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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO RACHEL VIANA LEÃO O ESTRESSE COMO AGENTE PROPULSOR DO AUMENTO DE ACIDENTES NO TRANSITO EM SÃO LUIS - MA MACEIÓ - AL 2013

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

RACHEL VIANA LEÃO

O ESTRESSE COMO AGENTE PROPULSOR DO AUMENTO DE

ACIDENTES NO TRANSITO EM SÃO LUIS - MA

MACEIÓ - AL

2013

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RACHEL VIANA LEÃO

O ESTRESSE COMO AGENTE PROPULSOR DO AUMENTO DE ACIDENTES NO

TRANSITO EM SÃO LUIS - MA

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva

MACEIÓ - AL

2013

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RACHEL VIANA LEÃO

O ESTRESSE COMO AGENTE PROPULSOR DO AUMENTO DE ACIDENTES NO

TRANSITO EM SÃO LUIS – MA

Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

APROVADO EM ____/____/____

_______________________________________________

PROF MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA

ORIENTADOR:

_______________________________________________

PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

BANCA EXAMINADORA

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DEDICATÓRIA

À minha família: Luíz, Iani, Lúcia, Junior, Karol, Cyntia,Luiz Guilherme, Luciana e

João Lucas. Pessoas que amo e que sempre me acrescentaram o viver.

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AGRADECIMENTOS

Às minhas amigas Renatha, Losiley e Silvanges pelo apoio durante a

construção da monografia.

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“A rua é um departamento importante da escola do

mundo, onde cada criatura pode ensinar e aprender”.

(Francisco Cândido Xavier pelo espírito André Luiz).

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RESUMO

Os acidentes de trânsito representam um sério problema na rotina do Brasil. E esse problema se agrava a cada dia, devido ao aumento de veículos causado pela facilidade de se adquirir um automóvel e da má estrutura e desorganização das vias urbanas. Tudo isso intensifica o estresse do motorista, que já anda carregado com seus problemas diários e muitas vezes não consegue lidar com os transtornos causados pelo trânsito, ocasionando acidentes. A psicologia do trânsito é uma área que deve contribuir para a construção de um trânsito mais seguro, a medida que o psicólogo consiga avaliar as condições psicológicas que o candidato a CNH tem para dirigir e vetá-lo caso represente risco a segurança do trânsito. Para diagnosticar o estresse no motorista candidato a renovação da CNH em São Luis–Ma, aplicou-se questionários nos motorista atendidos na Clínica Transcender, onde constatou-se que a grande maioria sofre com problemas causados pela desorganização do trânsito da cidade, geralmente responsável pelo constante engarrafamento. Palavras-chave: Trânsito. Acidentes de trânsito. Estresse. Motorista. Psicologia de Trânsito.

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ABSTRACT

Traffic accidents are a serious problem in the routine of Brazil. And this problem is getting worse every day, due to the increase of vehicles caused by the ease of acquiring a car and poor structure and disorganization of urban roads. All this intensifies the stress of the driver, who now walks loaded with their daily problems and often can not cope with the inconvenience caused by traffic, causing accidents. The traffic psychology is an area that should contribute to building a safer traffic, as the psychologist can assess the psychological conditions that the candidate has to drive CNH and veto it if risk represents traffic safety. To diagnose stress on the driver candidate for renewal of CNH in São Luis-Ma, applied questionnaires driver met us at Transcender Clinic, where he was diagnosed that the vast majority suffers from problems caused by the disruption of traffic in the city, usually responsible for constant gridlock. Keywords: Traffic. Traffic accidents. Stress. Driver. Traffic Psychology.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Distribuição dos motoristas de acordo com o sexo............................. 27

Gráfico 2 – Distribuição dos motoristas de acordo com faixa a etária................... 27

Gráfico 3 – Distribuição dos motoristas de acordo com o estado civil................... 28

Gráfico 4 – Distribuição dos motoristas de acordo com a escolaridade................ 28

Gráfico 5 – Distribuição dos motoristas de acordo com fatores estressantes....... 29

Gráfico 6 – Distribuição dos motoristas de acordo com o que lhes aborrece

notrânsito............................................................................................ 30

Gráfico 7 – Distribuição dos motoristas quanto a sofrimento de acidentes

no trânsito........................................................................................... 30

Gráfico 8 – Distribuição dos motoristas quanto ao estado em que se

encontravam no momento do acidente............................................... 31

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SUMARIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 13

2.1 Definições de Estresse ..................................................................................... 13

2.2 O Estresse como Causa de Acidentes no Trânsito ........................................ 16

2.3 Psicologia do Trânsito ..................................................................................... 20

2.4 O Papel do Psicólogo do Trânsito ................................................................... 22

3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 25

3.1 Tipo de Estudo .................................................................................................. 25

3.2 Local/Universo ................................................................................................... 26

3.3 Amostra .............................................................................................................. 26

3.4 Procedimentos para Coletas de Dados ........................................................... 26

3.5 Procedimentos para Análise de Dados ........................................................... 26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 32

REFERENCIAS ......................................................................................................... 34

APÊNDICE ................................................................................................................ 38

ANEXOS ................................................................................................................... 40

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1 INTRODUÇÃO

O estresse é uma reação causada pelas situações do corpo e da mente

quando se encontra diante de uma situação que represente perigo, ameaça ou que

exija mudanças. Está presente no cotidiano do indivíduo e qualquer evento que

proporcione uma emoção, seja ela boa ou má, pode ser considerado fonte de

estresse, de modo que é importante ficar atento aos fatores estressores. Um evento

é considerado causador de estresse quando assim é percebido pelo indivíduo (LIPP;

MALAGRIS, 2001).

O estresse é prejudicial no trânsito, e suas consequências podem

desencadear efeitos não apenas no motorista estressado, mas também nos outros

condutores, e ainda em pedestres. Segundo Andrade (2007), Carvalho e Malagris

(2007) o estresse pode influenciar os condutores nas tomadas de decisões no

trânsito.

Portanto, dirigir é uma atividade que requer cuidado, e não apenas pela

possibilidade de acidentes, mas pelos problemas de saúde que o ato de dirigir pode

desencadear. O problema pode vir desde ações aparentemente inofensivas, como

trocas de marchas feitas com o braço na posição errada, até estresse pós-

traumático, que atinge pessoas que presenciam ou se envolvem em acidentes de

trânsito. Em função destes acidentes, muitos chegam a ter dificuldades no trabalho,

no relacionamento, tendência a depressão ao alcoolismo, etc. O inverso também

pode acontecer, os estresses no dia a dia, fora do trânsito, podem interferir dentro

do trânsito.

Para Rozestraten (2011) o ato de dirigir é um tanto complexo, pois

envolve os comportamentos no trânsito e a convivência com o ambiente social. Por

sua vez, a Psicologia de Trânsito tem a possibilidade de estudar e avaliar as

características dos condutores de modo sistemático, colaborando assim, na

elaboração de ações que possam melhorar essa relação.

Portanto, a intervenção da Psicologia do Trânsito é uma importante

contribuição para a segurança do trânsito, e pode ser definida como uma área que

estuda, através de métodos científicos, os comportamentos das pessoas no trânsito,

assim como os fatores humanos externos e internos, conscientes ou não, que

possam provocar ou alterar tais comportamentos (ROZESTRATEN, 1988).

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Atualmente, o trânsito não se trata apenas de uma questão de infra-

estrutura viária. É um assunto de caráter econômico, ambiental e de saúde pública.

E pode-se relacionar a ele problemas físicos e psicológicos, de artrites a estresses,

de fadiga a irritabilidade, além das doenças respiratórias decorrentes da poluição

(RIGOTTO, 2003).

Na realidade, o trânsito é um verdadeiro choque na qualidade de vida dos

cidadãos. Zanelato e Oliveira (2004) chamam atenção para o fato de que o trânsito

pode ser prejudicial à saúde física e psíquica daquele que conduz o veículo,

causando, por exemplo, estresse, fadiga, ansiedade, depressão, fobias, doenças

cardiovasculares, gastrointestinais, músculo esquelética, dor nas costas e pescoço

entre outros.

Nesta perspectiva, este trabalho não pretende esgotar todas as relações

sobre o estresse no trânsito, e nem minimizar a importância desta relação, mas

abordar o assunto em uma forma pontual, com motoristas de trânsito - os candidatos

a renovação da habilitação - priorizando os fatores estressantes dentro do próprio

trânsito.

A presente pesquisa tem como objetivo analisar o estresse dos motoristas

de São Luis-Ma, em processo de renovação da CNH atendidos na Clínica

Transcender, no período de janeiro a julho de 2012, como agente propulsor do

aumento de acidentes de trânsito na capital.

Trata-se de uma pesquisa de campo, onde foi realizada uma entrevista

aberta e analisou-se os questionários respondidos pelos motoristas a cerca de

perguntas sobre fatores estressantes no transito e fora dele, além de dados como:

faixa etária, sexo, escolaridade e estado civil. Para o desenvolvimento do referencial

teórico, foram utilizadas fontes de pesquisas primárias e secundárias como livros,

monografias, artigos de revistas e sites especializados.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Definições de Estresse

De acordo com o dicionário Aurélio, estresse é “O conjunto de reações do

organismo a agressão de ordem física, psíquica, infecciosa e outras capazes de

perturbar a homeostase.” Ferrreira (2010, p. 35). França e Rodrigues (2002) o

definem como o estado do organismo que pode produzir deformações na

capacidade de resposta atingindo o comportamento mental e afetivo, o estado físico

e o relacionamento com as pessoas, após determinado esforço de adaptação. Eles

dizem ainda que “O termo estresse vem da física, e neste campo do conhecimento

tem o sentido de grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida

a um esforço”.

É importante ressaltar que apesar de ter alcançado grande popularidade

atualmente, o conceito de estresse não é novo. Segundo Rossi “Estresse é uma

palavra derivada do latim, que foi popularmente usada durante o século XVII para

representar adversidade ou aflição. [...] em fins do século XVIII, seu uso evoluiu para

denotar „força‟, „pressão‟ ou „esforço‟, exercido primariamente pela própria pessoa,

seu organismo e mente.” (ROSSI,1994, p. 13).

Assim, não é de hoje que o estresse vem despertando interesse de

estudiosos. Nos últimos 15 anos, o estresse tem sido objeto de estudo de muitos

pesquisadores, uma vez que se evidencia sua relação com a saúde. E essa

preocupação só tende a aumentar, pois as pessoas estão cada vez mais propensas

a situações que podem desencadear o estresse, (SILVA, 2002)

Hans Selye foi quem usou este termo pela primeira vez, em 1926. Ele

assim o definiu: “Um conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser

submetido a uma situação que exige esforço para adaptação”, e estressor “é todo

agente ou demanda que evoca reação de estresse, seja de natureza física, mental

ou emocional” ( CARVALHO; SERAFIM, 2002, p. 15).

Foi este estudioso quem realizou um dos primeiros estudos sobre

estresse, em 1936, onde submeteu cobaias a estímulos estressores e observou um

padrão específico na resposta comportamental e física dos animais. Descreveu os

sintomas do estresse sob o nome de Síndrome Geral de Adaptação, composto de

três fases sucessivas; alarme, resistência e esgotamento. Após a fase de

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esgotamento era observado o surgimento de diversas doenças sérias, como úlcera,

hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas.

Selye (2003) considerava o estresse uma síndrome caracterizada por um

conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação

que dele exija um esforço de adaptação. Ele afirma que:

A palavra estresse, com esse sentido, designa o total de todos os efeitos não-específicos de fatores (atividade normal, agentes produtores de doenças, drogas, etc.) que podem agir sobre o corpo. Esses agentes são denominados stressores quando tratamos de sua característica de produzir estresse (SELYE, 2003, apud COSTA; LIMA; ALMEIDA, 2003).

Apesar de ser vista pela maioria das pessoas a palavra como algo

negativo, Rossi (1994) enfatiza que se por um lado o estresse é negativo, por outro,

é necessário para que as pessoas possam produzir e serem criativas. Ela diz que:

“Viver sem estresse é um mito, pois não podemos atuar sem seu estímulo. Pouco

estresse ou estresse em excesso pode causar efeitos dramáticos. O importante é

manter o equilíbrio, como as cordas de um violino. Elas necessitam de tensão

suficiente para produzir música, mas sem rebentar” (ROSSI, 1994, p. 31).

Robbins (2005) compartilha dessa opinião ao afirmar que “O estresse é

uma condição dinâmica do indivíduo, onde ele é confrontado com uma demanda,

limitação ou oportunidade em relação a algo desejado e cujo resultado é percebido

como importante e incerto” . Dessa forma, o estresse pode ser entendido como algo

positivo ou negativo, o que vai depender da percepção da pessoa e do nível de

estresse que ela se encontra.

Durante anos, as pesquisas científicas e a mídia vêm divulgando os

sérios efeitos do estresse sobre o indivíduo, especialmente pressão alta e problemas

cardíacos. Segundo Robbins (2005), os sintomas do estresse podem ser físicos,

psicológicos ou comportamentais, os quais variam de acordo com o nível percebido

de estresse e os fatores que agem como fontes potenciais.

• Sintomas físicos – deve-se às reações orgânicas ao estresse que acontecem devido à ativação hormonal que gera mudanças no metabolismo, aumento dos ritmos cardíaco e respiratório, aumento da pressão sanguínea, dores de cabeça e até ataques do coração. • Sintomas psicológicos – geralmente ligados à insatisfação. Quando relacionado ao trabalho, pode levar à insatisfação no trabalho que é o efeito psicológico mais simples e óbvio do estresse. • Sintomas comportamentais – estes quando relacionados ao trabalho, induzem mudanças na produtividade, absenteísmo e rotatividade, bem

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como mudanças nos hábitos alimentares, fala mais rápida, inquietação e distúrbios do sono, além de colaborar para o aumento do consumo de álcool e tabaco (ROBBINS, 2005, p. 21. grifo nosso).

Quanto ao estresse psicológico, Silva (1998) o conceitua como um

relacionamento particular entre a pessoa e o ambiente que é aprendido como

taxando ou excedendo os seus recursos e, portanto, colocando em risco o seu estar.

Para Lipp e Rocha (2001, apud MALAGRIS; FIORITO, 2006), as fontes

de estresse são os estressores, definidos como qualquer situação que deixe o

indivíduo confuso, amedrontado ou excitado. Essas situações são estímulos que

podem ser de origem interna ou externa ao homem, onde estímulos internos são

Tudo aquilo que faz parte do mundo interno, das cognições do indivíduo, seu modo de ver o mundo, seu nível de assertividade, suas crenças, seus valores, suas características pessoais, seu padrão de comportamento, suas vulnerabilidades, sua ansiedade e seu esquema de reação à vida. [...] Já os estímulos externos se referem aos acontecimentos da vida da pessoa, tais como: dificuldades financeiras, acidentes, mortes, doenças, conflitos, questões político-econômicas do país, ascensão profissional, desemprego e problemas de relacionamento no trabalho (LIPP; MALAGRIS, 2001, p. 481).

Para Rossi (1994), as pessoas mais afetadas pelo estresse são as que

apresentam características como: necessidade de estar no controle, não aceitam

críticas, precisam da aprovação do outro, não sabem ouvir não e se acham

injustiçadas pela vida. Esse tipo de pessoa torna-se completamente vulnerável ao

estresse.

Vale ressaltar, que o fator determinante do estresse excessivo no

indivíduo é a associação entre os estímulos internos e externos, além da forma

como esse indivíduo enfrenta a situação. A interpretação inadequada dada aos

eventos é um dos principais fatores contribuintes para o desenvolvimento do

estresse excessivo. No entanto, alguns acontecimentos são intrinsecamente

estressantes, tais como calor, frio, fome e dor (MALAGRIS; FIORITO, 2006).

Porém, de acordo com Carvalho e Serafim (2002) o estresse não pode

ser eliminado completamente da vida do homem. Isso seria o mesmo que emitir seu

atestado de óbito, pois a ausência total do estresse corresponde à morte. Dessa

forma, deve-se procurar diminuir os efeitos danosos do estresse, buscando uma

postura onde esse acontecimento figura positivamente e não como um obstáculo ao

desempenho do indivíduo em sua vida pessoal e profissional.

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Portanto, o estresse pode ser algo positivo se for bem compreendido e

controlado, pois preparar o organismo para lidar com situações difíceis da vida.

Porém, se não for controlado e se estiver constantemente presente na pessoa, pode

levar à pressão alta, enfarte, artrite, asma e doenças da pele (LIPP, 1994). A

verdade é que não se pode passar pela vida sem experimentar uma certa dose de

estresse, seja ela agradável ou desagradável. Pois mesmo nos momentos de

alegria, o corpo pode ativar o mecanismo do estresse até um certo ponto.

2.2 O Estresse como Causa de Acidentes no Trânsito

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o trânsito é assim

definido:

§ 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, isolados ou em grupos, estacionamento e operação de carga e descarga. § 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito (BRASIL, 2008, p. 31).

Segundo Vasconcelos (1998), o trânsito é uma disputa pelo espaço físico,

que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos – é

uma negociação permanente do espaço, coletivo e conflituoso. E essa negociação,

dadas as características de nossa sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a

disputa pelo espaço tem uma base ideológica e política; dependendo de como as

pessoas se vêem na sociedade e de seu acesso real ao poder. De forma que, se

não houver essa negociação e os espaços não forem respeitados, será inviável uma

movimentação organizada e segura, causando um verdadeiro caos no trânsito.

Atualmente é relativamente indispensável e fácil comprar um automóvel, e

isso se dá devido às necessidades de transporte, que são cada vez maiores, junto

às facilidades oferecidas pelos financiamentos. Dessa forma, a popularização do

automóvel, associada à precariedade do transporte coletivo, nas grandes cidades

brasileiras tem determinado excesso de veículos nas cidades brasileiras,

superlotando as vias de tráfego, causando engarrafamentos crônicos em muitos

lugares (PRESA, 2010). Marín-Leon e Vizzotto (2003) concordam que a deficiência

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no transporte público, juntamente com o aumento populacional, ocasionaram um

aumento no uso do carro.

Assim, o aumento desordenado de automóveis traz alguns problemas

como: congestionamentos, poluição sonora provocada por motores e buzinas,

motoristas imprudentes e pedestres que não respeitam as regras de trânsito. Isso

provavelmente acarretará em um aumento de estresse e, consequentemente, a

elevação dos índices de acidentes, provocados principalmente por falha humana.

Os índices de acidentes de trânsito (AT) alcançam, cada vez mais,

números muito altos, tanto que, juntamente com suas variáveis (comportamento

humano, tecnologia, engenharia de tráfego, entre outras), esse assunto vem sendo

alvo de preocupação social (MARÍN-LÉON; VIZZOTTO, 2003). Como afirma Presa

(2010, p.29): “O trânsito é naturalmente perigoso devido à probabilidade

relativamente alta de acidentes e seus desdobramentos: danos materiais, danos

físicos (ferimentos e óbitos)”.

Entre as causas de acidentes no trânsito está o estresse, que de acordo

com Hennessy e Wiesenthal (1997, apud PRESA, 2002), está se tornando uma

síndrome típica em motoristas de grandes centros urbanos que usam o automóvel

diariamente. Este estado deixa o motorista mais vulnerável, que na luta por seu

espaço, na pressa do dia-a-dia ou na intolerância acaba por se exaltar e cometer

imprudências que levam a acidentes.

O estresse está intimamente ligado ao manejo de veículos em dois

sentidos. Por um lado determina, até certo ponto, a forma de dirigir da pessoa e é

responsável, direta ou indiretamente, por um considerável número de acidentes de

trânsito. Por outro lado, o próprio sistema de circulação em grande escala e seus

inevitáveis efeitos, contribui significativamente para o aumento do estresse, que por

si só gera nosso próprio sistema de vida (HOFFMANN, 2011).

Segundo Forattini (1991), o estresse afeta o motorista em três níveis

diferentes: afetivo, cognitivo e físico. Algumas pessoas têm dificuldades para

raciocinar e para fazer cálculos elementares enquanto dirigem, suas capacidades

cognitivas parecem diminuir. Além do mais, o estresse acelera os batimentos

cardíacos, aumenta a pressão sanguínea e o suor, e ainda contribui para dores de

barriga, de cabeça, no pescoço e nas pernas.

Não é de hoje que o estresse está associado a acidentes de trânsito. Há

mais de 30 anos pesquisas já apontavam que as pessoas que tiveram algum

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acontecimento estressante importante próximo ao sinistro, o risco de acidentes era

cinco vezes maior que o resto da população (BRENNER 1969 apud HOFFMANN,

2011).

Pequenas situações cotidianas podem gerar um estresse ao condutor,

que acrescentadas ao acúmulo de sinais de informação ou proibição na própria via,

as quais são impossíveis de serem processadas pelo condutor em sua totalidade,

causam o denominado estresse perceptivo, que está diretamente relacionado com a

taxa de acidentes. Essa situação tem ocasionado a necessidade de retirada do

excesso de sinais de trânsito em alguns pontos (HOFFMANN, 2011).

Dessa forma, Gaspar (2003) alerta que, além da agressividade existente

pelo estresse diário e que tem efeito sobre o comportamento das pessoas no

trânsito, o próprio trânsito gera situações de estresse, fazendo com que o

comportamento agressivo de um motorista, desencadeie agressividade de outros

motoristas.

Segundo Hoffmann (2011), estudos feitos por Legree et al. (2003), Norris

et al. (2002) e Dobson et al. (1999), indicaram que os acidentes de trânsito

geralmente são antecedidos por situações estressantes, onde o estresse

relacionado ao trabalho é o mais significativo, acompanhado da pressão e o baixo

nível de satisfação na vida.

Porém, vale lembrar que o estresse não é por si só um fenômeno

suficiente para provocar um acidente de trânsito, pois o evento estressante depende

da personalidade de cada indivíduo e da situação em que ocorre tal evento

(HOFFMANN, 2011).

Estudos feitos por Marin e Queiroz (2000) sobre as causas de acidentes

de trânsito, apontam uma pesquisa realizada por Evans et al. (1987) sobre o

comportamento de motoristas de ônibus na Índia e nos Estados Unidos, onde

descobriram uma significativa associação entre padrão de comportamento tipo A

(competitivo, hiperativo, ansioso, propenso ao adoecimento por estresse) e a

freqüência de acidentes de trânsito.

Hoffmann (2011) faz referência aos estudos de Furnhan e Saipe (1993) e

Evans (1987), que demonstram que nem sempre a associação entre estresse e

acidentes de trânsito é clara, uma vez que um grande número de variáveis de

personalidade e situacionais pode tornar o evento estressante mais ou menos

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relacionado ao acidente. Contudo, mesmo não sendo evidente, não se pode ignorar

a associação entre esses dois fenômenos.

Todavia, é importante destacar que nem todo tipo de estresse é negativo

para a condução de veículos, pois pode ajudar a manter o estado de alerta e reação

que o condutor precisa para dirigir ou evitar um possível acidente. Porém, o que

geralmente se conhece do estresse são seus efeitos negativos, tecnicamente

conhecidos por estresse crônico ou distresse, que causam vários efeitos negativos

nos condutores, como:

- geração de maiores níveis de hostilidade e de comportamentos competitivos, manifestações de agressividade direta em relação a outros condutores, agressividade que, segundo os habitantes das grandes cidades, é uma das principais causas implicadas nos acidentes; - aumento da predisposição para uma condução mais imprudente e temerária, com tendência à tomada de decisões mais perigosas do que a habitual ou menor valoração e percepção de risco. Em algumas etapas do esgotamento, o estresse dificulta sensivelmente a concentração, diminui a atenção, os limites sensoriais e entorpece a habilidade para integrar informação. O fim de muitos destes estados, logicamente, é o acidente (HOFFMANN, 2011, p. 271).

É importante lembrar, que muitos condutores recorrem e remédios ou

álcool a fim de aliviar o estado de estresse. Porém, isso só agrava a situação, pois

esses componentes deterioram ainda mais suas capacidades sensoriais e motoras,

dificultando a condução do veículo e deixando-o mais vulnerável a acidentes

(HOFFMANN, 2011).

De acordo com os especialistas em Medicina de Tráfego (ABRAMET

2002),

O organismo tende a reagir ao estresse através de quatro estágios: alerta, resistência, exaustão e falência, causando sérias conseqüências físicas e emocionais. O organismo pode diante de uma situação estressante reagir “enviando mensagens”, de tensão muscular nos braços e cintura escapular, sensação de aperto no estômago, taquicardia, rubor facial, insônia, cefaléia, lombalgia, etc. (ABRAMET, 2002, p. 15).

Não é de hoje que tem se mostrado esforços na tentativa de uma

caracterização e controle dos acidentes de trânsito. Presa (2010) constata em seus

estudos que houve bons avanços na segurança pela redução das consequências de

acidentes como: a melhoria do ambiente rodoviário e dos veículos, a introdução de

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barreiras de colisão nas rodovias, cintos de segurança, veículos que não sede

formam na colisão, entre outros.

Portanto, a maior parte da diminuição das mortes por acidentes nas

estradas, em países industrializados, pode ser atribuída às referidas medidas. Por

outro lado, percebe-se que menos progresso tem sido alcançado em melhorias do

potencial de segurança do próprio condutor, que cada vez mais se deixa levar pelo

estresse e acaba por desrespeitar as regras de trânsito e provocar acidentes.

Assim, apesar do avanço no controle dos acidentes, não é possível

modificar o trânsito e todos os problemas de falta de respeito às suas regras,

principalmente a postura do mau condutor e os males trazidos pelo estresse do dia-

a-dia. Dessa forma, só nos resta aprender a conviver com as situações estressantes

do cotidiano, fazendo o possível para não deixar que o estresse cause transtornos

ainda maiores e provoque acidentes, que podem ser irreversíveis.

2.3 Psicologia do Trânsito

O trânsito se constitui por deslocamento de pessoas e veículos e todo

deslocamento se executa através de comportamentos. De acordo com Rozestraten

(1988), demorou para que este comportamento perigoso fosse estudado

cientificamente pelos psicólogos. Ele diz:

A Psicologia do Trânsito pode, portanto, ser definida como uma área da psicologia que estuda, através de métodos científicos válidos, o comportamento humano no trânsito e os fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam ou os alteram. Em síntese: é o estudo dos comportamentos deslocamentos no trânsito e de suas causas (ROZESTRATEN, 1988, p.09).

De um modo mais amplo, a psicologia do trânsito estuda todos os

comportamentos relacionados com o trânsito, desde o pedestre até os Poderes

Legislativos que elaboram as leis de trânsito. Porém, em um sentido mais restrito

estuda efetivamente os participantes do trânsito (pedestre, ciclistas, motociclistas,

etc) (ZIMMERMANN, 2008).

Segundo Rozestraten (1988), A Psicologia do Trânsito teve origem no

mundo em1910, com a finalidade de aplicar esse conhecimento na sociedade, se

opondo àtendência americana da psicologia dos laboratórios. Shutz (1999, apud

ROZESTRATEN, 2011) relata que o psicólogo alemão Hugo Münsterberg foi o

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primeiro a submeter osmotoristas dos bondes de Nova York a uma bateria de testes

de habilidade e de inteligência.

Durante a Primeira Guerra, o sucesso dos testes Army Alpha e Army Beta

facilitou a introdução das técnicas psicométricas (testes psicológicos) nas indústrias,

visando diminuir os acidentes e aumentar a produtividade. A partir daí, os testes

passaram a ser mais usados no trânsito, com o objetivo de diminuir os acidentes por

meio de testes dos candidatos a motorista em geral e motoristas de empresas,

selecionando aqueles que apresentavam um desempenho intelectual, motor,

racional e emocional satisfatório e necessário para circular no trânsito

(ROZESTRATEN, 2011).

No Brasil, a Psicologia do Trânsito se deu início na década de 30, no

setor de transportes, com as primeiras aplicações de instrumentos psicológicos de

orientação e seleção profissional dos futuros profissionais das ferrovias em São

Paulo. Na época ainda era realizada por profissionais não especializados (SILVA;

ALCHIERI, 2007, p.189).

Vale ressaltar que, mesmo sendo bastante abrangente, a psicologia de

trânsito é estudada a pouco tempo e padece da escassez de profissionais na área. E

isto dá-se, devido ao fato de ser identificada com psicotécnico nos DETRANs, pela

falta de criatividade e por não render financeiramente o esperado pelos psicólogos

(ZIMMERMANN, 2008).

Na verdade, no Brasil não existe cargo para Psicólogo do Trânsito nos

órgãos do governo, porém este profissional pode se desenvolver, por exemplo, em

empresas grandes que possuem vários motoristas, nos departamentos ou

companhias de engenharia de trânsito (DNIT, IPR, DNER), e ainda nos

Departamentos de Psicologia das Universidades Brasileiras.

Alchieri (1999 apud MÉA; ILHA, 2003) chama atenção para a diferença

que existe entre exame psicotécnico e avaliação psicológica, onde o primeiro trata-

se de uma forma deavaliação obrigatória, presente em alguns contextos (ex:

concursos públicos,seleções de pessoal e nos exames psicológicos para a obtenção

da CNH), enquanto avaliação psicológica está relacionada ao trabalho clínico e

diagnóstico, ou seja, emuma atividade individual.

Mesmo diante das dificuldades e da carência de profissionais na área, a

Psicologia do Trânsito vem mostrando sua importância nos últimos tempos, em

razão dos diversos âmbitos de atuação, seja pelo estudo e mensuração de

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comportamentos individuais e sociais dos indivíduos, contribuindo para melhorar as

situações das estradas, sinalizações ou até mesmo em práticas de educação para o

trânsito (ROZESTRATEN, 1988; SILVA; GÜNTHER, 2005).

2.4 O Papel do Psicólogo do Trânsito

Segundo Hoffmann (1995), a atuação do psicólogo do trânsito no Brasil

geralmente está associada ao período que o exame psicológico para candidatos a

motoristas profissionais passou a ser obrigatório, em 1953, e que mais tarde (1962)

se estenderia a todos os candidatos a motoristas.

Entretanto, nos últimos 40 anos pouca coisa mudou na atuação do

psicólogo de trânsito. Na verdade, há uma desatualização quanto ao uso dos

materiais de testagem, são raros os programas de capacitação profissional nesta

área e os psicólogos brasileiros quase não participam de congressos internacionais

de trânsito (ROZESTRATEN, 2011).

De acordo com Rozestraten (2011),

Uma proposta para introduzir o sistema francês de avaliação psicológica do motorista acidentado foi mal interpretada e levou à eliminação do exame psicológico pelo veto do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando da assinatura da nova legislação de trânsito (Código de Trânsito Brasileiro, 1997), mas que foi logo em seguida revogado, graças à mobilização política dos psicólogos psicotécnicos e do Conselho Federal de Psicologia (ROZESTRATEN, 2011,p. 35).

Mesmo assim, ainda restam questionamentos a cerca da eficácia dos

exames psicológicos obrigatórios para candidatos a motorista, levando em

consideração os diferentes perfis profissionais e objetivos de uso dos veículos. Além

disso, há questionamentos sobre a real contribuição dos exames na redução de

acidentes de trânsito .

Portanto, o trabalho dos psicólogos do trânsito está fortemente ligado à

natureza institucional dos órgãos públicos de trânsito, como CONTRAN e

DENATRAN, representantes da esferafederal, e os órgãos públicos estaduais, como

a Secretaria de Segurança Públicados estados (SSP) e os DETRANs, órgãos que se

constituem em organizações burocráticas.

Segundo Weber (1982, apud DAGOSTIN, 2006), esses órgãos detêm

características de centralização das decisões sobre o processo de trabalho dos

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psicólogos peritos e normatizações das políticas públicas de trânsito. O autor diz

ainda, que os profissionais dessa área vivenciam a influência da cultura política

dosórgãos públicos, do poder político presente nos órgãos de trânsito, da

descontinuidade nos projetos e das decisões sobre as políticas públicas de trânsito,

que por sua vez são influenciadas por aspectos sociais, econômicos e políticos.

Porém, vale ressaltar que o ambiente que envolve o psicólogo do trânsito

é bastante complexo, e os problemas oriundos desse contexto sempre envolvem um

grupo de pessoas que fazem parte da sociedade, de forma que nenhum profissional

é capaz de resolver sozinho os problemas referentes ao trânsito. É necessário,

portanto, um trabalho em equipe para que se possa chegar a uma solução

adequada (ROZESTRATEN,1988).

Portanto, o psicólogo não tem a responsabilidade de esclarecer todos os

problemas envolvendo o trânsito. Segundo Macêdo (2004), “Seu olhar deve se

dirigir, prioritariamente, para o comportamento do indivíduo nesse cenário, que de

qualquer forma, se mostra bastante amplo, considerando a diversidade de posições

que esse ocupa no trânsito todos os dias (pedestre, motorista, passageiro, ciclista,

entre outros)”.

Dessa forma, espera-se que os psicólogos utilizem procedimentos e

técnicas psicológicas, a fim de avaliaras condições psicológicas para dirigir, tais

como: atenção, percepção, nível mental,equilíbrio psíquico, cognição e tomada de

decisão. Espera-se ainda, detectar comportamentos de risco à segurança no

trânsito, como uso e abuso de substâncias psicoativas, agressividade, impulsividade

e ansiedade (DAGOSTIN, 2006).

Ainda sobre as ações que vedem ser desenvolvidas pelo psicólogo do

trânsito, Rozestraten (2003 apud ZAMPIERI, 2010) aponta as mais comuns:

Trabalhar com fobias de pessoas que têm medo de dirigir, embora possuam CNH; propor ações interventivas com alcoólicos que são demasiadamente responsáveis por AT e desenvolver atividades e estudos com dependentes de outras substâncias psicoativas; pesquisar nos bairros quais são as principais dificuldades encontradas no trânsito, como funciona o transporte coletivo e potenciais fatores que ocasionam AT; promover a educação e motivar os professores do ensino básico e médio a tratar de forma preventiva sobre o trânsito; promover, na área da psicologia hospitalar, terapia de apoio para os acidentados de trânsito; lutar pelo melhoramento das vias públicas e outras medidas de segurança; promover junto às universidades pesquisas avançadas a respeito dos problemas do trânsito e promover workshops, simpósios ou outros tipos de reuniões científicas com intuito de fomentar, divulgar e trocar experiências sobre o assunto em questão, entre outras (ROZESTRATEN, 2003 apud ZAMPIERI, 2010, p.42).

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Assim, pode-se observar que a atuação do psicólogo de trânsito tende a

se expandir, e se for feito um investimento em pesquisas e colaborar com outras

áreas (engenheiro, urbanista, arquiteto, legislador) que participam do contexto do

trânsito, realizando um trabalho de forma integrada, esse profissional poderá aplicar

não apenas conhecimentos técnicos, mas também políticos e sociais (GÜNTHER,

2003).

Ainda segundo Günther (2003), pesquisadores especialistas na área

relatam a carência de psicólogos de trânsito, além da desatualização científica dos

instrumentos e técnicas de exame psicológico e da dificuldade no entendimento dos

fenômenos e processos comportamentais. Por isso, é importante que esses

profissionais invistam na formação continuada, na prática reflexiva, no trabalho em

equipe e em pesquisas inovadoras. Quanto maior o investimento, melhor a

redefinição e o desenvolvimento de seu trabalho.

Portanto, apesar das dificuldades encontradas e de ainda não haver um

consenso entre os psicólogos do Brasil quanto à forma de atuação do profissional no

contexto do trânsito, é importante compreender que qualquer psicólogo deve e pode

interferir nos problemas causados por este fenômeno, contribuindo com a

construção de um trânsito seguro (CRUZ; HOFFMANN; KLÜSENER, 2003).

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para elaboração desse estudo, realizou-se, primeiramente, uma pesquisa

bibliográfica, buscando enriquecer o trabalho através de autores que discorreram

sobre o tema em questão. A pesquisa bibliográfica, segundo Oliveira (2002, p. 119),

“ [...] tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que

se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno”. É, portanto, desenvolvida

baseada em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos

científicos(GIL, 2002).

Em seguida, desenvolveu-se uma pesquisa de campo, que “É utilizada

como objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um

problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira

comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles”

(LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 186).

A pesquisa descritiva utiliza-se de técnicas padronizadas de coletas de

dados, como o questionário, que nesse estudo foi à técnica utilizada. Foi elaborada

uma pesquisa qualitativa, que no pensamento de Appolinário (2004, p. 155) “é a

modalidade de pesquisa na qual, os dados são coletados através de interações

sociais e analisados subjetivamente pelo pesquisador”. Também foi utilizada uma

entrevista aberta, no intuito de esmiuçar sobre os fatores estressantes detectados

pelos motoristas momentos antes do acidente de trânsito.

Os resultados também serão analisados com o uso da pesquisa

quantitativa, que na visão de Appolinário (2004, p. 155) “É a modalidade de

pesquisa, na qual variáveis predeterminadas são mensuradas e expressas

numericamente”.Serão dispostos em gráficos na forma em que fiquem expressos

todos os dados analisados. Para coletar os dados sobre o público-alvo, que foi em

torno de 100 motoristas que estavam fazendo a renovação da Carteira Nacional de

Habilitação.

3.1 Tipo de Estudo

A pesquisa caracteriza-se por um estudo, descritivo e documental, de

caráter quantitativo, objetivando traçar o perfil do motorista de São Luis – MA que

está em processo de renovação da CNH.

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3.2 Local/Universo

A pesquisa foi realizada com os candidatos a renovação da CNH

atendidos pela Clínica Transcender, no cidade de São Luis – MA, período de

Janeiro a julho de 2012.

3.3 Amostra

A amostra foi composta de 100 motoristas em processo de renovação da

CNH de ambos os sexos e com faixa etária de 20 a 69 anos, atendidos na Clínica

Transcender.

3.4 Procedimentos para Coletas de Dados

Foi elaborada uma pesquisa qualitativa, que “É a modalidade de pesquisa

na qual, os dados são coletados através de interações sociais e analisados

subjetivamente pelo pesquisador” (APPOLINÁRIO, 2004, p. 155).

Por se tratar de uma pesquisa descritiva, utilizou-se o questionário como

técnica de coleta de dados. O questionário continha questões fechadas referente à

idade, sexo, estado civil, escolaridade, fatos que tiram a tranquilidade e aborrecem

os motoristas, incidência de acidentes sofridos pelos motoristas e o estado em que

os mesmos se encontravam no momento em que se deu o acidente (APÊNDICE A).

Também foi utilizada a entrevista, onde foi possível perceber nas

expressões faciais dos motoristas certa reação quando relatavam situações que

causam estresse, como engarrafamento, buracos e imprudência, por exemplo.

3.5 Procedimentos para Análise de Dados

As informações coletadas foram digitadas em um banco de dados

utilizando o programa Microsoft Office Excel 2007. Após a análise os dados, estes

foram apresentados de maneira descritiva, sendo inseridos no texto em formas de

tabelas e gráficos.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto ao sexo dos entrevistados, gráfico 1, observou-se que a maioria é

composta por homens, o que equivale a 53% do total.

Gráfico 1 - Distribuição percentual dos motoristas de acordo com o sexo.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

Em relação à idade, conforme demonstra os resultados apresentados no

gráfico 2, constatou-se que a grande maioria é de jovens de 18 a 29 anos, num total

de 56% dos entrevistados. Seguida pelos adultos de 30 a 39 anos, com 31%. O

menor percentual ficou na faixa etária de 60 a 69 anos, com apenas 1%.

Gráfico 2 - Distribuição percentual dos motoristas de acordo com faixa a etária.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

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Quanto ao estado civil dos motoristas entrevistados, observa-se no

gráfico 3, que a maior parte é composta por solteiros, 80%. Os casados representam

18% e os viúvos uma pequena minoria, apenas 2%.

Gráfico 3 - Distribuição percentual dos motoristas de acordo com o estado civil.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

Pôde-se constatar nos dados apresentados no gráfico 4, que a grande

maioria dos motoristas entrevistados possui o Ensino Médio, 43% do total. Em

seguida vêm os que possuem Ensino Superior, com 27%. Os que possuem

Fundamental 2 totalizaram 23% dos entrevistados. E a minoria é composta pelos

que têm apenas o Fundamental 1, ou seja, 7%.

Gráfico 4 – Distribuição percentual dos motoristas de acordo com a escolaridade.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

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No gráfico 5 apresenta os resultados quanto aos fatores que estressam os

motoristas. Verifica-se que o mais citado foi problemas financeiros, com 23%. As

brigas entre familiares ficaram em segundo lugar, com 20%. Em seguida veio às

doenças, 19%, e o desemprego, responsável pela intranquilidade de 18% dos

entrevistados. 13% dizem se abalar com a morte de familiares e 4% com

separações. 3% disseram que nada lhes tira a tranqüilidade

Gráfico 5 - Distribuição percentual dos motoristas de acordo com fatores estressantes.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

.

O gráfico 6 mostra que o que mais aborrece a maioria absoluta dos

motoristas no trânsito é o engarrafamento, ou seja, 70% dos entrevistados. 10%

reclamaram do mal planejamento do trânsito, 7% se irritam com a imprudência de

outros motoristas e 5% disseram se aborrecer com buracos. Os que disseram se

irritar com ciclistas e motos também representam 5% dos entrevistados.

Portanto, pode-se perceber que o trânsito se mostra um fenômeno

estressante no cotidiano do indivíduo, que sobrecarregado com outros problemas,

dificilmente consegue encarar com tranquilidade os males causados pela

desorganização e outros fatores que envolvem esse contexto.

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Gráfico 6 – Distribuição percentual dos motoristas de acordo com o que lhes aborrece no

trânsito.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

Embora que, dos motoristas entrevistados, a maioria disse nunca ter sofrido

nenhum acidente no trânsito, o que representa 60% do total. 40% disse já ter sofrido

algum acidente de carro., conforme gráfico 7.

Gráfico 7 – Distribuição percentual dos motoristas quanto a sofrimento de acidentes no

trânsito.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

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No entanto, vale ressaltar que no questionário aplicado não havia a

alternativa, para saber em que estado os motoristas que se encontravam no

momento em que se deu o acidente relatado, porém foi diagnosticado em entrevista,

onde foi possível perceber as condições emocionais que foram cruciais para o

sinistro. No gráfico 8, verifica-se que 80% dos motoristas deixaram transparecer um

certo grau de estresse, com problemas que tiravam sua tranqüilidade e os deixavam

nervosos. Apenas 20% demonstraram tranquilidade, sem maiores preocupações

que os tiravam do sério.

Gráfico 8 - Distribuição percentual dos motoristas quanto ao estado em que se encontravam

no momento do acidente.

Fonte. Dados da Pesquisa. São Luis – Ma. 2011.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que os problemas ocasionados pelo trânsito não são um

fenômeno isolado e não se trata de um mal da modernidade. Na verdade, situações

desse tipo começaram a despontar paralelamente ao surgimento do automóvel na

rotina da comunidade. Contudo, esse problema foi se agravando com o crescimento

populacional que sofre com a precariedade do transporte coletivo e viu nas inúmeras

facilidades oferecidas para adquirir um automóvel à chance de se livrar desse

padecimento diário que é precisar usar um transporte coletivo.

Porém, esses fatores contribuíram para um aumento desordenado de

veículos nas ruas e, consequentemente, uma desorganizaçãono sistema do trânsito,

que também é o reflexo da falta de uma fiscalização rígida ede comportamentos

disfuncionais dos usuários. O que gera desordem e grandes prejuízos para toda a

comunidade, uma vez que o trânsito é uma sincronização coletiva de todos que o

compõem.

Dessa forma, todas as variáveis e desordens causadas pelos transtornos

to trânsito, aliadas às dificuldades e problemas que o indivíduo enfrenta no dia-a-dia,

desencadeiam situações estressantes, que podem explodir a qualquer momento e

causar uma atitude agressiva e desesperadora no trânsito, provocando acidentes

muitas vezes fatais.

Na realidade, muitos são os fatores que causam estresse no indivíduo, e

como foi apresentado nesse estudo, isso independe do sexo, idade, estado civil ou

escolaridade. Todos os candidatos a renovação da CNH apresentaram queixas

quanto ao trânsito de São Luís e esperam que medidas sejam tomadas a fim de

amenizar o caos provocado pelo acúmulo desordenado de automóveis.

Como foi visto no gráfico 6, o engarrafamento é o que mais aborrece o

motorista, fato que é causado pelo mal planejamento das vias, pela má sinalização e

pela falta de manutenção, que justifica a grande quantidade de buracos. Todos

esses problemas enfrentados no trânsito são justamente o que intensificam o

estresse do motorista, que já vem acarretado de problemas diários e não tem

condições de enfrentar tais situações. Daí fica ainda mais estressado e acaba por

cometer erros e infrações que podem colocar em risco a segurança e a vida de

outras pessoas.

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Daí a importância do psicólogo de trânsito, que pode contribuir

significativamente para a construção de um trânsito mais seguro. Este profissional

tem uma importante atuação nesse contexto, que inicialmente deve se reportar ao

aspecto preventivo, através de um trabalho contínuo e persistente, trabalhando a

saúde mental dos indivíduos diante da coletividade, orientando quanto à boa

qualidade de vida e equilíbrio emocional, certamente refletindo esses resultados sob

o aspecto do trânsito, entendendo que este é inerente à vida de todo ser humano

(NASCIMENTO; PASQUALETTO, 2002).

Porém, outras medidas podem ser tomadas a fim de amenizar as

situações estressantes no trânsito de São Luís. Medidas que podem poupar a saúde

e a vida dos motoristas e dos demais participantes desse contexto, uma vez que

muitos acidentes são causados pelo estresse remanescente de uma desorganização

estrutural das vias urbanas.

Portanto, primeiramente é necessário que as autoridades de

trânsitoEstaduais e Municipais busquem de forma integrada, juntamente com

asUniversidades, através de pesquisas de campo, encontrar soluções para osgraves

problemas de circulação de veículos na zona urbana.

Paralelamente á ação governamental, é importante que motoristas se

conscientizem que no momento em que entram em um veículo não é só sua vida

que está em jogo, mas de todos aqueles que fazem parte do trânsito. Portanto,

devem procurar ser mais tranqüilos em relação aos problemas encontrados e não

medir forças com aqueles mais eufóricos e inconseqüentes. Certamente, ao assumir

essa postura, esse motorista estará contribuindo para um trânsito mais seguro, onde

todos podem se deslocar e chegar a seu destino sem maiores transtornos.

Por fim, vale ressaltar que a literatura existente sobre estresse e o trânsito

ainda é bastante precária. Pouco se encontrou sobre o tema, de forma que se fez

um uso extenuante dos autores aqui citados. Espera-se então, que este estudo

possa futuramente contribuir para estimular e endossar mais pesquisas sobre o

tema, que pesquisadores possam encontrar aqui algo significativa para seu trabalho

e não sofram com a escassez da literatura.

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REFERENCIAS

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APÊNDICE

Questionário aplicado aos motoristas em processo de renovação da CNH.

1 ITENTIFICAÇÃO PESSOAL Candidato a CNH ( ) Renovação ( ) Adição de categoria ( ) Mudança de actegoria ( ) Renach: ________________________ Nome: ______________________________________________________________ Idade:____________________________ Naturalidade: ______________________ CPF: ________________________ Identidade: _____________________________ Profissão:________________________ Estado Civil:_________________________ Endereço:___________________________________________________________ Bairro:____________________________ Cidade:____________________UF:_____ Escolaridade: primário ( ) 1º grau ( ) 2º grau ( ) 3º grau ( ) Telefones para contato: ___________________________________________ 2 ENTREVISTA PSICOLÓGICA Como foi seu dia ontem? Normal ( ) entediante ( )_______________________ Como se dá o relacionamento emocional – afetivo com os pais, irmãos, outros membros da família? Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Péssimo ( ) ______________________________ Você trabalha? Sim ( ) Que tipo de atividade? ( )________________________ Não ( ) Estuda? Sim ( ) O que está cursando? ______________________________ Não ( ) Como você costuma ser em seu local de trabalho? Organizado ( ) Cuidadoso ( ) Determinado ( ) Perseverante ( ) Entediado ( ) Desencorajado ( ) Desmotivado ( ) Motivado ( ) Está satisfeito com a profissão que exerce? Sim ( ) Não ( ) Tem alguma doença? Sim ( ) Não ( ) ______________________________________ Já foi hospitalizado: Sim ( ) Não ( ) Quando e qual o motivo:____________________ Já fez algum tratamento médico ( neurológico, psiquiátrico, psicológico, outros)? Quando e por qual motivo? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ Já teve tonturas, desmaios, epilepsias, convulsoes, vertigens? Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________ Possui algum tipo de deficiência física, visual ou auditiva? Sim ( ) Não ( ) ___________________________________________________________________ Costuma sentir dores de cabeça constantes e fortes? Sim ( ) Não ( ) Dorme bem? Sim ( ) Não ( ). Se a resposta for não, diga qual a dificuldade: ___________________________________________________________________

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Usa algum medicamento? Sim ( ) Não ( ) __________________________________ Há quanto tempo usa?_________________________________________________ Faz ou fez uso de drogas proibidas ou exagerado de álcool? Sim ( ) não ( ) Quais drogas e qual a frequencia: ___________________________________________________________________ O que você percebe que tira sua tranquilidade? Problemas financeiros ( ) Desemprego ( ) Doenças ( ) Morte ( ) Viagens ( ) Separaçoes ( ) Brigas do casal ( ) Brigas entre os membros da família ( ) Outros:______________________________________________________________ Já sofreu algum acidente de trânsito? Sim ( ) Não ( ) Houve sequelas? Sim ( ) Não ( ) O que mais te aborrece no trânsito? Lentidão no tráfego/Engarrafamentos ( ) Pedestres ( ) Ciclistas/Motos ( ) Mal planejamento do trânsito ( ) Buracos ( ) Imprudência ( ) Outros ( ) O que voce mudaria em relação à atual Legislação de trânsito? Retirava os radares das estradas ( ) Aumentava o limite de velocidade ( ) Colocava mais guardas no trânsito ( ) Faria mais campanhas educativas ( ) Retirava as lombadas ( ) Penas mais severas para os infratores das normas de trânsito ( ) Outros:______________________________________________________________ OBSERVAÇÕES: O examinado durante a entrevista demonstrou: Comunicabilidade ( ) Confiança ( ) Colaboração ( ) Orientação têmporo-especial ( ) irritabilidade ( ) Impaciência ( ) Outros:______________________________________________________________ Linguagem: Adequada ( ) Inadequada ( ) Gesticulação: Adequada ( ) Inadequada ( ) Respostas: Rápidas ( ) lentas refletida ( ) Contraditórias ( ) Excessivamente ( ) Indícios de: Ansiedade ( ) Agressividade ( ) Apatia ( ) Ironia ( ) Displicência ( ) Excitação ( ) Desequilíbrio psicomotor ( ) Desconfiança ( ) Tensão postural ( ) Insegurança ( ) Fadiga ( ) Conflitos emocionais ( ) Autoconfiança exagerada ( ) vaiadde ( ) Distúrbios psiquiátricos ( ) Gagueira ( ) Tiques ( ) Onicofagia ( ) Tremores ( ) Outros:__________________________________________________ Entrevista(síntese)_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Parecer final:_________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ Data do exame:_____/_____/______. Psicólogo:___________________________________________________________

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ANEXOS

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