Trecho do livro "Detetives do sobrenatural"

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7 Prefácio: Entre a razão e o oculto

P R E F Á C I O

Entre a razão e o ocultoBraulio Tavares

O título deste livro, Detetives do sobrenatural, é um pouco melodramático, mas

não precisa ser levado muito ao pé da letra, pois o importante é a dualidade

que contém – o cientista investigando um fato espiritual; o policial querendo

algemar um fantasma; o homem racional em crise, sem conseguir verbalizar

sua colisão com o Estranho.

A busca do detetive particular pela verdade é mais universal do que a

da polícia. Policiais são funcionários públicos, que tanto poderiam decifrar

mistérios quanto apagar incêndios ou administrar o trânsito, ao passo que

o detetive particular faz o que faz por talento selvagem e amor à arte. Eram

assim os detetives da Era de Ouro do conto policial: o Sherlock Holmes

de Conan Doyle, influenciado pelo Chevalier Dupin de Edgar Allan Poe,

mas por sua vez deflagrando uma reação em cadeia, que incluiu dândis in-

telectuais como o Philo Vance de S. S. Van Dine e o Ellery Queen do autor

homônimo.

Quando um detetive nesse modelo (racionalista, analítico, cético, prepara-

do para tudo) se defronta com um crime cometido de modo cerebral, o conto

ou romance policial vira uma espécie de jogo de xadrez. Mas o que acontece

quando um detetive assim encara algo que não é produto da inteligência hu-

mana? De que modo um investigador que fuma cachimbo e toca violino con-

seguirá desarmar o Oculto, o Sobrenatural, o Que-Não-Existe?

Alguns detetives desta antologia têm esse perfil clássico. Para mim, o

mais sherlockiano de todos é o Carnacki, de W. H. Hodgson. No entanto,

há também protagonistas que são somente testemunhas dos fatos, sem terem

sido contratados para resolver um problema. São meros narradores, mas o

fato de conhecerem os envolvidos e de certo modo terem acompanhado os

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acontecimentos os leva a fazerem suas próprias investigações e a proporem suas

próprias hipóteses para os fatos inexplicáveis que se deram.

Nesta antologia há contos em que não figuram detetives profissionais, con-

tos em que não há a presença do sobrenatural ou do fantástico e ainda contos

talvez sem a presença de ambos os elementos. Um antologista, no entanto, não

é um farmacêutico, que precisa seguir uma fórmula em termos de ingredientes

e porções. Ele se parece mais com um criador de ideogramas, querendo regis-

trar uma ideia abstrata por meio da justaposição de elementos concretos. Em

linguística, há o clássico exemplo do ideograma oriental, em que o conceito

da cor vermelha é indicado pela justaposição de quatro ideogramas menores:

“rosa”, “cereja”, “ferrugem” e “flamingo”. Vistos em conjunto, transmitem a

ideia do “vermelho”, comum aos quatro. Assim, todos os contos aqui, cada um

à sua maneira, produzem ressonâncias desse tipo e todos registram a superpo-

sição entre a investigação detetivesca e o mundo sobrenatural.

A lógica da magia

Na literatura, o mundo sobrenatural tem características do mundo real, e

uma delas é o fato de que o sobrenatural tem leis, tem lógica, tem regularidade.

O sobrenatural não é aleatório; funciona de acordo com suas próprias regras, que,

mesmo diferentes das do mundo material, são regras que não mudam. Regras

que podem ser conhecidas, estudadas e usadas em proveito de quem as estuda.

Jorge Luis Borges disse no famoso ensaio “A arte narrativa e a magia” (1932):

“[A] magia é a coroação ou o pesadelo da causalidade, e não sua contradição. O mi-

lagre não é menos forasteiro nesse universo do que no dos astrônomos. Ele é regido

por todas as leis naturais, e por outras, imaginárias.” O sobrenatural não é um caos,

pelo contrário: nele tudo acontece de acordo com um plano. São esse plano e essas

leis que os “detetives do sobrenatural” procuram entender. O que acontece naquela

casa assombrada? É a volta do espírito de uma pessoa morta? A manifestação men-

tal de uma pessoa viva? A presença de forças naturais não vivas, como um tufão ou

um terremoto? Seja o que for (e as histórias deste livro oferecem uma boa variedade

de respostas), é algo que pode ser compreendido e controlado.

Quando um detetive enfrenta o Oculto, o Estranho, ele usa em primeiro

lugar as mesmas armas dos detetives clássicos da literatura: a capacidade de ob-

servação, o olho atento para detalhes, o conhecimento da natureza humana, a

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intuição que o leva a perceber, num emaranhado de pistas, quais podem ser

descartadas desde logo e quais merecem investigação mais atenta, e assim por

diante. O processo básico é o mesmo, seja para descobrir quem matou a tiros

o dono da casa ou quem está se manifestando de forma imaterial dentro dela.

(Todo vaivém de hesitações e hipóteses que constitui o trabalho mental do de-

tetive é bem reconstituído por Dyson, de Arthur Machen, no final do conto “A

pirâmide reluzente”.) E há muitos exemplos (alguns deles incluídos aqui) em

que a investigação do Oculto acaba revelando apenas a ação humana de seres

humanos, disfarçada de “assombração” para desviar a atenção dos investigadores.

Existe uma agradável simetria no fato de o sobrenatural obedecer a leis

tão claras quanto as do mundo natural; esse agrado é maior para mentes mais

organizadas, com tendência a um certo cartesianismo. Poderíamos imaginar,

inclusive, que a oposição fundamental do Universo não se dá entre o mundo

material e o mundo espiritual. Há uma possibilidade de que o mundo obedeça

a uma ordem qualquer: se é uma ordem puramente material ou tem um lado

espiritual é uma questão posterior. Porque o que há do lado oposto é a possibi-

lidade de que não haja ordem alguma, de que tanto um quanto o outro sejam

incoerentes, desordenados, aleatórios. O maior perigo do mundo não é a exis-

tência do mal, mas a inexistência de significado. Porque, se nada faz sentido,

então nada vale a pena, e é melhor nem existirmos.

Ficção de época

Grande parte dessas histórias (e do corpo principal desse gênero literário)

foi produzida nas últimas décadas do século 19 e nas primeiras do século 20.

Era uma época em que muitas áreas do sobrenatural e do Oculto estavam co-

meçando a ser investigadas cientificamente e passavam a ser levadas a sério por

cientistas sérios, pelo menos como hipótese inicial de pesquisa.

Em 1882, foi fundada em Londres a Sociedade de Pesquisas Psíquicas (So-

ciety for Psychical Research), reunindo cientistas respeitáveis da época para

investigar fenômenos paranormais, a qual chegou a ter entre seus presidentes

o psicólogo William James e o filósofo Henri Bergson. Os estudos de Jean-

-Martin Charcot (1825-1893) sobre histeria abriram caminho para a neurolo-

gia moderna e a psicanálise de Freud; em sua própria época, deram a muitos

investigadores a sensação de que era possível descobrir, em muitas das supostas

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manifestações sobrenaturais, uma agência puramente humana, capaz de ser

detectada por métodos científicos.

O mesmerismo, o hipnotismo, o espiritismo, os casos de múltipla persona-

lidade: tudo isso era um terreno disputado entre os partidários das explicações

sobrenaturais e os cientistas de índole materialista.

O debate sobre esses temas, principalmente na Europa, alimentou uma dis-

cussão pública em que fenômenos estranhos eram checados, alternadamente,

por meio de hipóteses materialistas (de cunho psicológico) e hipóteses espiri-

tuais. E a literatura popular – com sua permanente atração pelo melodrama, a

aventura, as peripécias extraordinárias – respondeu a isso com a produção de

centenas de romances e contos sobre os detetives do Oculto.

Cabe aqui uma observação: é curioso que Conan Doyle não tenha pro-

duzido (ao que eu saiba) nenhuma história nesse subgênero. Ele criou o mais

famoso detetive de todos os tempos, Sherlock Holmes, e foi um investigador

entusiasmado (embora um tanto ingênuo e crédulo) de fenômenos extraordi-

nários, desde a mediunidade espírita até a existência de fadas. Não me lembro

de nenhum momento de sua vasta obra em que Doyle tenha reunido esses

dois universos. Há alguns contos de Holmes em que, à primeira vista, parece

que somente uma hipótese fantástica ou sobrenatural conseguirá explicar os

fatos estranhos com que o detetive se depara (“O vampiro de Sussex”, “A juba

do leão”, “O pé do diabo”, “A cara amarela” etc.), mas no final tudo volta à

fórmula básica do personagem: explicações naturais para fenômenos naturais.

Muitas histórias de detetives do sobrenatural acabam resultando em demons-

trações (puramente literárias, é claro) de que o sobrenatural não existe. O que no

início da história nos parece um evento espantoso, ao qual só cabe uma explica-

ção “do outro mundo”, finda sendo solucionado por uma mistura de maquiave-

lismo (da parte de um criminoso ou vilão), tecnologia, autossugestão. Essa tradi-

ção talvez nos venha desde os romances góticos de Ann Radcliffe (1764-1823),

principalmente Os mistérios de Udolfo (1794), em que numerosas manifestações

do Além não passam de efeitos especiais produzidos artificialmente.

Radcliffe pode ser vista como a inspiradora de uma corrente dark e melo-

dramática do romance policial, cujo principal expoente é John Dickson Carr

(ou “Carter Dickson”), que obedece à fórmula simples de “mistério aparente-

mente sobrenatural/ explicação material”. Carr tornou-se o mestre do “crime

impossível”, que parece que somente uma intervenção do sobrenatural poderia

tê-lo produzido, mas o autor sempre traz tudo de volta para o realismo.

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Temos que lembrar também que, desde o século 18, as tecnologias cênicas

do teatro e da ópera (para não falar dos espetáculos de circo) já desenvolviam

efeitos especiais que ainda hoje nos espantam. Efeitos de luz e sombra, espelhos

e falsos espelhos, alçapões, passagens secretas, móveis ou cenários com fundo

falso, uso de roldanas e guindastes disfarçados, projetores, ilusões de ótica, jo-

gos de perspectiva: tudo que podia produzir uma ilusão de realidade no palco

de um teatro poderia, em tese, ser utilizado num romance para que um perso-

nagem produzisse uma ilusão equivalente sobre outros.

Ciência e magia

Arthur C. Clarke, um dos autores de ficção científica com formação mais

sólida em ciência, afirmou certa vez que qualquer forma de ciência suficiente-

mente avançada seria indistinguível da magia. Uma pessoa desinformada vê algo

extraordinário acontecer diante dos seus olhos e chama isso de magia ou milagre,

mas alguém com mais conhecimento percebe que tudo não passa de uma utili-

zação inteligente das leis da matéria. O rádio, a TV, um simples isqueiro podem

parecer magia aos olhos de alguém que nunca teve contato com a civilização.

Nas histórias dos detetives do sobrenatural vemos o esforço de indivíduos

que, diante de fatos espantosos e inexplicáveis, insistem em afirmar que eles têm

causas que podem ser descobertas e que, muitas vezes, nada têm de espiritual.

São forças da matéria, agindo de acordo com leis ainda desconhecidas, e que po-

dem ser investigadas. Como já foi dito, mesmo o mundo sobrenatural não é um

mundo caótico; ele tem traços constantes que podem ser observados e inferidos.

Isso faz com que um detetive como o Carnacki de William H. Hodgson

procure armar-se de apetrechos tecnológicos (câmera fotográfica, gravador

etc.) junto aos seus recursos ocultistas. A crítica já identificou a influência que

ele teve sobre H. P. Lovecraft, por meio da menção indireta, de passagem, a

livros e rituais sobre os quais ele dá poucas informações, mas que aludem a

um universo de informações inquietante e misterioso. Carnacki recorre a uma

intrincada e semioculta mitologia de rituais, inscrições, invocações mágicas,

que o ajudam a lidar com o sobrenatural: “o manuscrito Sigsand”, “o Pentáculo

Elétrico”, “o ritual Saaamaaa”, “o encantamento de Raaaee” etc., sugerindo um

panteão obscuro de criaturas e forças astrais. Lovecraft, em seu clássico ensaio

“O horror sobrenatural na literatura”, afirmou sobre Hodgson:

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Poucos são capazes de igualá-lo na arte de sugerir a proximidade de forças sem-

-nome e de monstruosas e ameaçadoras entidades, através de sugestões casuais

e detalhes insignificantes, ou em provocar a sensação do espectral e do anormal

em conjunção com regiões ou edifícios.

Esses detetives concentram em suas histórias a “indecisão todoroviana”,

formulada por Tzvetan Todorov em sua Introdução à literatura fantástica: a

narrativa fantástica é aquela em que há uma indefinição constante entre a pos-

sibilidade de uma explicação material e uma explicação sobrenatural para os

fatos relatados. Os casos que Carnacki desvenda são, em proporção igual, his-

tórias de influências sobrenaturais (Hodgson descreve muitíssimo bem esses

confrontos com forças titânicas, malignas, inexplicáveis) e histórias de esperta-

lhões ou gângsteres fingindo a presença de fantasmas numa casa para alcançar

seus objetivos. 

Detetives de hoje

Os autores mais recentes desta antologia ilustram diferentes tratamentos que o

tema tem recebido nas últimas décadas. A atualidade e a capacidade de renovação

do tema se demonstram por meio do sucesso de séries cinematográficas (Ghostbus-

ters ou Os caça-fantasmas, em português) ou televisivas (Arquivo X).

No conto de J. G. Ballard, a presença do sobrenatural é rastreada através

de obras de arte. Em vez de casas mal-assombradas, o que temos são quadros

mal-assombrados, revelando, para quem tiver “olho clínico”, interferências

insólitas no mundo real, no passado, que estavam à vista de todos mas não

haviam sido percebidas. O conto faz parte de uma longa série de histórias em

que Ballard reflete sobre temas como realidade e simulacro, bem como o papel

da arte no mundo futuro. Sua obra é uma das poucas, na ficção científica, em

que a arte e os artistas ocupam uma posição central. E o modo personalista e

pouco convencional com que ele emprega os clichês da ficção científica dá aos

seus contos uma imprevisibilidade constante.

No conto de Greg Egan, tanto o detetive quanto a criatura aparentemente

sobrenatural surgem no contexto de uma ciência futurista, altamente especu-

lativa, mas não impossível. Um dos talentos de Egan é o de, num único pará-

grafo, tornar plausível uma tecnologia futurista das mais bizarras e rebuscadas;

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ele a explica tão logicamente que ela parece quase inevitável. Porém, mais do

que na ciência, é na arte (como no conto de Ballard) que ele vai buscar sua

matéria. O que será a arte do futuro? Que tecnologias e que fortunas terá

ao seu dispor? De que sofismas conceituais se valerá para zerar o jogo? Que

efeitos alguém irá considerar artísticos no futuro? Ao contrário da ciência,

que tem certa tendência centrípeta de se organizar em padrões de coerência, a

arte parece ser um universo gasoso, expansivo, turbilhonante. E se o objetivo

final, escatológico, apocalíptico da ciência fosse materializar todas as coisas

imaginadas pela arte?

Neil Gaiman, no seu conto premiado “Um estudo em esmeralda” (ganha-

dor do Prêmio Hugo e do Prêmio Locus), faz uma das paródias mais divertidas,

em tempos recentes, do cânone sherlockiano, misturando-o ao cânone de H. P.

Lovecraft. A sua Inglaterra, onde existe um pacto entre a rainha Vitória e o alie-

nígena Cthulhu, é uma síntese divertida e cheia de surpresas desses dois uni-

versos literários aparentemente incompatíveis – o detetivesco e o sobrenatural.

“A carícia” é um conto de investigação policial em que, à maneira moderna

(e ao contrário da tradição de detetives como Carnacki, Dr. Taverner etc.), o

detetive não é alguém intocado pela história; pelo contrário, deixa-se envolver

por ela. O detetive tradicional seguia uma fórmula que Raymond Chandler

tentou sintetizar assim, numa carta de 1949 a James Sandoe:

O detetive existe inteiro e completo e intocado por tudo que acontece; ele está,

na qualidade de detetive, do lado de fora da história e acima dela. É por isso

que ele nunca conquista a garota, nunca se casa, nunca tem uma vida pessoal de

verdade, exceto na medida em que precisa comer, dormir e ter um lugar onde

guardar suas roupas.

Por maior que seja a grandeza de Philip Marlowe (o detetive criado por

Chandler), os detetives de hoje são personagens tão vulneráveis aos aconteci-

mentos da história como qualquer um dos demais. E, tanto quanto o detetive,

os personagens clichê do sobrenatural têm mudado: o mesmerista, o médium,

o sensitivo, o rabdomante, o hipnotizador, o aplicador de mãos, o clarividente,

todas essas atividades recebem novos rótulos, novas definições, e se organizam

de uma maneira diferente. Os físicos do começo do século 21 acham que o

mundo material é em última análise ambivalente, contraditório, instável; e

os investigadores do mundo sobrenatural dizem a mesma coisa sobre o que

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pesquisam. Não é impossível que os dois mundos sejam um só. E é necessário

um grupo de investigadores que parta na frente a dez quilômetros por hora,

enquanto o outro fica atrás, confirmando tudo e tirando a prova, mesmo que

só avance um metro por dia.

Nada parece mais dispensável, em qualquer trabalho de compilação, do que

os rotineiros protestos do autor garantindo que “não quis esgotar o assunto”.

Minha intenção foi encontrar um equilíbrio entre os detetives do Oculto

tradicionais e alguns exemplares recentes (e diferentes) do gênero, represen-

tados aqui pelos contos de Egan e Ballard. Alguns contos desta antologia

estavam em domínio público, e da longa lista inicial muitos deixaram de

ser incluídos pela impossibilidade de se liberar ou negociar os direitos com

os agentes desses autores. Somente por isso estão ausentes desta antologia

detetives como John Silence (de Algernon Blackwood), Jules de Grandin (de

Seabury Quinn), Lord Darcy (de Randall Garrett), Solar Pons (de August

Derleth), entre outros.

O leitor que quiser se aprofundar nesse tema poderá consultar, além dos

livros indicados na Bibliografia, websites como A Guide to Supernatural Fiction

(http://homepages.pavilion.co.uk/users/tartarus/database.htm, consultado em

24/3/2014), e a lista de detetives do Oculto, por ordem cronológica, compila-

da por Tim Prasil (http://timprasil.wordpress.com/a-chronological-bibliogra-

phy-of-early-occult-detectives/, consultado em 24/3/2014).

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