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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA CURSO DE ARQUEOLOGIA TRAÇOS, PONTOS E MODELADOS: ANÁLISE ICONOGRÁFICA DA CERÂMICA BARRANCOIDE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SANTA PAULA, PORTO VELHO - RONDÔNIA MONOGRAFIA APRESENTADA COMO REQUISITO PARCIAL DO CURSO DE BACHAREL EM ARQUEOLOGIA UNIR. Gegliane Neves da Silva Porto Velho RO, 2017.

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

CURSO DE ARQUEOLOGIA

TRAÇOS, PONTOS E MODELADOS: ANÁLISE

ICONOGRÁFICA DA CERÂMICA BARRANCOIDE NO

SÍTIO ARQUEOLÓGICO SANTA PAULA, PORTO

VELHO - RONDÔNIA

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO REQUISITO PARCIAL DO

CURSO DE BACHAREL EM ARQUEOLOGIA UNIR.

Gegliane Neves da Silva

Porto Velho – RO, 2017.

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TRAÇOS, PONTOS E MODELADOS: ANÁLISE

ICONOGRÁFICA DA CERÂMICA BARRANCOIDE NO SÍTIO

ARQUEOLÓGICO SANTA PAULA, PORTO VELHO -

RONDÔNIA

Gegliane Neves da Silva

Monografia apresentada como requisito parcial do Curso de Bacharel em

Arqueologia da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

Orientadora: Silvana Zuse

Porto Velho – RO, 2017.

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Fundação Universidade Federal de Rondônia

Núcleo de Ciências Humanas

Departamento de Arqueologia

Curso de Arqueologia

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia intitulada:

TRAÇOS, PONTOS E MODELADOS: ANÁLISE ICONOGRÁFICA DA

CERÂMICA BARRANCOIDE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SANTA

PAULA, PORTO VELHO - RONDÔNIA

Elaborada por

Gegliane Neves da Silva

Como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharela em Arqueologia

Comissão Organizadora

___________________________________________________________________________

Profa. Dra. Silvana Zuse

(Presidente/orientadora)

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Bespalez

(Membro titular)

___________________________________________________________________________

Me. Odair José Petri Vassoler

(Membro Titular)

Porto Velho, 2017.

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DEDICATÓRIA

Dedico a vovó D. Doca e minha mãe De Jesus.

Mulheres de fibra e punhos de aço.

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AGRADECIMENTOS

E no fim dá tudo certo…

A certeza de que tudo passa é quando você sobrevive aos obstáculos, mas nunca sozinho e

sim acompanhado. E assim, utilizo este espaço para agradecer a cada um que de alguma

forma ajudou na realização deste trabalho.

Agradeço à equipe de docentes do DARQ (Departamento de Arqueologia), que

incansavelmente tem-se desdobrado para o fortalecimento do curso e, principalmente, para

assegurar a realização das aulas de campo, etapa árdua que docentes e estudantes enfrentam,

por questões de recursos e infraestrutura. Vocês são nossas heroínas e nossos heróis.

Agradeço aos meus amigos da Arqueologia Wanessa Kadhaj, Kenny Petrochelly (Smurf),

Wáleria Kadhaj, Gleidston Lapasini (Tomzinho), Mariana França (arco-íris), Edclei Siqueira

(Edi), Aldineia Rodrigues (meus cachos), Fernanda Mendonça (manazinha), e Laura Lopes

(Laurinha da Química). Que muitas vezes, quando a tristeza, o cansaço e as lágrimas

apareciam, buscavam uma diversão intensa, para abater este mal-estar. Ao Pedro Venere,

Mayara Santos (May) e Lucia Alencar, pelo companheirismo nas atividades de laboratório,

Edclei Siqueira e Henrique Jacob (povos jacobi, risos), pela boa companhia nas tardes do

laboratório (Casarão). Ao Odair Petri (Oda), que nos primeiros passos deste trabalho me

forneceu boas coordenadas, e por aceitar ser parte da banca. Grata. À Glenda Félix

(Glendíssima) pelas conversas e auxílio na monitoria de laboratório, por que duas cabeças

pensam mais que uma, e essa amizade que se formou diante de tantas coisas. Obrigada por

tudo, admiro muito você.

À Altaires Pereira (tatuador e amigo), por arranjar tempo em sua agenda, para desenharmos os

motivos das cerâmicas e batermos um bom papo junto a uma gelada (cerveja).

Agradeço à professora Mara Centeno pelos conselhos de amiga e professora. Por suas

orientações acadêmicas. E claro, a incentivar-me a crer nas minhas conquistas. Obrigada

“bunita”.

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Não deixando de fora, minha equipe de trabalho André Monteiro (Best Best), Adriano Silva,

Clarice Sousa (Clarice Lispector), Ênila Alissa, Érica Gama e Juliana Passos e por me

apoiarem, mesmo não compreendendo bem a Arqueologia, mas espero estar com vocês por

uns longos anos, então, podem perguntar. André Monteiro, obrigada pelo auxílio no inglês,

idioma que tenho dificuldades.

Agradeço ao universo por me presentear com a Elektra, o Doido e o mais novo membro da

família, o Kaleb (meus cachorros), pois eles são a maior razão da minha felicidade nessa

estrada, pois não há nada mais louco do que as brincadeiras com seus pets.

E nada mais nada menos à Silvana Zuse, professora e orientadora, que tem-se desdobrado ao

máximo para dar atenção a cada um de seus orientandos. Pelas e leituras deste trabalho, pelas

correções da minha escrita. Hoje posso agradecer imensamente a grande força e auxílio que

tem dado. Por ser paciente comigo, aprendi muito na sua companhia. Que os novos ventos

possam nos proporcionar parcerias de trabalho, agora como arqueólogas. Obrigada.

E por fim, à minha vovó dona Doca e minha mãe De Jesus. Por me apoiarem sempre, mesmo

com tantas divergências, pelas paciências que as duas mantiveram ao longo desses anos da

minha criação. Hoje sou mais que grata pelas lições de vida, e principalmente, mostrar-me

através do espelho da vida, que não se deve desistir tão fácil.

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EPÍGRAFE

“O segredo da existência humana reside não só

em viver, mas também em saber para que se

vive”. Dostoievski, Fiódor

“Tua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então,

com todo o coração dedicar-se a ele”. Buda

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta os resultados da análise das técnicas, motivos e expressões

decorativas nos tratamentos plásticos da cerâmica Barrancoide no sítio Santa Paula,

localizado na margem esquerda do alto curso do rio Madeira, no município de Porto velho,

Rondônia. Através da triagem foram selecionados 103 fragmentos da unidade de escavação

N1001 E1000 do montículo 1, e 190 fragmentos das unidades N 500 E500, N501 E 500 e N

501 E499 do montículo 2, que apresentam tratamentos plásticos diagnósticos da tradição

Barrancoide no rio Madeira. Nestes fragmentos, foram analisadas as técnicas decorativas, sua

localização/posição na vasilha, direção, profundidade e/ou altura, largura, comprimento e/ou

diâmetro, forma da seção ativa do instrumento e indícios sobre a umidade da pasta e a direção

da ação. No alto rio Madeira, as decorações feitas predominantemente nas bordas das

vasilhas, através de incisões, incisos e ponteados, apliques, modelados e entalhados são

características da cerâmica Barrancoide ou Borda Incisa, e as diferenciam dos demais

conjuntos tecnológicos da região, ao passo que apresentam especificidades em relação a

outros contextos Barrancoide amazônicos, na frequência e na variabilidade das decorações.

Palavras-chave: Cerâmica, Iconografia, Tradição Barrancoide, Alto rio Madeira.

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ABSTRACT

This research presents the results of the analysis of the techniques, motifs and decorative

expressions in the plastic treatments of Barrancoide ceramics in the Santa Paula site, located

on the left bank of the upper Madeira River, in the municipality of Porto Velho, Rondônia.

Through the triage, 103 fragments of the excavation unit N1001 E1000, from the mound 1,

and 190 fragments of the N 500 E500, N501 E 500 and N 501 E499 units of the mound 2

were selected, with diagnostic plastic treatments of the Barrancoide tradition in the Madeira

river. In these fragments, the decorative techniques were analyzed, their location / position in

the vessel, direction, depth and / or height, width, length and / or diameter, shape of the active

section of the instrument and indications about moisture paste and direction of action . In the

upper Madeira, the decorations, made predominantly on the edges of the vessels, through

incisions, incised and dotted, appliqués, shaped and carved are related to Barrancoide or

Borda Incisa ceramics, that differentiate them from other technological groups in the region,

have specificities in relation to other Amazonian Barrancoide contexts, in the frequency and

variability of decorations.

Key words: Ceramics, Iconography, Barrancoide Tradition, Upper Madeira River.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quadro dos horizontes definidos por Meggers e Evans, 1961 (In: Lima, 2008, pg.

29). ...................................................................................................................................... 18

Figura 2 - Hipotética leva de dispersão do horizonte estilístico borda incisa, proposto por

Meggers e Evans (In: Lima, 2008, pg. 30). ........................................................................... 19

Figura 3 – As duas primeiras imagens são as cerâmicas do rio Orinoco, a última imagem

proveniente da Vezuela, Guiana e bacia do Amazonas. (da esquerda para a direita; Fonte

Osgood e Howard, 1943; Lathrap, 1970). ............................................................................. 20

Figura 4 - Dispersão aproximada dos principais complexos cerâmicos. Em laranja a Tradição

Borda Incisa/Barrancoide (cerca de 200 a 900 AD). Fonte: BARRETO, LIMA E

BETANCOURT, 2016, P. 51. .............................................................................................. 20

Figura 5 - Cerâmicas Barrancoide dos sítios Ilha de Santo Antônio, Santa Paula, Teotônio,

Ilha São Francisco, Ilha das Cobras e Ilha do Japó. Fonte: Zuse, 2016, p. 396. ..................... 23

Figura 6 - Mapa com a localização e distribuição dos conjuntos tecnológicos identificados por

Zuse (2016, p. 400). ............................................................................................................. 24

Figura 7 - Localização do sítio Santa Paula e sítios próximos (Fonte: Google Earth, 2010). . 26

Figura 8 - Croqui com a localização dos sítios Teotônio e Santa Paula. Os pontos vermelhos

são as sondagens com materiais arqueológicos (positivas) e as pretas com ausência de

materiais arqueológicos (negativas). Os triângulos pretos são as duas unidades de escavação

(SCIENTIA, 2012, in: ZUSE, 2014, p. 139). ........................................................................ 27

Figura 9 - Unidades de escavação delimitadas no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR 2014). .. 28

Figura 10 - Foto do perfil sul da escavação no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR, 2016) ....... 29

Figura 11 - Foto do perfil Norte da escavação no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR, 2016). . 30

Figura 12 - Nível 50-60 cm: escavação das quatro unidades, com indicação das estruturas

evidenciadas. E3 (N1000 E1000), possível continuidade desta ao norte, na unidade N1001

E1000, e estrutura E1 no perfil leste da unidade N1001 E1001. (Figura: DARQ/UNIR, 2014).

............................................................................................................................................ 32

Figura 13 - Fotos da estrutura E4 (Fotos: DARQ/UNIR 2014). ............................................ 32

Figura 14 - Fragmento com aplique no lábio (a esquerda) e borda modelada com incisões na

face interna (a direita) - 100-110 cm N1001 E1000. Fotos: DARQ/UNIR, 2014, .................. 33

Figuras 15 e 16 - Croqui das feições identificadas no nível 80-90 cm e foto da feição F2 (80-

90 cm da unidade N1001 E1000). Desenho e fotos: DARQ/UNIR, 2014. ............................. 33

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Figura 17 e 18 - Escavação das unidades N500 E500, N501 E500 e N501 E499 no nível 50-60

cm e 90-100 cm, respectivamente. Fotos: DARQ/UNIR, 2014/2015. ................................... 34

Figuras 19 e 20 - Fotos de cerâmicas diagnósticas Barrancoide feitas em campo. ................. 35

Figura 21 - O escorpião mítico e a serpente bicéfala. Etapas do Processo de Identificação das

Unidades Mínimas Significantes. 1) O Objeto, 2) A representação natural, 3) A representação

estilizada, 4) A estrutura, 5) As unidades mínimas significantes, 6) Exemplos de localização

das unidades (Schaan, 1996, p. 232) ..................................................................................... 38

Figura 22 - Triagem dos fragmentos decorados. ................................................................... 41

Figura 23 - Ficha de analise da tecnologia cerâmica, desenvolvida por Zuse (2014). ............ 42

Figura 24 - Desenhos esquemáticos demonstrando as partes da vasilha. Fonte: Lima, 2008, p.

179. ...................................................................................................................................... 44

Figura 25 - Ficha desenvolvida para análise dos motivos, adaptada de La Salvia e Brochado

(1989). ................................................................................................................................. 46

Figuras 26 e 27: fragmentos cerâmicos da Tradição Polícroma da Amazônia, dos níveis 0-10

cm e 20-30 cm da unidade N1001 E1000. Fotos: Venere, 2017, p. 13. ................................. 48

Figura 28 e 29 - Lábios dentados e fragmentos com lábios modelados e decorações

figurativas. ........................................................................................................................... 52

Figura 30 e 31 - Fragmentos com incisos e ponteados, em linhas horizontais, curvilíneas e

transversais; e fragmentos com incisões em linhas verticais, horizontais, oblíqua ou não

identificadas, respectivamente. ............................................................................................. 52

Figura 32 - Fragmentos SPA 2110.2-01 e SPA 2109 – 149, respectivamente. ....................... 54

Figura 33 - Desenho e foto do fragmento SPA 2110.1 (desenho: Pedro Pacheco, 2017). ...... 55

Figura 34 – Foto e desenho do fragmento com incisões (Desenho: Altaires Pereira, 2017). .. 55

Figura 35 - Fotos da vasilha remontada. 1 visão lateral esquerda; 2 - visão de frente; 3 - visão

lateral direita. ....................................................................................................................... 56

Figura 36 - Foto e desenho perfil da vasilha. (Desenho: Altaires Pereira, 2017). ................... 56

Figura 37 -A -- Foto e desenho elaborado com decalque e escaneado (Desenho: Pedro

Pacheco, 2017). .................................................................................................................... 57

Figura 38 e 39 – Foto e desenho da Imagem do fragmento de lábio modelado, face externa e

da decoração na face interna (da esquerda para direita). (Desenho: Altaires Pereira e Gegliane

Silva, 2017).......................................................................................................................... 58

Figura 40 - Foto e desenho do fragmento cerâmico com lábio modelado. (Desenho: Altaires

Pereira, 2017)....................................................................................................................... 58

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Figura 41 - Foto e desenho do fragmento com lábio decorado. (Desenho: Altaires Pereira,

2017). .................................................................................................................................. 59

Figura 42 – Foto e desenho do fragmento zoomorfo. (Desenho: Altaires Pereira, 2017). ...... 60

Figura 43 e 44 – Fragmento com pintura vermelha e branca e incisões (0-10 cm da N500

E501) e com pintura vermelha e branca (30-40 cm da N500 E500) ...................................... 61

Figura 45 - Fragmentos com pinturas e incisões do nível 90-100 cm da unidade N500 E500.61

Figura 46 - Fragmentos de parede de assador que contém marcas de folhas. ......................... 63

Figura 47 - Fragmentos com possíveis incisões. ................................................................... 63

Figura 48 - Fragmento de borda contendo tratamento digitado. ............................................ 63

Figura 49 - Fragmento de parede com incisões, classificada como composta. ....................... 64

Figura 50 - Fragmento classificado com motivo triângulo reverso. ....................................... 64

Figura 51 - Fragmentos cerâmicos com motivos losangos. ................................................... 65

Figura 52 - Vasilha não remontada, com incisão formando losango e um aplique. ................ 65

Figura 53 - Fragmento de parede contendo incisões que formam motivo zigue-zague,

possivelmente representa espinha de peixe. .......................................................................... 66

Figura 54 - Fragmento de parede contendo incisões e presença de motivo em voluta. ........... 66

Figura 55 - Fragmento de borda com tratamento inciso. ....................................................... 67

Figura 56- Fragmento de borda face externa e face interna (da direita par esquerda) contendo

aplique no lábio incisões na face interna do aplique.............................................................. 67

Figura 57 - Fragmento de borda com inciso e aplique. .......................................................... 68

Figura 58 - Fragmento contendo incisões, aplique com esferas aplicadas.............................. 68

Figura 59 - Zoomorfo contendo incisão e esferas aplicadas. ................................................. 69

Figuras 60 e 61 - Aplique do nível 70-80 cm da unidade N501 E499, ambas as faces. .......... 69

Figura 62 e Figura 63 - Aplique zoomorfo, ambas as faces. .................................................. 70

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Materiais arqueológicos escavados na unidade N1001 E1000. ............................ 29

Gráfico 2 - Frequência de fragmentos cerâmicos por nível de escavação nas unidades do

montículo 2. Fonte: Zuse et al, 2017. .................................................................................... 35

Gráfico 3 - Fragmentos cerâmicos triados. ........................................................................... 47

Gráfico 4 - Pasta da cerâmica decorada. ............................................................................... 48

Gráfico 5 - Classificação do tipo de fragmento cerâmico. ..................................................... 49

Gráfico 6 - Análise do acabamento de superfície. ................................................................. 50

Gráfico 7 - Tratamento plástico identificado nos fragmentos. ............................................... 50

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Gráfico 8 - Variação dos motivos nas cerâmicas................................................................... 51

Gráfico 9 - Localização do tratamento plástico. .................................................................... 51

Gráfico 10 - Variação da cor do núcleo. ............................................................................... 52

Gráfico 11 - Frequência cerâmica do Montículo II. .............................................................. 60

Gráfico 12 - Localização dos tratamentos. ............................................................................ 62

Gráfico 13 - Variação do tratamento plástico. ....................................................................... 62

Gráfico 14 - Motivos observados nos fragmentos. ................................................................ 64

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................ 15

Capítulo 1. A cerâmica Barrancoide (Borda Incisa ou Inciso Modelada) na Amazônia e no rio

Madeira ............................................................................................................................... 17

1.1. A cerâmica Barrancoide na Amazônia ....................................................................... 17

1.2. A cerâmica Barrancoide no rio Madeira ..................................................................... 20

1.3. O sítio arqueológico Santa Paula ................................................................................ 25

Capítulo 2. Pressupostos teóricos e metodológicos na análise da iconografia cerâmica ......... 36

2.1 Estudos da arte indígena e da iconografia .............................................................. 36

2.2 Material e métodos de análise iconográfica em cerâmicas ...................................... 40

Capítulo 3. Resultados da análise ......................................................................................... 47

3.1. Triagem e análise das cerâmicas Barrancoide no Montículo 1: Unidade N1001 E1000

......................................................................................................................................... 47

3.1.1 Análises das decorações plásticas da cerâmica da Unidade N1001 E1000 ............. 53

3.2. Triagem e análise das cerâmicas Barrancoide no montículo 2: unidades N500 E500,

N501 E500 e N501 E499 .................................................................................................. 60

3.3. Considerações sobre a análise da iconografia nos tratamentos plásticos da cerâmica

Barrancoide no sítio Santa Paula....................................................................................... 70

Conclusão ............................................................................................................................ 73

Referências bibliográficas .................................................................................................... 74

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Introdução

Este trabalho aborda a análise das técnicas, motivos e expressões decorativas dos

tratamentos plásticos da cerâmica associada a tradição Barrancoide no sítio Santa Paula,

situado na margem esquerda do rio Madeira, junto a cachoeira do Teotônio, em Porto

velho/RO. A amostra analisada é proveniente de duas escavações realizadas pelos docentes

e discentes do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia no sítio

Santa Paula, entre os anos de 2014 e 2016, em duas áreas caracterizadas como montículo 1

e montículo 2.

A pesquisa teve início no ano de 2016, no âmbito do Programa Institucional de

Bolsas e Trabalho voluntário de Iniciação Cientifica (PIBIC/UNIR). A cerâmica da

tradição tecnológica Barrancoide no rio Madeira foi identificada e caracterizada nas

pesquisas anteriores, porém pouca atenção havia sido dada aos motivos dos tratamentos

plásticos incisos, incisos e ponteados, roletados, modelados e aplicados, característicos

destas cerâmicas no Santa Paula e em outros sítios da região. Além disso, os poucos

estudos sobre iconografia das cerâmicas arqueológicas na Amazônia voltaram-se para

vasilhas de outras tradições tecnológicas.

O estudo apresentado, foca na análise formal dos tratamentos plásticos das

cerâmicas Barrancoide no sítio Santa Paula, busca contribuir e dialogar com os estudos

sobre a iconografia e os grafismos indígenas. A comparação com as cerâmicas de outros

sítios arqueológicos do rio Madeira e da Amazônia, e o diálogo com os estudos

etnográficos e etnoarqueológicos, tem grande potencial para avançar no estudo desta

temática.

No capítulo 1 são apresentadas as definições da cerâmica Barrancoide na Amazônia

e no rio Madeira, onde ocorrem variações (fases), como são os sítios e quais são as

datações. Trataremos ainda das pesquisas e dos dados obtidos sobre esta tecnologia

cerâmica no sítio Santa Paula.

No capítulo 2 são abordados estudos etnográficos e arqueológicos sobre iconografia

e expressões gráficas indígenas, buscando delimitar os aportes teóricos da pesquisa.

Também apresentamos a metodologia de análise, os atributos e as técnicas utilizadas.

No capítulo 3 apresentamos os resultados das análises das cerâmicas Barrancoide

com tratamentos plásticos no sítio Santa Paula. Foram analisados fragmentos cerâmicos de

dois montículos, denominados Montículo 1 e Montículo 2.

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Nas considerações finais realizamos uma discussão sobre os resultados e

recorrências nas técnicas plásticas e motivos identificados nas cerâmicas.

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Capítulo 1. A cerâmica Barrancoide (Borda Incisa ou Inciso Modelada) na Amazônia

e no rio Madeira

Nesse capítulo situamos a pesquisa em relação aos estudos sobre as cerâmicas

Barrancoide na Amazônia, também chamadas Inciso Modeladas ou tradição Borda incisa,

e no contexto do alto rio Madeira.

1.1. A cerâmica Barrancoide na Amazônia

A região amazônica abriga uma grande variabilidade de vestígios arqueológicos e

uma grande diversidade cultural, como apontam os estudos etnográficos e históricos sobre

os povos que aqui habitaram ou habitam, quando não foram extintos ou quase extintos no

processo de colonização europeia. Muitos povos se expandiram pelas rotas apresentadas

nos modelos de Lathrap (1970), Brochado (1984) e Noelli (1996), e discutidas pelos

linguistas como Urban (1992) e Aryon Rodrigues (1964), entre outros.

Um dos modelos utilizados na arqueologia amazônica foi o conceito da cultura de

floresta tropical, através do trabalho de Julian Steward no “Handbook of South American

Indians” (STEWARD, 1948), que descreve os padrões das populações indígenas da

Amazônia e do leste da América do Sul. Segundo Neves (1999-2000), o desenvolvimento

das culturas de floresta tropical foi explicado como uma combinação de processos

adaptativos locais com influências externas da área do Circum-Caribe. Esses modelos

elevaram a Amazônia a um contexto periférico no período pré-colonial da América do Sul.

Perspectiva esta que definiu o conceito mais pela ausência do que pela presença de

marcadores culturais. As características definidoras desse conceito estão relacionadas com

cultivos de tubérculos (principalmente mandioca), tecnologia de navegação ribeirinha,

redes para dormir, descentralização política e ausência de cultos em templos (LOWIE,

1948 apud NEVES, 1999-2000).

Segundo Fausto (2005), Donald Lathrap explicava a distribuição dos grandes

grupos linguísticos e estilos cerâmicos na Amazônia através de seu modelo cardíaco, no

qual acreditava que a Amazônia central mantinha uma combinação de ambiente rico e

restrito, funcionando como um coração, bombeando as populações e as culturas para outras

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áreas do continente. O crescimento demográfico possibilitado pela abundância de recursos

provocaria competição e guerra, ocasionando a migração de uma parte da população.

Na medida em que as pesquisas avançaram na bacia amazônica, sobre o centro de

origem e rotas de expansão, mostraram que não há evidências de um centro de origem fora

da América do Sul, como haviam sugerido Meggers e Evans (1961). Estes autores

definiram quatro horizontes cerâmicos de forma hipotética, tendo como base a presença ou

ausência de um determinado número de traços, sendo que a descrição em cada horizonte

estaria nas técnicas decorativas (Figura 1).

Figura 1 - Quadro dos horizontes definidos por Meggers e Evans, 1961 (In: Lima, 2008, pg. 29).

Para Meggers e Evans (1961) o horizonte Borda Incisa seria formado pelas fases

Manacapuru, Boim, Mangueiras, Cotua, Nericagua e Los Caros (Figura 2). Os autores

descrevem as principais características desta cerâmica: bordas largas e expandidas,

superfícies decoradas com incisões e às vezes com pintura e engobo (ZUSE, 2014).

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Figura 2 - Hipotética leva de dispersão do horizonte estilístico borda incisa, proposto por Meggers e Evans

(In: Lima, 2008, pg. 30).

Antes disso, em 1941, Osgood e Howard identificaram materiais com estas

características na escavação do sítio Los Barrancos, localizado no baixo rio Orinoco,

Venezuela. Cruxent e Rouse (1961 apud BARRETO, LIMA E BETANCOURT, 2016)

definiram as séries Barrancoide e Saladoide no rio Orinoco. Lathrap (1970) e

Heckenberger (2002 apud BARRETO, LIMA E BETANCOURT, 2016) entendem que a

tradição Borda Incisa seria a manifestação local da série Barrancoide, entendendo como

uma dispersão de populações agricultoras falantes de línguas Arawak. Alguns autores

brasileiros chamam de Borda Incisa/Barrancoide devido a esta ambiguidade (BARRETO,

LIMA E BETANCOURT, 2016) (Figura 3).

Barreto, Lima e Betancourt (2016), no glossário do livro “Cerâmicas

arqueológicas na Amazônia: rumo a uma nova síntese” conceituam a tradição Borda

Incisa como contendo cerâmicas caracterizadas por decorações modeladas, associadas com

incisões e engobo vermelho, que datam dos primeiros séculos d.C. Estão distribuídas na

calha dos rios Amazonas e Orinoco. Engloba as fases Manacapuru e Paredão na Amazônia

Central, Mangueiras na Ilha de Marajó, Boím no Médio Amazonas, Japurá no rio

Japurá/Caquetá e Axinim no Baixo Madeira.(Figura 4).

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Figura 3 – As duas primeiras imagens são as cerâmicas do rio Orinoco, a última imagem proveniente da

Vezuela, Guiana e bacia do Amazonas. (da esquerda para a direita; Fonte Osgood e Howard, 1943; Lathrap, 1970).

Figura 4 - Dispersão aproximada dos principais complexos cerâmicos. Em laranja a Tradição Borda

Incisa/Barrancoide (cerca de 200 a 900 AD). Fonte: BARRETO, LIMA E BETANCOURT, 2016, P. 51.

1.2. A cerâmica Barrancoide no rio Madeira

O Sudoeste amazônico é formado pela bacia do rio Madeira, que inclui seus

formadores, os rios Guaporé, Mamoré e Beni, sendo o maior afluente da bacia do

Amazonas em descarga líquida e sólida. Seu curso abrange os estados de Rondônia e do

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Amazonas, sendo o trecho entre Abunã e Porto Velho chamado Alto rio Madeira (ZUSE,

2014).

Boa parte das pesquisas arqueológicas localizadas na região amazônica foi feita no

âmbito do PRONAPABA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia

Amazônica). No Estado de Rondônia foram realizadas pelo arqueólogo Eurico Theófilo

Miller, nas décadas de 1970 e 1980, com mais de vinte anos de pesquisa, precursor em

estabelecer e organizar estas primeiras fontes arqueológicas que estão localizadas na bacia

do rio Madeira, no Rio Guaporé, na bacia do rio Jamari e Ji-Paraná (ZIMPEL, 2009).

Posteriormente à pesquisa de Eurico Miller, ainda houve pesquisas em projetos de

Arqueologia Preventiva, nas áreas de interferência das usinas de Santo Antônio e Jirau

(SCIENTIA, 2008, 2011; MOUTINHO E ROBHRAN-GONZALEZ, 2010, p. 58-59; 67;

DOCUMENTO, 2012). Além disso, desde 2008 é desenvolvido o Projeto Alto Madeira

(PALMA), com a coordenação do Prof. E Dr. Eduardo Góes Neves, docente do Museu de

Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) (NEVES, 2012;

ALMEIDA, 2013; MONGELÓ, 2015). A criação do curso de Arqueologia na

Universidade Federal de Rondônia, em 2008, aumentou o número de pesquisas no âmbito

de projetos de iniciação científica, monografias1 e projetos de pesquisa dos docentes, que

resultaram na escavação de dois sítios da região, Santa Paula e Donza.

Segundo Moraes (2013), na região do baixo rio Madeira há datações de sítios pré-

cerâmicos de 7.000 AP, identificados por Miller nas pesquisas do PRONAPABA. O autor

acessou aos trabalhos cedidos por Miller e verificou que além do pré-cerâmico, o

PRONAPABA identificou ocupações ceramistas que recuam há 5.200 anos. Nessa região o

autor estudou as fases Paredão e Axinim, que no ano mil da era cristã têm grande

dispersão. As ocupações da Tradição Polícroma da Amazônia (TPA) iniciam no final do

primeiro milênio d. C.

No Alto Madeira, Miller (1992) identificou cerâmicas que definiu como

Subtradição Jatuarana e associou à Tradição Polícroma da Amazônia, em trinta e dois

sítios habitações, vários sítios oficina-lítica e um sítio cemitério. Obteve datações de

2.730±75 AP para o sítio RO-JP-01 Teotônio, e 2.340±90 AP no sítio RO-PV-19. Porém,

1 As monografias dos estudantes estão disponíveis no site www.arqueologia.unir.br, na aba

TCC.

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os estudos recentes demonstram que tem uma diversidade maior de tecnologias nessa

região (ALMEIDA, 2013; ZUSE, 2014; PESSOA, 2015; COSTA, 2016, entre outros).

Almeida (2013) identificou uma datação antiga para a Subtradição Jatuarana no

sítio Teotônio, de 1.250 ± 30 AP para o início da ocupação. O autor acredita que as datas

mais antigas de 1.550 ± 30 AP e 2.730±75 AP, obtidas no mesmo sítio, possivelmente

estariam relacionadas às ocupações mais antigas, ceramista pré-Jatuarana e pré-ceramista

com terra preta, respectivamente. As cerâmicas contidas nos níveis mais profundos das

camadas cerâmicas estariam associadas a Saladoide do baixo Orinoco e Pocó do rio

Trombetas.

No alto rio Madeira foram identificados cinco conjuntos tecnológicos, alguns

associados a tradições com grande dispersão na Amazônia (Figura 6). Entre elas, as

cerâmicas mais antigas no alto rio Madeira são caracterizadas por diversidades dos

tratamentos plásticos e morfologia das vasilhas. Foram encontradas nos sítios Ilha de Santo

Antônio, Santa Paula, Vista Alegre, Foz do Jatuarana, Veneza e Boa Vista, entre as

cachoeiras de Santo Antônio Teotônio, e apresentam datações de 2.080 ± 30 AP e 2010 ±

30 AP. Estas seriam semelhantes a cerâmica Saladoide (rio Orinoco), Pocó (rio Trombetas)

e Açutuba (Amazônia Central) (ZUSE, 2016).

Outras ocupações ceramistas ocorrem no alto rio Madeira em torno de 1800 AP,

nos sítios morro dos macacos I, Vista Alegre e Foz do Jatuarana, localizados entre as

cachoeiras Santo Antônio e Teotônio, com particularidades na escolha da pasta e menor

variação no tratamento plástico. Aparece com baixa frequência, e a tecnologia da mesma

permitiu distingui-la da mais antiga, mas não foi possível associá-la a outros conjuntos

cerâmicos da Amazônia (ZUSE, 2016).

O terceiro conjunto é o das cerâmicas Barrancoide no rio Madeira, presente em

espessas camadas de terra preta, associadas a líticos polidos (lâminas e adornos) e

lascados, restos faunísticos, carvões, sementes e bolotas de argila. As vasilhas apresentam

pasta com poucos elementos minerais e adição de caraipé, com coloração

predominantemente escura (queima reduzida). Em seu tratamento de superfície apresenta

alisamento, polimento, brunidura, aplicação de barbotina (diversas cores), engobo e

tratamentos plásticos como incisos, incisos e ponteados, modelados, roletado e apliques.

As paredes são finas de 6 e 10mm, e as formas são predominantemente simples e

infletidas. Os lábios são irregulares, com partes planas e arredondadas, e as bases são

convexas, côncavas e anelares. Apresentam marcas de uso como fuligem, depósito de

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carbono e marcas de fermentação. Há presença de raras asas e alças, e ocorrem fusos e

adornos feitos a partir da reciclagem de fragmentos cerâmicos. Estão presentes nos sítios

Ilha de Santo Antônio, Santa Paula, Brejo, Ilha São Francisco, Ilha das Cobras e Ilha do

Japó, entre a cachoeira de Santo Antônio e Morrinhos, com datas entre 1.390 ± 40 AP e

760 ± 40 AP (ZUSE, 2014; 2016).

Seguindo a perspectiva de Lathrap (1970) e Heckenberger (2002, 2005), Zuse

(2014, 2016) denominou as cerâmicas com estas características, encontradas no curso do

alto rio Madeira, de “cerâmica Barrancoide no rio Madeira”, associando à presença dos

povos de matriz cultural Arawak na região (Figura 5).

Figura 5 - Cerâmicas Barrancoide dos sítios Ilha de Santo Antônio, Santa Paula, Teotônio, Ilha São

Francisco, Ilha das Cobras e Ilha do Japó. Fonte: Zuse, 2016, p. 396.

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O quarto conjunto seria relacionado às ocupações indígenas mais recentes

encontradas nos sítios Ilha de São Francisco, Ilha das Cobras, Ilha do Japó e Ilha Dionísio,

localizados à montante da cachoeira do Teotônio. Suas características estão na grande

variação das escolhas de pasta, coloração laranja nos núcleo e alta variação nos

acabamentos de superfície, entre outras. Mesmo evidenciando semelhanças com as fases

Paredão, da Amazônia Central, Axinim do Baixo Madeira, e tradição Descalvados, no

Pantanal de Cáceres, Zuse (2016) não associou a nenhuma destas.

Por fim o quinto conjunto tecnológico é o da Tradição Policroma da Amazônia,

conhecido regionalmente por Subtradição Jatuarana. Estas cerâmicas apresentam-se na

maioria dos sítios pesquisados: Novo Engenho Velho, São Domingos, Campelo, Ilha de

Santo Antônio, Santa Paula, Morro dos macacos I, Coração, Boa Vista, Vista Alegre.

Datações entre 500 ± 30 e 360 ± 30 AP foram obtidas nos primeiros três sítios. A cerâmica

é caracterizada por obter pintura vermelha e branca ou preta e branca na face externa, às

vezes associada com incisões finas. Ocorre uma grande variabilidade nas morfologias. São

encontradas nos primeiros níveis de escavação e muitas vezes, misturados com cerâmicas

da tradição Barrancoide (ZUSE 2016). No alto rio Madeira Almeida (2013) identificou

datações entre 1.250 ± 30AP e 540 ± 40AP para estas ocupações.

Figura 6 - Mapa com a localização e distribuição dos conjuntos tecnológicos identificados por Zuse (2016, p.

400).

Recentemente, Almeida e Kater (2017) identificaram também a cerâmica

Barrancoide e a cerâmica da Tradição Jamari no sítio Teotônio. A cerâmica com data

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recuada de 3 mil anos AP surge no registro arqueológico de forma abrupta e recorrente em

pontos da Amazônia, reforçando a impressão do uso de ritual dessa cerâmica. As

cerâmicas Barrancoide foram identificadas misturadas nos materiais Pocó e Jamari,

caracterizando um possível contato intenso. Esse contato estaria ligado a trocas e relações

de moradores da cachoeira e visitantes devido às festividades. A cerâmica Jamari é datada

em 1500 AP no Teotônio, porém na calha do Madeira essa cerâmica possui datas em torno

de 2500 AP. Os autores acreditam que a predominância Arawak foi posta em jogo devido

às incursões de povos de língua Tupi, onde esse grupo Tupi estaria ocupando a bacia do

Jamari e produzindo a cerâmica Jamari e um determinado episódio da história resolveu-se

ocupar o Alto Madeira.

1.3. O sítio arqueológico Santa Paula

O sítio Santa Paula (E382736 N9021440) foi encontrado por Eurico Miller na

década de 1970, quando foi registrado como sítio RO-JP-03 Porto Seguro (Miller, 1978), e

posteriormente delimitado e escavado no Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de

interferência da UHE Santo Antônio/RO (SCIENTIA, 2008, 2011). Entre 2014 e 2016 o

Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia realizou escavações

neste sítio. Está localizada 20 km, por via fluvial, à montante de Porto velho, na margem

esquerda do rio Madeira, em frente à antiga cachoeira do Teotônio. Está situado em terraço

fluvial com terreno plano e com declividades nas direções leste e sul, nas cotas entre 95 e

100 m (ZUSE, 2014; ZUSE et al, 2017) (Figura 7).

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26

Figura 7 - Localização do sítio Santa Paula e sítios próximos (Fonte: Google Earth, 2010).

No âmbito das pesquisas realizadas pela SCIENTIA (2008, 2011), o sítio foi

delimitado com sondagens a partir de furo-teste (pontos vermelhos na figura 8), e foram

escavadas duas unidades, cada uma de 1m². A unidade E382631 N9021469 apresentou

uma sequência de três datações C14 na camada arqueológica: 1.550±30AP a 103 cm de

profundidade; 1.530±30AP a 181 cm; e 1.520±40AP em 203 cm (ZUSE, 2014).

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Figura 8 - Croqui com a localização dos sítios Teotônio e Santa Paula. Os pontos vermelhos são as

sondagens com materiais arqueológicos (positivas) e as pretas com ausência de materiais arqueológicos

(negativas). Os triângulos pretos são as duas unidades de escavação (SCIENTIA, 2012, in: ZUSE, 2014, p.

139).

As cerâmicas da escavação E382631 N9021469 e de algumas sondagens da

delimitação do sítio Santa Paula foram abordadas na pesquisa PIBIC/UNIR de Duran Silva

(2013) e na tese de Zuse (2014). Esta autora identificou três tecnologias cerâmicas

diferentes, sendo a mais antiga semelhante aos contextos Pocó/Açutuba/Saladoide,

encontrados em diversas regiões da Amazônia, seguida pela cerâmica Barrancoide no rio

Madeira, também conhecida como Borda Incisa ou Inciso Modelada e posteriormente pela

cerâmica da Subtradição Jatuarana (Tradição Polícroma da Amazônia) (ZUSE, 2014,

2016). Atualmente duas pesquisas em andamento estão abordando a tecnologia cerâmica

do sítio Santa Paula. Venere (2017) está estudando o montículo I, e COSTA (2017) a

unidade de escavação E382670 N9021310, mais ao sul do sítio Santa Paula.

Entre 2014 e 2016 o DARQ/UNIR desenvolveu pesquisas no sítio Santa Paula, no

âmbito de disciplinas de práticas de campo em Arqueologia. Foram feitas coletas de

superfície em algumas áreas do sítio e escavações em duas áreas, no montículo 1 e no

montículo 2. Além disso, foi realizada a topografia do sítio, sendo observadas quatro

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estruturas monticulares formando uma espécie de semicírculo aberto para a porção

sudoeste, em torno de uma área mais plana e baixa, uma possível praça (ZUSE et al, 2017).

No montículo 1 foram escavadas quatro unidades de 1m² cada uma, denominadas

N1000 E1000, N1001 E1001, N1001 E1000 e N1000 E1001, com 27 níveis artificiais de

10 cm em cada uma. No montículo 2 foram escavadas três unidades de 1 m² cada uma,

porém até o momento a escavação atingiu apenas 10 níveis artificiais, devido ao impacto

sofrido pela mineração de terra preta. O DARQ/UNIR está avaliando a viabilidade da

continuidade destas escavações (ZUSE et al, 2017).

Entre as unidades escavadas no montículo 1, o canto sudoeste (N1000 E1000), foi

utilizado para ponto referencial das outras unidades a partir da localização do grid. O

datum foi posicionado na parte mais alta da área da escavação, podendo assim medir a

profundidade das escavações. (Figura 9). Foram registradas a cada nível os perfis das

unidades, observando as camadas, essas denominadas por números romanos (I, II, III, etc.)

da base da escavação até a superfície. Essas camadas foram registradas de acordo com o

protocolo de Kipnis (2003), identificando cor, textura e compactação do sedimento (ZUSE

et al, 2017).

Figura 9 - Unidades de escavação delimitadas no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR 2014).

No montículo 1 foram escavados 27 níveis, com material arqueológico nos

primeiros 25 níveis. Na unidade N1001 E1000, analisada neste trabalho, foram coletadas

5.155 cerâmicas, 587 líticos, 4.782 carvões, 240 sementes e 211 fragmentos de ossos

(Gráfico 1).

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Gráfico 1 - Materiais arqueológicos escavados na unidade N1001 E1000.

As sete camadas identificadas no perfil Sul das escavações realizadas do topo do

montículo 1 foram descritas da base para o topo, conforme pode ser visto nas figuras 10 e

11.

Figura 10 - Foto do perfil sul da escavação no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR, 2016)

10

316 317

889

346

638

500 485

355 296

138 82 60 76 92 73

31 34 56 78 97 88 17

53 27 1 0 0 0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Sup

0-10

10-2

0

20-3

0

30-4

0

40-5

0

50-6

0

60-7

0

70-8

0

80-9

0

90-

100

100-

110

110

-120

120

-130

130-

140

140-

150

150

-160

160-

170

170-

180

180-

190

190-

200

200-

210

210-

220

220-

230

230-

240

240-

250

250-

260

260-

270

Frequência de materiais arqueológicos nos níveis escavados - N1001 E1000

Lítico Cerâmica Carvão Semente Osso

I

II

III

IV

VI

V

VII

F

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Figura 11 - Foto do perfil Norte da escavação no montículo 1 (Foto: DARQ/UNIR, 2016).

A camada I, mais profunda, apresenta sedimento strong brown (7.5YR4/6),

argiloso, seco e muito duro, com ausência de materiais arqueológicos. A camada II,

localizada nos níveis 18 a 24 nos perfis Sul e Norte, possui sedimento dark grayish brown

(10YR3/3), de textura siltosa, consistência seca e ligeiramente dura, com baixa densidade

de materiais arqueológicos, entre eles fragmentos cerâmicos, líticos, carvões e faunísticos.

Na camada III, entre os níveis 15 e 18 do perfil Sul e 16 a 18 no perfil Norte, possui

sedimento very dark brown (10YR2/2), siltoso, seco e pouco duro, com materiais líticos,

carvões, fauna e cerâmicas diagnósticas das tradições Barrancoide e Saladoide. Na unidade

N1000 E1000 foi escavada uma feição/estrutura do tipo bolsão (F, no perfil sul, figura 9),

que atravessa as camadas II e III, com sedimento silte black (10YR2/1), seco e macio, com

grande quantidade de materiais arqueológicos, formado pelos portadores da tradição

Barrancoide (ZUSE et al, 2017) (Figura 14).

A Camada IV, presente entre os níveis 14 e 16 no perfil sul, e 14 a 17 no perfil

Norte, possui sedimento very dark brown (10YR2/2), siltoso, seco e pouco duro, com

presença de torrões do latossolo da camada I, pode ter se formado pelo sedimento das

camadas I, II e III, retirado quando o bolsão foi escavado, portanto seria uma camada

construtiva que visava selar o bolsão e servir de base para a construção do montículo. A

I

I

I

III

IV

V

VI

VII

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camada V, entre os níveis 9 e 14 do perfil Sul, e 7 a 14 no perfil Norte, possui sedimento

very dark brown (10YR2/2), silte, seco e macio, e materiais arqueológicos em maior

densidade, associados majoritariamente à diagnósticos Barrancoide. Nessa camada foram

evidenciadas algumas feições caracterizadas por manchas escuras, possíveis buracos de

esteios ou de girais. Na escavação N1001 E1000 foi escavada a feição F2, que apareceu na

base do nível 80-90 cm, de sedimento solto e escuro (10YR2/1), possui 17,5 cm de

diâmetro e 6,5 cm de profundidade a qual apresenta fundo irregular (Figura 15 e 16).

Dentro desta consiste um fragmento de carena com entalhes junto a este, ao lado, obteve

fragmentos cerâmicos queimados e carvões coletados individualmente. Por ser identificada

muito rasa foi concluído que este não se trata de buraco de estaca (ZUSE et al, 2017).

As camadas VI e VII, observadas a superfície e o nível 11 no perfil Sul, e entre a

superfície e o nível 9 no perfil Norte, apresentam sedimento black (10YR2/1), siltoso e

seco, macio na camada VI e solto na camada VII, e possuem grande densidade de materiais

arqueológicos. As cerâmicas diagnósticas da tradição Barrancoide estão em todos os níveis

artificiais das camadas VI e VII, e as da tradição Polícroma da Amazônia estão entre a

superfície e o nível 4. Na camada VI foram escavadas quatro estruturas de fragmentos

cerâmicos, predominantemente na horizontal, e que por vezes remontam parcialmente

vasilhas, associados a líticos, blocos de granito e laterita, sementes, carvões, fragmentos

ósseos e bolotas de argila queimada. Na unidade N1001 E1000 foram escavadas duas

destas estruturas, uma no nível 50-60 cm, mais especificamente entre 50 e 55 cm,

denominada como estrutura E2 (2107.1) (Figura 12), e a outra no nível 60-70 cm,

denominada estrutura E4 (PN 2108.1) (Figura 13) (ZUSE et al, 2017).

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Figura 12 - Nível 50-60 cm: escavação das quatro unidades, com indicação das estruturas evidenciadas. E3

(N1000 E1000), possível continuidade desta ao norte, na unidade N1001 E1000, e estrutura E1 no perfil leste

da unidade N1001 E1001. (Figura: DARQ/UNIR, 2014).

Figura 13 - Fotos da estrutura E4 (Fotos: DARQ/UNIR 2014).

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Figura 14 - Fragmento com aplique no lábio (a esquerda) e borda modelada com incisões na face interna (a direita) - 100-110 cm N1001 E1000. Fotos: DARQ/UNIR, 2014,

Figuras 15 e 16 - Croqui das feições identificadas no nível 80-90 cm e foto da feição F2 (80-90 cm da

unidade N1001 E1000). Desenho e fotos: DARQ/UNIR, 2014.

De acordo com as hipóteses formuladas em campo, as camadas II e III teriam sido

formadas pela ocupação dos portadores da cerâmica semelhante a

Saladoide/Pocó/Açutuba. As demais camadas, incluindo o bolsão, teriam se formado pela

ocupação Barrancoide no local, com a construção e ocupação do montículo e a formação

de uma espessa camada de terra preta. Posteriormente o local teria sido reocupado pelos

portadores da tradição Polícroma da Amazônia (ZUSE et al, 2017). Esta pesquisa de

monografia, que aborda a iconografia das cerâmicas com decorações plásticas diagnósticas

da tradição Barrancoide, assim como a pesquisa de iniciação científica de Venere (2017),

que aborda a variabilidade cerâmica nesta área do montículo 1, busca dialogar e testar as

hipóteses sobre a construção e ocupação do montículo 1.

No montículo 2 as escavações atingiram 100 cm de profundidade após duas etapas

de campo, quando foram afetadas pela extração ilegal de terra preta. Neste montículo as

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três unidades de escavação (N500 E500, N501 E500 e N501 E499) foram feitas ao longo

do perfil do montículo seccionado pela estrada de acesso, na porção noroeste (Figuras 17 e

18).

Figura 17 e 18 - Escavação das unidades N500 E500, N501 E500 e N501 E499 no nível 50-60 cm e 90-100

cm, respectivamente. Fotos: DARQ/UNIR, 2014/2015.

A leitura e descrição das camadas estratigráficas ainda não haviam sido realizadas

até o momento da destruição do perfil, porém, de acordo com as fichas de campo a

coloração se manteve a mesma entre a superfície e o nível 80-90 cm, 10 YR2/1 (Black),

com variação na textura, que da superfície até o nível 60-70 cm é silto arenosa, e nos níveis

70-80 cm e 80-90 cm é silto argilosa. No nível 90-100 cm a cor muda para 10 YR3/1 e a

textura muda para argilo arenosa. Nesta escavação, assim como no montículo 2, também

ocorreram materiais líticos lascados e polidos, sementes, carvões, fragmentos ósseos,

bolotas de argila queimada e cerâmicas em grande quantidade (Gráfico 2). A superfície da

unidade N501 E499 estava no nível 20-30 cm do datum, em função da declividade no

perfil da estrada.

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Gráfico 2 - Frequência de fragmentos cerâmicos por nível de escavação nas unidades do montículo 2. Fonte:

Zuse et al, 2017.

Como nessa área do sítio também ocorreram muitos fragmentos diagnósticos da

tradição Barrancoide, optamos por realizar a triagem e a análise da icnografia destes

materiais das três unidades de escavação (Figuras 19 e 20).

Figuras 19 e 20 - Fotos de cerâmicas diagnósticas Barrancoide feitas em campo.

0 200 400 600 800

90-100

70-80

50-60

30-40

10-20

sup

Montículo 2- cerâmica por nível

501N 500E

501N 499E

500N 500E

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Capítulo 2. Pressupostos teóricos e metodológicos na análise da iconografia cerâmica

A estética do artista é a estética do grupo. Os padrões estéticos do

grupo, que se perpetuam pelas tradições, devem ser preservados e

difundidos, uma vez que comunicam sobre a cosmologia e

mitologia do grupo, sobre sua organização social e sobre seu

status de grupo social diferenciado em relação ao universo das

outras comunidades e seres da natureza (SCHAAN, 1997; p. 17).

Este trabalho volta-se para a análise formal dos acabamentos plásticos da

cerâmica Barrancoide no sítio Santa Paula. Os acabamentos ou tratamentos são aqueles

que modificam tridimensionalmente as superfícies das vasilhas e de outros artefatos, seja

na forma de incisões, ponteados, escovados, apliques e modelados, entre outros. Nesse

capítulo fazemos uma revisão dos estudos sobre os desenhos ou grafismos nas sociedades

indígenas, voltando-se especialmente para os estudos arqueológicos. Em seguida

apresentamos as fichas utilizadas na análise e a descrição dos atributos.

2.1 Estudos da arte indígena e da iconografia

A Arqueologia ainda dedica-se pouco ao estudo da iconografia nas pinturas e

acabamentos plásticos de artefatos cerâmicos. Dedicada no estudo das cadeias operatórias

de produção dos artefatos, deixa em segundo plano o estudo dos motivos, padrões e temas.

Na antropologia estes estudos são mais frequentes, principalmente a partir da década de

1990, envolvida não somente na análise formal, mas também preocupada em entender os

significados cognitivos, estéticos, cosmológicos e simbólicos dos desenhos nas pinturas

corporais, na cestaria, vestuário e outros objetos.

Um dos marcos no estudo da arte indígena é o livro “Grafismos Indígenas”,

organizado por Lux Vidal (1992), que reúne trabalhos de antropólogos que se dedicam ao

tema, baseados na concepção de iconografia como veículo de comunicação visual estética,

em geral inspirados no estudo pioneiro de Nancy Munn (1973), sobre a iconografia

Walbiri, na Austrália.

Vidal e Silva (1992) problematizam o uso do termo “arte” indígena para definir os

desenhos elaborados por estas populações, tendo em vista que é atrelado aos conceitos de

arte e de beleza do nosso universo. Além disso, de acordo com as autoras, para

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entendermos o simbolismo da arte precisamos entender a sociedade, pois os significados

culturais variam nos diferentes contextos. Na maioria das sociedades os motivos

desenhados têm origem mítica e estão ligados as cosmologias indígenas.

Passados mais de vinte anos, outro marco é o livro “Quimeras em diálogo:

grafismo e figuração nas artes indígenas”, organizado por Carlo Severi e Els Lagrou

(2013). De acordo com os editores, os trabalhos apresentados tiveram uma guinada teórica

em relação a abordagem do tema, não mais da arte como sistema de comunicação, que

marcou o livro Grafismos Indígenas, mas voltado para a agência das imagens, com

inspiração no trabalho de Gell (1998).

Para Severi e Lagrou (2013), a arte indígena ameríndia é caracterizada pelo

minimalismo figurativo, em que as imagens sugerem muito mais do que mostram. Uma

quimera seria uma imagem múltipla, que agrega índices visuais de seres diferentes, ou seja,

uma representação plural, elaborada a partir de alguns traços essenciais. A interpretação do

que está implícito se dá pela projeção e pela inferência visual.

Entre as pesquisas arqueológicas sobre iconografia destaca-se a de Schaan (1997)

sobre as pinturas da cerâmica Marajoara. A autora se inspirou nas pesquisas de Levi-

Strauss, Nancy Munn, Berta Ribeiro e Lucia van Velthem, e nos conceitos teóricos da

semiótica. Nesse sentido, entende a arte na cerâmica Marajoara como uma linguagem

visual iconográfica. A autora também utiliza o termo Etnoarte, que segundo ela foi

elaborado por Silver (1979) ao contextualizar a arte sócio-culturalmente.

Schaan (1996, p. 31-32) faz uma síntese dos conceitos da Semiótica (estudo do

sistema de signos), utilizados no seu trabalho. Um signo seria tudo o que tem um

significado (que comunica alguma coisa) para alguém, portanto seu significado é

compreendido de acordo com a convenção social. Os signos naturais ou “índices” seriam

aqueles em que a interpretação se dá pela inferência, não necessitando de convenções para

serem compreendidos. Os signos são ainda classificados em símbolos e ícones. Os

símbolos representam algo, ou seja, estão no lugar de alguma coisa, o seu referente, e seus

significados são culturalmente determinados. Um mesmo símbolo pode ter significados

diferentes em culturas diversas. O ícone possui uma relação de semelhança com o que

representa, e pode ser facilmente identificado. Para a autora, o conteúdo simbólico da arte

indígena está relacionada não apenas ao seu aspecto formal, mas também aos contextos de

produção e uso e à história mitológica.

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Para Schaan (1996), o estudo da arte na arqueologia possui métodos e

possibilidades diversos da antropologia, pois no contexto arqueológico os objetos não são

encontrados no contexto de produção e uso. O arqueólogo tem condições de registrar,

descrever, classificar em tipologias estilísticas, mas a compreensão dos significados é

bastante restrita, mesmo utilizando a analogia etnográfica, pois só pode ser apreendida de

forma contextual.

Schaan (1996) estudou os motivos, aparentemente geométrico-abstratos, buscando

isolar unidades mínimas de significação, bem como a estrutura desses motivos abstratos e

os padrões gráficos por eles formados. Com isso, identificou motivos icônicos, as

representações antropomórficas e zoomórficas (Figura 21).

Figura 21 - O escorpião mítico e a serpente bicéfala. Etapas do Processo de Identificação das Unidades

Mínimas Significantes. 1) O Objeto, 2) A representação natural, 3) A representação estilizada, 4) A estrutura,

5) As unidades mínimas significantes, 6) Exemplos de localização das unidades (Schaan, 1996, p. 232)

Prous (2005) aborda a pintura da cerâmica da tradição Tupiguarani, onde

identificou representações figurativas geometrizadas, entre elas rostos humanos estilizados,

aplicadas em vasilhas possivelmente ligadas às cerimônias da morte, no preparo do cauim,

do corpo dos sacrificados nas festas antropofágicas ou as que recebem o corpo dos

guerreiros mortos.

Oliveira (2008) estudou os motivos decorativos de vasilhas cerâmicas Guarani de

sítios arqueológicos de Santa Catarina. A autora decompôs os desenhos das superfícies

cerâmicas, os motivos decorativos, buscando entender os padrões decorativos. As

decorações são geométricas, abstratas ou figurativas, apresentando-se como elemento

unitário ou repetindo-se. A autora chama a atenção para a abordagem contextual das

decorações nas cerâmicas arqueológicas, e entende a arte como sistema simbólico de

representação não-verbal.

Vassoler (2014; 2016) analisou a iconografia da cerâmica da Tradição Polícroma

da Amazônia no alto rio Madeira, conhecida localmente por Subtradição Jatuarana. O autor

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embasou teoricamente o seu trabalho nos estudos de Panofsky (1986) e seu conceito de

iconografia. O autor analisou os padrões e isolou as unidades decorativas, e na

interpretação se baseou nos níveis primário/natural e secundário/convencional de Panofsky

(1986).

A iconografia estuda as descrições de imagens associadas a um tema, ou seja, uma

linguagem visual em que se verifica a utilização da imagem para representar determinado

tema. Segundo Panofsky (1986) o sufixo “grafia” vem do verbo grego graphéin–

“escrever”, o qual denota algo descritivo, sendo possível a interpretação. O sufixo “icono”

é de origem grega eykon – “imagem”.

Para Panofsky (1986), as formas puras, os motivos, imagens, estórias e alegorias,

são interpretadas como simbólicos (Ibid., 1986), em três níveis de significações: pré-

iconográfico, análise iconográfica e interpretação iconológica. Nas palavras do autor:

I. Tema primário ou natural, subdividido em fatual e expressional. É apreendido

pela identificação das formas puras, ou seja: certas configurações de linha e cor,

ou determinados pedaços de bronze ou pedra de forma peculiar, como

representativos de objetos naturais tais que seres humanos, animais, plantas,

casas, ferramentas e assim por diante; pela identificação de suas relações mútuas

como acontecimentos e pela percepção de algumas qualidades expressionais,

como o caráter pesaroso de uma pose ou gesto, ou a atmosfera caseira e pacífica

de um interior [...] II. Tema secundário ou convencional: é apreendido pela

percepção de que uma figura masculina com uma faca representa São

Bartolomeu, que uma figura feminina com um pêssego na mão é a

personificação da Veracidade, que um grupo de figuras, sentadas a uma mesa de

jantar numa certa disposição e pose, representa a Última Ceia, ou que duas

figuras combatendo entre si, numa dada posição, representam a Luta entre o

Vício e a Virtude. Assim fazendo, ligamos os motivos e as combinações de

motivos artísticos composições com assuntos e conceitos [...] III. Significado

intrínseco ou conteúdo: é apreendido pela determinação daqueles princípios

subjacentes que revelam a atitude básica de uma nação, de um período, classe

social, crença religiosa ou filosófica ‒ qualificados por uma personalidade e

condensados numa obra. Não é preciso dizer que estes princípios se manifestam,

e portanto esclarecem, quer através dos "métodos de composição", quer da

"significação iconográfica" (PANOFSKY,1982:02).

Na Amazônia, estudos dos grafismos em cerâmicas têm se tornado mais comuns

nos últimos anos. Barreto (2008; 2010; 2016), Oliveira (2016) e Gomes (2010; 2016) têm

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desenvolvido análises da iconografia nas cerâmicas Marajoara, Guarita e da cultura

Santarém, respectivamente, com abordagens mais próximas das perspectivas sobre agência

dos objetos, de Gell (1998).

Os acabamentos plásticos incisos, ponteados e modelados caracterizam a cerâmica

Barrancoide na Amazônia, sendo por isso também chamada Inciso Molelada ou da tradição

Borda Incisa. No rio Madeira este estilo, recentemente caracterizado (ZUSE, 2014),

apresenta uma série de elementos plásticos, que ainda não foram abordados em estudos

específicos. Esse trabalho, que se propõe a uma análise formal destes desenhos e figuras,

busca contribuir com a caracterização desta tradição tecnológica no rio Madeira e com o

tema da iconografia na cerâmica Barrancoide na Amazônia como um todo.

2.2 Material e métodos de análise iconográfica em cerâmicas

Nessa pesquisa analisamos os fragmentos diagnósticos da tradição Barrancoide de

duas áreas do sítio Santa Paula: montículo 1 (unidade N1001 E1000) e montículo 2

(unidades N500 E500, N501 E500 e N501 E49). Foram adotados três procedimentos de

análise, como segue:

1. Triagem das cerâmicas das unidades N1001 E1000, N500 E500, N501 E500 e N501

E499, com a separação dos fragmentos com tratamentos plásticos diagnósticos da Tradição

Barrancoide;

2. Análise tecnológica dos fragmentos selecionados na unidade N1001 E1000,

caracterizando as escolhas de pasta, acabamentos, queima e morfologia das vasilhas com

tratamentos plásticos;

3. Análise dos tratamentos plásticos dos fragmentos maiores da unidade N1001 E1000,

onde foi possível observar os motivos decorativos e/ou padrões, através de desenhos e da

descrição de cada expressão decorativa em relação a: direção, profundidade ou altura,

largura, comprimento e/ou diâmetro, forma da sessão ativa do instrumento, umidade da

pasta, direção da ação e motivos. Nas unidades N500 E500, N501 E500 e N501 E499 os

fragmentos maiores foram selecionados e desenhados, porém não foi feita a descrição

detalhada das expressões decorativas.

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Na triagem, selecionamos os fragmentos cerâmicos diagnósticos Barrancoide, com

acabamentos plásticos. Na triagem também classificamos os tipos de decorações plásticas

presentes nos fragmentos (Figura 22). Na Unidade N1001 E1000, dentre os 4.842

fragmentos cerâmicos apenas 103 apresentaram decorações plásticas características da

tradição Barrancoide, entre elas o inciso, inciso e ponteado, modelado e aplique. Das

unidades N500 E500, N501 E500 e N501 E499 foram triados 11.390 fragmentos

cerâmicos, dos quais 190 apresentaram decorações plásticas diagnósticas Barrancoide.

Figura 22 - Triagem dos fragmentos decorados.

Após a triagem, fizemos a análise dos 103 fragmentos com decorações plásticas da

unidade N1001 E1000, sendo observados atributos que caracterizam as escolhas de pasta,

técnicas de confecção, acabamentos de superfície, decorações, forma da vasilha, queima e

marcas de uso (Figura 23). Os 190 fragmentos com decorações plásticas das unidades

N500 E500, N501 E500 e N501 E499 não foram analisados de acordo com esta ficha.

Unidade Nível PN Tratamentos plásticos Inciso e ponteado Inciso Modelado aplique

N1001 E1000 10-20 cm 2103 1 2

N1001 E1000 20-30 cm 2104 8 1 6 1

N1001 E1000 30-40 cm 2105 3 1 1 1

N1001 E1000 40-50 cm 2106 8 1 5 2

N1001 E1000 50-60 cm 2107 5 2 2 1

N1001 E1000 60-70 2108 30 1

N1001 E1000 60-70 cm 2108 5 2 3

N1001 E1000 70-80 cm 2109 11 4 5 1 1

N1001 E1000 80-90 cm 2110 4 3 1

N1001 E1000 90-100 cm 2112 3 2 1

N1001 E1000 100-110 cm 2113 4 1 3

N1001 E1000 110-120 cm 2114 1 1

N1001 E1000 120-130 cm 2115 3 1 2

N1001 E1000 130-140 cm 2116 5 2 3

N1001 E1000 140-150 cm 2117 4 1 3

N1001 E1000 150-160 cm 2118 3 3

N1001 E1000 160-170 cm 2119 2 2

N1001 E1000 170-180 cm 2120 1 1

N1001 E1000 180-190 cm 2121 2 2

103 19 39 16 1

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Figura 23 - Ficha de analise da tecnologia cerâmica, desenvolvida por Zuse (2014).

A pasta é o preparo da argila, retirando impurezas, quando houverem, amassando e

as vezes agregando outros componentes, chamados antiplásticos ou temperos. Os

elementos não plásticos, ou antiplásticos podem ser minerais, que às vezes se concentram

já na própria argila ou que são adicionados intencionalmente. Diversos elementos podem

ser adicionados para obtenção de um bom resultado, sendo também chamados temperos,

tanto para perda da umidade da pasta, como na queima, evitando-se fissuras (BARRETO;

LIMA; BETANCOURT, 2016, p 553; 563).

Entre os antiplásticos mais frequentes nas cerâmicas amazônicas está o caraipé, que

é a cinza da casca e entrecasca de plantas do gênero Licania (licania scabra sp.) adicionada

à pasta. Este é o caraipé A, que possui aspecto mais lenhoso. O caraipé B é mais fibroso, e

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estudos indicam que pode ser derivado de cascas de frutos de palmeiras. O cauixí também

é bastante recorrente nas cerâmicas da Amazônia, e trata-se de espícula de esponja de água

doce, podendo estar misturado com a argila na fonte ou ser adicionado à pasta

(BARRETO; et. al., 2016, p 556-557). Ambos são recorrentes nas cerâmicas do alto rio

Madeira, porém a sua frequência varia nos diferentes conjuntos tecnológicos (ZUSE,

2014).

Entre as técnicas utilizadas na construção das vasilhas estão a acordelada e a

modelada, identificadas na cerâmica do Santa Paula. A técnica acordelada consiste em

cordões ou roletes de argila postos um acima do outro, sendo finalizado com um

alisamento para que a superfície possa receber outro tipo de acabamento e/ou tratamento.

A análise da técnica de confecção se dá por meio da observação da forma dos fragmentos.

Quando quebram na junção dos roletes, ou se eles estão visíveis na vasilha, pode-se

caracterizar como acordelada. A técnica modelada, nas cerâmicas amazônicas, é utilizada

principalmente na confecção de apêndices que são fixados nas paredes e bordas das

vasilhas, e em algumas bases (BARRETO; Ibid., 2016, p. 562).

Ao construir a vasilha esta vai tomando forma. Entre as partes da vasilha

identificamos a boca ou borda, que possui características importantes para diferenciar os

conjuntos tecnológicos, pois a partir de um fragmento de borda é possível reconstruir ao

menos em parte o contorno das vasilhas. As bordas são analisadas em relação à forma e

inclinação, espessamento, tipo de lábio e diâmetro de abertura. O diâmetro da abertura é

analisado em fragmentos de borda com tamanho suficiente, utilizando-se um bordomêtro

ou ábaco para verificar o tamanho que a circunferência das peças e o seu porcentual. A

base é a parte inferior dos vasilhames, estas são modeladas ou acordeladas, e podem ser

classificadas como convexas, côncavas, anelares, em pedestal (BROCHADO & LA

SALVIA, 1989).

O corpo da vasilha possui partes como a carena, que é um ponto angular, o bojo que

consiste a parte entre a base e o pescoço, geralmente de maior diâmetro, as flanges que são

extensões da borda externa ou do corpo, geralmente elaboradas para acrescentar

decorações plásticas (Figura 24).

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Figura 24 - Desenhos esquemáticos demonstrando as partes da vasilha. Fonte: Lima, 2008, p. 179.

Nas superfícies das vasilhas são feitos acabamentos, como o alisamento, processo

que dá forma aos vasilhames, deixando as paredes mais finas e menos porosas, com uso de

instrumentos como concha, espátula de madeira, sementes, seixos, conforme demonstram

estudos etnográficos e etnoarqueólogico. O polimento é feito após o alisamento do

vasilhame, com o mesmo tipo de instrumentos, porém com a pasta mais seca para não

causar irregularidades com o uso da força. (BARRETO; LIMA; BETANCOURT, 2016, p.

564).

Os tratamentos plásticos, também chamados acabamentos plásticos ou decorações

plásticas2, são as modificações tridimensionais feitas na superfície da vasilha, geralmente

2 Utilizamos também o termo ‘decorações plásticas’ ao se referir aos tratamentos incisos, ponteados,

modelados e outros, cientes de que estes desenhos ou motivos não apenas e necessariamente decoram as

superfícies das vasilhas, e que, para além dos seus significados estéticos, estão relacionados ao mundo

cognitivo, cosmológico e simbólico, conforme abordado no início do capítulo.

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quando a pasta ainda está úmida ou moldável, utilizando instrumentos com pontas

arredondadas, agudas, subarredondadas, de origem animal ou vegetal, no caso das incisões,

ponteados, entalhados e acanalados, ou modelando com a própria mão no caso dos

modelados e apliques. Quando possível, são analisados os grafismos ou desenhos formados

pelas decorações plásticas ou crômicas, podendo eles serem geométricos (círculos, linhas

retas e curvas, pontos, etc.), que quando associados podem formar padrões gráficos com

desenhos abstratos ou figurativos (figuras de animais, pessoas, plantas, etc.) (Ibid. p. 562).

A queima dos artefatos de argila segue condições ideais de ambiente e temperatura.

Em laboratório é analisada a queima a partir da coloração do núcleo dos fragmentos, sendo

oxidante quando totalmente clara, ou reduzida quando escura (Ibid., p. 565). Analisamos a

cor do núcleo e de ambas as faces dos fragmentos com o código Munsell. Também são

analisadas marcas de uso, como o depósito de fuligem e de carbono, indicando uso sobre o

fogo (panela) e as descamações causadas por fermentação. Cada vasilha cerâmica acaba

recebendo uma ou mais funcionalidades, dependendo do contexto que a mesma esteja

inserida (LA SALVIA & BROCHADO, 1989).

Após a realização da análise dos fragmentos da unidade N1001 E1000,

selecionamos fragmentos maiores desta unidade, onde era possível observar os motivos

decorativos, e analisamos individualmente as decorações plásticas. Inicialmente

formulamos uma ficha de análise, inspirada e adaptada da ficha proposta de La Salvia e

Brochado (1989, p. 109) (Figura 25), e realizamos a análise de forma descritiva, de acordo

com os atributos da ficha, seguindo o seguinte roteiro: parte da vasilha e tipo de decoração;

localização do campo ou decoração (em relação lábio, etc.); descrição de cada expressão

decorativa (inciso, ponteado, aplique) em relação a direção (perpendicular, horizontal,

transversal etc), profundidade ou altura, largura, comprimento e/ou diâmetro, instrumento,

umidade da pasta, direção da ação.

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Figura 25 - Ficha desenvolvida para análise dos motivos, adaptada de La Salvia e Brochado (1989).

Tanto para as cerâmicas da unidade N1001 E1000, do montículo 1, quanto para as

das E500, N501 E500 e N501 E499, do montículo 2, utilizamos fotografias, desenhos a

mão livre e desenhos no programa corel draw, elaborados a partir de fotografias. Essas

técnicas auxiliaram a visualização e percepção das expressões decorativas e motivos da

decoração plástica das cerâmicas Barrancoide no sítio Santa Paula, conforme demonstram

os dados apresentados no próximo capítulo.

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Capítulo 3. Resultados da análise

Nesse capítulo serão apresentados os resultados da análise das expressões e motivos

decorativos identificados nos materiais do montículo 1 (unidade de escavação N1001

E1000) e montículo 2 (N500 E500, N501 E500 e N501 E499) do sítio Santa Paula.

3.1. Triagem e análise das cerâmicas Barrancoide no Montículo 1: Unidade N1001

E1000

De um total de 4.842 fragmentos cerâmicos da unidade N1001 E1000, 103

apresentaram decorações plásticas, com maior frequência nos níveis 60-70 e 70-80 cm

(Gráfico 3). Todos os fragmentos com tratamentos plásticos foram analisadas de acordo

com a ficha de análise desenvolvida por Zuse (2014), verificando suas faces e quebras, e

identificando as variáveis de cada atributo.

Gráfico 3 - Fragmentos cerâmicos triados.

Entre a superfície e o nível 30-40 cm a cerâmica Barrancóide está misturada com

fragmentos diagnósticos da Tradição Polícroma da Amazônia (figuras 26 e 27), e que

possivelmente nos níveis mais profundos da escavação ocorram cerâmicas semelhantes a

Pocó, Açutuba e Saladóide, tema abordado por Venere (2017) na sua pesquisa de iniciação

científica.

1 8 3 8 5 35 11 4 3 4 1 3 5 4 3 2 1 2 0 0 0 0 0

515

766

430

579

481 484

349

581

142 119 57 74 96 70

24 18 20 27 4 3 1 1 1 0

100

200

300

400

500

600

700

800

900Soma de CERÂMICA DECORADA Soma de CERÂMICA GERAL

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Figuras 26 e 27: fragmentos cerâmicos da Tradição Polícroma da Amazônia, dos níveis 0-10 cm e 20-30

cm da unidade N1001 E1000. Fotos: Venere, 2017, p. 13.

Os fragmentos cerâmicos podem apresentar propriedades físicas variadas, ainda que

fabricados com o mesmo tipo de argila. Durante a análise observamos algumas

dificuldades na identificação de algumas características em função da alta fragmentação da

coleção.

Verificamos que as cerâmicas com decoração plástica foram elaboradas com uma

pasta predominantemente contendo minerais, caraipé A e carvão, seguida por mineral e

caraipé A. Podemos observar que a menor porcentagem caracterizou-se pela presença do

caraipé B e a presença de apenas mineral e carvão ou mineral e cauixí (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Pasta da cerâmica decorada.

Com relação à técnica de confecção, 50 (75,76%) fragmentos indicam o uso da

técnica acordelada, um modelado (1,52%) e em quinze (22,73%) fragmentos não foi

possível identificá-la. A maior parte dos fragmentos analisados é de borda, pelo fato das

decorações predominarem nas bordas das vasilhas, porém também nos fragmentos do

3; 5%

3; 5%

14; 21%

2; 3% 33; 50%

9; 14%

1; 1% 1; 1% argila, mineral, cariapé A

mineral

mineral, cariapé A

mineral, cariapé A e B, carvão

mineral, cariapé A, carvão

mineral, cariapé A, carvão, argila

mineral, carvão

mineral, cauixí

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corpo da vasilha, chamados genericamente de parede, por não ser possível a sua

localização exata em função da alta fragmentação, além de duas bases, um aplique uma

carena e duas bordas com bojo (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Classificação do tipo de fragmento cerâmico.

As bordas são bastante fragmentadas, por isso alguns atributos não puderam ser

identificados. Com relação a forma e inclinação, cinco são extrovertidas, três diretas

verticais, três diretas inclinadas internamente, duas diretas inclinadas externamente e nos

demais não foi possível identificar. Com relação ao espessamento, a maioria é linear (20;

52,63%), duas contraídas (5, 26%), duas expandidas (5, 26%) e nas demais não foi

identificado (14; 36,84%). Os lábios são planos (12), arredondados (12), apontado (3),

irregular (1), dentados (5) e não identificado (5).

Entre as bordas, duas possuem 16 cm de diâmetro de abertura (25% e 12,50% da

circunferência); uma com 25 de diâmetro (20%), uma com 30 cm (7,50%); uma com 38

cm (10,50%) e uma com 29 cm de diâmetro (com 30% da circunferência). Todas estas

vasilhas possuem boca circular. Entre estas, três são abertas e seis são fechadas (diâmetro

da boca menos que o diâmetro máximo do corpo). Três vasilhas possuem contorno

simples, uma composto e uma inflectido. Nos demais fragmentos não foi possível observar

a estrutura e o contorno.

As vasilhas cerâmicas com decorações plásticas estavam na maioria sendo polidas

em ambas as faces ou recebendo um alisamento fino em ambas as faces (Gráfico 6).

1 2 2

34

2 1 4

20

0 5

10 15 20 25 30 35 40

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Gráfico 6 - Análise do acabamento de superfície.

Entre as decorações plásticas, identificamos os apliques, entalhados, incisões,

incisos e ponteados, modelados e apliques, às vezes associados (Gráfico 7). As incisões

foram feitas predominantemente na face externa (FE) das paredes (17 fragmentos) e na

face externa das bordas (13 fragmentos), e mais raramente em ambas as faces (AF) ou na

face interna (FI) das bordas ou das paredes (1) (Gráfico 9).

Gráfico 7 - Tratamento plástico identificado nos fragmentos.

A grande maioria dos fragmentos com tratamentos plásticos são muito pequenos,

não sendo possível identificar os motivos decorativos ou padrões gráficos. Em alguns

ocorrem linhas horizontais (paralelas à borda), verticais, oblíquas, circulares, compostas

(combinação de dois motivos) e complexas (mais de dois elementos ou figurativas)

(Gráfico 8; Figuras 28-31).

15

10 10

6 5

4 4 3 3

2 2 1 1

0

2

4

6

8

10

12

14

16

4; 6% 4; 6%

36; 55% 3; 4%

11; 17%

2; 3%

2; 3% 4; 6% aplique

entalhado

inciso

inciso e entalhado

inciso e ponteado

inciso e ponteado e modelado

modelado

não identificado

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Gráfico 8 - Variação dos motivos nas cerâmicas.

Gráfico 9 - Localização do tratamento plástico.

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Figura 28 e 29 - Lábios dentados e fragmentos com lábios modelados e decorações figurativas.

Figura 30 e 31 - Fragmentos com incisos e ponteados, em linhas horizontais, curvilíneas e transversais; e fragmentos com incisões em linhas verticais, horizontais, oblíqua ou não identificadas, respectivamente.

A queima das vasilhas com decorações plásticas foi realizada predominantemente em

ambiente reduzid0 (34 fragmentos; 51,52%), seguido pela oxidante (15; 22,73%), oxidante

com núcleo reduzido (8; 12,12%), oxidante externa e reduzida interna (6; 9,09%) e Não

identificada (3; 4,55%). Portanto, predominou a coloração escura no núcleo (Gráfico 10).

Gráfico 10 - Variação da cor do núcleo.

Entre os fragmentos com decorações plásticas, selecionamos nove maiores e uma

vasilha parcialmente remontada, em que é possível observar parte dos motivos, para fazer

24

9 6 6 5 4

2 2 2 1 1 1 1 1 1

0

5

10

15

20

25

30

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uma descrição pormenorizada, das técnicas, localização do campo ou decoração (em relação

lábio ou quebra no rolete.); descrição de cada expressão decorativa (inciso, ponteado, aplique)

em relação a: direção (perpendicular, horizontal, transversal etc), profundidade/altura, largura,

comprimento e/ou diâmetro, instrumento, umidade da pasta, direção da ação, e outras

observações específicas de cada peça.

3.1.1 Análises das decorações plásticas da cerâmica da Unidade N1001 E1000

Fragmento de borda SPA 2110.2-01: decoração inciso e ponteado na face externa. O campo

decorativo é delimitado por duas linhas horizontais paralelas ao lábio e possui 4 mm de

largura, distante entre 10 e 12mm do lábio. A decoração é composta por conjuntos de quatro

incisões curvilíneas paralelas, dispostos na posição vertical e horizontal em relação ao lábio.

Ponteados são dispostos de formas curvilíneas. As incisões são rasas com menos de 1mm de

profundidade e possui largura variando entre 1 e 2mm, elaboradas com instrumento de seção

arredondada, arrastado sobre a superfície pouco seca, deixando marcas mais largas no início

da ação e mais finas do final. As incisões verticais foram elaboradas com relação de cima para

baixo. As incisões horizontais foram elaboradas em ambos os sentidos, da esquerda para

direita e vice-versa, a partir das incisões verticais, que aparentemente foram feitas primeiro.

Os ponteados estão dispostos de forma circular com profundidade de 1 a 3mm e com diâmetro

variando entre 3 e 4mm, possui forma subarrendada com instrumento de seção plana de um

lado e circular de outro, aplicado de forma obliqua em relação da superfície (Figura 32).

Fragmento de borda SPA 2109 – 149: com decoração incisa e ponteada na face externa. O

campo decorativo, com 33,35 mm de largura, é delimitado por duas linhas incisas paralelas ao

lábio, com largura de 1 e 2 mm, sendo a de cima, distante entre 9 e 10mm do lábio. A

decoração é composta por dois conjuntos de incisões paralelas obliquas, em sentido oposto,

formando motivo triangular, além de uma área triangular preenchida por ponteados. Um dos

conjuntos possui 4 incisões circulares paralelas, transversais em relação ao lábio, que

aparentemente foram feitas de cima para baixo e da direita para esquerda, pois no início a

ação é mais larga. Estas são rasas, com largura de 2 mm e profundidade menor de 1mm. O

outro conjunto possui cinco incisões, também transversais em relação ao lábio. Estas são

rasas, com largura de 1 a 2mm e profundidade menor que 1mm. Estas incisões foram

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parcialmente obliteradas por uma posterior compressão da argila, que pode ter sido feita

acidentalmente, no manuseio da peça, ou ter sido causada pelo polimento posterior. Essa

última hipótese surgiu pela observação de que as rebarbas das incisões estão parcialmente

achatadas. Todas as incisões foram elaboradas com instrumento de seção arredondada,

arrastado sobre a superfície úmida, deixando marcas mais largas no início da ação. Os

ponteados, que preenchem uma área triangular formada pelas incisões, possui forma

subarredondada, possivelmente com instrumento de seção plana de um lado e circular de

outro, aplicado de forma obliqua em relação da superfície. Possuem profundidade 2 mm e

diâmetro entre 2 e 3mm (Figura 32).

Figura 32 - Fragmentos SPA 2110.2-01 e SPA 2109 – 149, respectivamente.

Fragmento de borda SPA 2110.1 – 1: com decoração incisa e ponteada na face interna. O

campo decorativo é delimitado por duas linhas incisas paralelas ao lábio, sendo que uma delas

acompanha o modelado do lábio e possui 2, 10 mm de largura, e distante 5 e 7mm do lábio.

No seu interior, dois conjuntos de cinco incisões paralelas formam um motivo triangular, ao

passo que delimitam uma área também triangular, onde foram feitos ponteados. Em um dos

conjuntos, as cinco incisões de formas curvilíneas paralelas foram feitas da direita para

esquerda, com largura de 2 e 3mm e profundidade irregular de 0,65 a 1,40mm. Posteriormente

foram feitas outras cinco incisões no sentido oposto, da esquerda para direita, e aparentemente

são transversais, de cima para baixo, com largura 2,55 mm e com profundidade que varia

entre menos 1mm a 1, 50 m. Todas as incisões parecem ter sido elaboradas com instrumento

de seção arredondada, arrastado sobre a superfície úmida, deixando marcas largas no início e

no fim da ação. As incisões formam motivos triangulares. Uma área semi-triangular formada

pelas incisões foi preenchida por seis ponteados, com profundidade de 1mm e diâmetro de 2 e

3mm, possuindo forma subarrendada ou triangular, elaborados com instrumento de seção

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plana de um lado e circular de outro, aplicado de forma obliqua em relação da superfície

(Figura 33).

Figura 33 - Desenho e foto do fragmento SPA 2110.1 (desenho: Pedro Pacheco, 2017).

Fragmento de borda SPA 2109.155: apresenta decoração incisa na face interna. O campo

decorativo, com 19,74 mm de largura, é delimitado por duas linhas paralelas ao lábio, com

largura de 1 e 2 mm, sendo a de cima distante entre 6 e 7 mm do lábio. A decoração é

composta por três conjuntos de incisões retas paralelas entre si, transversais em relação ao

lábio, dispostos em sentido oposto entre si. A quebra do fragmento e seu desgaste prejudicam

a visualização da quantidade de incisões em cada um dos conjuntos. As incisões possuem

largura entre 2 e 3 mm, comprimento 6 e 19 mm e profundidade entre menos de 1 mm e 2

mm, e não foi possível observar as direções das ações. Foi utilizado instrumento de seção

arredondada, arrastado sobre a superfície ainda úmida. A alternância na direção dos conjuntos

de incisões, em direções opostas, forma motivos triangulares reversos (Figura 34).

Figura 34 – Foto e desenho do fragmento com incisões (Desenho: Altaires Pereira, 2017).

Vasilha parcialmente remontada (SPA 2107/2108/2108.1): vasilha remontada apresenta

decoração incisa ponteada na face externa, na parte da borda. O campo decorativo é

delimitado por uma linha horizontal paralela ao lábio, distante 64,50 mm do lábio. Esta linha

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continua, possui entre 2 e 3 mm de largura sua profundidade é menor que 1mm. Na parte

inferior da decoração outra linha continua foi elaborada acima da primeira, obtendo as

mesmas medidas e, distante 57 mm do lábio. Possivelmente feita da direita para esquerda

conforme pode ser observado com início das ações, entre elas foram elaborados incisões

curtas, com 2,78mm de largura e, 9 a 16 mm de comprimento, que parecem ter sido feitas da

direita para esquerda iniciando com uma pressão mais forte do instrumento e suavizando o

traço no final dela. Na parte superior do campo conjuntos de ponteados arrastados, na posição

horizontal, são separadas por linhas incisas duplas paralelas na vertical, estas linhas incisas

verticais foram feitas de cima para baixo invadindo a linha incisa continua, por tanto foram

feitas depois. Estas possuem 2 e 3 mm de largura, com comprimento de 41 a 44m, são rasas

com profundidade menor que 1 mm. Os conjuntos de ponteados arrastados, delimitados por

estas linhas incisa, foram elaborados da direita para esquerda com instrumento de seção

arredonda e possuem em geral 11 mm de largura, com comprimento de 13 mm e sua

profundidade é de 1 mm, os conjuntos são formados por três linhas verticais por ponteados

arrastados, com exceção de um deles, que por ser maior foi preenchido com algumas incisões

aleatórias, ao lado destas. Cada linha vertical possui entre seis e oito ponteados arrastados

(Figura 35-36).

Figura 35 - Fotos da vasilha remontada. 1 visão lateral esquerda; 2 - visão de frente; 3 - visão lateral direita.

Figura 36 - Foto e desenho perfil da vasilha. (Desenho: Altaires Pereira, 2017).

Frag. SPA 2110.3 – 1: fragmento de borda SPA 2110.3 – 1 possui uma decoração aplicada

no lábio. Em função do acabamento da vasilha, não é possível observar se a decoração foi

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aplicada ou modelada, arrastando uma porção de argila da própria vasilha. O modelado

acompanha o lábio da vasilha, possuindo a mesma espessura da borda, 6mm. Possui 10mm de

altura a partir do lábio e 22mm de largura. Posteriormente foi feito um corte no sentindo

perpendicular ao lábio, sobre o modelado e na face externa, com 9mm de comprimento e de

largura 0,5mm (Figura 37).

Figura 37 -A -- Foto e desenho elaborado com decalque e escaneado (Desenho: Pedro Pacheco, 2017).

Fragmento SPA 2113.12 – 1: apresenta decoração incisa e ponteada na face interna, e o lábio

modelado. O campo decorativo, com 20 e 21 mm de largura, é delimitado por uma linha

incisa continua paralela ao lábio, com largura entre 1 e 2 mm. No seu interior apresenta

conjuntos de 4 incisões paralelas ao lábio, intercalados os conjuntos por ponteados na

transversal a partir do modelado do lábio. As incisões são rasas com largura entre 1 e 2 mm,

profundidade menor que 1 mm e comprimento entre 40 e 58 mm, neste fragmento, é possível

observa três dos conjuntos de incisões, porem apenas um deles é possível fazer a mensuração

do comprimento delas. Aparentemente algumas linhas desses conjuntos foram feitas com uma

ação ou foram feitas da esquerda para direita e vice-versa. Estas incisões foram parcialmente

obliteradas por uma posterior compressão da argila, que pode ter sido feita acidentalmente, no

manuseio da peça, ou ter sido causada pelo polimento posterior. Essa ultima hipótese surgiu

pela observação de algumas incisões que foram preenchidas em alguns pontos. Foram

utilizado instrumento de ponta arredondada, e aparentemente a vasilha já estava seca e polida,

pois suas seções apresentam uma pasta mais porosa. Os ponteados, dispostos na transversal a

partir do modelado do lábio, em conjunto de três, separam os conjuntos de incisões. Estes

possuem comprimento entre 5 e 7 mm, profundidade menor que 1 a 1,40 mm e largura de 1 e

2 mm. Foi utilizado instrumento circula e elíptica. Outros ponteados foram feitos junto ao

lábio, juntos e paralelos ao lábio; o modelado (o aplique) no lábio foi feito a partir da

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modelagem da porção mais espessa de argila, deixando parte mais proeminente e mais

arredondada, e que distante entre 40 e 41mm (Figuras 38-39).

Figura 38 e 39 – Foto e desenho da Imagem do fragmento de lábio modelado, face externa e da decoração na

face interna (da esquerda para direita). (Desenho: Altaires Pereira e Gegliane Silva, 2017).

Fragmento SPA 2108.1 – 17/ 2107.27 – 1: possui uma decoração aplicada no lábio. Em

função do acabamento da vasilha, não é possível observar se a decoração foi aplicada ou

modelada, arrastando uma porção de argila da própria vasilha. O modelado acompanha o

lábio da vasilha, e possui espessura de 10 mm, altura de 11 mm a partir do lábio e 24 mm de

largura. Foram feitos dois cortes sobre o modelado, no sentindo perpendicular ao lábio

(Figura 40).

Figura 40 - Foto e desenho do fragmento cerâmico com lábio modelado. (Desenho: Altaires Pereira, 2017).

Fragento SPA 2113.13 – 01: possui uma decoração aplicada no lábio. Em função do

acabamento da vasilha, não é possível observar se a decoração foi aplicada ou modelada,

arrastando uma porção de argila da própria vasilha. O modelado acompanha o lábio da

vasilha, e possui espessura de 4,76 mm, altura entre 10 e 13 mm a partir do lábio e 37,58 mm

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de largura. Foram feitos dois cortes sobre o modelado, no sentindo perpendicular ao lábio. O

modelado (o aplique) possivelmente foi aperfeiçoado, em seguida fizeram-se os cortes, pois

se observou que na parte interna da peça há marcas de retiradas de argila. Na face externa

acredita-se ter sido feita uma retirada de argila, raspando a superfície, no qual não há como

afirmamos já que a mesma parece apresentar na ponta do motivo o mesmo tratamento de

polimento recebido na vasilha (Figura 41).

Figura 41 - Foto e desenho do fragmento com lábio decorado. (Desenho: Altaires Pereira, 2017).

Fragmento SPA 2109.1 – 01: trata-se de um aplique zoomorfo que desprendeu da superfície

onde tinha sido aplicado, possivelmente no lábio. Este possui tamanho de 17,73 mm de

largura, comprimento 22 mm e 10,30mm de altura. O aplique possui forma semicircular, e

sobre eles foram aplicados esferas nas quais foi realizado um ponteado no centro. A menor

delas, circular, pode representar boca ou nariz, com 6,76 mm de diâmetro, e o ponteado,

redondo, possui 2,47 mm de diâmetro, com profundidade menor que 1mm. As outras duas, na

parte superior, possivelmente indicam olhos ou orelhas. As duas semiesferas aplicadas

possuem 10,82 mm comprimento, 6 e 7 de largura mm e 3 e 4 de altura. Os ponteados feitos

no centro são alongados no sentido perpendicular ao comprimento das semiesferas, e possuem

tamanho de 5 mm, 3 mm de largura e 1,21 mm de profundidade. O instrumento utilizado

possivelmente foi o mesmo de ponta arredondada (Figura 42).

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Figura 42 – Foto e desenho do fragmento zoomorfo. (Desenho: Altaires Pereira, 2017).

3.2. Triagem e análise das cerâmicas Barrancoide no montículo 2: unidades N500 E500,

N501 E500 e N501 E499

A segunda amostra trabalhada foi os fragmentos cerâmicos do montículo 2, das três

unidades N500 E500, N501 E500 e N499 E501. De um total de 11.390 cerâmicas, obtivemos

190 fragmentos com decorações plásticas diagnósticas Barrancoide (Gráfico 11), entre elas a

incisa, incisa e ponteada, incisa e aplique, incisa, modelada e ponteada, digitada, modelada e

aplicada.

Gráfico 11 - Frequência cerâmica do Montículo II.

Nos primeiros (entre a superfície e 50-60 cm na N500 E500; até 30-40 cm da N501

E500) e nos últimos níveis escavados (nível 90-100 das unidades N500 E500 e N501 E500),

apareceram fragmentos com pintura, algumas vezes associadas a incisões. Nos primeiros,

estão os materiais diagnósticos da Tradição Policroma da Amazônia, caracterizados pela

109 0 0 16 55

167

437 545 571

461

266

33

324 425 452

380 425 365

494 529

252 253

108

611

769

572 516 474

365 410 525

314

167

0 0 0 0 0 1 7 12 30 19 12 0 2 1 0 0 0 1 23 20 11 13 0 0 0 2 1 1 4 4 10 8 8 0

100200300400500600700800900

sup

.0-

1010

-20

20-3

030

-40

40-5

050

-60

60-7

070

-80

80-9

090

-100

sup

.0-

1010

-20

20-3

030

-40

40-5

050

-60

60-7

070

-80

80-9

09

0-10

0

sup

.0-

1010

-20

20-3

030

-40

40-5

050

-60

60-7

070

-80

80-9

09

0-10

0

N499 E501 N500 E500 N501 E500

Frequência de cerâmica por nivel e quantidade de fragmentos

decorados

Total Decoradas

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pintura vermelha e branca, as vezes associadas a incisões finas, misturados aos da

Barrancoide (Figuras 43 e 44). Nos últimos, os fragmentos semelhantes a cerâmica Saladoide,

Pocó e Açutuba, também associados aos da tradição Barrancoide. Na unidade N501 E499,

escavada entre o nível 40-50 e 90-100 cm, em função do declive, aparentemente os materiais

diagnósticos das três tradições estavam misturados, sendo difícil distinguir a policromia mais

antiga da mais recente.

Figura 43 e 44 – Fragmento com pintura vermelha e branca e incisões (0-10 cm da N500 E501) e com pintura

vermelha e branca (30-40 cm da N500 E500)

.

Entre as cerâmicas que se assemelham a Saladoide, estão as diagnósticas associadas a

Saladoide, observamos tratamentos excisos, pinturas em pigmentos de tonalidades variadas

(vinho, laranja, vermelho), as vezes delimitadas por incisões (Figura 45).

Figura 45 - Fragmentos com pinturas e incisões do nível 90-100 cm da unidade N500 E500.

Os fragmentos com tratamentos plásticos diagnósticos da tradição Barrancoide, na

unidade N500 E500, foram identificados entre os níveis 10-20 a 90-100 cm, com maior

frequência nos níveis 60-70 a 90-100. Na unidade N501 E500, estão entre 0-10 e 90-100 cm,

e na unidade N501 E499, entre os níveis 30-40 e 90-100 cm. Diferente dos materiais da

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unidade N1001 E1000 do montículo 1, nestas do montículo 2 não analisamos os atributos que

caracterizam a pasta, técnicas de confecção, acabamentos, queima e morfologia das vasilhas,

mas somente as técnicas plásticas e motivos. No montículo 2 os fragmentos são maiores que

no montículo 1, por isso foi possível identificar motivos em um maior número de fragmentos.

Além disso, a frequência de fragmentos decorados é maior do que no montículo 1. Os

tratamentos foram realizados predominantemente nas paredes, bordas e lábios (Gráfico 12).

.

Gráfico 12 - Localização dos tratamentos.

No gráfico 13 é possível observar a diversidade de associações de técnicas plásticas,

predominando as incisas (54; 55,67%) e incisas e ponteadas (14; 14,43 %). Entre os

fragmentos identificamos alguns de possíveis assadores com marcas de folhas. Em alguns

deles há cortes muito semelhantes a incisos e ausência de uma marca clara de flolha, os quais

classificamos como não identificados (NI) (Figura 46-47).

Gráfico 13 - Variação do tratamento plástico.

65; 67,01%

20; 20,62%

7; 7,22%

2; 2,06% 2; 2,06% 1; 1,03%

parede

borda

lábio

lábio e borda

parede e lábio

N.I

4; 4,12%

2; 2,06%

54; 55,67% 14;

14,43%

4; 4,12%

4; 4,12%

4; 4,12%

7; 7,22% 2; 2,06%

1; 1,03% 1; 1,03% Aplique

Digitado

Inciso

Inciso e ponteado

Marca de folha

Modelado

N.I

Inciso e aplique

Inciso e entalhe

Inciso e ponteado e entalhe

Inciso e modelado e ponteado

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63

Figura 46 - Fragmentos de parede de assador que contém marcas de folhas.

Figura 47 - Fragmentos com possíveis incisões.

Duas bordas apresentaram a tratamento digitado, feitos paralelamente ao lábio, na face

externa (figura 48).

Figura 48 - Fragmento de borda contendo tratamento digitado.

Entre os motivos, foram identificadas linhas retas horizontais, verticais, transversais,

entrecruzadas e em zigue-zague, as linhas curvilíneas, os motivos compostos por dois

elementos e os motivos complexos, com mais de dois elementos ou figurativos (Gráfico 14).

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64

Gráfico 14 - Motivos observados nos fragmentos.

Entre os fragmentos com tratamentos incisos, são comuns motivos compostos por

linhas em sentidos diversos, porém de difícil identificação, em função da grande

fragmentação (Figura 49). Além destes, um fragmento do nível 70-80 cm da N500 E500

apresenta linhas transversais paralelas entre si e oblíquas a outras linhas paralelas, formando o

motivo que denominamos triangulo reverso. Uma das quebras ocorreu na incisão, por isso

percebemos a continuidade nas incisões e a formação do motivo triangular (Figura 50).

Figura 49 - Fragmento de parede com incisões, classificada como composta.

Figura 50 - Fragmento classificado com motivo triângulo reverso.

33; 34,02%

2; 2,06%

6; 6,19% 1; 1,03%

19; 19,59% 5; 5,15%

7; 7,22%

4; 4,12%

19; 19,59%

1; 1,03%

Composto (2 elementos)

Complexo (+2 elementos)

Complexo Figurativo

Linhas curvilíneas

Linhas Horizontais

Linhas retas entrecruzadas

Linhas Transversais

Linhas Verticais

N.I.

Zigue-Zague

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Alguns fragmentos apresentam linhas retas entrecruzadas, formando losangos. É o

caso do fragmento de parede do nível 80-90 cm da unidade N500 E500, com losangos

alongados elaborados em traços finos e sem muita profundidade (Figura 51). Fragmentos de

parede de vasilhas diferentes, dos níveis 70-80 e 80-90 cm da unidade N501 E500, também

apresentam os motivos losangos. Nos fragmentos do nível 70-80 cm as linhas são irregulares

e bem alongadas, enquanto em dois fragmentos no nível do 80-90 cm os traços finos, mas sem

muita identificação devido a quebra (Figura 51). Por fim, nos níveis 80-90 e 90-100 cm da

unidade N501 E499 também foram encontrados fragmentos com este motivo, sendo um

fragmento de uma vasilha no nível 80-90 cm (Figura 51), e fragmentos de uma mesma vasilha

no nível 90-100 cm, com incisões e aplique e/ou asa (Figura 52).

Figura 51 - Fragmentos cerâmicos com motivos losangos.

Figura 52 - Vasilha não remontada, com incisão formando losango e um aplique.

Entre os tratamentos incisos, identificamos um fragmento do nível 80-90 da unidade

N501 E499 com motivos em zigue-zague, também conhecido como espinha de peixe (Figura

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53). No nível 60-70 da unidade N501 E500, um fragmento apresenta volutas, associada a

círculos e linhas retas paralelas (Figura 54).

Figura 53 - Fragmento de parede contendo incisões que formam motivo zigue-zague, possivelmente representa

espinha de peixe.

Figura 54 - Fragmento de parede contendo incisões e presença de motivo em voluta.

Por último, entre os fragmentos com incisões, um fragmento de borda do nível 70-80

cm da unidade N500 E500 apresenta uma possível representação de um olho humano. Duas

incisões longas dão formato ao contorno do olho, enquanto linhas paralelas oblíquas formam

os cílios, e uma saliência no interior a pupila (Figura 55). Em função dessa interpretação a

peça foi classificada como complexa figurativa. Há ainda a possiblidade de se tratar de uma

impressão de folha, porém o formato dos traços e a fragmentação da peça dificultam a

visualização.

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Figura 55 - Fragmento de borda com tratamento inciso.

Alguns fragmentos apresentam apliques, geralmente associados a incisões e

ponteados. Um fragmento de borda do nível 70-80 da unidade N501 E500 apresenta aplique

no lábio, e na face interna possui cortes na vertical (figura 56).

Figura 56- Fragmento de borda face externa e face interna (da direita par esquerda) contendo aplique no lábio

incisões na face interna do aplique.

Além dos fragmentos do nível 90-100 cm, que possuem incisões com motivos

triangulares associadas a aplique e/ou asa (Figura 52), apresentada anteriormente, outros

fragmentos possuem apliques associados a incisões e ponteados. São comuns as esferas

aplicadas, com um ponteado no centro, associadas a incisões de diferentes formatos. Entre

eles, uma borda do nível 80-90 da unidade N500 E500 possui incisões dispostas em sentidos

opostos, formando motivos triangulares, um deles preenchido com ponteados, e outra

contornando uma esfera aplicada com ponteado no centro (Figura 57).

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Figura 57 - Fragmento de borda com inciso e aplique.

Outros apliques associados a incisões e ponteados foram interpretados como

figurativos. Entre eles um do nível 70-80 cm da unidade N500 E500, possui um aplique

alongado em “S”, e sobre ele foram feitos pequenos entalhes e aplicadas três esferas com um

ponteado no centro, nas extremidades e no centro. Incisões em diferentes direções foram

feitas em torno do aplique (Figura 58). Pode se tratar de uma representação figurativa

zoomorfa.

Figura 58 - Fragmento contendo incisões, aplique com esferas aplicadas.

Outro fragmento, do nível 70-80 cm da unidade N501 E500, possui um aplique

circular com corte no centro, e em torno dele foram aplicadas 4 esferas com um ponteado no

centro. Ao visualizar o aplique em diferentes posições, é possível observar olhos, nariz e

boca, portanto pode se tratar de um aplique figurativo zoomorfo. Na sua volta apresenta

incisões circulares (Figura 59).

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Figura 59 - Zoomorfo contendo incisão e esferas aplicadas.

Um aplique foi encontrado no nível 70-80 cm da unidade N501 E499. Trata-se de um

aplique oco, modelado no formato triangular. Na sua volta foram feitos ponteados e/ou

entalhes, mais visíveis em uma das faces, que está fragmentada. No outro lado foram feitos

ponteados arrastados (Figura 60 e 61). Foi classificado como figurativo, e pode ser um

zoomorfo (cabeça de cobra). A fragmentação na parte inferior parece indicar que o aplique

estava no lábio de uma vasilha.

Figuras 60 e 61 - Aplique do nível 70-80 cm da unidade N501 E499, ambas as faces.

Outro aplique foi encontrado no nível 70-80 cm da unidade N501 E499, e a

fragmentação na parte inferior indica que ele foi aplicado na borda de uma vasilha (Figuras 62

e 63). Trata-se de um aplique circular, e a pressão de um instrumento ao redor deixou as

extremidades onduladas, semelhante ao efeito produzido na peça descrita anteriormente. No

centro, uma parte mais protuberante foi marcada por um ponteado circular, possivelmente

representando boca.

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Figura 62 e Figura 63 - Aplique zoomorfo, ambas as faces.

3.3. Considerações sobre a análise da iconografia nos tratamentos plásticos da cerâmica

Barrancoide no sítio Santa Paula

A análise das técnicas, expressões decorativas e motivos das decorações plásticas da

cerâmica Barrancoide dos dois montículos do sítio Santa Paula permitiu identificar uma série

de recorrências.

Na amostra do montículo 1, foi analisada a cadeia operatória de confecção das vasilhas

cerâmicas com tratamentos plásticos, e fizemos uma análise descritiva mais detalhada das

decorações nos fragmentos maiores. Para a amostra do montículo 2, adotamos o mesmo

procedimento de triagem dos fragmentos com tratamentos plásticos diagnósticos Barrancoide,

classificamos as técnicas decorativas e descrevemos os motivos dos fragmentos maiores,

porém não foram analisados os atributos da cadeia operatória e a descrição dos motivos foi

menos detalhada.

Na amostra do montículo 1 conseguimos identificar detalhes em algumas técnicas

decorativas, como por exemplo as rebarbas. Ao criar cortes em uma vasilha ainda úmida, o

arraste do instrumento provocou rebarbas. Em alguns fragmentos observamos que estas

rebarbas foram achatadas, por um possível polimento posterior ou até mesmo no manuseio da

vasilha.

Na vasilha parcialmente remontada da unidade N1001 E1000 (SPA

2107/2108/2108.1), por ter sido uma parte maior da decoração, conseguimos observar as

direções dos gestos, e através da sobreposição das linhas, a sequência de ações que resultou na

decoração. Após a elaboração da linha incisa continua paralela ao lábio, que delimitou o

campo, foram feitas linhas incisas duplas paralelas verticais, feitas de cima para baixo,

criando espaços que foram preenchidos com ponteados arrastados, elaborados da direita para

esquerda.

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71

Nos dois montículos foram recorrentes os tratamentos incisos, incisos e ponteados e

aplicados, combinados de diversas formas, predominantemente na parte superior da vasilha

(borda, pescoço e bojo superior), com maior frequência na face externa.

Os motivos das incisões são geométricos, com linhas retas, horizontais, verticais e

oblíquas, ou circulares, geralmente combinadas, às vezes formando motivos triangulares,

associados ou não a ponteados, elaborados na vasilha ainda úmida. É recorrente a presença de

linhas paralelas incisas, intercaladas com pontos, em zonas específicas das vasilhas. As linhas

são finas e rasas, variando entre 1 e 3 mm de largura e profundidade, e os ponteados são

circulares ou arrastados. Um motivo bastante recorrente nas duas amostras é o triângulo,

porém no montículo 2 o losango também apareceu. Os motivos em losango foram elaborados

com incisões finas. As formas geométricas podem ser abstratas ou figurativas (OLIVEIRA,

2008), elaboradas em elementos unitários ou que se repetem.

Osgood e Howard (1964) destacam essas características nas cerâmicas Barrancoide

encontradas na Venezuela, onde o elemento mais comum é o triângulo com pontos, seguido

da espiral. Esse motivo também aparece no Santa Paula, porém é pouco frequente.

Entre os apliques, destacam-se as esferas aplicadas, associadas a ponteados, alguns

possivelmente representando zoomorfos. Os apliques identificados são bem semelhantes ao

que Lathrap (1970) descreve como características da cerâmica Barrancoide: as esferas

aplicadas em peças zoomorfas e antropomorfas da tradição Barrancoide estariam relacionados

a olhos e bocas ou até mesmo a orelhas, pois:

[...] O aplicado mais comum era o geométrico, mais precisamente saliências

arredondadas, ou pequenas bolas destinadas a salientar certos pontos-chave

de um desenho; mas a modelação e o aplicado, não raro, combinavam-se

para darem ao conjunto uma efígie antropomórfica ou zoomórfica [...]

[...] Foi-se tornando mais frequente o uso de pequenas esferas aplicadas,

com pontos centrais, e os rebordos labiais contínuos e com decoração

simples transformaram-se em orelhas assimétricas descontinuas com

desenhos complicados [...] (LATHRAP, 1975:123-124).

Alguns apliques foram interpretados como possíveis representações de cobras, que são

bem características em outras tradições, conforme pode ser visto no capítulo anterior. O

aplique alongado em “S” no fragmento do nível 70-80 cm da unidade N500 E500 parece

imitar uma serpente em movimento.

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Portanto, para além da análise formal, é possível identificar elementos iconográficos,

ao dialogar com outras pesquisas.

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73

Conclusão

O modo de fazer as vasilhas cerâmicas da tradição Barrancoide no sítio Santa Paula, e

as técnicas plásticas que criam desenhos nas suas superfícies, são tradicionais e estão

relacionadas a identidades culturais das populações que ocuparam o sítio. No alto rio Madeira,

estas técnicas decorativas plásticas são relacionadas à cerâmica Barrancoide, e as diferenciam

dos demais conjuntos tecnológicos, ao passo que apresentam especificidades em relação a

outros contextos Barrancoide amazônicos, na frequência e variabilidade das decorações.

Nessa pesquisa elaboramos uma ficha e roteiro de análise dos acabamentos plásticos,

para descrevê-los de maneira sistemática. Tivemos certa dificuldade pois a maioria dos

trabalhos sobre iconografia de cerâmicas arqueológicas aborda decorações de peças inteiras,

em que é possível visualizar os motivos completos. Além disso, a maior parte dos estudos está

focada em cerâmicas com pintura, ou voltam-se mais para a apresentação dos motivos do que

das técnicas e ações.

Apesar da grande maioria dos motivos serem geométricos, também conseguimos

identificar motivos icônicos, de representações zoomórficas. Entre eles o fragmento com

aplique em forma de “S”, que pode representar uma serpente em movimento, e ouro aplique

modelado triangular, que pode ser a cabeça de uma serpente. Outros elementos como esferas

aplicadas com ponteados, podem representar olhos, orelhas, boca ou nariz.

Para além da análise formal dos tratamentos plásticos, a pesquisa aqui apresentada

pode avançar na medida em que dialogar com a bibliografia que aborda as cerâmicas da

Tradição Barrancoide em outros sítios do rio Madeira e da Amazônia, bem como com os

estudos arqueológicos, etnoarqueológicos e etnográficos que se dedicam a análise dos

grafismos, desenhos e representações indígenas.

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