UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEM DA SEGUNDA ... · «O melhor livro acerca do papel...

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A GUERRA SECRETA ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS 1939–1945 «Um monumental novo trabalho.» The New York Times O aclamado jornalista e historiador Bestseller internacional

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ISBN 978-989-8849-38-0

História

A GUERRASECRETA

ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS1939–1945

«Um monumental novo trabalho.»

The New York Times

O aclamado jornalista e historiador • Bestseller internacional

A GUERRA SECRETA

«Pleno de autoridade, entusiasmante e notavelmente bem escrito.»

�e Telegraph

«O Sr. Hastings volta a ser o melhor. Depois de um quarto de século a criticar livros sobre serviços secre-tos, A Guerra Secreta é o mais importante.»

�e Washington Times

«O melhor livro acerca do papel dos serviços de infor-mações na Segunda Guerra Mundial.»

Sunday Times

«Este livro é altamente recomendado enquanto visão completa e panorâmica sobre o mundo da espionagem e os serviços secretos na Segunda Guerra Mundial, algo que há muito faltava na historiogra�a deste con-�ito.»

New York Journal of Books

Os espiões, os códigos e as guerrilhas tiveram um papel central na Segunda Guerra Mundial. Foram usados por todas as nações para obter informação secreta sobre os seus inimigos e antecipar movimentações, tendo in�uenciado decisivamente o con�i-to. Em A Guerra Secreta, Max Hastings, historiador especialista neste período e autor dos aclamados Catástrofe e Inferno, apresenta as mais extraordinárias sagas de infor-mação e resistência, avaliando os verdadeiros triunfos dos espiões e dos decifradores de códigos e corrigindo mitos e falsas histórias, naquela que é uma nova perspetiva acerca do maior con�ito de sempre.Hastings explora não só Alan Turing e os génios da encriptação de Bletchley Park, mas também os seus homólogos alemães, que obtiveram os seus próprios triunfos contra os Aliados. O livro mapeia as extraordinárias redes de espionagem da União Soviética, dos Estados Unidos, do Japão e da Grã-Bretanha e tenta compreender porque Stalin rejeitava tão frequentemente a informação recolhida pelos seus agentes desde o coração da máquina de guerra do Eixo.Relacionando momentos fulcrais de batalhas no ar, em terra e no mar com o trabalho dos que, a partir dos seus países, combatiam a tecnologia do inimigo, Hastings desven-da os documentos mais preciosos e os momentos-chave nesta guerra secreta, que garantiram que nenhuma nação desse por mal empregues as vidas e recursos gastos em busca de informação privilegiada.

Um livro que expõe tudo sobre os serviços de informação dos Aliados e do Eixo, obrigatório para todos os interessados na Segunda Guerra Mundial

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Sir Max Hastings é autor de 25 livros, muitos deles sobre guerra. Frequentou o University College, em Oxford, que abandonou ao �m de um ano para se dedicar ao jornalismo.

Passou muitos dos seus primeiros anos de jornalista como correspondente da BBC e de diversos jornais, tendo estado em 64 países e acompanhado 11 con�itos militares, entre os quais a guerra Israelo-Árabe de 1973, a Guerra do Vietname e a Guerra das Malvinas.

Entre 1986 e 2002, foi chefe da redação do Daily Telegraph e depois diretor do Evening Standard. Recebeu diversos prémios pela sua carreira literária e jornalística, incluindo, em 2012, o prémio da Pritzker Military Library e a Medalha do Duque de Westminster para a Literatura Militar pelo seu livro Inferno: O Mundo em Guerra.

Tem dois �lhos e vive com a mulher, Penny, numa zona rural do sul da Inglaterra, onde ambos praticam com entusiasmo a jardinagem.

Em Portugal, tem publicados os livros Operação Overlord (ed. Casa das Letras), Os Melhores Anos: Churchill 1940––1945 e Inferno (ambos ed. Civilização) e Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra (ed. Vogais).

Saiba mais sobre o autor em: www.maxhastings.com

Do mesmo autor:

Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra

UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEMDA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

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Capítulos

Í N D I C E

Legendas e créditos do extratextoLegendas e créditos das ilustrações do texto

Introdução

1. ANTES DO DILÚVIO1.1. Em busca da verdade1.2. Os britânicos: cavalheiros e jogadores1.3. Os russos: templos de espionagem

2. REBENTA A TEMPESTADE2.1. O «fluxo de ficções»2.2. A sombra de canaris

3. O S M I L AG R E S D EM O R A M U M P O U CO M A I S : BLETCHLEY

3.1. «Palpites» e «disparates»3.2. Namorar a américa

4. OS CÃES QUE LADRAVAM4.1. A gente de «lucy»4.2. Os avisos de sorge4.3. Toca a orquestra4.4. O surdo no kremlin

5. VENTOS DIVINOS5.1. O serviço de chá da senhora ferguson5.2. Os japoneses5.3. O homem que ganhou em midway

6. CONFUSÃO E INÉPCIA: OS RUSSOS NA GUERRA6.1. O centro mobiliza-se6.2. O fim de sorge

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Í N D I C E

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6.3. A segunda fonte6.4. Gourevitch apanha um comboio

7. A MÁQUINA DE GUERRA SECRETA DA GRÃ-BRETANHA7.1. A ponta afiada7.2. O cérebro7.3. No mar

8. «MARTE»: A MAIS SANGRENTA DISSIMULAÇÃO8.1. Gehlen8.2. O agente «max»

9. O ÚLTIMO CONCERTO DA ORQUESTRA

10. GUERRILHA10.1. Resistentes e agressores10.2. Soe

11. OS G-MEN DE HOOVER E OS WILD MEN DE DONOVAN11.1. Aventureiros11.2. Torres de marfim11.3. Allen dulles: falar com os alemães

12. GUERRILHEIROS RUSSOS: ATERRORIZANDO OS DOIS LADOS

13. ILHAS NA TEMPESTADE13.1. A pantomima irlandesa do abwehr13.2. Terra de ninguém

14. UMA PEQUENA AJUDA DOS SEUS AMIGOS14.1. «Cheira mal, mas tem de ser feito por alguém»14.2. Os traidores americanos

15. AS FÁBRICAS DE CONHECIMENTO15.1. Agentes15.2. A joia das fontes15.3. Linhas de produção15.4. Máquinas infernais

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Capítulos

16. «BLUNDERHEAD»: O PACIENTE INGLÊS

17. O ECLIPSE DO ABWEHR17.1. O bletchley park de hitler17.2. «Cícero»17.3. «Os fantasistas»17.4. «O bom nazi»

18. CAMPOS DE BATALHA18.1. Empunhando a varinha mágica dos ultra18.2. Suicídio de espiões18.3. Triunfo manchado

19 VIÚVAS NEGRAS, ALGUNS CAVALEIROS BRANCOS19.1. Combater o japão19.2. A lutar entre si19.3. O inimigo: tatear no escuro

20. «ENORMOZ»

21. DESCODIFICAR A VITÓRIA

AgradecimentosNotas e fontesBibliografia

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Introdução

I N T R O D U Ç Ã O

Este é um livro sobre algumas das pessoas mais fascinantes que participaram na Segunda Guerra Mundial. Soldados, marinheiros, aviadores e civis tive-ram muitas e diversas experiências, forjadas pelo fogo das armas, a geogra-fia, a economia e a ideologia. Aqueles que se mataram entre si foram os mais visíveis mas, em muitos aspetos, os menos interessantes: os resultados foram também profundamente influenciados por um conjunto de homens e mu-lheres que nunca dispararam um único tiro. Ao mesmo tempo que na Rússia, entre as grandes batalhas, decorriam intervalos de meses, já todos os parti-cipantes travavam uma incessante guerra secreta — uma luta pelo conheci-mento do inimigo para poder dar ferramentas e força aos respetivos exércitos, Marinhas e forças aéreas, através da espionagem e da decifração de códigos. O tenente general Albert Praun, último chefe das comunicações codificadas da Wehrmacht, escreveria sobre o assunto o seguinte: «Todos os aspetos res-peitantes a esta moderna «guerra fria das ondas de rádio» foram mantidos de forma constante, mesmo quando as armas se calaram.» Os Aliados também promoveram campanhas de guerrilha e de terror sempre e quando, nos terri-tórios ocupados do Eixo, tinham meios para o fazer, e as operações secretas assumiriam uma importância sem precedentes.

Este livro não pretende ser uma narrativa exaustiva, geradora de um número incontável de volumes. É, pelo contrário, um estudo da guerra secreta levada a cabo pelos aparelhos de ambos os lados, bem como de algumas das personagens que os influenciaram. A existência de quaisquer outras revelações que possam vir a alterar o contexto do estudo é muito improvável salvo, possivelmente, as que se consigam a partir dos arquivos soviéticos atualmente bloqueados por Vladimir Putin. Em 1945, os japoneses destruíram a maior parte dos arqui-vos dos seus serviços secretos e os remanescentes permanecem inacessíveis em Tóquio. Contudo, há uma década, entrevistei alguns dos veteranos, que forne-ceram significativos testemunhos do pós-guerra.

A maioria dos livros que abordam os serviços secretos durante a guerra foca-se nas práticas de uma nação específica. Em vez disso, tentei explorá-los num contexto global. Alguns dos episódios da minha narrativa serão fami-liares para os especialistas, mas parece-me possível uma nova abordagem que os perspetive num quadro mais alargado. Apesar de a atividade dos espiões

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A Guerra Secreta

e dos decifradores de códigos ter gerado já uma vasta literatura, os leitores podem vir a ficar tão atónitos com alguns dos relatos deste livro quanto eu fiquei quando os descobri.

Escrevi de forma mais extensiva sobre os russos, porque as suas ações são muito menos familiares para os leitores ocidentais quando comparadas com o que se conhece de Bletchley Park na Grã-Bretanha ou Arlington Hall e a Op-20-G na América. Omiti muitas narrativas lendárias e não fiz qualquer ten-tativa de recontar os relatos mais familiares acerca da Resistência na Europa Ocidental, nem dos agentes do Abwehr (serviços secretos do Exército alemão) na Grã-Bretanha e nos EUA, que foram presos num ápice ou «viraram», en-trando no famoso sistema de Double Cross (Agentes Duplos). Em contrapar-tida, e apesar dos feitos de Richard Sorge e de «Cícero»* serem conhecidos há muitas décadas, a sua importância merece reflexão.

Os feitos de alguns combatentes secretos foram tão deslumbrantes quanto os disparates de outros. Como aqui refiro, os britânicos permitiram várias ve-zes a captura de material sensível, o que poderia ter sido fatal para os serviços secretos. Entretanto, quem escreve sobre espionagem tem insistido, de forma obsessiva, na traição dos Cinco de Cambridge, na Grã-Bretanha, mas são re-lativamente poucos aqueles que conhecem aquela a que poderíamos chamar a traição dos Quinhentos de Washington e Berkeley — um pequeno exército de esquerdistas americanos que serviram de informadores aos serviços secre-tos soviéticos. O senador Joseph McCarthy estigmatizaria, de forma injusta, muitos indivíduos, mas não errou ao considerar que entre 1930 e 1950 o go-verno dos Estados Unidos da América e as grandes instituições e corporações do país tinham nos seus quadros um número surpreendente de agentes para os quais a lealdade não era prioritariamente para com a sua bandeira. É verdade que entre 1941 e 1945 os russos eram supostamente aliados da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, mas Stalin olhou para esse relacionamento com um in-cessante cinismo, considerando-o apenas uma associação meramente tempo-rária, cuja finalidade era a destruição dos nazis e das nações que se mantinham como inimigas e rivais históricas da União Soviética.

Muitos dos livros sobre os serviços secretos durante a guerra centraram--se no que os espiões ou os decifradores descobriram; porém, a única questão relevante é saber até que ponto a informação privilegiada mudou o desenla-ce do conflito. A extensão da espionagem soviética ofusca a de todos os ou-tros beligerantes e os soviéticos obteriam uma riquíssima colheita tecnológica na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, mas a paranoia de Stalin acabou por prejudicar a exploração dos segredos políticos e militares que tal safra

* Colocam-se entre aspas os nomes de código dos agentes apresentados nas páginas seguintes.

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Introdução

possibilitava. O mais ilustre historiador americano sobre os decifradores que atuaram durante a guerra disse-me, em 2014, que depois de ter dedicado mais de metade da sua vida a estudar o assunto, concluíra que os serviços secretos pouco ou nada contribuíram para o desfecho. Este parece ser um veredicto muito radical, mas as observações desse meu amigo mostram como o ceticis-mo, e também o cinismo, se reproduziram e multiplicaram ao longo de déca-das, vagueando no pântano da fantasia, da traição e da incompetência em que a maioria dos espiões e dos seus acólitos viviam. Os registos sugerem que o sigilo oficial sempre fez mais para proteger as respetivas agências de serviços secretos da prestação interna de contas das suas próprias loucuras, do que para as proteger da penetração dos inimigos. De que serviu, por exemplo, esconder do conhecimento público britânico a identidade dos seus próprios chefes de espionagem quando durante anos* as operações mais secretas do MI6 foram denunciadas aos russos por Kim Philby, um dos seus agentes mais qualifica-dos? O governo dos Estados Unidos repudiou o intercâmbio bilateral de in-formações acordado com o NKVD† pelo major general William Donovan do OSS (Office of Strategic Services — Gabinete de Serviços Estratégicos — considerado o precursor da CIA), contudo as cautelas oficiais pouco contri-buíram para a segurança nacional quando alguns dos principais subordinados de Donovan passaram segredos aos agentes soviéticos.

A recolha de informação não é uma ciência. Não há certezas absolutas, mes-mo quando se trata da leitura da correspondência inimiga. Existe um «ruído» cacofónico, a partir do qual os «sinais» — as grandes e pequenas verdades — devem ser extraídos. Em agosto de 1939, nas vésperas do Pacto Nazi-Soviético, um agente britânico tinha entre mãos as confusas mensagens, que chegavam o Ministério dos Negócios Estrangeiros acerca das relações entre Berlim e Moscovo: «Encontramo-nos», escreveu, usando palavras que podem ser apli-cadas à maioria das informações, «ao tentarmos avaliar o valor destes relatórios secretos, numa posição parecida com a do capitão dos Quarenta Ladrões quan-do, depois de ter colocado uma marca de giz na porta de Ali Baba, descobriu que Morgana tinha colocado marcas semelhantes em todas as portas da rua e sem ter qualquer indicação de qual era a verdadeira.»

* O MI6 britânico é com frequência conhecido pelo seu outro nome, SIS — Secret Intelligence Service —, mas, para ser mais claro, utilizar-se-á a designação anterior ao longo deste trabalho, mesmo em documentos citados, para se evitar a confusão com o SIS (Signals Intelligence Service) dos EUA.

† Os serviços secretos soviéticos e os ramos nacionais e estrangeiros seus subordinados foram repetidamente reorganizados e rebatizados entre 1934 e 1954, ano em que passou a designar por KGB. A sigla «NKVD» é utilizada ao longo de todo este texto, embora se conheça também a partir de 1943, a contra organização de serviços de informações SMERSh — Smert Shpionam — e a exis-tência paralela desde 1926 do ramo de informações militares do Exército Vermelho, o Quarto De-partamento ou GRU, feroz rival do NKVD no interior e no exterior do país.

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A Guerra Secreta

Torna-se infrutífero estudar de forma isolada os sucessos de qualquer nação e as suas mais preciosas revelações. Estas devem ser observadas no contexto de centenas de milhares de páginas de coisas triviais ou absurdas que passam pe-las secretárias dos analistas, estadistas e comandantes. «Diz-me a experiência que os diplomatas e os agentes secretos são ainda mais mentirosos do que os jornalistas», escreveu Malcolm Muggeridge, o espião britânico que atuou du-rante a guerra, que estava familiarizado com três grupos e que era, ele mesmo, um charlatão. A esterilidade de grande parte da espionagem seria muito bem ilustrada por František Moravec, dos serviços secretos checos. Um dia, em 1936, apresentou orgulhosamente ao seu comandante um relatório sobre uma nova peça de equipamento militar alemão, pelo qual tinha pago generosamente a um informador. O general desvalorizou o que lhe era apresentado, dizendo em seguida: «Vou mostrar-te algo bem melhor.» E lançou para cima da secretária um exemplar da revista Die Wehrmacht, na qual se destacava um artigo sobre a mesma arma, para concluir secamente: «A assinatura desta revista custa ape-nas vinte coroas.»

Valor igual tinha a transcrição do Abwehr de dezembro 1944 da mensagem do Departamento de Estado norte-americano para o governo polaco exilado em Londres, acerca da nomeação de um novo conselheiro para os assuntos económicos e na qual se dizia, em dada altura: «As suas despesas de transporte e ajudas de custo de Tunis para Londres, via Washington, DC, as despesas de transporte e ajudas de custo para a sua família e os custos de expedição autori-zados estão sujeitos aos Regulamentos de Viagem.» À tradução da descodifi-cação desta página foi colocado o carimbo de «Top Secret» pelos seus leitores alemães. As horas gastas pela máquina de guerra nazi para garantir esta precio-sidade são demonstrativas da frequência com que os serviços de informações defraudaram as expetativas geradas.

A confiança é uma obrigação e um privilégio das sociedades livres. No en-tanto, a credulidade e o respeito pela privacidade são defeitos fatais dos analistas e dos angariadores de agentes secretos. O seu trabalho obriga-os a persuadir os cidadãos de outros países a abandonar o tradicional idealismo patriota, seja por dinheiro, por convicção, ou ocasionalmente devido a uma ligação pessoal en-tre o angariador e o informador. Há sempre um território a ser disputado, quer sejam aqueles que traindo os segredos das respetivas sociedades foram consi-derados corajosos heróis sustentados por princípios que identificam uma leal-dade maior, como os alemães que percebiam a necessidade de uma resistência anti-hitleriana ou, em vez disso, considerados traidores, como a maioria de nós classificámos Kim Philby, Alger Hiss — e, por estes dias, Edward Snowden. O dia de trabalho da maioria dos que trabalham nos serviços secretos é dedi-cado à promoção da traição, o que ajuda a explicar as razões que levam tanta

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Introdução

gente estranha a sentir-se atraída por tal atividade. Malcolm Muggeridge afir-mou com desdém que «Isso envolve necessariamente tantos enganos, mentiras e traições, que não deixarão de ter efeitos perniciosos sobre o caráter. Nunca conheci ninguém profissionalmente envolvido nestas atividades que me mere-ça confiança no que quer que seja».

Disse Stalin: «Um espião deve ser como o diabo; ninguém pode confiar nele, nem sequer ele mesmo.» O crescimento de novas ideologias, mais signi-ficativamente do comunismo, levou algumas pessoas a comprometer-se com lealdades que cruzaram fronteiras e que, aos olhos dos fanáticos, transcende-ram o mero patriotismo. Não foram poucos os que se sentiram exaltados ao descobrirem virtude na traição, embora outros preferissem trair por dinhei-ro. Muitos dos chefes da espionagem durante a guerra duvidavam sobre qual era o lado que os seus agentes serviam de facto e, em alguns casos, a confusão persiste até hoje. O pequeno vigarista britânico Eddie Chapman, conhecido como «Agente ZigZag», viveu extraordinárias experiências de guerra como pau-mandado dos serviços de informações britânicos e alemães. Em momen-tos distintos, pôr-se-ia à mercê de ambos, mas parece pouco provável que as suas atividades tivessem beneficiado uns ou outros, tendo servido apenas para que Chapman se mantivesse sempre «com as costas quentes». Era uma figura intrigante mas sem importância, um entre incontáveis «canhões à solta» nos secretos campos de batalha. Mais interessante, e pouco ou nada conhecido do público, é o caso de Ronald Seth, um agente do SOE (Special Operations Executive — Executivo de Operações Especiais) capturado pelos alemães e treinado por eles para servir como agente duplo na Grã-Bretanha. Descreverei mais à frente a perplexidade do SOE, MI5, MI6, MI9 e do Abwehr sobre de que lado Seth teria estado.

A recolha de informações é por natureza um desperdício. Fico impressiona-do com o número de agentes dos serviços secretos de todas as nacionalidades cujos únicos feitos nas suas atividades no estrangeiro era o conseguir manter-se vivos, apesar dos elevados encargos que representavam, enquanto a informação recolhida pouco representava para o esforço de guerra. Talvez apenas a milé-sima parte do material obtido por todos os beligerantes na Segunda Guerra Mundial a partir de fontes secretas tenha contribuído para mudar o curso dos acontecimentos nos campos de batalha. No entanto, essa fração era de tal valor que os senhores da guerra nunca se lamentaram nem de uma libra, rublo, dó-lar ou reichsmark gastos na sua obtenção. Os serviços de informações sempre influenciaram as guerras, mas até então os comandantes do século xx apenas conseguiam descobrir os movimentos dos seus inimigos através de espiões e da observação direta, para a contagem de homens, navios e armas. O aparecimen-to das comunicações sem fios veio criar uma rede de serviços de informações

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A Guerra Secreta

que cresceu exponencialmente até 1930, à medida que a tecnologia avançava. «Nunca houve nada, em qualquer outro período da história, que se pudesse comparar ao impacto do rádio», escreveu o grande agente dos serviços de in-formações científicas Dr. R. V. Jones. « Ele foi o produto de alguns dos desen-volvimentos mais imaginativos alguma vez ocorridos na física e que mais se aproximavam de uma espécie de magia aos nossos olhos.» Não só porque mi-lhões de cidadãos podiam construir os seus aparelhos em casa, como o fizeram muitos espiões no estrangeiro, mas porque em Berlim, Londres, Washington, Moscovo e Tóquio foram instalados intercetores eletrónicos para sondar o po-sicionamento e por vezes as intenções do inimigo sem precisar de recorrer a telescópios, fragatas ou agentes.

Uma das temáticas deste livro é a de que a guerra das informações através dos sinais rádio, nos seus primórdios, foi menos desproporcionada em favor dos Aliados do que alguma mitologia popular sugere. Os alemães usaram infor-mações secretas para planear a invasão de França e dos Países Baixos em 1940. Pelo menos até meados de 1942, e mesmo durante algum tempo depois, conse-guiram ler importantes códigos dos Aliados, em terra e no mar, com significa-tivas consequências, tanto para a Batalha do Atlântico como para a campanha no Norte de África. Também conseguiram explorar a débil segurança do sis-tema de comunicações sem fios do Exército Vermelho durante o primeiro ano da Operação Barbarossa. A partir do final de 1942, porém, os decifradores de Hitler começaram a ficar desfasados em relação aos seus colegas Aliados. As tentativas de espionagem do Abwehr no exterior eram patéticas.

O governo japonês e os altos comandos do Exército planearam os ataques iniciais de 1941 e 1942 a Pearl Harbor e aos impérios europeus no sudeste asiá-tico com muita eficiência, mas trataram com desdém os serviços de informa-ções. Travariam a guerra envoltos numa névoa de ignorância acerca das ações dos seus inimigos. O serviço de informações italiano e os seus decifradores de códigos tiveram alguns assinaláveis sucessos nos anos iniciais da guerra, mas em 1942 os comandantes de Mussolini ver-se-iam obrigados a utilizar prisio-neiros de guerra russos para que espiassem o tráfego das comunicações sem fios soviéticas. Foram relativamente poucos os esforços realizados pelas outras na-ções para espiolhar os segredos italianos, dado que a sua capacidade militar se reduziu rapidamente. «A imagem que tínhamos da Força Aérea italiana estava incompleta e nosso conhecimento bem longe de ser bom,» admitiu o oficial dos serviços de informações da RAF o Capitão Harry Humphreys acerca do teatro de operações no Mediterrâneo, antes de acrescentar de forma presunço-sa, «Mas, felizmente, tratava-se da Força Aérea italiana.»

A primeira exigência para uma utilização bem-sucedida das informações sigilosas (secretas) é que os comandantes devam estar disposto a analisá-las

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Introdução

honestamente. Herbert Meyer, um veterano do National Intelligence Council (Conselho Nacional de Informação) de Washington, definia o seu trabalho como apresentação de «informação organizada»; argumentou que, em ter-mos ideais, os serviços de informações devem prestar um serviço aos respeti-vos comandantes que se assemelha ao dos sistemas de navegação dos navios e aeronaves. Donald McLachlan, um médico da Marinha britânica, obser-vou: «Os serviços de informações têm muito em comum com a escolaridade, e os padrões que são exigidos na escolaridade devem ser os mesmos a apli-car nos serviços de informações.» Depois da guerra, os comandantes alemães que sobreviveram fizeram recair as culpas de todas as falhas dos serviços de informações na recusa de Hitler a render-se às evidências. O chefe máximo das comunicações sem fios Albert Praun diria: «Infelizmente durante toda a guerra Hitler mostrou uma falta de confiança nas comunicações do serviço de informações, especialmente quando os relatórios eram desfavoráveis (se-gundo os seus pontos de vista).»

Para o Eixo, a boas notícias como, por exemplo, às intercetações de infor-mações que revelassem pesadas perdas aliadas, era dada a mais alta prioridade para a transmissão para Berlim, porque o Führer as receberia de bom grado. Pelo contrário, às más notícias era prestada pouca atenção. Antes da invasão da Rússia, em junho de 1941, o general Georg Thomas do WiRuAmt (o de-partamento de economia da Wehrmacht) apresentou estimativas da produção de armas soviéticas que se aproximavam da realidade, embora por defeito, e argumentou que a perda da Rússia europeia não iria necessariamente preci-pitar o colapso das bases industriais de Stalin. Hitler pôs de parte os números de Thomas, porque a sua magnitude era inconciliável com o seu desprezo para com todas as coisas eslavas. O marechal-do-exército Wilhelm Keitel acabaria por instruir o o WiRuAmt no sentido de parar com a apresentação de infor-mações que pudessem perturbar o Führer.

O esforço de guerra das democracias ocidentais beneficiou imenso da rela-tiva abertura de suas sociedades e respetivas governações. Por vezes, Churchill tinha reações de raiva para com aqueles que à sua volta expressavam pontos de vista indesejáveis, mas sempre houve um debate extremamente aberto nos corredores do poder dos Aliados, incluindo os quartéis-generais. O general Sir Bernard Montgomery era um considerável tirano, mas aqueles em quem con-fiava, incluindo o seu chefe do serviço de informações, o brigadeiro-general Bill Williams, professor na Universidade de Oxford em tempo de paz, podiam expressar-se livremente. Todos os mais notáveis sucessos dos serviços de in-formações dos Estados Unidos da América foram conseguidos através da des-codificação e vieram a ser explorados de forma mais dramática na guerra naval do Pacifico. Os comandos militares que tinham ficado no território americano

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A Guerra Secreta

raramente mostraram muito interesse na utilização dos seus conhecimentos para induzir em erro os adversários, como fizeram os britânicos. O Dia-D de 1944 foi a única operação para a qual os norte-americanos colaboraram empe-nhadamente na preparação de um plano enganador. Mesmo assim, os britâni-cos foram os principais impulsionadores, enquanto os norte-americanos apenas aquiesceram, por exemplo, ao permitir que o general George Patton se «mas-carasse» como o comandante do fictício Primeiro Exército Americano supos-tamente destinado a desembarcar no Pas de Calais. Alguns oficiais americanos ficaram desconfiados do entusiasmo britânico em enganar o inimigo, que lhes parecia refletir uma forma astuciosa de escapar aos combates mais duros, que eram de facto a questão básica da guerra.

O GC&CS, sigla de Government Code and Cypher School (quartel-gene-ral dos serviços de informações britânicos) em Bletchley Park foi, como é natu-ral, não apenas o mais importante eixo dos serviços de informações do conflito mas, a partir de 1942, constituir-se-ia na mais excecional contribuição da Grã-Bretanha para a vitória. Há quem acredite, de forma lendária, que a criação de Alan Turing da bombe eletromecânica* possibilitou a exposição de todo o sistema de comunicações alemão aos olhos dos Aliados, ao quebrar o tráfego das máquinas eletromecânicas de criptografia Enigma. Mas a verdade é muito mais complexa. Os Alemães empregavam dezenas de diferentes chaves, muitas das quais foram lidas apenas de forma intermitente, e muitas vezes desfasadas do «tempo real», o que significava uma insuficiente rapidez capaz de tornar possível uma respos-ta operacional, ou algumas vezes mesmo nenhuma. Os britânicos tiveram acesso a algum material Enigma imensamente valioso, mas a cobertura conseguida foi muito pouco abrangente e foi especialmente fraca no que ao tráfego do Exército dizia respeito. Para além disso, um volume cada vez maior das mais secretas co-municações alemãs era transmitido através de uma rede de teleimpressoras que empregava um sistema de criptografia completamente diferente do que era usado nas Enigma. A façanha dos matemáticos e linguistas de Bletchley ao conseguir quebrar as comunicações da Lorenz Schlüsselzusatz (máquina de criptografia de nível muito superior à Enigma) foi bastante distinta e bem mais difícil, ainda que os seus destinatários no terreno conhecessem os produtos de todas essas ativida-des simplesmente como «Ultra».† Bill Tutte, o jovem matemático de Cambridge

* Equipamento eletromecânico utilizado pelos criptógrafos britânicos para auxiliar na descodifi-cação das mensagens secretas alemãs criptografadas pela máquina Enigma. [N. do T.]

† Os americanos referem-se ao material diplomático japonês por si descriptografado como «Ma-gic», mas ao longo deste texto, e para simplificar, usei a designação «Ultra», que se tornou geralmente aceite nos dois lados do Atlântico como o termo genérico para produtos de desencriptação de có-digos e cifras inimigas de alto nível, embora curiosamente a palavra pouco ou nada fosse usada em Bletchley Park.

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Introdução

que fez as determinantes descobertas iniciais, ficou pouco conhecido para a pos-teridade, contudo merece ser quase tão célebre como Turing.

Os Ultra possibilitaram às lideranças dos Aliados planificar as suas cam-panhas e operações na segunda metade da guerra com uma confiança nunca antes concedida a qualquer dos senhores da guerra de toda a história. No en-tanto, o conhecimento do «jogo» do inimigo não lhe diminuía a resistência. Em 1941 e em 1942, uma e outra vez os britânicos souberam onde o Eixo pretendia atacar, como em Creta, no Norte de África e na Malásia, mas isso não os livrou de perder as batalhas subsequentes. Um grande poderio mi-litar, tanto em terra como no mar ou no ar, era indispensável para a explo-ração das informações secretas. Assim como o era a sensatez por parte dos comandantes britânicos e americanos e dos seus Estados-Maiores, que se re-velou manifestamente ausente em momentos-chave durante o Campanha do Noroeste Europeu em 1944 e 1945. Os serviços de informações, no entanto, contribuíram de forma importante para o mitigar de alguns desastres iniciais: o contributo do jovem Dr. R. V. Jones ao mostrar como gerar interferênciasnos feixes de navegação da Luftwaffe diminuíram de forma significativa osofrimento infringido pelo Blitz na Grã-Bretanha. No mar, a localização sis-temática dos submarinos alemães realizada pelos Ultra, com uma alarmanteinterrupção de nove meses em 1942, permitiu redirecionar as frotas para queos conseguissem evitar. Istopode ter sido uma contribuição bem mais impor-tante para a exploração das linhas de abastecimento abertas no Atlântico doque afundar submarinos inimigos,.

Os americanos tinham alguma razão para suspeitar da romântica ideia dos seus aliados acerca das «estratégias de dissimulação.» O coronel Dudley Clarke, especialmente famoso para a polícia espanhola, uma vez que o pren-deram usando roupas de mulher numa rua de Madrid, realizou uma operação de camuflagem maciça no deserto do norte de África antes da Batalha de El Alamein em outubro de 1942. Os historiadores têm celebrado a engenhosida-de de Clark na criação de forças fictícias que levariam Rommel a deslocar uma força significativa bem para sul do foco central do ataque de Montgomery. No entanto, tal «estratégia de dissimulação» não poupou ao oitavo Exército uns quinze dias de duros combates que viriam a ser necessários para romper as li-nhas do Afrika Korps.

Os Alemães argumentariam que as atividades de Clarke acabariam por não mudar nada, dado que tiveram tempo para se reposicionar a norte ainda an-tes do decisivo ataque britânico. Na Birmânia, o coronel Peter Fleming, irmão do criador de James Bond, foi encarregado de uma arriscada missão na qual deveria deixar uma mochila cheia de falsos «documentos secretos» dentro de num jipe destruído, onde o inimigo os iria encontrar. Só que os japoneses não

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lhes prestaram qualquer atenção quando os obtiveram. De 1942 em diante, os serviços de informações britânicos conseguiram obter uma quase completa compreensão das defesas aéreas da Alemanha e das tecnologias eletrónicas que utilizavam, mas os bombardeiros Aliados continuaram a sofrer punitiva baixas, especialmente antes dos caças-bombardeiros de longo curso americanos terem destruído a Luftwaffe no ar, na primavera de 1944.

Fosse qual fosse a contribuição da estratégia de enganos táticos britânicos no Norte de África, os estrategas Aliados conseguiram dois importantes e quase indiscutíveis sucessos. Em 1943–1944, a Operação Zeppelin criou um fictício Exército britânico no Egito que induziu Hitler à manutenção de grandes for-ças militares na Jugoslávia e na Grécia para repelir um desembarque aliado nos Balcãs. Foi essa imaginária ameaça, e não os guerrilheiros de Tito, que provocou a deslocação de 22 divisões do Eixo para Sudeste até depois do Dia-D. O se-gundo sucesso foi, por certo, o da Operação Fortaleza antes e depois do ataque na Normandia. Contudo, nenhuma destas ações exerceria tal influência se os Aliados não possuíssem um poder de fogo suficiente, conjunto com o coman-do das forças marítimas, para tornar credível a sua capacidade de desembarque de forças territoriais em qualquer lugar.

Algumas das ações de dissimulação dos russos tornariam irrisórias as que foram realizadas por britânicos e americanos. A estória do agente «Max», e a vasta operação lançada como diversão da ofensiva de Estalinegrado, e que custaria 70 mil vidas russas, é uma das mais surpreendentes da guerra, e qua-se desconhecida dos leitores ocidentais. Entre 1943 e 1944, outros artifícios soviéticos levaram repetidamente os alemães a concentrar as suas forças nos lugares errados antes dos ataques do Exército Vermelho. A superioridade aérea era um pré-requisito essencial, tanto a Oriente como a Ocidente: as ambiciosas ações enganadoras dos últimos anos de guerra só foram possíveis porque os alemães não puderam realizar um reconhecimento fotográfico que possibili-tasse refutar as «lendas» que lhes eram vendidas através das ondas rádio e dos documentos falsos. Os Aliados Ocidentais tinham muito menos sucesso na obtenção de informações através das humint que das sigint.* Ingleses e ame-ricanos nunca tinham conseguido ter uma fonte colocada ao mais alto nível junto do governo alemão, japonês e italiano ou dos respetivos altos coman-dos, até que em 1943 Allen Dulles do OSS começou a receber algumas boas informações provenientes de Berlim. O que os Aliados Ocidentais consegui-ram não tem comparação com a capacidade de penetração russa em Londres, Washington, Berlim e Tóquio, as últimas através do seu agente Richard Sorge,

* «Humint» é o termo utilizado para as informações recolhidas pelos espiões, e «sigint» o termo utilizado para as intercetações das comunicações sem fio.

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Introdução

que trabalhava na embaixada alemã. Os EUA só se dedicaram às questões de espionagem depois de Pearl Harbor e centraram os seus esforços mais na sabotagem e descodificação das comunicações do que na colocações de es-piões em território inimigo, mesmo que diferenciados das equipas parami-litares. Em Washington, o Departamento de Pesquisa e Análise do OSS foi mais efetivo que as suas extravagantes, mas mal direcionadas, ações no terre-no. É minha convicção que a guerra de guerrilha, patrocinada pelos Aliados Ocidentais, fez mais para promover o auto-respeito das nações ocupadas no pós-guerra do que para acelerar a destruição do Nazismo. As operações dos guerrilheiros russos foram conduzidas numa escala muito mais ambiciosa do que as campanhas do SOE/OSS, com a propaganda a exponenciar as suas façanhas, tanto nessa época como no pós-guerra. No entanto, os documen-tos soviéticos de que agora dispomos, dos quais a minha investigadora rus-soa, a Dr. Lyuba Vinogradovna, fez um extensivo uso, indicam que devemos perspetivar os feitos da campanha de guerrilha oriental, pelo menos até 1943, com considerável ceticismo.

Tal como em todos os meus livros, procuro aqui estabelecer um quadro bem alargado e entrelaçá-lo com estas narrativas humanas dos espiões, de-cifradores de códigos e chefes dos serviços de informações que serviram os seus respetivos líderes — Turing em Bletchley e criptoanalistas de Nimitz no Pacifico, a «Orquestra Vermelha» dos agentes soviéticos na Alemanha, Reinhard Gehlen do OKH (Estado Maior do Exército Alemão), William Donovan do OSS e muitos outros personagens exóticos. A principal razão para que os Aliados Ocidentais tivessem um melhor serviço de informações foi o terem sabido utilizar de forma brilhante os civis, aos quais tanto o go-verno americano como o britânico garantiram discrição, influência e, sem-pre que necessário, patente militar, algo que os seus adversários não fizeram. Há 30 anos, quando foi publicado o primeiro volume da história oficial dos serviços de informações britânicos do tempo da guerra, comentei com o seu principal autor, o Professor Harry Hinsley (um veterano de Bletchley), que parecia dar a entender que os amadores terão contribuído mais que os profis-sionais dos serviços secretos. Hinsley respondeu com alguma impaciência: «É claro que contribuíram. Suponho que não imagina que, em tempo de paz, os melhores cérebros de nossa sociedade desperdiçariam as suas vidas nos ser-viços de informações?»

Sempre pensei que este era um ponto importante, e que fez eco nos escritos de outro académico, Hugh Trevor-Roper, que serviu o MI5 e o MI6, e cujas façanhas pessoais o fazem parecer um dos mais notáveis agentes dos serviços secretos britânicos durante a guerra. Em tempos de paz, a maior parte dos ser-viços secretos cumpriram as suas funções de forma adequada ou, pelo menos,

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sem grandes falhas, ao serem compostos por pessoas com aptidões medianas. Iniciada a luta pela sobrevivência nacional, no entanto, os serviços de informa-ções tinham de se tornar parte do centro condutor do esforço de guerra. Os confrontos nos campos de batalha podiam ser travados por homens com dons relativamente limitados, mas com qualidades para a atividade desportiva — ap-tidão física, coragem, garra, alguma iniciativa e senso comum. Mas os serviços de informações, num ápice, passaram a necessitar de mentes brilhantes. Parece banal afirmar-se que tinham de recrutar pessoas inteligentes mas, como alguns sábios do século xx observaram, este princípio era questão de honra para poder quebrar as comunicações inimigas.

Algumas palavras sobre a arrumação deste livro: enquanto a minha abor-dagem é amplamente cronológica, para evitar saltos demasiado confusos en-tre traidores em Washington, espiões soviéticos na Suíça e matemáticos em Bletchley Park, a narrativa persiste com alguns temas que vão para além do seu tempo sequencial. Tenho-me baseado nos trabalhos cuja autoridade é mais reconhecida neste campo, tais como os de Stephen Budiansky, David Kahn e Christopher Andrew, alguns dos mais notáveis, mas também explorei arquivos na Grã-Bretanha, Alemanha e Estados Unidos da América, juntamente com muito material russo ainda por traduzir. Não fiz qualquer tentativa para dis-cutir a matemática dos decifradores, como tem sido feito por escritores muito mais conhecedores dessa matéria do que eu.

Diz-se com muita frequência que os livros de Ian Fleming não têm qualquer relação com o mundo real da espionagem. No entanto, ao ler relatórios soviéticos da época, ao ouvir conversas gravadas, juntamente com os livros de memórias de agentes dos serviços de informações de Moscovo durante a guerra, fico im-pressionado pela forma como eles estranhamente espelham os diálogos loucos e monstruosos de tais personagens na obra de Fleming From Russia With Love (007 Ordem Para Matar). E algumas das tramas planeadas e executadas pelo NKVD e a GRU não eram menos fantásticas que as suas.

Todas as narrativas históricas são necessariamente provisórias e especu-lativas, mas ainda o são muito mais quando nelas se envolvem espiões. Na narração de batalhas, pode-se registar de forma confiável o número de na-vios afundados, de aviões derrubados, de homens mortos e quanto território se ganhou ou se perdeu. Mas os serviços secretos geram uma literatura vasta e não confiável, sendo alguma dela produzida pelos protagonistas para a sua própria glorificação ou justificação. Um relato muitíssimo popular acerca dos serviços secretos aliados, Bodyguard of Lies, publicado em 1975 é, em grande parte, uma obra de ficção. Sir William Stephenson, o canadiano que chefiou a organização que coordenava os serviços de informações britânicos em Nova Iorque, realizou uma valiosa função de ligação, mas nunca foi propriamente

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Introdução

um espião. Isso não o impediu de colaborar em 1976 na elaboração de uma biografia descontroladamente fantasiosa de si mesmo, A Man Called Intrepid (Um Homem Chamado Intrépido), embora não haja qualquer evidência de que alguém, alguma vez, o tenha tratado por qualquer coisa parecida com isso. A maioria das narrativas dos agentes do SOE durante a guerra, parti-cularmente das mulheres e especialmente em França, contém grandes doses de disparates românticos. As falsidades de Moscovo não diminuíram com o tempo: a história oficial do KGB, publicada recentemente, em 1997, afirma que os Negócios Estrangeiros britânicos ainda escondem documentação so-bre as suas negociações secretas com a Alemanha «fascista» e também do seu conluio com Hitler.

As operações dos decifradores aliados contra a Alemanha, a Itália e o Japão exerceram uma muito maior influência do que qualquer espião. É impossível quantificar o seu impacto, no entanto não deixa de ser desconcertante que Harry Hinsley, o historiador oficial, tenha afirmado que os Ultra tenham, provavel-mente, encurtado a guerra em três anos. Isto é tão tendencioso como a afirma-ção do Professor M. R. D. Foot na sua história oficial do SOE em França, em que diz que os comandantes aliados consideraram que a Resistência teria re-duzido a duração da contenda em seis meses. Os Ultra foram uma ferramenta de britânicos e americanos que desempenhou um papel secundário na destrui-ção do Nazismo, que foi, de forma esmagadora, consequência de um esforço militar russo. É tão impossível medir o contributo de Bletchley Park para o momento específico da vitória como o de Winston Churchill, dos navios da liberdade ou o dos radares.

Do mesmo modo, os publicitários que alegam que alguns dos livros sen-sacionalistas atuais relatam «a história de espionagem que mudou a Segunda Guerra Mundial» bem podiam estar a citar Mary Poppins. Uma das obser-vações de Churchill com maior profundidade foi feita em outubro de 1941, em resposta ao pedido de Sir Charles Portal, chefe do Estado-Maior da Força Aérea, para um compromisso de construir 4 mil bombardeiros pesa-dos — os quais, na sua opinião, fariam cair a Alemanha em seis meses. O primeiro-ministro responder-lhe-ia que, enquanto se fazia tudo o que era possível para criar uma grande força de bombardeiros, lamentava as tentati-vas de colocar uma confiança ilimitada em qualquer um dos meios que pu-dessem garantir a vitória. «Todas as coisas se movimentam em simultâneo», declarou. Esta apreciação revelou-se muito importante para o que às ques-tões de relações humanas dizia respeito, em especial durante a guerra — e, acima de tudo, aos serviços de informações. É impossível atribuir com jus-teza a um único fator todos os créditos pelo sucesso ou todas as culpas pelas falhas de uma operação.

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Contudo, se é indispensável haver algum ceticismo acerca deste mundo se-creto, também deve existir a capacidade de nos deixarmos surpreender com ele, dado que algumas das narrativas fabulosas vieram a provar-se verdadeiras. Ainda sinto algum embaraço quando recordo o dia, em 1974, em que fui con-vidado por um jornal para fazer uma crítica ao livro de FW Winterbotham, The Ultra Secret. Naqueles tempos, eu era ainda um jovem e inexperiente es-tudante ocasional da guerra de 1939–1945 e, assim como o resto do mundo, nunca ouvira falar de Bletchley Park. Olhei para o livro acabado de publicar e, de imediato, recusei-me a escrever sobre ele: Winterbotham fazia afirmações de tal modo extraordinárias que eu não podia dar-lhes crédito. No entanto, é claro que o autor, um agente do MI6 durante a guerra, tinha sido autorizado a abrir uma janela acerca de um dos maiores e mais fascinantes segredos da Segunda Guerra Mundial.

Nenhuma outra nação tinha alguma vez produzido uma história oficial de-dicada, de forma explícita, aos serviços de informações dos tempos de guerra com a magnitude dos cincos volumes britânicos com mais de 3 mil páginas, publicados entre 1978 e 1990. Este generoso compromisso para com a histo-riografia desse período, financiado pelos contribuintes, reflete o orgulho britâ-nico pelos seus feitos, sustentado no século xxi por esse absurdo filme de 2014 (assim designado pela sua insignificante relação com a verdade) que obteve enorme sucesso, O Jogo da Imitação. Hoje, as pessoas mais bem informadas re-conhecem o papel secundário da contribuição da Grã-Bretanha para a vitória dos Aliados quando comparado com o da União Soviética e dos Estados Unidos da América, mas também reconhecem que a gente de Churchill fez algumas coisas com mais eficácia do que quaisquer outros. Ainda que haja neste livro muitas narrativas acerca de disparates e fracassos, no que respeita aos serviços de informações, tal como no resto, não é adquirido que os conflitos se ganham por quem não comete erros, mas sim por aqueles que cometem menos erros que o lado contrário. No cômputo geral, o enorme triunfo dos britânicos e dos americanos no que à guerra secreta respeita teve igual dimensão na coligação entre os diferentes exércitos, Marinhas e forças aéreas. A realidade final é que os Aliados ganharam.

Finalmente, enquanto alguns dos episódios que a seguir se descrevem po-dem parecer cómicos ou ridículos, e refletem as fragilidades e loucuras hu-manas, não se deve esquecer que, em cada aspeto do conflito global, o que estava em jogo eram a vida ou a morte. Centenas de milhares de pessoas de muitas nacionalidades arriscaram as suas vidas e muitas sacrificá-las-iam, tan-tas vezes na solidão da madrugada diante de um pelotão de fuzilamento, para poder reunir informações ou prosseguir as operações de guerrilha. Nenhuma das perspetivas do século xxi sobre as personalidades e os acontecimentos,

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Introdução

os sucessos e fracassos daqueles dias deve diminuir o nosso respeito e reve-rência para com a memória daqueles que pagaram um elevado preço para fa-zer a guerra secreta.

Max HastingsWest Berkshire & Datai, Langkawi

junho de 2015

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Antes do Dilúvio

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A N T E S D O D I L Ú V I O

1 . 1 . E m b u s c a d a v e r d a d e

A guerra secreta começou muito antes de ser disparado o primeiro tiro. Num cer-to dia de março em 1937, uma carta caiu sobre a secretária do coronel František Moravec, o destinatário era o «Chefe dos Serviços Secretos da Checoslováquia», ele mesmo. Começava assim: «Venho oferecer-lhe os meus serviços. Devo di-zer-lhe, antes de mais, quais são os meus conhecimentos: Desenvolvimento do Exército alemão. (a) A infantaria » E assim por diante em três páginas dati-lografadas. Os checos, sabendo-se uma presa potencial de Hitler, realizavam espionagem com uma intensidade ainda ausente em todas as democracias da Europa. Inicialmente, responderam a esta abordagem com ceticismo, presu-mindo tratar-se de mais um ardil nazi, entre tantos outros. Mas, no entanto, Moravec decidiu arriscar uma resposta. Depois de prolongada troca de corres-pondência, o autor da carta, que Praga designaria de agente A-54, acordou um encontro na cidade de Kraslice situada na cadeia montanhosa dos Sudetos. O encontro quase ia sendo abortado por causa de um tiro: um dos assessores de Moravec estava tão nervoso que fez disparar o revólver no bolso, atravessando com uma bala a perna das calças do coronel. Felizmente, a tranquilidade foi restaurada antes da chegada do visitante alemão, que de imediato foi levado em segurança para uma casa vizinha. Trouxe consigo um maço de documentos secretos, que despreocupadamente tinha transportado numa mala de viagem através dos postos fronteiriços. Entre o material estava uma cópia do plano de defesa da Checoslováquia que revelou a Moravec a existência de um traidor nas suas próprias fileiras, que posteriormente viria a ser enforcado. A-54 par-tiu de Kraslice ainda sem nome, mas com mais 100 mil marcos no seu pecúlio. Prometeu voltar a entrar em contacto e, de facto, forneceria informação de alta qualidade durante os três anos seguintes. Só muito mais tarde foi identificado como Paul Thummel, um agente dos serviços de informações do Abwehr com trinta e quatro anos de idade.

Episódios como este passaram a ser uma rotina quase diária para Moravec. Era uma figura apaixonada, ferozmente energética e de estatura mediana. Jogador perspicaz, especialmente de xadrez, falava fluentemente seis idiomas e conseguia ler algum latim e grego. Em 1914, com dezoito anos de idade, estudava

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na Universidade de Praga, com aspirações a tornar-se um filósofo. Recrutado para o Exército austro-húngaro, como a maioria dos checos, não estava dis-posto a morrer pelos Habsburgo e, uma vez na frente, aproveitou a primeira oportunidade para desertar para o lado russo. Sob bandeira russa, foi ferido na Bulgária e acabou a guerra com a força voluntária Checa na frente italiana. Quando a Checoslováquia se tornou um Estado independente, de bom grado pôs de lado essas emaranhadas lealdades para se tornar num oficial do seu novo exército. Juntou-se aos serviços secretos em 1934, e viria a assumir a sua chefia três anos depois. Moravec aprendeu a maior parte desse ofício a partir de his-tórias de espionagem compradas nas livrarias, e em breve descobriu que muitos dos agentes dos serviços de informações da vida real transitaram da ficção: os supostos informadores do seu antecessor provaram ter sido efabulações fruto da imaginação do homem, uma artimanha para esconder fraude.

O coronel direcionou grande parte dos recursos dos seus serviços secretos à prospeção de informadores na Alemanha, numa meticulosamente reservada rede de comunicações. Instalou uma empresa de empréstimos de curto prazo no interior do Reich, destinados aos clientes militares do seu serviço de infor-mação. No prazo de um ano, noventa representantes do banco andavam por toda a Alemanha, a maioria funcionários competentes, mas alguns deles agentes dos serviços de informações que identificavam potenciais clientes com acesso a informação, e vulneráveis a suborno ou chantagem. Os checos foram também pioneiros das novas tecnologias: Microfilmagem, raios ultravioleta, escrita se-creta e a mais moderna telecomunicação sem fios. O reconhecimento do seu papel na linha de frente fez com que Moravec fosse fortemente financiado, e isso permitiu-lhe ser capaz de pagar a um Major da Luftwaffe, de seu nome Salm, 5 mil Reichsmarks (cerca de 500 libras), como adiantamento, e poste-riormente a enorme quantia de um milhão de coroas checas (7500 libras) pelos planos de combate da Força Aérea de Göring. Salm, no entanto, acabou por ser demasiado ostensivo nas manifestações da sua fortuna recente e acabaria por ser preso, julgado e decapitado. Entretanto, os espiões ao serviço de outros não estavam ociosos na Checoslováquia: só no ano de 1936, os agentes de se-gurança de Praga prenderam 2900 suspeitos, a maioria deles supostamente a atuar em favor da Alemanha ou da Hungria.

Todas as grandes nações procuravam sondar os segredos das outras da mesma forma, utilizando meios explícitos ou ocultos. Depois da sua visita à Grã-Bretanha, em abril de 1934, o Marechal Russo Tukhachevksy, transmi-tiu pessoalmente a Stalin a descrição feita por um agente da GRU do novo bombardeiro Handley Page Hampden da RAF, detalhando as suas variantes de motores Bristol e Rolls-Royce, e incluindo em anexo um esboço onde se mostrava o seu armamento:

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Em 1935, o Abwehr conseguiu o calendário de jogos da equipa de futebol de uma das fábricas da empresa britânica de produtos químicos ICI (Imperial Chemical Industries) que, ao longo da época, defrontaria a maioria das equipas das outras fábricas da empresa. Com esse estratagema, Berlim localizaria, com algum êxito, várias instalações químicas que a Luftwaffe até então desconhe-cia. O aviador australiano Sidney Cotton foi pioneiro na realização de raides fotográficos sobre a Alemanha, a mando de Fred Winterbotham, comandan-te de uma das alas do MI6. As estradas de verão da Europa fervilhavam com jovens casais em férias de turismo, alguns dos quais foram financiados pelos respetivos serviços de informações, e que mostravam um interesse pouco ro-mântico em campos de aviação. O MI6 enviou um agente da RAF, designado como Agente 479, acompanhado de uma secretária que completava o disfarce, para um passeio de três semanas ao longo da Alemanha, e que foi um pouco prejudicado pelo facto de os perímetros das instalações da Luftwaffe raramen-te estarem situados junto a rodovias, ao que se acrescia o problema de nenhum dos visitantes falar alemão. O aviador tinha inicialmente planeado levar a irmã, que era fluente no idioma, mas o marido não consentiu.

Para satisfazer interesses nazis, em agosto de 1935, o Dr. Hermann Görtz passou algumas semanas a passear nas regiões de Suffolk e Kent numa moto Zündapp, para identificar as Bases da RAF acompanhado da jovem Marianne Emig que viajava no seu sidecar. Mas Emig cansou-se do trabalho, ou perdeu a coragem, e Görtz, um advogado de quarenta e cinco anos, natural de Lübeck, e que tinha aprendido Inglês com a sua governanta, viu-se obrigado a acom-panhá-la de volta à Alemanha. Regressaria para recolher a máquina fotográfi-ca e outros bens que o casal tinha deixado para trás num bungalow alugado em Broadstairs, onde se incluíam planos da RAF em Manston. Infelizmente para o aspirante a super espião a polícia já estava na posse destes materiais incrimi-natórios, depois de uma denúncia do senhorio. Görtz foi preso em Harwich econdenado a quatro anos de prisão. Seria libertado e deportado em fevereirode 1939. Ainda ouviremos falar de Hermann Görtz.

Para chegar aos segredos dos seus vizinhos, todas as estruturas dos servi-ços de informações das várias nações tinham ao seu serviço agentes colocados nas embaixadas no estrangeiro. O coronel Noel Mason-MacFarlane, adido militar em Berlim, era um dos mais proeminentes desses agentes britânicos.

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«Mason-Mac» era astuto, mas também bombástico. Um dia, em 1938, assus-tou um visitante Inglês ao apontar-lhe, através da janela, o local onde Hitler assistiria, no dia seguinte, ao desfile de aniversário da Wehrmacht. «Tiro de espingarda facílimo,» disse o coronel, laconicamente. «Acabava com esse gajo enquanto o diabo esfrega o olho, e estou mesmo a pensar fazê-lo Com aquele lunático fora do caminho é bem possível que as coisas passem a entrar nos ei-xos.» É claro que Mason-MacFarlane não fez nada disto. Nos seus momentos de maior moderação tornar-se-ia muito próximo de alguns oficiais alemães, e transmitiu para Londres muitas informações acerca das intenções nazis. Esta breve descrição ajuda a ilustrar o papel que a fantasia desempenhava na vida dos agentes dos serviços de informações, que viviam equilibrados numa corda bamba entre as mais altas intenções e a baixa comédia.

Segundo as críticas mais desdenhosas, o governo americano não tinha ser-viços de informações. Em sentido restrito, assim era, não tinha colocado agen-tes no exterior. No seu território, o FBI (Federal Bureau of Investigation) de J. Edgar Hoover era o responsável pela segurança interna dos Estados Unidos. Apesar dos alardeados sucessos do FBI contra os gangsters, da vigilância in-tensiva ao Partido Comunista dos Estados Unidos da América e aos sindica-tos, pouco sabia dos espiões da União Soviética que andavam por todo o país, e nada fez para impedir o aumento exponencial das atividades das empresas de alta tecnologia. O adido militar alemão general Friedrich von Bötticher dizia, com alguma sobranceria, sobre seus anos de serviço em Washington o seguin-te: «Foi tão fácil, os americanos têm uma mente tão aberta, publicam tudo. Não são necessários serviços secretos. Basta alguma dedicação e ler os jornais!» Em 1936 foi possível a Bötticher enviar para Berlim detalhadas informações sobre as experiências americanas com foguetes. Um traidor americano vendeu aos alemães cópias de uma das conquistas tecnológicas mais acarinhadas no país, a mira para bombardeiros Norden. O general pediu ao Abwehr para não se in-comodar a introduzir agentes secretos nos Estados Unidos da América, para preservar a boa-fé dos anfitriões na boa vontade nazi.

As agências de informação supervalorizam as informações obtidas a partir dos espiões. Um dos muitos académicos recrutados para os serviços secretos britânicos durante a guerra observaria com desdém: «O MI6 valoriza as infor-mações na proporção do seu sigilo, não da sua precisão. Dariam sempre mais valor a uma fragmento de terceira categoria de desinformação tendenciosa contrabandeada desde Sófia nos botões da virilha de um romeno proxeneta e vagabundo do que a qualquer informação obtida a partir de uma cuidada leitu-ra da imprensa estrangeira.» Correspondentes americanos no estrangeiro e di-plomatas colocados no exterior forneciam a Washington uma visão do mundo tão plausível quanto a dos espiões europeus. O Major Truman Smith, o adido

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militar americano há muitos anos colocado em Berlim e um caloroso admira-dor de Hitler conseguiu providenciar um quadro mais preciso dos planos de combate da Wehrmacht do que o MI6.

Os adidos navais dos Estados Unidos colocados no Japão, o seu mais prová-vel adversário, limitavam-se muitas vezes a fotografar os seus navios de guerra a ultrapassarem navios de passageiros e a trocar bisbilhotices no clube dos adidos em Tóquio. Henry Stimson, enquanto Secretário de Estado, tinha fechado em 1929 o «Black Chamber», o seu departamento das operações de descodificação, seguindo o raciocínio de muitos dos seus compatriotas de que uma nação que não enfrenta nenhuma ameaça externa podia renunciar a tais sórdidos instru-mentos. No entanto, tanto o Exército como a Marinha, isolados e numa feroz competição, sustentavam equipas de descodificação altamente dedicadas, ain-da que pequenas. O sucesso de William Friedman, nascido na Rússia em 1891 e formado em agronomia, cuja organização SIS (Signals Intelligence Service), liderada pelo ex-professor de matemática Frank Rowlett, replicaria a máquina japonesa de encriptação diplomática «Purple», cuja chave conseguiram que-brar em setembro de 1940, foi ainda mais notável dado que os criptoanalistas americanos tinham parcos recursos. Tinham até aí feito poucas tentativas para quebrar as cifras alemãs porque não tinham meios para o fazer.

Os japoneses espiaram de forma enérgica a China, os EUA e os impérios europeus no sudeste asiático, que viam como uma presa potencial no futuro. Os seus agentes não eram diferentes dos outros: em 1935, quando a polícia de Singapura prendeu um expatriado japonês local por suspeita de espiona-gem, a ansiedade do homem de evitar causar quaisquer embaraços a Tóquio foi tal que, seguindo o precedente de E. Phillips Oppenheim, engoliu ácido cianídrico na sua cela. Os nacionalistas chineses liderados por Chiang Kai-shek sustentaram um serviço de contraespionagem para proteger a sua dita-dura dos críticos domésticos, mas os japoneses conseguiram reunir informação quase sem impedimentos em toda a Ásia. Os britânicos estavam mais inte-ressados na luta contra a agitação comunista interna do que em combater os potenciais invasores estrangeiros. Achavam ser impossível levar a sério «os rapazolas do oriente» como Churchill chamava de forma depreciativa aos ja-poneses, ou «os minorcas escravos amarelos» nas palavras do responsável pe-los Negócios Estrangeiros.

Os diplomatas da Grã-Bretanha foram claramente descuidados com a pro-teção dos seus segredos ao aderirem às convenções dos cavalheiros vitorianos. Robert Cecil, que era um deles, escreveu: «A embaixada era a residência de festas do embaixador; seria impensável pensar que um dos convidados pudes-se estar a espiar os outros.» Já em 1933, os Negócios Estrangeiros tinham re-cebido uma chamada de atenção, ainda que de forma indireta: depois de um

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dos membros da estrutura se ter suicidado por asfixia num forno a gás, foi re-velado que ele vendera cifras britânicas a Moscovo. O capitão John King, com funções de secretário, foi descoberto a financiar uma amante americana atra-vés do tráfico de segredos. Em 1937, um funcionário da embaixada britânica em Roma, Francesco Constantini, conseguiu surripiar documentos da embai-xada para os fazer chegar aos serviços secretos italianos, tudo porque o embai-xador tinha como princípio confiar em quem o servia. Também nesse período, os homens de Mussolini conseguiram ler algumas das mensagens codificadas dos britânicos. Afinal, nem todos os italianos eram os «patetas alegres» que os seus inimigos supunham. Em 1939 quando os serviços de informações japo-neses quiseram os livros de códigos do consulado britânico em Taipei, os seus agentes conseguiram com facilidade que um dos seus homens se tornasse num dos guardas noturnos. Durante os seis meses seguintes os agentes de Tóquio acederam repetidamente ao consulado de forma segura, assim como aos seus arquivos e livros de códigos.

No entanto, em nenhuma parte do mundo os serviços de informações eram geridos e avaliados de forma adequada. Embora os segredos tecnológicos fos-sem de grande utilidade para as nações rivais, é pouco provável que grande parte do secretismo febril da vigilância política e militar tenha conseguido fornecer mais informação que uma leitura atenta e cuidadosa da imprensa. As rivalida-des endémicas prejudicavam a colaboração entre as agências de informação. Na Alemanha e na Rússia, Hitler e Stalin distribuíram o poder entre as suas po-lícias secretas, como forma de melhor concentrar o controlo nas suas mãos. A principal agência da Alemanha foi o Abwehr, cujo título significa literalmente «segurança», embora fosse a responsável tanto pelas informações reunidas no exterior, como pela contraespionagem em casa. Tratava-se de um ramo das for-ças armadas dirigido pelo almirante Wilhelm Canaris. Quando Guy Liddell, diretor da contraespionagem do MI5 e um dos seus mais competentes oficiais, se esforçou mais tarde por explicar a incompetência do Abwehr, expressou uma sincera convicção de que Canaris estaria a soldo dos russos.

Os nazis também tinham a sua própria máquina de segurança, o Reichssicherheitshauptamt (Gabinete Central de Segurança do Reich) ou RSHA, dirigido por Ernst Kaltenbrunner e sob a alçada da estrutura impe-rial de Himmler. Dela faziam parte a polícia secreta — Gestapo, e o seu ramo irmão da contraespionagem o Sicherheitdienst (Serviço de Segurança) ou SD, que se sobrepunha às atividades do Abwehr em muitas áreas. Uma figura chave era Walter Schellenberg, assessor de Reinhard Heydrich. Schellenberg seria mais tarde encarregado de chefiar os serviços de informações do RSHA no estrangeiro, que viria a ser integrado no Abwehr em 1944. O Alto Comando e as atividades diplomáticas ligadas à descodificação seriam conduzidas pelo

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Antes do Dilúvio

Chiffrierabteilung (Departamento de Cifras) coloquialmente conhecido como OKW/Chi, e o Exército tinha o ramo de informação rádio que viria a tornar--se no OKH/GdNA. O Ministério da Aeronáutica de Göring tinha opera-dores de criptografia próprios, tal como a Marinha. A coleta de informação económica era coordenada pelo WiRuAmt (departamento de economia), e o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Ribbentrop recolhia relatórios das embaixadas no estrangeiro. Guy Liddell escreveria, irritado: «Com o nosso sistema de governo, não havia nada que impedisse os alemães de obter as in-formação que quisessem.» Mas os complexos serviços de informações e de contrainformação nazis eram muito mais eficazes na supressão da oposição doméstica do que na exploração das fontes estrangeiras, mesmo quando de-las obtinham algo útil.

Os departamentos de informação franceses tinham um estatuto humilde e, como tal, magros orçamentos. O pessimismo sobreposto à ignorância levá--los-ia de forma consistente a exagerar a força militar alemão em pelo menos 20 por cento. František Moravec acreditava que a política de segurança france-sa piorava à medida que a ameaça de guerra crescia: «A sua vontade de “saber” parecia diminuir proporcionalmente com o aumento do perigo nazi.» O che-co Moravec foi confrontado com a indiferença dos seus homólogos franceses, apesar de ter voltado de uma conferência dos Aliados com um presente de um famoso criminologista francês, o Professor Locarde de Lyons: um revelador químico que se provou ser útil para expor a escrita secreta.

Desde o início dos tempos, que os governos foram capazes de intercetar as comunicações dos outros somente quando os espiões ou os acidentes de guerra conseguiram fazer-lhe chegar às mãos mensagens materiais. Agora, porém, tudo era diferente. A comunicação sem fios era uma ciência um pouco anterior ao século xx, mas tinham sido precisos trinta anos para se transfor-mar num fenómeno universal. Durante a década de 1930, os avanços tecno-lógicos iriam provocar uma generalização das transmissões em todo o mundo. As ondas do éter cantarolavam e choramingavam com mensagens privadas, comerciais, militares, navais e diplomáticas, percorrendo as nações e atraves-sando os oceanos. Tornava-se indispensável para os governos, generais e al-mirantes a comunicação através da rádio de ordens operacionais e informação a cada subordinado, navio e formação fora do alcance de um telefone fixo. Garantir que estas trocas de comunicação fossem seguras implicava decisões avisadas. A velocidade à qual um sinal podia ser enviado e recebido e a sub-tileza da respetiva criptografia eram inversamente proporcionais. Era impra-ticável municiar as unidades do Exército nas linhas de frente com máquinas de cifra e, portanto, em vez disso, empregavam-se as chamadas mensagens de papel e lápis (feitas à mão), cuja sofisticação variava. O Exército alemão

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A Guerra Secreta

usou um sistema derivado do britânico, designado por Double Playfair (en-criptação manual simétrica)*.

Para as mensagens mais secretas, um código quase inquebrável era o que se baseava num «one-time pad» (chave de uso único), em que o remetente empre-gava uma combinação única de letras e/ou números que se tornava inteligível apenas para um destinatário a quem fosse previamente fornecida a fórmula de descodificação. Os soviéticos privilegiaram este método, apesar de os seus agen-tes o terem comprometido algumas vezes ao usarem a «one-time pad» mais de uma vez, possibilitando aos alemães a sua descoberta. A partir de 1920, algumas das principais nações começaram a utilizar cifras consideradas inexpugnáveis desde que usadas corretamente, dado que as mensagens eram processadas atra-vés de máquinas elétricas que permitiam milhares de milhões de combinações. A magnitude do desafio tecnológico que representavam os sinais das máquinas de criptografia do inimigo não impediu nenhuma das nações de tentar desco-dificá-los. Este passou a ser o principal objetivo dos serviços de informações durante a Segunda Guerra Mundial.

A estrela mais brilhante do Deuxième Bureau, dos serviços de informações franceses, era o Capitão Gustave Bertrand, chefe do ramo de criptoanálise na Section des Examens (Secção de Análise) do Exército francês que tinha deixa-do as fileiras militares para ocupar uma vaga que nenhum ambicioso oficial de carreira queria. Um dos seus contactos era um empresário parisiense chama-do Rodolphe Lemoine, com o nome de batismo de Rudolf Stallman, filho de um rico joalheiro de Berlim. Em 1918 Stallman adotou a nacionalidade fran-cesa e começou a trabalhar para o Deuxième simplesmente porque gostava da espionagem, que entendia como um jogo em si mesma. Em outubro de 1931, transmitiu para Paris a oferta de Hans-Thilo Schmidt, irmão de um general alemão, para a venda a França de informação sobre a Enigma, a fim de poder resolver um grave problema financeiro. Bertrand aceitou e, em troca de dinheiro vivo Schmidt entregou extenso material sobre a máquina, juntamente com as respetivas configurações de chave para outubro e novembro de 1932. Depois disso, permaneceria ao serviço de França até 1938. Como os franceses sabiam que os polacos também procuravam uma forma de quebrar o funcionamento da Enigma, as duas nações concordaram numa colaboração: os criptoanalistas polacos focavam-se na tecnologia, enquanto os seus homólogos franceses se de-dicavam à descodificação dos textos. Bertrand também tentou uma aproximação com os britânicos, mas estes, numa fase inicial, mostraram-se desinteressados.

* Esta técnica encriptava pares de letras (dígrafos), e, dessa forma, caía na categoria das cifrasconhecidas como cifras de substituição poligráficas. Tal acrescentava uma força significativa a esta encriptação, quando comparada com as cifras de substituição monográficas que operavam com carateres simples. [N. do T.]

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Antes do Dilúvio

Os decifradores da Grã-Bretanha tinham adquirido um dos primeiros mo-delos comerciais da Enigma em 1927, examinando-a minuciosamente. Sabiam que modelos mais recentes eram bem mais sofisticados, com a inclusão de um complexo circuito elétrico conhecido como Steckerbrett, ou painel de controlo. Isso permitia-lhe estar dotada de uma gama de 159 milhões de milhões de mi-lhões de posições para uma única letra. Aquilo que o engenho humano tinha inventado era passível, pelo menos teoricamente, de ser penetrado pelo engenho humano. Em 1939, no entanto, ninguém imaginaria, nem por um momento, que seis anos mais tarde as informações transmitidas através das ondas rádio viriam a provar ser preciosíssimas para os vitoriosos, e mais desastrosas ainda para os perdedores, que todos os relatórios feitos por todos os espiões das na-ções em guerra.

1 . 2 . O s b r i t â n i c o s : c a v a l h e i r o s e j o g a d o r e s

A reputação do MI6 era incomparável à de qualquer outro serviço secreto. Embora Hitler, Stalin, Mussolini e os generais japoneses compartilhassem o ceticismo, ou até mesmo o desprezo, acerca das condições físicas do «velho leão» para lutar, olhavam para os seus espiões com grande respeito, cultivan-do a ideia da sua omnisciência. As proezas britânicas nas ações clandestinas remontam ao século xvi, pelo menos. Francis Bacon escreveu na sua History of the Reign of King Henry VII (História do Reinado do Rei Henrique VII): «Quanto aos seus Espias secretos, utilizou-os tanto aqui como no exterior, para que eles descobrissem quais eram as Práticas e Conspirações que estavam a ser preparadas contra si, o que no seu caso seguramente se justificava.» Sir Francis Walsingham foi um dos mestres de espionagem da rainha Isabel I. Muito mais tarde, apareceriam os romances Kim de Rudyard Kipling, e Richard Hannay de John Buchan, pertencentes ao arrojado «clube dos heróis» que jogavam xadrez pela Inglaterra com mil peças vivas, num tabuleiro que se estendeu por vários continentes. Um agente secreto britânico dos tempos de guerra observou: «No que a este quadro respeita, praticamente todos os agentes que conheci tinham como preocupação, aqui e no exterior, tal como eu, uma espécie de Hannay.» O grande físico dinamarquês Niels Bohr disse ao oficial do serviço de infor-mações científicas RV Jones que se sentia feliz em cooperar com o serviço se-creto britânico porque «era dirigido por um gentleman.»

Aos serviços de informações britânicos tinha-lhes corrido bem a Grande Guerra. Os decifradores de códigos da Marinha, aos quais pertenceram ho-mens como Dillwyn Knox e Alastair Denniston, que trabalharam na Sala 40 do Almirantado, providenciaram aos comandos militares uma profusa infor-mação sobre os movimentos da frota alemã de alto mar. A descodificação e

ISBN 978-989-8849-38-0

História

A GUERRASECRETA

ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS1939–1945

«Um monumental novo trabalho.»

The New York Times

O aclamado jornalista e historiador • Bestseller internacional

A GUERRA SECRETA

«Pleno de autoridade, entusiasmante e notavelmente bem escrito.»

�e Telegraph

«O Sr. Hastings volta a ser o melhor. Depois de um quarto de século a criticar livros sobre serviços secre-tos, A Guerra Secreta é o mais importante.»

�e Washington Times

«O melhor livro acerca do papel dos serviços de infor-mações na Segunda Guerra Mundial.»

Sunday Times

«Este livro é altamente recomendado enquanto visão completa e panorâmica sobre o mundo da espionagem e os serviços secretos na Segunda Guerra Mundial, algo que há muito faltava na historiogra�a deste con-�ito.»

New York Journal of Books

Os espiões, os códigos e as guerrilhas tiveram um papel central na Segunda Guerra Mundial. Foram usados por todas as nações para obter informação secreta sobre os seus inimigos e antecipar movimentações, tendo in�uenciado decisivamente o con�i-to. Em A Guerra Secreta, Max Hastings, historiador especialista neste período e autor dos aclamados Catástrofe e Inferno, apresenta as mais extraordinárias sagas de infor-mação e resistência, avaliando os verdadeiros triunfos dos espiões e dos decifradores de códigos e corrigindo mitos e falsas histórias, naquela que é uma nova perspetiva acerca do maior con�ito de sempre.Hastings explora não só Alan Turing e os génios da encriptação de Bletchley Park, mas também os seus homólogos alemães, que obtiveram os seus próprios triunfos contra os Aliados. O livro mapeia as extraordinárias redes de espionagem da União Soviética, dos Estados Unidos, do Japão e da Grã-Bretanha e tenta compreender porque Stalin rejeitava tão frequentemente a informação recolhida pelos seus agentes desde o coração da máquina de guerra do Eixo.Relacionando momentos fulcrais de batalhas no ar, em terra e no mar com o trabalho dos que, a partir dos seus países, combatiam a tecnologia do inimigo, Hastings desven-da os documentos mais preciosos e os momentos-chave nesta guerra secreta, que garantiram que nenhuma nação desse por mal empregues as vidas e recursos gastos em busca de informação privilegiada.

Um livro que expõe tudo sobre os serviços de informação dos Aliados e do Eixo, obrigatório para todos os interessados na Segunda Guerra Mundial

9 789898 849380

Sir Max Hastings é autor de 25 livros, muitos deles sobre guerra. Frequentou o University College, em Oxford, que abandonou ao �m de um ano para se dedicar ao jornalismo.

Passou muitos dos seus primeiros anos de jornalista como correspondente da BBC e de diversos jornais, tendo estado em 64 países e acompanhado 11 con�itos militares, entre os quais a guerra Israelo-Árabe de 1973, a Guerra do Vietname e a Guerra das Malvinas.

Entre 1986 e 2002, foi chefe da redação do Daily Telegraph e depois diretor do Evening Standard. Recebeu diversos prémios pela sua carreira literária e jornalística, incluindo, em 2012, o prémio da Pritzker Military Library e a Medalha do Duque de Westminster para a Literatura Militar pelo seu livro Inferno: O Mundo em Guerra.

Tem dois �lhos e vive com a mulher, Penny, numa zona rural do sul da Inglaterra, onde ambos praticam com entusiasmo a jardinagem.

Em Portugal, tem publicados os livros Operação Overlord (ed. Casa das Letras), Os Melhores Anos: Churchill 1940––1945 e Inferno (ambos ed. Civilização) e Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra (ed. Vogais).

Saiba mais sobre o autor em: www.maxhastings.com

Do mesmo autor:

Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra

UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEMDA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

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