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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Química CARLOS DIEGO LIMA DE ALBUQUERQUE DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZANDO ESPECTROSCOPIA RAMAN INTENSIFICADA PELA SUPERFÍCIE E QUIMIOMETRIA CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Química

CARLOS DIEGO LIMA DE ALBUQUERQUE

DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZANDO ESPECTROSCOPIA RAMAN INTENSIFICADA PELA SUPERFÍCIE E

QUIMIOMETRIA

CAMPINAS

2016

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CARLOS DIEGO LIMA DE ALBUQUERQUE

DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZANDO ESPECTROSCOPIA RAMAN INTENSIFICADA PELA SUPERFÍCIE E

QUIMIOMETRIA

Tese apresentada ao Instituo de

Química da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de

Doutor em Ciências.

Orientador: Ronei Jesus Poppi

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO CARLOS DIEGO LIMA DE ALBUQUERQUE, E ORIENTADA PELO PROF.DR. RONEI JESUS POPPI.

CAMPINAS

2016

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Célia Regina e José Carlos, principalmente a minha mãe guerreira que sempre me instruiu a estudar. Amo vocês.

Ao meu irmão e minha avó Maria (in memorian) pelo carinho e amor que sempre me deram.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus e a Nossa Senhora Aparecida por

terem me guiado o meu caminho até este momento ímpar.

Ao meu orientador Ronei J. Poppi, o qual agradeço pela confiança, pelos

ensinamentos: específicos e de vida; que sempre tão solicito e preocupado

com a formação e durante o desenvolvimento deste trabalho. Orgulho-me

muito por ter participado do seu grupo de pesquisa.

Ao professor Alexandre B. Brolo, por ter me recebido muito bem no seu grupo

de pesquisa na University of Victoria – CA, na qual pude ter uma das

experiências mais marcantes de vida, cultural e também academicamente.

Ao professor Márcio P. Pedroso, por ser um dos grandes responsáveis pela

minha vinda para a Unicamp.

Aos meus amigos e colegas do LAQQA: Paulo R. Filgueras, Guilherme L.

Alexandrino, Marina, Humberto, Felipe, Javier, Monica, Guto, Carlos Texeira,

Luciana Oliveira, Thiago, Luciana Terra e Mariana; pelo agradável convívio e

discussões proveitosas.

Aos amigos da University of Victoria: Leo Furini, Fernando, Muyang (Mike),

Regie, Nick, JiaYi He, Alex, Mahdieh, Sabrina, Koh Yiin; pelo agradável

convívio e discussões proveitosas.

Aos meus amigos do futebol da Química e da academia: Rodrigão, P2, Dênio e

outros; pela agradável convívio e ajuda para sair da rotina nos momentos

difíceis.

Ao Instituto de Química e a Unicamp por fornecerem toda a estrutura e pessoal

para ser possível o desenvolvimento deste trabalho.

Ao CNPq (processo no140706/2013-5), a Funcamp (processo no5028) e o

programa Ciência sem Fronteiras (processo no10880/14-3) pelo apoio

financeiro.

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RESUMO

A espectroscopia Raman apresenta diversas vantagens analíticas práticas: mínimo preparo de amostra, ser não destrutiva e permitir trabalhar em soluções aquosas; porém, a falta de sensibilidade é um fator limitante desta técnica. Por outro lado, a espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS) contorna este problema, permitindo alcançar baixos limites de detecção, até no regime de uma única molécula (single-molecule), e com as mesmas vantagens práticas da técnica Raman. Desde a descoberta de SERS até os dias atuais aconteceram importantes avanços no desenvolvimento de novas nanopartículas para o aumento da intensificação do sinal incluindo o desenvolvimento de novos substratos com alto padrão de reprodutibilidade. Sendo assim, esta tese de doutorado visou demonstrar e avaliar a técnica SERS para diferentes aplicações no âmbito da química analítica com o suporte de robustos métodos de calibração e resolução multivariadas. Na primeira aplicação, a quantificação de dois hormônios, 17β-estradiol e noradrenalina, em soro de cães foi proposta empregando calibração multivariada pelo método probabilístico floresta randômica. Na segunda aplicação, a identificação in situ do agrotóxico, malation, em cascas de frutas foi realizada utilizando diferentes métodos de resolução multivariada de curvas. Na terceira aplicação, um novo método foi desenvolvido para a calibração multi-produto de melamina em duas diferentes matrizes de leite. A quarta aplicação, consistiu no desenvolvimento de um método para solucionar o desafio na quantificação SERS em soluções extremamente diluídas, na qual foi determinado um contaminante emergente em água: o enrofloxacin.

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ABSTRACT

Raman spectroscopy has several practical analytical advantages: minimal sample preparation, non-destructivity and it allows working with aqueous solutions; however, the lack of sensitivity is a limiting factor from this technique. On the other hand, surface-enhanced Raman spectroscopy (SERS) solves this problem, allowing to reach low limits of detection, single-molecule, and with the same practical advantages of Raman spectroscopy. Since SERS was discovery until nowadays several advances had been occurred in the development of new nanoparticles for improving the signal enhance and new substrate with high reproducibility pattern. So, this thesis was focused to show and to evaluate the SERS technique for different applications in analytical chemistry scope with the support of the robust methods of multivariate calibration and resolution. In the first study, the quantification of two hormones, 17β-estradiol and noradrenaline in dog serum was performed by multivariate calibration using the probabilistic method: random forest. In the second study, the in situ identification of pesticide: malathion; in fruit peels was done using different multivariate curve resolution methods. In the third study, a new method was developed for multi-product calibration of melamine in two different milks matrices. In the fourth study, the development of method/algorithm for solving the challenge in the SERS quantification in ultra-low diluted solutions, emergent contaminant (enrofloxacin), was carried out.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1. (A) Esquema dos espalhamentos elásticos (Stokes e Anti-Stokes) e inelásticos (Rayleigh) (Modificado de Sasic & Ozaki [14]) (B) esquema dos mecanismos quânticos de espalhamento e absorção........................................................ 26

Figura 2.2. Esquema ilustrando a geração de ressonância de plasmons de superfície localizada (LSPR) sobre as nanopartículas de ouro. ......................................................... 30

Figura 2.3. Formação dos “hotspots” (A) imagens de TEM de AuNPs; (B) Aumento do campo elétrico local devido ao acoplamento entre os campos elétricos de duas nanopartículas esféricas (Adaptado de [20]). ...................................................................... 31

Figura 2.4. Superfície recoberta com AuNPs em (A) alta concentração do analito: SERS average, (B) baixíssima concentração do analito: SM-SERS; Histograma de frequência para (C) SERS average e (D) SM-SERS. Em roxo as AuNPs imobilizadas sobre uma superfície de vidro, em amarelo os “hotspots”, em vermelho o analito e a linha vermelha é valor médio das intensidades. .................................................................. 33

Figura 2.5. Representação esquemática do experimento do bianalito para o SM-SERS. (A) evento nulo; (B) molécula verde, (C) molécula azul e (D) ambas as moléculas no “hotspot”. .................................................................................................................................... 34

Figura 3.1. Esquema de equipamento Raman moderno com notch filters e um detector CCD. ........................................................................................................................................... 36

Figura 3.2. Esquema representando um sistema com monocromador tipo echelle contido no espectrômetro PerkinElmer Raman Station (400F) utilizado nesta tese (aplicações 1 a 3). .................................................................................................................... 37

Figura 3.3. Espectrômetro Raman para obtenção de imagem hiperespectral. .............. 38

Figura 3.4. Esquema de aquisição de espectros Raman pontuais em: (A) alta concentrações; (B) baixas concentrações; e (C) mapeamento pontual. ......................... 39

Figura 3.5. Esquema de um microscópio Raman confocal baseado no equipamento Raman inVia da Renishaw. (A) acoplamento espectrômetro microscópio; (B) Esquema óptico do microscópio. ............................................................................................................. 39

Figura 4.1. Representação da organização dos dados na forma de uma matriz de respostas ( X ) e um vetor de concentrações ( y ) para o desenvolvimento de um modelo

matemático multivariado num procedimento de calibração. ............................................. 43

Figura 4.2. Representação dos dados partindo do modelo univariado ao multivariado com suas respectivas vantagens em relação a manipulação de interferentes baseado no ponto de vista da química analítica. ................................................................................. 44

Figura 4.3. Correção da linha base pelo AsLS (A) antes e (B) depois da correção. ..... 46

Figura 4.4. Representação hipotética de um fluxograma baseado em árvores. IMC – índice de massa corpórea. ...................................................................................................... 49

Figura 4.5. Esquema hipotético exemplificando um procedimento de classificação utilizando árvores de decisão pelo método classificação e regressão de árvores (CART). (A) etapa de treinamento e (B) etapa de classificação. ...................................... 51

Figura 4.6. Esquema mostrando o procedimento de reamostragem bagging (bootstrap aggregation) utilizado em floresta randômica. ..................................................................... 54

Figura 4.7. Esquema hipotético exemplificando um procedimento de regressão utilizando árvores de decisão pelo método classificação e regressão de árvores (CART). ...................................................................................................................................... 55

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Figura 5.1. Solução coloidal de nanopartículas de ouro (AuNPs) sintetizadas pelo método clássico de Lee-Meisel [57]. (A) solução coloidal; (B) AuNPs após o procedimento de concentração; (C) Espectro de extinção das AuNPs antes do procedimento de concentração; (D) imagens de TEM das AuNPs antes do procedimento de concentração (tamanho médio aproximado de 62 nm). ...................... 63

Figura 5.2. (A) Substrato de vidro funcionalizada com APTMS e recoberto com AuNPs; (B) suporte em alumínio utilizado para as medidas. Imagens de AFM (C) em 2 dimensões e (D) 3 dimensões. ............................................................................................... 64

Figura 6.1. Esquema resumido das etapas da metodologia de análise desenvolvida para a quantificação dos hormônios nos soros de cães. ................................................... 70

Figura 6.2. Espectros de extinção da solução coloidal de ouro. A linha na vertical em verde indica a linha do laser utilizado (785 nm). ................................................................. 71

Figura 6.3. Pré-processamento do espectros descrito em etapas. AsLS: do inglês asymmetric least squares. ...................................................................................................... 72

Figura 6.4. Resultados para o erro relativo percentual calculado para a calibração/validação para (A) estradiol e (B) noradrenalina.............................................. 74

Figura 6.5. Resíduos dos modelos de calibração para (A) estradiol e (B) noradrenalina. Teste de permutação aplicado para (C) estradiol e (D) noradrenalina. Linha em verde na vertical é o valor de b2 calculado antes da permutação. Número de permutações igual 50.000 e os polinômios ajustados foram o de 2º grau. ............................................. 75

Figura 6.6. Estimativa das importâncias das variáveis para o modelo RF (A) 17β-estradiol (E2) e (B) noradrenalina (NE). ............................................................................... 77

Figura 7.1. Esquema do procedimento utilizado para a detecção dos resíduos de pesticidas. .................................................................................................................................. 83

Figura 7.2. Esquema do tratamento de dados realizado para obtenção das imagens químicas e espectros puros. ................................................................................................... 84

Figura 7.3. Espectros SERS pontuais; (a) Espectros SERS do malation em todas as condições de trabalho; (b) Espectros SERS para o tomate e para o malation nas concentrações de 12,3 mg L-1. (c) Espetros SERS para a ameixa e para o malation nas concentrações de 12,3 mg L-1. ............................................................................................... 85

Figura 7.4. (a) todos os espectros do mapeamento do tomate pré-processados por normalização e AsLS; (b) comparação entre o desvio padrão e média do espectro SERS; (c) matriz de covariância do erro (ECv); (d) matriz de correlação do erro (ECr) para os canais entre 1768-892 cm-1. ..................................................................................... 87

Figura 7.5. (a) Todo os espectros do mapeamento da ameixa pré-processados por AsLS; (b) comparação entre o desvio padrão e a média do espectro SERS (c) matriz de covariância do erro (ECv) e (d) matriz de correlação do erro (ECr) para os canais na faixa entre 1712-696 cm-1. ................................................................................................. 88

Figura 7.6. Comparação dos espectros recuperados do tomate e do malation recuperado pelos métodos NMF-ALS e MCR-ALS. ........................................................... 90

Figura 7.7. Resultados do NMF-ALS para o tomate; (a) recuperação do NMF-ALS para os espectros do tomate e da ameixa; (b) mapeamento para o tomate (c) mapeamento para o malation (12,30 a 0,12 mg L-1). .................................................................................. 91

Figura 7.8. Resultados do MCR-WALS para a ameixa; (a) recuperação do MCR-WALS para os espectros de fluorescência, ameixa e malation; (b) mapeamento para a fluorescência; (c) mapeamento para a ameixa (d) mapeamento para o malation (12.3 a 0.123 mg L-1). ............................................................................................................................ 92

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Figura 7.9. (A) Escores médios do NMF-ALS versus concentração esperada na casca para o tomate e (B) Escores médios do MCR-WALS versus concentração esperada na casca para a ameixa. ............................................................................................................... 93

Figura 8.1. Esquema ilustrando o NMF-ALS com restrição de correlação múltipla. ..... 99

Figura 8.2. Esquema ilustrando o procedimento experimental realizado para o desenvolvimento dos modelos de calibração de melamina nos diferentes produtos. 102

Figura 8.3. Espectros SERS dos conjuntos de calibração e validação para os diferentes produtos antes (A) e depois (B) da correção da linha base pelo algoritmo quadrados mínimos assimétricos (AsLS). .......................................................................... 102

Figura 8.4. Curva de calibração dos escores do NMF sem restrição de correlação múltipla versus concentração nominal para ambos os produtos. ................................... 103

Figura 8.5. Perfis espectrais recuperados pelo método NMF com restrição de correlação múltipla para ambos os produtos contaminados com melamina. ............... 104

Figura 8.6. Concentração prevista pelo NMF-ALS com correlação múltipla versus concentração nominal para ambos os produtos................................................................ 105

Figura 9.1. Esquema do procedimento de decomposição dos dados por NMF-ALS para as imagens hiperespectrais e a etapa de digitalização dos escores para o desenvolvimento da curva de calibração digital. ............................................................... 112

Figura 9.2. Esquema resumido do procedimento experimental realizado para a aquisição dos dados de imagem hiperespectral. .............................................................. 114

Figura 9.3. Resultados PCA para os dados de enrofloxacin. (A) loadings com os 4 fatores mais importantes; (B) Histograma de frequência para as diferentes concentrações de enrofloxacin. A linha vermelha representa o valor médio das intensidades calculados pelos escores. .............................................................................. 116

Figura 9.4. Curva de calibração para os valores em (A) SERS average e (B) SM-SERS; Histograma mostrando a concentração de 200 ppm (SERS average versus o (D) SM-SERS. ......................................................................................................................... 118

Figura 9.5. Resultados obtidos após o procedimento de calibração SERS digital: (A) Mapas de concentrações digitalizados (B) Curva de calibração SERS digital; (C) Comparação dos espectros médios calculados para o valor digital “0” e valor digital “1”. ................................................................................................................................................... 119

Figura 9.6. Prova do conceito do SM-SERS. (A) Representação dos espectros recuperados pelo NMF-ALS para o ciprofloxacin (CIPRO) e seu isótopo (CIPRO-ISO); (B) Mapa digital dos resultados para CIPRO (azul) e CIPRO-ISO (vermelho). Os círculos em verde representam quando as duas moléculas estavam presentes nos “hotspots”. ................................................................................................................................ 120

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LISTA DE TABELAS

Tabela 6.1. “Performance” dos modelos RF para a quantificação dos hormônios em soro de cães. ............................................................................................................................. 73

Tabela 7.1. Resultados dos modelos de resolução de curvas. ......................................... 89

Tabela 8.1. Comparação entre os modelos NMF-ALS com restrição de CL e o PLSR. ................................................................................................................................................... 106

Tabela 8.2. Figuras de mérito para os dados de validação utilizando a calibração pseudo-univariada calculada a partir do modelo NMF-ALS com restrição de correção múltipla. .................................................................................................................................... 107

Tabela 8.3. Figuras de mérito adicionais para o modelo NMF-ALS com restrição de correlação múltipla. ................................................................................................................ 108

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

(Fast Combinatorial NNLS, FCNNLS), 57

(LOF, Lack of fit), 60

(NMF, non-negative matrix factorization), 57

(WALS, do inglês weighted alternating least squares), 58

AFM, do inglês atomic force microscopy, 63

APTMS (do inglês, 3-Aminopropyl)trimethoxysilane), 63

AsLS, do inglês asymmetric least squares, 45

ASTM, do inglês american society for testing and materials, 69

AuNPs, do inglês gold nanoparticles, 20

bootstrapping aggregation (bagging), 52

CART, do inglês classification and regression trees, 50

CCD, do inglês Charge-Coupled Device, 36

CCα, do inglês decision limit, 106

CIPRO, ciprofloxacin, 111

CIPRO-ISO, do inglês isotopically-ciprofloxacin, 120

DC-SERS, do inglês digital calibration SERS,

112

D-SERS, do inglês digital SERS, 111

E2, 17β-estradiol, 66

EC, do inglê European Commission,

107

ECM, error covariance matrix, 81

EF, do inglês enhancement fator, 29

EFA, do inglês envolving factor analysis, 56

ELISA, do inglês enzyme-linked immunosorbent assay, 21

ENRO, enrofloxacin, 111

FDA (do inglês, Food and Drug Administration), 80

HPLC, do inglês high performance liquid chromatography, 80

ICA, do inglês independent component analysis, 121

importância das variáveis (ImpVar), 56

índice de massa corpórea (IMC), 49

LC-MS-MS, do inglês liquid chromatography tandem mass spectrometry, 96

LOD, do inglês limit of detection, 106

LSPR, do inglês localized surfasse plasmon ressonance, 29

matriz covariância do erro (ECv), 59

matriz de erro de correlação (ECr), 60

MCR-ALS, do inglês multivariate resolution curve with alternating least squares, 20

MRL, do inglês maximum residue limit, 96

NE, noradrenalina, 66

NNLS (FNNLS, Fast NNLS), 57

out-of-bag (OOB), 52

PCA, do inglês principal componente analysis, 97

PLS, do inglês partial least squares, 47

PLSR, do inglês partial least squares regression, 98

PURE, do inglês purest variable detection method, 56

quadrados mínimos não negativos (NNLS, Non-Negative Least Square), 57

RF, do inglês random forest, 22

RMSE, root-mean squares error, 68

RMSEOOB, do inglês root-mean squares error out-of-bag, 68

RR, do inglês resonance Raman, 27

SERS, do inglês surface enhanced Raman spectroscopy, 19

SIMPLISMA, do inglês simple-to-use interactive self-modeling mixture analysis, 56

SM-SERS, do inglês single-molecule surface enhanced Raman spectroscopy, 21

TEM, do inglês transmission electron microscopy, 62

UHT, do inglês ultra-high temperature,

22

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................... 19

1.1. Introdução Geral .................................................................................... 19

1.2. Objetivo Geral ....................................................................................... 20

1.2.1. Objetivos específicos ....................................................................... 20

1.3. Estrutura da tese ................................................................................... 21

2. Espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS) ........................... 25

2.1. A espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS) .................. 25

2.1.1. O espalhamento Raman .................................................................. 25

2.1.2. O mecanismo do espalhamento Raman intensificado pela superfície (SERS) 28

2.1.2.1. Efeito químico.............................................................................. 29

2.1.2.2. Efeito eletromagnético .................................................................. 29

2.1.2.3. Espectro de extinção .................................................................... 30

2.2. Detecção no regime de uma única molécula (SM-SERS) .......................... 30

2.2.1. Os Hotspots e o Sinal SERS ............................................................ 31

2.2.2. A estatística complexa do SM-SERS ................................................ 32

2.2.3. Série isotopóloga ............................................................................ 33

3. Equipamentos Raman .................................................................................. 36

3.1. Espectrômetro Raman ........................................................................... 36

3.1.1. Equipamento Raman dispersivo ....................................................... 36

3.2. Equipamento Raman para imagens hiperespectrais ................................. 37

3.3. Equipamento Raman acoplado a um microscópio confocal ....................... 39

4. Métodos quimiométricos ............................................................................... 42

4.1. Quimiometria ......................................................................................... 42

4.2. Pré-processamento dos dados ............................................................... 45

4.2.1. Correção da linha base .................................................................... 45

4.2.1.1. Mínimos quadrados assimétricos (AsLS) ....................................... 45

4.2.1.2. Normalização .............................................................................. 46

4.3. Calibração multivariada .......................................................................... 47

4.3.1. Quadrados mínimos parciais (PLS) ................................................... 47

4.3.2. Métodos probabilísticos baseados em árvores de decisão .................. 48

4.3.2.1. Classificação e regressão de árvores (CART) ................................ 50

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4.3.2.2. Floresta randômica (RF) ............................................................... 52

4.4. Métodos baseados na resolução multivariada de curvas ........................... 56

4.4.1. Fatoração não negativa de matriz (NMF-ALS) ................................... 57

4.4.2. MCR com mínimos quadrados alternados ponderados (MCR-WALS) .. 58

4.5. Avaliação dos modelos quimiométricos.................................................... 60

4.5.1. Avaliação dos modelos MCR............................................................ 60

5. Síntese, imobilização e caracterização das AuNPs ......................................... 62

5.1. Solução coloidal .................................................................................... 62

5.2. Imobilização das AuNPs ......................................................................... 63

6. Aplicação 1: SERS e métodos de calibração multivariada usando Floresta Randômica para a quantificação de hormônios em soro de cães ............................ 66

6.1. Introdução ............................................................................................. 66

6.2. Procedimento experimental .................................................................... 67

6.2.1. Coleta das amostras de soro ............................................................ 67

6.2.2. Síntese e concentração das nanopartículas ....................................... 67

6.2.3. Instrumentação ............................................................................... 68

6.2.4. Método de referência ELISA ............................................................ 68

6.2.5. Tratamento dos dados ..................................................................... 68

6.3. Resultados e discussão.......................................................................... 69

6.3.1. Metodologia desenvolvida ................................................................ 69

6.3.2. Caracterização das nanopartículas e espectros SERS dos hormônios nas amostras de soro ......................................................................................... 70

6.3.3. Desenvolvimento e validação dos modelos de calibração ................... 73

6.3.4. Importância das variáveis para a floresta randômica .......................... 75

6.4. Conclusões ........................................................................................... 77

7. Aplicação 2: SERS e métodos de resolução multivariada de curvas para a detecção in situ de agrotóxico em casca de frutas ................................................. 80

7.1. Introdução ............................................................................................. 80

7.2. Procedimento experimental .................................................................... 81

7.2.1. Solucões e reagentes ...................................................................... 81

7.2.2. Síntese do colóide ........................................................................... 82

7.2.3. Espectrômetro Raman de Imagem ................................................... 82

7.2.4. Análise e tratamento dos dados........................................................ 82

7.3. Resultados e discussão.......................................................................... 84

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7.3.1. Detecção por SERS ........................................................................ 84

7.3.2. Pré-processamento ......................................................................... 85

7.3.3. Medida da matriz de covariância dos erros (ECMs) ............................ 86

7.3.4. Resultados para o MCR-ALS, NMF-ALS e MCR-WALS ...................... 88

7.3.5. Resultados quantitativos para o MCR-ALS, NMF-ALS e MCR-WALS .. 92

7.4. Conclusões ........................................................................................... 93

8. Aplicação 3: Desenvolvimento de um método para quantificação de melamina em diferentes matrizes de leite .................................................................................. 96

8.1. Introdução ............................................................................................. 96

8.1.1. NMF-ALS com restrição de correlação múltipla .................................. 98

8.2. Procedimento experimental .................................................................. 101

8.2.1. Síntese do colóide ......................................................................... 101

8.2.2. Espectrômetro Raman ................................................................... 101

8.2.3. Conjuntos de calibração e validação ............................................... 101

8.2.4. Medidas ....................................................................................... 101

8.3. Resultados e discussão........................................................................ 102

8.3.1. “Performance” e espectros recuperados .......................................... 102

8.3.2. Comparação com o método de calibração multivariada .................... 105

8.3.3. Validação ..................................................................................... 106

8.4. Conclusões ......................................................................................... 108

9. Aplicação 4: Desenvolvimento de um método para quantificação de enrofloxacin em águas em concentrações ultra-diluídas utilizando calibração SERS digital ........ 110

9.1. Introdução ........................................................................................... 110

9.2. Calibração SERS digital (DC-SERS) ..................................................... 111

9.3. Procedimento experimental .................................................................. 113

9.3.1. Síntese do coloide e preparação do substrato ................................. 113

9.3.2. Espectrômetro Raman confocal ...................................................... 113

9.3.3. Procedimento experimental ............................................................ 113

9.4. Resultados e discussão........................................................................ 114

9.4.1. Caracterização das AuNPs e do substrato ....................................... 114

9.4.2. Avaliação preliminar dos dados ...................................................... 115

9.4.3. Calibração SERS average versus SM-SERS ................................... 117

9.4.4. Digital SERS ................................................................................. 119

9.4.5. Experimento da série isotopóloga ................................................... 120

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9.5. Conclusões ......................................................................................... 121

Considerações finais ......................................................................................... 123

Perspectivas futuras.......................................................................................... 125

Referências bibliográficas .................................................................................. 127

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Capítulo1: Introdução

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19

1. Introdução

1.1. Introdução Geral

A partir das observações realizadas por Fleischmann et al. [1] em 1974 do

efeito da intensificação do sinal Raman da piridina adsorvida numa superfície

rugosa de um eletrodo de prata, foi aberta uma nova fase para aplicações da

espectroscopia Raman. Com o procedimento adotado foi contornado a baixa

secção de choque da técnica, quando comparada a outras técnicas

espectroscópicas, e fez surgir a espectroscopia Raman intensificada pela

superfície (SERS, do inglês surface enhanced Raman spectroscopy). O efeito

SERS é caracterizado pela intensificação do espalhamento Raman, em várias

ordens de magnitude (104 a 107 vezes), que ocorre devido à interação da

radiação eletromagnética com as nanopartículas metálicas, tais como Ag, Au

ou Cu.

SERS apresenta como principais vantagens baixos limites de detecção e

quantificação, chegando até o regime de uma única molécula [2], que

apresenta características interessantes para a química analítica,

principalmente, devido à simplicidade e à ausência da necessidade de preparo

de amostra na maioria dos casos. Isso permite sua aplicação em diversificadas

áreas e em ambientes totalmente adversos, como: in vivo, in situ, in vitro e ex

vivo, na investigação de drogas [3], na identificação e detecção de pesticidas

[4], no monitoramento ambiental intracelular [5] e na quantificação em amostras

biológicas como urina [6] e soro [7].

Com os recentes avanços na área de nanofabricação e síntese das

nanopartículas metálicas [8], praticamente o conhecido problema de falta de

reprodutibilidade em SERS foi minimizado [9, 10], elevando consideravelmente

o número de aplicações em química analítica. Entretanto, do ponto de visto

analítico, as aplicações com amostras reais de alta complexidade ainda têm

sido um desafio. Por exemplo, realizar a calibração na presença de

interferentes muitas das vezes desconhecidos, que podem depreciar o sinal

SERS e dificultar a detecção e quantificação do analito de interesse. Para

resolver este problema é adequado o uso de ferramentas estatísticas mais

robustas, tais como as contidas em quimiometria, como realizado no trabalho

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descrito por Mamián-López & Poppi [11]. Os autores utilizaram o método

resolução multivariada de curvas com mínimos quadrados alternados (MCR-

ALS, do inglês multivariate resolution curve with alternating least squares) e o

método de adição de padrão para a determinação de nicotina em urina, na qual

a quantificação pode ser realizada na presença de interferentes não

conhecidos sem a sua separação física. Como vantagens práticas do método

podem-se destacar o não pré-tratamento de amostras, apenas um

procedimento de diluição foi necessário, e o uso de uma síntese clássica muito

simples de nanopartículas de ouro (AuNPs, do inglês gold nanoparticles). Além

disso, outros trabalhos têm surgido na literatura [4, 7] aliando o alto potencial

da técnica SERS com métodos quimiométricos de resolução de curvas e

calibração multivariada, possibilitando o desenvolvimento de novas ferramentas

para análise em matrizes complexas.

1.2. Objetivo Geral

Como objetivo geral dessa tese, pretende-se utilizar a espectroscopia

Raman intensificada pela superfície (SERS) aliada a métodos quimiométricos

para o desenvolvimento de novas metodologias analíticas aplicadas a matrizes

complexas, para os quais os métodos convencionais apresentam limitações.

1.2.1. Objetivos específicos

1) Desenvolver um método automatizado para a calibração multivariada de

dois hormônios, 17β-estradiol e noradrenalina, em soro de cães após a

suplementação de medicamentos contra hipertensão utilizando SERS e

Floresta Randômica;

2) Desenvolver um método para a detecção in situ do pesticida malation

em cascas de tomate e ameixa utilizando imagem hiperespectral SERS

e diferentes métodos de resolução multivariada de curvas;

3) Desenvolver um novo método/algoritmo para a calibração multiprodruto

de melamina em matrizes lácteas, UHT e Fórmula Infantil, utilizando

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SERS e uma nova abordagem de metodologia para resolução

multivariada de curvas com múltipla restrição de correlação;

4) Desenvolver um novo método/algoritmo para a calibração multivariada

do antibiótico, enrofloxacin, em soluções extremamente diluídas

utilizando SERS, resolução multivariada de curvas e calibração SERS

digital.

1.3. Estrutura da tese

Nesta Tese foram desenvolvidos métodos para a identificação e

determinação de hormônios, pesticida, contaminante de matrizes lácteas e

contaminante emergente em água baseados em SERS e quimiometria. Os

resultados estão resumidos em quatro aplicações distintas entre si,

estruturadas na forma de capítulos.

No primeiro capítulo, é composto pela introdução geral, objetivo geral e

objetivos específicos e uma breve discussão sobre a estrutura desta Tese. No

segundo capítulo é apresentada de forma simplificada a teoria SERS e seus

mecanismos, assim como a teoria do single-molecule SERS (SM-SERS), que

faz parte da última aplicação. No terceiro capítulo são apresentados os

equipamentos Raman utilizados e suas principais diferenças e vantagens num

ponto de vista prático.

No quarto capítulo é abordada a teoria que envolve os métodos

quimiométricos de calibração e resolução multivariada de curvas que foram

empregados nas aplicações descritas a seguir. No quinto capítulo foi discutido

a síntese e caracterização das AuNPs utilizadas em todas as aplicações da

tese.

Na primeira aplicação, sexto capítulo, é apresentado o desenvolvimento da

metodologia para quantificação dos hormônios 17β-estradiol e noradrenalina

em soro de cães após a suplementação de medicamentos contra hipertensão

utilizando SERS e Floresta Randômica. Inicialmente, as concentrações dos

dois hormônios foram determinadas pelo método de referência ELISA e estes

valores foram utilizados para desenvolver modelos de calibração multivariada

utilizando os seus respectivos espectros SERS. Este método teve como

vantagem prática a automação das leituras SERS, reduzindo

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consideravelmente o tempo das medidas. Este fato é importante uma vez que o

método de referência possui procedimentos laboriosos, os quais demandam

em torno de 2 a 3 dias para a obtenção dos resultados. Em contrapartida, com

a metodologia proposta foi possível realizar 96 medidas em menos de 2 h.

Outra novidade que foi apresentada nesta aplicação foi utilizar o método

probabilístico de floresta de decisão: floresta randômica (RF, do inglês random

forest); que pela primeira vez foi estudada pelo nosso grupo de pesquisa. Os

resultados obtidos com a RF foram comparáveis também aos erros obtidos

pelo método de referência. Esta aplicação gerou um artigo publicado na revista

Microchemical Journal [7].

A segunda aplicação, sétimo capítulo, consistiu em desenvolver uma

metodologia que fosse simplificada e sem qualquer pré-tratamento de amostra

para a identificação do pesticida malation em cascas de frutas: tomate e

ameixa. Para isso, a estratégia tomada foi obter a imagem hiperespectral

SERS das cascas dos alimentos e utilizar as ferramentas quimiométricas de

resolução de curvas multivariada para a obtenção dos perfis espectrais puros

separados, para a identificação do pesticida. Cabe ressaltar, que os métodos

de resolução de curvas utilizados foram inicializados sem o conhecimento

prévio dos respectivos espectros puros, uma vez que esta informação nem

sempre é disponível. Esta aplicação gerou um artigo publicado na revista

Analytica Chimica Acta [4].

Na terceira aplicação, oitavo capítulo, foi desenvolvido um método/algoritmo

para a calibração multiproduto de melamina em duas diferentes matrizes

lácteas, leite UHT e fórmula infantil, simultaneamente numa mesma curva de

calibração. O algoritmo baseou-se em uma nova abordagem para resolução

multivariada de curvas, no qual foi inserida uma restrição de correlação global,

para a previsão do contaminante nos dois diferentes produtos utilizando

apenas um único modelo global. Através do uso deste método foi possível

obter a chamada “vantagem de segunda ordem” empregando dados de

primeira ordem, ou seja, permitiu realizar o procedimento de calibração na

presença de interferentes desconhecidos. Esta aplicação gerou um manuscrito

que está submetido na revista Talanta.

Na quarta e última aplicação, nono capítulo, realizada durante um período

de estágio no Canadá (University of Victoria – CA), foi desenvolvido um

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método/algoritmo para a calibração em soluções extremamente diluídas de um

antibiótico contaminante emergente em água: o ciprofloxacin. O método

desenvolvido, chamado de calibração SERS digital, baseou-se na contagem

das moléculas presentes nos “hotspots”, no qual são as que mais contribuem

para a intensidade total do espectro SERS. Como conclusão, através deste

método mostrou-se ser possível realizar o procedimento de calibração SERS

em soluções ultra-diluídas. Após, o regime single molecule-SERS (SM-SERS)

foi constatado através do experimento da série isotopóloga, utilizando o

antibiótico ciprofloxacin e seu isótopo deuterado. Esta aplicação apresenta um

grande potencial para contribuir nos estudos de SM-SERS e na aplicação da

técnica na área de Química Analítica. Esta aplicação gerou um resumo de um

congresso internacional e um manuscrito que está em fase de redação.

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Capítulo 2: Espectroscopia Raman intensificada

pela superfície (SERS)

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2. Espectroscopia Raman intensificada pela superfíc ie (SERS)

2.1. A espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS)

A espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS), observada

pela primeira vez por Fleischmann et al. em 1974 [1], foi incialmente descrita

como intensificação do sinal Raman devido ao aumento da área do eletrodo de

prata. Entretanto, posteriormente, este efeito foi descrito por Jeanmaire e Van

Duyne [12] e Albretch e Creighton [13], em dois trabalhos independentes, como

tendo outras causas e não apenas devido ao eletrodo. O efeito SERS, como o

nome já diz, é o efeito de intensificação do espalhamento Raman, em várias

ordens de magnitude (104 a 107 vezes), que ocorre devido à interação radiação

da eletromagnética com nanopartículas metálicas, Ag, Au e Cu, gerando as

chamadas ressonâncias de plasmons de superfície. Embora o SERS seja uma

espectroscopia de superfície, as mesmas regras de seleção do Raman também

são válidas.

2.1.1. O espalhamento Raman

A espectroscopia Raman é baseada no fenômeno de espalhamento da luz

[14]. Nela, uma fonte de radiação monocromática coerente e colimada (E=hνex)

é utilizada para excitação de uma molécula (Figura 2.1A). Durante este

processo, parte desta radiação (ou desses fótons) irá transpassar sem colidir

com a matéria (molécula) e outra parte irá se espalhar elasticamente ou de

forma inelástica. O que ocorre naturalmente é que a maioria desses fótons são

espalhados elasticamente, portanto, sem interagirem com a amostra. Este

efeito é chamado de espalhamento de Rayleigh, e os fótons espalhados

possuem a mesma energia que a inicial (E=hνex). Por outro lado, uma pequena

parcela é espalhada de forma inelástica, ou seja, com energia diferente que a

inicial (E=hνex±νvib). Caso ela seja de energia maior que a inicial, o efeito é

denominado espalhamento Anti-Stokes (E=hνex+νvib), caso contrário, é

denominado espalhamento Stokes (E=hνex-νvib).

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Figura 2.1. (A) Esquema dos espalhamentos elásticos (Stokes e Anti-Stokes) e inelásticos

(Rayleigh) (Modificado de Sasic & Ozaki [14]) (B) esquema dos mecanismos quânticos de

espalhamento e absorção.

De acordo com o mecanismo quântico (Figura 2.1B), um fóton da radiação

incidente colide com a molécula no estado fundamental (ν = 0), promovendo a

espécie a um estado de maior energia chamado de estado virtual (nominal), no

qual ao retornar para um estado de menor energia novamente ocorrerá a re-

emissão de um novo quantum de energia. Além disso, se esse estado for de

mesma energia do inicial (ν = 0), teremos o efeito Rayleigh ou, então, o efeito

Stokes, no caso de retornar para um estado mais excitado (ν = 1). Essa

diferença de energia entre a radiação incidente e a espalhada (Figura 2.1B)

corresponde à energia com que átomos presentes na área estudada estão

vibrando, fornecendo informações sobre as vibrações moleculares.

Porém, pode ser que ocorra também de o fóton encontrar a molécula no

estado vibracional excitado (ν = 1), e neste caso o fóton liberado terá energia

maior que os anteriores. Normalmente, de acordo com a distribuição de

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27

Boltzmann, este estado é mais difícil de ser encontrado. Portanto, o

espalhamento anti-Stokes é menos intenso que o Stokes. Por outro lado, pode

ser que, ao invés de ocorrer a transição para um estado virtual, ocorra a

transição para um estado eletrônico excitado, chamado de efeito Raman

ressonante (RR) [15, 16]. A origem deste fenômeno está relacionada à

coincidência entre o comprimento de onda da radiação de excitação com uma

banda de absorção eletrônica do analito, no qual acontece a promoção de um

elétron para um estado eletrônico excitado seguido de uma imediata relaxação

de volta para o estado fundamental. Ao contrário disso, pode ser que ocorra um

efeito de relaxação para um estado eletrônico excitado antes da volta para o

estado fundamental; nesta situação teremos o efeito de fluorescência. A

observação do fenômeno de fluorescência não é desejável, pois ele compete

com efeito de espalhamento Raman e isso promoverá uma depreciação do

sinal Raman. Um caso comum de intensificação por RR é o ocorrido em

corantes, pois muitos deles apresentam estruturas macrocíclicas que absorvem

os comprimentos de onda de excitação do laser na região visível.

No espectro Raman, assim como no infravermelho, as bandas são

relacionadas a modos vibracionais intrínsecos das moléculas, portanto, elas

contêm a impressão digital das moléculas, uma importante vantagem dessas

técnicas. Entretanto, no infravermelho a molécula para ser ativa necessita de

ter variação no momento de dipolo, enquanto que na espectroscopia Raman a

polarizabilidade da molécula deve variar.

Quando a radiação incidente interage com a molécula, ela promove uma

alteração no momento de dipolo induzido (→P ) da molécula,

→→→= EαP (2.1)

no qual, →α é o tensor de polarizabilidade da molécula e

→E é o campo elétrico

da radiação incidente. Fica evidente nesta equação que o momento de dipolo

induzido é influenciado pelo campo elétrico da radiação incidente, e a

intensidade do espalhamento Raman ( mnI ) é dada por:

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28

( ) 244

2

9

16∑∑

=

i jmnijexmn I

cI ανπ

(2.2)

na qual, exI é intensidade da radiação excitante é proporcional à quarta

potência da frequência ν . Portanto, quanto maior a frequência da radiação

excitante, maior será a intensidade do espalhamento, porém mais susceptível

ela será as interferências por transições de fluorescência.

A probabilidade de ocorrência do espalhamento não elástico (Raman) é

muito baixa, devido à baixa secção cruzada de choque. Por exemplo, se 106

moléculas foram emitidas apenas 1 delas será espalhada de forma não

elástica. Essa limitação da técnica Raman é perceptível na falta sensibilidade

em alguns casos em específico, principalmente, quando comparada com outras

técnicas espectroscópicas moleculares, tais como Uv-vis, infravermelho e

fluorescência.

2.1.2. O mecanismo do espalhamento Raman intensificado pela superfície

(SERS)

Ao contrário da espectroscopia Raman, a espectroscopia SERS é uma

técnica bem sensível, comparável à técnica de fluorescência molecular. O

mecanismo de amplificação do sinal Raman pode ser explicado por dois

fatores: o mecanismo químico e o eletromagnético. No primeiro, é fundamental

que a molécula adsorva na superfície do metal, para que ocorra a transferência

de cargas entre o metal e a molécula. No segundo, o mais importante, o efeito

é dependente da ressonância de plasmons de superfície, na qual é gerado o

sinal de intensificação do sinal SERS. A geração dos plasmons é dependente

do tipo do metal utilizado (normalmente Ag ou Au), da estrutura/formato da

nanopartícula metálica, estado de agregação, assim como demais fatores. De

fato, ambos os mecanismos contribuem com uma parcela para o mecanismo

de intensificação do SERS, no entanto, para compreendê-los, é preciso avaliar

a contribuição de cada um deles, separadamente, como veremos a seguir.

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2.1.2.1. Efeito químico

Como foi dito anteriormente, é de suma importância para que o efeito

SERS ocorra que o analito esteja adsorvido quimicamente ou fisicamente na

superfície do metal. A formação deste complexo, metal-molécula, permite que

ocorra a transferência de carga entre molécula/metal, afetando o tensor de

polarizabilidade da molécula ( →α ). Como consequência disso, a intensificação do

espectro Raman é observada em ordem de grandeza exponencial.

2.1.2.2. Efeito eletromagnético

Apesar de o efeito químico ser importante para que o efeito SERS ocorra, a

sua contribuição no fator de intensificação (EF, do inglês enhancement fator) é

pequena comparada ao efeito eletromagnético [17, 18]. Como pode ser

observado no esquema da Figura 2.2, o campo elétrico da radiação

eletromagnética induz a oscilação dos elétrons da camada de valência da

nanopartícula, promovendo uma variação do campo local, conhecida como

ressonância de plasmons localizado (LSPR, do inglês localized surface

plasmon ressonance). Considerando um conjunto de nanopartículas

suportadas num substrato, essa nuvem de elétrons deslocalizados é

propagada para as demais partículas dependendo da distância inter-partículas.

Outro importante fator é que essa alteração local no momento de dipolo

induzido do metal também é válida para a molécula, de acordo com as regras

de seleção também observada no espalhamento Raman. Sendo assim, um

efeito adicional é observado com um aumento significativo da intensificação do

sinal.

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Figura 2.2. Esquema ilustrando a geração de ressonância de plasmons de superfície localizada

(LSPR) sobre as nanopartículas de ouro.

2.1.2.3. Espectro de extinção

O mecanismo de extinção da luz, que nos compostos moleculares é

denominado absorção, porém devido aos LSPR para as nanopartículas

metálicas é composto por dois outros mecanismos: de absorção e de

espalhamento. Medidas de absorção de luz pelo plasmon de nanopartículas

metálicas podem ser obtidas nas regiões do ultravioleta, visível e infravermelho

próximo. O aumento no tamanho das nanopartículas resulta em um

deslocamento da banda do plasmon de superfície do metal para a região

espectral de maior comprimento de onda. Assim, conclui-se que dessa forma a

cor da nanopartícula, em função da ressonância plasmônica, está associada às

dimensões da própria partícula.

2.2. Detecção no regime de uma única molécula (SM-SERS)

Em 1997, a técnica SERS foi utilizada pela primeira vez para estudar a

detecção no regime de uma única molécula (SM-SERS) por dois grupos de

forma independente [2, 19]. De acordo com Nie e Emory [2], o efeito observado

foi mais intenso e mais estável quando comparado com o SM utilizando a

técnica de fluorescência, além de possuir a vantagem da técnica Raman de

fornecer a impressão digital molecular. Essas características colocam o SM-

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SERS num grupo seleto de técnicas importantes para o estudo e entendimento

de processos de dinâmica molecular e com um atrativo para aplicações na área

de Química Analítica, devido aos baixos limites de detecção alcançados.

2.2.1. Os Hotspots e o Sinal SERS

Como foi mencionada anteriormente, a intensificação do sinal SERS é

devido à geração dos LSPRs sobre as nanopartículas, existindo dependência

do ambiente dielétrico que as contêm e do seu estado de agregação [20]. Caso

as nanopartículas estejam próximas uma das outras, existe a possibilidade de

formar dímeros, trímeros ou outras estruturas, dependendo da distância inter-

partículas [21]. Nesta condição, os LSPRs entre duas (ou mais) nanopartículas

esféricas podem se acoplar, formando os chamados “hotspots”, e gerar um

forte fator de intensificação do sinal SERS. Na Figura 2.3 está representada a

formação dos “hotspots” e o aumento do campo elétrico local. Como pode ser

observado na Figura 2.3A, na solução coloidal podem existir monômeros,

dímeros, trímeros e outras estruturas e isso pode promover a formação de um

“hotspot” (Figura 2.3B).

Figura 2.3. Formação dos “hotspots” (A) imagens de TEM de AuNPs; (B) Aumento do campo

elétrico local devido ao acoplamento entre os campos elétricos de duas nanopartículas

esféricas (Adaptado de [20]).

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A presença dos “hotspots” é de suma importância para a formação e

contribuição do sinal SERS. De acordo com um experimento de Fang et al.

[22], dois terços das moléculas (por volta de 106 moléculas) sobre uma

superfície recoberta por nanopartículas de prata, contribuíram menos de 5%

para a intensidade de todo o sinal SERS. Por outro lado, menos de 0,1%

destas moléculas, o que seria por volta de 63 moléculas, seriam responsáveis

por um terço de toda a intensidade SERS. Isso indica uma forte dependência

do sinal SERS dos “hotspots” e sua importância para obter limites de detecção

no regime SM-SERS. Um fato interessante é que estima-se que em menos de

1% da área deste substrato tem-se realmente “hotspots” ativos [23], ou seja,

uma ínfima parcela de todo material.

2.2.2. A estatística complexa do SM-SERS

Desde a primeira observação do SM-SERS [2, 19], já era conhecido o

efeito de flutuação do sinal sobre os resultados. De forma a compreender

melhor a origem destas variações no sinal, um esquema é mostrado na Figura

2.4.

Na Figura 2.4A pode ser observado que em regime de alta concentração

do analito (em vemelho) toda a superfície do material, AuNPs imobilizadas

sobre uma superfície de vidro, está recoberta, inclusive todos os “hotspots”

estão preenchidos, formando uma monocamada de Langmuir. Ao iluminar-se

toda essa região dividida em 11 x 11 pixels, totalizando 121 espectros SERS,

pode-se construir um histograma de distribuição das intensidades médias

normalizadas entre 0 e 1 (Figura 2.4C). Pode-se observar que a distribuição

das intensidades segue o formato de uma gaussiana (distribuição normal), ou

seja, o valor médio segue o chamado teorema do limite central, representado

pela linha vermelha na vertical. Este caso é chamado na literatura por SERS

average [24]. Em contrapartida, em concentração muito baixa (ultra-low) é

observado que não existem moléculas suficientes do analito para formar uma

monocamada e muito menos para serem adsorvidas em todos os “hotspots”

(Figura 2.4B), alcançando o regime SM-SERS. Como consequência deste fato,

cerca de 60% dos eventos são governados por eventos nulos (null events),

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33

embora dois dos valores de intensidades sejam bem altos (Figura 2.4D), os

quais representam apenas as duas moléculas que estão acomodadas nos

“hotspots” (Figura 2.4C). Neste caso, os dados não seguem uma distribuição

normal, mas uma distribuição chamada de cauda longa [25].

Figura 2.4. Superfície recoberta com AuNPs em (A) alta concentração do analito: SERS

average, (B) baixíssima concentração do analito: SM-SERS; Histograma de frequência para (C)

SERS average e (D) SM-SERS. Em roxo as AuNPs imobilizadas sobre uma superfície de vidro,

em amarelo os “hotspots”, em vermelho o analito e a linha vermelha é valor médio das

intensidades.

2.2.3. Série isotopóloga

O experimento do bianalito é o experimento mais utilizado para provar a

existência do efeito SM-SERS [24]. O seu objetivo é provar a capacidade do

SM-SERS em acomodar mais de uma molécula no “hotspot”.

Como pode ser observado na Figura 2.5A, no primeiro caso nenhuma das

moléculas estão presentes no “hotspot”, portanto, o evento é considerado nulo,

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34

ou seja, não apresenta espectro, apenas ruído instrumental. No segundo caso

(Figura 2.5B), a molécula verde está contida no “hotspot” e, portanto, um forte

sinal é observado para a mesma. O mesmo acontece para a molécula em azul

no terceiro caso mostrado na Figura 2.5C. No último caso (Figura 2.5D), ambas

as moléculas podem visitar o “hotspot”, dessa forma, o espectro total terá tanto

informações da molécula azul quanto da verde. Isso é um forte indicativo da

observação do efeito SM-SERS [24].

Figura 2.5. Representação esquemática do experimento do bianalito para o SM-SERS. (A)

evento nulo; (B) molécula verde, (C) molécula azul e (D) ambas as moléculas no “hotspot”.

Embora o experimento do bioanalito seja muito utilizado para a

observação do efeito SM-SERS, o mesmo possui algumas limitações. A

principal delas é a preferência de adsorção pela superfície por umas das

moléculas [24, 26]. Neste caso, uma das moléculas pode ficar mais tempo

adsorvida nos “hotspots”, e será observado na maior parte do tempo o seu

espectro. Uma forma alternativa para contorna este problema é utilizando o

experimento conhecido na literatura como “série isotopóloga”, ou seja,

utilizando um isótopo deuterado de uma respectiva molécula, sendo que ambos

os isótopos têm a mesma chance de adsorver na superfície. Recentemente, o

grupo do professor Van Duyne propôs o uso do experimento multianalito [27].

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35

Capítulo 3: Equipamentos Raman

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36

3. Equipamentos Raman

3.1. Espectrômetro Raman

3.1.1. Equipamento Raman dispersivo

Até meados da década de 80, os espectrômetros Raman não eram muito

populares. Muito disso se deve a diversos problemas e limitações que eram

encontrados, pois os espectrômetros disponíveis não eram projetados para

este tipo de aplicação em específico [16]. Mais tarde, a técnica ressurgiu,

principalmente devido a três importantes fatores: o uso e o desenvolvimento de

novas linhas de lasers de excitação: íon argônio (488 ou 514,5 nm), íon

criptônio (530,9 ou 647,1 nm), Hélio-neônio (632,8 nm), diodo (785 ou 830 nm),

Nd-YAG (1064 nm); o uso de filtros de rejeição (notch filters); e o uso de

detectores do tipo carga acoplada (CCD, do inglês Charge-Coupled Device).

Um equipamento Raman com esses componentes é apresentado na Figura

3.1.

Figura 3.1. Esquema de equipamento Raman moderno com notch filters e um detector CCD.

As principais funções dos notch filters são eliminar a radiação de baixa

frequência (ruídos) e evitar que os sinais Raman anti-Stokes e Rayleigh

cheguem ao detector (Figura 3.1). Outra grande vantagem do equipamento

Raman moderno é o uso dos espectrômetros com monocromador do tipo

echelle [14], como o PerkinElmer Raman Station (400F) utilizado nas

aplicações 1 a 3 nesta Tese (Figura 3.2).

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37

Figura 3.2. Esquema representando um sistema com monocromador tipo echelle contido no

espectrômetro PerkinElmer Raman Station (400F) utilizado nesta tese (aplicações 1 a 3).

Como pode ser observado na Figura 3.2, o monocromador tipo echelle

possui duas grades de difração posicionadas ortogonalmente, sendo que a

primeira separa o feixe em faixas de comprimentos de onda para depois o

segundo monocromador realizar uma separação mais detalhada dentro destas

faixas. A grande vantagem dessa abordagem é a possibilidade de obter um

espectro Raman simultaneamente em toda a faixa espectral compreendida

entre 3600-100 cm-1, em tempos relativos curtos e com grande resolução, pois

não existem partes móveis.

3.2. Equipamento Raman para imagens hiperespectrais

Outra característica relevante dos equipamentos Raman atuais é a

possibilidade da obtenção de imagens hiperespectrais, nas quais um espectro

completo é obtido a cada pixel da imagem. Esta prática foi primeiramente

reportada décadas atrás [14] e tem se mostrado até os dias atuais como uma

potente ferramenta analítica, pois permite que espectros possam ser adquiridos

em diversas regiões de interesse e obter informações sobre a distribuição do

analito em uma superfície. Normalmente, são utilizados estágios de

posicionamento x,y,z para selecionar a região onde será obtido o espectro,

conforme mostrado na Figura 3.3.

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38

Figura 3.3. Espectrômetro Raman para obtenção de imagem hiperespectral.

Na Figura 3.4 está representado um esquema dos diferentes tipos de

aquisição dos espectros. Nos pontuais (Point Microspectroscopy), Figuras 3.4A

e B, diversos espectros são adquiridos em determinadas regiões de interesse,

na escala, por exemplo, de 100 µm. Esta abordagem não gera imagens, mas

fornece uma boa noção do micro-espaço amostral. A principal desvantagem

deste método é que, se a concentração do analito é baixa na amostra, o sinal

também será depreciado (Figura 3.4B). Por outro lado, no mapeamento pontual

(Point Mapping), Figura 3.4 C, uma micro-área é selecionada (mapping) e um

espectro é adquirido a cada ponto da região selecionada, chamado de pixel. A

área e o tamanho dos pixels utilizados são pré-determinados pelo usuário via

software e através de uma mesa motorizada (motorized stage) (Figura 3.3). A

adição da informação espacial permite a construção das chamadas imagens

químicas (Chemical Imaging), utilizando-se uma banda do espectro,

normalmente a mais intensa, ou os escores calculados por um modelo

quimiométrico (que será discutido no próximo capítulo). As duas principais

vantagens da análise por imagens hiperespectrais são obter a informação de

um analito, de concentração global relativamente baixa, no entanto, alta em

respectivos pontos da superfície monitorada (pixels) e, além disso, conhecer a

distribuição deste composto ao longo de uma superfície pré-estabelecida

(Figura 3.4). Por outro lado, esse tipo de medida pode ser bastante demorada,

devido ao tempo de exposição do laser e/ou do tamanho da área mapeada.

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Figura 3.4. Esquema de aquisição de espectros Raman pontuais em: (A) alta concentrações;

(B) baixas concentrações; e (C) mapeamento pontual.

3.3. Equipamento Raman acoplado a um microscópio confocal

Em 1981 [28], surgiram os equipamentos Raman acoplados a um

microscópio confocal chamada de microscopia Raman (ou micro-Raman). Essa

configuração permite o uso de diversas lentes de aumento: 5x, 10x, 20x, 50x,

100x; que possibilitam a aquisição de espectros Raman em amostras de escala

micrométrica, podendo chegar a resolução espacial mínima próxima do limite

de difração da luz, 1 µm2. Um esquema do equipamento Raman inVia da

Renishaw, que foi utilizado nesta Tese na quarta aplicação, está representado

na Figura 3.5.

Figura 3.5. Esquema de um microscópio Raman confocal baseado no equipamento Raman

inVia da Renishaw. (A) acoplamento espectrômetro microscópio; (B) Esquema óptico do

microscópio.

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Além de permitir alcançar alta resolução espacial, o micro-Raman permite a

eliminação de grande parte da radiação espalhada espúria, evitando que

grande parte dela chegue ao detector (Figura 3.5B).

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Capítulo 4: Métodos quimiométricos

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4. Métodos quimiométricos

4.1. Quimiometria

A Quimiometria tem como objetivo extrair o máximo de informação de

dados químicos altamente complexos pela otimização, calibração, classificação

ou resolução dos mesmos. A Quimiometria reúne conhecimentos altamente

interdisciplinares: matemática, estatística multivariada, ciência da computação

e química. O advento da quimiometria surgiu na primeira metade dos anos 70,

embora a sua evolução tenha ocorrido mais tarde de forma significativa, na

década de 80, junto com o surgimento dos microcomputadores [29].

Uma importante diferença do uso da quimiometria em relação aos métodos

convencionais univariados para tratamento de dados é a utilização de toda

informação contida neles, de forma multivariada. Como exemplo, os dados

multivariados podem ser agrupados em uma matriz X (Figura 4.1), na qual nas

linhas estão contidas as informações sobre as amostras ( I ), espectros SERS

em diferentes concentrações, e nas colunas sobre as variáveis ( J ),

intensidades SERS em cada deslocamento Raman. Também para o caso de

calibração, para cada espectro haverá um valor de resposta que estará contida

num vetor de concentrações y (Figura 4.1). Posteriormente, um modelo

matemático será desenvolvido que relacionará de maneira multivariada as

informações contidas em X e y .

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Figura 4.1. Representação da organização dos dados na forma de uma matriz de respostas ( X )

e um vetor de concentrações ( y ) para o desenvolvimento de um modelo matemático

multivariado num procedimento de calibração.

Uma importante vantagem de se utilizar os modelos multivariados em

relação aos convencionais está na possibilidade de lidar com interferentes sem

a necessidade da sua separação física. Do ponto de vista da química analítica,

as amostras reais, como sangue, urina, leite, dentre outras, são altamente

complexas devido à presença de compostos que são denominados

interferentes, os quais podem apresentar sobreposição da sua resposta

instrumental com a do analito. Para este caso, o maior número de informações

possível é importante para aumentar a “performance” e qualidade dos

resultados. Um esquema demonstrando a progressão dos dados univariados a

multivariados baseado no aumento da complexidade do sinal está

representado na Figura 4.2.

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Figura 4.2. Representação dos dados partindo do modelo univariado ao multivariado com suas

respectivas vantagens em relação a manipulação de interferentes baseado no ponto de vista

da química analítica.

Nos dados de ordem zero ou univariados apenas uma resposta é adquirida

por amostra (Figura 4.2, ver a primeira linha). Esse sinal corresponde, por

exemplo, a apenas um valor de intensidade SERS, por amostra em um pré-

determinado deslocamento Raman (por exemplo, 1730 cm-1), gerando um vetor

de respostas considerando as demais amostras. Para este caso, não é

desejável a presença de interferentes, e procedimentos de extração/isolamento

do analito da amostra são necessários para obter um resultado que seja

satisfatório. Por outro lado, no procedimento multivariado ou de primeira ordem

permite realizar a calibração na presença de interferentes que sejam fornecidos

durante a calibração e estejam presentes também nas amostras chamadas de

validação, as que irão certificar a robustez do modelo (Figura 4.2, ver a

segunda linha). Nos dados de primeira ordem, é utilizada uma faixa espectral

(por exemplo, 2000-400 cm-1) por amostra formando uma matriz de dados para

todas as amostras. Por último, a partir dos dados multi-modo, por exemplo,

dados de fluorescência de emissão/excitação, é permitido a calibração de

interferentes desconhecidos ou não calibrados pelo modelo (Figura 4.2, ver a

terceira linha), utilizando a chamada “vantagem de segunda ordem” [30]. Esta

vantagem pode ser alcançada na maioria por alguns modelos de segunda

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ordem, mas não apenas restrita a alguns deles, como será discutido mais

tarde.

4.2. Pré-processamento dos dados

Antes da construção dos modelos multivariados, uma etapa primordial para

obter um resultado com relativa qualidade é o pré-processamento dos

chamados dados brutos. Este procedimento está relacionado a um cálculo

matemático que irá remover e/ou reduzir as fontes de variações irrelevantes,

sejam elas aleatórias ou sistemáticas, que podem prejudicar o desenvolvimento

dos modelos multivariados [31]. Existem diversos procedimentos que podem

ser utilizados, no entanto, nesta tese serão comentados apenas os utilizados

nas aplicações com SERS: correção de linha base e normalização.

4.2.1. Correção da linha base

4.2.1.1. Mínimos quadrados assimétricos (AsLS)

As medidas espectrais são suscetíveis a irregularidades na linha base

devido à complexidade da amostra e espalhamentos indesejáveis, comum em

imagens hiperespectrais Raman [32] e SERS [3]. Entretanto, este problema

pode ser facilmente contornado pelo método mínimos quadrados assimétricos

(AsLS, do inglês asymmetric least squares) [33]. O método AsLS foi

primeiramente desenvolvido para alinhamento de picos cromatográficos, no

entanto, ele também tem demonstrado um bom potencial para a correção de

linha base de dados de imagens hiperespectrais Raman [32] e SERS [3]. O

algoritmo AsLS utiliza uma função warping (equação 4.1), ou seja, ele compara

e alinha duas ou mais séries temporais. Nesta Tese, os espectros SERS foram

registrados em cada ponto numa região mapeada, na qual é feita uma

minimização interativa da soma dos quadrados dos erros ponderados e

penalizados para encontrar o melhor polinômio para suavização dos espectros

em cada canal (Figura 4.3).

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( ) ( )∑∑==

∆+−=I

i

I

i

p1

22

1

2iiiAsLS ffxX λ (4.1)

na qual, ix é um espectro (vetor linha) e if o padrão de tendência de

suavização, na qual se os parâmetros p for próximo de zero e λ for um valor

grande, if irá tender a seguir os valores de ix , ou seja, da linha base. Dessa

forma, a qualidade da suavização é facilmente determinada apenas pelo ajuste

dos parâmetros da função warping, o parâmetro assimétrico, p , e o parâmetro

de suavização, λ (Figura 4.3). Um procedimento típico de correção de linha

base utilizando o algoritmo AsLS está demonstrado na Figura 4.3.

Figura 4.3. Correção da linha base pelo AsLS (A) antes e (B) depois da correção.

4.2.1.2. Normalização

A normalização baseia-se no procedimento de dividir cada espectro (um

vetor) por uma constante [31]. O procedimento de normalização dos espectros

SERS foi fundamental para as aplicações que foram realizadas nesta tese,

principalmente, como comentando anteriormente, devido aos diferentes

tamanhos e dimensões das nanopartículas, que ocasionam efeitos de

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flutuações de intensidade nos sinais. A seguir, estão representadas as

equações utilizadas para normalizar os espectros neste trabalho:

Espectro médio: ∑=

=I

iI 1

1imed xX (4.2)

Norma de Frobenius: ∑∑= =

=I

i

J

j1 1

2

ijfrob xX (4.3)

4.3. Calibração multivariada

A calibração multivariada visa encontrar uma relação matemática entre um

sinal instrumental e a concentração. A calibração multivariada pode ser dividida

em duas importantes etapas: calibração e validação. A calibração é a etapa na

qual as amostras com concentrações conhecidas são medidas por alguma

técnica, e.g. SERS, e, em seguida, um modelo de calibração multivariada é

desenvolvido. Na validação, amostras desconhecidas são utilizadas para

avaliar a robustez e realizar inferências sobre o modelo desenvolvido.

4.3.1. Quadrados mínimos parciais (PLS)

O método dos mínimos quadrados parciais (PLS, do inglês partial least

squares) [34] é comumente utilizado em quimiometria para o objetivo de

calibração multivariada. Uma das vantagens do PLS é a redução os dados

quando se tem um número elevado de variáveis. Em termos matriciais, de

acordo com o método PLS2 [35], ambas as matrizes X (variável

independente, resposta instrumental) e Y (variável dependente,

preditores/concentrações) são decompostas, como:

ETPX T += (4.4)

FUQY T += (4.5)

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no qual, Te U são os escores contendo a informação sobre a projeção dos

dados originais no novo espaço das componentes principais. Uma relação

linear é estabelecida entre eles para cada variável latente:

( ) ( )k

T

k

1

k

T

k tttub −= (4.6)

de modo que a máxima covariância entre todas as componentes (variáveis

latentes, k) é estabelecida:

( )[ ]2covmax

PLSkk u,t (4.7)

Normalmente, k é encontrado por validação cruzada [35], na qual vários

submodelos de calibração são desenvolvidos retirando uma amostra e

desenvolvendo um modelo local com as demais. O valor de concentração

dessa amostra retirada é prevista e a raiz quadrada do erro quadrático de

validação cruzada (RMSECV) é encontrada.

4.3.2. Métodos probabilísticos baseados em árvores de decisão

Aprendizado de máquinas é um sub-campo da inteligência

artificial dedicado ao desenvolvimento de algoritmos e técnicas que permitam

ao computador aprender, isto é, que permitam ao computador aperfeiçoar seu

desempenho em alguma tarefa. O objetivo do aprendizado é encontrar uma

função matemática através de um conjunto de dados finito e tentar encontrar os

parâmetros ótimos que o descrevem, durante a etapa chamada de treinamento

[36], equivalente à etapa de calibração. Após o treinamento, amostras de

classes e/ou concentrações desconhecidas podem ser previstas pelo modelo,

na etapa de previsão (ou validação). Existem diversos métodos de aprendizado

de máquinas, como redes neurais artificiais, máquinas de vetores de suporte,

redes bayesianas, dentre outros. No entanto, devido a algumas características

importantes, que serão comentadas a seguir, nesta Tese foi estudada pela

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primeira vez no nosso grupo de pesquisa a floresta randômica (do inglês,

random forest).

Os métodos de árvore de decisão (do inglês, decision tree) são uma classe

de algoritmos baseados em aprendizado de árvores, as quais são utilizadas

para tomar decisões em tarefas de classificação ou regressão. A árvore de

decisão é construída como um a flow-chart-like structure, estrutura na forma de

fluxograma. Ou seja, partições recursivas no espaço original dos dados são

realizadas, formando pequenos subespaços, de tal forma que a “pureza” das

saídas aumenta com o aumento do número de divisões (splits) [37]. O termo

“pureza” está relacionado a quanto uma saída é capaz de discriminar uma

classe de outra, em classificação, ou quanto o erro quadrático de previsão das

amostras do conjunto de treinamento (calibração) é mínimo, em regressão. Um

exemplo hipotético representando uma população de 100 pessoas que foram

utilizadas para desenvolver banco de dados sobre obesidade através do índice

de massa corpórea (IMC) está representado na Figura 4.4.

Figura 4.4. Representação hipotética de um fluxograma baseado em árvores. IMC – índice de

massa corpórea.

Na Figura 4.4, pode ser observado que, antes de realizar o primeiro split a

população pode ter 50% de chance de ser homem ou mulher e existe uma

mesma chance de ser abaixo, normal, acima ou obesa (12,5%). O início do

fluxograma é o local que contém sempre menor informação (maior impureza)

sobre a discriminação dos dados. Por outro lado, a pureza das saídas torna-se

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maior quanto mais próximo se aproxima o final do fluxograma, no qual o

resultado é discriminativo. É também observado na Figura 4.4., que em cada

split uma decisão é tomada baseada nas informações contidas no banco de

dados sobre o IMC desta população, até se chegar a uma conclusão final sobre

o peso (abaixo, normal, acima e obeso) da população, de homens e mulheres.

Essa é uma característica importante dos algoritmos de árvores de decisão,

que são um conjunto de regras de if-then-else [37], de programação, no qual

uma decisão é tomada localmente para se obter um resposta final mais

interpretável. Por fim, em árvores de decisão as probabilidades iniciais se

alteram a medida que mais informação é obtida pelo sistema, seguindo a

chamada regra de Bayes:

( ) ( ) ( )( )X

YY|XX|Y

P

PPP = (4.8)

no qual, X e Y são os valores de entrada e saída respectivamente. ( )X|YP

e ( )Y|XP são as probabilidades condicionais para que um evento verdadeiro

ocorra. Os valores de ( )X|YP calculados para cada possibilidade estão em

negrito na Figura 4.4 no final de cada evento.

4.3.2.1. Classificação e regressão de árvores (CART)

Um dos algoritmos de árvore de decisão mais populares é o método

desenvolvido por Breiman, chamado de classificação e regressão de árvores

(CART, do inglês classification and regression trees) [38]. No CART, uma única

árvore é “crescida” de forma que os splits (subespaços) são criados

recursivamente até que a impureza nas saídas seja reduzida ou quando algum

critério de parada é alcançado. Como vantagem tem-se saídas mais puras; em

contrapartida, encontrar o número adequado de splits é um desafio. Como

consequência disso, os modelos de classificação ou regressão desenvolvidos

por CART podem apresentar baixa capacidade preditiva e/ou sobre-ajustarem.

Uma forma de contornar este problema é utilizando os procedimentos de poda

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dos ramos; embora este procedimento não seja trivial. Na Figura 4.5 está

representado um esquema hipotético de separação de classes (classificação)

de bolinhas azuis, verdes, amarelas e vermelhas, utilizando o algoritmo CART.

Nesse caso, no treinamento, as classes são conhecidas e na classificação

deseja-se encontrar a classe de uma amostra desconhecida.

Figura 4.5. Esquema hipotético exemplificando um procedimento de classificação utilizando

árvores de decisão pelo método classificação e regressão de árvores (CART). (A) etapa de

treinamento e (B) etapa de classificação.

Como em todo método de árvores de decisão, a etapa de treinamento é

importante para se conhecer (aprender) os parâmetros ótimos que resultaram

no número e valor ideal dos splits, com os quais melhor se ajusta aos dados de

treinamento (Figura 4.5A). Como pode ser observado na Figura 4.5A,

inicialmente não existe informação sobre a discriminação entre as classes. O

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próximo passo é dividir o conjunto de treinamento por uma linha imaginária na

vertical (H1) ou na horizontal (H2), chamada split point. Na primeira divisão (H1),

tem-se a separação entre as classes azuis, verdes e metade das amarelas

(esquerda, X1 ≤ H1) e metade das amarelas e vermelhas (direita, X1 > H1). Na

segunda divisão (H2), tem-se uma mistura entre as três classes de ambos os

lados. Portanto, no primeiro caso ganha-se mais informação ou diminui-se a

entropia do sistema ao realizar-se o split em H1. Dessa forma, o split point H1

será escolhido inicialmente, seguido pelo split point H2. Após realizar-se o

treinamento, o modelo está pronto para realizar classificação dos dados. A

bolinha em cinza representa uma amostra desconhecida, a qual se pretende

classificar utilizando o conjunto de dados previamente treinados (Figura 4.5B).

No início, a probabilidade dela pertencer a qualquer uma das classes é

igualmente 25%. No entanto, esta probabilidade aumenta para

aproximadamente 67%, após realizado o primeiro split, pois o valor de X1 > H1.

Finalmente, esta amostra é classificada como da classe vermelha com 80% de

certeza, de acordo o último nodo folha (X2 ≤ H2). Para mais informações sobre

a função objetiva de treinamento, ganho de informação e entropia, ver a

referência [39].

4.3.2.2. Floresta randômica (RF)

O método floresta randômica (RF) [40] é a união dos métodos classificação

e regressão de árvores (CART) [38] e bootstrapping aggregation (bagging) [41],

todos criados por Breiman, para resolver problemas de classificação e

regressão através da metodologia ensemble, ou seja, um conjunto de árvores.

Nesse algoritmo, durante a etapa de treinamento, um subconjunto dos

dados originais é selecionado de forma aleatória, normalmente tomando-se de

2/3 (66,67%) das amostras e 1/3 (33,33%) das variáveis. Essa etapa é

denominada “dentro do pacote” (in-bag), na qual as classes conhecidas serão

apresentadas aos seus respectivos espectros (por amostra). Assim, uma etapa

de classificação local pode ser realizada com as amostras “fora do pacote”,

chamadas de etapa/estimativa out-of-bag (OOB) [40-42]. Um procedimento de

reamostragem é realizado com reposição (ou seja, com todas as amostras) e

novas amostras e variáveis são escolhidas para o crescimento de outra árvore,

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53

que irá compor a floresta ( Ttávores

,...,3,2,1= ). O número total de árvores é

escolhido baseado nos resultados da validação. Como cada árvore é um

preditor, chamado na linguagem ensemble de weak learners, o resultado de

saída, durante a etapa de validação (Figura 4.6), será a classe de maior

probabilidade, segundo o teorema de Bayes:

( ) ( )XYXY |PT

|PT

tt

árvores

árvores∑=

=1

1 (4.9)

na qual ( )X|Yp é a densidade estimada dos valores preditos por cada árvore

contida na floresta ( Ttávores

,...,3,2,1= ). Como conclusão, os modelos

desenvolvidos com a RF apresentam baixa variância, produzindo modelos mais

robustos e preditivos. Outra característica importante, deve-se ao fato do

procedimento utilizar apenas uma parte das variáveis para crescer uma árvore.

Este procedimento seria equivalente a montar vários modelos locais,

suficientes para eliminar quase toda falta de linearidade, como se o espaço

fosse dividido em pequenos pedaços [39]. Um esquema do procedimento da

floresta randômica é apresentado na Figura 4.6.

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54

Figura 4.6. Esquema mostrando o procedimento de reamostragem bagging (bootstrap

aggregation) utilizado em floresta randômica.

De forma similar à classificação, na regressão os dados também são

subdivididos em partes, excetuado que agora as saídas são diferentes, ou seja,

os dados assumem valores contínuos (Figura 4.7). Suponha-se que os dados

tenham o comportamento observado na Figura 4.7A, um modelo linear pode

ser ajustado aos dados, no entanto, como pode ser observado, o mesmo não é

adequado para descrever o comportamento dos dados. Por outro lado, um

modelo não linear seria mais adequado para este caso (Figura 4.7B). Outra

forma de descrever o comportamento dos dados seria utilizando o algoritmo RF

(Figura 4.7C). Nele, os dados são separados em dois submodelos de

calibração de forma similar ao procedimento de classificação, na qual duas

retas lineares, chamadas de retas de probabilidade linear, são ajustadas aos

dados. Estas retas equivalem a uma regressão local para cada conjunto de

dados divididos. Na regressão, ao contrário da classificação, o split point (H) é

encontrado a partir do cálculo dos quadrados mínimos do erro dos dados de

treinamento (ver com mais detalhes em [39]). Esse ponto é exatamente onde

existe um desvio de linearidade dos dados (Figura 4.7C). Dessa forma, cada

nodo filho da árvore será um regressor, o qual será responsável por descrever

parte dos dados. Após o treinamento, uma amostra de concentração

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55

desconhecida (bolinha cinza na Figura 4.7C) pode ser prevista por algum dos

submodelos de calibração, de acordo com sua similaridade ao mesmo. Neste

caso, será determinada pelo submodelo da esquerda. Outra informação que

pode ser observada na Figura 4.7C são os limites representados pela linha

tracejada de cor vermelha. Como o centro dos dados é o valor médio das

respostas, então, a sua dispersão é dada pelos desvios padrões. Essa

densidade é similar aos métodos de aprendizado baseados em algoritmos

Kernel, como as máquinas de vetores de suporte. No entanto, como descrito na

referência [43], o método RF não é designado para encontrar essas

densidades, mas sim para a localização apenas dos seus limites. Na Figura

4.7D pode ser observada a comparação do ajuste de um conjunto de dados

altamente complexo por um modelo não linear convencional e pela floresta

randômica (RF).

Figura 4.7. Esquema hipotético exemplificando um procedimento de regressão utilizando

árvores de decisão pelo método classificação e regressão de árvores (CART).

4.3.2.2.1. Cálculos internos da floresta randômica

Uma característica marcante do método floresta randômica é a

possibilidade de realizar alguns cálculos internos que podem ser utilizados para

avaliação da “performance” do modelo desenvolvido. Uma delas é calcular

quais variáveis foram mais importantes durante o treinamento, chamada de

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56

importância das variáveis (ImpVar) [40]. Essa estimativa é muito relevante, uma

vez que nem sempre nos métodos de aprendizado de máquina é possível

saber se o procedimento de calibração está relacionado ao analito de interesse

ou a qualquer outro composto interferente presente na amostra. O cálculo

ImpVar consiste em permutar os valores das variáveis OOB e calcular o erro

entre o valor original para cada árvore. Caso esta diferença seja significativa, a

variável terá um peso maior e, portanto, terá alta importância no

desenvolvimento do modelo. Esta informação pode ser utilizada para

comparação com o espectro puro do analito ou na tentativa de identificar

bandas características do mesmo no espectro original. Outra estimativa

importante que pode ser obtida com o método RF, característica dos métodos

ensemble, é o intervalo de confiança [44]. Brevemente, como cada árvore

fornece um resultado para os dados de validação, a média e o desvio padrão

podem ser calculados e, assim, estimados os intervalos de confiança.

4.4. Métodos baseados na resolução multivariada de curvas

Os métodos de resolução multivariada de curvas são métodos de

decomposição bilinear de uma matriz genérica ( mxnG ) em escores ( mxrT ), que

contêm informação sobre as amostras, e pesos ( TrxnP ), que contém informações

sobre as variáveis, e uma matriz de erros ( mxnE ):

mxnTrxnmxrmxn EPTG += (4.10)

na qual, m e n são o número de amostras e variáveis, respectivamente, e r é o

posto de mxrT e TrxnP , que podem ser determinados pelos métodos SVD ou PCA

[45, 46], através da matriz original, mxnG . O algoritmo pode ser inicializado

através de uma estimativa inicial de mxrT ou TrxnP (as concentrações ou os

espectros do analito e dos interferentes), quando conhecidos. Quando não se

tem esta informação, uma simples inicialização randômica pode ser utilizada ou

calculada através de outros métodos mais robustos, como o PURE [46],

SIMPLISMA [47], EFA [48], needle-search [49], dentre outros. No MCR com o

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57

algoritmo dos mínimos quadrados alternados (MCR-ALS), cada interação é

resolvida para obter alternadamente mxrT e TrxnP :

( ) ( )+−== T

PCA

1TPCA PGPPPGT ˆˆˆˆˆ (4.11)

e

( ) ( ) PCAPCA

1TT GTGTTTP+−

== ˆˆˆˆˆˆ (4.12)

de modo que o erro seja minimizado:

PCA

TPCA PTGmin ˆˆ− (4.13)

na qual PCAG é a matriz original mxnG , calculada por PCA. Um problema

comum na solução do MCR-ALS é a ambiguidade rotacional (soluções

diferentes para mxrT e TrxnP ). Para contornar este problema, o uso de restrições

é mais adequado, tais como não negatividade [45, 46], balanço de massas [45,

46] ou outros [50]. A restrição de não negatividade pode ser realizada por

diversos e diferentes métodos. Desde a forma mais simples, apenas truncando

os valores negativos para zero, ou por outros métodos mais robustos, como

quadrados mínimos não negativos (NNLS, Non-Negative Least Square) [51],

NNLS rápido (FNNLS, Fast NNLS) [52] ou mesmo o método rápido combinável

(Fast Combinatorial NNLS, FCNNLS) [53].

4.4.1. Fatoração não negativa de matriz (NMF-ALS)

No método fatoração não negativa de matriz (NMF, non-negative matrix

factorization), toda a decomposição em escores e pesos descrita anteriormente

é realizada de forma que estes sempre serão positivos. A primeira função de

atualização proposta para o NMF foi a regra de atualização multiplicativa

euclidiana. No entanto, o algoritmo ALS também pode ser utilizado [54-56]:

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58

( )+= TPGT , no qual 0ˆ ≥T (4.14)

e

GTP +=ˆ , no qual 0ˆ ≥P (4.15)

Outra importante diferença no NMF-ALS é que durante o processo de

otimização ou minimização do erro, a função de custo utilizada é a norma de

Frobenius calculada a partir da própria matriz original dos dados (G):

2ˆˆminF

TPTG − (4.16)

Quando um critério de convergência é satisfeito, o algoritmo é parado. Esse

critério pode ser um número máximo de iterações ou um erro mínimo pré-

estabelecido.

4.4.2. MCR com mínimos quadrados alternados ponderados (MCR-WALS)

Os métodos MCR-ALS e NMF-ALS são adequados para resolução de

problemas quando os erros apresentam variância uniforme (i.d.d. normal), ou

seja, seguem uma distribuição normal (homocedástico). Por outro lado, o MCR

com o algoritmo de mínimos quadrados alternados ponderados (WALS, do

inglês weighted alternating least squares) [24] mostrou-se mais robusto na

presença de desvios de normalidade, situação na qual propagação do erro não

segue uma variância uniforme, os dados são heterocedásticos, e/ou existem

erros correlacionados entre os canais (bandas do espectro).

Uma das etapas mais importantes do algoritmo MCR-WALS é estimar os

dados originais ( mxnG ) nos subespaços mxrT e TrxnP para encontrar G , através

do método da máxima verossimilhança:

( ) PPΣPPΣGG1T1

mT1

mmmˆˆˆˆˆ −−−

•• = (4.17)

e

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( ) n1

nT11

nT

n GΨTTΨTTG •−−−

• = ˆˆˆˆˆ (4.18)

em que, •mG e nG• indicam a m-ésima (linha) e a n-ésima (coluna),

respectivamente, e 1mΣ− e 1

nΨ− são as matrizes de variância-covariância do erro

para a m-ésima linha e a n-ésima coluna de mxnG , respectivamente, o que irá

conferir ao WALS a melhor projeção dos dados e, consequentemente, a melhor

solução. De acordo com as equações 4.17 e 4.18, mxnG será decomposta de

forma ponderada, de modo que para medidas com grandes incertezas são

atribuídos menores pesos. Depois de feito isso, o algoritmo segue as etapas

utilizando as equações 4.11 a 4.13 até que algum critério de parada seja

satisfeito. Para calcular 1mΣ− e 1

nΨ− , também chamadas de matriz covariância do

erro (ECv), é necessário conhecer a medida do erro,

ogge −= (4.19)

em que, og é a medida verdadeira, ou seja, o valor médio encontrado através

de replicatas experimentais reais, e g o valor da medida. No caso desta tese,

a matriz ECv foi calculada para dados de imagens, na qual as amostras são os

pixels, que são independentes entre si. Portanto, 1mΣ− e 1

nΨ− podem ser

definidos apenas como:

( )

==

221

22212

11221

nnn

n

n

σσσ

σσσσσσ

ΛΜΟΜΜ

ΛΚ

Tnxn eeEΣ (4.20)

na qual, nxnΣ é a matriz aproximada ECv e os elementos da diagonal (linha

tracejada) desta matriz descrevem a variância do erro associada com cada

canal, enquanto os elementos fora da diagonal são o erros de covariância entre

eles. O primeiro indicará a uniformidade (homocedasticidade) ou não

uniformidade (heterocedasticidade) das medidas nos deslocamentos Raman, e

o segundo a independência (não correlacionado) ou dependência

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60

(correlacionado) entre os mesmos. Uma forma alternativa de complementar a

análise da estrutura do erro é avaliar em termos de matriz de erro de

correlação (ECr, jkρ ), a partir da normalização de ECv pela raiz quadrada da

diagonal (equação 4.20, linha tracejada), que nada mais é que o desvio padrão:

( )∑∑=

diagjkρ (4.21)

4.5. Avaliação dos modelos quimiométricos

Uma importante etapa após a construção dos modelos quimiométricos de

resolução de curvas multivarida é o procedimento de avaliação da performance

dos modelos, como será colocado na próxima seção.

4.5.1. Avaliação dos modelos MCR

Para avaliar os resultados finais dos modelos de resolução de curvas, são

calculadas a falta de ajuste ( LOF, Lack of fit) e a variância explicada ( 2R ):

( )100

ˆ

1 1

2

1 1

2

×−

=∑∑

∑∑

= =

= =I

i

J

jij

I

i

J

jijij

X

XX

LOF (4.22)

e

( )100

ˆ

1

1 1

2

1 1

2

2 ×

−−=

∑∑

∑∑

= =

= =I

i

J

jij

I

i

J

jijij

X

XX

R (4.23)

em que, ijX é a matriz original e ijX é a matriz estimada pelo modelo.

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Capítulo 5: Síntese, imobilização e

caracterização das AuNPs

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62

5. Síntese, imobilização e caracterização das AuNPs

5.1. Solução coloidal

As nanopartículas de ouro (AuNPs) foram sintetizadas pelo método de Lee

e Meisel [57]. Brevemente, uma alíquota de 36 mL de HAuCl4 foi adicionada

em aproximadamente 95 mL de água Milli-Q e levada para o aquecimento com

agitação constante. Chegando ao ponto de ebulição, uma solução de citrato de

sódio anidro (1%, m/v) foi adicionada e o aquecimento interrompido logo que a

solução se tornou vermelha. Após alguns minutos, a agitação também foi

interrompida e o volume completado para 100 mL. Na aplicação 2, antes da

realização das medidas foi adicionado NaCl 1 mol L-1 (1:1, colóide:sal).

Nas aplicações 1 e 3, foi realizado um procedimento de concentração do

colóide: uma alíquota de 5 mL foi levada a centrífuga a 3000 r.p.m. por 30 min,

90% do sobrenadante foi descartado e o restante foi ressuspendido na própria

solução. As Figuras 5.1A e B apresentam as imagens das nanopartículas

sintetizadas e após o procedimento de concentração.

As nanopartículas antes do procedimento de concentração foram

caracterizadas pela obtenção dos espectros de extinção na região do

Uv/visível, nos quais foi verificado um máximo em torno de 532 nm, e por

microscopia eletrônica de transmissão (TEM), com o qual foi verificado que o

tamanho médio das nanopartículas eram de aproximadamente 62 nm.

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Figura 5.1. Solução coloidal de nanopartículas de ouro (AuNPs) sintetizadas pelo método

clássico de Lee-Meisel [57]. (A) solução coloidal; (B) AuNPs após o procedimento de

concentração; (C) Espectro de extinção das AuNPs antes do procedimento de concentração;

(D) imagens de TEM das AuNPs antes do procedimento de concentração (tamanho médio

aproximado de 62 nm).

5.2. Imobilização das AuNPs

As nanopartículas de ouro foram imobilizadas em slides de vidro (18 x 18 x

1,5 mm, Fisher Scientific®) utilizando um procedimento de silanização com

uma solução de APTMS (3-Aminopropyl)trimethoxysilane) em tolueno (30%),

por 24 h. Em seguida, o substrato foi lavado por 5 dias com etanol e, no quinto

dia, foi seco em forno a 110 oC por 3 h, para permitir o efeito de cross-linked

entre os grupos amino. Mais informações sobre este procedimento podem ser

consultadas em [58]. Para a imobilização das AuNPs, foi utilizada a solução

coloidal descrita anteriormente, diluída a 50% com água deionizada, e o

substrato foi imerso nesta solução por 2 h. Após, o material foi lavado e seco

com N2 e caracterizado por microscopia de força atômica (AFM) em 2 e 3

dimensões, sendo verificada a homogeneidade do recobrimento por

nanopartículas esféricas com tamanho em torno de 50 nm. O material obtido

pode ser visto na Figura 5.2, e mais detalhes serão apresentados na aplicação

4 (Capítulo 9).

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Figura 5.2. (A) Substrato de vidro funcionalizada com APTMS e recoberto com AuNPs; (B)

suporte em alumínio utilizado para as medidas. Imagens de AFM (C) em 2 dimensões e (D) 3

dimensões.

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Capítulo 6: Aplicação 1:

SERS e métodos de calibração multivariada usando Floresta Randômica para a quantificação de

hormônios em soro de cães

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6. Aplicação 1: SERS e métodos de calibração multiv ariada usando

Floresta Randômica para a quantificação de hormônio s em soro de

cães

6.1. Introdução

Os hormônios 17β-estradiol (E2) e noradrenalina (NE) estão presentes

naturalmente em animais e nos seres humanos na ordem de picomolar (pM).

Mesmo em baixíssimas concentrações, os seus efeitos benéficos são bem

conhecidos, principalmente sobre a saúde cardiovascular, devido à sua ação

vasoprotetora e anti-inflamatória [59, 60]. A suplementação com medicamentos

contendo esses hormônios pode prevenir, por exemplo, a ocorrência de

ataques cardíacos em animais e seres humanos [61]. Entretanto, a quantidade

(concentração) necessária para que se alcance esses benefícios ainda não é

conhecida, tornando-se de suma importância a determinação dessas

substâncias, assim como o efeito delas no organismo.

O método mais utilizado para a quantificação hormonal é o ELISA [62],

sendo sua principal vantagem os baixos limites de detecção e quantificação.

Embora o ELISA seja uma técnica bem sensível, a sua principal desvantagem,

do ponto de vista metodológico, é o tempo de análise. Dependendo da

metodologia, diversas etapas de extração e de incubação podem ser

necessárias, as quais demandam muitas horas e os resultados só são obtidos

após alguns dias.

Atualmente, diversos métodos alternativos têm sido desenvolvidos para

a determinação desses hormônios, baseados em técnicas como cromatografia

líquida acoplada à espectrometria de massas [63, 64], marcador proteico

(exato) com diluição isotópica e espectrometria de massas [65],

quimiluminescência [66], fluorescência de imunoensaio [67] e microextração

em fase líquida com eletroforese e detector de ultravioleta [68]. No entanto,

nota-se ainda uma clara dependência do uso de marcadores moleculares ou de

ensaios imunoenzimáticos, restringindo o método a um determinado composto

ou uma classe de compostos, além de não apresentarem muita praticidade.

Dessa forma, o objetivo desta aplicação foi desenvolver um método para

quantificação de dois hormônios: E2 e NE em soro de cães após a

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67

suplementação de medicamentos contra hipertensão. Foram empregadas as

estratégias SERS e de calibração multivariada, com as quais foi desenvolvida

uma metodologia simples, rápida e relativamente de baixo custo, objetivando

uma futura utilização em rotina laboratorial. Como novidade, estudamos pela

primeira vez no nosso grupo o método ensemble: RF [40]; com o qual bons

resultados foram alcançados, comparáveis ao método de referência ELISA.

Alguns testes estatísticos foram realizados para a avaliação da “performance”

dos modelos de calibração desenvolvidos, tais como testes de exatidão e

tendência nos resíduos. Finalmente, baseado na proposta fornecida por

cálculos internos da RF (como outros métodos ensemble), foram calculados os

intervalos de confiança e avaliada a importância das variáveis para a

construção dos modelos de calibração multivariada.

6.2. Procedimento experimental

6.2.1. Coleta das amostras de soro

Oito fêmeas de diferentes idades e pesos do Centro de Cardiologia de

Ensino de Veterinária da Universidade Federal de Lavras (UFLA, MG, Brasil)

foram utilizadas nesse trabalho, sendo que todo o procedimento realizado foi

aprovado pelo comitê de bioética (NINTEC/PRP), protocolo nº 067/11

(24/11/2011). Todos os animais foram examinados previamente antes da sua

inclusão no estudo e somente os saudáveis foram escolhidos. As coletas das

amostras de sangue foram realizadas antes e depois de 2 horas, 5 horas e 10

dias após a suplementação oral dos medicamentos contendo angiotensina-(1–

7) e estriol. Após a coleta, os soros foram armazenados em freezer a -20º C até

as medições serem realizadas. Antes de cada medição, as amostras foram

diluídas com água ultrapura na razão de 1:2 (soro:água).

6.2.2. Síntese e concentração das nanopartículas

Ver capítulo 5, item 5.1.

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6.2.3. Instrumentação

Para a análise pelo método ELISA, um leitor de placas automático foi

utilizado da marca Termoplate, TP Reader Basic Model, com leitura em seis

comprimentos de onda entre 405-650 nm, além de e um agitador.

Para as medidas SERS, o equipamento utilizado foi um espectrômetro

Raman dispersivo, PerkinElmer RamanStation 400F, equipado com câmera de

imagem de objetiva 10x (10-µm2 spot), um leitor automático de placas e um

laser com potência nominal de 250 mW no infravermelho próximo, em 785 nm,

e um detector CCD de alta sensibilidade, resfriado a -50oC.

6.2.4. Método de referência ELISA

As concentrações nominais dos hormônios foram determinadas pelo

método de referência ELISA, utilizando kits comerciais, Estradiol EIA kit,

adquirido junto a Cayman Chemical Company (item nº 582251), e

Noradrenaline EIA kit, adquirido junto a Uscn Life Science (cE90907Ge). Nos

respectivos manuais podem ser encontradas mais informações sobre os

procedimentos de análise realizados [69, 70].

6.2.5. Tratamento dos dados

O algoritmo AsLS [33] foi utilizado para a correção de linha base e os

espectros anômalos (outliers) foram removidos após uma análise por PCA. Por

fim, os espectros foram normalizados entre 0 e 1, para correção das variações

de intensidades entre os espectros, como será discutido mais adiante.

Os modelos de calibração multivariada foram desenvolvidos com 81

espectros (matriz aumentada), sendo 57 amostras selecionadas para o

conjunto de calibração e 24 para o de validação, escolhidas utilizando uma

análise de componentes principais. Os números ideais de árvores foram

determinados pelos valores mínimos de RMSEOOB. Todos os cálculos foram

realizados com o algoritmo Breiman & Cutler's versão 4.6-10 for R [71].

A qualidade dos modelos RF foi avaliada pela raiz quadrada do erro

(RMSE) e pela análise da possível presença de erros sistemáticos nos

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modelos, ambos de acordo com a ASTM E1655 [72]. Por fim, uma avaliação

dos resíduos do modelo foi realizada utilizando um teste de permutação [73,

74].

6.3. Resultados e discussão

6.3.1. Metodologia desenvolvida

Antes de iniciar as medidas SERS, as condições de análise foram

previamente avaliadas e otimizadas. Visando uma metodologia que pudesse

ser viável numa rotina laboratorial, as amostras foram dispostas em placas tipo

método ELISA, nas quais é permitido analisar até 96 amostras. Um esquema

resumido do procedimento realizado pode ser visto na Figura 6.1. Após a

síntese e a concentração das AuNPs, descritas no capítulo 5, as amostras de

soro foram analisadas em triplicata, tomando-se o volume de 15 µL, seguidas

da adição de 75 µL da solução ouro coloidal. Antes das leituras as placas foram

agitadas por 30 s, para homogeneização e levadas para obtenção dos

espectros SERS. As melhores condições de operação foram encontradas

quando a potência máxima permitida do laser foi de 100% (250 mW na fonte),

com 4 s de exposição e 12 acumulações. A faixa de trabalho medida

compreende a região de 3280–200 cm-1, com resolução espectral de 4 cm-1,

resultando em 770 pontos no espectro. No entanto, apenas a região entre

1660-348 cm-1 (329 pontos) foi selecionada, por conter maior informação

química relacionada com a estrutura das moléculas em estudo. Ao todo, 27

amostras (81 espectros em triplicata) foram analisadas e todo o procedimento

de análise durou cerca de 2 h.

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70

Figura 6.1. Esquema resumido das etapas da metodologia de análise desenvolvida para a

quantificação dos hormônios nos soros de cães.

6.3.2. Caracterização das nanopartículas e espectros SERS dos hormônios

nas amostras de soro

Como foi abordado anteriormente no capítulo 5, uma das características

das nanopartículas de ouro é que seu espectro de extinção fornece uma boa

noção sobre o tamanho [9], o qual está diretamente relacionado com o efeito

de LSPR [17] e, consequentemente, com a intensificação do espectro SERS

(Figura 6.2). Como vimos no capítulo 5, o método de Lee e Meisel [57] permitiu

obter um tamanho médio das partículas de aproximadamente 62 nm,

resultando num máximo de extinção em torno de 532 nm. Por outro lado, nesta

aplicação o plasmon foi localizado por volta de 569 nm (Figura 6.2, Espectro

em azul), o que resultaria num tamanho próximo do anterior. Sendo assim,

como o equipamento Raman utilizado é equipado com um laser de excitação

de 785 nm, este comprimento de onda estaria longe da região ressonante, na

qual ocorre a maior intensificação do campo local e, consequentemente, maior

intensificação do espectro SERS. Como o LSPR é dependente também do

estado de agregação das nanopartículas, torna-se importante um procedimento

de concentração das nanopartículas com intuito de deslocar o plasmon para

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mais próximo da linha do laser. Dessa forma, foi realizado o procedimento de

concentração por centrifugação (Figura 6.2, Espectro em verde) e também pela

adição de NaCl 1 mol L-1 (Figura 6.2, Espectro em vermelho). Pode-se

observar que este último apresenta um máximo na região da linha do laser

(Figura 6.2, linha vertical em verde). Além disso, a estratégia de agregação das

nanopartículas é de suma importância, uma vez que dímeros, trímeros e

demais estruturas de agregação podem favorecer a formação dos “hotspots”.

Figura 6.2. Espectros de extinção da solução coloidal de ouro. A linha na vertical em verde

indica a linha do laser utilizado (785 nm).

Em trabalhos encontrados na literatura [9, 10], têm sido reportados

problemas com a irregularidade e estabilidade dos coloides, ocasionados pela

mudança das condições do ambiente. A irregularidade está associada a

variações no tamanho das partículas, diretamente relacionada com variações

de intensidade dos espectros [9, 10]. Já mudanças na força iônica, pH e outros

efeitos estão relacionados com problemas de agregação não controlada do

colóide e possível depreciação no sinal obtido [9, 10]. No entanto, o

procedimento de agregação do coloide, não causou nenhum desses efeitos

citados anteriormente. Como outra vantagem do procedimento adotado, o

coeficiente de variação calculado entre os espectros foi de aproximadamente

9%, o que é muito baixo quando comparado a alguns trabalhos reportados na

literatura [9, 10].

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Na Figura 6.3, estão apresentados todos os espectros SERS obtidos,

antes e após a correção da linha de base os ALS e normalização.

Figura 6.3. Pré-processamento do espectros descrito em etapas. AsLS: do inglês asymmetric

least squares.

Como pode ser observado, os espectros SERS do soro dos animais

apresentam altas flutuações na linha base (Figura 6.3A) e variações das

intensidades SERS (Figura 6.3B). Dessa forma, o algoritmo AsLS foi aplicado

primeiramente e seguido do procedimento de normalização, corrigindo os

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efeitos citados anteriormente. Os parâmetros utilizados foram p = 0,001 e λ =

104 (equação 4.1, capítulo 4).

6.3.3. Desenvolvimento e validação dos modelos de calibração

Uma vez que os dados foram pré-processados, eles foram separados

em conjuntos de calibração e validação (Figura 6.3C), e os modelos RF foram

desenvolvidos e otimizados usando as amostras OOB (Tabela 6.1). Os

números de árvores foram 24 para o E2 e 8 para a NE. Os valores de

RMSEOOB e RMSEP são similares, um indicativo de que os modelos não

estão sobreajustados. Também os modelos não apresentaram erro sistemático,

utilizando o teste de bias, no qual ambos os hormônios apresentaram valores

de t calculados (0,50 para o E2 e 0,91 para a NE) abaixo do valor tabelado, que

é 2,069, para um limite de confiança de 95% e graus de liberdade iguais a 24-

1. Também pode ser observado que os valores dos erros dados pelo RMSEP

são diferentes para os dois hormônios, 20 pg mL-1 para E2 e 4 pg mL-1 para a

NE, assim como para os valores de erros relativos (Figura 6.4). Essa

discrepância, muito provavelmente, é devido a diferenças entre as faixas de

concentração dos hormônios, que são de 210 – 295 pg mL-1 para E2 e 85 –

103 pg mL-1 para a NE.

Tabela 6.1. “Performance” dos modelos RF para a quantificação dos hormônios em soro de

cães.

Parâmetros b E2a NEa

RMSEOOB (pgmL-1) 24 4

RMSEP (pgmL-1) 20 4

tbias 0,50 0,91

aEstradiol (E2) – 24 árvores; Noradrenalina (NE) – 8 árvores. bRaiz quadrada media do erro de out-of-bag (RMSEOOB) e previsão (RMSEP) ambos em pg

mL-1. Nível de confiança de 95%, a ttab = 2,069 (graus de liberdade de 24-1 para a previsão).

Na Figura 6.4 podemos observar que os erros relativos foram de, no

máximo, 15% para o E2 e 7% para a NE. De acordo com os manuais dos

métodos de referência ELISA [69, 70], os valores de erros relativos para a NE

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são da ordem de 10% e para o E2 na faixa de 7,1 a 12,3%. Isso confirma

também que os valores alcançados neste estudo são comparáveis ao método

de referência.

Figura 6.4. Resultados para o erro relativo percentual calculado para a calibração/validação

para (A) estradiol e (B) noradrenalina.

Outro método utilizado neste trabalho foi a avalição da presença de

tendência nos resíduos (Figura 6.5), utilizando um teste de permutação [73,

74]. Sabe-se que um modelo bem ajustado não deve conter tendências nos

resíduos dos modelos. Para os resultados dos dois hormônios foram ajustados

polinômios de segundo grau (y=b0 + b1x + b2x2), para 50.000 permutações,

para a relação entre resíduo e valor estimado. A aleatoriedade nos resíduos foi

constatada, ou seja, não existe tendência nos resíduos, sendo ambos

confirmados pelo teste de permutação, que forneceu valores de pvalor maiores

que 0,05 (95% de confiança): 0,383 para E2 (Figura 6.5A e C) e 0,366 para a

NE (Figura 6.5B e D).

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Figura 6.5. Resíduos dos modelos de calibração para (A) estradiol e (B) noradrenalina. Teste

de permutação aplicado para (C) estradiol e (D) noradrenalina. Linha em verde na vertical é o

valor de b2 calculado antes da permutação. Número de permutações igual 50.000 e os

polinômios ajustados foram o de 2º grau.

Uma característica dos modelos baseados nos métodos ensemble é a

possibilidade dos cálculos de intervalos de confiança [44]. Os intervalos de

confiança estimados estiveram na faixa de 1 a 2 pg mL-1 para o modelo

desenvolvido para a E2, e de 6 a 10 pg mL-1 para o NE, os quais são

resultados aceitáveis para as faixas de concentração estudadas.

6.3.4. Importância das variáveis para a floresta randômica

A principal dúvida sobre os métodos de aprendizado de máquinas, como

redes neurais artificiais ou máquinas de vetores de suporte, dentre outros, é a

falta de informação sobre os cálculos internos realizados durante a etapa de

aprendizagem/calibração, funcionando como uma “caixa preta”. Nesse caso, a

RF permite obter resultados mais interpretáveis (com sentido físico). Esta

avaliação está relacionada ao cálculo interno da importância das variáveis

(ImpVar) [40]. Este resultado permite relacionar os parâmetros do modelo com

a estrutura química das moléculas do analito de interesse, para o qual se quer

desenvolver um modelo de calibração/previsão, tornando o método conhecido

como uma “caixa cinza”.

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Os resultados calculados de ImpVar para os hormônios estão presentes

na Figura 6.6, em que eles foram contrapostos ou comparados com os

respectivos espectros puros dos analitos em estudo. As suas respectivas

estruturas químicas podem ser vistas no canto superior à esquerda de cada

gráfico (Figuras 6.6A e B). Observam-se valores pronunciados de ImpVar nas

regiões de 992 cm-1 para E2 e 984 cm-1 para NE, os quais estão relacionado

com as vibrações do anel ν(C–C–C) [75]. Assim como, para a banda em 624

cm-1 [76], presentes em ambas as moléculas e atribuída ao grupo δ(C–O).

Além disso, a respiração do anel aromático por volta de 1028 cm-1 foi apenas

selecionada para o E2 [75]. Em contraste, a banda 1172 cm-1 foi mais

importante para a NE, devido a esta região estar relacionada à vibração ν(C–

N), não presente na molécula de E2 [76]. As demais regiões selecionadas e

atribuídas podem ser vistas na Figura 6.6 [75, 76].

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Figura 6.6. Estimativa das importâncias das variáveis para o modelo RF (A) 17β-estradiol (E2)

e (B) noradrenalina (NE).

6.4. Conclusões

Um novo método foi desenvolvido para a determinação de 17β-estradiol

(E2) e noradrenalina (NE) em soros de cães empregando espectroscopia

Raman intensificada pela superfície, com auxílio do método de calibração

multivariada por floresta randômica (RF). Os resultados finais demostraram que

o método RF foi adequado para ambos os hormônios, com RMSEP de 20

pgmL-1 para E2 e 4 pgmL-1 para NE, comparáveis aos trabalhos da literatura e

com o método de referência. Foi apresentada uma nova abordagem para o

cálculo de intervalos de confiança e importância das variáveis (ImpVar), através

do método de reamostragem ensemble a partir da RF. A estimativa ImpVar

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demonstrou boa concordância com os seus respectivos espectros puros,

fornecendo resultados com maior sentido químico. Por último, a metodologia

proposta demonstrou ser rápida (por uma parte do procedimento foi

automatizada), com menos de 1 h de análise, requer pouca manipulação da

amostra, apenas uma etapa de diluição, permitindo a manipulação de

interferentes não modelados e desconhecidos, uma vez presentes na amostra

real. Pela facilidade de implementação do método proposto, ele pode se tornar

viável para uma rotina laboratorial e em futuras aplicações com outros analitos

e, talvez, com outras matrizes biológicas complexas.

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Capítulo 7: Aplicação 2:

SERS e métodos de resolução multivariada de curvas para a detecção in situ de agrotóxico em casca de

frutas

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7. Aplicação 2: SERS e métodos de resolução multiva riada de curvas

para a detecção in situ de agrotóxico em casca de frutas

7.1. Introdução

O malation é um agrotóxico organofosforado muito utilizado na

agricultura, como inseticida para matar mosquitos e moscas. De acordo com o

EPA, este pesticida é classificado como Classe III, com sugestiva evidência de

carcinogenicidade [77]. Devido a isso, a FDA (Food and Drug Administration)

determina que o limite máximo residual (MRL, do inglês maximum residue

limit), em alimentos, seja de 8 partes por milhão [78]. O método de referência é

baseado na técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) [77, 78],

na qual vários trabalhos utilizando esta técnica podem ser encontrados na

literatura [79-81]. Entretanto, a HPLC é uma técnica relativamente demorada e,

na maioria dos casos, requer várias etapas de pré-tratamento de amostra e de

extração, nas quais o analito de interesse pode ser perdido ao longo desses

processos. Além disso, ela é destrutiva e não permite a realização de análises

in situ.

A espectroscopia SERS tem tido grande destaque nos últimos anos,

como uma técnica que permite a detecção de pesticidas em baixas

concentrações, apresentando também alta seletividade e baixos limites de

quantificação [82]. Os recentes avanços em SERS têm possibilitado o seu uso

em ambientes adversos. Exemplos estão na detecção de estruturas biológicas

e estudos intracelulares [5, 83-85] utilizando a espectroscopia de imagens,

como também na detecção de pesticidas e herbicidas residuais em alimentos

[86, 87]. Liu e colaboradores [86] utilizaram nanopartículas de ouro-prata do

tipo caroço-casca (nanoshells) para identificarem e detectarem resíduos de

pesticidas em cascas de alguns frutos. Nesse caso, os autores relataram que

essa detecção não foi possível em algumas amostras devido a anomalias

presentes nos espectros advindos da matriz. Além disso, do ponto de vista

prático, a síntese das nanoshells proposta pelos autores é muito extensa e

demorada, além de envolver diversas etapas de preparação das

nanopartículas.

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Atualmente, uma vertente importante da técnica de espectroscopia

Raman é o emprego de SERS de imagens juntamente com métodos

quimiométricos de resolução de curvas [3, 88]. A adição da informação espacial

aumenta a capacidade de detecção, possibilitando alcançar baixos limites de

detecção. Como exemplo, a concentração do pesticida no total (bulk) da

amostra pode ser relativamente baixa, no entanto, em determinados pontos da

área mapeada (pixels) a concentração pode ser alta.

Dessa forma, nesta tese desenvolveu-se uma metodologia analítica

relativamente simples e eficiente, que não necessitou quaisquer pré-

tratamentos de amostra e utilizando uma síntese de nanopartículas de ouro

clássica, com apenas uma etapa. O método permitiu a detecção in situ de

malation em cascas de tomate e ameixa acoplando SERS de imagens e

métodos de resolução multivariada de curvas. Foi testado e avaliado o método

de resolução de curvas por fatoração não-negativa com mínimo quadrados

alternados (NMF-ALS) e os resultados foram comparados com o método mais

utilizado, que é o de resolução multivariada de curvas com mínimos quadrados

alternados (MCR-ALS). Além disso, os resultados para a ameixa apresentaram

estrutura de erro heterocesdástico, na qual apenas o MCR-WALS apresentou

excelentes resultados de recuperação dos espectros. Matrizes de

variância/covariância dos erros (ECMs) foram calculadas para qualificar e

avaliar a estrutura de erros dos dados.

7.2. Procedimento experimental

7.2.1. Solucões e reagentes

O ácido tetracloroauríco (HAuCl4) 30 wt% foi adquirido na Sigma-Aldrich,

o citrato de sódio anidro (Na3C6H5O7), o cloreto de sódio (NaCl) e o etanol

anidro PA 99,8% (C2H6O) foram adquiridos na Synth (Brasil) e o padrão de

malation foi adquirido na Pestanal (Alemanhã). As amostras de tomate e

ameixa foram compradas em um mercado local, de modo que fossem

alimentos “orgânicos”, ou seja, livre de pesticidas. Para todo o experimento

realizado, a água utilizada foi do tipo Milli-Q® UltrapureWater Purification

System (Millipore, Bruxelas, Bélgica). Todas as vidrarias utilizadas durante o

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experimento foram lavadas com uma solução de água régia (3:1, HCl:HNO3) e

secas antes de serem utilizadas novamente.

7.2.2. Síntese do colóide

Ver capítulo 5, item 5.1.

7.2.3. Espectrômetro Raman de Imagem

Para as medidas SERS, o equipamento utilizado foi um espectrômetro

Raman dispersivo, PerkinElmer RamanStation 400F, equipado com câmera de

imagem de objetiva 10x (10-µm2 spot), um laser com potência nominal de 250

mW no infravermelho próximo (785 nm) e um detector CCD de alta

sensibilidade refrigerado a -50oC. Ver capítulo 3, item 3.2.

7.2.4. Análise e tratamento dos dados

Para a detecção dos resíduos de pesticidas, cinco soluções de malation

com concentrações de 12,30; 6,15; 1,23; 0,62 e 0,12 mg L-1 foram preparadas

e utilizadas para a contaminação das cascas. Antes de cada medida, uma

solução de cloreto de sódio, 1 mol L-1, foi adicionada à solução de ouro coloidal

antes de ser adicionado o colóide de ouro sobre as superfícies das cascas.

Para o mapeamento, uma fina camada de casca de tomate ou ameixa

com dimensões de 2,0 x 2,0 x 0,1 cm, foi cortada com o auxílio de um bisturi, e

este fragmento foi colocado sobre uma cela de quartzo (ver Figura 7.1). Em

seguida, 5 µL de uma solução de malation foi adicionado sobre um ponto

central da casca e finalmente 5 µL de etanol foi adicionado sobre o malation,

para permitir a interação do pesticida com a superfície. Depois, a superfície

contaminada foi seca em temperatura ambiente e, em seguida, foram

adicionados 25 µL da solução coloidal de ouro e levado para aquisição do

mapeamento no equipamento Raman. O laser foi operado na sua potência

máxima e o tempo de integração foi de 5s com 10 acumulações. Esse

procedimento foi repetido para todas as concentrações de malation e para

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ambos os alimentos. Triplicatas experimentais foram realizadas para medida do

erro (variações entre as medidas experimentais, tomadas como o desvio

padrão para cada número de onda).

Figura 7.1. Esquema do procedimento utilizado para a detecção dos resíduos de pesticidas.

Durante a realização dos mapeamentos, a região escolhida foi de 1,2 x

1,2 mm a partir do ponto central da casca, com resolução de 0,1 mm,

resultando em 12 x 12 = 144 pixels. Um espectro foi obtido para cada pixel na

faixa espectral entre 3200-600 cm-1, resultando num cubo hiperspectral de

dimensões 12 × 12 × 770 para cada amostra.

Para os cálculos, as regiões selecionadas para o tomate foram 12 × 12 ×

220 e 12 × 12 × 255 para ameixa, que foram definidas de acordo com a região

espectral de maior informação e, ao mesmo tempo, de melhor desempenho

dos modelos quimiométricos. Analisando o esquema da Figura 7.2, os cubos

hiperespectrais (D1, D2, ..., D15) são desdobrados em matrizes (D1, D2, ..., D15)

na direção das linhas, ou seja, pixel por pixel, para serem decompostos pelos

métodos bilineares. Em seguida, as matrizes são concatenadas na forma de

uma matriz aumentada (Daum) e os dados foram pré-processados por

normalização pela média da linha (por espectro) e pelos AsLS [33], para

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correção do “background” devido à fluorescência. Os dados relativos às

amostras de ameixa foram pré-processados apenas por AsLS, como será

discutido posteriormente. Antes do uso dos métodos de resolução de curvas,

foi feita uma avaliação das ECMs, na forma de duas matrizes, a Ecv e Ecr,

visando uma melhor compreensão da estrutura do erro nos dados. Em

sequência, os métodos de resolução foram aplicados. Os resultados finais são

a imagem química e os seus respectivos espectros puros. (ver Figura 7.2).

Figura 7.2. Esquema do tratamento de dados realizado para obtenção das imagens químicas e

espectros puros.

A eficiência dos modelos foi avaliada pelos cálculos de falta de ajuste (

LOF, equação 4.22) e variância explicada (R2 eq. , equação 4.23) [32]. O LOF

e R2 têm interpretações semelhantes, embora, o LOF tenha mais sensibilidade

quando as diferenças são pequenas, como veremos nos resultados obtidos.

7.3. Resultados e discussão

7.3.1. Detecção por SERS

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Antes de realizar as contaminações das cascas de tomate e ameixa, e

para avaliar a sensibilidade das nanopartículas de ouro sintetizadas com

respeito à detecção dos pesticidas, espectros pontuais foram adquiridos para

cinco soluções diluídas de malation (Figura 7.3a). Nesse caso, todas as

concentrações mostraram atividade SERS, destacando-se um pico intenso na

região de 1032 cm-1, atribuído à vibração P-O-CH3 [89]. Esta região poderia ser

utilizada para monitorar o pesticida e realizar-se uma detecção baseada em um

modelo univariado. Entretanto, quando se sobrepõe os espectros do tomate e

da ameixa (antes da contaminação) com o espectro do malation na

concentração de 12,3 mg L-1 (Figuras 7.3b e c), pode-se observar claramente

diversas regiões de sobreposição, assim como na região de 1032 cm-1. Esses

resultados sugerem que utilizar um modelo univariado não seria o mais

adequado para estes casos em estudo.

Figura 7.3. Espectros SERS pontuais; (a) Espectros SERS do malation em todas as condições

de trabalho; (b) Espectros SERS para o tomate e para o malation nas concentrações de 12,3

mg L-1. (c) Espetros SERS para a ameixa e para o malation nas concentrações de 12,3 mg L-1.

7.3.2. Pré-processamento

Como descrito anteriormente, os pré-processamentos foram utilizados

após serem adquiridos os dados, excluindo o procedimento de normalização

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para os dados de ameixa. A normalização foi requerida devido a um problema

comum apresentado em imagens hiperespectrais Raman e SERS [3, 32], que

são às alterações de intensidade nos dispositivos de excitação (LASER) ao

longo do mapeamento. Adicionalmente, em SERS de imagem, existe também

um efeito de flutuação das intensidades dos espectros, relacionado à variação

do tamanho das nanoparticulas e à presença de agregados contidos no colóide

de ouro que recobrem a superfície da amostra [10, 90]. Além disso, essa

variação pode ser observada também devido à irregularidade nas superfícies

das frutas. Portanto, procedimentos de normalização se tornam essenciais para

alcançar um bom resultado, neste caso. Outra correção que foi realizada é a

correção de linha base, devido a um intenso background de fluorescência,

oriundo da complexidade das amostras. Para esta tarefa, o algoritmo AsLS foi

utilizado. Por último, os spikes cósmicos foram removidos a partir de uma rotina

desenvolvida pelo nosso grupo [91].

7.3.3. Medida da matriz de covariância dos erros (ECMs)

As análises de ECMs podem ser feitas de diversas formas [92]. Neste

trabalho, uma simples análise visual das matrizes ECv e ECr foi realizada

(Figura 7.4). Para os resultados do tomate, pode ser notada uma concordância

entre o espectro médio e o desvio padrão (em cada número de onda), o qual

aumenta com a intensidade do sinal de forma análoga (Figuras 7.4a e b). Este

comportamento pode ser associado com ruídos offset e offset multiplicativo,

proporcionais à magnitude do sinal, típico de ruído correlacionado, que pode

ser melhor observado na Figura 7.4c. Uma elevada variância está presente nos

canais entre aproximadamente 1600-1500 cm-1 e 1200-1100 cm-1, onde os

picos são mais intensos. O mesmo pode ser visto na Figura 7.4d através da

matriz Ecr, indicando que a grande maioria dos canais (números de onda)

apresenta uma significativa correlação positiva. A partir destas figuras pode-se

concluir que apesar da presença de erros correlacionados, os dados são de

natureza homocedástica, ou seja, seguem a distribuição normal.

Na Figura 7.5 são apresentados os resultados para os dados de ameixa.

Como mencionado anteriormente, estes espectros foram corrigidos apenas

pelo algoritmo AsLS (Figura 7.5a). A correlação entre os espectros médios e os

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desvios padrão em cada número de onda é alta em certas regiões,

principalmente nos picos mais intensos. Em contrapartida, na faixa entre 872-

696 cm-1 e 1476-1112 cm-1 (Figura 7.5b) esta correlação é perdida. É possível

concluir que os dados apresentam também erros correlacionados (Figura 7.5d),

em determinadas regiões do espectro, no entanto, também é perceptível uma

modificação na forma da matriz de covariância (Figura 7.5c), em relação a

discutida anteriormente (Figura 7.4c). Este comportamento é típico em dados

que apresentam heterocedasticidade e não seguem uma distribuição normal.

Estes seus resultados serão comentados na sessão seguinte.

Figura 7.4. (a) todos os espectros do mapeamento do tomate pré-processados por

normalização e AsLS; (b) comparação entre o desvio padrão e média do espectro SERS; (c)

matriz de covariância do erro (ECv); (d) matriz de correlação do erro (ECr) para os canais entre

1768-892 cm-1.

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Figura 7.5. (a) Todo os espectros do mapeamento da ameixa pré-processados por AsLS; (b)

comparação entre o desvio padrão e a média do espectro SERS (c) matriz de covariância do

erro (ECv) e (d) matriz de correlação do erro (ECr) para os canais na faixa entre 1712-696 cm-1.

7.3.4. Resultados para o MCR-ALS, NMF-ALS e MCR-WALS

Primeiramente, cabe ressaltar que o objetivo deste trabalho não foi

comparar o desempenho entre os algoritmos MCR-ALS, NMF-ALS e MCR-

WALS, mas desenvolver um método analítico para detecção de resíduos de

pesticidas sem qualquer manipulação da amostra e de maneira muito simples e

rápida, sem a necessidade de conhecer previamente o espectro puro do

pesticida. Para isso, algumas características foram consideradas para resolver

os diversos casos. (1) Inicialização: os algoritmos foram inicializados sem as

contribuições dos perfis ou espectros puros do malation e das frutas, uma vez

que esta informação nem sempre está disponível. Para o NMF-ALS foi utilizada

uma inicialização pseudorrandômica, escalando esses perfis em relação à

matriz original. No MCR-ALS, foram testados o algoritmo PURE [46] e, depois,

uma inicialização randômica, sendo ambos os resultados foram equivalentes. O

MCR-WALS foi inicializado por uma permutação aleatória através de uma

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amostragem da matriz original. (2) Os postos químicos (ou rank) das matrizes

foi pré-definido como sendo iguais a dois (r = 2, pesticida e fruta) e também

avaliados por SVD. Após uma análise dos dados de ameixa, o seu posto foi

determinado como 3, como será comentando mais adiante. (3) Restrições: para

o NMF-ALS não foi utilizada qualquer restrição, uma vez que no seu próprio

algoritmo os valores negativos são automaticamente forçados para zero. No

MCR-ALS foi utilizada a restrição de não negatividade, com o algoritmo FNNLS

[31] e depois comparados com os resultados forçando apenas os valores

negativos a zero, o que seria equivalente ao NMF-ALS. Ambos apresentaram

resultados equivalentes. No MCR-WALS, a restrição de não negatividade com

o algoritmo FCNNLS [32] foi utilizada. (4) Ajuste dos modelos: os modelos

NMF-ALS, MCR-ALS e MCR-WALS para o tomate e para a ameixa foram

desenvolvidos. Um balanço de massas foi realizado apenas no final para fins

comparativos entre os mapas de concentração. (5) Os parâmetros de LOF e

R2 foram utilizados para avaliarem a capacidade de recuperação dos métodos

e justificar possíveis discrepâncias. Os resultados são apresentados na Tabela

7.1.

Tabela 7.1. Resultados dos modelos de resolução de curvas.

Parâmetros MCR-ALS

(tomate)

MCR-

WALS

(tomate)

NMF-ALS

(tomate)

MCR-ALS

(ameixa)

MCR-

WALS

(ameixa)

NMF-ALS*

(ameixa)

LOF 24.0 39.5 17.4 59.8 21.2 48,4

R2 94.2 84.4 97.0 64.3 95.5 -

*valor muito grande.

Para o tomate, os resultados do modelo NMF-ALS foram um pouco

melhores que os do MCR-ALS, com menores valores de LOF e maiores

valores de R2. Embora o MCR-ALS e o NMF-ALS tenham o mesmo algoritmo

para atualização das matrizes, o ALS, o processo de cálculo dos erros é

diferente (ver capítulo 4, item 4.4). Comparando os resultados de recuperação

dos espectros do tomate e do pesticida para ambos os modelos (Figura 7.6),

pode-se observar que ambos recuperaram equivalentemente o espectro do

tomate. No entanto, ao compararmos os espectros recuperados para o

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malation, fica evidente novamente que o NMF-ALS apresentou melhor

recuperação, principalmente nas regiões nas quais o sinal do tomate foi mais

intenso. Cabe ressaltar que, apesar dessa diferença para ambos os métodos, a

principal banda em 1032 cm-1 foi recuperada de forma satisfatória e, assim,

tanto o MCR-ALS quanto o NMF-ALS podem ser empregados para

identificação do pesticida na casca de tomate.

Figura 7.6. Comparação dos espectros recuperados do tomate e do malation recuperado pelos

métodos NMF-ALS e MCR-ALS.

Em contrapartida, os resultados para o tomate utilizando o MCR-WALS

foram os piores de todos, não sendo considerado o mais adequado para

tratamento de dados com ruído homocedástico.

Logo, os resultados para o tomate empregando o método NMF-ALS

demonstram boa recuperação e semelhança com os seus respectivos

espectros puro. Nos mapas de concentração pode ser vista a alta

complementariedade das regiões (Figura 7.7).

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Figura 7.7. Resultados do NMF-ALS para o tomate; (a) recuperação do NMF-ALS para os

espectros do tomate e da ameixa; (b) mapeamento para o tomate (c) mapeamento para o

malation (12,30 a 0,12 mg L-1).

Para os dados de ameixa (Figura 7.8), a presença do ruído

heterocedástico nos dados pode explicar os melhores resultados do modelo

MCR-WALS. De fato, o NMF e o MCR com o algoritmo ALS consideram que os

erros são sempre homocedásticos e, portanto, seguem a distribuição normal

[24]. No entanto, isso nem sempre ocorre, como foi mostrado neste trabalho.

No algoritmo MCR-WALS, é realizada uma ponderação nas matrizes de

concentrações e dos espectros puros a partir da matriz de covariância dos

erros. Caso um canal apresente um erro elevado, um menor peso é dado para

este, caso contrário é atribuído um maior peso. Bons resultados foram obtidos

para os espectros recuperados e mapas de concentração obtidos pelo método

MCR-WALS para a ameixa (Figura 7.8). Nesse caso, um fator a mais foi

necessário para explicar o sinal de fluorescência, que provavelmente é algo

intrínseco e presente na casca da ameixa, como pode ser visualizado nos

mapas de concentração e espectros recuperados. (Figura 7.8b).

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Figura 7.8. Resultados do MCR-WALS para a ameixa; (a) recuperação do MCR-WALS para os

espectros de fluorescência, ameixa e malation; (b) mapeamento para a fluorescência; (c)

mapeamento para a ameixa (d) mapeamento para o malation (12.3 a 0.123 mg L-1).

7.3.5. Resultados quantitativos para o MCR-ALS, NMF-ALS e MCR-WALS

A fim de avaliar a relação entre os resultados médios dos escores

(valores médios para cada mapeamento) e as concentrações esperadas,

visando uma possível aplicação do método para quantificação, os resultados

foram apresentados na forma de curvas pseudo-univariados, nas quais são

graficados os valores médios dos escores contra o valor esperado na casca

para o NMF-ALS, no caso do tomate, e MCR-WALS, para a ameixa (Figuras

7.9A e B).

Foi realizada uma estimativa da concentração esperada de malation nas

cascas, a partir da concentração da solução de malation, volume adicionado na

casca e área mapeada. Tomando como exemplo a concentração de 12,3 mg L-

1, ao ser utilizado 5 µL desta solução, resultaria numa massa de 6,15 x 10-8 mg

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sobre um volume de aproximadamente 0,40 cm3 (volume ocupado) ou 1,54 x

10-8 mg.cm3 de malation na casca. No entanto, a região mapeada foi de 1,20 x

1,20 x 0,10 mm (0,14 mm3), sendo que a quantidade de massa presente nesta

janela seria de 1,1 x 10-7 mg.mm-3 ou equivalente a 106,80 ppb, se considera-

se que mm-3 para L. Portanto, a partir desta transformação o limite de detecção

foi estabelecido em 1,10 ppb.

Fica evidenciada uma relação entre os escores médios dos mapas e os

valores esperados de concentração, que pode ser modela por uma curva não

linear. Além disso, os baixos valores dos coeficientes de correlação

demonstram a dificuldade de recuperação dos espectros de resíduos do

pesticida nas cascas empregadas, sendo que o resultado para o tomate com o

método NMF-ALS foi um pouco melhor do que o MCR-WALS para a ameixa, r2

= 0,892 e r2 = 0,787, respectivamente.

Figura 7.9. (A) Escores médios do NMF-ALS versus concentração esperada na casca para o

tomate e (B) Escores médios do MCR-WALS versus concentração esperada na casca para a

ameixa.

7.4. Conclusões

O método proposto demonstrou ser capaz de identificar in situ o pesticida

mesmo em concentrações muito baixas nas cascas de diferentes frutas. Ele

pode ser considerado eficaz mesmo na presença de ruídos correlacionados e

heterocedáscticos e na presença de sobreposição de picos. Os espectros

SERS de imagem acopladas com os métodos quimiométricos permitiram a

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detecção do malation abaixo do limite máximo de resíduos, que é 8 ppm,

alcançando o limite de detecção estimado de 1,1 ppb.

Para os dados do tomate, os resultados do NMF-ALS foram superiores

ao MCR-ALS, com melhor recuperação dos espectros na presença de ruído

correlacionado. Por outro lado, para a ameixa, devido à presença dos ruídos

heterocedásticos e correlacionados, o MCR-WALS foi mais apropriado, com

superior recuperação dos espectros e dos mapas de distribuição. A

metodologia analítica desenvolvida é relativamente fácil de ser implementada,

rápida, eficiente e não requer manipulação de amostra, permitindo a análise in

situ. O método proposto pode ser aplicado para outras frutas, com outros

pesticidas, sem precisar conhecer o espectro dos interferentes, uma vez que os

algoritmos foram inicializados sem quaisquer informações dos compostos

presentes nas amostras.

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Capítulo 8: Aplicação 3:

Desenvolvimento de um método para quantificação de melamina em diferentes matrizes de leite

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8. Aplicação 3: Desenvolvimento de um método para q uantificação de

melamina em diferentes matrizes de leite

8.1. Introdução

O leite é um dos produtos alimentícios mais suscetíveis à adulteração,

devido à facilidade neste procedimento e, principalmente, pelos componentes

adicionados que mimetizam as propriedades dos compostos originais [93, 94].

Dentre estes compostos adulterantes, pode-se destacar a melamina (1,3,5-

Triazina-2,4,6-triamina), que é um composto rico em nitrogênio, comumente

utilizado para simular o alto teor de proteína no leite após a diluição do mesmo

com água. Uma vez que até baixas concentrações deste contaminante podem

causar intoxicação e até morte, muitos países têm estabelecido que o limite

melamina em fórmula infantil e outros produtos alimentícios seja de 1 mg kg-1 e

2,5 mg kg-1, respectivamente [93, 94].

Atualmente, o método de referência para a determinação de melamina

em leites é feito por LC-MS-MS [93]. No entanto, apesar de ser uma técnica

muito robusta, o método atual utiliza de grande quantidade volumes de

amostra, além de requerer diversas etapas de extração para limpeza e

separação do analito da amostra. Recentemente, novas aplicações têm sido

baseadas na espectroscopia Raman intensificada por superfície (SERS) [95,

96], devido à sensibilidade e certa seletividade da técnica com o analito de

interesse e, principalmente, pelo mínimo preparado de amostra. Embora o

SERS apresente diversas vantagens sobre o método oficial, algumas

características ainda dificultam sua inserção como um método analítico e/ou

consolidação na área de química de alimentos. Dentre elas, podem-se destacar

a estreita e/ou a não compreensão do limite máximo residual (MRL, do inglês

maximum residue limit) dentro da faixa linear proposta pelos métodos [95]. Os

limites de detecção e quantificação apresentados em trabalhos envolvendo o

SERS muitas vezes são baseados no analito em solução e não nas amostras

reais [95, 96], portanto, não consideram a presença de possíveis interferentes.

Além disso, muitos dos métodos utilizam de procedimentos de sínteses de

nanopartículas que são complexos e demandam muito tempo de preparo [95,

96]. Também os métodos apresentados são desenvolvidos para um produto

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97

específico, e a determinação de melamina em vários produtos

simultaneamente é uma aplicação interessante, uma vez que apenas um

modelo de calibração é utilizado, facilitando a atualização e aplicação do

mesmo.

O método fatoração NMF é um método de resolução multivariada de

curvas que foi desenvolvido para processamento de imagens faciais [56]. Uma

característica deste método é que, ao contrário do método de análise de

componentes principais (PCA, do inglês principal componente analysis) [56], os

elementos são sempre maiores ou iguais a zero. Como resultado, quando

fatoramos uma matriz de misturas os resultados serão perfis de concentrações

e espectrais comparáveis aos seus respectivos espectros puros

separadamente. Quanto à sua aplicação em química analítica, podemos

destacar alguns trabalhos encontrados na literatura, no processamento de

imagens SERS [4], fluorescência [97], ressonância magnética nuclear [98] e

espectroscopia Raman coerente anti-stokes [99], separação de sobreposição

em dados cromatográficos [100], espectros de fluorescência [101] e dados de

gene de expressão [102]. No entanto, não têm sido relatados e explorados

ainda em trabalhos voltados para a quantificação, mas apenas para fins semi-

quantitativos [99, 102].

Um problema comum a todos os métodos de resolução de curvas, assim

como para o NMF, é o número infinito de resultados (escores e pesos) que

podem resultar na matriz original de dados, chamado de ambiguidade

rotacional. No entanto, esse problema é facilmente contornado através do uso

de restrições [46]. O uso das restrições visa limitar o número de soluções

possíveis e auxilia ao algoritmo a convergir a um resultado único, ou seja, mais

próximo do resultado com sentido físico e desejável. Do ponto de vista da

calibração, a restrição mais importante é a restrição de correlação [103, 104].

Nesse caso, os escores referentes à concentração do analito de interesse são

correlacionados com suas respectivas concentrações conhecidas (fase de

calibração) durante o processo de otimização do algoritmo. Os resultados são

significativamente melhorados e apresentam baixos erros de previsão. No

entanto, em alguns casos complexos, nos quais os dados apresentam efeito de

matriz, o uso da restrição de correlação precisa ser adaptado. Uma forma de

fazer isso é utilizando uma restrição de correlação local (CL), na qual os

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escores são corrigidos em relação a um modelo de referência [105] para cada

caso. Em um trabalho recente, Oliveira et al. [105] demostraram o uso da

restrição CL para a determinação de biodiesel em diesel, no qual o efeito de

matriz estava presente entre diferentes bateladas. Contudo, quando as

amostras são muito diferentes, a restrição de CL deve ser aprimorada.

Neste capítulo é apresentada uma estratégia de calibração multiproduto

[106, 107] utilizando a técnica SERS que permite a quantificação simultânea de

melamina em duas diferentes matrizes de leite: UHT e a FI. Para isso, foi

inserido no algoritmo NMF-ALS a restrição de correlação em várias etapas. A

estratégia consistiu em re-escalar os escores em uma restrição local para cada

produto e, depois, o efeito de matriz foi corrigido utilizando uma terceira

equação global para relacionar os scores do NMF-ALS para todos os produtos

conjuntamente com os valores conhecidos de concentração. A performance e

validação dos modelos desenvolvidos por NMF-ALS com restrição de

correlação foram avaliadas através de figuras de mérito e os resultados

comparados ao método de calibração multivariada, que é a regressão por

mínimos quadrados parciais (PLSR).

8.1.1. NMF-ALS com restrição de correlação múltipla

O uso das restrições é muito importante para os métodos de resolução

de curvas bilineares, uma vez que auxiliam a obter um resultado que seja mais

próximo do real e com sentido físico, evitando a chamada ambiguidade

rotacional. Dentre as diversas restrições existentes para os métodos MCR [46],

de fato, a mais importante para a calibração é a chamada restrição de

correlação [103, 104], na qual o objetivo principal é maximizar a correlação e a

covariância entre os escores e as concentrações nominais, durante todo o

processo interativo do algoritmo. Embora em alguns casos nos quais existam

desvios de concentração, o uso de dois ou mais modelos locais pode auxiliar a

resolver esse problema [105]. No entanto, na calibração multiproduto, na qual

as amostras são diferentes, produzindo também diferentes modelos/curvas de

calibração (intercepto e inclinação diferentes) por apresentarem efeito de

matriz, uma consideração deve ser feita para corrigir esta diferença e obter-se

apenas uma única curva de calibração que descreva a calibração da melamina

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99

em duas matrizes distintas. A proposta utilizada nessa tese segue os seguintes

passos (ver Figura 8.1):

Figura 8.1. Esquema ilustrando o NMF-ALS com restrição de correlação múltipla.

(1) Primeiramente, os dados são organizados numa matriz aumentada augV ,

contendo tanto os espectros do leite UHT como o da fórmula infantil;

(2) A matriz aumentada augV é então decomposta em duas sub-matrizes: W

(escores, perfis de concentrações) e HT (pesos, perfis de espectrais);

(3) O fator correspondente ao perfil de concentração da melamina é

extraído de W e relacionado com as suas respectivas concentrações

nominais em cada leite, separadamente, encontrando-se duas curvas de

calibração chamadas de pseudo-univariadas:

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100

UHTUHTUHTUHT

cal bb 10 CW += (8.1)

FIFIFIFI

cal bb 10 CW += (8.2)

(4) Os coeficientes encontrados nas retas ajustadas apresentadas nas

equações (8.1) e (8.2) são utilizados para re-escalar os escores nos

conjuntos de calibração e validação, também separadamente:

[ ][ ]

UHT

UHTUHTcal;valUHT

cal;val b

b

1

0ˆ −=

WW (8.3)

[ ][ ]

FI

FIFIcal;valFI

cal;val b

b

1

0ˆ −=

WW (8.4)

(5) Após realizar-se esta correção, os escores do conjunto de calibração

são armazenados num vetor aumentado, contendo os dois produtos

conjuntamente, e então uma nova curva de calibração é ajustada:

globalglobal

calglobalglobal

cal bb 10 CW += (8.5)

(6) Finalmente, todos os escores tanto de calibração quanto validação para

ambos os leites são re-escalados utilizando os parâmetros do modelo

ajustado mostrado na equação (8.6):

global

globalglobalvalcal

b

b

1

0];[ˆ −=

WW (8.6)

(7) O vetor W retorna para o algoritmo ALS e este processo continua até

que algum critério de convergência seja satisfeito, como mencionado

anteriormente.

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101

8.2. Procedimento experimental

8.2.1. Síntese do colóide

Ver capítulo 5, item 5.1.

8.2.2. Espectrômetro Raman

Para as medidas SERS, o equipamento utilizado foi um espectrômetro

Raman dispersivo, PerkinElmer RamanStation 400F, equipado com câmera de

imagem de objetiva 10x (10-µm2 spot), um laser com potência nominal de 250

mW no infravermelho próximo (785 nm) e um detector CCD de alta

sensibilidade refrigerado a -50oC. Ver capítulo 3, item 3.2.

8.2.3. Conjuntos de calibração e validação

As amostras de leites FI e UHT foram adquiridas num mercado local,

nas quais não foram constatadas a presença de melamina. As concentrações

do conjunto de calibração foram selecionadas através do planejamento D-

optimal tomando o valor de MRL como base, que é de 1,0 mg L-1 para a FI e

2,5 mg L-1 para o UHT [93, 94]. Portanto, cinco soluções nas concentrações de

0,00; 1,25; 2,50; 3,75; 5,00 mg L-1 foram preparadas por adição nos leites. No

conjunto de validação, as soluções foram preparadas baseadas nos pontos

centrais das faixas de concentrações anteriores: 0,63; 1,88; 3,13; 4,38 mg L-1.

Todas as soluções foram preparadas com triplicatas reais.

8.2.4. Medidas

Um esquema ilustrando o procedimento experimental realizado pode ser

visto na Figura 8.2. Como suporte para a disposição das amostras foi utilizado

um “slide” de vidro recoberto com uma folha de alumínio. 1 µL de cada amostra

foi adicionada no suporte, seguido de 5 µL da solução coloidal. Após isso, o

material foi deixado por aproximadamente 40 min para secar. Finalmente, o

suporte foi levado ao equipamento Raman para as medidas. Os espectros

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102

foram adquiridos nas mesmas condições de análise para todas as amostras;

100% da potência do laser, 4 s de exposição, 12 acumulações na faixa

espectral de 3200-200 cm-1 com resolução espectral de 4 cm-1.

Figura 8.2. Esquema ilustrando o procedimento experimental realizado para o desenvolvimento

dos modelos de calibração de melamina nos diferentes produtos.

8.3. Resultados e discussão

8.3.1. “Performance” e espectros recuperados

A correção de linha base dos espectros foi feita através do algoritmo

AsLS [22]. Os espectros corrigidos estão representados na Figura 8.3, abaixo.

Figura 8.3. Espectros SERS dos conjuntos de calibração e validação para os diferentes

produtos antes (A) e depois (B) da correção da linha base pelo algoritmo quadrados mínimos

assimétricos (AsLS).

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Em seguida, as flutuações de intensidades SERS foram corrigidas

através de um procedimento de normalização (norma de Frobenius). Após o

pré-precessamento dos dados, o número de fatores do modelo foi determinado

através de uma análise SVD e checado em concordância aos resultados do

NMF-ALS sem restrição de correlação múltipla. O número adequado de fatores

foi estipulado como cinco, resultando num modelo com 98% de variância

acumulada. Como forma de constatação do efeito de matriz existente sobre a

melamina nas diferentes matrizes, os escores do NMF-ALS para cada amostra

de leite foram “plotados” contra as concentrações nominais e, em seguida,

duas equações foram ajustadas para os dados (Figura 8.4). Visualmente,

existe uma forte evidência neste gráfico que as curvas de calibração são

diferentes, com intercepto e inclinação diferentes, confirmando o efeito de

matriz. Embora, esta diferença não foi estatisticamente avaliada. Sendo assim,

não seria possível desenvolver apenas um modelo de calibração global para a

determinação da melamina em ambos os leites utilizando apenas um único

modelo. Neste caso, o NMF com restrição de correlação múltipla foi empregado

para desenvolver os novos modelos corrigidos utilizando esses dados.

Figura 8.4. Curva de calibração dos escores do NMF sem restrição de correlação múltipla

versus concentração nominal para ambos os produtos.

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O melhor modelo obtido com o NMF com restrição de correlação foi

também com cinco fatores, para o qual se obteve 12% de falta de ajuste e 99%

de variância explicada. A Figura 8.5 apresenta os perfis espectrais recuperados

pelo método, sendo que o primeiro fator demonstra ter alta concordância com o

espectro puro da melamina. Algumas bandas nas regiões de 584, 700, 1000 e

1076 cm-1 foram identificadas e estão de acordo com o que foi relatado

anteriormente na literatura [95] para este composto. Além disso, pode-se

observar que outros dois fatores para cada leite foram também recuperados,

mas não identificados, e por definição foram apenas considerados como

compostos interferentes. Essa é a principal vantagem dos métodos

quimiométricos, os quais permitem a calibração do analito na presença de

interferentes desconhecidos, chamada de vantagem de segunda ordem,

alcançada neste trabalho a partir de dados de primeira ordem [11, 23, 24].

Figura 8.5. Perfis espectrais recuperados pelo método NMF com restrição de correlação

múltipla para ambos os produtos contaminados com melamina.

Na Figura 8.6, pode ser observado a curva dos valores previstos

“versus” as concentrações nominais, após utilizar o método NMF com restrição

de correlação múltipla. O coeficiente de correlação foi de 0,992 e os resultados

do novo método demonstram alta exatidão e precisão. Além disso, o efeito de

matriz foi perfeitamente corrigido, gerando-se apenas uma curva de calibração

para a quantificação de melamina em ambos os produtos.

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105

Figura 8.6. Concentração prevista pelo NMF-ALS com correlação múltipla versus concentração

nominal para ambos os produtos.

8.3.2. Comparação com o método de calibração multivariada

Como mencionado anteriormente, os resultados do algoritmo proposto

foram comparados aos resultados do método de calibração multivariada PLSR

(Tabela 8.1). Como pode ser observado na tabela 8.1, os resultados de

RMSEP e r2 foram superiores para o NMF-ALS em relação aos modelos

desenvolvidos com o PLSR. Além disso, esse modelo demonstrou não ter

presença de erros sistemáticos em um nível de confiança de 95% (ttab = 2,069

e graus de liberdade de 24-1), de acordo com a ASTM E1655 [72], e, portanto,

é adequado para prever a melamina em amostras desconhecidas. Por outro

lado, o modelo PLSR com 4 variáveis latentes apresentou evidência de erro

sistemático, com tbias de 2,578, maior que o valor tabelado, 2,069 a um nível de

95% de confiança. O uso de 4 variáveis pode ser justificado na tentativa de

corrigir o efeito de matriz presente sobre a melamina nos diferentes leites,

embora esse modelo não seja adequado para previsões. Dessa forma, um

modelo PLSR com 3 variáveis latentes também foi avaliado. De acordo com os

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106

resultados para esse novo modelo, sua capacidade de previsão foi menor,

porém, não foi constatada a evidência de erros sistemáticos.

Tabela 8.1. Comparação entre os modelos NMF-ALS com restrição de CL e o PLSR.

Modelo RMSEP (mg L-1) r2a tbiasc

NMF-ALS 0,258 0,992 0,151

PLS (4)b 0,354 0,985 2,578

PLS (3) 0,390 0,982 1,447

a coeficiente de correlação quadrático – r2. b números de variáveis latentes do modelo PLS. c Nível de confiança de 95%, ttab = 2,201 (graus de liberdade: 12-1 para os dados de validação).

A fim de ter uma comparação mais confiável entre os modelos, NMF

com restrição de correlação múltipla e PLSR, um teste de comparação de

exatidão foi realizado pelo método de Voet [108]. Esse teste avalia a hipótese

de que os RMSEPs sejam iguais (RMSEPPLS = RMSEPNMF). Caso esta

hipótese nula seja rejeitada, uma nova hipótese, alternativa, precisa ser

avaliada (RMSEPPLS ≠ RMSEPNMF), a um pré-determinado nível de confiança

(95%). Neste caso, o valor de pvalor encontrado foi bem menor do que 0,05 e,

portanto, isso sugere que o método NMF-ALS com restrição de correlação

múltipla tem maior exatidão do que o modelo PLSR com 3 e 4 variáveis

latentes.

8.3.3. Validação

De acordo com os resultados apresentados anteriormente, o método

NMF com restrição de correlação múltipla possui alta capacidade preditiva de

melamina em ambos os leites e, portanto, outros parâmetros podem ser

avaliados, tais como o limite de detecção (LOD) e de decisão (CCα), calculados

a partir dos modelos pseudo-univariados [109, 110] (Tabela 8.2).

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107

Tabela 8.2. Figuras de mérito para os dados de validação utilizando a calibração pseudo-

univariada calculada a partir do modelo NMF-ALS com restrição de correção múltipla.

Parâmetros

MRLUHT

(mg L-1)

MRLFI

(mg L-1)

LOD

(mg L-1)

CCα

(mg L-1)

2,50 1,00 0,93 0,46

MRL: Limite máximo residual para os leites UHT e FI; LOD: Limite de detecção; CCα: Limite de

Decisão.

Na Tabela 8.2, pode ser observado que o LOD e o CCα calculados

foram de 0,93 mg L-1 e 0,46 mg L-1, respectivamente, e são menores do que o

MRL, determinados para ambos os leites, 2,50 mg L-1 para o UHT e 1,00 mg L-1

para a FI [93, 94]. De acordo com uma recomendação da European

Commission (EC) [111], o CCα pode ser utilizado para comparações diretas

como o MRL, uma vez que representa a menor concentração que o método

pode discriminar, com uma certeza estatística de 1-α, na presença do analito

contido certamente na amostra (falso positivo).

Finalmente, na Tabela 8.3, os valores nominais e resultados previstos

são demonstrados para as 4 amostras de validação em cada leite e os seus

respectivos valores de recuperação. Ficam evidentes, os bons resultados

alcançados, excetuando apenas a amostra 1 para o leite UHT, cujo valor

previsto diferiu do valor nominal. Este fato pode ser justificado devido a

diversas regiões de sobreposição entre os interferentes do leite UHT e a

melamina, dificultando a recuperação dos escores para esta concentração, o

qual está na faixa do limite de detecção do método (Figura 8.6).

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108

Tabela 8.3. Figuras de mérito adicionais para o modelo NMF-ALS com restrição de correlação

múltipla.

Matriz Amostra Nominal

(mg L-1)

Prevista

(mg L-1)

Recuperação

(%)

FI

1 0,63 0,64 101

2 1,88 1,95 104

3 3,13 3,41 109

4 4,38 4,22 96

UHT

1 0,63 0,17 27

2 1,88 1,93 103

3 3,13 3,28 105

4 4,38 4,38 100

8.4. Conclusões

O método proposto, denominado fatoração não negativa de matriz com

restrição de correlação múltipla, foi introduzido com sucesso para quantificação

de melamina nas duas diferentes matrizes de leite: UHT e fórmula infantil.

Como vantagens práticas obtemos apenas uma curva de calibração no final, o

que facilita o desenvolvimento de modelos de calibração. Além disso, a

calibração na presença de interferentes desconhecidos foi feita com sucesso,

obtendo vantagem de segunda ordem, utilizando-se dados de primeira ordem

(espectros SERS).

O método proposto apresentou resultados superiores ao método de

calibração multivariada PLSR, baixo limite de detecção, e limite de decisão

abaixo do MRL estabelecido para os dois tipos de leites. Também foram

obtidos baixos erros de previsão e alta taxa de recuperação. A metodologia

proposta é simples, relativamente rápida, requer mínima manipulação de

amostras e utilizou um pequeno volume de amostra. Por último, o algoritmo

pode ser uma alternativa para outros casos complexos, nos quais existam

problemas com efeito de matriz.

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109

Capítulo 9: Aplicação 4: Desenvolvimento de um método para

quantificação de enrofloxacin em águas em concentrações ultra-diluídas utilizando calibração

SERS digital

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110

9. Aplicação 4: Desenvolvimento de um método para q uantificação de

enrofloxacin em águas em concentrações ultra-diluíd as utilizando

calibração SERS digital

9.1. Introdução

Em meados de 1997, em dois trabalhos independentes, Nie e Emory, e

Kneipp et al. [2, 19] relataram a presença de um acentuado fenômeno no

espectro SERS, que ocasionava alta flutuação nas intensidades do sinal. De

acordo com os autores, essas flutuações ocorriam quando as soluções eram

“ultra-diluídas”, na ordem de pico Molar (pM). Uma explicação para a

observação deste fenômeno foi que, quanto maior era concentração do analito

sobre uma superfície metálica, maior seria o número de moléculas sobre ela,

seguindo o modelo de monocamada adsorvida de Langmuir. Para este caso,

maior será a probabilidade de ocorrer o evento de intensificação do sinal

Raman e, consequentemente, os espectros SERS terão uma variação que

seguirá uma distribuição normal, conhecida como “SERS average”. Em

contrapartida, quando a concentração é extremamente baixa o número de

moléculas recobrindo a superfície é menor (inferior à formação de uma

monocamada), seguindo uma distribuição não Gaussiana, com distribuição tipo

“cauda longa” [25], seguindo o chamado limite/regime single-molecule (SM) ou

SM-SERS.

O regime SM-SERS é alcançado em soluções extremamente diluídas

(ultra-low), abaixo de µM, nas quais observa-se um aumento no fator de

intensificação SERS superior a 108 [112]. Neste caso, “hotspots” são gerados

pelo aglomeramento de nanopartículas formando dímeros ou trímeros [21].

Esses aglomerados ou agregados podem ser formados a partir de AuNPs, que

podem estar suportadas sobre um substrato de vidro previamente

funcionalizado [8], criando-se uma superfície rugosa ou aleatória, na qual

podem estar presentes os “hotspots”. Um fato interessante sobre o “hotspost” é

que se estima que eles representem menos de 1% de uma área de um

substrato recoberto por nanopartículas [23]. Embora eles ocupem uma

pequena área, a contribuição deles para o espectro SERS é de suma

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111

importância, sendo valores superiores a 70 % de toda intensidade causada

pelas moléculas presentes nestes “hotspots” [22].

A importância dos estudos voltados para SM-SERS é inúmera, como em

estudos de detecção [113], dinâmica [114, 115], fotodegradação [116, 117],

eletroquímica [118], dentre outros. Embora a detecção no regime SM-SERS

seja possível, a quantificação em concentrações ultra-low ainda é um desafio,

principalmente devido à difícil compreensão da estatística das flutuações dos

sinais. O principal problema é que não é possível estabelecer uma relação

direta entre concentração ou número de moléculas na superfície com as

intensidades SERS. Além do problema de variações de intensidades, outros

problemas comuns são a formação de produtos secundários originários da

fotodegradação das moléculas [117] e deslocamentos de picos [117, 119]. O

primeiro pode facilmente ser resolvido através do mapeamento da superfície

[120] e o segundo pode ser minimizado utilizando a análise de componentes

principais (PCA) ou o PCA modificado [24]. No entanto, os escores e os pesos

da PCA são misturas das componentes principais, ou seja, um fator pode

conter informação (bandas no espectro) de outros fatores.

Dessa forma, neste trabalho pretendeu-se estudar o SM-SERS como

uma ferramenta analítica, devido aos baixos limites de detecção que podem ser

alcançados. Para isso, foi estudado o antibiótico enrofloxacin (ENRO), que é

um contaminante emergente comumente presente em águas. Também nesse

trabalho foi desenvolvido um procedimento denominado SERS digital (D-

SERS), para permitir a calibração do analito, em regime de single-molecule.

Por fim, a observação do efeito SM-SERS foi constatado pelo já estabelecido

método da série isotopóloga, na qual outro antibiótico, o ciprofloxacin (CIPRO)

e seu isótopo deuterado foram utilizados.

9.2. Calibração SERS digital (DC-SERS)

A metodologia foi baseada em mapear uma área demarcada da

superfície nanoestruturada, pré-contaminada com o ENRO, na qual, de certa

forma, as moléculas nos hotspots serão encontradas. As imagens

hiperespectrais obtidas foram desdobradas numa matriz e os sinais foram

processados pelo método de resolução de curvas NMF-ALS [54-56]. Após a

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112

decomposição, os pesos do modelo fornecem informações sobre os perfis

espectrais, que podem ser utilizados na identificação da impressão digital da

molécula, e os escores podem ser relacionados diretamente com a

concentração ou com o número de moléculas em cada mapeamento.

No entanto, no fator relacionado a informação sobre o analito, estão

agregadas outras informações não relevantes que não são separadas pelo

modelo de resolução multivariada de curvas, como: ruído (null events),

moléculas em outras regiões que não são os hotspots, moléculas em hotspots

não eficientes. Sendo assim, uma etapa de D-SERS dos dados foi realizada

(Figura 9.1), no intuito de realizar a contagem apenas dos espectros de

moléculas sobre os “hotsposts” efetivos, uma vez que a contribuição deles para

os espectros SERS é consideravelmente importante [22]. Um limite foi

estabelecido, através da estimativa do ruído, e os valores acima deste limiar

foram classificados ou computados como 1 e os abaixo deste valor como 0.

Figura 9.1. Esquema do procedimento de decomposição dos dados por NMF-ALS para as

imagens hiperespectrais e a etapa de digitalização dos escores para o desenvolvimento da

curva de calibração digital.

Os números de pixels acima de 1 são contados e esses valores são

correlacionados a uma respectiva concentração ou número de moléculas por

área, resultando na nova curva de calibração, DC-SERS. Se a técnica for

sensível a esta variação de concentração, os números de pixels nulos irão

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113

aumentar ou diminuir, de acordo com a concentração/número de moléculas na

superfície.

9.3. Procedimento experimental

9.3.1. Síntese do coloide e preparação do substrato

Ver capítulo 5, item 5.1 e 5.2.

9.3.2. Espectrômetro Raman confocal

Os espectros SERS foram obtidos num equipamento Raman com

microscópio confocal da Renishaw inVia System 3000, equipado com uma

lente objetiva de 50x de aumento e com abertura numérica de NA = 0,5. Sendo

assim, a área iluminada na amostra é na ordem de 1 µm2. O laser utilizado foi

de 633 nm, com a potência de apenas 10% do total, com 10 s de tempo de

exposição e uma 1 acumulação. Ver capítulo 3, item 3.3.

9.3.3. Procedimento experimental

Na Figura 9.2 está resumido o procedimento experimental realizado

neste trabalho. Após a síntese das nanopartículas, elas foram suportadas em

vidro como substrato de acordo com método descrito em [58]. Uma solução

estoque contendo o enrofloxacin na concentração de 100 mg L-1 foi preparada

e, a partir dela, várias soluções diluídas foram preparadas até alcançar o valor

mínimo de 1 ng L-1. Inicialmente, uma gota da solução foi disposta na superfície

do substrato e seca rapidamente sobre baixo fluxo de nitrogênio por cerca de 3

min. A área mapeada foi de 50 x 50 µm, com espaçamento de 5 µm, a partir do

centro da gota. Isso resulta em 121 espectros para cada área mapeada, a partir

do ponto de origem. Embora a nanopartícula apresente uma banda máxima no

espectro de extinção por volta de 532 nm (Figura 5.1C), um melhor resultado

foi alcançado quando a linha do laser no comprimento de onda de 633 nm foi

utilizada. Este fato também foi reportado por outros trabalhos encontrados na

literatura [121, 122], nos quais foi observado um deslocamento do plasmon

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114

para a região do vermelho após o suporte de nanopartículas em APTMS. Isso

se deve à formação dos “hotspots” causados pela proximidade das

nanopartículas, aglomerados observados nas imagens de AFM (Figura 5.2C e

D), que podem estar contribuindo para a observação deste efeito. Resultados

preliminares indicaram que a faixa espectral adequada para trabalho foi de

1667-1087 cm-1, com resolução espectral de aproximadamente 1 cm-1,

resultando em 389 pontos no espectro.

Figura 9.2. Esquema resumido do procedimento experimental realizado para a aquisição dos

dados de imagem hiperespectral.

9.4. Resultados e discussão

9.4.1. Caracterização das AuNPs e do substrato

O tamanho e a forma das nanopartículas foram verificados de acordo com o

seu respectivo espectro de extinção e imagens de TEM. Como foi discutido

anteriormente, para as nanopartículas sintetizadas o plasmon está localizado

por volta de 532 cm-1, o que sugere o tamanho médio das nanopartículas em

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115

62 nm, em acordo com trabalhos anteriores [4, 7]. Este fato foi confirmado pela

imagem de TEM. Pode-se ainda verificar que as nanopartículas possuem um

formato esférico e alta homogeneidade entre os tamanhos. Além disso, é

possível observar a presença de alguns aglomerados: dímeros e trímeros, os

quais podem ser responsáveis pela formação dos “hotsposts”. Posteriormente,

as AuNPs foram imobilizadas nos “slides” de vidro previamente funcionalizados

com APTMS.

9.4.2. Avaliação preliminar dos dados

Uma análise exploratória utilizando PCA foi inicialmente realizada nos

dados para avaliar os resultados para o ENRO, quanto ao número de fatores,

homogeneidade do coloide e dependência da distribuição com a concentração

(Figura 9.3). Como pode ser observado na Figura 9.3A, 4 componentes

principais foram necessárias para descrever a variância dos dados. O total de

variância acumulada nesses fatores foi de aproximadamente 97%. Ao

compararmos os pesos da PC1 com o respectivo espectro puro do antibiótico

enrofloxacin, nota-se alta similaridade e algumas bandas foram atribuídas

(identificadas) aos estiramentos O–C–O, em 1371 cm-1, e C–C–H, como

respiração do anel em 1371 cm-1 [123]. As demais PCs foram relacionadas aos

deslocamentos destas bandas para a região do azul ou vermelho. Os

deslocamentos de bandas são comuns em SERS, principalmente quando

amostras de baixas concentrações são analisadas [120, 124]. A orientação

pela qual a molécula é adsorvida nos “hotspots” pode resultar em um ambiente

químico diferente [119] e, consequentemente, este efeito será observado no

espectro SERS, como é o caso da Figura 9.3A.

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116

Figura 9.3. Resultados PCA para os dados de enrofloxacin. (A) loadings com os 4 fatores mais

importantes; (B) Histograma de frequência para as diferentes concentrações de enrofloxacin. A

linha vermelha representa o valor médio das intensidades calculados pelos escores.

Na Figura 9.3B estão representados os histogramas calculados a partir

dos escores para a PC1. Pode ser observado nesta figura que para a

concentração de 200 ppm de ENRO, o seu histograma apresenta um forte

indicativo de seguir uma distribuição normal com valor médio dos escores no

centro da distribuição (linha vermelha). Esse resultado indica a alta

homogeneidade do substrato utilizado, portanto, o mesmo pode ser utilizado

para a observação do SM-SERS. Por outro lado, ao diluir 40 vezes a solução

de ENRO (5 ppm), é notado que a distribuição não apresenta mais forma de

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117

uma gaussiana. Após 200 vezes de diluição (1 ppm), é perceptível que o

número de eventos nulos ou próximos do ruído são cerca de metade do

número total de valores (50 em 121 valores). Neste caso, o número de

moléculas para formar uma monocamada não é suficiente e a presença de

espectros nulos é dominante. Este fato é um forte indicativo da proximidade do

regime SM-SERS [120, 124-126].

9.4.3. Calibração SERS average versus SM-SERS

Como comentando no procedimento experimental, 1 µL da solução de

ENRO foi adicionada sobre a superfície do substrato e, logo após, seca

utilizando gás N2. Este procedimento, além de contribuir para a rápida secagem

da gota, 3 min contra 30 min em condições normais ambientes, é importante

para minimizar o efeito de dinâmica na superfície [26]. Com isso, uma

transformação de concentração mol L-1 para quantidade de moléculas por área

(em µm2) foi realizada. A concentração inicial de ENRO foi de 200 ppm e

diluída até 1 ppt, totalizando 18 valores de concentração. Após a transformação

em moléculas por área, os novos valores equivalem à faixa de 1,4 x 109/µm2

(200 ppm) a 7/µm2 (1 ppt). Em termos experimentais, se considerarmos que o

spot do laser tem 1 µm2, seria o mesmo que a iluminar uma região substrato e

encontrar 1,4 x 109 moléculas ou apenas 7 moléculas.

Para a construção dos modelos de calibração o método NMF-ALS foi

aplicado na decomposição dos dados. O modelo NMF-ALS foi aplicado para

todos os dados na forma de matriz aumentada e os valores ótimos encontrados

foram dois fatores, LOF de 16% e R2 de 97%. Os resultados dos escores

médios por imagem versus o número de moléculas por µm2, para duas

diferentes amostras com alta (200 ppm) e baixa concentração (0,05 ppm),

estão representados na Figura 9.4, assim como os histogramas para

distribuição de valores dos escores.

Analisando-se os escores do NMF-ALS, pode-se identificar que o

primeiro fator foi responsável por descrever as altas concentrações de ENRO,

equivalente ao SERS average (Figura 9.4A), e o segundo fator pelas

concentrações ultra-diluídas (Figura 9.4B), ou no regime SM-SERS.

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118

Figura 9.4. Curva de calibração para os valores em (A) SERS average e (B) SM-SERS;

Histograma mostrando a concentração de 200 ppm (SERS average versus o (D) SM-SERS.

Conforme observado na Figura 9.4A, existe uma elevada precisão nos

resultados, sendo que praticamente todos os pontos se situam próximos ao

ajuste da reta linear. Como consequência, esta reta apresentou um elevado

valor de coeficiente de correlação de 0,950. Para este caso, o valor médio das

intensidades é representativo da concentração do antibiótico presente na

amostra (Figura 9.4C). De maneira oposta, em baixíssimas concentrações, SM-

SERS, a precisão dos dados não é a mesma, muito provavelmente devido aos

efeitos de flutuações de intensidades. Como consequência disso, a equação da

reta apresentou baixo coeficiente de correlação, 0,716. Além disso, é

perceptível a falta de linearidade ao longo dos valores presentes nesta reta.

Neste segundo caso, o valor médio das intensidades não é representativo da

concentração (Figura 9.4D) e, portanto, justifica-se o uso da digitalização dos

dados, como será apresentado a seguir.

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119

9.4.4. Digital SERS

De acordo com a Figura 9.1, o procedimento de digitalização foi

realizado de forma separada utilizando os escores dos resultados da resolução

de curvas aplicada às imagens hiperespectrais. Um limite de corte para definir

os valores 0 e 1 foi estabelecido em 3 desvios padrão em relação ao ruído.

Assim, valores acima deste limiar foram considerados como 1 e abaixo como 0,

transformando os dados originais em imagens digitais, conforme mostrado na

Figura 9.5.

Figura 9.5. Resultados obtidos após o procedimento de calibração SERS digital: (A) Mapas de

concentrações digitalizados (B) Curva de calibração SERS digital; (C) Comparação dos

espectros médios calculados para o valor digital “0” e valor digital “1”.

Pode ser observado na Figura 9.5, que para a concentração de 1 ppt, ou

seja 7 moléculas por µm2, apenas para dois pixels foi atribuído o valor digital

“1”. Por outro lado, para a concentração 25 ppb o número de valores “1” foi de

100 pixels. Assim, existe uma dependência da concentração (número de

moléculas) com o número da contagem digital, confirmada após análise do

gráfico de número de contagens “versus” número de moléculas, chamada de

curva de calibração SERS digital (Figura 9.5B). É possível notar uma

acentuada melhora na precisão dos dados, visto este efeito sobre o coeficiente

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120

de correlação da curva, que passa de 0,716 para 0,992. Na Figura 9.5C, nota-

se claramente a diferença entre os espectros médios para os casos de valores

digitais “0” e “1”.

Com esse procedimento foi possível detectar concentrações muito

baixas, podendo-se estabelecer um valor mínimo para quantificação de 2,78

pmol L-1 ou 1 ppt. Em outros trabalhos da literatura foi registrado o valor

mínimo de 1 ppb para a técnica LC-MS [127] e 20 ppb para o SERS [123].

9.4.5. Experimento da série isotopóloga

Como foi discutido no capítulo 2, item 2.2.3, uma forma de confirmar a

observação do regime SM-SERS é realizando o experimento do bianalito [24]

ou da série isotopóloga [26]. Neste trabalho, foi utilizado outro antibiótico, o

CIPRO, e o seu isótopo deuterado (CIPRO-ISO) para a observação deste

fenômeno. Os resultados estão mostrados na Figura 9.6A.

Figura 9.6. Prova do conceito do SM-SERS. (A) Representação dos espectros recuperados

pelo NMF-ALS para o ciprofloxacin (CIPRO) e seu isótopo (CIPRO-ISO); (B) Mapa digital dos

resultados para CIPRO (azul) e CIPRO-ISO (vermelho). Os círculos em verde representam

quando as duas moléculas estavam presentes nos “hotspots”.

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121

Como pode ser observado na Figura 9.6A, que apresenta os espectros

recuperados para as duas espécies, algumas bandas do CIPRO e seu isótopo

foram identificadas. Cabe ressaltar, que a região de 1450 a 1650 cm-1 foi a

única onde é perceptível uma diferença nos espectros. Esse resultado

demonstra a capacidade da técnica SERS para diferenciar até classes de

isótopos. A constatação da observação do efeito SM-SERS está mostrada na

Figura 9.6B, que apresenta os mapas de distribuição digital para as duas

espécies. Quando nenhuma molécula está no “hotspost”, tem-se um valor nulo

para o pixel (em branco nos mapas digitais). Por outro lado, podem ser

encontradas moléculas de CIPRO (pixel azul) ou CIPRO-ISO (pixel vermelha)

em pixels diferentes no mapa digital. Por fim, estas moléculas podem ser

encontradas nos mesmos pixels simultaneamente no “hotspost”, representado

pelo círculo em verde na Figura 9.6B.

9.5. Conclusões

O método de calibração SERS digital foi proposto e apresentado com

sucesso para quantificação do antibiótico enrofloxacin em solução ultra-diluída.

A estratégia possibilitou obter um valor mínimo para quantificação de

aproximadamente 3 pmol L-1 ou 1 ppt, valor ainda não reportada por técnicas

espectroscópicas. Também demonstrou aumentar a precisão dos resultados. A

metodologia proposta é relativamente simples de ser implementada, podendo

ser utilizados outros métodos de resolução de curvas, como ICA, MCR-ALS,

dentre outros. A chamada prova do conceito SM-SERS foi constatada, através

do experimento da série isotopóloga utilizando o antibiótico ciprofloxacin e seu

isótopo deuterado. O estudo pode auxiliar em pesquisas relacionadas ao SM-

SERS e este trabalho representa o primeiro em química analítica utilizando o

SM-SERS.

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122

Considerações

Finais

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123

Considerações finais

A espectroscopia Raman intensificada pela superfície (SERS) demonstrou

ser uma técnica muito útil nas diferentes aplicações em química analítica,

apresentando alta sensibilidade, baixos limites de detecção e de quantificação

e, aliada aos métodos quimiométricos, apresentou também alta seletividade,

mesmo na presença de interferentes desconhecidos.

O uso da floresta randômica (RF) como um método de calibração

multivariada demonstrou ser atrativo por apresentar a possibilidade do cálculo

de intervalos de confiança e a avaliar importância das variáveis, sendo muito

robusto e fácil de ser entendido. Com a identificação das variáveis importantes,

pode ser possível uma interpretação química baseada na impressão digital da

molécula. Além disso, o estudo da RF foi importante para o nosso grupo de

pesquisa, no qual uma tese focada somente neste método já está em

andamento.

O uso do NMF-ALS apresentou resultados superiores ao método mais

utilizado, que é o MCR-ALS, para recuperação dos espectros do pesticida

malation nas cascas dos alimentos estudados. Dessa forma, este algoritmo

pode ser mais explorado para outros problemas em Química Analítica.

Dois novos algoritmos foram apresentados neste trabalho. O primeiro

baseado numa modificação do algoritmo NMF-ALS para quantificação na

presença de efeito de matriz e obtendo a vantagem de segunda ordem com

dados de primeira ordem. No segundo, uma estratégia foi desenvolvida para a

quantificação em soluções extremamente diluídas, que possibilita o emprego a

novos estudos relacionados à quantificação SERS no regime de uma única

molécula e do aumento da aplicação do SERS em Química Analítica.

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Perspectivas

Futuras

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Perspectivas futuras

Espera-se que esta Tese, juntamente com os resumos e artigos que

foram e serão publicados, possam auxiliar no estudo da aplicação de SERS em

Química Analítica. O auxílio de métodos quimiométricos será fundamental para

ajudar a atingir estes objetivos, espera-se que mais trabalhos em conjunto

sejam aplicados nesta linha.

O uso da floresta randômica deve ser mais explorado, para outros casos

mais complexos, como sistemas com desvios de linearidade, e que possa ser

uma ferramenta para auxiliar as pesquisas na área de Química Analítica,

podendo ser mais uma alternativa aos métodos tradicionais como PLS e

máquinas de vetores de suporte, dentre outros. Além disso, é pretendido aa

publicação de um artigo de divulgação ou educação na revista Química Nova,

em português, para auxiliar na disseminação do conhecimento deste algoritmo

ainda pouco utilizado para Química Analítica no país.

Também pretende-se aplicar o algoritmo NMF-ALS e sua variação, o

NMF-ALS com restrição múltipla de correlação, em outros problemas nos quais

ocorra efeito de matriz ou calibração multiproduto. Finalmente, estudos mais

conclusivos sobre a aplicabilidade do algoritmo SERS digital devem ser

realizados, para que se adquira um maior conhecimento do potencial do SM-

SERS e sua aplicação em sistemas com soluções ultra-diluídas possa ser

expandida e explorada em situações reais.

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Referências bibliográficas

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