Thiago Lacerda

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86 DEZEMBRO 2013 ENTREVISTA DO MêS THIAGO LACERDA Thiago Lacerda tem todos os atributos que um aspirante a celebridade gostaria de ostentar: é bonito, bem casado, pai de dois filhos e à espera de mais um; tem uma carreira sólida e coleciona papeis de galã em novelas. Mas o ator segue na contramão do politicamente correto. Fala o que pensa, confessa temer os rumos da profissão e não está nem aí se sai mal na foto dos paparazzi – garante, inclusive, se achar “feio e gordinho” de vez em quando. Aos 35 anos e no ar em Joia Rara, folhetim das seis, explica porque o rótulo da fama não lhe cai bem por Adriana Negreiros foto Nana Moraes MEU CAMINHO SHOW BUSINESS E FORA DO O ator Thiago Lacerda adora dar entrevistas. Se a conversa aconte- cer num restaurante, em uma noi- te gelada, acompanhada por algu- mas taças de vinho, tanto melhor. Quando se sente fisicamente con- fortável, o rapaz não se furta a ne- nhum assunto. É um caso raro de celebridade que diz o que pensa, em vez de argumentar que, co- mo “pessoa pública”, talvez deva guardar suas opiniões para si. “Eu adoro a Dilma”, afirma, sobre a presidente da República. “Adoro a maneira discreta, a seriedade, a postura dela. E sinto o contrário pelo Lula. Detesto esse lado fan- farrão e populista”, diz, para em seguida disparar críticas contra o deputado Marco Feliciano, pre- sidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e a formação intelectual dos brasilei- ros. “Eu falo pra caramba”, avisa. Se gosta muitíssimo de pape- ar, por outro lado Thiago abo- mina ser fotografado. “Quando tenho que trocar várias vezes de roupa para uma sessão de fotos, então, detesto”, queixa-se. O ator sonha com o dia em que poderá distribuir fotos pré-produzidas para as entrevistas que conceder. Três meses atrás, pouco antes da estreia da novela Joia Rara, folhe- tim das seis dirigido por Amo- ra Mautner, em que interpreta o operário Toni, o ator deu traba- lho para as moças da Central Glo- bo de Comunicação (CGCOM). Diante da perspectiva nada praze- rosa de posar para as câmeras, fi- cou adiando o compromisso. “Ah, eu tenho preguiça dessa conversa de que cada jornal ou revista tem a sua linguagem”, reclama, com um sorriso sutilmente irônico. Thiago é, de fato, uma perso- nalidade pouco convencional no universo que habita: o das cele- bridades televisivas que adoram flashes, flagras e paparicos. Esse aspecto de seu temperamento se torna ainda mais inusitado pelo fato de que é um homem com todas as ferramentas para assu- mir a confortável posição do galã inatingível. Talvez seja desneces- sário dizer, mas Thiago é muitís- simo bonito. Tem 1m93 de al- tura, mãos másculas, olhos ver- des destacados por sobrancelhas grossas e desalinhadas e um sorri-

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Entrevista com o ator Thiago Lacerda para a revista Marie Claire

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e n t r e v i s t a d o m ê s t h i a g o l a c e r d a

Thiago Lacerda tem todos os atributos que um aspirante acelebridade gostaria de ostentar: é bonito, bem casado, pai de doisfilhos e à espera de mais um; tem uma carreira sólida e coleciona

papeis de galã em novelas. Mas o ator segue na contramão dopoliticamente correto. Fala o que pensa, confessa temer os rumosda profissão e não está nem aí se sai mal na foto dos paparazzi –garante, inclusive, se achar “feio e gordinho” de vez em quando.

Aos 35 anos e no ar em Joia Rara, folhetim das seis, explicaporque o rótulo da fama não lhe cai bemp o r A d r i a n a N e g r e i r o s f o t o N a n a M o r a e s

Meu caMinhoshow business

e fora do

o atorThiago Lacerda adora darentrevistas. Se a conversa aconte-cer num restaurante, em uma noi-te gelada, acompanhada por algu-mas taças de vinho, tanto melhor.Quando se sente fisicamente con-fortável, o rapaz não se furta a ne-nhum assunto. É um caso raro decelebridade que diz o que pensa,em vez de argumentar que, co-mo “pessoa pública”, talvez devaguardar suas opiniões para si. “Euadoro a Dilma”, afirma, sobre apresidente da República. “Adoroa maneira discreta, a seriedade, apostura dela. E sinto o contráriopelo Lula. Detesto esse lado fan-farrão e populista”, diz, para emseguida disparar críticas contra odeputado Marco Feliciano, pre-sidente da Comissão de Direitos

Humanos da Câmara Federal e aformação intelectual dos brasilei-ros. “Eu falo pra caramba”, avisa.

Se gosta muitíssimo de pape-ar, por outro lado Thiago abo-mina ser fotografado. “Quandotenho que trocar várias vezes deroupa para uma sessão de fotos,então, detesto”, queixa-se. O atorsonha com o dia em que poderádistribuir fotos pré-produzidaspara as entrevistas que conceder.Três meses atrás, pouco antes daestreia da novela Joia Rara, folhe-tim das seis dirigido por Amo-ra Mautner, em que interpreta ooperário Toni, o ator deu traba-lho para as moças da Central Glo-bo de Comunicação (CGCOM).Diante da perspectiva nada praze-rosa de posar para as câmeras, fi-

cou adiando o compromisso. “Ah,eu tenho preguiça dessa conversade que cada jornal ou revista tema sua linguagem”, reclama, comum sorriso sutilmente irônico.

Thiago é, de fato, uma perso-nalidade pouco convencional nouniverso que habita: o das cele-bridades televisivas que adoramflashes, flagras e paparicos. Esseaspecto de seu temperamento setorna ainda mais inusitado pelofato de que é um homem comtodas as ferramentas para assu-mir a confortável posição do galãinatingível. Talvez seja desneces-sário dizer, mas Thiago é muitís-simo bonito. Tem 1m93 de al-tura, mãos másculas, olhos ver-des destacados por sobrancelhasgrossas e desalinhadas e um sorri-

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informação é rápida e não é sóli-da. É como a fama, etérea, frágil.Se ficar um ano fora do ar, nin-guém lembra de você. A exposi-ção e a velocidade são ônus mui-to pesados. É absolutamente nor-mal que um jovem faça sucesso

pode dar errado. Tenho me dedi-cado para fazer jus ao meu ofício.Sei que ainda vou fazer muitospersonagens. O medo que tenhoé de me acomodar, de afirmar pramim mesmo que eu cheguei lá.MC E não chegou?TL Não mesmo. Na hora em quesuspeitar disso, eu vou procurarum plano B, que tenho vários.MC Quais são?TL Tem um monte de coisas queadoraria fazer se não fosse ator.Certamente, iria para o mato cui-dar dos meus cachorros, dos bois,ficar perto da natureza. Realmen-te, acho que o meu caminho é forado show business. Faço porque avida me colocou aqui, mas tenhouma conexão com a natureza. Euseria muito feliz criando galinhas.MC Por que você diz que não édo show business?TL Não sou mesmo. Eu tenhovergonha, sou tímido. Por exem-plo, festa de lançamento de no-vela. Claro que, se eu sou o pro-tagonista, estufo o peito e vou.Mas, na maioria das vezes, ficono cantinho, sentado na minhamesa. Só falo se tiver que falar. Eurealmente não tenho essa dispo-sição de ir para a praia para apa-recer em foto de paparazzo, demalhar pra ficar bonito e tirar acamisa, de fazer um personagemsó porque ele vai agradar as pes-soas... Não sou assim. Pra mim,as coisas são mais simples.MC Mas muitas pessoas que-rem trabalhar na televisão jus-tamente para desfrutarem des-sa vida, não?TL Eu sei. Mas, na minha opi-nião, é uma motivação errada.O meu trabalho é contar histó-rias. No entanto, sei que nos úl-timos 15 anos surgiu uma pro-fissão nova: as celebrities. Às ve-zes você vê um cara e pergunta:“O que ele faz?”. Alguém respon-

em uma novela como Malhaçãoe, depois, não apareça mais emlugar nenhum. E isso é de umacrueldade enorme. A inseguran-ça profissional que um jornalistatem na redação, por exemplo, é amesma do meu trabalho.MC Não é um pouco de exa-gero?TL Não. É verdade. Se eu não ma-tar um leão por dia, a impressãoque tenho é de que amanhã per-co o meu emprego. Preciso traba-lhar muito. E os atores tendem aacreditar no que é falso. Vejo mui-tos colegas soberbos, com vaida-de descontrolada. Mas a verdadeé que a máquina te faz maravilho-so e, quando apaga a luz, você es-tá de cueca no camarim.MC A possibilidade de nun-ca mais ser escalado paratrabalhar em uma novela éum medo que te assombra?TL A mim, não. Eu não escolhi es-sa profissão, ela apareceu no meucaminho [Thiago fazia curso deteatro para lidar com a timidez eacabou convidado para o elenco deMalhação, em 1997], então, não

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so que, por mais irônico que pare-ça, é sempre desconcertante. Aos35 anos, ostenta o ar de “homemmaduro”. Como foi nadador an-tes da fama, tem um corpo forte.A despeito disso, é comum quese sinta branco, gordo e cabelu-do, quase feio. E que, como acon-teceu no dia desta entrevista paraMarie Claire, saia de casa com umdesconjuntando gorro na cabeça.“Tô cagando se um paparazzo vaime flagrar em um ângulo ruim”,diz, com seu sorriso enigmático.

Crítico ferrenho da indústriadas celebridades, Thiago tentamanter alguma discrição sobresua vida pessoal, mas sem neu-ras. Casado com a atriz Vanes-sa Lóes, 42 anos, tem dois filhos,Gael, 5, e Cora, 3, com quem éconstantemente visto em passeiospelo Rio de Janeiro. Em breve,deve ter mais um: a mulher aca-bou de descobrir uma nova gra-videz. “Tento preservá-los, massem enclausurar ninguém”, diz.“O que fazem com a filha doTom Cruise é uma covardia. Maso que a mãe vai fazer? Botar umvéu na cabeça da criança? Tran-car em casa?”, se pergunta o ator.MARIE CLAIRE Você sente anecessidade de mostrar queé mais do que um ator boni-to? Isso é ou já foi uma ques-tão para você?THIAGO LACERDA Não. Tenho16 anos de carreira e nunca mepreocupei com isso. Só quero fa-zer meu trabalho da melhor ma-neira possível.Tem gente que gos-ta, tem gente que não gosta. Sefor me preocupar com esse tipode coisa, acabo perdendo tempo.MC Há algum dissabor em sero Thiago Lacerda?TL Muitos. Estar exposto é umdos principais. Hoje em dia to-do mundo tem uma câmera, umaopinião, um perfil no Facebook. A

Faço isso(ser ator)

porque a vida mecolocou aqui,mas seria felizcriando galinhas”

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de: “Ah, ele é um pouco ator, umpouco escritor, surfista, bonitão,poeta, cineasta...” Ninguém sa-be exatamente o que aquela fi-gura faz, mas todos os dias elaestá nos sites de fofoca e nos jor-nais. Há os que vivem disso enão sou contra. Se existe umaindústria, bacana, tomara queas pessoas estejam felizes e ga-nhando sua grana. Mas eu nãoconsigo entender. Eu saio fora.MC Só em 2013 você partici-pou, quase simultaneamen-te, da peça Hamlet, do filmeO Tempo e o Vento, e de JoiaRara. Como você lida com otempo? Tem que abrir mão demuita coisa no âmbito pes-soal para dar conta de tudo?TL Organizar a vida com o tra-balho é um desafio gigantesco.O que procuro fazer é terminarum trabalho para só depois co-meçar outro. Agora estou fazen-do uma novela, mas tenho algunsconvites para cinema. Vou lendo,estudando. Quando terminar anovela, aí eu filmo. Se não, ficamuito difícil cuidar dos filhos, docasamento, encontrar os amigos.MC Você se acha tão atraen-te como dizem?TL Às vezes sim; outras, não.Agora estou gordinho. Semprefui atleta, preciso do meu corpo.Quando não estou bem, sinto.Não é uma questão estética. Estoucagando se as pessoas me achamgordo ou magro. É uma questãode bem-estar. Tem dias em queme sinto feio, cabeludo, branco.Mas não me importo. O impor-tante é que eu me sinta saudávele intelectualmente ativo.MC Você esteve em cartaz re-centemente com a montagemde Hamlet. Por quê esse tex-to específico? Tem a ver comser “intelectualmente ativo”?TL Não precisa de muito moti-

vo para um ator querer encenarHamlet. É a maior peça da his-tória do Ocidente, o personagemmais desafiador. Ele tem tudo oque um ator precisa para querercontar essa história. Não pensavaem fazer esse texto do Shakespe-are naquele momento, mas re-cebi o convite do diretor RonDaniels e topei imediatamente.MC A peça foi sucesso de pú-blico e crítica. É um mito, en-tão, que produtos de menorqualidadetêmmaisêxitohoje?TL Faço questão de ser bastião daresistência dessa ideia. Dizem queas pessoas só querem o tchu, otcha. É mentira! O público queroutras coisas, mas a gente não dápor preguiça. Prefiro não acreditarque a plateia não vai entender. Vaisim! Agindo dessa forma, a longoprazo a gente formata o público.O brasileiro é muito mal educado.MC No sentido de educação oudos modos?TL De tudo. O brasileiro é des-provido de educação de qualida-

ceiro filho. Três não é demais?TL Não acho que seja demais, masera uma conta que assustava umpouco. A gente sempre quis, masnunca tomou essa decisão de ver-dade. Até que aconteceu num des-cuido meio pensado. Porque qual-quer nascimento é um impacto gi-gantesco numa relação. Fazer fi-lho não é uma brincadeira. É ummovimento de muita responsabi-lidade. Você precisa ter consciên-cia absoluta do que isso significafinanceiramente, emocionalmen-te. É preciso saber a sua real con-dição de encarar essa empreitada.MC Você começou a namorara Vanessa aos 23 anos, já umgalã, e se casou aos 29. Em ummomento em que poderia sairdevorando todas, o casamentocolocou os seus pés no chão?TL Foi importante ter conhecidouma mulher maravilhosa comoela tão cedo, porque essa é umaprofissão de seduções. Toda horaconhecemos gente interessante,ganhamos uma grana, nos ofere-cem tudo. Trabalho desde cedo,sempre soube que minha vocaçãoera produzir. E, quando não esta-va trabalhando, queria estar coma Vanessa. Não tinha essa coisadas festas, das mulheres. Eu que-ria viajar com ela. Nesse sentido,costumo dizer que ela me salvou.MC Como assim?TL Se não fosse ela, talvez eu nãotivesse a credibilidade que tenho,não tivesse feito as coisas que medão tanto orgulho.Talvez eu hou-vesse dispensado energia com ou-tras coisas. O fato é que a minhavida seguiu um rumo seguro, fa-miliar. Não que eu tenha procura-do isso, simplesmente aconteceu.MC Casamento é bom?TL É e não é. Em alguns momen-tos é legal estar casado. Em outros,não. Eu acho maravilhoso ter avida costurada como tenho, mas

de. São décadas de descaso. Nes-se período, as pessoas foram acu-mulando informação que nãoera pra acumular, e isso gera de-manda. Se o cara estava me foto-grafando atrás da árvore é por-que alguém consome essa merda.MC A Vanessa Lóes, sua mu-lher, está grávida do seu ter-

A gentesempre quis

(o terceiro filho),mas aconteceunum ‘descuido’meio pensado”

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às vezes falo: caraca, que loucura.Não dá! Tenho que fazer algumacoisa pra mudar, ou vai ficar di-fícil me manter desse jeito. Casa-mento é uma jornada hercúlea, éfeito pra dar errado. Apesar disso,eu acho que é possível dar certo.MC Casamentos são idealiza-dos como costuma ser a ma-ternidade?TL Sim, mas a energia gerada en-tre uma mãe e um filho é algo queum homem jamais saberá no queconsiste. A maternidade é umaestrutura muito poderosa. Essaaliança que botam no dedo nãoé um cordão umbilical. É difícilpra caramba estar casado. Existemmuitas dificuldades em se fazerconcessões, em entender que umnão vai, e nem deve, mudar o ou-tro. É maravilhoso dividir, cons-truir algo com alguém. Mas, poroutro lado, o cotidiano tem a ca-pacidade de corroer a intimidade.MC Uma idealização pareci-da acontece com o sexo, nu-ma era extremamente eroti-zada como a que vivemos?TL O que percebo é que, se aspessoas são saudáveis, o sexo émaravilhoso. Quando encon-tro uma pessoa inteligente, olhopara ela e vejo ali uma figuraequilibrada esteticamente, fisi-camente e intelectualmente, te-nho certeza que ela trepa. Tenhoconvicção dessa teoria. As coisasfazem parte de um pacote. E is-so não tem nada a ver com di-nheiro. Eu conheço um montede ricos babacas para quem eunão daria 30 segundos, se fossemulher. Também conheço vá-rias mulheres montadas pelasquais não tenho o menor tesão.Sexo tem a ver com equilíbrio.MC As mulheres têm falado desexodemaneiracadavezmaisaberta, a exemplo das moçasdo funk, das mulheres-frutas.

O que você acha disso?TL Eu acho machista pra caralho.Por que não existe o homem-fru-ta? Sinceramente, aquelas mulhe-res não são bonitas. Eu não te-nho tesão. Aquela bunda não éimportante, não é bonita. Ela éenorme, não cabe dentro da cal-ça. É cheia de ondulações, silico-ne. Tem o mesmo valor de umamúsica idiota, de um funk quetoca alguma baboseira imbecil.Tem o mesmo valor de uma pes-soa que vive de flash na praia.

TL Não. A minha vida tinha umoutro consumo de tempo, muitomais voltado para o esporte. Nãoposso dizer que era um alienado,mas não era uma figura ativa po-liticamente. E nunca fui um carade esquerda. Pela minha criação,sempre me enxerguei um poucomais de direita. Hoje em dia, nãotenho nenhuma vontade de defi-nir a minha posição. Não querosaber se o político é de direita oude esquerda, quero saber se ele faz.MC Na adolescência, você te-ve uma fase, digamos, maisrebelde?TL Não. Sempre fui atleta, nada-va todos os dias. Comecei a saircom os meus amigos aos 19, 20anos. No fim de semana eu sem-pre tinha que competir. Nuncausei drogas porque o esporte medeu outro caminho. Durante umperíodo da vida em que poderiame dedicar ao sexo, drogas e rockn’roll, estava treinando. Quandofui descobrir o prazer no chopecom os amigos e no vinho comas namoradas eu já estava maisvelho, fora do grupo de risco.MC Você é um homem de opi-niões fortes, não?TL Tento ser honesto. Tenho asminhas opiniões e preciso mefazer ouvir. Ninguém tem queconcordar comigo, mas preci-so dizer o que gosto e o que nãogosto. Tenho uma maneira deenxergar o meu trabalho. Meuobjetivo é não me expor paranão perder o crédito do que fa-ço profissionalmente. Mas sim,para valorizar o que digo quan-do realmente tenho o que di-zer. Defini esse comportamen-to com base em caras que ad-miro, como o Tony Ramos, oChico Buarque, o Caetano Ve-loso. Eu olho para essas figuras epenso: isso faz todo sentido pramim. É por aqui que eu vou.

MC E por que acha que as pes-soas gostam disso?TL Atribuo à baixa integridadeintelectual. Não sou contra asmulheres malharem e ficaremcom perna de jogador de futebol.Mas, se eu achasse aquilo bonito,ia olhar para o jogador de fute-bol. Na minha opinião, mulhe-res devem ser femininas. Veja ocaso desse programas de auditó-rio de baixa qualidade. Por que asmoças do Pânico giram? Por queuma semana é uma e na semanaseguinte já é outra moça? Porqueé pra ser nada. Todas são iguais:bonitas, gostosas e boazudas. Gi-ram porque a informação é debaixa qualidade, não se sustenta.MC Você foi adolescente napós-ditadura, quando era ba-cana ser de esquerda. Você foium garoto politizado?

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Casamentoé uma

jornada hercúlea,é feito para darerrado. Apesardisso, deu certo”

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