó el método inductivo y el abordaje cualitativo en esta investigación descriptiva y documental. Las fuentes primarias fueron noticias de periódicos, revistas y documentación electrónica. Las motivaciones para los fraudes y plagios van desde la competitividad, pasando por la globalización y las posibilidades de la documentación electrónica hasta el reconocimiento de la necesidad de perfeccionamiento moral del cuerpo social de las diferentes clases sociales, el nivel socioeconómico, cultural o grado de formación. Palabras clave: ética; enfermería; fraude; plagio. News and reports about fraud and plagiarism in science and by scientific researchers have been published in magazines and newspapers with wide circulation in Brazil and abroad. As active professionals and researchers in academia, we should consider such occurrences, and also discuss and disseminate them. The objects of this study are fraud and plagiarism in research and science. The objectives: to describe fraud and plagiarism in science, in scientific research and in publications, and to analyze the repercussions of those phenomena in terms of the ethics of scientific research and the respective publications. We used an inductive method and a qualitative approach in this descriptive and documentary research. The primary sources were newspapers, magazines and electronic documentation. The motivations for fraud and plagiarism range from competitiveness to globalization as well as electronic documentation and the possibilities of recognition, the point to the need for moral improvement in the social group and the different social classes, economic level and cultural or graduation degree. Keywords: ethics; nursing; fraud; plagiarism. * Enfermeria. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (Nuclearte) Líder do Grupo de pesquisa do CNPq. “Ética Profissional em Enfermagem”. Coordenadora da disciplina de Ética Profissional. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]]. ** Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professos Adjunto da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa de História da Enfermagem Brasileira (Nuphebras). Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq, intitulado “Trajetória do cuidado de enfermagem nos cénários especializados”. Rio de Janeiro, Brasil [ajafi[email protected]]. *** Acadêmica da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aluna de Iniciação Científica EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]]. ****Acadêmica de Enfermagem do 8º período da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aluna de Iniciação Científica EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]]. Recebido para publicação em: 02.11.10 Aceite para publicação em: 19.01.11

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PLAGIO

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  • III Srie - n. 3 - Mar. 2011

    Abstract Resumen

    pp.47-55

    Resumo

    Revista de Enfermagem Referncia

    A R T I G O D E I N V E S T I G A O

    Fraude e plgio em pesquisa e na cincia: motivos e repercusses Fraud and plagiarism in research and in science: reasons and repercussionsFraude y plagio en la investigacin y la ciencia: razones y repercusiones

    Marta Sauthier* Antonio Jos Almeida Filho** Mariana Pereira Matheus*** Patrcia Matheus Lopes da Fonseca****

    Tm sido publicadas em revistas e jornais de grande circulao, no Brasil e no exterior, notcias e reportagens sobre fraudes e plgios em cincia e nas pesquisas cientficas. Como profissionais atuantes na academia e pesquisadores, devemos considerar tais ocorrncias, e ainda, debat-las e difundi-las. O objeto desse estudo so as fraudes e plgios nas pesquisas e na cincia. Os objetivos: caracterizar a fraude e o plgio em cincia, pesquisas cientficas e publicaes e analisar as repercusses desses fenmenos contra a tica na pesquisa cientfica e respectivas publicaes. Utilizou-se o mtodo indutivo e a abordagem qualitativa nesta pesquisa descritiva e documental. As fontes primrias foram notcias de jornais, revistas e documentao eletrnica. As motivaes para as fraudes e plgios vo desde a competitividade, passando pela globalizao e possibilidades da documentao eletrnica ao reconhecimento da necessidade de aprimoramento moral do corpo social das diferentes classes sociais, nvel scio econmico, cultural ou grau de formao.

    Palavras-chave: tica; enfermagem; fraude; plgio.

    Han sido publicadas en revistas y peridicos de gran circulacin, en Brasil y en el exterior, noticias y reportajes sobre fraudes y plagios en la ciencia y en las investigaciones cientficas. Como profesionales actuantes en la academia e investigadores, debemos considerar tales ocurrencias, y adems, debatirlas y difundirlas. El objeto de este estudio son los fraudes y plagios en las investigaciones y en la ciencia. Los objetivos: caracterizar el fraude y el plagio en la ciencia, en investigaciones cientficas y publicaciones; y analizar las repercusiones de estos fenmenos contra la tica en la investigacin cientfica y respectivas publicaciones. Se utiliz el mtodo inductivo y el abordaje cualitativo en esta investigacin descriptiva y documental. Las fuentes primarias fueron noticias de peridicos, revistas y documentacin electrnica. Las motivaciones para los fraudes y plagios van desde la competitividad, pasando por la globalizacin y las posibilidades de la documentacin electrnica hasta el reconocimiento de la necesidad de perfeccionamiento moral del cuerpo social de las diferentes clases sociales, el nivel socioeconmico, cultural o grado de formacin.

    Palabras clave: tica; enfermera; fraude; plagio.

    News and reports about fraud and plagiarism in science and by scientific researchers have been published in magazines and newspapers with wide circulation in Brazil and abroad. As active professionals and researchers in academia, we should consider such occurrences, and also discuss and disseminate them. The objects of this study are fraud and plagiarism in research and science. The objectives: to describe fraud and plagiarism in science, in scientific research and in publications, and to analyze the repercussions of those phenomena in terms of the ethics of scientific research and the respective publications. We used an inductive method and a qualitative approach in this descriptive and documentary research. The primary sources were newspapers, magazines and electronic documentation. The motivations for fraud and plagiarism range from competitiveness to globalization as well as electronic documentation and the possibilities of recognition, the point to the need for moral improvement in the social group and the different social classes, economic level and cultural or graduation degree. Keywords: ethics; nursing; fraud; plagiarism.

    * Enfermeria. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Ncleo de Pesquisa em Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (Nuclearte) Lder do Grupo de pesquisa do CNPq. tica Profissional em Enfermagem. Coordenadora da disciplina de tica Profissional. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]].** Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professos Adjunto da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisador do Ncleo de Pesquisa de Histria da Enfermagem Brasileira (Nuphebras). Lder do Grupo de Pesquisa do CNPq, intitulado Trajetria do cuidado de enfermagem nos cnrios especializados. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]].*** Acadmica da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aluna de Iniciao Cientfica EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]]. ****Acadmica de Enfermagem do 8 perodo da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aluna de Iniciao Cientfica EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil [[email protected]].

    Recebido para publicao em: 02.11.10Aceite para publicao em: 19.01.11

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    Introduo

    O tema que tratamos refere-se tica na pesquisa e na cincia, em especial, s repercusses que as fraudes e plgios acarretam para a evoluo do conhecimento cientfico nas diferentes reas/disciplinas, evidenciando a necessidade de alerta enfermagem.Este trabalho encontra-se inserido na linha de pesquisa: tica na prtica de enfermagem e os direitos sociais, inscrita no Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq, e no grupo de trabalho: tica e enfermagem do Departamento de Enfermagem Fundamental (DEF) da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Como problema, evidenciamos as repercusses no desenvolvimento do conhecimento cientfico, oriundo de falsos resultados de pesquisa. Tais resultados nem sempre ocorrem por erro, mas, por fraudes e plgios. Vaidades e a competitividade do mundo atual, por vezes, interferem nos valores e no ato moral, e, portanto, interferem no desenvolvimento das condutas humanas.Observar tal realidade, atravs de notcias em jornais, revistas e meio eletrnico, nos fez olhar para as publicaes em enfermagem e produes dos alunos de graduao e de Ps-graduao em Enfermagem com maior ateno e crtica para a tica na pesquisa, em busca da contribuio para a construo do conhecimento nessa rea.A preocupao com fatos publicados sobre fraude e plgio em cincia, nas diversas reas, motivou este trabalho que poder servir de base para anlise, ou parmetro para a crtica necessria s publicaes e produes no mbito da graduao e da ps-graduao em enfermagem.Desta forma, o objeto deste estudo so as fraudes e plgios nas pesquisas e na cincia e suas repercusses no desenvolvimento do conhecimento nas diferentes reas. Os objetivos buscam caracterizar a fraude e o plgio em cincia, pesquisas cientficas e publicaes e analisar as repercusses desses fenmenos contra a tica na pesquisa cientfica e respectivas publicaes.Pautados na premissa de que, como afirma Vazquez (2008), s so responsveis pelos seus atos, os seres que tiveram liberdade de ao para pratic-los, acrescentamos, que o sujeito tico-moral quem sabe o que faz, conhecendo as causas e os fins das suas aes, significados de aes, atitudes e a

    essncia dos valores morais, Chau (2000). Com isso, compreendemos que pesquisadores, profissionais e seres humanos, orientados para a pesquisa, educados sob parmetros e valores firmes no caminho do bem da humanidade, so plenamente responsveis pelos seus atos, donde se considera incontestvel o reto-agir na pesquisa.

    Metodologia

    Pesquisa qualitativa, descritiva e documental. O mtodo indutivo nas pesquisas envolve as regras gerais que so desenvolvidas a partir de casos individuais ou observao de um fenmeno, como explicita Minayo (2008), neste caso, a observao dos fenmenos socioculturais sobre fraude e plgio nas pesquisas cientficas e na cincia. Os documentos constituram-se de notcias de jornais, peridicos e revistas de grande circulao, nacionais e internacionais, localizadas em ndices, como o http://google.com, atravs da busca pelos descritores fraude e plgio, na pesquisa e na cincia, constantes no MeSH (Medical Subjecy Headings), selecionados aleatoriamente. Tais descritores foram inseridos tambm na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americanas e do Caribe em cincias da sade) e ainda, selecionados em publicaes, em revistas assinadas pelos autores. As fontes secundrias foram utilizadas para dar respaldo s anlises documentais e, somadas s fontes primrias, se constituram nas bases necessrias para esta pesquisa. A relao dos documentos se deu em funo dos objetivos, na medida em que eram acessados os documentos e lidos, sendo criticamente selecionados, e subdivididos nas categorias emergentes.Inicialmente foram identificados os documentos codificados com o nome da revista e ou jornal, ambos com indicaes especficas, tais como: volume, ano, pginas, ms e ano de publicao, bem como, a letra F para notcias que referiam fraude na pesquisa e P para plgio. Finalmente, os recortes receberam o cdigo por letra e nmero, como (DOC 1), referindo documento nmero um e assim consecutivamente. O total de notcias sobre plgio foram 9 e acerca das fraudes 18, totalizando 27 matrias publicadas e utilizadas para a anlise. As publicaes compreenderam o perodo de 1994 a 2009, perodo disponvel na internet.As categorias, que emergiram da leitura prvia dos

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    estudantes e (...)professores se referiam a episdios de m conduta, como falsos crditos de autoria, fechar os olhos ao uso de informaes falsas, desvio de verbas [...] Doc. 4 Aps a leitura, selecionamos os dados que reportavam diferentes tipos de fraude, tais como: falso resultado de clonagem de embries; dados duplicados em experincias distintas; falsa montagem de fssil descoberto 40 anos aps a fraude e uso de dados falsos nos trabalhos acadmicos em universidades e faculdades. Tais dados foram coletados de revistas atuais, jornais e documentos eletrnicos que publicavam assuntos relacionados pesquisa e cincia. Os achados cientficos seguem critrios rigorosos que a metodologia cientfica determina. Assim, os pesquisadores conseguem, refazendo a pesquisa com o mesmo caminho metodolgico, chegar a resultados iguais ou bem prximos aos achados da pesquisa original. De acordo com Vazquez (2008), todo o pesquisador tem conhecimento sobre essa possibilidade, tendo conscincia e liberdade de ao. O indivduo tem responsabilidade quando rene essas duas condies.Conforme os dados citados convm definir fraude, para que no seja confundida com erro. O erro possvel, embora no desejado, significando pouca seriedade ou desleixo na pesquisa, ou seja, depe contra o pesquisador. Entretanto, as fraudes geram informaes incorretas que podem ser utilizadas como se fossem adequadas [...] um agravante, devido sua intencionalidade (Goldim, 2002, p.1).O cdigo de tica dos profissionais de enfermagem brasileiro (Conselho Federal de Enfermagem, 2007) determina que o enfermeiro deva ser honesto no relatrio dos resultados da pesquisa. Alm das consideraes realizadas, ao abordarem o aspecto tico da pesquisa em enfermagem, precisam atentar para o fato de que deve haver equilbrio entre o rigor tcnico e metodolgico que o pesquisador deve manter em todas as fases da pesquisa, pois de contrrio, poderia por em risco a credibilidade dos resultados (Oguisso e Schmidt, 2007, p. 157). Na mdia, no encontramos publicao de escndalo ou notcia sobre fraude em pesquisas de enfermagem, em conformidade com o preconizado na literatura sobre biotica em sade e tica em enfermagem, a qual enfatiza a honestidade na coleta de dados e tratamento dos dados de pesquisa, com especial ateno aos direitos dos sujeitos do estudo.

    documentos, apontaram para: 1- Fraude, subdividida em Tipo de Fraudes; Motivao para fraude e Repercusso da fraude e, 2- Plgio: Tipos de plgio; Motivao para o plgio e Repercusso do plgio, tendo como apoio para anlise, definies e tericos com abordagem tica, social, poltica e econmica sobre a sociedade atual. Na busca da confiabilidade dos resultados, foi considerado o conjunto documental e no documentos isolados. Na anlise utilizamos o mtodo indutivo, partindo do concreto, mediante procedimentos de interrogao dos documentos. O estudo documental favorece a observao do processo de maturao e de evoluo de indivduos, grupos, conceitos, conhecimentos, mutalidades, prticas, entre outros, como refere Cellard (2008).As reportagens abordadas nos jornais e cujo contedo da mensagem evidenciava qualquer dvida sobre a implicao tica dos envolvidos, foram excludas. Cabe destacar que, nesses casos, houve o acompanhamento do desdobramento da matria jornalstica durante os meses de janeiro a maio de 2009. Aps a categorizao dos dados, procedeu-se interpretao e anlise dos mesmos.

    Anlise e discusso dos resultados

    As categorias que emergiram dos dados geraram subcategorias que foram submetidas anlise.

    Tipos de Fraudes

    Os dados levantados referem fraude nas pesquisas cientficas, tanto por autores quanto por co-autores, se compreendermos que estes tm a responsabilidade por publicaes oriundas dos resultados de pesquisa dos quais fazem parte. ...uma das revistas cientficas mais conhecidas internacionalmente, ostentava 15 (quinze) co-autores [...] era uma fraude e foi devidamente desmascarada. Doc. 1. ...descobriram que no tinham mantido cadernos de laboratrio [...] encontraram evidncias de que grupos inteiros de dados foram reutilizados em experincias diferentes. Doc. 2. ...tinham conhecimento direto de uso de dados falsos em pesquisas (...) de casos de plgio entre colegas(...)

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    Entretanto, especialmente por se tratar de pesquisas envolvendo o cuidado aos seres humanos, os pesquisadores dessa rea devero atentar para as orientaes e pesquisas que realizam para evitar erros que interfiram negativamente na construo do conhecimento na rea, no cuidado aos grupos humanos e, em especial, com a tica na conduta responsvel. Essas pesquisas devero primar pelos direitos dos cidados, tomando para si aes que integrem e acolham profissionais, clientes e familiares para o bem social.

    Motivao para a fraude

    Algumas publicaes referem diferentes motivadores para fraude na pesquisa: O prprio sistema de incentivos pesquisa e a competitividade impelem publicao rpida e em quantidade considervel. [...] publicou em mdia um trabalho a cada oito dias em revistas de reconhecido prestgio. Mas isso no chamou a ateno at que as acusaes de fraude foram lanadas. Doc. 5 ...por se tratar de obrigao, sem um retorno imediato, nem financeiro, nem curricular, a maioria dos assessores apenas lem os manuscritos superficialmente, sem se preocupar com a veracidade [...] sem verificar publicaes prvias dos autores [...] Doc. 6 ...el crecimiento de las publicaciones cientficas favorecen las duplicaciones de trabajos en todo el mondo. Doc. 7 Nos recortes das reportagens sobre fraude em publicaes cientficas, evidenciamos como motivos a competitividade, com consequentes publicaes rpidas e em grande quantidade, leituras superficiais sobre os autores e manuscritos encaminhados para publicao.Apoiados nos princpios ticos morais, no compactuamos com aes que possam motivar as fraudes. Reconhecemos a liberdade que cada ser humano tem, de optar por agir corretamente. Assim, por mais competitividade ou fatores externos que possam motivar para a ao de m conduta, alguns fatores, que so internalizados, como as bases morais e conscincia, nos fazem declinar para o bem, independentemente das motivaes externas. Entretanto, conforme Galvo (1997), tanto a corrupo quanto a impunidade corroboram para que a tica e a conduta moral sejam desconsideradas

    e passem despercebidas.

    Diante desse contexto, devemos considerar a tica da responsabilidade que se orienta pelo contexto e pelos efeitos que nossas aes podem causar, alm da tica mais tradicional dos princpios e valores, a saber, essencialista e individualista, respectivamente (Sung e Silva, 1995, p. 50).

    Desta forma, podemos visualizar, no material analisado que, embora possam ter sido motivados por fatores externos, os pesquisadores esto afastados de algo que caracterstica essencial a esses profissionais, a motivao internalizada da tica da responsabilidade solidria, bem como, em uma viso mais tradicional, parecem no apresentar valores morais slidos e para o bem e princpios essenciais para atuar como pesquisadores.

    Repercusso da fraude

    No tocante aos resultados ou conseqncias, ou ainda repercusses das fraudes na pesquisa ou na cincia para a sociedade e para os grupos sociais, selecionamos os seguintes recortes:A evoluo dos acontecimentos trouxe, como ocorrncia esperada, o descrdito total escola de [...] e a perda do auxlio oficial, alm da queda final do pretenso descobridor e de seus colaboradores. Doc. 8 ...comprovou-se uma fraude [...] o autor dirigiu carta constrangedora ao New England Journal of Medcine (09 de junho de 1983), retratando-se dos atos e reconhecendo suas inaccuracies. Doc. 9 ... foi pilhado em flagrante falsificando os testes com o remdio [...] j perdeu parte de seu patrimnio, sua respeitabilidade e est ameaado de ter cassada sua licena para exercer a medicina, em um julgamento que se arrasta h dez anos. Doc. 10 no exterior, a discusso est bem mais adiantada [...] divulga todos os casos, inclusive com nome, filiao e acaba que o autor, se tiver financiamento pblico, fica 10 anos sem receb-los como pena... Doc. 11 A fraude na pesquisa em sade duplamente condenvel [...] pela desonestidade cientfica, que podem levar outros cientistas a alterarem seus projetos de formaes. igualmente condenvel, pois podem ser transpostas prtica assistencial colocando em risco a vida dos pacientes. Doc. 12 Dentre os casos de fraudes conhecidos e divulgados, as repercusses vo desde descrdito s instituies,

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    pesquisadores e prpria cincia; passando por perdas de fomento pesquisa, constrangimento, retratao, perda da reputao e de credibilidade, risco de perda do direito ao exerccio profissional, at risco vida de clientes na rea da sade.Educadores e educandos necessitam reconhecer suas limitaes, tornando possvel pensar e agir para o trabalho em prol do seu amadurecimento moral. Assim, estudantes, pesquisadores e cientistas, independente do cargo que ocupam, devem ter conscincia sobre essa necessidade. Um pesquisador pode ter evoludo no domnio do conhecimento cientfico, mas pouco no amadurecimento moral: Agir por temor punio ou por desejo de elogio indicativo do estgio de heteronomia, tpico do comportamento infantil, enquanto se guiar pela justia admitir um princpio tico superior na escala do aprimoramento moral (Galvo, 1997, p. 22).Entretanto, a busca de uma evoluo moral social inclui perceber que um movimento do indivduo apenas no suficiente, h que se buscar o aprimoramento da sociedade. Pudemos verificar como situao motivadora, a impunidade na nossa sociedade. Tais situaes de impunidade terminam por se refletir nos atos de pesquisadores, estudantes e docentes como as aes de fraude, apontando para a mxima de uma sociedade onde os fins justificariam os meios, pois:... no basta reformar o indivduo para reformar a sociedade. Um projeto moral desligado de um projeto poltico est destinado ao fracasso. Os dois processos devem caminhar juntos, pois formar o ser humano plenamente moral s possvel na sociedade que tambm se esfora para ser justa (Galvo, 1997, p. 224). Os dados trouxeram tona o fato de que as fraudes so mais comuns do que pensamos, especialmente no mbito da pesquisa nas universidades e faculdades. Em grau maior, h alunos que pagam para que alguns construam e analisem os dados do seu trabalho de concluso de curso (TCC), pesquisadores que fraudam dados, ajuste de resultados estatsticos, entre outras fraudes citadas, tidas como menos graves.A questo que nos colocamos a de que as repercusses dos atos podem ser maiores ou menores, levando maior ou menor risco sociedade, mas, na nossa percepo, qualquer ato que se afaste da moral social instituda, ou que traga riscos credibilidade das produes cientficas e desenvolvimento do conhecimento muito grave.

    A Categoria 2 refere-se a Plgio e tambm foi desdobrada em subcategorias para facilitar a anlise.

    Tipos de Plgio

    Em Ferreira (2000), o plgio definido como cpia de trabalho, obra ou texto de outro autor, vejamos: Assinar ou apresentar como seu (obra artstica ou cientfica de outrem). Imitar (trabalho alheio). Alm disso, considera-se plgio a cpia de resultados de pesquisa utilizados em vrias pesquisas como dados novos. Em ambos os casos, considera-se o plgio como um tipo de fraude. Embora concordemos com esse posicionamento, enfatizamos essa categoria separadamente por dois motivos: primeiro por ser comum em trabalhos a utilizao de idias e contedos de outros autores como se fossem pensamentos prprios e, ainda, em segundo lugar, para que os chamados pequenos plgios sejam reconhecidos e considerados como os grandes plgios na cincia.Na nossa percepo, o que est em questo a ateno docente e discente com a formao e amadurecimento moral para uma sociedade mais responsvel, bem como, para atuarmos na otimizao da qualidade das produes nas reas de pesquisa e ensino, especialmente na rea da sade, em que a conduta tica condio para a garantia dos direitos dos clientes e da vida.Encontramos os seguintes dados sobre os tipos de plgio:segundo a Lei de Diretrizes Autorais vigente, o autor lesado que deve tomar providncias quanto s medidas jurdicas cabveis. M. D. tomou a deciso de fazer a denncia pblica em nossa revista. Doc. 13 A cultura do control C, control V muito disseminada na rede.[...]mas neste caso especfico houve uma flagrante tentativa de descaracterizar deliberadamente a origem do texto e se apropriar dele [...] Doc. 14 ...na China, as palavras so da sociedade e devem ser compartilhadas por todos, no importando se as mesmas j foram usadas por outras pessoas, [...] em pases ocidentais, [...] idias, expresses e palavras escritas podem e so possudas por um indivduo. Doc. 15 ... est sendo acusada de plgio, mas insiste em que a cpia foi totalmente inconsciente e involuntria: ela argumenta que possui uma memria fotogrfica e

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    nunca toma notas em sala de aula, por exemplo. Doc. 16 Segn los investigadores, que emplearan sistemas de bsqueda automtica, desde La reproduccin sustancial de un trabajo sin hacer la correspondiente cita hasta el plagio o incluso el autoplgio -, estis creciendo escudados en el crecimiento rcord de la literatura acadmica. Doc. 17 Dos recortes selecionados, pudemos depreender que os plgios no ocidente so considerados condutas ilegais e contra a tica nas pesquisas e publicaes, pois se considera posse que um indivduo tem sobre suas idias, o que no se configura como plgio no Oriente, onde as idias so de posse da sociedade. Essa questo cultural deve ser considerada para as discusses que se seguem.Assim, encontramos os seguintes casos de plgio: cpia de parte de idias e publicaes e trabalhos copiados na ntegra dos autores de teses, artigos e livros sobre os outros autores e trabalhos, apropriao de textos com tentativa deliberada de descaracterizao da sua origem e cpias literais de obras, ditas involuntrias.Na rea da sade, em que as questes de responsabilidade e tica na conduta so to estimuladas, tanto na graduao quanto na ps-graduao, pois as aes dos profissionais repercutem, no s do desenvolvimento do conhecimento, como na continuidade ou no da vida, agir de forma transparente e tica fundamental: ... o perfil de competncias do enfermeiro com o grau de licenciado foi organizado em cinco categorias multidimensionais, centrada nas dimenses pessoais, cientficas, tcnicas, scio afectivas, relacionais, comunicacionais e tico (Dias, 2006, p. 95).Alm da resoluo 196/96, que regulamenta a tica na pesquisa com seres humanos no Brasil, na rea da sade, encontramos nfase tambm no que se refere s produes cientficas e publicaes, tanto nos cdigos de tica das profisses, quanto na legislao, como a lei de direitos autorais vigente:Se surgirem dvidas substanciais sobre a honestidade ou a integridade do trabalho, quer submetido, quer publicado, responsabilidade do editor assegurar que a questo seja adequadamente investigada, normalmente pela instituio que patrocina os autores [...] Se um trabalho fraudulento tiver sido publicado, a revista deve imprimir uma retratao [...] Como alternativa retratao, o editor pode decidir publicar uma nota de interesse sobre aspectos da

    conduo ou integralidade do trabalho (Motta, 2006, p. 177).Outro dado importante para anlise refere-se s facilidades da Internet para o plgio. A ao de se apropriar de fragmentos de textos sem referir o autor plgio e, na nossa percepo, um ato consciente e livre, repercutindo em responsabilizao dos seus autores. Mas, se por um lado a Internet favorece o plgio, por outro, facilita tambm a sua comprovao. Com isso, encontramos aqui uma estratgia importante a ser utilizada por docentes, orientadores e corpo editorial de peridicos, a insero de textos nos sites de busca para verificao ou confirmao de plgios. H casos de plgio literal de fcil comprovao. Cabe aos autores, que os comprovarem, a abertura de processo tico e legal, bem como, a exigncia de retratao pblica pelo plagiador ou editora/revista que publicou o artigo ou resultado de pesquisa plagiada.Assim, consideramos que a denncia, o processo e a punio podem coibir tais prticas, contribuindo para a tica nas pesquisas e publicaes na rea da sade, e nas demais reas do conhecimento. Entretanto, o posicionamento das instituies de ensino e da poltica educacional torna-se necessria, visto que a posio de vtima por falta de conhecimento ou de formao adequada torna-se inadmissvel nos dias atuais. Tanto docentes quanto discentes tm responsabilidade sobre o texto produzido, sendo responsveis tambm por sua publicao.Embora as revistas tenham responsabilidades editoriais por suas publicaes, cabe aos autores o nus/penalidade sobre o plgio cometido. Encontram-se, nas revistas de publicaes cientficas, textos ratificando ser da responsabilidade do autor o artigo ou a produo publicada.O autoplgio, citado nas publicaes, refere-se, muitas vezes, cpia, integral ou parte de produes j publicadas pelos seus prprios autores.

    Motivao para o plgio:

    A incurso em revistas traz luz a fala de estudantes e docentes confirmando a existncia de plgio na academia. Emergiu nos documentos:...se para muitos condio para preservar um emprego na carreira acadmica, para outros,

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    uma arma no mundo cada vez mais competitivo, mercado de trabalho, h quem tenha na produo ou falsificao de teses uma atividade lucrativa. O preo cobrado por uma tese de doutoramento que abre portas na administrao pblica, poltica e empresas pode chegar aos 50 mil euros Doc. 18no Brasil, pouco se fala sobre plgio em cincia. Isto decorre menos da ausncia de problema no Pas do que da falta de iniciativas para aprofundar essa discusso. Doc. 19 Pesquisadora que violou direitos autorais indenizar vtima de plgio [...] A.F.G. pegou emprestada a monografia de L.G.F. para usar trechos de sua monografia em trabalho de concluso de ps-graduao. Doc. 20 Durante quatro meses, um grupo no havia apresentado nenhum material relacionado ao Trabalho de Concluso de Curso e, de uma hora para outra, eles apareceram com um trabalho super bem escrito. Submeti o trabalho ao agente de busca de similaridades e no deu outra: mais de 80% de plgio... Doc. 21 Verificamos que as motivaes para plgio variam, desde a necessidade de produo para garantir ascenso na carreira ou na sua preservao, como foram os motivos das fraudes, at aos movidos por fins lucrativos. Nestes casos, desconsiderando a falta de moralidade do ato e a tica profissional.H tambm a publicao do editorial dos Cadernos de Sade Pblica enfatizando que no se discute o assunto do plgio, no Brasil, como se deveria. Isso nos remete verificao de que a busca dos motivos dos plgios poder recair sobre as dificuldades do ensino, onde no se prepara o aluno para a pesquisa ou para os seus deveres e direitos, questionando-se, assim, a qualidade da educao.Outro fato, que pode calar a discusso, a questo econmica. Algumas editoras, por vezes, se utilizam do plgio para lucrar mais e trazer essa discusso sobre o plgio, economicamente, no interessaria.A anlise dos dados nos remete necessidade de manter os padres morais estabelecidos. Entretanto, os erros so caractersticos da humanidade, o que aproxima o homem de um ato humano, tanto no que se refere aos seus acertos como aos seus erros. Assim, conseguimos inferir que os atos para o bem, ditos corretos, em termos de conduta tica na pesquisa e na cincia, podem e devem ser sedimentados nas escolas e academias. No se trata

    de destino, ser ou fazer de forma distanciada do agir para o bem.Assim, a motivao para que se restrinja ou elimine o plgio das academias requer trabalho de sensibilizao e ensino voltado para a leitura e produo de textos:...no notamos a origem cultural dos valores ticos, do senso moral e da conscincia moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais [...] Para garantir a manuteno dos padres morais atravs do tempo e sua continuidade de gerao a gerao, as sociedades tendem a naturaliz-los. A naturalizao da exigncia moral esconde, portanto, o mais importante da tica: o fato de ela ser criao histrico-cultural (Chau, 2000, p. 336). Com isso, evidenciamos que as motivaes ao plgio funcionam como tentaes ao cumprimento de prazos, s dificuldades de produo e, talvez, estimulados pela impunidade. No entanto, o sujeito moral deve submeter-se exigncia da tica no que tange passividade e atividade, em que quele os impulsos, inclinaes e paixes, vontade alheia, no exercendo sua prpria vontade com liberdade e responsabilidade, levam ao erro. Ao sujeito ativo, ao contrrio, conforme ib id (p. 338), se d o controle de impulsos e vontades, indagando a si, legislao, sociedade, como devem ser respeitados ou transgredidos determinados valores, sendo considerado sujeito autnomo.

    Repercusses do plgio:

    Com a coleta dos recortes documentais, alguns pronunciamentos sobre a impunidade aos plgios culminaram com atitudes isoladas. Vejamos o material analisado:...lavada em lgrimas, a doutoranda acabaria por admitir ter comprado a tese. Pensara ter adquirido um original, mas venderam-lhe um produto repescado da Internet... Doc.22 ...como a prtica do plgio aponta para a desonestidade acadmica, ele tambm investigado pelas agncias de fomento pesquisa. Doc.23 No processo... A.F.G. alegou que j fora mais que punida pela sua conduta: teve seu ttulo de mestre cassado, sua dissertao e artigo publicados invalidados e fora excluda do corpo discente da universidade. Doc.24

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    A investigao de uma acusao de plgio terminou com uma moo de censura tica da reitoria contra o diretor [...] e o vice-diretor [...] Doc.25 A violao dos direitos autorais, de acordo com a lei 9810/98, que regula o assunto, prev indenizao por danos morais e patrimoniais, que, em certos casos, pode chegar a 3 mil vezes o valor de cada exemplar violado. Em se tratando de propriedade intelectual, tanto os direitos autorais quanto os direitos de propriedade so violados, portanto isso serve de desestmulo aos internautas que se consideram imunes a qualquer punio e incentivo s pessoas levadas a proteger seus direitos, lembrando que importante estar amparado em provas vlidas, conclui E. S.. Doc.26 O plgio, um dos fenmenos socioculturais como depreendemos dos materiais analisados, traz srias repercusses morais, individuais, sociais e profissionais. Essas podem atingir a credibilidade do pesquisador no mbito pessoal, alm de desmoralizar o profissional, culminando em perda do cargo, sujeito demisso por justa causa, perda do direito ao diploma e produes sobre o trabalho, com srios prejuzos, concomitantemente, ao orientador, corresponsvel pela orientao cientfica.Quando o caso chega aos tribunais, a indemnizao por danos morais e patrimoniais, por vezes, bem significativa. Com isso, pode-se afirmar que o desestmulo a tal procedimento na academia, e tambm nos nveis fundamental e mdio, deve ser enfatizado.A divulgao das repercusses desses casos no suficiente para coibir o plgio. Na nossa percepo, ser necessrio trabalhar desde o nvel fundamental sobre direitos e deveres na produo cientfica e literria, bem como, oferecer um ensino voltado para a capacitao de alunos e docentes para produo intelectual. Alm disso, a educao dever primar pelo componente tico que lhe inerente. Nesse pensamento, evidenciamos que para pensar a conduta tica nas produes acadmicas, antes precisamos estabelecer que, para ns, a tica equivale :Dimenso que nos permite o questionamento sobre as prticas, atitudes e aes humanas [...] o critrio que assumimos a prpria vida humana [...] assim as sociedades existem para [...] garantir a existncia digna com acesso a tudo que seja necessrio ao seu pleno desenvolvimento (Sung e Silva, 1995, p. 42).Cabe reconhecermos, tambm, que as normas de

    conduta visam ao bom convvio social e garantia do cumprimento dos direitos, responsabilidades e deveres dos cidados.Nesse caso, para que se garanta a oportunidade de criao e publicao tica, cabe minimizar o fenmeno sociocultural estudado, o plgio na cincia e nas pesquisas, para garantir integridade desse meio social.Entendemos que tanto docentes quanto discentes necessitam de envolvimento nas questes ligadas aos fenmenos estudados, assim, quanto mais se envolverem na busca da compreenso e construo de produo cientfica de forma tica, bem como, se engajarem na luta pela proteo dos direitos autorais, da dignidade dos pesquisadores; da credibilidade dos resultados e das publicaes cientficas, tanto mais estaro cientes e capacitados para a atitude tica na pesquisa.Pelo exposto, a cultura da construo da pesquisa sob o rigor metodolgico e bases terico-prticas slidas uma estratgia que tem contribudo para a consolidao das produes consistentes e coerentes com os postulados ticos na enfermagem.

    Concluso

    A fraude encontra-se definida na literatura em oposio ao erro, tanto um termo quanto outro significam a gerao de informaes incorretas utilizadas como corretas, entretanto, na fraude h intencionalidade, o que repercute em agravante. Os tipos de fraude mais comuns foram os dados duplicados e falsificados.O plgio definido como cpia de trabalho, obra ou textos de outro autor. Alguns tipos emergiram dos materiais analisados, tais como, cpias de parte ou integral de produo cientfica ou literria, apropriao de texto descaracterizando sua origem, mesmo que involuntrias.Ao reunir o material, emergiram as categorias motivos de fraude e motivos do plgio, promovendo a identificao de ambos os fenmenos, que surgem por dificuldade na construo do texto cientfico, publicaes rpidas e em grande quantidade. E ainda, oriundas de leituras superficiais sobre contos e manuscritos para publicao e por deixar para ltima hora a realizao do trabalho, variando desde necessidade de produo at movidos por fins lucrativos.

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    Entretanto, sejam quais forem essas motivaes, convm atentarmos para a sedimentao de valores slidos que garantam a moralidade no ato da pesquisa e na cincia. Em especial, a corporificao da tica a condio necessria para garantir o direito sade e, por conseguinte, a cincia dever corroborar isso. Assim, qualquer atitude fora desse padro de conduta na pesquisa pode se transformar em atraso na cincia e, conseqentemente, desrespeito a esse direito.Sobre a motivao referente facilidade de copiar e colar, oferecidos pela internet, em contrapartida, a identificao de tais ocorrncias so facilitadas, o que deveria coibir essa prtica. A anlise sobre as repercusses das fraudes e dos plgios apontaram para descrdito de pesquisadores e instituies, da prpria cincia, perda de fomento pesquisa e de ttulos, riscos de perda do direito do exerccio profissional, atraso nos avanos possveis do conhecimento, moo de censura tica, reprovaes e retratao e indenizaes requeridas nos tribunais, trazendo repercusses sociais, individuais e profissionais.Assim, a motivao para o aprimoramento moral, instrumentalizando os alunos, docentes e pesquisadores para a produo textual, bem como, a sensibilizao social para uma conduta tica que prime pelos direitos, deveres e responsabilidade, so atitudes capazes de contribuir para minimizar a ocorrncia desses fenmenos socioculturais.