UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · importante para uma aprendizagem de...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A RELAÇÃO DA FAMÍLIA COM O PROCESSO DE APRENDIZAGEM Por: Cristiane Ribeiro Pereira Bastos Orientador Prof. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO DA FAMÍLIA COM O PROCESSO DE

APRENDIZAGEM

Por: Cristiane Ribeiro Pereira Bastos

Orientador

Prof. Vilson Sérgio

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A RELAÇÃO DA FAMÍLIA COM O PROCESSO DE

APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Terapia de Família...

Por: Cristiane Ribeiro Pereira Bastos

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu Deus, por sua presença incondicional, a minha maravilhosa família meu marido e meus filhos,que foram pacientes com minha ausência, a todos os autores, colegas de turma,minha amiga Mônica e ao Mestre Wilson pela orientação e auxílio na construção do trabalho acadêmico.

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DEDICATÓRIA

Dedico carinhosamente aos meus três

filhos Anna Clara, Isabelle e João Paulo,

que me inspiram cada dia mais refletir e

inovar a relação familiar.

5

RESUMO

Esse Trabalho de pesquisa tem como principal objetivo mostrar a estrutura

familiar bem construída afetivamente e com suas bases sólidas pode ser

importante para uma aprendizagem de qualidade; Permitindo que uma criança

e jovem com dificuldade de aprendizagem (DA) podem ser beneficiados com

uma intervenção familiar, que as permite sair do estado de portador de sintoma

para ser ajudado pelo sistema familiar, a fim de construir uma nova relação

com o saber. O estudo ressalta a importância da conscientização do

mutualismo existente e os benefícios para caminhar junto num mesmo objetivo.

PALAVRAS-CHAVES: Estrutura familiar, aprendizagem, vínculos de

parentesco, dificuldade, vínculo emocional e afetivo, influência, superação.

6

METODOLOGIA

Para realização da pesquisa ,foram estabelecidos os

seguintes procedimentos metodológicos: levantamento bibliográfico acerca da

temática realizada;coleta de dados bibliográficos para análise teórica do

tema;consulta a sites especializados e fidedignos;análise crítico-reflexiva das

informações colhidas; e elaboração do relatório final de pesquisa.

Referente ao embasamento teórico , foram consultados autores

como Salvador Minuchin, Pichon-Rivière ,Vygotsky, Alícia Fernandez, Horton,

Nádia Bossa, BocK, Manning, entre outros, além de artigos sobre a temática

retirados do site Psicopedagogia online. Nesses artigos, geralmente de autoria

de pesquisadores e profissionais de educação e saúde como Soraia Maria

Lopes Martins, foram utilizados estudos recentes relacionados com fracasso

escolar e a família, os quais contribuíram para o desenvolvimento deste

trabalho.

Na presente pesquisa, vale ressaltar que trata-se

especificamente da interferência familiar no desenvolvimento da aprendizagem

do indivíduo e suas relações.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Família 12

CAPÍTULO II - Aprendizagem 20

CAPÍTULO III - Aprendendo em família 27

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÃO

O trabalho de conclusão de curso – TCC – ora apresentado foi

desenvolvido em conformidade com a linha de pesquisa da Universidade

Cândido Mendes, tendo como tema “A Relação da Família com o Processo de

Aprendizagem”.

O presente estudo torna-se relevante na medida em que muito se

tem debatido na sociedade sobre o assunto concernente à mudança de

estruturas na instituição familiar. Neste cenário a escolha do tema justifica-se,

observando-se que, por consequência dessa mudança, muitos declaram a

falência dessa instituição, o que, observando-se e pesquisando-se não se pode

afirmar concretamente, porém dessas questões levantam-se outras questões

como dificuldade de aprendizagem escolar nas séries iniciais devido à carência

afetiva oriunda, em alguns casos, da desestruturação na família e ausência de

vínculos afetivos o que poderá ocasionar carência de aprendizagem familiar, e

até evasão escolar no período das séries finais do ensino fundamental.

Percebe-se que alguns autores concordam em alguns pontos e

outros são contrários a algumas afirmativas feitas sobre o assunto. Acredita-se

que nesse estudo serão focalizados pontos importantes da questão afetivo-

familiar, aprendizagem escolar e a importância da família em todo esse

processo.

Segundo Almeida (1987), mergulhar no passado para reconstituir a

família, seria enveredar por caminhos diversos, caminhos ora simples, ora

complexos que compõe a estruturação desse grupo institucional desde a

unidade conjugal à extensa, do grupo sanguíneo ao núcleo doméstico,

agregando relações não formalizadas apenas pelo parentesco.

Esta pesquisa não irá deter-se ao termo família historicamente,

devido a pluralidade de definições a que este termo nos remete até porque não

9

há um consenso com relação à utilização do mesmo. O que para alguns

significa estudo do núcleo doméstico, para outros estudos do grupo de sangue,

a produção de conclusivos sobre o tema são inúmeros.

Almeida (1987) diz que:

“De acordo com a literatura, a família Brasileira seria o resultado da transplantação e adaptação da família portuguesa ao nosso ambiente colonial tendo gerado um modelo com características patriarcais e com tendências conservadoras na sua essência. Esse modelo genérico de estrutura familiar, comumente denominado patriarcal, serviu de base para caracterizar a família brasileira como um todo, esquecidas as variações que ocorrem na organização da família em função do tempo, do espaço e dos diferentes grupos sociais.”

Vários conceitos se confundem, entre eles o de família brasileira

como patriarcal e o mesmo com sinônimo de extensa, dentro desses conceitos

ainda de forma genérica percebe-se família e parentela com significado

comum. Logo, a família brasileira era vista como uma vasta parentela que se

expandia verticalmente, através da miscigenação e horizontalmente, pelos

casamentos entre a elite branca. Apesar de estudos realizados recentemente

apontarem que famílias extensas do tipo patriarcal não foram as predominantes

especialmente no sul onde eram comuns famílias mais simplificadas. Nesse

período, já se percebia que os diferentes seguimentos que compunham a

sociedade encontraram formas diversas de organização, não podemos então

afirmar que a família é uma instituição falida como afirmam alguns educadores,

podemos sim segundo Almeida, acreditar em mudanças na estrutura desse

grupo tão necessário e importante ao ser humano, pois segundo esse mesmo

autor, é relevante compreender o comportamento e o modo de vida desde o

passado, a oposição de imagens, de um lado o casamento, a moral, a

submissão e castidade da mulher, de outro a ilegitimidade, a falta de

casamento, a insatisfação feminina reveladas nos testamentos e nos processos

de divórcios. Muitos historiadores desenvolveram um ideal de recato moral e

pureza exagerada, o que estabeleceu estereótipos que observamos enraizados

10

até hoje, observa-se também uma ruptura na complexidade familiar. Mudam-

se épocas, realidades e conceitos, porém as relações estruturais e internas da

família continuam devido ao vínculo sanguíneo e de solidariedade por serem

resistentes e presentes na sociedade; ainda que muitas famílias vivam apenas

da aparência da união perfeita.(Almeida,1987).

A medida que podemos observar a família como um grupo, uma

totalidade, um sistema, visamos uma estrutura como um todo. Quando nesse

sistema seus componentes não conseguem definir seus papéis, surgem

tensões que podem desestruturar o grupo. Tomando como base a família

patriarcal o pai seria o líder, e, como tal, exerce liderança sobre os demais

componentes do grupo, a mãe também deveria exercer um tipo de liderança o

que daria prestígio a ambos, por exercerem influência sobre os demais.

Quando por algum motivo esse prestígio é abalado, os demais

componentes podem perder-se, adoecer, desestabilizar-se emocionalmente

caso não sejam resistentes à tensão. Os problemas, que surgem de uma

maneira geral, podem desequilibrar todo o grupo, logo, uma família que até

então mantinha um certo equilíbrio, promove uma ruptura interna ocasionando

várias consequências nos demais componentes do grupo, tais como psicoses

ou outros tipos de patologias que muitas vezes vão tornar todos os membros

dependentes daquele que fatalmente assume o domínio de toda a família,

todos tendem a modificar sua rotina para atender a necessidade daquele,

principalmente em se tratando de crianças em fase escolar. Ele se torna o líder

por fazer a família viver em função dos problemas dele e de suas dificuldades.

Logo, problemas que observamos ocorrer na vida dos membros dessa família

estão relacionados, muitas vezes, com situações internas da família que não

estão sendo bem administrados.

Pichon-Riviére (1998) diz que não devemos observar o grupo

isoladamente e sim pesquisá-lo nas três dimensões: o grupo, o indivíduo e a

sociedade a que ele pertence; e diz ainda que “não existe uma separação clara

entre os campos de investigação psicossocial, sociodinâmica e institucional.

Eles se integram sucessivamente”. (p.2 )

Qual seria a dificuldade da família com relação à aprendizagem?

Para responder esta questão, precisaríamos descobrir, para que precisamos

11

aprender, segundo Brandão, em vários momentos da história, tipos diversos de

sociedades, criaram diferentes caminhos para percorrer a aventura do saber, e

os poderes que ele carrega consigo. Querendo ou não, planejando ou não,

todos nós seres racionais, construímos uma história pessoal, à medida que

vivemos, e seremos sempre o resultado dessa escrita uma página por dia.

Nascemos em um grupo, em uma instituição chamada família, este

é o primeiro grupo social do qual o ser humano faz parte, segundo Horton

(1980) é um sistema de normas e procedimentos aceitos para a execução de

trabalhos importantes, o autor define ainda como um grupamento de

parentesco, que se incumbe da criação dos filhos e do atendimento de certas

outras necessidades humanas. Defende-se ainda que, para sobreviver, as

pessoas de uma sociedade necessitam encontrar formas confiáveis de formar

para conceber e criar filhos, cuidar dos doentes e idosos e executar outras

funções. Na realidade se observarmos todas as formas possíveis de organizar

a família na literatura antropológica descobriríamos que cada uma foi o padrão

aceito em pelo menos uma sociedade.

12

CAPÍTULO I

A FAMÍLIA

1.1- Histórico

De um modo geral a família pode ser conjugal (nuclear),

consanguínea, por afinidade não importa como é formada mais sim como é

estruturada, para que seus membros consigam viver bem numa sociedade

móvel, individualizada e cada vez mais especializada em consumo como a

nossa.

Torna-se necessário compreender que o que realmente importa

são os valores morais, o ser, não o ter, assim o outro poderá contribuir para a

aprendizagem e o crescimento. Por ser parceira da escola na socialização do

educando, é importante que a família não seja descaracterizada como

instituição. Ela vem tomando novos formatos, criando novas bases, porém não

deixa de ser família. A aprendizagem assistemática será relevante no momento

da sistematização escolar futura.

Segundo Horton (1980) a criança nasce de uma mãe, que é a

pessoa com quem cria seu primeiro vínculo afetivo, e depois conhece os outros

elementos que compõem seu grupo de convívio: pai, tios, irmãos; dentro desse

formato cada pessoa tem o seu papel e há o esforço de cada um para que tudo

se realize de maneira satisfatória. Quando um grupo tão íntimo não consegue

ter um relacionamento afetivo positivo as consequências segundo especialistas

podem ser causas isoladas de dificuldades emocionais, problemas de

comportamentos e físicos. Devido a tantas modificações que a instituição

familiar vem passando o aluno também tem se modificado o seu

comportamento dentro da escola, e é exatamente esse comportamento que

tem sido motivo de tantas discussões entre pais e professores. A família tem

sofrido diversas transformações em sua estrutura dentro dos mais diversos

tipos de sociedades sua posição poderá oscilar dentro do sistema amplo de

parentesco desde uma família de sociedade oriental para uma de sociedade

ocidental até entre pequenos grupos como os indígenas se observarmos a

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cultura de cada povo pode-se perceber mudanças significativas de

comportamentos familiares, na realidade o que realmente importa, segundo

esta pesquisa, é compreender que alguns autores concordam e alguns autores

diferem em suas opiniões, por exemplo: (Murdock,1969), “grupo social

caracterizado pela residência comum, com cooperação econômica e

reprodução” (p.240), para Lucy Mair (1970), “ela consiste em um grupo

doméstico no qual os pais e filhos vivem juntos” (p.96). Beals e Hoijer (1969)

definem família como “um grupo social, cujos membros estão unidos por laços

de parentesco” (p.475), concordam e vêem coesão entre os conceitos de

família, em geral por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, a

família torna-se o fundamento básico e universal das sociedades mesmo

ocorrendo tanta variação em sua estrutura e funcionamento. Antes do início

desta pesquisa, sentia-me incomodada com algumas argumentações

acadêmicas que citavam a família como instituição falida, por ser profissional

da área de educação, o autor sentiu o desejo de observar este grupo social tão

importante no ensino e aprendizagem da criança que futuramente será o

adolescente e o adulto que irá compor a sociedade em que fará parte,

influenciando de alguma forma essa sociedade. A família segundo alguns

teóricos renomados, já foi originalmente considerada um fenômeno de

conservação e reprodução, transformando-se posteriormente em fenômeno

social, e desde então vem evoluindo consideravelmente, e regulamentando

suas bases, conjugais, conforme leis contratuais e normas morais e religiosas

naturalmente, toda regra tem exceções não seria diferente com a família, há

famílias em que os cônjuges não moram juntos, e tantas outras situações

podem ser observadas com relação a família atual na sociedade

contemporânea.

A importância da relação família-escola para o processo de aprendizagem

é fundamental a partir do momento em que a família exerce forte influência

sobre a personalidade dos indivíduos que compõe o grupo. Segundo Marcela

Bastos( ), crianças adolescentes e jovens, necessitam encontrar modelos de

bem no lar, através da conduta dos pais e ouso acrescentar dos demais

responsáveis compreendendo que os mesmos normalmente trabalham fora de

casa. De acordo com a mesma autora, os filhos carregam influência positiva ou

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negativa que recebem em casa, e muito de sua interação com a sociedade

será conforme os valores agregados na convivência familiar. Os filhos

aprendem e desenvolvem-se a partir dos modelos de homem, mulher, casal.

Eles aprendem as linguagens afetivas, valores, prioridades, direitos e

responsabilidades, como lidar com a raiva, com frustrações e conflitos. Logo, o

exemplo será de extrema importância não apenas como base para o ingresso

da criança na educação sistematizada, mais também como base para a

formação de uma geração menos egoísta e imediatista com pessoas

insensíveis e pouco preocupadas com o futuro social.

Em diversos casos, a origem do comportamento negativo está na família,

porém o inverso também acontece nos fazendo acreditar no valor da educação

familiar. A mídia tem pontuado com extrema frequência reportagens sobre

violência de todos os tipos. A valorização de uma família saudável é

fundamental para que o individuo possa receber tudo que necessita em termos

de afetividade e não venha a desenvolver atitudes violentas, resultado de uma

agressividade mal orientada, segundo Winnicott,(1991 )

“Por vezes, por razões não manifestas

(inconscientes), os atos agressivos do sujeito

buscam defesas contra ameaças à sua

estruturação ou a esperança que lhe seja dado

o que no passado lhe causou um trauma Por

falha do ambiente que o sustentava

(“comportamentos anti-sociais”), com referência

a esses comportamentos destacam-se o roubo

e a destrutividade, resultantes de privações

precoces, que por vezes vem se manifestar

somente em idade avançada”

Quando nada é feito para reparar esse comportamento, ele evolui

para a delinquência exigindo intervenções por profissionais competentes e a

intervenção do poder público. Caso isso não ocorra, a agressividade

continuada evolui para violência. A violência diferentemente da agressividade

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ataca o poder com intenção de destruição é um processo de destituição e

anulação do outro, enquanto a agressividade coloca o outro num lugar de

autoridade, a violência desqualifica a autoridade. Para Hanna Arendt ( ) a

“forma extrema de poder é todos contra um e a forma extrema de violência é

um contra todos”.(p. ) Essa citação foi utilizada para pensar, no início da

situação, no ser que não recebe a afetividade devida nas fases de

desenvolvimento e no papel da família nessa questão.

A necessidade de se compreender esta questão também está no

fato de saber que um ser não se torna violento de uma hora para outra, nem

repentinamente; existe um histórico e todo um processo de desenvolvimento

dessa atitude. Violência é uma forma de desobedecer uma lei ou acordo

social, a agressividade faz parte da natureza humana, as duas não se

confundem se soubermos distinguir uma e outra. Lidar com a agressividade é

lidar com limites, dar limites é dar proteção. Segundo Winnicott ( 1991 ) a base

do limite encontra-se na formação moral do sujeito, e isso se dá antes do

estágio do Édipo, ou seja, a partir da elaboração da capacidade de reconhecer

o outro e, responsabilizando-se por seus atos agressivos, oferecer reparação

ao ambiente que o acolhe apropriadamente.

Winnicott nos faz olhar o sujeito nesse mundo globalizado numa

ótica consumista, observando que o desejo do sujeito é consumir para ter

status e ser aceito. O consumo cria o sujeito para o desejo, esse sujeito, então

narcisista, torna-se violento quando incapacitado de lidar com o diferente de si -

“narcisismo das pequenas diferenças” (Freud) – sente-se ameaçado e incapaz

de ser social, tenta justificar suas atitudes. O desejo desse sujeito não é algo

subjetivo, se o seu desejo é induzido, ele não consegue enfrentar as

frustrações normais que vêm das relações sociais, mesmo assim esse sujeito

acha que tem direito de consumir tudo o que a mídia massifica, mesmo que

não possua recursos materiais para isso. A sociedade promete mercadorias, e

ele, movido pelo sujeito do prazer e ausente da subjetividade, vê-se diante do

cenário da violência, e assim, fica muito difícil falar de direito e cidadania, bons

costumes, moralidade, dignidade e honestidade.

A responsabilidade de educar em primeiro lugar é da família, porém

não é a família que vai solucionar todos os problemas da vida do sujeito, quer

16

vive numa sociedade desigual e injusta socialmente. Compreende-se que a

base familiar assistemática, quando de boa qualidade, poderá tornar o sujeito

mais afetivo e seguro emocionalmente diante dos conflitos.

1.2 - Estrutura

Segundo os dicionários, uma das definições para estrutura seria:

“meio ou modo de organização e construção[...]”. Já uma das definições para

família seria: “grupo social fundamental na sociedade, constituído basicamente

de um homem, uma mulher e seus descendentes, ou grupo de pessoas

ancestrais comuns [...]”

Sociologicamente, estrutura tem diversos sentidos, seria inviável

listar seus significados, porém para estudar a questão, indica-se algumas

referências.

Murdock (2002) designa que as instituições têm uma estrutura, não

são conglomerados arbitrários ou aleatórios, segundo ele, “estrutura social” tem

aver com a coerência das instituições sociais.

Até algum tempo dizia-se que pai, mãe e filhos poderia ser o

modelo ideal de família por conta da tradição.

Bock (2002) observa que:

“O processo de institucionalização, segundo Berger

e Luckmann, – autores muito usados para definir

como se dá a construção social da nossa realidade

– começa com o estabelecimento de regularidades

comportamentais. As pessoas vão, aos poucos,

descobrindo a forma mais rápida, simples e

17

econômica de desempenhar as tarefas do

cotidiano. Vamos imaginar o homem primitivo: no

momento em que começou a ter consciência da

realidade que o cercava, ele passou a estabelecer

essas regularidades. Um grupo social que vivesse,

fundamentalmente da pesca, estabeleceria formas

práticas que garantissem a maior eficiência

possível na realização da tarefa. Pode-se dizer que

um hábito se estabelece quando uma dessas

formas repete-se muitas vezes. Um hábito

estabelecido por razões concretas, com o passar

do tempo e das gerações, transforma-se em

Tradição” (p. 216)

Com o passar do tempo esse comportamento repetido transforma-

se em uma base estabelecida e não será mais questionado. As pessoas irão

fazer porque “todo mundo faz, é assim há muito tempo” acaba se

transformando em senso comum. Considera-se também o fato que o ser

humano tem medo de mudar por ter dificuldade em adaptar-se ao novo, a

tradição se impõe por ser herança dos antepassados, porém o passar do

tempo costuma determinar praticamente todas as coisas, as novas gerações

que vão surgindo tendem a perder a referência de origem, surgindo então

novas regras sociais, o que chamamos de institucionalização, nisso se

enquadra a monogamia1, que surgiu na Grécia antiga, a sociedade primitiva

conhecia o casamento poligâmico2. Com o surgimento do casamento

monogâmico surge também o estabelecimento da sociedade privada e a

descoberta da paternidade biológica.

Segundo Bock (2002), o irmão materno mais velho fazia o papel de

pai. As famílias eram matrilineares3 resultando num matriarcado. O homem

dessa época passou a se preocupar com a herança, não haviam herdeiros

1 União entre duas pessoas de sexos opostos entre si. 2 União entre um homem e várias mulheres ao mesmo tempo. 3 Família baseada na linhagem materna.

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para quem deixar seus bens, e devido a isso a solução foi instituir o casamento

monogâmico como forma de organizar, definir e perpetuar a herança.

Muitas pessoas de nossa sociedade ocidental quando

questionadas a esse respeito revelam que essa forma de união é a única

natural, essa estrutura familiar há muito tempo é considerada o ideal como

base para felicidade, porém a mesma desqualifica os demais modos de

organização familiar, classificando-os como desestruturados, desorganizados e

problemáticos. De acordo com Bock (2002), esse comportamento seria

moralista e não científico, por considerar como referência apenas um padrão

de comportamento.

Conforme estudos da antropologia, a mídia e a literatura nos

revelam várias formas de estruturas familiares: Existem famílias de pais

separados que estão em uma nova união, construindo novas relações, gerando

convivência entre filhos dos casamentos anteriores de ambos e os novos filhos

do novo casamento; famílias chefiadas por mulheres em todas as classes

sociais; família nuclear; extensa; família homossexual. Essas uniões geram

grandes polêmicas e muitas discussões na sociedade, porém cada vez mais a

cultura e os novos padrões de relações humanas vão fazendo surgir, soma-se

a estes os grupos indígenas.

Bock (2002) revela ainda que a família monogâmica é um ponto de

partida histórico, porque necessitamos de um começo para nos organizarmos e

dar conta de debates, tantas mudanças sem desacreditarmos da família e de

sua importância para a sociedade, afinal sua estruturação é importante mesmo

com essa organização tão diversificada porque é através da mesma que o

homem dá conta, não só da sua organização, mas também da reprodução e

sobrevivência da espécie, (desde o estado selvagem até à barbárie)

A autora ainda diz que, pesquisas realizadas pelo antropólogo

americano L. H. Morgan (1818 – 1881) demonstraram que desde a origem da

humanidade existiram sucessivamente várias estruturas familiares como as já

citadas nessa pesquisa, incluindo as consaguineas4, punaluanas5,

4 Originárias da inter-união entre irmãos e irmãs, carnais e colaterais no interior de um grupo. 5 Casamento de várias irmãs, carnais e colaterais com os maridos de cada uma das outras, sendo que os irmãos também se casavam com as esposas de cada um dos irmãos.

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sindiásmicas6 e patriarcal7. Diferentes da monogamia que une duas pessoas

com a obrigação de coabitação exclusiva, a fidelidade, o controle do homem

sobre a esposa e filhos, certeza da descendência por consaguiniedade e

garantia de herança aos filhos legítimos, garantia da propriedade privada, criar,

possuir e regular legalmente transmissão desses valores caracteriza esse tipo

de organização familiar.

Os pesquisadores afirmam, de acordo com suas pesquisas, que a

família como conhecemos atualmente não é uma organização natural nem uma

determinação divina. São as condições históricas e as mudanças sociais que

determinam a forma de organização familiar para que ela venha cumprir sua

função social, mantendo sua propriedade e Status da classe superior, força de

trabalho, procriação, educação do futuro trabalhador das classes subalternas.

Também conhecida como célula máter da sociedade, a família é

responsável pela transmissão de valores ideológicos que constituem a cultura,

educar segundo padrões hegemônicos e dominantes, não só de valores, mas

também de condutas que nos revela seu caráter conservador e de manutenção

social.

6 Casamento entre casais, sem o compromisso de morarem juntos. 7 O casamento de um homem com várias mulheres.

20

CAPITULO II

APRENDIZAGEM

2.1- Aprendizagem um breve histórico

O processo de aprendizagem ocorre quando é estabelecido um

novo comportamento ou a modificação de um antigo comportamento como

resposta a uma experiência ambiental. Em princípio o comportamento do bebê

determina-se pelos reflexos inatos, os recém-nacidos respondem de forma

natural ao estímulo do bico através do reflexo inato da sucção e vão

aprendendo a medida que amadurecem, rolam sobre si mesmos, sozinhos.

Falamos que ocorreu aprendizagem ao ocorrer o que Manning (1985) observa:

“quando uma resposta semelhante à reação incondicionada é produzida por

um estímulo diferente que tenha estado associado ao estímulo incondicionado.”

)

Manning(1985) cita como exemplos alguns tipos de

condicionamentos: o condicionamento clássico que nos faz lembrar de uma

famosa experiência de salivação dos cães e da sineta que um psicólogo russo,

chamado Ivan Pavlov, tocava todas as vezes que apresentava comida a seus

cães,depois de repetir diversas vezes esse procedimento, Pavlov tocou a

sineta, mas reteve a comida e os cães reagiram ao som da sineta salivando,

mesmo sem o alimento, estímulo condicionado; Outro tipo de condicionamento

é o chamado condicionamento operante, que consiste numa conexão entre um

estímulo e uma resposta, a resposta é emitida pelo indivíduo, não é provocada

por nenhum estímulo específico.)

O autor ainda diz que, Quando recebem reforços primários, tais

como alimento ou carinho, as crianças muito novas aprendem com extrema

facilidade, pois suas necessidades são atendidas de imediato. A

esquematização do reforço constitui uma parte importante do aprendizado

instrumental.

As pesquisas na área de aprendizagem prosseguem

aceleradamente, das observações de Piaget, que pautou seus exames num

método clínico recém concebido na época , onde fazia perguntas abertas e

21

ouvia respostas sem nenhuma idéia pré-concebida, as respostas erradas que

as crianças davam permitiram a ele concluir em suas observações que as

crianças tinha uma forma diferente dos adultos de olhar o mundo e levou-o a

construir suas teorias de estágios cognitivos no processo de aprendizagem da

criança. Os pesquisadores da época olhavam as crianças como pequenos

adultos, que sua percepção seria igual.

Rappaport (1981) quando fala da noção de aprendizagem

social, diz que o comportamento pode ser adquirido e modificado,

independentemente da ação dos reforços.

São muitas as teorias de aprendizagem, existe a concepção

empirista, onde o professor é o detentor de todo saber e o processo de

aprendizagem significa transmitir conhecimentos de quem sabe para quem não

sabe, a aprendizagem nesse caso se dá de fora para dentro, o aluno recebe

informações de forma passiva, como se não soubesse nada, seria um depósito

de conhecimento; Outra concepção é denominada racionalista, nesta a

aprendizagem é fruto da capacidade interna do aluno, ou seja, ele nasce ou

não com a capacidade de aprender, associa-se também a aprendizagem à

maturação biológica, ele só aprende quando estiver pronto para aprender, o

ensinante nessa concepção é um organizador de conteúdos, considera-se o

aluno inato para aprender, levando-se em consideração seu quociente

intelectual (Q.I.).

Na concepção construtivista a aprendizagem é definida como

um processo de troca mútua entre o indivíduo e o meio o outro seria o

mediador, o aluno constrói sua própria aprendizagem, é ativo; o professor

desafia, instiga, questiona e utiliza os erros do sujeito, construindo o

conhecimento, reelaborando hipóteses. Fala-se que nessa concepção o que

aprende também é ensinante, ele não é passivo. Alicia Fernandez costuma

apresentar em suas obras que para que a aprendizagem ocorra é preciso o

nível cognitivo e o desejante, o organismo e o corpo, o que nos faz observar

que nos referenciais teóricos do construtivismo focaliza-se a subjetivação,

enfatizando o interacionismo, neste caso, o ato de aprender fundamenta-se em

Pichon-Ravière( ) e Vigotsky( ), fala da simbolização do processo de

aprender baseando-se na psicanálise de Jung(.

22

Existe também a teoria comportamental, comportamentalismo

ou Behaviorismo, behavior significa, conduta ou comportamento que é

observável, controlável e mensurável, de acordo com fatos e eventos nas

ciências naturais e exatas, o precursor dessa teoria chama-se John Watson e

baseou seus estudos em condicionamento clássico de Pavlov, já citado nesta

pesquisa, a origem da teoria pertence a Bunuhs Skinner (1953).

Albert Brandura (1977) defendia que o ser humano poderia

aprender em situações sociais através da imitação, observando e reproduzindo

comportamentos dos outros, sem experimentar. A epistemologia genética de

Piaget, o construtivismo, que apresenta a questão da adaptação do organismo

ao meio, logo o sujeito do conhecimento, modela suas ações todo o tempo,

baseando-se em suas experiências.

Não poderia ficar de fora o sócio-construtivismo de Vigotsky(

), para ele seria o próprio processo de aprender que gera e promove o

desenvolvimento das estruturas mentais superiores. Em sua teoria, a base é o

conceito de conhecimento real e o conhecimento potencial (ZDP) ou seja, a

distância entre o que o sujeito já sabe e o que tem potencial para aprender.

Para avaliar o real, Vigotsky( ) sugere avaliar o que esse sujeito consegue

realizar sozinho e o potencial, o que faz com ajuda do outro

2.2- Aprendizagem assistemática

Rappaport (1977) infere que o ambiente em que a criança nasce e

cresce precisa ser seguro e fornecer tudo o que a mesma necessita para seu

desenvolvimento e o grupo social no qual ela nasce, quando dotado de

afetividade, consegue ter boas relações e entendimento, cada um dos

componentes representando seu papel, pode conseguir melhores resultados na

construção do comportamento desse ser que, apesar de ser dotado de reflexos

e tendências inatas a exercita-las e organizar suas ações, não “herdam” uma

inteligência organizada, mas alguns elementos - a estrutura biológica,

neurológica - que determinam seu modo de reagir ao ambiente que no início da

vida é caótico para a criança pois depende de ser cuidada, protegida,

alimentada e etc.

23

O processo de adaptação intelectual do sujeito é dinâmico, existe a

necessidade de assimilação e acomodação, o que irá possibilitar o crescimento

e o desenvolvimento pessoal à medida que adquire também competência e

flexibilidade para lidar com as situações na prática. Tanto o ambiente físico

como o social, podem oferecer estímulos e situações que precisam ser

resolvidas cognitivamente. Os estímulos culturais que são repassados pela

família são aprendidos num processo contínuo e constante através do

comportamento, atitudes e conhecimentos humanos.

De acordo com Rappaport (1977) a riqueza ou a pobreza de

estimulação, no físico ou social, podem interferir no processo da inteligência.

Algumas casas ou lugares – ambiente físico – podem oferecer objetos a serem

manipulados ou lugares que possam ser explorados, oportunidades de

observação de fenômenos da natureza e etc; no plano social o estímulo será

positivo quando valorizar ou reforçar a aquisição de competências da criança

nos aspectos referentes à linguística, ela precisará de maturação orgânica do

estímulo verbal e social que irá receber caso seus pais ou familiares

interagirem com ela, seja através de brincadeiras, conversas, utilizando uma

linguagem elaborada, valorizando a expressão verbal, fazendo com que a

criança venha a desenvolver um repertório verbal amplo e complexo, diferente

do que ocorreria caso essa criança vivesse numa família onde a linguagem

utilizada pelos adultos fosse pobre e reduzida .

A autora revela que na linguagem ou outros aspectos que

dependem do desenvolvimento cognitivo, o aprendiz herda a capacidade para

a aprendizagem e o desempenho, porém ela ressalta que para a plena

realização desses elementos as condições que o meio irá oferecer serão

fundamentais.

“A autonomia representa um dos aspectos cruciais do

desenvolvimento na segunda infância. Essa questão fica

em grande parte resolvida no lar. O grau em que se

permite que uma criança exerça suas capacidades em

desenvolvimento, a liberdade de que ela pode gozar ao

tomar suas decisões (e a responsabilidade que deve

assumir ao enfrentar as consequências dessa liberdade)

24

contribuem para que ela adote modos de agir saudáveis,

independentes e responsáveis quando adulto. É no lar,

mais que no grupo de pares8, que se pode desenvolver

essa autonomia fundamental, de uma maneira controlada

e direta, mesmo no seio do grupo de pares é a autonomia

criada no ambiente familiar que fornecerá as bases para

a conduta que começará a modelar um padrão de êxito

ou malogro”. (p.56)

Entende-se que o grupo de pares será importante levando-se em conta que a

criança deverá relacionar-se com o grupo social na escola, o relacionamento

com os pais e o que a mesma aprendeu no lar também irá influenciar no

quadro de desenvolvimento desta na área afetiva e cognitiva, e, com relação à

autonomia do aprendiz, a conduta da família onde essa criança se

desenvolveu, dependendo da modalidade, inclusive o comportamento dos pais

e responsáveis que agem sobre a auto-estima, compõe o desenvolvimento de

um grau saudável de autonomia. Um lar estruturado poderá oferecer não só o

alimento, o vestuário e a proteção, mas também uma disciplina firme, dentro

dos limites de uma orientação bem definida, o reforço coerente e positivo, um

alto grau de consideração mútua e carinhosa, pois essas coisas oferecem uma

base sólida para uma extensão democrática dos privilégios e responsabilidades

que a criança necessitará para a formação da personalidade saudável. Numa

família sem parâmetros, onde ninguém reconhece seus papéis, a criança tende

a buscar referências fora do lar ou ter referências equivocadas, o que pode

comprometer a saúde da mesma, uma vez que sua família não é bem

estruturada. 8 Crianças afins que elas escolhem mais vezes e com as quais e relacionam no grupo de brincadeiras. (Manning p. 150)

25

2.1.1 – A Família e o sintoma de dificuldade

MARTINS(2007) referindo-se o sintoma na dificuldade diz que:

Sabemos que tudo que organizava e estruturava a família e produzia subjetividade está desmontado. As subjetividades contemporâneas são efeitos do declínio do pai. Hoje a função paterna está comprometida, vivemos uma crise de autoridade e alteridade. Onde há inconsistência simbólica há falta de recurso para que o sujeito se sustente na palavra. O aparato simbólico delimita as funções de cada sujeito. O outro simbólico viabiliza a palavra. A alteridade na nossa cultura não encontra consistência simbólica. A alteridade em declínio não é mais eficaz. A relação da função paterna com o fracasso escolar se impõe. [...] A questão do desejo é essencial para entendermos o desejo de aprender, o desejo de saber ou o fracasso desse desejo. Ou ainda o deslocamento do desejo de saber para o desejo de não saber. Destacamento do simbólico para o imaginário culminando na passagem do ato (real). A cultura baseada na compulsão ao imediato privilegia o gozo. O sujeito se encontra com sua falta. Com a falta de amparo, falta de afeto, falta de autoridade, pobreza do simbólico. Encontro esse que se dá pela vida do gozo produzido perversamente pela sociedade contemporânea[...].

A autora fala de fracasso escolar e da sociedade contemporânea,

porém num determinado momento ela fala que o que organizava e estruturava

a família está desmontado, referindo-se ainda ao declínio do pai. Ela, do

mesmo modo que alguns mestres e teóricos, generaliza o comportamento do

pai que leva-nos a pensar no líder da família monogâmica.

Podemos observar na citação a preocupação da autora com as

consequências da falta de afetividade na vida do sujeito aprendente e do

comportamento desse sujeito na sociedade que padroniza sentimentos e

comportamentos. Acredita-se que não só a figura do pai está comprometida,

mas a figura da estrutura, do modo como se tem organizado, porém não se

deve concordar com a mesma quando existe uma generalização, pois, partindo

de uma visão holística, algumas exceções podem ser observadas. Um

indivíduo que nasce e cresce num grupo social familiar sem afeto pode vir a

fracassar, não só na vida acadêmica, mas também em outras áreas de sua

vida, pois a aprendizagem não se processa somente de forma sistemática em

um ambiente institucional, existem situações em que o indivíduo encontra-se

completamente desorientado e com dificuldades de aprendizagem,

principalmente nessa atual sociedade imediatista.

26

A organização familiar na sociedade moderna está se modificando

muito rapidamente por conta da globalização e da tecnologia. A tradição

conservadora até cada vez mais ameaçada, pode-se até dizer que o vínculo

familiar tem enfraquecido em algumas situações e em outras se tornado

confuso. Le Play (1871) afirma que:

Os jovens deixam cada vez mais deixam cedo deixam a casa dos pais, cada vez mais exercem

atividades diferentes das deles, as leis sobre herança, que desde a revolução

francesa limitaram radicalmente a liberdade de fazer testamentos e instituíram a

partilha igual entre os herdeiros, mudaram o significado do patrimônio familiar.

Este não constitui mais um valor que, de geração em geração, encarna o status

e a honra da família tomada em seu conjunto. A partilha igual, assegurando a

independência dos herdeiros, reduz sua solidariedade, ao mesmo tempo em que

se enfraquece a subordinação dos filhos ao pai, enfraquece-se a solidariedade

dos filhos entre si. A noção de “chefe de família” tende a desaparecer, quer se

trate do progenitor, quer se trate do “herdeiro associado” (p.519)

Fala-se ainda na “liberação” da mulher, que contribui também para

enfraquecer o aspecto hierárquico da organização familiar, essa atitude deriva

de inúmeras causas: o acesso da mulher aos mais diversos tipos de ensino,

legislação sobre o divórcio, técnicas anticoncepcionais e etc.

A subordinação dos sexos está ameaçada, o perfil da mulher

doméstica tem sido revisto, homens têm trocado de lugar com suas mulheres,

com relação à representação doméstica, eles vão para a cozinha, levam os

filhos à escola, vão ao salão; em contrapartida elas se tornaram executivas,

empresárias, motoristas ou exercem outras atividades antes somente de

características do sexo masculino, e apesar de tantas mudanças e de tantas

perspectivas negativas com relação à família, ela continua sendo

extremamente importante. Têm acontecido umas certas críticas aos valores

familiares com relação ao matrimônio, porém o status da família continua se

constituindo no bem mais precioso de todos para aqueles que se originam dela.

Procuram-se indivíduos de boas famílias, boa situação financeira, a seleção se

dá de forma diferente, de acordo com o perfil da sociedade. A família é um

lugar de contatos e interações, por isso não se escolhe o cônjuge

aleatoriamente.

27

Existem teses conservadoras sobre “reforma social” pela

regeneração da “célula familiar”, porém Le Play (1875) observou isso com

muita dificuldade. “Com efeito, a moralização das relações entre sexos, e as

gerações, só se poderia realizar se a concepção antiga do patrimônio e da

“honra familiar” estivessem em pleno vigor.”

A idéia de uma “família-tronco” perpetuando-se em torno do chefe

de família se opõe aos ideais financeiros que ocupam lugar de destaque na

composição da fortuna moderna, “o capital opõe-se às imobilização de longa

duração, opõe-se a ser congelado, como era quando havia a perpetuação do

patrimônio. Atualmente o desejo é o de melhorar os fundos investidos, porém

a família, mesmo quando exige dos filhos adultos a saída ou dispersão, ou o

casamento a união com alguém fora de sua família, estabelece um vínculo

sólido entre pais e filhos, cuja solidez não tem comparação ou equivalência

entre nenhuma outra razão social.

Ao chegar na segunda infância a criança precisará entrar em

contato com a educação formal, terá acesso à escola, com professores, livros e

todo o material utilizado na escolarização. Esta fase é responsável por

transformações significativas na vida do indivíduo.

Ela pode trazer em seu currículo um diploma de jardim de infância,

freqüentado grupos de brincadeiras, maternal, onde ela teve suas aptidões

aguçadas para desvendar diversos interesses, porém ela não começa a

aprender nas fases iniciais do ensino fundamental, ela traz uma história, uma

vivência, não só do primeiro período da educação infantil, mas de tudo que

aprendeu no primeiro grupo onde teve acesso para socialização, sua família

Manning (1985) observa que na criação dos filhos, o comportamento da família,

em particular dos pais, vai influenciar nas atitudes da criança e do adolescente

em diferentes fases de sua evolução e desenvolvimento, incluindo neste o

intelectual e cognitivo. Os pais de classe média têm uma sensibilidade grande

com relação às necessidades dos filhos e normalmente são mais democráticos

no procedimento disciplinar,

28

conseguindo também mais tempo para dedicarem a eventos

familiares com o grupo, principalmente aqueles que vêm de famílias

financeiramente bem sucedidas, apesar disso não ser uma regra, os pais que

têm menos recursos, precisam trabalhar mais e têm menos tempo para estar

com suas famílias, pois precisam garantir o sustento e são, em maior escala,

investidos da função de aplicadores de castigos quando retornam ao lar, o que

também não é uma regra, existem muitas exceções.

Os tipos de aprendizagem na criação são os mais diversos; quando

a afetividade está presente na relação os resultados podem ser muito

melhores, por exemplo: a educação feita por um único progenitor, fato que tem

sido muito comum contemporaneamente, os motivos são diversos, dentre eles

o divórcio e o abandono, sobretudo nas classes econômicas inferiores, na

imensa maioria dos casos o progenitor ausente é o pai. Possivelmente o

abandono se configura também em famílias de recursos financeiros elevados,

com uma outra característica: os dois progenitores se ausentarem o dia inteiro

por motivos diversos, não tendo tempo para os filhos, acabam por terceirizar a

função para educadores, enfermeiros, babás e etc, buscam suprir suas

ausências com brinquedos caros ou outros tipos de presentes. Neste caso o

pai de posses não tem tempo, promovendo um abandono afetivo, o pai de

menos recursos poderá não ter o lado afetivo e as demais prioridades

necessárias ao seu conforto e desenvolvimento, podendo vir a comprometer a

auto-estima e consequentemente a aprendizagem.

Existem grandes chances que o divórcio venha a promover

prejuízos na formação dos filhos, sobretudo na área afetiva, devido a ausência

de um referencial masculino, apesar de depender da forma como os pais

enfrentem a situação, a intensidade e duração dos efeitos podem sem em

grande ou pequena escala, exemplificando: caso a criança não esteja

suficientemente amadurecida para considerar objetivamente a questão. Os

meninos precisam desenvolver seus papéis sexuais, e o modelo masculino é

importante para a identificação e imitação, ele aprende com esta figura. Alguns

teóricos acreditam que determinadas crianças tendem a assumir a culpa e a

responsabilidade pelo divórcio, principalmente quando essa separação é

precedida de grandes, repetidas e amargas discussões entre seus progenitores

29

ou, de segundo Manning (1985), “quando os mesmos usam os filhos para se

ferir mutuamente ou reconfortar seus próprios egos”. (p. 152) A criança é

submetida a sofrimento emocional. O profissional de psicopedagogia algumas

vezes, quando solicitado pela família, procura interferir nessa questão junto

com o psicólogo, principalmente quando se percebe um prejuízo na área

cognitiva do aprendente devido a essas circunstâncias, são realizadas sessões

de família, com os filhos de pais divorciados, na tentativa de desfazer algumas

das situações pouco saudáveis inerentes ao ambiente da família que está se

desunindo. Os efeitos negativos da separação costumam diminuir quando a

mãe e o pai insistem continuamente em tranquilizar a criança quanto ao amor

que ambos lhe dedicam, neutralizando a causa do que está interferindo na

aprendizagem. Entende-se que seria muito pior manter uma família “por causa

dos filhos”, o que a criança precisa perceber, seja qual for o caso, é o interesse

dos pais por ela.

Manning (1985) ressalta que o relacionamento dos irmãos entre si

também deverá ter a devida importância, pois a interação entre irmãos e irmãs

mais velhos e mais jovens exerce, no seio da família, influência sobre o

desenvolvimento na segunda infância. A criança que tem irmãos leva

vantagem inicial sobre filhos únicos, pois podem aprender com a observação

da conduta, avaliar o êxito das reações em certas situações e formar padrões

de conduta que lhes servirão como diretrizes em suas interações com os

demais. Existem alguns tipos de hierarquias entre os irmãos que são

importantes para desenvolver a personalidade. O filho mais velho costuma

receber maiores responsabilidades, principalmente em relação aos menores, o

que quando é excessivo pode levar à angústia, inferioridade e sentimento de

inadequação. Pode acontecer de quando a idade é aproximada, a competição

ser acirrada por atenção e pode levar a uma reação negativa por parte dos

irmãos mais novos quando são em maior número, pode ocorrer também um

afastamento do grupo pelas crianças e rejeição às atividades da família.

O irmão mais novo tende a ser mimado pelos pais e super

protegido pelos irmãos maiores, ou despertar ciúmes nos mesmos, o que pode

acarretar algumas dificuldades de autonomia dentro e fora da família. (p. 153)

30

As dificuldades que a família enfrenta para manter-se estruturada

nessa sociedade contemporânea não são poucas.

Bossa (2000) referindo-se à aprendizagem diz que:

“As condições físicas e psíquicas da criança estão

diretamente ligadas à possibilidade de aprender,

logo a criança dispõe do equipamento

neurofisiológico básico necessário à boa

aprendizagem.Com relação ao psiquismo,

consideramos os recursos cognitivos que são

decorrentes da evolução e maturação do

equipamento neurofisiológico de base”. (p. 17)

Rappaport (1981) revela que existem momentos propícios nos

quais os meios devem estimular a aquisição de funções cognitivas para as

aprendizagens escolares. Segundo a mesma, existe um princípio fundamental

que coloca o desenvolvimento normal da inteligência como uma sucessão

invariável de fases: sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e

formal; não podendo ocorrer perturbação em nenhuma dessas fases. Ao longo

de sua vida, Piaget observou que existem formas diferentes de interagir com o

ambiente nas diversas faixas etárias, a essas maneiras típicas de agir ele

denominou estágio ou período.

CAPITULO III

APRENDENDO EM FAMÍLIA

3.1- Modalidade de aprendizagem familiar

Sendo a família o espaço inicial no qual se desenvolvem as

primeiras experiências e aprendizagens.

Aprendi que no processo de aprendizagem,muito mais do que

conteúdo a ser ensinado, está o modelo relacional que se imprime sobre a

subjetividade de quem aprende (FERNÁNDEZ, 1995). Nessa relação estão

inseridas as expectativas e delegações de várias gerações (STIERLING et al.,

1981) assim como as projeções dos pais e avós (BOWEN,1978)

31

Esse modelo relacional é o que Alícia Fernandes chama de

modalidade de Aprendizagem individual, se refere à forma de operar de cada

indivíduo ao buscar conhecimentos, depende da relação entre quem ensina e

quem aprende e se reflete no posicionamento do sujeito diante da autoria de

seus pensamentos, autoria esta que será facilitada por ensinantes

significativos e que é observada no modo de descobrir e produzir o novo.Assim

há uma via de mão dupla na medida em que da mesma forma que a família

insere o sujeito no contexto, ele também se insere, autorizando-se a pensar e a

buscar conhecimentos.

Essa modalidade vai depender de como quem ensina mostra aquilo

que sabe e como quem aprende olha o que quer conhecer (FERNÁNDEZ,

1990).Nesse sentido a possibilidade e as diferentes formas de uma família

olhar e ser olhada, mostrar e ser mostrada seriam aspectos relevantes para a

construção de uma modalidade familiar, uma vez que é a partir da família que

se estabelece a primeira relação ensino-aprendizagem, sendo o ponto de

partida de todo o ser humano para construir e construir-se. Partindo do

conceito que toda família funciona como um sistema, uma totalidade, diferente

da soma dos modos individuais de operar de seus membros, em que cada um

exerce uma função (WATZLAVICK, BEAVIN;JACKSON,1981). Essas funções

são distribuídas para garantir a sua identidade e possibilitar o crescimento

individual de cada um de seus membros. A mobilidade dessas funções vai

depender do grau de diferenciação do grupo familiar (BOWEN,1978),

Quando o paciente é criança ou adolescente, o melhor modo de

diagnosticar talvez tenha a ver com olhar-conhecer a criança através da

família.

Alicia Fernandez (1990) diz que:

“Atribuir a uma pessoa um lugar dentro de um

grupo familiar a induz a desempenhar este papel.

Tal adjudicação de lugar é ignorada pelo conjunto

de pessoas que intervêm nesta operação, assim

como num contexto hipnótico, não se diz ao

hipnotizado o que deve ser, mas se lhe assinala o

32

que é, e daí a eficácia do mandato. Da mesma

maneira, a atribuição do ‘lugar do que não aprende’

é muito mais poderosa que outra forma de

coerção. [...] Na família, os hipnotizadores-pais,

foram e são por sua vez hipnotizados por seus

pais, pela propaganda etc, ‘e cumprem as ordens

deles quando educam seus filhos para que

eduquem seus filhos... desse modo, que inclui não

se dar conta de que se está cumprindo instruções,

já que uma das instruções é não pensar que

alguém se ordenou agir assim.’ Se eu o hipnotizo

não lhe digo ‘ordeno que sinta frio’, digo que faz

frio e você imediatamente sente frio.[...] ‘Nos é dito

que somos um bom menino ou uma boa menina e

não simplesmente que devemos ser um bom

menino ou uma boa menina.’ [...]Assim, um pai nos

diz em uma entrevista familiar: ‘Ele não tem boa

cabeça, pobrezinho, é igual a mim.’; outra mãe

quando traz seu filho sorridente à consulta diz: ‘vai

chorar, porque quer que eu fique.’ Estas palavras

foram suficientes para que a criança começasse a

chorar”. (p.65)

Pavlovsky, estabelecendo um diálogo com Lang, afirma:

“A maioria de nós está submerso em um transe

hipnótico que remonta aos primeiros anos.

Permanecemos nesse estado até que de repente

despertamos e descobrimos que nunca vivemos,

ou que vivemos induzidos por outros que, por sua

vez, foram induzidos por outros. A ideologia é

subterrânea, tudo é como um profundo mal-

entendido.Se despertarmos de repente, ficamos

loucos, se despertarmos pouco a pouco, nos

33

tornamos inevitavelmente revolucionários em

algumas de suas múltiplas formas, e então

tentamos modificar destinos, se não despertarmos

nunca, então somos gente normal e não

prejudicamos ninguém”.

A partir de um segredo que o pai ou a mãe conte à criança e pede

para não revelar ao outro, a criança fica impossibilitada, de alguma forma, de

citar ou comentar um fato, a partir dessa não possibilidade de simbolizar esta

situação, o que deve guardar um segredo pode desenvolver um problema de

aprendizagem e tal problema se centrará no mostrar, pode ser o caso da

criança que sabe mas não pode responder por escrito, porque é aí onde se

mostra que ela sabe, pois o caderno funciona em geral como mostruário; pode

ser também o caso do adolescente que aprende, pensa, mas fracassa nos

exames.

Não se pode dizer que o aprender está atrapalhado na sua

totalidade, mas, nesta dialética que a aprendizagem normal implica entre o

mostrar e o guardar, se somente se entender o guardar, sem sentir-se com

direito a mostrar, pode culpabilizar-se extensivamente todo o guardar como se

fosse um esconder, e então ir se perdendo paulatinamente também a

possibilidade de guardar.

A sabe porque espiou B, B não sabe que A sabe, se A mostra o

que sabe, fica em falta por ter espiado, por isso deve esconder a informação.

Ao querer sepultar essa informação, em geral arrasta muito do desejo de

conhecer, que fica culpabilizado. A partir de uma dificuldade na simbolização e

ressignificação, costuma aparecer nesses casos uma inibição cognitiva, que

dificulta mais as possibilidades de pensar que os aspectos figurativos do

pensamento.

Daniel Goleman (1995) refere-se à aprendizagem emocional com

total relevância quando afirma que:

[...] a vida em família é onde iniciamos a

aprendizagem emocional; nesse caldeirão íntimo

aprendemos como nos sentir em relação a nós

34

mesmos e como os outros vão reagir a nossos

sentimentos, aprendemos como avaliar nossos

sentimentos e como reagir a eles; aprendemos

como interpretar e manifestar nossas expectativas

e temores, aprendemos tudo isso não somente

através do que nossos pais fazem e do que dizem,

mas também através do modelo que oferecem

quando lidam, individualmente com seus próprios

sentimentos e com aqueles sentimentos que

passam na vida conjugal. Alguns pais são

professores emocionais talentosos, outros são

atrozes. [...] a forma como os pais tratam os filhos,

se com rígida disciplina ou empática compreensão,

indiferença ou simpatia, tem consequências

profundas e duradouras para a vida afetiva da

criança. (p.204)

“Filhos são aprendizes astutos, sintonizados com os sutis

intercâmbios emocionais na família.”(p.205)

“A medida que crescem, as crianças vão adquirindo maturidade

para chegar a um outro nível de maturidade emocional. Muda a criança e

muda a forma como elas lidam com as emoções.” (p. 205)

A lições de empatia9 começam na infância, (p.206) com pais em

sintonia com os sentimentos de seus bebês. Embora algumas aptidões

emocionais sejam aperfeiçoadas com os amigos ao longo da vida, pais

emocionalmente aptos muito podem fazer para ajudar os filhos em relação a

cada um dos elementos básicos da inteligência emocional: aprender a

reconhecer, controlar e canalizar os sentimentos; ter empatia e lidar com os

sentimentos que afloram em seus relacionamentos.

Uma paternidade significativa é impactante na vida de uma criança,

elas são menos tensas, são afeiçoadas a outros, costumam ter bons

9 Empatia: compreender os sentimentos e preocupações dos outros e adotar a perspectiva deles; reconhecer as diferenças no modo como as pessoas se sentem em relação às outras.

35

relacionamentos, são hábeis em lidar com suas próprias emoções, mais

eficazes na procura de alívio para suas perturbações e se perturbam com

menos frequência, são mais relaxadas biologicamente, com baixos níveis de

hormônio de estresse e outros indicadores fisiológicos de estimulação

emocional, (p.206) o que ser for mantido no decorrer da vida, pode garantir boa

saúde física, logo, essas crianças são mais sociáveis, chamando a atenção de

pais e professores que concordam em dizer que as mesmas apresentam

menos problemas comportamentais como rudeza e agressividade,

constatando-se benefícios de ordem cognitiva, costumam ser mais atentas,

logo, aprendem melhor. A aprendizagem emocional poderá então figurar como

pré-requisito para a aprendizagem acadêmica e para a vida em geral.

A diferença entre as duas perspectivas, crianças otimistas e

confiantes, e crianças derrotistas, começa a ganhar forma nos primeiros anos

de vida, onde os pais “devem compreender como são importantes na atuação

na vida dos filhos para gerar confiança, curiosidade, prazer na aprendizagem e

a definir limites.”(p.207) Logo o sucesso escolar depende também, em grande

parte, de características emocionais que foram cultivadas nos anos que

antecedem a entrada da criança na escola.

3.2- Legislação e o olhar da família e da educação

Jorge Visca (1987) concorda que as primeiras aprendizagens

ocorrem na família – mãe e filhos ou seus substitutos adultos – e descreve as

mesmas como: proto-aprendizagem – referente às primeiras aprendizagens

que ocorrem nas relações afetivas da criança com sua mãe ou ao adulto que a

substitui, o autor acredita que a construção de valores da criança se dá na

família. Assim como Rappaport (1982) acredita que o ambiente familiar é

fundamental para que a criança consiga formar os esquemas necessários

devido à estimulação provocada pelas situações desse ambiente que, quando

é estimulado, contribui para o desenvolvimento cognitivo. A escola poderá ter

importância singular se, através da parceria com a família, conseguir com que

os responsáveis pela criança tenham consciência dessa importância.

Visca (1987) fala ainda da deutero-aprendizagem que é a

concepção da vida e mundo que se adquire com a convivência familiar.

36

Na aprendizagem assistemática, a criança começa com o

aprendizado familiar, mas vai além, como na interação com o bairro. Para o

autor, aprendizagem seria construção intrapsíquica, e, para isso, considera

alguns fatores importantes, entre eles as condições afetivas e as circunstâncias

do meio.

Içami Tiba (1996) afirma que “O leite alimenta o corpo, o afeto

alimenta a alma. Criança sem alimento fica desnutrida, criança sem afeto entra

em depressão.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) – Lei 8.069

de 13/07/1990, regula os direitos da criança e do adolescente, encontramos o

seguinte:

“Capítulo 3 – Do direito à convivência familiar e comunitária; artigo

19: Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da

sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a

convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas

dependentes de substâncias entorpecentes.”

Diante dessa pesquisa sobre família, percebe-se que um grupo

muito grande de autores concorda que a criança para desenvolver-se saudável

necessita de uma família afetiva, porém, devido à globalização das culturas

que interfere nos comportamentos do indivíduo e, devido a tecnologia

avançada que permite mudanças mais rápidas do que se pode assimilar com

clareza, os costumes têm se misturado e transformado o ser humano de forma

a perceber-se a curto prazo uma notória inversão de valores que tem sido

relativizada, confundindo opiniões sobre certo e errado e isso interfere na

família, por exemplo: no passado usava-se o castigo como forma de educar, as

surras em muitas famílias eram sem limitações, as crianças eram fustigadas

com cintas de couro, varas, pedaços de pau. Atualmente esse tipo de

comportamento é considerado tortura. As leis contra tortura têm sido mais

rigorosas, algumas vezes o adulto responsável pela criança não tem condições

morais ou físicas da cuidar da mesma, por conta desse despreparo, muitas

vezes surgem violências dentro do próprio lar. Mais do que um ambiente físico

apropriado, as leis determinam que não haja discriminação, tentando garantir

igualdade de direitos e afirma que o “pátrio poder será exercido pelo pai e pela

37

mãe”, incluindo a mãe e incorporando juridicamente mudanças culturais e

históricas que se processam na sociedade e reflete na família, causando

diferenças na apresentação da família monogâmica atual; daí podemos

observar muitas mães como “chefes de família”, mas a criação e divulgação

das lei têm sido divulgadas com mais frequência porque também algumas

famílias não correspondem ao ideal de proteção e cuidados devidos.

Muitas crianças e adolescentes vivem na família suas primeiras

experiências de violência, negligência, maus-tratos, violência psicológica,

agressão física e abuso sexual.

A violência doméstica infelizmente se tornou uma atitude universal,

ocorre tanto em países pobres como em países ricos e em todas as classes

sociais, não ocorre apenas em famílias desprovida de recursos financeiros;

também tem sido mais divulgado pela mídia, não é algo novo, algumas vezes o

agressor encontra-se na família e é encoberto por várias gerações, as

pesquisas nacionais e internacionais comprovam que 90% dos agressores

foram vítimas de algum tipo de violência na infância ou adolescência, por isso

acredita-se que as leis são importantes quando a família não cumpre seu

papel.

O artigo 6º da declaração dos direitos da criança de 20/11/1959 da

qual o Brasil é signatário, afirma:

“Para o desenvolvimento completo e harmonioso

de sua personalidade, a criança precisa de amor e

compreensão. Criar-se-á, sempre que possível,

aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e,

em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de

segurança moral e material, salvo circunstâncias

excepcionais, a criança de tenra idade não será

apartada da mãe. À sociedade e às autoridades

públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados

especiais às crianças sem família e àqueles que

carecem de meios adequados de subsistência.

38

É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra

natureza em prol da manutenção dos filhos de

famílias numerosas”.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN

9394/96 de 20/12/1996 lê se o seguinte no artigo 1º do Título I: “A educação

abrange os processos formativas que se desenvolvem na vida familiar, na

convivência humana, no trabalho nas instituições de ensino e pesquisa, nos

movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações

culturais.” No artigo 2º do Título II, “Dos princípios e fins da educação

nacional.” encontramos: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada

nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

39

CONCLUSÃO

Percebe-se pela apresentação inicial dessa pesquisa que a

instituição familiar iniciou-se com objetivos específicos e surgiu para

permanecer, apesar de todas as mudanças em sua estrutura, quando existe

afetividade e responsabilidade por parte de seus integrantes, ela torna-se

indispensável na história de vida do indivíduo. Tendeu-se para o lado afetivo,

por observar-se que a ausência da efetividade poderá interferir negativamente

no comportamento infantil e posteriormente, se não houver intervenção, evoluir

para outras fases da vida do indivíduo.

Observou-se que a afetividde seria uma das razões, porque

existem outras emoções envolvidas, além do tratamento básico para

sobrevivência, alimentação, vestuário, entre outros.

Compreendeu-se que o tema é extremamente complexo para se

limitar a uma opinião, porém, enquanto pesquisa, está em aberto, sujeito à

dialética e possíveis transformações significativas com o passar do tempo.

Entende-se não se deve generalizar a família como instituição

falida, como alguns autores o fazem e como alguns ecoam no meio acadêmico

das diversas instituições de ensino, sendo essa a principal hipótese que

conduziu à inquietação e motivou a linha de pesquisa sobre o tema e

incentivou a busca da bibliografia. Os autores pesquisados discordam em

alguns pontos, porém, em sua grande maioria, convergem a um denomidador

comum: “A criança necessita do amparo familiar para sua sobrevivência,

aprendizagem e desenvolvimento.”

A família, como célula, está intrínseca na sociedade, e o ser

humano, enquanto ser social necessita da mesma para concluir os mais

diversos níveis de educação, portanto, o valor desse estudo está no fato de

que os pais são importantes na formação da identidade dos filhos, o ambiente

familiar deve promover o conforto necessário e suprir as necessidades de

segurança, comunicação, afetividade e etc.

40

Algumas vezes a criança não consegue adaptar-se à escola por

ser oriúnda de família desestruturada(ausência de amor), em alguns casos isso

ocorre por serem os responsáveis pela criança imaturos emocionalmente, não

promovendo bom referencial para a criança.

Em contraponto observou-se também famílias que possuem

fragilidades profundas em seus vínculos, onde existe negligência, desamor,

maus-tratos, entre outros tipos de violência, física ou emocional, são as

excessões, apesar de todo grupo possuir dificuldades ou fragilidades, em

pequena ou larga escala, porém dependendo de como essas dificuldades são

enfrentadas por seus integrantes, tornam-se impossibilitados de resolver suas

diferenças. Constudo a função social da família é transmitir valores que

contribuem na cultura, por isso, sua força histórica é tão grande com relação ás

ideias e condutas e a responsabilidade de função e manutenção social.

Espera-se que através dessa análise, outros questionamentos

sejam levantados para posteriores discussões e as mesmas possam contribuir

para conscientização de pais, educadores e profissionais da área

multidisciplinar,com objetivo de tentar construir relações saudáveis no ambiente

familiar e escolar, visando uma maior autonomia àquele que deseja aprender.

Não cabe somente a um grupo institucionalizado ou a uma

pessoa sucessos e fracassos do outro e ninguém é culpado por tudo que lhe

acontece na vida, a responsabilidade social é de todos que contribuem para a

formação do ser, vai além da família, se é verdade que uma criação sem

qualidade pode tornar o indivíduo perdido, também é verdadeiro o fato de que o

contrário pode ajudar o indivíduo na superação de um mundo repleto de

valores invertidos, com tantas injustiças sociais, a fazer uma releitura desse

mundo, com críticas construtivas e uma aprendizagem significativa.

41

BIBLIOGRAFIA

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também com Visca, in Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de

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Porto.Alegre: Artes Médicas, 1990.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A Família

1.1 - Histórico 12

1.2 - Estrutura 16

CAPITULO II

Aprendizagem

2.1 - Aprendizagem um breve histórico 20

2.2 - Aprendizagem assistemática 22

2.2.1 - A família e o sintoma de dificuldade 25

CAPITULO III

Aprendendo em família

3.1 - Modalidade de aprendizagem familiar 30

3.2 - A legislação e o olhar da família e da educação 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 44