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Colonizao e Emigrao: Portugal e seu Imprio Ultramarino (1822-1974)
Thiago Henrique Sampaio1 (FCL ASSIS/UNESP)
Resumo
Portugal foi uma das primeiras naes a formar seu Imprio Colonial e a ltima a
desmantel-lo. Aps a independncia do Brasil (1822), sua colnia mais desenvolvida, a
nao portuguesa comea a observar o continente africano como fonte de riqueza e
desenvolvimento. O perodo compreendido de 1822 1974 do Terceiro Imprio
Portugus, quando a poltica de colonizao voltou-se inteiramente ao continente negro.
Mesmo com a proclamao da Repblica, o incentivo da colonizao se pendurou ao longo
do sculo XX e se intensificou com a Ditadura do Estado Novo (1933 1974). O presente
trabalho tem como objetivo analisar a poltica de emigrao para as colnias africanas
compreendendo o perodo de 1890 1974, e mostrar como colonizao e emigrao
sempre caminharam juntas nesta poca.
Palavras-Chaves: Terceiro Imprio Portugus, Emigrao Portuguesa, Colnias
Portuguesas na frica, Poltica Colonial Portuguesa
Abstract
Portugal was one of the first nations to form their colonial empire and the last to dismantle
it. After the independence of Brazil (1822), his most developed colony, the Portuguese
nation begins to observe the African continent as a source of wealth and development. The
1 Graduando em Histria pela Faculdade de Cincias e Letras de Assis (UNESP). O presente trabalho faz
parte do projeto de Iniciao Cientfica intitulado O Terceiro Imprio Portugus em frica: desdobramentos
econmicos e polticos na virada do Oitocentos desenvolvido sobre superviso do prof Paulo Csar
Gonalves, sendo usado para tal elaborao fontes do Ministrio da Marinha e do Ultramar, da Sociedade de
Geografia de Lisboa e relatrios administrativos de provncias como Angola e Moambique ao longo do
sculo XIX e XX. A abordagem metodolgica se baseia na Histria Econmica Quantitativa para as fontes
quantitativas e nas fontes qualitativas na abordagem poltica defendida por Pierre Rosanvallon no seguinte
artigo: ROSANVALLON, Pierre. Por uma Histria Conceitual do Poltico. Revista Brasileira de Histria.
So Paulo, v. 15, n. 30, pp. 9-12, 1995. Em relao a metodologia quantitativa destaca-se o uso dos seguintes
artigos: PRADO Jr., Caio. Histria quantitativa e o mtodo da historiografia. Debate & Crtica, n. 6, 1975,
pp. 1 19; FURET, Franois. A histria quantitativa e a construo do fato histrico. IN SILVA, Maria B.
Nizza da. Teoria e Histria. So Paulo: Cultrix, 1977, pp. 1-19; SOBOUL, Albert. Descrio e medida em
histria social IN A Histria Social: problemas, fontes e mtodos. Colquio da Escola Normal Superior de
Saint-Cloud (15-16 de maio de 1965). Lisboa: Edies Cosmos, 1973, pp. 25-45.
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period 1822 to 1974 is the Third Portuguese Empire, when the policy of colonization
turned entirely to the black continent. Even with the proclamation of the Republic, the
encouragement of colonization hung throughout the twentieth century and intensified with
the dictatorship of the Estado Novo (1933-1974). This study aims to analyze the policy of
emigration to the African colonies comprising the period from 1890 - 1974, and show how
colonization and emigration have always gone together this time.
Key Words: Third Portuguese Empire, Emigration Portuguese, Portuguese colonies in
Africa, Portuguese Colonial Politics
1. Introduo
Com a perda do Brasil, Portugal comeou a enxergar na frica sua mais nova fonte
de renda econmica. At ento, a funo dos territrios portugueses no continente negro
era essencialmente o fornecimento de mo de obra escrava ao Brasil.
Em 1834, S da Bandeira apresentou um projeto para o desenvolvimento dos
territrios africanos. Um dos pontos do projeto defendia a abolio do trfico negreiro,
decretado em 10 de dezembro de 1836, para que se pudessem aproveitar os habitantes na
produo agrcola local. Mas, isso seria possvel apenas com investimento de capital.
O projeto acabou fracassando, devido s resistncias encontradas principalmente
em Angola e Moambique por falta de uma maior dominao e interesse dos traficantes de
escravos. No podemos esquecer que a presena portuguesa em frica pouco evoluiu ao
longo dos sculos XVI at a primeira metade do sculo XIX. Em Moambique a ocupao
era precria e dava largo espao para o desenvolvimento de sociedades africanas2.
A partir da dcada de 1850, perodo de relativa estabilidade poltica, S da
Bandeira, agora como presidente do Conselho Ultramarino relanou seu projeto colonial.
Os objetivos eram os seguintes: expanso territorial, maiores relaes entre a metrpole e
as colnias e o incio de uma economia agrcola.
A proposta colonial obteve poucos resultados at a dcada de 1880. Segundo
Valentim Alexandre, em Angola, a tentativa de ocupao do litoral norte rumo foz do
Congo, iniciou-se por Ambriz (tomada em 1855), face ao duplo obstculo representado
pela resistncia das populaes da zona e pela presso britnica; no interior, a histria do
2 BETHENCOURT, Francisco; CHAUDHURI, Kirti. Histria da Expanso Portuguesa: Do Brasil para
frica (1808 1930). Lisboa: Crculo de Leitores, 1998, p. 163.
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perodo faz-se de fluxos e refluxos em escala limitada, sem avanos significativos. Em
Moambique, a luta conduzida contra os senhores dos prazos da Zambzia (mestios
africanizados ao domnio portugus) saldou-se por um fracasso, culminando na derrota da
expedio enviada de Portugal em 1869. No campo mercantil, h um efetivo aumento das
relaes entre metrpole e ultramar3.
No ltimo quartel do sculo XIX, os objetivos portugueses na frica se
balancearam ao processo de expanso colonial de outras naes europias, devido
ampliao da industrializao a outros lugares do globo. Os pases que comearam a se
industrializar entraram na fase do capitalismo concorrencial, a partir disto, fica
determinada urgncia da expanso das fronteiras de controle, a dominao das fontes de
matrias-primas, a transferncia para lugares perifricos de produo de alimentos e a
busca de mo de obra a baixo custo4.
O projeto de colonizao em finais de XIX inseriu-se nas transformaes sofridas
pela sociedade europeia e no desenvolvimento do capitalismo em Portugal. Apesar de ser
uma sociedade capitalista dependente de outras regies, seus ideais coloniais tiveram forte
teor nacionalista5.
Portugal era uma nao essencialmente agrcola, sobretudo quando comparada a
outras potncias que j haviam passado pelo processo de industrializao, suas poucas
indstrias tinham grande dependncia econmica inglesa6.
A dominao portuguesa no territrio moambicano, at a ltima dcada do sculo
XIX, limitou-se costa litornea e a pontos isolados no interior, ou seja, a ocupao era
praticamente a mesma do incio do sculo XVII7. Em Angola, o processo apresentava
algumas diferenas, contava com melhor organizao administrativa e maior populao
portuguesa. Os objetivos portugueses nas provncias ultramarinas no eram os mesmos
(at) meados de Oitocentos: Angola servia como fornecedora de escravos e Moambique
como um porto estratgico para o fornecimento de materiais ndia Portuguesa, Macau e
Timor.
3 ALEXANDRE, Valentim. Portugal em frica (1825-1974) - Uma perspectiva global. Pnelope: fazer e
desfazer a histria. Lisboa, n. 11, 1993. 4 CABAO, Jos Luis. Moambique: Identidade, colonialismo e libertao. So Paulo: Editora Unesp, 2009,
p. 29. 5 PEREIRA, Miriam Halpern. Das Revolues Liberais ao Estado Novo. Lisboa: Editorial Presena, 1994, p.
157. 6 PEREIRA, Miriam Halpern. Livre-cmbio e desenvolvimento econmico: Portugal na segunda metade do
sculo XIX. Lisboa: Edies Cosmos, 1971, p. 20. 7 ANDERSON, Perry. Portugal e o ultracolonialismo. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1966, p. 27.
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2. Delimitao territorial das colnias portuguesas em frica (1887 1891)
A partir das expedies para o interior da frica, a Sociedade de Geografia de
Lisboa elaborou um plano de ocupao das zonas intermedirias (regio que atualmente
corresponde a Zmbia, Zimbbue e Malawi) entre Angola e Moambique. O projeto de
dominao dos territrios, denominado por mapa cor-de-rosa, objetivava relanar os
direitos histricos portugueses sobre uma vasta rea8.
A reivindicao portuguesa dos territrios chegou a ser reconhecida por outras
naes. Em 1886, o governo portugus assinou com a Frana e a Alemanha dois acordos
que definiram os limites fronteirios de suas colnias. Oliveira Marques afirma que,
Portugal perdeu vrios territrios na bacia do Casamansa, compensados em parte pelo fato
de a Frana reconhecer a fronteira norte de Cabinda. Pelo tratado com a Alemanha, a
fronteira meridional de Angola era fixada no rio Cunene e a de Moambique no curso do
rio Rovuma. Ambas estas linhas de fronteira sacrificavam os interesses e as pretenses
tradicionais de Portugal, a costa angolana at o Cabo, pelo apoio de Bismarck poltica do
mapa cor-de-rosa9. O amparo desses pases a Portugal era importantssimo no perodo,
principalmente da Alemanha que se industrializara rapidamente ap