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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO GESTOR NA MEDIAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO Por: Bianca de Macedo Abreu Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Niterói 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO GESTOR NA MEDIAÇÃO DO TRABALHO

PEDAGÓGICO

Por: Bianca de Macedo Abreu

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Niterói

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO GESTOR NA MEDIAÇÃO DO TRABALHO

PEDAGÓGICO

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Administração e Supervisão Escolar

Por: Bianca de Macedo Abreu

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AGRADECIMENTOS

Aos familiares e amigos que acreditam em

meu potencial, em especial a Rosângela

Duarte que encorajou-me a realizar outra

pós, após 13 anos distante do meio

acadêmico, e a Andréia pelo carinho,

companheirismo e ajuda em todos os

momentos, inclusive no mundo digital.

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha irmã, Juliana, e ao meu

sobrinho, Paulinho, que vibram com

minhas conquistas e minha atuação como

gestora de escola pública. Aos meus

afilhados, amigos, aos alunos e colegas

de trabalho que proporcionaram troca de

experiência e escuta sobre fatos

cotidianos da escola;

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RESUMO

A escola pública enfrenta uma série de dificuldades, desde a infra estrutura

deficiente às condições dos alunos, passando muitas vezes pela desvalorização

do professor. Portanto, a gestão escolar está limitada para resolver todas essas

questões, mas no entanto, o gestor deve investir no potencial de trabalho de toda

sua equipe. E para isso, é fundamental conciliar o trabalho administrativo e

pedagógico, oportunizando assim, a participação, a possibilidade de escutar toda

a comunidade escolar, e desta forma, articular ações para a melhoria da qualidade

de ensino.

Discute-se o trabalho da equipe pedagógica (gestão e supervisão) e a

presença da teoria e prática no fazer escolar e as diferenças entre estes papéis

em escolas públicas e privadas.

A discussão sobre uma teoria para a administração escolar é algo que vem

sendo exaustivamente analisado na última década. Pensar uma teoria geral para a

escola é um desafio. Desafio porque estamos vivendo um período de quebra de

paradigmas, a substituição da visão da gestão mais centralizada e autoritária por

uma mais aberta, democrática e focada nos processos pedagógicos.

Desvincular-se da teoria da gestão em um perfil majoritariamente

administrativo dentro da escola requer um trabalho de conscientização muito

profundo e nada simplório, pois envolve não apenas os profissionais ligados a

administração, mas também professores e pais, direcionando a todos para novas

formas de pensar, pois as questões pedagógicas devem ser norteadoras das

ações planejadas para uma unidade escolar pela comunidade escolar, tendo o

gestor como mediador deste processo.

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METODOLOGIA

A pesquisa a seguir é em decorrência de estudos bibliográficos em livros

sobre o tema, reportagens, consultas à Internet e através de fatos, experiências e

observações do cotidiano de escolas públicas que trabalho, demonstrando como a

gestão escolar necessita de consonância do administrativo e pedagógico para

promover uma atividade globalizada e efetivamente mais educacional.

A administração está tão enraizada que acreditar em mudanças é pensar

em outro tipo de organização escolar, fora da visão tecnicista, autoritária e de

fazeres mecânicos, sem reflexão e sem vida. Sugere-se então que as

organizações escolares aproveitem os conhecimentos da realidade prática.

“... construir seus modelos explicativos, isto é,

valorizar o conhecimento das formas concretas de gestão

escolar, direcionando-o à formulação de hipóteses de

solução para os problemas identificados.” (RUSSO, 2004, p.

34).

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULOS 10

I – Histórico dos papéis do Supervisor e Gestor 10

II – Gestão na Escola Particular e na Pública 16

III – Gestão Participativa na Escola Pública 22

CONCLUSÃO 32

ANEXO 34

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 36

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INTRODUÇÃO

Repensar a escola, especialmente frente ao contexto educacional presente,

está tornando-se uma prática comum aos profissionais da educação. Nunca se

discutiu tanto e buscou-se estudar uma nova possibilidade de escola como nos

tempos atuais. O desejo e a necessidade de se construir uma educação mais justa

e igualitária em termos de acesso e permanência parece ser a meta ambicionada

por todos. Em específico abordaremos o papel do gestor de escola pública como

um dos contribuintes para a transformação educacional na inferência direta no

trabalho pedagógico como mediador.

A etimologia da palavra educação já convida a um paradoxo. Advinda do

latim “ex-ducere”, educar significa literalmente “conduzir para fora”. Nesse sentido,

ela pode ser identificada com uma espécie de exteriorização, ou formas de

conduzir uma exteriorização (movimento de dentro para fora).

A idéia implícita nessa significação remete à alimentação do potencial de

cada indivíduo, de maneira a estimular o aprendizado, ou à mudança de

comportamento (transformação interior) mediante o uso da razão (de dentro para

fora).

Outro sentido comum da palavra educar é o de alimentar, nutrir. Nesse

caso estamos falando de um movimento contrário ao da exteriorização, ou seja, o

de interiorização de algo, mais especificamente de um conhecimento que é trazido

de fora com o objetivo de somar, de abastecer o sujeito. Portanto, o gestor, assim

como o sentido comum da palavra educar, deve alimentar, nutrir o grupo de

educadores da escola através de seu envolvimento efetivo e eficiente na

mediação pedagógica a partir do princípio da gestão democrática, quebrando

desta forma alguns paradigmas.

Segundo Piaget, a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão de regras

sociais não são inatas, ou seja, pré-formadas, nem são impostas de fora para

dentro, por pressão do meio. São construídas por cada indivíduo ao longo do

processo de desenvolvimento.

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9Educar não é uma tarefa específica da escola, portanto, é importante a

contribuição do gestor para motivar o grupo de educadores, efetuar esta mediação

pedagógica junto com os pedagogos para possibilitar esta transformação social

dentro da escola.

O que deve ficar claro para o gestor escolar é que administrativo deve estar

a serviço do pedagógico, isto é, deve servir de suporte para a execução dos

objetivos educacionais da unidade escolar. Entretanto, na gestão de uma escola, a

preponderáncia dos aspectos pedagógicos sobre os aspectos administrativos

ainda é, para muitos gestores, um grande desafio a ser vencido. Isso se dá devido

à forma como a gestão das escolas públicas está estruturada.

“...Se a escola tem como missão principal “educar”...é

preciso pensá-la e organizá-la tendo como norte este

objetivo. E os espaços de formação necessitarão refletir

primordialmente sobre a questão de educar.

Surge neste contexto a idéia de projeto de escola,

onde a reflexão e a ação, bem como a pesquisa-ação

cumprem seu caráter norteador.

É uma escola que sabe onde está e para onde quer ir.

Pensa-se, tem um projecto orientador de ação e trabalha em

equipe.

É uma comunidade pensante. Ao pensar a escola, os

seus membros enriquecem-se e qualificam-se a si próprios.

Nessa medida, a escola é uma organização simultaneamente

aprendente e qualificante.” (ALARCÃO, 2004:84 e 85)

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CAPÍTULOS

Se “educar para valores” é importante para todos, é

necessário que cada um se comprometa por fazê-lo dentro e

fora de seu “espaço imediato de trabalho”.

(Autor desconhecido)

I – Histórico dos papéis do Supervisor e Gestor

Neste capítulo há intenção de destacar fatos históricos com maior

relevância a fim de melhor entendimento dos papéis do pedagogo (supervisor) e

do gestor. Ressaltando que originalmente a palavra escola, como se sabe, deriva

do grego tendo como significado etimológico, o lugar do ócio, contrapondo-se

desta forma, a educação da maioria envolvida com o processo de trabalho, ou

seja, destinado aos membros da classe dominante que não precisavam viver do

mesmo.

Nesta mesma época a manifestação da função supervisora pode ser

encontrada na figura do pedagogo tal como se configurou na Grécia.

Etimologicamente significando aquele que conduz a criança ao local de

aprendizagem, o pedagogo era inicialmente, na Grécia Antiga, o escravo que

tomava conta da criança e a conduzia até o mestre do qual recebia a lição. Sua

função desde a origem, era a de estar constantemente junto às crianças, tomando

conta delas, isto é, vigiando, controlando, supervisionando, portanto, todos os

seus atos.

Para ilustrar segue a citação do texto de Dermeval Saviani,

“...como na Antiguidade, também na Idade Média,

tínhamos a classe dos proprietários de terra (os senhores

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11feudais) e a classe dos não proprietários, agora

predominantemente constituída pelos servos.

Consequentemente, também na Idade Média, à educação

escolar, destinada aos membros da classe dominante que

não precisava viver do próprio trabalho, se contrapunha a

educação da maioria da população, determinada pelo

trabalho.”

Mesmo na época acima mencionada os membros da classe dominante

eram dominados pela política educacional implantada, pois mesmos estes que

tinham o “privilégio” de estudar, não tinham o direito de refletir, expor suas

próprias opiniões perante aos fatos, como é embasada na dialogicidade a escola

reflexiva, no trabalho em grupo, desde a gestão, supervisão, coordenação, corpo

docente, alunos até aos responsáveis, com a finalidade de que este “colegiado”

possa participar ativamente das ações educativas.

A idéia de supervisão surge no Plano Geral dos Jesuítas, o chamado Ratio

Studiorum, que é adotado no Brasil em torno de 1570. Tal plano é constituído por

um conjunto de 30 regras a fim de regular o trabalho do então Prefeito Geral dos

Estudos.

A regra n° 01 estabelecia que é dever do prefeito organizar os estudos,

orientar e dirigir as aulas, de tal arte que os que frequentam, façam o maior

progresso na virtude, nas boas letras e na ciência, para a maior glória de Deus. A

regra n° 05 determina que ao prefeito incumbe lembrar aos professores que

devem explicar toda a matéria de modo a esgotar, a cada ano, toda a

programação que lhe foi atribuída.

Podemos estabelecer um paralelo de tais regras com nosso atual Projeto

de Lei n° 4.412 de 2001 que regulamenta o exercício da profissão de Supervisor

Educacional e dá outras providências. Em seu Artigo 4° - São atribuições do

Supervisor Educacional:

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12I – coordenar o processo de construção coletiva e execução da proposta

pedagógica, dos planos de estudos e dos regimentos escolares.

II – investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em

integração com outros profissionais da Educação e integrantes da Comunidade;

III – supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos

legalmente;

IV – velar o cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos estabelecimentos

de ensino;

Tais Regras e Leis citadas anteriormente vem no sentido de

nortear/fundamentar a ação supervisora instituindo-o como figura importante no

processo educacional. Em uma escola reflexiva é necessário que o supervisor una

teoria e prática, prática e teoria, ambas caminhando juntas, ou seja, a teoria

enriquecendo o fazer diário, a experiência.

Já em 1932 com a divulgação do “Manifesto dos pioneiros da educação

nova” foi formulado um plano de conjunto para a reconstrução educacional do país

segundo a visão dos novos profissionais da educação que, embora oriundos de

outras profissões, como o jornalismo, o direito e a medicina, postularão que:

“...os trabalhos científicos no ramo da educação já nos

faziam sentir, em toda a sua força reconstrutora, o axioma de

que se pode ser tão científico no estudo e na resolução dos

problemas educativos, como nos da engenharia e das

fianças” (Manifesto, 1984:409)

Nesta época Anísio Teixeira insistia que a educação não é um privilégio

enquanto Florestan Fernandes considerava que o elemento central da educação

está na escola e, dentro da escola, na sala de aula. E ainda destaca que:

“...a educação, nesse processo, acaba não sendo um

elemento excessivo; ela acaba sendo aquela cadeia que falta

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13para que os excluídos e oprimidos adquiram uma

consciência de que a sua liberação depende da sua

consciência crítica e que essa consciência crítica, pode

passar por um tipo de educação que não seja conformista,

mas sim ativista e militante.”(Fernandes, 1991:41)

Tomando o contexto histórico da década de 70, situou-se a escola, e

especialmente a sua gestão, sob a ótica da “administração empresarial,

produzindo-se em relação ao currículo, bem como ao modo de organizar a escola

e avaliar o desempenho dos professores e alunos, experiências que permitiram

identificar de modo mais generalizado e, também, de modo mais particular, a

tendência em curso” (Rosar, 1999, p.166), que tendia para uma educação

massificadora, cuja intencionalidade se firmava na formação da força de trabalho

do mercado em desenvolvimento.

Deste modo, a gestão escolar baseada em um modelo burocratizado e

tecnizado reforçava a tese, ou melhor, a prática da divisão do trabalho,

configurando a escola como espaço legitimador da ideologia mercadológica. e do

trabalho fragmentado.

Para o contexto histórico situado cabia a homogeneização dos currículos, a

padronização das formas, a hierarquização das atividades e sobretudo, a

formação em massa de sujeitos, possíveis reprodutores da lógica vigente.

Contudo, o movimento da própria história mobilizou, na tentativa de

deslocar o conceito burocrático de gestão, especialmente na década de 80, um

conjunto de ações em prol da escola pública e democrática, abarcado pela

Constituição Federal de 88, que determinava em seus artigos, a saber:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

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14I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o

saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de

instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,

planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e

títulos, aos das redes públicas;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade.

Assim sendo, esta década de recessão econômica de um lado e, de outro

de fortalecimento da resistência ao trabalho pedagógico instituído, as políticas

educacionais em voga (e portanto, ideológicas) redefiniram, ou tentaram redefinir

o curso da escola pública, ampliando as possibilidades e debates em torno do

conceito e práticas democráticas de gestão da educação.

Não obstante, obscurecido pelo processo de reorganização do modus

operandi, iniciado ao final da década de 80 e fortalecido na década de 90, as

formas de gestão da educação, respaldadas pela política pública do período,

retomam as discussões da gestão administrativa e gerencialista da educação,

optando pela moderna teoria da administração educacional, mais uma vez

atualizada a transposição das teorias e práticas empresarias renovadas pelas

imposições do processo produtivo. Esta noção, transportada do mercado de

trabalho, vai delimitar para a escola a chamada Gestão Compartilhada, entendida

nos moldes da Gestão da Qualidade Total, subsumindo a escola aos “valores” da

produtividade e eficiência. Contudo, de acordo com Rosar,

“essa ação massiva de convencimento ideológico acionada

pelo governo tem obtido repercussões limitadas na prática

dos diretores, pedagogos e professores das escolas de

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15educação básica, mesmo quando reproduzem a terminologia

veiculada. A indagação que daí decorre é: por que não pode

ser hegemônica essa concepção, no âmbito do sistema

educacional? (Rosar, 1999:173)

Responderemos com a prerrogativa de pensar que estamos nos

mobilizando em favor da escola pública e, portanto, remetendo-nos à formação

dos alunos desta escola.

Ocorre, pois, que o conceito de gestão aqui defendido extrapola o âmbito

da organização de poder, para ser compreendido como condição de organização

do espaço público de ensino, no compromisso coletivo de formação e

humanização dos sujeitos.

Munido de tal embasamento teórico o gestor junto ao pedagogo direciona

sua ação juntamente com o todo o corpo docente e demais educadores (todos os

demais funcionários da escola) repensam, problematizam, refletem e criam

condições para que tais reflexões se tornem ações concretas que visem a melhora

no processo educacional de nossos alunos.

Sendo assim, acreditar em mudanças é pensar em outro tipo de

organização escolar, fora da visão tecnicista, autoritária e de fazeres mecânicos,

sem reflexão e sem vida, nos impulsiona a continuar caminhando em uma

perspectiva de escola ideal, que forma cidadãos pensantes, críticos e conscientes,

com educação de qualidade, onde há investimento no profissional, nas práticas

pedagógicas, na estrutura física, enfim, em uma instituição reconhecida, e não

precária como na atualidade, onde o gestor participe ativamente na mediação

pedagógica junto aos pedagogos (supervisores,...).

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II – Gestão na Escola Particular e na Pública

O âmago, a alma de uma unidade escolar é o pedagógico. Tudo o que

acontece é educativo. Todos que trabalham são educadores. Porém, percebemos,

também, a filosofia, o perfil de uma escola através do envolvimento e

comprometimento de seu gestor com a educação e a formação de cidadãos. E

nesta observância, evidenciamos características, pensamentos e interesses

diferentes entre os gestores das escolas públicas e particulares.

O gestor na escola particular visa prioritariamente o lado administrativo da

escola, o empresarial, pois estatísticas nos mostram que ter um colégio é um bom

negócio para quem não tem interesse em ter lucro de forma imediata. E para isso,

destina funcionários qualificados para responsabilizar-se pelas questões

pedagógicas. Já na escola pública, o gestor dividi-se entre o administrativo e

pedagógico, ou seja, suas ações são equilibradas entre os eixos em destaque,

visto que há uma política pública que mostra os benefícios deste trabalho

concomitante para uma educação de qualidade. No entanto, a burocracia, o

volume de questões administrativas muitas vezes dificultam uma participação mais

efetiva deste nas atividades pedagógicas.

O conhecimento de administração vem sendo, cada vez mais, considerado

de suma importância para a sociedade. A noção de gestão é imprescindível para

que as organizações possam se adaptar às constantes mudanças e exigências da

sociedade.

Tendo em vista que a administração de serviços não constitui um corpo

teórico próprio, os teóricos desta área passaram a utilizarem-se das teorias da

Administração como forma de buscar a eficiência, ampliar a validade, elaborar

proposições sobre as estruturas organizacionais e os critérios de avaliação de seu

funcionamento.

Segundo o Art. 1º da Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional), “a educação abrange os processos

formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no

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17trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Percebe-se,

portanto, a complexidade da organização escolar que abrange ambientes diversos

que vão além da estrutura formal de sala de aula, constituindo assim, um sistema.

Outra discussão pertinente é a que diz respeito à classificação da escola

como sendo, ou não, uma empresa. O aluno possui características psico sociais

próprias e não pode ser comparado como mera matéria prima a ser moldada por

máquinas e equipamentos. Nem os professores podem ser comparados a

operários, pois possuem formação pedagógica específica para desenvolver o

processo educacional.

Pelo sucessivo histórico de crises e planos econômicos, os aspectos

empresariais, prioritariamente nas escolas particulares, passaram a ser

levantados, buscando a discussão de que a gestão de uma escola deve ser

considerada em dois âmbitos: educacional e empresarial. Portanto, para a

realização deste trabalho, considerar-se-á a escola com algumas características

de uma entidade empresarial, tendo como base que uma instituição de ensino

possui clientes (pais e alunos), empregados (funcionários e professores) e divisão

do trabalho em níveis hierárquicos, assim como uma empresa. Nesta a principal

tarefa do marketing na instituição educacional é determinar as necessidades, as

despesas e interesses de seu público-alvo e transformar essas ansiedades em

serviços oferecidos, preservando, dessa maneira, seus alunos, captando novos,

começando tudo com um planejamento.

Segundo o Art. 19 da Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional) as instituições de ensino podem ser

classificadas administrativamente em escolas públicas e privadas. Na primeira, o

Governo é responsável pela fixação de cotas no orçamento geral, destinadas aos

serviços educacionais, pois é ele que analisa as necessidades a serem atendidas

de imediato e estabelece os atributos suficientes para satisfazê-las.

Já as instituições privadas caracterizam-se por serem administradas e/ou

mantidas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. Ressalta-se, ainda

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18que, pode haver a conciliação da gestão empresarial com o foco base: a

educação. O Art. 20 da referida lei acrescenta que as instituições privadas de

ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: particulares, comunitárias,

confessionais e filantrópicas.

Independentemente da classificação, as instituições de ensino são

constituídas de estrutura formal e informal. O ambiente formal é composto pelos

recursos humanos, a estrutura física e material. A escola como organização

possui também organizações informais.

Dessa forma, as pessoas se relacionam e se comportam em busca da

satisfação de uma ou mais necessidades. Em uma escola as necessidades variam

desde a busca do conhecimento, de novas experiências, de interação social, e,

ainda, da satisfação das necessidades fisiológicas.

Pesquisas nacionais e internacionais têm demonstrado o quanto nosso

ensino, regra geral, e o ensino público em particular, são precários. Entre a falta

de financiamento e a evasão escolar, encontramos os mais diversos problemas,

todos eles, historicamente arraigados na sociedade e no meio escolar. Mas

permeia entre essas dificuldades um desejo de melhoria, movido por uma

necessidade de superação e de acompanhamento dos anseios mais imediatos da

sociedade brasileira.

Pensando a temática sobre a melhoria da qualidade do ensino das escolas

é algo que se discute e se rediscute há muito tempo. A reflexão acerca da gestão

escolar relativa ao processo docente educativo e o papel orientador do gestor,

tendo como pano de fundo o impacto nos resultados docente educativos. O gestor

deve visar o sucesso de sua instituição, além de exercer sua liderança

administrativa e pedagógica, visando à valorização e desenvolvimento de todos na

escola.

O gestor escolar deve agir como líder, pensando no progresso de todos que

fazem parte de sua equipe. Ele deve ter consciéncia de que sua equipe não se

limita a alunos, professores e demais funcionários internos da instituição. A equipe

escolar é composta também pelos pais dos alunos e por toda a comunidade de

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19forma geral, que deve ser mobilizada para que juntos possam promover o principal

objetivo de toda equipe escolar: a aprendizagem dos alunos. Um gestor líder é

capaz de desenvolver o potencial de trabalho de toda sua equipe, fazendo com

que esta se sinta capaz de transformar e realizar com sucesso todos os projetos

desenvolvidos pela instituição de ensino.

As instituições de ensino precisam organizar-se no sentido de propiciar ao

educando a satisfação de seus desejos para, desta forma, motivá-los. Entretanto,

nas escolas públicas surge o dilema de não conseguir satisfazer as necessidades

dos alunos em vista da escassez de recursos, ocasionando, assim, frustrações

que podem acarretar em conflitos. Neste caso, o educando é instigado a transpor

as dificuldades e tem a possibilidade de desenvolver senso crítico mais aguçado:

fato que não é incentivado na escola particular. Observou-se que nestas os alunos

têm pouca liberdade para expressar sua opinião.

Na escola particular, por contar com um montante fixo mensal proveniente

das mensalidades dos alunos, não há problemas em satisfazer as necessidades

de seus educandos frente aos recursos disponíveis. Apesar disso, o aspecto

motivação fica comprometido.

Ressalta-se que a escola como sistema deve integrar os clientes aos

empregados para que haja harmonia e colaboração entre eles. Através de

reuniões, eventos e datas comemorativas que buscam a sinergia dos seus

recursos humanos. Essas práticas favorecem a formação e o fortalecimento de

grupos informais.

Em decorrência das constantes mudanças e exigências da sociedade, as

organizações precisam investir em melhoria contínua dos produtos e serviços e,

aliada à melhoria, deve-se combinar qualidade com valores acessíveis. As

instituições de ensino, a partir do momento em que são encaradas como tendo

algumas características de empresas (particulares), precisam adaptar-se esses

novos paradigmas.

Podemos destacar que a escola particular está mais bem adaptada às

novas tendências da sociedade. Ainda assim não é possível afirmar que ela esteja

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20sendo realmente administrada. Já em algumas escolas públicas, por não ter muita

autonomia sobre a verba recebida, ainda encontra-se distante da administração

propriamente dita.

Dessa forma, é imprescindível relatar a importância do desenvolvimento da

idéia da escola com algumas características de empresa. Através dessa

concepção, as instituições de ensino poderão ficar mais bem preparadas para

enfrentar os desafios do mercado atual, fortalecendo, assim, os anseios da

sociedade, a educação e a administração.

E pensando na acessibilidade para o trabalho, nas visões das escolas, da

sociedade e no futuro de nossos alunos, após leitura, do texto “Qualificação e

Desqualificação: a serviço de quem?” (em anexo), de Maristela M. Barboza,

destacamos que a principal abordagem enfoca que a importância na educação

não deve ser prioritariamente a preparação do educando para o mercado de

trabalho, proporcionando qualificações específicas para determinado curso, mas

formar uma nação com gente capaz de pensar, ou seja, contribuir no

desenvolvimento da formação de cidadãos críticos e conscientes, sabedores e

lutadores de seus direitos e deveres.

O questionamento explicitado no título acima sugere uma observação e

reflexão onde percebemos que não há interesse efetivo do governo em investir em

um sistema educacional de qualidade, onde os educadores tenham qualificação e

remuneração digna de acordo com a relevância da Educação. Acreditamos que a

Educação é a ferramenta mais poderosa para modificar o cenário existente no

Brasil. Logo, o “QUEM” da indagação desta literatura está voltado ao mundo

capitalista, aos interesses públicos, grande das escolas particulares, e não ao ser

humano, à população.

Existem pontos positivos e negativos em vários pontos de nossas vidas,

porém no texto em referência, concluímos como positividade a inserção do

homem qualificado ao mercado de trabalho, através do enfoque da escola neste

aperfeiçoamento do aluno / trabalhador, e como negatividade ressaltamos a

necessidade de aguçar mais a criticidade do discente nas ações cotidianas que

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21muito corroboram para a transformação de um mundo melhor, com maior

igualdade da população nos âmbitos sociais, políticos e econômicos.

A sociedade atual exige uma formação básica de sua população, de forma

que o indivíduo possa exercer sua autonomia enquanto

educando/trabalhador/cidadão. O que se espera é uma formação crítico-analítica,

possibilitando-o a buscar soluções para seus problemas.

A educação do futuro deve ser pensada no presente a fim de resgatar

valores morais, sociais e éticos, pois percebemos a distorção destes, através dos

fatos que registram a desvalorização da vida do individuo e de seu próximo, pela

ausência de perspectivas, de sonhos e realizações pessoais.

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III – Gestão Participativa na Escola Pública

Garantir autonomia da gestão escolar é condição indispensável para a

qualidade do ensino, porque é o único caminho a possibilitar a democratização

das relações no interior de qualquer estabelecimento de ensino. Educação sem

reconhecimento de direitos não é educação e só numa relação democrática é

possível isso. Logo, para isso é necessário que o gestor compartilhe funções

administrativas e pedagógicas, mediando essas ações.

Embora o conceito de democracia possa parecer de difícil definição, a

chamada gestão democrática não deve oferecer infindáveis possibilidades de

relativização, pois não devemos perder de vista alguns princípios fundamentais da

democracia, sobre os quais ela se sustenta há mais de dois mil anos, com um

reforço considerável a partir da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Governar com a maioria, direito individual à informação e igualdade entre os

homens nas relações políticas, é pressuposto necessário à civilidade e não carece

mais de formulações teóricas aprofundadas, mas de exercício pleno com seus

riscos e seus temores. O que parece faltar, então, é desprendimento, coragem de

compartilhar decisões, reconhecer os conflitos e as contradições como inerentes

e, sobretudo, aceitar a paciente construção dos valores democráticos. Seja na

escola, seja no poder público em geral, é necessária a superação da histórica

relação de mando/obediência que ainda domina a sociedade brasileira.

A gestão democrática da educação compreende a noção de cidadania como:

“capacidade conquistada por todos os indivíduos, de se

apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem

todas as potencialidades de realização humana abertas pela

vida social em cada contexto histórico determinado”.

(Coutinho, 2000:50)

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Além disso, conforme Ferreira:

“Gestão significa tomar decisões, organizar, dirigir as

políticas educacionais que se desenvolvem na escola

comprometidas com a formação da cidadania [...] é um

compromisso de quem toma decisões – a gestão - , de quem

tem consciência do coletivo – democrática -, de quem tem

responsabilidade de formar seres humanos por meio da

educação.” (Ferreira, 1999: 1241)

E pensar em gestão democrática da escola pública remete obrigatoriamente,

pensar a possibilidade de organicamente constituir a escola como espaço de

contradição. E o que possibilita isso? Primeiramente delimitar os processos de

organização dos segmentos escolares diante do seu papel na escola pública.

Entender que decisões quanto a finalidades e conteúdos devem ser tomadas para

humanização da formação dos sujeitos, o que significa pensar em quais

conteúdos da aprendizagem serão ensinados como conteúdos de vida e que

devem abranger os conceitos científicos da cultura erudita e os conteúdos da

prática social.

A gestão democrática passa a ser vista sob o ponto da organização coletiva da

escola em função dos seus sujeitos. Organizar-se coletivamente exige rigor

teórico-prático de quem organiza, decide, dirige, debate, discute a organização

escolar. Significa permitir o trabalho específico e ao mesmo tempo, orgânico dos

sujeitos em função das necessidades histórico-sociais dos seus alunos. Nesse

ínterim, tomaremos aqui, em especial, a possibilidade de trabalho do gestor e do

pedagogo, na tentativa de entender seu papel como mediador da intencionalidade

educativa da escola, pela via dos diferentes segmentos que a compõe.

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24Na perspectiva histórico-crítica, insere-se a preocupação de se preparar a

classe trabalhadora para ser dirigente e, após esse processo, tornar-se

dominante, como defendeu Gramsci:

“A apropriação concreta do saber objetivo, articulando

com os interesses da classe trabalhadora, reforça e amplia a

luta hegemônica da classe e à esta articulação que a coloca

no caminho de ser dirigente antes de governante” (Prais,

1994, p. 41).

Porém, para alcançar esse nível de discussão e apropriação do discurso e

ideais desta perspectiva, supõe um movimento de unidade da dimensão política e

técnica de nossa prática que, obrigatoriamente, se articula com um conjunto de

práticas sociais.

A escola, como instituição social, que tem como função a democratização dos

conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, é um espaço de

mediação entre sujeito e sociedade. Compreender a escola como mediação

significa entender o conhecimento como fonte para efetivação de um processo de

emancipação humana e, logo, de transformação social. O que implica em ver o

papel político da escola atrelado ao seu papel pedagógico e, mais, dimensionar a

prática pedagógica, em todas suas características e determinantes com

intencionalidade e coerência, o que transparece um compromisso político ao

garantir que o processo de ensino e aprendizagem esteja a serviço da mudança

necessária.

“Assim, a escola progressista denuncia a não diretividade

como instrumento de dominação, resgatando a ação diretiva

do educador que representa a ruptura com o que foi

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25socialmente determinado e promove a formação coletiva do

educando” (Prais, 1994, p. 42).

Neste ínterim, supõe-se que, na medida em que a gestão democrática

(colegiada) define coletivamente as ações e as concepções da escola, ela passa a

constituir-se numa condição determinada e determinante de uma teoria e prática

progressista de educação, principalmente, quando essa gestão vem como uma

necessidade histórica. Saviani (2007) afirma que a sociedade brasileira, a partir de

1982, vive em conseqüência das contradições advindas da “ampliação de poder

autocrático e pela super exploração do grande capital monopolista, o que se

convencionou chamar de transição democrática, resultante da reorganização e

repolitização das classes trabalhadoras”.

Diante de tal situação, aparecem indicativos de um novo quadro de

mobilização e organização social, que instigam mudanças nas relações de poder

em todas as áreas, e não seria diferente na educação. Sendo assim, justifica-se a

adoção da gestão democrática hoje, pela escola pública, por ser uma forma

organização da escola que parece, no momento, poder dar suporte às

necessidades escolares atuais, no que diz respeito à organização, participação,

planejamento e tomada de decisão.

A participação de fato é uma prática política e, por natureza, democrática.

Visão esta que, na escola, exige obrigatoriamente a mudança do papel do diretor.

Primeiramente, quanto à fragmentação do seu trabalho, entre administrativo e

pedagógico e, em seguida, a mudança de postura no que diz respeito à

centralização das tomadas de decisão, corporativismo e autoritarismo, além de

seu caráter exclusivamente gerencialista.

A superação destas características na direção de uma escola não é,

simplesmente, utilização de termos diferentes no discurso, é assumir um projeto

de gestão, interligado com projeto de educação, de sociedade, de homem, de

mundo.

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26A gestão democrática na escola se constitui em processo coletivo de

decisões e ações, e consequentemente, possibilita recuperar o papel do diretor na

liderança do processo educativo e não como peça exclusiva do mesmo. Paro

(2005, p. 73-74) discorre sobre o papel do diretor:

“Em termos práticos, as atividades de direção restringem-se

ao diretor – e aos assistentes de diretor, sem coadjuvante no

comando da escola. Mas estes também acabam se

envolvendo em atividades rotineiras que pouco têm a ver

com uma verdadeira coordenação do esforço do pessoal

escolar com vistas à realização de objetivos pedagógicos.

Concorrem para isso, em grande medida, as precárias

condições de funcionamento da escola (...).

Diante desse quadro, não é difícil imaginar as dificuldades da direção em

coordenar esforços de pessoas cujas atividades dependem de recursos

inexistentes.

No enfrentamento dos problemas do cotidiano escolar, o diretor, ou equipe

diretiva, tem impasses que dificultam seu trabalho como gestor. E, no caso do

diretor centralizador, o caso fica ainda mais grave, já que será o único a analisar,

propor ações e implementar os encaminhamentos necessários ao enfrentamento

dos problemas escolares. Porém, com a gestão democrática, parte-se do princípio

que, primeiro, o diretor não estará sozinho nem para decidir nem para agir.

Percebam que a gestão democrática não é sinônimo de “todo mundo faz tudo”, ou

“qualquer um faz qualquer coisa”. Cada sujeito do processo educativo tem suas

funções específicas, porém, o planejamento e implementação das ações parte do

coletivo.

Portanto, a legitimidade da gestão democrática se dá nos processos de

participação efetiva. Um dos princípios é a eleição de diretores, não que a mesma

garanta a democracia como prática escolar, mas é um momento de tomada de

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27decisão de toda a comunidade escolar. E, após a escolha do candidato, ele tem o

dever, dentro dos princípios democráticos, de legitimar o processo educativo, a

princípio, entendendo a escola como instituição de caráter pedagógico. Libâneo

afirma:

“Ao meu ver, a Pedagogia ocupa-se, de fato, dos

processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas

antes disso ela tem um significado bem mais amplo, bem

mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre

a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e,

ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação

educativa.”( Libâneo, 2004:29)

O diretor então, dirige um Projeto Político-Pedagógico, como identidade de

uma instituição e sua coletividade. A relação entre o projeto de sociedade e de

educação com os projetos individuais de cada aluno, professor, pai, funcionário,

instaura no PPP fundamentos para o exercício da participação democrática, das

ações coletivas, da organização pedagógica e administrativa, e o próprio resgate

da função social da escola na apropriação dos conhecimentos.

O PPP é um instrumento que descreve e revela a escola, para além de

suas intenções e concepções, é uma forma de organizar o trabalho pedagógico da

escola. A responsabilidade da construção deste projeto de sociedade e de

educação é de toda comunidade escolar, sendo um “processo democrático de

decisões, preocupa-se em ministrar uma forma de organização do trabalho

pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas,

corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mundo impessoal e

racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola (...)

(Veiga, 1995:13).

Portanto, diante do PPP, como construção coletiva da identidade da escola,

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28espera-se do diretor “capacidade de saber ouvir, alinhavar idéias, questionar,

interferir, traduzir posições e sintetizar uma política de ação com propósito de

coordenar efetivamente o processo educativo, o cumprimento da função social e

política da educação escolar (...)” (Prais, 1990, p. 86).

O papel do diretor é, predominantemente, gestor e administrativo, mas

sempre com enfoque pedagógico, uma vez que se refere a uma instituição e a um

projeto educativos que existe em prol da educação. Libâneo caracteriza algumas

das funções da Direção na gestão democrática escolar:

- dirigir e coordenar o andamento do trabalho pedagógico da escolar, de acordo

com sua função social;

- assegurar o processo participativo na tomada de decisão na sua implementação;

- assegurar a implementação de todas as ações planejadas coletivamente;

- articular e criar momentos para relações entre escola e comunidade escolar;

- dar suporte às atividades de planejamento e discussão do currículo, juntamente

com a equipe pedagógica, bem como fazer o acompanhamento e avaliação da

prática pedagógica.

Diante destes apontamentos, fica clara a relação intrínseca do papel do

diretor e do pedagogo na gestão escolar, pois, o pedagogo responde pela

mediação, organização, integração e articulação do trabalho pedagógico.

Portanto, sugere a própria compreensão de que ser pedagogo significa ter o

domínio sistemático e intencional das formas (métodos) através dos quais se deve

realizar o processo de formação cultural.

Assim, se a pedagogia estuda as práticas educativas tendo em vista

explicitar finalidades, objetivos sociopolíticos e formas de intervenção pedagógica

para a educação o pedagógico se expressa, justamente, na intencionalidade e no

direcionamento dessa ação. Esse posicionamento é necessário, porque as

práticas educativas não se dão de forma isolada das relações sociais, políticas,

culturais e econômicas da sociedade.

E, embora saibamos que o papel do pedagogo tem sido alvo de muitas

discussões, na perspectiva que temos defendido, a este profissional não cabe

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29mais a lógica economicista, reproduzindo a fragmentação das relações de

trabalho, assim como acontece na dualização do profissional pedagogo em

supervisor e orientador. Para tanto, cabe-nos questionar os que ainda agem e

defendem a lógica tecnicista, na qual o supervisor controla o trabalho dos

professores, em questões burocráticas e não de ensino e aprendizagem e o

orientador recorre ao assistencialismo aos alunos e às famílias.

Sobre a secundarização do papel do pedagogo, citemos Saviani:

“Na verdade, tal desvio é hoje regra em nossas

escolas: da exaltação aos movimentos de 64 à curiosidade

pelo índio, da veneração às mães às festas juninas, das

homenagens aos soldados ao cultivo do folclore e às loas à

criança, encontra-se tempo para tudo na escola...” ( Saviani,

1985: 28)

Mas muito pouco tempo é destinado ao processo de transmissão-

assimilação de conhecimentos elaborados cientificamente. Cumpre reverter essa

situação. Os pedagogos têm uma responsabilidade grande nesse esforço de

reversão. Enquanto especialistas em pedagogia escolar cabe-lhes a tarefa de

trabalhar os conteúdos de base científica, organizando-os nas formas e métodos

mais propícios à sua efetiva assimilação por parte dos alunos.

Para além da função pedagógica de interlocução com o corpo docente para

efetivação de uma prática pedagógica que cumpre com os pressupostos

conceituais e práticos expostos no PPP, há a função do pedagogo na gestão

escolar. Ou seja, a função da Equipe Pedagógica encontra-se maximizada no

processo educativo agindo em todos os espaços para a garantia da efetivação de

um projeto de escola que cumpra com sua função política, pedagógica e social.

O reconhecimento e efetivação do papel do pedagogo depende do

reconhecimento da intencionalidade e especificidade do trabalho pedagógico junto

a toda comunidade escolar. Portanto, o envolvimento do pedagogo com questões

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30do dia-a-dia escolar não deve extrapolar seu tempo e espaço do fazer pedagógico,

já que problemas de disciplina, acompanhamento de entrada e saída de alunos,

etc são problemas da escola e o seu coletivo deve planejar ações para

enfrentamento destas questões, que geralmente são tratadas pela Coordenação

de Turno..

Vejamos o que Gadotti explicita:

“fazer pedagogia é fazer prática teórica por

excelência. É descobrir e elaborar instrumentos de ação

social. Nela se realiza de forma essencial, a unidade entre

teoria e prática. (...) O pedagogo é aquele que não fica

indiferente, neutro, diante da realidade. Procura intervir e

aprender com a realidade em processo. O conflito, por isso,

está na base de toda a pedagogia.” (Gadotti ,2004)

Percebe-se aqui o pedagogo como articulador do trabalho coletivo da

escola, articula a concepção de educação da escola às relações e determinações

políticas, sociais, culturais e históricas. Assim sendo, o pedagogo, à luz de uma

concepção progressista de educação, tem sua função de mediador do trabalho

pedagógico, agindo em todos os espaços de contradição para a transformação da

prática escolar. Porém, baseado nesta concepção, sua atuação se faz para a

garantia de uma educação pública e de qualidade visando a emancipação das

classes populares.

A descentralização e a democratização da administração de escolas

públicas são perseguidas teoricamente, mas com poucos resultados significativos

e permanentes.

A implantação de colegiados e conselhos escolares é exemplo de iniciativa,

quase sempre política, que busca incentivar possíveis canais de participação

representativa na escola pública.

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31Para que esses pontos se concretizem e realmente levem à melhoria da

qualidade do ensino, faz-se necessária a implantação de projetos pedagógicos

elaborados coletivamente a partir do perfil da unidade escolar, sem perder de vista

as condições da rede e a política educacional.

Também se faz necessária a constituição de um Conselho Gestor que

garanta a participação das comunidades interna e externa, a fim de que assumam

o papel de co-responsáveis na construção de um projeto pedagógico que vise

ensino de qualidade para a atual clientela da escola pública.

Dessa forma, faz-se necessária uma gestão democrática como facilitadora

do aprendizado do aluno, permitindo-lhe que, através das aptidões cognitivas,

construa sua caminhada ao longo da vida. Neste sentido parece estar implícita a

importância da gestão compartilhada, não apenas como instância de natureza

administrativa, mas como mediação de uma prática pedagógica e política que leve

a construção da escola de qualidade, pretendida pela classe trabalhadora de

acordo com a citação de Florestan Fernandes:

“...que o homem tenha consciência e si próprio como

indivíduo e como classe.” (Fernandes, 1991:30)

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CONCLUSÃO

Manter a escola é obrigação do Estado e aos governantes cabe proverem

seu financiamento. É desnecessária a discussão sobre esse tema se a educação

escolar for uma prioridade social e política e nada mais fora de propósito termos

que admitir o contrário. No nosso caso, sobretudo a partir da década de setenta, o

que vem dificultando essa compreensão, tanto por parte da sociedade, quanto dos

próprios governantes, é a silenciosa política de privatização do setor público de

ensino. Este sim, na medida em que permeia os interesses privados, torna-se

motivo suficiente para o Estado se ausentar dessa obrigação, o que não impede,

por sua vez, de as escolas públicas carecerem de investimento suficiente, em

todos os sentidos, para que haja um ensino de qualidade.

As políticas públicas evoluem, e com elas evoluem os paradigmas

gerenciais. Buscam-se soluções para o gerenciamento e a qualidade educacional

mediante a parceria com os que fazem a educação acontecer no cotidiano da

escola. No entanto, se os educadores não se empenharem, política e

tecnicamente, em prol de uma participação efetiva, a reorganização das funções

administrativas e da gestão da escola na rede pública continuará ocorrendo com

sua ilusória participação nos processos decisórios.

A relação que se quer estabelecer entre qualidade e participação no

contexto escolar vão muito além da mera questão da competência técnica

passível de ser resolvida pela competência dos gestores, pais, professores,

alunos, funcionários. Ela envolve questões políticas internas e externas à escola e

que vislumbram a redução de gastos e de recursos no desenvolvimento do

processo educacional.

A sociedade admite a importância da escola na preparação de cidadãos

com melhor potencial de trabalho e passa a exigir mais competência, mais

flexibilidade e agilidade dos gestores escolares, de modo que a escola possa

acompanhar suas solicitações. Em decorrência, o potencial criativo da desejada

autonomia escolar tem sido discutido amplamente, mas continua pouco

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33exercitado, por falta de experiência nesse exercício. Até mesmo planejadores

educacionais começam a perceber que o exercício da autonomia pode ser um

aliado na busca da qualidade da educação.

Contudo, poucos são os líderes escolares que exercem gestão

democrático-participativa e autonomia. Ressaltando que essa liderança é

idealizada prioritariamente para as escolas públicas, visto que nas particulares

ainda impera o autoritarismo e a determinação estipulada pelo gestor que na

maioria das vezes é apenas administrador, deixando as questões pedagógicas

para profissionais específicos da área e contratados pelo mesmo.

A grande maioria dos que compõem o escalão superior dos sistemas

públicos de ensino discursa sobre a autonomia da escola. A participação no

processo educacional é condição essencial para uma vivência democrática, e para

o exercício pleno da autonomia, o que impõe desafios constantes para as

comunidades escolar e local.

O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando

objetivos sóciopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e

metodológicas da ação educativa. E o gestor deve inserir-se com compromisso

pertinente às questões educacionais, ou seja, na mediação pedagógica soberana

aos aspectos administrativos.

Essa visão faz com que a direção esteja sim, envolvida com a equipe

pedagógica nos encaminhamentos educacionais que se fizerem necessários e

explicitados no Projeto Político Pedagógico da escola.

“A escola reflexiva vê nos problemas motivo de

crescimento, pois toda busca gera a aprendizagem...

uma escola reflexiva é uma comunidade de

aprendizagem e um local onde se produz conhecimento

sobre educação” (Alarcão, 2004:38).

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ANEXO

QUALIFICAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO: A SERVIÇO DE QUEM?

Maristela M. Barboza

O discurso de que as novas formas de produção exigem um trabalhador

cada vez “mais instruído”, “mais qualificado” e assim, “superior”, é uma afirmação

quase universalmente aceita na fala popular e acadêmica. Apesar de estes termos

serem vagos e imprecisos, atualmente são utilizados como se houvesse consenso na

compreensão do que significam.

O tempo necessário para um trabalhador aprender a operar uma máquina

sofisticada pode ser umas poucas semanas e o trabalhador passa a ser considerado

mais qualificado que um outro trabalhador que possui outros saberes, construídos ao

longo da vida, isto porque a valorização da qualificação está atrelada às necessidades

momentâneas do mercado, desta maneira, não traz qualquer garantia de emprego

para acompanhar tais evoluções.

Esta definição cambiante do que é estar qualificado faz com que o

trabalhador fique sem referência sobre o que é preciso fazer para garantir seu lugar.

“O que se deixa aos trabalhadores é um conceito reinterpretado e dolorosamente

inadequado de qualificação: uma habilidade específica, uma operação limitada e

repetitiva, ‘a velocidade como qualificação’, ....hoje o trabalhador é considerado como

possuindo uma ‘qualificação’ se ele ou ela desempenham funções que exigem uns

poucos dias ou semana de preparo” (Braverman, 1987, p.375).

O desemprego cresce em todas as faixas de escolaridade, entretanto, o

discurso dominante prega que o desemprego é causado pela falta de qualificação

(formal ou técnica) do trabalhador, vinculando assim o desemprego, ou ameaça dele,

e, passa a procurar em sua história de vida explicações para sua situação,

considerando-se com estudo insuficiente, ou sem alguma habilidade específica.

“Nesse contexto, é possível perceber qual o trabalho específico do discurso

ideológico: realizar a lógica do poder fazendo com que as divisões e as diferenças

apareçam como simples diversidade das condições de vida” (Chauí, 1982, p.21).

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35O aperfeiçoamento do trabalhador é importante e necessário, pode ser

condição primeira para qualquer almejar disputar um posto de trabalho, mas não é por

si suficiente para acabar com o desemprego e a exclusão social. O desemprego mais

do que nunca faz parte da estrutura da forma capitalista, deixou de ser eventual ou

expressão de uma crise conjuntural. O trabalhador com a responsabilidade de

qualificar-se e, ao mesmo tempo, sem referência do que seja qualificação, quando

demitido, ou diante da ameaça de demissão, sente-se culpado por não ter estudado

mais, isto independente do quanto tenha estudado até então, e sofre.”São levados a

se considerar indignos da sociedade, e sobretudo responsáveis pela sua própria

situação, que julgam degradante (já degradada) e até censurável. Eles se acusam

daquilo que são vítimas” (Forrester, 1997, p.11).

A verdadeira democratização do conhecimento permitirá que cada um possa

analisar de forma mais crítica e ampla seus determinantes históricos/sociais, chegando

assim a um maior grau de consciência de si mesmo. Podemos dizer que cada um, a

partir daí, terá então, maior possibilidade de ação sobre o mundo e, assim, maior

possibilidade de transformá-lo, pois: “Uma classe não pode existir na sociedade sem

manifestar em algum grau uma consciência de si mesmo como um grupo com

problemas, interesses e expectativas comuns” (Braverman, 1987, p.36)

Sem uma análise que leve em conta tais relações de produção, são estas,

mas poderão ser outras, o trabalhador sofre duas vezes: uma pelas privações

materiais e, outra, por colocar-se como responsável por seu próprio desemprego.

Referências:

BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

CHAUÌ, M. Cultura e Democracia. São Paulo: Moderna, 1982.

FORRESTER, V. O Horror Econômico.São Paulo: Unesp, 1997.

Publicado:Extraído do texto Qualificação, Requalificação: Percepção e Sofrimento do

Trabalhador. Revista Psicologia, Ciência e Profissão. Brasília Vol 19,1998.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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São Paulo: Cortez, 2000.

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GADOTTI, M. Pedagogia da práxis. Sâo Paulo: Cortez, 2004.

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37LIBÂNEO. José Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez,

2004.

PARO, Vitor Henrique.Gestão Democrática da escola pública. 3a edição. São

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PRAIS, Maria de Louredes Melo. Administração colegiada da escola pública. 3ª

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VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org). Projeto Político- Pedagógico da escola: uma

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