Trabalho - Laboratório de Jornalismo Impresso - Itala Maduell
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11 de março de 2014
Laboratório de Jornalismo Impresso – Itala Maduell
O jornal impresso continua sendo considerado a fonte de informação mais
confiável, enquanto as notícias publicadas na internet têm a menor taxa de
confiança dos entrevistados. Apesar disso, a pesquisa, encomendada pela
Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República ao
Ibope, mostra que é cada vez menor o número de leitores do jornal impresso.
O estudo revelou, ainda, o crescente tempo de conexão na web (3h39
diárias) e o aumento na preferência pela internet como mídia preferida, com
13%, atrás somente da televisão (76,4%).
O desinteresse do brasileiro pelo jornal impresso pode, de certa forma,
beneficiar os empresários de comunicação. Segundo o artigo “Convergências
e divergências”, do jornalista e professor da UFF João Batista de Abreu,
aproximadamente 2/3 da composição de custos são destinados às despesas
com impressão e distribuição. Ainda de acordo com o autor, o preço do papel
subiu 200% nos últimos 10 anos.
Por outro lado, o jornal passou a ser oferecido em versão digital no site e
disponível para tablets. Assim, o veículo de comunicação consegue manter o
leitor, que faz a assinatura em busca de ler análises e matérias aprofundadas
para complementar o factual publicado no site e nas redes sociais. Com a
expansão da internet, os jornalões ganharam mais concorrentes, que, como
mostrou a pesquisa da Secom, não têm a mesma credibilidade.
No filme “Intrigas de Estado” (“State of play” no título original), o jornalista Cal
McAffrey é muito crítico em relação ao trabalho da colega de redação Della
Frye. Enquanto McAffrey costuma escrever matérias mais aprofundadas, que
demandam mais tempo, para a versão impressa do Washington Globe, a
repórter Della trabalha na equipe online do jornal e tem pressa para publicar.
Ele chama as informações publicadas na internet de “sensacionalismo
barato” e prefere, por exemplo, não publicar o que disse a garçonete e colega
de quarto da comandante de pesquisas da comissão do deputado Steven
Collins, a jovem assassinada Sonia Baker, por não considerá-la fonte
confiável. E este é mais um momento em que publicar uma informação
aprofundada e verídica entra em conflito com “o que vende jornal”. Segundo
a editora, “os novos patrões querem que eles deem lucro” e deixar de
publicar tal notícia significa vender menos jornais, o que pode levar “ao
naufrágio jornal”.
Segundo o jornalista João Batista de Abreu, a incessante busca pelo maior
lucro resulta também nas demissões de funcionários dos veículos de
comunicação – chamadas de “passaralhos”. Ele dá o exemplo do jornal
Estado de S. Paulo, que apesar de ter registrado um lucro líquido de R$ 46
milhões em 2010 e aumentado a venda publicitária em todas as mídias, não
alcançou a meta de R$ 60 milhões e, assim, demitiu 22 jornalistas.
“Portanto, para os executivos, o primordial não era produzir um jornal de
qualidade, mas garantir metas de lucratividade e prevenir-se contra uma
possível crise econômica que poderia advir em 2011 adiante do quadro de
instabilidade econômica dos Estados Unidos e em países da Europa
Ocidental” (BATISTA DE ABREU, João - Convergências e divergências – p 5)
Com o investimento menor no pessoal, o acúmulo de funções passa a ser
mais constante. Escrever a matéria é só uma das atividades do repórter. Ele
também precisa enviar flashes da rua para atualizar o online, às vezes tirar
fotos, e até fazer vídeo para a seção multimídia do site. A lista de tarefas
acaba dificultando o trabalho inicial, que era passar a informação.
O tempo para investigar a história – muitas vezes fora da redação –, como
fez McAffrey, que teve de ir atrás de várias fontes, também passa a ser mais
raro. A cobrança para publicar matérias diariamente impende que os
jornalistas façam um trabalho aprofundado, com diversas fontes ouvidas.
Batista de Abreu alerta, ainda, que as equipes do impresso e online foram
integradas. No jornal O Globo, por exemplo, os funcionários chegavam a ficar
em prédios diferentes. O motivo da junção tem a ver com a expansão da
banda larga no Brasil e, consequentemente, o papel maior da internet como
meio de informação.
Apesar de, no longa-metragem, as equipes ainda não serem juntas, percebe-
se que esse poderia ser um passo breve. A repórter do online Della trabalha
em um computador novo, enquanto o colega do impresso McAffrey usa uma
máquina de 16 anos. Isso pode ter a ver com a crescente atenção dada ao
online, que gera cada vez mais dinheiro.