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UM CANAL DE RELACIONAMENTO COM O CONSUMIDOR: A gestão de conteúdo nas redes sociais na perspectiva da Agência Paim Eduarda Frantz Lehn 1 Valéria Deluca Soares 2 INTRODUÇÃO A comunicação é um processo básico e por isso, está presente em todas as ações, estruturas e dimensões da sociedade. Ela é primordial em todos os aspectos e deve ser elaborada e adequada para o sucesso nas relações entre diferentes públicos nas mais diversas situações. O crescimento do marketing digital aumentou a necessidade da agência Paim possuir um setor focado na geração de conteúdo. Desta forma, as estratégias de mídia digital utilizadas se tornaram peças-chave para grandes clientes. Com a evolução da chamada Web 2.0, compreendida como a evolução da 1 Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Metodista – IPA. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Comunicação Social. Orientadora deste artigo, docente do curso de Publicidade e Propaganda. E-mail: [email protected] internet convencional, esta considerada estática, a relação dos consumidores com as marcas mudou, passando a ser mais interativa e não apenas reativa. Sendo assim, considerando-se que o campo da comunicação também evoluiu nas suas possibilidades e formatos no meio digital. Contemporaneamente, estabelece-se um cenário no qual as empresas se dedicam a trabalhar cada vez mais complexamente o conceito de gestão de conteúdo da imagem das marcas nas redes sociais virtuais. Uma das grandes questões que se colocam sobre a prática publicitária é seu papel diante de tantas transformações sociais. Se estas mudanças impactaram com tanta força o cliente, seus hábitos e modos de consumo, é inevitável que se pense sobre o novo consumidor à frente dos processos. As agências tradicionais notam que as agências digitais começam a crescer em tamanho e faturamento, 43

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UM CANAL DE RELACIONAMENTO COM O CONSUMIDOR: A gestão de conteúdo nas redes sociais na

perspectiva da Agência Paim

Eduarda Frantz Lehn1

Valéria Deluca Soares2

INTRODUÇÃO

A comunicação é um processo básico e por isso, está presente

em todas as ações, estruturas e dimensões da sociedade. Ela é primordial em todos os aspectos e deve ser elaborada e adequada para o sucesso nas relações entre diferentes públicos nas mais diversas situações. O crescimento do marketing digital aumentou a necessidade da agência Paim possuir um setor focado na geração de conteúdo. Desta forma, as estratégias de mídia digital utilizadas se tornaram peças-chave para grandes clientes.

Com a evolução da chamada Web 2.0, compreendida como a evolução da

1 Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Metodista – IPA. E-mail: [email protected]

2 Doutora em Comunicação Social. Orientadora deste artigo, docente do curso de Publicidade e Propaganda. E-mail: [email protected]

internet convencional, esta considerada estática, a relação dos consumidores com as marcas mudou, passando a ser mais interativa e não apenas reativa. Sendo assim, considerando-se que o campo da comunicação também evoluiu nas suas possibilidades e formatos no meio digital. Contemporaneamente, estabelece-se um cenário no qual as empresas se dedicam a trabalhar cada vez mais complexamente o conceito de gestão de conteúdo da imagem das marcas nas redes sociais virtuais.

Uma das grandes questões que se colocam sobre a prática publicitária é seu papel diante de tantas transformações sociais. Se estas mudanças impactaram com tanta força o cliente, seus hábitos e modos de consumo, é inevitável que se pense sobre o novo consumidor à frente dos processos. As agências tradicionais notam que as agências digitais começam a crescer em tamanho e faturamento,

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elas começam a se consolidar como estruturas de pensamento estratégico de comunicação digital.

A gestão de conteúdo de marca, que na maioria das vezes é do tipo colaborativo – devido a permanente interação com os diferentes públicos, entre eles o consumidor, constituiu-se como um processo de comunicação que implica em muitos emissores, muitos receptores e um intercâmbio de informação muito intenso e em alta velocidade. Este tipo de gestão propõe a intensa colaboração entre a marca e seus consumidores, incentivando o diálogo aberto, franco e especialmente espontâneo. Exige-se assim que as empresas ouçam e conversem full time com os seus consumidores, disponibilizando ou localizando canais onde possam expor suas opiniões no momento em que desejam, discutindo com os demais interessados acerca da marca. É desta maneira que os consumidores podem ajudar – ou melhor dizendo, colaborar – com as empresas na construção ou fortalecimento da imagem de uma marca e dos seus produtos.

Este assunto não é completamente novo, mas está a cada dia mais presente nas discussões das agências de publicidade: trata-se do valor do conteúdo e de como os novos profissionais deverão estar preparados para administrar essa dimensão com qualificação, conhecimento e capacidade. A maior novidade percebida em todo processo é o público consumidor, que assume seu lugar na interação, apoiando

causas e comprando, muito mais do que produtos, comprando ideias.

Sendo assim, este artigo tem como objetivo verificar as estratégias que a agência de Publicidade Paim Comunicação utiliza para gerar conteúdo nas redes sociais digitais. O estudo das redes sociais vem conquistando mais adeptos nos últimos anos, assim como pesquisas que sugerem que as mesmas influenciam no comportamento da marca-cliente.

Desta forma, deve-se considerar dois fatores de suma importância para tornar a relação dos consumidores com as marcas mais dinâmica: a evolução da web, hoje web 2.0 e as suas redes sociais virtuais. É neste sentido que o presente trabalho parte da hipótese inicial de pesquisa de que os consumidores relacionam-se melhor, mais profunda e positivamente com as marcas por meio de redes sociais, onde possam gerar conteúdo de forma mais livre e descentralizada. Este entendimento pode fornecer dados para pesquisas futuras e também para direcionar estratégias de marketing digital e engajamento nas redes sociais aos profissionais.

Assim, trata-se de uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, com o uso das técnicas de pesquisa bibliográfica e entrevistas. A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, se preocupando com os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando na compreensão da dinâmica das relações sociais.

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A ESTRUTURA BÁSICA DA AGÊNCIA DE PROPAGANDA

Segundo Peppers e Rogers (2000 apud ZENONE, 2011, p. 156), a maior vantagem competitiva de uma empresa é possuir informações sobre seus clientes, transformando este conhecimento em ação. No século XX, o sucesso de uma empresa dependia apenas de um bom produto, porém com a era da interatividade, o produto não é o principal em uma empresa e sim os seus clientes. Com base nesta afirmação, as empresas buscam técnicas de marketing integradas e tecnologia para a efetividade do relacionamento com o cliente (ZENONE, 2011).

Para Sant’Anna (2005), a agência de propaganda é a soma dos talentos no serviço prestado ao cliente, seja na criação, arte, mídia, planejamento, pesquisa e administração e suas funções são essencialmente aconselhar e assistir o cliente nos problemas de publicidade, promoção de vendas e relações públicas. Enfatiza ainda que a função principal é garantir ao máximo a eficiência e

rendimento das campanhas realizadas. Para isso, a agência deve acompanhar as atividades do cliente em todas as pesquisas recomendadas para conhecer as possibilidades de um produto até o controle final dos resultados de campanha.

De acordo com Corrêa (2013), como pode ser verificado na Tabela 1, o entendimento do funcionamento de uma agência de propaganda pelo cliente é muito importante para o melhor andamento na prestação de serviços. Uma agência é formada por três grandes grupos: básicos (gerência, administração, finanças, atendimento, mídia, criação, produção e tráfego), apoio que auxilia os departamentos básicos para o melhorar o desenvolvimento de suas funções (pesquisa de mídia, assessoria jurídica, informática, e outros) e os setores operacionais que servem para aperfeiçoar os serviços prestados aos clientes (promoção de vendas, merchandising, relações públicas, assessoria de imprensa, web design, etc.), sendo estas áreas variáveis conforme o faturamento e tamanho da agência.

Tabela 1 - Setores operacionais e de apoio da agência de propagandaSetores operacionais e de apoio da agência de propaganda

Operacionais Apoio OpcionaisGerênciaAdministraçãoFinanceiroAtendimentoCriaçãoProdução MídiaTráfego

Pesquisa de mercadoPesquisa de comunicaçãoPesquisa de mídiaCentro de informaçõesInformáticaAssessoria jurídicaLobby governamental

Promoção de vendas e merchandising Relações Públicas Assessoria de imprensa Eventos Web design DataBase Marketing

Fonte: Corrêa (2013).

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Em suma, para Zenone (2011), a agência de propaganda nada mais é o que liga o anunciante ao cliente fazendo isso através de comunicação e interatividade. Independentemente do tamanho da conta-cliente o esperado é que ela cumpra sua função planejando mídias eficientes.

GESTÃO DE CONTEÚDO: MARKETING DIGITAL

Rez (2016) conceitua a estratégia de conteúdo sendo a prática de planejar, criar, entregar e gerenciar conteúdo significativo ao público alvo. Este conteúdo pode ser entregue ao consumidor de forma online, através de sites, blogs, redes sociais e outros diversos canais.

Para Longo (2014), a revolução acontece quando a sociedade adota novos comportamentos e não novas ferramentas. A tecnologia digital criou um mundo onde não existe mais fronteira entre a era digital e o mundo real, entre o online e off-line, tornando tudo uma coisa só. A medida que as mídias sociais se tornam mais importantes, os consumidores podem influenciar outros clientes potenciais com sua experiência de consumo (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010).

Complementando ainda a visão de Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), a existência de clientes colaborativos afetou o mundo dos negócios, visto que atualmente os profissionais de marketing não possuem total controle sobre as marcas gerenciadas pois, eles competem

com o poder coletivo dos consumidores. Ellwood (2004) explica que uma das maiores vantagens de ter sua marca na web é pela sua capacidade de interação, pois ela pode melhorar a impressão do cliente sobre o valor da marca.

De acordo com Rez (2016), a estratégia de conteúdo é um plano de ação muito bem articulado, possível de ser executado, levando para onde se quer chegar. Para que uma agência atinja seus objetivos, a estratégia de conteúdo tem que estar incluída no planejamento do marketing. Para isso, o autor divide a estratégia de conteúdo em três partes: criação, entrega e gestão de marcas.

A criação, define o formato do conteúdo a ser produzido, publicado e o motivo pelo qual o mesmo foi criado; a estrutura do conteúdo é como o consumidor poderá encontrá-lo (canais de distribuição e divulgação). A entrega estabelece onde, quando e como o cliente pode acessar o conteúdo, processo esse gerenciado pelo gestor ou editor da área. A gestão cuida da produção depois do lançamento, cuidando do tempo e disponibilidade do arquivo, divulgações e planos de atualizações (REZ, 2016).

Rez (2016) complementa que o objetivo da estratégia de conteúdo é atingir as metas do negócio, visando maximizar o impacto deste conteúdo dentro dos canais digitais. O autor acredita que a estratégia de conteúdo não significa produzir diversos conteúdos sobre vários assuntos distintos e sim, é essencial seguir um roteiro e focar em um único universo, desta forma o

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profissional necessita não apenas criar e usar ferramentas, mas conhecer o que está por trás do conteúdo a ser criado.

Longo (2014) acrescenta que a internet foi criada como camadas, primeiro vieram as mídias sociais, depois os protocolos, após os aplicativos, conteúdos e o social. O conteúdo foi gerado de maneira espontânea e o social fez com que esse novo sistema atingisse uma grande dimensão e alcance. De acordo com Rez (2016), ampliar o alcance do conteúdo gerado garantindo maior visibilidade e conversões é a melhor estratégia a ser utilizada. Rez (2016, p. 203) ainda destaca: “Crie uma vez, divulgue em todos os lugares possíveis”.

Rez (2016) destaca sua admiração com a capacidade dos jornalistas em escrever sobre os mais variados assuntos de forma bem consistente, contínua e convincente. Segundo o autor, estes três adjetivos são fundamentais numa estratégia de conteúdo, são pilares que formam uma base sólida para gerar os resultados propostos, denominados os 3C’s do conteúdo, sendo: Contínuo, tem como objetivo conectar a marca com o consumidor, e para isso é preciso que o conteúdo seja delineado, não precisando ser diário, mas com uma programação semanal, mensal e com uma frequência programada, caso contrário a marca provocará uma sensação de abandono em seus consumidores; Consistente, é o fundamento que cria a percepção do cliente, quando a marca cria um conteúdo consistente, fazendo sentido para quem produz e também para quem lê, cria-se uma troca de informações e assim

começa a fluir e o consumidor sente falta do conteúdo quando não publicado, o objetivo de todos os produtores é saber que seu público nota a falta de interação; e por último, Convincente, que significa argumentar de forma para que o consumidor adote seu ponto de vista, quando se representa uma marca, faz-se necessário estar ciente dos seus valores e princípios, fazendo isso de maneira eficiente e criativa a fim de atingir o diferencial de ter ótimos conteúdos. Este conjunto de C’s é chamado do tríade de conteúdo (REZ, 2016).

WEB 2.0Lévy (1999 p. 11) define que a

internet vem ocupando um espaço cada vez mais significativo tanto na vida pessoal quanto nas organizações, “estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano”.

Diferentemente da web estática, onde o nome já diz muito a seu respeito, pois havia pouca forma de interação devido às limitações de suas configurações, a 2.0 torna possível o acesso do conteúdo em todo o lugar e a todo o momento. Com o desenvolvimento dos sites em Flash, a web 2.0 proporciona maior interatividade com o usuário. Assim como a web estática se transformou em 2.0, um outro fator muito interessante a analisar é o de que as ideias têm um prazo de validade muito curto, pois atualmente já se fala em web 3.0 ou web semântica.

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Segundo Primo (2007), o termo web 2.0 se originou em 2004 e caracteriza-se por ser uma segunda geração de serviços online que visa potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo. A web 2.0 também tem efeitos sociais importantes, como destaca o autor, visto que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática. Para contextualizar o consumidor da web 2.0, tornou-se necessário identificar o cenário em que se encontra a Internet nos dias de hoje. Considerando que no ciberespaço tudo ocorre de maneira dinâmica e em constante mutação, pois as informações são alteradas em tempo real, deve-se levar em consideração os fatores que delineiam esse espaço virtual.

Atualmente se tem observado uma mudança impactante no que diz respeito ao comportamento do consumidor no momento de se relacionar com as marcas. Para McKenna (1998, p. 51), “as expectativas cada vez maiores do consumidor afinado com a tecnologia podem ganhar impulso à medida que a infraestrutura eletrônica possibilita interatividade entre produtores e consumidores e a dissemine”. O autor propõe ainda, que esse novo modelo de marketing revela uma mudança no relacionamento com os clientes: a

troca do monólogo (da empresa para o consumidor) pelo diálogo (entre empresa e consumidor). É deste diálogo estreito entre os consumidores e as empresas que é criada a lealdade à marca.

REDES SOCIAISPara Wasserman e Faust (1994),

as redes sociais são maneiras de compreender e analisar como as pessoas se relacionam e se organizam em determinado grupo social. Para eles, uma rede social se divide em duas partes: os atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas relações, que são entendidas como a forma como as pessoas se conectam umas com as outras e agem dentro da rede social. Sgaria (2009) explica que redes sociais são antes de mais nada relações entre pessoas que podem estar interagindo em causa própria, em defesa de uma organização ou até mesmo de outra pessoa. Cita também que nas redes sociais atuais as pessoas tendem a se relacionar por afinidade, podendo mudar de opinião com o passar do tempo.

As redes sociais são constituídas por dois elementos fundamentais, a sua estrutura e a sua organização. Assim, Recuero (2005, p. 05) observa que: “Consideramos que a estrutura é aquilo que um grupo social tem de mais permanente, ou seja, implica em uma certa sedimentação dos modos de agir e das relações sociais”. Já a organização trabalha com as relações de um modo geral, ou seja, o conjunto de elementos que faz parte da estrutura. Essas relações constituem-se na substância do extrato

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social. A estrutura, ao contrário, constitui-se naquilo que uma determinada sociedade possui para que seja considerada como tal.

Porém, há mais um elemento a ser estudado nas redes sociais, a dinâmica de como elas acontecem na variável do tempo. Recuero (2005), ressalta que as redes sociais mudam e se adaptam com o passar do tempo, além de adquirirem muitas de suas características da energia do ambiente em que estão interagindo. Neste contexto, vale a pena ressaltar também que estamos falando de uma relação que acontece através do ciberespaço, onde o contato é feito através de um smartphone. Além disso é importante enfatizar que a interação social, de suas diferentes maneiras, influenciam seus grupos pela forma dinâmica como se dá o contato.

A INTERATIVIDADEPara Lèvy (1999), o que caracteriza

interatividade é a possibilidade, crescente com a evolução dos dispositivos técnicos, de transformar os envolvidos na comunicação, simultaneamente, em emissores e receptores da mensagem. Também ressalta que a real importância para o processo interativo da internet e das redes são os próprios usuários, tendo em vista que quando se fala de interatividade, a primeira referência percebida é sobre a potência do computador e de seus processos automatizados.

Já Primo (2000) estabelece que o conceito de interatividade está baseada na diferenciação do que é interativo e o que é reativo. Um sistema interativo

trabalha com a autonomia, enquanto um sistema reativo trabalha com um grupo de possibilidades de escolhas. No caso de um sistema interativo, pode-se dizer que existe um diálogo, a comunicação está fundada na troca. Assim, uma relação reativa não pode ser entendida como interativa. Partindo desses conceitos de interativo e reativo, o autor apresenta dois tipos de interação: mútua e reativa.

Uma interação mútua caracteriza-se pela conexão dos sistemas envolvidos, possibilitando às relações aí construídas uma transformação permanente, não sendo a soma de várias ações individuais. Na interação mútua, o foco está no relacionamento estabelecido e não em algum participante específico. A interação reativa caracteriza-se por ser um sistema fechado, com relações lineares e unilaterais que se resumem à relação estímulo-resposta (PRIMO, 2000).

Rez (2016) destaca que por anos o marketing e a publicidade foram usados erroneamente, de forma superficial, acreditando-se que slogans, comerciais, e designs de altíssima qualidade e superfaturados eram a solução. Não se pensava em confiança e troca de ideias com o consumidor. A ideia era se sobressair de forma influente sobre os demais. Porém, o consumidor mudou e a forma como falar com o cliente em potencial também. Atualmente, o marketing faz a transição e o discurso para o diálogo é uma relação de troca entre a empresa e o consumidor.

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A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NA REDES PELA AGÊNCIA PAIM COMUNICAÇÃO

A Agência Paim Comunicação, localizada em Porto Alegre, no bairro Auxiliadora, foi a primeira agência do Brasil a trabalhar com remuneração por resultados, é uma das maiores em seu segmento no Estado, com mais de 25 anos de atuação. A Paim é uma agência que opera nacionalmente. Possui cerca de 110 colaboradores e clientes como: Lojas Renner, Camicado, Ambev, e tem mais de 20 operações do grupo BRMalls, Tim, entre outros. A agência conta com atuação nacional, com clientes espalhados por todo o Brasil, porém a maioria deles estão localizados na mesma cidade da matriz, em Porto Alegre.

Com o varejo em seu DNA, a Paim comunicação atua com grandes clientes varejistas há mais de 15 anos e em função disso já recebeu diversos prêmios, inclusive nacionais. Com sócios na área de criação, planejamento e atendimento, a Paim conta com um novo ambiente de experimentação no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS – Pontifícia Universidade Católica, o Tecnopuc3, em Porto Alegre. O PaimLab é o primeiro laboratório de uma agência de comunicação a se instalar no local, e estará mergulhado na atmosfera de estímulo à pesquisa, inovação e empreendedorismo.

Feita tal apresentação breve da agência, destaca-se que foram

3 Parque Científico e Tecnológico da PUCRS. Para saber mais: http://www.pucrs.br/tecnopuc

entrevistados três colaboradores da Agência de Publicidade Paim Comunicação, que trabalham no setor de geração de conteúdo da conta do cliente Lojas Renner. Estas entrevistas foram realizadas pessoalmente, entre os dias 27 de novembro à 1 de dezembro de 2017. Foi utilizado um roteiro contendo sete perguntas relacionadas às estratégias que são utilizadas para gerar conteúdo para grandes contas dentro da agência.

Primeiramente, foi questionado aos entrevistados se eles consideram as redes sociais aliadas das grandes marcas e estes apresentaram respostas semelhantes, explicando que as redes sociais são grandes aliadas de qualquer marca, independente do porte desde que seja utilizada de maneira adequada, pois cada marca tem uma linguagem diferente. Ressaltaram também sobre a praticidade, velocidade e a forma orgânica como as redes sociais funcionam, algo que é positivo para conectar as marcas aos clientes, alinhando-se com o exposto por Rez (2016).

Sobre o melhor horário para postagens nas redes sociais em seu segmento, dois participantes mencionaram que não existe uma melhor hora, mas que é importante se basear no comportamento do público em questão e qual rede social está sendo utilizada. Rez (2016) também lembra que cada marca deve falar diretamente para seu consumidor em potencial, tornando as postagens mais focadas e consequentemente mais interativas com o seu público-alvo. A outra entrevistada salientou que o melhor horário para postagens é ou às 12h ou às 21h, considerados horários de pico

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das redes sociais, devido ao intenso fluxo destes horários.

Referente ao número de postagens diárias que uma grande marca deve fazer para ter visibilidade nas mídias sociais, as três entrevistadas reforçam que uma por dia já é suficiente, pois assim a marca terá uma visibilidade constante e os consumidores vão aos poucos, associando o conteúdo à marca. Rez (2016) acredita que as publicações não necessitam ser diárias, elas podem ser semanais, mensais desde que tenham uma frequência programada e contínua, indo ao encontro da coleta de campo.

Para alavancar as vendas a partir do marketing digital, a partir das estratégias utilizadas pela Agência Paim Comunicação, as entrevistadas acreditam que o principal norteador para a criação de conteúdo é a inovação. Ponderam que existe uma grande quantidade de conteúdo sendo gerado nas redes, o tempo inteiro, então entendem que a inovação seja uma das maneiras de se diferenciar diante das demais, com novos formatos e jeitos de contar o que a marca quer passar. Porém uma das entrevistadas, destacou que por mais óbvio que pareça, outra estratégia é conhecer o seu público e saber o que ele quer ler e ver, e assim produzir um conteúdo relevante para que os consumidores se identifiquem com a marca. Acredita-se que atualmente as marcas não explicam mais como utilizar e para que servem os produtos e serviços oferecidos. Reforçando este pensamento cabe lembrar que as blogueiras estão assumindo este papel, o que gera um desafio ainda maior para as marcas

gerarem um conteúdo frequente e com relevância.

No que tange à repetição, variação e animação, estes que são alguns dos atributos utilizados nas estratégias para a geração de conteúdo. Em ordem de importância, questionou-se qual a categoria mais relevante na opinião das entrevistadas. As três entrevistadas responderam as categorias no mesmo grau de importância, sendo elas: variação, animação e repetição, pois entendem a necessidade de inovar, variar e entregar um conteúdo diferenciado ao cliente (empresa contratante do serviço) e ao consumidor. É importante mostrar para os fãs da marca que a mesma está sempre atenta ao que está acontecendo, no caso das colaboradoras, dentro do mundo da moda, pois assim, é mais fácil se diferenciar em meio a tanto conteúdo que é produzido.

As entrevistadas foram convidadas a analisar o consumidor da web 2.0. Destacaram que além de se reinventar, precisam compreender que as redes sociais facilitam a decisão de compra e instigam o desejo do consumidor. Uma das entrevistadas destacou novamente a questão de precisar inovar sempre, pois assim provoca a vontade e curiosidade do consumidor em voltar a procurar o perfil daquela marca. Outra disse que na web tudo é muito rápido e por isso, é preciso alinhar a comunicação com o público e sempre oferecer produtos que estão disponíveis no e-commerce, por exemplo. Na maioria das vezes, clientes desejam tal produto devido à estratégia de geração por trás dele, utilizar uma

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boa e adequada linguagem faz com que o cliente se sinta íntimo ao consumir a marca. Limeira (2007) destaca que confiar na marca e no que está sendo oferecido é um fator indispensável para viabilizar relações de troca com o consumidor, em especial na internet. As empresas devem ser capazes de criar um sólido sentimento de confiança com seu público.

As entrevistadas salientaram quais as estratégias utilizadas na agência Paim que despertam o foco em um novo tipo de geração de conteúdo. Elas são baseadas nas estratégias que valorizam o consumidor. Duas das entrevistadas ainda acreditam que a maior estratégia é conhecer o consumidor, pois, cada vez mais, as marcas estão percebendo que para uma boa aceitação da web é importante gerar um conteúdo de qualidade que faça o cliente se identificar com a marca. Ressaltaram que o principal objetivo das marcas nas redes sociais ainda é vender, mas isso não exclui o fato dessas marcas precisarem ser mais reais, mais humanas e representativas. Uma das entrevistadas respondeu que as principais estratégias ao seu ver são: inovação e serviço, pois assim é possível gerar um conteúdo interessante e, ao mesmo tempo, que seja útil para o usuário. Rez (2016) observa que no caso do marketing de conteúdo, as vendas precisam acontecer naturalmente. Esse é o caminho para o cliente ganhar confiança na marca, entregando um conteúdo eficiente, interessante e atraente ao consumidor final.

Com base nas teorias de Primo (2000), é importante ressaltar que a interatividade está baseada na diferenciação do que é interativo, ou seja, a comunicação está baseada na troca, entre a marca e o consumidor e com isso as marcas precisam se readaptar às inovações propostas no meio digital. Neste contexto, foi possível verificar as estratégias utilizadas para a geração de conteúdo online nas mídias digitais e podemos ressaltar que as mais relevantes são: planejamento e inovação, além do uso de uma linguagem adequada ao cliente. Entende-se que o engajamento do consumidor perante as grandes contas da agência que os entrevistados trabalham, foi crescente após a implementação de um setor especializado no assunto em questão.

Longo (2014) complementa que a revolução tecnológica acontece quando os consumidores passaram a adotar novos comportamentos e não novas ferramentas, pois a tecnologia criou um mundo onde não existe barreiras entre o digital e o mundo real, entre o online e o off-line. A medida que as mídias sociais ganham importância, os consumidores podem influenciar outros clientes em potencial com sua experiência de consumo (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010), a famosa mídia buzz, o boca a boca. Por se tratar de mídias digitais de baixo custo, são elas o futuro da comunicação digital. CONCLUSÃO

As redes sociais digitais trouxeram consigo uma nova forma de transmitir

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informação e conteúdo. Com isso, inúmeras formas de comunicação direta com o consumidor, com o crescimento do marketing digital e a presença cada vez maior de grandes e pequenas empresas na internet fez com que a geração de conteúdo se adaptasse criando novas estratégias para garantir o sucesso online e engajamento com os consumidores. Sabe-se que cada rede social possui suas particularidades e o público de cada uma delas é diferente. Por este motivo, é essencial que o setor de conteúdo das agências de publicidade se baseiem em estratégias organizadas e estruturadas para gerar resultados positivos.

Com base na pesquisa bibliográfica e nas respostas coletadas por meio de entrevista, foi possível alcançar o objetivo geral da pesquisa, verificar as estratégias que a agência Paim Comunicação utiliza para gerar conteúdo nas redes sociais digitais. As respostas concedidas pelos três entrevistados confirmaram a hipótese de que o engajamento do consumidor perante as grandes marcas nas mídias digitais, que são ferramentas de informação em tempo real, foi crescente depois que o setor de conteúdo foi implantado na agência gaúcha. Foi identificado, a partir das respostas, que as principais teorias da web 2.0, da interatividade e do planejamento baseado nas estratégias de marketing digital são consideradas nas práticas da agência em estudo.

Foi possível entender melhor o papel das redes sociais para as empresas, sendo de extrema importância no momento atual, onde os consumidores desejam marcas interativas e mais humanizadas, pois

quando se tem poucos segundos para chamar atenção dos clientes de forma orgânica, a possibilidade de conectá-los diretamente desperta o interesse do consumidor. Atualmente, os clientes seguem as contas comerciais para obter conteúdo de qualidade e mais do que comprar, eles buscam se identificar com a marca com postagens inovadoras e representativas quanto aos valores e princípios de cada espectador.

Ficou evidente que as redes sociais vem se tornando o meio de comunicação mais eficaz quando se trata de uma linguagem dinâmica e direta com o consumidor, por estar presente diariamente na vida desse público. As marcas tiveram que se adaptar às inovações propostas pelas redes sociais, quase que em tempo real e com todo o tipo de informação e conteúdo. Isso gera comodidade para o consumidor ao poder visualizar tudo que elas oferecem na palma de mão, através de aplicativos, sites e principalmente redes sociais, que são acessadas com mais frequência.

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