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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS CAMPUS DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS O URBANO E O RURAL NA HIPERTENSÃO ARTERIAL: ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA, MINAS GERAIS, BRASIL Alex Veloso Mendes Divinópolis 2008

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

CAMPUS DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS

O URBANO E O RURAL NA HIPERTENSÃO ARTERIAL: ESTUDO DE CASO

NO MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA, MINAS GERAIS, BRASIL

Alex Veloso Mendes

Divinópolis 2008

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Alex Veloso Mendes

O URBANO E O RURAL NA HIPERTENSÃO ARTERIAL: ESTUDO DE CASO

NO MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA, MINAS GERAIS, BRASIL

Dissertação apresentada ao curso de mestrado da Universidade do Estado de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Estudos Contemporâneos

LINHA DE PESQUISA: Saúde Coletiva

ORIENTADOR: Prof. Dr. Paulo Sérgio C. Miranda

Divinópolis Universidade Estadual de Minas Gerais

2008

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Mendes, Alex Veloso M538u O urbanismo e o rural na hipertensão arterial: estudo de caso no município de Lagoa da Prata, Minas Gerais, Brasil [manuscrito] . Alex Veloso Mendes. – 2008 96 f., enc. Orientador : Paulo Sérgio C. Miranda Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais, Fundação Educacional de Divinópolis. Bibliografia : f. 87-93 Hipertensão Arterial. 2. Urbanismo. 3. Rural. 4. Fatores de Risco. 1. Miranda, Paulo Sérgio C. II. Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação Educacional de Divinópolis. III. Título. CDD: 616.132

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Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG

Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais Área de concentração: Estudos Contemporâneos

Linha de Pesquisa: Saúde Coletiva

Dissertação intitulada “O urbano e o rural na hipertensão arterial: estudo de caso no município

de Lagoa da Prata, Minas Gerais, Brasil”, de autoria de Alex Veloso Mendes, aprovada pela

banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

_______________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Sérgio Carneiro Miranda (Orientador)

UFMG

________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Simões Ribeiro

FUNEDI/UEMG

____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Conceição Juste Werneck Côrtes

UFMG

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Simões

Coordenador do Programa de Pós Graduação FUNEDI/UEMG

Divinópolis, 18 de junho 2008

Av. Paraná, 3001- Jardim Belvedere II CEP: 35.501-170 - Divinópolis - MG Telefone Geral: (37) 3229-3500 - Fax: (37) 3229 3516

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AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA DISSERTAÇÃO

Autorizo, para fins exclusivamente acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta dissertação por processos de fotocopiadoras e/ou eletrônicos, desde que mencionada a

fonte. Autorizo, igualmente, sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de

dissertações da FUNEDI/UEMG.

___________________________________________ Alex Veloso Mendes

Divinópolis, 18 de junho de 2008

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AGRADECIMENTOS À Universidade Estadual de Minas Gerais através da Fundação Educacional de Divinópolis –

FUNEDI por possibilitar-me ser um profissional interagido com a realidade dos hipertensos

da cidade de Lagoa da Prata-MG.

Ao Professor e Mestre Paulo Sérgio C. Miranda por instruir-me e mostrar-me a real

importância da dissertação para minha carreira profissional;

Aos hipertensos que constituem a amostra da pesquisa, pois foram a peça fundamental para a

realização da mesma;

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta dissertação.

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RESUMO

A hipertensão arterial é uma entidade clínica multifatorial, conceituada como síndrome

caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas

e hormonais e a fenômenos tróficos. Diante da importância do tema, objetivou-se analisar o

perfil da população hipertensa rural e urbana inseridos no Programa Hipertensão Arterial:

Prevenir ou Remediar? quanto aos fatores causais da hipertensão arterial compreendidos na

faixa etária de 51 a 60 anos no município de Lagoa da Prata-MG em 2008. A coleta de dados

se deu por meio de um questionário estruturado, aplicado através de entrevista direta, durante

a consulta de enfermagem realizada diariamente. Verificou–se que grande parte dos

hipertensos atendidos era do sexo feminino e que se submetiam a fatores de risco, tais como:

sedentarismo, sal, gorduras saturadas, tabagismo e etilismo. Os resultados deste estudo

possibilitaram caracterizar e diferenciar os 62 hipertensos da amostra em relação aos níveis

pressóricos, além de evidenciar que a população urbana não apresenta fatores que propiciam o

aumento do risco de morbi-mortalidade quando comparada com a população rural.

Palavras-chave: hipertensão arterial, urbano, rural, fatores de risco, Lagoa da Prata-MG.

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ABSTRACT

The arterial hypertension is an entity clinical multifatorial, considered as syndrome

characterized by the presence of levels high tensionais, associates to metabolic and hormonal

alterations and phenomena troficos. Before the importance of the theme, it was aimed at to

analyze the profile of the population rural and urban hipertensa inserted in the Program

Arterial Hypertension: To prevent or to Remedy? as for the causal factors of the arterial

hypertension understood in the age group from 51 to 60 years in the municipal district of

Pond of the Silver-MG in 2008. The collection of data if he/she gave through a structured

questionnaire, applied through direct interview, during the nursing consultation accomplished

daily. It was verified that great part of the assisted hipertensos was female and that you/they

underwent risk factors, such as: sedentarismo, salt, saturated fats, tabacco and drunkenness.

The results of this study made possible to characterize and to differentiate the 62 hipertensos

of the sample in relation to the levels pressoricos, besides evidencing that the urban

population doesn't present factors that propitiate the increase of the morbi-mortality risk when

compared with the rural population.

Word-key: hypertension arterial, urban, rural, risk factors, Lagoa da Prata - MG.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1 Definição da pressão arterial ---------------------------------------------------------------------------- 35

QUADRO 2 Causas da hipertensão arterial secundária ------------------------------------------------------------ 41

QUADRO 3 Mecanismos biológicos pelos quais o exercício físico poderia contribuir para a prevenção primária e secundária da hipertensão arterial --------------------------------------------------------- 46

QUADRO 4 Fatores comportamentais e psicossociais e processos associados à variação do risco de hipertensão arterial e à progressão da doença --------------------------------------------------------- 47

FIGURA 1 Distribuição segundo residência dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? no município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 ------------------- 73

FIGURA 2 Distribuição por sexo dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 -------------------------------- 74

FIGURA 3 Comparação da distribuição por sexo dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 ------------------- 74

FIGURA 4 Distribuição por faixa etária dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 ------------------------------ 75

FIGURA 5 Número de participantes fumantes e não fumantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 ------------------ 76

FIGURA 6 Comparação quanto ao uso ou não do tabaco pelos Participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 -------- 77

FIGURA 7 Distribuição quanto à ingesta de bebida alcoólica pelos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 77

FIGURA 8 Distribuição por prática de prática de exercícios físicos (caminhada), dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 -------------------------------------------------------------------------------------- 82

FIGURA 9 Distribuição segundo à classificação da pressão arterial dos participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? do município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008 ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 84

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LISTA DE TABELAS

TABELA1 Classificação dos entrevistados segundo o sexo --------------------------------- 74

TABELA 2 Classificação dos entrevistados quanto ao tabagismo --------------------------- 76

TABELA 3 Classificação dos entrevistados quanto ao etilismo ----------------------------- 78

TABELA 4 Classificação dos entrevistados quanto ao uso de sal de cozinha ------------- 78

TABELA 5 Classificação dos entrevistados quanto ao uso de cafeína ---------------------- 79

TABELA 6 Classificação dos entrevistados quanto ao número de consultas anuais------- 80

TABELA 7 Classificação dos entrevistados quanto à escolaridade ------------------------- 81

TABELA 8 Classificação dos entrevistados quanto à prática de exercícios físicos ------- 82

TABELA 9 Classificação dos entrevistados quanto ao consumo de gorduras ------------- 83

TABELA 10 Classificação dos entrevistados quanto ao diabetes mellitus------------------- 84

TABELA 11 Classificação dos entrevistados quanto ao estresse ------------------------------ 85

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

HA Hipertensão Arterial

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

HDFP Hypertension Detection And Follow-Up Program

HDL Lipoproteína de Alta Densidade

LDL Lipoproteína de Baixa Densidade

NHANES National Health And Nutrition Survey

OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

O.M.S Organização Mundial da Saúde

P.A Pressão Arterial

PSF Programa Saúde da Família

USA Estados Unidos das Américas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13

1.1 Justificativa --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14

1.2 Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14

1.3 Hipótese ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 2 EMBASAMENTO TEÓRICO ------------------------------------------------------------------------------------------------- 16

2.1 O conceito de espaço rural e urbano ----------------------------------------------------------------------------------------- 16

2.1.1 Definição Governamental de Espaço Urbano e Rural ------------------------------------------------------------- 17

2.1.2 Critérios e definições: em questão a perspectiva dicotômica ------------------------------------------------------ 21

2.1.3 A alienação do modo de vida urbano e a idealização da ruralidade --------------------------------------------- 26

2.1.4 A relação cidade-campo ------------------------------------------------------------------------------------------------ 28

2.2 Definição e classificação da hipertensão arterial ----------------------------------------------------------------------- 34

2.3 Hipertensão Arterial e Epidemiologia ------------------------------------------------------------------------------------ 48

2.4 A Influência da Globalização na Hipertensão Arterial --------------------------------------------------------------- 57

2.5 Os Mitos na Hipertensão Artéria ------------------------------------------------------------------------------------------ 60

3 METODOLOGIA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 68

3.1 Tipo de estudo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 68

3.2 População alvo ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 69

3.3 População estudada ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 69

3.4 Critério de inclusão-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 69

3.5 Critério de exclusão ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 69

3.6 Instrumento ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 70

3.7 Coleta de dados ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 70

3.8 Pré teste -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 70

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 73

5 CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 86

REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 87

ANEXO I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido------------------------------------------------------------------- 94

ANEXO II - Questionário/Formulário------------------------------------------------------------------------------------------- 96

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1. INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial, conhecida popularmente por “pressão alta”, é uma doença crônica que

vem alarmando a população nas últimas décadas. Ela atinge pessoas de diferentes idades e

níveis sócio-econômicos distintos. Porém, por ser muitas vezes assintomática, é deixada em

segundo plano e só é realmente importante para os que a possuem quando atinge órgãos

vitais, tais como o coração, cérebro, rins, olhos. Segundo a Organização Mundial de Saúde

(O.M.S.,1999), hipertensão arterial é a elevação dos níveis tensionais acima de 140mmHg

para a pressão sistólica e acima de 90 mmHg para a pressão diastólica.

Ela, na maioria das vezes, não tem causa definida, porém, sabe-se que a obesidade, os

antecedentes familiares, o stress, os excessos alimentares, o álcool e as gorduras animais, no

sangue podem desencadear o aparecimento deste mal.

Apesar de, na grande maioria dos casos, não haver cura para a hipertensão arterial, sabe-se

que o uso adequado de medicamentos, o controle de peso, a redução do stress e a prática

regular de exercícios físicos são grandes aliados para sua normalização e controle (O.M.S.,

1999).

Salienta-se que será considerada a definição dada pelo IBGE (2005) para se classificar as

áreas em urbano (aquela que possui uma rede de serviços organizados, maior aglomeração de

pessoas e emprego de alta tecnologia) e rural (aquela que preserva o meio ambiente, tendo

presente nenhuma ou pouca tecnologia à disposição, menor aglomeração de pessoas e poucos

e ausência total de serviços e indústrias).

O presente trabalho trás como principio básico a transdisciplinaridade, que como paradigma

emergente, propõe transcender o universo fechado da ciência e trazer à tona a multiplicidade

fantástica dos modos de conhecimento, assim como o reconhecimento da multiplicidade de

indivíduos produtores de todos estes novos e velhos modos de conhecimento. A partir de

então, surge a necessidade de reafirmar o valor de cada sujeito como portador e produtor

legitimo de conhecimento. Ou seja, o trabalho aqui exposto, percorre diversas linhas do

conhecimento: geografia, história, medicina, estatística e matemática, permitindo assim a

intercomunicação entre essas áreas do conhecimento, proporcionando o surgimento de um

novo saber como prega a transdisciplinaridade, onde essa chama a atenção para a

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potencialização de tendências heterogêneas, seja no campo da subjetividade ou no da

produção de conhecimento, abrindo áreas de tensão com as tendências homogeneizantes.

1.1 JUSTIFICATIVA

Como trabalhei com hipertensos de 1999 a 2001, no município de Japonvar, uma cidade

localizada a 100 Km de Montes Claros/M.G, no projeto de minha autoria, Hipertensão:

Prevenir ou Remediar?, financiado pela Secretaria Municipal de Saúde daquela cidade e

atualmente trabalhar com grupos de hipertensos no hospital no qual presto serviço no

município de Lagoa da Prata-MG, vejo a importância deste assunto para a sociedade e para a

pesquisa em nível de mestrado. Eram realizadas reuniões de grupo e palestras sobre o que é

hipertensão, bem como os fatores que levam à mesma, além das causas, conseqüências e seu

tratamento. E ao final de cada reunião era aferida a pressão arterial de cada cliente, bem como

a realização da consulta de Enfermagem.

O município de Lagoa da Prata, localizado na região centro oeste do estado de Minas Gerais,

com população de 56.000 habitantes segundo dados do IBGE (2005), possui uma rede de

saúde bem estruturada, sendo composta de dez Programas de Saúde da Família - PSF, sendo

que quatro deles estão localizados na zona rural. Também faz parte da rede de saúde quatro

centros de saúde, uma policlínica, um hospital de médio porte, um pronto socorro municipal,

um centro de apoio psicossocial e um centro de especialidades odontológicas.

Diante do trabalho executado no município já citado e pelo que ainda executo, pude constatar

que há uma diferença entre os níveis pressóricos da população urbana e rural. Assim,

possibilitando constatar pelas diversas aferições feitas, que os maiores valores tensionais

nesse município encontrava – se entre a população hipertensa rural.

1.2 OBJETIVOS

Analisar o perfil da população hipertensão urbana e rural quanto aos fatores causais da

hipertensão arterial no município de Lagoa da Prata-MG no ano de 2008. Tendo como

objetivos específicos: conhecer o perfil da população estudada e analisar a relação deste perfil

com os fatores da hipertensão arterial.

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Pretende-se responder as seguintes indagações:

• Será que a diferença entre os níveis pressóricos observados entre a zona rural e urbana se

deve a um índice menor de assistência em saúde?

• Será que o consumo excessivo de cafeína bem como de gorduras saturadas (animal) são

agravantes e/ou determinantes dos níveis pressóricos elevados na população rural?

• Será que o uso indiscriminado do sal contribui para mostrar a diferença entre os valores

pressóricos da zona rural e urbana?

• Será que o nível de escolaridade estará influenciando nos altos níveis tensionais

encontrados na população do meio rural?

• Será que pelo fato da população rural fazer uso mais rotineiro de bebidas alcoólicas e do

fumo, esta apresenta uma maior elevação da pressão arterial?

• Será que o sedentarismo é um fator contribuinte na diferenciação entre os níveis

pressóricos da zona rural e urbana?

• Será se o estresse observado no centro urbano em relação ao meio rural estará

influenciando nos níveis tensionais da população?

1.3 HIPÓTESE

O fato de se morar atualmente na zona rural ou zona urbana afeta o quadro de hipertensão

arterial.

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2. EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 O conceito de espaço rural e urbano

Procurou-se analisar o espaço rural e seu significado à luz da relação cidade-campo, pois,

conforme se verá a seguir, estes dois espaços não podem ser compreendidos separadamente.

O espaço rural tem passado recentemente por um conjunto de mudanças com significativo

impacto sobre suas funções e conteúdo social, o que tem levado ao surgimento de uma série

de estudos e pesquisas sobre o tema em vários países, sobretudo nos países desenvolvidos,

onde esse processo apresenta maior importância.

No caso do Brasil, o despertar para esta problemática tem se dado principalmente entre os

estudiosos comprometidos com a discussão de uma nova estratégia de desenvolvimento rural

para o país, ou seja, a partir de uma perspectiva instrumentalista. Para estes, a superação da

extrema desigualdade social que marca a sociedade brasileira passa obrigatoriamente pela

definição de políticas de valorização do campo.

O projeto de desenvolvimento rural adotado ao longo de décadas no país tem como principal

objetivo à expansão e consolidação do agronegócio, tendo alcançado resultados positivos,

sobretudo em relação ao aumento da produtividade e à geração de divisas para o país via

exportação. No entanto, esta opção tem implicado custos sociais e ambientais crescentes. O

avanço dos movimentos sociais no campo e a intensificação de suas lutas, têm tornado cada

vez mais evidente a necessidade de se elaborar uma estratégia de desenvolvimento para o

campo que priorize as oportunidades de desenvolvimento social e não se restrinja a uma

perspectiva estritamente econômica e setorial.

Além disso, nos principais centros urbanos do país vive-se uma situação de crise, marcada por

um forte aumento da violência e do desemprego, além das péssimas condições de saúde,

educação e habitação enfrentadas por grande parte de seus moradores. O intenso processo de

êxodo rural verificado na segunda metade do século XX, responsável pelo alto grau de

urbanização alcançado por nossa população, encontra-se hoje em fase de desaceleração,

tornando-se cada vez mais significativa à migração entre pequenos municípios rurais e o

movimento cidade-campo. Apesar de o Brasil ser um país de população predominantemente

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urbana, com apenas cerca de 20% de sua população residindo em áreas rurais, segundo dados

do Censo do IBGE de 2000, grande parte de nosso vasto território permanece rural.

A pobreza é proporcionalmente muito maior no campo do que na cidade, atingindo 39% da

população rural em 1990 (IPEA, 1996). É também neste espaço onde são identificados os

menores índices de escolaridade e as maiores taxas de analfabetismo do país, além do alto

número de pacientes com doenças crônico degenerativas, sendo uma delas de suma

importância, a hipertensão arterial. A agricultura concentra hoje os mais baixos níveis de

renda média.

Porém, em contraste com esta situação e demonstrando didaticamente a importância e

pertinência de uma distribuição de terras mais justa para se alcançar o desenvolvimento social

e econômico do campo, podemos citar o exemplo de alguns municípios do estado de Minas

Gerais e do sul do país, onde a produção camponesa tem peso significativo e é observada boa

parte de nossos maiores índices de desenvolvimento humano (IPEA, 1996). Como é o caso

dos municípios de: Bom Despacho, Lagoa da Prata, Pouso Alegre, Feliz, Paraí, Nova Prata e

Salvador do Sul no Rio Grande do Sul e de Indaial, Gaspar, Videira e Timbó em Santa

Catarina (VEIGA, 2002).

A grande diversidade social de nosso campo se associa à sua diversidade natural, o que se

reflete na complexidade de sua problemática social e ambiental, ao mesmo tempo em que

representa um imenso potencial para o seu desenvolvimento. Para se poder avaliar melhor a

tal potencialidade, é preciso compreender o(s) significado(s) que apresenta o espaço rural.

2.1.1 Definição governamental de espaço urbano e rural

No Brasil, adota-se o critério político-administrativo e considera-se urbana toda sede de

município (cidade) e de distrito (vila). Segundo o IBGE (2005), é considerada área urbanizada

toda área de vila ou de cidade, legalmente definida como urbana e caracterizada por

construções, arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por transformações

decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas reservadas à expansão urbana.

Conforme salienta PEARSON (2000), não é feita qualquer referência às funções peculiares

dos diferentes aglomerados que constituem um fator fundamental na diferenciação entre o

espaço rural e o espaço urbano.

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Nessa classificação, o espaço rural corresponde a aquilo que não é urbano, sendo definido a

partir de carências e não de suas próprias características. Além disso, o rural, assim como o

urbano, é definido pelo arbítrio dos poderes municipais, o que, muitas vezes, é influenciado

por seus interesses fiscais.

Veiga (2002) chama atenção para o fato de que este critério leva a classificar como área

urbana sedes de municípios muito pequenas, algumas com população inferior a 2.000

habitantes, o que seria ainda pior no caso de algumas sedes distritais. Tal distorção nos levaria

a denominar de cidade o que na realidade seriam aldeias, povoados e vilas, resultando numa

superestimação de nosso grau de urbanização. O autor ainda qualifica como “anacrônica e

aberrante” a fronteira inframunicipal entre o rural e o urbano estabelecida por esta

classificação (VEIGA, 2002, p. 112).

Este autor sugere o uso combinado de três critérios para se delimitar o que venha a ser espaço

rural e espaço urbano, a saber: o tamanho populacional do município, sua densidade

demográfica e sua localização.

Segundo ele, “não há habitantes mais urbanos do que os residentes nas 12 aglomerações

metropolitanas, nas 37 demais aglomerações e nos outros 77 centros urbanos” identificados

no estudo Caracterização e tendências de Rede Urbana do Brasil de 1999. Nessa teia urbana

estaria o Brasil “inequivocamente urbano”, que corresponde a 57% de nossa população. Para

ele, a densidade demográfica constitui um critério muito importante para permitir a

diferenciação entre urbano e rural do restante dos municípios que se encontram fora dessa

teia. Pois, é o indicador que melhor expressa a “pressão antrópica” e reflete as modificações

do meio natural ou o grau de artificialização dos ecossistemas que resultam de atividades

humanas, sendo o que de fato indicaria o grau de urbanização dos territórios. Assim, com base

na combinação da densidade demográfica e do tamanho populacional o autor considera de

pequeno porte os municípios que apresentam simultaneamente menos de 50 mil habitantes e

menos de 80 hab/km² e conclui que 90% do território brasileiro, 80% de seus municípios e

30% de sua população são essencialmente rurais. Os 13% restantes da população caberiam

numa categoria intermediária, que pode ser denominada como “rurbana” (VEIGA, 2002, p.

335).

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Segundo Veiga (2002), o rural é necessariamente territorial e não setorial como costumam

considerar muitos programas governamentais. As relações urbano/rural não mais

corresponderiam à “antiquada dicotomia” entre cidade e campo, tendo esta sido substituída

por uma geometria variável na qual passaram a ser cada vez mais cruciais as aglomerações e

as microrregiões. Assim, é preciso considerar a relação entre espaços mais urbanizados e

espaços onde os ecossistemas permanecem menos artificializados, ou seja, espaços rurais,

para a definição de uma estratégia realista de desenvolvimento baseada numa articulação

horizontal de intervenções (Idem, p. 37-38). Afirma o autor, que se tornou claro para os

analistas o fato de que as possibilidades de desenvolvimento de qualquer comunidade rural

dependem dos laços que ela mantém com centros urbanos, particularmente com as cidades de

sua própria região (Idem, p. 97). Ou seja, fica aqui explicito que o rural está intimamente

ligado ao local, lugar onde se preserva a sua origem, os seus hábitos e costumes, enquanto o

urbano seria aquele lugar onde houve transformação nos hábitos e costumes locais, onde o

global se destaca, onde a interferência do homem no meio é evidente através do emprego da

tecnologia, da ciência, do conhecimento empírico e científico conforme lembra o IBGE

(2005).

Esta constatação teria levado a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) a considerar como unidade de base rural toda unidade administrativa ou estatística

elementar com densidade inferior a 150 hab./km², classificar a partir de 1994 as regiões de

seus países membros em três categorias. A unidade de base rural pode apresentar um núcleo

urbano com densidade demográfica superior a 150 hab. /km², desde que o resultado geral,

computando-se a área de entorno, não ultrapasse este patamar (ABRAMOVAY, 2000).

As categorias definidas são as seguintes:

• essencialmente rurais: são aquelas em que mais de 50% da população regional habitam

em unidades de base rurais;

• relativamente rurais: são aquelas em que entre 15% e 50% da população regional habitam

em unidades de base rurais; e

• essencialmente urbanizadas: são aquelas em que menos de 15% da população regional

habitam em unidades de base rurais.

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Veiga (2002, p. 33) parece se inspirar de certa forma nesta classificação ao propor a divisão

do território brasileiro em inequivocamente urbano, essencialmente rural e em condições

intermediárias. Segundo ele, as relações cidade-campo teriam mudado radicalmente na

segunda metade do século XX, sem, contudo reduzir o contraste entre estes espaços.

O que está ocorrendo hoje nos países do Primeiro Mundo é que o espaço rural tende a ser cada vez mais valorizado por tudo o que ele opõe ao artificialismo das cidades: paisagens silvestres ou cultivadas, água limpa, ar puro e silêncio. O desenvolvimento leva a uma forte revalorização do ambiente natural, em vez de suprimir a diferença entre cidade e campo por obra e graça da organização conjunta da agricultura e da indústria (VEIGA, 2000, p. 95, grifo meu).

Veiga (2000) preocupa-se em defender a viabilidade econômica do espaço rural e por isso

busca superar a concepção de espaço rural como sinônimo de atraso, enfatizando o

dinamismo encontrado hoje nestas áreas em países desenvolvidos. Para ele o principal trunfo

econômico destes espaços seria o seu patrimônio cultural e natural. Este último corresponde

às amenidades rurais, ou seja, ar puro, belas paisagens, contatos com animais, etc. A

capacidade de valorizar tais amenidades, atraindo investimentos da indústria do lazer,

deslocaria a base da economia rural da exportação de produtos primários e manufaturados

para a oferta de serviços e importação de pessoas, dinheiro público e renda de origem urbana.

Apesar da importância das questões tratadas por Veiga e da relevância de sua iniciativa no

sentido de propor uma classificação mais adequada de nossa realidade espacial, sua análise,

de caráter instrumental, restringe-se a uma perspectiva econômica e não problematiza os

aspectos sociais envolvidos nas atuais mudanças verificadas na relação cidade-campo. Desta

forma, o autor apreende de forma naturalizada a manipulação da imagem do espaço rural

como espaço natural, defendendo a necessidade de se tirar vantagem desta tendência, que

transforma o espaço rural em objeto de consumo.

Uma outra contribuição importante a essa discussão é feita por ALENTEJANO [s.d.] em “O

MST/RJ, o rural, o urbano e a pluriatividade”. O autor defende que o desenvolvimento do

capitalismo e a “industrialização” da agricultura desencadeiam a urbanização do campo. O

que seria reforçado pela proliferação de atividades não-agrícolas no campo, antes

eminentemente urbanas como o turismo, comércio e prestação de serviços. Contudo, embora

tendo o seu significado alterado, o rural permaneceria por ter uma natureza distinta do urbano.

“Enquanto a dinâmica urbana praticamente independe de relações com a terra, tanto do ponto

de vista econômico, como social e espacial, o rural está diretamente associado à terra, embora

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as formas como estas relações se dão sejam diversas e complexas” (ALENTEJANO, [s. d.],

p.07, grifo meu).

Segundo ele, cada realidade rural ou urbana deve ser compreendida em sua particularidade,

mas também no que tem de geral, uma territorialidade mais ou menos intensa. É esta

intensidade quem distingue, em sua opinião, o rural do urbano. O urbano representaria

relações mais globais, mais descoladas do território, enquanto o rural refletiria uma

vinculação local mais intensa.

2.1.2 Critérios e definições: em questão a perspectiva dicotômica.

Há muita divergência quanto ao modo de definir o rural e isto se deve a uma série de fatores

que vão desde a forma diversificada em que esta realidade se apresenta no espaço e no tempo

até as influências de caráter político-ideológico e os objetivos a que visam atender as diversas

definições.

Comumente o rural é definido juntamente com o urbano com base em características a partir

das quais eles se diferenciam.

Os Estados têm sempre estabelecido definições oficiais, classificando os espaços em rural e

urbano para fins estatísticos e administrativos. Os principais critérios tradicionalmente

empregados são:

1. Discriminação a partir de um determinado patamar populacional;

2. A predominância da atividade agrícola;

3. Delimitação político-administrativa.

Segundo Abramovay (2000), a literatura internacional atual converge no sentido de definir o

significado da ruralidade nas sociedades contemporâneas a partir de três aspectos básicos: a

importância das áreas não densamente povoadas, a relação com a natureza e a dependência do

sistema urbano.

De uma maneira geral, as definições elaboradas sobre o campo e a cidade podem ser

relacionadas a duas grandes abordagens: a dicotômica e a de continuum. Na primeira, o

campo é pensado como meio social distinto que se opõe à cidade. Ou seja, a ênfase recai

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sobre as diferenças existentes entre estes espaços. Na segunda, defende-se que o avanço do

processo de urbanização é responsável por mudanças significativas na sociedade em geral,

atingindo também o espaço rural e aproximando-o da realidade urbana.

As idéias de Sorokin e Zimmermann (1986), de marcado caráter dicotômico, constituem uma

referência fundamental na discussão da temática rural-urbano. Elas foram apresentadas na

década de 30 do século XX, sob o forte impacto das mudanças provocadas pela expansão do

sistema capitalista, e enfatizavam as diferenças entre estes meios decorrentes da maior

complexidade do mundo urbano e da maior mobilidade social e espacial de sua população,

cujo ritmo de vida é cada vez mais marcado por deslocamentos diários entre o trabalho e a

residência numa “correria desvairada”. Os autores defenderam que a construção de uma

definição sociológica desses universos requer uma combinação de vários traços, ou seja, deve

ser uma definição composta, reconhecendo a dificuldade de se proceder a uma classificação

do mundo rural e do mundo urbano a partir de uma única característica. As diferenças

fundamentais identificadas por eles, entre estes dois meios sociais se referem a características

de ordem econômica, espacial, social e cultural consideradas a partir de oito traços: (1)

diferenças ocupacionais ou principais atividades em que se concentra a população

economicamente ativa; (2) diferenças ambientais, estando a área rural mais dependente da

natureza; (3) diferenças no tamanho das populações; (4) diferenças na densidade

populacional; (5) diferenças na homogeneidade e na heterogeneidade das populações; (6)

diferenças na diferenciação, estratificação e complexidade social; (7) diferenças na

mobilidade social e (8) diferenças na direção da migração.

Segundo esses autores, a cidade foi desde os seus primórdios uma sociedade complexa

formada por uma multiplicidade de grupos secundários, constituindo um corpo social mais

diferenciado do que uma vila rural.

Na segunda metade do século XX, com o avanço do processo de urbanização e com a

“industrialização” da agricultura, ganham expressão os estudos que defendem a idéia de

continuum rural-urbano. Ou seja, afirma-se a tendência a uma maior integração entre cidade e

campo, com a modernização deste e a destruição de formas arcaicas. Admitem-se diferenças

de intensidade e não contraste entre estes dois espaços, em relação aos quais não haveria uma

distinção nítida, mas uma diversidade de níveis que vão desde a metrópole até o campo no

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outro extremo. São representativos desta abordagem os trabalhos realizados neste período por

H. Mendras na França e por R. E. Pahl nos Estados Unidos (KAYSER, 1990).

Cidadãos e rurais formam de certa forma uma sociedade única: eles participam de uma mesma civilização... De fato, não existe solução de continuidade entre a metrópole, a grande cidade, a pequena cidade, o burgo e o povoado e seria abusivo cavar um fosso entre estes dois extremos. Todas as estatísticas revelam ao contrário diferenças de intensidade e não de contraste (KAYSER, 1990, p. 16).

Analisando atentamente as duas abordagens, vê-se que a idéia de continuum rural-urbano

também se apóia numa concepção dual, pois consideram o rural e o urbano como pontos

extremos numa escala de gradação. Na medida em que o rural e o urbano são tratados como

pólos de um contínuo, está de certa forma, subentendida uma diferença qualitativa entre eles

(SOLARI, 1972).

A definição de rural que se apóia nesta perspectiva identifica o mundo rural com um passado

idealizado que se apresenta como negação da sociedade urbana moderna.

Para MARTINS (1993), a ambigüidade acima referida se encontra na origem mesmo do

conhecimento sociológico e expressa a influência simultânea do conservadorismo e do

cientificismo.

Segundo ele, a sociologia surge como uma modalidade de conhecimento contida no bojo do

pensamento conservadora, constituindo-se a partir de idéias-elementos conservadoras que

respondem a idéias-elementos do pensamento burguês e liberal da fase de formação da

sociedade capitalista. Daí o surgimento dos seguintes pares de idéias constitutivas opostas:

comunidade/sociedade, autoridade/poder, status/classe, sagrado/profano e

alienação/progresso. “A análise sociológica estaria, assim, projetando inevitavelmente a

sombra do tradicionalismo (no caso, o tradicionalismo medieval) sobre a sociedade

capitalista” (MARTINS, 1993, p. 18). Esta ambigüidade de origem tende a resolver-se no

nível do conhecimento na medida em que a sociologia envereda pela análise de dicotomias:

tradicional/moderno, rural/urbano, local/global, tradicional/racional, pré-capitalista/capitalista

etc. A ambigüidade é proposta como fundamento de diagnóstico das descontinuidades da vida

social, de modo que em cada termo da dicotomia não haja ambigüidade, uma vez que um é

inter-meiado pelo outro, onde não se sabe realmente onde começa o espaço urbano e onde

termina o rural.

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De acordo com Martins (1993), a sociologia rural nasce para explicar uma situação de crise

que provoca a necessidade de refletir sobre o mundo rural. Esta crise é marcada por um

conjunto de transformações sociais relacionadas à intensa migração do campo para a cidade e

conseqüente esvaziamento do campo, além da invasão deste pelas cidades. Assim, a

sociologia rural reproduz a ambigüidade fundamental da sociologia e surge como

conhecimento instrumental voltado para a superação do atraso do campo.

A perspectiva dicotômica permite a oscilação entre os dois pólos, ora idealizando o passado e

valorizando o tradicional, ora baseando-se na idéia de progresso e valorizando o moderno.

Desde fins dos anos 70, pode-se falar de uma retomada da abordagem dicotômica relacionada

a uma redefinição da relação cidade-campo resultante da “crise urbana” e da degradação geral

das condições de vida na cidade. Neste contexto, intelectuais franceses como M. Jollivet e o

próprio H. Mendras, dentre outros, têm criticado a idéia de que tudo é urbano, o que, segundo

eles, repousaria sobre uma confusão entre modo de vida e prática de consumo e um equívoco

sobre o sentido do termo urbanização. Para eles, recentemente tem aumentado o contraste

entre estas duas realidades na medida em que a imagem do rural como próximo à natureza

passa a desempenhar um papel cada vez mais importante nas representações da sociedade

moderna, opondo-se ao artificialismo da vida urbana (KAYSER, 1990). Nas últimas décadas,

tem-se observado nos Estados Unidos e na França, dentre outros países, a revalorização de

determinadas áreas rurais e o seu conseqüente crescimento populacional.

Além disso, muitas vezes este dinamismo está relacionado à presença crescente de pessoas

ligadas a atividades não-agrícolas residentes nestas áreas. Tudo isto tem levado institutos de

pesquisa destes países a conceberem novas formas de apreender esta realidade, a partir da

delimitação de espaços formados pela unidade cidade-campo e da análise de sua dinâmica

territorial como é o caso da classificação adotada pela OCDE a partir de 1994 mencionada

anteriormente. KAYSER (1990) define o espaço rural de forma descritiva como um modo

particular de utilização do espaço e de vida social que apresenta como características: (a) uma

densidade relativamente fraca de habitantes e de construções, dando origem a paisagens com

preponderância de cobertura vegetal; (b) um uso econômico dominantemente agro-silvo-

pastoril; (c) um modo de vida dos habitantes caracterizado pelo pertencimento a coletividades

de tamanho limitado e por sua relação particular com o espaço e (d) uma identidade e uma

representação específicas, fortemente relacionadas à cultura camponesa (acredito que esta

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característica decorre da anterior). E observa ainda que se trata de uma noção aplicável a uma

certa escala, necessitando de um mínimo de extensão e continuidade e também implicando

um certo nível de organização administrativa e controle pela coletividade territorial.

Dando seqüência a seu argumento, KAYSER (1990) procura ultrapassar a pura descrição e

propõe uma análise da ruralidade evitando compreender o rural de hoje a partir de seu

passado ou em relação ao urbano. Assim, o autor define o rural como uma forma específica de

relação da sociedade com o espaço que apresenta um caráter dominante: a sua inscrição local.

Este fato tem como uma de suas principais conseqüências tornar vazia a noção de sociedade

rural no singular e impedir que a população rural se pense como um conjunto social,

dificultando a construção de projetos coletivos entre unidades rurais situadas em torno de uma

pequena cidade. Apesar de estas unidades estarem inegavelmente abertas a influências

externas via uma diversidade de redes de comunicação que as ligam diretamente às grandes

cidades. Em estudo posterior KAYSER (1990) analisa impactos do deslocamento de pessoas

da cidade em direção ao campo verificado na última década na França. Estas migram, em sua

maioria, em busca de melhor qualidade de vida e melhor educação para seus filhos. Segundo

ele, estes novos habitantes rurais não estão em comunicação direta com a natureza como os

camponeses, apresentando uma relação mais distante. Estas pessoas constituem uma nova

categoria, os “citadins auvillage”, e tendem a valorizar menos as visitas a parques, trilhas e

florestas do que os próprios habitantes das grandes cidades. Para eles, o importante é sentir-se

vivendo a “céu aberto”. Neste sentido, KAYSER (1990) fala em triunfo da urbanidade. O

meio rural se encontraria hoje completamente integrado ao conjunto social e espacial do país.

A urbanidade submergiu o campo. Diferentes seguramente enquanto meios, enquanto ambiente, o campo está povoado por “rurais” cuja especificidade foi apagada em favor da homogeneização da sociedade inteira. Os agricultores perderam o seu lugar de destaque, nós os veremos mais distantes, em favor de uma larga representação das classes médias, dominantes na França (KAYSER, 1990, p. 156).

O sistema de valores encontrado na população rural de outrora, marcado por solidariedades

coletivas, é substituído pela “cultura do zapping” e pelo individualismo. O povoado

transforma-se numa coleção de indivíduos, de famílias, que rejeitam assumir qualquer

responsabilidade na vida coletiva (KAYSER, 1990, p. 157).

O contraste de imagens entre o rural e o urbano é reforçado ainda mais com a transformação

da paisagem rural em objeto de consumo e a tendência crescente de elaboração e/ou

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valorização de identidades rurais para atender a exigências mercadológicas. Estas mudanças

observadas de modo mais significativo em países desenvolvidos como a França levam à

passagem da imagem do campo ligada à produção, à atividade agrícola, para a imagem-

consumo. O olhar torna-se mais importante que o fato econômico, o campo é hoje uma

paisagem em primeiro lugar (KAYSER, 1990). Mas é importante que não se confunda campo

com natureza. O campo é obra secular dos homens: ele é cultivado, artificializado. Segundo

KAYSER (1990), “o campo é um dos monumentos da civilização urbana” é “um espaço

construído onde a natureza assusta sempre um pouco.

2.1.3 A alienação do modo de vida urbano e a idealização da ruralidade

Em estudo sobre a literatura e a história inglesas entre os séculos XVI e XX, Williams

identificou a permanência dos ideais de inocência bucólica e da cidade como agente

civilizador em diversas épocas, bem como das idéias a respeito da idiotice do campo ou

corrupção da cidade. O que o levou a se perguntar: “que tipo de experiência estas idéias

parecem interpretar e por que certas formas ocorrem ou recorrem nesse ou naquele

momento?” (WILLIAMS, 1990).

Williams (1990) acredita que, em determinados momentos, as idéias sobre a cidade e o campo

podem representar formas de isolamento e identificação de processos sociais mais gerais,

apesar de reconhecer a multiplicidade de formas e conteúdos assumidos por estas idéias, em

decorrência da diversidade de experiências vivenciadas por cada grupo ou classe social em

contextos sócio-espaciais e históricos distintos. Assim, para ele, o contraste entre cidade e

campo que prevalece em nosso imaginário é uma das principais maneiras de tomarmos

consciência de uma parte central de nossa experiência e das crises de nossa sociedade

capitalista, marcada pela intensidade e velocidade dos processos de transformação. O

capitalismo é, em termos de história do mundo, o agente mais eficiente e poderoso de

transformação da natureza e do social e as transformações nas relações entre cidade e campo

constituem um dos fundamentos deste modo de produção. Por isso, a cidade é comumente

vista como representação do capitalismo. No entanto, segundo Williams (1990),

a cidade é apenas uma maneira convencional de se ver essa espécie de transformação; e o campo, como agora quase todos sabem, é sem dúvida outra. De fato, a mudança da atitude mais antiga de admiração pela terra cultivada para o amor intenso aos

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lugares em que a natureza permanece ‘intocada’ é um registro preciso deste processo persistente, e de seus efeitos em uma de suas etapas mais ativas (WILLIAMS, 1990, p. 393).

A divisão e oposição entre cidade e campo, indústria e agricultura, em suas formas modernas,

correspondem à culminação do processo de divisão e especialização do trabalho que, com o

capitalismo, foi desenvolvido a um grau extraordinário. O autor nos convida a superarmos tal

divisão que estaria na base do processo de alienação e nos tornaria seres divididos. A imagem

idealizada do campo corresponderia, assim, a uma reação crítica à forma alienada das relações

sociais dominantes.

Williams (1990) defende que as concepções de campo e cidade, em seu direcionamento geral,

representam posicionamentos em relação ao sistema social global e que desde os primórdios

do modo capitalista de produção as imagens que temos da cidade e do campo constituem

maneiras de nos colocarmos diante de todo um desenvolvimento social, por isso precisamos

examinar suas inter-relações e, através destas, a forma concreta da crise subjacente (Idem, p.

397-398).

Como em geral a imagem comum do campo é associada ao passado, à tradição, aos costumes

humanos e naturais e a da cidade ao futuro, à modernização e ao desenvolvimento, fica

faltando o presente. O presente é vivenciado como tensão que remete a uma crítica aos modos

de ação e percepção distanciados, externos, decorrentes do modo de produção dominante,

modos de consumir em vez de desfrutar de pessoas e coisas. Dada a escala e complexidade

dos fenômenos da sociedade moderna, cujo exemplo mais evidente seria a cidade são

necessárias novas formas de comunicação para desempenhar o papel de mediação nas

relações do indivíduo com o mundo, sendo estruturada a partir de conteúdos que, em boa

parte, consiste num sucedâneo de relações diretas com o mundo. Assim, as novas formas de

comunicação e acesso à informação como o jornal matutino, o programa de rádio na hora do

café e a programação noturna da televisão contribuiriam para a configuração de nosso senso

social fundamental, formando uma subjetividade profunda que nos identifica enquanto

indivíduos e ao mesmo tempo nos conduz à descoberta de uma consciência partilhada. No

entanto, trata-se de uma forma específica de consciência, determinada por relações unilaterais

com o mundo, definidas por uma minoria que controla estes veículos e, portanto, criadas a

partir de formulações externas de uma realidade.

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Para compreender as imagens do campo e da cidade é preciso examinar os processos sociais

concretos de alienação, separação, exterioridade e abstração de modo crítico. É preciso

também recuperar a história do capitalismo rural e urbano, afirmando as experiências de

relações diretas, recíprocas e cooperativas que são descobertas e redescobertas muitas vezes

sob pressão. Nem a cidade irá salvar o campo, nem o campo, a cidade.

2.1.4 A relação cidade-campo

Em meados do século XIX Marx escreve que “A oposição entre a cidade e o campo começa

com a transição da barbárie à civilização, da organização tribal ao Estado, da localidade à

nação e persiste através de toda história da civilização até nossos dias” (MARX, 1987, p. 78).

Será que esta afirmação ainda se aplica à realidade de hoje? No início da segunda metade do

século XX, Lefebvre (1969, p. 174) escreve:

Outrora a Razão teve na Cidade seu lugar de nascimento, sua sede, sua casa. face a ruralidade, à vida camponesa aprisionada na natureza, à terra sacralizada e cheia de forças obscuras, a urbanidade afirmava-se como razoável. Atualmente, a racionalidade passa (ou parece passar, ou pretende passar) longe da cidade, acima dela, na escala do território nacional ou do continente.

Nesta seção, buscar-se-á compreender o significado da ruralidade partindo-se da análise da

relação cidade-campo ao longo do tempo no ocidente. Será adotada a periodização histórica

proposta por Lefébvre(1969), que identifica três eras: a era agrária, a era industrial e a era

urbana. O breve resgate histórico apresentado a seguir buscará identificar as funções

assumidas por estes dois espaços em diferentes momentos, a partir da influência da estrutura

econômica e social dominante. O espaço rural e o espaço urbano serão concebidos como

partes constitutivas de uma totalidade que se forma na diversidade. O que se fará com base no

conceito de divisão social do trabalho, considerando-se a influência da lei do

desenvolvimento desigual e combinado.

Nas sociedades agrárias, as cidades arcaicas eram sobretudo cidades políticas. A cidade

existia como centro político-administrativo que organizava o meio rural, sendo, porém,

dominada e delimitada por este, uma vez que dele dependia para o seu abastecimento. A

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cidade aparece como consumidora e o campo como o lugar da produção por excelência

(QUEIROZ, 1972).

Algumas civilizações alcançaram grande desenvolvimento econômico, elaborando uma

complexa divisão do trabalho através do mecanismo da redistribuição, que, por sua vez,

constituía parte do regime político vigente. A produção e distribuição de mercadorias eram

organizada principalmente através da arrecadação, armazenamento e redistribuição, sob a

autoridade do chefe, do templo, do déspota ou do senhor (POLANYI, 1988, p. 63-67).

Na Idade Média européia, o surgimento de cidades está relacionado às seguintes funções:

cidadela ou palácio, santuário e mercado. Ou seja, elas eram, além de políticas, lugar do culto

e de encontro (LOPES, 2002, p. 303). Aos poucos prevalece o caráter comercial da cidade e

esta passa a sediar um importante processo de acumulação de riqueza, conhecimento, técnicas

e obras, tornando-se centros de vida social e política. Neste período, a separação entre cidade

e campo pode ser entendida como separação entre capital e propriedade da terra, ou seja,

como o início de uma existência e de um desenvolvimento do capital independente da

propriedade da terra. Isto se dá quando os servos, tornados livres, passam a desenvolver

trabalhos de artesãos na cidade, dando origem a uma forma de propriedade que tem por base

somente o trabalho e a troca (MARX, 1987, p. 79).

As diversas fases de desenvolvimento da divisão do trabalho representam outras tantas formas diferentes de propriedade: ou, em outras palavras, cada nova fase da divisão do trabalho determina igualmente as relações dos indivíduos entre si, no que se refere ao material, ao instrumento e ao produto do trabalho (Idem, p. 29).

O passo seguinte no processo de divisão do trabalho foi à separação entre a produção e o

comércio com o surgimento da classe dos comerciantes e com a expansão do comércio para

além da vizinhança próxima da cidade. As cidades passam a se relacionar umas com as

outras, dando origem a um processo de especialização e a uma divisão do trabalho entre as

cidades. A produção agrícola deixa de ser a principal atividade e a riqueza deixa de ser,

sobretudo imobiliária. A cidade torna-se o locus principal da produção, passando a influenciar

diretamente o sentido e o ritmo da produção no campo bem como sua forma de organização

do trabalho. Completa-se a vitória da cidade sobre o campo, retirando-se a última aparência

de naturalidade no interior da divisão do trabalho e desencadeando-se uma ampla

monetarização das relações de trabalho e a crescente alienação do trabalhador². Polanyi

(1988) analisa a ruptura que representa em relação à história a emergência da economia de

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mercado capitalista. Segundo ele, até o final do feudalismo na Europa Ocidental, os sistemas

econômicos foram organizados segundo princípios de reciprocidade ou redistribuição, ou

domesticidade (também chamado de “princípio do uso”), ou alguma combinação dos três.

Nestes, a busca do ganho não ocupava lugar proeminente dentre as motivações econômicas,

pois elas eram determinadas pela influência de normas ditadas pelo costume, lei, magia ou

religião. O sistema econômico era mera função da organização social e não o contrário

(POLANYI, 1988, p. 69). Marx (1987) chama a atenção para o fato de que somente quando o

“princípio do ganho”, ou seja, o mercado passa a regular as relações sociais é que surgem as

condições para que ocorra a revolução industrial e com ela uma mudança substancial na

divisão social do trabalho e no caráter da relação cidade-campo. Isto porque é neste contexto

que se firma a mudança observada em relação aos fundamentos da riqueza, que não mais se

reduz à propriedade da terra como ocorria nas sociedades agrárias, mas se estende ao trabalho

e à troca, como meios para se obter formas de propriedade mobiliárias que serão

transformadas em capital (MARX, 1987, p. 79, 84 e 97).

Com o desenvolvimento das forças produtivas e uma maior divisão do trabalho, a grande

indústria universalizou a concorrência, estabeleceu os meios de comunicação e o mercado

mundial moderno, engendrando a rápida circulação e a centralização dos capitais. Este

movimento criou a história mundial na medida em que tornou cada nação e cada indivíduo

membro de um mesmo sistema econômico e dependente do mundo inteiro para a satisfação de

suas necessidades (MARX, 1987). Surge a cidade industrial e com ela as grandes

concentrações urbanas, apresentando extensos bairros proletários e abrigando populações

camponesas expulsas do campo. A indústria também se instala fora da cidade, próxima aos

recursos de que necessitava como fontes de energia, matéria-prima, mão-de-obra Com a

indústria e a generalização da troca e do comércio, os costumes e o valor dos costumes

desaparecem quase por completo, perdurando praticamente apenas como exigência do

consumo. Neste contexto o solo aparece convertido em mercadoria, o espaço se vende e se

compra. A cidade tradicional é destruída pela industrialização e, num processo dialético, a

sociedade inteira tende a se tornar urbana. A sociedade urbana se anuncia, muito tempo

depois que se estrutura a dominação urbana. A cidade em expansão prolifera e com seus

subúrbios invade o campo.

Segundo LEFÉBVRE (1986), as periferias urbanas podem se estender muito, a tal ponto que

quem as atravessa não compreende bem onde começa ou termina a cidade. Aparentemente um

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lugar de status intermediário, a periferia é uma extensão do urbano, seu fragmento. Constitui

periferia aquilo que não é mais campo, território destinado à produção alimentar ou ao

abandono. Para ele, o espaço urbano é o território onde se desdobra a modernidade e a

cotidianeidade no mundo moderno. O campo é onde a natureza prevalece, a agricultura e

outras atividades a modificam, mas não lhe retiram sua prioridade “geográfica”. Apesar de

não ser exterior à natureza, o espaço urbano é mais propriamente produzido (LEFEBVRE,

1986).

LEFEBVRE (1969) identifica duas importantes características do processo de urbanização: a

formação do tecido urbano e a afirmação da centralidade da cidade. O espaço rural estaria

então cada vez mais envolvido pelo tecido urbano que, além das cidades, é constituído pelos

espaços construídos para a circulação das mercadorias e das pessoas. A cidade se estende

desmesuradamente e a forma da cidade tradicional explode em pedaços. A explosão da cidade

acompanha a extensão do tecido urbano. Para LEFEBVRE (1969) o duplo processo de

industrialização-urbanização produz um duplo movimento de condensação e dispersão. Nos

países “em vias de desenvolvimento” ocorre um grande impacto sobre a estrutura agrária

neste período, empurrando para as cidades massas de camponeses que são acolhidos pelas

favelas. Estas últimas desempenham o papel de mediador (insuficiente) entre o campo e a

cidade, oferecendo um sucedâneo miserável à vida urbana para aqueles que abriga (Idem,

p.70-73).

Em resumo, uma crise mundial da agricultura e da vida camponesa tradicional acompanha, subentende, agrava uma crise mundial da cidade tradicional. Produz-se uma mutação em escala planetária. O velho “animal rural” e o animal urbano simultaneamente, desaparecem. Cedem eles lugar ao “homem”? Este é o problema essencial. A dificuldade maior, teórica e prática, vem de que a urbanização da sociedade industrializada não acontece sem a explosão daquilo que ainda chamamos ‘cidade’ (MARX, 1987, p. 87).

O movimento urbano relacionado ao processo de industrialização é responsável pelo

surgimento de novas atividades econômicas para estruturar a circulação das mercadorias e

para organizar e administrar todos os sistemas relacionados à atividade econômica. A cidade

torna-se a sede destas novas funções técnicas e administrativas e da atividade de preparação

de quadros para desempenhá-las por meio da difusão de cultura e de ensino (LOPES, 2002, p.

296). A cidade torna-se o lugar onde se concebe a gestão do espaço ao mesmo tempo em que

perde o significado de centro político. A centralidade se espalha no espaço que ela cria, nas

relações de produção e em sua reprodução. A sociedade em seu conjunto tende a constituir

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rede de cidades, interligando os espaços/fragmentos, inclusive o campo, de acordo com as

atividades/funções desenvolvidas em cada lugar. O Estado, enquanto poder centralizado, é

fortalecido por este processo e passa a atuar no interior de seu território a partir do controle de

um determinado sistema urbano (LEFEBVRE, 1969, p. 11). Concebida estrategicamente pelo

Estado, a relação centro-periferia marca o espaço social em suas contradições. O centro inclui

e atrai os elementos que o constituem como tal (as mercadorias, os capitais, as informações,

etc.), mas, estes cedo o saturam. De outro lado, ele exclui os elementos que ele domina (os

“governados”, “sujeitos” e “objetos”) e que o ameaçam (LEFEBVRE, 1973, p. 22-23).

O Estado se erige como planificador e, cada vez mais associado a grandes empresas, tende a

se apoderar de funções, atributos e prerrogativas da sociedade urbana, retirando dela poder

político, desvalorizando-a. A cidade é transformada em meio, dispositivo material a serviço

da organização da produção, do controle da vida cotidiana e da programação do consumo. Há

no espaço urbano em torno de cada ponto e de cada centro, grande ou pequeno, durável ou

provisório, uma ordem próxima, aquela da vizinhança, e de outro lado, numa escala mais

vasta, reina uma ordem distante, aquela da sociedade inteira (das relações de produção e do

Estado). A contradição se precisa quando a ordem distante, aquela das relações (sociais) de

produção a escala global, portanto aquela de sua reprodução, invade brutalmente as relações

próximas (a vizinhança, a natureza em torno da cidade, a região, as comunidades locais, etc.).

A desumanização da cidade pelo tempo da mercadoria e do capital financeiro nega a sua

herança comunitária de lugar de encontro e de lutas. A cidade torna-se centro privilegiado do

consumo em detrimento de seu significado como lugar da política. Este movimento também é

responsável pela transformação da natureza ou aquilo que é tido como tal em “gueto dos

lazeres” e lugar separado do gozo, ou seja, o espaço do campo passa a integrar o modo de

vida dos urbanos, sendo assim cada vez mais colonizado por eles. O campo urbanizado,

colonizado pelos urbanos, perde suas qualidades, seu modo de vida particular (LEFEBVRE,

1969, p. 107-108).

A reivindicação da natureza, o desejo de aproveitar dela se anuncia indiretamente como

tendência a fugir da cidade deteriorada, da vida urbana alienada. Esta reivindicação é um

desvio do desejo de uma vida mediada pelo valor de uso, da utopia de uma vida plena na qual

possamos ter atendido, além das necessidades básicas socialmente elaboradas, as necessidades

de atividade criadora, de obra, de informação, de imaginário, de atividades lúdicas etc.

(LEFEBVRE, 1969, p. 97).

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Segundo LEFEBVRE, “o urbano” como conceito nasce de uma nostalgia das cidades e vilas

históricas, nostalgia que se ressente do lugar que cada um habita, que freqüenta, que visita

quando viaja a qualquer parte. Nasce também da constatação inquietante da explosão da vila

histórica que se dá ao longo da segunda metade do século XX com o processo de

urbanizaçãodesurbanização, processo inaugurado há muito, mas que é exarcebado neste

período (LEFEBVRE, 1986, p.160).

O conceito de “urbano” aparece com a transformação daquilo que ele permite conhecer. Ele

nasce com a explosão da cidade e os problemas de deterioração da vida urbana. O urbano

assim concebido corresponde à forma geral do encontro e da simultaneidade (LEFEBVRE,

1986, p. 160-161). O campo transformado em “gueto dos lazeres” corresponde a um desvio

do desejo de uma vida plena, não alienada, desejo que também se manifesta com a afirmação

do “urbano” como lugar do uso e do encontro. Lembrando Williams (1990), os significados e

imagens projetados nestes espaços decorrem dos processos sociais concretos nos quais

estamos imersos. O presente ausente na oposição campo/cidade traduzida como oposição

passado/futuro de que nos fala este autor é o espaço/tempo do vivido, no qual a história tem a

dimensão do humano e se realiza na escala da ordem próxima, onde se evidenciam as

contradições. Além dos diferentes conteúdos assumidos pelos espaços urbano e rural no

tempo como visto no breve resgate histórico acima apresentado, a contemporaneidade

também comporta o diverso. A lei do desenvolvimento desigual e combinado nos remete a

diferenças de ritmo e intensidade com que as mudanças se processam no campo e na cidade e

internamente a estes espaços.

Segundo Lefebvre (1986), a lei do desenvolvimento desigual e combinado se expressa numa

dupla complexidade de influências recíprocas, a complexidade horizontal e vertical, que se

manifestam no campo da seguinte maneira. A complexidade horizontal (ou espacial) é

constituída por formações e estruturas agrárias diferentes pertencentes a uma mesma época

histórica. A complexidade vertical (ou histórica) caracteriza-se pela coexistência de

formações e estruturas agrárias de épocas diferentes (Idem, p. 165-166).

A permanência de arcaísmos tem sido maior no mundo rural, no entanto, ele também tem

sediado intensas e rápidas transformações, com impactos profundos em sua paisagem e

organização sócio-econômica. Santos afirma que o espaço rural comporta mais facilmente

mudanças na composição orgânica do capital do que se verifica nas cidades a substituição de

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sua composição técnica, pois é muito mais caro arrasar um quarteirão para abrir uma nova

avenida do que, por exemplo, substituir máquinas, sementes e produtos químicos (SANTOS,

1994, p. 153).

Dado o atual estágio em que se encontra o processo de mundialização do sistema capitalista

ou globalização, fica evidente a importância de diferentes formas de interação entre os níveis

local, regional, nacional e global. Daí adviria uma terceira complexidade resultante da

superposição de escalas geográficas, que pode ser denominada de transversal por cruzar as

duas complexidades anteriores.

Apesar de estar sob a influência dessas complexidades, o campo é um espaço marcado por

menos mediações do que o espaço urbano. A maior ou menor intensidade dos laços e relações

próximas verificados no primeiro depende sobretudo de como os grupos sociais que sobre ele

atuam se relacionam com a terra, podendo implicar questões de territorialidade e sentimento

de localidade.

O espaço rural corresponde a um meio específico, de características mais naturais do que o

urbano, que é produzido a partir de uma multiplicidade de usos nos quais a terra ou o “espaço

natural” aparece como um fator primordial, o que tem resultado muitas vezes na criação e

recriação de formas sociais de forte inscrição local, ou seja, de territorialidade intensa.

A necessidade de ações voltadas para o desenvolvimento e a inclusão social no Brasil se põe

para o campo da mesma forma que para a cidade, pois, tanto num espaço como no outro,

grande parte de nossas classes subalternas não alcança a plena cidadania. Elas vivem numa

condição de constante instabilidade, deslocando-se entre o espaço rural e o urbano a procura

de melhores condições de vida e de saúde.

2.2 Definição e classificação da hipertensão arterial

Segundo Brandão (1998) direta ou indiretamente, a hipertensão deve ser responsável por 10 a

20 % de todos os óbitos. Esses são devidos aos efeitos nocivos da hipertensão sobre as

artérias coronárias, as artérias renais e cerebrais, bem como à sobrecarga de trabalho que o

coração é obrigado a enfrentar conforme retrata Silva (1998).

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A Hipertensão Arterial (HA), ou seja, o aumento da força de circulação do sangue pelas

artérias do organismo prejudica órgãos vitais como o coração, o cérebro, os rins e vasos

sangüíneos, podendo ocasionar infarto, insuficiência cardíaca, coronariopatias, acidente

vascular cerebral hemorrágico e trombótico, insuficiência renal, doença arterial periférica,

dissecção da aorta e morte segundo traz a Organização Mundial de Saúde-O.M.S. (1999), já

Brunner & Suddarth (1999) define:

a hipertensão pode ser arbitrariamente definida como a presença de um nível persistente de pressão arterial em que a pressão sistólica se encontra acima de 140 mmHg e a pressão diastólica acima de 90 mmHg. Na população idosa, a hipertensão é definida como pressão sistólica acima de 160 mmHg e pressão diastólica acima de 90 mmHg (BRUNNER & SUDDARTH,1999, p. 613).

E segundo o Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue (1998, p. 22):

Cerca de 20% da população adulta desenvolvem hipertensão, mais de 90% dela tem hipertensão essencial (conhecida como primária, a qual não tem uma causa clínica identificável), o restante desenvolve elevações de pressão arterial decorrente de uma causa específica (hipertensão secundária), como: estreitamento das artérias renais e/ou doenças do parênquima renal, certos medicamentos, disfunções orgânicas, tumores e gravidez.

A O.M.S (1999) nos diz que a pressão sistólica é o pico da pressão sangüínea obtida no

interior da aorta e dos vasos periféricos durante a contração ventricular (sístole) “e que a

pressão diastólica é o valor da pressão sangüínea final obtida com o relaxamento do coração

(diástole)”. E ainda nos diz que pressão arterial normal para um adulto sadio é aquela onde a

sistólica é igual ou inferior a 140mmHg e a diastólica igual ou inferior a 90 mmHg. QUADRO 1 - Definição da hipertensão arterial Pressão diastólica (em mmHg ) < 85 normal 85-89 normal elevada 90-99 hipertensão discreta/leve(estágio 1) 100-109 hipertensão moderada (estágio 2) 110-119 hipertensão grave ( estágio 3) ≥ 120 hipertensão muito grave/ malígna ( estágio 4 ) Pressão Sistólica ( em mmHg ) < 130 normal 130-139 normal alta 140-159 hipertensão discreta/leve (estágio 1) 160-179 hipertensão moderada ( estágio 2) 180-209 hipertensão grave ( estágio 3 ) ≥ 210 hipertensão muito grave ( estágio 4) somente sistólica alterada ( em mmHg ) 140 a 159 hipertensão sistólica limítrofe. ≥ 160 hipertensão sistólica isolada

Fonte: Informações do Joint National Commitee on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure, JNC IV, JNC V, 1998.

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Segundo Francischetti (1999), os níveis pressóricos são correlacionados entre os membros da

família, fato atribuível à genética comum de base, ambiente compartilhado, ou hábitos de

estilo de vida. A pressão arterial elevada parece ter características complexas que não segue

as regras clássicas de herança mendeliana atribuível a um único locus no gene, as exceções

atualmente documentadas são umas poucas formas raras de hipertensão. A pressão arterial

elevada parece ser uma desordem poligênica e multifatorial na qual a interação de vários

genes com os demais e com o ambiente é importante.

Os principais fatores de risco da hipertensão arterial segundo SOWERS (2000) são: fumo,

dislipidemia (colesterol elevado), diabetes mellitus, idade acima de 60 anos, sexo (homens e

mulheres pós-menopausa), mulheres abaixo de 65 anos e homens abaixo de 55 anos.

Antes de considerar o tratamento ativo da hipertensão estabelecida, deve ser reconhecida a

grande necessidade de prevenção da doença. Sem prevenção primária, o problema da

hipertensão nunca poderá ser solucionado e poderá depender apenas da detecção da existência

de níveis pressóricos elevados. Segundo a O.M.S. (1999) a prevenção primária fornece

oportunidade atrativa para interromper e prevenir o continuo e dispendioso ciclo de controle

da hipertensão de suas complicações.

Uma porção significativa da doença cardiovascular ocorre em pessoas cuja pressão arterial

está acima dos níveis ótimos (120/80 mmHg) mas, não tão elevado que possam ser

diagnosticadas ou tratadas como hipertensão conforme diz LOPES (1996). Uma abordagem

mais ampla da população para reduzir os níveis pressóricos pode diminuir esta considerável

carga de risco.

Segundo a O.M.S. (1999) o tratamento ativo da hipertensão estabelecida, tão cuidadosamente

quanto possa ser fornecido, impõe custos financeiros e potenciais efeitos adversos.

A maioria dos pacientes com hipertensão estabelecida não faz modificações suficientes em

seu estilo de vida, não tomam a medicação, ou não tomam medicação suficiente para alcançar

o controle conforme lembra Lotufo (1998).

Mesmo se adequadamente tratados de acordo com os padrões atuais, os pacientes com

hipertensão podem não diminuir seus riscos como os de indivíduos com pressão arterial

normal.

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Conforme lembra Wajngarten (1999), o aumento da pressão arterial e pressão arterial elevada

não são conseqüências inevitáveis do envelhecimento. Por essa razão, uma estratégia efetiva

numa ampla população, para prevenir o aumento da pressão arterial com a idade e reduzir

globalmente os níveis pressóricos, mesmo que um pouco, podem afetar a mortalidade e

morbidade global da mesma forma ou mais do que apenas o tratamento naqueles com doença

estabelecida.

As modificações no estilo de vida são importantes no tratamento da hipertensão estabelecida,

podem ter impacto ainda maior na prevenção da doença e devem ser recomendadas para a

população como um todo. As modificações que não necessitem participação ativa dos

indivíduos, mas que possam ser fornecidas a toda a população, como redução na quantidade

de cloreto de sódio adicionados aos alimentos industrializados, pode ser mais efetivos,

conforme lembra Gikovate (1999).

Segundo Lopes (2002) a hipertensão arterial essencial tem início sob a forma de um processo

intermitente, nos indivíduos entre os 30 e 50 anos de idade e costuma ser físico.

Ocasionalmente, ela surge de modo abrupto e grave, assumindo uma evolução acelerada ou

“malígna” que faz com que as condições do paciente se deteriorize rapidamente.

De acordo com Wajngarten (1999, p.05)

a avaliação clínica de um homem de meia idade é mais difícil e demorada. As alterações próprias do envelhecimento, as manifestações atípicas das doenças, bem como a presença praticamente invariável de varias doenças concomitantemente podem confundir e devem ser devidamente reconhecidas. Além disso, a comunicação é freqüentemente problemática. Assim as condições sócio-econômicas, a necessidade de cuidados, os hábitos e medicamentos utilizados devem ser rigorosamente verificados.

Em uma pesquisa realizada pelo professor adjunto IV, departamento de medicina da

faculdade de medicina da Universidade Federal da Bahia, Antônio Alberto Lopes (1999),

confirma que fora do continente africano, o risco de Hipertensão Arterial (HA) é maior em

negros e miscigenados que em brancos. As diferenças são ainda mais nítidas para as formas

mais graves de HA, ou seja, as formas associadas com níveis elevados de pressão arterial ou

com complicações de órgãos–alvo (rins, fígado, cérebro, coração). Embora não se possa

concluir quanto aos fatores responsáveis pela associação entre as raças e HA, diferenças entre

negros/miscigenados e brancos em determinadas respostas fisiológicas que podem ser

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relacionados com a predisposição para HA tem sido descrito. Entre os diversos fatores,

evidencias histórica dão um certo suporte a possibilidade de que um processo evolutivo de

adaptação a situações de carência de sódio pode ter contribuído para o risco maior de HA

sensível ao sódio entre os negros e miscigenados. Em adição, a predisposição genética, fatores

ambientais e menor ingesta dietética de potássio podem também contribuir para diferenças

raciais em HA. Embora interações entre fatores genéticos e ambientais possam contribuir para

as diferenças raciais relativas a HA mais atenção deve ser dirigida para fatores ambientais se

o objetivo é a prevenção de HA, o controle das suas complicações e a busca da equidade em

saúde.

Segundo Malachias (1998), cardiologista e diretor do Instituto de Hipertensão Arterial de

Minas Gerais, “nos hipertensos, as artérias apresentam-se mais contraídas, o que eleva a

pressão do sangue que é bombeado pelas batidas do coração”.

De acordo com a O.M.S. e o National Institutes of Health– NIH (1999, p.34)

Estudos epidemiológicos demonstram que a hipertensão é mais comum em indivíduos que ganham muito peso, que consome dietas com baixo teor de potássio e Ca++, alto teor de sal, nas pessoas com história familiar de hipertensão e em indivíduos que apresentam fatores de personalidade ou emocionais que aumentam a pressão sangüíneas.

As situações estressantes, inevitáveis nos dias atuais, podem ocasionar problemas de saúde. A

revista Cuidados pela Vida (1999), coloca o estresse como o mal do século e que este mal

prejudica o coração, o estômago, pode levar a depressão e provocar a sensação de cansaço e

frustração.

Segundo Adindfi & Wládia (2000), psicólogas da Biossintética Assistance, dentre os fatores

que levam ao estresse destacam-se o excesso de trabalho, o medo do desemprego, a violência,

a baixa qualidade de vida e própria vida urbana (barulho, trânsito).

Segundo Chung (1986) a hipertensão arterial muitas vezes coexiste com outros fatores de

risco, tais como obesidade, hiperlipidemia e diabetes mellitus. E, portanto, o público em geral

deve ser adequadamente informado e educado, bem como é aconselhável e indispensável,

para o melhor controle da hipertensão arterial, que haja uma colaboração estreita entre o

paciente e um profissional de saúde competente.

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Lopes (1999) lembra que se deve observar que um em cada seis americanos adultos tem

pressão arterial (P.A.) elevada, mas a metade deles desconhece sua hipertensão. Mesmo

quando a P.A. elevada é descoberta, muitos pacientes não procuram atenção médica, e muitos

outros não tomam os medicamentos necessários com regularidade.

Segundo a O.M.S. (1999) em muitos pacientes, a elevação da P.A. ocorre somente por

períodos intermitentes durante uma fase precoce (hipertensão lábil), e mais tarde

eventualmente a hipertensão se mantém. Na maioria dos casos, a hipertensão é detectada em

pessoas entre os 30 e 45 anos de idade. Faz-se necessário um exame médico logo na infância,

notadamente quando houver uma história familiar de hipertensão. Se um dos pais ou um dos

irmãos tiver P.A. alta, a possibilidade de existir hipertensão é pelo menos dobrada. Exames

médicos regulares são extremamente importantes para qualquer pessoa, mesmo quando ela se

considera saudável, pois que muitos pacientes hipertensos não têm sintomas ou estes sintomas

podem não ser específicos, tais como tonteira, dor de cabeça; e o resultado é que o paciente

pode não prestar a devida atenção ao profissional de saúde.

Segundo Lopes (1999) em 90 % dos casos de P.A. alta, a causa exata é desconhecida – é a

hipertensão chamada “primária”, ou “idiopática”. Os restantes 10% em que se podem

encontrar varias causas responsáveis pelo desenvolvimento da hipertensão, representam a

hipertensão “secundária”. Contudo, não importando qual a causa da hipertensão, o controle da

P.A. com dieta (restrição de sal), redução de peso, exercícios físicos, uma vida sem estresse,

várias drogas anti-hipertensivas reduz consideravelmente a morbidade e a mortalidade.

A Revista Cuidados pela Vida (1999) traz que é sabido que qualquer atividade que provoque

emoção temporariamente elevará a P.A. em pacientes sadios. Em pacientes hipertensos,

contudo, várias emoções elevarão ainda mais a P.A. É, portanto, muito importante que

pessoas que tenham P.A. alta evitem qualquer distúrbio emocional que possa resultar em uma

elevação excessiva de sua P.A. Como muitas vezes é muito difícil evitar várias formas de

estresse, todo paciente com hipertensão conhecida deve tomar regularmente a medicação, sob

a orientação de um profissional de saúde capacitado, para que seja minimizada uma elevação

excessiva da P.A. devida a uma tensão emocional.

Já foi amplamente demonstrado pelo NIH (1999) que a tendência à hipertensão é muitas vezes

herdada. Deste modo, os pacientes cujos pais tinham P.A. alta mais provavelmente

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desenvolverão hipertensão que aqueles indivíduos cujos pais eram normotensos. Portanto,

todos os membros da família devem ser periodicamente examinados para ser detectada uma

P.A. elevada se qualquer membro da família tiver hipertensão.

A causa responsável pela hipertensão pode ser identificada em cerca de apenas 5% dos casos

segundo Brandão (1998). Falamos em hipertensão secundária quando o aumento da pressão

pode ser atribuído a uma causa específica. Descrevemos a hipertensão como sendo primária

ou essencial ou idiopática, sempre que não for possível identificar sua causa.

Afirma Lopes (1999) que a porcentagem dos casos devido a uma causa identificável diminui

com a idade; a hipertensão arterial secundária é excepcional nos indivíduos idosos.

Segundo o NIH (1999) a causa responsável pela hipertensão primária ou idiopática não é

conhecida. Ficou demonstrado que não existe uma causa única e que a hipertensão é devida à

ação de numerosos fatores. Essa etiologia multifatorial encontra apoio nas pesquisas

epidemiológicas, as quais revelam um número infinito de graduação entre as populações

considerado normais e as populações ditas hipertensas.

O NIH (1999) diz que as alterações endócrino-hormonais são responsáveis por vários quadros

de hipertensão secundária. A possibilidade de elas participarem também da doença da

hipertensão idiopática vem despertando interesse especial; as alterações se concentram,

sobretudo na descarga de adrenalina e distúrbios hormonais, principalmente em situações de

estresse.

O inicio da hipertensão essencial comumente se dá entre as idades de 25 e 55 anos, e muitas

vezes a historia familiar é sugestiva de hipertensão ou complicações relacionadas (ex.:

acidente vascular cerebral, morte súbita, Insuficiência Cardíaca Congestiva, Angina e Infarto

do Miocárdio em uma idade precoce). A hipertensão ocorre intermitentemente nos estágios

iniciais (hipertensão lábil) do curso da doença, mas com o passar do tempo ela pode se tornar

permanente conforme diz Lopes (1999).

Embora, por definição, hipertensão secundária signifique que há uma causa reconhecível é

extremamente importante enfatizar que ela não é necessariamente “curável” através do seu

reconhecimento e da eliminação de sua causa conforme diz a O.M.S. (1999), já o NIH (1999)

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diz que em casos de hipertensão secundária associada à doença paraquimatosa dos rins,

estenose da artéria renal e tumores adrenais, a P.A. normal é restabelecida em uma

porcentagem de pacientes após a correção do problema.

QUADRO 2 - Causas de hipertensão arterial secundária:

Nefropatias

Endocrinopatias

Coarctação da Aorta

Certos medicamentos e alimentos, inclusive contraceptivos orais.

Gravidez

Fatores neurológicos. Fonte: DESMOND & COWAN, 2000, p. 299.

Desmond & Cowan (2000) definem:

Nefropatia: são afecções que acometem o sistema renal, comprometendo o seu

funcionamento, acarretando o surgimento da hipertensão arterial. E por si só ela é capaz de

ser a única causa do surgimento desta hipertensão.

Endocrinopatias: são afecções que acometem o sistema endócrino (glândulas e hormônios),

fazendo com que este não funcione adequadamente ou funcione de modo insuficiente;

surgindo assim como a hipertensão arterial.

Coarctação da aorta: anormalidade em que a aorta – artéria principal em distribuição de

sangue arterial para o corpo – apresenta um estreitamento, diminuindo o calibre interior da

mesma e em conseqüência disto a o aparecimento da hipertensão arterial.

Medicamentos: Contraceptivos orais: as pílulas anticoncepcionais provocam quase sempre

aumento da pressão arterial. Este aumento é geralmente discreto, regredindo após a suspensão

do medicamento. É de boa norma controlar a pressão arterial, pelo menos durante o primeiro

ano de tratamento anticoncepcional.

Por outro lado, segundo o autor, acima citado, a hipertensão muitas vezes é inteiramente

curável após a correção da coarctação da aorta ou remoção do feocromocitoma.

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Segundo o NIH (1999) ocorre hipertensão malígna quando a pressão diastólica for elevada a

mais de 130 mmHg e pressão sistólica igual ou acima de 160 mmHg. Qualquer forma de

hipertensão mantida (primária ou secundária) pode abruptamente tornar-se acelerada e levar a

uma hipertensão malígna.

Malachias (1998) lembra que sem um tratamento adequado, haverá uma insuficiência renal

rapidamente progressiva, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.

A pressão arterial acentuadamente elevada leva a cefaléia intensa, alterações visuais agudas e

hematúria macroscópicas associadas a papiledema, hemorragias e exsudados na retina

conforme descreve Vale (2000).

Segundo a O.M.S. (1999) a taxa de mortalidade se aproxima de 80% em um ano e quase

100% dentro de dois anos se não for estabelecido um tratamento para a hipertensão malígna.

Vale (2000) lembra que é extremamente urgente o estabelecimento de um tratamento para

baixar a P.A. senão muito rapidamente ocorrerá uma insuficiência cardíaca e ou renal e a

morte poderá ser inevitável, em muitos casos de hipertensão maligna.

A mesma autora diz que as manifestações clínicas na maioria dos pacientes com hipertensão

leve não apresentam sintomas significativos. Portanto, será impossível certificar-se da

presença da hipertensão sem se medir a P.A.. Mesmo se houver sintomas – cefaléia, tonteira –

associados à hipertensão, a maioria dos pacientes não presta atenção porque tais sintomas

geralmente não são específicos como também podem ser devidos a outras causas. Contudo, há

vários sintomas muito comuns associados com hipertensão: dor de cabeça, tonteira, cansaço e

epistaxe. Quando estiver presente qualquer destes sintomas isoladamente ou em combinação,

a P.A. deve ser imediatamente verificada por um profissional de saúde capacitado.

Os estudos epidemiológicos da O.M.S. (1999), demonstram claramente que quanto mais alta a

P.A., maior é o risco. Há, contudo, um significativo desacordo entre os médicos quanto aos

critérios para se iniciar um paciente em um medicamento especifico, quanto ao tratamento dos

hipertensos idosos, quanto ao valor os sedativos ou tranqüilizantes, quanto ao papel exato da

terapia dietética. Não obstante, o tratamento da hipertensão deve incluir uma terapia dietética

apropriada, controle de peso apropriado, medicamentos anti-hipertensivos, abordagem

cirúrgica para certas hipertensões secundárias e controle das complicações (insuficiência

renal, insuficiência cardíaca congestiva, angina pectoris, infarto do miocárdio, e alterações

cerebrais). É extremamente importante enfatizar que a abordagem terapêutica na hipertensão

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deve ser individualizada de acordo com o nível da P.A., presença ou ausência e grau de riscos

cardiovasculares associados, e idade e sexo. Em geral, a P.A. de 140/90 mmHg em homens

com menos de 40 anos é comparável à P.A. de 145/95 mmHg em homens com mais de 40

anos ou P.A. de 160/95 mmHg em mulheres de todas as idades.

Desmond & Cowan (2000) enfatizam que o melhor resultado terapêutico pode ser alcançado

somente se houver uma cooperação e um entendimento amplos entre o paciente e o

profissional que o acompanha. O papel do paciente, bem como o do profissional, é igualmente

importante. Uma vez documentado o diagnóstico de hipertensão arterial por um profissional

capacitado, todo paciente deve rigorosamente obedecer às instruções deste profissional no que

se refere a medicamentos, dieta apropriada, controle apropriado do peso e ajustamento do

estilo de vida. o paciente deve tomar a medicação receitada exatamente de acordo com as

instruções dadas. Todos os pacientes hipertensos devem também ser vistos regularmente pelo

profissional que o acompanha (cada 1-2 meses, a cada 3-6 meses, dependendo da

circunstância clínica), indefinidamente. Também deve ser enfatizado que, na maioria das

vezes, a hipertensão é uma doença para toda a vida, e o paciente necessita cuidados e

aconselhamentos periódicos.

O repouso adequado e sono suficiente são essenciais para todos os hipertensos. Um

relaxamento adequado é uma medida geral de saúde importante, e, o quanto mais possível,

deve ser evitado o estresse desnecessário conforme ressalta Adindfi & Wládia (2000). As

autoras relatam ainda que os sedativos e tranqüilizantes leves são benéficos em qualquer

paciente hipertenso ansioso e facilmente excitável.

O fumo é sem duvida alguma, é prejudicial a todos os pacientes hipertensos, e o consumo

excessivo de álcool também deve ser evitado como lembra Lopes (1999).

Além disto, é claro que também é aconselhável um adequado padrão de exercícios físicos.

O NIH (1999) lembra que a hipertensão leve estabelecida (P.A. acima de 140/90 mmHg e até

160/105 mmHg) em pacientes adultos jovens ou de meia idade, o tratamento pode ser iniciado

com restrição modesta de sódio, redução de peso, níveis crescentes de atividade física

envolvendo exercícios isotônicos e, se possível, a eliminação do estresse, lembra ainda que se

a terapêutica sem droga for ineficaz, deve então ser considerada a medicação anti-

hipertensiva.

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Lopes (1999) ressalta que embora alguns médicos não tratem pacientes idosos com

hipertensão sistólica isolada, mesmo assim existe um risco na presença de hipertensão

sistólica, mesmo nos idosos. Portanto, a hipertensão sistólica acima de 170/180 mmHg deve

ser tratada, lembra ainda que é importante não reduzir a P.A. muito vigorosamente nos

pacientes idosos. Deve-se proteger o paciente contra fraqueza, tonteira ou mesmo desmaio

como resultado da hipotensão postural produzida por uma terapêutica anti-hipertensiva muito

agressiva.

No que se refere à terapêutica dietética, fora proposta pela O.M.S. (1999) e pelo NIH (1999):

1. Dieta hipossódica:

a) A restrição acentuada da ingesta de sódio baixará a P.A. em uma certa porcentagem de

pacientes hipertensos, mas a maioria dos pacientes não consegue se ater uma dieta rígida

com restrição de sódio, como é necessário para se alcançar uma redução significativa na

P.A..

b) Segundo LOPES (1999) estudos médicos mostram que algumas restrições (menos que 5-6

g por dia) de ingesta de sal baixará a P.A. em pacientes com hipertensão leve a moderada

ou aumentará a eficácia da terapêutica diurética.

c) Lembrar que a alimentação normal contém aproximadamente 12 –15 g de sal por dia.

Portanto, deve-se colocar todos os pacientes hipertensos em dieta de baixo teor de sódio –

o mais baixo quanto prático for sem uma grande inconveniência para eles.

d) Está absolutamente proibido adicionar sal extra aos alimentos, embora muitas pessoas

habitualmente adicionem sal a qualquer tipo de comida, até mesmo antes de experimentá-

la.

e) Há varias formas de substituir o sal disponível no mercado e que podem ser usadas se

necessário em seu lugar, como por exemplo o uso de limão, temperos como cebolinha,

coentro, salsa, etc.

f) A restrição de sódio em diferentes graus pode ser prescrita por qualquer profissional de

saúde capacitado e de acordo com as necessidades de cada paciente e a circunstancia

médica.

2. Dieta hipocalórica e hipolipídica:

a) Em todos os pacientes hipertensos a ingestão de gordura animal deve ser reduzida,

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pois muitos hipertensos já têm excesso de peso e vários outros fatores de risco –

hiperlipidemia – estão muitas vezes presentes.

b) É absolutamente vital que se reduza o peso corpóreo quando qualquer paciente esteja

com excesso de peso,

c) A ingesta de calorias deve ser reduzida juntamente com a restrição de gordura animal

e de sal,

d) Quando o peso corpóreo é diminuído, a P.A. muitas vezes baixa automaticamente.

Assim, recomenda-se uma dieta restrita em sódio juntamente com modificação na

gordura e baixas calorias para os pacientes obesos com hipertensão.

Brandão (1998) ressalta que a pressão arterial depende do rendimento cardíaco e da

resistência oposta pelos vasos sangüíneos periféricos. Esses fatores variam muito de um

indivíduo para outro, assim como variam num mesmo indivíduo ao longo da sua vida, já

Desmond & Cowan (2000, p. 295) afirmam: "Variações acentuadas puderam ser registradas

em pessoas cuja pressão arterial foi monitorizada nas 24 horas do dia”. Durante o sono a

pressão arterial média pode situar-se entre 30 a 40 mmHg abaixo a pressão registrada em

estado de vigília. O frio e a ansiedade são fatores que levam ao aumento passageiro da

pressão arterial. O esforço físico provoca aumento brusco da pressão sistólica, enquanto a

diastólica pouco se modifica. Durante o orgasmo, a pressão sistólica pode, transitoriamente,

atingir o dobro do seu valor normal.

Lopes (1999) observou que a hipertensão arterial persistente acompanha-se da presença de

determinados fatores. Assim por exemplo, tanto a pressão diastólica como a pressão sistólica

tende a aumentar com a idade, pelos menos nas sociedades ocidentais. Na época do

nascimento a pressão arterial está em torno de 80/60 mmHg, aumentando lentamente durante

a infância. No adolescente, a pressão arterial em estado de repouso costuma ser de

aproximadamente 120/70 mmHg; valores da ordem de 140/80 mmHg são mais comuns na

meia–idade. A pressão sistólica continua muitas vezes a aumentar na velhice, em virtude da

rigidez cada vez maior da aorta. Todavia, existem muitos indivíduos e também sociedades

inteiras nas quais a hipertensão é praticamente inexistente e que não apresentam aumento da

pressão em correlação com a idade; é o caso, por exemplo, em algumas ilhas do Oceano

Pacífico. “Nos grupos etários mais jovens, a pressão arterial costuma ser em média mais alta

no sexo masculino, porém esta tendência se inverte após os 45 anos de idade” (DESMOND &

COWAN, 2000, p. 296). Os indivíduos obesos costumam ter pressão arterial mais alta do que

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seria de esperar, considerando-se os erros decorrentes dos aparelhos medidores de pressão

arterial (esfingmomanômetro), já que deveriam ser utilizados aparelhos especiais para os

obesos.

Segundo Perini (2000, p.32) “uma série de alterações biológicas ou mecanismos foram

propostos, visando explicar a forma pela qual a atividade física poderia diminuir ou até

mesmo prevenir o aparecimento da hipertensão arterial”. E esta série é demonstrada logo

abaixo pelo quadro 2.3.

QUADRO 3 - Mecanismos biológicos pelos quais o exercício físico poderia contribuir

para a prevenção primária e secundária da hipertensão arterial.

Manutenção ou aumento do aporte de oxigênio para o músculo cardíaco(miocárdio)

Melhora o perfil lipoprotéico (aumento do índice de colesterol bom)

Melhora no metabolismo de carboidratos (aumento a sensibilidade à insulina),

Diminui a agregação plaquetária e a arteriosclerose.

Diminui a obesidade

Diminui o trabalho do miocárdio e da demanda de oxigênio.

Diminui a freqüência cardíaca em repouso e durante o exercício submáximo

Diminui a pressão arterial sistólica durante o repouso e o exercício submáximo.

Aumento/melhora da função miocárdica.

Aumento da ejeção em repouso e durante o esforço,

Aumento da contractilidade do miocárdio,

Melhora da estabilidade da descarga elétrica do miocárdio

Diminuição de arritmias, descompassos e acelerações abruptas.

“A obesidade é um dos problemas de saúde publica de maior prevalência nos Estados Unidos

e atualmente na América do Sul”. (WILLINSON, 2000, p. 04), o autor salienta ainda que

mais de 30% da população americana padece de obesidade. Apesar da dieta e do

condicionamento físico estar em moda, a prevalência da obesidade continua aumentando,

tanto em crianças quanto em adultos. Segundo Bertolami (2000, p.03) “O sobrepeso é um

transtorno significativo, em termos de saúde publica e de preocupação clínica; aumenta o

risco de desenvolvimento de hipertensão arterial, hipercolesterolemia e diabetes”.

Fonte: Compêndio de Cardiologia Preventiva – Fascículo 3., p. 183. 2000

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Ainda que o condicionamento físico esteja em moda, a maioria das pessoas não pratica

exercícios físicos, ou o faz de forma insuficiente. A atividade física contribui para a redução

de peso e para a manutenção de um peso ideal, além de ser de extrema importância da

prevenção da pressão arterial, e conseqüente redução da mesma a níveis normais.

Segundo Oigman (2000, p.12) vários fatores comportamentais e psicossociais se associam

com a variação na incidência e no risco da hipertensão arterial (quadro 2.4).

QUADRO 4 - Fatores comportamentais e psicossociais e processos associados à variação

do risco de hipertensão arterial e à progressão da doença.

Fatores comportamentais:

Desobediência quanto à terapia preventiva e medicamentosa.

Fatores psicossociais interativos:

Excesso de demanda, tensão, estresse psíquico.

Isolamento social,

Apoio social.

Fatores sociodemográficos

Idade

Raça

Sexo

Situação socioeconômica

Situação conjugal. Fonte: LEVINE, L. Fatores Comportamentais e Psicossociais, Processos e Estratégias. 2000, p. 218.

Na última década, tem diminuído consideravelmente o ritmo de mortalidade em todos os

pacientes hipertensos, principalmente por causa da pronta disponibilidade de agentes anti-

hipertensivos eficazes e das medidas de prevenção bem mais divulgadas.

A O.M.S.(199) lembra que uma outra razão importante para reduzir a taxa de mortalidade é a

compreensão e a cooperação fiel de muitos pacientes com hipertensão. Desnecessário dizer, o

tratamento médico inadequado tem praticamente o mesmo mau resultado que a ausência de

tratamento. Portanto, é extremamente importante que todo paciente seja altamente motivado e

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amplamente educado quanto à natureza séria das várias complicações com risco de vida que

resultam da hipertensão. De outro modo, um programa de tratamento médico constante e por

toda a vida é virtualmente impossível.

Um aspecto importante concernente à eficácia do tratamento e mortalidade nos pacientes

hipertensos segundo o NIH (1999) é que os benefícios com a terapêutica medicamentosa e

não medicamentosa são muitos mais nítidos nos pacientes mais jovens antes da instalação

definitiva da hipertensão.

A eficácia do tratamento é muito menos óbvio em pacientes mais velhos que tem outros

fatores de risco, tais como hiperlipidemia (colesterol elevado), diabetes mellitus, obesidade

como lembra FrancischettI (1999), ressalta ainda que a hipertensão é um dos fatores de risco

maiores e mais comuns para a Doença Artéreo-Coronariana (DAC). Portanto, a hipertensão

deve ser tratada enquanto o paciente ainda é jovem, antes de serem produzidos outros fatores

de risco.

2.3 Hipertensão arterial e epidemiologia

A variação populacional da ocorrência e seqüelas da hipertensão arterial sistêmica (HAS),

relacionada às características de raça, sexo, idade é tão comum e mensurável nas sociedades

industrializadas que os efeitos destes atributos na hipertensão são, geralmente, considerados

como fixos e resultantes de processos biológicos, os quais não podem ser modificados pela

exposição ambiental usual ou por experiências de vida.

A evidência epidemiológica, entretanto, indica que a associação entre hipertensão e idade,

sexo e raça não é casual dentro de uma população e que a designação raça é freqüentemente

um indicador secundário de nível socioeconômico. Assim, enquanto estas características

refletem diferenças quanto ao comportamento, estilo de vida e exposição ambiental, as quais

por si só estão relacionadas a HAS, haverá diferenças no risco de desenvolvimento da HAS,

na severidade do processo e no prognóstico. Por conseguinte, a associação de HAS com

idade, raça e sexo refletirá a inter-relação entre os chamados fatores ambientais e os

genéticos. Por exemplo, a associação de elevação da pressão arterial com o sobrepeso está

bem documentada.

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O aumento de peso corporal com o aumento da idade, observado nas sociedades

desenvolvidas é responsável por uma proporção do crescimento na prevalência de HAS em

idosos. Similarmente, estudos sobre migrações populacionais, nas quais a transição de um

estilo de vida mais ativo para um mais sedentário, com concomitante aumento da incidência

da obesidade com a idade mostra um aumento concomitante na freqüência de HAS. Em

adição à elevação da pressão populacional com a idade, existem também diferenças nas

mudanças e nos níveis de mudança, entre populações e dentro de uma mesma população. As

populações diferem e podem ser classificadas por estes atributos, considerando as mudanças e

os níveis de mudanças conforme a idade. A ênfase colocada sobre o “status socioeconômico”

deriva de sua utilidade nos estudos epidemiológicos como um índice das diferenças entre

indivíduos expostos às experiências ambientais e de vida. Sua capacidade em sumariar um

conjunto de diferentes fatores, cada qual potencialmente relevante à saúde e à doença, faz seu

estudo útil em análises descritivas e para seguimentos prospectivos populacionais. Sua

natureza composta faz deste conjunto de informações menos útil para investigações

epidemiologicamente orientadas. Estes atributos de alguns indivíduos, em relação a outros,

dentro de suas sociedades coloca-os por prestígio e sumariza suas possessões e comando de

recursos, dentro de suas comunidades com potenciais conseqüências para risco de doenças e

seu tratamento.

O material que se segue é baseado primariamente em estudos epidemiológicos, conduzidos

em países desenvolvidos, notadamente, nos Estados Unidos da América onde a qualidade e

quantidade de dados populacionais são exuberantes e confiáveis. Tais dados sumarizam as

evidências relacionando o “status socioeconômico” e a HAS, bem como suas seqüelas entre

os indivíduos considerados; entretanto, comparações com dados do nosso País poderão ser

incluídas quando apropriadas e/ou confiáveis. A organização do material deste capítulo segue

o seguinte formato: Uma introdução que coloca as informações epidemiológicas mais gerais

segue-se os dados de estudos “observacionais”, descrevendo a prevalência da HAS e sua

relação com as características de interesse (idade, sexo, raça, peso, etc...), o prognóstico da

HAS refletido pelo risco de mortalidade, influenciado por estes fatores e pelo cuidado médico

dispensado (epidemiologia clínica), a modificação da história natural e do curso clínico por

intervenções farmacológicas e não farmacológicas, entre os indivíduos em diferentes estratos

socioeconômicos e finalmente, as evidências destas relações como agregadoras, dentro de

uma população ou comunidade (PERINI, 2000, p. 33-34).

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A HAS, definida pelos propósitos clínicos, requer que os indivíduos se encaixem em critérios

clínicos e diagnósticos bem específicos. Atualmente, estes critérios seguem baseados em

diversas medições de pressão arterial, as quais levam, pela aplicação de tais critérios, a uma

especificação categórica, qualitativa e absoluta. Esta forma de definição é, sem dúvida,

arbitrária, do ponto de vista da epidemiologia.

Em adição à considerável variabilidade intra-individual da pressão arterial, o que significa

que a maioria dos indivíduos, quando examinada em diferentes ocasiões, poderá preencher os

critérios de normalidade e/ou HAS em diferentes períodos. Existe, também, a arbitrária

dicotomia de uma distribuição contínua da pressão arterial em uma população. Isso é feito a

despeito da contínua distribuição da pressão em um mesmo indivíduo, dentro de uma

população sem evidências de multimodalidade. Existe um problema adicional, resultante da

categorização dos indivíduos, resultado da natureza contínua e variável do fenômeno, pressão

arterial, relacionado ao risco cardiovascular.

A função risco é contínua, elevando-se em proporção direta à medida que notamos a elevação

da pressão arterial, sem uma clara evidência da existência de um limiar ou ponto de corte,

onde se pode dizer com certeza que dali em diante há risco e abaixo do qual o risco inexiste.

Essa variável contínua existe, por exemplo, para eventos tais como os acidentes vasculares

encefálicos, insuficiência cardíaca congestiva, coronariopatia e mortalidade por todas as

causas. A função do risco cresce mais do que seria de se esperar, por uma forma linear

comparada à crescente pressão arterial e a inclinação de sua curva ascendente que se acelera

com a elevação da pressão. A conseqüência é que o risco de seqüelas e danos é muito maior

nos níveis mais elevados de pressão arterial e é, relativamente, baixo nos estratos mais

próximos da média populacional (WILLINSON, 2000, p. 06).

Em contraste com as implicações individuais, o impacto populacional de elevações modestas

dapressão arterial é maior em níveis de distribuição da pressão arterial bem próximos da

média populacional.

O maior impacto populacional “de menos severas elevações de pressão” reflete o maior

número de indivíduos incluídos no estrato de risco, a despeito de seus baixos perfis de risco

individuais, em oposição com a menor quantidade de indivíduos, com maior risco individual e

elevações marcadas da pressão arterial.

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Essa diferença, no impacto populacional, conduz a diferentes recomendações para indivíduos

em maior risco, ao contrário de outros com mais modestas elevações de pressão, o que faz

diferença nos programas para os indivíduos de alto risco versus programas populacionais,

quando se estuda estratégias de controle da HAS. As últimas requerem estudos visando uma

mudança da curva de distribuição populacional para valores de pressão mais reduzidos. Estas

perspectivas populacionais, enquanto centrais para a compreensão epidemiológica do controle

da HAS, na população, não serão exploradas em profundidade, neste capítulo.

O foco será na HAS, como definida pela clínica. O efeito modificador do “status

socioeconômico” na associação da idade, sexo e, particularmente, raça na prevalência e

conseqüências da HAS terá especial atenção.

A associação entre HAS e idade para adultos, entre 18 e 74 anos, está sumarizada neste

capítulo. Os contrastes com relação à raça serão aqueles entre brancos e não brancos. A

associação da HAS e indivíduos negros e sua maior severidade merecerão atenção específica.

A disponibilidade de dados raciais é expressiva quanto aos brancos e negros e, por esta razão,

serão considerados com maior interesse.

Antes de revisar a associação entre os fatores socioeconômicos e a hipertensão, é construtivo

considerar que uma relação inversa de uma série de outras doenças tem sido bem

documentada em vários contextos, aliados a tais fatores dentro e entre nações. A consistência

e a universalidade da relação inversa entre saúde e “status socioeconômico” com relação à

pessoa, lugar e tempo, já foi adequadamente documentada.

Isso foi relatado para indivíduos de diferentes idades, em diferentes períodos de tempo e em

diferentes países. O processo que está relacionado a estas associações são múltiplos e diversos

quanto a sua natureza, estendendo-se do comportamento individual até os domínios do

ambiente psico-químico. A relação entre o status social e a saúde apesar de usualmente

inversa e presente em sociedades de todos os níveis de desenvolvimento social e econômico,

ocasionalmente está ausente ou é de natureza discreta.

Por exemplo, a associação entre o status socioeconômico e a mortalidade por doença

coronariana, era aparentemente direta e mais alta nos estratos mais elevados da população, até

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meados deste século no Reino Unido. Nos últimos dez anos, inverteu-se tal tendência e,

agora, é exatamente no estrato mais alto que existem os menores índices de mortalidade

coronariana comparada aos dos estratos inferiores da sociedade conforme retrata Lopes

(1999).

Um evento similar ocorreu num estudo com populações rurais no estado da Geórgia (USA).

As potenciais contribuições dos fatores sociais e ambientais têm sido investigadas por vários

pesquisadores, enquanto outros têm enfatizado a importância da resistência individual,

recursos e respostas fisiológicas baseadas em respostas condicionadas ou aprendidas. Entre as

explicações invocadas para explicar os processos responsáveis para as associações observadas

entre o status socioeconômico e HAS estão aquelas do estresse psicossocial, diferenças

alimentares e de atividades físicas, massa corporal e diferenças na aceitação de ou da

utilização, dos cuidados de saúde.

Não é o propósito desta discussão rever as contribuições de cada um destes ou outros

possíveis mecanismos exploratórios. Ao contrário, a intenção é de apresentar uma revisão das

evidências empíricas da associação entre o status socioeconômico e a HAS em estágios que

vão da sua prevalência até a epidemiologia clínica, as seqüelas deletérias individuais e os

índices de mortalidade pela hipertensão arterial. A modificação da associação das seqüelas

hipertensivas relacionadas com o status socioeconômico, é de particular interesse para a

terapia anti-hipertensiva. Conquistas educacionais são usadas como índices ou marcadores

secundários de status socioeconômico. É o mais acessível indicador epidemiológico (com

validade demonstrada em países do primeiro mundo) que possibilita perceber o status

socioeconômico nos seus vários aspectos, de forma global (p. ex. prestígio, poder, acesso a

recursos materiais, controle sobre mudanças de vida num ambiente material e social).

A desvantagem dos negros tem sido bem demonstrada para a maioria das condições de saúde

estudadas. Essa iniqüidade tem sido particularmente notada na HAS e suas seqüelas. Tem

havido escassos estudos verificando a condição socioeconômica em populações negras,

quanto à prevalência da HAS nestes grupos, apesar de que os poucos estudos, com este teor,

apontam para uma maior agregação dos negros do que dos brancos, em relação a HAS,

independente do seu status socioeconômico. Isso parece ser verdadeiro para a doença

cardiovascular, em geral, e para a HAS, em particular, uma conseqüência da estratégia usada

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na pesquisa diferente da usada em grupos de negros e de brancos, entre as quais são incluídos

vários estudos concernentes ao status socioeconômico (NIH,1999).

A tendência geral é de caracterizar populações negras como homogêneas. Isso resulta de pelo

menos duas considerações: primeiro, a marcada diferença dos negros quanto ao status social,

ocupacional e econômico, em relação aos brancos. Até recentemente, quase 95 % dos negros

norte-americanos ficavam classificados, quanto ao “status socioeconômico” bem abaixo da

média atingida pelos brancos. Segundo, a história social dos negros, notadamente nos EUA,

resultou numa crença compartilhada pelos pesquisadores de que os negros são indivíduos

mais suscetíveis às doenças por ordem de fatores genéticos. Um dos principais propósitos

desta apresentação será o de, empiricamente, ilustrar, com a experiência de um grande estudo,

o Hypertension Detection and Follow-Up Program (HDFP), de que o conhecimento do “status

socioeconômico”, mais do que a raça nos dá informações com valor preditivo sobre a

prevalência, severidade e seqüelas da HAS, tanto em negros como em brancos e que o

prognóstico pode ser modificável (e possivelmente, pode ser eliminado) por terapêutica anti-

hipertensiva eficaz e efetiva. O atributo cor da pele, por si só, impõe uma dimensão de status e

esta situação é fundamental na compreensão da epidemiologia da HAS em nosso meio.

O achado de elevada prevalência de HAS em negros, com altos níveis de pressão arterial,

comparados aos brancos, têm sido reportado em numerosos estudos nos EUA e Reino Unido.

Em contraste, resultados conflitantes têm sido observados em estudos com africanos,

residentes em áreas rurais. Os problemas metodológicos em definir a demografia destas

populações, fazendo amostras expressivas e fazendo determinações de pressão arterial, com

adequada estandardização, são formidáveis e têm impedido que se extraia conclusões firmes

quando se compara os dados destes estudos. A questão da natureza da distribuição dos níveis

de pressão arterial, entre os negros residentes em seus lugares de nascimento originais, antes

da experiência da emigração forçada pela escravidão, permanece uma questão em aberto.

Entretanto, evidências mais recentes como as discutidas anteriormente, nos dão a clara idéia

da marcada variação nos níveis de pressão arterial e na prevalência da HAS entre negros em

relação às experiências e exposições ao ambiente socioeconômico (O.M.S.,1999).

Existem evidências de agregação intrafamiliar dos níveis de pressão arterial e de prevalência

de HAS numa maneira consistente, com determinantes genéticos de HAS dentro das

populações; p. ex. o grau de similaridade intrafamiliar é maior para parentes biológicos do

que para os não biológicos numa mesma família. Essas observações não explicam as

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diferenças entre populações. Há uma base genética para algumas características fenotípicas

(ex. cor de pele) usada para classificar indivíduos por raça. Uma confusão comum é assumir

tais traços como HAS os quais também variam entre os grupos classificados racialmente

como distintos, e que suportam a hipótese da explicação genética para tais diferenças. Um

estudo, p. ex., acessou a associação entre a quantidade de pigmentação da pele (determinada

pela medida da cor de pele) e os níveis de pressão arterial em negros (NIH, 1999).

Neste estudo, houve uma correlação positiva entre a cor da pele e os níveis de pressão arterial,

tal que um discreto aumento na pigmentação da pele seguir-se-ia de uma notável elevação da

pressão arterial. Assumir que isso é decorrente de determinação genética ou biológica,

entretanto, seria ignorar que houve uma associação entre a cor da pele e mudanças de vida

bem determinada, no sul dos EUA nos anos 60; as exposições às experiências de vida das

pessoas de classes mais baixas, negros, foram bem distintas das dos de classes mais elevadas,

usualmente gente de cor mais clara. Um estudo subseqüente, dentro da mesma população,

mostrou uma forte associação entre cor de pele e status socioeconômico, e quando se

controlava a variável social não restava mais nenhuma associação entre a cor da pele e os

níveis de pressão arterial elevados. Inversamente, mantendo a cor da pele como constante,

houve uma correlação inversa entre a incidência de HAS e o status socioeconômico. Achados

como estes não refutam a importância dos fatores genéticos na etiopatogênese da HAS para

cada indivíduo. Apesar de que mecanismos mais precisos estão para ser identificados, seria

uma conjetura verossímil dizer que existem mecanismos moleculares, celulares e fisiológicos

responsáveis pela elevação da pressão arterial, os quais poderão ser mais bem esclarecidos

numa base molecular, tanto para a hipertensão, como para tantas outras condições biológicas.

Não se conclui disso que o genótipo necessário para HAS será encontrado como sendo,

diferentemente, distribuído entre populações caracterizadas com base nos traços usados para

classificações sociais e raciais dos indivíduos.

E na possibilidade remota de que assim seja, é também verdadeiro que a expressão da HAS

requererá a exposição a fatores ambientais bem relevantes. É bem possível que tal exposição

seja bem diferente entre brancos e negro, numa mesma população. Estimativas da associação

entre os índices educacionais (como indicadores de status socioeconômico) com a HAS, suas

conseqüências e a prevenção, obtidas como resultado do adequado tratamento, estão

sumariadas a seguir, com dados baseados nas pesquisas, tais como National Health and

Nutrition Survey (NHANES I e II - 1976-1980), o HDFP (1974-1979) e os índices de

mortalidade norte-americanos.

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Uma associação inversa entre as condições socioeconômicas e os níveis de pressão arterial

tem sido relatada em vários estudos epidemiológicos. Estudos de prevalência mostraram

associação inversa entre examinandos em estudos baseados em comunidades, clientes de um

plano de seguro saúde, servidores civis na Grã Bretanha, funcionários do governo dos EUA,

estudantes classificados pela ocupação dos pais, residentes em áreas geográficas

caracterizadas pela privação socioeconômica e outros índices de estresse.

Uma relação inversa entre o nível educacional e a média de pressão arterial foi, também,

apresentada nos dados do NHANES II (1976-1980), no qual as médias de diastólica foram

corrigidas por faixa etária e mostraram variação escalar, conforme as condições educacionais.

Não houve evidências de associação do nível educacional com as médias dos homens negros.

A diferença na diastólica entre grupos de mesmo status educacional foi sempre menor para

homens do que para mulheres. Nas mulheres, as maiores diferenças associadas aos graus

educacionais foram observadas para as médias de sistólica, do que para as médias de

diastólica: 6 mmHg para mulheres brancas, 12 mmHg para mulheres negras. A diferença de

sistólica para diferentes grupos educacionais foi menos pronunciada ou ausente para os

homens: homens brancos tiveram uma sistólica média de 3 mmHg superior naqueles com

maior escolaridade, comparados àqueles com menos de 9 anos de escola; nos negros a

diferença caiu para 1 mmHg.

A prevalência de HAS foi maior para os negros do que para os brancos, em cada um dos

níveis considerados, e foi maior nos negros que tinham segundo grau, do que nos brancos

com menos escolaridade. Por exemplo, entre os negros mais jovens, aqueles com segundo

grau tiveram prevalência de HAS 50 % inferior do que naqueles com menos de 10 anos de

educação formal (13,7 % comparado a 26,6 %).

A prevalência da HAS na população, em qualquer faixa etária, reflete a incidência de

condições antecedentes, sobrevivência nestas condições e eventual tratamento. Dois estudos

baseados em comunidades, incluindo todas as raças — O Evans County e o Charleston Heart

Study demonstraram uma maior incidência de elevação de pressão arterial nos negros

comparados aos brancos; um deles, o Charleston Study, relatou uma maior incidência entre os

negros de classe social mais baixa comparados aos negros de classe mais alta. Numerosos

estudos têm relatado uma associação positiva e forte entre aumento de pressão arterial e

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mortalidade, por todas as causas, tanto para os brancos como para os negros. Mas, há maior

mortalidade nos indivíduos de classe social baixa nos negros e nos brancos. Isso poderia

proporcionar numa maior remoção de hipertensos das camadas sociais mais baixas da

população.

Assim, associação entre a prevalência de HAS e condições socioeconômicas, detectadas em

estudos de coorte são provavelmente estimativas subvalorizadas da força dos antecedentes

que levaram às associações. Poucos estudos comunitários multirraciais tentaram identificar e

acessar a importância relativa de muitos processos que poderiam explicar a relação entre o

status socioeconômico e a HAS. A explicação mais aceitável, derivada dos estudos

epidemiológicos sobre os determinantes da HAS, é a da dieta (ex. excesso de sal e calorias na

dieta), obesidade, estresse psicológico, exposição a alguns elementos metálicos (chumbo) e

uso/abuso do álcool, cada qual sendo mais prevalente nas classes sociais mais baixas.

Análises de prevalência da HAS com o status educacional, com correção para índices de

massa corporal diminuíram ainda mais o gradiente de pressão arterial e prevalência de HAS,

entre os indivíduos brancos; entretanto, o gradiente persistiu entre os negros, particularmente

entre os mais jovens. O controle de variáveis como idade, sexo, formação educacional e

massa corporal não eliminaram a diferença entre brancos e negros, isto é, os negros tiveram

uma prevalência sempre maior de HAS, em cada nível destes atributos, comparados aos

brancos. Assim, em resumo, nos EUA, populações existentes lá, aparentemente, apresentam

uma correlação inversa entre o nível socioeconômico e a prevalência de HAS tanto para os

brancos como para os negros, o que não é nem completamente e nem adequadamente

explicado por limitados estudos (particularmente entre os negros) dos níveis correlatos na

população conforme lembra NIH (1999).

O status socioeconômico provoca um gradiente que é um forte indicador de separação de

grupos por prevalência de HAS, tão forte ou mais forte nos negros do que nos brancos. Um

efeito residual por ser negro persiste nos estudos epidemiológicos, após o controle de certas

variáveis, que poderiam se correlacionar com a pressão arterial. A estimativa quantitativa do

aumento da prevalência da HAS, associada à diminuição do status socioeconômico é

dependente do critério usado para categorizar a pressão arterial como elevada (O.M.S., 1999).

Dada a maior média com o menor status socioeconômico, quanto maior o ponto de separação

escolhido, tanto maior o efeito medido da associação dos fatores. Por exemplo, para

indivíduos com diastólica entre 90-104 mmHg (ou seja, aqueles com menor severidade da

HAS, também chamada de leve), os índices de prevalência foi de 1.1 a 1.3, em contraste com

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os mais baixos — os verificados nos indivíduos com mais elevado grau de escolaridade. Em

contraste, os índices de prevalência entre os grupos estratificados por sexo e raça foram

maiores para a categoria de diastólica, maiores ou iguais a 115 mmHg (chamada de HAS

severa): para homens brancos, 1.3; para mulheres brancas, 1.7; para homens negros 2.1; e

para mulheres negras 2.0. Não só foi mais freqüente a HAS nos com status socioeconômico

baixo, mas a distribuição dos níveis de pressão arterial esta deslocada em direção aos níveis

mais elevados, resultando em maior prevalência e maior severidade da HAS, com as seqüelas

associadas acometendo órgãos-alvos, com conseqüente maior mortalidade e morbidade.

2.4 A influência da globalização na hipertensão arterial

Desde a Antigüidade, o coração é o símbolo das emoções. Os egípcios o enxergavam como o

centro da inteligência. Os indianos o vêem como a sede da vida afetiva.

O Cristianismo introduziu uma nova dimensão para o coração: a da caridade e da bondade.

Seu grafismo atual, estilizado e padronizado, viabiliza a venda de produtos de consumo e

estimula as pessoas a gostar de lugares. A publicidade se utiliza muito do símbolo para atingir

as pessoas, talvez porque busque, na imagem romântica, uma maneira de fazê-las sonhar e

afastá-las, momentaneamente, de um mundo cada vez mais duro, representado por uma

competição acirrada no mercado de trabalho, muitas vezes recheada por "puxadas de tapete",

falta de ética, frustrações e, ainda, exclusões sociais enormes, aumento da violência urbana,

instabilidade política e econômica, bolsões de miséria por todo o lado, crescimento do

terrorismo internacional e guerras. Tudo sob o manto da globalização (SOWER,2000).

Através da industrialização ocorrido no final do século XIX e inicio do século XX houve o

crescimento da competição entre os seres humanos como meio de sobrevivência, o que

acabou por gerar o surgimento de um dos grandes males da sociedade moderna, o estresse

emocional como lembra Malachias (1998). Desta forma nota-se que a hipertensão arterial que

tinha até o final do século XIX como fatores causais, o excesso de ingesta de alimentos com

alta concentração de gorduras saturadas (gorduras animais) e fatores hereditários, conforme

afirmava Brandão (1998), passou a ter muitos outros fatores possibilitados pelo advento da

industrialização, tais como o cigarro, o álcool, o estresse emocional e profissional, o uso

indiscriminado dos condimentados, o sedentarismo, a obesidade, dentre outros, como lembra

Sowers (2000).

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Neste ambiente, dançando na corda tensa da vida, sustentada de um lado por um estilo de vida

competitivo e obsessivo por resultados e de outro por hábitos insalubres, o coração do homem

urbano é um verdadeiro equilibrista.

Uma pesquisa feita recentemente pela Organização Mundial da Saúde – O.M.S. (2003) com

base em exames preventivos realizados em mais de 25 mil homens e mulheres, nos últimos 14

anos, constatou que o mais poético e dinâmico de nossos órgãos são a vítima, muitas vezes

fatal, desse fenômeno que a Economia transferiu para a Medicina. Assim, torna-se importante

correlacioná-lo com o aumento dos percentuais de fatores de risco para o desenvolvimento de

doenças coronarianas, como o estresse crônico, o excesso de peso corporal, a hipertensão

arterial, o diabetes, as alterações das gorduras sanguíneas e o colesterol.

Esta mesma pesquisa confirma estudos semelhante feitos em países desenvolvidos, que

mostram as doenças cardiovasculares à frente das internações hospitalares e das mortes

súbitas segundo informações da O.M.S. (1999). Quatro em cada dez óbitos registrados nos

Estados Unidos são causados por doenças do coração; o alarmante percentual se repete na

Argentina e no Brasil. A fonte estatística, com base nos check-up anual de hipertensos de

grandes centros urbanos, permite conferir ao estresse crônico o status de inimigo número um

do homem globalizado. Pano de fundo de várias doenças, a pesquisa revela que 70% dos

homens urbanizados convivem constantemente com altos níveis de estresse.

A exposição permanente a doses exageradas dos hormônios gerados por ele - a adrenalina e o

cortisol - provoca aumento da pressão arterial, taquicardia, baixa da imunidade, úlceras,

infarto do miocárdio, insônia e queda do desejo sexual, entre outras alterações.

Sobrecarregado, o coração sofre. As alterações das gorduras sanguíneas constituem a

principal causa de formação de placas nas artérias coronárias, e estão relacionadas com maus

hábitos alimentares, vida sedentária e tabagismo. Os dados mostram que 45% dos homens

urbanizados apresentam elevações nas gorduras sanguíneas.

A hipertensão arterial é uma das principais causas do infarto do miocárdio, do acidente

vascular cerebral e da insuficiência renal. Sem apresentar sintomas na maioria das vezes,

cerca de 19% dos homens e mulheres examinados são hipertensos.

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O fumo é outro algoz do coração - mata 100 mil brasileiros por ano, segundo o Instituto

Nacional do Câncer (2003). O tabagista tem quatro vezes mais chances de desenvolver infarto

agudo do miocárdio do que o não-fumante. A pesquisa demonstra, ainda, que 40% das

mulheres examinadas são fumantes, contra 35% dos homens.

A obesidade também é um sério fator de risco, difícil de ser tratado. O indivíduo sedentário

que ingere calorias em excesso pode se tornar obeso e desenvolver hipertensão arterial,

alterações das gorduras sanguíneas, diabetes e doenças coronarianas; 60% dos pacientes

examinados se encontram com peso acima do considerado normal. O sedentarismo, por sua

vez, facilita o aumento da pressão arterial e do peso corporal e faz com que o organismo

produza menos "colesterol bom" (HDL), aumentando os fatores de risco que levam à

aterosclerose. Segundo os dados, 65% dos examinados são sedentários.

O diabetes também contribui para o desenvolvimento de doença coronariana, doença da

retina, acidente vascular cerebral e hipertensão arterial, além de facilitar as infecções,

acometendo de 6 a 7% da população urbanizada – O.M.S. (2003).

Quanto maior o número de fatores de risco diagnosticado num indivíduo, maior é a

possibilidade dele desenvolver uma doença coronariana conforme lembra CHUNG (1996). Os

pesquisadores constataram que 72% da população urbanizada apresentaram vários fatores

concomitantemente, sendo que 8% dos examinados já tinham infartado e 3% desenvolveram

arritmias cardíacas graves. Vale ressaltar que 60% dos pacientes que apresentaram estes

fatores de risco têm entre 50 e 69 anos de idade, portanto, não surpreende que as doenças

cardiovasculares estejam se desenvolvendo junto a uma população cada vez mais jovem.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004) alerta para a epidemia de infartos do miocárdio

em mulheres jovens estará intimamente relacionado ao fato do estresse emocional

proporcionado pela dupla jornada de trabalho do mundo globalizado conjuntamente com

quadros de hipertensão arterial não controlados.

Além da identificação dos fatores de risco acima citados, o check-up médico permite o

diagnóstico de doenças nas suas diversas fases, e quanto mais precoce for o diagnóstico,

maior é a possibilidade de cura. No entanto, mais importante do que diagnosticar doenças é, a

partir da prevenção continuada, promover saúde, evitando surpresas e conseqüências

indesejadas.

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2.5 Os mitos na hipertensão arterial

Procurou-se expor a seguir os seis maiores mitos sobre a hipertensão arterial, onde se

comentou sobre cada um deles. Assim pretende-se discutir os mitos em relação à hipertensão

arterial em nosso meio.

Mito I: a hipertensão arterial é um problema de país desenvolvido.

Martin (1998) chama a atenção para o fato que a hipertensão arterial causar aproximadamente

15 milhões de mortes, por ano, no mundo. Esse número corresponde a 30% do total de óbitos

e, entre aqueles causados pela hipertensão arterial, dois terços ocorrem em paises em

desenvolvimento. Esses paises apresentam um numero de mortes por hipertensão arterial duas

vezes maior que os paises desenvolvidos.

Há aproximadamente 35 anos foi realizada uma investigação de mortalidade de adultos de 15

a 74 anos de idade em doze cidades, sendo uma nos Estados Unidos (São Francisco) e outra

na Inglaterra (Bristol), conjuntamente com 10 latino-americanas. Essa investigação analisou,

de maneira padronizada, todos os casos de morte naquele grupo e por meio de entrevistas a

hospitais, clinicas e outros que haviam cuidado do caso, bem como entrevistas com

familiares. Essa metodologia possibilitou corrigir os dados, obtendo-se desta maneira

informações as mais fidedignas possíveis.

Foi possível comparar as duas cidades de paises desenvolvidos (Bristol e São Francisco) com

as 10 latino-americanas entre as quais se incluía São Paulo e Ribeirão Preto. Há 05 anos, a

mortalidade por doenças isquêmicas do coração era maior nas duas cidades anglo-saxônicas

principalmente nos homens. No entanto, algumas cidades latino-americanas já apresentavam

taxas altas de mortalidade por esse grupo de doenças. Naquela ocasião entre as mulheres, as

taxas eram bastante próximas em quase todas as cidades.Quanto à hipertensão arterial, a

mortalidade em várias cidades latino-americanas superou aquela das duas cidades de paises

desenvolvidos, quer no sexo masculino, como no feminino, sendo que São Paulo e Ribeiro

Preto apresentaram as maiores taxas. Portanto, já há cinco anos, estudos indicam que as

doenças cardiovasculares, em especial a hipertensão arteriais não são prerrogativa de serem

consideradas doenças de paises desenvolvidos ou ricos.

No Brasil segundo o Ministério da Saúde (2003), as doenças cardiovasculares situam-se como

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o mais importante grupo de causas de morte: 27,5% em 1994; seguem-se as causas externas

(12,1%) e as neoplasias (10,8%). As doenças infecciosas e parasitarias historicamente

relacionada à pobreza, surgem na sexta posição com apenas 4,7% do total de todos. E o

Brasil, no contexto socioeconômico global é considerado um país em desenvolvimento! Por

outro lado, nosso país apresenta duas regiões que são consideradas “mais desenvolvidas” ou

“mais ricas” (Sudeste e Sul) e, em contraposição a essas se tem duas outras “menos

desenvolvidas” ou “menos ricas” (Norte e Nordeste), porém mesmo com as diferenças

socioeconômicas entre as regiões em ambas o índice de mortes decorrente de problemas

cardiovasculares em especial a hipertensão arterial é elevados, sendo que nas regiões mais

pobres este índice é superior aquelas considerada ricas.

Martin (1998) prevê uma epidemia de doenças cardiovasculares em especial a Hipertensão

Arterial nos paises menos desenvolvidos, pois para ele a atual tendência resulta de um

aumento dos fatores de risco de doenças cardiovasculares em decorrência de melhores

condições econômicas e do aumento da expectativa de vida; invoca também o estilo de vida,

na saúde das populações, como um dos responsáveis pelo aumento da incidência desse grupo

de doenças.

Numerosos outros dados poderiam ser apresentados para o Brasil e, também para outros

paises ou regiões do mundo, mostrando que a hipertensão arterial não constitui problema

somente para os paises desenvolvidos!

Mito II: A hipertensão arterial é problema de pessoas ricas.

Em todas as sociedades há aqueles que adotam logo e aqueles que adotam tardiamente

mudanças no modo de vida. No inicio da epidemia de cardiopatias, somente as pessoas

melhor situadas dos paises em desenvolvimento adotaram os novos modos de vida que

consistiam, entre outras coisas, em consumir alimentos ricos em gorduras e em calorias,

comprar um automóvel e fumar. Agora que esses bens chegaram a ser de consumo de massa,

este comportamento não sadio se infiltrou em todas as classes sociais. Atualmente, os ricos,

principalmente os de zonas urbanas, têm melhores acessos a informações de saúde difundidas

pelos meios de comunicação sobre os fatores de risco e podem modificar seu comportamento

para modos de vida sadios (alimentação saudável, atividade física, abstenção do cigarro). Este

grupo que primeiro adota as mudanças no modo de vida, enquanto os pobres das cidades e das

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comunidades rurais ficam de fora pelo menor acesso a informação e por falta de tempo e

dinheiro para adquirir ‘alimentos saudáveis’ e realizar um exercício físico que os mantenha

em boa forma tem como resultado um estilo de vida perigoso e aumento dos fatores de riscos

(MARTIN, 1998).

Os comentários expostos acima mostram de maneira bastante simples e direta a questão do

rico e do pobre em relação às doenças cardiovasculares. Ressalto aqui o mito das cardiopatias

serem um problema de ricos: Também nos paises desenvolvidos, industrializados, onde a

epidemia começou algumas décadas antes que no mundo em desenvolvimento, a hipertensão

é atualmente mais comum nos setores relativamente pobres. “Quando a epidemia mundial de

cardiopatia chegar aos níveis máximos, os mais antigidos serão os paises mais pobres e os

setores mais pobres da sociedade” como lembra Martin (1998).

Os clínicos em geral e os cardiologistas em particular, conhecem muito bem a “tipologia

socioeconômica” dos portadores de hipertensão arterial, principalmente nos hospitais em

nosso país. Essa vivencia, leva, ou deveria levar, a derrubar o mito que este grupo de doença é

problema de ricos.

Entre os vários estudos epidemiológicos que mostram a prevalência da hipertensão arterial ou

de fatores de riscos na população, julgou-se interessante mostrar o estudo feito por Achutti

(1998): na população adulta de quatro áreas de Porto Alegre-RS. Os resultados mostraram que

quanto menor a escolaridade, maior a exposição a fatores de riscos.

Esses resultados levaram ao seguinte comentário de Martin (1998):

De acordo com esse estudo, quanto menor a escolaridade, maior a exposição a fatores de risco, o que mostra a tendência perversa do maior risco de adoecimento e mortalidade por doenças potencialmente preveníveis na população de baixa escolaridade e, possivelmente, de baixa renda e, portanto, com menor acesso aos benefícios da prevenção e tratamento dessas doenças (MARTIN, 1998, P. 26).

Assim, há uma relação inversa entre o nível de escolaridade, que na realidade traduz a

condição socioeconômica, e a prevalência dos fatores de risco para as doenças

cardiovasculares, em especial a hipertensão arterial. O trabalho de Achutti (1998) indica

claramente a associação entre a pobreza e o risco de doença hipertensiva.

Ainda nessa questão de doenças cardiovasculares e “rico versus pobre”, Lopes (2002)

analisou o fator racial e a hipertensão arterial, mostrando claramente que vários estudos

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internacionais e brasileiros indicam de forma consistente, que a prevalência de hipertensão

arterial é maior entre negros do que em brancos. O autor discute as interações entre possíveis

fatores genéticos e ambientais que contribuem para o maior risco de hipertensão arterial entre

pessoas negras, destacando os fatores psicossociais. No Brasil, assim como em outros paises

das Américas, como o caso dos Estados Unidos, há um forte contingente populacional de

negros, que, em sua grande maioria, pode ser considerado como de “classe pobre”. Assim, a

hipertensão arterial como forte fator de risco para doenças isquêmicas do coração e acidente

vascular cerebral explica, em parte, a contribuição dos negros para a importante prevalência

das doenças cardiovasculares entre os pobres.

Chor (1996) analisou o perfil de risco cardiovascular entre funcionários de um banco estatal,

mostrando alguns aspectos interessantes da maior freqüência de alguns fatores de risco entre

aqueles de menor categoria funcional e menor escolaridade.

Fica muito claro que as doenças cardiovasculares, especialmente a hipertensão arterial não

são prerrogativas dos ricos, muito pelo contrario! Portanto, esse mito é totalmente falso!

Mito III: a hipertensão arterial é fundamentalmente, doença de homens.

Martin (1998) chama a atenção para o fato que, embora as doenças isquêmicas do coração

sejam menos comum na mulher do que nos homens, em muitas partes do mundo a causa mais

freqüente de morte de mulheres, inclusive com menos de 65 anos de idade é as complicações

cardíacas. Em relação ao tema comenta: “A cardiopatia, assim como seus fatores de risco

varia entre as populações em grau surpreendente. Por exemplo, segundo estudo recente da

Organização Mundial da Saúde sobre as tendências das doenças cardiovasculares, as taxas de

ataque cardíaco em mulheres de 35 a 64 anos de idade de Glasgow (Escócia) e de Belfast

(Irlanda do Norte) são as mais altas que a dos homens de algumas partes do sul da Europa.”

Em estudos de Laurenti (1998), justificam plenamente a derrubada desse mito na qual afirma

que embora a mortalidade pela hipertensão arterial seja maior nos homens, existe também de

maneira significativa nas mulheres, confirmado por Lotufo (1998), que lembra da alta

incidência de mortalidade entre mulheres de 45 a 65 anos devido às complicações

hipertensivas, superando em muito a taxa de incidência nos homens nesta mesma faixa etária.

Esses dados podem ser utilizados para “combater” tanto este III mito como o I mito, já

apresentado. De fato chama a atenção à alta mortalidade feminina por doenças isquêmicas do

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coração em quatro capitais de estados do Brasil (São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Rio de

Janeiro), com taxas superiores a praticamente todos os paises desenvolvidos. Estudos clínicos

e epidemiológicos mostram claramente a falsidade desse mito. De fato, a hipertensão arterial

não é fundamentalmente, doença do sexo masculino.

Mito IV: a hipertensão arterial é problema dos idosos.

Essa é uma crença bastante arraigada tanto na população em geral como entre profissionais de

saúde. Não resta duvida que a freqüência da hipertensão arterial aumenta com o progredir da

idade. Martin (1998) cita os países industrializados onde três quintos dos quadros de

hipertensão arterial, cerca de um terço dos “ataques cardíacos” e uma quarta parte dos

acidentes vasculares cerebrais ocorrem em pessoas com menos de 65 anos, enquanto nos

paises em desenvolvimento essa situação e mais marcante.

Reddy e Yusuf (1998) comentam que nos paises menos desenvolvidos a alta porcentagem de

doenças cardiovascular, que ocorre antes de 65 anos, pode ser considerada como

conseqüência da má qualidade da assistência médica. Pode-se acrescentar a esse comentário o

fato que uma parte considerável da população tem dificuldade de acesso a qualquer tipo de

assistência. Chor (1996) descreveu muita bem a existência de uma mortalidade precoce, no

Brasil, enquanto Lotufo (1998) mostrou que a mortalidade proporcional por doenças

isquêmica do coração, hipertensão arterial e acidente vascular cerebral, na faixa etárias de 35

a 64 anos de idade, em vários locais do Brasil assim como em paises desenvolvidos, é

bastante representativa. Assim, a mortalidade por doença hipertensiva chega a 39% na

Inglaterra, 38% na Finlândia e nas capitais brasileiras variou de 21% (Porto Alegre, Rio de

Janeiro e Curitiba) a 11% (Salvador), no sexo masculino. Considerando o sexo feminino, esta

porcentagem é mais baixa chegando, às vezes, a valores superiores a 15%.Portanto pode-se

concluir que o mito em questão é falso.

Mito V: a hipertensão arterial não se presta a uma ação preventiva na comunidade.

Nos Estados Unidos, a partir da metade da década de 60, começou a existir um declínio na

mortalidade por doenças isquêmicas do coração que persiste até hoje. Pouco mais de uma

década após o inicio deste declínio foi realizada uma conferência em Bethesda, MD,

Conference on the Decline in Coronary Heart Diseases, cujo objetivo foi discutir com

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especialistas de varias áreas a questão do declínio e, principalmente, tentar identificar os

possíveis fatores responsáveis pelo fato. Naquela ocasião, os fatores tidos como possíveis,

como o avanço na terapêutica médico-cirúrgica, ficou claro que havia uma diminuição na

prevalência dos maiores e mais importantes fatores de risco, contribuindo assim para uma

diminuição de incidência da hipertensão arterial e que se refletia na mortalidade. vários

estudos apontavam para a hipertensão e que a redução da mortalidade era resultado das

mudanças do status dos fatores de risco na população.

Um fato aceito pelos estudiosos de cardiologia – clínicos, patologistas e epidemiologistas –

que os resultados dos “Estudos de Framingham” foram os responsáveis pelos conhecimentos

atuais sobre os fatores de risco para as doenças isquêmicas do coração. A divulgação desse

conhecimento fez com que a população adotasse medidas individuais e/ou coletivas de

prevenção das doenças isquêmicas do coração, dentre elas da hipertensão arterial. Tais

medidas, certamente, colaboraram, e muito, para o declínio da mortalidade por essas doenças.

Esse declínio vem sendo observado em muitos paises e tem sido descrito em nosso meio, seja

para a hipertensão, como para os acidentes vasculares cerebrais. Chor (1996), afirma que as

mudanças comportamentais de estratos populacionais, com a redução de fatores de risco,

favorece a diminuição de incidência da hipertensão arterial e das doenças isquêmicas do

coração, alem do acidente vascular cerebral. Esta diminuição reflete indiretamente na redução

de morbidade podendo, através da prevenção secundaria, reduzir diretamente a mortalidade.

Desta maneira o V mito não é verídico, pois como lembra Chor (1996), “é possível reduzir as

doenças cardiovasculares”. Coloca textualmente: “Os esforços de prevenção desenvolvidos

atualmente apresentam maior probabilidade de adiar o aparecimento das doenças isquêmicas

do coração, em especial a hipertensão arterial e o acidente vascular cerebral, do que

propriamente evitá-las”. A redução das taxas de incidência teria melhores chances de ser

alcançadas se uma nova geração se desenvolvesse com hábitos e ambiente mais saudáveis,

desde o inicio da vida até idade adulta. Mesmo assim, o controle das causas de aterosclerose e

de elevação da pressão arterial trazem benefícios em termos de longevidade e melhoria da

qualidade de vida, sendo, portanto justificável, particularmente no caso de paises como o

Brasil, onde como vimos, a mortalidade por enfermidades cardiovasculares atinge um grande

contingente de adultos jovens (O.M.S.,1999).

Mito VI: a hipertensão arterial deixou de ser um problema de saúde.

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Ao comentar esse mito, Martin (1998), refere que, ainda que as doenças cardiovasculares, em

especial a hipertensão arterial, venham declinando nos paises industrializados, continuará

sendo problema de saúde publica predominante. Além disso, os países da Europa oriental

passaram a apresentar elevadas taxas de mortalidade por esse grupo de causas e existem

estimativas que apontam que ele irá causar, nos paises desenvolvidos, o dobro de mortes em

2020 em relação a 1990. Portanto, esse mito não se aplica a verdade vivenciada pelo mundo

moderno. A possibilidade de prevenção primaria e secundaria das doenças cardiovasculares,

seja em nível pessoal como no coletivo é um fato indiscutível. No entanto, os mitos

apresentados, agem de forma negativa e podem reduzir os efeitos de programas de prevenção.

Assim, por exemplo, o fato de ser “doença de velho” contribui para que os mais jovens

mantenham um estilo de vida não condizente não valorizando a mudança no estilo de vida,

principalmente em relação aos hábitos alimentares. Os estudos mostram que uma alimentação

sadia deve ser iniciada desde a infância.

A idéia, arraigada na população, que esse grupo de doença incide mais em homens pode

também contribuir para que as mulheres subestimem alguns sintomas específicos, impedindo

que se faça o diagnostico precoce. Em relação ao mito de ser “doença de rico”, veiculado sem

comprovação cientifica, pode ser explicado pelo menor acesso do pobre a diagnósticos mais

refinados e, principalmente, ao acesso a informação e da falta de comportamento preventivo.

hábitos como tabagismo, uso excessivo de álcool é bastante prevalente nas camadas social

menos favorecido, grupo populacional que mais resistem a apresentar comportamentos

preventivos. Ainda que o papel do álcool, em quantidade moderada, esteja associado a um

grau de proteção das doenças cardiovasculares, o estudo tem mostrado que a ingestão de

grandes quantidades e constante aumentam o risco de morte não apenas por doenças

cardiovasculares, hipertensão arterial, mas também por câncer ou causas externas. No entanto,

as informações veiculadas no caso da hipertensão arterial se restringem aos benefícios da

bebida. Ao mesmo tempo em que alguns mitos vão sendo destruídos pela mídia, novas

crenças passam a ocupar seus lugares. Isto tem sido verificado pelo grande interesse da

imprensa por assuntos de saúde. Rotina, nas grandes revistas semanais, uma seção sobre

saúde, onde são publicados os resultados dos trabalhos científicos atuais. Em geral,

reproduzem trabalhos publicados nas melhores revistas cientificas internacionais. Assim,

traduzidos para uma linguagem acessível para a população tomar conhecimento de alguns

resultados, antes que a maioria dos médicos tenha lido diretamente na fonte. Esses artigos são

bem recebidos e são reproduzidas em numerosas revistas de todo mundo, inclusive no Brasil.

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No entanto, ainda que, algumas vezes, sejam reproduzidos em meios de comunicação de

massa, apenas uma parte da população, de melhor nível de informação, “recebe” ou

compreende efetivamente a informação conforme ressalta Desmond (2000).

Essa torrente de informações faz com que a população, com acesso a esse tipo de informação,

passe a ver certos hábitos alimentares como os “politicamente corretos”. Ou, por outro lado,

passe a descrer em tudo, mesmo quando orientado individualmente por médicos, visto que,

aquilo que “era bom antes”, não foi confirmado nas pesquisas mais recentes. Um exemplo

destas variações é os artigos publicados recentemente, em revistas leigas, que apresentam as

suas pesquisas sobre determinados alimentos, como ovo, margarina e sal e suas relações com

o aumento dos níveis de colesterol. Esses alimentos foram banidos de uma dieta saudável,

parecem estar sendo reabilitados, sendo até indicados para pessoas que não tenham problemas

de altas taxas de colesterol. Não resta duvida que a imprensa leiga muito contribuiu para a

mudança comportamental em relação aos fatores reconhecidamente de risco, para as doenças

hipertensivas. Pode se citar o crescente número de pessoas que faz exercício físico, o boom

das academias e as mudanças de comportamento alimentar. Em relação a uma determinada

classe social, julgamos que as informações dadas pessoalmente por equipes multidisciplinares

se mostram mais eficazes do que os programas oficiais dirigidos às comunidades ou mesmo

as orientações individuais dadas por médicos. Entretanto muitas vezes contribuem, e muito,

para criar novos mitos. Seria melhor para a população se as informações sobre saúde fossem

mais bem divulgadas pela imprensa leiga. Que esta pudesse usar os recursos conhecidos para

tornar a informação acessível à população de baixa renda (DESMOND, 2000).

Certamente essas medidas seriam importantes para destruir mitos arraigados que não são

verdadeiros, e que certamente, tem contribuído para dificultar a prevenção das doenças

cardiovasculares em especial a hipertensão arterial em nível individual e coletivo.

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3. METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo quantitativo composto de revisão de literatura e pesquisa de campo,

realizada no município de Lagoa da Prata - MG, no período de abril a junho de 2008. O

município de Lagoa da Prata-MG está localizado na região centro oeste do estado de Minas

Gerais, a 200 Km de Belo Horizonte, e inserido na área mineira do médio São Francisco,

possuindo uma população de aproximadamente 56.000 habitantes, sendo que dessa 26.000

pessoas estão localizadas na zona rural do município segundo dados do IBGE (2005).

O sistema de saúde do município é composto por uma rede de dez Programas de Saúde da

Família – PSF, sendo 04 deles localizados na zona rural, quatro centros de saúde, uma

policlínica, um pronto socorro municipal, um hospital de médio porte, um centro de

assistência psicossocial e um centro de especialidades odontológicas. Salienta-se que

considerou-se, para realização deste trabalho e tabulação dos dados colhidos, como área

urbana aquela que possui um rede de serviços organizados, maior aglomeração de pessoas e

emprego de alta tecnologia enquanto que área rural é aquela que preserva o meio ambiente,

tendo presente pouca ou nenhuma tecnologia a disposição, menor aglomeração de pessoas e

poucos ou ausência total de serviços e indústrias, conforme retrata o IBGE (2005). Como a

produção científica sobre este tema está dispersa em diversos livros específicos e revistas

científicas das áreas de medicina, enfermagem, psicologia, assistência social, fisioterapia

entre outras, tentou-se consultar várias fontes informatizadas, nos bancos de dados da

SCIELO/Brasil (http:// www.scielo.br/scielo), Biblioteca Virtual de Saúde/ Saúde Publica

(http://www.saudepublica.bvs), Rede de Bibliotecas da FIOCRUZ (http:// rede.cict.fiocruz.br)

e Ministério da Saúde do Brasil (http://portal.saude.gov.br), porém nenhum dos artigos

encontrados com os descritores: hipertensão arterial, relação rural-urbano, hipertensão arterial

e relação rural-urbano, não satisfaziam o anseio da pesquisa. Sendo portanto, todos os 17

artigos encontrados não utilizados.Tendo somente como referência bibliográfica livros e

revistas.

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3.2 População alvo

A população em estudo constitui-se de hipertensos atendidos no Programa Hipertensão

Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no Programa Saúde da Família do Município de

Lagoa da Prata-MG, localizado a 200 Km de Belo Horizonte, município esse, inserido na área

mineira do médio São Francisco.

3.3 População estudada

A amostra empregada foi intencional1 e constou de 62 hipertensos, sendo 31 hipertensos da

zona rural – PSF Mirandas e 31 hipertensos na zona urbana – PSF Centro, participantes do

Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? no período de abril a junho de 2008.

Foi escolhido o PSF Mirandas pelo fato do mesmo localizar-se a 35 km da sede do município

e ainda preservar os costumes e hábitos rurais conforme dados do IBGE 2005. Usando o

mesmo critério foi usado o PSF Centro por este enquadrar na definição de urbano dado pelo

instituto já citado anteriormente.

3.4 Critério de inclusão

Participantes freqüentes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? com idade

compreendidos entre 51 a 60 anos e que se constatou níveis pressóricos acima da normalidade

(140 x 90 mmHg) após no mínimo uma aferição.

3.5 Critério de exclusão

• participantes do Programa que não se enquadravam na faixa etária de 51 a 60 anos;

• aqueles que apresentaram níveis pressóricos dentro dos limites da normalidade (140

mmHg x 90 mmHg) ou inferior a estes limites;

• participantes não freqüentes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?.

1 Foi realizada a escolha intencionalmente na faixa etária de 51 a 60 anos totalizando 62 pacientes, sendo curiosamente 31 de cada região analisada.

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3.6 Instrumento

No município de Lagoa da Prata, utilizava-se uma ficha do hipertenso, como instrumento

cadastral e de acompanhamento do mesmo. Porém a referida ficha não satisfazia a

necessidade do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Portanto foi formulado

um questionário no qual serviu como ficha cadastral e de acompanhamento do hipertenso (em

apêndice). Esse possuía questões abertas e fechadas, onde se enfatizava as seguintes variáveis:

• residência dos participantes;

• sexo;

• idade;

• tabagismo;

• etilismo;

• uso indiscriminado de sal e cafeína;

• número de consultas anuais por hipertensos;

• escolaridade;

• sedentarismo, ingesta de gorduras saturadas;

• diabetes mellitus;

• estresse;

• classificação da pressão arterial dos diversos hipertensos atendidos pelo programa.

3.7 Coleta de dados

A coleta de dados se deu durante as reuniões e consultas de Enfermagem realizadas

diariamente na zona rural – PSF Mirandas e urbana – PSF Centro, com os participantes do

Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?. Para tal utilizava-se da observação

direta, da entrevista e consulta de enfermagem, com a utilização do questionário próprio (em

apêndice).

Os dados eram consolidados após a coleta do dia. Assim pôde-se chegar as seguintes

variáveis:

Com relação a variável residência dos participantes, procurou mostrar dentro do total da

amostra de hipertensos escolhida (62), quantos eram pertencentes ao meio rural e urbano.

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Quando se trabalhou com a variável idade, foi dividido por faixa etária em grupos de 5 anos:

de 51 a 55 anos, e 56 a 60 anos.

As variáveis tabagismo, etilismo e prática de exercícios físicos, foram trabalhadas em duas

situações. Primeiramente, tomou-se como base à população total da amostra (62 hipertensos),

posteriormente trabalhou com o meio rural e urbano separadamente. Salienta-se, que quando

trabalhou a variável etilismo, considerou-se como uso indiscriminado de álcool; o consumo

em qualquer horário e todos os dias, ao passo que, foi considerado como não fazer uso

rotineiro, ou beber socialmente; aqueles hipertensos que ingerem bebida alcoólica em

ocasiões esporádicas, não ultrapassando 5 dias ao mês. O item: não ingestão de bebida

alcoólica; retrata o não consumo de qualquer tipo de bebida.

A variável uso indiscriminado de sal analisa a amostra comparando a ingesta do meio rural

com o meio urbano. E para tanto, utilizou-se como critério para adotar como uso

indiscriminado de sal a ingestão superior de 6 gramas/dia de cloreto de sódio, ou seja, o

equivalente a 4 pitadas de sal ou uma colher de chá, segundo recomendações da

O.M.S.(1999).

Quanto à variável, uso indiscriminado de cafeína, procurou-se comparar o consumo da mesma

entre os hipertensos rurais e urbanos.

Ao se adotar a variável número de consultas anuais, com os seguintes parâmetros 1 a 3, 4 a 6

e acima de 6 consultas/anuais, quer salientar a dificuldade encontrada pelos hipertensos rurais

ao acesso à assistência médica. Admitiu-se, provavelmente que aquele que possui menor

acesso à assistência médica, possuirá menor número de consulta anuais.

Com relação à variável escolaridade classificou-se como:

• Analfabeto: aquele que não sabe ler e nem escrever;

• Primário: aquele em que se tem até a quarta série completa;

• 1º grau incompleto: aquele que não completou a 8ª série;

• 1º grau completo: possui a 8ª série completa.

• 2º grau incompleto: aquele que não se concluiu o 3º ano (científico, magistério,

contabilidade);

• 2º grau completo: aquele onde se completou o 3º ano.

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Com relação às variáveis consumo de gorduras e diabetes mellitus, comparou-se os

hipertensos do meio urbano e do meio rural.

Quando se trabalhou com a variável classificação da pressão arterial, teve-se como objetivo a

classificação segundo o NIH(1999) que a classifica em: normal alta, estágio I, estágio II,

estágio III, estágio IV e sistólica isolada.

3.8 Pré teste

A aplicabilidade e viabilidade do questionário foram testados nas duas primeiras reuniões

realizadas no mês de fevereiro de 2008 no município de Lagoa da Prata, tanto no meio urbano

quanto rural. Foi informado para os participantes do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir

ou Remediar?, dos PSFs Centro e Miranda do município de Lagoa da Prata- MG, durante as

reuniões realizadas; que todos os dados coletados durante a consulta de Enfermagem seriam

trabalhados para fins de dissertação e seriam sigilosos, além de ser repassado aos mesmos a

ficha de autorização para a pesquisa. Salienta-se que todos os hipertensos que necessitavam

de uma melhor assistência médica foram encaminhados ao serviço de referência, para

confirmação de diagnóstico e tratamento.

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FIGURA 1 - DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO RESIDÊNCIA DOS PARTICIPANTES DO PROGRAMA HIPERTENSÃO ARTERIAL:

PREVENIR OU REMEDIAR? CADASTRADOS NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMILIA (PSF) DO MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA NO ANO DE

2008

50%50%

RURAL

URBANO

FONTE: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tenta-se demonstrar em sua totalidade ou parcialidade a veracidade das hipóteses formuladas

para explicar a possível diferença entre os níveis pressóricos da população hipertensa rural e

urbana do município de Lagoa da Prata - MG.

Ao analisar a figura acima, pode-se perceber que da amostra de 62 hipertensos entrevistados,

31 (50%) hipertensos eram oriundos da zona urbana da cidade de Lagoa da Prata-MG ao

passo que 31 (50%) residiam na zona rural do município.

Quanto ao sexo (FIG. 2), pode-se constatar que dos 62 entrevistados, 28 (45%) era

representante do sexo masculino e em contrapartida 34 (55%) eram do sexo feminino. Este

fato vem de encontro com a literatura anti-hipertensiva, já que a mesma relata que o sexo

masculino apresenta maior índice de casos de hipertensão arterial; o que não foi observado na

amostra. Mas, foi verificado que este fato ocorreu devido às mulheres procurarem participar

mais ativamente dos programas preventivos de saúde. Outro fator importante é que as mesmas

ao serem entrevistadas, em sua grande maioria, relataram ser donas de casa, portanto

disponibilizando de maior tempo para participarem atividades preventivas, ora oferecidas pelo

município.

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Quando se faz uma análise separadamente por sexo da população rural e a urbana (TAB. 1 e

FIG. 3) constata-se, preliminarmente que o sexo masculino tem maior expressividade na zona

urbana. Provavelmente isto se deve ao fato, das entrevistas na zona urbana se dar pela manhã,

horário em que as mulheres estão em casa cuidando dos seus afazeres domésticos, o que veio,

provavelmente a influenciar nos valores encontrados.

TABELA 1 - Classificação dos entrevistados segundo o sexo:

RESÍDÊNCIA RURAL % URBANO %

Sexo Masculino 12 39 16 52

Sexo Feminino 19 61 15 48

TOTAL 31 100 31 100

Fonte: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

45%55% M A S C U L IN O

FE M IN IN OF on te : Q uestioná rio do P rog ram a H ipe rtensão A rte ria l: P reven ir ou R em ed ia r?

F IG U R A 2 - D IS T R IB U IÇ Ã O P O R S E XO * D O S P A R T IC IP A N T E S D O P R O G R A M A : H IP E R T E N S Ã O : P R E V E N IR O U R E M E D IA R ?

C A D A S T R A D O S N O P R O G R A M A S A Ú D E D A FA M IL IA (P S F) D O M U N IC ÍP IO D E LA G O A D A P R A T A N O N O A N O D E 2008

1 51 9

1 2

1 6

0

5

1 0

1 5

2 0

M A S C U L IN O F E M IN IN O

R U R A L

U R B A N O

FIGURA 03 – Comparação da distribuição por sexo dos participantes do programa hiper

FONTE: Fichas cadastrais do Programa Hipertensão Arterial Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde dafamília (PSF) do município de lagoa da prata no mês de fevereiro de 2008.

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Ao analisar os dados referentes à idade dos entrevistados (FIG. 4) pode-se perceber que o

programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? atingiu um público diversificado,

abrangendo uma faixa etária de 51 a 60 anos de idade. Tendo maior expressão entre as idades

de 55 a 60 anos, mostrando mais uma vez que a participação dos programas preventivos se

deve a uma maior disponibilidade de tempo, visto que, na faixa etária mencionada acima,

encontramos pessoas já aposentadas e/ou com grande dificuldade para exercer o trabalho e

deste modo disponibilizando maior tempo livre para participarem do programa.

Quando se investigou a relação entre os níveis pressóricos urbanos dos hipertensos do PSF

Centro e dos hipertensos rurais do PSF Mirandas do Município de Lagoa da Prata-MG,

tomando como parâmetro os fatores de risco pode-se constatar o seguinte:

♦ Em se tratando de tabagismo: (FIG. 5 e 6 e TAB. 2)

05

1 01 52 02 53 03 54 0

5 1 a 5 4 5 5 a 6 0

ID A D E ( a n o s )

5 1 a 5 4

5 5 a 6 0

ID A D E (A N O S )

F O N T E : Q u e s tio n á rio do P ro g ra m a H ip e rte n sã o A rte ria l: P re ve n ir o u R e m e d ia r?

F IG U R A 4 - D IS T R IB U IÇ Ã O P O R F A IX A E T Á R IA D O S P A R T IC IP A N T E S D O P R O G R A M A H IP E R T E N S Ã O : P R E V E N IR O U R E M E D IA R ? C A D A S T R A D O S N O P R O G R A M A S A Ú D E D A F A M IL IA (P S F ) D O M U N IC ÍP IO D E L A G O A D A P R A T A N O A N O D E 2 0 08

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76

45%

55%

NÃO

SIM

FONTE: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?

Assim, verifica-se que grande parcela dos entrevistados apresentavam um fator de risco

importante, que é o tabagismo; muito acentuado nas regiões consultadas. Quando analisou-se

a relação entre fumantes e não fumantes da zona rural e urbana, constatou-se o seguinte:

(TAB. 2 e FIG. 6).

TABELA 2 - Classificação dos entrevistados quanto ao tabagismo:

RESIDÊNCIA RURAL % URBANO %

Fumantes 19 61 14 45

Não fumantes 12 39 17 55

TOTAL 31 100 31 100

Fonte: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir Ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

Figura 5 – Número de participantes fumantes e não fumantes* do programa hipertensão: prevenir ouremediar? cadastrados no Programa Saúde da Família (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

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Ressalta-se que o fumo utilizado na zona rural é o de rolo, ou seja, aquele feito de forma

caseira, apresentando maior índice de substâncias tóxicas do que o cigarro tradicional

(industrializado), conforme diz Malachias (1998).

Pela análise da tabela acima podemos constatar que o tabagismo está mais presente entre os

hipertensos rurais do que entre os hipertensos urbanos no município de Lagoa da Prata, porém

essa diferença não foi tão marcante o que não possibilita confirmar em sua totalidade a

hipótese que o fumo é um dos fatores propiciadores de níveis de hipertensão arterial na zona

rural do município analisado.

• Em se tratando de etilismo: (FIG. 7 e TAB. 3)

FIGURA 7 - DISTRIBUIÇÃO QUANTO À INGESTA ALCOÓLICA PELOS

PARTICIPANTES DO PROGRAMA HIPERTENSÃO: PREVENIR OU REMEDIAR? CADASTRADO NO PSF DO MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA - MG NO ANO

DE 2008.

60%

40% SIM NÃO

FONTE: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?

T A B A G IS T AN Ã O

T A B A G IS T A

R U R A L

U R B A N O

1 4 1 71 9

1 2

02468

1 01 21 41 61 82 0

R U R A L

U R B A N O

Fonte: questionário do Programa Hipertensão Arterial Prevenir ou Remediar? cadastrados no Programa Saúde da Familia(PSF) do município de Lagoa da Prata no ano de 2008.

Figura 6 - comparação quanto ao uso ou não do tabaco pelos participantes do programa hipertensão arterial: prevenir ouremediar? cadastrados no Programa Saúde da Família (PSF) do município de Lagoa da Prata no ano de 2008.

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Nota-se que grande parcela da amostra não é etilista, o que denota que o álcool tem pouca

influência nos valores pressóricos da população da amostragem. Isto mesmo se tomarmos a

população como um todo, pois quando analisa-se separadamente, zona rural e urbana, (TAB.

3), percebe-se que a diferença entre hipertensos rurais e urbanos que ingerem álcool é muito

pequena, não sendo possível portanto afirmar que o álcool é um dos fatores que leva a

diferenciação entre níveis tensionais da população rural e urbana da amostra da pesquisa. Um

fator importante a ser lembrado se deve ao fato que a bebida alcoólica mais consumida na

zona rural é a aguardente, produzida de forma caseira, enquanto na zona urbana consome-se

em maior quantidade a cerveja, um fato interessante, já que a aguardente apresenta até 40%

de álcool em sua composição e em contrapartida a cerveja apresenta apenas 5-7% de álcool.

Assim, provavelmente, a aguardente possui um poder de ação maior, porém ingerida em

menor quantidade que a cerveja, isso faz com que ambas apesar da diferenciação no teor

alcoólico sejam maléficas ao organismo principalmente quanto aos níveis tensionais.

TABELA 3 - Classificação dos entrevistados quanto ao etilismo:

RESIDÊNCIA RURAL URBANO

Fazem uso de bebida alcoólica indiscriminadamente 16 13

Não fazem uso rotineiro, ou bebem socialmente 05 05

Não ingerem bebida alcóolica 10 13

TOTAL 31 31 Fonte: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008. • Em se tratando do uso de cloreto de sódio – sal de cozinha: (TAB. 4)

TABELA 4 - Classificação dos entrevistados quanto ao uso de sal de cozinha:

RESIDÊNCIA RURAL % URBANO %

Uso indiscriminado de NaCl* 19 61,2 15 48,4

Pouco ou nenhum uso de NaCl 12 38,8 16 51,6

TOTAL 31 100 31 100 Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no mês de fevereiro de 2008. * Usou-se como parâmetro para esta coleta, as recomendações da OMS (1999).

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RESIDÊNCIA RURAL URBANO

1 a 2 xícaras de café/dia 06 07

3 a 5 xícaras de café/dia 05 05

6 ou mais xícaras de café/dia 20 19

TOTAL 31 31

Em análise da TAB. 4, conclui-se, que o meio rural consome em abundância e de forma

indiscriminada o cloreto de sódio (sal de cozinha), sabidamente um dos influenciadores nos

índices elevados da pressão arterial. Assim, o cloreto de sódio é mais um dos fatores que

contribui para mostrar a diferença entre os valores pressóricos urbanos e rurais, confirmando

assim a hipótese que o uso de sal é um diferenciador entre os níveis tensionais entre os

hipertensos rurais e urbanos da amostra pesquisada.

• Quando se analisa o uso de cafeína: (TAB. 5)

TABELA 5 - Classificação dos entrevistados quanto ao uso de cafeína:

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa

saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

Segundo Ferrreira (1998) a cafeína pode elevar os níveis pressóricos agudamente, ou seja, ela

pode ser considerada como fator influenciador nos valores pressóricos. E diante desta

constatação, pode-se notar pela análise da tabela que tanto a população rural quanto a

população urbana faz uso indiscriminado da cafeína. Sabe-se também que a cafeína é um

estimulante, o que faz com que muitos hipertensos não consigam dormir, apresentando-se

cansados, indispostos, no dia seguinte; o que de um certo modo acaba por influenciar no valor

da pressão arterial aferida (FERREIRA,1998). Portanto, o alto consumo de cafeína pelos

hipertensos ruralistas e urbanos deve ser considerado como um influenciador dos valores

pressóricos, porém não se pode inferir que esta variável seja um fator que mostre a diferença

existente entre os níveis tensionais da amostra pesquisada. Portanto, não é possível confirmar

a hipótese de que o uso de cafeína é um agravante ou determinante dos níveis pressóricos

elevados na população rural.

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• Em relação ao número de consultas/anuais realizadas: (TAB. 6)

Pela pesquisa realizada e pela análise da TAB. 6 pode-se constatar que a zona rural do

município de Lagoa da Prata-MG apresenta um índice de assistência em saúde bem menor

quando comparada com a zona urbana. Isto se deve, provavelmente, ao fato que os serviços

de saúde se concentrarem na zona urbana, dificultando o acesso dos ruralistas aos mesmos

devido a fatores de transporte, condições sócio econômicas e culturais conforme retrata

Marques (2000). Esse fato, conforme lembra Malachias (1998), faz com que a população rural

muitas vezes deixe de tomar a medicação corretamente, além da falta de orientação adequada

por profissionais capacitados. Portanto, a hipótese que um índice menor de assistência em

saúde no meio rural influência em níveis mais elevados da hipertensão arterial dessa

população quando comparada com a urbana pode ser comprovada por essa variável.

TABELA 6 - Classificação dos entrevistados quanto ao número de consultas anuais.

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no mês de fevereiro de 2008.

• Quando analisa-se a variável escolaridade observa-se: (TAB. 7)

Segundo Adindfi & Wládia (2000) é sabido que, uma população que detém conhecimento é

capaz de possuir um maior nível de compreensão, e como na zona rural 100% dos

hipertensos – TAB. 7, apresentam grau de escolaridade inferior à 5ª série do primário, pode-se

deduzir que o nível de assimilação das instruções educativas repassadas a eles pelos

profissionais de saúde, são muitas vezes incompreensíveis. Além disso, o material escrito é

por muitas vezes cai em desuso, pois muitos não sabem ler adequadamente. Portanto, como

não assimilam adequadamente as informações repassadas, acabam não tendo uma boa adesão

à prevenção e tratamento da hipertensão arterial.

RESIDÊNCIA RURAL % URBANO %

1 a 3 Consultas/anuais 17 55 05 16

4 a 6 Consultas/anuais 10 32 10 32

Acima de 6 consultas/anuais 04 13 16 52

TOTAL 31 100 31 100

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Por outro lado, como mostra a TAB. 7, a população urbana apresenta cerca de 50% da

população com pelo menos o 1º grau completo. Este fato faz com que se deduza que esta

população apresente um maior nível de assimilação e compreensão das informações lidas e

ouvidas. Assim, esses hipertensos possuem maior capacidade de adesão à prevenção bem

como ao tratamento da hipertensão arterial, o que influi nos valores pressóricos menores em

relação à zona rural, demonstrando que a hipótese sobre o nível de escolaridade influência nos

níveis pressóricos pode ser comprovada nessa análise.

TABELA 7 - Classificação dos entrevistados quanto à escolaridade:

RESIDÊNCIA RURAL URBANO

Analfabeto 28 01

Primário (1ª a 4ª série) 03 02

1º Grau Incompleto 00 06

1º Grau Completo 00 07

2º Grau Incompleto 00 04

2º Grau Completo 00 11

TOTAL 31 31 Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

• Em se tratando da prática de exercícios físicos: (FIG. 8 e TAB. 8)

A atividade física aeróbica regular – que permita atingir pelo menos um nível moderado de

condicionamento físico – pode aumentar a perda de peso e o status funcional da saúde e

reduzir os riscos para doença cardiovasculares e a mortalidade por agravamento da

hipertensão arterial. A O.M.S. (2003) afirma que os indivíduos sedentários com pressão

arterial normal tem risco aumentado em 20 a 50% de desenvolver hipertensão arterial, ou até,

42% de possuir valores pressóricos maiores, quando comparado a seus parceiros mais ativos e

condicionados.

Em análise da figura 4.8 e da tabela 4.8, nota-se que 60% da amostra tomada como um todo,

ou seja os 62 hipertensos selecionados, realizam caminhada de pelo menos 30 minutos/dia.

Quando os analisa, separadamente, quanto à residência observa-se que 70% dos hipertensos

urbanos realizam caminhada e 65% dos hipertensos rurais a praticam. Assim o sedentarismo

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não é uma variável que possa confirmar a diferenciação entre os níveis tensionais da

população urbana e rural da amostra analisada.

TABELA 8 -Classificação dos entrevistados quanto à prática de exercícios físicos:

RESIDÊNCIA RURAL URBANO Fazem caminhada 20 22

Não fazem caminhada 11 09

TOTAL 31 31

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da familia (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

• Em se tratando de consumo de gorduras saturadas: (TAB. 9)

Segundo Walker (2000), quando se compara pacientes hipertensos em relação a ingesta de

gorduras saturadas e insaturadas, pode-se constatar que aqueles que fazem uso de gordura

saturada apresentam níveis mais elevados da pressão arterial, além de possuírem maiores

riscos de trombose e aterosclerose, já que a gordura saturada apresenta 30 vezes mais o mau

colesterol (LDL- fração de colesterol) e 10 vezes menos o bom colesterol (HDL) que impede

a formação de placas aterogênicas.

Quando analisou os dados coletados no município de Lagoa da Prata- MG, notou-se que a

ingesta de gordura saturada (gordura animal) é um dos fatores que determina a diferença entre

os níveis pressóricos da população urbano-rural (TAB. 9). Em relação a esta tabela nota-se

que a população rural por tradição e praticidade ainda consome em larga escala a gordura

N Ú M E R O D E P A R T I C I P A N T E S D O P R O G R A M A H I P E R T E N S Ã O : P R E V E N I R O U R E M E D I A R ? , Q U E F A Z E M

E X E R C Í C I O S F Í S I C O S ( C A M I N H A D A ) , N O M U N I C Í P I O D E L A G O A D A P R A T A N O A N O D E 2 0 0 8

6 0 %4 0 %

S IM

N Ã O

F O N T E : Q u e s t io n á r io d o P r o g r a m a H ip e r te n s ã o A r te r ia l : P r e v e n ir o u R e m e d ia r ?FIGURA 8 – Distribuição por prática de exercícios físicos (caminhada)* dos participantes do Programa Hipertensão

Arterial: Prevenir ou Remediar? do Município de Lagoa da Prata – MG no ano de 2008.

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animal, principalmente aquela provindo do suíno, ou seja, com alto teor de gordura saturada.

Em contrapartida, constata-se que os hipertensos do meio urbano, por estar em local de difícil

criação de suínos, fácil acesso à supermercados e armazéns e já serem mais esclarecidos

quanto ao risco da gordura saturada na alimentação, consomem em nível mais elevado a

gordura vegetal sabidamente uma gordura insaturada (MARTIN, 1998). Assim, quando se

indaga sobre a relação da ingesta de gordura saturada e os níveis pressóricos elevados,

percebe-se que essa ingesta é um dos agravantes e determinantes da diferença pressórica entre

o meio rural e urbano.

TABELA 9 - Classificação dos entrevistados quanto ao consumo de gorduras:

RESIDÊNCIA: RURAL % URBANO %

Uso de gordura saturada (gordura animal) 27 87 09 29

Uso de gordura insaturada (gordura vegetal) 04 13 22 71 TOTAL 31 100 31 100

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da família (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

• Em relação ao diabetes mellitus: (TAB. 10)

A hipertensão arterial e o diabetes mellitus constituem dois importantes fatores de risco para o

desenvolvimento de doenças cardiovasculares aterosclerótica e renal. Numerosos estudos

epidemiológicos demonstram que a hipertensão é aproximadamente duas vezes mais

freqüente nos indivíduos com alterações no metabolismo dos carboidratos quando

comparados com a população em geral conforme afirma Fuller (1985). A prevalência de

hipertensão aumenta com a idade e com a presença do diabetes, sendo que a coexistência das

duas doenças implica em risco elevado para o paciente.

Segundo Vale (2000) é relativamente mais freqüente no diabetes ocorrer associação deste

com a doença renal, o que vem a sobrecarregar o sistema cardiovascular. Fazendo com que o

coração tenha um trabalho extra, e como conseqüência o surgimento da hipertensão arterial.

Em análise da TAB. 10, constata-se que o meio urbano (PSF Centro) do município de Lagoa

da Prata – MG, apresenta um número maior de hipertensos que são diabéticos (10 hipertensos

diabéticos). Tanto a hipertensão arterial quanto o diabetes são mais freqüentes entre aqueles

de condições sócio-econômicas precárias segundo Natham DM (1993). Porém não foi

confirmado na pesquisa realizada, visto que os maiores índices de diabetes foram encontrados

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na zona urbana do município, assim não confirmando a hipótese de que o diabetes é um fator

que influencia na diferenciação dos níveis pressóricos encontrados entre a população

hipertensa rural e urbana.

TABELA 10 - Classificação dos entrevistados quanto ao diabetes mellitus.

RESIDÊNCIA RURAL URBANO Diabético 08 10

Não diabético 23 21

TOTAL 31 31

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da família (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

• Em relação aos níveis pressóricos: (FIG. 9)

Quando se analisou a amostra total, ou seja, aquela composta pelos 62 hipertensos sem

observar a residência dos mesmos; quanto aos níveis pressóricos constatou-se o seguinte:

(FIG. 9)

Pela análise do gráfico pode-se dizer que tanto a população hipertensa rural quanto a

população de hipertensos urbanos possuem uma diferença quase que insignificante quanto a

classificação da pressão arterial segundo o NIH (1999). Somente sendo possível confirmar

FIGURA 9 -DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL, DOS PARTICIPANTES DO PROGRAMA HIPERTENSÃO ARTERIAL: PREVENIR OU REMEDIAR? DO

MUNICÍPIO DE LAGOA DA PRATA - MG NO ANO DE 2008.

12

14

55

1112

3

00

2

4

6

8

10

12

14

16

ESTÁGIO I ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 ESTÁGIO 4

Classificação da Pressão Arterial

No.

de

Part

icip

ante

s RURAL

URBANO

FONTE: Questionário do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar?

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que a população hipertensa rural apresenta uma leve incidência de hipertensão arterial grau III

e IV quando comparada com o meio urbano. Além disso o meio rural apresenta em menor

expressão a pressão arterial em estágio nível I, típico de uma hipertensão controlável por

mudança no estilo de vida (hábitos alimentares e exercícios físicos), conforme lembra

BRANDÃO (1998), isso nos infere que no meio urbano é maior a conscientização por

alterações nos hábitos de vida.

• Em relação ao estresse: (TAB. 11)

Quando se analisa a TAB. 11, fica claro que o fator estresse está mais presente entre os

hipertensos urbanos (70%) do que entre os hipertensos rurais (42%). Assim conforme retrata

MARTINS (1993) a modernização observada nos centros urbanos em relação ao meio rural

influencia na qualidade de vida do individuo, fazendo com que esse apresente alterações

cardiovasculares dentre elas a alteração nos níveis tensionais normais.

TABELA 1

1 - Classificação dos entrevistados quanto ao stress.

RESIDÊNCIA RURAL URBANO Estressados 12 22

Não estressados 19 09 TOTAL 31 31

Fonte: Fichas Cadastrais do Programa Hipertensão Arterial: Prevenir ou Remediar? Cadastrados no programa saúde da família (PSF) do município de lagoa da prata no ano de 2008.

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5. CONCLUSÃO

Diante dos resultados apresentados e seguindo os critérios de classificação quanto a urbano e

rural preconizado pelo IBGE (2005), nota-se uma maior incidência de hipertensos do sexo

feminino, fumantes, com acentuada ingestão de sal e gordura animal, com nível de assistência

médica inferior a seis consultas anuais, analfabetos e com os maiores níveis pressóricos

(hipertensão arterial níveis III e IV) quando comparados com os hipertensos urbanos que em

sua grande maioria são compostos do sexo masculino, não fumantes, com nível satisfatório de

consultas médicas anuais, segundo grau completo, porém com um alto grau de estresse.

Portanto, infere-se após todas as análises, discussões e comprovações ou não das hipóteses

formuladas, que a hipertensão arterial é um problema de saúde pública de grande relevância

no município de Lagoa da Prata-MG, porém não se pode confirmar que os níveis pressóricos

elevados estão localizados em sua grande maioria na zona rural ou na zona urbana, pois na

grande maioria das variáveis testadas isso não se observou. Talvez o fato do meio rural sofrer

grande influencia nos costumes, hábitos e modo de vida da população urbana, já não se

observa um meio rural isolado do meio urbano, onde os hábitos e costumes rurais se

preservam, havendo sim uma inter-relação entre rural-urbano, local-global.

Em suma, faz-se necessário que novas pesquisas sejam realizadas para detecção de novas

localidades rurais preservadas da influencia do meio urbano, onde os hipertensos pesquisados

constem de níveis pressóricos elevados quando comparados com os do meio urbano, para que

se constate se há ou não diferenças entre os níveis tensionais da população legitimamente

urbana quando comparada com a população legitimamente rural.

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ANEXO I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Comitê de Ética em Pesquisa da FUNEDI-UEMG

Senhor (a) _______________________________________________________________

Estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada “O Urbano e o Rural na Hipertensão Arterial.

Estudo de Caso no município de Lagoa da Prata, Minas Gerais, Brasil”, desenvolvida no

programa de Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais – linha de pesquisa:

Saúde Coletiva, como parte integrante das exigências para aquisição do grau de Mestre. A

referida pesquisa é de minha autoria: Alex Veloso Mendes, orientado pelo Prof. Dr. Paulo

Sergio C. Miranda. Para tanto, estou realizando a aplicação de questionário. As respostas

serão anotadas pelo entrevistador/pesquisador que poderá utilizar também de um gravador

para assegurar a confirmação das evocações e facilitar que as mesmas possam ser proferidas

de forma natural sem a necessidade de esperar a escrita do entrevistador. Sua participação é

de fundamental importância para a realização desse estudo.

Não haverá riscos, nem desconfortos, nem gastos de qualquer natureza. Você poderá solicitar

a qualquer esclarecimento quando sentir necessidade e poderá interromper sua participação

em qualquer momento, sem ônus, de qualquer natureza. Asseguro que o que for dito,

registrado e escrito será respeitosamente utilizado e que serão mantidos o sigilo e o anonimato

das informações aqui contidas. Desde já agradeço a sua colaboração.

Atenciosamente

Alex Veloso Mendes

Aluno do Curso de Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais da FUNEDI.

Rua Grão Mogol 290 apt 201 carmo Belo Horizonte.

Tel.: 031-25553302 031-97790081

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Eu, _______________________________________________________, autorizo o registro

das informações fornecidas por mim, através de questionário, para serem utilizadas

integralmente ou em partes, sem restrições de prazos ou citações, desde a presente data. Seu

controle e guarda ficará em poder de Alex Veloso Mendes, mestrando em Educação, Cultura

e Organizações Sociais pela FUNEDI, com o objetivo de realizar sua pesquisa intitulada

“análise da hipertensão arterial em áreas urbana e rural do município de Lagoa da Prata –

MG”.

Lagoa da Prata, _______/_______/2008

Pesquisador responsável

Eu, Alex Veloso Mendes, responsável pelo projeto: O Urbano e o Rural na Hipertensão

Arterial. Estudo de Caso no município de Lagoa da Prata, Minas Gerais, Brasil declaro que

obtive espontaneamente o consentimento deste sujeito de pesquisa (ou do seu representante

legal) para realizar este estudo.

Assinatura___________________________________________ _______/______/2008

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ANEXO II QUESTIONÁRIO/FORMULÁRIO

Projeto de Pesquisa: Análise da Hipertensão Arterial em Áreas Urbana e Rural no Município de Lagoa da Prata - MG

Data: _______ de ____________________________ ANO: 2008

Nome: ________________________________________ Sexo: ___ Masc. ___ Fem.

Idade: ______Escolaridade:_________

Naturalidade: ______________ Estado Civil: ___ Solteiro(a) ___ Casado (a) Outros: ___

Profissão: ____________________

1. Quantas consultas médicas por ano ? ___________

2. Fuma? ___ Sim ___Não. Quantos maços/dia?___________________

3. Bebe? ___ Sim ___Não . Quantos copos/dia? ___________________

4. Tem alergias? ____Sim ___Não. Quais? _______________.

5. Tem Diabetes? ____ Sim _____ Não.

6. Utiliza algum remédio? ____Sim ____ Não . Quais? __________________.

Para que? ________________. Prescrição Conta Própria

7. Usa chás? ___Sim ___ Não. Quais ____________

8. Pratica algum exercício físico? ____Sim ____Não. Quantas vezes por semana?

9. Sua alimentação é rica em gordura? ____ Sim _____ Não.

10. Você se considera estressado? _____ Sim _____ Não.

11. Dorme, em média, quantas horas ? ___. Após o sono sente-se repousado e pronto

para as atividades diárias?___Sim ___Não

12. Como é sua ingestão de sal diária e quais os alimentos que mais ingere quanto ao sal? __________________________________________________________________

AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

Posição Sentada Posição Supina 1º Minuto ( Observado) 1º Minuto ( Real ) 3° Minuto ( Observado) 3º ( Real )

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________