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UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSANA BRUNETTI A ORGANIZAÇÃO EM REDE E O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO ESTADO DO PARANÁ: o caso GETER - Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural Balneário Camboriú 2006

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UNIVALI – UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ROSANA BRUNETTI

A ORGANIZAÇÃO EM REDE E O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO ESTADO

DO PARANÁ: o caso GETER - Grupo de Empreendedores do

Turismo no Espaço Rural

Balneário Camboriú

2006

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ROSANA BRUNETTI

A ORGANIZAÇÃO EM REDE E O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO ESTADO

DO PARANÁ: o caso GETER - Grupo de Empreendedores do

Turismo no Espaço Rural

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Strictu Sensu em Turismo e Hotelaria, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Turismo e Hotelaria. Orientador: Prof. Dr. Francisco Antonio dos Anjos

Balneário Camboriú

2006

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ROSANA BRUNETTI

A ORGANIZAÇÃO EM REDE E O TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO ESTADO

DO PARANÁ: o caso GETER - Grupo de Empreendedores do

Turismo no Espaço Rural

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de mestre e

aprovada pelo Programa de Pós-graduação Strictu Sensu em Turismo e Hotelaria,

da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú.

Balneário Camboriú, 23 de novembro de 2006

________________________________________

Prof. Dr. Francisco Antonio dos Anjos

Orientador

_________________________________________

Prof. Dr. Gregório Jean Varvakis Rados

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

__________________________________________

Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires

UNIVALI – CE de Balneário Camboriú

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação aos meus sobrinhos, para que sirva de exemplo da grande satisfação que é alcançar um objetivo. Mas principalmente, para que entendam que o essencial é que o caminho percorrido na busca de cada objetivo, seja trilhado de forma consciente, paciente e intensa, pois somente assim as vitórias serão traduzidas em alegrias verdadeiras e duradouras e a vida, manifestada em sua rotina diária, será plena de significados.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu companheiro mais constante e fiel.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Francisco Antonio dos Anjos, que soube ao mesmo

tempo orientar e respeitar minhas idéias e meu ritmo de trabalho.

Aos Professores Doutores Paulo dos Santos Pires e Gregório J. Varvakis Rados,

participantes da banca de qualificação e de defesa, pelas sugestões e incentivo.

À todas as pessoas entrevistadas , em especial os coordenadores do GETER, que

por compreenderem a importância de estudos acadêmicos, colocaram-se sempre à

disposição e foram grandes incentivadores.

A todos os professores e colegas do mestrado que, mesmo sem saber, contribuíram

na construção dessa dissertação.

Ao Sérgio, meu primo e amigo, cuja presença possibilitou minha ausência no

trabalho, para que eu pudesse alcançar mais esse objetivo.

Aos meus pais, que além de respeitarem minhas decisões, são companheiros da

jornada.

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Aprendi com lealdade e reparto sem invejo, e não escondo as riquezas que ela (a

sabedoria) encerra.

Livro da Sabedoria, 7,13

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................009

ABSTRACT..............................................................................................................010

LISTA DE FIGURAS................................................................................................011

LISTA DE QUADROS..............................................................................................012

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................015

1.1 Contextualização do tema.............................................................................015

1.2 Problemática da pesquisa..............................................................................018

1.3 Objetivos........................................................................................................019

1.3.1 Objetivo geral.................................................................................................019

1.3.2 Objetivos específicos.....................................................................................019

1.4 Metodologia...................................................................................................020

1.4.1 Procedimento da pesquisa............................................................................020

1.4.2 Organização, análise e interpretação dos dados..........................................022

2 A ORGANIZAÇÃO EM REDE.......................................................................024

2.1 Sistemas........................................................................................................026

2.1.1 Teoria Geral dos Sistemas............................................................................026

2.1.2 Teoria da Autopoiese.....................................................................................028

2.2 Redes............................................................................................................031

2.2.1 Morfologia das redes.....................................................................................032

2.2.1.1 Auto-organização........................................................................................032

2.2.1.2 Horizontalidade............................................................................................034

2.3 As redes de pequenas e médias empresas...................................................036

2.3.1 Contextualização histórica para o advento de redes de empresas............036

2.3.2 Sobre redes de pequenas e médias empresas.............................................039

2.4 As regiões no contexto de redes...................................................................044

3 TURISMO NO ESPAÇO RURAL..................................................................051

3.1 Turismo Rural x Agroturismo.......................................................................053

3.2 Ecoturismo....................................................................................................055

3.3 A dinâmica do turismo no espaço rural........................................................058

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4 ALGUNS CASOS DE ORGANIZAÇÀO EM REDE NO TURISMO...............063

4.1 A rede francesa “Accueil Paysan” e seu correspondente brasileiro “Aco-

lhida na Colônia”..............................................................................................063

4.1.1 Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia – AACC..............................065

4.2 A Organização das Cidades Patrimônio Mundial e o caso espanhol:

Associação das Cidades Patrimônio da Humanidade da Espanha................067

4.2.1 A Associação das Cidades Patrimônio da Humanidade da Espanha.............069

4.3 Uma síntese....................................................................................................070

5 O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL DO GETER.........................071

5.1 Contextualização histórico-geográfica do turismo no espaço rural norte

paranaense: da hegemonia da cafeicultura à diversificação econômica..071

5.1.1 O início da colonização..................................................................................073

5.1.2 O norte do Paraná e o café............................................................................076

5.1.3 O turismo no contexto do “Novo Rural” no norte do Paraná.........................076

5.2 RETUR – Rede de Turismo Regional............................................................078

5.3 GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural............082

5.3.1 Participantes do GETER...............................................................................085

6 O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO NO GETER..................................091

6.1 Discurso do Sujeito Coletivo: princípios, conceitos e procedimentos..........091

6.2 O discurso dos coordenadores do GETER...................................................095

6.2.1 Surgimento da idéia de redes visando o desenvolvimento e fortalecimento

do turismo realizado no espaço rural norte paranaense..............................095

6.2.2 O papel da RETUR em relação ao GETER e suas formas de relaciona-

mento...........................................................................................................099

6.2.3 Os aspectos de formalização do GETER.....................................................102

6.2.4 A dinâmica de ação do GETER....................................................................105

6.2.5 A compreensão das dimensões da confiança e da cooperação, juntamen-

te com a competição, dentro do GETER......................................................107

6.2.6 A dispersão geográfica do GETER e suas conseqüências..........................111

6.2.7 A questão da rotatividade dos empreendimentos participantes do GETER.113

6.2.8 Percepções sobre resultados alcançados e barreiras percebidas no

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desenvolvimento do GETER........................................................................115

6.3 O discurso dos empreendedores do GETER...............................................122

6.3.1 A motivação para a inserção no GETER....................................................122

6.3.2 A tomada de decisões no GETER...............................................................126

6.3.3 O relacionamento entre os coordenadores e os participantes do GETER..127

6.3.4 Os resultados advindos da participação no GETER...................................129

6.3.5 Os aspectos inibidores de melhores resultados no contexto do GETER....131

6.3.6 Motivações para a saída do GETER...........................................................134

6.3.7 A questão da comunicação entre os participantes do GETER...................138

6.4 O cruzamento dos discursos........................................................................141

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................145

7.1 Quanto aos objetivos do trabalho..................................................................145

7.2 Quanto à utilização do “Discurso do Sujeito Coletivo”...................................147

7.3 Sugestões para trabalhos futuros..................................................................148

7.4 Conclusões....................................................................................................148

REFERÊNCIAS........................................................................................................150

APÊNDICES.............................................................................................................157

Apêndice 1 - Roteiro de entrevista com coordenadores do GETER........................158

Apêndice 2 - Roteiro de entrevista com empreendedores turísticos participan-

tes do GETER....................................................................................159

Apêndice 3 - Transcrição entrevista Wanda Pille – coordenadora...........................160

Apêndice 4 - Transcrição entrevista Prof. Jacó Gimenes – coordenador................165

Apêndice 5 - Transcrição entrevista empreendedor 1 (E1)......................................169

Apêndice 6 - Transcrição entrevista empreendedor 2 (E2)......................................172

Apêndice 7 - Transcrição entrevista empreendedor 3 (E3)......................................174

Apêndice 8 - Transcrição entrevista empreendedor 4 (E4)......................................175

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RESUMO

Esta dissertação pretende analisar o formato da organização em rede, enquanto alternativa de gestão visando contribuir para o desenvolvimento do turismo no espaço rural. A atividade turística realizada no espaço rural é recente no Brasil, não oferecendo subsídios suficientes para que os ingressantes na atividade possam apoiar-se no processo de desenvolvimento do novo negócio. O norte do Paraná é sede de uma iniciativa pioneira – o GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, que, utilizando o formato da organização em rede, com eficácia comprovada em outros setores econômicos, visa promover o desenvolvimento satisfatório da atividade turística no espaço rural, constituindo-se no caso aqui estudado e analisado. A fim de embasar a análise proposta, estudou-se o assunto redes a partir das teorias de sistemas, com ênfase para as teorias desenvolvidas por Bertalanffy e Maturana & Varela, passando-se a seguir à dinâmica de uma rede e sua utilização como estratégia de gestão. O tema região foi abordado sob diferentes óticas a fim de justificar a dispersão geográfica observada no desenvolvimento do GETER. O turismo no espaço rural foi tratado de maneira a mostrar as particularidades envolvidas nesta modalidade específica, a fim de contribuir para a compreensão da atividade e de sua gestão. Antes de passar ao estudo de caso específico - o GETER, foi apresentado alguns outros casos de redes no turismo. A metodologia utilizada para construir a fundamentação teórica foi a pesquisa bibliográfica, e a estratégia de análise constituiu-se em um estudo de caso, complementado pela técnica do DSC – Discurso do Sujeito Coletivo, aplicada às entrevistas realizadas junto aos coordenadores e empreendedores do GETER, objetivando conhecer o pensamento do conjunto formado por cada um desses grupos.

Palavras-chave: 1. Redes 2. turismo no espaço rural 3. GETER

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ABSTRACT

The present research intends to analyse the format of network organization as an alternative of management, aiming to contribute to the tourism development in rural areas. The tourist activity achieved in rural areas is very recent in Brazil, because of that new businessmen do not have enough subsidies to support them during the development process of new investments. The north of Parana is the cradle of a pioneer initiative – GETER – Entrepreneurs Group of Tourism in Rural Areas, which are using a network format, with proved efficiency in other economic sectors, aiming to promote the satisfactory development of the touristic activities in rural areas, consisting in the case studied here. In order to give basis for the proposed analysis, the subject networks was studied from the Theory of Systems, emphasizing the ones developed by Bertalanffy and Maturana & Varela, followed by the dynamics of a network and its use as a managemnet strategy. The subject “region” was treated under several views, in order to justify the geographic dispersion observed during the GETER development. The tourism in the rural area was treated in a way to show the particularities involved in this specific modality, so as to contribute to the comprehension of the activity and its management. Before presenting the specific case study, other network cases in tourism were shown. The metodology used to construct the theoretical framework was a bibliographic research, and the analysis strategy was constituted of a case study - GETER, complemented by the DSC technique – the Discourse of the Collective Subject, applied to the interviews made with the coordinators and entrepreneurs members of GETER, aiming to acknowledge the thought of each group.

Key words 1. networks 2. tourism in rural areas 3. GETER

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação de Rede..........................................................................033

Figura 2: Mapa de orientação conceitual................................................................040

Figura 3: Logomarca Projeto Costa Rica................................................................081

Figura 4: Logomarca Projeto Rota do Café.............................................................081

Figura 5: Logomarca Projeto Caminhos da Cachaça..............................................081

Figura 6: Logomarca Projeto Sou Daqui.................................................................082

Figura 7: Logomarca Projeto GETER......................................................................082

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Participantes GETER – edição mapa-guia 2001..................................086

Quadro 02: Participantes GETER – edição mapa-guia 2002..................................086

Quadro 03: Participantes GETER – edição mapa-guia 2004..................................088

Quadro 04: Empreendimentos part icipantes nos mapas-guia RETUR/GETER.....089

Quadro 05: IAD 1 - Questão 1 da entrevista com coordenadores do GETER........095

Quadro 06: IAD 2 – Redes são nós interconectados por laços de interesses.......097

Quadro 07: IAD 2 – Redes auxiliam pequenas e médias empresas alcança-

rem seus objetivos, através do trabalho conjunto................................097

Quadro 08: IAD 2 – Um roteiro turístico, com diversos atrativos (neste caso

empreendimentos), alavanca o turismo como um todo........................097

Quadro 09: IAD 2 – A rede promove a qualificação dos empreendimentos partici-

pantes, através do compartilhamento de informações e habilidades...098

Quadro 10: IAD 1 - Questão 2 da entrevista com coordenadores do GETER.......100

Quadro 11: IAD 2 – O GETER é um dos projetos da RETUR ...............................101

Quadro 12: IAD 2 – O GETER é coordenado pela RETUR....................................101

Quadro 13: IAD 2 – O GETER passa a ser referência em seu mercado de atua-

ção.......................................................................................................101

Quadro 14: IAD 1 - Questão 3 da entrevista com coordenadores do GETER.......103

Quadro 15: IAD 2 - A coordenação do GETER é feita por uma entidade neutra -

a RETUR, para que o interesse do grupo seja salva guardado.....104

Quadro 16: IAD 2 – O GETER é dinâmico..............................................................104

Quadro 17: Questão 4 da entrevista com coordenadores da GETER....................105

Quadro 18: IAD 2 – As reservas e divulgação dos participantes do GETER,

eram feitas através de um escritório central.........................................106

Quadro 19: IAD 2 – Cada participante deveria divulgar os demais membros do

GETER, através da distribuição dos mapas-guia para seus hóspe-

des........................................................................................................106

Quadro 20: IAD 2 – A rede era responsável pela viabilização de cursos objeti-

vando o aprimoramento profissional dos participantes.........................107

Quadro 21: Questão 5 da entrevista com coordenadores do GETER....................107

Quadro 22: IAD 2 – Os participantes que compreendem a dinâmica da rede

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passam a perceber os demais integrantes como parceiros, ainda

que sejam concorrentes entre si..........................................................109

Quadro 23: IAD 2 – O trabalho em rede implica fluidez de informações entre

os participantes....................................................................................110

Quadro 24: IAD 2 – A dimensão da cooperação e da confiança entre concorren-

tes integrantes de uma rede é alcançada a longo prazo......................110

Quadro 25: Questão 6 da entrevista com coordenadores do GETER...................111

Quadro 26: IAD 2 – A rede é baseada em um objetivo comum, e não na proximi-

dade geográfica....................................................................................112

Quadro 27: Questão 7 da entrevista com coordenadores do GETER....................113

Quadro 28: IAD 2 – O compartilhamento de objetivos é essencial para a perma-

nência na rede......................................................................................114

Quadro 29: IAD 2 – Redes são dinâmicas,não é possível controlar sua evolução,

mas apenas acompanhar.....................................................................115

Quadro 30: Questão 8 da entrevista com coordenadores do GETER....................116

Quadro 31: IAD 2 – A cooperação entre participantes de uma rede é essencial

para seu sucesso.................................................................................118

Quadro 32: IAD 2 – A falta de amadurecimento/comprometimento retardou os

resultados do trabalho em rede............................................................119

Quadro 33: IAD 2 – Funcionários de empreendimentos turísticos localizados no

espaço rural precisam ser treinados para serem multifuncionais........119

Quadro 34: IAD 2 – A rede intensifica o processo de comunicação entre partici-

pantes...................................................................................................120

Quadro 35: IAD 2 – O GETER contribuiu para a geração de empregos, melhorias

nos processos de comercialização, prestação de serviços e divulga-

ção dos empreendimentos participantes..............................................120

Quadro 36: IAD 2 – o GETER auxiliou os empreendimentos participantes inseri-

rem-se no mercado..............................................................................120

Quadro 37: Questão 1 da entrevista com empreendedores do GETER..................122

Quadro 38: IAD 2 - A adesão ao GETER se deu pela aceitação de um convite

por parte de seus coordenadores........................................................124

Quadro 39: IAD 2 – A adesão ao GETER teve como principal motivação o dese-

jo de organizar o setor turístico na região...........................................124

Quadro 40: IAD 2 – A perspectiva de maior divulgação do empreendimento

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motivou a inserção no GETER.............................................................124

Quadro 41: IAD 2 – Participar do GETER possibilitou a troca de informações e

experiências.........................................................................................125

Quadro 42: Questão 2 da entrevista com empreendedores do GETER.................126

Quadro 43: IAD 2 – as decisões eram tomadas conjuntamente em reuniões

mensais................................................................................................127

Quadro 44: Questão 3 da entrevista com empreendedores do GETER.................128

Quadro 45: IAD 2 – O relacionamento entre coordenadores e empreendedores

era bom, amistoso e harmônico...........................................................128

Quadro 46: Questão 4 da entrevista com empreendedores do GETER.................129

Quadro 47: IAD 2 – Antes do GETER, os empreendimentos turísticos atuavam

no mercado sem um foco ou identidade..............................................130

Quadro 48: IAD 2 – O trabalho em rede possibilita a troca de experiências..........130

Quadro 49: IAD 2 – O GETER auxiliou na organização do setor em que atuava...130

Quadro 50: IAD 2 – O trabalho em grupo tem maior repercussão no mercado e

contribui para a melhora nos negócios................................................131

Quadro 51: Questão 5 da entrevista com empreendedores do GETER.................131

Quadro 52: IAD 2 – A diversidade de objetivos dos participantes de uma rede

provoca um distanciamento de seu foco original.................................133

Quadro 53: IAD 2 – A diversidade de empreendimentos participantes dificultava

a tomada de decisões que fossem benéficas a todos.........................133

Quadro 54: Questão 6 da entrevista com empreendedores do GETER...............134

Quadro 55: IAD 2 – A questão da remuneração dos coordenadores da rede

causou um descompasso entre estes e os empreendedores..............136

Quadro 56: IAD 2 – Parte dos empreendimentos, que apresentava maior coesão

entre si, juntou-se em torno de uma nova associação.........................136

Quadro 57: IAD 2 – A saída do GETER foi motivada pela contenção de gastos...137

Quadro 58: Questão 7 da entrevista com empreendedores do GETER.................138

Quadro 59: IAD 2 – A comunicação permanece no grupo que segmentou a rede

em torno de empreendimentos com características similares...........139

Quadro 60: IAD 2 – A comunicação diminuiu, sendo importante, porém, que

seja restabelecida...............................................................................140

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1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização do Tema

A análise do fenômeno turístico revela a complexidade de atividades envolvidas no

processo turístico, do planejamento ao resultado final, ou seja, à fruição do local

turístico por parte dos turistas. A complexidade se justifica devido às diversas faces

desta atividade. Como expõe Beni (2003), o turismo compreende quatro ambientes:

cultural, ecológico, econômico e social, entre os quais são realizadas trocas

constantes, revelando o amplo universo a ser abarcado no planejamento turístico.

Ingressantes na atividade, dentre os quais aqueles que optam por abrir suas

propriedades rurais aos turistas, muitas vezes desconhecem essa complexidade.

O turismo realizado no espaço rural vem merecendo a atenção de diversos setores

da sociedade brasileira. No campo político esboça-se um esforço no sentido de

estruturar a regulamentar a atividade através da publicação do caderno “Diretrizes

para o desenvolvimento do Turismo Rural”, que ao discorrer sobre a evolução

histórica da atividade no país, afirma que:

“a partir do final de 1990, esses aspectos positivos do Turismo Rural no Brasil (dentre os quais a diversificação da economia regional, a conservação de recursos naturais, a geração de novas oportunidades de trabalhos) foram amplamente difundidos, fazendo com que um significativo número de empreendedores investisse nesse segmento, muitas vezes de forma pouco profissional ou sem o embasamento técnico necessário. Conseqüentemente aspectos negativos de sua implantação também começaram a se manifestar.” (BRASIL, 2003, p. 6)

No campo acadêmico é possível evidenciar essa preocupação através dos diversos

eventos realizados sobre o assunto, com destaque, no Brasil, para o CITURDES –

Congresso Internacional sobre Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável, e o

CBTUR – Congresso Brasileiro de Turismo Rural; além disso, evidencia-se, ainda

que empiricamente, devido à falta de dados oficiais, o aumento do número de

propriedades rurais que se voltam para a atividade turística, paralelamente à

constatação, a partir de pesquisa bibliográfica, da insipiência de estudos na área de

gestão que colaborem com o desempenho satisfatório da atividade, e sua

conseqüente efetivação no espaço rural.

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A decisão de estudar o formato de organização em rede como forma de alavancar a

atividade turística no espaço rural foi inicialmente alicerçada no conhecimento prévio

de uma experiência na região norte e noroeste do Paraná a partir do ano de 2001,

onde, através da instituição do GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no

Espaço Rural, idealizado e coordenado pela RETUR – Rede de Turismo Regional,

buscou-se o aprimoramento da atividade através do associativismo. Somou-se a

isso, o fato do formato da organização em rede apresentar consideráveis vantagens

para que pequenas e médias empresas possam inserir-se no mercado

competitivamente, conforme demonstra a experiência em outros setores da

economia. O caso da região italiana de Emilia-Romagna, exposto por Casarotto

Filho & Pires (1998) por exemplo, atribui a este formato de organização o

considerável aumento da renda per capita de sua população.

Como forma indutiva de se ordenar o conhecimento, buscou-se a origem e o formato

das redes organizacionais a fim de alicerçar a análise pretendida. O tema “sistemas”

inicia a fundamentação teórica e permite entender a organização e o funcionamento

de uma rede biológica e depois aplicar esse conhecimento no campo social. São

abordadas duas teorias: a Teoria Geral dos Sistemas, de Ludwig von Bertalanffy

(1975), e a Teoria da Autopoiese, de Humberto Maturana & Francisco Varela (1997).

A partir desta fundamentação, passa-se então ao entendimento da organização de

uma rede, baseado principalmente em um estudo apresentado pela WWF-Brasil

(2003), que utilizando estudos de Capra (1996, 2005), Castells (2003) e na própria

experiência, discorre sobre a dinâmica de uma rede na área social. A abordagem

seguinte refere-se ao estudo de redes de pequenas e médias empresas, área que

mais se aproxima ao objeto de análise deste estudo. As redes de pequenas e

médias empresas já foram estudadas por diversos autores (PORTER, 1999a, 1999b;

BALESTRIN & VARGAS, 2004; EBERS & JARILLO, 1998; CASAROTTO FILHO &

PIRES, 1998; entre outros) e apresentam diversas motivações para sua formação,

bem como resultados diversos, de acordo com o objetivo da própria rede. Este

aliás, é fundamental para existência da rede e ponto de partida para uma análise

crítica sobre o pressuposto de sua perenidade.

Considerando que o estudo de caso dessa dissertação, o GETER – Grupo de

Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, apresentou considerável dispersão

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geográfica ao longo do período analisado, entendeu-se ser importante abordar o

tema regiões dentro das diversas escolas geográficas, a fim de justificar a união de

empreendedores localizados em diferentes pontos do estado do Paraná, que

basearam-se em outras características comuns, que não as físico-geográficas, para

delimitar seu campo de atuação. O capítulo três mostra que o entendimento de

região deve sempre abarcar a noção de inter-relação entre os fenômenos físicos,

humanos, políticos e econômicos.

Corroborando com os diversos autores que creditam à rede a capacidade de manter

e viabilizar pequenas empresas no mercado, o atual governo federal , no Programa

de Regionalização do Turismo (2004), também prevê a organização em rede como

instrumento para viabilizar a “troca de informações, experiências e fortalecimento

das relações e parcerias entre os diversos atores envolvidos no Programa” (p. 41),

contribuindo então para o desenvolvimento do turismo, através de diversas ações

resultantes desta troca de informações possibilitada pela rede, como a identificação

de novas oportunidades de ação para as diferentes regiões, a adaptação ou

recriação de soluções, estabelecimento e consolidação de novas relações,

otimização e captação de recursos, entre outros.

A priorização do desenvolvimento do turismo regional pelo governo federal

contempla, entre outras, a atividade realizada no espaço rural e suas diversas

manifestações, de acordo com a tradição histórico-cultural de cada lugar, resultando

em diversificados produtos turísticos. Neste estudo, porém, a abordagem do tema

Turismo no Espaço Rural prioriza aspectos de gestão, visto estes estarem

diretamente relacionado à formação da rede aqui analisada. Inicia-se com uma

breve análise sobre a terminologia empregada, em especial o turismo rural,

agroturismo e ecoturismo ou turismo ecológico, por acreditar serem as atividades

mais recorrentes entre os integrantes da rede - GETER; seguido de algumas

considerações sobre o assunto, que enfocam as motivações para a realização do

turismo neste espaço, suas particularidades e possíveis impactos, corroborando com

o descrito acima, sobre a complexidade do fenômeno turístico.

Em um esforço de estabelecer uma ponte entre as bases teóricas sobre

organizações em redes, com ênfase nas redes de pequenas e médias empresas e o

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desenvolvimento satisfatório do turismo no espaço rural, são apresentados alguns

casos conhecidos acerca da aplicação deste formato de organização em rede no

desenvolvimento do turismo. Ao buscar relatos dessas experiências, verificou-se

ser restrito ainda o número de casos de redes no setor turístico, assim uma das

experiências apresentada utiliza outra denominação – Associação das Cidades

Patrimônio da Humanidade da Espanha, mas que uniram-se a fim de alcançar um

objetivo comum a todos, o que se aproxima de um dos pilares para a formação de

uma rede.

Para finalizar, é apresentada a experiência do GETER no período de 2001 a 2004.

A análise dessa experiência inicia-se com a contextualização histórico-geográfica do

espaço rural norte paranaense e sua transformação ao longo do tempo, a fim de

auxiliar no entendimento do cenário que contribuiu para que o turismo fosse ofertado

no espaço rural abordado pelo GETER. Logo após descreve-se os conceitos e

objetivos do GETER e apresenta-se sua formação ao longo do período analisado.

A técnica utilizada para conhecer a real contribuição do formato de organização em

rede no caso específico do GETER, bem como os obstáculos percebidos para que a

maximização dos resultados pretendidos fosse atingida, foi o DSC – Discurso do

Sujeito Coletivo, através do qual foram ouvidos os coordenadores e parte dos

empreendedores participantes e feita uma análise exaustiva de suas falas para que

se chegasse a essência do conjunto dos depoimentos.

A análise dos Discursos do Sujeito Coletivo – coordenadores e empreendedores,

alicerçada no referencial teórico apresentado, possibilitou um aprofundamento nas

características referentes ao formato organizacional das redes, permitindo a

apresentação de avaliações sobre sua eficácia e pressupostos.

1.2 Problemática da Pesquisa

A definição clara de um problema está na base de qualquer pesquisa científica. Mas

o que é um problema? Para Tobar e Yalour (2001), “enfrentamo-nos com um

problema quando existe um vácuo entre onde estamos agora e onde queremos

estar, e não sabemos como atravessar esse vácuo.” (p. 34)

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Assim, a constatação empírica e generalizada sobre o crescimento do turismo no

espaço rural brasileiro, que acontece em descompasso com a profissionalização e o

ordenamento do setor, foi o ponto central da problemática desta pesquisa.

Constatou-se a ausência de ações que permitiriam construir bases sólidas para que

o seu desenvolvimento fosse constante e produzisse resultados positivos e

duradouros para todos os envolvidos: turistas, empreendedores e população local.

A iniciativa pioneira do GETER, visou suprir as lacunas percebidas no

desenvolvimento da atividade, através de um trabalho conjunto entre

empreendedores do setor, e serve como o caso a ser estudado, a fim de analisar o

papel das redes para que esse objetivo seja atingido.

Portanto, a pergunta central desta pesquisa foi: De que maneira a aplicação do

formato de organização em rede, contribui para o desenvolvimento satisfatório

da atividade turística no espaço rural, bem como, quais fatores são inibidores

de melhores resultados previstos neste formato de organização?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

• Analisar o papel das redes, como forma de organização, no desenvolvimento

da atividade turística realizada no espaço rural.

1.3.2 Objetivos específicos

• Correlacionar os conceitos de organização em redes ao setor turístico, a partir

dos casos de organizações em redes criadas com o objetivo de desenvolver o

turismo, no Brasil e no exterior;

• Caracterizar o GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço

Rural, sob os aspectos de localização, formação, agentes envolvidos,

objetivos propostos e alcançados;

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• Verificar a percepção dos atores envolvidos no GETER – Grupo de

Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, quanto às contribuições e

limitações da aplicação da organização em rede na alavancagem da atividade

turística rural dos empreendimentos participantes.

1.4 Metodologia

O objeto deste estudo está compreendido no âmbito das ciências sociais, onde o

principal ator é o ser humano e suas inter-relações com o meio no qual está inserido.

Laville & Dionne (1999) defendem o caráter não previsível das ações humanas,

tornando difícil a submissão de fatos humanos / sociais à experimentação, como o

observado no universo físico, onde, através da repetição de um fenômeno, é

possível a formulação de leis. Justifica-se, assim, a adoção do método qualitativo de

pesquisa.

Quanto ao seu objetivo, ainda segundo Laville & Dionne (1999), esta pesquisa

classifica-se como explicativa, pois visa compreender o papel do formato da

organização em rede aplicado no desenvolvimento do turismo realizado no espaço

rural, seja através de seus pontos positivos, seja através das limitações percebidas.

Para tanto, faz uso da pesquisa exploratória, visto utilizar-se do conhecimento

acumulado e sistematizado sobre o assunto, e também da pesquisa descritiva, que

fornece as características do objeto estudado.

1.4.1 Procedimento da pesquisa

A primeira parte da pesquisa constituiu-se no levantamento teórico dos temas

“redes” e “turismo no espaço rural”. Esse levantamento, obtido através de livros e

artigos científicos de autores nacionais e estrangeiros e teses e dissertações

apresentadas à universidades brasileiras, formaram o referencial teórico sobre o

qual os resultados da pesquisa são apoiados.

A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, ancorado nos procedimentos

descritos por Yin (2005), a fim de eliminar, ou ao menos reduzir os efeitos negativos

atribuídos à esta estratégia de pesquisa. Yin denomina esses efeitos negativos

como preconceitos. Os mais recorrentes são:

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• “A falta de rigor da pesquisa”: essa característica é observada em alguns

pesquisadores negligentes e tendenciosos; justificada, em parte, pela ausência,

até recentemente, de literatura que conduzisse o pesquisador nesta estratégia de

pesquisa;

• “Estudos de casos fornecem pouca base para fazer uma generalização

científica”: a este argumento, Yin (2005) responde que o estudo de caso não

representa uma amostragem, assim seu objetivo é expandir e generalizar teorias,

e não enumerar freqüências, como acontece com experimentos em um

laboratório.

A escolha pela estratégia “estudo de caso” é justificada, segundo Yin (2005, p. 19),

por algumas características da pesquisa, destacando-se casos em que se utilizam

questões do tipo “como” e “porque”; quando há pouco controle sobre os

acontecimentos por parte do pesquisador e quando o foco da pesquisa recai sobre

fenômenos contemporâneos. Assim, a necessidade de compreender o papel das

organizações em rede no desenvolvimento do turismo no espaço rural, congrega

todas essas características.

“...a clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos... O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real – tais como ciclo de vidas individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos.” (YIN, 2005, p.20)

Este estudo de caso teve caráter explanatório, e não apenas exploratório, pois

objetivava entender como a organização em rede contribui no desenvolvimento da

atividade turística no espaço rural e, além de explicitar limitações percebidas,

procura compreender porque elas ocorrem.

O material utilizado no estudo de caso é proveniente de documentos que atestam os

compromissos assumidos e as ações realizadas pelos envolvidos no GETER –

Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural. Além disso, como

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importante fonte de análise, tem-se o conjunto das entrevistas semi-estruturadas

junto aos coordenadores e aos participantes do projeto, base para a aplicação da

técnica de análise escolhida: o Discurso do Sujeito Coletivo. A elaboração das

questões para estas entrevistas considerou a revisão teórica procedida e sua

relação com os objetivos da pesquisa, resultando no caminho para se compreender

o papel da organização em rede no desenvolvimento da atividade turística no

espaço rural. Embora o universo abarcado pela pesquisa não seja demasiadamente

extenso (35 empreendimentos participantes do GETER), sua dispersão geográfica e

questões que conduzem à reflexões às vezes longa, torna onerosa e trabalhosa a

investigação integral de toda a população. Assim, optou-se por ouvir representantes

de empreendimentos participantes de uma, duas ou três edições dos mapas

publicados pela rede, seu resultado mais visível, além dos dois coordenadores do

projeto. Essa postura é alicerçada em Lefèvre & Lefèvre (2003, p.38), que em

situações similares a encontrada nesta pesquisa, defendem que “o pesquisador

pode proceder a uma escolha intencional dos sujeitos a serem pesquisados.”

1.4.2 Organização, análise e interpretação dos dados

Ao conjunto de entrevistas realizadas com coordenadores e integrantes do GETER

foi aplicada a técnica do DSC – Discurso do Sujeito Coletivo, “uma proposta de

organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de

depoimentos, artigos de jornal, matérias de revistas semanais, cartas, papers,

revistas especializadas, etc.” (LEFÉVRE & LEFÉVRE, 2003, p. 15-16).

A utilização do DSC justifica-se pelo caráter qualitativo das informações coletadas de

forma individual, sendo necessário transformá-las em um único discurso

representativo da coletividade, obtido pela escolha das expressões-chave (ECH),

que contêm as mesmas idéias centrais (IC) ou ancoragem (AC), ou seja, discursos

alicerçados nos mesmos pressupostos, teorias, conceitos ou hipóteses.

O resultado do DSC é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular,

revelador do pensamento coletivo sobre determinado tema / assunto / questão,

mantendo, porém, o discurso individual. O processo para se chegar ao DSC

pressupõe um exaustivo trabalho de síntese dos discursos obtidos nas entrevistas,

até que se obtenha uma representação social sobre um fenômeno.

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23

Ainda que o tema desta pesquisa remeta à questão de gestão, o fato dos

participantes deste estudo de caso não serem, em sua maioria, administradores por

formação ou experiência, e da atividade turística constituir-se, para eles, em um

novo negócio – tanto no sentido temporal como setorial, e do ineditismo da

experiência, ou seja, a utilização do formato de organização em rede, pela iniciativa

privada, no contexto do turismo no espaço rural, justifica-se a escolha desta

estratégia como meio para perceber tanto as contribuições como as limitações da

organização em rede no desenvolvimento da atividade analisada, a partir das

percepções dos envolvidos, visto o componente humano ser essencial no

desenvolvimento do trabalho em rede, como pode ser atestado no levantamento

teórico realizado sobre o tema.

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24

2 A ORGANIZAÇÃO EM REDE

O termo redes traz em si um complexo emaranhado de conceitos e usos pelas mais

diversas esferas da sociedade civil e áreas do saber. O estudo da organização dos

seres vivos revela a conectividade existente e imprescindível para integridade do

funcionamento de um organismo vivo. Capra (1996, p.77) afirma que “onde quer

que encontremos sistemas vivos – organismos, partes de organismos ou

comunidades de organismos – podemos observar que seus componentes estão

arranjados a maneira de rede (...) O padrão da vida, poderíamos dizer, é um padrão

de rede capaz de auto-organização.”

Essa afirmação nos conduz então ao estudo dos sistemas, pois, conforme

demonstrado por Anjos (2004), sistema e rede estão interligados, visto a segunda

ser o padrão formal das organizações que sustenta o sistema.

As noções de redes, originárias da Biologia, foram transpostas para outras esferas

do conhecimento, revelando opiniões diversas de seus estudiosos. Duas teorias têm

servido de base para esses estudos: a Teoria Geral dos Sistemas e a Autopoiese.

Ludwig von Bertalanffy, formulador da Teoria Geral dos Sistemas, defende a

característica aberta dos sistemas e afirma que “os fenômenos sociais devem ser

considerados como sistemas, por mais difíceis e mal-estabelecidas que sejam

atualmente as definições das entidades sócio-culturais” (1977, p. 23). Maturana &

Varela (1997), formuladores do conceito de autopoiese, relacionada à organização

circular do vivo, reconhecem a utilização de sua teoria por outros estudiosos

(CAPRA, 1996; 2005; MORGAN, 1996), que a transpõem para outros campos do

saber, inclusive as ciências sociais; porém, deixam claro a limitação dessa

utilização/apropriação, visto as sociedades humanas possuírem aspectos que vão

além dos observados em organismos vivos: elas apresentam também a dimensão

do significado, que lhes confere o grau máximo de existência independente, pois

cada sociedade cria seus próprios valores, constituindo-se em parâmetros sobre os

quais suas ações são conduzidas, característica esta não observada em organismos

celulares.

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25

Apesar da controvérsia sobre a transposição da teoria da autopoiese para o campo

social, a utilização do conceito de redes e de organizações em redes pela sociedade

civil é fato. O processo da globalização, em especial o de globalização econômica,

que previa-se conduzir a um estágio superior de desenvolvimento, beneficiando as

populações das mais diferentes nações, ricas ou pobres, e que, entretanto, fez

aprofundar o fosso entre ambas (CASTELLS, 2003), conduziu a utilização desses

conceitos como estratégia e meio de sobrevivência para diversas organizações civis,

situadas em diferentes setores da economia, ONG’s – Organizações Não-

Governamentais, OSCIP’s – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público,

etc.

Castells (2003, p. 565), em sua análise sobre a utilização do conceito de redes na

sociedade civil, afirma que “redes constituem a nova morfologia social de nossas

sociedades e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação

e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura.”

Na transposição do conceito de redes para o universo dos negócios, algumas

denominações recebidas são: redes de cooperação, aglomerados, aglomerações,

arranjos cooperativos, associativismo, arranjos produtivos locais e clusters. Essas

organizações visam a qualificação, a atualização e o aperfeiçoamento constante de

seus membros, a fim de competirem em um mundo globalizado, e

conseqüentemente exigente quanto à qualidade dos produtos e serviços

consumidos.

A organização de empresas no formato de redes é estudada por alguns autores.

Dentre eles destaca-se Porter (1999, P.210), que utilizando o termo “aglomerados”,

afirma que estes são “concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas,

fornecedores especializados, prestadores de serviços, empresas em setores

correlatos e outras instituições específicas (universidades, órgãos de normatização e

associações comerciais), que competem mas também cooperam entre si.”

Mendonça (1986) entende rede como a mola motriz do sistema produtivo, pois está

tanto na super como na infra-estrutura, existindo um sistema de fluxos e conexões

que delineia a organização de determinado espaço. O autor também analisa redes

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sob o aspecto de organização social, como meio de congregar esforços de

diferentes origens e objetivos, geralmente relacionados à questões ambientais e

sociais.

O GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, organizou-se

no formato de rede para viabilizar melhorias e a própria viabilidade da atividade

turística nesse espaço. A rede possibilitaria a troca de informações, acesso a novas

informações, crédito e maior visibilidade dos participantes no mercado.

2.1 Sistemas

O item sobre “sistemas” será subdividido em dois pontos distintos, obedecendo à

ordem cronológica da formulação das teorias e conseqüentemente refletindo o

avanço alcançado no estudo do tema.

Primeiramente, será apresentada a “Teoria Geral dos Sistemas” de Ludwig von

Bertalanffy, biólogo que introduziu a abordagem sistêmica (holística, totalitária,

organísmica) no pensamento científico das mais diversas áreas do saber – naturais

e sociais.

Em seguida será apresentada a teoria desenvolvida por dois biólogos chilenos,

Humberto Maturana e Francisco Varela, segundo a qual admite-se os organismos

como ambientes autônomos e organizacionalmente fechados, porém fazendo parte

de um ambiente maior com o qual se inter-relacionam. (MATURANA & VARELA,

1997; 2001). Embora essa teoria, denominada autopoiese tenha sido desenvolvida

pensando-se em organismos biológicos, ela foi transposta para o campo social por

diversos outros autores, dentre os quais Capra (1996; 2005), Luhman (apud CAPRA,

1996), Morgan (1996) e significou a base sobre a qual se assentam novas

perspectivas para a compreensão da vida, em seu mais amplo sentido (biológico,

econômico, social, político, etc.).

2.1.1 Teoria geral dos sistemas

O conceito de sistemas, segundo Bertalanffy (1977), começou a ganhar maior

importância no período da Segunda Guerra Mundial, quando novas tecnologias

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exigiram a união de componentes de diferentes áreas do saber e a relação entre

homem e máquina tornou-se mais complexa. O considerável aumento do tráfego

aéreo e de automóveis, por exemplo, exigiu planejamento e organização. Mas o

enfoque sistêmico também tornou-se necessário no campo político, no tratamento

de problemas como a poluição do ar e da água, o crime organizado, a delinqüência

juvenil, entre outros. Enfim, a revolução tecnológica ultrapassou seus próprios

limites, reorientando o pensamento científico, ao tratar todos os campos do

conhecimento de maneira sistêmica.

A base do estudo de Bertalanffy é a Biologia, por ser esta sua formação acadêmica.

Assim, ele descreve que na concepção mecanicista, adotada anteriormente pela

Biologia, estudava-se partes e processos isoladamente, já a concepção organísmica

entende “o comportamento das partes diferente quando estudado isoladamente e

quando tratado no todo.” (BERTALANFFY, 1977, p.53). Essa afirmação traz

implícita a idéia de sistema, entendido como o conjunto de elementos em interação,

além da característica aberta dos sistemas, defendida pelo autor.

Bertalanffy (1977, P. 193) afirma que “o organismo vivo mantém-se numa contínua

troca de componentes... o sistema aberto define-se como um sistema em troca de

matéria com seu ambiente apresentando importação e exportação, construção e

demolição dos materiais que o compõem.”

Beni (2003) ao sistematizar a atividade turística, utilizou a Teoria Geral dos Sistemas

como vetor de seu estudo, baseado na premissa de que não é possível entender

qualquer fenômeno que seja, incluindo o turismo, quando isolado de seu contexto.

Ele destaca os princípios observados por Bertalanffy como presentes em todos os

níveis de um sistema: a integralidade e a auto-organização.

Bertalanffy (1977, p. 254) refuta todos os conceitos adotados pela concepção

mecanicista:

• O esquema estímulo-resposta é inválido por não considerar grande parte do

comportamento como resultante de atividades espontâneas;

• O ambientalismo simplesmente ignora o fato dos seres humanos serem

diferentes uns dos outros;

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• O princípio do equilíbrio considera a manutenção do equilíbrio, quando o

essencial, em um sistema aberto, é a manutenção do desequilíbrio;

• O princípio da economia, segundo o qual despende-se o mínimo de energia

mental ou vital no desenvolvimento de qualquer atividade, invalida o próprio

processo de desenvolvimento da humanidade/ sociedade.

O homem é então considerado um ser ativo, criador de seu próprio universo.

Diferentemente de outros elementos encontrados na natureza, esta análise

comporta também o elemento “cultura”. O sistema social é repleto de símbolos e

valores que governam o comportamento humano. (BERTALANFFY, 1977, p. 262)

2.1.2 Teoria da Autopoiese

Uma outra abordagem sobre sistemas foi proposta pelos biólogos chilenos Humberto

Maturana e Francisco Varela no início da década de 1970, que cunharam o termo

autopoiese – auto-criação, para referir-se à organização do ser vivo. A

preocupação desses biólogos foi entender como a vida se forma, ou como ela se

caracteriza. O ponto de partida para esta análise foi a abordagem mecanicista, visto

ser importante estudar os componentes de um ser vivo, porém destacando os

processos e as relações entre os processos realizados por meio desses

componentes, ou seja, o pensamento norteador de toda análise foi o sistêmico.

A diferença fundamental no estudo de Maturana & Varela em relação aos estudos

realizados até então, e que resultou em uma perspectiva de análise totalmente nova,

foi o de procurar entender os fenômenos a partir de sua logística interna, e não

como observadores do fenômeno, metodologia freqüentemente adotada até então,

inclusive por Bertalanffy. O avanço teórico apresentado por esses dois biólogos foi o

de que sistemas vivos são organizacionalmente fechados, fazendo referência

somente a eles mesmos, ainda que existam dentro de outros ambientes, e que o

fundamental é o inter-relacionamento existente. Assim, Maturana & Varela (1997,

p.15) escrevem que o ser vivo é:

“uma dinâmica molecular, um processo que acontece como unidade separada e singular como resultado do operar, e no operar, das diferentes classes de moléculas que a compõem, em um interjogo de interações de relações de proximidade que o especificam e realizam como uma rede fechada de câmbio e

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sínteses moleculares que produzem as mesmas classes de moléculas que o constituem, configurando uma dinâmica que ao mesmo tempo especifica em cada instante seus limites e extensão.”

É a esta rede de componentes que se denomina autopoiese. São três os

determinantes de um sistema autopoiético: autonomia, circularidade e auto-

referência. Esses determinantes coexistem dentro de um sistema

organizacionalmente fechado, inserido em um sistema maior, cujas alterações,

porém, são determinadas internamente.

A autonomia apresenta-se através do esforço dos sistemas vivos subordinarem

todas as mudanças que ocorrem em seu ambiente à conservação de sua própria

organização1. Assim, sua identidade é mantida independentemente de suas

interações com um observador.

A circularidade e a auto-referência são mais facilmente compreendidas

conjuntamente. Gareth Morgan (1996, p. 243), ao utilizar a metáfora em que

organizações são vistas como fluxo e transformação, afirma, baseado na teoria da

autopoiese, que sistemas vivos engajam-se

“em padrões circulares de interações nos quais mudanças em um elemento do sistema se acham casadas com mudanças em todas as outras partes do sistema, estabelecendo padrões contínuos de interação que são sempre auto-referentes. São auto-referentes pois um sistema não pode entrar em interações que não estejam especificadas dentro do padrão de relações que definem a sua organização. Assim, a interação de um sistema com seu “ambiente” é, na realidade, um reflexo e parte da sua própria organização.”

Desta forma, as alterações ocorridas em um ambiente não são resultados das

flutuações externas, mas sim de flutuações ocorridas no próprio ambiente

(ambientes dentro de ambientes) daquele organismo, e que ele “decide” adotar com

as devidas modificações necessárias para manter sua identidade.

Capra sintetiza essas três características ao afirmar que “as redes vivas criam ou

recriam a si mesmas continuamente mediante a transformação ou a substituição de

1 O termo ambiente, neste contexto, refere-se ao ambiente maior do qual um organismo faz parte.

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seus componentes. Dessa maneira, sofrem mudanças estruturais contínuas ao

mesmo tempo que preservam seus padrões de organização, que sempre se

assemelham a teias.” (2005, p.27)

Maturana & Varela, defensores da teoria da autopoiese, deixam claro que o objeto

de análise de seus estudos é restrito à Biologia, não sendo possível, ao menos para

eles, fazer afirmações mais elaboradas sobre a organização em outros esferas,

como a social, por exemplo. Em “A Árvore do Conhecimento” (MATURANA;

VARELA, 2001), os autores escrevem sobre a utilização do conceito de autopoiese

em organismos multicelulares (organismos, ecossistemas, sociedades): “o que

podemos dizer é que [sistemas multicelulares] têm fechamento operacional na sua

organização: sua identidade é especificada por uma rede de processos dinâmicos

cujos efeitos não abandonam a rede. Mas, com relação à forma explícita dessa

organização, não falaremos mais” (MATURANA & VARELA, 2001, p.52 ). Ou seja,

admitem que o conceito de fechamento organizativo, inserido na Teoria da

Autopoiese, possa ser estendido a todos os sistemas vivos, porém a autopoiese em

si, é restrita às redes celulares.

Outros autores, porém, têm aplicado a teoria da autopoiese aos mais diferentes

campos do saber. Capra (1996, p. 171) destaca a característica diferenciada dos

sistemas sociais humanos que além de existirem em um domínio físico, governado

por leis inquebráveis da natureza, também existem em um domínio social simbólico,

onde regras sociais podem ser quebradas. Diferentemente de um organismo

molecular, cuja fronteira é delimitada por uma membrana, a fronteira dos sistemas

sociais são as expectativas, as confidências, a lealdade,... valores que diferenciam-

se de uma comunidade para outra. Para ele, a dimensão do significado é o

diferencial na compreensão dos sistemas sociais, visto todas as ações, sejam de um

indivíduo ou de uma comunidade, estarem diretamente relacionadas a um objetivo.

Luhmann (apud CAPRA, 1996, p.172), sociólogo alemão, concebe a comunicação

como determinante da rede autopoiética em um processo social: “os sistemas

sociais usam a comunicação como seu modo particular de reprodução autopoiética.

Seus elementos são comunicações que são... produzidas e reproduzidas por uma

rede de comunicações e que não pode existir fora dessa rede.” Capra (2005,

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31

p.94) afirma que “redes sociais são antes de mais nada, redes de comunicação que

envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais, as relações de poder e assim

por diante”. Ao relacionarmos o processo de comunicação com a dimensão do

significado, percebemos que as mudanças em uma comunidade estão vinculadas

aos seus valores que, através de uma rede de comunicações, podem ser

negociadas, porém sempre dependentes de fatores internos, ou seja, de suas

estruturas sociais. Fatos externos podem apenas perturbar a dinâmica de uma

comunidade, cuja estrutura (identidade cultural) determinará se essa perturbação

levará ou não à alterações em suas regras de comportamento.

Na área da gestão, Morgan (1996, p. 246) ao utilizar a autopoiese metaforicamente

para a compreensão das organizações, destaca a tentativa dessas em atingir uma

forma de confinamento auto-referencial em relação aos seus ambientes, a

problemática em manter um tipo de identidade ao lidar com seus ambientes e o

vínculo existente entre a evolução das organizações, sua identidade e sua forma de

relações com o mundo exterior.

Capra (2005) justifica a utilização da compreensão sistêmica ao domínio social

através da constatação de que a própria evolução dos diversos sistemas vivos

sempre ter ocorrido utilizando-se do padrão em rede. Embora esse padrão se torne

cada vez mais elaborado, em sua essência continua apresentando as mesmas

características das mais simples estruturas biológicas.

2.2 Redes

O pensamento de Capra que finaliza o item antecedente a este, mais do que

conduzir ao estudo de redes, interconecta os temas sistemas e redes apresentados

aqui seqüencialmente, e amplia seu conceito (redes) para o domínio da sociedade

civil, objeto de análise deste estudo.

Como já mencionado, Castells, em uma análise crítica da sociedade civil global na

atualidade, considera a organização em rede o novo formato de organização social.

Paradoxalmente, atribui à rede, cujos princípios pressupõem a participação

igualitária e a inclusão sem barreiras de número irrestrito de integrantes, a

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responsabilidade pela exclusão de sociedades e empresas situadas ao largo da

nova morfologia social e financeira: “a construção social das novas formas

dominantes de espaço e tempo desenvolve uma meta-rede que ignora as funções

não essenciais, os grupos sociais subordinados e os territórios desvalorizados...cada

vez mais, a nova ordem social, a sociedade em rede, parece uma meta-desordem

social para a maior parte das pessoas.” (2003, p. 573)

Para o objetivo deste estudo, a importância da análise de Castells consiste na

constatação da organização em rede como elemento intrínseco à sociedade global

atual. O caráter negativo de sua análise, enfatiza ainda mais a importância de

estudos acerca de redes, suas contribuições e limitações como vetor de

desenvolvimento para sociedades como um todo. Para alcançar este fim, é

necessário conhecer os princípios básicos que norteiam a formação de uma rede e

sua aplicabilidade.

A WWF-Brasil, em um estudo sobre redes publicado no ano de 2003, apresenta e

analisa a morfologia de redes, baseada na organização de redes sociais, na qual a

própria WWF está inserida. Para ela, “as redes tornaram-se a principal forma de

expressão e organização coletiva, no plano político e na articulação de ações de

grande envergadura, de âmbito nacional ou internacional, das ONG’s e dos novos

movimentos sociais.” (WWF-Brasil-b, 2003, p.11)

2.2.1 Morfologia das redes

Como mencionado no início deste capítulo, o conceito de redes é originário da

Biologia, e é a partir dessa área do saber que é possível conhecer sua morfologia, e

depois aplicá-la em outras áreas, procedendo às adaptações necessárias. Há duas

propriedades creditadas como próprias e essenciais à caracterização de uma

organização em rede: auto-organização e horizontalidade, cuja separação em

tópicos distintos obedece apenas a critérios metodológicos, não ocorrendo na

prática.

2.2.1.1 Auto-organização

Uma definição bastante simples de rede é “um agrupamento de pontos (ou nós) que

se ligam a outros pontos por meio de linhas” (WWF-Brasil-b, 2003, p.15). A

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simplicidade desta definição revela a essência de uma rede, mas para melhor

entender seu funcionamento, é preciso aprofundar sua análise.

Fig. 1: Representação de Rede

Fonte: WWF-Brasil

O primeiro aspecto a considerar é que em uma rede, embora os pontos sejam

imprescindíveis, ela não existe sem que esses pontos estejam ligados; assim, as

conexões são mais importantes que os pontos. Os pontos, por si só, não se

configuram em uma rede, pois ao não estarem conectados, são simples pontos

isolados, que não se beneficiam da infinita troca de informações possibilitadas a

partir do momento que estes pontos estejam inter-relacionados.

As relações (ligações) contidas em uma rede, conforme afirma Capra (1996), se

estendem em todas as direções, configurando sua não-linearidade, conforme pode

ser atestado na figura 1. Não é necessário que cada ponto estabeleça uma relação

direta com todos os demais, porém sempre haverá um caminho a percorrer para se

chegar ao ponto desejado, melhor dizendo, que abranja todos os envolvidos.

Esse aspecto da rede, que permite que uma informação percorra um caminho cíclico

dentro da rede, conduz à realimentação, contribuindo para que os erros cometidos

sejam rapidamente identificados e corrigidos por todos os participantes da rede.

Essa característica confere à rede uma capacidade de auto-organização, ou seja,

qualquer alteração ou nova informação se espalha pela rede, através de conexões

estabelecidas, resultando em sua atualização constante. A rede constitui-se,

portanto, em uma forma de organização.

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Por outro lado, se um desses pontos isolar-se, não participando da trama da rede,

além de não contribuir para a maximização de resultados que este tipo de

organização pode auferir, se distanciará cada vez mais do padrão alcançado pelos

demais, conduzindo a uma provável estagnação de sua atividade. Esse aspecto,

quando transportado ao universo dos negócios, é válido principalmente para

pequenas e médias empresas.

Outro aspecto importante na análise da morfologia de uma rede é a densidade das

conexões entre seus pontos - “a medida da rede é o número de conexões, não de

pontos” (WWF-Brasil-b, 2003, p.19). Um sistema se caracteriza pela interação de

seus elementos. Uma rede pode ter poucos pontos, mas se todos eles estiverem

interligados diretamente, essa rede terá alcançado o grau máximo de conexões, ou

seja, mais compacta, coesa, e integrada ela será, e conseqüentemente, mais ativa.

Em uma rede social, ou uma rede de pequenas e médias empresas, a comunicação

é o meio pelo qual essas ligações se estabelecem, tornando importante a

viabilização de oportunidades onde essas comunicações aconteçam, sejam elas

através de meio-eletrônico, reuniões, cursos, convenções.

O estudo da WWF-Brasil defende o pressuposto de que uma rede só aparece

quando é acionada, ou seja, ela existe de forma invisível e à medida que um

objetivo, uma missão emerge no âmbito social, a comunidade abrangida é colocada

em ação. Esse pressuposto é certamente válido quando referente a objetivos

sociais, como nos casos de calamidade pública, em que se necessita ajudar vítimas

de uma enchente, por exemplo. Em redes de pequenas e médias empresas, a

conexão deve ser constante e os objetivos comuns renovados para que o interesse

das empresas em fazer parte de uma rede seja mantido, ou ainda, para que a rede

continue possuindo uma razão de ser.

2.2.1.2 Horizontalidade

Recorrendo novamente à figura de uma rede (figura 1), percebemos, primeiramente,

sua horizontalidade, ou seja, não há uma esfera controladora situada em um ponto

superior aos demais. Essa afirmação é justificada pela origem do estudo de redes

na Biologia, pois, na natureza, não há acima ou abaixo, apenas redes dentro de

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redes. Assim, é possível afirmar que “rede produz horizontalidade e a

horizontalidade produz rede.” (WWF-Brasil, 2003, p.17).

O segundo aspecto relacionado à horizontalidade da rede, é a ausência de centro e

conseqüentemente, de periferia, ou seja, “todos são iguais perante um mesmo

conjunto de normas e seguem a mesma lei de maneiras indistintas” (WWF-Brasil,

2003, p.45). Ao mesmo tempo em que todos são donos da rede, ela não é

propriedade de ninguém. Por outro lado, é possível afirmar que existem vários

centros dentro de uma rede, que se destacam de acordo com o objetivo mais

urgente.

Um terceiro aspecto relacionado à horizontalidade de uma rede é a de que não é

possível delimitar as conexões estabelecidas pelos seus integrantes. Redes têm

caráter dinâmico, elas se reconstroem a todo momento, sendo a auto-organização

um aspecto importante de sua morfologia, como já visto. Assim, pode-se dizer que

redes são um sistema aberto, à medida que é possível apenas acompanhar, e não

controlar, sua evolução; porém, é fechado quando se considera sua área de

atuação, ou seja, no caso de redes sociais por exemplo, um número ilimitado de

pessoas pode participar de uma rede, assim como uma pessoa pode participar de

um número ilimitado de rede, porém, cada rede apresenta seus limites,

estabelecidos de acordo com sua razão de ser.

Ao focar organizações civis, percebemos que nem todos os aspectos sobre o caráter

horizontal de redes são possíveis de serem visualizados. Nestes ambientes ainda

se faz necessária a presença do poder, ainda que diferenciado do tradicionalmente

existente em uma estrutura vertical onde a determinação do que deve ser feito é

geralmente imposto de cima para baixo.

Assim, embora a presença do poder não fique imunizada em organizações civis que

assumem o formato de redes, ele tende a se diluir, dado o caráter democrático das

rede, onde cada integrante desempenha importante papel no desempenho do todo.

A existência de um mecanismo que facilite e agilize a operacionalidade da rede,

viabilizado através de uma secretaria executiva, por exemplo, deve ser

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36

constantemente monitorado a fim de que não migre para uma função controladora,

desfigurando a própria rede.

2.3 As redes de pequenas e médias empresas

Com base nas teorias apresentadas sobre sistemas e nos estudos sobre a

configuração em rede, válida para organismos vivos e aplicada e adaptada à

organizações civis, é possível proceder a uma análise sobre o processo em que

pequenas e médias empresas passaram a utilizar o formato de organização em rede

no esforço de atingir seus objetivos e no próprio esforço de permanecer no

mercado.

2.3 .1 Contextualização histórica para o advento de redes de empresas

Andion (2003) apresenta um retrospecto sobre as relações que moldaram o

desenvolvimento da sociedade até a atualidade, através do qual é possível

perceber a proximidade entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento

econômico, que vigororaram do advento do capitalismo, mais propriamente da

transição do mercantilismo para o capitalismo, no século XVIII, à última década do

século XX.

Na Antiguidade e na Idade Média, o desenvolvimento harmonioso de uma sociedade

estava diretamente relacionado ao objetivo comum que os membros dessa

sociedade compartilhavam, e conseqüentemente à existência de cidadãos virtuosos,

corajosos, honestos e voltados ao interesse geral. A partir do advento do

capitalismo, valores relacionados a interesses pessoais, como ambição e

acumulação, foram legitimados, pois o comércio adquiriu status de promotor do

desenvolvimento social, ou seja, o desenvolvimento foi atrelado ao bom

desempenho econômico de uma sociedade. A divergência entre os pensadores

desse período era sobre quem exercia o controle do processo de regulação: se a

esfera pública ou privada.

A crise de 1930, conhecida como a Grande Depressão, ocasionou nova evolução no

pensamento econômico, tendo como principal pensador John Maynard Keynes, que

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ao refletir sobre os graves problemas do capitalismo e do liberalismo, propôs a

participação do Estado na economia - o intervencionismo, a fim de “compensar o

declínio dos investimentos privados nos períodos depressivos das crises

econômicas” (ROSSETTI, 1987, p. 104).

Nas décadas de 1950 e 1960, um modelo de desenvolvimento conhecido como

fordista, alicerçado no papel do Estado como promotor e garantidor dos direitos

sociais básicos e no livre mercado como gerador e distribuidor de riquezas, foi

adotado por grande parte dos países localizados no hemisfério norte e depois

transposto para os países do hemisfério sul e países do Leste. A recessão

econômica vivenciada nos anos 1970 colocou em xeque alguns elementos

essenciais à regulação do sistema capitalista vigente, e evidenciou a ineficácia de se

ter o crescimento econômico como único motor do desenvolvimento, mostrando

ainda, o aumento das desigualdades sociais, principalmente entre países do Norte e

do Sul, entre centro e periferia.

Assim, a década de 1980 foi o nascedouro de um novo pensamento acerca do

conceito de desenvolvimento. A adoção de um modelo único de desenvolvimento foi

descartada e as particularidades locais consideradas no plano de desenvolvimento

local e regional, enfatizando a parceria entre Estado, mercado e sociedade civil, e

adotando os conceitos-chave de sustentabilidade, território, participação da

sociedade civil e ênfase nos valores dessa sociedade.

Sachs, em sua análise acerca do desenvolvimento sustentável defende que é

preciso haver uma “harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos”

(2000, p. 54) na formulação das estratégias desse tipo de desenvolvimento, que, por

sua vez, devem ser concebidas e aplicadas em conjunto com a população,

auxiliadas por políticas eficazes de responsabilização. O autor destaca oito critérios

de sustentabilidade a serem considerados: social, cultural, ecológico, ambiental,

territorial, econômico, e político – nacional e internacional.

O território deve ser visto como o espaço resultante da “interação entre o cidadão e

seu ambiente,... contém o passado (história), mas também as possibilidades futuras

de construção de uma nova realidade, a partir da participação dos atores e do uso

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dos próprios recursos existentes no local (desenvolvimento endógeno).” (ANDION,

2003, p.1044). Em um ambiente globalizado, a capacidade de se construir redes de

reciprocidade e solidariedade cívicas entre os cidadãos de determinada região,

configura-se como um importante diferencial competitivo, pois induz à adoção de

estratégias coletivas de adaptação a novos cenários. Essa capacidade é

parcialmente vinculada à trajetória sócio-econômica e cultural da comunidade

pertencente à determinada região.

O modelo econômico cujas determinações são conduzidas de cima para baixo é

questionado, e em alguns casos, cede espaço para a ação coletiva, nas quais as

decisões são feitas a partir de uma articulação entre o local e o global, e consideram

as necessidades dos atores locais. Esses atores compreendem o Estado, o

mercado e a sociedade civil organizada.

É neste cenário que redes surgem como elementos essenciais na promoção do

desenvolvimento, capazes de abarcar a complexa teia de exigências que se tem na

atualidade, seja na busca de melhores resultados econômicos, sociais ou

ambientais, ou melhor, no conjunto de todos eles, visto redes preverem a

participação igualitária de um número irrestrito de participantes, que compartilham

um objetivo comum. Pequenas organizações são viabilizadas através de sua

inserção em redes, que, de outra forma, estariam ao largo da sociedade globalizada

atual. A eficácia do formato de organização em rede na viabilização da pequena

empresa é atestada por diversos autores que apresentam o caso italiano como o

exemplo mais ilustrativo, dentre os quais temos Amato Neto (2000); Casarotto Filho

& Pires (1998); Farah Jr (2001) e Lima (2005). A região da Emilia-Romagna, que na

década de 1950 vivenciou um quadro recessivo bastante grave, alcançou uma das

maiores rendas per capita da Itália, superior a US$25.000,00 (vinte e cinco mil

dólares), devido à característica associativista de suas empresas e à co-existência

da concorrência e cooperação entre elas, ocasionando sua inserção no mercado

global. É preciso porém, não universalizar o modelo italiano, pois ele acontece sob

condições especificas, não encontradas em outros locais.

O modelo italiano de redes está concentrado na “terceira Itália”, denominação

advinda das três configurações distintas de sua estrutura econômica: o triângulo

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industrial tradicional do norte, a agricultura do centro-meridional-insular e as

pequenas e médias empresas do centro-norte-oriental. A terceira Itália, mas

especificamente as províncias de Bologna e Modena na região da Emilia-Romagna,

apresentam forte presença de movimentos cooperativos resultantes do pós-guerra e

uma influência histórica do partido comunista italiano na região, aspectos que

auxiliaram no processo de união de suas pequenas e médias empresas. A partir da

consciência da crise, da disposição de enfrentá-la e com o objetivo comum de

criação e produção de riqueza, pequenos e médios empresários da região iniciaram

o trabalho em rede, que lhes permitiu desenvolver um ambiente de cooperação, de

inovação e absorção dos avanços tecnológicos, resultando em sua inserção no

mercado global.

2.3.2 Sobre redes de pequenas e médias empresas

As análises sobre algumas experiências no campo de organizações em rede

permitem iniciar uma discussão teórica sobre o assunto. Redes podem assumir

aspectos diversos. Neste trabalho, aborda-se aqueles relacionados às redes

formadas por pequenas e médias empresas que possuam algum objetivo comum, e

que teriam maior dificuldade para atingi-lo, caso atuassem no mercado

isoladamente. Segundo Balestrin & Vargas (2004, p. 204)

“a configuração em rede promove ambiente favorável ao compartilhamento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais para os processos de inovação. A configuração em rede consiste, então, em forma eficaz para as empresas alcançarem competitividade nos mercados por meio de complexo ordenamento de relacionamentos, em que as firmas estabelecem inter-relações.”

Diversas razões são citadas para justificar a criação de uma rede de pequenas e

médias empresas: Silva defende que “um sistema de cooperação interempresarial

auxilia a superar limitações, a crescer e a aumentar a competitividade e assim gerar

novas fontes de renda e emprego” (2003, p.4). Para Casarotto Filho & Pires, uma

rede é formada para “juntar esforços em funções em que se necessita de uma

escala maior e maior capacidade inovativa para sua viabilidade competitiva” (1998,

p.39). Amato Neto (2000) elenca uma série de necessidades das empresas que

podem ser atendidas através da cooperação interempresarial, como a utilização do

know-how de outras empresas, a realização de pesquisas tecnológicas conjuntas, a

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partilha de riscos e custos na exploração de novas oportunidades, o fortalecimento

do poder de compra, entre outros. Ebers & Jarillo (1998) corroboram com os autores

acima e enfatizam também que determinadas circunstâncias podem levar os

interessados a atingir seus objetivos através de redes, inclusive aquelas decorrentes

das outras alternativas disponíveis, que podem não ser interessantes para os atores

envolvidos. Balestrin & Vargas (2004), além de citarem a criação de novos

mercados e o suporte de custos e riscos em pesquisas e desenvolvimento de novos

produtos para justificar a formação de uma rede, elencam ainda a “gestão da

informação e de tecnologias, a definição de marcas de qualidade, defesa de

interesse, ações de marketing, entre outros” (2004, p. 208); também apontam

algumas dificuldades que podem ser neutralizadas pela ação coletiva das PME’s,

como obtenção de melhores preços e vantagens na compra de matéria-prima e

componentes, custos de participação em feiras, custos de campanhas publicitárias,

custos de reciclagem e treinamento de mão-de-obra, atualização tecnológica,

acesso a linhas de crédito.

Quanto ao aspecto organizacional de redes de PME’s, não há um modelo único a

ser seguido, porém há um consenso sobre a importância dos vínculos informais que

se formam entre os participantes de uma rede, essenciais para que ela atinja seus

objetivos. Marcon e Moinet (apud BALESTRIN & VARGAS, 2004), apresentam um

mapa com as principais dimensões sobre as quais as redes são estruturadas (fig.2).

O eixo vertical é relacionado aos aspectos gerenciais, e o eixo horizontal ao grau de

formalização da rede.

Figura 2: Mapa de Orientação Conceitual

Fonte: Balestrin & Vargas (2004), adaptado do modelo de Marcon & Moinet

HIERARQUIA (rede vertical) CONTRATO CONIVÊNCIA (rede formal (rede informal) COOPERAÇÃO (rede horizontal)

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Uma rede é chamada vertical quando apresentar estrutura hierárquica, mais comum

em grandes organizações que adotam o tipo matriz/filial para estarem mais próximas

de seus clientes, e cujas filiais possuem pouca autonomia jurídica e administrativa.

Na outra ponta, podem assumir a dimensão da cooperação (rede horizontal). Neste

caso, cada empresa participante da rede mantém independência administrativa,

porém agem coletivamente na busca de seus objetivos comuns.

O eixo horizontal mostra que uma rede pode constituir-se formal ou informalmente.

O primeiro formato diz respeito aos casos de franquias e consórcios de exportação,

por exemplo, onde se faz necessário o estabelecimento de regras fixas de conduta

entre os atores. Por outro lado, quando uma rede é formada devido a interesses

mútuos de cooperação, ela assume a dimensão da conivência, não sendo

necessário o estabelecimento formal de regras, via constituição de contratos.

Hoffman; Molina-Morale; Fernandez-Martinez (2004) apresentam uma classificação

de redes baseada em quatro indicadores: direcionalidade, localização, formalização

e poder. Quanto à direcionalidade, redes podem ser verticais, quando cada

processo é realizado por empresas distintas; ou horizontais, quando constituída por

empresas que competem entre si, mas que objetivam os ganhos provenientes da

união entre as partes. Quanto à localização, redes são dispersas quando adotam

um processo de logística avançado que lhes permite superar os obstáculos

provenientes da distância, geralmente são constituídas por redes verticais; ou

podem ser aglomeradas, quando suas relações vão além das estritamente

comerciais, normalmente instituições de suporte empresarial fazem parte desse tipo

de rede. Quanto à formalização, redes podem apresentar forte base contratual,

como no caso de franquias, ou ter uma base não-contratual, estabelecida na

confiança existente ou gerada entre os membros da rede. O outro indicador para a

classificação de redes é o poder, que os autores classificam como orbital ou não-

orbital. O orbital é mais visualizado em grandes empresas, que apresentam um

centro de poder ao redor do qual as demais empresas circulam; o não-orbital

compreende capacidade igualitária para a tomada de decisão por parte de todos os

envolvidos – empresas trabalham de forma cooperada.

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Mais do que denominar os diversos formatos que redes podem assumir, é

importante entender alguns fatores que contribuem para o sucesso de uma rede:

Cardoso (2002), Ebers & Jarillo (1998) e Endres (2003) discorrem sobre a

importância dos participantes de uma rede terem objetivos comuns, pois são estes

objetivos que alimentam e motivam a rede, são sua razão de existir.

Balestrin & Vargas (2004); Cardoso (2002); Endres (2003) e Silva (2003) falam

sobre a questão da confiança e da cooperação que devem existir entre os

participantes da rede e que devem reger as interações entre eles. A dimensão da

confiança possui um caráter bastante subjetivo e embora não possa ser

intencionalmente criada, pode-se criar um contexto para que ela floresça, através de

oportunidades para troca de idéias, informações e sugestões; é importante que haja

certa coerência entre seus participantes, no que se refere a tamanho das firmas,

processo e técnicas utilizadas; e que ocorra uma rotação de lideranças para

representar o conjunto de firmas. Essa relação de confiança e cooperação é

estabelecida a longo prazo e deve coexistir com a concorrência entre as firmas

participantes. Ela é essencial ainda para que ocorra o desenvolvimento de ações

estratégicas.

Farah Jr (2001) destaca a capacidade de inovar das empresas participantes de uma

rede, concretizada pela rápida absorção de novas tecnologias e adoção de novas

formas de gestão, que lhes garante maior flexibilidade e capacidade produtiva,

aumento de produtividade e redução de custos totais de produção. A tarefa de

inovar é bastante complexa para ser gerida por firmas isoladamente.

Para Balestrin & Vargas (2004) e Lima (2005) a fluidez, que possibilita a inovação

citada acima, é resultante das inter-relações possibilitadas pela rede, e acontecem

no espaço, no tempo, no âmbito social e organizacional. Essa fluidez é mais

facilmente percebida entre pequenas e médias empresas, já que as estruturas

altamente verticais dificultam a fluidez das idéias e da inovação, pois quanto mais

níveis hierárquicos existem, mais filtros há para que a fluidez das idéias (aconteça).”

(LIMA, 2005, p.6)

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Outro fator essencial para o sucesso das redes é a capacidade de aprendizagem,

abordada por Balestrin & Vargas (2004), Ebers & Jarillo (1998), Molina-Morales &

Hoffmann (2002) e Teixeira (2002). A aprendizagem coletiva, percebida no contexto

das redes, faz com que cada participante evolua em função do outro. A

aprendizagem é viabilizada pela interação entre empresas e outras instituições

locais, como fomentadores do desenvolvimento e universidades. Caso as empresas

agissem isoladamente, dificilmente obteriam a mobilização desses atores em seu

benefício. Ebers & Jarillo (1998) destacam três tipos de relacionamentos em uma

rede: relações intra-organizacionais entre membros de uma mesma organização;

relações inter-organizacionais entre membros de diferentes organizações e relações

inter-organizacionais entre organizações e concluem que os dois primeiros tipos, por

serem personalizados, estão associados à geração de conhecimento e aprendizado

mútuo, visto a transferência de conhecimento parecer ser patrocinada mais por

justiça do que por contratos. Os relacionamentos pessoais entre membros de uma

rede podem acentuar a capacidade de aprendizado e melhorar a troca de

informações. O aprendizado é importante devido a diversos fatores, como a

diminuição do ciclo de vida dos produtos, consumidores melhores orientados e a

busca da qualidade.

Para sintetizar o marco teórico sobre redes de pequenas e médias empresas, é

interessante citar uma compilação apresentada por Balestrin & Vargas (2004, p.212)

acerca das características de uma rede horizontal de pequenas e médias empresas:

(1) é formada por um grupo de PME’s; (2) as PME’s situam-se geograficamente próximas; (3) as PME’s operam em segmento específico de mercado; (4) as relações entre as PME’s são horizontais e cooperativas, prevalecendo mútua confiança; (5) a rede é formada por indeterminado período de tempo; e (6) a coordenação da rede é exercida a partir de mínimos instrumentos contratuais que garantam regras básicas de governança.

Embora a obviedade de algumas características citadas; outras, como a relacionada

ao ciclo de vida das redes e instrumentos de governança, contribuem para a

reflexão do que se considera uma rede de sucesso: a eficácia da rede está

relacionada ao cumprimento de seus objetivos e não à sua longevidade, e redes são

uma forma alternativa às tradicionais formas de gestão, devendo-se portanto buscar

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o ambiente propício à geração da confiança e da cooperação que induza a uma

forma de gestão que reduza custos de transações e permita a fluidez de informações

entre todos os participantes.

2.4 As regiões no contexto de redes

O formato de rede, preponderante principalmente no contexto financeiro mundial,

mas também em outras áreas, fez surgir novas abordagens sobre o conceito de

região. Esse, aliás, mutável ao longo do tempo, pois como afirma Bezzi (2004,

p.242), “o conceito de região deve ser analisado dentro do contexto histórico em

que foi emitido e da realidade em que então se situava” . A autora afirma ainda que

“por incorporar o tempo da natureza (substrato regional) e o das sociedades

(mediações humanas), o espaço vai conceder grande flexibilidade ao conceito de

região.” (Id, p. 243). O entendimento de região deve sempre abarcar a noção de

inter-relação entre os fenômenos físicos, humanos, políticos e econômicos.

Bezzi (2004), Correa (1995) e Gomes (1995), fazem uma retrospectiva do conceito

de região dentro das diversas Escolas Geográficas, revelando a evolução desta

reflexão, sempre vinculada ao respectivo período de sua formulação. Enquanto

Bezzi e Gomes preocupam-se mais especificamente com o tema “região” dentro do

pensamento vigente em determinados períodos, Correa realiza um descrição mais

ampla sobre cada Escola Geográfica: Geografia Tradicional, Geografia Teorético-

Quantitativa (ou Nova Geografia), Geografia Crítica e Geografia Humanista e

Cultural.

Para a Geografia, região, juntamente com paisagem, espaço, lugar e território,

constituem-se em conceitos-chave no estudo da sociedade (CORREA, 1995). Em

uma retrospectiva histórica, Correa (1995), destaca a chamada Geografia

Tradicional, que perdurou aproximadamente 80 anos, entre as décadas de 1870 e

1950, e privilegiou os conceitos de paisagem e região, esta última analisada em

seus aspectos naturais, responsável pela diferenciação entre uma região e outra.

Bezzi (2004) destaca duas concepções principais nesta escola: região natural

(Escola Alemã), que enfatiza os aspectos físicos, através da relação homem-

natureza; e região humana ou geográfica (Escola Clássica Francesa), onde a

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relação homem-natureza é direcionada pela ação transformadora humana sobre a

região, podendo utilizar a citação de L. Fébvre (apud Gomes, 1995, p. 56) como

expressão máxima: “o meio ambiente propõe, o homem dispõe.” . Os diferentes

pesos atribuídos à relação homem-natureza levaram à adoção de critérios diversos

para a delimitação das regiões, ocasionando uma multiplicidade conceitual, de

acordo com conveniências ideológicas. Esse fato é explicado em parte pelo período

relativo ao desenvolvimento da Geografia Tradicional, quando os estudos

ideográficos eram predominantes, prevalecendo as observações de fatos únicos às

generalizações, que poderiam conduzir à formulação de leis e teorias. Ainda assim,

a Geografia Tradicional traduziu-se em importante contribuição à ciência geográfica,

ao preservar a abordagem da relação homem-natureza, pois um recorte espacial

sempre deverá expressar as características do trabalho humano. Sobre os créditos

atribuídos à Geografia Tradicional, Bezzi (2004, p.246) afirma:

No conceito de região ou em sua manifestação, há o pleno encontro do homem, da cultura com o meio ambiente, a natureza; a região é a materialidade dessa inter-relação, é também a forma localizada das diferentes maneiras pelas quais essa inter-relação se realiza.

Seguiu-se à Geografia Tradicional, a Geografia Teorético-Quantitativa ou Nova

Geografia (décadas de 1950 a início da década de 1970), que, calcada no

positivismo lógico, utilizou principalmente a Física para suas teorizações e a

Matemática para o desenvolvimento de modelos, aproximando-se

consideravelmente do método das ciências naturais. O conceito de região passou

a ser o “resultado de um processo de classificação de unidades espaciais segundo

procedimentos de agrupamento e divisão lógica com base em técnicas estatísticas.”

(CORREA, 1995, p. 20). O que se buscava, na verdade, eram generalizações

capazes de atribuir um caráter científico ao estudo de regiões, a fim de que estas se

constituíssem em categorias de análise. Surgiu assim dois tipos fundamentais de

região: a homogênea e a funcional ou polarizada.

As regiões homogêneas são relacionadas à uniformidade de características físicas,

econômicas, políticas, sociais, culturais, ou outras, de determinada área contígua no

espaço. Nas palavras de Gomes (1995, P.63), regiões homogêneas:

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... partem da idéia de que ao selecionarmos variáveis verdadeiramente estruturantes do espaço, os intervalos nas freqüências e na magnitude destas variáveis, estatisticamente mensurados, definem espaços mais ou menos homogêneos – regiões isonômicas, isto é, divisões do espaço que correspondem a verdadeiros níveis hierárquicos e significativos da diferenciação espacial.

As regiões funcionais ou polarizadas são fruto das relações do capital sobre o

espaço, assim a uniformidade espacial não é mais determinante da estruturação do

espaço, mas sim as múltiplas relações que nele acontecem. O advento desta

concepção é atribuído principalmente à valorização das cidades como centros de

organização espacial, que agregam ainda outros centros urbanos menores sob suas

áreas de influência, surgindo então o esquema centro-periferia, válido tanto para o

âmbito municipal, regional, nacional ou mundial. Nessa concepção não é possível

deixar de salientar a valorização da vida econômica na determinação dos espaços,

através do sistema de trocas e fluxos que acontecem na área de influência de cada

centro polarizador, tendo os preceitos da Economia Neoclássica como base: a

eficiência econômica baseada na livre iniciativa, sem interferências prejudiciais do

Estado e o conceito de utilidade marginal decrescente, proposto por Alfred Marshall.

(ROSSETTTI, 1987, p.101; LAGE; MILONE, 2001, p. 27)

Para Correa (1995), se a Geografia Teorético-Quantitativa pode ser criticada pela

sua ênfase na questão da distância em detrimento da questão social, ela apresenta

méritos que permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos,

hierarquias e especializações funcionais, desde que não se considere os

pressupostos originalmente adotados por essa escola, como a racionalidade

econômica, a competição perfeita, a a-historicidade dos fenômenos sociais e a

planície isotrópica (superfície uniforme tanto em seus aspectos geomorfológicos,

climáticos, vegetais como sócio-econômicos).

A “crise” na Nova Geografia fez surgir a chamada Geografia Crítica, na década de

1970. Essa escola geográfica procurou romper laços tanto com a Geografia

Tradicional como com a Geografia Teorético-Quantitativa, e buscou na divisão sócio-

espacial do trabalho e no processo de acumulação capitalista a determinante da

identificação das diferentes regiões, utilizando-se sobremaneira de análises

marxistas. Para Bezzi (2004, p.180), “a Geografia crítica interessa-se pela análise

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dos modos de produção e das formações sócio-econômicas como base para

explicação ou estruturação das distintas formações socioeconômicas espaciais que

devem ser analisadas e compreendidas para o melhor entendimento das regiões.”

Essa escola buscava uma solução para os problemas então vivenciados, como o

êxodo rural e a urbanização acelerada, por exemplo.

Gomes argumenta que, embora o discurso marxista tenha sido bastante utilizado

pelos seguidores desta Escola, ele, na verdade, apenas serviu como revestimento à

idéia evolucionista e mecanicista que continuou a prevalecer, visto os instrumentos

teóricos do materialismo histórico-dialético não terem resultado em um conceito de

região operacional.

Outras tendências surgidas na Geografia em meados dos anos setenta foram as

Geografias Humanista e Cultural, ambas apoiadas na percepção e na

fenomenologia. A vertente humanista resgatou a noção de região como referência

fundamental na sociedade, contendo um código social comum em determinada base

territorial, ou seja, a região é concebida como um espaço que deve ser vivenciado.

A vertente cultural é baseada em estudos da paisagem. Bezzi (2004, p. 206)

sintetiza assim essas novas tendências: “ ... a Geografia Humanístico-cultural

procura analisar de que modo os fatores culturais e a percepção interferem nas

ações de organização e de elaboração do espaço geográfico e também nos recortes

regionais.”

Dentro desta escola, Gilbert (apud BEZZI, 2004, p. 249) propõe um direcionamento

para o conceito de região, que dever ser vista como: a) uma resposta local aos

processos capitalistas; b) um foco de identificação cultural; c) um meio de

interação social. Essas três abordagens reforçam a idéia da diferenciação de áreas,

embora em tempos de globalização essas diferenciações sejam bastante sutis.

Ainda que o termo globalização remeta à idéia de uma economia unificada, uma

dinâmica cultural hegemônica e uma sociedade alicerçada em padrões globais; sob

um olhar mais profundo ele pode, na verdade, reforçar a diferenciação das partes.

Os estudos sobre região vêm sofrendo diversas adaptações nesse processo de

globalização, tanto pelo lado da escala em que passa a operar, como no sentido do

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grau de autonomia regional face aos processos políticos mais abrangentes. Assim,

a “economia mundial” proporcionada pelo processo de globalização, não resultou na

homogeneidade pretendida, mas talvez em uma acentuação ainda maior das

diversidades regionais, quando analisados os locais excluídos desse processo,

como afirma Bezzi (2004, p.252):

O desenvolvimento do capitalismo é, sem dúvida, o principal agente modelador do espaço. É ele que corta e recorta a superfície terrestre, ou seja, absorve ou reabsorve os mais diversos espaços, modos de vida e de trabalho, culturas... Simultaneamente, a globalização leva à fragmentação, pois articula e desarticula espaços e regiões.

A autora ainda afirma que:

Não há dúvida de que o mundo é uma “colcha de retalhos”, cujos tecidos (regiões) a serem “costurados” apresentam rugosidades diferentes. Assim, os “laços e laçadas” que são dados podem ser visíveis ou invisíveis, reais ou imaginários, mas possuem características próprias, que, embora enlaçadas a outras, guardam sua identidade, sua particularidade, sua personalidade.” (BEZZI, 2004, p. 253)

Gomes (1995) e Bezzi (2004) concordam nas dificuldades encontradas para se

elaborar um conceito de região condizente com a contemporaneidade, porém

indicam alguns conceitos a serem considerados nesta tarefa:

• Os recortes regionais atuais são múltiplos, dinâmicos, complexos e instáveis

espacialmente, e sujeitos ainda a um recobrimento entre eles;

• Os recortes regionais possuem diversos aspectos distintos (ambientais, humanos

históricos, econômicos, sociais, políticos e culturais), que devem ser analisados

sob uma perspectiva sistêmica;

• A dimensão política constitui-se em um dos fatores determinantes do conceito de

região, ainda que o papel do Estado tenha se modificado mediante a

globalização do capitalismo, que teve como conseqüência tanto a diminuição do

papel do Estado como agente planejador, como também a descentralização, que

atribui maior autonomia e poder de decisão às regiões junto ao poder central;

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• O processo de globalização, além de não destruir a diversidade regional, a

reforça, à medida que manifestações de identidade cultural são constatadas cada

vez com mais freqüência;

• a delimitação de uma região jamais poderá ser rígida, visto a dinamicidade do

espaço não permitir cortes bruscos em sua delimitação;

• regiões são lugares funcionais do todo, ou seja, influencia e é influenciada por

ele (poder central).

Ao analisar estas considerações atuais sobre a conceituação de regiões, percebe-se

a importância das redes neste contexto. Em meio às diversas alterações advindas

com o processo de globalização econômica, destaca-se o “encolhimento” do planeta

e a supervalorização do capital sobre as delimitações antes determinadas pelos

Estados-Nações. Como afirma Dias (1995) , a característica de conexidade de uma

rede, tanto tem o poder de conectar como de excluir e conclui este pensamento com

a hipótese de que,

“à escala planetária ou nacional, as redes são portadoras de ordem, ... na escala local, estas mesmas redes são muitas vezes portadoras de desordem – numa velocidade sem precedentes engendram processos de exclusão social, marginalizam centros urbanos que tiravam suas forças dos laços de proximidade geográfica e alteram mercados de trabalho.” (1995, p. 154).

No mesmo texto, citando Harvey, a autora defende a tese de que a contração das

distâncias não fez a localização geográfica perder seu valor estratégico, ao

contrário: “quanto menos importante as barreiras espaciais, tanto maior a

sensibilidade do capital às variações do lugar dentro do espaço e tanto maior o

incentivo para que os lugares se diferenciem de maneiras atrativas para o capital”

(HARVEY, apud DIAS, 1995, p. 157).

Pode-se assim concluir sobre o tema, que a organização em rede permite, tanto a

grandes corporações, mas principalmente a pequenos agentes econômicos, como

no caso dos empreendedores turísticos no espaço rural participantes do GETER,

delimitar uma área de interesse comum, que os capacita agir, decidir, competir e

influir dentro de um contexto que privilegia os grandes capitais, e que ao mesmo

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tempo transforma o conceito de região, ao unificar interesses e objetivos e não

privilegiar apenas a dimensão físico-geográfica.

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3 TURISMO NO ESPAÇO RURAL

A diversidade de denominações aplicadas às atividades turísticas desenvolvidas no

espaço rural conduz à utilização do termo genérico “turismo no espaço rural”. Roque

e Mendonça defendem a utilização deste termo para se referir a “toda maneira

turística de visitar e conhecer o ambiente rural, enquanto se resgata e valoriza a

cultura regional” (1999, p.145). Oxinalde trata como sinônimos os termos turismo

rural e turismo no espaço rural, ao afirmar: “turismo rural engloba modalidades de

turismo, que não se excluem e que se complementam, de forma tal que o turismo no

espaço rural é a soma do ecoturismo e turismo verde, turismo cultural, turismo

espontâneo, agroturismo e turismo de aventura.” (apud SILVA; VILARINHO; DALE,

2000, p.16). Crosby e Moreda (1996), utilizam as terminologias “turismo em áreas

rurais” e “turismo rural” como equivalentes, e as definem como qualquer atividade

turística implantada no meio rural, considerando como parte integrante deste último,

as áreas naturais e litorâneas. Para Zimmerman (2000, p.130),

as atividades turísticas no espaço rural têm recebido uma proliferação de termos, que fazem referências ao turismo rural: turismo de interior, turismo verde, turismo diferente, turismo alternativo, turismo rural e ecológico e por aí afora. Evidentemente, cada atividade possui características próprias, que, dependendo das características geomorfológicas do espaço podem estar juntas, sob a denominação genérica de turismo rural.

No caderno Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural,

entende-se Turismo no Espaço Rural como um recorte geográfico, ..., as muitas práticas turísticas que ocorrem no espaço rural não são, necessariamente, Turismo Rural, e sim atividades de lazer, esportivas, ou ócio de citadinos que ocorrem alheias ao meio em que estão inseridas.” (BRASIL, 2003, p. 7)

Além da proliferação de termos utilizados, o próprio termo “espaço rural” é analisado

sob a ótica da nova conformação mundial. Froehlich e Rodrigues (2000) defendem

a falência das interpretações dualistas rural/urbano, cidade/campo,

tradicional/moderno, visto ter ocorrido um aparente “transbordamento” do urbano

para o rural, fazendo parecer que as singularidades do rural desapareceram ou

tendem a desaparecer. Del Grossi & Silva (2002 a, p.5) analisam a crescente

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urbanização do meio rural onde, em um processo denominado “Novo Rural”, “um

conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias

atividades industriais e de prestação de serviços” são inseridas no espaço antes

destinado exclusivamente à produção agrícola. Rodrigues (2000), também

questiona a dualidade entre espaço urbano e espaço rural: para exemplificar, cita o

caso de loteamentos em áreas rurais, que são decretados urbanos quando o

tamanho do lote é menor que o de um módulo rural; outro exemplo refere-se a

bairros rurais, que ao serem decretados distritos, devido a um desmembramento

municipal, são considerados urbanos, ainda que apresentem características típicas

rurais.

Para a autora, mesmo o termo “turismo” pode ser equivocado, visto algumas

propriedades oferecerem apenas atividades de lazer, sem a premissa da pernoite

que caracteriza a atividade turística; como por exemplo, chácaras que são alugadas

para festas, atividades de pesque-pague, restaurantes rurais, entre outros.

Embora não haja dados oficiais, um levantamento realizado no ano de 2000 por

membros da ABRATURR – Associação Brasileira de Turismo Rural, indica o número

de propriedades rurais brasileiras com atividade turística. Nota-se a predominância

da região sul e sudeste, precursoras da atividade no Brasil.

Tabela 1: Dados preliminares das propriedades rurais brasileiras com atividade

turística – Ano 2000

REGIÃO NÚMERO DE

PROPRIEDADES

PARTICIPAÇÃO

NACIONAL (%)

Norte 176 3,62

Nordeste 436 9,05

Centro-oeste 588 12,12

Sudeste 2.706 55,78

Sul 942 19,41

Total 4.851 100,00

Fonte: ABRATURR, 2000

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Segundo o mesmo levantamento, as principais atrações oferecidas nestas

propriedades são: gastronomia típica, água (rios, cachoeiras, lagos, piscinas, pesca

e navegação), trilhas (caos, matas e montanhas), arquitetura histórica, folclore e

música (talentos locais), lidas rurais (cavalgadas, manejo, ordenha, cultivo, colheita,

etc.), recreação, jogos e outros esportes, preservação e valorização da fauna e da

flora regionais, cantigas de rodas e folguedos típicos, e temas de caráter religioso ou

esotérico. Como pode se observar, são atividades que apresentam considerável

diferenciação entre si.

Apesar de se incorrer em um reducionismo, ao não explorar detalhadamente a

tipologia apresentada por estudiosos do assunto, nesta dissertação, além da

utilização do termo turismo no espaço rural para designar o conjunto de atividades

turísticas neste espaço, aceita-se a diversidade de atividades nele realizadas, sejam

elas rurais ou não, posto não ser o objetivo desta pesquisa investigar o estado da

arte deste fenômeno.

É válido, porém, detalhar os conceitos e discorrer acerca de turismo rural,

agroturismo e ecoturismo, atividades mais visíveis nas propriedades agrícolas

localizadas no norte do Paraná, região de maior abrangência do estudo de caso

analisado ( GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, um

projeto da RETUR – Rede de Turismo Regional).

3.1 Turismo Rural x Agroturismo

Segundo a EMBRATUR (1999), turismo rural “é o conjunto de atividades turísticas

desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária,

agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio

cultural e natural da comunidade.” O comprometimento com a produção agrícola

não requer a efetiva prática da atividade agropastoril, mas pode ser manisfestada

pela existência da ruralidade, ou seja, de um ambiente que remeta aos modos de

vida considerados típicos das populações rurais.

Beni (2003) defende que o turismo rural é desenvolvido em espaços rurais, onde as

pessoas buscam lazer, recreação e descanso. O alojamento tanto pode ser feito em

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casas rústicas, geralmente antigas casas de colônia adaptadas ao turismo, como em

sedes de fazendas de valor histórico-arquitetônico que tipificam os diversos períodos

da história brasileira, como os ciclos do café e da cana-de-açúcar, ou em instalações

modernas, edificadas exclusivamente para este fim.

A principal diferenciação quanto ao conceito adotado pela EMBRATUR refere-se à

propriedade onde a atividade é desenvolvida: para Beni (2003), o turismo rural tanto

pode ser desenvolvido em propriedades produtivas, sendo porém o turismo sua

atividade principal; como em propriedades não produtivas, que geralmente oferecem

amplas instalações e serviços diferenciados. De acordo com a EMBRATUR (1999),

o turismo rural é sempre desenvolvido em propriedades produtivas e a questão de

constituir-se em fonte de renda principal ou secundária não fica explicitada.

O agroturismo, segundo Beni (2003) e Tulik (1997), utiliza-se apenas de

propriedades produtivas. Sua principal diferenciação em relação ao denominado

turismo rural é a participação ou mera observância das atividades agropastoris

rotineiras pelos hóspedes, constituindo-se por si próprias um atrativo. Nessa

modalidade, os hóspedes têm a possibilidade de participar da rotina diária dos

afazeres domésticos ou produtivos da propriedade, como por exemplo, participar do

cultivo, da colheita, dos cuidados com o rebanho, da preparação de pratos

tradicionais, entre outros. Deve-se observar a parâmetros de ocupação para que o

número de visitantes não interfira na qualidade do trabalho rotineiro. O

deslocamento dos turistas para esses locais é motivado pela possibilidade da

experiência da vida no campo.

Outra diferenciação, de acordo com Beni (2003), é que, ao contrário do turismo rural,

no agroturismo a atividade agropastoril é a principal geradora de renda da

propriedade, e a atividade turística apenas complementar. Este é um dado

importante, pois o abandono da atividade agropastoril constitui-se em uma

descaracterização do empreendimento.

Entretanto, Silva et al (2000, p. 20-21) apresentam um conceito detalhado de

agroturismo para o caso brasileiro, no qual não observa-se a prerrogativa do

hóspede participar ou observar o processo produtivo da propriedade rural:

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Atividades internas à propriedade – on farm -, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade, devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não materiais existentes nas propriedade rurais (paisagem, ar puro, etc.), a partir do “tempo livre”das famílias agrícolas, com eventuais contratações de mão-de-obra externa.

Como exemplos de atividades associadas ao agroturismo, os autores citam: a

fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça, a pousada, o restaurante típico,

as vendas diretas do produtor, o artesanato, a industrialização caseira e outras

atividades de lazer associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do

campo.

Ainda outras classificações são propostas. Rodrigues (2000), ao relacionar os

atrativos turísticos ao período histórico que determinada propriedade rural vivenciou,

destaca os seguintes ciclos no caso brasileiro: gado (resgate da rota dos tropeiros),

cana-de-açúcar (suntuoso patrimônio arquitetônico), ouro e diamante (com destaque

para o estado de Minas Gerais), café (propriedades senhoriais de significativo valor

arquitetônico) e imigração européia (sul). Além disso, sugere dois grandes grupos

de classificação: turismo rural tradicional, cujas instalações remetem à história do

país e turismo rural contemporâneo, que apresentam equipamentos implantados a

partir da década de 1970 e podem se apresentar sob a forma de hotéis-fazenda,

pousadas rurais, spas rurais, segunda residência e campings rurais.

3.2 Ecoturismo

O ecoturismo surgiu dentro do contexto do turismo alternativo. Por alternativo

entende-se aquelas atividade opostas às realizadas pelo turismo convencional, cuja

designação mais usual é o turismo de massa, e que historicamente tem gerado

impactos ambientais e socioculturais negativos (WEARING, 2001, p. 2). O turismo

alternativo é geralmente caracterizado por ser de pequena escala, e disperso em

áreas não-urbanas, sendo o turismo de aventura, o agroturismo e o ecoturismo

algumas de suas expressões.

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Embora o termo ecoturismo seja amplamente utilizado para se referir a uma

diversidade de atividades realizadas em ambientes naturais2, sua utilização stricto

sensu prevê premissas a serem observadas em seu desenvolvimento, conforme

destaca a WWF-Brasil (2003):

• A sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica: embora a

sustentabilidade remeta primordialmente à conservação do ambiente natural, não

se pode ignorar a sustentabilidade econômica, pois sem esta, pode ocorrer a

degradação social, cultural e ambiental, bases para a viabilização do ecoturismo

como negócio. Assim, a Economia, vista como ciência que estuda a melhor

utilização de recursos escassos, deve orientar a melhor utilização dos recursos

naturais, visando a manutenção do equilíbrio ambiental, juntamente com seu

potencial econômico para geração de emprego e renda.

• A educação do visitante: o ecoturismo destaca-se na função informativa e

educativa que toda atividade turística deveria pressupor. Através do contato

direto com a natureza em seu estado mais original e com as comunidades nela

residentes, o ecoturismo torna-se potencialmente importante como recurso capaz

de promover a reflexão e transformação de hábitos cotidianos nocivos ao meio-

ambiente, seja ele em seu estado mais preservado ou mais modificado, como

nos conglomerados urbanos; contribuindo então, para a melhora na qualidade de

vida no ambiente de origem do turista.

• A participação da comunidade local: a partir do pressuposto de ser a natureza

em seu estado mais original a principal motivação do ecoturismo, e de que,

dessa maneira, parte considerável da população residente nestes locais têm

limitadas as suas opções de atividade econômica, visto a necessidade da

preservação do ambiente em que vivem, pressupõe-se, para otimização dos

resultados esperados da atividade ecoturística, que o seu desenvolvimento seja

liderado pelas comunidades locais, cabendo a estas as decisões sobre as

atividades a serem desenvolvidas. Porém, anterior a isso, são necessários

diversos investimentos, presumidamente por parte do Estado, para a capacitação

dessas comunidades no desenvolvimento da nova atividade e para a adequação

2 Pires (1998, p.87) defende que a utilização turística da natureza seja considerada “turismo na natureza”, e quando agregada de atividades como educação ambiental, participação das comunidades locais, sustentabilidade, entre outros, receba o rótulo de “ecoturismo”.

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do local para recebimento de turistas, através da implantação de infra-estrutura

básica, como saneamento e saúde, por exemplo.

Para Ceballos-Lascurain (apud PIRES, 1998, p.79), o precursor do uso do termo

ecoturismo,

O ecoturismo ou turismo ecológico consiste em viagens ambientalmente responsáveis com visitas a áreas naturais relativamente sem distúrbios, para desfrutar e apreciar a natureza - juntamente com as manifestações culturais do passado ou do presente que possam existir -, e que ao mesmo tempo promove a conservação, proporciona baixo impacto pelos visitantes e contribui positivamente ao envolvimento sócio-econômico ativo das populações locais.

No Brasil, adota-se o conceito proposto pelo grupo de trabalho interministerial do

Ministério da Indústria, Comércio e Turismo e do Ministério do Meio Ambiente, dos

Recursos Hídricos e da Amazônia Legal [1994], no qual observa-se os três

pressupostos citados acima:

“Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.”

Os espaços utilizados para a prática do ecoturismo no Brasil, encontram-se dentro

de uma escala que contempla ambientes em seu estado mais natural, ambientes

parcialmente modificados e resquícios de ambientes preservados dentro de áreas

“urbanizadas”, ou seja, em meio a aglomerados urbanos e terras destinadas à

agricultura e pecuária, além de outras atividades extrativistas. O estado do Paraná,

com destaque para a região norte, situa-se neste terceiro caso, onde, propriedades

rurais que se abriram ao turismo, e que preservaram parte da cobertura vegetal

original da região, e conseqüentemente sua fauna, utilizam esse espaço como

importante atrativo turístico, procedendo à educação ambiental de seus visitantes e

hóspedes. Constituem-se em um caso que agrega duas ou mais modalidades de

turismo em um mesmo espaço: turismo rural ou agroturismo e ecoturismo,

corroborando com Silva; Vilarinho; Dale (2000), quando afirmam, que estas, entre

outras, são formas complementares de turismo.

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3.3 A dinâmica do turismo no espaço rural

A necessidade de geração de uma renda complementar à gerada pela atividade

agrícola tem sido mencionada como uma das principais motivações para o

desenvolvimento do turismo no espaço rural (Silva et al, 2000; Del Grossi & Silva,

2002). É consenso, porém, a necessidade do caráter complementar, ou seja, é

importante que a atividade agrícola não seja abandonada, pois, além de constituir-

se em um atrativo para os turistas, também é essencial para a manutenção do

“saber agrícola”, para a preservação da identidade rural. Outro motivo é o caráter

sazonal do turismo, que não permite um fluxo regular de entradas ao longo do ano, e

conseqüentemente não garante a sobrevivência da família exclusivamente advinda

desta fonte de renda.

A inicialização, por parte do produtor rural, em uma atividade do setor terciário, ou

seja, do setor de serviços, bastante diferente da atividade agrícola ou pastoril

tradicional, revela as dificuldades enfrentadas por esses novos empreendedores; isto

devido principalmente à inexperiência em concorrer em um mercado competitivo,

visto os produtos agrícolas serem, em sua grande maioria, padronizados e seus

preços garantidos pelo governo (SILVA et al, 2000). Na atividade turística, é

necessário organizar todos os recursos disponíveis: o espaço agrário, o espaço

natural, o patrimônio histórico, arquitetônico e sócio-cultural, e transformá-los em um

produto turístico, agregando ainda, outros serviços inerentes à experiência turística,

como instalações físicas, opções de lazer, pessoal capacitado. Esta tarefa torna-se

ainda mais complexa dada a singularidade de cada localidade, que não permite uma

configuração única da atividade. (ALMEIDA; BLOS, 2000)

Destarte a complexidade da inserção nesta nova atividade, o turismo no espaço

rural, de acordo com Cals, Capellá e Vaqué (apud SILVA et al, 2000) é considerado

uma alternativa viável para o desenvolvimento de amplas regiões, pois não exige

recursos turísticos extraordinários nem volume considerável de investimentos.

Ribeiro (2000), ao analisar o caso português, destaca, por parte do governo, a

escolha do turismo como um dos instrumentos potencialmente mais eficazes de

desenvolvimento regional e local. No Brasil, o Plano Nacional do Turismo, para o

período 2003-2007, prioriza o desenvolvimento regional da atividade, através do

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Programa de Regionalização do Turismo, que incentiva a formatação de novos

produtos que contemplem a diversidade cultural e regional do país, no qual o espaço

rural pode contribuir grandemente, servindo o turismo como dinamizador das mais

diferentes regiões do país, elevando a oferta de empregos nestes locais.

Pelo lado da demanda, Rodrigues (2000) apresenta, de forma interessante e crítica,

o desenvolvimento do turismo no espaço rural: a sociedade moderna tem tornado-

se cada vez mais crítica e exigente, com tendência ao abandono de áreas turísticas

massificadas e procura por novos destinos. O espaço rural tem a capacidade de

oferecer a oportunidade para uma vida bucólica, o contato bastante próximo com a

natureza, a vivência do “autêntico”, e a fruição de paz, tranqüilidade, repouso, além

de promover o equilíbrio pessoal. Na verdade a autora questiona todas essas

características atribuídas ao turismo no espaço rural, visualizadas em campanhas de

marketing, por duas razões principais: primeiramente, como já citado neste

capítulo, com a confluência de características urbanas e rurais em um mesmo

espaço, o bucolismo, a autenticidade do campo, a tranqüilidade e a paz atribuídas à

vida no campo, talvez sejam apenas idealizações imaginárias, estereótipos

vendidos de acordo com as necessidades percebidas de moradores de grandes

centros. Segundo, o equilíbrio pessoal, buscado por muitos no contato com a

natureza, não se encontra fora do sujeito, ou seja, é preciso buscar o equilíbrio

interior que seja constante, e que não perdure apenas durante um final de semana

no campo. Assim, o turismo no espaço rural, por si só, não pode devolver ao ser

humano seu equilíbrio pessoal, tarefa esta bastante complexa.

Porém, a demanda pelo turismo no espaço rural existe, seja ela baseada no

imaginário coletivo ou nos recursos “reais” deste espaço, quais sejam o contato mais

próximo com a natureza ou o ritmo de vida mais tranqüilo. Faz-se necessário,

portanto, planejar a atividade turística de acordo com as necessidades de quem

procura esse espaço para a fruição de seu tempo livre.

Para que o turismo no espaço rural atenda tanto as necessidades de seus ofertantes

como de seus usuários, Ruschmann (2000) ressalta a importância de se prover esse

espaço de infra-estrutura adequada para o desenvolvimento do turismo, devendo

haver o apoio tanto da esfera pública (nível local, regional e federal), como privada

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(comunidade receptora e empresária locais, através da oferta de serviços

complementares).

Almeida & Riedl (2000, p.10-11) sinalizam para algumas generalizações acerca do

turismo no espaço rural, que merecem ser consideradas no planejamento da

atividade:

a) O turismo no espaço rural precisa resguardar sua especificidade, isto é, ele não pode imitar o turismo oferecido nos centros urbanos;

b) A clientela do turismo rural, em sua maioria, provém dos grandes centros urbanos e busca no campo uma interação mais intensa e direta com a natureza, a qual precisa ser preservada;

c) A originalidade e a simplicidade da vida rural constituem um diferencial. Quanto menor a artificialização da propriedade rural que se abre ao turismo, melhor;

d) As iniciativas do turismo rural com maior probabilidade de sucesso são aquelas que envolvem a comunidade regional em todas as fases do empreendimento, desde seu planejamento até a sua implantação e posterior exploração. Iniciativas isoladas ou individuais dependem demasiadamente de características locais específicas;

e) Os responsáveis pela condução do empreendimento turístico precisam ser conhecedores da história, da cultura, das tradições, da culinária e das atrações naturais da região em que estão inseridos. O turista normalmente é extremamente curioso e questionador;

f) A exploração do turismo rural deve ter o caráter de complementaridade, isso é, a atividade não deve ser abandonada. O turista aprecia participar ativa ou passivamente do trabalho na agricultura e adora saber que a maioria dos produtos consumidos nas refeições provém do estabelecimento visitado;

g) A vida rural ainda preserva algumas características típicas de uma subcultura, cada vez mais interpenetrada pela cultura urbana dominante. O turista muitas vezes procura o meio rural para resgatar traços dessa subcultura, os quais, portanto, precisam ser resguardados e valorizados.

Também os possíveis impactos advindos com a exploração turística no espaço rural

devem ser previstos e amenizados ou potencializados no planejamento da atividade.

Brunetti (2002) faz uma compilação desses impactos, nos âmbitos social, cultural,

econômico e ambiental:

Impactos positivos: redução do êxodo rural e melhoria da qualidade de vida da

população local; renascimento das artes locais e atividades culturais tradicionais;

revivamento da vida social e cultural da população local; intercâmbio cultural campo-

cidade; resgate da auto-estima do campesino; promoção da imagem e

revigoramento do interior; valorização do trabalho feminino; geração de emprego;

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dinamicidade da economia local; agregação de valor aos produtos agropecuários;

melhoria na infra-estrutura; transferência de renda cidade-campo; preservação de

importantes áreas naturais; melhoria na qualidade ambiental (limpeza dos rios, do ar,

correta destinação do lixo); reflorestamentos e recuperação de matas ciliares.

Impactos negativos: distorção cultural (falsas imagens); efeito imitação; aculturação;

deterioração da relação turista-autóctone; aumento da criminalidade, da prostituição,

do uso de drogas e depredação do patrimônio público; competição no atendimento

dos serviços públicos e no comércio entre comunidade local e turistas; falta de

oportunidade para mão-de-obra não-qualificada para os empreendimentos turísticos;

sazonalidade; alta dos preços de produtos e serviços para população local;

supervalorização da terra (estímulo à venda), abandono das atividades

agropecuárias; poluição da água e do ar; poluição sonora e visual; despejo impróprio

do lixo; extinção de algumas espécies animais ou vegetais e uso incorreto da terra

(erosão, deslizamentos de terra, inundações).

Corroborando com o exposto acima, Ribeiro (2000) chama atenção para a

fragilidade dos recursos naturais, paisagísticos e histórico-culturais encontrados nos

meios rurais e que, se não contemplados por um processo de planejamento

responsável, podem inviabilizar a própria atividade turística, através de sua

exaustão. Apesar da análise da autora enfocar o caso português, sua conclusão é

passível de ser generalizada para outros países. A referida autora ainda alerta:

O turismo não pode, por si só, ser tomado como a solução, a panacéia, para as questões do desenvolvimento rural, as quais, por sua complexidade e diversidade, muito dificilmente responderão de forma eficaz às práticas de intervenção e gestão unissetoriais. O turismo exige, antes, abordagens multicentradas que contemplem a integração, a articulação e a coordenação de medidas e ações em domínios variados e complementares, de forma a dinamizar, promover e valorizar os recursos próprios de cada região em concreto. (RIBEIRO, 2000, p.230)

Em síntese, é possível observar um crescimento do turismo realizado no espaço

rural, e, à medida que somam-se as experiências, observa-se também as

particularidades da atividade, traduzidas tanto por benefícios como limitações. Por

configurar-se, entre outras coisas, em estratégia para áreas rurais “decadentes”, o

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desenvolvimento sustentável da atividade deve ser priorizado em seu planejamento,

seja pela esfera pública ou privada.

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4 ALGUNS CASOS DE ORGANIZAÇÃO EM REDE NO TURISMO

Algumas experiências demonstram o resultado da aplicação do formato da

organização em rede no desenvolvimento do turismo, seja ele realizado no espaço

rural ou urbano. O continente europeu, onde a atividade é desenvolvida há um

período de tempo mais longo que no caso brasileiro, fornece importante background

para novas experiências. É importante, dentro do contexto desta dissertação,

conhecer alguns casos de redes no turismo, a fim de que a escolha do tema seja

melhor justificada e também para que se estabeleça um universo maior de casos de

redes no turismo, contribuindo assim para uma análise mais abrangente do tema,

ainda que o enfoque maior seja a experiência vivenciada pelo GETER – Grupo de

Empreendedores do Turismo no Espaço Rural. Nota-se porém, após pesquisa para

redação deste capítulo, que o termo redes ainda é pouco empregado nas iniciativas

conjuntas que objetivam a organização e o desenvolvimento do turismo em

determinado local ou setor. Por esse motivo, os casos descritos abaixo utilizam o

termo “associação” para designar o trabalho a que se propõem.

4.1 A rede francesa “Accueil Paysan” e seu correspondente brasileiro

“Acolhida na Colônia”

O desenvolvimento do turismo no espaço rural francês, caracterizado principalmente

pelo agroturismo, é advindo da crise vivenciada pela agricultura, tanto em seu

aspecto econômico como social (diminuição da população rural com conseqüências

sobre os serviços prestados à esta população), e por outro lado, pelo aumento da

população urbana, que busca no meio rural, um refúgio, ou uma fuga, dos

problemas vivenciados nos grandes centros urbanos. O espaço rural surge como

uma alternativa ao turismo de massa, ofertando a oportunidade da descoberta e da

qualidade no próprio país, em contraposição à insegurança internacional

apresentada pelos destinos consagrados (de massa). (GUZATTI, 2003, p.58)

Guzatti (2003, p. 61) cita diversas associações francesas de agrupamento de

agricultores, como o “Gîte de France”, “Bienvenue à la Ferme” e “Accueil Paysan”,

que auxiliam esses empreendedores rurais a organizar e alavancar a atividade

turística em suas propriedades. Cada associação propõe, assegura e promove

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atividades específicas, e assim atrai integrantes que compartilhem os mesmos

ideais.

A rede Accueil Paysan, fundada em 1987 e cuja sede localiza-se em Grenoble, no

sul da França, surgiu como uma alternativa ao modelo de desenvolvimento intensivo

da agricultura e também como conseqüência das reflexões sobre os problemas

relacionados ao meio-ambiente, principalmente no meio rural. Em sua essência,

trata-se de um agrupamento de agricultores, que sustentam suas atividades

agrícolas através da transformação de seu lugar em uma acolhida turística e social,

envolvendo todos os atores do desenvolvimento local. (ACCUEIL PAYSAN, 2006)

Essa acolhida (recepção de turistas) visa mostrar, de forma autêntica, os modos de

vida do mundo rural. Os participantes da rede Accueil Paysan caracterizam-se pela

opção à agricultura familiar, e têm como objetivo fazer com que seus hóspedes

sintam-se à vontade em suas casas, permitindo-lhes descobrir as riquezas não-

materiais encontradas nesses locais e também estabelecendo uma relação

pedagógica, de troca mútua, entre anfitrião e hóspede (acolhido).

Os participantes da rede seguem um contrato que garante a autenticidade da

proposta. Em síntese, esse contrato enfatiza as noções de troca mútua, de

convivência, simplicidade e do respeito mútuo. A rede conta ainda, com a

colaboração de diferentes instituições governamentais e não- governamentais, visto

o campo de ação dos participantes ser bastante amplo e necessitar de auxílio

técnico e financeiro, como linhas de crédito, por exemplo. Vale ressaltar, que essa

parceria é otimizada pela ação em rede, sendo dificultada quando se age

isoladamente.

No ano de 2006, a Accueil Paysan apresenta dados que mostram 545 participantes

na França e aproximadamente 60 participantes em outros 18 países nos continentes

europeu, africano e sul-americano, e está estruturada em 15 associações regionais e

38 associações departamentais. (ACCUEIL PAYSAN, 2006)

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4.1.1 Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia - AAAC

No Brasil, a rede Accueil Payan está representada pela Associação de Agroturismo

Acolhida na Colônia – AAAC, sediada no município de Santa Rosa de Lima-SC e

que abrange também os municípios de Anitápolis, Rancho Queimado, Rio Fortuna e

Gravatal, formando um circuito agroturístico. O contexto para a criação desta

associação e sua parceria com a rede francesa Accueil Paysan teve incício no final

do ano de 1998, após articulação inicial promovida pelo encontro de duas ONG’s: o

CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo, e a AGRECO

– Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral.

A região onde está localizada a “Acolhida na Colônia” caracteriza-se por topografia

extremamente acidentada, tendo como conseqüência dificuldades para o

desenvolvimento da agricultura tradicional e de infra-estrutura satisfatória. Aliado a

outros fatores, principalmente a crise na cultura do fumo, principal atividade

econômica da região nas últimas décadas do século passado, fizeram com que os

agricultores procurassem uma alternativa para seu sustento, surgindo então a

AGRECO, fundada em 20/09/1990. Tal associação possibilitou a mudança de

atividade agrícola por parte de alguns moradores locais, que passaram à produção

orgânica e mais tarde à industrialização desses produtos. Tais ações começaram

também a atrair a atenção de pessoas (consumidores de produtos orgânicos,

técnicos e agricultores) que queriam conhecer o projeto in loco.

No esforço de organizar o interesse das pessoas em conhecer o local e implementar

o agroturismo como fonte complementar de renda, buscou-se a formação de uma

associação, moldada na já conhecida rede francesa Accueil Paysant. Após visita de

uma representante técnica da Accueil Paysant para conhecer o projeto, foi então

assinado, em 1999, um termo de cooperação. Em 18 de junho do mesmo ano, foi

fundada a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia.

De acordo com o site oficial da Associação:

a Acolhida na Colônia promove o Agroturismo ecológico na Encostas da Serra Geral Catarinense desde 1999 como alternativa econômica para os agricultores familiares orgânicos e busca a valorização e preservação dos recursos naturais e culturais do território. (ACOLHIDA, 02/09/2006)

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De acordo com Heuser & Patrício (2004), o agroturismo na rede Acolhida na

Colônia:

se estabelece a partir das atividades agropecuárias desenvolvidas no interior da pequenas propriedades rurais daquela região, e os visitantes geralmente buscam conhecer o processo de produção de alimentos vivenciando o cotidiano dos agricultores.

Heuser & Patrício (2004), afirmam que a AAAC se preocupa em determinar com

clareza a essência da acolhida que é oferecida por seus integrantes, apresentando

as seguintes características:

a) A recepção dos turistas pelos agricultores familiares é parte integrante da atividade do estabelecimento rural; b) Os agricultores familiares que recebem turistas desejam mostrar o seu trabalho e o meio onde vivem (contato com os animais, conhecimento sobre plantas, o ritmo das estações do ano, etc.); c) A recepção e o convívio do agricultor e sua família com o turista ocorrem num clima de troca de experiências e de respeito mútuo; d) O agroturismo deve manter preços acessíveis ao perfil do público-alvo; e) O agroturismo se constitui num fator de desenvolvimento local, contribuindo para manter o meio rural “vivo”- demográfica, cultural e ambientalmente – com perspectivas de futuro para os seus jovens; f) O agricultor garante a qualidade dos produtos e dos sérvios que oferece; g) Os serviços de agroturismo são oferecidos em habitações adaptadas, propiciando conforto, higiene e segurança; h) Os serviços agroturísticos são planejados e organizados pelos agricultores mediados pela AAAC.

O estabelecimento de regras claras na condução da atividade permite, além de atrair

o turista desejável para este tipo específico de turismo, também conduzir a um

reconhecimento, por parte do mercado, da qualidade dos serviços e produtos

ofertados pela Associação Acolhida na Colônia.

Como resultados já possíveis de serem visualizados dessa experiência, destacam-

se a reestruturação física das propriedades, como conseqüência da adequação para

recepção de turistas; troca de experiências, estabelecendo um processo contínuo de

aprendizagem entre receptores e visitantes; a valorização da vida rural e o resgate

da auto-estima dos habitantes locais; a preservação do meio-ambiente local e

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valorização das terras e a efetivação do agroturismo como importante

complementação de renda das famílias.

Assim, a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia, confirma, de forma

positiva, os benefícios advindos do trabalho em rede, viabilizador do

desenvolvimento organizado da atividade agroturística na Encosta da Serra Geral

em Santa Catarina. Os impactos negativos advindos do turismo não são totalmente

eliminados, porém a reflexão proporcionada pela forma de gestão escolhida,

contribui para que sejam significantemente minimizados.

4.2 A Organização das Cidades Patrimônio Mundial e o caso espanhol:

Associação das Cidades Patrimônio da Humanidade da Espanha

A Organização das Cidades Patrimônio Mundial – OCPM, foi fundada em 8 de

setembro de 1993, na cidade de Fés, Marrocos, e sua sede está localizada em

Québec, no Canadá. Sua origem está associada à ameaça de desaparecimento dos

impressionantes monumentos de Núbia, no Egito e Sudão, na década de 1960. A

mobilização, iniciada pelo então Diretor Geral da UNESCO – Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, René Maheu, resultou na

angariação de fundos para recuperar parte daquele patrimônio em perigo, e

principalmente para a tomada de consciência geral de que patrimônios como aquele,

eram de responsabilidade da humanidade, e não apenas dos países onde estavam

localizados.

A OCPM é uma organização não-governamental autônoma e sem fins lucrativos,

que visa auxiliar as cidades-membro a adaptarem e melhorarem os seus métodos de

gestão em relação a problemas específicos advindos do fato de estarem inscritas na

Lista de Patrimônio Mundial da UNESCO.

Fazer parte da Lista de Patrimônio Mundial da UNESCO significa, entre outras

prerrogativas:

a) constituir-se em um lugar artístico único, ou ser uma obra-prima de um gênio criador;

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b) ter exercido considerável influência durante determinado período da história, ou dentro de uma área cultural do mundo, sobre a evolução da arquitetura, das artes monumentais ou do planejamento urbano e paisagístico; c) ser testemunha única, ou ao menos excepcional, de uma civilização que já desapareceu; d) representar um exemplo eminente de uma estrutura que ilustre um período representativo da história; e) ser um exemplo excepcional de um assentamento humano tradicional, representativo de uma cultura atualmente vulnerável, decorrente de uma mudança irreversível; f) estar direta e sensivelmente associado com sucessos, idéias ou crenças de importância universal excepcional; g) como fator adicional, também será levado em conta o estado de preservação do bem, que deve ser comparado com o estado de outros bens de períodos equivalentes.

Há um consenso mundial sobre a dificuldade de se encontrar um equilíbrio entre o

desenvolvimento econômico e a conservação do patrimônio histórico e cultural da

Humanidade. O turismo, uma das principais fontes de recursos econômicos para a

preservação e manutenção desses locais, paradoxalmente, contribui para a

“erosão” potencial desses patrimônios, ocasionada por grandes massas de

visitantes.

Assim a OCPM tem os seguintes objetivos (ORGANIZATION OF WORLD HERITAGE

CITIES, 2006) :

a) contribuir para a aplicação da Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, e da Carta Internacional sobre a Proteção de Cidades Históricas; b) encorajar, a nível regional e internacional, a cooperação e a troca de informação e conhecimentos entre as cidades históricas no mundo todo, em estreita colaboração com outras organizações cujos objetivos sejam análogos e também enfatizar ações que suportem os esforços de cidades localizadas em países em desenvolvimento; c) em cooperação com organizações especializadas, garantir melhor comunicação entre as pesquisas feitas por especialistas e técnicos e as necessidades dos agentes da gestão municipal; d) sensibilizar as populações para o valor patrimonial e para sua proteção.

De acordo com o site oficial da OCPM, o Brasil conta com nove lugares

considerados Patrimônios Culturais da Humanidade:

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• a histórica cidade de Ouro Preto – MG;

• o centro histórico de Diamantina - MG;

• o Santuário de Bom Jesus do Matozinhos em Congonhas do Campo - MG;

• o centro histórico de São Luís – MA;

• o centro histórico de Salvador – BA;

• o centro histórico de Olinda – PE;

• as Missões Jesuítas dos Guaranis, em São Miguel das Missões - RS;

• o centro histórico da cidade de Goiás – GO;

• o conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico de Brasília – DF .

4.2.1 A Associação das Cidades Patrimônio da Humanidade da Espanha

A Espanha constitui-se no país onde o maior número de cidades foi declarado

Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Fazer parte deste grupo seleto de

cidades significa constituir-se em um legado para a humanidade, o que obriga o país

onde está situada a esforçar-se no intuito de conseguir sua defesa e proteção.

Por esse motivo, as cidades de Ávila, Cáceres, Salamanca, Santiago de

Compostela, Segovia e Toledo constituíram, em 17 de setembro de 1993, o Grupo

das Cidades Patrimônio da Humanidade da Espanha, a fim de conseguir maior

apoio econômico e sensibilidade, tanto das administrações autônomas, como do

governo central, para salvaguardar seus bens. Posteriormente o grupo foi acrescido

pela adesão das demais Cidades Patrimônio da Espanha : Alcalá de Henares,

Córdoba, Cuenca, Ibiza e La Laguna (Tenerife). A Associação também objetiva a

conservação e o desenvolvimento dessas cidades, mediante a realização de

projetos comuns a elas, o estudo de soluções, já que partilham de igual

problemática, e a promoção de medidas sociais e turísticas conjuntas.

Dentro dessas medidas turísticas conjuntas, a Associação das Cidades Patrimônio

da Humanidade da Espanha oferece alguns roteiros, que visam aproximar os

interesses dos turistas à oferta turística de seus membros, sendo que uma mesma

cidade apresenta apelos diversos:

• Rota da História;

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• Rota dos Vestígios;

• Rota das Culturas;

• Rota das Eternidades;

• Rota das Lendas;

• Rota das Raças

• Rota das Cidades;

• Rota da Natureza;

• Rota da Diversidade;

• Rota dos Nomes;

• Rota do Presente;

• Rota das Tradições.

Supõe-se que uma das vantagens de se deter o título de Cidade Patrimônio é seu

reflexo na promoção turística. Embora o grupo das onze cidades espanholas

reconheça o aumento no fluxo de turistas, não consegue determinar o percentual de

visitas referente a resultados do trabalho promovido pela Associação, ou que

obedecem a outros fatores. (CIUDADES PATRIMONIO DE LA HUMANIDAD)

Ainda assim, é possível visualizar os benefícios advindos da iniciativa em juntar as

Cidades Patrimônio espanholas em torno de uma associação, viabilizando a busca

de soluções conjuntas para uma problemática comum a todas.

4.3 Uma síntese

A redação desse capítulo revelou a escassez de material disponível sobre o tema

“redes no turismo”. O caso apresentado sobre a Associação das Cidades

Patrimônio da Humanidade da Espanha, constitui-se em mera descrição de uma

experiência que se aproxima do conceito de organização em rede, porém, a

importância de sua redação concentra-se exatamente na constatação dessa

ausência de material, e expõe a necessidade de trabalhos futuros que, primeiro,

conduzam a uma pesquisa exaustiva acerca de trabalhos existentes sobre o tema,

segundo, seja promotor de novos estudos de caso, tendo em vista, a importância

das informações obtidas nos estudos de caso das redes Accueil Paysan e Acolhida

na Colônia.

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5 O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL DO GETER

É importante conhecer o contexto no qual a RETUR – Rede de Turismo Regional, e

o GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural, foram

pensados e desenvolvidos, a fim de que esse conhecimento contribua para a

análise acerca da eficácia do formato da organização em rede neste caso

específico. Assim, apresenta-se a seguir uma retrospectiva histórica sobre a

colonização do norte do Paraná, sede da iniciativa estudada, e os princípios

norteadores da inserção do turismo neste espaço rural e da idealização e

desenvolvimento da rede analisada.

5.1 Contextualização histórico-geográfica do turismo no espaço rural norte

paranaense: da hegemonia da cafeicultura à diversificação econômica

Esta análise fundamenta-se na categoria de formação sócio-espacial de Santos

(1997); assim a história da região aqui apresentada, é vista de forma dialética,

considerando-se elementos naturais, sociais, econômicos e humanos, não somente

daquele espaço geográfico, mas do universo que de alguma maneira influi e

continua influindo em seu processo de desenvolvimento. Concebe-se o espaço

como um fator de evolução social, e é essa evolução que determina as mudanças de

significação do lugar.

Ainda que o estudo de caso apresentado nesta dissertação tenha passado por uma

dispersão geográfica ao longo do tempo, justificada teoricamente no item 2.4 (As

regiões no contexto de redes), esta análise enfoca a região norte do Paraná, por ter

sido este o espaço originário da RETUR e do GETER. Assim, a análise de seu

desenvolvimento, com ênfase em seu espaço rural, contribui para o entendimento da

dinâmica da atividade turística atualmente presente neste espaço e da singularidade

observada no processo da constituição de uma rede visando o aprimoramento

profissional de iniciantes na atividade turística no espaço rural, e o desenvolvimento

da atividade no contexto regional. A singularidade aqui referida, na verdade, é

comum a todo processo de desenvolvimento turístico, em diferentes regiões, pois

conforme afirma Ruschmann (2000, p.53), “o estabelecimento de um modelo

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“universal” que direcione e oriente o desenvolvimento dos equipamentos e dos

fluxos turísticos nos espaços naturais é praticamente impossível”.

A ocupação do Paraná não ocorreu simultaneamente, o litoral e a capital Curitiba

foram os primeiros a se desenvolver. Curitiba foi elevada à vila em 1693, mas

somente no ano de 1853 uma lei do Império a elevou à categoria de província,

pois até então pertencia à província de São Paulo. A colonização do norte do

estado é mais recente, sendo subdivida em "Norte Velho" ou "Pioneiro" (segunda

metade do século XIX), "Norte Novo" e “Norte Novíssimo" (primeira metade do

século XX), denominações recebidas de acordo com o avanço da cultura cafeeira,

sem dúvida a grande responsável pelo rápido desenvolvimento da região.

O hiato temporal entre o desenvolvimento das duas regiões paranaenses (Curitiba e

o norte paranaense) não é obra do acaso. O norte do Paraná, até o início do século

XX, exibia densa mata, e não havia comunicação (estradas ou meio de transporte

adequado) até a capital da província - Curitiba. Esse fato, juntamente com a

proximidade geográfica da região de Ourinhos - sul do estado de São Paulo,

colaborou para que o norte paranaense se relacionasse mais assiduamente com

São Paulo e o porto de Santos. Esse isolamento em relação à Curitiba também se

fez sentir no campo político, que não contava com representantes norte-

paranaenses no governo estadual, e que de acordo com Cernev (1997), contribuiu

para que fosse desenvolvido um "espírito empreendedor" na região, ficando a cargo

da iniciativa privada várias realizações geralmente atribuídas ao estado, como a

criação de uma empresa elétrica, o serviço de água encanada e o sistema de

telefonia.

Pode-se considerar o ano de 1975 um divisor de águas na história norte

paranaense, pois a geada ocorrida naquele ano, juntamente com outros fatores

explicitados adiante, ocasionou o abandono da lavoura cafeeira, até então a base

econômica da região. Iniciou-se então uma época de profundas mudanças, tanto no

campo como nas cidades, que exigiram adaptações às vezes não facilmente

apreendidas pelos tradicionais agricultores. Esse novo cenário não era somente

conseqüência do fim da era do café, mas exigência de uma nova ordem mundial,

que continua exercendo sua influência na região, de forma mais acentuada a partir

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da abertura de mercado empreendida no governo Collor (1990) e a conseqüente

globalização. Entre essas mudanças está a alteração no perfil das propriedades

rurais, fenômeno conhecido como Novo Rural, que introduz novas atividades nesse

meio, inclusive a prestação de serviços ligados ao lazer e ao turismo.

5.1.1 O Início da colonização

Apesar de já conhecida a fertilidade do solo da região norte paranaense no início do

século XX, sua ocupação era dificultada pela densa mata e a falta de acesso a

mercados que pudessem absorver sua produção. Ainda assim, a convergência de

interesses do estado e de cafeicultores paulistas, que buscavam novas terras para o

cultivo do café, proporcionou algumas tentativas de ocupação. O governo

paranaense procedeu a várias concessões de terras, em contrapartida, os

concessionários se responsabilizavam em povoá-las e dotá-las de certa infra-

estrutura, principalmente a abertura de caminhos. Na maior parte dos casos, porém,

os objetivos não foram atingidos, algumas dessas terras voltaram ao domínio do

estado como terras devolutas, outras foram tomadas por posseiros.

A história de Londrina inicia-se em 1924 com a vinda de uma missão inglesa

(Montagu) ao país, cujo objetivo era realizar uma reformulação no sistema tributário

brasileiro. Entre os membros dessa missão estava Lord Lovat, assessor para

assuntos de agricultura e reflorestamento da Inglaterra, que também representava a

Sudan Cotton Plantation Syndicate, uma empresa inglesa, produtora de algodão no

Sudão, e que portava a incumbência extra de encontrar no país terras férteis onde

pudesse proceder ao plantio de algodão, com o intuito de abastecer a indústria têxtil

inglesa.

A região escolhida foi o norte do Paraná e a porção paulista com a qual faz fronteira.

O primeiro investimento do grupo em terras brasileiras aconteceu no mesmo ano,

através da compra de três fazendas e uma usina de beneficiamento de algodão no

estado de São Paulo. Porém, os baixos preços de mercado do produto e a falta de

sementes sadias no mercado contribuíram para o fracasso deste primeiro

empreendimento; ainda assim, a visualização de lucros futuros por parte da

companhia inglesa, através da venda de terras e construção de estradas de ferro,

determinou a continuidade de seus investimentos nesta região, agora com um

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74

aporte bem superior de capital, devido à necessidade da compra de uma área maior

de terras e a implantação de infra-estrutura básica mínima para atrair compradores.

O total de terras colonizadas pela CTNP foi de 546.078 alqueires3 , resultante de

uma transação comercial, e não de uma concessão, como havia acontecido nas

tentativas anteriores de ocupação. Coube ainda à CTNP a liquidação das posses

ilegítimas; assim diversas áreas foram pagas uma ou mais vezes a quem

apresentasse o título da propriedade, ainda que este fosse discutível, como garantia

de que não coubesse reclamações posteriores. Essa postura adotada pela CTNP é

explicada em última instância pela necessidade do mercado reconhecer sua

seriedade, a fim de garantir o sucesso (lucro) do empreendimento.

O objetivo da empresa era lotear terras para o plantio de café, ainda que a cotação

do produto no mercado internacional apresentasse quedas sucessivas e as safras

brasileiras fossem continuamente superiores à demanda. Esse aumento da lavoura

cafeeira em um cenário negativo, é explicado por Furtado (1987) como

conseqüência de estímulos artificiais recebidos do governo, que garantia a compra

da safra por preços mínimos, ainda que não a colocasse no mercado, adotando

inclusive a eliminação por queima na década de 1930, a fim de não permitir que seu

preço caísse ainda mais. Somando-se a esse fato, houve a crise de 1929, seguida

de grave depressão mundial. Porém, este cenário "se por um lado representou a

falência de muitos, por outro, a brusca contenção do expansionismo indicou a

outros, novo caminho. Bastava, para tanto, dispor de algumas economias."

(CANCIAN, 1977. p.144 )

Embora o governo brasileiro baixasse diversas leis proibindo o plantio de novas

lavouras de café, o Paraná não as seguia, pois primava pela ocupação do território,

e este foi um importante incentivo para atrair pessoas acostumadas com essa

lavoura, e que devido à crise, foram obrigadas a se desfazer de suas terras ou

perderam seus empregos em fazendas localizadas em outros estados. Aliado a

isso, a política de vendas da CTNP era benéfica àquele panorama, pois exigia

apenas uma pequena entrada e parcelava o saldo em quatro anos, além de vender

3 Um alqueire equivale a uma área de 24.200 metros quadrados

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os lotes com a madeira, que poderia ser retirada e vendida no primeiro ano para

garantir o pagamento da segunda parcela.

O modelo adotado pela CTNP era de um avanço gradual e sistemático, como o

realizado nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, conhecido como moving frontier

– novas fronteiras agrícolas, onde, somente após uma faixa do território estar

plenamente ocupado, é que se movia para a próxima região, contígua àquela

(NORMANO apud CERNEV, 1997). Assim foi que no ano de 1930, cinco anos após

o início das atividades da companhia na região, os primeiros lotes foram postos à

venda. Esses cinco anos foram utilizados para realizar o levantamento topográfico

da região, demarcar os lotes (urbanos e rurais) e abrir estradas, sendo que todos os

lotes contavam com água corrente e estradas de rodagem. Previu-se a formação de

núcleos urbanos principais a uma distância aproximada de 100 km, e de núcleos

menores a cada 15 km, que serviriam de entreposto para receber a produção local

e abastecer a comunidade com outros produtos necessários. Os lotes rurais eram

de tamanho pequeno (5 a 30 alqueires), visando a rápida ocupação e a garantia do

fluxo para o transporte ferroviário, de propriedade da CTNP.

No ano de 1944, por determinação do governo inglês por ocasião da Segunda

Guerra Mundial, a CTNP foi vendida a um grupo nacional, recebendo o nome de

CMNT - Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e a Companhia Ferroviária foi

repassada à nação, condição imposta pelo então Presidente Getúlio Vargas para

autorizar a transação.

O primeiro importante núcleo estabelecido foi a cidade de Londrina (Pequena

Londres), elevada à condição de município em dezembro de 1934, seguido de

Maringá (1947), Cianorte (1953) e Umuarama (1955). No início da venda dos lotes,

foi feita uma intensa divulgação tanto no estado de São Paulo como na Europa,

resultando, segundo levantamento realizado em 1942, em 30% de compradores

nacionais e uma profusão de compradores estrangeiros de 33 nacionalidades

diferentes. Porém, as situações adversas encontradas no início, fizeram com que

alguns compradores revendessem seus lotes e voltassem ao seu local de origem,

prevalecendo os de nacionalidade brasileira, ainda que filhos de imigrantes.

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5.1.2 O norte do Paraná e o café

Embora o rápido desenvolvimento da cidade de Londrina seja atribuído ao café, ele

somente aconteceu no final dos anos 40 e mais acentuadamente na década de

1950. Entre os fatores que contribuíram para a liderança da região na produção de

café, tanto no mercado nacional como internacional, destaca-se as geadas ocorridas

no início dos anos 40 nas lavouras paulistas, que ocasionou a diminuição da área

plantada e permitiu que o governo pusesse fim às restrições de plantio, causando

um aumento na procura pelas terras norte paranaenses. Um segundo fator foi a alta

de aproximadamente 100% nos preços do café, decorrente da Guerra da Coréia,

ocorrida entre os anos de 1950 e 1953, que também funcionou como um incentivo

ao aumento da área plantada.

O Paraná vivenciou neste período um estado de supremacia no que se refere à

produção de café, alcançando a liderança brasileira no ano de 1958. A divisão em

pequenos lotes de terras, herança do processo de colonização empreendido pela

CTNP, e o bom preço de mercado, impulsionaram a economia da região, visto o

grande volume de mão-de-obra exigido por esta lavoura.

No período entre 1962 a 1968, a produção africana de café provocou uma baixa na

cotação do produto de todos os demais países produtores. Aliado a isso, face à

uma evidente supercapacidade produtiva, o governo brasileiro, seguindo orientação

da Organização Mundial do Café, voltou a adotar políticas de erradicação de

cafeeiros. Mas somente com as geadas ocorridas na década de 1970,

especialmente no ano de 1975, é que os cafeicultores concretizaram a substituição

desta lavoura, principalmente pelas culturas de soja, algodão e trigo, iniciando uma

nova etapa no processo de desenvolvimento da região.

5.1.3 O turismo no contexto do “novo rural” no norte do Paraná

O termo "novo rural" aplica-se a uma nova conformação do meio rural brasileiro,

alteração intensificada a partir de meados dos anos 80. Segundo Del Grossi (2002a.

p.5) esse novo panorama é composto de três grandes grupos de atividades:

1. Uma agropecuária moderna, baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias;

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2. Um conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação de serviços;

3. Um conjunto de "novas" atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de mercados.

Na busca de uma nova função para o capital imobilizado de antigos cafeicultores (a

terra e suas edificações), novas atividades foram implantadas no meio rural. Às

pequenas propriedades, predominantes na região norte paranaense, e excluídas da

nova conformação agrícola mundial, exigente de grandes áreas e altos

investimentos, restou a busca de mercados diferenciados, no qual estava embutido

uma brusca mudança na atividade de agricultores tradicionais. Entre essas novas

atividades, destacam-se a piscicultura, agroindústrias rurais (doces, bebidas, vinhos,

carnes e derivados, lácteos e derivados, etc.), criação de aves nobres, criação de

rãs, produção orgânica de ervas aromáticas e medicinais, floricultura, cultivo de

cogumelos, turismo rural. (DEL GROSSI, 2002a)

O turismo no espaço rural norte paranaense é marcado por diversos restaurantes

rurais, pesque-pagues, pousadas e hotéis-fazenda, e recentemente, pela oferta do

turismo de aventura, realizado nos rios e matas da região. Esses novos

empreendimentos foram possíveis, além dos motivos já expostos pelo lado da oferta,

pela demanda resultante da revolução cultural ocorrida nos anos 90, onde buscou-

se, entre outras coisas, o contato mais próximo com a natureza e a volta às origens.

Ruschmann (2003, p.9) afirma que:

"o turismo contemporâneo é um grande consumidor de natureza e sua evolução, nas últimas décadas, ocorreu como conseqüência da "busca do verde" e da "fuga" dos tumultos dos grandes conglomerados urbanos pelas pessoas que tentam recuperar o equilíbrio psicofísico em contato com os ambientes naturais durante seu tempo de lazer."

A volta às origens justifica-se pelo considerável percentual da população que tem em

seu histórico o campo como local de moradia e de produção. Ainda que as novas

gerações habitem as cidades, persistem na memória relatos de seus ascendentes

sobre a rotina no campo, e o saudosismo de uma época às vezes nem

experimentada pessoalmente. Cumpre ressaltar que a área rural também se

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beneficiou de avanços tecnológicos, mantendo, porém, a ausência do ritmo

apressado, da poluição sonora e visual encontrados nas cidades.

Assim, é possível compreender o processo pelo qual passou o norte do Paraná, e

confirmar a dinamicidade de seu espaço. A área rural, exclusivamente geradora de

riqueza por considerável período de tempo, sempre esteve relacionada à urbana em

sua função de centro abastecedor de produtos manufaturados e serviços, dentre os

quais, o lazer. De alguma maneira hoje esta relação se inverte, cabendo ao campo,

ainda que em proporção pequena, o fornecimento do lazer para parte da população

urbana.

Como já visto, o turismo para o proprietário rural, constitui-se em uma atividade nova

e pode-se dizer, desconhecida. Apresenta características bastante diferenciadas

das atividades tradicionais do campo: da lida com a terra e com o rebanho, passa-

se para o atendimento ao público. Além disso, a própria atividade turística realizada

no espaço rural carece de delineamentos claros à sua execução.

5.2 RETUR – Rede de Turismo Regional

A idéia da RETUR começou a ser idealizada no ano de 1997, juntamente com o

início de seu primeiro projeto: o GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo

no Espaço Rural.

Os municípios de Campo Mourão e Maringá, situados no norte do Paraná, serviram

de base para esta iniciativa pioneira de desenvolvimento do turismo de caráter

regional, tendo como principais mentores e fomentadores representantes da

iniciativa privada. Ainda que o primeiro movimento para o estabelecimento dessa

rede tenha partido de um representante do governo municipal de Campo Mourão na

época, o então Secretário de Desenvolvimento do município, Sr. Jacó Gimenes, diz-

se de caráter privado, devido ao fato da rede ter se estabelecido visando atender as

necessidades de seus participantes, co-responsáveis por todas as atividades

desenvolvidas, e se estendeu para além dos limites do município de Campo Mourão,

não se vinculando diretamente aos planos daquele governo municipal, mas sim aos

interesses de seus participantes.

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A missão da RETUR é “ser o elo de ligação, interação e integração no processo de

regionalização do turismo entre todos interessados no desenvolvimento do

segmento.” A rede se conceitua como uma:

iniciativa de pessoas envolvidas no processo , com intenção de promover o potencial turístico da região, promovendo a aproximação de interesses, fortalecendo empreendimentos já existentes e conduzindo novos empreendedores e produtores rurais para uma profissionalização do segmento transformando a região norte / noroeste do Paraná em região turística. (TURISMO REGIONAL, 2005)

Para que o princípio básico de uma rede, de constituir-se no entrelaçamento de

todos os envolvidos na concretização de um objetivo, seja alcançado, considera-se

como setores interessados no processo de desenvolvimento do turismo no âmbito

regional: empreendedores no espaço rural, agroindústria familiar, artesãos,

profissionais que se relacionem com o turismo, sindicatos, associações, órgãos

municipais, estaduais, federais, instituições de apoio, instituições de ensino, mídia,

comunidade. Esse entrelaçamento acontece através de parcerias, de acordo com o

projeto desenvolvido e tem como meta abranger o maior número possível de

representantes das mais diversas instituições.

Quanto à área de atuação, a RETUR tem ênfase no norte e noroeste do Paraná,

porém, pode atender a qualquer localidade que demande seus serviços. Assim, o

Projeto Costa Rica, por exemplo, visa incluir, além de municípios paranaenses,

municípios dos estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo, limítrofes ao estado do

Paraná, no trecho que abrange os Rios Paraná e Paranapanema.

Desde o ano de 2003, a RETUR está caracterizada como OSCIP – Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público, processo nº 08015.011416/2003-57;

conveniada à UEM – Universidade Estadual de Maringá através da resolução nº

609/2003, de 04/12/2003, processo nº 2702/2003, com fundamento na lei nº

8.666/93, pelo termo de ampla cooperação técnica, científica e cultural para o

desenvolvimento de projetos conjuntos de ensino, pesquisa e extensão; para

viabilizar o acesso e uso da infra-estrutura disponível em ambas as entidades; para

promover o intercâmbio de pessoal docente e técnico, em treinamento

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especializado, a fim de atender programas e projetos de interesse mútuo (cursos,

palestras, seminários, etc.) e para troca de informações, através de assinatura de

termos de convênios.

O município de Maringá é sede e foro da RETUR, onde localiza-se seu escritório

central, coordenado por Wanda Pille, que, além de funcionar como uma central de

reservas para os empreendimentos turísticos do espaço rural com os quais mantém

acordo, também presta serviços de assessoramento e consultoria para novos

empreendimentos, promove a participação e divulgação dos empreendimentos em

eventos e na mídia, além de coordenar outros projetos da RETUR.

Em 2006, são cinco os projetos pertencentes à RETUR, incluindo o GETER. Todos

eles têm registrado suas logomarcas, que encontram-se expostas a seguir, logo

após breve descrição de cada projeto. O projeto Costa Rica encontra-se em fase

mais avançada de desenvolvimento, enquanto os demais se constituem em idéias

iniciais, cujas implantações ainda encontram-se pendentes.

• COSTA RICA: Visa o desenvolvimento sustentável pelo turismo nos municípios

ribeirinhos dos Rios Paranapanema e Paraná, no trecho compreendido entre a

foz do Rio Ivaí e a foz do Rio Pirapó, através da exploração responsável de suas

ilhas, praias, fauna e flora. Sua filosofia ancora-se no tripé educação, cultura e

negócios. Em um primeiro momento envolveu os municípios paranaenses no

trecho Jardim Olinda – Querência do Norte, e posteriormente pretende incluir os

municípios de Porto Primavera, no Mato Grosso do Sul, Rosana, Euclides da

Cunha e Teodoro Sampaio, em São Paulo e Santo Inácio, Santa Inês e Itaguagé,

no Paraná. Já foram realizados diversos cursos, visando a sensibilização e

qualificação das pessoas da região para o desenvolvimento da atividade turística,

como os encontros “Desenvolvimento sustentável e as oportunidades do turismo

na região noroeste do Paraná”, o curso “Agentes mirins-guias do amanhã”, curso

de “Condutores de turistas”, para pescadores e comunidades ribeirinhas e

residentes nas ilhas do Rio Paraná e Paranapanema. Como resultados têm-se:

organização da Festa do Milho, em Marilena, Festa da Brasilidade, em Terra

Rica, reorganização da atividade de vôo livre em Terra Rica, com a implantação

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da Escola de esportes radicais e vôo livre e a organização de Conselhos de

Turismo em alguns municípios.

Figura 3: Logomarca do Projeto Costa Rica

Fonte: www.turismoregional.com.br

• ROTA DO CAFÉ: visa o desenvolvimento de roteiro temático turístico como

oportunidade de conhecimentos da história do café no norte e noroeste do

Paraná, impulsionador da colonização e desenvolvimento da região.

Figura 4: Logomarca Projeto Rota do Café

Fonte: www.turismoregional.com.br

• CAMINHOS DA CACHAÇA: desenvolvimento de roteiro temático, oportunizando

o conhecimento sobre produtores artesanais da cachaça no Paraná.

Figura 5: Logomarca do Projeto “Caminhos da Cachaça”

Fonte: www.turismoregional.com.br

• SOU DAQUI: projeto de integração dos municípios da CONCAM (Campo

Mourão)

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Figura 6: Logomarca do Projeto “Sou Daqui”

Fonte: www.turismoregional.com.br

5.3 GETER – Grupo de Empreendedores do Turismo no Espaço Rural

O GETER constitui-se no principal objeto de análise dessa dissertação. Como

mencionado, ele é o primeiro projeto da RETUR e surgiu juntamente com ela,

resultando em uma experiência que nos auxilia na compreensão da dinâmica de

uma rede no âmbito do turismo realizado no espaço rural.

Figura 7: logomarca do projeto GETER

Fonte: www.turismoregional.com.br

A primeira reunião, realizada em 1997, por iniciativa do então Secretário de

Desenvolvimento de Campo Mourão, Jacó Gimenes, e com a colaboração do

SEBRAE daquele município, já visava a formação de um grupo de empreendedores

do turismo, e contou com a participação de alguns empreendedores e

colaboradores no processo de desenvolvimento do turismo, dentre os quais os

representantes da Pousada A Fazendinha, de Campo Mourão e da Fazenda Água

Azul, de Fênix. Logo em seguida outros empreendedores foram contactados para a

formação do grupo.

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A idéia de associativismo foi fortalecida pela percepção das dificuldades que as

propriedades enfrentavam ao agir isoladamente na divulgação da propriedade e no

desenvolvimento satisfatório da atividade turística. Assim, no dia 27 de março de

2001, o GETER foi lançado oficialmente em um evento na Sociedade Rural de

Maringá, amplamente divulgado na mídia regional.

O GETER tem como missão fomentar, desenvolver e normatizar o segmento do

turismo no espaço rural, cujo sucesso está na arte de somar competências e

priorizar a ética e o associativismo.

Inicialmente eram realizadas reuniões mensais, propositalmente nas dependências

das propriedades participantes, para que, além dos parceiros poderem conhece-las

e acordar sobre o padrão de qualidade proposto pelo projeto e que deveria ser

seguido por todos os participantes, um ambiente de parceria se desenvolvesse,

ainda que os integrantes da rede fossem concorrentes entre si, a fim de que o

resultado final fosse positivo para o conjunto das propriedades.

A coordenação do GETER é de responsabilidade da RETUR, através de seu

idealizador, Jacó Gimenes e da coordenadora e responsável pelo escritório de

turismo regional, Wanda Pille, e tem como compromisso junto ao GETER:

• Fomentar a união dos empreendedores, agências de fomento, órgãos

governamentais, meios de comunicação e setores universitários, visando a

construção de um modelo exemplar de turismo no espaço rural;

• Promover a interação e integração entre os agentes turísticos na formação de

uma cultura pró-turismo;

• Realizar ações que desenvolvam os empreendimentos como negócios de

prestação de serviços;

• Buscar parcerias que possam valorizar e fomentar o desenvolvimento do setor;

• Promover a divulgação compartilhada diluindo custos dos parceiros e obtendo

maior abrangência;

• Promover e participar de feiras e mostras que sejam de interesse dos parceiros;

• Transmitir informações referentes ao turismo e interesses afins para os parceiros;

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• Criar mecanismos de comercialização de produtos das empresas parceiras;

• Buscar linhas especiais de crédito para fomento do setor;

• Disciplinar o segmento dentro de normas de qualidade;

• Fortalecer a representatividade do segmento;

• Promover o potencial turístico da região;

• Fortalecer empreendimentos já existentes e conduzir novos empreendedores e

produtores rurais para uma profissionalização do segmento.

Como compromisso dos empreendedores participantes, têm-se:

• Fazer uso da marca em materiais de divulgação tendo em vista exclusivamente

os interesses da atividade turística do empreendimento;

• Em casos de outros usos da marca, comunicar a coordenação da RETUR;

• Colaborar com a transmissão de informações referentes ao turismo e interesses

afins para os demais parceiros;

• Divulgar os parceiros inclusos no Projeto GETER, sem a visão de concorrência e

sim de parceiros de segmento em busca da sustentabilidade do setor;

• Comprometer-se com a qualidade dos serviços;

• Participar sempre que possível das feiras, visando o fortalecimento da imagem

do grupo.

De acordo com documentos referentes à implantação e organização do GETER, os

benefícios oferecidos pela RETUR aos integrantes do GETER, são:

• Maior abrangência de comunicação;

• Integração e interação com os demais empreendedores;

• Atendimento pelo Escritório de Turismo Regional;

• Central de atendimento ao turista;

• Acesso a informações e notícias do turismo;

• Materiais de divulgação com custos compartilhados;

• Participação em feiras com custos compartilhados;

• Uso da marca GETER com renovação anual;

• Participação no sítio: www.turismoregional.com.br

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Um dos resultados da parceria RETUR-GETER é a edição de mapas-guia, onde

constam todos os associados e sua localização. A distribuição é feita em feiras,

congressos, agências de viagens, praças de pedágio e no Escritório de Turismo

Regional, além de prever a distribuição pelos próprios participantes aos seus

hóspedes, constituindo-se em um dos principais meios de divulgação das

propriedades.

5.3.1 Participantes do GETER

Os quadros 1, 2 e 3 mostram os empreendimentos participantes do GETER nas

edições dos mapas-guia publicados no período 2001-2004. Além da identificação,

são apresentadas a localização (todas no estado do Paraná), a oferta de unidades

habitacionais e a caracterização dos empreendimentos, subdividida em:

• Turismo rural: empreendimentos localizados em áreas rurais, porém que não

mantêm vínculos diretos com este. Os serviços ofertados variam entre aqueles

que remetem ao ambiente rural e outros que disponibilizam equipamentos de

lazer não vinculados à ruralidade, como parques aquáticos, por exemplo;

• Agroturismo: empreendimentos localizados em propriedades que mantêm

atividades agropastoris tradicionais, sob responsabilidades de seus proprietários,

cuja observação ou participação é possível, mediante demonstração de interesse

do turista, sendo este o diferencial em relação ao “turismo rural”;

• Ecoturismo: propriedades com áreas naturais conservadas, que disponibilizam

sua visitação através de trilhas ou outras atividades e ofertam (ou tem potencial

para ofertar) educação ambiental.

A caracterização “ecoturismo”, nesta classificação, é sempre complementar à

atividade de “turismo rural” ou “agroturismo”.

Como pioneiros do GETER têm-se onze empreendimentos turísticos, que constam

na edição do primeiro “Mapa do Turismo Regional”, publicado no ano de 2001.

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DENOMINAÇÃO LOCALIZAÇÃO UNIDADES

HABITACIONAIS

CARACTERIZAÇÃO

Fazenda Água Azul Fênix Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada

A Fazendinha

Campo Mourão Sim Turismo rural

Fazenda Duas Barras Planaltina do

Paraná

Sim

(camping)

Agroturismo

Ecoturismo

Pousada das

Alamandas

Rolândia Sim Turismo rural

Fazenda Hotel

Jacarezinho

Cruzmaltina Sim Turismo rural

Pousada Parque das

Gabirobas

Roncador Sim Turismo Rural

Ecoturismo

Fazenda Ouro Verde Itambé Sim Agroturismo

Ecoturismo

Recanto Aldeia das

Águas

Maringá Sim

(alojamento para

grupos)

Turismo rural

Fazenda Três Lagoas Mamborê Não Agroturismo

Salto Bandeirantes Santa Fé Sim

(camping)

Turismo rural

Hotel de Lazer Lago

das Pedras

Apucarana Sim Turismo rural

Quadro 1: Participantes GETER – edição mapa-guia 2001

Fonte: www.turismoregional.com.br

O segundo “Mapa do Turismo Regional” foi lançado no ano de 2002, com a inclusão

de novos parceiros, totalizando vinte empreendimentos participantes. Observa-se a

entrada de um “spa”, com oferta diferenciada de serviços, em relação aos demais

participantes.

DENOMINAÇÃO LOCALIZAÇÃO UNIDADES

HABITACIONAIS

CARACTERIZAÇÃO

Estância Ecológica Sertanópolis Sim Turismo rural

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87

Ferraz

Pousada das

Alamandas

Rolândia Sim Turismo rural

Est. Ecológica

Guaicurus

Santa Mariana Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada-fazenda

Virá

Fernandes Pinheiro Sim Turismo rural

Fazenda Água Azul Fênix Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada Parque das

Gabirobas

Roncador Sim Turismo rural

Ecoturismo

Fazenda Hotel

Jacarezinho

Cruzmaltina Sim Turismo rural

Recanto Aldeia das

Águas

Maringá Sim

(alojamento para

gurpos)

Turismo rural

Fazenda Três Lagoas Mamborê Não Agroturismo

Ecoturismo

Salto Bandeirantes Santa Fé Sim

(camping)

Turismo rural

Hotel Fazenda Luar

de Agosto

Faxinal Sim Turismo rural

Ecoturismo

Recanto SPA Água

Boa

Paiçandu Sim Turismo rural

Pousada A

Fazendinha

Campo Mourão Sim Turismo rural

Ecoturismo

Fazenda Duas Barras Planaltina do

Paraná

Não Agroturismo

Ecoturismo

Pousada e Marina

Porto do Sol

Porto Rico Sim Turismo rural

Ecoturismo

Aloha Park Hotel Maringá Sim Turismo rural

Pesca e Lazer Belini Peabiru Não Turismo rural

Pesca e Lazer Vale

Verde

São Jorge do Ivaí /

Floraí

Sim

(camping)

Turismo rural

Ecoturismo

Pousada Haras

Peabiru

Peabiru Não Turismo rural

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88

Recanto Pinhão Tamarana / Mauá

da Serra

Sim

(em construção)

Turismo rural

Ecoturismo

Quadro 2: Participantes GETER – edição mapa-guia 2002

Fonte: www.turismoregional.com.br

A terceira edição do “Mapa do Turismo Regional”, foi lançado no ano de 2004, com a

participação de 18 empreendimentos turísticos, no qual destaca-se a inclusão de

restaurantes localizados à beira de rodovias, onde são servidos pratos típicos

regionais ou étnicos, caracterizados aqui como “turismo rural”.

DENOMINAÇÃO LOCALIZAÇÃO UNIDADES

HABITACIONAIS

CARACTERIZAÇÃO

Estância das Rosas Iguatemi Sim Turismo rural

Ecoturismo

Estância Ecológica

Guaicurus

Santa Mariana Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada e Marina

Porto do Sol

Porto Rico Sim Turismo rural

Ecoturismo

Fazenda Água Azul Fênix Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada Monte Carlo Floresta Sim Turismo rural

Ecoturismo

Ítaytyba Ecoturismo Tibagi Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada Parque das

Gabirobas

Roncador Sim Turismo rural

Ecoturismo

Pousada A Fazendinha Campo Mourão Sim Turismo rural

Ecoturismo

Recanto Nativo Campo Magro Sim Agroturismo

Ecoturismo

Pousada-Fazenda Virá Fernandes

Pinheiro

Sim Turismo rural

SPA Hotel Fazenda

Santa América

Bela Vista do

Paraíso

Sim Turismo rural

Hotel Itagy Tibagi – centro Sim Ecoturismo (apoio)

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Hotel – Restaurante

Anila

Fernandes

Pinheiro BR 277

Sim Turismo rural

Restaurante Arejo Londrina – PR 445 Não Turismo rural

Garapeira e

Lanchonete Bat-Pneu

Guairaça – BR 376 Não Turismo rural

Restaurante Girassol Palmeira – BR 277 Não Turismo rural

Mapy Mauá da Serra –

Rodovia do Café

Sim Turismo rural

Strassberg – Tortas

Alemãs

Londrina – PR 445 Não Turismo rural

Quadro 3: Participantes GETER – edição mapa-guia 2004

Fonte: www.turismoregional.com.br

Para melhor visualização da participação de cada empreendimento na rede

constituída pelo GETER, é apresentado a seguir um quadro com a identificação do

período no qual os empreendimentos fizeram parte nas edições dos mapas-guias.

NOME 2001 2002 2004

01 Pousada Parque das Gabirobas �� �� ��

02 Fazenda Água Azul �� �� ��

03 Pousada A Fazendinha �� �� ��

04 Pousada das Alamandas �� ��

05 Fazenda-Hotel Jacarezinho �� ��

06 Recanto Aldeia das Águas �� ��

07 Fazenda Três Lagoas �� ��

08 Salto Bandeirantes �� ��

09 Estância Ecológica Guaicurus �� ��

10 Pousada-Fazenda Virá �� ��

11 Pousada e Marina Porto do Sol �� ��

12 Fazenda Duas Barras ��

13 Fazenda ouro Verde ��

14 Hotel de Lazer lago das Pedras ��

15 Estância Ecológica Ferraz ��

16 Hotel-Fazenda Luar de Agosto ��

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90

17 Recanto-Spa Água Boa ��

18 Aloha Park Hotel ��

19 Pesca e Lazer Belini ��

20 Pesca e Lazer Vale Verde ��

21 Pousada-Haras Peabiru ��

22 Recanto Pinhão ��

23 Estância das Rosas ��

24 Itaytiba Ecoturismo ��

25 Recanto Nativo ��

26 Spa-Hotel Fazenda Santa América ��

27 Hotel Itagy ��

28 Hotel-Restaurante Anila ��

29 Restaurante Arejo ��

30 Garapeira e Lanchonete Bat-Pneu ��

31 Restaurante Girassol ��

32 Mapy ��

33 Strassberg – Tortas Alemãs ��

Quadro 4: Empreendimentos participantes nos mapas-guias da RETUR/GETER

Fonte: edições 2001, 2002, 2004 mapas-guia do GETER

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91

6 O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO NO GETER

6.1 Discurso do Sujeito Coletivo: princípios, conceitos e procedimentos

O DSC – Discurso do Sujeito Coletivo, foi proposto por Lefèvre & Lefèvre (2003), a

fim de extrair do discurso de uma coletividade, um pensamento único representativo

do todo. A preocupação dos autores em elaborar essa técnica de análise advém do

caráter estritamente qualitativo do pensamento humano, ou seja, não é possível

tratar de modo similar variáveis como pensamento (de caráter qualitativo) e altura

(de caráter quantitativo), por exemplo.

O DSC é, assim, uma estratégia metodológica que, utilizando uma estratégia discursiva, visa tornar mais clara uma dada representação social, bem como o conjunto das representações que conforma um dado imaginário. (LEFÈVRE & LEFÈVRE, 2003, p. 19)

Mas “como obter descrições de pensamentos, crenças e valores em escala

coletiva?” (Lefévre & Lefévre, 2003, p.15). O questionamento feito pelos autores

conduz ao procedimento a ser utilizado na busca de um resultado satisfatório, ou

seja, um discurso que represente o pensamento da coletividade.

Primeiramente é necessário atenção à construção do roteiro da entrevista a ser

aplicada no universo a ser pesquisado. A utilização de perguntas abertas permite

que os indivíduos representativos da coletividade se expressem de maneira livre,

resultando na produção de discursos que serão posteriormente analisados. A

formulação dessas questões exige um trabalho anterior de busca de conhecimento

sobre o assunto pesquisado, a fim de que as questões apresentadas aos

entrevistados produzam os discursos condizentes aos objetivos da pesquisa.

Segundo Yin (2005, p.28), “determinar as questões mais significantes para um

determinado tópico e obter alguma precisão na formulação dessas questões exige

muita preparação.” Assim, nesta pesquisa, onde a análise do estudo de caso

relaciona-se diretamente à algumas características apresentadas sobre a

configuração em redes de pequenas e médias empresas e alguns pressupostos

para que os seus objetivos sejam atingidos, adotou-se os seguintes pontos de

análise, abordados no item 2.3.2 (“sobre redes de pequenas e médias empresas”), a

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fim de que os discursos produzidos pelos entrevistados resultassem em um material

adequado na análise dos objetivos propostos:

• Aspecto organizacional (formalização);

• As dimensões da confiança, cooperação e competição;

• O processo de comunicação entre os integrantes da rede;

• O estabelecimento de objetivos.

A elaboração das entrevistas ocorreu somente após a conclusão da fundamentação

teórica sobre o assunto, para que as questões sintetizassem a essência das

características de uma rede. Foram elaborados dois roteiros de entrevistas,

conforme pode ser visualizado nos apêndices dessa pesquisa: o primeiro roteiro foi

direcionado aos coordenadores do GETER, onde foram privilegiadas questões

referentes ao conceito de rede inserido no projeto por eles idealizado, aspectos

organizacionais adotados, a dinâmica resultante do trabalho conduzido e o

pensamento acerca do direcionamento tomado pela rede. O segundo roteiro,

direcionado à parcela representativa dos empreendedores rurais, não privilegiou

questões conceituais, visto entender que, ao ser coordenado por uma outra esfera,

representada pelos coordenadores da RETUR/GETER, cabe a estes a

responsabilidade de prover a rede de seus aportes teóricos, ainda que passíveis de

serem discutidos pelo grupo; assim, questionou-se primordialmente aspectos

referentes à motivação em participar de uma rede, seus aspectos organizacionais e

a dinâmica de trabalho resultante desta forma de organização, bem como suas

impressões sobre a eficácia da configuração em rede no caso específico do GETER.

Além da preocupação na elaboração do roteiro das entrevistas, é importante

ressaltar também a postura a ser adotada pelo entrevistador diante do entrevistado,

que não deve interferir de maneira alguma sobre o direcionamento das respostas

dadas, correndo o risco de conduzir a um pensamento do pesquisador e não da

coletividade.

Faz-se importante informar que, embora os coordenadores tenham sido identificados

nas transcrições das entrevistas, optou-se por não informar a identidade dos

empreendedores ouvidos, informando apenas que, no seu conjunto há

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representantes que participaram de uma, duas ou três edições dos mapas-guia

editados pela rede.

O segundo ponto importante na condução da técnica do DSC é a realização de um

trabalho exaustivo para somar os discursos individuais para que eles expressem o

pensamento de dada coletividade. Segundo Lefèvre & Lefévre (2003), o objetivo da

utilização do DSC na análise dos discursos dos depoimentos é:

reconstruir, com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julgue necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar ou representação social sobre um fenômeno. (2003, p.19)

Os autores ainda afirmam:

Para a elaboração do DSC parte-se dos discursos em estado bruto, que são submetidos a um trabalho analítico inicial de decomposição que consiste, basicamente, na seleção das principais ancoragens e/ou idéias centrais presentes em cada um dos discursos individuais e em todos eles reunidos, e que termina sob uma forma sintética, onde se busca a reconstituição discursiva da representação social. (LEFÈVRE & LEFÈVRE, 2003, P. 20)

Lefèvre & Lefèvre (2003) apresentam, esquematicamente, os passos necessários

para a construção do DSC, porém complementam que a técnica proposta somente é

efetivada a partir do uso dos instrumentos em pesquisas concretas.

Após a coleta e transcrição das entrevistas, inicia-se o processo de análise das

questões, feita de modo isolado, ou seja, analisa-se a questão 1 de todos os sujeitos

entrevistados, a seguir a questão 2, e assim sucessivamente, em um quadro

denominado Instrumento de Análise do Discurso – IAD 1. Observa-se neste

trabalho, em especial na análise dos discursos dos coordenadores que, por vezes,

as respostas, na transcrição das entrevistas, não referem-se diretamente às

perguntas feitas anteriormente, devido à fluidez constatada no momento da

entrevista e que pode ser visualizada nos apêndices. Assim, buscou-se as

respostas às perguntas propostas em trechos distintos das entrevistas, visto

entender ser esse o procedimento mais adequado para alcançar os objetivos

propostos. No IAD 1 copia-se, de modo integral ou trechos previamente assi-

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nalados, o conteúdo de todas as respostas referentes à questão 1, destacando a

seguir, de maneira distinta, os trechos correspondentes às expressões-chave das

idéias centrais e as expressões-chave das ancoragens.

A idéia central (IC) é um nome ou expressão lingüística que revela e descreve, da maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC. (LEFÈVRE & LEFÈVRE, 2003, p.17)

Quanto à ancoragem, Lefèvre & Lefèvre esclarecem:

...é a manifestação lingüística explícita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença que o autor do discurso professa e que, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma situação específica. (2003, p.17)

Ainda para deixar clara a função dessas duas figuras metodológicas, os autores

afirmam:

A diferença entre a idéia central e a ancoragem é que a mesma expressão-chave remete tanto ao seu sentido mais direto, representado pela idéia central, quanto à teoria, à ideologia ou à crença subjacente, representada pela ancoragem. (LEFÈVRE & LEFÈVRE, 2003, p.52)

Para determinar as idéias centrais, nesta dissertação, foi utilizado o recurso da

escrita sublinhada, e para determinar as ancoragens, foi utilizado a escrita em

negrito, além do sublinhado, visto toda ancoragem também remeter à uma idéia

central.

O passo seguinte consiste em agrupar nas colunas correspondentes do quadro IAD

1, as respectivas idéias centrais e as ancoragens das expressões-chave,

procedendo a seguir à identificação e agrupamento das idéias centrais e ancoragens

equivalentes, assinalados, nesta pesquisa, por letras: A, B, C,... ou seja, “criar uma

idéia central ou ancoragem-síntese, que expresse, da melhor maneira possível,

todas as idéias centrais e ancoragens de mesmo sentido.” (LEFÈVRE & LEFÈVRE,

2003, p.54)

Concluído o quadro “Instrumento de Análise de Discurso 1”, é possível a construção

do DSC. A técnica utilizada nesta etapa consiste em elaborar um segundo quadro

“Instrumento de Análise de Discurso” – IAD 2, constituído de duas colunas: na

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95

primeira coluna (expressão-chave) agrupa-se todas as expressões-chave

pertencentes às mesmas idéias centrais ou ancoragens (assinalados pelas letras A,

B, C,...), e na segunda coluna constrói-se enfim, o Discurso do Sujeito Coletivo,

através de um trabalho de reconstrução das expressões-chave, obedecendo a uma

esquematização que pode partir das idéias mais gerais para as mais particulares,

expressas pelos entrevistados, ou que obedeça a uma seqüência lógica de começo,

meio e fim no ordenamento dos pensamentos.

A apresentação dos resultados da técnica utilizada nesta pesquisa, ou seja, o

próprio Discurso do Sujeito Coletivo, está disposto após a análise de cada questão,

a fim de facilitar a visualização e a compreensão de cada discurso, bem como o

caminho percorrido para se chegar ao discurso final. O DSC é apresentado através

do recurso da escrita em itálico, visto não ser conveniente apresentar o resultado

final entre aspas, devido ao fato de não se trata de uma citação, mas sim de uma

fala ou depoimento coletivo.

A escolha pela utilização da técnica de análise proposta por Lefèvre & Lefèvre

(2003) justifica-se pois, pela necessidade de conhecer o pensamento dos

participantes do GETER, dado o objetivo proposto por esta pesquisa. A importância

de ouvir e analisar os discursos dos membros desta rede é reforçada ainda pelo

ineditismo dessa experiência no campo turístico nacional.

6.2 O discurso dos coordenadores do GETER

6.2.1 Surgimento da idéia de redes visando o desenvolvimento e

fortalecimento do turismo realizado no espaço rural norte paranaense

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 1 – Olha, a rede a gente imagina como um laço de interesses né? Nasceu pela... observando que, isoladamente, as sociedades se colocavam à disposição do mercado, mas sem atingir o mercado. Então a proposta que criamos é justamente isso: fortalecer em grupo

A rede funciona como um laço de interesses.

A A rede serve como meio para se atingir um objetivo, difícil de ser alcançado isoladamente.

Redes são laços de interesse, nós interconectados.

A

Redes constituem-se em um dos formatos adotados por pequenas e

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2 – O conceito de redes nasce, eh..., em 98, em Campo Mourão ... nós queríamos, partindo do Carneiro no Buraco, que já era uma referência, criar um destino turístico, um roteiro. Então nós imaginamos, é..., a união de municípios que formariam uma rede; fizemos um primeiro protocolo, e conseguimos juntar dez municípios. A partir daí, em 99, fizemos um outro seminário regional de desenvolvimento, e aí a idéia foi aperfeiçoada, que não, que só os municípios não seriam suficientes, nós teríamos que ter empreendedores. Aí começa a semente que virou o GETER. E tínhamos uma seguinte situação: como fazer o conceito de rede desse grupo de empreendedores a tomar uma outra dimensão ... Em 2000 a gente conhece a Wanda, a Wanda, é... com a idéia de montar um escritório, que seria um pequeno bureau... rural, e aí nós pudemos é, ... ter a evolução daquele raciocínio anterior, que era juntar municípios e juntar empresários. Foi quando, é..., fizemos o primeiro mapa, o primeiro mapa, e aproximamos os donos, os donos das propriedades pra que eles, é..., vissem no GETER uma escola de negócios ... A essência do GETER foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo, já que o grande desafio nosso não é só buscar turista em Londrina, Maringá, Cascavel, que são os pólos maiores, nós temos que trazer turistas do estado de São Paulo. Só que um turista do estado de São Paulo, ele não vai vir só pra ir numa pousada, só num empreendimento porque esses empreendimentos não têm, e não vão ter, características de resorts, então, nós teríamos que fazer, é..., uma rede, aonde as pessoas seriam informadas, de possibilidades que teriam à disposição.

B Um meio para se alavancar o turismo no espaço rural seria a criação de um roteiro, com participação de diversos municípios e principalmente de seus empreendedores.

C A idéia inicial do Geter foi de promover o espírito as-sociativo e cooperativo en-tre os associados, além de promover sua qualificação, tornando-se uma escola de negócios.

D

médias empresas, que possuem objetivos co-muns, difíceis de serem alcançados isoladamente no mercado.

B

“a configuração em rede promove ambiente favo-rável ao compartilha-mento de informações, de conhecimentos, de habilidades e de recursos essenciais para os pro-cessos de inovação.” (BALESTRIN & VARGAS, 2004, P.205)

D

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97

Quadro 5: IAD 1 - Questão 1 da entrevista com coordenadores do GETER

A partir da análise da questão sobre o surgimento da idéia de redes visando o

desenvolvimento do turismo realizado no espaço rural norte paranaense, as idéias

centrais ou ancoragens sínteses percebidas foram:

A) redes são nós interconectados por laços de interesses. (IC e A)

B) redes auxiliam pequenas e médias empresas alcançarem seus objetivos,

através do trabalho conjunto. (IC e A)

C) um roteiro turístico, com diversos atrativos (neste caso empreendimentos),

alavanca o turismo como um todo. (IC)

D) a rede promove a qualificação dos empreendimentos participantes, através do

compartilhamento de informações e habilidades. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) redes são nós interconectados por laços de interesses (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - a rede a gente imagina como um laço de interesses né?

A gente imagina a rede como um laço de interesses

Quadro 6: IAD 2 – redes são nós interconectados por laços de interesses

B) redes auxiliam pequenas e médias empresas alcançarem seus objetivos,

através do trabalho conjunto. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – isoladamente, as sociedades se colocavam à disposição do mercado, mas sem atingir o mercado. Então a proposta que criamos é justamente isso: fortalecer em grupo

As sociedades se colocavam à disposição do mercado isoladamente, sem atingi-lo. Então a proposta que criamos foi justamente essa: fortalecer em grupo.

Quadro 7: IAD 2 – redes auxiliam pequenas e médias empresas alcançarem seus objetivos, através do trabalho conjunto

C) um roteiro turístico, com diversos atrativos (neste caso empreendimentos),

alavanca o turismo como um todo. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – Em 98, ...nós queríamos... criar um destino turístico, um roteiro. Então nós imaginamos, é..., a união de municípios que

Nós queríamos criar um destino turístico, um roteiro e percebemos que a união não seria apenas de municípios, mas principalmente de empreendedores

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formariam uma rede. Em 99, a idéia foi aperfeiçoada, ... só os municípios não seriam suficientes, nós teríamos que ter empreendedores. Aí começa a semente que virou o GETER. Um turista do estado de São Paulo, ele não vai vir só pra ir numa pousada, só num empreendimento porque esses empreendimentos não têm, e não vão ter, características de resorts, então, nós teríamos que fazer, é..., uma rede, aonde as pessoas seriam informadas, de possibilidades que teriam à disposição.

principalmente de empreendedores Um turista do estado de São Paulo, por exemplo, não vai vir para visitar só uma pousada. Nós teríamos que ter uma rede, aonde as pessoas seriam informadas de possibilidades que teriam à disposição.

Quadro 8: IAD 2 - um roteiro turístico, com diversos atrativos (neste caso empreendimentos), alavanca o turismo como um todo. (IC)

D) a rede promove a qualificação dos empreendimentos participantes, através do

compartilhamento de informações e habilidades. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – fizemos o primeiro mapa, o primeiro mapa, e aproximamos os donos, os donos das propriedades pra que eles, é..., vissem no GETER uma escola de negócios ... A essência do GETER foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo,

A essência do Geter foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo. A partir da confecção do primeiro mapa, aproximamos os donos das propriedades para que eles vissem no GETER uma escola de negócios.

Quadro 9: IAD 2 – a rede promove a qualificação dos empreendimentos participantes, através do compartilhamento de informações e habilidades.

O DSC dos coordenadores referente à questão 1: como surgiu a idéia de

REDES, visando o desenvolvimento e fortalecimento do turismo realizado no

espaço rural norte paranaense?

A gente imagina a rede como um laço de interesses. Percebemos que as

sociedades (empreendimentos) se colocavam à disposição do mercado

isoladamente, sem atingi-lo. Então a proposta que criamos foi justamente essa:

fortalecer em grupo.

Nós queríamos criar um destino turístico, um roteiro, pois um turista do estado de

São Paulo, por exemplo, não vai vir aqui só para visitar uma pousada. Nós teríamos

que ter uma rede, aonde as pessoas seriam informadas de possibilidades que teriam

à disposição e percebemos que a união apenas de municípios não seria suficiente,

precisávamos, principalmente, da união de empreendedores.

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99

A essência do GETER foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo. Assim, a

partir da confecção do primeiro mapa, aproximamos os donos das propriedades para

que eles vissem no GETER uma escola de negócios.

6.2.2 O papel da RETUR em relação ao GETER e suas formas de

relacionamento

Instrumento de Análise do Discurso 1

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100

Quadro 10: IAD 1 - Questão 2 da entrevista com coordenadores do GETER

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 1 - A RETUR é a instituição, ... então ela engloba várias idéias, vários projetos, né? E GETER até já é um dos trabalhos da RETUR – então são empreendedores com a mesma característica e com os mesmos interesses. E o relacionamento GETER-RETUR é... bom... a rede coordena o trabalho. Então esse grupo não nasceu da iniciativa dos proprietários, foi uma proposta da RETUR. Ta, a ligação é justamente essa, o GETER é uma proposta. 2 - o GETER , na verdade é uma escola de negócios, para empreendedores do espaço rural,... A rede ... desde 2003,... ela foi, é..., estruturada numa OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, e hoje, ...ela tra-balha turismo, agroindústria fami-liar, educação ambiental e arte-sanato. O GETER é mais um tra-balho com os empreendedores... A partir de setembro de 2003 ganhamos um aliado de peso, o SENAR Paraná – o Serviço Na-cional da Aprendizagem Rural. O SENAR Paraná, é..., cria o Pro-grama de Turismo Rural. Hoje, es-se programa tem quatorze cursos: seis na área de gestão, três na área de gastronomia, e cinco na área de artesanato. Então, na verdade, é..., esse grupo (GETER), eles pas-sam a ser referência, para essas pessoas que estão cursando o SENAR em todo o Paraná. E a idéia, a idéia é fazer essa apro-ximação de empresários já, é..., digamos assim, já consolidados, com quem está iniciando. Então ... a gente vê o GETER com a dinâmica de um movimento para proporcionar a quem quer ser empresário, uma segurança para produzir seus projetos.

a RETUR é a instituição que coordena vários projetos, dentre os quais, o GETER.

A O GETER é a reunião de empreendedores com as mesmas características e interesses, cujo trabalho é coordenado pela RETUR.

B

O GETER passa a ser referência e escola para iniciantes no negócio.

C

Redes, em organizações civis, necessitam de um mecanismo que facilite e agilize sua operacionali-dade, cuidando-se po-rém, para que não assuma uma função controladora.

B

Um sistema de coopera-ção interpresarial auxilia a superar limites, crescer e possibilita a utilização do know-how de outras empresas.

C

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101

Na percepção dos empreendedores quanto ao papel da RETUR em relação ao

GETER e suas formas de relacionamento, as idéias centrais ou ancoragens sínteses

foram:

A) O GETER é um dos projetos da RETUR. (IC)

B) O GETER é a reunião de empreendedores com as mesmas características e

interesses, coordenados pela RETUR. (IC e A)

C) O GETER passa a ser referência em seu mercado de atuação. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) O GETER é um dos projetos da RETUR. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - A RETUR é a instituição, ...ela engloba várias idéias, vários projetos, né? E GETER até já é um dos trabalhos da RETUR

A RETUR é uma instituição que coordena vários projetos, dentre os quais, o GETER.

Quadro 11: IAD 2 – o GETER é um dos projetos da RETUR

B) O GETER é coordenado pela RETUR. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – O Grupo de Empreendedores do Espaço Rural ... são empreendedores com a mesma característica e com os mesmos interesses. E o relacionamento GETER-RETUR é... a rede coordena o trabalho. Então esse grupo não nasceu da iniciativa dos proprietários, foi uma proposta da RETUR. Tá, a ligação é justamente essa, o GETER é uma proposta

O GETER consiste em um grupo de empreendedores com as mesmas caracte-rísticas e com os mesmos interesses, cujo trabalho é coordenado pela RETUR. O GETER é uma proposta da RETUR, não nasceu da iniciativa dos proprietários.

Quadro 12: IAD 2 – o GETER é coordenado pela RETUR

C) O GETER passa a ser referência em seu mercado de atuação. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – esse grupo (GETER), eles passam a ser referência, para essas pessoas que estão cursando o SENAR em todo o Paraná. E a idéia, a idéia é fazer essa aproximação de empresários já, é..., digamos assim, já consolidados, com quem está iniciando... a gente vê o GETER com a dinâmica de um movimento para proporcionar a quem quer ser empresário, uma segurança para produzir seus projetos.

O GETER passa a ser referência para as pessoas que estão cursando o SENAR-PR Serviço de Aprendizagem Rural, através da aproximação e troca de experiência entre empresários já consolidados e iniciantes no negócio.

Quadro 13: IAD 2 – o GETER passa a ser referência em seu mercado de atuação.

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102

O DSC dos coordenadores referente à questão 2: Qual é, na prática, o papel da

RETUR em relação ao GETER? Como eles se relacionam?

A RETUR é uma instituição que coordena vários projetos, dentre os quais, o

GETER. O GETER consiste em um grupo de empreendedores com as mesmas

características e com os mesmos interesses, cujo trabalho é coordenado pela

RETUR, pois o GETER é uma proposta da RETUR, não nasceu da iniciativa dos

proprietários.

Atualmente, a RETUR procura promover a aproximação e a troca de experiência

entre empresários já consolidados, participantes do GETER e iniciantes no negócio,

que participam do Programa de Turismo Rural, ofertado pelo SENAR-PR - Serviço

de Aprendizagem Rural, fazendo do GETER uma referência nessa área.

6.2.3 Os aspectos de formalização do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

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Quadro 14: IAD 1 - Questão 3 da entrevista com coordenadores do GETER

Quanto aos aspectos de formalização do GETER, os coordenadores emitem as

seguintes idéias-centrais e ancoragens-síntese:

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 1 – Bom... não, não, não existe,... mas empresários, eles costumam pensar muito no seu território, então é um pensamento individualista, pensamento mais imediatista. Então, é... para formalizar teria que ter uma associação. Dentro do grupo, é... existiu uma divergência, alguns imaginam que uma associação é... não dirigida por uma entidade membro que forma a rede, como a RETUR, é..., iria estar prevalecendo os dirigentes. E a gente sabe que isso acontece realmente, o presidente, as pessoas que estão na diretoria, com maior influência, ela acaba privilegiando, mesmo que ela não queira privilegiar, o seu empreendimento. Então, houve um consenso em associação. Então o GETER ele continua a ser coordenado pela Rede de Turismo. 2 - a RETUR é uma instituição... ela trabalha com contratos. O GETER, a gente não visa aprisionar o GETER em uma camisa de forças, num departamento da rede, a gente quer ver o GETER algo vivo, porque ainda nós não temos no Paraná uma cultura do turismo, nós temos quem está ganhando dinheiro com o turismo,... nós temos, é, quem está ganhando dinheiro com turismo, nós temos quem pode ganhar, mas, é, não há assim, um, um, uma forma de ver o turismo como negócio. E o grande desafio é fazer do GETER, uma escola de negócios.

Empresários são individua-listas e desejam resultados imediatos. Dirigentes de uma associação tendem a agir em benefício de seu próprio empreendimento, por isso o consenso em que o GETER seja coordenado pela RETUR, uma entidade neutra.

A

Não existem regras fixas de conduta e ação . O GETER precisa ser algo vivo, dinâmico, e não estar aprisionado dentro de um departamento da rede.

B

Em redes de pequenas e médias empresas, a esfera de controle/poder é diluída devido ao caráter democrático da configuração em rede. A coordenação do GETER, é feita por uma entidade neutra – a RETUR

A

Quando uma rede é formada devido a interesses mútuos de cooperação, ela assume a dimensão da conivência, não sendo necessário o estabeleci-mento formal de regras.

B

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104

A) a coordenação do GETER é feita por uma entidade neutra – a RETUR, para

que o interesse do grupo seja salvaguardado. (IC e A)

B) O GETER é dinâmico. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A coordenação do GETER é feita por uma entidade neutra – a RETUR, para

que o interesse do grupo seja salvaguardado. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – empresários, eles costumam pensar muito no seu território. Em uma associação, o presidente, as pessoas que estão na diretoria, com maior influência, ela acaba privilegiando, mesmo que ela não queira privilegiar, o seu empreendimento. Então, houve um consenso em associação. Então o GETER ele continua a ser coordenado pela Rede de Turismo.

Empresários costumam pensar muito em seu território (empreendimento). Assim, em uma associação, as pessoas que estão na diretoria tendem a privilegiar seus empreendimentos. Por isso, houve um consenso para que a RETUR, como entidade neutra, continuasse a coordenar o GETER.

Quadro 15: IAD 2 – a coordenação do GETER é feita por uma entidade neutra – a RETUR, para que o interesse do grupo seja salvaguardado

B) O GETER é dinâmico. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1- não, não existe (regras fixas de conduta e ação) 2- a gente não visa aprisionar o GETER em uma camisa de forças, num departamento da rede, a gente quer ver o GETER algo vivo. ainda nós não temos no Paraná uma cultura do turismo, não há assim, um, um, uma forma de ver o turismo como negócio. E o grande desafio é fazer do GETER, uma escola de negócios.

No GETER não existem regras fixas de conduta e ação. A gente quer vê-lo como algo vivo, e não aprisiona-lo em uma camisa de forças, num departamento da rede. No Paraná, o turismo não é visto como negócio, não há ainda uma cultura a do “negócio” turismo, e esse é o grande desafio do GETER.

Quadro 16: IAD 2 – o GETER é dinâmico

O DSC dos coordenadores referente à questão 3: Quanto aos aspectos de

formalização do GETER, há um contrato estabelecendo regras fixas de

conduta e ação, ou o desenvolvimento das atividades é livre, baseados nos

interesses comuns de acordo com as necessidades que vão surgindo:

No GETER não existem regras fixas de conduta e ação. A gente quer ver o GETER

como algo vivo, e não aprisioná-lo em uma camisa de forças, num departamento da

rede. No Paraná, o turismo não é visto como negócio, não há ainda uma cultura do

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105

“negócio” turismo, e esse é o grande desafio do GETER - fazer dele uma escola de

negócios.

Quanto à coordenação do grupo, houve um consenso para que a RETUR, como

entidade neutra, continuasse a coordenar o GETER. Empresários costumam pensar

muito em seu próprio território (empreendimento); assim, em uma associação, as

pessoas que estão na diretoria tendem a privilegiar seus empreendimentos. Então o

GETER continua a ser coordenado pela Rede de Turismo.

6.2.4 A dinâmica de ação do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – A idéia de se ter uma central onde estávamos fazendo uma intermediação, uma referência para que as pessoas viessem nos conhecer, né? A central do GETER. E... os materiais, as casas, a forma que vão ser distribuídos, né? E que todas as propriedades devem ter o mesmo material, de preferência esse material exposto pra que os hóspedes pudessem, é... ter acesso a esse material, e... houvesse também um trabalho é... através do SEBRAE, de liderança de grupo, de trabalho em grupo, pra que o grupo entendesse realmente a finalidade de estarmos num grupo empreendedor. 2- A Wanda passou a ser a, a, a coordenadora operacional do GETER e se fez uma venda de qualificação. O SEBRAE apoiou, “liderando” um curso do LIDERAR para esses participantes. E se discutia muito, mas principalmente, é,... o, a essência do GETER foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo... o mapa tem todas as propriedades, um dos requisitos é que quando eu me instalava na sua propriedade, você dava uma mapa pra mim. Ao você me dar o mapa, você estaria divulgando outras dez

O GETER deveria ter uma central , que serviria como órgão divulgador dos empreendimentos e como central de reservas.

A O material de divulgação (mapa-guia) era feito em conjunto, cada propriedade divulgando todos os demais participantes.

B A rede deveria viabilizar cursos necessários à concretização de objetivos dos envolvidos, promoven-do sua qualificação junto à instituições como o SEBRAE, por exemplo.

C

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106

propriedades. (referindo-se à primeira edição do mapa) Quadro 17: Questão 4 da entrevista com coordenadores do GETER

Sobre a dinâmica de ação do GETER, segundo a ótica de seus coordenadores, as

seguintes idéias centrais são observadas:

A) as reservas e divulgação dos participantes do GETER, eram feitas através de

um escritório central. (IC)

B) cada participante deveria divulgar os demais membros do GETER, através

da distribuição dos mapas-guia para seus hóspedes. (IC)

C) a rede era responsável pela viabilização de cursos objetivando o

aprimoramento profissional dos participantes. (IC)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) As reservas e divulgação dos participantes do GETER, eram feitas através de

um escritório central. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - A idéia de se ter uma central onde estávamos fazendo uma intermediação, uma referência para que as pessoas viessem nos conhecer, né? ? A central do GETER.

A central do GETER serviria de base para as pessoas virem nos conhecer, essa central faria a intermediação entre os empreendedores do GETER e os interessados em conhecer os empreendimentos.

Quadro 18: IAD 2 – as reservas e divulgação dos participantes do GETER, eram feitas através de um escritório central

B) Cada participante deveria divulgar os demais membros do GETER, através da

distribuição dos mapas-guia para seus hóspedes. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - todas as propriedades devem ter o mesmo material, de preferência esse material exposto pra que os hóspedes pudessem, é... ter acesso a esse material, 2 - o mapa tem todas as propriedades, um dos requisitos é que quando eu me instalava na sua propriedade, você dava uma mapa pra mim. Ao você me dar o mapa, você estaria divulgando outras dez propriedades.

O mapa tem todas as propriedades. Todas as propriedades deveriam ter esse material exposto para que os hóspedes pudessem ter acesso a esse material. Assim,ao me dar um mapa, o empreendedor estaria divulgando as demais propriedades participantes.

Quadro 19: IAD 2 – cada participante deveria divulgar os demais membros do GETER, através da distribuição dos mapas-guia para seus hóspedes

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107

C) A rede era responsável pela viabilização de cursos objetivando o

aprimoramento profissional dos participantes. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - e... houvesse também um trabalho é... através do SEBRAE, de liderança de grupo, de trabalho em grupo, pra que o grupo entendesse realmente a finalidade de estarmos num grupo empreendedor. 2 - se fez uma venda de qualificação. O SEBRAE apoiou, “liderando” um curso do LIDERAR para esses participantes.

Se fez uma venda de qualificação para os participantes do GETER. O SEBRAE apoio, conduzindo o curso LIDERAR para o grupo, para que eles entendessem realmente a finalidade de estar num grupo empreendedor.

Quadro 20: IAD 2 – a rede era responsável pela viabilização de cursos objetivando o aprimoramento profissional dos participantes.

O DSC dos coordenadores referente à questão 4: Do início do GETER até o

ano 2004, qual era a dinâmica do grupo? Como se reuniam?

A central do GETER serviria de base para as pessoas virem nos conhecer, essa

central faria a intermediação entre os empreendedores do GETER e os

interessados em conhecer os empreendimentos.

A partir de 2001, foi publicado o mapa-guia, um mapa com todos os participantes do

GETER. Todas as propriedades deveriam ter esse material exposto para que os

hóspedes pudessem ter acesso a esse material. Assim, ao me dar um mapa, o

empreendedor estaria divulgando as demais propriedades participantes.

Também se fez uma venda de qualificação para os participantes do GETER. O

SEBRAE apoiou, conduzindo o curso LIDERAR para o grupo, para que eles

entendessem realmente a finalidade de estar num grupo empreendedor.

6.2.5 A compreensão das dimensões da confiança e cooperação, juntamente

com a competição, dentro do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 - Algum empreendedor tem a imagem: “mas eu vou estar divulgando os meus concorren-tes?” outro empreendedor já imagina: “Puxa, mas esse grupo é... é...” deixa de ver como

Alguns participantes da rede não compreendem o trabalho em conjunto, que beneficia, além de seu próprio empreendimento, os demais participantes da

Os membros da rede, mais do que concor-rentes, tornam-se parcei-ros no esforço de alavancar suas ativida-des.

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108

concorrentes, ta? Então não somos concorrentes, somos pessoas do mesmo segmento, um segmento novo, então se têm pessoas divulgando o meu empreendimento, porque eu não vou divulgar o dessas pessoas?” Então é um fator multiplicador... é, os participantes são compe-tidores, então, é, a gente percebe assim, é...as reuniões são feitas, cada vez muda os empreen-dimentos, para que ele fale aberto ao seu concorrente, né? Aberto ao seu parceiro, que nós chamamos de parceiros né? É... no sentido assim, de ver o que é feito nas instalações, uma troca de experiências, o que os hóspedes pedem, o que convém e o que não convém. R: E todos conseguiram entender isso? 1 – Alguns, alguns, nem todos... E os que não entendem, prejudicam o grupo. Porque seguram o processo, eles, é..., seguram informações; eles, é..., as informações tiram muito mais em benefício próprio. Então, eu acho assim: trabalhar em grupo, trabalhar em rede exige um amadurecimento muito grande das pessoas, onde o egoísmo é um sentimento assim... corrosivo, né? 2 - Não. Isso aí foi um aprendizado. É, alguns fios de cabelos ... brancos eu ganhei por isso. Nós no Brasil, nós temos que ser mais associativistas, e eu tenho que ser associativista não só na hora que me interessa, eu tenho que ser... em todas as horas. Então um dos problemas que nós encontramos no GETER, é que... uma pequena parte da primeira formação do GETER, queria, se apoderar, dessa força, e não queria abrir pra novos participantes. ... Como você viu, o mapa tem todas as propriedades, um dos requisitos é que quando eu me instalava na sua

rede. Outros compreen-dem o processo e deixam de ver os demais partici-pantes como concorrentes.

A

Nas reuniões, os empre-endedores falam aberta-mento aos seus concor-rentes/parceiros, contribuin-do para a troca de in-formações entre o grupo, porém nem todos compre-endem essa dinâmica de ação, prejudicando o restante do grupo.

B

O trabalho em rede exige amadurecimento por parte dos participantes.

C

A A troca de informações flui livremente para que todos se beneficiem das experiências alheias.

B

A relação de confiança e cooperação entre inte-grantes de uma rede é estabelecida a longo prazo e deve coexistir com a concorrência

C

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109

propriedade, você dava um mapa pra mim. Ao você me dar o mapa, você estaria divulgando outras dez propriedades. E aí, o que aconteceu? Uma minoria sumiu com os mapas, porque achou, que ao entregar o mapa, estaria, desviando os turistas para outros membros da rede ... Esses, esses, mostraram que ele não tem uma cultura do turismo, porque a idéia do turismo pra dar certo é, eu divulgo o outro e o outro me divulga. Eu recomendo o outro, e o outro me recomenda. Mas, felizmente, a maioria entendeu, e é por isso que o GETER continua até hoje. Quadro 21: Questão 5 da entrevista com coordenadores do GETER

Sobre as dimensões da confiança, cooperação e competição, os coordenadores do

GETER, observam as seguintes idéias centrais ou ancoragens síntese:

A) os participantes que compreendem a dinâmica da rede passam a perceber os

demais integrantes como parceiros, ainda que sejam concorrentes entre si. (IC e A)

B) o trabalho em rede implica fluidez de informações entre os participantes. (IC e A)

C) a dimensão da cooperação e da confiança entre concorrentes integrantes de

uma rede é alcançada a longo prazo. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) Os participantes que compreendem a dinâmica da rede passam a perceber

os demais integrantes como parceiros, ainda que sejam concorrentes entre si.

(IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Algum empreendedor tem a imagem: “mas eu vou estar divulgando os meus concorrentes?” outro empreendedor já imagina: “Puxa, mas esse grupo é... é...” deixa de ver como concorrentes, ta? Então não somos concorrentes, somos pessoas do mesmo segmento, um segmento novo, então se têm pessoas divulgando o meu empreendimento, porque eu não vou divulgar o dessas pessoas?”

A distribuição do mapa com todas as propriedades deveria ser feita por todos os integrantes do GETER, porém alguns empreendedores pensaram: “mas eu vou estar divulgando os meus concorrentes?” E aí uma minoria sumiu com os mapas porque achou que, ao entregar o mapa, estaria desviando os turistas para outros membros da rede. Mas felizmente a maioria entendeu: não somos con-correntes, somos pessoas do mesmo

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110

2 - o mapa tem todas as propriedades, um dos requisitos é que quando eu me instalava na sua propriedade, você dava um mapa pra mim. Ao você me dar o mapa, você estaria divulgando outras dez propriedades. E aí, o que aconteceu? Uma minoria sumiu com os mapas, porque achou, que ao entregar o mapa, estaria, desviando os turistas para outros membros da rede ... a idéia do turismo pra dar certo é, eu divulgo o outro e o outro me divulga. Eu recomendo o outro, e o outro me recomenda. Mas, felizmente, a maioria entendeu, e é por isso que o GETER continua até hoje.

segmento, um segmento novo, então , se tem pessoas divulgando o meu empreendimento, porque eu não vou divulgar o dessas pessoas? Para o turismo dar certo, eu divulgo o outro e o outro me divulga; eu recomendo o outro e o outro me recomenda.

Quadro 22: IAD 2 – os participantes que compreendem a dinâmica da rede passam a perceber os demais integrantes como parceiros, ainda que sejam concorrentes entre si.

B) O trabalho em rede implica fluidez de informações entre os participantes (IC e

A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - as reuniões são feitas, cada vez muda os empreendimentos, para que ele fale aberto ao seu concorrente, né? Aberto ao seu parceiro, que nós chamamos de parceiros né? É... no sentido assim, de ver o que é feito nas instalações, uma troca de experiências, o que os hóspedes pedem, o que convém e o que não convém. R: E todos conseguiram entender isso? 1 – Alguns, alguns, nem todos... E os que não entendem, prejudicam o grupo. Porque seguram o processo, eles, é..., seguram informações; eles, é..., as informações tiram muito mais em benefício próprio.

A idéia nas reuniões era para que os empreendedores se intercalassem para falar sobre sua experiência aos demais, expor o que era feito em suas instalações, sobre os pedidos dos hóspedes, etc., para que todos se beneficiassem do conhe-cimento acumulado por cada integrante. Mas alguns não entendiam isso e acabavam prejudicando os demais, segurando informações e usando o aprendizado somente em benefício próprio..

Quadro 23: IAD 2 – o trabalho em rede implica fluidez de informações entre os participantes.

C) A dimensão da cooperação e da confiança entre concorrentes integrantes de

uma rede é alcançada a longo prazo. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Então, eu acho assim: trabalhar em grupo, trabalhar em rede exige um amadurecimento muito grande das pessoas, onde o egoísmo é um sentimento assim... corrosivo, né? 2 - Nós no Brasil, nós temos que ser mais associativistas, e eu tenho que ser

Nós, no Brasil, precisamos ser mais associativistas; e não podemos ser associativistas somente na hora que nos interessa, mas em todas as horas. Trabalhar em rede exige um amadurecimento muito grande das pessoas.

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associativista não só na hora que me interessa, eu tenho que ser... em todas as horas. Quadro 24: IAD 2 – a dimensão da cooperação e da confiança entre concorrentes integrantes de uma rede é alcançada a longo prazo.

O DSC dos coordenadores referente à questão 5: Uma rede como o GETER,

prevê ao mesmo tempo a dimensão da confiança e da cooperação, juntamente

com a competição. Isso era compreendido pelos membros do GETER? De

que maneira?

Não, não por todos. Por exemplo, a distribuição do mapa com todas as

propriedades, deveria ser feita por todos os integrantes do GETER, porém alguns

empreendedores pensaram: “mas eu vou estar divulgando os meus concorrentes?”

E aí uma minoria sumiu com os mapas porque achou que, ao entregar o mapa,

estaria desviando os turistas para outros membros da rede. Mas felizmente a

maioria entendeu que não eram concorrentes, eram pessoas do mesmo segmento,

um segmento novo; então , se tem pessoas divulgando o meu empreendimento,

porque eu não vou divulgar o dessas pessoas? Para o turismo dar certo, eu divulgo

o outro e o outro me divulga; eu recomendo o outro e o outro me recomenda.

Outro exemplo é o caso das reuniões. A idéia era para que, nas reuniões, os

empreendedores se intercalassem para falar sobre sua experiência aos demais,

expor o que era feito em suas instalações, sobre os pedidos dos hóspedes, etc.,

para que todos se beneficiassem do conhecimento acumulado por cada integrante.

Mas alguns não entendiam isso e acabavam prejudicando os demais, segurando

informações e usando o aprendizado somente em benefício próprio..

Nós, no Brasil, precisamos ser mais associativistas; e não podemos ser

associativistas somente na hora que nos interessa, mas em todas as horas.

Trabalhar em rede exige um amadurecimento muito grande das pessoas.

6.2.6 A dispersão geográfica do GETER e suas conseqüências

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1- Então, é, existe uma seleção a rede é formada por A rede é baseada em um

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natural, as pessoas que se identificam né?... E é bem benéfico que o empreendedor não se localize numa só região, né? A gente trabalha o turismo no espaço rural e não delimita os territórios. 2 - Na verdade, é o seguinte, as coisas são dinâmicas. Esse mapa era pra ser só pra região de Campo Mourão. Aí nós fizemos uma análise: Campo Mourão não é o centro maior, o centro maior é Maringá. Trouxemos pra cá a idéia, a partir do momento que lançamos o primeiro mapa,... nós fomos procurados por outras, outras propriedades, de outras regiões, que não tinham um trabalho de organização do setor, e aí nós não tivemos dúvida, nós fomos para Fernandes Pinheiro,... e no último mapa nós estamos em Campo Magro, apenas a quarenta quilômetros de Curitiba... Seguramente, na edição 2006, outras regiões farão parte do mapa.

aqueles que guardam uma identificação entre si, tradu-zida pela busca dos mes-mos objetivos

A

objetivo comum, e não na proximidade geográfica. A organização em rede transforma o conceito de região, ao unificar interesses e objetivos e não privilegiar a dimensão físico-geográfica.

A

Quadro 25: Questão 6 da entrevista com coordenadores do GETER

Na percepção dos coordenadores, a seguinte idéia central e ancoragem síntese, é

emitida em relação à dispersão geográfica ocorrida no GETER ao longo do tempo:

A) a rede é baseada em um objetivo comum, e não na proximidade geográfica (IC

e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A rede é baseada em um objetivo comum, e não na proximidade geográfica.

(IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - existe uma seleção natural, as pessoas que se identificam né? A gente trabalha o turismo no espaço rural e não delimita os territórios. 2 - a partir do momento que lançamos o primeiro mapa,... nós fomos procurados por outras, outras propriedades, de outras regiões,

A gente trabalha o turismo no espaço rural e não delimita os territórios. Existe uma seleção natural, pessoas que se identificam, que partilham mesmos objetivos. A partir do momento que lançamos o primeiro mapa, fomos procurados por outras propriedades, de

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113

que não tinham um trabalho de organização do setor, e aí nós não tivemos dúvida, nós fomos para Fernandes Pinheiro,... e no último mapa nós estamos em Campo Magro, apenas a quarenta quilômetros de Curitiba...

outras regiões, que não contavam com um trabalho de organização do setor, e nós não tivemos dúvidas em ir atende-los. Por isso estamos em Fernandes Pinheiro, Campo Magro e seguramente, na edição 2006, outras regiões farão parte do mapa.

Quadro 26: IAD 2 – a rede é baseada em um objetivo comum, e não na proximidade geográfica

O DSC dos coordenadores referente à questão 6: como você interpreta a

dispersão geográfica do GETER ao longo do tempo? Essa mudança, de

alguma maneira, alterou os objetivos ou o modo de agir do grupo?

A gente trabalha o turismo no espaço rural e não delimita os territórios. Existe uma

seleção natural, pessoas que se identificam, que partilham os mesmos objetivos. A

partir do momento que lançamos o primeiro mapa, fomos procurados por outras

propriedades, de outras regiões, que não contavam com um trabalho de organização

do setor, e nós não tivemos dúvidas em ir atende-los. Por isso estamos em

Fernandes Pinheiro, Campo Magro e seguramente, na edição 2006, outras regiões

farão parte do mapa.

6.2.7 A questão da rotatividade dos empreendimentos participantes do

GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – Você está dizendo da rotatividade do GETER?... Na verdade o grupo ele acabou se dividindo justamente por esses fatores colocados (falta de conscientização / entendimento sobre o trabalho em rede). Então houve um desmembramento, alguns partiram para uma opção de associação,... Tem os que estão voltando, né? Que estão amadurecendo... quer dizer, a princípio eles viram a própria RETUR como um concorrente. Eles não entenderam... que a RETUR seria, é... a bandeira, o alicerce né, do trabalho, para manter a

A RETUR era considerada concorrente para alguns membros do GETER, o que causou o afastamento de alguns participantes, que procuraram uma alternativa ao GETER.

A Algumas propriedades, por motivos diversos, encerra-ram suas atividades turís-ticas, e conseqüentemente deixaram o GETER, mas outras propriedades entra-ram no grupo.

B

Quando um participante não sente-se comparti-lhando os mesmos objeti-vos da rede, ou não os entende, opta por sair, e, às vezes, procurar outro caminho, que pode ser similar, como a incursão em uma outra rede com outros objetivos.

A

Redes têm um caráter dinâmico, constitui-se em um sistema aberto, visto não ser possível delimitar as conexões estabelecidas

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114

essência do trabalho. É... então essa visão de concorrência... retardou o processo todo, né? 2 - Na verdade, é o seguinte, as coisas são dinâmicas... A partir do momento que lançamos o primeiro mapa, nós tivemos por exemplo, é..., a propriedade, o Ouro Verde, Fazenda Ouro Verde foi desativada, então ela deixa o mapa, mas nós fomos procurados por outras, outras propriedades, de outras regiões, que não tinham um trabalho de organização do setor, não tinham nenhuma estratégia de... promoção do empreendimento...

por seus integrantes. É fechado porém, quando se considera sua área de atuação.

B

Quadro 27: Questão 7 da entrevista com coordenadores do GETER

Segundo os coordenadores do GETER, a questão da rotatividade dos

empreendimentos participante obedece às seguintes idéias centrais ou ancoragens

síntese:

A) O compartilhamento de objetivos é essencial para a permanência na rede. (IC e

A)

B) Redes são dinâmicas, não é possível controlar sua evolução, mas apenas

acompanhar. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) O compartilhamento de objetivos é essencial para a permanência na rede (IC

e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Você está dizendo da rotatividade do GETER?... Na verdade o grupo ele acabou se dividindo justamente por esses fatores colocados (falta de conscientização / entendimento sobre o trabalho em rede). Então houve um desmembramento... alguns partiram para uma opção de associação,... Tem os que estão voltando, né? Que estão amadurecendo... a princípio eles viram a própria RETUR como um concorrente. Eles não entenderam... que a RETUR seria, é... a bandeira, o alicerce né, do trabalho, para manter a essência do trabalho.

Alguns participantes do GETER viram a RETUR como um concorrente, não entenderam que ela seria o alicerce para manter a essência do trabalho em rede. Por isso houve um desmembramento, e alguns partiram para uma opção de associação. Mas há os que estão voltando.

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115

Quadro 28: IAD 2 – o compartilhamento de objetivos é essencial para a permanência na rede.

B) Redes são dinâmicas, não é possível controlar sua evolução, mas apenas

acompanhar. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 - Na verdade, é o seguinte, as coisas são dinâmicas... A partir do momento que lançamos o primeiro mapa, nós tivemos por exemplo, é..., a propriedade, o Ouro Verde, Fazenda Ouro Verde foi desativada, então ela deixa o mapa, mas nós fomos procurados por outras, outras propriedades, de outras regiões, que não tinham um trabalho de organização do setor, não tinham nenhuma estratégia de... promoção do empreendimento...

As coisas são dinâmicas. A partir do lança-mento do primeiro mapa, algumas propriedades deixaram o GETER por motivos diversos, inclusive o encerramento de suas atividades turísticas; mas outras propriedades foram inseridas, porque buscavam um trabalho de organização do setor ou de promoção de seus em-preendimentos.

Quadro 29: IAD 2 – Redes são dinâmicas, não é possível controlar sua evolução, mas apenas acompanhar.

O DSC dos coordenadores referente à questão 7: Percebe-se, analisando os

mapas-guia editados pela RETUR-GETER, que houve considerável rotatividade

de empreendimentos participantes. Em sua opinião, qual o motivo dessa

rotatividade.

Redes são dinâmicas, não é possível controlar sua evolução. A partir do lançamento

do primeiro mapa, algumas propriedades deixaram o GETER por motivos diversos,

inclusive o encerramento de suas atividades turísticas; mas outras propriedades

foram inseridas, porque buscavam um trabalho de organização do setor ou de

promoção de seus empreendimentos.

Outro motivo é que alguns participantes do GETER viram a RETUR como um

concorrente, não entenderam que ela seria o alicerce para manter a essência do

trabalho em rede. Por isso houve um desmembramento, e alguns partiram para uma

opção de associação, mas temos alguns empreendimentos retornando ao GETER.

6.2.8 Percepções sobre resultados alcançados e barreiras percebidas no

desenvolvimento do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

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116

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – É, então, eu acho que o maior entrave do GETER é a não visão de rede, ... a gente percebe que os que têm a consciência da cooperação, eles têm mais equilíbrio emocional, eles, é..., caminham devagar e sempre ... É, a idéia,... a essência (do GETER) continua, né? É um processo complicado porque não existe um apoio governamental, é, tem que ser uma iniciativa da rede, as perdas, os riscos da RETUR... Eu não tenho o GETER como um... caso encerrado. O GETER ele existe, e apenas não tem aquela comunicação, quer dizer, hoje nós oferecemos um serviço ao GETER e... poderíamos estar fazendo muito mais... ...ele deu um tempo para amadurecimento. Então o GETER existe como um... é... uma prestação de serviços da RETUR, né? O processo de encontros, debates, estão guardados... e... as acomodações das coisas. R: Agora, pensando no GETER nos seus dois, três primeiros anos né? ... Você conseguiu sentir mu-danças nos empreendimentos? 1 – Muita, muita... o turismo rural ele, ele tem controvérsias, ele é novo,... seria o ideal para o turismo rural, então acompanhar a vida no campo, aquilo ser totalmente produzido no campo, os funcionários serem todos do campo, serem multifuncionais. Mas na prática isso não dá certo. Porque um tratorista, ele não tem como servir um buffet... não é? É..., hum... ele pode até ter essa capacidade, mas até esse processo de ele chegar lá... Então o mercado é uma coisa bem tangível, pra tudo isso teve a ajuda dos hotéis, muitas excursões, é... e eles mesmos buscam cursos pra estar me-lhorando seu empreendimento. 2 - Olha, veja bem, as pessoas

O maior entrave do GETER é a não visão de rede por parte de alguns membros. Os resultados só não foram maiores pela falta da conscientização da força do associativismo.

A atualmente a atuação do GETER é restrita a uma central de reservas, porém a retomada do conceito de rede, pode trazer inúmeros benefícios aos participantes

B o caráter multifuncional exigido dos funcionários de empreendimentos turísti-cos localizados no espaço rural, é obtido pelo esforço conjunto, troca de expe-riências e participação em cursos.

C Através do GETER, as pessoas passaram a se comunicar mais.

D

Houve melhoras na ques-tão da comercialização, dos valores, dos serviços e o fortalecimento do setor. Através do GETER foi via-bilizada a divulgação dos empreendimentos partici-pantes pelas praças de pedágio nas rodovias do norte do Paraná, além de possibilitar a geração de empregos.

E

Através do GETER, o seg-mento de turismo no es-paço rural no norte parana-ense, fez-se conhecer e

A existência da coopera-ção entre participantes de uma rede é essencial para o seu sucesso.

A Redes promovem ambien-te favorável ao comparti-lhamento de informações, conhecimentos, habilida-des e de recursos essen-ciais para os processos de inovação, além de com-tribuir para a geração de empregos e possibilitar ações de marketing em conjunto.

D/E

Redes constituem-se em um meio para que peque-nas e médias empresas possam inserir-se no mer-cado competitivamente.

F

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117

passaram a se comunicar mais,. A questão do, da comercialização, dos valores, a questão dos serviços, a questão de você ter o fortalecimento do setor, por exemplo, em 2002, a Rede Paranaense (de televisão), dedicou todo uma série do verão de 2002 para o GETER, certo?... Então, é, o ganho, o ganho, ele é, é, ele é visível, hoje, hoje é, você pode dizer, que esse setor existe, embora não tenha recebido nem do governo federal, nem do governo estadual, nenhum apoio concreto. Então... o que motiva a continuar com o GETER, que ele foi uma resposta da cidadania dos empreendedores pra fortalecer uma área que agora contribui com os governos, na, na geração de emprego e impostos. R - E o senhor consegue perce-ber algum motivo que possa ter inibido o GETER, para resultados melhores? Alguma barreira... 2 - não, eu, eu, fora as limitações de nós,... na coordenação que a gente pode ter, é, em determi-nado momento, não ter perce-bido, o alcance, eu vejo, que... os resultados não foram maiores porque nós não tínhamos uma consciência da força do associativismo e por uma falta de cultura do turismo. Agora, a partir do GETER nós conseguimos, que a VIAPAR, que é concessionária de várias pra-ças e trechos estratégicos, como rumo Londrina, rumo Paranavaí, rumo a Cascavel, enfim, Maringá, é, abriu, porque existia o GETER, porque eles não iriam abrir pra atender o João, a Maria, o André. Agora, cabe à, à rede agir como uma promotora da qualidade do serviço e cabe aos empresários uma união pra custear o suporte pra que possam competir no mercado... E os resultados ocorrem, só que quando você es-tá muito perto, você não conse-

ense, fez-se conhecer e conquistou seu espaço no mercado, ainda que sem apoio governamental.

F

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118

gue dimensionar. Mas, você... e outros... viram a, o alcance, de você juntar pessoas de uma mesma área, pra crescer e como você trabalhar a relação de municípios e empresas, e insti-tuições na forma de rede. Quadro 30: Questão 8 da entrevista com coordenadores do GETER

A partir da análise do período estudado em relação ao GETER, os coordenadores

observam as seguintes idéias centrais ou ancoragens síntese acerca dos resultados

alcançados e as limitações percebidas:

A) a cooperação entre participantes de uma rede é essencial para seu sucesso.

(IC e A)

B) a falta de amadurecimento/comprometimento retardou os resultados do trabalho

em rede. (IC)

C) funcionários de empreendimentos turísticos localizados no espaço rural precisam

ser treinados para serem multifuncionais. (IC)

D) a rede intensifica o processo de comunicação entre participantes. (IC e A)

E) o GETER contribuiu para geração de empregos, melhorias nos processos de

comercialização, prestação de serviços e divulgação dos empreendimentos

participantes. (IC e A)

F) o GETER auxiliou os empreendimentos participantes inserirem-se no mercado.

(IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A cooperação entre participantes de uma rede é essencial para seu sucesso

(IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - eu acho que o maior entrave do GETER é a não visão de rede, ... a gente percebe que os que têm a consciência da cooperação, eles têm mais equilíbrio emocional, eles, é..., caminham devagar e sempre ... 2 - eu vejo, que... os resultados não foram maiores porque nós não tínhamos uma consciência da força do associativismo e por uma falta de cultura do turismo. E os resultados ocorrem, só que quando você

Eu acho que o maior entrave do GETER é a não visão de rede; os resultados só não foram maiores porque nós ainda não tínhamos consciência da força que é o associativismo. A gente percebe que os empreendedores que têm a consciência da cooperação caminham devagar e sempre. Os resultados ocorrem, mas quando se está muito perto não é possível dimensiona-los.

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está muito perto, você não consegue dimen-sionar. Mas, você... e outros... viram a, o alcance, de você juntar pessoas de uma mesma área, pra crescer e como você trabalhar a relação de municípios e empresas, e insti-tuições na forma de rede. Quadro 31: IAD 2 – a cooperação entre participantes de uma rede é essencial para seu sucesso.

B) A falta de amadurecimento/comprometimento retardou os resultados do

trabalho em rede (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Eu não tenho o GETER como um... caso encerrado. O GETER ele existe, e apenas não tem aquela comunicação, quer dizer, hoje nós oferecemos um serviço ao GETER e... poderíamos estar fazendo muito mais... ...ele deu um tempo para amadurecimento. Então o GETER existe como um... é... uma prestação de serviços da RETUR, né? O processo de encontros, debates, estão guardados... e... as acomodações das coisas.

Eu não tenho o GETER como um caso encerrado, ele apenas deu um tempo para amadurecimento. Hoje ele existe como uma prestação de serviços da RETUR, mas o processo de encontros e debates estão guardados, esperando a acomodação das coisas.

Quadro 32: IAD 2 – a falta de amadurecimento/comprometimento retardou os resultados do trabalho em rede

C) Funcionários de empreendimentos turísticos localizados no espaço rural

precisam ser treinados para serem multifuncionais. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - seria o ideal para o turismo rural, então acompanhar a vida no campo, aquilo ser totalmente produzido no campo, os funcionários serem todos do campo, serem multifuncionais. Mas na prática isso não dá certo. Porque um tratorista, ele não tem como servir um buffet... não é? É..., hum... ele pode até ter essa capacidade, mas até esse processo de ele chegar lá... Então o mercado é uma coisa bem tangível, pra tudo isso teve a ajuda dos hotéis, muitas excursões, é... e eles mesmos buscam cursos pra estar melhorando seu empreen-dimento

O ideal para o turismo rural seria empregar pessoas do campo, mas para isso, elas precisam ser multifuncionais. Porém, o processo para qualificar um tratorista, por exemplo, para que ele possa servir um buffet adequadamente, é demorado. Foi preciso ajuda de hotéis, muitas excursões e cursos.

Quadro 33: IAD 2 – funcionários de empreendimentos turísticos localizados no espaço rural precisam ser treinados para serem multifuncionais

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D) A rede intensifica o processo de comunicação entre participantes (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2- Olha, veja bem, as pessoas passaram a se comunicar mais,.

As pessoas passaram a se comunicar mais.

Quadro 34: IAD 2 – a rede intensifica o processo de comunicação entre participantes

E) o GETER contribuiu para geração de empregos, melhorias nos processos de

comercialização, prestação de serviços e divulgação dos empreendimentos

participantes (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – A questão do, da comercialização, dos valores, a questão dos serviços, a questão de você ter o fortalecimento do setor, por exemplo, em 2002, a Rede Paranaense (de televisão), dedicou todo uma série do verão de 2002 para o GETER, Então... o que motiva a continuar com o GETER, que ele foi uma resposta da cidadania dos empreendedores pra fortalecer uma área que agora contribui com os governos, na, na geração de emprego e impostos. a partir do GETER nós conseguimos, que a VIAPAR, que é concessionária de várias pra-ças e trechos estratégicos, como rumo Londrina, rumo Paranavaí, rumo a Cascavel, enfim, Maringá, é, abriu, porque existia o GETER, porque eles não iriam abrir pra atender o João, a Maria, o André.

O GETER contribuiu para melhorias nos aspectos de comercialização, valores, prestação de serviços, divulgação. Para citar alguns feitos possíveis graças ao trabalho em rede, no ano de 2002, a Rede Paranaense de Televisão dedicou toda uma série do “programa de verão” para o GETER, divulgando durante uma semana, diferentes empreendimentos participantes; também a VIAPAR, concessionária de várias praças de pedágios nas rodovias norte paranaenses, abriu espaço para que os mapas-guia fossem distribuídos para os motoristas que lá passassem. Então... o que motiva a continuar com o GETER, é o fato dele ter sido uma resposta da cidadania dos empreendedores pra fortalecer uma área que agora contribui com os governos na geração de empregos e impostos.

Quadro 35: IAD 2 – o GETER contribuiu para a geração de empregos, melhorias nos processos de comercialização, prestação de serviços e divulgação dos empreendimentos participantes.

F) o GETER auxiliou os empreendimentos participantes inserirem-se no mercado.

(IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - É um processo complicado porque não existe um apoio governamental, é, tem que ser uma iniciativa da rede, as perdas, os riscos da RETUR 2- Então, é, o ganho, o ganho, ele é, é, ele é visível, hoje, hoje é, você pode dizer, que esse setor existe, embora não tenha recebido nem do governo federal, nem do governo

Hoje é possível atestar a existência do setor de turismo no espaço rural norte paranaense, em grande parte devido ao trabalho realizado pelo GETER, visto este setor não ter contado com o apoio do governo estadual ou federal. A RETUR tomou a iniciativa e as responsabilidades e o GETER aceitou o desafio.

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121

estadual, nenhum apoio concreto. Quadro 36: IAD 2 – o GETER auxiliou os empreendimentos participantes inserirem-se no mercado.

O DSC dos coordenadores referente à questão 8: Considerando a motivação

inicial do surgimento do GETER:

a) Quais os resultados alcançados pelo GETER, como conseqüência direta

de sua configuração em rede?

b) Quais as limitações/barreiras percebidas, se houve alguma, para que o

GETER apresentasse os resultados esperados?

Eu acho que o maior entrave do GETER é a não visão de rede por parte dos

empreendedores; os resultados só não foram maiores porque nós ainda não

tínhamos consciência da força que é o associativismo. A gente percebe que os

empreendedores que têm a consciência da cooperação caminham devagar e

sempre. Os resultados ocorrem, mas quando se está muito perto não é possível

dimensioná-los.

Hoje o GETER está num período de hibernação. Eu não tenho o GETER como um

caso encerrado, ele apenas deu um tempo para amadurecimento. Hoje ele existe

como uma prestação de serviços da RETUR, mas o processo de encontros e

debates está guardado, esperando a acomodação das coisas, o amadurecimento do

mercado.

O turismo no espaço rural é um segmento novo, ainda em fase de regulamentação

no Brasil, por isso suscetível a várias indagações e dúvidas por parte de seus

integrantes. O GETER contribuiu na solução de algumas dessas questões. Por

exemplo, o ideal para o turismo rural seria empregar preferencialmente pessoas do

campo, mas para isso, elas precisam ser multifuncionais. Porém, o processo para

qualificar um tratorista, por exemplo, para que ele possa servir um buffet

adequadamente, é demorado. O GETER contribuiu buscando ajuda de hotéis,

viabilizando excursões e cursos.

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122

Através do GETER, as pessoas também passaram a se comunicar mais. O GETER

contribuiu para melhorias nos aspectos de comercialização, valores, prestação de

serviços, divulgação. Para citar alguns feitos possíveis graças ao trabalho em rede,

no ano de 2002, a Rede Paranaense de Televisão – retransmissora da Rede Globo,

dedicou toda uma série do “programa de verão” para o GETER, divulgando durante

uma semana, diferentes empreendimentos participantes; também a VIAPAR,

concessionária de várias praças de pedágios nas rodovias norte paranaenses, abriu

espaço para que os mapas-guia fossem distribuídos para os motoristas que lá

passassem.

Então, o que motiva a continuar com o GETER, é o fato dele ter sido uma resposta

da cidadania dos empreendedores pra fortalecer uma área que agora contribui com

os governos na geração de empregos e impostos. Hoje é possível atestar a

existência do setor de turismo no espaço rural norte paranaense, em grande parte

devido ao trabalho realizado pelo GETER, visto este setor não ter contado com o

apoio do governo estadual ou federal. A RETUR tomou a iniciativa e as

responsabilidades e o GETER aceitou o desafio.

6.3 O discurso dos empreendedores do GETER

6.3.1 A motivação para a inserção no GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 1 – Na época que começou-se a montar o GETER, na verdade o professor Jacó me procurou, né? Eu estava começando nessa área, achei interessante iniciar esse trabalho, nem sabendo direito o que ia dar, por isso começamos e levamos até a um certo tempo, mas não teve uma motivação especifica... A necessidade que partiu da época era de um grupo sem fins lucrativos entre as pessoas, era mais ir tocando num sentido de viabilizar... dividir custo de divulgação... mais nesse sentido de custos... a mensalidade que a pessoa paga pro grupo, ela é

Nós estávamos começando nesta área, e achei interessante aceitar o convite dos coordenadores do GETER, mesmo não sabendo ao certo o que ia dar.

A

Nós nos alinhamos a uma idéia do Prof. Jacó, da Wanda e de outros em-preendedores, com o intuito de se fundar uma coisa organizada, dar uma identidade pra nossa região, falando em turismo,

O GETER possibilitou a organização do setor turístico rural na região, através da união dos empreendedores, coor-denados pelos seus idealizadores.

B

O GETER possibilita que seus participantes te-nham maior visualização no mercado, através do trabalho de divulgação feito pelo grupo.

C

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123

revertida em ações de divulgação. 2 – Então nós se alinhamos a uma idéia, né, com o prof. Jacó, com a Wanda, com os outros empreendedores... com o intuito de se fundar assim um..., uma coisa organizada, dar uma identidade pra nossa região, falando em turismo, que até então não se falava, né? 3 – o motivo principal foi a perspectiva de ter uma divulgação maior do meu empreendimento através do GETER, que já estava fazendo um trabalho assim com outros participantes. 4 - Bom, a gente estava iniciando na época, né. a gente não tinha muito conhecimento de..., dessa parte de turismo, né, daí eles convidaram, até na época era o prof. Jacó e a Wanda, eles convidaram e a gente achou interessante, mesmo pra ter assim uma troca de informações, experiências, pra conhecer outros lugares também.

que até então não se falava.

B

O motivo principal foi a perspectiva de viabilizar a maior divulgação do nosso empreendimento através do GETER, que já estava fazendo um trabalho assim com outros participantes.

C Aceitamos o convite para ter uma troca de infor-mações, de experiências e para conhecer outros lugares também, pois estavámos começando no negócio de turismo.

D

O GETER abriu a perspectiva da troca de informações e experiên-cias e possibilitou conhe-cer outros empreendi-mentos turísticos.

D

Quadro 37: IAD 1 - Questão 1 da entrevista com empreendedores do GETER

Os empreendedores participantes do GETER emitiram as seguintes idéias centrais

ou ancoragens síntese sobre a motivação para a inserção na rede:

A) A adesão ao GETER se deu pela aceitação de um convite por parte de seus

coordenadores (IC)

B) A adesão ao GETER teve como principal motivação o desejo de organizar o

setor turístico rural na região. (IC e A)

C) A perspectiva de maior divulgação do empreendimento motivou a inserção no

GETER. (IC e A)

D) Participar do GETER possibilitou a troca de informações e experiências (IC e A)

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124

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A adesão ao GETER se deu pela aceitação de um convite por parte de seus

coordenadores (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Na época que começou-se a montar o GETER, na verdade o professor Jacó me procurou, né? Eu estava começando nessa área, achei interessante iniciar esse trabalho, nem sabendo direito o que ia dar, por isso começamos e levamos até a um certo tempo, mas não teve uma motivação especifica... a procura dele... 4 - Bom, a gente estava iniciando na época, né. a gente não tinha muito conhecimento de..., dessa parte de turismo, né, daí eles convidaram, até na época era o prof. Jacó e a Wanda, eles convidaram e a gente achou interessante

Na época que começou a se montar o GETER, o Prof. Jacó me procurou. Achei interessante iniciar este trabalho, embora nem soubesse ao certo no que ia resultar. A gente estava iniciando na época, não tinha muito conhecimento dessa parte de turismo, achamos interessante participar.

Quadro 38: IAD 2 - a adesão ao GETER se deu pela aceitação de um convite por parte de seus coordenadores

B) a adesão ao GETER teve como principal motivação o desejo de organizar o

setor turístico rural na região. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – isoladamente, as sociedades se colocavam à disposição do mercado, mas sem atingir o mercado. Então a proposta que criamos é justamente isso: fortalecer em grupo

As sociedades se colocavam à disposição do mercado isoladamente, sem atingi-lo. Então a proposta que criamos foi justamente essa: fortalecer em grupo.

Quadro 39: IAD 2 – a adesão ao GETER teve como principal motivação o desejo de organizar o setor turístico na região.

C) a perspectiva de maior divulgação do empreendimento motivou a inserção no

GETER (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – A necessidade que partiu da época era de um grupo sem fins lucrativos entre as pessoas, era mais ir tocando num sentido de viabilizar... dividir custo de divulgação... mais nesse sentido de custos... a mensalidade que a pessoa paga pro grupo, ela é revertida em ações de divulgação. 3 - o motivo principal foi a perspectiva de ter

Na época em que o grupo surgiu, a necessidade que se tinha era de viabilizar ações de divulgação, através da partilha de custos. Assim, parte dos empreendimen-tos que aderiram ao GETER pos-teriormente, teve como motivação principal a perspectiva de ter uma divulgação maior do seu empreendimento, visto que um trabalho assim já estava sendo feito com os demais participantes.

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125

uma divulgação maior do meu empreendimento através do GETER, que já estava fazendo um trabalho assim com outros participantes.

os demais participantes.

Quadro 40: IAD 2 – a perspectiva de maior divulgação do empreendimento motivou a inserção no GETER

D) Participar do GETER possibilitou a troca de informações e experiências (IC e

A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

4 - na época era o prof. Jacó e a Wanda, eles convidaram e a gente achou interessante, mesmo pra ter assim uma troca de informações, experiências, pra conhecer outros lugares também.

Na época, estávamos começando o nosso empreendimento e achamos interessante aceitar o convite do Prof. Jacó e da Wanda pra poder ter uma troca de informações e experiências e para poder conhecer outros empreendimentos também.

Quadro 41: IAD 2 – participar do GETER possibilitou a troca de informações e experiências

A percepção dos empreendedores referente à questão 1: qual a motivação

inicial que o/a levou a inserir o seu empreendimento no GETER?

Diversos motivos levaram à inserção no GETER. Um deles foi o simples convite, por

parte dos coordenadores, para iniciar o trabalho em rede. Embora não tínhamos

claro o resultado dessa iniciativa, acreditamos na proposta apresentada. A gente

estava iniciando na época, não tinha muito conhecimento dessa parte de turismo,

assim achamos interessante participar.

Outro motivo, aliado ao convite dos coordenadores, foi o desejo, e também a

necessidade, de organizar o setor do turismo no espaço rural de nossa região. As

sociedades se colocavam à disposição do mercado isoladamente, sem atingi-lo.

Então a proposta que criamos foi justamente essa: fortalecer em grupo.

Quando o grupo surgiu, havia a necessidade de se viabilizar ações de divulgação,

através da partilha de custos, o que foi efetivamente feito. Assim, parte dos

empreendimentos que aderiram ao GETER posteriormente, teve como motivação

principal, a perspectiva de ter uma divulgação maior do seu empreendimento, visto

que um trabalho assim já estava sendo feito com os demais participantes.

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126

Além disso, na época, estávamos começando o nosso empreendimento e achamos

interessante aceitar o convite do Prof. Jacó e da Wanda para poder ter uma troca de

informações e experiências e para poder conhecer outros empreendimentos

também.

6.3.2 A tomada de decisões no GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

Quadro 42: IAD 1 - Questão 2 da entrevista com empreendedores do GETER

Sobre a tomada de decisões no contexto do GETER, os empreendedores

entrevistados emitem a mesma idéia central, que também constitui-se em uma

ancoragem síntese:

A) as decisões eram tomadas conjuntamente em reuniões mensais. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 1 – Eram feitas reuniões e ficávamos discutindo sobre , para tentar achar um caminho. R – Daí as necessidades iam surgindo? 1 – Isso, ia surgindo, por exemplo, a necessidade de treinamento para capacitação, melhoria de alguma coisa, o grupo se reunia, votava e viabilizava isso, com o SEBRAE e a Universidade Estadual de Maringá. 2 – as decisões eram reuniões, nós fazíamos reuniões mensais, né? O pessoal levava uma pauta pra discussões nas reuniões, né? E tinha aprimoração do grupo. 4 - normalmente era assim, ... fazia as reuniões e era pela maioria, era colocado os assuntos, né, e a maioria decidia. R – os próprios empreendedores levantavam as necessidades? E4 – Sim. Isso, isso.

As decisões eram tomadas em reuniões mensais, quando se colocavam as necessidades do grupo e se discutia as ações a serem tomadas.

A

O grupo se reunia mensalmente para discu-tir suas necessidades e problemas, e tomava decisões conjuntamente sobre as ações que deveriam ser tomadas, buscando o apoio de outras instituições, quando necessário.

A

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127

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) as decisões eram tomadas conjuntamente em reuniões mensais (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

Quadro 43: IAD 2 – as decisões eram tomadas conjuntamente em reuniões mensais

O DSC dos empreendedores referente à questão 2: Como eram tomadas as

decisões no GETER?

Eram feitas reuniões mensais, quando discutíamos nossos problemas e tentávamos

achar um caminho a seguir - a maioria decidia. Os empreendedores expunham os

problemas que seus empreendimentos estavam vivenciando, e a partir daí surgiam

as necessidades de treinamento para capacitação, melhorias, etc... e então se

buscava o apoio junto ao SEBRAE e à Universidade Estadual de Maringá, por

exemplo, para que os cursos, treinamentos e assessorias fossem viabilizados.

6.3.3 O relacionamento entre os coordenadores e os participantes do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

1 – Eram feitas reuniões e ficávamos discutindo sobre , para tentar achar um caminho. R – Daí as necessidades iam surgindo? 1 – Isso, ia surgindo, por exemplo, a necessidade de treinamento para capacitação, melhoria de alguma coisa, o grupo se reunia, votava e viabilizava isso, com o SEBRAE e a Universidade Estadual de Maringá. 2 – as decisões eram reuniões, nós fazíamos reuniões mensais, né? O pessoal levava uma pauta pra discussões nas reuniões, né? E tinha aprimoração do grupo. 4 - normalmente era assim, ... fazia as reuniões e era pela maioria, era colocado os assuntos, né, e a maioria decidia. R – os próprios empreendedores levantavam as necessidades? E4 – Sim. Isso, isso.

Eram feitas reuniões mensais, quando discutíamos nossos problemas e ten-távamos achar um caminho a seguir: a maioria decidia. Os empreendedores expunham os problemas que seus empreendimentos estavam vivenciando, e a partir daí surgiam as necessidades de treinamento para capacitação, melhorias, etc... e então se buscava o apoio junto ao SEBRAE e à Universidade Estadual de Maringá, por exemplo, para que os cursos, treinamentos e assessorias fossem via-bilizados.

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128

Quadro 44: IAD 1 - Questão 3 da entrevista com empreendedores do GETER

A idéia central e ancoragem síntese referente ao relacionamento entre

coordenadores e empreendedores do GETER, segundo a percepção dos

empreendedores:

A) O relacionamento entre coordenadores e empreendedores era bom,

amistoso e harmônico (IC)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) O relacionamento entre coordenadores e empreendedores era bom, amistoso

e harmônico (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – uma harmonia entre o pessoal..., sim, tinha, se conduziu inicialmente muito bem...: as idéias contatenadas, ..., tudo era uma coisa nova para nós empreendedores e para a Wanda,... o prof. Jacó. 3 – o nosso relacionamento era bom e amistoso. 4 – acho que era bom, o relacionamento era bom.

Principalmente no início, havia uma har-monia entre os coordenadores e os empreendedores, as idéias convergiam e também era tudo novidade para nós. O nosso relacionamento era bom e amistoso.

Quadro 45: IAD 2 – o relacionamento entre coordenadores e empreendedores era bom, amistoso e harmônico.

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGENS 2 – uma harmonia entre o pessoal..., sim, tinha, se conduziu inicialmente muito bem...: as idéias contatenadas, ..., tudo era uma coisa nova para nós empreendedores e para a Wanda,... o prof. Jacó. Então as coisas eram assim de maneira harmônica, todo mês nós nos reuníamos.... 3 – o nosso relacionamento era bom e amistoso. 4 - acho que era bom, o relaciona-mento era bom.

O relacionamento era bom e amistoso. No início havia uma harmonia entre as idéias dos coordenadores e de todos os empreendedores.

A

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129

O DSC dos empreendedores referente à questão 3: Qual o relacionamento

entre os coordenadores da RETUR e os participantes do GETER?

Principalmente no início, havia uma harmonia entre os coordenadores e os

empreendedores, as idéias convergiam e também era tudo novidade para nós. O

nosso relacionamento era bom e amistoso.

6.3.4 Os resultados advindos da participação no GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – Existia, mas não estava ainda funcionando como pousada e tal. Tava começando a me encontrar no segmento. R – E vocês notaram alguma mudança no empreendimento... 1 – a própria reunião com o pessoal, daí você vai trocando experiências, um vai dizendo o que fez, o que não fez... 2 – foi tudo junto... mais ou menos no mesmo momento do surgimento do GETER também eram as propriedades que estavam ainda sem identidade,..., elas existiam, mas existiam assim mais pelo feeling do empreendedor, não tinham um foco... o GETER veio pra mais ou menos organizar esse segmento. 3 – Sim, já existia....a partir da participação no GETER percebemos uma melhora no negócio, pois a repercussão de um grupo é sempre maior 4 – Eu acho que foi bom sim, porque, a gente trocava bastante idéias com o pessoal: Onde buscar, como fazer divulgação, e tudo isso no início ajudou bastante.

No início do GETER, os empreendimentos turísticos já estavam no mercado, porém faltava uma identidade, um foco.

A

Através das reuniões viabilizadas pela rede, há uma troca de experiências.

B

O GETER auxiliou na organização do setor “turismo no espaço rural” da nossa região.

C

O trabalho em grupo possibilita maior repercus-são no mercado e conse-qüentemente, uma melhora nos negócios.

D

O trabalho em rede possibilita a troca de experiências

B

O GETER auxiliou na organização do setor em que atua.

C

O trabalho em grupo possibilita maior reper-cussão no mercado e conseqüentemente, uma melhora nos negócios.

D

Quadro 46 : Questão 4 da entrevista com empreendedores do GETER

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130

Os empreendedores participantes do GETER, emitem as seguintes idéias centrais

ou ancoragens síntese provenientes de suas participações na rede:

A) Antes do GETER, os empreendimentos turísticos atuavam no mercado sem um

foco ou identidade. (IC)

B) O trabalho em rede possibilita a troca de experiências. (IC e A)

C) O GETER auxiliou na organização do setor em que atuava. (IC e A)

D) o trabalho em grupo tem maior repercussão no mercado e contribui para a

melhora nos negócios. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) Antes do GETER, os empreendimentos turísticos atuavam no mercado sem

um foco ou identidade. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – Existia, mas não estava ainda funcionando como pousada e tal. Tava começando a me encontrar no segmento. 2 – foi tudo junto... mais ou menos no mesmo momento do surgimento do GETER também eram as propriedades que estavam ainda sem identidade,..., elas existiam, mas existiam assim mais pelo feeling do empreendedor, não tinham um foco...

Antes do GETER ser formalizado, os empreendimentos turísticos no espaço rural da região já existiam, mas atuavam sem uma identidade, sem um foco. Era mais pelo feeling do empreendedor.

Quadro 47: IAD 2 – antes do GETER, os empreendimentos turísticos atuavam no mercado sem um foco ou identidade.

B) O trabalho em rede possibilita a troca de experiências. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - 1 – a própria reunião com o pessoal, daí você vai trocando experiências, um vai dizendo o que fez, o que não fez... 4 – Eu acho que foi bom sim, porque, a gente trocava bastante idéias com o pessoal: Onde buscar, como fazer divulgação, e tudo isso no início ajudou bastante.

Nas reuniões do GETER, as pessoas iam trocando experiências, dizendo o que fez em seu empreendimento, o que não fez... Nós também discutíamos várias idéias: onde buscar auxílio, como fazer divulgação,... E tudo isso ajudou bastante no início.

Quadro 48: IAD 2 – o trabalho em rede possibilita a troca de experiências.

C) O GETER auxiliou na organização do setor em que atuava. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 - o GETER veio pra mais ou menos O GETER possibilitou a organização do

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131

organizar esse segmento.

setor.

Quadro 49: IAD 2 – o GETER auxiliou na organização do setor em que atuava

D) o trabalho em grupo tem maior repercussão no mercado e contribui para a

melhora nos negócios. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

3 – a partir da participação no GETER percebemos uma melhora no negócio, pois a repercussão de um grupo é sempre maior

A partir da participação no GETER percebemos uma melhora no negócio, pois a repercussão de um grupo é sempre maior.

Quadro 50: IAD 2 – o trabalho em grupo tem maior repercussão no mercado e contribui para a melhora nos negócios.

O DSC dos empreendedores referente à questão 4: O empreendimento

turístico já existia antes da inserção no GETER? Se positivo, em que aspetos

percebeu-se mudanças no negócio turístico? Se negativo, como você

identifica os resultados advindos da participação em uma rede?

Antes do GETER ser formalizado, os empreendimentos turísticos no espaço rural da

região já existiam, mas atuavam sem uma identidade, sem um foco. Era mais pelo

feeling do empreendedor.

O GETER possibilitou a organização do setor. Nas reuniões que eram realizadas

mensalmente, as pessoas iam trocando experiências, dizendo o que fez em seu

empreendimento, o que não fez... Nós também discutíamos várias idéias: onde

buscar auxílio, como fazer divulgação,... E tudo isso ajudou bastante no início.

A partir da participação no GETER também foi possível perceber uma melhora no

negócio, pois a repercussão de um grupo é sempre maior do que quando se age

isoladamente.

6.3.5 Os aspectos inibidores de melhores resultados no contexto do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – Inibido? A entrada de novos A diversidade de

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132

R – É, que possa ter limitado? Tem algum aspecto, tem... 1 - Não, não... pelo contrário, né? Só somava 2 - É lógico que com o, com o grupo, né, ampliou-se, foi aberto pra mais empreendedores, né? Surgiram novos empreendedores e também novas idéias, né? Com certeza. E algumas idéias fugiram um pouco do foco original, né? E até por causa do, dos empreendimentos não terem, não tem como haver uma padronização, né? Então é lógico, cada um tem um empreendimento voltado pra um determinado foco, e as coisas aconteceram e as idéias não bateram 4 - Não sei, de repente alguns dos, dos participantes, é... R – não colaboravam? E4 – às vezes era contra as idéias. Às vezes até porque, não por ser contra, mas de repente até porque pro empreendimento dele, o que se colocava não... podia ser bom pra uma grande parte, pro dele não era interessante, né? R – você acha que tinha uma grande diferença assim entre os empreendimentos, de tamanho, de público alvo,...? E4 - ah, tinha né. Porque, diferença sim, porque eu acho que de todos, nenhum era igual, todos eles, cada um tinha uma característica diferente. R – isso pode ser um motivo? E4 – eu acho que de repente sim, porque alguns queriam mais, outros não conseguiam acompanhar, mesmo pela de-manda do seu empreendimento, às vezes segurava um pouco, né?

empreendimentos no GETER, com diferentes dimensões e objetivos, provocou uma fuga do foco original do grupo.

A

A diversidade de tamanho, público alvo e outras características dos empre-endimentos, fazia com que algumas decisões fossem benéficas para alguns, mas inócuas para outros, além de representar custos altos para alguns.

B

objetivos dos participan-tes de uma rede provoca um distanciamento de seu foco original.

A

A diversidade de tamanho, público alvo e outras características dos empreendimentos, fazia com que algumas deci-sões fossem benéficas para alguns, mas inócuas para outros, além de representar custos altos para alguns.

B

Quadro 51: Questão 5 da entrevista com empreendedores do GETER

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133

Quanto aos aspectos que podem ter inibido o alcance de melhores resultados no

GETER, as idéias centrais ou ancoragens sínteses percebidas foram:

A) A diversidade de objetivos dos participantes de uma rede provoca um

distanciamento de seu foco original. (IC e A)

B) a diversidade de empreendimentos participantes dificultava a tomada de

decisões que fossem benéficas a todos. (IC e A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A diversidade de objetivos dos participantes de uma rede provoca um

distanciamento de seu foco original. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 - É lógico que com o, com o grupo, né, ampliou-se, foi aberto pra mais empreendedores, né? Surgiram novos empreendedores e também novas idéias, né? Com certeza. E algumas idéias fugiram um pouco do foco original, né? E até por causa do, dos empreendimentos não terem, não tem como haver uma padronização, né. Então é lógico, cada um tem um empreendimento voltado pra um determinado foco, e as coisas aconteceram e as idéias não bateram

À medida que o GETER foi ampliando-se, houve a adesão de novos empreendimentos, com diferentes dimensões e com objetivos diversos, que trouxeram novas idéias para o grupo, fazendo com que houvesse uma divergência de opiniões, algumas que fugiam do foco inicial do GETER.

Quadro 52: IAD 2 – a diversidade de objetivos dos participantes de uma rede provoca um distanciamento de seu foco original

B) a diversidade de empreendimentos participantes dificultava a tomada de

decisões que fossem benéficas a todos. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

4 - de repente alguns dos, dos participantes, é... às vezes era contra as idéias. Às vezes até porque, não por ser contra, mas de repente até porque pro empreendimento dele, o que se colocava não... podia ser bom pra uma grande parte, pro dele não era interessante R - você acha que tinha uma grande diferença assim entre os empreendimentos, de tamanho, de público alvo,...? E4 - ah, tinha. cada um tinha uma característica diferente. R – isso pode ser um motivo? E4 – eu acho que de repente sim, porque alguns queriam mais, outros não

A diversidade de empreendimentos participantes do GETER dificultava a tomada de decisões que fossem benéficas para todos. Às vezes alguns participantes eram contra algumas idéias porque o que se colocava não era interessante para o seu empreendimento. Os diferentes tamanhos dos empreendimentos geravam diferentes demandas.

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134

conseguiam acompanhar, mesmo pela demanda do seu empreendimento, às vezes segurava um pouco Quadro 53: IAD 2 – a diversidade de empreendimentos participantes dificultava a tomada de decisões que fossem benéficas a todos

O DSC dos coordenadores referente à questão 5: Em sua opinião, quais

aspectos podem ter sido inibidores, caso reconheça algum, de melhores

resultados no contexto do GETER?

À medida que o GETER foi ampliando-se, houve a adesão de novos

empreendimentos, com diferentes dimensões e com objetivos diversos, que

trouxeram novas idéias para o grupo, fazendo com que houvesse uma divergência

de opiniões, algumas que fugiam do foco inicial do GETER.

A diversidade dos empreendimentos participantes do GETER dificultava a tomada

de decisões que fossem benéficas para todos. Às vezes alguns participantes eram

contra algumas idéias porque o que se colocava não era interessante para o seu

empreendimento. Os diferentes tamanhos dos empreendimentos geravam

diferentes demandas, sendo difícil chegar a um consenso.

6.3.6 Motivações para a saída do GETER

Instrumento de Análise do Discurso 1

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 - o GETER, até certo ponto foi viável, né? A partir de um certo ponto, como havia a própria necessidade, no caso da Wanda e do Jacó, de haver uma remuneração e etc. Daí gerou de certa forma um descompasso entre eles e o grupo. Então o GETER passou... é... o escritório do turismo rural, ele passou a ter uma função mais de agência. Não houve uma ruptura nem nada. Foi só que, de certa forma, aqueles que continuam no GETER,... ele vende diárias e ganha por isso. Só que a necessidade que partiu da época era mais de um grupo sem fins lucrativos entre as

O GETER foi viável até certo ponto. Mas a partir de um dado momento, a questão da remuneração dos coordenadores causou um descompasso entre alguns empreendedores e eles, conduzindo a uma função mais de agência, de central de reservas.

A

nós precisavamos de um grupo sem fins lucrativos, que viabilizasse o desen-volvimento do setor, por isso foi formada uma asso-

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135

pessoas, era mais ir tocando num sentido de viabilizar... Na verdade, todo mundo cresceu junto. Só que chegou num momento que tem que ter essa divisão... Hoje tem uma associação que é diferente do GETER... o GETER é mais abrangente... tinha vários tipos de propriedades. Nós focamos num segmento que é o nosso: as pousadas. 3 – saímos pela necessidade de conter gastos no período de baixa temporada. 4 - (o GETER) não, não existe... R – Vocês saíram antes dele terminar ou foi... 4 – Olha, eu acho que foi acabando, foi acabando; aí ficou aquele pessoal ficou com o escritório de turismo, no lugar do GETER eles montaram um escritório de turismo rural, que funciona tipo uma agência. Faz reserva, faz divulgação, às vezes representa algumas das propriedades em eventos. Eles convidam, quem quer que eles representem, eles vão repre-sentar nos eventos... R – Você disse que hoje vocês fazem parte de uma outra associação: você acha que a idéia dessa outra associação nasceu no GETER? O GETER facilitou, já que os empreen-dedores se reuniam lá? E4 – Eu acho que de repente sim. Mas assim, é..., foi diferente um pouco da..., a filosofia acho que é um pouco diferente do GETER. O GETER tem os coordenadores que precisam ser remunerados, e nessa nova associação são os próprios proprietários que coordenam.

ciação com integrantes de um mesmo segmento - pousadas, já que o GETER tinha vários tipos de propriedades.

B

Saímos pela necessidade de conter gastos no período de baixa temporada.

C

Quadro 54: Questão 6 da entrevista com empreendedores do GETER

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136

Os empreendedores que haviam saído do GETER, emitiram as seguintes idéias

centrais para justificar a decisão:

A) A questão da remuneração dos coordenadores da rede causou um

descompasso entre estes e os empreendedores. (IC)

B) Parte dos empreendimentos, que apresentava maior coesão entre si,

juntou-se em torno de uma nova associação. (IC)

C) A saída do GETER foi motivada pela contenção de gastos.(IC)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A questão da remuneração dos coordenadores da rede causou um

descompasso entre estes e os empreendedores. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - o GETER, até certo ponto foi viável, né? A partir de um certo ponto, como havia a própria necessidade, no caso da Wanda e do Jacó, de haver uma remuneração e etc. Daí gerou de certa forma um descompasso entre eles e o grupo. Então o GETER passou... é... o escritório do turismo rural, ele passou a ter uma função mais de agência. Não houve uma ruptura nem nada 4 – Olha, eu acho que foi acabando, foi acabando; aí ficou aquele pessoal ficou com o escritório de turismo, no lugar do GETER eles montaram um escritório de turismo rural, que funciona tipo uma agência. Faz reserva, faz divulgação, às vezes representa algumas das propriedades em eventos. Eles convidam, quem quer que eles representem, eles vão repre-sentar nos eventos...

O GETER até certo ponto foi viável, não houve ruptura, ele foi acabando, acabando... A partir de dado momento, a necessidade de remunerar os coordenadores gerou um descompasso entre eles e o grupo. Assim, o GETER passou a ter uma função mais de agência. Foi montado o Escritório de Turismo rural, onde são feitas reservas, e eles são comissionados, e também recebem pelo trabalho de divulgação e de participação em eventos, quando eles representam os empreendimentos que aceitam o convite feito.

Quadro 55: IAD 2 – a questão da remuneração dos coordenadores da rede causou um descompasso entre estes e os empreendedores

B) Parte dos empreendimentos, que apresentava maior coesão entre si, juntou-

se em torno de uma nova associação. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 - Só que a necessidade que partiu da época era mais de um grupo sem fins lucrativos entre as pessoas, era mais ir tocando num sentido de viabilizar... Na verdade, todo mundo cresceu junto. Só que chegou num momento que tem que ter essa divisão... Hoje tem uma associação que é

Em um dado momento, sentimos a necessidade de ter um grupo sem fins lucrativos, formado por empreendimentos de um mesmo segmento, no nosso caso, as pousadas. Acho que somos frutos do GETER, mas com uma filosofia um pouco diferente: o GETER tem os coordenadores

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137

diferente do GETER... o GETER é mais abrangente... tinha vários tipos de propriedades. Nós focamos num segmento que é o nosso: as pousadas. R - você acha que a idéia dessa outra associação nasceu no GETER? O GETER facilitou, já que os empreendedores se reuniam lá? E4 – Eu acho que de repente sim. Mas assim, é..., foi diferente um pouco da..., a filosofia acho que é um pouco diferente do GETER. O GETER tem os coordenadores que precisam ser remunerados, e nessa nova associação são os próprios proprietários que coordenam.

que precisam ser remunerados e nessa nova associação são os próprios proprietários que coordenam.

Quadro 56: IAD 2 – parte dos empreendimentos, que apresentava maior coesão entre si, juntou-se em torno de uma nova associação.

C) A saída do GETER foi motivada pela contenção de gastos. (IC)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

3 – saímos pela necessidade de conter gastos no período de baixa temporada.

Nós saímos pela necessidade de conter gastos na baixa temporada.

Quadro 57: IAD 2 – a saída do GETER foi motivada pela contenção de gastos

O DSC dos empreendedores referente à questão 6: (para os que saíram do

GETER) qual o motivo que levou seu empreendimento à saída do GETER?

Alguns saíram pela necessidade de conter gastos na baixa temporada, visto a

participação no grupo gerar alguns custos, como pagamento de mensalidade e

participação em ações conjuntas (de divulgação, participação em eventos,

cursos,etc.)

O GETER até certo ponto foi viável, não houve ruptura, ele foi acabando,

acabando... A partir de dado momento, a necessidade de remunerar os

coordenadores gerou um descompasso entre eles e o grupo. Assim, o GETER

passou a ter uma função mais de agência. Foi montado o Escritório de Turismo

Rural, onde são feitas reservas, e eles são comissionados, e também recebem pelo

trabalho de divulgação e de participação em eventos, quando eles representam os

empreendimentos que aceitam o convite feito.

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138

Em um dado momento, alguns de nós, sentimos a necessidade de ter um grupo sem

fins lucrativos, formado por empreendimentos de um mesmo segmento, no nosso

caso, as pousadas. Acho que somos frutos do GETER, mas com uma filosofia um

pouco diferente: o GETER tem os coordenadores que precisam ser remunerados e

nessa nova associação são os próprios proprietários que coordenam.

6.3.7 A questão da comunicação entre os empreendedores participantes do

GETER

EXPRESSÕES-CHAVE IDÉIAS CENTRAIS ANCORAGEM 1 – não, é que no nosso caso a gente segmentou... nós focamos um segmento que é o nosso: as pousadas 2 – olha, assim como era antes, talvez não. Mas há assim, há um conhecimento, há uma amizade, é um ramo de, não é, não é um ramo de concorrência, é um, é um ramo de uns se ajudam, é um elo, cada empreendimento é um elo na corrente, né? Então a gente tem que torcer pra que todos vão bem. Por isso que as coisas funcionam, por isso que é interessante que o GETER volte a ativa. 3 – possibilitou sim, porém, com a dispersão do grupo essa comunicação diminuiu. 4 - E4 – É, depois que foi extinto o GETER, daí foi fundado o circuito das pousadas, que nós fazemos parte ... Funciona mais ou menos tipo uma associação, né? Uma associação onde tem um escritório que representa todas as propriedades que fazem parte do circuito né? R – vocês continuam trocando informações.. E4 – sim, sim... tem reuniões periódicas pra... verificar o que um precisa, o que que o outro precisa, o que pode ser feito. Se tem um evento, quem quer participar, quem não quer...

1 – A comunicação continua, porém entre os empreendimentos de um mesmo segmento que reuniram-se em torno de uma outra associação.

A

2 – Com a dispersão do grupo a comunicação diminui, por isso é interessante que o GETER volte a ativa, pois o turismo é um ramo onde cada empreendimento é um elo na corrente. É benéfico para o grupo que todos estejam bem.

B

A comunicação continua entre empreendimentos com características simi-lares que reorganizaram-se em torno de uma outra associação.

A

2 – A dispersão do grupo fez com que a comunicação diminuísse, porém a volta a ativa do GETER é importante para que todo o setor seja beneficiado com as vantagens de se pertencer a uma rede.

B

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139

isso é feito ainda. Como fazer uma divulgação... às vezes alguém pensa num tipo de divulgação, aí já passa pros outros; aqueles que acham interessante, participam, os que não acham, ficam de fora, não participam. Quadro 58: Questão 7 da entrevista com empreendedores do GETER

Na percepção dos empreendedores entrevistados, a questão da comunicação entre

os participantes do GETER gerou as seguintes idéias centrais e ancoragens

sínteses:

A) A comunicação permanece no grupo que segmentou a rede em torno de

empreendimentos com características similares. (IC e A)

B) A comunicação diminuiu, sendo importante porém, que seja restabelecida. (IC e

A)

Instrumento de Análise do Discurso 2

A) A comunicação permanece no grupo que segmentou a rede em torno de

empreendimentos com características similares. (IC e A)

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

1 – no nosso caso a gente segmentou... nós focamos um segmento que é o nosso: as pousadas 4 - depois que foi extinto o GETER, daí foi fundado o circuito das pousadas, que nós fazemos parte ... tem reuniões periódicas pra... verificar o que um precisa, o que que o outro precisa, o que pode ser feito. Se tem um evento, quem quer participar, quem não quer... isso é feito ainda. Como fazer uma divulgação... às vezes alguém pensa num tipo de divulgação, aí já passa pros outros; aqueles que acham interessante, participam, os que não acham, ficam de fora, não participam.

Depois que o GETER foi “extinto”, nós focamos um segmento que é nosso: fundamos o “Circuito das Pousadas”. Fazemos reuniões periódicas para verificar as necessidades do grupo, o que pode ser feito, discutimos a participação em eventos, formas de divulgação... Isso tudo ainda é feito, porém somente dentro dessa nova associação.

Quadro 59: IAD 2 – a comunicação permanece no grupo que segmentou a rede em torno de empreendimentos com características similares.

B) A comunicação diminuiu, sendo importante, porém, que seja restabelecida.

(IC e A)

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140

EXPRESSÕES-CHAVE DSC

2 – olha, assim como era antes, talvez não. Mas há assim, há um conhecimento, há uma amizade, é um ramo de, não é, não é um ramo de concorrência, é um, é um ramo de uns se ajudam, é um elo, cada empreendimento é um elo na corrente, né? Então a gente tem que torcer pra que todos vão bem. Por isso que as coisas funcionam, por isso que é interessante que o GETER volte a ativa. 3 – possibilitou sim, porém, com a dispersão do grupo essa comunicação diminuiu.

O GETER possibilitou a comunicação entre os empreendedores sim, mas com a dispersão do grupo, essa comunicação diminuiu. Não é como no início, mas permaneceu um conhecimento, uma amizade, pois fazemos parte de um setor onde cada um é um elo na corrente, e por isso é importante que todos estejam bem. Seria muito bom se o GETER voltasse à ativa.

Quadro 60: IAD 2 – A comunicação diminuiu, sendo importante, porém, que seja restabelecida.

O DSC dos empreendedores referente à questão 7: O GETER possibilitou

maior e melhor comunicação entre os participantes? Mesmo que atualmente a

atuação do grupo não seja tão dinâmica como antes, a comunicação com

outros empreendedores turísticos no espaço rural continua?

O GETER possibilitou a comunicação entre os empreendedores sim, mas com a

dispersão do grupo, essa comunicação diminuiu. Não é como no início, mas

permaneceu um conhecimento, uma amizade, pois fazemos parte de um setor onde

cada um é um elo na corrente, e por isso é importante que todos estejam bem.

Seria muito bom se o GETER voltasse à ativa.

Teve também uma parte do grupo, que depois que o GETER foi “extinto”, decidiu

criar uma nova associação que focasse um segmento só, fundando então o

“Circuito das Pousadas”. Nessa associação são feitas reuniões periódicas para

verificar as necessidades do grupo, o que pode ser feito, é discutido a

participação em eventos, formas de divulgação... Isso tudo ainda é feito, porém

somente entre os participantes dessa nova associação.

6.4 O cruzamento dos discursos

Embora os coordenadores do GETER não tenham apresentado exatamente as

mesmas idéias em seus discursos durante as entrevistas realizadas, elas revelaram-

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141

se ser complementares, não traduzindo-se, em momento algum, em idéias di-

vergentes. Esse fato pode ser atribuído ao número restrito de pessoas envolvidas –

duas, e ao conseqüente compartilhamento dos mesmos propósitos desde o início do

trabalho, que os fez unir em torno da proposta de organizar, através do formato de

rede, o setor do turismo no espaço rural na região em que atuavam.

Já as entrevistas realizadas junto aos empreendedores, ainda que em número

reduzido, devido aos fatores já expostos, foram reveladoras de pensamentos

diversos, com exceção de algumas questões, como as referentes à tomada de de-

cisões dentro do GETER e o relacionamento entre coordenadores e em-

preendedores.

Fazendo o cruzamento dos discursos, podemos fazer as seguintes aferições:

A) Quanto ao surgimento e à inserção no GETER: os discursos dos

coordenadores e empreendedores são complementares, visto os primeiros

terem atribuído a iniciativa de formar o grupo pela percepção da existência de

empreendimentos turísticos no espaço rural, que necessitavam de assessoria

para alcançarem um desenvolvimento satisfatório, já que, além de se

constituir em um novo ramo de negócios, não contavam com apoio

governamental para o desenvolvimento do setor. Os empreendedores

alegaram a necessidade de apoio técnico, pois a maioria estava iniciando no

negócio e não possuíam um parâmetro, experiência acumulada de outros

empreendedores ou programa governamental que pudesse orientá-los. Vale

destacar a filosofia norteadora da iniciativa, defendida principalmente pelos

coordenadores: a rede como um laço de interesses, onde o espírito

cooperativo é essencial.

B) Quanto à dinâmica de ação do GETER: o discurso dos empreendedores

revela que, ao menos no início, eram realizadas reuniões mensais onde os

problemas eram expostos por eles para que fossem discutidos por todos e se

chegasse a uma solução conjunta, posteriormente viabilizada pelo trabalho

dos coordenadores. Os coordenadores expõem que, um dos principais

resultados do GETER para o problema de divulgação dos empreendimentos –

a publicação do mapa-guia, não foi corretamente utilizado por todos os

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142

participantes do grupo, que não entenderam o significado do trabalho em

grupo, ao não distribuir esses mapas aos seus hóspedes, deixando de

divulgar seus parceiros.

C) Quanto à coordenação do GETER: este é um aspecto controverso entre

coordenadores e parte dos empreendedores. Os coordenadores justificam

sua presença na administração pela neutralidade que representam, pois

alegam que há uma tendência para que empresários que ocupam cargos de

direção em uma associação privilegiem seus próprios empreendimentos. Por

outro lado, parte dos empreendedores acreditam que, se o interesse maior

em profissionalizar o setor é deles, eles deveriam coordenar os trabalhos

também, redirecionando os recursos financeiros utilizados para a manutenção

e remuneração dos coordenadores para outras ações em prol do grupo.

D) Quanto à comunicação: sobre esta questão, coordenadores e

empreendedores concordam que o trabalho em rede contribuiu sobremaneira

para que fossem trocadas experiências entre eles e que se estabelecesse

uma rede de comunicação. Atualmente, com a suposta “hibernação” do

GETER, alguns empreendedores defendem que o sentimento de amizade,

ou pelo menos conhecimento entre eles, continua, podendo, sempre que

necessário, ser resgatado o processo de comunicação; outros admitem que o

processo de comunicação continua, porém somente entre empreendedores

que reuniram-se em torno de uma nova associação.

E) Quanto aos resultados alcançados: os coordenadores destacam como

resultados positivos do GETER, a qualificação de pessoal, tanto na área

administrativa quanto operacional dos empreendimentos, o estabelecimento

da comunicação entre os empreendedores e o trabalho de divulgação feito,

que levou ao reconhecimento da existência do turismo realizado no espaço

rural do norte do Paraná. Os empreendedores, de forma complementar ao

exposto pelos coordenadores, creditam ao GETER a adoção de uma

identidade e foco por seus empreendimentos, a organização do setor e uma

melhora geral de seus empreendimentos.

F) Quanto aos fatores inibidores de melhores resultados: os

coordenadores destacam essencialmente a “não visão” de rede por parcela

dos empreendedores, como motivo principal para a pouca atuação do GETER

atualmente, ou seja, seria preciso trabalhar melhor a questão do

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143

associativismo e seus benefícios. Concordam porém, que o amadurecimento

do mercado conduz à sensibilização da importância do trabalho em rede,

assim o processo do GETER estaria apenas guardado, até que esse

amadurecimento aconteça. Os empreendedores que discordam dessa visão,

atribuem o arrefecimento do GETER à adesão de empreendimentos com

focos diversos de atuação, o que tornou difícil o trabalho em grupo, já que o

que se julgava benéfico para parte do grupo, não o era para outra parte, ou

mesmo a diversidade de tamanhos, que tornava oneroso para alguns

empreendedores participarem das ações propostas.

Considerando os pontos de análise adotados na elaboração dos roteiros das

entrevistas, e que remetem diretamente às características da organização em rede e

aos pressupostos para que seus objetivos sejam alcançados, verificamos que:

A) Quanto ao aspecto organizacional: o GETER utiliza o formato de rede

horizontal, ou seja, ancora-se na dimensão da cooperação, onde os

empreendimentos participantes exercem independência administrativa, mas

trabalham em conjunto para alcançar alguns objetivos em comum. A questão

da existência de um contrato entre as partes foi negada durante as

entrevistas, conduzindo à hipótese de que o trabalho desenvolvido é baseado

na dimensão da confiança.

B) Quanto aos aspectos da confiança, cooperação e competição entre os

participantes: esta questão revelou a conscientização dos coordenadores

sobre a importância da existência dos sentimentos de confiança e

cooperação entre os participantes do GETER, que faz alterar o significado da

competição entre eles; por outro lado, também foi verificado a dificuldade em

se adotar esses valores por grande parte dos empreendedores, sendo que os

que permanecem na rede, o fazem ancorados nesta percepção.

C) Quanto ao processo de comunicação entre os integrantes da rede: a

investigação desta questão corroborou com o já exposto nos aportes teóricos

sobre redes – o estabelecimento da comunicação entre integrantes de uma

rede constitui-se em um dos principais benefícios deste formato de

organização, pois viabiliza a troca de experiências e informações que

contribuem para o melhor desempenho dos empreendimentos participantes.

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D) Quanto ao estabelecimento de objetivos: justifica-se a maior dinamicidade

no início do GETER (2001 – 2002) pela multiplicidade de objetivos comuns,

provenientes das necessidades que o conjunto dos empreendimentos

participantes dividiam. À medida que esses objetivos comuns foram

tornando-se escassos entre os integrantes da rede, também a necessidade

de se trabalhar em rede diminuiu.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades de pesquisa desenvolvidas até aqui, permitem a elaboração de

algumas conclusões apresentadas a seguir.

7.1 Quanto aos objetivos do trabalho

Nesta fase do trabalho é importante verificar se os objetivos previamente

estabelecidos foram alcançados.

Ao retornar ao objetivo geral do trabalho: analisar o papel das redes, como forma

de organização, no desenvolvimento da atividade turística realizada no espaço

rural, acredita-se que o objetivo tenha sido atingido. Somando-se a pesquisa

teórica e o trabalho de campo, foi possível conhecer os benefícios advindos da

utilização do formato da organização em rede por pequenas e médias empresas

(neste caso: qualificação de pessoal, estabelecimento da comunicação entre os

empreendedores, maior divulgação dos empreendimentos, adoção de um “foco”,

organização do setor, melhora nos negócios), e principalmente perceber alguns dos

fatores que possam inibir o alcance de melhores resultados, visto não podermos,

partindo de apenas um estudo de caso, abordar todo o universo dos aspectos

referentes a esse formato de organização.

Ainda sobre esse objetivo e remetendo à teoria pesquisada sobre o tema “redes”, é

possível questionar, seja no turismo ou em outras áreas, o respeito

(a obediência) ao pressuposto apresentado por Maturana & Varela, em sua Teoria

da Autopoiese, em que os limites de uma rede são definidos por uma membrana, ou

no caso de sua aplicação no universo social humano, pelo conjunto de valores de

dada comunidade, como afirma Capra. Assim, surge uma nova pergunta de

pesquisa: redes podem ser constituídas ou são apenas identificadas, de acordo

com a similaridade de valores entre seus integrantes, e a partir dessa identificação

é que se trabalha os benefícios de sua organização?

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O objetivo específico de correlacionar os conceitos de organização em redes ao

setor turístico foi limitado pelos poucos casos conhecidos e publicados sobre o

tema. Ainda assim, o caso francês Accueil Paysan e seu correspondente brasileiro

Acolhida na Colônia, constituem-se em exemplos bem sucedidos de redes no

turismo, ao destacar o estabelecimento de objetivos claros a todos os ingressantes

e, conseqüentemente, conduzindo à limitação da entrada de empreendimentos que

guardam certa homogeneidade entre si. A dificuldade em encontrar material sobre o

assunto, mais do que ter sido um limitante no alcance dos objetivos do trabalho,

revelou a necessidade de uma pesquisa exploratória minuciosa para conhecer

estudos de casos, realizados em outros países, sobre redes no turismo realizados, a

fim de conhecer o real estado da arte sobre o assunto e assim contribuir, de maneira

mais eficaz, para novas experiências no Brasil.

A caracterização do GETER foi apresentada a partir de material cedido pela

instituição coordenadora do projeto – a RETUR, e pelas informações no próprio site

da instituição. Ainda que a redação do capítulo referente a esse objetivo não tenha

exigido um trabalho de reflexão, ele constitui-se em importante material para o

desenvolvimento da dissertação como um todo.

O terceiro objetivo específico: verificar a percepção dos coordenadores e

empreendedores do GETER quanto às contribuições e limitações da aplicação

da organização em rede na alavancagem da atividade turística rural dos

empreendimentos participantes, foi bastante revelador. Embora a limitação de

tempo e o custo oneroso em se entrevistar a totalidade dos integrantes do GETER

tenha reduzido o universo dos empreendedores entrevistados, acredita-se ter

conseguido uma boa amostra do pensamento deste grupo, ao ouvir representantes

que participaram de uma, duas ou três edições dos mapas-guia.

Através da análise dos DSC’s dos coordenadores e empreendedores, embasada no

referencial teórico apresentado, foi possível perceber principalmente a importância

de se respeitar alguns pressupostos na utilização do formato da organização em

rede, como o compartilhamento de objetivos comuns e a existência da confiança e

da cooperação entre competidores. Uma rede não necessita, necessariamente,

perdurar infinitamente, ou ainda congregar os mesmos atores ao longo de sua

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existência, para que seja considerada eficaz. O não entendimento desse

pressuposto pode levar à extinção prematura da rede.

Um caminho a seguir na adoção do formato organizacional de rede, é o

estabelecimento, de maneira bastante clara, dos objetivos da rede, das exigências

de desembolsos e do formato da coordenação, por exemplo, que podem constar em

um contrato a ser assinado pelos ingressantes, que permanecem na rede pelo

período de tempo que se fizer necessário, ou seja, a rede é estabelecida em torno

de um objetivo, fixo ao longo do tempo, permitindo a entrada e saída de

participantes que buscam alcançar esse objetivo.

Outro formato de rede, que parece apresentar maior grau de dificuldade se levado

em conta o aspecto de longevidade de uma rede, é o de se unir pequenos ou

médios empreendedores, com características bastante similares, e cujos objetivos

modificam-se ao longo do tempo, porém obedecem às necessidades conjuntas de

seus parceiros. A dificuldade citada acima é atribuída à percepção verificada no

caso do GETER, da complexidade em se unificar os desejos dos participantes, dada

a característica empreendedora do cidadão norte-paranaense, como demonstrado

na contextualização histórico-geográfica da região, mas que também é inerente ao

ser humano de modo geral.

7.2 Quanto à utilização do “Discurso do Sujeito Coletivo”

A técnica de análise utilizada – Discurso do Sujeito Coletivo, ancorada nos

procedimentos descritos por Lefévre & Lefévre (2003), provou ser viável na busca do

conhecimento do pensamento de uma coletividade. Sua utilização porém, deve

respeitar a essência dos depoimentos coletados, que devem ser analisados tendo

em vista a base teórica estudada previamente e que remete aos objetivos da

pesquisa.

Em síntese, o DSC revelou-se ser um trabalho minucioso e exaustivo na busca do

discurso-síntese, e que, ao cumprir todas as suas etapas de forma eficaz, resulta no

pensamento autêntico de uma coletividade, contribuindo primeiro, para que essa

própria coletividade se conheça melhor, ao ter relacionado o seu pensamento à uma

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base teórica comprovada; segundo, auxilia na tomada de decisões futuras, ao expor,

no caso dessa dissertação, anseios e limitações percebidos pelos seus atores, e

ainda, enfatizar aspectos positivos da utilização em rede, que podem ser

incentivadores para novas experiências.

7.3 Sugestões para trabalhos futuros

Com base no estudo desenvolvido e nos resultados alcançados, faz-se as seguintes

recomendações para futuros trabalhos, com o objetivo de ampliar e enriquecer as

abordagens sobre o presente tema:

• Aplicar os pressupostos aqui apresentados em um projeto de rede no setor

turístico, seja ele realizado no espaço rural ou não, e, através do

acompanhamento de seu desenvolvimento, obter indicadores dos benefícios

advindos exclusivamente da aplicação deste formato de organização;

• Sobre o tema “turismo no espaço rural”, avaliar o estado da arte referente aos

seus aspectos de gestão, com ênfase na necessidade de assessoramento e as

formas de realizá-lo, tendo em vista o número limitado de estudos que abordem

esse aspecto específico dessa modalidade de turismo;

• Considerando a dificuldade encontrada no cumprimento do objetivo referente à

exposição de outros casos de redes no turismo, realizar um levantamento

minucioso sobre estudos de casos de redes turísticas já realizados no exterior, e

torná-lo disponível na literatura acadêmica brasileira, para que possa inclusive,

auxiliar no planejamento de políticas públicas direcionadas ao setor.

7.4 Conclusões

O desenvolvimento do tema “organização em rede” nesta dissertação, levou em

consideração o conhecimento prévio do caso apresentado – o GETER, mas

principalmente o desejo de contribuir para o desenvolvimento do setor turístico

como um todo, ao fornecer uma forma alternativa de gestão para pequenos

empreendimentos.

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De forma global, pode-se afirmar que o formato de organização em rede constitui-se

efetivamente em uma alternativa para a viabilização do desenvolvimento satisfatório

do turismo no espaço rural, devendo, entretanto, serem respeitadas as premissas

que se impõem. A apresentação do referencial teórico, casos de redes e a análise

detalhado do caso GETER, visou constituir-se em material de apoio para novas

experiências ou mesmo auxiliar na condução de redes já organizadas, além de

constituir-se no primeiro e importante passo para análise de outros estudos de casos

que possam contribuir para a ampliação das abordagens sobre o tema, visto ter sido

verificado o número restrito de material disponível quando relacionado ao setor

turístico.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM COORDENADORES DO GETER

1. Como surgiu a idéia de REDES, visando o desenvolvimento e fortalecimento do

turismo realizado no espaço rural norte paranaense?

2. Qual é, na prática, o papel da RETUR em relação ao GETER? Como eles se

relacionam?

3. Quanto aos aspectos de formalização do GETER, há um contrato estabelecendo

regras fixas de conduta e ação, ou o desenvolvimento das atividades é livre,

baseado nos interesses comuns de acordo com as necessidades que vão

sugindo?

4. Do início do GETER até o ano 2004, qual era a dinâmica de ação do grupo?

Como se reuniam?

5. Uma rede como o GETER, prevê ao mesmo tempo a dimensão da confiança e

da cooperação, juntamente com a competição. Isso era compreendido pelos

membros do GETER? De que maneira?

6. Como você interpreta a dispersão geográfica do GETER ao longo do tempo?

Essa mudança, de alguma maneira, alterou os objetivos ou o modo de agir do

grupo?

7. Percebe-se, analisando os mapas-guia editados pela RETUR/GETER, que houve

considerável rotatividade de empreendimentos participantes. Em sua opinião,

qual o motivo dessa rotatividade?

8. Considerando a motivação inicial do surgimento do GETER:

a) quais os resultados alcançados pelo GETER, como conseqüência direta

de sua configuração em rede?

b) Quais as limitações/barreiras percebidas, se houve alguma, para que o

GETER apresentasse os resultados esperados?

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APÊNDICE 2: ROTEIRO DE ENTREVISTA COM EMPREENDEDORES

TURÍSTICOS PARTICIPANTES DO GETER

1. Qual a motivação inicial que o/a levou a inserir seu empreendimento no GETER?

2. Como eram/são tomadas as decisões no GETER?

3. Qual o relacionamento entre os coordenadores da RETUR e os participantes do

GETER?

4. O empreendimento turístico já existia antes da inserção no GETER?

(se positivo) Em que aspectos percebeu-se mudanças no negócio turístico?

(se ngativo) Como você identifica os resultados advindos da participação em uma

rede?

5. Em sua opinião, quais aspectos podem ter sido inibidores, caso

reconheça algum, de melhores resultados no contexto do GETER?

6. (para os que saíram do GETER) Qual o motivo que levou seu empreendimento à

saída do GETER?

7. O GETER possibilitou maior e melhor comunicação entre os participantes?

Mesmo que atualmente, a atuação do grupo não seja tão dinâmica como antes,

a comunicação com outros empreendedores turísticos no espaço rural continua?

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APÊNDICE 3: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM WANDA PILLE -

COORDENADORA

Rosana: Então, primeiro eu queria saber como que foi gerar essa idéia de rede para trabalhar o turismo rural. Wanda: Olha, a rede a gente imagina como um laço de interesses né? Nasceu pela... Observando que, isoladamente, as sociedades se colocavam à disposição do mercado, mas sem atingi o mercado. Então a proposta que criamos é justamente isso: fortalecer em grupo. Rosana: Aham. Então tem a RETUR e o GETER, como que é o relacionamento entre eles? Wanda: A RETUR é a instituição, ela é a Rede de Turismo Regional, então ela engloba várias idéias, vários projetos, né? E GETER até já é um dos trabalhos da RETUR – Grupo de Empreendedores do Espaço Rural – então são empreendedores com a mesma característica e com os mesmo interesses. E o relacionamento GETER-RETUR é... bom... a rede coordena o trabalho então esse grupo não nasceu da iniciativa dos proprietários, foi uma proposta da RETUR. Rosana: Certo... Wanda: Tá, então a ligação é justamente essa, o GETER é uma proposta. Rosana: E quanto a formalização do GETER, tem um contrato para ser seguido... Wanda: Bom... não, não, não existe porque não existe nada [ruídos] mas empresários, eles costumam pensar muito no seu território, então é um pensamento individualista, pensamento mais imediatista. Então, é... Pra formalizar teria que ter uma associação. Dentro do grupo, é... [pausa] existiu uma divergência, alguns imaginam que uma associação, é... não dirigida por uma entidade membro que forma a rede, como a RETUR, é..., iria estar prevalecendo os dirigentes. E a gente sabe que isso acontece realmente, o presidente, as pessoas que estão na diretoria, com maior influencia, ela acaba privilegiando, mesmo que ela não queira privilegiar, o seu empreendimento. Então, houve um consenso em associação. Então o GETER ele continua a ser coordenado pela Rede de Turismo. Rosana: Aham... E as ações, como que era feito o planejamento? Era conforme a necessidade, ou já tinha um planejamento prévio do que fazer, do que... Wanda: Eu acho que, é [pausa] o planejamento foi, é... a idéia. A idéia de se ter uma central onde estávamos fazendo uma intermediação, uma referencia para que as pessoas viessem nos conhecer, né? Rosana: A central do GETER? Wanda: A central do GETER. E... os materiais, as casas, a forma que vão se distribuídos, né? E que todas as propriedade devem ter o mesmo material, de

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preferência essa material exposto pra que os hospedes pudessem, é..., ter acesso a esse material, e ... houvesse também um trabalho é... através do SEBRAE, de liderança de grupo, de trabalho em grupo, pra que o grupo entendesse realmente a finalidade de estarmos num grupo empreendedor. Porque, é..., algum empreendedor tem a imagem: “mas eu vou estar divulgando os meus concorrentes?”. Outro empreendedor já imagina: “Puxa, mas esse grupo é... é...” deixa de ver como concorrentes ta? “então não somos concorrentes, somos pessoas do mesmo segmento, um segmento novo, então se tem pessoas divulgando o meu empreendimento, porque eu não vou divulgar o dessas pessoas?” Então é um fator multiplicador. Rosana: Então, a minha próxima pergunta seria basicamente isso... Se na rede você tem a cooperação, mas também são competidores entre si... Wanda: É são competidores, então, é, a gente percebe assim, é..., as reuniões são feitas, cada vez muda os empreendimentos, para que ele fale aberto ao seu concorrente, né? Aberto ao seu parceiro, que nós chamamos de parceiros né? É... No sentido assim, de ver o que é feito nas instalações, uma troca de experiências, o que os hospedes pedem, o que convém e o que não convém. Rosana: E eles conseguiram entender isso? Wanda: Alguns, alguns, nem todos... Rosana: Aham, você acha que é um pouco a falta de confiança e... Wanda: Ah! Eu acho que quando a gente fala em empreendedores a gente está falando em pessoas, né? E o ser humano ele... cada tem uma maneira de pensar, os que realmente entendem o processo eles são muito beneficiados. E os que não entendem, prejudicam o grupo. Porque seguram o processo, eles, é..., seguram informações; eles, é..., as informações tiram muito mais em beneficio próprio. Às vezes há até uma certa deslealdade, porque quando ele teve acesso à uma série de informações, ele procura deixar um tarifário ou um serviço pra sair na frente. Então, eu acho assim: trabalhar em grupo, trabalhar em rede exige um amadurecimento muito grande das pessoas, onde o egoísmo é um sentimento assim..., corrosivo, né? Rosan: Aham... É... Sobre as ações, você falou que houve um trabalho com o SEBRAE de [ruídos] conscientização, teve alguma coisa visando melhorar a mão-de-obra, ahm, os serviços? Wanda: Daí você tem isso dentro do planejamento, né? Então foi trabalhado... é... o que é preciso para que o turismo no espaço rural realmente venha a ser um bom produto. Então entra toda essa parte da qualificação, da... da..., profissionalização do setor. Rosana: Aham... Na observação dos mapas, a gente percebe que o GETER ele se espalhou geograficamente, ampliou sua área de atuação. Você acha que isso alterou a dinâmica do grupo? Ficou mais difícil por causa da dispersão geográfica?

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Wanda: Na verdade o grupo ele acabou se dividindo justamente por esses fatores colocados. Então, é, existe uma seleção natural, as pessoas que se identificam né? Então houve um desmembramento, alguns partiram para uma opção de associação, que não foi adiante; em função disso, ele deu um tempo para amadurecimento. Então o GETER existe como um... é... uma prestação de serviços da RETUR, né? E comunicação. O processo de encontros, debates, estão guardados... e... as acomodações das coisas. Mas manter aberto o espaço não prejudica a parte de [ruídos] É... eu acho que isso desperta uma certa curiosidade e é bem benéfico que o empreendedor não se localize numa só região, né? A gente trabalha o turismo no espaço rural e não delimita os territórios. Rosana: Eu queria perguntar sobre a rotatividade dos empreendimentos, mas é o mesmo motivo, está ligado à essa mudança de dispersão geográfica né? O empreendimento que saí e que... Wanda: Você está dizendo da rotatividade do GETER? Rosana: Dos empreendimentos que participam, que entraram e saíram,os que estão entrando... Wanda: Tem os que estão voltando, né? Então, é... Rosana: Tem empreendimentos retornando? Wanda: Tem, tem. Rosana: Que estão amadurecendo mesmo... Wanda: Amadurecimento... Quer dizer, a principio eles viram a própria RETUR como um concorrente. Eles não entenderam nada, que a RETUR seria, é..., a bandeira, o alicerce né, do trabalho, para manter a essência do trabalho. Então eles começaram a misturar a entidade com os dirigentes... E se existe uma trabalho na mídia, eles já estavam sendo procurados, é..., pra explicar, pra falar, da entrevista, da monografia.. do programa de TV. Então a gente vai falar dos empreendimentos que é a finalidade do GETER... que é focado num grupo, num seguimento. É... então essa visão de concorrência fez com que... é... fez... como é que eu falo? [pausa] Retardou o processo todo né? Vem como uma onda, se todos vão na onda, aquilo fica crescente, então tem que fazer uma variação, uma retomada de posição e de forma de consciência. Rosana: E tem um estatuto que fala sobre regionalização no Brasil, que fala que a maior dificuldade é a... é a concorrência, eles trabalham como cooperadores, com confiança... que nos países desenvolvidos é mais fácil. Wanda: É, então, eu acho que o maior entrave do GETER é a não visão de rede, quer dizer, eu vejo que as propriedades todas tem crescido e até é muito interessante, os que mais amarraram o processo, alguns já saíram do mercado, outros se perderam na identidade, porque daí eles quiseram, é... um pouco de cada coisa. Então perderam o foco inicial. Então a gente percebe os que tem a

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consciência da cooperação, eles tem mais equilíbrio emocional, eles, é..., caminha devagar e sempre. Rosana: Aham, é, além dessa delimitação que você citou, teve mais alguma que você acha que, assim, contribuiu para que talvez não tivesse os resultados esperados? Como uma mídia dos empreendimentos? É por falta de amadurecimento que você falou, e mais alguma coisa? Wanda: Não. Eu acho que é a falta de amadurecimento, já diz tudo né? É, a idéia,... é..., a essência continua, né? É um processo complicado porque não existe um apoio governamental, é, tem que ser uma iniciativa da rede, as perdas, os riscos da RETUR. E eles são apenas os beneficiários e... então de repente, é bom deixar a água correr um pouco mais, é, o amadurecimento profissional haver dentro do próprio empreendimento, dentro da própria concorrência, que eu acho a concorrência muito saudável. A concorrência é uma maneira de amadurecimento. Então eu acho que a única coisa que, é... nas fez, porque eu não tenho o GETER como um [pausa] caso encerrado. O GETER ele existe, e apenas não tem aquela comunicação, que dizer, hoje nós oferecemos um serviço ao GETER e... poderíamos estar fazendo muito mais. Mas até que haja esse amadurecimento, eu vou caminhando por outros segmentos que depois será prioridade [ruídos] Rosana: Agora pensando no GETER nos seus 2, 3 primeiros anos né? Porque eu acho que o inicio é que foi mais ativo. Você conseguiu sentir mudanças nos empreendimentos? Wanda: Muita, muita. Os empreendimentos eles tinham a visão muito... Porque o turismo rural ele, ele tem controvérsias ele é novo, então o próprio... é nós percebemos que é... o próprio órgão que está fazendo os regulamentos do turismo rural, ele fica muito naquele que é o exemplo da Europa, que eu acho que nós não podemos comparar. Na Europa são empreendimentos pequenos, uma outra cultura, os proprietários eles moram nos empreendimentos, diferente do Brasil, é que nós temos várias propriedades do turismo que o empreendedor mora na cidade e... Rosana: É... que as vezes uma propriedade muito pequena ela não consegue sobreviver aqui. Wanda: Exatamente! Então... pra você manter uma característica extremamente rural seria o ideal. Resumindo: seria o ideal para o turismo rural, então acompanha a vida no campo, aquilo ser totalmente produzido no campo, os funcionários serem todos do campo, serem multifuncionais. Mas na prática isso não dá certo. Porque um tratorista, ele não tem como servir um buffet... não é?... É... Hum... Ele pode até ter essa capacidade, mas até esse processo de ele chegar lá. Rosana: São atividades muito diferentes. Wanda: Então, multifuncional é lógico que tem que ser, não tem como ser como num hotel urbano, com uma pessoa por setor... é... então o que nós percebemos aqui na nossa região, eu só posso falar da região aqui por causa de nossos empreendimentos, os próprios usuários não aceitam totalmente que seja uma coisa... é... uma coisa bem característica. Ele quer estar no meio rural, que haja uma

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interação com a natureza, mas ele quer no processo urbano, quer dizer, aos poucos as propriedades vão se obrigando a ter o atendimento à gás, os chuveiros já não é o rural... a ter ar-condicionado, porque se a UH é muito quente, o hóspede não quer deixar o conforto da casa urbana e passar um calor danado. Os sofás e colchão acabam partindo para o modelo americano. Então, uma série de coisas que vão tirando um pouco dessa característica toda. Então, grande porção da exigência de mercado, nós percebemos uma mudança nos empreendimentos. Agora, eles procuram, é... não é todos que conseguem, a gente percebe que há uma simpatia maior do usuário na questão de alimentação seja bem caseira, bem rural, né? É... sucos naturais, feijão tropeiro, geléias caseiras... Então o mercado é uma coisa bem tangível, pra tudo isso teve a ajuda dos hotéis [ruídos] muitas excursões, é... e eles mesmo buscam cursos pra estar melhorando seu empreendimento. Rosana: Através do GETER e da RETUR eles, é.., tinham acesso a algumas linhas de crédito... conhecer o que estava disponível para eles? Wanda: Sim, e alguns até fazem o uso... É claro que as linhas de crédito não deixam de ser créditos, então tem que ter uma visão muito clara, da atenção do uso do crédito. Houve a questão dos seguros, também muito discutida, hoje já existe linhas de seguro, único no segmento. Então, amadurecimento e progresso em mente. Para alguns o que falta é recurso... eu acho que é o que prende a capacitação profissional.

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APÊNDICE 4: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM PROF. JACÓ GIMENES - COORDENADOR Rosana: Bom, Prof. Jacó, eh, eu estou estudando o GETER no período de 2001 a 2004, que é o período que tem mais dados, mapa-guia e pra ver a função da rede no turismo no espaço rural. Eu sei que foi o senhor que começou, e foi a Wanda, a trabalhar esse conceito de redes... O que levou a trabalhar com redes pra fomentar e pra desenvolver o turismo no espaço rural? Prof. Jacó: o conceito de redes nasce, eh.., em 98, em Campo Mourão, em 1998. Eu, na época, era secretário de Desenvolvimento Econômico, trabalhava produtos, comércio e turismo, e nós queríamos, partindo do Carneiro no Buraco, que já era uma referência, criar um, um destino turístico, um roteiro. Então nós imaginamos, é..., a união de municípios que formariam uma rede; fizemos um primeiro protocolo, e conseguimos juntar 10 municípios. A partir daí, nós , em 99, fizemos um outro seminário regional de desenvolvimento, e aí, a idéia foi aperfeiçoada, que não, que só os municípios não seriam suficientes, nós teríamos que ter empreendedores. Aí começa uma semente que virou o GETER. E tínhamos uma seguinte situação: como fazer o conceito de rede desse grupo de empreendedores a tomar uma outra dimensão. Foi aí que nós tomamos uma decisão, de... levar esse movimento, até então liderado por Campo Mourão, nós trouxemos esse movimento pra Maringá, porque Maringá? Porque Maringá é um pólo maior. A partir daí, é..., em, no ano 2000, a gente conhece a Wanda, a Wanda, é..., com idéia de montar um escritório, que seria um pequeno bureau... rural, e aí nós pudemos, é...., ter a evolução daquele raciocínio anterior, que era juntar municípios e juntar empresários. Foi quando, é..., fizemos o primeiro mapa, o primeiro mapa, e aproximamos os donos, os donos das propriedades pra que eles, é..., vissem no GETER uma escola de negócios... Só pra você ter uma idéia, daquele grupo do primeiro mapa, não tinha nenhum turismólogo, eram pessoas, ou eram agricultores, ou eram comerciantes, que tinham entrado no negócio. A Wanda passou a ser a, a, a coordenadora operacional do GETER e se fez uma venda de qualificação. O SEBRAE apoiou, liderando um curso do LIDERAR para esses participantes. E se discutia muito, mas principalmente, é,... o, a essência do GETER foi fortalecer um espírito associativo, cooperativo, já que o grande desafio nosso não é só buscar o turista, em Londrina, Maringá, Cascavel, que são os pólos maiores, nós temos que trazer turistas do estado de São Paulo. Só que um turista do estado de São Paulo, ele não vai vir só pra ir numa pousada, só num empreendimento porque esses empreendimentos não têm, e não vão ter, características de resorts, então, nós teríamos que fazer, é..., uma rede, aonde as pessoas seriam informadas, de possibilidades que teriam à disposição. O primeiro mapa foi um fato histórico, foi lançado na Sociedade Rural de Maringá, Rosana: eu estava lá... Prof. Jacó: Que bom! E você deve ter lembrado que após as palestras, nós fomos pra um outro salão com banners e foi servido um gostoso café rural, e foi numa terça-feira, e o parque, a nossa Sociedade Rural ficou repleta, e mais do que a quantidade, o olhar do ruralista, das pessoas que tem no rural a sua alma, a satisfação de comer um, um pão de queijo, um biscoito de polvilho, é.., enfim, é... , uma lingüiça caseira e coisas do gênero.

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Rosana: E tem a RETUR, e o GETER. Qual que é o ..., o relacionamento entre os dois? Prof. Jacó: Então veja bem: a partir do mapa, esse mapa teve mais duas edições, e deverá ter em 2006 a quarta edição. Hoje, tem-se claro o seguinte: o GETER , na verdade é uma escola de negócios, para empreendedores do espaço rural, uma escola de negócios. A, a rede hoje, hoje não, desde 2003, ela foi institucionalizada, ela foi, é..., estruturada numa OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, e hoje, a, a RETUR, ela trabalha quatro áreas, ela trabalha turismo, ela trabalha agroindústria familiar, ela trabalha, é, educação ambiental, e ela trabalha artesanato. O GETER, ele, ele, ele é mais um trabalho com os empreendedores, e surge, e você poderá dar uma ênfase na tua tese, a partir de setembro de 2003 ganhamos um aliado de peso, o SENAR Paraná – o Serviço Nacional da Aprendizagem Rural. O SENAR Paraná, é..., cria o Programa de Turismo Rural. Hoje, esse programa tem quatorze cursos: seis na área de gestão, três na área de gastronomia, e cinco na área de artesanato. Então, na verdade, é..., esse grupo, que nós pesquisamos, onde se insere o Sr. Mariano, eles passam a ser referência, para essas pessoas que estão cursando o SENAR em todo o Paraná. E a idéia, a idéia é fazer essa aproximação de empresários já, é..., digamos assim, já consolidados, com quem está iniciando. Então a gente vê o GETER não como algo assim,... burocrático, mas a gente vê o GETER com a dinâmica de um movimento para proporcionar a quem quer ser empresário, uma segurança para produzir seus projetos. Rosana: Isso tem um pouco a ver com a minha próxima pergunta: se o GETER tem esse contrato fixo ou as ações vão acontecendo conforme as necessidades... Prof. Jacó: Pois é, a RETUR é uma instituição... ela trabalha com contratos. O GETER, a gente não visa aprisionar o GETER em uma camisa de forças, num departamento da rede, a gente quer ver o GETER algo vivo, porque ainda nós não temos no Paraná uma cultura do turismo, nós temos quem está ganhando dinheiro com o turismo,... nós temos, é, quem está ganhando dinheiro com turismo, nós temos quem pode ganhar, mas, é, não há assim, um, um, uma forma de ver o turismo como negócio. E o grande desafio é fazer do GETER, uma escola de negócios. Rosana: transformar isso num produto mesmo... Prof. Jacó: exatamente. Agora, o GETER, enquanto ele, ele, ele vai nessa, nessa, nesse speed de caminhada, ele também passa a ser uma distinção. Quando alguém vai numa propriedade, e vê estampada num folder, como você viu no cartão da Pousada Gabiroba, a logo do GETER passa a ser , a ser um aval de qualidade. Então, de repente, teremos, nos próximos anos, é..., o GETER também sendo visto como um selo de qualidade. Rosana: Agora, estudando redes a gente vê que dentro de redes não têm é, não é uma contradição, mas é...,são pessoas do mesmo ramo que tem que ter confiança, cooperação, mas competem entre si também. Dentro do GETER as pessoas compreendiam isso?

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Prof. Jacó: Não. Isso aí foi um aprendizado. É, alguns fios de cabelos ... brancos eu ganhei por isso. Nós no Brasil, nós temos que ser mais associativistas, e eu tenho que ser associativista não só na hora que me interessa, eu tenho que ser... em todas as horas. Então um dos problemas que nós encontramos no GETER,e eu tive que fazer uma intervenção, é que... uma pequena parte da primeira formação do GETER, queria, se apoderar, dessa força, e não queria abrir pra novos participantes. Então, eu fui muito duro, e afastei essas empresas que não convém agora mencionar. Porque eu, como professor, eu não quero ver formação de cartel, eu, eu quero ver instrumentos de crescimentos, e o que que nós fazíamos para testar se havia ou não um sentimento de associação. Como você viu, o mapa tem todas as propriedades, um dos requisitos é que quando eu me instalava na sua propriedade, você dava um mapa pra mim. Ao você me dar o mapa, você estaria divulgando outras dez propriedades. E aí, o que aconteceu? Uma minoria sumiu com os mapas, porque achou, que ao entregar o mapa, estaria, desviando os turistas para outros membros da rede. Esses, esses, mostraram que eles não têm uma cultura do turismo, porque a idéia do turismo pra dar certo é, eu divulgo o outro e o outro me divulga. Eu recomendo o outro, e o outro me recomenda. Mas, felizmente, a maioria entendeu, e é por isso que o GETER continua até hoje. Rosana: Analisando esses mapas que foram publicados, a gente percebe que houve uma dispersão geográfica, né? Prof. Jacó: Na verdade, é o seguinte, as coisas são dinâmicas. Esse mapa era pra ser só pra região de Campo Mourão. Aí nós fizemos uma análise: Campo Mourão não é o centro maior, o centro maior é Maringá. Trouxemos pra cá a idéia, a partir do momento que lançamos o primeiro mapa, nós tivemos por exemplo, é..., a propriedade, o Ouro Verde, Fazenda Ouro Verde foi desativada, então ela deixa o mapa, mas nós fomos procurados por outras, outras propriedades, de outras regiões, que não tinham um trabalho de organização do setor, e aí nós não tivemos dúvida, nós fomos para Fernandes Pinheiro, na FazendaVirá, e no último mapa nós estamos em Campo Magro, apenas a quarenta quilômetros de Curitiba, porque? Porque lá tem o Recanto Nativo, é uma, um sítio-pousada, cujo maior atrativo são os orgânicos, mas que não tinha nenhuma estratégia de... promoção do empreendimento. Seguramente, na edição 2006, outras regiões farão parte do mapa. Rosana: ahan, é dinâmico, né? Prof. Jacó: é dinâmico. Rosana: é... considerando a motivação inicial do GETER, quais os benefícios que o senhor consegue ver como conseqüência direta da configuração em rede? Prof. Jacó: Olha, veja bem, as pessoas passaram a se comunicar mais, é, na maior parte dos empreendimentos, você tem a parte de hotelaria, é, isso aí é, isso aí um aprendizado próprio. A questão do, da comercialização, dos valores, a questão dos serviços, a questão de você ter o fortalecimento do setor, por exemplo, em 2002, a Rede Paranaense (de televisão), dedicou todo uma série do verão de 2002 para o GETER, certo? Então, em uma determinada semana, nós tivemos de segunda a

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sexta-feira, cada dia uma propriedade, e você acabou de ver agora pouquinho. Então, é, o ganho, o ganho, ele é, é, ele é visível, hoje, hoje é, você pode dizer, que esse setor existe, embora não tenha recebido nem do governo federal, nem do governo estadual, nenhum apoio concreto. Então, eu posso dizer pra você, o que motiva a continuar com o GETER, que ele foi uma resposta da cidadania dos empreendedores pra fortalecer uma área que agora contribui com os governos, na, na geração de emprego e impostos. Rosana: E o senhor consegue perceber algum motivo que possa ter inibido o GETER, para resultados melhores? Alguma barreira... Prof. Jacó: não, eu, eu, fora as limitações de nós, tanto da minha pessoa, como da Sra. Wanda Pille, na, na coordenação que a gente pode ter,é, em determinado momento, não ter percebido, o alcance, eu vejo, que... os resultados não foram maiores porque nós não tínhamos uma consciência da força do associativismo e por uma falta de cultura do turismo. Agora, a partir do GETER nós conseguimos, que a VIAPAR, que é concessionária de várias praças e trechos estratégicos, como rumo Londrina, rumo Paranavaí, rumo a Cascavel, enfim, Maringá, é, abriu, porque existia o GETER, porque eles não iriam abrir pra atender o João, a Maria, o André. Agora, cabe, a, a rede agir como uma promotora da qualidade do serviço e cabe aos empresários uma união pra custear o suporte pra que possam competir no mercado. Rosana: há um processo de amadurecimento... Prof. Jacó: amadurecimento, é se você me perguntar se eu começaria novamente? Eu faria tudo de novo e com mais paciência, porque eu descobri que a paciência é uma virtude revolucionária. E os resultados ocorrem, só que quando você está muito perto, você não consegue dimensionar. Mas, você que está fazendo o seu mestrado, outros que fizeram especialização, viram a, o alcance, de você juntar pessoas de uma mesma área, pra crescer e como você trabalhar a relação de municípios e empresas, e instituições na forma de rede. Rosana: ta bom. Muito obrigada professor Prof. Jacó: Valeu!

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APÊNDICE 5: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM EMPREENDEDOR 1 (E1) R: Primeiro eu queria saber qual o motivo da sua decisão, o que levou o senhor a participar do GETER, quando entrou? E1: Na época que começou-se a montar o GETER, na verdade o professor Jacó me procurou, né? Eu estava começando nessa área, achei interessante iniciar esse trabalho, nem sabendo direito o que ia dar, por isso começamos e levamos até a um certo tempo, mas não teve uma motivação especifica... a procura dele... [ruídos] R: Você tinha uma expectativa sobre o que seria esse grupo? E1: Não, entrei sem muito compromisso. R: E como eram as decisões do GETER? E1: Eram feitas reuniões e ficávamos discutindo sobre, para tentar achar um caminho. R: Daí as necessidades iam surgindo? E1: Isso! Ia surgindo, por exemplo, a necessidade de treinamento, para capacitação, melhoria de alguma coisa, o grupo se reunia, votava e viabilizava isso, com o SEBRAE e a Universidade [Universidade Estadual de Maringá]. R: E como que era o relacionamento da RETUR.. dos coordenadores da RETUR com o GETER? E1: Bom, não tinha nada a ver uma coisa com a outra. O GETER era uma coisa e a RETUR era outra. R: É... o empreendimento de vocês já existia antes do GETER? E1: Existia, mas não estava ainda funcionando como pousada e tal. Tava começando a me encontrar no segmento. R: E vocês notaram alguma mudança no empreendimento... E1: Pra melhor você diz? R: É. E1: A própria reunião com o pessoal, daí você vai trocando experiências, um vai dizendo o que fez, o que não fez... [ruídos] R: Na sua opinião, quais os aspectos que podem ter inibido os resultados do GETER?

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E1: Inibido? R: É, que possa ter limitado? Tem algum aspecto, tem... E1: Não, não... pelo contrário, né? Só somava. R: Qual o motivo que levou a saída do empreendimento do GETER? E1: Então, o GETER, até certo ponto foi viável, né? A partir de um certo ponto, como havia a própria necessidade, no caso da Wanda e do Jacó, de haver uma remuneração e etc. Daí gerou de certa forma um descompasso entre eles e o grupo. Eles tem que ter um rendimento e tal. Então o GETER passou, por causa da Wanda né? Que é o escritório do turismo rural, ela passou a ter uma função mais de agência. Não houve uma ruptura nem nada. Foi só que, de certa forma, aqueles que continuam no GETER, continuam com a Wanda; ela vende diárias e ganha por isso. Só que a necessidade que partiu da época era mais de um grupo sem fins lucrativos entre as pessoas, era mais ir tocando num sentido de viabilizar... R: A atividade... E1: Dividir custo de divulgação... mais nesse sentido de custos. Mas no mais assim ó, a receita, a mensalidade que o pessoa paga pro grupo, ela é revertida em ações de divulgação. R : Era paga, então, uma mensalidade? E1: É, a gente pagava uma mensalidade no GETER. R: Tinha algum contrato? E1: Não, era tudo informal né? Não tinha, mas foi uma experiência boa, válida, todos tem seus créditos, a Wanda, o Jacó. Na verdade, todos eles, todo mundo cresceu junto. Só que chegou num momento que tem que ter essa divisão, né? Então hoje a gente, uma parte que é o GETER, hoje tem uma associação que é diferente do GETER. Ela não visa nada de lucro. R: Qual é o objetivo dessa associação? E1: É de continuar, continuar... é... com a idéia de sempre estar melhorando tecnicamente, a estrutura interna, a divulgação, é, a divisão dos custos, viabiliza mais. É nesse sentido aí. Estar divulgando as pousadas mais, e sempre estar reunindo no sentido de estar melhorando a... a parte funcional, o antendimento. R: É, você já havia comentado que um dos princípios do GETER foi a comunicação com os outros empreendedores. E1: A própria experiência do GETER, todo mundo começou do nada né? O Jacó, a Wanda com a gente, começou todo mundo junto né? Então o negócio começou sem estar formatado.

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R: Essa comunicação, ela continua, mesmo não fazendo mais parte do GETER, continua...? E1: Comunicação você diz... R: Com os outros empreendedores. E1: Não, é que no nosso caso a gente segmentou. O caso do GETER ele é mais abrangente. Ela tinha propriedades que eram pousadas, vários tipos de propriedades, então nos achamos vários casos específicos, então tinha que focar. Nós focamos num segmento que é o nosso: as pousadas. R: E você diz que é preciso ter uma qualificação para entrar. E1: É, no caso atual, a associação que a gente montou, a gente não está preocupados em números, a gente está preocupado em qualidade, então as pousadas que eventualmente querem afazer parte, elas são avaliadas e é fornecido um relatório para elas com o que elas precisam fazer para fazer parte. Existe um pré-requisito mínimo, que é a partir do momento que ela entrar para a associação [ruídos] ela tem uma certa avaliação. R: Para chegar nesse ponto elas vão sozinhas ou vocês dão algum apoio? E1: A gente vai até elas, existe uma comissão que faz a vistoria, e aponta o que está faltando. A gente se baseia, por exemplo, na classificação da EMBRATUR. Existe uma classificação, é mais para hotéis, mas a gente pega aquilo lá e dá uma amenizada ali nos pré-requisitos. Então ela tem que ter um mínimo ali de qualidade. É lógico, ela tem que ser higiênica, qualquer coisa que tiver anti-higiênico na pousada ela já está no zero. Ela tem que se adequar, a higiene, a limpeza e o básico dos serviços. Se ela atender a esses requisitos, ela pode fazer parte da associação; R: Então, a tendência é sempre melhorar... E1: É, a gente tem reuniões periódicas, normalmente uma vez por mês, que é sempre comentado como é que ta, o que que faz para melhorar. E as vezes a gente participa também de feiras, daí o custo é rateado, sem dúvida nenhuma, a gente analisa o custo e rateia. R: E para fazer a parte da associação também tem um custo? E1: Tem o custo da adesão, esse custo é cobrado um salário mínimo e meio. Que é pra custear o levantamento que é feito. R: Tá ótimo então. Obrigada pela atenção.

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APÊNDICE 6: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM EMPREENDEDOR 2 (E2) R: Primeira coisa, eu gostaria de saber qual a motivação inicial, assim, que levou o senhor a participar do GETER, quando ele iniciou... o senhor está desde o início, né? E2: Sim, sim. Então nós se alinhamos a uma idéia, né, com o Prof. Jacó, com a Wanda, com os outros empreendedores, (falando em Jacó, ele vai chegando ali...), R: ai que bom! E2: e com os outros empreendedores com o intuito de se fundar assim um..., uma coisa organizada, dar uma identidade pra nossa região, falando em turismo, que até então, não se falava, né? O Prof. Jacó foi o grande motivador, né, da, da, do turismo na região. Se não fosse essa dinamicidade, essa, idealismo dele na cultura do turismo, não estava acontecendo o que acontece hoje. R: Oi Wanda. Tudo bom? Tudo bom. Conversando com ... E como vocês tomavam as decisões no GETER, E2: as decisões eram reuniões, nós fazíamos reuniões mensais, né? O pessoal levava uma pauta pra discussões nas reuniões, né? E tinha aprimoração do grupo R: certo. É, o relacionamento entre os coordenadores da RETUR, no caso a Wanda e o Prof. Jacó, e os participantes, os empreendedores. Como que era? E2: você fala no sentido... R: é, dentro do, do GETER E2: uma harmonia entre o pessoal..., sim tinha, se conduziu inicialmente muito bem, né; as idéias contatenadas, né, tudo era uma coisa nova pra nós empreendedores e pra quem... né? no caso da Wanda, que foi ... (?) o Prof. Jacó, que foi o grande artífice, né Então as coisas eram assim de maneira harmônica, todo mês nós nos reunimos, né... R: todos os meses então? O empreendimento do senhor já existia antes do GETER, ou não? E2: foi tudo junto, foi nessa, nessa, nessa,... Mais ou menos no mesmo momento do surgimento do GETER também eram as propriedades que estavam ainda sem identidade, né, elas existiam, mas existiam assim mais pelo feeling do empreendedor, não tinham um foco, né; foi uma or..., o GETER veio pra mais ou menor organizar esse segmento. R: Ele auxiliou bastante então ... E2: sim, e continua, continua auxiliando.

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R: continua, ahan. É, a gente vê que hoje ele não tá, como a gente já falou, tão dinâmico como era no princípio. E2: correto. R: o que o senhor acha que aconteceu? O que faltou? E2: É lógico que com o, com o grupo, né, ampliou-se, foi aberto pra mais empreendedores, né? Surgiram novos empreendedores e também novas idéias, né? Com certeza. E algumas idéias fugiram um pouco do foco original, né? E até por causa do, dos empreendimentos não terem, não tem como haver uma padronização, né. Então é lógico, cada um tem um empreendimento voltado pra um determinado foco, e as coisas aconteceram e as idéias não bateram. R: ahan. É, assim dentro do estudo das redes, a gente vê um , um dos principais pontos a comunicação que se estabelece entre os participantes, né? É, mesmo, às vezes não tendo mais essas reuniões mensais agora, continua essa comunicação entre os empreendedores? E2: Olha, assim como era antes, talvez não. Mas há assim, há um conhecimento, há uma amizade, é um ramo de, não é, não é um ramo de concorrência, é um, é um ramo de uns se ajudam, é um elo, cada empreendimento é um elo na corrente, né? Então a gente tem que torcer pra que todos vão bem. Por isso que as coisas funcionam, por isso que é interessante que o GETER volte a ativa. R: eu acho que é isso o que eu precisava. E2: é isso? Ta ótimo R: Obrigada. E2: valeu.

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APÊNDICE 7: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM EMPREENDEDOR 3 (E3) R: Bom dia. Primeiramente eu gostaria de saber qual a motivação inicial que levou o senhor a inserir seu empreendimento no GETER? E3: o motivo principal foi a perspectiva de ter uma divulgação maior do meu empreendimento através do GETER, que já estava fazendo um trabalho assim com outros participantes. R: E como são ou eram tomadas as decisões no GETER? E3: atualmente está desativado. R: Como era o relacionamento entre os coordenadores da RETUR e os participantes do GETER? E3: O nosso relacionamento era bom e amistoso R: E o seu empreendimento turístico, já existia antes da inserção no GETER? E3: Sim, já existia. R: E você percebeu alguma mudança no negócio turístico? E3: Sim, a partir da participação no GETER percebemos uma melhora no negócio, pois a repercussão de um grupo é sempre maior. R: Em sua opinião, quais aspectos podem ter sido inibidores, caso reconheça algum, de melhores resultados no contexto do GETER? E3: a característica sazonal do turismo prejudica bastante a atividade turística. R: E qual o motivo que o levou a sair do GETER? E3: saímos pela necessidade de conter gastos no período de baixa temporada. R: Em sua opinião, O GETER possibilitou maior e melhor comunicação entre os participantes? Mesmo que atualmente a atuação do grupo não seja tão dinâmica como antes, a comunicação com outros empreendedores turísticos no espaço rural continua? E3: possibilitou sim, porém, com a dispersão do grupo essa comunicação diminuiu.

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APÊNDICE 8: TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM EMPREENDEDOR 4 (E4) R: Bom, primeira coisa E4, eu queria saber qual motivação assim, a primeira, que levou vocês a participar do ..., de entrar no GETER, ..participar do grupo E4: Bom, a gente estava iniciando na época, né. É,... estava lá embaixo na estação de lazer, estava a pouco tempo, a gente não tinha muito conhecimento de..., dessa parte de turismo, né, daí eles convidaram, até na época era o prof. Jacó e a Wanda, eles convidaram e a gente achou interessante, mesmo pra ter assim uma troca de informações, experiências, pra conhecer outros lugares também. Foi mais por esse motivo. R: Você se lembra como eram tomadas as decisões, se eram em conjunto,... E4: É, normalmente era assim, ... fazia as reuniões e era pela maioria, era colocado os assuntos, né, e a maioria decidia. R: Os próprios empreendedores levantavam as necessidades? E4: Sim. Isso, isso. R: E qual era o relacionamento entre os coordenadores, o Prof. Jacó e a Wanda, e os empreendedores? E4: Era acho que era bom, o relacionamento era bom. R: Você já falou que vocês estavam começando, né? Você percebeu alguma mudança, você acha que o GETER auxiliou no desenvolvimento do hotel-fazenda? E4: A gente não tinha o hotel na época, né? Quando tinha o GETER não tínhamos o hotel. A gente estava começando a amadurecer a idéia para a construção e tudo do hotel, né? Depois que a gente construiu o hotel, né? R: No balneário você acha que teve alguma mudança? E4: Eu acho que foi bom sim, porque, a gente trocava bastante idéias com o pessoal: Onde buscar, como fazer divulgação, e tudo isso no início ajudou bastante. R: E você acha que teve algum fator que, ... que foi inibidor, que poderia ter sido melhor mas não foi por algum motivo; dentro das reuniões, ou no trabalho que foi desenvolvido? E4: Não sei, de repente alguns dos, dos participantes, é... R: Não colaboravam? E4: Às vezes eram contra as idéias. Às vezes até porque, não por ser contra, mas de repente até porque pro empreendimento dele, o que se colocava não... Podia ser bom pra uma grande parte, pro dele não era interessante, né?

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R: você acha que tinha uma grande diferença entre os empreendimentos? De tamanho, de público alvo? E4: ah, tinha né? Porque, diferença sim, porque eu acho que de todos, nenhum era igual, todos eles, cada um tinha uma característica diferente. R: isso pode ser um motivo? E4: eu acho que de repente sim, porque alguns queriam mais, outros não conseguiam acompanhar, mesmo pela demanda do seu empreendimento, às vezes segurava um pouco, né? R: Bom, o GETER não está mais... funcionando? E4: não, não existe... R: Vocês saíram antes dele terminar ou foi... E4: Olha, eu acho que foi acabando, foi acabando...; aí ficou aquele pessoal, ficou com o escritório de turismo, no lugar do GETER eles montaram um escritório de turismo rural, que funciona tipo uma agência. Faz reserva, faz divulgação, às vezes representa algumas das propriedades em eventos. Eles convidam, quem quer que eles representem, eles vão representar nos eventos... R: Aí você já falou que uma das vantagens era a troca de informações. Essa comunicação continua? E4: É, depois que foi extinto o GETER, daí foi fundado o circuito das pousadas, que nós fazemos parte ... Funciona mais ou menos tipo uma associação, né? Uma associação onde tem um escritório que representa todas as propriedades que fazem parte do circuito né? R: Vocês continuam trocando informações... E4: Sim, sim... tem reuniões periódicas pra... verificar o que um precisa, o que que o outro precisa, o que pode ser feito. Se tem um evento, quem quer participar, quem não quer... isso é feito ainda. Como fazer uma divulgação... às vezes alguém pensa num tipo de divulgação, aí já passa pros outros; aqueles que acham interessante, participam, os que não acham, ficam de fora, não participam. R: Você acha que essa idéia dessa outra associação nasceu no GETER? O GETER facilitou, já que os empreendedores se reuniam lá? E4: Eu acho que de repente sim. Mas assim, é..., foi diferente um pouco da..., a filosofia acho que é um pouco diferente do GETER. O GETER tem os coordenadores que precisam ser remunerados, e nessa nova associação são os próprios proprietários que coordenam. Acho que foi um aprimoramento da idéia inicial do GETER. R: Acho que é isso. Muito obrigada!

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ANEXOS

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ANEXO 1:

FRENTE MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2001

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ANEXO 2:

VERSO DO MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2001

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ANEXO 3:

FRENTE MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2002

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ANEXO 4

VERSO DO MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2002

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ANEXO 5

FRENTE MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2004

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ANEXO 6

VERSO DO MAPA DO TURISMO REGIONAL – EDIÇÃO 2004