Um Google para a Previdência Complementar

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UM GOOGLE PARA A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Por Eliane Miraglia MAIO DE 2011 “Os poetas acreditam no poder da linguagem e sabem que é nela que começa o mundo”. Rubem Alves Conhecimento é das poucas coisas da vida que, dividindo, multiplica. A coisa parece simples. Mas nem sempre funciona. Primeiro, porque você precisa ter disposição. Depois, um pouco de tempo. E o mais importante: pessoas com vontade de aprender, evoluir, crescer. Conhecimento só faz sentido para as pessoas. Os mundos vegetal, mineral e animal são indiferentes a isso. Disposição é um componente importante. Você depende dela para ativar um estado de atenção permanente, que pesquise, investigue, descubra, associe, articule, combine novas informações, dados para transformar matéria bruta por meio de seus relacionamentos prováveis e possíveis, porém imprevisíveis. A surpresa faz parte dessa história, para desencadear novos significados sensoriais. Tempo é outra necessidade. Se você não dispõe de tempo para se dedicar minimamente ao conhecimento, será difícil, mesmo que intuitivamente, proporcionar condições para uma nova aprendizagem. E, claro, pessoas. São fundamentais! A matéria bruta precisa ser submetida a diferentes processos de transformação. Areia e calor geram vidro. Carbono e calor viram diamante. Metais e calor viram aço. Mas tudo precisa ser polido, tratado, trabalhado. O mesmo acontece com as idéias. Elas nascem em estado bruto, precisam de expressão adequada para se transformarem em realidade. E depois, de pessoas, para transformarem a realidade. Um Google só para Educação Previdenciária Há algum tempo critico os simuladores de planos previdenciários. Quase sempre, são baseados no conceito de planilha Excel. Desconheço outro modelo. As projeções aliam as variáveis ou as chamadas premissas atuariais: idade, valor investido, tempo de investimento e remuneração do capital. Trata-se, evidentemente, de uma construção linear que mostram o crescimento do dinheiro. Só que, como ensinou Fernando Pessoa, “viver não é preciso”. E os simuladores deixam de mostrar uma multiplicidade de aspectos que fazem da vida de cada um de nós uma realidade multidimensional. E perdem muito, comparados aos jogos eletrônicos que as crianças e jovens atordoam pais e fazem qualquer sacrifício para obter. Simuladores não dão prazer na experiência de uso. Jogos eletrônicos mostram que a vida é um desfio de muitas etapas. E tem mais: formam cultura. A Nintendo, desde 1889 1 , quando foi 1 SAKURAI, C. Os japoneses. Editora Contexto, São Paulo, 2007. P.339

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Artigo que eu escrevi sobre uma ideia de Lucas Silveira, da PUC/SP. Trata de recursos tecnológicos para a expansão do conceito de Educação Previdenciária.

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UM GOOGLE PARA A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Por Eliane Miraglia • MAIO DE 2011

“Os poetas acreditam no poder da linguagem e sabem que é nela que começa o mundo”. Rubem Alves

Conhecimento é das poucas coisas da vida que, dividindo, multiplica. A coisa parece simples. Mas nem sempre funciona. Primeiro, porque você precisa ter disposição. Depois, um pouco de tempo. E o mais importante: pessoas com vontade de aprender, evoluir, crescer. Conhecimento só faz sentido para as pessoas. Os mundos vegetal, mineral e animal são indiferentes a isso. Disposição é um componente importante. Você depende dela para ativar um estado de atenção permanente, que pesquise, investigue, descubra, associe, articule, combine novas informações, dados para transformar matéria bruta por meio de seus relacionamentos prováveis e possíveis, porém imprevisíveis. A surpresa faz parte dessa história, para desencadear novos significados sensoriais. Tempo é outra necessidade. Se você não dispõe de tempo para se dedicar minimamente ao conhecimento, será difícil, mesmo que intuitivamente, proporcionar condições para uma nova aprendizagem. E, claro, pessoas. São fundamentais! A matéria bruta precisa ser submetida a diferentes processos de transformação. Areia e calor geram vidro. Carbono e calor viram diamante. Metais e calor viram aço. Mas tudo precisa ser polido, tratado, trabalhado. O mesmo acontece com as idéias. Elas nascem em estado bruto, precisam de expressão adequada para se transformarem em realidade. E depois, de pessoas, para transformarem a realidade. Um Google só para Educação Previdenciária Há algum tempo critico os simuladores de planos previdenciários. Quase sempre, são baseados no conceito de planilha Excel. Desconheço outro modelo. As projeções aliam as variáveis ou as chamadas premissas atuariais: idade, valor investido, tempo de investimento e remuneração do capital. Trata-se, evidentemente, de uma construção linear que mostram o crescimento do dinheiro. Só que, como ensinou Fernando Pessoa, “viver não é preciso”. E os simuladores deixam de mostrar uma multiplicidade de aspectos que fazem da vida de cada um de nós uma realidade multidimensional. E perdem muito, comparados aos jogos eletrônicos que as crianças e jovens atordoam pais e fazem qualquer sacrifício para obter. Simuladores não dão prazer na experiência de uso. Jogos eletrônicos mostram que a vida é um desfio de muitas etapas. E tem mais: formam cultura. A Nintendo, desde 18891, quando foi 1 SAKURAI, C. Os japoneses. Editora Contexto, São Paulo, 2007. P.339

fundada sabia disso. “A indústria de entretenimento japonesa procura, ainda hoje, adaptar-se ao público japonês de crianças e jovens, ensinando valores de ética que poderiam ter sido esquecidos diante da nova realidade do país”. Jogos eletrônicos dependem de uma linguagem sofisticada para serem produzidos. E nem sempre agradam a todos os públicos. Mas existem outras possibilidades. A mais arrojada conheço foi compartilhada comigo muito recentemente por Lucas Silveira, analista financeiro de apenas 22 anos, cinco dos quais dedicados à Previdência Complementar2. Esse aluno da PUC-SP já idealiza um Google da Previdência Complementar, isto é, um acervo virtual que combine textos, imagens, música, jogos eletrônicos, filmes, reportagens, entrevistas, concursos, sorteios. Ou seja: muitas expressões e registros para tratar de um só tema: a sustentabilidade da vida. E, para uma mente focada em finanças, a manutenção de toda essa estrutura é feita por meio de publicidade. O conteúdo pode ser formado de modo colaborativo. Assim mais gente, especialmente os jovens, poderão se envolver com a Educação Financeira e Previdenciária. Talvez consigam criar novas linguagens ou repaginar os conceitos que desenvolvemos até aqui. Além disso, pode ser inovador, a exemplo do que acontece nos jogos eletrônicos japoneses, proporcionando uma experiência é multigeracional. “Existem os conselheiros sempre mais velhos e experientes que são a referência para os personagens, seja na forma do dono do Pokémon ou do mestre do Cavaleiro do Zodíaco. A sua presença é o caminho seguro para superar obstáculos. Na luta contra o mal só a conduta correta visando à justiça e ao bem é que cria vencedores”3.

Eliane Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e

consultora de comunicação. Com Marisa Santoro Bravi, escreveu A importância dos valores para a construção de

novos paradigmas sociais, disponível para leitura em http://biblioteca.abrapp.org.br/default.html

2 Carreira iniciada na Fundação Itaúsa Industrial e, nos últimos três meses, na Novartis.

3 SAKURAI, C. Os japoneses. Editora Contexto, São Paulo, 2007. p. 346