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PROJETO TRABALHO E SAÚDE EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS DA CIDADE DE SANTA MARIA - RS

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PROJETO

TRABALHO E SAÚDE EM MOTORISTAS DE

ÔNIBUS DA CIDADE DE SANTA MARIA - RS

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1. INTRODUÇÃO 1.1. TRABALHO E SAÚDE Os efeitos do trabalho na saúde das pessoas vem sendo crescentemente investigado1,2,3,4,5,6,7,8,9, embora o enfoque epidemiológico e das ciências sociais ainda seja suplantado pelo enfoque clínico da medicina do trabalho10. Entretanto, na América Latina, a partir dos anos setenta, estrutura-se uma abordagem sobre a saúde do trabalhador fortemente apoiada pelas Ciências Sociais, o que lhe dá características distintas daquelas da medicina clínica. Nesta nova abordagem, o estudo da relação saúde-trabalho surge a partir do aprofundamento das questões relativas à determinação e ao caráter do processo saúde-doença coletiva10. O processo de produção capitalista possui um duplo sentido, abstrato como processo de valorização e concreto como processo de trabalho, a produção de mercadorias. O processo de trabalho manifesta-se através de seus três elementos: o objeto, que é matéria a ser transformada; a tecnologia utilizada para a transformação do objeto; e a atividade desenvolvida pelo trabalhador. A articulação complexa dos elementos constitutivos do processo de trabalho, segundo uma dada lógica de organização e divisão do trabalho, determina a ocorrência de cargas de trabalho específicas para cada tipo de atividade produtiva, que vão modelar o desgaste psicobiológico dos trabalhadores11 (FIGURA 1). Neste estudo as cargas de trabalho são classificadas de acordo com a sua origem: do ambiente, ou da atividade desenvolvida; e de acordo com a sua natureza (físicas: ruído, calor, vibração; fisiológicas: movimentos repetitivos, monotonia, atenção constante, responsabilidade, posição incômoda). Nesta perspectiva, várias categorias profissionais têm sido estudadas, procurando evidenciar que o desgaste orgânico depende essencialmente do tipo de trabalho que se executa na vida produtiva2,3,8,12. Os motoristas de ônibus constituem grupo extremamente importante, principalmente nas sociedades mais urbanizadas, não só por formarem um contingente numeroso de trabalhadores, expostos a condições de trabalho bastante particulares, mas também pela responsabilidade coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de passageiros. 1.2. MORBIDADE EXCESSIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS Estudos epidemiológicos disponíveis revelam que motoristas de ônibus formam um grupo de risco para determinados problemas de saúde em função de características ocupacionais, especialmente algumas cargas relativas ao ambiente de trabalho e à atividade que executam13.

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Winkleby13, após revisar 22 trabalhos, conclui que motoristas de ônibus tem taxas de mortalidade, morbidade e absenteísmo mais altas que trabalhadores de várias outras profissões, sendo o risco particularmente maior para problemas cardiovasculares, gastrointestinais, e músculo-esqueléticos. Entretanto, estes achados têm sido objeto de controvérsias, uma vez que foram identificados problemas metodológicos relacionados à seleção da amostra, aos grupos de comparação e ao controle de fatores de confusão, em vários estudos. Netterstrom14 evidenciou que a incidência de Infarto do Miocárdio em motoristas de linhas centrais era 3,4 vezes maior do que a de motoristas de linhas periféricas. O autor considera que o maior estresse, a que está submetido o primeiro grupo de motoristas, explicaria o achado. No mesmo estudo, comenta que os níveis pressóricos (sistólico e diastólicos) dos motoristas eram mais elevados do que os de trabalhadores de outras profissões, da mesma região, sem divulgar as medidas e as diferenças. Rosengren15 registrou um número significativamente aumentado de obesos entre os motoristas comparados com outros grupos profissionais, não encontrando diferenças significativas nos níveis pressóricos e no hábito de fumar. Hedberg16 em estudo retrospectivo observou que no período de 1974 a 1985, 16% dos motoristas de ônibus largou a profissão e 30% passou a trabalhar em outro tipo de veículo. Os principais motivos destas mudanças foram horários irregulares de trabalho, problemas músculo-esqueléticos e insatisfação com o salário. Em outro estudo, Hedberg17 mostrou que, em motoristas, os problemas músculo-esqueléticos da região lombar, ombros e joelhos, respectivamente nesta ordem, são os mais prevalentes. Após padronização por idade, observou que os problemas de cotovelos e ante-braços são os mais frequentes em motoristas de caminhão e os problemas de joelhos, nos taxistas. Os motoristas de ônibus não constaram deste estudo. Pattersson18, estudando dor nas costas entre motoristas de ônibus, encontrou uma prevalência de 43%. Dos motoristas com este problema, 86% referiu ter a dor no trabalho e 53% já havia consultado um médico por este motivo. Também foram mencionados dores nos ombros (34%) e pescoço (33%) e problemas de visão (23%) e dentários (21%). Bovenzi19 relata uma associação linear da idade com dor nas pernas e lombalgia, tanto em motoristas de ônibus, quanto nos controles (mecânicos, eletricistas e operadores). O Índice de massa corporal, a educação e o trabalho prévio com demanda de esforço físico também apresentaram associação com lombalgia. A prevalência de lombalgia nos motoristas foi de 62,4%, nos últimos 7 dias; 82,9%, no último ano e 83,8%, em toda vida. Cerca de 12.4% destes trabalhadores também relatavam a ocorrência diária deste problema.

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No quadro abaixo (QUADRO 1), as informações sobre os principais estudos referidos são detalhadas quanto ao tipo de delineamento, tamanho da amostra e grupos de comparação, fatores de confusão controlados, desfecho estudado e medidas de efeito utilizadas. QUADRO 1. Revisão de estudos envolvendo motoristas de ônibus urbanos. Santa Maria, 1993.

Autor/Ano/ Local

Delin. Amostra Controle Fator Confusão

Desfecho Medidas de Efeito (ic 95%)

Netterstrom14 1978-85 Dinamarca

Coorte 2465 motoristas de ônibus

Idade Tabagismo

Infarto Agudo do Miocárdio

OR = 3.4 (1.2-9.5) "linhas" centrais x periféricas.

Rosengren15 1970-83 Suécia

Coorte 103 mot ônibus e trem 6596 trab de outras profissões

Idade, Colesterolemia, HAS, fumo, Sit.sócio-economica, ativ. física

Doença Corona- riana

OR = 3.0 (1.8-5.2) motoristas

Paterson18 1985 USA

Cross Sec

120 motoristas de ônibus

Não Dor nas Costas

Só relata prevalências Associação significativa (p<0,05): Estresse, ganho de peso após entrar para o emprego e sedentarismo

Bovenzi19 1980 Itália

Cross Sec

436 moto-ristas de ônibus e 240 mecânicos, eletricistas e operadores

Idade, Índice de massa corporal, Postura, Educação, Tabagismo, Atividade esportiva

Sintomas de Lombalgia

OR = 3.12 (1.8-5.4) motoristas

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1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E JUSTIFICATIVA Pretende-se investigar a morbidade em motoristas de ônibus da cidade de Santa Maria, enfocando particularmente problemas psicológicos (SRQ-20), lombalgia e hipertensão arterial sistêmica, relacionando-os às cargas de trabalho a que estão expostos e controlando os fatores de confusão mais importantes. O conhecimento da morbidade de motoristas de ônibus e de seus determinantes deverá permitir o desenvolvimento de ações de proteção e prevenção da saúde destes trabalhadores e, em consequência, maior conforto e segurança para o grande número de usuários cotidianos do transporte coletivo. 2. OBJETIVOS 2.1 GERAL - Estudar o perfil de morbidade de motoristas de ônibus urbanos da cidade de Santa Maria e sua relação com os riscos ocupacionais a que estão expostos. 2.2 ESPECÍFICOS Em termos específicos, tanto para os motoristas, quanto para o grupo de comparação pretende-se cumprir os seguintes objetivos: - Estabelecer a prevalência de problemas psicológicos, lombalgia e hipertensão arterial sistêmica. - Caracterizar a história ocupacional. - Descrever as cargas de trabalho. - Estudar associações entre função, antiguidade, cargas de trabalho e morbidade. - Estudar o absenteísmo e suas causas.

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3. HIPÓTESES - A prevalência de problemas psicológicos e lombalgia é duas vezes maior entre motoristas do que entre o grupo controle. - A prevalência de hipertensão arterial sistêmica é 1,8 vezes maior entre motoristas do que entre o grupo controle. - As prevalências das cargas decorrentes do ambiente de trabalho, como por exemplo ruído, calor e vibração, são significativamente maiores entre motoristas do que no grupo controle. - As prevalências das cargas de trabalho decorrentes da atividade, como por exemplo movimentos repetitivos, monotonia, responsabilidade excessiva e rotação de turnos, são significativamente maiores entre motoristas do que no grupo controle. - O excesso de morbidade de motoristas em relação ao grupo controle, explica-se por diferenças nas funções exercidas, nas cargas a que estão expostos e no tempo de exposição a estas cargas, controlados os possíveis fatores de confusão.

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4. METODOLOGIA 4.1 DELINEAMENTO E POPULAÇÃO ALVO Será realizado um estudo transversal em uma amostra representativa dos aproximadamente 350 motoristas de ônibus urbanos de Santa Maria, cidade de porte médio (220.000 habitantes/Censo de 1991), que se encontram distribuídos em cinco empresas de transporte coletivo do município. Para cada motorista entrevistado será selecionado um vizinho, pareado por idade e sexo, para constituir o grupo de comparação. Os vizinhos serão de outras profissões, excetuando a de motorista. 4.2 AMOSTRAGEM O cálculo do tamanho da amostra foi realizado utilizando-se o programa de computador EPI-INFO. Adotou-se um nível de confiança de 95%, poder estatístico de 80%, razão de exposto/não exposto de 1:1 e as prevalências entre não expostos e Risco Relativo de acordo com a literatura 2,20,21,22,23,24,25, os resultados são apresentados na tabela 1. TABELA 1. Parâmetros estatísticos utilizados para o cálculo do tamanho da amostra. Trabalho e saúde em motoristas de ônibus. Santa Maria, RS. 1993.

Problema Prev. não expostos

%

RR amostra inicial

+ 10%

perdas

+ 30% conf

amostra final (mot)

TOTAL ( mot

+ viz )

Psicológicos 14 2 146 15 44 205 410

HAS 18 1,8 155 16 47 218 436

Lombalgia 18 2 105 11 32 143 296 Foram acrescentados ao cálculo inicial do EPI-INFO 10% para possíveis perdas e 30% para o controle de fatores de confusão. Será utilizada a maior amostra encontrada, ou seja 218 motoristas e 218 controles. Serão obtidas listas de todos os motoristas junto às empresas e organizadas em ordem alfabética do primeiro nome do trabalhador, por empresa. Depois as listas por empresa serão emendadas, compondo uma lista única. E então, será realizada amostra sistemática com um "pulo" suficiente para obter a amostra requerida pelo estudo. O grupo controle será formado por vizinhos, escolhidos nas residências próximas a do motorista, respeitando-se o gênero e a semelhança de idade (desvio de ± 5 anos).

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4.3 QUADRO DE VARIÁVEIS

As variáveis usadas no estudo, seus indicadores e escalas estão sintetizadas no quadro 2.

QUADRO 2. Variáveis utilizadas no estudo. Trabalho e saúde em motoristas de ônibus.

Santa Maria, RS. 1993.

VARIÁVEL/PROCESSO INDICADORES ESCALAS

1. CARACT. INDIVIDUAIS Idade Grupo étnico Escolaridade Estado civil Peso/altura Fumo Álcool Atividade física

Idade Cor Anos de estudo Situação marital Índice massa corporal Uso de tabaco Uso de álcool Tipo de atividades

Anos completos Branco/ ñ branco Anos aprovados Casado/solteiro Norm/sobrep/obes Nºcigarros, tempo Tipo, dose, tempo Frequência, tempo

2. CARACT. CUPACIONAIS Empresa Linha Tecnologia Atividade Renda Antiguidade Cargas Ambientais Cargas da Atividade História Ocupacional Jornada de Trabalho Turno de Trabalho

Empresa Local Ano, marca, condições do ônibus, localização do motor Função Salário Tempo serviço Ruído, calor, vibração Repetitividade,monotonia, atenção constante, responsabilidade, posição incômoda, Funções anteriores Duração da jornada Tipo de turno

Nome da empresa Central, periférica Ano, marca, adequada/ inadeq. frente/ atrás, Mot. ou outras (viz) Cruzeiros Reais Meses de trab Sim/não Sim/não Funções Horas diárias Diurno/ misto

3. ABSENTEÍSMO Falta ao trabalho Número de dias

4. MORBIDADE Psicológicos Hipertensão Arterial Sistêmica Lombalgia Perfil de morbidade

SRQ-20 ponto de corte 6 TA Sistólica >= 95 mmHg e Diastólica >=160 mmHg dor lombar referida (recordatório de 1 ano e de 7 dias) Morbidade (lista)

Sim / não Sim / não Sim / não Sim / não

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4.4 INSTRUMENTOS Será utilizado um questionário padronizado e pré-codificado. Através do questionário serão coletadas variáveis demográficas, história ocupacional pregressa, atividade, antiguidade no serviço (tempo de exposição), tecnologia, organização do trabalho, cargas de trabalho, equipamentos de proteção e segurança, absenteísmo e morbidade percebida. Para identificar problemas psicológicos será usado o SRQ-20. E para lombalgia será utilizado o standardised Nordic questionnaire on musculoeskeletal symptoms 26. A prevalência de lombalgia será verificada no último ano e nos últimos sete dias. (QUADRO 2) Serão utilizadas balanças de banheiro para obtenção do peso, antropômetro para medir a estatura e esfigmomanômetro aneróide e estetoscópio para verificação da tensão arterial. 4.5 ANÁLISE DOS DADOS 4.5.1. ANÁLISE UNIVARIADA: Permite descrever as variáveis na população estudada. Variáveis quantitativas: medidas de tendência central e dispersão. Variáveis qualitativas: proporções. 4.5.2. ANÁLISE BIVARIADA: Será realizado o cruzamento das variáveis independentes e dependentes entre si e com todas as variáveis de confusão e mediadoras, conforme o Modelo de Análise proposto (FIGURA 2). A associação entre as variáveis será explorada através do "software" SPSS/pc+, utilizando-se testes de significância estatística: qui-quadrado, para diferenças e Mantel-Hanzel, para tendência linear. Como o delineamento do estudo é transversal, a medida de efeito utilizada será a razão de prevalência, com seus respectivos intervalos de confiança. As associaçoes com p<0.1 serão controladas na análise multivariada. O quadro 3 indica as variáveis independentes e dependentes e possíveis fatores de confusão, referidas nas hipóteses e constantes do Modelo de Análise. QUADRO 3. Variáveis dependentes, independentes e fatores de confusão. Trabalho e saúde em motoristas de ônibus. Santa Maria, RS. 1993.

Variáveis Independentes Variáveis Dependentes Fatores de Confusão

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Atividade Antiguidade Cargas do ambiente de trabalho Cargas da atividade

Problemas psicológicos Lombalgia Hipertensão arterial sistêmica

Idade Escolaridade Tabagismo Índice de massa corporal Renda

4.5.3. ANÁLISE MULTIVARIADA: A análise multivariada permite apreciar o efeito das variáveis independentes sobre as dependentes, controlando-se o efeito das demais variáveis simultaneamente associadas (critério estatístico: p<0,1). Como todos os desfechos são dicotômicos, utilizar-se-á a regressão logística ("software" EGRET) como modelo de análise multivariada. Neste caso, além do coeficiente de regressão, será utilizado o OR e seu respectivo intervalo de confiança, como medida de efeito. A significância estatística será obtida através do teste da razão de verossimilhança. 4.6 LOGÍSTICA A lista dos motoristas que comporão a amostra será obtida conforme está descrito no item 4.2. Os motoristas serão contatados no início ou final da linha, onde costumam descansar por aproximadamente 30 minutos. Nesta oportunidade será preenchido o cabeçalho de identificação do questionário e colhido o endereço detalhado do entrevistado, marcando-se visita domiciliar, em dia e hora de preferência do trabalhador para complementação da coleta dos dados. O controle será selecionado nas casas vizinhas respeitando o gênero e com idade semelhante (desvio de ± 5 anos), obedecendo o seguinte critério: o entrevistador de costas para a casa do motorista sairá para o lado esquerdo visitando todas as casas até encontrar o controle adequado. Se chegar à esquina e ainda não tiver encontrado, retorna à casa do motorista e segue para o lado direito da rua até a outra esquina. Se mesmo assim não encontrar atravessa a rua e visita as casas do outro lado da rua. Os questionários serão aplicados por 5 entrevistadores, sendo após obtidas as medidas de peso e altura e verificada a tensão arterial. As técnicas de medida estarão descritas no manual do entrevistador. A codificação das questões fechadas será realizada pelos próprios entrevistadores. Os dados serão digitados em computador utilizando-se o programa EPI-INFO. A supervisão do trabalho de campo, a codificação das questões abertas e a revisão da codificação será realizada pelo coordenador do estudo (mestrando).

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4.7 CONTROLE DE QUALIDADE O controle de qualidade dos dados deverá ser obtido, inicialmente, através de criteriosa seleção e treinamento dos entrevistadores (alunos de medicina), leitura do questionário, role-play e entrevistas acompanhadas. Os entrevistadores serão treinados para as medidas de peso, altura e pressão arterial, e deverão seguir o manual do entrevistador. Após a coleta, realizar-se-á codificação imediata dos dados. O supervisor fará revisão da codificação e repetição de um questionário simplificado para 10% dos entrevistados. Serão invalidados os questionários com mais de 10% de discordância e o entrevistador afastado. Serão realizadas duas digitações que serão comparadas utilizando-se o programa EPI-INFO. As balanças serão calibradas diariamente antes de iniciar o trabalho de campo com dois pesos (10 e 20 Kg). E os esfigmomanômetros semanalmente por pessoa treinada que será contratada. 4.8 ESTUDO PILOTO Será realizado estudo piloto com cerca de 30 trabalhadores para garantir maior adequação da logística e dos intrumentos aos objetivos do estudo. 5.CRONOGRAMA O cronograma previsto está detalhado na tabela 2. Tabela 2. Cronograma do estudo trabalho e saúde em motoristas de ônibus. Santa Maria, RS. 1993.

CRONOGRAMA - 1994 J F M A M J J A S O N D

Revisão Bibliográfica * * * * * * * * * * * *

Elaboração do questionário e Amostragem

*

Preparação do trabalho de campo e treinamento dos entrevistadores

* *

Estudo Piloto *

Trabalho de Campo * * * *

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Codificação, digitação e limpeza dos dados

* * * *

Análise dos dados * * *

Redação e Divulgação dos Resultados

* * *

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6.ORÇAMENTO Os custos inicialmente previstos para este estudo estão arrolados na tabela 3. Tabela 3. Orçamento do estudo trabalho e saúde em motoristas de ônibus. Santa Maria, RS. 1993.

Especificação Valor *

Despesas com pessoal 600.000,00

Material de consumo 45.000,00

Material permane nte 270.000,00

serviços de terceiros 60.000,00

T O T A L 975.000,00 * Valor em CR$ Cruzeiros Reais.

6.1 JUSTIFICATIVA ORÇAMENTÁRIA Despesas com pessoal: serão necessários 5 entrevistadores que realizarão o trabalho de campo, a codificação, digitação e limpeza dos dados. Os entrevistadores também auxiliarão na análise dos dados obtidos dos 436 entrevistados. Material de Consumo: Serão utilizados disquetes e formulários contínuos para o processamento eltrônico dos dados. E material de escritório para o restante do trabalho. Material permanente: Serão necessárias cadeiras, escrivaninhas e estantes para mobiliar a sala cedida pelo Departamento de Saúde da Comunidade. Serviços de Terceiros: Gastos referentes à impressão do questionário e do relatório final, produção de diapositivos e cópias xerográficas. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em uma Indústria de Refrigerantes: Força de Trabalho e Riscos Ocupacionais. II Congresso de Epidemiologia-ABRASCO, Belo Horizonte-MG, 1992. 2.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em uma Indústria de Refrigerantes: Morbidade. II Congresso de Epidemiologia-ABRASCO, Belo Horizonte-MG, 1992. 3.Facchini,LA. Trabalho e Saúde na Indústria da Alimentação: Estudo Comparativo de 5 Atividades Produtivas. VIII Congresso Mundial de Medicina Social, México, março/1994.

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4.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em Indústria de Massas Alimentícias: o Resultado do Modelo Operário. III Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, P. Alegre-RS, maio/1992. 5.Facchini,LA et al. Trabalho e Saúde em uma Indústria de Oléo Comestível: O Resultado do Modelo Operário. II Congresso Nacional da Rede IDA-Brasil, São Paulo-SP, junho/1993. 6.Laurell,AC. A Saúde-Doença como Processo Social. In: Nunes,ED. Medicina Social Aspectos Históricos e Teóricos. São Paulo: Global, 1983;133-58. 7.Laurell,AC, Noriega,MN. Processo de Produção e Saúde: Trabalho e Desgaste Operário. São Paulo: HUCITEC, l989. 8.Mendes,R. O Impacto dos Efeitos da Ocupação Sobre a Saúde dos Trabalhadores: I Morbidade. Revista de Saúde Pública, 1988;22(4):311-26. 9.Oddone,I et al. Ambiente de Trabalho: a Fábrica no Território. São Paulo: Hucitec-Cebes, 1986. 10.Laurell,AC. Saúde e Trabalho: Os Enfoques Teóricos. In: Nunes,ED. As Ciências Sociais em Saúde na América Latina: Tendências e Perspectivas. Brasília: OPAS, 1985;255-76. 11.Facchini,LA. Processo de Trabajo, Cambio Tecnologico y Desgaste Obrero. El Caso del Ingenio de Azucar Adolfo Lopez Mateo. México:UAM, 1986. Dissertação de Mestrado. 12.Riihimaki,H, Tola,S, Videman,T, Hanninen,K. Low-Back Pain and Occupation A Cross-Sectional Questionnaire Study of Men in Machine Operating, Dynamic Physical Work, and Sedentary Work. Spine,1989;14(2):204-09. 13.Winkleby,MA, Ragland,DR, Fishert,JM, Syme,L. Excess Risk of Sickness and Disease in Bus Drivers: A Review and Synthesis of Epidemiological Studies. International Journal of Epidemiology, 1988;17(2):255-61. 14.Netterstrom,B Juel,K. Impact of Work-Related and Psychosocial factors on the Development of Ischemic Heart Disease Among Urban Bus Drivers in Denmark. Scandinavian Journal Work Environment Healt, 1988;14:231-38. 15.Rosengren,A, Anderson,K, Wilhelmsen,L. Risk of Coronary Heart Disease in Middle-Aged Male Bus and Tram Drivers Compared to Men in Other Occupations: A Prospective Study. International Journal of Epidemiology, 1991;20(1):82-8.

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16.Hedberg,G, Langendoen,SM. Factors Influencing the Turnover of Swedish Professional Drivers. Scandinavian Journal Social Medicine, 1989;17(3):231-37. 17.Hedberg,G. The Period Prevalence of Musculoskeletal Complaints among Swedish Professional Drivers. Scandinavian Journal of Social Medicine, 1988;16 (1):5-13. 18.Paterson,PK, Eubanks,TM, Ramseyer,R. Back Discomfort Prevalence and Associated Factors Among Bus Drivers. AAOHN Journal, 1986;34(10):481-84. 19.Bovenzi,M, Zadini,A. Self-Reported Low Back Symptoms in Urban Bus Drivers Exposed to Whole-Body Vibration. Spine, 1992;17(9):1048-59. 20.Reisbord,LS, Greenland,S. Factors Associated with Self-Reported Back-Pain Prevalence: A Population-Based Study. J Chron Dis, 1985;38(8):691-702. 21.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em Indústria de Massas Alimentícias: o Resultado do Inquérito Epidemiológico. III Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, P. Alegre-RS, maio/1992. 22.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em uma Indústria de Oléo Comestível: A Morbidade Referida. II Congresso Nacional da Rede IDA-Brasil, São Paulo-SP, junho/1993. 23.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em um Engenho de Arroz: O Resultado do Inquérito Epidemiológico. II Congresso Nacional da Rede IDA-Brasil, São Paulo-SP, junho/1993. 24.Facchini,LA, et al. Trabalho e Saúde em um Engenho de Arroz: O Resultado do Inquérito Epidemiológico. II Congresso Nacional da Rede IDA-Brasil, São Paulo-SP, junho/1993. 25. Piccini, R.X. Hipertensão Arterial Sistêmica em Pelotas, RS: Prevalência Fatores de Risco e Manejo. Pelotas, Universidade Federal de Pelotas. 1993. Dissertação de Mestrado. 26.Kuorinka,I, Jonsson,B, Vinterberg,H, et al. Standardised Nordic Questionnaires for the Analysis of Musculoskeletal Symptoms. Applied Ergonomics, 1987;18(3):233-37.

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MODELO TEÓRICO

FIGURA 1. Modelo teórico que orientou o estudo da associação entre morbidade e função (atividade) motorista de

ônibus urbanos. Santa Maria - RS. 1994.

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MODELO DE ANÁLISE

FIGURA 2. Modelo análise para a associação de morbidade com a função (atividade) de motorista de ônibus urbanos. Santa Maria - RS. 1994.

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RELATÓRIO DO TRABALHO DE CAMPO

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TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES

Os entrevistadores foram 4 estudantes que cursavam o 5º semestre de

medicina (Alessandra Casagrande, Marcelo Moreno, Simone Tasqueto Bolzan e Sidnei

Michel Pereira) e uma técnica em higiêne dentária (Inês Amanda Streit). Todos já

tinham experiência prévia em estudo epidemiológico com trabalho de campo na

comunidade (Diagnóstico de Saúde Infantil da Cidade de Santa Maria), desenvolvido

sob supervisão do mestrando em março abril e maio de 1993.

Isto facilitou o treinamento pois já havia uma integração entre a equipe. A

experiência prévia facilitou principalmente as técnicas de aplicação do questionário e a

codificação e tabulação dos dados que seguiam as mesmas normas, exigindo apenas a

adaptação às questões que, logicamente, eram bastante diferentes do trabalho anterior.

Além da aplicação do questionário, foram realizadas medidas da altura, peso e

pressão arterial sistêmica, o que exigiu um treinamento específico para cada uma delas.

O treinamento foi realizado em uma semana e consistiu de: leitura individual do

questionário, leitura do questionário para todo o grupo, aplicação do questionário uns

aos outros e dramatização (onde um entrevistador representava um trabalhador e era

realizada uma 'entrevista' na presença dos demais para que fosse possível solucinoar

os problemas em conjunto e também verificar erros de aplicação que porventura

estivessem sendo cometidos pelos entrevistadores) e a realização das medidas. Todos

os entrevistadores já sabiam verificar a pressão arterial, mesmo assim foi realizado

treinamento visando padronizar os procedimentos. O treinamento das medições foi

realizado em funcionários do Centro de Ciências da Saúde pela facilidade de acesso.

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ESTUDO PILOTO

O estudo piloto foi realizado com 2 motoristas e vizinhos para cada

entrevistador e resultou em pequenas modificações na formulação de algumas

perguntas, principalmente nas informações específicas para motoristas. Foi realizada

uma reunião de toda a equipe onde verificou-se que possíveis dificuldades em função

do tempo de duração da entrevista e da realização das medidas não aconteceram, e

isto estimulou o grupo para o início dos trabalhos. Não foi necessário repetir as

entrevistas que, assim, foram incluídas no estudo.

POPULAÇÃO ESTUDADA E PERDAS

Amostragem

A primeira tarefa foi a obtenção das listas com nome e endereço dos motoristas

junto às empresas. Cinco empresas concederam as listas sem problemas e uma, com

aproximadamente 10 motoristas, não colaborou. No projeto tratamos de 5 empresas

porque uma delas foi dividida após a elaboração do mesmo, resultando em 6 empresas

na época do trabalho de campo.

O próximo passo que seria a composição de uma única lista e o sorteio de 218

motoristas não foi realizado porque encontrou-se um total de 225 motoristas e decidiu-

se entrevistar a todos.

Quando foi iniciado o trabalho de campo percebeu-se a má qualidade das

informações. Havia um grande número de trabalhadores que já se haviam desligado das

empresas, e a maioria dos endereços errados.

Decidiu-se suspender as entrevistas e durante dois dias ficar nas paradas de

final de linha para a obtenção do endereço completo do motorista e também a idade.

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Com estas informações foi montado um banco de dados, utilizando-se o programa

DBASE III-plus, que foi muito útil para coordenar as entrevistas e permitiu entrevistar

um vizinho mesmo antes do motorista pois já se dispunha da idade e endereço corretos.

A localização do endereço também foi facilitada por pontos de referência fornecidos

pelos motoristas, além de horários em que costumavam estar em casa.

Assim como foram encontrados motoristas que já não estavam mais na

empresa, também foram encontrados motoristas que não estavam nas listas fornecidas

ou que haviam ingressado recentemente no emprego. Com a exclusão dos primeiros e

a inclusão destes últimos obtivemos uma lista que acreditamos conter todos os

motoristas urbanos em atividade na cidade no mês de fevereiro de 1994, quando foi

iniciado o estudo.

Esta lista era composta de 222 motoristas das 6 empresas. Resolvendo

também o problema da empresa que não fornecera o endereço dos seus motoristas.

Para cada motorista foi selecionado um vizinho conforme critérios pré-

estabelecidos no projeto. A participação dos vizinhos se deu sem problemas e nestes

não foi verificada nenhuma recusa.

Perdas

Dos 222 motoristas apenas 3 se recusaram a participar do estudo e outros 5

não foram localizados. Totalizando uma perda de 8, ou seja, 3,6% do total. Foram

entrevistados 214 motoristas de 6 empresas (TABELA 1).

TABELA 1. Distribuição dos motoristas de acordo com a empresa. Trabalho e saúde

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em motoristas de ônibus em Santa Maria, RS. 1994.

EMPRESA n %

Medianeira 139 64.9

Gabardo 21 9.8

Santa Catarina 20 9.4

Centro Oeste 14 6.5

Dores 13 6.1

Salgado Filho 7 3.3

TRABALHO DE CAMPO

O trabalho de campo foi realizado de três de fevereiro a dez de abril de 1994.

A grande maioria das entrevistas (90%) foi realizada nos primeiros 35 dias, restando

apenas as de mais difícil acesso ou revisitas para o resto do período.

Cada entrevistador realizou em média 2,5 entrevistas por dia no primeiro

período e 0,3 entrevistas por dia nos últimos 30 dias. O tempo gasto com deslocamento

até o domicílio do entrevistado, em função da distância entre os locais de moradia dos

motoristas, justifica esta diferença.

Nas duas primeiras semanas as entrevistas foram realizadas em duplas e um

dos entrevistadores ficava acompanhado pelo supervisor em sistema de rodízio. Depois

os entrevistadores podiam ir sozinhos e o supervisor continuou acompanhando

entrevistas aleatoriamente para o controle da qualidade.

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O contato do supervisor com os entrevistadores era diário e era realizada uma

reunião semanal com todo o grupo para avaliação do andamento do trabalho e

fornecimento de material.

As balanças eram calibradas diariamente no valor 0 e com pesos de 5 e 10

quilogramas.

Os esfigmomanômetros foram calibrados no início do estudo e, em forma de

rodízio, mais duas vezes durante o período da pesquisa.

CODIFICAÇÃO, DIGITAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A codificação das questões abertas foi realizada pelo próprio entrevistador no

mesmo dia da entrevista e revisada semanalmente pelo coordenador. As questões

abertas foram tabuladas e codificadas no final do estudo por um único aluno. A revisão

final foi realizada pelo coordenador.

Foram realizadas duas digitações utilizando-se o programa EPI-INFO 5.0. Com

o mesmo aplicativo foi feita a validação e correção dos erros de digitação.

Para a análise o banco de dados foi convertido e trabalhado no programa

SPSS/PC+, onde realizou-se as análises uni e bivariada. A análise multivariada por

regressão logística foi feita utilizando-se o software EGRET.

AVALIAÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROJETO

O desenvolvimento do projeto ‘Trabalho e Saúde em Motoristas de Ônibus de

Santa Maria - RS’ permitiu traçar um perfil de morbidade, caracterizar a organização do

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trabalho e das exposições a cargas de trabalho para esta categoria ocupacional,

objetivos propostos inicialmente.

Problemas psiquiátricos e absenteísmo não foram analisados em função da

baixa ocorrência verificada entre os motoristas.

A confirmação das hipóteses sobre a maior ocorrência de cargas de trabalho

entre os motoristas, somadas à refutação daquelas que previam um excesso de

morbidade entre motoristas, explicado pelas diferenças na atividade exercida e pelas

cargas de trabalho, cria um paradoxo.

A explicação para este paradoxo parece residir no fato de que os motoristas,

mesmo apresentando maior prevalência de cargas de trabalho, têm a morbidade

determinada, em grande parte, pelo tamanho e características sócio-econômicas da

cidade onde trabalham. Com isso, o estudo também acrescentou novos elementos

para a compreensão do excesso de risco nos motoristas de lombalgia e hipertensão

evidenciado pela literatura.

Assim, em novos estudos, as hipótese deveriam considerar o excesso de

morbidade em grandes cidades, com maior intensidade e complexidade do trânsito,

aliada a outras características estressantes típicas de grandes aglomerados urbanos.

Enquanto que, em cidades menores, ao contrário, os motoristas parecem não

apresentar excesso de risco de morbidade quando comparados com pessoas oriundas

do mesmo estrato social.

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ARTIGO1

LOMBALGIA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS EM SANTA MARIA-RS: PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO

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Lombalgia em Motoristas de Ônibus em Santa

Maria-RS: Prevalência e Fatores de Risco

RESUMO :

OBJETIVO - O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de lombalgia em

motoristas de ônibus e em um grupo de comparação. Também objetivou-se, identificar

cargas de trabalho associadas à ocorrência de lombalgia em motoristas, controlando-se

fatores de confusão. METODOLOGIA: Através de um delineamento transversal, foram

estudados 214 motoristas de ônibus urbanos da cidade de Santa Maria - RS, e um

grupo de comparação composto por uma amostra aleatória do mesmo número de

vizinhos de mesmo sexo e idade. Os dados foram coletados através de entrevista

domiciliar.

RESULTADOS: A prevalência de lombalgia nos últimos 12 meses - em torno de 45% -

foi semelhante em ambos os grupos. Não foram observadas associações significativas

de lombalgia com renda mensal, estado civil, obesidade, alcoolismo, sedentarismo,

problemas psiquiátricos e antiguidade na função. A análise multivariada por regressão

logística evidenciou as cargas de trabalho como fatores mediadores da lombalgia entre

os motoristas. CONCLUSÃO - Em Santa Maria, motoristas de ônibus urbanos parecem

não apresentar um risco maior para dor lombar quando comparados com a população

de mesmo sexo e idade que reside na sua vizinhança. O estudo também evidencia que

a lombalgia entre os motoristas é explicada, em parte, pela exposição às cargas posição

viciosa, movimentos repetitivos e vibração, típicas do trabalho de dirigir ônibus urbanos.

PALAVRAS-CHAVE: lombalgia, motoristas de ônibus, saúde do trabalhador,

epidemiologia.

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Low Back Pain among Bus Drivers in Santa Maria-RS:

Prevalence and Risk Factors.

Abstract:

OBJECTIVE: the aim of the present study was to determine the prevalence of low back

pain in bus drivers and in a comparison group. It was also aimed to identify work load

related to low back symptoms in bus drivers controlling for confounders.

METHODOLOGY: 214 urban bus drivers from Santa Maria city - RS and a comparison

group composed by a neighbors’ random sample of same number, sex and age, were

studied through a cross sectional study. The data was collected through a home

interview.

RESULTS: The prevalence of low back pain in the last 12 months - around 45% - was

alike in both groups. Significant associations between low back pain and income, marital

status, obesity, alcoholism, sedentarism, psychiatric problems and number of years in

the function weren’t observed. The multivaried analysis by logistic regression showed the

work loads as mediators of low back pain among the drivers.

CONCLUSION: in Santa Maria, bus drivers seem not showing a higher risk for low back

pain compared with the same sex and age population which lives in his neighborhood.

The study also shows that low back pain among drivers is explained partially by the

exposition to loads defective position, repetitive movements and vibration, typical of

driving urban buses work.

Key-words: low back pain, bus drivers; occupational health, epidemiology.

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INTRODUÇÃO:

Os motoristas de ônibus constituem um grupo extremamente importante,

principalmente nas sociedades mais urbanizadas, não só por formarem um contingente

numeroso de trabalhadores, expostos a condições de trabalho bastante particulares,

mas também pela responsabilidade coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de

passageiros.

Diversos estudos epidemiológicos têm evidenciado um maior risco de

mortalidade e morbidade em motoristas, quando comparados a outros trabalhadores

(Backman, 1983; Ragland, 1987; Netterstron, 1988; Ahumada, 1991; Michaels, 1991;

Rosengren, 1991; Cordeiro, 1993). Numa revisão de 22 artigos, Winkleby (1988)

identificou três principais grupos de problemas de saúde com excesso de risco para os

motoristas: cardiocirculatórios, músculo-esqueléticos e gastrointestinais .

A lombalgia destaca-se como um dos principais problemas de saúde em

motoristas de ônibus, além de ser uma importante causa de absenteísmo e de

abandono da ocupação. (Backman,1983; Paterson,1986; Winkleby, 1988;

Hedberg,1988; Hedberg & Langedoen, 1989; Bovenzi,1992).

Aspectos metodológicos podem estar concorrendo para as diferenças

observadas nos diversos estudos. A dificuldade de uma definição precisa de lombalgia

poderia explicar, de acordo com a maior ou menor sensibilidade do instrumento, a

variabilidade tanto nas prevalências encontradas - de 16% a 40% (Ahumada,1991;

Backman, 1983) -, quanto no risco aumentado, em relação a outros grupos de

trabalhadores. Em diversos estudos o controle de fatores de confusão foi parcial ou

não foi feito e a escolha do grupo de comparação muitas vezes limitou-se a uma

categoria ocupacional.

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O objetivo deste estudo foi observar a prevalência de lombalgia em motoristas

de ônibus urbanos da cidade de Santa Maria-RS e examinar um excesso de risco em

relação a seus vizinhos vizinhos. Também objetivou-se, identificar cargas de trabalho

associadas à ocorrência de lombalgia em motoristas, controlando-se fatores de

confusão.

METODOLOGIA:

DELINEAMENTO E POPULAÇÃO EM ESTUDO

Em função dos objetivos do estudo, optou-se por um delineamento do tipo

transversal, com definição a priori de expostos (motoristas) e não expostos (vizinhos)

(Kleinbaum, 1982). Para cada motorista incluído no estudo, selecionou-se

aleatoreamente um vizinho com outra profissão, mesma idade (± 5 anos), sendo todos

do sexo masculino. O estudo foi realizado na cidade de Santa Maria, localizada na

região central do Rio Grande do Sul, com uma população de aproximadamente 200 mil

pessoas na zona urbana (IBGE,1991).

AMOSTRA

Calculou-se o tamanho da amostra, no aplicativo EPI-INFO 5.0, considerando

um erro alfa de 5%, poder estatístico de 80%, prevalência de lombalgia nos não

expostos de 18% (Reisbord, 1985) e razão de prevalências de 2, obtendo-se uma

amostra de 105 motoristas. Foram acrescidos 10% para eventuais perdas e 30% para

controle de fatores de confusão, totalizando uma amostra de143 motoristas e 143

vizinhos.

Foi obtida a lista dos motoristas de ônibus urbanos nas 6 empresas da cidade e

como o total de motoristas era de 222, decidiu-se incluir a todos no estudo. Três

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motoristas recusaram-se a responder ao questionário e 5 não foram localizados,

resultando numa perda de 3,6%. Nenhuma perda foi constatada entre os vizinhos.

Assim, foram entrevistados 214 motoristas e 214 vizinhos com outras ocupações entre

fevereiro e abril de 1994.

VARIÁVEIS E INSTRUMENTOS

Utilizou-se um questionário padronizado e pré-codificado para a coleta dos

dados. Foram coletados dados demográfico-comportamentais como idade,

escolaridade, estado civil, tabagismo, alcoolismo medido através do teste CAGE

(Beigel, 1974), problemas psiquiátricos onde foi utilizado o teste SRQ20 (Mari, 1986),

atividade física e Índice de Massa Corporal (peso/altura²) (Anjos,1992). Também

coletaram-se características ocupacionais como função, renda mensal, antiguidade na

função, cargas de trabalho relativas à atividade e ao ambiente, duração da jornada e

turno de trabalho. Para caracterização da lombalgia foi utilizado o Standardised Nordic

Questionnaire on Musculoeskeletal Symptoms (Kuorinka, 1987) traduzido livremente

para o português.

Para obtenção do peso foram utilizadas balanças de banheiro, calibradas

diariamente, e para a estatura utilizou-se um antropômetro tipo régua confeccionado

especialmente para a pesquisa, sendo o entrevistado medido em pé.

LOGÍSTICA

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Aplicou-se o questonário e realizou-se as medidas de peso e altura no domicílio.

Este procedimento facilitava a localização do vizinho e padronizava o local da entrevista

entre os dois grupos.

As entrevistas foram realizadas por estudantes de medicina especialmente

treinados para o trabalho. Para o controle de qualidade foram realizadas entrevistas

acompanhadas e revisitas em 5% do total da amostra.

ANÁLISE

A análise foi realizada conforme modelo teórico proposto (figura 1). Na análise

bivariada calculou-se, através do programa SPSS/PC+ (Norussis, 1986), a razão de

prevalências, medida de efeito indicada para estudos transversais, com o respectivo

intervalo de confiança e o teste estatístico do qui-quadrado.

A análise multivariada foi a regressão logística, realizada através do "software"

EGRET (EGRET, 1988). Utilizou-se, assim, o Odds Ratio e seu respectivo intervalo de

confiança, como medida de efeito. A significância estatística foi obtida através do teste

da razão de verossimilhança. Convém ressaltar que como a prevalência foi alta o odds

ratio é maior que a razão de prevalências (Checkoway,1989).

Para controle de fatores de confusão as associações com p<0,1 foram levadas

para a análise multivariada. Foram testados como fatores de confusão a escolaridade, a

atividade física e a presença de sintomas psiquiátricos, permanecendo na equação

apenas escolaridade que alterou o odds ratio de função em, no mínimo, 10%. As cargas

de trabalho, por fazerem parte da cadeia causal, foram analisadas como mediadores da

morbidade (Kleinbaum, 1982).

RESULTADOS:

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CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Foram entrevistados 214 motoristas de ônibus urbanos e 214 vizinhos que

desempenhavam outras funções. Cerca de 60% dos vizinhos concentravam-se no

grupo social denominado proletariado (Bronfman, 1985). A média de idade foi 37,6 anos

(d.p. 8,0 anos) e não apresentou diferenças significativas uma vez que a semelhança foi

critério de inclusão do vizinho no estudo. Todos eram do sexo masculino e também não

foi observada diferença na cor da pele entre os grupos.

Entre os motoristas, a proporção de casados era significativamente maior que a

do grupo de comparação. Os motoristas também apresentavam menor escolaridade,

tendo metade deles até cinco anos de estudo, enquanto quase a metade dos vizinhos

havia completado nove anos ou mais de estudo (p<0.05) (TABELA 1)

Cerca de 65% dos motoristas e 54% dos vizinhos não realizavam exercícios

físicos (p<0.05). Através do índice de massa corporal evidenciou-se que

aproximadamente de dois terços dos motoristas e 42% dos vizinhos apresentavam

sobrepeso ou obesidade (p<0.05). A prevalência geral de tabagismo foi de 45,6%, não

havendo diferenças significativas entre os grupos. Medido através do teste CAGE

(ponto de corte=3), o alcoolismo foi mais prevalente entre os vizinhos do que entre os

motoristas. Os problemas psiquiátricos menores, medidos através do SRQ-20, também

foram mais frequentes entre os vizinhos, embora sem significância estatística (p=0,13)

(TABELA 1).

CARACTERÍSTICAS OCUPACIONAIS

Entre dos vizinhos, identificou-se quatro grupos de ocupação relativamente bem

delimitados: profissionais de nível superior e técnicos especializados (10,7%),

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trabalhadores diretos no processo de produção industrial, inclusive construção civil

(20,6%), artesãos, fabricantes e comerciantes em pequena escala (15,4%) e

trabalhadores no comércio e prestação de serviços ao público (46,7%) (TABELA 2).

Cerca de 60% dos motoristas e 50% dos vizinhos apresentavam mais de 10

anos de antiguidade na mesma função. A proporção de motoristas trabalhando em

turno misto (diurno e noturno) também era maior que a dos vizinhos. A renda mensal,

calculada em salários mínimos, evidenciou uma concentração dos motoristas na faixa

de 2,6 a 4,0 salários, enquanto os vizinhos constituiram dois grupos principais, um

acima e o outro abaixo desta faixa. Em ambas as situações, as diferenças foram

estatisticamente significativas (TABELA 2). A duração média da jornada de trabalho foi

de 8,5 horas, não havendo diferenças significativas entre os dois grupos.

CARGAS DE TRABALHO

Em relação ao ambiente de trabalho, os motoristas referiram uma exposição

2,6 vezes maior que os vizinhos a vibração e/ou trepidação e 1,5 vezes maior a ruído,

calor e mudanças bruscas de temperatura. Os vizinhos relataram uma exposição

significativamente maior a frio e presença de produtos químicos, entre outras

(TABELA 3).

As cargas de trabalho ligadas à atividade foram, de maneira geral, mais

referidas pelos motoristas, destacando-se risco permanente de vida, risco de acidentar-

se, trabalho repetitivo e não criativo e posição incômoda. Fazer muita força, não poder

conversar com os colegas de trabalho e revezamento de tarefa foram mais referidas

pelos vizinhos (TABELA 4).

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MORBIDADE

A ocorrência de lombalgia foi avaliada nos últimos doze meses, não se

observando diferenças significativas entre os grupos. Os motoristas apresentaram uma

prevalência de 45,8% com Razão de Prevalências (RP) 1,02, (ic95% 0,83-1,26)

(GRÁFICO 1).

Entre os indivíduos que tiveram lombalgia no último ano, cerca de 25%

consultaram por este problema no período e cerca de 10% relataram hospitalização pelo

mesmo motivo em algum momento de sua vida. Além disso, aproximadamente 25%

ficaram afastados do trabalho, a maioria pelo período de um a sete dias. O risco de

afastamento do trabalho por oito dias e mais foi menor para os motoristas (RP 0,47,

ic95% 0,19-1,19). Contudo, 31,6% dos motoristas referiram dor por mais de trinta dias

nos últimos doze meses (Tabela 5).

A ocorrência de lombalgia não esteve associada com alcoolismo, IMC, renda,

idade, estado civil e antiguidade na função. Escolaridade, exercício físico e problemas

psiquiátricos mostraram-se associados com lombalgia (p<0,1), apresentando razão de

prevalêcias em torno de 1,3 para quem estudou até cinco anos, não fazia exercício ou

apresentava problemas psiquiátricos (TABELA 6).

A frequência de lombalgia foi cerca de 40% maior entre os expostos a calor,

ruído, vibração/trepidação ou trabalho repetitivo, cerca de 90% maior para os expostos a

posição viciosa e cerca de 30% maior para os expostos a esforço físico intenso no

trabalho (TABELA 7).

Exercício físico e problemas psiquiátricos foram testados como fatores de

confusão, mas como não alteraram em mais de 10% o odds ratio (OR) de lombalgia

entre motoristas e vizinhos, foram excluídos do modelo final de análise multivariada.

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Escolaridade foi mantida e alterou o OR da lombalgia entre motoristas e vizinhos de

1,04 (ic95% 0,71-1,52) para 0,62 (ic95% 0,36-1,06).

Quando colocadas no modelo de regressão logística, as cargas de trabalho

ruído, vibração, movimentos repetitivos e posição viciosa, destacaram-se como fatores

de mediação para lombalgia, reduzindo o OR ajustado para a escolaridade de 0,62 para

0,56 (ic95% 0,34-0,93).

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DISCUSSÃO:

A prevalência de lombalgia nos doze meses anteriores à entrevista foi alta para

ambos os grupos estudados - em torno de 45% -, confirmando a importância deste

problema de saúde nesta população. No entanto, ao contrário de outros estudos, não foi

evidenciado um excesso de risco para esta morbidade em motoristas (Backman, 1983;

Winkleby, 1988; Ahumada, 1991; Bovenzi, 1992)

Estudos realizados com motoristas de ônibus evidenciaram uma prevalência

anual de 40% em finlandeses, 16% em mexicanos e 39% em italianos, sendo maior

que a do grupo de comparação utilizado em cada caso, respectivamente, motoristas de

caminhão, trabalhadores da manutenção e administração e trabalhadores da

manutenção (Backman,1983; Ahumada, 1991; Bovenzi,1992). Paterson (1986)

encontrou 43% de lombalgia em motoristas americanos, mas não houve grupo de

comparação. Riihimaki (1989) encontrou 43%, 42% e 36%, respectivamente, para

operadores de máquinas, carpinteiros e trabalhadores administrativos finlandeses com

idade entre 25 e 49 anos. Reisbord (1985), num estudo de base populacional realizado

em Ohio, em maiores de 18 anos de ambos os sexos, observou uma prevalência anual

de 18%.

Em nosso estudo encontrou-se que, entre aqueles que tiveram lombalgia nos

últimos doze meses, dez por cento havia sido hospitalizdo e cerca de um quarto

consultado um médico por este problema. A duração da dor e o absenteísmo por ela

provocado foram menores do que os observados em outros estudos que utilizaram o

mesmo instrumento (Riihimaki, 1989; Bovenzi, 1985), não apresentando diferenças

entre os grupos. Entretanto, quase um terço dos acometidos pela doença tiveram dor

por 30 dias ou mais e cerca de 1 em cada 5 indivíduos faltou ao trabalho neste período

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em função da lombalgia. Contudo, o número de motoristas com diminuição de suas

atividades de trabalho foi significativamente menor que o dos vizinhos. Isto pode sugerir

que a intensidade da dor nas costas dos motoristas seria menor que a dos vizinhos, ou,

por outro lado, os motoristas suportariam mais a dor para não perder o emprego, o que

poderia inclusive estar prolongando a duração dos sintomas (Hedberg, 1989; Troup,

1984).

Não se observou associação de lombalgia com idade, índice de massa

corporal, sedentarismo, alcoolismo, problemas psiquiátricos, tabagismo, escolaridade ou

renda mensal, à semelhança do encontrado por Bovenzi e Paterson. Assim, nenhuma

das variáveis demográfico-comportamentais estudadas apresentou associação

estatisticamente significativa com lombalgia (p<0,05).

A associação de lombalgia com estas variáveis não está bem estabelecida, com

os estudos apresentando resultados diversos e, muitas vezes, contraditórios

(Andersson, 1991). Escolaridade, estado civil, idade, tabagismo, problemas

psicossociais como ansiedade e depressão, esportes como tênis e futebol parecem ter

uma associação mais bem definida com lombalgia (Frymoyer, 1983; Reisbord, 1985;

Ahumada, 1991, Andersson,1991). Gênero, escolaridade e estado civil foram as únicas

variáveis que se mantiveram associadas à lombalgia após análise multivariada realizada

por Reisbord no estudo de base populacional supracitado. A combinação desses 3

fatores provocou uma variação na prevalência da ordem de 9-11% para o grupo de

menor risco a 44-46% para o grupo de maior risco.

Para examinar melhor a validade dos achados é importante que se discuta

alguns aspectos metodológicos. A definição de lombalgia, o período de recordatório e a

forma de perguntar podem levar a resultados bastante diferentes em relação a

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mensuração da morbidade. Para contornar este problema utilizamos questionário

padronizado e já usado em outros estudos (Kuorinka, 1987) e definimos como desfecho

a lombalgia nos 12 meses anteriores a entrevista. Assim, acreditamos que o critério de

lombalgia tenha ficado bem estabelecido tanto para este estudo como para

comparações com outros. Para a mensuração dos problemas psiquiátricos e alcoolismo

também foram usados questionários epidemiológicos validados.

Os questionários e as medidas foram realizados por uma equipe treinada

especialmente para a pesquisa e sob supervisão constante. As entrevistas foram

domiciliares o que permitiu ao entrevistado responder às questões livres de

constrangimentos que poderiam surgir no local de trabalho.

A possibilidade de um “efeito do trabalhador sadio” deve ser considerada,

devido ao delineamento escolhido. Este efeito é um viés de seleção, que acontece

porque indivíduos acometidos por uma doença não conseguem se adaptar e acabam

deixando o emprego, ou sendo demitidos, resultando numa população mais sadia

efetivamente trabalhando. Neste caso, a prevalência de lombalgia em motoristas

poderia ser ainda maior (Checkoway, 1991). Estudos transversais evidenciaram

prevalências mais baixas de problemas músculo-esqueléticas do que longitudinais,

influenciados pela idade e tipo de trabalho, sugerindo efeito do trabalhador sadio,

principalmente em estudos que envolvem população com mais idade (De Zwart, 1995).

Entretanto, a categoria de motoristas foi a que aprresentou menor número de abandono

da função em estudo realizado na Finlândia (Backmann, 1983) e na Suécia (Hedberg,

1989). Os autores sugerem que uma das causas para isso tenha sido a alta

especialização exigida pela função, o trabalho que não exige muito esforço físico e a

baixa escolaridade necessária. No Brasil estas características são semelhantes para os

motoristas de ônibus que têm um dos melhores salários para o nível de escolaridade

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exigido, principalmente em cidades do interior. Por outro lado, os problemas músculo-

esqueléticos aparecem como terceiro motivo para trocar de profissão entre diversas

categorias de motoristas suecos acompanhados durante 11 anos, sendo o motivo mais

importante entre os motoristas de ônibus. (Hedberg & Langedoen, 1989).

Acredita-se que este viés não tenha ocorrido de forma importante neste estudo,

pois os trabalhadores com mais tempo na função não apresentaram diminuição na

prevalência de lombalgia, o que seria esperado se este viés estivesse acontecendo

(Hedberg, 1988).

Boa parte dos estudos tem comparado a ocorrência de lombalgia em motoristas

e em outra categoria de trabalhadores, como por exemplo operários da manutenção ou

trabalhadores de administração. Esta opção pode ser efetiva quando se quer avaliar a

contribuição de um risco em particular na determinação de lombalgia. Entretanto, limita

a inferência dos achados aos grupos estudados.

A escolha de vizinhança como critério de seleção do grupo controle é vantajosa,

pois possibilita não apenas entender a participação do trabalho como motorista na

determinação da lombalgia, mas também comparar sua ocorrência com a do grupo

populacional do qual se origina o motorista e onde estão inseridos trabalhadores das

mais diversas ocupações. Em outras palavras, esta opção amplia a generalização dos

achados, pois, neste caso, se estuda predominantemente, homens de meia idade,

casados, sedentários, com renda em torno de 4,5 salários mínimos mensais com a

mediana de permanência na função atual em torno de 10 anos, trabalhando durante o

dia, e oriundos do proletariado e estratos mais pobres da pequena burgesia (Bronfman,

1985).

Assim, a prevalência de lombalgia parece ser em boa parte determinada pelas

condições de vida dos trabalhadores deste grupo social. Neste caso, parece que o perfil

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epidemiológico de classe se sobrepuja ao perfil típico de um trabalho em particular,

como por exemplo, motorista de ônibus urbano. Ou seja, na população estudada,

motorista efetivamente não apresenta excesso de risco para lombalgia.

Entretanto, este achado não afasta o trabalho, cujas particularidades se

expressam através de suas cargas, como determinante de lombalgia em motoristas.

A utilização das cargas de trabalho permite entender melhor a articulação

complexa dos elementos do processo de trabalho, identificando não apenas as

exposições relativas ao ambiente de trabalho, mas também aquelas com materialidade

interna, geralmente ligadas a função e com maior dependência da percepção do

trabalhador (Facchini, 1994).

As cargas de trabalho, por fazerem parte da cadeia causal no modelo teórico

proposto (FIGURA 1), foram incluídas na análise multivariada como fatores mediadores

da morbidade. Após o controle do fator de confusão identificado - escolaridade -,

observou-se que o efeito das cargas de trabalho típicas de motoristas e associadas com

o desfecho, reduzia o OR de função, tornando o risco de lombalgia significativamente

maior para os vizinhos. Desta forma, o estudo também evidencia que a lombalgia entre

os motoristas é explicada, em parte, pela exposição a posição viciosa, movimentos

repetitivos e vibração.

A realização de novos estudos com delineamento prospectivo poderá ajudar no

melhor entendimento do papel do trabalho na determinação da lombalgia,

caracterizando melhor a contribuição dos diferentes fatores de risco e podendo,

inclusive, investigar fatores prognósticos para lombalgia. Entretanto, para uma primeira

aproximação do problema, o delineamento transversal com as características do

presente estudo demonstrou ser bastante eficiente: é barato, relativamente rápido e

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pode aprofundar vários aspectos da determinação de lombalgia entre motoristas de

ônibus.

As evidências encontradas pelo presente estudo podem subsidiar ações que

visem a diminuição da prevalência da lombalgia em motoristas, através do controle de

fatores ocupacionais mais ligados à ocorrência da doença.

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TABELA 1. Distribuição da amostra segundo variáveis demográficas e comportamentais. Santa Maria - RS , 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). _______________________________________________________________________ Variável motorista vizinho n % n % _ Idade 19 a 29 anos 38 17,8 41 19,2 30 a 34 anos 42 19,6 35 16,4 35 a 39 anos 45 21,0 55 25,7 40 a 44 anos 48 22,4 38 17,8 45 anos ou + 41 19,2 45 21,0 Estado civil* casado/c. Comp 193 90,2 175 81,8 solteiro/sep/viúvo 21 9,8 39 18,2 Escolaridade * 0 a 5 anos 108 50,5 62 29,0 6 a 8 anos 84 39,3 50 23,4 9 anos ou + 22 10,3 102 47,7 média (dp) 214 6,0 (2,0) 214 8,2 (3,8) Realizou exercìcio fìsico no ùltimo ano * não 138 64,5 115 53,7 atè 2 x semana 56 26,2 63 29,4 3 x semana ou + 20 9,3 36 16,8 Ìndice de massa corporal#* normal (< = 24) 80 37,4 124 57,9 sobrepeso (25-29) 87 40,7 60 28,0 obeso (30 ou +) 47 22,0 30 14,0 Problemas psiquiátricos srq20 positivo@ 26 12,1 37 17,3 srq20 negativo 188 87,9 177 82,7 Alcoolismo* cage positivo& 9 4,2 22 10,3 cage negativo 205 95,8 192 89,7 _______________________________________________________________________ * diferença estatisticamente significativa (p<.05) # imc = peso/altura² @ = srq20 positivo com 6 pontos ou mais. & = cage positivo 3 respostas positivas ou mais.

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TABELA 2. Distribuição da amostra estudada conforme variáveis ocupacionais. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). _______________________________________________________________________ Variável motorista vizinho n % n % _ Função motorista de ônibus 214 100,0 - - profiissionais de nível superior e técnicos especializados - - 23 10,7 trabalhadores na produção industrial - - 44 20,6 artesão, fabricantes e comerciantes em pequena escala - - 33 15,4 trabalhadores no comércio e na prestação de serviços ao público - - 100 46,7 outros - - 14 6,5 Antiguidade na função * ate 5 anos 32 15,0 66 30,8 5,1 a 10 anos 55 25,7 44 20,6 10,1 a 15 anos 44 20,6 35 16,4 15,1 a 20 anos 40 18,7 32 15,0 + de 20 anos 43 20,1 37 17,3 Renda mensal* <= 2,5 sm 27 12,6 81 37,9 2,6 a 3,0 sm 83 38,8 24 11,2 3,1 a 4,0 sm 74 34,6 27 12,6 4,1 sm ou + 30 14,0 82 38,3 média (dp) 214 3,2 (0,9) 214 5,6 (8,9) Turno de trabalho* diurno 150 70,1 172 80,4 misto 64 29,9 42 19,6 _______________________________________________________________________ * diferença estatisticamente significativa (p<0.05)

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TABELA 3. Exposição à cargas de trabalho relativas ao ambiente em motoristas e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variável prevalência em RP (ic 95%) motoristas (%) ______________________________________________________________________ vibração ou trepidação* 74,3 2,60 (2,07 - 3,26) ruído * 78,0 1,53 (1,32 - 1,78) calor * 83,2 1,52 (1,33 - 1,74) mudanças bruscas na temp* 57,5 1,50 (1,22 - 1,84) ambiente abafado# 45,3 1,37 (1,07 - 1,74) objetos cortantes* 7,0 0,17 (0,10 - 0,28) frio# 31,8 0,75 (0,59 - 0,97) chão escorregadio* 9,3 0,38 (0,24 - 0,62) pouca luz* 7,5 0,32 (0,19 - 0,55) risco de cair* 4,7 0,20 (0,11 - 0,39) produtos químicos# 26,6 0,70 (0,53 - 0,93) poeira ou pó 62,1 1,16 (0,99 - 1,37) fumaça ou gases 33,6 1,12 (0,85 - 1,49) umidade 21,0 0,75 (0,53 - 1,05) ______________________________________________________________________ * diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,001). # diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,05). RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 4. Exposição à cargas de trabalho relativas à atividade em motoristas e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variável prevalência em RP (ic 95%) motoristas (%) ______________________________________________________________________ forçar a vista* 80,8 1,30 (1,14 - 1,47) perigo de acidentar-se* 57,5 1,53 (1,25 - 1,89) ficar posição incômoda # 63,6 1,20 (1,02 - 1,41) responsabilidade no trab# 100,0 1,03 (1,01 - 1,07) risco permanente de vida* 60,7 1,78 (1,43 - 2,21) fazer tarefas do mesmo jeito* 95,3 1,51 (1,35 - 1,68) sempre atento sem se distrair* 100,0 1,17 (1,11 - 1,24) repetir os mesmos movimentos* 94,9 1,53 (1,38 - 1,72) enfrentar sit de emergência* 63,1 1,51 (1,26 - 1,83) não pode conversar com colegas do trabalho 3,7 0,40 (0,18 - 0,89) fazer muita força* 7,5 0,24 (0,14 - 0,41) fazer revezamento de tarefa* 29,0 0,59 (0,46 - 0,77) ficar no mesmo posto sempre 60,3 1,16 (0,98 - 1,37) falta de segurança 20,6 0,95 (0,66 - 1,38) sofrer pressão de superior 27,1 1,09 (0,79 - 1,51) _______________________________________________________________________ * diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,001). # diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,05). RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 5. Características da lombalgia entre aqueles que tiveram dor nos últimos 12 meses. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas 98 e vizinhos 96). ______________________________________________________________________ Variável prevalência em RP (ic 95%) motoristas (%) ______________________________________________________________________ Hospitalizou por dor nas costas 11,2 1,26 (0,49 - 3,25) Duração da dor 1 a 7 dias 39,8 1 8 a 30 dias 28,6 1,04 (0,72 - 1,56) + 30 mas não todos os dias 17,3 1,10 (0,62 - 1,96) todos os dias 14,3 1,37 (0,67 - 2,81) Dor nas costas diminuiu atividades no trabalho* 15,3 0,42 (0,27 - 0,67) Dias afastado do trab por dor costas não se afastou 80,6 1 1 a 7 dias 13,3 0,74 (0,38 - 1,45) 8 dias ou + 6,1 0,47 (0,19 - 1,19) Dor nas costas diminuiu atividades de lazer* 18,4 0,63 (0,42 - 0,94) Consultou por dor costas últ ano 22,4 0,88 (0,62 - 1,24) ______________________________________________________________________ * diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,05). RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 6. Razão de Prevalências de lombalgia de acordo com variáveis demográficas e comportamentais. Santa Maria - RS. 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ lombalgia variavel prev % RP (ic 95%) p ______________________________________________________________________ idade 19 a 29 anos 44,3 1 30 a 34 anos 44,2 1,00 (0,70-1,42) 0,98 35 a 39 anos 47,0 1,06 (0,77-1,47) 0,72 40 a 44 anos 36,0 0,81 (0,56-1,18) 0,27 45 anos ou + 54,7 1,23 (0,90-1,69) 0,18 escolaridade 9 anos + 41,1 1 6 a 8 anos 40,3 0,98 (0,73-1,32) 0,89 0 a 5 anos 52,4 1,27 (0,99-1,64) 0,06 exercício físico 3 x semana ou + 37,5 1 até 2 x semana 40,3 1,08 (0,72-1,61) 0,72 não faz 49,4 1,32 (0,92-1,89) 0,10 problemas psiquiátricos srq-20 negativo 43,6 1 srq-20 positivo 55,6 1,27 (0,99-1,63) 0,07 alcoolismo cage negativo 44,1 1 cage positivo 61,3 1,39 (0,99-1,88) 0,06 ______________________________________________________________________ RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 7. Razão de Prevalências de lombalgia de acordo com cargas de trabalho. Santa Maria - RS. 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ lombalgia Variável prev % RP (ic 95%) p ______________________________________________________________________ cargas relativas ao ambiente calor 49,8 1,41 (1,09-1,82) <0,01 ruido 50,7 1,42 (1,12-1,82) <0,01 vibração ou trepidação 52,3 1,37 (1,11-1,71) <0,01 cargas relativas a atividade fazer muita força 55,6 1,29 (1,03-1,63) 0,04 repetir mesmos movimentos 48,7 1,46 (1,07-1,98) <0,01 posição viciosa 56,2 1,86 (1,45-2,39) <0,01 ______________________________________________________________________ RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 8. Análise multivariada para lombalgia entre motoristas de ônibus e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variáveis no modelo OR de função (ic 95%) p* ______________________________________________________________________ bruto 1,04 (0,71-1,52) 0,84 escolaridade 0,86 (0,57-1,30) 0,48 escolaridade + cargas de trabalho# 0,55 (0,33-0,90) 0,17 ______________________________________________________________________ * teste para razão de verossimilhança # cargas de trabalho = ruído, posição viciosa, movimentos repetitivos e vibração OR= odds ratio ic=intervalo de confiança

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Prevalência de Lombalgia

45,8 44,8

0

20

40

60

%

Prevalência de Lombalgia

MotoristasVizinhos

GRÁFICO 1. Prevalência de lombalgia nos últimos 12 meses. motoristas e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994.

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MODELO TEÓRICO

FIGURA 1. Modelo teórico que orientou o estudo da associação de lombalgia com a função (atividade) de motorista de ônibus urbanos. Santa Maria - RS. 1994.

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ARTIGO2

PREVALÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS. SANTA MARIA - RS.

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Prevalência de Hipertensão Arterial em

Motoristas de Ônibus. Santa Maria - RS.

RESUMO :

Realizou-se um estudo transversal com 214 motoristas de ônibus urbanos da

cidade de Santa Maria - RS, e igual número de vizinhos selecionados por sexo e idade.

O objetivo foi estabelecer a prevalência em motoristas e examinar um excesso de risco

de hipertensão arterial sistêmica nesta categoria profissional. Também objetivou-se

identificar fatores de risco que permitissem controlar este problema de saúde nesta

população. Um questionário padronizado foi aplicado para cada indivíduo e as medidas

foram realizadas no domicílio. A prevalência de hipertensão foi de 23,4% na população

estudada, não apresentando diferenças entre os grupos, mesmo após controlados

possíveis fatores de confusão. Idade, obesidade, antiguidade na função e posição

viciosa estiveram associados com hipertensão. Obesidade e antiguidade na função

foram significativamente mais frequentes em motoristas que em vizinhos. Destaca-se a

importância da obesidade, presente em mais de dois terços dos motoristas, por se tratar

de causa evitável de hipertensão.

PALAVRAS-CHAVE: hipertensão arterial sistêmica, motoristas de ônibus, saúde do

trabalhador, epidemiologia, obesidade.

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Prevalence of Hypertension in

Bus Drivers. Santa Maria - RS.

ABSTRACT

A cross sectional study with 214 urban bus drivers from Santa Maria city was

done, and similar neighbors’ number selected by sex and age. The aim was to stablish

the prevalence in drivers and examine a risk excess of high blood pressure in this

professional category. It was also aimed to identify risk factors that permitted controlling

this health problem in this population. A standardized questionnaire was applied to each

individual and the measurements were done at home. The hypertension prevalence was

23,4% in the studied population, not showing difference between groups, ever after

possible confusion factors controlled. Age, obesity, number of years in the function and

defective position were associated to high blood pressure. Obesity and number of years

in the function were significantly higher among drivers. The importance of obesity is

emphasized, present in more than two thirds of the drivers, for dealing with avoidable

hypertension cause.

Key-words: blood pressure, bus drivers, occupational health, epidemiology, obesity.

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INTRODUÇÃO:

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) destaca-se como um dos principais

problemas de saúde pública no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país

(Piccini, 1983; Duncan, 1991). Além de altamente prevalente, é importante fator de risco

para doença coronariana, uma das principais causas de morte em adultos em idade

produtiva (Ministério da Saúde, 1992; Peach, 1984).

Inúmeros trabalhos têm constatado que as doenças do aparelho cárdio-

circulatório e seus fatores de risco têm prevalência e incidência altas em motoristas de

ônibus. Estes estudos também evidenciaram um risco aumentado para esta categoria

quando comparada com outros grupos de trabalhadores (Morris, 1953, 1966;

Netterstrom, 1981; Hartving, 1983; Winkleby, 1988; Michaels, 1991; Rosengren, 1991;

Alfredson, 1993).

Igualmente, existem evidências de um risco excessivo de hipertensão em certas

categorias de trabalhadores, dentre as quais se destacam os motoristas de ônibus

(Backman, 1983; Hartving, 1983; Ragland, 1987; Ahumada, 1991). Rosengren (1991),

apesar de ter encontro maior incidência de doença coronariana em motoristas quando

comparados com trabalhadores de várias outras profissões, não encontrou diferenças

significativas nos níveis pressóricos verificados em ambos os grupos. Entretanto, vários

estudos não controlam fatores de confusão, e o grupo de comparação, muitas vezes, é

formado por trabalhadores de uma única categoria o que limita a generalização dos

achados.

A categoria dos motoristas de ônibus urbanos tem grande importância social,

principalmente nas sociedades contemporâneas, mais urbanizadas, não só pela

exposição a condições de trabalho bastante específicas, mas também pela

responsabilidade coletiva de sua atividade: o transporte de passageiros.

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Considerando os aspectos anteriores objetivou-se estabelecer a prevalência de

hipertensão entre os motoristas de ônibus urbanos da cidade de Santa Maria - RS e em

uma amostra dos seus vizinhos; examinar um possível excesso de risco controlando-se

os fatores de confusão; e ainda, identificar fatores de risco que facilitem o controle deste

problema de saúde neste grupoo ocupacional.

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METODOLOGIA:

Utilizou-se um delineamento do tipo transversal, selecionando-se para cada

motorista de ônibus urbano um vizinho com outra profissão e mesma idade (± 5 anos),

com definição a priori de expostos (motoristas) e não expostos (vizinhos) (Kleinbaum,

1982). O estudo foi realizado na cidade de Santa Maria, localizada na região central do

Rio Grande do Sul, com uma população de aproximadamente 220 mil habitantes

(IBGE,1991).

No cálculo do tamanho da amostra utilizou-se os seguintes parâmetros

estatísticos: nível de confiança de 95%, poder estatístico de 80%, prevalência de

hipertensão nos vizinhos de 18% e razão de prevalências de 1,8, obtendo-se uma

amostra de 218 motoristas e 218 vizinhos já acrescidos 10% para possíveis perdas e

30% para controle de fatores de confusão.

Obteve-se uma lista com nome e endereço dos 222 motoristas de ônibus

urbanos nas 6 empresas da cidade. Destes, três recusaram-se a responder ao

questionário e 5 não foram localizados resultando numa perda de 3,6%. Nenhuma perda

foi constatada entre os vizinhos. Assim, foram entrevistados 214 motoristas e 214

vizinhos entre fevereiro e abril de 1994.

Aplicou-se um questionário padronizado e pré-codificado para cada trabalhador.

Através deste foram obtidas informações demográfico-comportamentais como idade,

cor da pele, escolaridade, estado civil, tabagismo, alcoolismo (verificado através do

teste CAGE) (Beigel, 1974), problemas psiquiátricos (medidos através do teste SRQ20)

(Mari, 1986), atividade física e Índice de Massa Corporal (peso/altura² - peso em kg e

altura em m) (Anjos, 1992). Com este instrumento, também captou-se características

ocupacionais como função, renda mensal, antiguidade na função, cargas de trabalho

relativas à atividade e ao ambiente, duração da jornada e turno de trabalho.

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O peso e a estatura foram medidos através de balanças de banheiro, calibradas

diariamente, e de antropômetros tipo régua confeccionados especialmente para a

pesquisa, sendo o entrevistado medido em pé e descalço. A pressão arterial foi medida

pelos próprios entrevistadores no final da entrevista. A medida foi realizada no braço

direito com o indivíduo sentado e o braço à altura da região mamária, utilizando-se

esfigmomanômetro aneróide calibrado semanalmente. Considerou-se hipertenso

aqueles que apresentaram pressão arterial sistólica acima de 160 mmHg e/ou pressão

diastólica igual ou superior a 95 mmHg, e mais os que relataram hipertensão e que

faziam uso de medicamentos independente da medida obtida.

Realizou-se as entrevistas à domicílio, visando facilitar a localização do vizinho

e padronizar o local da coleta de dados. Os entrevistadores foram estudantes de

medicina criteriosamente treinados para esta pesquisa. Para controle de qualidade

foram realizadas entrevistas acompanhadas e revisitas em 5% da amostra.

A análise dos dados foi realizada conforme o modelo teórico proposto (figura

1). Na análise bivariada calculou-se, através do programa SPSS/PC+ (Noursis, 1986), a

razão de prevalências, medida de efeito indicada para estudos transversais, com o

respectivo intervalo de confiança de 95%, e o teste estatístico do qui-quadrado. Para

controle de fatores de confusão as variáveis associadas com hipertensão a nível de

p<0,1 (atividade física, alcoolismo, antiguidade na função e IMC), foram levadas para a

análise multivariada.

A análise multivariada foi realizada por regressão logística, através do

"software" EGRET (EGRET, 1988). Utilizou-se, portanto, o odds ratio e seu respectivo

intervalo de confiança de 95%, como medida de efeito. A significância estatística foi

obtida através do teste da razão de verossimilhança.

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Por fazerem parte da cadeia causal, as cargas de trabalho foram incluídas na

equação para avaliar um possível efeito mediador (Kleinbaum, 1982).

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RESULTADOS:

CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICO-COMPORTAMENTAIS

A média de idade da população estudada foi 37,6 anos (d.p. 8,0 anos), a grande

maioria era de cor branca em ambos os grupos. Não foram observadas diferenças

quanto ao hábito de fumar e a prevalência de problemas psiquiátricos. Já o alcoolismo

foi significativamente mais frequente entre os vizinhos, e o sedentarismo e a obesidade

entre os motoristas. Os motoristas apresentavam menor grau de escolaridade, 50,5%

haviam estudado até cinco anos na escola, enquanto quase a metade dos vizinhos

havia completado 9 anos ou mais de estudo (p<0,05) (TABELA 1).

CARACTERÍSTICAS OCUPACIONAIS

Observou-se que cerca de 60% dos motoristas e 49% dos vizinhos

apresentavam mais de dez anos de antiguidade na função (p<0,05). A proporção de

motoristas trabalhando em turno misto (parte diurno e parte noturno) foi

significativamente maior que a dos vizinhos. Aproximadamente três em cada quatro

motoristas percebia renda mensal entre 2,6 e 4,0 salários mínimos, enquanto os

vizinhos constituiram dois grupos principais, um acima e o outro abaixo desta faixa

(p<0,05). Quanto à jornada de trabalho, quase a metade dos vizinhos trabalhava oito

horas diárias, já entre os motoristas observou-se maior variação, porém sem

significância estatística (TABELA 2).

Identificou-se quatro grandes grupos de profissões entre os vizinhos, com

predomínio de trabalhadores no comércio e prestação de serviços ao público (46,7%),

seguidos de trabalhadores diretos no processo de produção industrial, inclusive

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construção civil (20,6%), artesãos, fabricantes e comerciantes em pequena escala

(15,4%), profissionais de nível superior e técnicos especializados (10,7%) (TABELA 3).

Mais de dois terços dos motoristas referiram estar expostos à ruído, calor e

vibração/trepidação durante o trabalho, fração significativamente maior do que a dos

vizinhos. Também foram mais comuns entre os motoristas a exposição a ambiente

abafado e mudanças bruscas na temperatura. A referência a objetos cortantes,

produtos químicos, chão escorregadio, pouca luz, frio e risco de cair foi

significativamente maior entre os vizinhos (TABELA 3).

Perigo de acidentar-se, risco permanente de vida, fazer as tarefas sempre do

mesmo jeito (monotonia), movimentos repetitivos e enfrentar situações de emergência

foram as cargas de trabalho ligadas à atividade que tiveram uma ocorrência cerca de

50% maior entre os motoristas (p<0,05). Fazer muita força, não poder conversar com

os colegas de trabalho e revezamento de tarefa foram mais referidas pelos vizinhos

(p<0,05) (TABELA 4).

MORBIDADE

A prevalência de hipertensão foi de 22,4% entre os motoristas e 24,3% entre os

vizinhos com uma razão de prevalências (RP) de 0,92 (ic95% 0,65-1,30) (TABELA 5).

Observou-se um aumento significativo da hipertensão arterial com o aumento

da antiguidade na função. O número de horas diárias trabalhadas e as cargas de

trabalho não estiveram associadas significativamente com hipertensão, com exceção

de posição viciosa onde os expostos apresentaram RP 1,60 (ic95% 1,09-2,33) (TABELA

5).

Escolaridade e problemas psiquiátricos não infuenciaram significativamente a

prevalência de HAS. Observou-se uma tendência de aumento da hipertensão quanto

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maior o sedentarismo do indivíduo (p=0,07), e uma associação com alcoolismo

(RP=1,58; ic95% 0,95-2,63) (TABELA 6).

A prevalência de hipertensão aumentou significativamente com a idade. Os

trabalhadores mais velhos tinham um risco cinco vezes maior do que os mais jovens.

Os indivíduos com sobrepeso e os obesos apresentaram um risco de 1,80 e 2,74 vezes

maior do que aqueles com índice de massa corporal normal (TABELA 6).

Para examinar possíveis fatores de confusão na associação entre função e

hipertensão arterial, testou-se individualmente, na regressão logística, alcoolismo,

exercício físico, número de horas diárias de trabalho, IMC e antiguidade na função.

Permaneceram apenas antiguidade na função e IMC que alteraram o odds ratio de

função em, pelo menos, 10%. Após o controle destes fatores, o odds ratio baixou de

0.90 (ic95% 0,57-1,41) para 0.66 (ic95% 0,41-1,01) (TABELA 7).

Posição viciosa, a única carga de trabalho que esteve associada com

hipertensão, não se comportou como mediadora de efeito quando incluída na equação

de regressão.

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DISCUSSÃO:

Ao iniciar a discussão, serão abordados alguns aspectos metodológicos

fundamentais à valorização dos achados do estudo. A realização da coleta de dados da

mesma forma nos grupos de motoristas e vizinhos foi garantida pela disponibilidade de

instrumentos padronizados e de equipe criteriosamente treinada, aspectos que reforçam

a acurácia das medidas efetuadas.

A seleção, como grupo de comparação, de indivíduos do mesmo estrato social

dos motoristas, mas com outras ocupações, parece bastante adequada para se avaliar

a participação do trabalho na determinação da hipertensão arterial . Além disso, ao se

utilizar um controle populacional, ao invés de uma categoria ocupacional específica,

amplia-se a capacidade de generalização dos achados.

Por tratar-se de um estudo transversal, a possibilidade de um “efeito do

trabalhador sadio” (Checkoway, 1991) deve ser considerada, pois, a população de

motoristas poderia ser composta por indivíduos que superararam ou se adaptaram às

dificuldades apresentadas pelo trabalho de dirigir ônibus urbanos. Desta forma, a

expulsão dos menos saudáveis contribuiria para minimizar as diferenças entre

motoristas e vizinhos. Entretanto, este efeito parece não ter ocorrido neste estudo,

considerando que os motoristas mais antigos apresentaram maiores prevalências de

hipertensão, sugerindo a inexistência de um afastamento importante de trabalhadores

por este problema de saúde. Além disso, em cidades menores, o trabalho como

motorista de ônibus oportuniza melhores salários e maior reconhecimento social para a

escolaridade exigida, o que também reforça o vínculo ocupacional destes trabalhadores.

No presente estudo, ao contrário da maior parte da literatura revisada, não se

encontrou um excesso de risco para a hipertensão arterial sistêmica nos motoristas de

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ônibus urbanos da cidade de Santa Maria, quando comparados com uma amostra de

seus vizinhos, mesmo após o controle de fatores de confusão.

Entretanto, a semelhança de outros estudos realizados na região (Costa, 1978;

Duncan, 1991; Piccini, 1993), a prevalência observada foi alta, 23,4%, confirmando a

hipertensão arterial sistêmica como um dos mais importantes problemas de saúde

pública. Esta constatação também é reforçada pelos estudos envolvendo motoristas de

ônibus de diferentes lugares, que mostram prevalências entre 20% e 47% (Cordeiro,

1993; Backman, 1983; Ragland, 1987; Ahumada, 1991).

O excesso de risco para hipertensão arterial entre os motoristas foi evidenciado

por diversos autores (Backman, 1983; Ragland, 1987; Ahumada, 1991) utilizando

diferentes grupos para comparação. Backman (1983) realizou comparações com outros

motoristas profissionais, na Finlândia. Ahumada (1991), selecionou trabalhadores da

manutenção e da administração da mesma empresa de transporte na Cidade do México

para comparação. Ragland (1987) utilizou três grupos: trabalhadores de diferentes

ocupações, trabalhadores da mesma área geográfica e pretendentes ao emprego de

motoristas de ônibus, em São Francisco, EUA. Alguns trabalhos que verificaram a

pressão arterial como um fator de risco para as doenças cardíacas, também

encontraram risco aumentado entre os motoristas (Morris, 1953; Hartvig, 1983;

Netterstrom, 1981 e 1988).

Por outro lado, Rosengren (1991), através de um estudo prospectivo,

com seguimento de cerca de doze anos, delineado para investigar fatores de risco para

doença cardiovascular, não encontrou risco aumentado de HAS em motoristas

comparando com outras profissões. Apesar de ter evidenciado, no mesmo trabalho,

risco 3,3 vezes maior de doença coronariana para os motoristas. Cabe salientar que a

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população no final do acompanhamento era composta por homens com idade entre 47 e

55 anos.

O fato de Santa Maria ser uma cidade do interior, menor do que a maioria das

cidades onde foram realizados os demais estudos, com um trânsito menos intenso e de

menor complexidade pode ser uma explicação para o achado. Apoiando esta

possibilidade, Netterstrom (1988) observou que os condutores dinamarqueses que

cumpriam itinerários no centro da cidade, apresentaram maior risco de infarto agudo do

miocárdio em relação aos que trabalhavam com itinerários suburbanos. O autor sugere

que o maior contato com os passageiros e a intensidade do tráfego são as principais

diferenças entre os itinerários. Alfredson (1993) constatou um incremento na

mortalidade por infarto do miocárdio e doenças cardíacas isquêmicas, e também na

taxa de incidência de infarto do miocárdio em motoristas suecos nas regiões que

englobam as grandes cidades do país. Não tendo observado o mesmo nas regiões com

predomínio de áreas rurais. Os grandes centros urbanos oferecem um ambiente

favorável ao estresse e a outros fatores psico-socias que interferem na prevalência de

HAS e doenças coronarianas (Cottington, 1985), com reflexos aparentemente mais

graves sobre os motoristas de ônibus. Além disso, nas cidades menores, os motoristas

parecem gozar de um melhor status sócio-econômico em relação a seu estrato social,

cujas possíveis influências positivas sobre a saúde, também reforçariam os achados do

presente estudo.

Em relação aos fatores de risco classicamente estudados (Cordeiro, 1993,

1994; Piccini, 1993; Duncan, 1991; Lolio,1993; Klein, 1986; Kloetzel, 1973) idade,

obesidade e antiguidade na função estiveram associados significativamente com

hipertensão. Possivelmente em função da relativa homogeneidade da população

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estudada, escolaridade, renda, sedentarismo, problemas psiquiátricos, alcoolismo,

tabagismo, ruído e calor, não mostraram uma associação com hipertensão.

Significativamente mais importantes entre os motoristas do que em seus

vizinhos, obesidade e antiguidade no trabalho, quando incluídas na regressão logística,

reduziram o odds ratio de função quase a níveis de significância estatística. Ou seja, a

prevalência de hipertensão arterial dos motoristas poderia seria menor que a de seus

vizinhos, caso ambos apresentassem índice de massa corporal e antiguidade na função

similares.

A antiguidade na função tem seu efeito fortemente influenciado pela

idade, que não aparece na equação de regressão por haver sido controlada na seleção

da amostra. Assim, a obesidade, por ser evitável, destaca-se como o principal fator de

risco para hipertensão em motoristas.

Portanto, programas de controle de hipertensão nos motoristas de ônibus de

Santa Maria, necessários em função da alta prevalência do problema, deveriam levar

em conta estratégias de diminuição da obesidade. Dentre estas, sugere-se o aumento

da atividade física, uma vez que o sedentarismo foi evidenciado em cerca de dois terços

dos membros desta categoria ocupacional.

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TABELA 1. Distribuição da amostra segundo variáveis demográficas e comportamentais. Santa Maria RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). _______________________________________________________________________ Variável MOTORISTA VIZINHO n % n % _ Escolaridade * 0 a 5 anos 108 50,5 62 29,0 6 a 8 anos 84 39,3 50 23,4 9 anos ou + 22 10,3 102 47,7 Média (dp) 6,0 (2,0) 8,2 (3,8) Realizou exercício físico no último ano * Não 138 64,5 115 53,7 Atè 2 x semana 56 26,2 63 29,4 3 x semana ou + 20 9,3 36 16,8 Hábito de fumar Não Fumante 95 44,4 78 36,4 Fumante 91 42,5 104 48,6 Ex-Fumante 28 13,1 32 15,0 Índice de massa corporal* #

Normal (< = 24) 80 37,4 124 57,9 Sobrepeso (25-29) 87 40,7 60 28,0 Obeso (30 ou +) 47 22,0 30 14,0 Problemas psiquiátricos SRQ20 positivo@ 26 12,1 37 17,3 SRQ20 negativo 188 87,9 177 82,7 Alcoolismo* CAGE positivo& 9 4,2 22 10,3 CAGE negativo 205 95,8 192 89,7 ______________________________________________________________________ * Diferença estatisticamente significativa (P<0,05) # IMC = peso/altura² @ = srq20 positivo com 6 pontos ou mais. & = cage positivo 3 respostas positivas ou mais.

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TABELA 2. Distribuição da amostra estudada conforme variáveis ocupacionais. Santa Maria - RS, 1994.(n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variável MOTORISTA VIZINHO n % n % _ Função dos vizinhos Profissionais de nível superior e técnicos especializados - 23 10,7 Trabalhadores na produção industrial - 44 20,6 Artesãos, fabricantes e comerciantes em pequena escala - 33 15,4 Trabalhadores no comércio e na prestação de serviços ao público - 100 46,7 Outros - 14 6,5 Antiguidade na função * Ate 5 anos 32 15,0 66 30,8 5,1 a 10 anos 55 25,7 44 20,6 10,1 a 15 anos 44 20,6 35 16,4 15,1 a 20 anos 40 18,7 32 15,0 + de 20 anos 43 20,1 37 17,3 Horas diárias de trabalho Até 7 horas 65 30,4 33 15,4 8 horas 51 23,8 98 45,8 9 horas 61 28,5 29 13,6 10 horas ou + 37 17,3 54 25,2 Renda mensal* <= 2,5 SM 27 12,6 81 37,9 2,6 a 3,0 SM 83 38,8 24 11,2 3,1 a 4,0 SM 74 34,6 27 12,6 4,1 SM ou + 30 14,0 82 38,3 Média (dp) 214 3,2 (0,9) 214 5,6 (8,9) Turno de trabalho* Diurno 150 70,1 172 80,4 Misto 64 29,9 42 19,6 ______________________________________________________________________ Diferença estatisticamente significativa *(P<0,05) SM - sálario mínimo

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TABELA 3. Exposição à cargas de trabalho relativas ao ambiente para motoristas e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variável Frequência em RP (ic 95%) Motoristas (%) ______________________________________________________________________ Vibração ou trepidação* 74,3 2,60 (2,07 - 3,26) Ruído * 78,0 1,53 (1,32 - 1,78) Calor * 83,2 1,52 (1,33 - 1,74) Mudanças bruscas na temperatura* 57,5 1,50 (1,22 - 1,84) Ambiente Abafado# 45,3 1,37 (1,07 - 1,74) Objetos cortantes* 7,0 0,17 (0,10 - 0,28) Frio# 31,8 0,75 (0,59 - 0,97) Chão escorregadio* 9,3 0,38 (0,24 - 0,62) Pouca luz* 7,5 0,32 (0,19 - 0,55) Risco de cair* 4,7 0,20 (0,11 - 0,39) Produtos químicos# 26,6 0,70 (0,53 - 0,93) Poeira ou pó 62,1 1,16 (0,99 - 1,37) Fumaça ou gases 33,6 1,12 (0,85 - 1,49) Umidade 21,0 0,75 (0,53 - 1,05) ______________________________________________________________________ * Diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,001). # Diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,05). RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 4. Exposição à cargas de trabalho relativas à atividade para motoristas e vizinhos. Santa Maria - RS, 1994. (n = motoristas:214; vizinhos:214). ______________________________________________________________________ Variável Frequência em RP (ic 95%) Motoristas (%) ______________________________________________________________________ Forçar a vista* 80,8 1,30 (1,14 - 1,47) Perigo de acidentar-se* 57,5 1,53 (1,25 - 1,89) Ficar posição incômoda # 63,6 1,20 (1,02 - 1,41) Responsabilidade no trab# 100,0 1,03 (1,01 - 1,07) Risco permanente de vida* 60,7 1,78 (1,43 - 2,21) Fazer tarefas do mesmo jeito* 95,3 1,51 (1,35 - 1,68) Sempre atento sem se distrair* 100,0 1,17 (1,11 - 1,24) Repetir os mesmos movimentos* 94,9 1,53 (1,38 - 1,72) Enfrentar sit de emergência* 63,1 1,51 (1,26 - 1,83) Não pode conversar com colegas do trabalho 3,7 0,40 (0,18 - 0,89) Fazer muita força* 7,5 0,24 (0,14 - 0,41) Fazer revezamento de tarefa* 29,0 0,59 (0,46 - 0,77) Ficar no mesmo posto sempre 60,3 1,16 (0,98 - 1,37) Falta de segurança 20,6 0,95 (0,66 - 1,38) Sofrer pressão de superior 27,1 1,09 (0,79 - 1,51) ______________________________________________________________________ * Diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,001). # Diferença entre motorista e vizinho estatisticamente significativa (p<0,05). RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 5. Razão de prevalências de hipertensão arterial sistêmica de acordo com variáveis ocupacionais. Santa Maria - RS. 1994. ______________________________________________________________________ hipertensão arterial sistêmica Variável prev % RP (ic 95%) p ______________________________________________________________________ Função Vizinho 24,3 1 Motorista 22,4 0,92 (0,65-1,30) 0,64 Horas diárias de trabalho Até 7 horas 19,4 1 8 horas 23,5 1,21 (0,74-1,99) 0,44 9 horas 21,1 1,09 (0,62-1,92) 0,77 10 hs + 29,7 1,53 (0,92-2,56) 0,10 Antiguidade na função Até 5 anos 13,3 1 5,1 a 10 anos 26,3 1,98 (1,08-3,62) 0,02 10,1 a 15 anos 25,3 1,91 (1,01-3,59) 0,04 15,1 A 20 anos 23,6 1,78 (0,92-3,43) 0,08 + DE 20 anos 30,0 2,26 (1,23-4,15) <0,01 tendência * 0,03 Cargas de trabalho Mudanças bruscas de temp 20,5 0,78 (0,55-1,12) 0,17 Ruído 21,7 0,83 (0,58-1,17) 0,28 Perigo de acidentar-se 20,2 0,77 (0,54-1,09) 0,14 Posição viciosa 27,7 1,60 (1,09-2,33) 0,01 Ficar sempre mesmo posto 26,3 1,33 (0,93-1,90) 0,11 ______________________________________________________________________ Motoristas n=214, Vizinhos n=214. * Mantel Haenszel RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 6. Razão de prevalências de hipertensão arterial sistêmica de acordo com variáveis demográfico-comportamentais. Santa Maria - RS. 1994. (Motoristas n=214, Vizinhos n=214.) ______________________________________________________________________ hipertensão arterial sistêmica Variável prev % RP (ic 95%) p ______________________________________________________________________ Escolaridade 9 anos + 22,6 1 6 a 8 anos 24,6 1,09 (0,70-1,69) 0,69 0 a 5 anos 22,9 1,02 (0,66-1,56) 0,94 Exercício físico Até 3 x Semana 17,9 1 2 x Semana ou Menos 18,5 1,04 (0,53-2,04) 0,92 Não Faz 26,9 1,51 (0,83-2,74) 0,16 tendência 0,07 Idade 19-29 anos 7,6 1 30-34 anos 22,1 2,91 (1,21-6,98) 0,01 35-39 anos 22,0 2,90 (1,23-6,80) <0,01 40-44 anos 24,4 3,22 (1,37-7,55) <0,01 45 ou + 39,5 5,21 (2,31-11,73) <0,01 Alcoolismo CAGE negativo 22,5 1 CAGE positivo 35,5 1,58 (0,95-2,63) 0,10 Problemas psiquiátricos SRQ-20 negativo 22,5 1 SRQ-20 positivo 28,6 1,27 (0,82-1,96) 0,29 Índice de massa corporal Normal (< 24) 14,7 1 Sobrepeso (25-30) 26,5 1,80 (1,18-2,76) <0,01 Obeso (> 30) 40,3 2,74 (1,78-4,20) <0,01 ______________________________________________________________________ RP= razão de prevalências. ic=intervalo de confiança

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TABELA 7. Análise multivariada para hipertensão arterial sistêmica entre motoristas de ônibus e vizinhos, Santa Maria - RS, 1994. (Motoristas n=214, Vizinhos n=214.) _________________________________________________________________ Variáveis no modelo OR de função (ic 95%) p* _________________________________________________________________ Função 0,90 (0,57-1,41) 0,65 Índice de massa corporal e Antiguidade na função 0,66 (0,41-1,01) 0,09 _________________________________________________________________ * Teste para Razão de Verossimilhança OR= odds ratio ic=intervalo de confiança

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MODELO TEÓRICO

FIGURA 1. Modelo teórico que orientou o estudo da associação entre a função (atividade) motorista de ônibus urbanos e hipertensão arterial sistêmica. Santa Maria - RS. 1994.

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ANEXO I QUESTIONÁRIO

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ANEXO II MANUAL DO ENTREVISTADOR

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TRABALHO E SAÚDE EM MOTORISTAS

DE ÔNIBUS DE SANTA MARIA -RS

MANUAL DO ENTREVISTADOR INSTRUÇÕES GERAIS Antes de aplicar o questionário apresente-se ao trabalhador informe que é estudante de medicina da UFSM. Explique que participa de uma pesquisa sobre saúde. Informe que o estudo pretende conhecer as características do trabalho e suas influências na saúde. Explique, também, que os resultados deste estudo serão importantes para o planejamento e a organização de programas de saúde que visam diminuir os riscos do trabalho. Depois disso peça licença e comece a aplicar o questionário. CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DO VIZINHO Para cada motorista será entrevistado um vizinho que: a) seja do sexo masculino; b) Tenha a mesma faixa de idade (mais ou menos 5 anos, p. ex. se o motorista tem 23 anos o vizinho pode ter entre 18 e 28 anos completos); c) Não seja, ou tenha sido, motorista profissional (caminhão, taxi, autônomo, vendedor que viaja com carro ou caminhão, entregador que além de entregar dirige, etc...). Para localizar o vizinho: fique de costas para a casa do motorista, ande para a esquerda até a esquina perguntando em TODAS AS CASAS por alguém que satisfaça as condições acima. Caso não encontre, retorne à casa e procure para a direita da casa, e depois do outro lado da rua. Se mesmo assim não encontrar ninguém circunde a quadra procurando nos dois lados da rua. Caso não tenha encontrado circunde a quadra a frente da casa do motorista e a seguir as outras quadras próximas até encontrar alguém que sirva. ATENÇÃO, NUNCA perguntar na casa do motorista ou vizinho pela idade de todas as pessoas da rua, pois pode haver algum viés de informação por parte de quem informa (ex. prefere indicar alguém doente porque precisa de médico, ou não indicar um vizinho que não goste, etc...). Ler todas as perguntas exatamente como elas estão formuladas. Caso o entrevistado fique em dúvida repetir a pergunta e se necessário ler as alternativas. Não formule a questão com suas próprias palavras. Se ficar em dúvida com alguma resposta do trabalhador anote por extenso toda a informação ao lado da questão ou no verso do questionário e não codifique. A codificação será feita posteriormente pelo supervisor. NÃO TENTE ADEQUAR A UMA DAS ALTERNATIVAS.

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NÃO ANOTE COMO SIM resposta como 'de vez em quando', 'mais ou menos' ou similares. Como o questionário tem muitas perguntas com alternativas sim/não, se o entrevistado começar a responder com evasivas explicar que é necessário marcar sim ou não no questionário e que ELE precisa tomar esta decisão, caso contrário você acabará marcando conforme a sua opinião. Sempre que a resposta for OUTRO especificar no espaço adequado com as palavras do informante. Quando aparecer uma referência a tempo entre os sinais "<" e ">" substituir conforme indicado. Por exemplo: - Você teve esta dor nos últimos 7 dias desde <DIA DA SEMANA DE SETE DIAS ATRÁS>? Numa terça-feira deve ser lido: "Você teve esta dor nos últimos sete dias DESDE TERÇA-FEIRA DA SEMANA PASSADA?". Não tente fazer contas durante a entrevista porque isto muitas vezes resulta em erros. por exemplo se o salário for indicado sob forma de pagamento diário ou semanal, anotá-lo por extenso e näo tentar a multiplicação para obter o valor mensal. Os cálculos devem ser feitos por ocasião da codificaçäo. INSTRUÇÕES GERAIS SOBRE A CODIFICAÇÃO A codificação das questões fechadas ficará a cargo do entrevistador. A CODIFICAÇÃO DEVE SER FEITA SOMENTE COM LÁPIS. Use números conforme demonstração que será realizada para evitar enganos na digitação. As questões fechadas devem ser codificadas com o número indicado no parenteses ou no enunciado da questão. Quando a resposta for numérica (idade, data...) codificar com o número informando tomando o cuidado de preencher todos os dígitos. Em caso de dúvida consulte o manual de instruções. Codifique no mesmo dia todos os questionários realizados, se possível codifique após cada entrevista, pois se houver dúvidas já podem ser solucionadas com o próprio entrevistado. NUNCA CODIFIQUE DURANTE A ENTREVISTA. Não deixar respostas em branco, observar a aplicação dos códigos especiais: O código 8, 88, 888 destina-se a questões que não se aplicam para o entrevistado. NOTE QUE ALGUMAS QUESTÕES TEM ORIENTÇÕES ESPECÍFICAS EM FUNÇÃO DA FACILIDADE DE DIGITAÇÃO NO BANCO DE DADOS. O código 9, 99, 999 deve ser usado quando o entrevisatado não sabe a resposta. SÓ ACEITE A RESPOSTA IGNORADO EM ÚLTIMO CASO, E APÓS TER CERTEZA QUE O ENTREVISTADO ENTENDEU A QUESTÃO. Para uso de outros códigos, siga as instruçöes que constam abaixo de cada pergunta, ou consulte o manual de instruções.

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INSTRUÇÕES ESPECÍFICAS PARA CADA QUESTÃO 1. ENTREVISTADOR, Escreva o seu nome. Na parte correspondente a códigos coloque seu número. (1.Alessandra; 2.Inês; 3.Marcelo; 4.Sidinei; 5.Simone). 2. DATA, Preencher a data do momento da entrevista. 3. COR, observe e assinale a cor do entrevistado. Não formular esta pergunta. 4. IDADE, anotar a idade em anos completos no dia da entrevista. 5. Estado Civil, entenda-se casamento como união estável, e não necessariamente com o contrato cível. 6. ATÉ QUE SÉRIE ESTUDOU NA ESCOLA, registrar quantos anos foi aprovado. 7. EMPRESA, anotar o nome da empresa para os motoristas e para os demais indicar também o ramo de atividade. P. Ex. comércio, supermercados, indústria da alimentação, indústria metalúrgica, exército .... Não codificar. 8. TEMPO NA EMPRESA, anotar o tempo total em que trabalha nesta empresa independente da função que tenha exercido neste período. Para codificar transformar o tempo em meses. 9. SETOR DE TRABALHO, registrar com clareza a principal atividade do setor em que o entrevistado trabalha atualmente. Não codificar. 10. SALÁRIO, refere-se ao salário básico mais horas extras, excluídas gratificações, férias e 13º. Se for horista anotar quanto ganhou no último mês. Registrar o salário bruto. Para codificar dividir por mil. 11.FUNÇÃO, registrar o cargo que o indivíduo ocupa no seu setor de trabalho. Refira-se a forma como consta na cartira de trabalho. Não codificar. 12. TEMPO NA FUNÇÃO, tempo total trabalhado nesta mesma função, independente da empresa. Para codificar transformar o tempo em meses. 13. TAREFAS NO TRABALHO descreva com detalhes as tarefas que o trbalhador realiza durante a jornada em seu setor. Não basta escrever por exemplo servente, pois isto também gera confusões e imprecisões. No caso de trabalhos em rodízio, registre

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todas as tarefas que a pessoa costuma realizar. Exemplo: responsável pela colocação das latas nas embalagens/ matança desossa e limpeza de animais/ montagen de painéis, instalações e manutenção elétricas/... 14. MÁQUINAS FERRAMENTAS OU APARELHOS Esta pergunta destina-se a caracterizar os instrumentos ou máquinas que o entrevistado utiliza em seu trabalho. Registre o nome, mesmo que vulgar ou popular dos instrumentos ou máquinas citados. 15. TURNO registre o turno exato que costuma trabalhar. 16. HORAS POR DIA: Quantas horas costuma trabalhar por dia neste emprego. Se não for sempre a mesma, ou trabalha em plantões, etc..., fazer uma média diária da última semana. ANOTE A INFORMAÇÃO COMO FOR DADA E FAÇA A MÉDIA EM CASA (ex. policial militar relata que faz 24 por 48). Para codificar, as frações de hora até meia hora arredondar para menos e quando exceder meia hora arredondar para mais. 17. TURNO PROBLEMAS anotar detalhadamente quais problemas o entrevistado acha que tem em decorrência do truno em que trabalha. 18. DETERMINANTE DO RITMO DE TRABALHO esta pergunta tem por objetivo identificar que elementos impõe o ritmo de trabalho do entrevistado. Caso o entrevistado não entenda explicar que queremos saber o que determina o quanto ele vai ter que trabalhar. 19.TROCAR DE EMPREGO registrar a resposta do trabalhador e em caso afirmativo TODOS os motivos que venha a citar (se o espaço não for suficiente use o verso da folha). 20. PROCUROU EMPREGO Se está no emprego a menos de seis meses e procurou outro emprego ao mesmo tempo que procurava este marcar não. 21. INFLUÊNCIA NA EMPRESA O entrevistado muitas vezes vai querer saber se é influência em decisões importantes ou no dia-a-dia, ou ficar confuso com a pergunta. LIMITE-SE A REPETIR O ENUNCIADO. 22 - 24 Registrar apenas SIM ou NÃO. Se o entrevistado ficar em dúvida pedir que opte por uma das duas opções. 25. HISTÓRIA OCUPACIONAL registrar os três últimos empregos com função, empresa e ramo de atividade e o tempo em cada um. Se trabalhou em períodos diferentes numa mesma empresa, mas na mesma função, somar os dois períodos e registrar no mesmo item. Não codificar. Nas questões 26,27,28,31,32 e 35 TODAS AS ALTERNATIVAS DEVEM SER LIDAS e nos parenteses que antecedem cada item colocar 1 se a resposta for sim e 0

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se for não. Se o entrevistado ficar em dúvida pedir que responda SIM ou NÃO. O mesmo número deve ser utilizado para codificação. 26.AMBIENTE DE TRABALHO Esta questão busca uma caracterização detalhada do ambiente de trabalho do entrevistado, isto é, que características físicas estão presentes onde o indivíduo trabalha. 27 e 28. FORMAS DE TRABALHAR esta pergunta destina-se a caracterizar as atividades costumeiras do trbalhador. Refere-se mais à situações a que o corpo do trabalhador está submetido (repetição de tarefas, impossibilidade de decidir como realizar as tarefas,...) 29. ACIDENTE DE TRABALHO anotar qualquer tipo de acidente, mesmo que não tenha sido necessário chamar o médico ou afastamento do trabalho. 30. DIAS AFASTADO Anotar o número total de dias afastados no último ano, mesmo que tenha sofrido mais do que um acidente. Se não teve acidente codificar 88. 31 e 32. CONDIÇÕES DE TRABALHO Ler todas as alternativas sem pausa entre elas. 33 e 34. FALTAS AO TRABALHO referem-se apenas aos últimos 15 dias. Se não faltou codificar a questão 33 com 00 e a 34 com 8. 35. O TRABALHO COSTUMA CAUSAR-TE Ler o enunciado com clareza para que o informante perceba que o objetivo da pergunta é saber se O TRABALHO costuma causar-lhe destes problemas e não se ele tem os problemas citados. 36 GIN',ASTICA OU EXERCÍCIO Ginástica se refere a qualquer tipo de exercício ou esporte. Assinale a resposta fornecida pela pessoa entrevistada, observando com que frequência realizava os exercícios. 37. QUANTO TEMPO GASTAVA Escreva a resposta fornecida pela pessoa entrevistada, utilizando como unidade sempre minutos. Anotar quanto tempo gastava para realizar o exercício independente da frequência. Se realizava mais de um tipo de exercício e gastava tempo diferente para cada um anotar por extenso e não codificar. Qualquer observação a respeito desta resposta deve ser descrita logo abaixo da questão ou no verso. Para codificar usar o tempo em minutos. 38. TIPO DE EXERCÍCIO Aplique a pergunta para cada tipo de exercício, assinalando a opção respondida pela pessoa entrevistada. Esta pergunta será considerada como afirmativa s`,omente para aqueles exercicios que foram realizados pelo menos uma vez por semana, na maior parte do ano (mais de 6 meses). Caminhar refere-se a marcha como exercício, exemplo marcha acelerada.

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39. FUMO, ex-fumante refere-se a quem já abandonou completamente o hábito de fumar independente do tempo que fumou ou do número de cigarros. 40. TEMPO QUE FUMOU anotar a informação do entrevistado. Para codificação usar o tempo em anos. 00 = menos de um ano. 41. QUANTOS CIGARROS Se ainda fuma anotar o número de cigarros que fuma atualmente. Se é ex-fumante o número de cigarros que fumou por dia a maior parte do tempo. 42. TIPO DE CIGARRO Se utilizar mais de um tipo anotar o que usa com maior frequência. 43. CONSULTA Quando necessitou retorno para entregar exames considerar apenas uma consulta. Se consultou, o código utilizado é o número de consultas. 7 = 7 ou mais consultas. 44. MOTIVO E LOCAL DA CONSULTA Junto ao local da consulta especificar se foi convênio, particular, etc... AVALIAÇÃO DO SISTEMA LOCOMOTOR Entregar a FIGURA 1 para o entrevistado e apontando cada região formular a pergunta da 2ª coluna do quadro. Quando a resposta for NÃO apontar a próxima região seguindo a ordem das linhas do quadro. Quando a resposta for SIM realizar as perguntas constantes nas outras duas colunas, e para passar para a próxima região anatômica repetir a pergunta da 2ª coluna. 45. DOR ALGUMA VEZ, Apontando a região da Coluna Lombar na FIGURA 1 (a FIGURA 2 ESTÁ CAUSANDO CONFUSÃO) Fazer a pergunta. Se a resposta for não pule para a questão 53. NÃO É NECESSÁRIO CODIFICAR AS QUESTÕES 46 A 52. deixe em branco ou faça apenas um traço vertical no espaço destinado à codificação. 46 e 47. HOSPITALIZADO e TROCAR DE TRABALHO Registrar a informação como for dada. 48. TEMPO DOR NAS COSTAS Marcar a alternativa em que se encontre o número de dias em que o informante tenha tido dor nas costas nos últimos doze meses. Se foram várias vezes marcar o total de dias com a dor. Se a resposta for 0 pule para a questão 53. NÃO É NECESSÁRIO CODIFICAR AS QUESTÕES 46 A 52. deixe em branco ou faça apenas um traço vertical no espaço destinado à codificação. 49. DIMINUIÇÃO DAS ATIVIDADES esperar a resposta à primeira interrogação e em seguida formular a seguinte.

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50. DIAS IMPEDIU ... Marcar a alternativa em que se encontre o número de dias que o informante tenha ficado impedido de realizar suas atividades costumeiras de trabalho por causa da dor nas costas, nos últimos doze meses. Se foram várias vezes marcar o total de dias em que ficou impedido. 51. CONSULTA POR CAUSA DA DOR Anotar consulta com qualquer profissional desde que o motivo tenha sido esta dor. 52. DOR 7 DIAS Se o informante teve a dor nos últimos 12 meses esta pergunta já foi feita no quadro acima, portanto ela pode ser repetida ou não. 53 a 59 PROBLEMAS DOS ÚLTIMOS 15 DIAS Ler todas as alternativas inclusivo a alternativa OUTROS complementando com o problema em questão (ex: outros problemas de pele?). Não é necessário repetir a cada questão que as perguntas referem-se aos últimos 15 dias. Isto deve ser repetido na questão 55 e 57. 60. CRÔNICOS Saber se tem algum dos problemas e se nos últimos 15 dias esteve bem ou incomodando. 61. PRESSÃO ALTA Registrar detalhadamente há quanto tempo tem o diagnóstico de HAS. Para a codificação desta questão acrescentar um dígito e codificar o tempo em anos. 00 = menos de um ano. 62. REMÉDIO Anotar todos os remédios que a pessoa toma PARA A PRESSÃO ALTA. Se ficar com dúvidas anote todos os que forem informados utilizando o verso da folha. A codificação desta questão será feita pelo revisor. 63. ALGUÉM DA FAMÍLIA Fazer a pergunta mesmo para aqueles que não relataram Pressão Alta. 64 a 83. SRQ - 20 Se for preciso explicar novamente que é necessário responder apenas SIM ou NÃO e que na dúvida ele mesmo deve optar por uma alternativa. NÃO EXPLICAR NENHUMA DAS PERGUNTAS. CASO HAJA DÚVIDAS LIMITAR-SE A REPETIR A PERGUNTA DA MESMA FORMA. 84 a 87. CAGE Fazer todas as perguntas mesmo que as respostas sejam sempre negativas. AS QUESTÕES 88 a 93 SÃO APENAS PARA OS MOTORISTAS 88. COMO APRENDEU A DIRIGIR Anotar detalhadamente como foi e com quem foi que o informante aprendeu a dirigir ÔNIBUS. Se aprendeu na empresa (ou em outra empresa) registrar detalhadamente qual era a sua função e como teve chance de

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aprender (ex: era mecânico e manobrava os ônibus, era cobrador e o motorista deixava dirigir às vezes), e não apenas empresa. Se aprendeu a dirigir caminhão e depois passou "automaticamente" para ônibus deixar isto bem claro. A codificação será feita pelo supervisor. 89.COM QUE IDADE APRENDEU A DIRIGIR Anotar a idade que aprendeu a dirigir QUALQUER TIPO DE VEÍCULO. Não é a idade que fez a carteira. 90. LINHA E DISTÂNCIA Anotar a linha que trabalhou e adistância. CUIDADO alguns motoristas tem o hábito de informar a distância ida e volta. ANOTAR A DISTÂNCIA DA LINHA APENAS EM UM SENTIDO (IDA OU VOLTA). Se as distâncias forem diferentes anotar a maior. Se for linha circular anotar a distância total do trajeto. Se trabalha em várias linhas registrar aquela em que trabalhou a maior parte do tempo. Se está na reserva usar o código 8 para as duas questões. Para a distância utilizar a distância em Km se necessário arredondar. A codificação da linha será feita pelo supervisor. 91.COMO É O ÔNIBUS ler todos os ítens com as alternativas. Insistir na informação sobre o ano e em relação ao modelo anotar o máximo de detalhes que o motorista informar. Para codificar o ano utilizar os doi últimos algarismos. 92. GOSTARIAS DE TRABALHAR EM OUTRO ÔNIBUS anotar todos os motivos citados. Se necessário utilizar o verso da folha. NOTE BEM se a resposta for NÃO também tem um porquê. 93. REFEIÇÕES Se for OUTRO especificar bem e NÃO UTILIZAR O CÓDIGO 4, deixar a codificação para o supervisor. MEDIDAS REFERIDAS Não esquecer de perguntar aos vizinhos. 94 e 95. PESO E ALTURA REFERIDOS registrar o peso que o entrevistado informar. Se por acaso ele não souber e "chutar" não tem problema, anote o "chute". INSTRUÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DAS MEDIDAS EXPLIQUE A NECESSIDADE DE OBTERMOS MEDIDAS EXATAS, AS PESSOAS SE SENTEM MAIS VALORIZADAS QUANDO VÊEM QUE ESTÃO

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PARTICIPANDO DE UMA COISA BEM FEITA, SÉRIA, DO CONTRÁRIO PODEM PENSAR QUE ESTÃO PERDENDO TEMPO. - PESO Material necessário: balança portátil. Lembre-se que as balanças deverão ser aferidas diariamente. Técnica: Esta medida dever',a ser coletada com o entrevistado descalço. Quando a pessoa entrevistada subir na balança, coloque-se em frente a esta e observe o visor bem de cima. ATENÇÃO: a balança utilizada neste trabalho não mede o peso em gramas, portanto se o ponteiro ficar entre dois valores assinale o mais baixo. Exemplo: o ponteiro fica entre 81 e 82 kg, registre 81 como peso da pessoa entrevistada. - ALTURA Material necessário: antropômetro Técnica: posicione o entrevistado em pé, deslize o marcador até encostar na cabeça e faça a leitura. NUNCA REALIZE MEDIDAS ESTANDO O ENTREVISTADO COM O CALÇADO E DEPOIS FAZENDO O DESCONTO. - MEDIDA DE PRESSÃO ARTERIAL Material necessário: esfigmomanômetro e estetoscópio. Técnica: Para a medida de pressão arterial, será necessário a utilização de esfigmomanômetros aneróides para aferição ao final de cada entrevista, com a pessoa sentada tendo o braço direito despido, apoiado na altura da região mamária, considerando como PA sistólica o início dos ruídos auscultatórios e a PA diastólica o ponto de extinção dos ruídos auscultatórios de Korotckoff (fase V). Os aparelhos deverão ser levados ao supervisor semanalmente para que sejam aferidos.