UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA PRO … · verbal e a não verbal, estão cada dia mais...
Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA PRO … · verbal e a não verbal, estão cada dia mais...
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
PRO-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS
- PROFLETRAS -
CELIANAI SILVA ASSIS DEL SARTO
O ENSINO DO GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO: LEITURA,
INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO MULTIMODAL
VITÓRIA DA CONQUISTA- BA
2018
CELIANAI SILVA ASSIS DEL SARTO
O ENSINO DO GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO: LEITURA,
INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO MULTIMODAL
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Orientadora: Profª. Drª Maria Aparecida Pacheco Gusmão Pesquisa aprovada pelo Conselho de Ética (UESB): (CAAE: 71267917.5.0000.0055)
VITÓRIA DA CONQUISTA
2018
Catalogação na fonte: Juliana Teixeira de Assunção – CRB 5/1890
UESB – Campus Vitória da Conquista – BA
S26e
Sarto, Celianai Silva Assis Del.
O ensino do gênero anúncio publicitário: leitura, interpretação e produção
de texto multimodal. / Celianai Silva Assis Del Sarto, 2018.
128f.
Orientador (a): Drª. Maria Aparecida Pacheco Gusmão.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Mestrado
Profissional em Letras – PROFLETRAS, Vitória da Conquista, 2018.
Inclui referência F. 100 a 104.
1. Gênero discursivo – Anúncio publicitário. 2. Leitura - Interpretação. 3.
Multimodalidade - Multiletramento. I. Gusmão, Maria Aparecida Pacheco. II.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Mestrado Profissional em Letras –
PROFLETRAS III. T.
CDD 372.4
CDD: 469
Linguística, Vitória da Conquista, 2013.
Referências: f. 69-73-.
1. Vogais médias – Percepçaõ d fala. 2. Fonologia.
CELIANAI SILVA ASSIS DEL SARTO
O ENSINO DO GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO: LEITURA,
INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO MULTIMODAL
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________ Profª. Drª. Ester Maria de Figueiredo Souza
PROFLETRAS - UESB
_______________________________________________________________ Profª Drª. Sílvia Regina Marques Jardim
PPGEN - UESB
______________________________________________________________ Profª Drª. Maria Aparecida Pacheco Gusmão
PROFLETRAS - UESB (Orientadora)
Vitória da Conquista, 13 de abril de 2018.
Dedico este meu trabalho a minha família
e aos meus alunos, por serem fonte de
motivação para a busca do meu
crescimento pessoal e profissional.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, por todas as coisas e por me guiar neste meu propósito.
A minha mãe por ser uma incentivadora incansável e, ao meu pai (in
memoriam) por seu exemplo em vida de dedicação e amor a nossa família.
A minha irmã, Larissa, por todo apoio e incentivo.
Ao meu esposo, Ricardo, por ser companheiro em todos os momentos.
Aos meus amados filhos, Levi e Henri, por serem meu amor maior e razões de
todos os meus esforços.
A minha orientadora professora Drª Maria Aparecida Pacheco Gusmão, que me
guiou e me apoiou com competência e sabedoria nessa caminhada.
Ao Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras), pela iniciativa em
oferecer aos docentes de língua portuguesa do ensino fundamental capacitação em
nível de mestrado.
Aos professores do ProfLetras pelos conhecimentos partilhados nessa jornada
e, aos colegas da III turma do ProfLetras por todas as experiências vividas.
À direção do Colégio Estadual PFS por acreditar em meu trabalho e por
permitir a aplicação da intervenção pedagógica.
Aos meus colegas de trabalho pelo apoio e torcida e, aos meus alunos do 9º
ano B, ano 2017, pela disponibilidade em participar da pesquisa.
Às professoras da Banca Examinadora Ester Maria de Figueiredo Souza e
Sílvia Regina Marques Jardim pelas valiosas colaborações.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por
viabilizar minha pesquisa e oportunizar-me a formação em mestre.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste sonho.
MEU MUITO OBRIGADA!
RESUMO
O presente estudo trata do ensino do gênero anúncio publicitário e tem como
objetivo investigar a apropriação da leitura e interpretação e produção de anúncios
publicitários como gênero discursivo que possibilita a construção de sentidos por
meio dos elementos semióticos. Este estudo encontra-se embasado nos
fundamentos teóricos de Bakhtin (2011, 2014), Geraldi (2006), Travaglia (2002),
Marcushi (2008), Rojo (2012, 2015), entre outros estudiosos da linguagem, além de
Kress e Leeuwen (1996, 2001), Carvalho (1996, 2014), Sandmann (2001), dentre
outros acerca da linguagem publicitária – assim como se norteia pelos documentos
oficiais de educação no Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental de Língua Portuguesa (BRASIL, 1998) e a Base Nacional Curricular
Comum (BRASIL, 2017). Esta pesquisa adota como abordagem investigativa a
pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011) e se desenvolve por meio da Sequência Didática
(SCHNEUWLY e DOLZ 2004), com uma proposta de intervenção pedagógica que
visa proporcionar aos estudantes envolvidos na pesquisa os conhecimentos capazes
de auxiliá-los no desenvolvimento de sua competência leitora e interpretativa de
textos multimodais. Os resultados obtidos no decorrer do processo, entre as
produções inicial e final, constatam que a aplicação da pesquisa alcançou resultados
exitosos, apontando para um progresso significativo no desenvolvimento das
habilidades de leitura, interpretação, e também escrita de textos multimodais por
meio do anúncio publicitário.
Palavras-chave: Leitura. Interpretação. Gênero discursivo. Anúncio publicitário.
Multimodalidade.
ABSTRACT
The present study deals with the teaching of advertising genre and aims to
investigate the appropriation of reading and interpretation and production of
advertisements as a discursive genre that enables the construction of meanings
through the semiotic elements. This study is based on the theoretical foundations of
Bakhtin (2011, 2014), Geraldi (2006), Travaglia (2002), Marcushi (2008), Rojo (2012,
2015) among other language scholars, besides Kress and Leeuwen (1996, 2001),
Carvalho (1996, 2014), Sandmann (2001), among others on the advertising language
- as well as the official Brazilian education documents, the National Curricular
Parameters for Basic Language Teaching in Brazil , 1998) and the National
Curricular Common Base (BRASIL, 2017). This research adopts as an investigative
approach to action research (THIOLLENT, 2011) and is developed through the
Didactic Sequence (SCHNEUWLY and DOLZ 2004), with a proposal of pedagogical
intervention that aims to provide the students involved in the research with the
knowledge able to assist them, and to develop their competence in reading and
interpreting multimodal texts. The results obtained during the process, between the
initial and final productions, show that the application of the research has achieved
successful results, pointing to a significant progress in the development of reading
skills, interpretation, and also writing multimodal texts through advertising .
Keywords: Reading. Interpretation. Discursive gender. Advertisement. Multimodality.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Esquema da Sequência Didática..........................................................47
FIGURA 2 - Texto produzido pelo Grupo 1...............................................................69
FIGURA 3 - Texto produzido pelo Grupo 2 ..............................................................70
FIGURA 4 - Texto produzido pelo Grupo 3............................................................. 71
FIGURA 5 - Texto produzido pelo Grupo 4...............................................................72
FIGURA 6 - Texto produzido pelo Grupo 5............................................................. 73
FIGURA 7 - Texto produzido pelo Grupo 6...............................................................73
FIGURA 8 - Anúncio do Boticário..............................................................................75
FIGURA 9 - Anúncio do creme dental Sorriso...........................................................75
FIGURA 10 - Anúncio da Agência Shangri-lá............................................................77
FIGURA 11 - Resposta do grupo 2............................................................................78
FIGURA 12 - Resposta do grupo 1............................................................................78
FIGURA 13 - Resposta do grupo 5............................................................................79
FIGURA 14 - Resposta do grupo 3............................................................................79
FIGURA 15 - Resposta do grupo 4............................................................................79
FIGURA 16 - Anúncio da Hortifruti.............................................................................81
FIGURA 17 - Resposta do grupo 3............................................................................81
FIGURA 18 - Resposta do grupo 6............................................................................82
FIGURA 19 - Resposta do grupo 1............................................................................82
FIGURA 20 - Resposta do grupo 3............................................................................82
FIGURA 21 - Resposta do grupo 1............................................................................83
FIGURA 22 - Resposta do grupo 4............................................................................83
FIGURA 23 - Tirinha de Mafalda................................................................................84
FIGURA 24 - Resposta do grupo 1............................................................................84
FIGURA 25 - Resposta do grupo 1............................................................................85
FIGURA 26 - Anúncio do Ministério da Saúde...........................................................86
FIGURA 27 - Resposta do grupo 5............................................................................87
FIGURA 28 - Resposta do grupo 2............................................................................87
FIGURA 29 - Anúncio do Ministério da Saúde...........................................................88
FIGURA 30- Resposta do grupo 4............................................................................89
FIGURA 31 – Produção Final do grupo 1.................................................................90
FIGURA 32 – Produção Final do grupo 2.................................................................91
FIGURA 33 – Produção Final do grupo 3.............................................................93
FIGURA 34 – Produção Final do grupo 4.............................................................94
FIGURA 35 – Produção Final do grupo 5.............................................................95
FIGURA 36 – Produção Final do grupo 6.............................................................96
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Anúncio publicitário – Aspectos estruturais do anúncio publicitário.....50
QUADRO 2 - Anúncio publicitário – Aspectos Discursivos do anúncio publicitário...50
QUADRO 3 - Anúncio publicitário – Aspectos Linguísticos do anúncio publicitário..50
QUADRO 4 - Oficina 1: Apresentação da Proposta de Intervenção.........................51
QUADRO 5 - Oficina 2: Produção Inicial do Anúncio Publicitário.............................52
QUADRO 6 - Oficina 3: Aspectos Estruturais do Anúncio Publicitário......................53
QUADRO 7 - Oficina 4: Aspectos Estruturais do Anúncio Publicitário......................55
QUADRO 8 - Oficina 5: Aspectos Discursivos do Anúncio Publicitário.....................56
QUADRO 9 - Oficina 6: Aspectos Discursivos do Anúncio Publicitário......................57
QUADRO 10 - Oficina 7: Aspectos Linguísticos do Anúncio Publicitário...................59
QUADRO 11 - Oficina 8: Aspectos Linguísticos do Anúncio Publicitário...................59
QUADRO 12 - Oficina 9: Produção Final do Anúncio Publicitário.............................61
QUADRO 13 - Critérios de análise de anúncios publicitários....................................97
QUADRO 14 - Legenda de critérios de análise de anúncios publicitários.................97
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – O que os alunos mais gostam de ler?................................................63
GRÁFICO 2 – Influência do anúncio publicitário na vida dos alunos.........................66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BNCC Base Nacional Curricular Comum
NLG New London Group
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
SD Sequência Didática
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 16
1 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM, DE LEITURA E O
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
20
1.1 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA DE LINGUAGEM 23
1.2 LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS 25
1.3 LEITURA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS: PCN E
BNCC
27
1.4 O TEXTO E OS GÊNEROS DISCURSIVOS 29
2 O ANÚNCIO PUBLICITÁRIO COMO GÊNERO
DISCURSIVO
32
2.1 CARACTERIZANDO O GÊNERO ANÚNCIO
PUBLICITÁRIO
33
3 LETRAMENTO, MULTILETRAMENTO E TEXTO
MULTIMODAL
38
3.1 A LEITURA DO TEXTO MULTIMODAL 39
3.1.1 O gênero anúncio publicitário como forma de
letramento multimodal
43
4 METODOLOGIA 44
4.1 PESQUISA QUALITATIVA E PESQUISA AÇÃO: A
SEQUENCIA DIDÁTICA COMO INSTRUMENTO DE
PRODUÇÃO DE DADOS
44
4.2 CONTEXTO DA PESQUISA 48
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA 49
4.4 PRODUÇÃO DE DADOS 50
4.5 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: SEQUÊNCIA
DIDÁTICA
50
5 ANÁLISE DOS DADOS 62
5.1 QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO (OFICINA 1) 62
5.2 PRODUÇÃO INICIAL (OFICINA 2) 66
5.3 MÓDULOS 74
5.3.1 Módulo I – Aspectos Estruturais do Anúncio
Publicitário (OFICINA 3)
74
5.3.2 Módulo I – Aspectos Estruturais do Anúncio
Publicitário (OFICINA 4)
77
5.3.3 Módulo II – Estrutura Discursiva do Anúncio
Publicitário (OFICINA 5)
80
5.3.4 Módulo II – Estrutura Discursiva do Anúncio
Publicitário (OFICINA 6)
84
5.3.5 Módulo III – Estrutura Linguística do Anúncio
Publicitário (OFICINA 7)
86
5.3.6 Módulo III – Estrutura Linguística do Anúncio
Publicitário (OFICINA 8)
88
5.4 PRODUÇÃO FINAL DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
(OFICINA 9)
89
CONCLUSÃO 98
REFERÊNCIAS 100
APÊNDICES 105
ANEXOS 121
16
INTRODUÇÃO
O presente estudo foi motivado pelas observações e reflexões oriundas da sala
de aula no percurso de 13 anos de magistério, todos esses na mesma unidade
escolar, o Colégio Estadual Professora Faraildes Santos. A partir da experiência
proporcionada pela prática pedagógica, percebi1 as dificuldades e o pouco interesse
de muitos alunos com relação às atividades de leitura e interpretação de textos. A
maioria dos alunos mantém uma relação de aversão pela leitura, o que acaba
criando um entrave para o bom entendimento do texto e, consequentemente, para
uma interpretação efetiva e significativa do texto. Diante dessas inquietações, os
professores, muitas vezes, não encontram caminhos que possam conduzir ao
desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação, assim como à
competência discursiva dos alunos nas aulas de Língua Portuguesa.
Podemos afirmar que um dos objetivos das aulas de Língua Portuguesa é
garantir a apropriação de práticas de linguagem para que os alunos possam
participar de forma efetiva na sociedade em que vivem. Textos que exigem níveis
mais complexos de letramento como os multimodais, que agregam a linguagem
verbal e a não verbal, estão cada dia mais presentes. Entretanto, como professores,
percebemos que há um grande número de alunos que, mesmo ao final do Ensino
Fundamental, apresenta limitações e dificuldades significativas na leitura de tais
textos, o que compromete, significativamente, a compreensão, a interpretação e a
construção dos sentidos do texto.
O texto faz parte da nossa vida e deve contribuir para organizar as atividades
comunicativas e interativas do dia a dia. E os diferentes textos multimodais que
utilizamos diariamente possuem características comuns, como o conteúdo, a
estrutura, a linguagem, dentre outras informações linguísticas, que lhes permitem
serem organizados, configurando-se um gênero textual.
Os gêneros do discurso estão diluídos nas sociedades e se fazem presentes
em todas as instâncias discursivas, o que permite que sejam adaptados e
adequados a diferentes situações comunicativas. Os documentos oficiais de
1 Ao falar de minha prática pedagógica individual, usarei a primeira pessoa do singular, porém a
opção pela escrita da dissertação será pela primeira pessoa do plural.
17
Educação no Brasil, como os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL,
1998), e atualmente, a Base Nacional Curricular Comum – BNCC (BRASIL, 2017)
apontam as diretrizes para o ensino de língua pautado em textos. Assim, o trabalho
com gêneros discursivos é uma forma de possibilitar ao aluno, por meio dos seus
conhecimentos prévios, construir os sentidos de um texto.
Considerando que, na sociedade atual, a maioria dos alunos está em constante
contato com demandas sociais de leitura que têm exigido habilidades de letramento
mais avançadas, observamos a importância de trabalhar as diferentes linguagens
presentes nos textos multimodais, bem como a necessidade de criar condições para
o desenvolvimento das práticas de linguagem que possibilitem ao aluno construir
conhecimentos e refletir acerca do uso da língua. Nessa perspectiva, selecionamos
o gênero discursivo anúncio publicitário por agregar as características dos textos
multimodais, e também viabilizar a exploração do senso crítico e da criatividade,
ampliando, assim, a competência leitora, discursiva e artística dos alunos.
Dessa forma, optei por realizar com meus alunos um trabalho com anúncios
publicitários, envolvendo situações em que essa exploração faça sentido para eles,
possibilitando o reconhecimento e compreensão de suas finalidades de uso e de
organização e, sobretudo, ampliando a habilidade de interpretação e inferência de
ideias, transcendendo, assim, o nível superficial de leitura.
Com isso, a questão que nos conduziu neste estudo é: Como ocorre o ensino
de leitura, interpretação e produção do texto multimodal anúncio publicitário com
alunos do 9º ano do Ensino Fundamental?
Refletindo acerca de tal ponto, apontamos uma proposta de aplicação
pedagógica com uma Sequência Didática que teve como objetivo geral investigar a
apropriação da leitura, interpretação e produção de anúncios publicitários como
gênero discursivo multimodal que possibilite a construção de múltiplos sentidos por
meio dos elementos semióticos. No tocante aos objetivos específicos, buscamos
desenvolver atividades que possibilitassem:
• Explorar os anúncios publicitários, partindo dos conhecimentos prévios dos
alunos, possibilitando deduções e descobertas;
• Proporcionar aos alunos a leitura e a interpretação de textos multimodais, por
meio de diversos anúncios publicitários;
• Analisar textos do gênero anúncio publicitário, bem como suas características
estruturais, discursivas e linguísticas;
18
• Aplicar uma Sequência Didática que possa favorecer a leitura e interpretação
de textos multimodais por meio do gênero anúncio publicitário.
Dessa forma, objetivamos, com este estudo, investigar o processo de leitura,
interpretação e produção de texto multimodal anúncio publicitário por meio da
realização de uma proposta de aplicação pedagógica - Sequência Didática – que
proporcione aos estudantes envolvidos na pesquisa os conhecimentos linguísticos
capazes de auxiliá-los no desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação
do texto multimodal, a fim de que compreendam os sentidos do texto de forma mais
ampla e global. Ressaltamos que a proposta de pesquisa de intervenção é um
requisito do Programa de Mestrado Profissional em Letras – ProfLetras.
Com sua pretensão assim delimitada, esse texto se organiza em capítulos da
seguinte forma:
No capítulo um desse presente estudo, discorremos acerca da linguagem e da
leitura, a partir das contribuições do estudioso russo Mikhail Bakhtin, abordando a
concepção interacionista da linguagem, segundo a sua teoria enunciativo-discursiva,
assim como de seus seguidores contemporâneos, tais como Geraldi (1993, 1996,
1997), Koch (1998, 2004, 2011, 2013). Tratamos ainda, da construção de sentidos
no texto e a leitura a partir da perspectiva referendada nos documentos oficiais de
educação no Brasil – os PCN (BRASIL,1998) e a BNCC (BRASIL, 2017).
No capítulo dois, trazemos considerações sobre o gênero do discurso
selecionado como cerne desse estudo, o anúncio publicitário, suas características e
concepções teóricas como gênero discursivo, a partir das contribuições de
estudiosos como Carvalho (1996, 2014), Sandmann (2001), dentre outros.
No capítulo três, apresentamos as concepções teóricas acerca do letramento,
multiletramento e texto multimodal, apontando o anúncio publicitário como forma de
letramento multimodal, tomando como referência os estudos de Kress e Van
Leeuwen (1996, 2001), Rojo (2012, 2015) e outros estudiosos.
No capítulo quatro, descrevemos a metodologia utilizada na realização deste
estudo, bem como o método e a abordagem utilizados na pesquisa, e também
caracterizamos o contexto social e os sujeitos envolvidos. Apontamos ainda, o
processo de produção de dados, registro e análise da pesquisa, e em seguida,
detalhamos a proposta de intervenção aplicada em sala de aula, tomando por base
o modelo proposto por Joaquim Dolz, Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly
(2004).
19
Por fim, no quinto capítulo, desenvolvemos a análise dos aspectos estruturais,
discursivos e linguísticos destacados durante a intervenção pedagógica e
registrados nas produções inicial e final da sequência didática.
Na conclusão, resgatamos as constatações averiguadas, apresentando as
considerações a que chegamos após a análise dos dados da pesquisa e, finalmente,
tecemos as considerações acerca do ensino do gênero anúncio publicitário, tomado
como instrumento de aprendizagem neste estudo.
20
1 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM, DE LEITURA E O ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro.
MIKHAIL BAKHTIN
As diferentes teorias acerca da linguagem e do ensino de leitura permeiam o
estudo de língua materna. A evolução dos estudos linguísticos aponta que a forma
como o professor concebe a linguagem, mesmo que isso não ocorra de forma
intencional, traz implicações na metodologia do ensino de língua, bem como
direciona sua prática pedagógica no trato com a leitura.
Dessa forma, ao tentar propor novas estratégias para o ensino de leitura, é
preciso apontar algumas concepções teóricas sobre linguagem, já que a concepção
de linguagem/língua adotada pelo educador encaminhará o seu percurso para
desenvolver estratégias para o ensino de língua materna. Cada concepção de
linguagem adotada por um professor, ainda que inconscientemente, norteia a sua
concepção de leitura, bem como suas práticas de linguagem.
Com relação a isso, Geraldi (1996) afirma que, antes de qualquer atividade em
sala de aula, é necessário considerar que toda e qualquer metodologia de ensino
está relacionada a uma opção política que envolve teorias de compreensão e de
interpretação da realidade com mecanismos usados em sala de aula. Também
sobre isso, Travaglia ressalta que:
[...] o modo como se concebe a natureza fundamental da língua altera em muito o como se estrutura o trabalho com a língua em termos de ensino. A concepção de linguagem é tão importante quanto à postura que se tem relativamente à educação (TRAVAGLIA, 2002, p. 21).
Dessa forma, ao considerar que a percepção que o professor tem de leitura e
do ato de ler influencia as suas práticas pedagógicas, é necessário refletir acerca
das concepções de linguagem e de leitura, assim como de que forma estas
interferem na aprendizagem dos alunos. Porque conforme, também, afirma Antunes
21
(2003, p. 39) “[...] toda atividade pedagógica de ensino do português tem subjacente,
de forma explícita ou apenas intuitiva, uma determinada concepção de língua”.
A percepção de língua varia de acordo com cada momento social e histórico, o
que mostra a dinamicidade da linguagem. No tocante às concepções de linguagem,
tomamos por base os estudos de Geraldi (1996) que aponta três concepções:
linguagem como expressão do pensamento, linguagem como instrumento de
expressão e linguagem como forma de interação.
A concepção de linguagem como expressão do pensamento é considerada
pelos estudiosos da língua como a primeira percepção de linguagem, que se
consolida a partir do início do século XX com os estudos de Saussure. Tal
concepção considera que a linguagem se constrói no interior da mente, ou seja, o
ser humano nasce com a capacidade de expressar o pensamento. De acordo com
Geraldi (1997, p. 41) “[...] essa concepção ilumina, basicamente, os estudos
tradicionais. Se concebermos a linguagem como tal, somos levados a afirmações -
correntes - de que pessoas que não conseguem se expressar não pensam”.
Portanto, segundo essa concepção, a língua é vista como um produto acabado,
onde não há espaço para variações linguísticas.
Essa concepção de linguagem se relaciona à concepção de leitura que tem o
autor clássico de textos literários como foco principal para leitura em sala de aula.
Nessa concepção, o texto é visto como um produto do pensamento do autor, sendo
que, ao leitor cabe apenas captar essa representação do pensamento do autor,
atuando como sujeito passivo no processo de comunicação, e o seu papel de
construtor de sentidos do texto não é considerado. Sobre isso, Koch e Elias afirmam:
A leitura, assim, é entendida como a atividade de captação das ideias do autor, sem se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, a interação autor-texto-leitor com propósitos constituídos sociocognitivo-interacionalmente. O foco de atenção é, pois, o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor, bastando tão-somente ao leitor captar essas intenções (KOCH; ELIAS, 2013, p. 10).
Essa concepção leva a um ensino de leitura em que o estudo do texto fica
pautado na estrutura da língua, nos conhecimentos das regras e domínio da norma
padrão. Dessa forma, a concepção de linguagem como expressão do pensamento
entende o texto:
22
[...] como um produto – lógico – do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte se não “captar” essa representação mental, juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel passivo (KOCH; ELIAS, 2013, p. 10).
Assim, o sujeito é individual e dono de suas ações, isto é, diz exatamente
aquilo que deseja, e o interlocutor, por sua vez, exerce o papel passivo somente
captando as informações. A partir de tais considerações, podemos relacionar a
primeira concepção à gramática prescritiva, uma vez que, de acordo com Geraldi
(1997), esta limita o estudo da língua a regras gramaticais e à extração de
significados no texto, e não leva o aluno a refletir sobre a língua.
Na segunda concepção, a linguagem como instrumento de comunicação, a
língua é tida como um código, um sistema linguístico imóvel e estático, pautada na
enunciação monológica - isto é, a linguagem se apresenta como algo puramente
individual, a enunciação se forma no psiquismo do indivíduo e se exterioriza de
forma objetiva por meio do código de signos - em que basta dominar esse código
para se comunicar. Para essa concepção, a linguagem é uma ferramenta para
transmitir uma mensagem.
Essa abordagem nos remete à segunda concepção de leitura, em que o foco
encontra-se apenas no texto, e este é apenas um produto da codificação, sendo que
ao leitor cabe, apenas, decodificar o texto por meio dos conhecimentos que tem
acerca do código utilizado. Dessa forma, a leitura é um processo de decodificação,
no qual, por meio do conhecimento do código linguístico, o leitor atinge o
entendimento do texto. Sobre isso, Koch e Elias (2015, p.10) postulam que “[...]
consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em
sua linearidade, uma vez que tudo está dito no dito”. Portanto, nessa concepção, de
acordo com as autoras, ao leitor cabe o reconhecimento do sentido das palavras e
estruturas do texto.
A terceira concepção de linguagem, a qual adotamos como cerne do nosso
trabalho, é a concepção interacionista da língua – a linguagem como interação – que
foi desenvolvida por Mikhail Bakhtin, cuja teoria abordaremos melhor mais adiante,
que defende que a interação verbal constitui a realidade fundamental da
linguagem. Nessa concepção, a língua é vista como ação social e, de acordo com
Koch e Elias (2013), os sujeitos são construtores sociais que ativamente se
23
constroem e são construídos no texto, que é considerado o próprio lugar da
interação.
Para Bakhtin, a linguagem é concebida a partir de sua realidade dialógica e a
língua é uma abstração quando concebida isolada da situação social que a
determina. Segundo esse autor, “[...] a língua vive e evolui historicamente na
comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da
língua nem no psiquismo individual dos falantes” (BAKHTIN, 2014, p. 124). A essa
ideia, Marcuschi corrobora que:
Essa posição toma a língua como uma atividade sociohistórica, uma atividade cognitiva e atividade sociointerativa. Na realidade, contempla a língua em seu aspecto sistemático, mas observa-a em seu funcionamento social, cognitivo e histórico, predominando a ideia de que o sentido se produz situadamente e que a língua é um fenômeno encorpado e não abstrato e autônomo (MARCUSCHI, 2008, p. 60).
Com isso, podemos relacionar a concepção interacionista da linguagem à
terceira concepção de leitura, na qual o foco é a interação autor-texto-leitor. Nessa
concepção, os sujeitos são ativos, e de forma dialógica constroem o sentido de um
texto por meio da interação texto-sujeitos. Koch e Elias afirmam que:
A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo (KOCH; ELIAS, 2013, p. 10).
Portanto, a concepção interacionista da língua concebe a língua como um
resultado de um trabalho coletivo que repercute as relações sociais dos falantes. E
essa corrente teórica será mais bem delineada no subcapítulo seguinte.
1.1 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA DE LINGUAGEM
Conforme já mencionamos, a concepção interacionista da linguagem surge a
partir dos estudos de Bakhtin, no início do século XX, e concebe a linguagem como
uma ação social e dialógica ligada à noção de interação verbal.
24
Bakhtin entende a linguagem como um fenômeno de interlocução que se pauta
na relação indissociável entre ela, o ser humano e a sociedade. De acordo com
Geraldi (2012), mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um
emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana.
A teoria bakhtiniana baseia-se no princípio da enunciação como resultado das
relações sociais e das interações verbais. Ou seja, a perspectiva bakhtiniana não
concebe o estudo da língua sem levar em consideração a enunciação. Esta é,
portanto, o eixo da teoria de Bakhtin. Dessa forma, a língua se constitui na corrente
da comunicação verbal, já que:
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicológico de sua produção, mas pelo fenômeno da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 2014, p. 125).
Bakhtin se opõe, desse modo, às correntes de pensamento linguísticas, citadas
anteriormente que, segundo a teoria bakhtiniana, concebem a língua sob um ponto
de vista reducionista ao considerá-la, respectivamente, um sistema abstrato de
signos e uma expressão da realidade interna.
Assim, Bakhtin situa a língua e os indivíduos em um contexto sócio-histórico e
defende a natureza social da linguagem em detrimento da natureza individual. Para
o autor, o caráter ideológico do enunciado se caracteriza na relação que existe entre
os interlocutores, isto é:
A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa desse interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos [...] (BAKHTIN, 2014, p. 112) (Grifos do autor).
Portanto, a concepção interacionista da linguagem tem alicerce na teoria
enunciativa-discursiva de Bakhtin, que concebe o discurso como proveniente do
diálogo que, por sua vez, é considerado como propriedade essencial da linguagem;
e também, nas suas observações acerca do dialogismo da palavra, já que o autor
não a considera monológica, individual, mas sim guiada socialmente na relação de
interação entre os interlocutores do discurso.
25
Podemos afirmar que o conceito bakhtiniano de dialogismo está
intrinsecamente relacionado ao conceito de compreensão responsiva ativa. Nesse
seguimento, a compreensão se dá a partir da mobilização de uma série de vivências
sociais e historicamente construídas pelo interlocutor que são ativadas para emitir
uma resposta a certo discurso, denotando por parte do locutor, um juízo de valor,
uma posição, na qual ele prevê que o seu interlocutor emitirá uma compreensão
ativa, uma resposta. Assim, quando um locutor fala ou escreve, deve considerar
diferentes fatores que caracterizam o seu interlocutor, tais como: formação
intelectual, posição social, grau de intimidade, dentre outros. A partir da
consideração desses fatores, o locutor elege o gênero do enunciado a ser utilizado
na comunicação, a fim de alcançar a dialogicidade.
Portanto, em conformidade com o pensamento bakhtiniano, o sujeito não
apenas se expressa, ele age juntamente com seu interlocutor, atribuindo, a cada
ação enunciativa, diferentes vozes, isto é:
O enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva e não pode ser separado dos elos precedentes que o determinam tanto de fora quanto de dentro, gerando nele atitudes responsivas diretas e ressonâncias dialógicas. Entretanto, o enunciado não está ligado apenas aos elos precedentes, mas também aos subsequentes da comunicação discursiva. Quando o enunciado é criado por um falante, tais elos ainda não existem. Desde o início, porém, o enunciado se constrói levando em conta as atitudes responsivas, em prol das quais ele, em essência, é criado. O papel dos outros para quem se constrói o enunciado, é excepcionalmente grande [...] (BAKHTIN, 2011, p. 300-1).
Dessa forma, Bakhtin esclarece que o interlocutor não é um ouvinte passivo,
mas sim, um participante ativo da comunicação discursiva, pois “[...] desde o início o
falante aguarda a resposta deles, espera uma ativa compreensão responsiva. É
como se todo enunciado se construísse ao encontro dessa resposta.” (BAKHTIN,
2011, p. 301)
1.2 LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
O conceito de leitura modificou bastante no decorrer do tempo a partir do
desenvolvimento dos estudos linguísticos. Atualmente, a concepção interacionista
de leitura se consolidou como a abordagem defendida pelos estudiosos
26
contemporâneos da língua. Essa perspectiva considera que a construção de
sentidos se dá por meio da interação verbal e são delimitados pelo contexto
histórico-social dos interlocutores, bem como pelas condições de produção do
discurso.
Em conformidade com o que foi dito anteriormente, a visão bakhtiniana
concebe os interlocutores como sujeitos sociais, e que a linguagem possui caráter
dialógico. A compreensão da leitura também ocorre de forma dialógica. Segundo
Geraldi (1993), que partilha do pensamento de Bakhtin sobre a língua, a leitura é um
dialógo. Assim, segundo esse autor, a leitura também se realiza a partir da interação
do leitor com o texto.
A compreensão de um texto perpassa por processamentos cognitivos, mas
também é preciso considerar os aspectos culturais, sociais e interacionais. As
abordagens interacionistas consideram a interação o cerne da atividade linguística.
Dessa forma, a leitura não pode ser considerada apenas um ato de decifrar, mas
sim uma construção de sentidos que se dá através de muitos aspectos, assim como
do conhecimento de mundo dos interlocutores. Nesse seguimento, Geraldi destaca:
A leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. Encontro com o autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita. Como o leitor, neste processo, não é passivo, mas é agente que busca significações, o sentido de um texto não é jamais interrompido, já que ele se produz nas situações dialógicas ilimitadas que constituem suas leituras possíveis. GERALDI (1997, p. 80)
Diante do exposto, é possível notar o processo dialógico que envolve o autor e
o leitor, assim como as diferentes maneiras que esse mesmo processo pode ocorrer
em um texto. A leitura se caracteriza, portanto, como uma atividade de produção e
construção de sentidos, na qual o leitor utiliza-se de estratégias para atribuir
significados ao texto, tais como predição, inferência, leitura objetiva. Essas
estratégias podem ser conscientes ou inconscientes, contudo auxiliam o leitor a
compreender e interpretar os sentidos do texto.
Bakhtin concebe a leitura como uma atividade dialógica que envolve atitudes
responsivas ativas e que as trocas discursivas entre os sujeitos possibilitam a
elaboração de enunciações e enunciados que se concretizam a partir da
compreensão do ato interlocutivo entre os envolvidos. Apoiando-se nesse autor,
27
Geraldi (1993) afirma que o trabalho com a leitura ocorre em dois sentidos de
produção:
[...] de um lado ela incide sobre “o que tem a dizer”, pela compreensão responsiva que possibilita, na contra palavra do leitor à palavra do texto que se lê; de outro lado, ela incide sobre “as estratégias do dizer” de vez que, em sendo um texto, supõe um locutor/autor e este se constitui como tal da mesma forma apontada por nós na produção de textos no item anterior. O produto de trabalho de produção se oferece ao leitor, e nele se realiza a cada leitura, num processo dialógico cuja trama toma as pontas dos fios do bordado tecido para tecer sempre o mesmo e outro bordado, pois as mãos que agora tecem trazem e traçam outra história (GERALDI, 1993, p.166).
Assim, a leitura é entendida como um processo cooperativo em que o leitor
interage com o texto e com o autor com o objetivo de atribuir significação ao que foi
lido. Diante dessa perspectiva interacionista de leitura, o foco da escola tem se
voltado para a formação de um letramento crítico por parte dos estudantes, em que
ler não se restringe apenas a atribuir sentidos, mas também, desenvolver a
competência de refletir, questionar e se posicionar criticamente diante do que foi
lido. Sobre o posicionamento crítico do leitor diante do texto, Lajolo reflete:
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações o sentido de um texto. É a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebela-se contra ela, propondo outra não prevista (LAJOLO, 2009, p. 59).
Portanto, é preciso privilegiar um ensino de leitura que desenvolva nos
estudantes uma postura questionadora e crítica diante das múltiplas situações de
leitura. Para tanto, as aulas de leitura precisam possibilitar ao aluno ir além da
decodificação, permitindo que percebam o contexto que envolve a escrita, como
também a não neutralidade do texto ao perceber os objetivos de quem escreve.
1.3 LEITURA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS – PCN e BNCC
A concepção interacionista de linguagem norteia os pressupostos dos
documentos oficiais de educação no Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais -
28
PCN, e mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC2. Por isso,
esses documentos propõem o ensino de língua portuguesa pautado na noção de
interação verbal, e na construção dos conhecimentos, levando em consideração os
fatores sociais, históricos, culturais e psicológicos dos sujeitos, a fim de que estes
possam interpretar a realidade e construir novos significados. Acerca dessa
concepção de língua/linguagem os PCN afirmam que:
O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio de língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social (BRASIL, 1998, p.19).
Esta visão de língua como forma de interação dialógica também é o eixo
norteador do objetivo do ensino de Língua Portuguesa, no ensino fundamental, da
BNCC, que busca garantir o acesso aos saberes linguísticos necessários para a
participação social e o exercício da cidadania, porque “[...] é por meio da língua que
o ser humano pensa, comunica-se, tem acesso à informação, expressa e defende
pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo e produz conhecimento”.
(BRASIL, 2017, p.63)
Com isso, a partir dessa abordagem interacionista da linguagem, os
documentos vêm reforçar também tal concepção de leitura, uma vez que
consideram o ensino de leitura como uma atividade de construção de significados,
na qual não apenas os conhecimentos linguísticos do leitor, mas também os
conhecimentos de mundo devem ser levados em consideração. Sobre isso declaram
os PCN:
A leitura não se trata simplesmente de extrair informações da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita (BRASIL, 1998, p.53).
2 A Base Nacional Comum Curricular é um documento de caráter normativo que define o conjunto
orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao
longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Foi homologado em 20/12/2017, em Brasília,
pelo Ministro da Educação José Mendonça Filho.
29
Sendo assim, a leitura não é apenas um ato de decodificação, e sim um
processo de construção de sentidos por parte do leitor. Com isso, vale ressaltar que
a competência em ler e escrever só é desenvolvida a partir de atividades de leitura e
escrita, as quais se operam por meio de uma prática docente que visa implementar
estratégias para que os alunos aprendam a refletir sobre o que leem e adquiram
autonomia intelectual enquanto leitor.
A BNCC considera que o ensino de leitura na disciplina de Língua Portuguesa,
deve se basear no texto e suas diferentes modalidades, verbal e não-verbal, com o
objetivo de contemplar as mais diversas formas de letramento. Acerca disso, a
BNCC aponta que:
O texto é o centro das práticas de linguagem e, portanto, o centro da BNCC para Língua Portuguesa, mas não apenas o texto em sua modalidade verbal. Nas sociedades contemporâneas, textos não são apenas verbais: há uma variedade de composição de textos que articulam o verbal, o visual, o gestual, o sonoro – o que se denomina multimodalidade de linguagens (BRASIL, 2017, p. 63).
Portanto, percebemos que os documentos oficiais priorizam a formação de
leitores competentes capazes de compreender a língua enquanto construto social e
produzir sentidos aos diferentes tipos de textos e atividades discursivas.
1.4 O TEXTO E OS GÊNEROS DISCURSIVOS
Não erramos em afirmar que utilizar a língua é utilizar textos. Produzimos
textos a todo momento, e dessa forma nos comunicamos, interagimos com o mundo
por meio dos textos. Com a diversidade cada vez maior que a escrita tem
apresentado nas formas de comunicação, a noção de texto tem ganhado novas
ressignificações, já que não se trata apenas da linguagem verbal, mas também de
um rico material visual que se faz presente em textos multimodais. Para Rojo:
É preciso perceber que as imagens (estáticas ou dinâmicas) e os sons são concluintes de uma obra que, ao considerá-los, a elaboração de sentidos tomará muitos outros caminhos além daquele formado estritamente pelas palavras. Com isso, os textos passam a ser entendidos como “modos de dizer” que não precisam ser exclusivamente escritos: podem também apresentar elementos visuais e sonoros ou acontecer formas estáticas ou em movimento, como vemos em filmes ou propagandas. [...] isso construiria a
30
multimodalidade ou multissemiose dos textos, as quais instauram várias possibilidades de construção de sentido (ROJO, 2012, p.182).
Assim, as práticas de leitura e escrita precisam se expandir no sentido de
ampliar as formas de letramento e contemplar os textos multimodais. Tais textos
podem ser trabalhados por meio de gêneros discursivos que possibilitam o contato
com diferentes elementos semióticos, como é o caso do gênero anúncio publicitário,
cerne do nosso trabalho, e sobre o qual abordaremos detalhadamente no capítulo 2.
A simples referência a gêneros discursivos nos conduz a teoria enunciativo-
discursiva de Mikhail Bakhtin (2011) e à ideia de ações comunicativas ligadas à vida
social e cultural. Tais ações comunicativas são textos escritos ou orais, são as
diferentes práticas discursivas que permeiam a nossa vida diária. A acepção de
gênero discursivo defendida aqui é norteada pelos fundamentos teóricos do
pesquisador russo, bem como por outros seguidores da sua corrente teórica, tais
como Geraldi, Marcuschi e Rojo. Para Bakhtin,
A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. Cabe salientar em especial a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos), nos quais devemos incluir as breves réplicas do diálogo do cotidiano [...] (BAKHTIN, 2011, p. 262)
Sob esta perspectiva interacionista, os gêneros discursivos podem ser
considerados um valioso recurso para o ensino de leitura, interpretação e produção
de textos por apresentarem características relativamente estáveis e serem utilizados
nas mais diferentes formas de interação da língua.
Os usuários da língua, nas diversas formas de interação pela linguagem, fazem
uso de uma competência sociocomunicativa, que de acordo com Koch, “[...] permite-
lhes discernir o que é adequado no interior das práticas sociais em que se acham
engajados” (2004, p.160). Ainda, segundo a autora, “[...] há um conhecimento, pelo
menos intuitivo, de estratégias de construção e interpretação de textos próprios de
cada gênero” (2004, p.160).
Fazer uso desse conhecimento permite ao usuário da língua se expressar e
interagir de forma adequada nas diferentes práticas comunicativas.
31
Não há como falar de gêneros discursivos sem se remeter a Bakhtin (2011)
que considera que o uso da língua se dá em forma de enunciados que são
organizados em conteúdo temático; estilo e estrutura composicional.
No tocante ao conteúdo temático diz respeito ao conjunto de escolhas
temáticas feitas por um autor para alcançar o seu propósito comunicativo acerca de
um assunto, isto é, trata-se do que dizemos ou escrevemos nas diferentes situações
comunicativas em uma esfera social. Já o estilo, corresponde à maneira de
apresentação do conteúdo, bem como as escolhas dos recursos gramaticais,
lexicais e fraseológicos selecionados pelo autor, as quais permitem marcar sua
individualidade, característica mais comum nos gêneros literários, pois em
consonância com Bakhtin, nem todos os gêneros permitem o reconhecimento da
individualidade do falante, uma vez que tais gêneros são caracterizados conforme o
estilo do gênero e não de quem o escreve. No que diz respeito à estrutura
composicional, corresponde ao aspecto geral e à estruturação formal do gênero.
Diante dessas considerações, percebemos que o ensino de Língua Portuguesa
é um constante desafio para os professores, principalmente pela necessidade de
aproximar o ensino da língua à realidade de cada lugar e dos sujeitos envolvidos. E,
em meio a todo esse processo de adequação do ensino, os gêneros discursivos,
aliados ao uso das novas tecnologias, emergem como forma de possibilitar o estudo
da língua por meio do texto, conforme preconizam os documentos oficiais de
educação no Brasil, PCN e BNCC.
A seguir, abordamos as peculiaridades do gênero discursivo anúncio
publicitário e de que forma pode ser explorado nas práticas pedagógicas.
32
2 O ANÚNCIO PUBLICITÁRIO COMO GÊNERO DISCURSIVO
[...] nem todos os argumentos persuasivos são bons,
mas todos os argumentos bons são persuasivos.
Aristóteles
Tendo em vista as considerações acerca do texto, abordadas nos documentos
oficiais (PCN e BNCC), como foco e objeto de ensino nas aulas de Língua
Portuguesa, podemos afirmar que os gêneros discursivos estão cada vez mais em
evidência no campo educacional. Dentre o vasto contingente desses, destacamos os
multimodais, particularmente, o anúncio publicitário.
A denominação de gênero discursivo é apresentada por Bakhtin (BAKHTIN,
2011, p. 262) como “tipos relativamente estáveis de enunciados”. A
heterogeneidade de gêneros discursivos se encontra diluída nas mais diversas
esferas de circulação e esses se ampliam e se modificam a cada novo contexto
social. Os gêneros discursivos fazem parte do nosso cotidiano, pois onde há a
atividade humana da linguagem, há textos sendo produzidos com as mais diversas
finalidades comunicativas e em diferentes situações de interação. Machado (2005)
sintetiza de forma breve a importância dos estudos de Bakhtin acerca dessa
temática:
Os estudos que Mikhail Bakhtin desenvolveu sobre os gêneros discursivos considerando não a classificação das espécies, mas o dialogismo do processo comunicativo, estão inseridos no campo dessa emergência. Aqui as relações interativas são processos produtivos de linguagem. Consequentemente, gêneros e discursos passam a ser focalizados como esferas de uso da linguagem verbal ou da comunicação fundada na palavra (MACHADO, 2005, p. 152).
Ainda sobre os gêneros discursivos, Bakhtin os diferencia em dois aspectos: os
primários e os secundários. Segundo o autor, os primários possuem um discurso
simples e se formam em situações da vida cotidiana. Ao passo que os secundários
apresentam um discurso complexo e se constituem em situações de comunicação
mais formais, ou seja, mais evoluídas, principalmente escritas.
Tendo em vista o anúncio publicitário, este constitui um gênero com uma
finalidade discursiva que se pauta na persuasão, característica esta que lhe é
intrínseca. Essa persuasão se constrói por meio de um discurso sedutor que induz o
33
leitor a acreditar que ao comprar o produto, ele estará de posse das características e
qualidades enfatizadas no anúncio. Essa ideia é confirmada por Vestegaard e
SchrØder que referendam :
Hoje, porém, o valor simbólico de um produto é criado em campanhas planejadas e transferido às pessoas que o adquirem e consomem: o anúncio o transmite ao consumidor através da mercadoria, que assim se reveste de poderes mágicos, deixando o
consumidor inativo (VESTEGAARD E SCHRØDER, 2004, p. 241).
Dessa forma, para atingir o objetivo de persuadir e convencer o leitor, o
anúncio publicitário traz inúmeros recursos estilísticos, expressivos e linguísticos. O
tópico seguinte aborda de forma mais detalhada essas características do gênero
estudado.
2.1 CARACTERIZANDO O GÊNERO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
Para abordar o gênero anúncio publicitário, é preciso tecer algumas
considerações acerca da linguagem da propaganda. Sandmann (2001) distingue os
termos “publicidade” e “propaganda”, sendo o primeiro usado para a venda de
produtos ou serviços, ao passo que o segundo é usado tanto para a propagação de
ideias como no sentido de publicidade. Assim, o termo “propaganda” é considerado
pelo autor mais abrangente e o que pode ser usado em todos os sentidos.
Ainda sobre esta distinção, Carvalho (1996) aponta que a propaganda é um
termo mais abrangente que publicidade, estando o primeiro ligado a mensagens
políticas, religiosas e comerciais, enquanto que, o segundo, apenas a mensagens
comerciais.
No tocante ao caráter etimológico, o termo propaganda vem do latim propagare
e diz respeito ao ato de propagar, seja algo concreto, seja algo abstrato. Já o termo
publicidade teria sua raiz etimológica do francês publicitê, caráter do que é público.
A fim de obter maiores esclarecimentos acerca das definições, é necessário
dispor da Lei 4.680, que regulamenta o exercício da profissão de Publicitário e de
Agenciador de Propaganda:
Art 1º: São Publicitários aqueles que, em caráter regular e permanente, exerçam funções de natureza técnica da especialidade,
34
nas Agências de Propaganda, nos veículos de divulgação, ou em quaisquer empresas nas quais se produza propaganda. Art 5º: Compreende-se por propaganda qualquer forma remunerada de difusão de idéias, mercadorias ou serviços, por parte de um anunciante identificado (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, de 21 de junho de 1965).
Destarte, diante de tais considerações, entendemos que a propaganda está
ligada à divulgação de ideias, opiniões e/ou doutrinas com a finalidade de influenciar
um comportamento, enquanto que a publicidade adquiriu um sentido mais comercial,
se atendo ao anúncio de produtos, ideias e serviços. Nessa perspectiva, o anúncio é
entendido como:
[...] uma das grandes peças do imenso tabuleiro publicitário para comunicar algo com o propósito de vender serviços ou produtos, criar uma disposição, estimular um desejo de posse ou para divulgar e tornar conhecido algo novo e interessar aos consumidores, ou parte deles (SANT‟ANNA; JÚNIOR; GARCIA, 2013, p. 62).
O gênero anúncio publicitário, por sua vez, traz características marcantes da
linguagem da propaganda. O que caracteriza a publicidade é a presença de uma
linguagem retórica, na qual vários recursos da língua são utilizados para se atingir o
objetivo fundamental que é convencer, persuadir o leitor a adquirir um produto, ideia
ou serviço. Conforme Carvalho:
A mensagem publicitária faz uso de um conjunto de efeitos retóricos aos quais não faltam figuras de linguagem e estratégias persuasivas, ressaltando-se o uso dos itens lexicais. Essa mensagem pode apresentar também jogos de palavras que convidam o leitor a participar de um universo lúdico. Sua função primordial é tentar vender o produto e divulgar os serviços. Para isso, informa suas características básicas, exaltando as qualidades através de mecanismos de convencimento e sedução (CARVALHO, 2014, p.10).
Nesse sentido, é por meio de uma linguagem apelativa e persuasiva que os
anúncios publicitários são construídos. Diversos recursos linguísticos, estilísticos e
expressivos são utilizados nas propagandas impressas com o intuito de atrair a
atenção do leitor, dentre eles, os recursos ortográficos, fonológicos, sintáticos e
semânticos se destacam.
Tendo em vista que Barros (1994, p.4) afirma que o texto é “[...] tecido
polifonicamente por fios dialógicos de vozes que polemizam entre si, se contemplam
35
ou respondem umas às outras”, não podemos deixar de destacar um, se não, o
recurso linguístico mais recorrente nos anúncios publicitários, a intertextualidade.
Este recurso é muito usado na linguagem publicitária como fator constitutivo de
sentido.
Em consonância com Carvalho (2014), há, na intertextualidade, uma alusão a
textos anteriores que se apoia no conhecimento partilhado de mundo. O
entendimento do texto, nesse sentido, exige por parte do leitor, um conhecimento de
mundo mais amplo a fim de fazer alusões para dialogar com o texto, fazendo
inferências que permitam a sua compreensão.
O texto publicitário se caracteriza, ainda, por apresentar um caráter
predominantemente argumentativo, a fim de atingir sua função fundamental que é
convencer, persuadir. Carvalho (2014) acrescenta que quanto à análise dos modos
discursivos um texto publicitário abordará três tipos: argumentativo, narrativo e
descritivo.
O modo argumentativo é predominante na linguagem publicitária e, como cita
Carvalho, os componentes da argumentação na publicidade podem aparecer sob
diferentes formas, é o caso, por exemplo, do argumento de autoridade, no qual o
julgamento de pessoas ou de uma classe de prestígio é levado em consideração
como prova de uma tese.
Ainda de acordo com a autora:
Argumentar não significa apenas emitir ideias sobre o mundo. Para que haja uma argumentação é preciso que essas ideias estejam inseridas no âmbito de um questionamento que poderá acarretar um ato de persuasão (CARVALHO, 2014, p. 70).
Com relação ao discurso narrativo, apesar de não ser largamente utilizado na
publicidade, constitui uma forma eficaz de atingir o público, pois as narrativas
envolvem e seduzem o leitor. Também, segundo Carvalho (2014, p. 78), “[...] graças
a sua estrutura discursiva universalista, a narrativa constitui um meio prático para se
atingir qualquer público [...]”, uma vez que narrar, escutar e ler histórias atrai os
povos desde os tempos mais remotos.
Na abordagem do discurso descritivo, a autora destaca os procedimentos
linguísticos usados para descrever ou intensificar um produto ou marca. Geralmente,
numa abordagem descritiva, um produto é descrito de forma clara e objetiva, tendo
36
como intuito retratar um produto de maneira detalhada. Contudo, apesar de
apresentar outros tipos de modos discursivos nos anúncios publicitários,
observamos que prevalece a linguagem argumentativa.
Todos os recursos utilizados no anúncio publicitário revelam ideologias e a
forma como elas são conduzidas são importantes para o efeito argumentativo. De
acordo com Bakhtin:
O indivíduo enquanto detentor dos conteúdos de sua consciência, enquanto autor dos seus pensamentos, enquanto personalidade responsável por seus pensamentos e seus desejos, apresenta-se como um fenômeno puramente sócio-ideológico. Esta é a razão porque o conteúdo do psiquismo „individual‟ é, por natureza, tão social quanto a ideologia e, por sua vez, a própria etapa em que o indivíduo se conscientiza de sua individualidade e dos direitos que lhe pertencem é ideológica, histórica, e internamente condicionada por fatores sociológicos. Todo signo é social por natureza, tanto o exterior quanto o interior (BAKHTIN, 2014, p.58).
Esse autor defende que todo signo é social e o indivíduo constitui um sujeito
social e ideológico. Assim, cada signo, cada palavra, cada recurso retórico presentes
no texto publicitário revelam valores e algum comprometimento ideológico.
Podemos observar ainda, que nos anúncios publicitários há uma
predominância de verbos imperativos, mas podem ocorrer formas no presente do
indicativo, principalmente em anúncios cujo texto apresenta um discurso descritivo.
Os verbos, no texto publicitário, assumem o poder de conduzir o interesse do
receptor. Com isso, os verbos imperativos denotam certeza, não permitem dúvidas,
uma vez que a vacilação se contrapõe a persuasão.
Como apontado anteriormente, Bakhtin enumera três elementos que
constituem o gênero do discurso: o conteúdo temático, construção composicional e
estilo. Dessa forma, destacamos no gênero anúncio publicitário alguns desses
elementos.
Quanto ao conteúdo temático, ressaltamos o convencimento, a persuasão do
leitor em relação a uma ideia ou produto. Quanto à estrutura composicional, o
anúncio publicitário é, geralmente, marcado por uma gama de elementos semióticos
tais como cores, formato da letra, disposição textual, dentre outros que constituem o
título, imagem, texto verbal, marca ou logomarca e slogan. Com relação ao estilo,
observamos ricos recursos linguísticos, como a intertextualidade, anáforas,
37
sinonímias, dentre outros, que contribuem para atribuir uma conotação marcante ao
texto publicitário.
Tendo em vista os ricos elementos que formam a estrutura do anúncio
publicitário, esse gênero constitui um texto interessante e significativo para ser
trabalhado com os alunos com a finalidade de aprimorar as habilidades de leitura e
interpretação de texto multimodal.
38
3 LETRAMENTO, MULTILETRAMENTO E TEXTO MULTIMODAL
[...] todo letramento é letramento multimidiático: você nunca pode construir significado com a língua de forma isolada. (...) Para funcionarem como signos, os signos devem ter alguma realidade material, mas toda forma material carrega, potencialmente, significados definidos por mais de um código. Toda semiótica é semiótica multimídia e todo letramento é letramento multimidiático.
Jay Lemke
Muito tem se discutido acerca de multimodalidade nos mais diferentes campos
de estudo nos últimos anos, mas o conceito de multimodalidade tem início na Teoria
Semiótica, mais especificamente a Semiótica Social, a qual busca o estudo do texto
e não só isso, busca apontar as estratégias textual-discursivas utilizadas por um
autor no seu dizer, ou seja, as construções linguísticas do texto para materializar o
dizer de um autor.
O texto, aqui, é entendido segundo a perspectiva de Xavier (2006), que o
considera enquanto uma prática comunicativa materializada, por intermédio das
múltiplas modalidades da linguagem, tais como: verbal (escrita e oral) e não-verbal
(visual). Em outras palavras, o texto pode se dar por meio de variadas formas de
linguagem, seja ela oral, escrita ou mesmo imagética.
De acordo com os estudos semióticos, os signos não são utilizados de forma
arbitrária, há sempre um objetivo do autor para efeitos dentro do processo de
comunicação. Ainda sobre a Teoria da Multimodalidade, segundo Kress e Van
Leeuwen (1996), o texto multimodal será aquele no qual o significado se realiza por
mais de um código semiótico. Dessa forma, é preciso que o leitor lance mão de
diferentes semioses para interpretar um texto.
Com base na Gramática Visual de Kress e Van Leeuwen (1996), Petermann
(2006) cita que os autores partem das três metafunções descritas por Halliday
(1989; 1994), isto é, partem da perspectiva funcional da linguagem para analisar a
multimodalidade textual: ideacional, interpessoal e textual.
Segundo o autor, a metafunção ideacional investiga a representação que um
discurso carrega. A metafunção interpessoal trata da contribuição do discurso para a
construção das relações sociais e das identidades individuais e coletivas. Já a
39
metafunção textual refere-se à mensagem, à organização dos elementos que
compõem o texto e como interagem para criar significados.
Com isso, entendemos que um conjunto de signos constitui um texto desde
que forme uma unidade com significação. Essa perspectiva funcional da linguagem
está de acordo também com a Linguística Textual, pois de acordo com Koch e
Fávero (1994, p. 25), o texto designa “toda e qualquer manifestação de capacidade
textual do ser humano, [...] qualquer tipo de comunicação realizado através de um
sistema de signos”.
A multimodalidade é, portanto, a utilização de mais de uma forma de linguagem
ou representação na formação de um gênero discursivo. Assim, os textos
multimodais são aqueles que utilizam duas ou mais modalidades de formas
linguísticas, utilizando em sua composição a linguagem verbal e não-verbal com o
intuito de possibilitar uma melhor inserção do leitor no texto.
Incorporar a multimodalidade no âmbito educacional requer disposição por
parte de professores e alunos para interagir com novos contextos de comunicação
em diferentes situações sociais e culturais. Essa abordagem na sala de aula pode
contribuir para entender os meios de comunicação como recursos dos quais nos
apropriamos para compreender e produzir sentidos. Acerca da inserção e do uso
das novas tecnologias em sala de aula Rojo e Moura afirmam que:
Tais modalidades passaram a exigir do leitor – no caso escolar, do aluno e do(a) professor(a) – a aquisição de outras habilidades de leitura e escrita, dependendo das modalidades utilizadas, ampliando a noção de letramentos para múltiplos letramentos. A ampliação desse conceito vem dar conta da diversidade de semioses que co-ocorrem nos textos encontrados hoje nas mídias: visual (uso das imagens), sonoro (uso de sons), verbal (uso das línguas), para citar os mais recorrentes (ROJO & MOURA, 2012, p. 76).
O ensino de textos multimodais em sala de aula expõe o aluno a uma
diversidade de informações e permite ao professor trabalhar textos que vão dos
mais simples àqueles que exigem dos alunos um nível mais complexo de
letramento. Esses textos colocam o leitor em contato com uma grande quantidade
de recursos visuais que se somam à mensagem escrita a fim de criar significação,
exigindo do leitor um letramento mais abrangente e mais elaborado.
Diante disso, a noção de letramento vem sofrendo modificações a partir da
preocupação crescente com os novos recursos visuais e formas de linguagem
40
utilizadas na comunicação. Dessa forma, o leitor precisa, cada vez mais, lidar com
uma multiplicidade de recursos e informações presentes nos textos. Esse processo
de significações requer do leitor letramentos múltiplos, isto é, multiletramentos.
O termo multiletramento tem sua origem relacionada ao The New London
Group (NLG), que foi um grupo de educadores de diversos países que, em 1994, se
reuniram em New London, New Hampshire, Estados Unidos, para discutir o ensino e
refletir como as formas de letramento podem preparar os alunos para as constantes
mudanças sociais do mundo contemporâneo. Para os estudiosos do NLG, ser
multiletrado significa ser cognitiva, social e criticamente letrado, capaz de analisar e
entender os textos, percebendo sua construção, lacunas, silêncios e ideologias.
Segundo Rojo,
[...] o conceito de multiletramentos - é bom enfatizar - aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente as urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituições dos textos por meio dos quais ela se informa e se comunica (ROJO, 2012, p. 13).
Diante disso, fundamental se faz buscar um modo de levar para as salas de
aula textos multimodais com o objetivo de ampliar o letramento dos nossos alunos
mediante a diversidade cultural e multissemiótica. Sobre a proposta de pedagogia
dos multiletramentos, Rojo reflete que:
[...] essas propostas de ensino deveriam visar aos letramentos múltiplos, ou aos multiletramentos, e deveriam abranger atividades de leitura crítica, análise e produção de textos multissemióticos em enfoque multicultural (ROJO, 2012, p. 8).
Em conformidade com o que postula Bakhtin de que a palavra é dialógica e
que nenhum significado é fixo, a pedagogia dos multiletramentos enfatiza a
linguagem como forma de interação social e reconhece os gêneros discursivos como
uma abordagem concreta para o universo do multiletramento. Rojo e Barbosa
afirmam que:
[...] Sustentamos que, mesmo com mudanças tão pronunciadas, a teoria dos gêneros discursivos do Círculo de Bakhtin não somente ainda é potente para a análise desses enunciados, como talvez
41
nunca tenha encontrado expressão tão clara de seus mecanismos dialógicos (ROJO, 2015, p.116).
No tocante à presença da multimodalidade dos gêneros discursivos,
apontamos essa característica como elemento constitutivo tanto dos gêneros
escritos quanto os orais, e sobre isso Dionísio afirma:
[...] Os gêneros textuais falados e escritos são também multimodais porque, quando falamos ou escrevemos um texto, estamos usando no mínimo dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografias, palavras e sorrisos, palavras e animações etc (DIONISIO, 2006, p. 139).
Nessa perspectiva, reafirmamos que a utilização dos gêneros discursivos nas
práticas pedagógicas constitui um valioso instrumento que contribui para a formação
de um leitor crítico capaz de interpretar e compreender diversos textos, assim como
interagir em diferentes contextos.
3.1 A LEITURA DO TEXTO MULTIMODAL
Não há como falar acerca de linguagem multimodal sem se remeter à
linguagem visual e, portanto, à imagem.
A teoria da multimodalidade considera que, ao produzir textos, utilizamos dois
modos de representação, ao menos, o verbal e o visual. Dessa forma, podemos
afirmar que as nossas relações interativas são constituídas de múltiplas linguagens.
Para Dionísio,
Imagem e palavra mantêm uma relação cada vez mais próxima, cada vez mais integrada. Com o advento das novas tecnologias, com muita facilidade se criam novas imagens, novos layouts, bem como se divulgam tais criações para uma ampla audiência. Todos os recursos utilizados na construção dos gêneros textuais exercem uma função retórica na construção de sentidos dos textos. Cada vez mais se observa a combinação de material visual com a escrita; vivemos sem dúvida, numa sociedade cada vez mais visual (DIONÍSIO, 2006, p. 32).
Ressaltamos que a imagem tem grande apelo dentro da linguagem publicitária,
e constitui, certamente, um destaque significativo para o leitor, porque, muitas vezes,
transmite por si só uma mensagem, além de exercer um papel fundamental na
construção do sentido do texto. Uma imagem ultrapassa limites e transpõe até
42
mesmo as barreiras da língua, atingindo um número maior de leitores e ampliando
ainda mais o poder da mensagem veiculada. Sobre isso Silveira corrobora que:
[...] Entre as vantagens de um texto constituído por imagens, de acordo com alguns teóricos, destaca-se o fato de ele ser universal, pois vence a barreira da linguagem, podendo, através de um entendimento imediato, ser compreendido por pessoas de língua e cultura diversas. Outra vantagem, comumente apontada, é a de que a imagem permite uma leitura em menos tempo do que o requerido pelo texto escrito, tornando-a atraente aos potenciais leitores (SILVEIRA, 2005, p. 113).
Diante disso, um texto multimodal apresenta uma riqueza de linguagens, que é
apresentada por meio de diferentes recursos, tais como imagens e outros signos,
que constituem elementos imprescindíveis na atribuição dos sentidos.
De acordo com Dionísio (2006), os gêneros multimodais podem ser definidos
como construtos textuais calcados na concatenação de distintas formas de
representação. Assim, a estrutura composicional dos textos multimodais se vale de
múltiplos elementos semióticos, tais como imagens, palavras, cores, formas,
gráficos, animações, dentre outros.
A imagem sempre foi um recurso presente em diversos gêneros do discurso,
todavia, há algum tempo atrás, a linguagem não-verbal era pouco analisada no
ensino, em detrimento da linguagem verbal. O conceito de texto segundo Xavier
(2006) contempla as práticas comunicativas construídas com base na linguagem
oral, escrita e imagética.
Nesse contexto, os elementos discursivos, linguísticos e semióticos contribuem
de forma harmônica e significativa para a produção de sentidos de um texto. A
linguagem visual, constituída de ricos elementos imagéticos, como cores,
ilustrações, formato e tamanho das letras, o posicionamento da imagem, dentre
outros traços multimodais evidenciam os objetivos e a intencionalidade do texto, e
principalmente, atribuem significado ao leitor.
Tais recursos semióticos carregam em si um propósito, uma intencionalidade
por parte do autor, e a forma como esses elementos se relacionam com a linguagem
verbal compõem de forma global o texto, sendo um aspecto determinante para a
construção de sentidos.
43
Dessa forma, podemos afirmar que a linguagem visual presente nos textos
multimodais requer do leitor um conceito novo de letramento, que enfoque
contemplar os múltiplos signos que os compõem.
3.1.1 O Gênero anúncio publicitário como forma de letramento multimodal
Conforme podemos perceber, o termo letramento assumiu novos sentidos,
principalmente a partir do amplo desenvolvimento das tecnologias da informação,
deixando de ser simplesmente o ato de ler e escrever para contemplar a inserção de
novas práticas sociais de leitura e escrita. Soares esclarece que:
[...] Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita (SOARES, 1998, p. 18).
O letramento está, portanto, ligado às práticas sociais e adquire um caráter
dinâmico em decorrência das exigências e da demanda da sociedade
contemporânea. Assim, diante das transformações sociais e culturais constantes
pelas quais a sociedade vem passando, a escola tem buscado, por meio do estudo
dos multiletramentos, trazer à tona novos enfoques de leitura e novas possibilidades
de construção de sentidos.
Evidenciar o estudo dos textos multimodais em sala de aula torna-se um fator
importante para o enriquecimento do processo de aprendizagem do estudante, que
traz de seu conhecimento de mundo um contato cada vez maior com tais práticas
leitoras.
A escola emerge, portanto, nesse contexto de constantes mudanças com o
papel de criar possibilidades para o aluno ter contato com uma rica multiplicidade de
uso da língua, assim como múltiplas práticas de leitura, a fim de que ele possa
transitar de forma crítica em diferentes contextos sociocomunicativos.
Para tanto, é preciso que o ensino de língua busque contemplar diferentes
formas de linguagem, nas quais estão inseridas as imagens, característica marcante
da multimodalidade. Nesse sentido, o gênero anúncio publicitário, por apresentar em
sua constituição ricos elementos verbais e semióticos, se destaca como um texto
que pode contribuir para a instrumentalização do ensino de leitura multimodal.
44
4 METODOLOGIA
A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática.
Paulo Freire
Neste capítulo, buscamos delinear o caminho trilhado no decorrer do processo
investigativo. Para isso, iniciamos a partir da abordagem teórica e metodológica
escolhida e do método de investigação utilizado. Em seguida, descrevemos o local e
os sujeitos envolvidos na pesquisa. Relatamos, também, o processo de produção,
registro e análise de dados desenvolvidos no decorrer da pesquisa e, por fim,
expomos o planejamento da Sequência Didática, conforme os critérios dos
pesquisadores Joaquim Dolz, Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly (2004).
4.1 Pesquisa qualitativa e pesquisa-ação: A Sequência Didática como
instrumento de produção de dados
Em termos metodológicos, utilizamos como abordagem a pesquisa qualitativa,
tendo em vista que o objetivo deste trabalho é interpretar os sentidos que os sujeitos
atribuem às situações apresentadas a eles. De acordo com Minayo (2001), a
pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. A presente pesquisa tem caráter exploratório, pois
objetiva investigar elementos subjetivos referentes à forma de interpretar e conhecer
dos sujeitos analisados em relação à apropriação da leitura e produção de anúncios
publicitários, daí a opção pelo método qualitativo. O objetivo da pesquisa qualitativa
em sala de aula é, conforme preconiza Bortoni-Ricardo:
[...] o desvelamento do que está dentro da “caixa-preta” no dia-a-dia dos ambientes escolares, identificando processos que, por serem rotineiros, tornam-se “invisíveis” para os atores que deles participam. (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 49)
Tomamos como abordagem a pesquisa-ação para a aplicação pedagógica,
tendo em vista que a intenção deste trabalho foi analisar e refletir sobre como o
anúncio publicitário, como gênero discursivo multimodal possibilita a construção de
45
múltiplos sentidos. Portanto, trata-se de uma proposta de pesquisa de cunho
investigativo, na qual buscamos, com base no contexto educacional, criar
experiências reais de aprendizado para os alunos envolvidos no processo.
A investigação do processo de nossa pesquisa se articula com as
características e com os princípios da pesquisa-ação, uma vez que para Thiollent:
[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2011, p. 20)
Com base em tal afirmação, nossa prática docente foi planejada a partir dos
estudos teóricos sobre os gêneros discursivos, com foco no gênero anúncio
publicitário, levando em consideração os aspectos de leitura, interpretação e
produção textual desse gênero multimodal.
Nossa proposta busca atender às exigências do Programa de Mestrado
Profissional em Letras – ProfLetras, que propõe a aplicação de uma intervenção
pedagógica. A proposta de intervenção escolhida foi, portanto, uma Sequência
Didática, que se baseia no modelo didático apresentado pelos pesquisadores Dolz,
Noverraz e Schneuwly (2004) como um valioso instrumento de ensino. Esse modelo
consiste em um conjunto de estratégias didáticas organizadas que visam à melhoria
e a apropriação de práticas de linguagem por parte dos estudantes. Dessa forma, os
autores definem a sequência didática como: “[...] um conjunto de atividades
escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral
ou escrito” (2004, p. 82).
A aplicação desse modelo didático além de auxiliar o estudante no
desenvolvimento de sua competência comunicativa, também propicia a sua
autonomia nas práticas de linguagem oral e escrita, amplia o domínio linguístico dos
estudantes e auxilia o estudante na construção do raciocínio de forma organizada e
processual.
A sequência didática se apresenta, portanto, como um método eficaz e propício
de trabalhar com os gêneros do discurso, pois permite ao professor facilitar o
entendimento e a aplicabilidade dos gêneros, organizando de forma coerente e
46
adequada os recursos da língua numa dimensão mais ampla, significativa e
contextualizada.
Esse modelo didático se encontra estruturado por seus autores da seguinte
maneira:
FIGURA 1 – Esquema da Sequência Didática.
4.
5.
Fonte: DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY (2004, p.83)
Essa estrutura corresponde, de acordo com seus autores, a uma sequência de
procedimentos didáticos que se apresentam da seguinte forma:
• Apresentação da situação – Corresponde à etapa de apresentação do projeto
de comunicação aos alunos de forma clara e objetiva. Nessa etapa, todas as
informações necessárias para o entendimento do projeto devem ser transmitidas aos
alunos, tais como: o gênero a ser trabalhado, os destinatários da produção, a forma
que a produção será apresentada, bem como quem serão os participantes da
produção.
• Produção Inicial – Nessa etapa, o professor pode avaliar os conhecimentos
prévios dos alunos acerca do gênero estudado. A produção inicial dos alunos servirá
de diagnóstico para o professor nortear as intervenções que serão necessárias. A
produção inicial é o primeiro momento da aprendizagem e possibilita ao professor
perceber os pontos fortes e fracos que serão evidenciados para, a partir daí, definir o
caminho a ser trilhado com a turma.
• Módulos – Nos módulos, serão trabalhados os problemas que apareceram na
produção inicial. Essa fase é o momento de instrumentalizar os alunos para superar
as dificuldades encontradas acerca do gênero textual estudado. A diversidade dos
exercícios e atividades é um fator fundamental a ser considerado no momento da
elaboração dos módulos.
PRODUÇÃO
INICIAL
MÓDULO
3
PRODUÇÃO FINAL APRESENTAÇÃO
DA SITUAÇÃO
MÓDULO
2
MÓDULO
1
47
• Produção Final – Nessa etapa ocorre a culminância da proposta. É o
momento que permite ao aluno pôr em prática a aprendizagem adquirida durante os
módulos. Esse momento, também, permite ao professor fazer uma avaliação de todo
processo, assim como confrontar a produção inicial e a final, a fim de perceber a
evolução na aprendizagem dos alunos.
Vale ressaltar que a proposta apresentada pelos autores é um modelo que o
professor pode se utilizar para favorecer o ensino de língua, mas que, ao mesmo
tempo, oferece autonomia para que ele possa adequar ao seu contexto educacional.
4.2 CONTEXTO DE PESQUISA
A pesquisa ocorreu no Colégio Estadual PFS, que por sua vez é o local de
trabalho da pesquisadora. O motivo para tal escolha se deu por ter sido nesse
espaço que as questões que norteiam este trabalho se originaram.
Essa escola é de médio porte e localiza-se em um bairro periférico, Curral
Novo, na cidade de Jequié, região sudoeste da Bahia. Foi inaugurado em 13 de
junho de 1965, no governo do Dr. Antônio Lomanto Júnior. O terreno, no qual foi
construído, foi doado pela família Costa. O Capitão Silvino, um dos colaboradores
dessa doação e personagem de destaque na cidade, foi também a autoridade que
inaugurou este estabelecimento. O nome da escola é uma homenagem a uma das
primeiras docentes a alfabetizar os jovens em nossa cidade.
No início, o colégio era composto somente por dois pavilhões e oferecia
apenas o Ensino Fundamental I. Em 1981, houve a ampliação para o Fundamental
II. Na década de 1990, acontece a primeira reforma com construção de novas salas
de aula e em maio de 1992 foi criado o Ensino Fundamental II pela portaria número
2415 D.O., com autorização para funcionar de 5ª a 8ª séries (Atualmente, 6º ano a
9º ano).
No ano 2000, a escola foi elevada à categoria de Colégio Estadual com a
implantação do Ensino Médio, vindo, em 2010, a ser contemplada com mais uma
reforma que possibilitou a construção de mais duas salas de aula e um auditório.
Hoje, o Colégio atende alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio, oferecendo
programas de inclusão social e educação em tempo integral, tais como o Mais
Educação e o Projeto de Ensino Médio Inovador – PROEMI, com o intuito de
48
proporcionar aos jovens a ampliação de sua visão de mundo e de suas prioridades
em relação ao futuro.
Atualmente, a escola é constituída por 9 salas de aula, 1 secretaria, 1 sala de
professores, 1 sala de informática com 18 computadores, 1 biblioteca, 1 auditório, 1
cozinha, 1 sala de audiovisual, 1 quadra de esportes sem cobertura, 8 banheiros, 1
refeitório, 1 depósito, 1 sala da rádio escolar, 1 jardim, 1 garagem e 1 padaria, a qual
se encontra desativada.
A escola funciona nos turnos matutino e vespertino, sendo que no turno
matutino funcionam o ensino fundamental e médio, enquanto que no vespertino
funciona, apenas, o ensino fundamental. A clientela atendida pela instituição é, em
sua maioria, proveniente do próprio bairro e é oriunda de famílias com renda média
a baixa. A unidade escolar, como já dissemos, é atendida pelo Programa Mais
Educação, o qual visa à melhoria do desempenho dos estudantes em Língua
Portuguesa e Matemática. Porém, a estrutura física da escola é inadequada para
contemplar o ensino integral, uma vez que os alunos que participam do Programa
permanecem na escola por um longo tempo.
Com relação ao quadro funcional, a escola conta com 22 professores, 1
diretora, 2 vice-diretores, 1 secretária escolar, 5 assistentes administrativos e 8
funcionários de serviços gerais.
A equipe gestora é eleita pela comunidade escolar a cada dois anos, e também
o Colegiado Escolar é eleito de forma direta e vem atuando de forma positiva no
ambiente escolar. Infelizmente, a escola ainda não conta com um coordenador
pedagógico, visto isso, um professor de cada área do conhecimento assume a
função de articulador, a fim de integrar de forma significativa as propostas que visam
a melhorar a aprendizagem dos alunos.
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA
A escolha da nossa clientela se deu porque muitos alunos chegam ao final do
ensino fundamental com dificuldades para interpretar textos, principalmente os
textos multimodais, e a partir de análise de atividades de leitura, interpretação e
produção textual, constatamos que, nessa turma, a maioria dos alunos não
conseguia fazer inferências significativas e permaneciam apenas numa leitura
superficial.
49
Além disso, como pesquisadora, optei por desenvolver a pesquisa com uma
das minhas turmas, por considerar que é no nosso espaço de trabalho que surgem
as questões que carecem de explicação e para onde devemos direcionar nossos
esforços com o intuito de aperfeiçoar a nossa prática pedagógica.
A classe escolhida foi uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental, composta
por 30 alunos, sendo que todos residem no bairro periférico onde a escola se
localiza. Por se tratar de alunos dos anos finais do ensino fundamental, a faixa etária
dos alunos coincide com o período da adolescência e, portanto, com todas as
transformações e conflitos desse período. Durante o decorrer de todo processo
investigativo foi possível perceber essas características, demonstradas por meio da
interação entre os alunos, da ansiedade, das constantes indagações. Contudo, isso
se apresentou de forma positiva no desenvolvimento das atividades propostas, já
que os alunos sempre se apresentaram interessados, questionadores e
participativos, o que contribuiu para o êxito da aplicação da proposta pedagógica.
4.4 A PRODUÇÃO DE DADOS
O processo de registro e produção de dados aconteceu no momento da
aplicação pedagógica junto aos estudantes dessa turma.
A Sequência Didática constou de três etapas: uma produção inicial do texto
anúncio publicitário escrito, três módulos de estudos específicos sobre o conceito e
caracterização do gênero, a estrutura discursiva, assim como as unidades
linguísticas marcantes no anúncio, e por fim, uma produção final do gênero em
estudo.
Após a intervenção, realizamos a análise de dados obtidos no decorrer do
processo da SD. Dessa forma, utilizaremos três quadros que nortearão as análises
dos dados das produções.
O primeiro quadro de análise - Quadro 01 - Refere-se aos aspectos estruturais
do gênero anúncio publicitário. No módulo 1, propomos uma análise voltada para os
aspectos da estrutura física do anúncio publicitário, destacando elementos como:
Quadro 1: Anúncio publicitário – Aspectos estruturais do anúncio publicitário
50
Produto/ideia
Título
Marca
Slogan
Elementos
semióticos (Texto
verbal e não-
verbal)
Tipo Textual:
Argumentativo, Narrativo ou
Descritivo
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
O segundo quadro de análise - Quadro 02 - Traz aspectos relacionados à
estrutura discursiva do gênero anúncio publicitário, ou seja, relacionados à estrutura
composicional. Nesse quadro referente ao módulo 2, propomos uma análise
discursiva em alguns anúncios publicitários, observando elementos como:
Quadro 2: Anúncio publicitário – Aspectos Discursivos
Anunciante
(intencionalidade)
Quem produz?
Para quem
produz?
Leitor
(Interesses)
Quem
lê/compra?
Recursos de estilo
(intertextualidade,
comparações, etc)
Selecionar/ formular
argumentos para
convencer o destinatário.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
O terceiro quadro – Quadro 03 – Refere-se aos conteúdos linguísticos
selecionados no gênero anúncio publicitário. No módulo 3, propomos abordar alguns
elementos linguísticos que constituem os anúncios publicitários selecionados. Os
aspectos a serem destacados são:
Quadro 3: Anúncio publicitário – Aspectos Linguísticos
Organizadores
argumentativos
Verbos Imperativos Vocabulário conotativo
(Escolhas lexicais)
Fonte: Elaborado pela pesquisadora com base em Dolz e Schneuwly, 2004, p. 56 e 57.
Ressaltamos que os quadros 1 e 2, apresentam alterações feitas pela
pesquisadora com relação aos quadros apresentados pelos autores tomados como
51
base, a fim de contemplar de forma mais adequada os conteúdos referentes ao
gênero discursivo trabalhado.
Os conteúdos selecionados foram analisados na ficha de análises das
produções (APÊNDICE A), a qual apresenta uma legenda (APÊNDICE B).
4.5 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A seguir apresentamos, em quadros, os planos de aula que foram aplicados no
decorrer do processo da Sequência Didática.
Na primeira etapa da aplicação da SD, ocorreu a apresentação da proposta de
intervenção aos alunos (Oficina 1), esclarecendo os objetivos e as atividades a
serem desenvolvidas com a turma.
Ainda na etapa 1, ocorreu a produção inicial dos anúncios publicitários (Oficina
2) pelos grupos de trabalho.
Quadro 04 – Oficina 1: Apresentação da Proposta de Intervenção
OBJETIVO
- Conhecer a proposta de produção escrita do gênero anúncio publicitário.
CONTEÚDO
- Projeto de produção escrita do gênero textual anúncio publicitário.
DURAÇÃO
1h/a
PROCEDIMENTOS
Apresentação para a turma da proposta de intervenção de forma clara e objetiva,
juntamente coma a entrega do folder explicativo (APÊNDICE C), esclarecendo aos
alunos sobre todas as atividades a serem realizadas, bem como a sugestão de temática.
Discussão para que os alunos opinem, digam se aceitam participar e/ou o que querem
sugerir, acrescentar à proposta.
Revisão da proposta, conforme sugestões dos alunos. (Se houver).
Após a realização dessa atividade, a pesquisadora entrega aos alunos um questionário
52
diagnóstico (APÊNDICE D), a fim de observar se os alunos têm contato com o gênero
anúncio publicitário e de que forma isso ocorre.
Observação: Salientamos que os sujeitos envolvidos da pesquisa e os seus responsáveis
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido assegurando a participação
voluntária na pesquisa (APÊNDICE E).
RECURSOS
Folder.
AVALIAÇÃO
Observar a participação e o envolvimento da classe durante as atividades realizadas e a
aceitação/adequação da proposta de produção.
REFERÊNCIAS
Quadro 05 – Oficina 2: Produção Inicial
OBJETIVO
Produzir um anúncio publicitário.
CONTEÚDO
Produção escrita do gênero textual anúncio publicitário.
DURAÇÃO
3h/a
PROCEDIMENTOS
53
•Divisão da turma em 6 grupos de 5 alunos, e apresentação para a turma uma caixa de
textos, contendo imagens de produtos e/ou ideias variados.
•Entrega da orientação da atividade – Folha tarefa 1 (APÊNDICE F) para os grupos.
•Em seguida, cada grupo deve escolher a imagem de objeto para criar um anúncio
publicitário sobre o produto/ideia escolhido.
• Entrega de revistas a fim de auxiliar os grupos na criação do anúncio.
• Expor o anúncio elaborado em um cartaz.
• Recolhimento do material para análise extraclasse.
RECURSOS
Caixa de textos, anúncios impressos, revistas, cartolinas, tesouras, pincéis.
AVALIAÇÃO
Acompanhar a participação e o envolvimento da classe na realização das atividades propostas. A produção textual será recolhida por constituir-se objeto de análise de dados desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
Na etapa II, ocorreu a realização dos módulos. No módulo um, foi trabalhado
com os alunos aspectos estruturais do anúncio publicitário, como produto/ideia,
marca, título, slogan, texto verbal e não-verbal e tipo textual. No módulo dois, foi
trabalhado aspectos relacionados à estrutura discursiva do anúncio, como
identificação do autor, leitor, recursos utilizados e argumentos de convencimento. No
módulo três, foram destacados elementos da estrutura linguística do gênero, como
organizadores argumentativos, verbos imperativos e escolhas lexicais.
Quadro 06 - Oficina 3: Aspectos Estruturais do Anúncio Publicitário
OBJETIVOS
• Conhecer o anúncio publicitário como um gênero discursivo que apresenta as
características do texto multimodal.
54
• Visualizar características estruturais presentes no gênero anúncio publicitário.
CONTEÚDO
Características estruturais do gênero anúncio publicitário.
DURAÇÃO
2h/a
PROCEDIMENTOS
• Exposição participada de slides (APÊNDICE G) sobre o conceito e as características
estruturais de um anúncio publicitário.
• Apresentação de diversos anúncios retirados de revistas, apontando os elementos que
os caracterizam.
A pesquisadora apresenta um anúncio (ANEXO A), em slide, e faz questionamentos:
A que gênero pertence esse texto?
Qual a finalidade desse texto?
A qual público ele se destina?
Qual a marca anunciada?
Qual o slogan da campanha?
O que chama mais a atenção: o texto verbal ou o não verbal?
Onde podemos encontrar esse tipo de anúncio?
Quais os recursos que foram utilizados para chamar a atenção para o produto
anunciado?
A pesquisadora ouve as respostas e discute as questões com os alunos.
Em seguida, a pesquisadora apresenta o segundo anúncio (ANEXO B), no slide, e
pergunta:
Para vocês, que relação há entre a modelo e o termo “sorriso amarelo”?
Vocês acham que a mensagem veiculada teria o mesmo efeito se a modelo não tivesse
55
um belo sorriso?
A pesquisadora ouve as respostas dos alunos.
RECURSOS
Datashow, slides, anúncios publicitários impressos.
AVALIAÇÃO
Por meio da manifestação oral, durante as discussões, e das respostas apresentadas na
interpretação escrita.
REFERÊNCIAS
https://creativitate2013.files.wordpress.com/2013/03/960x720_287.jpg
http://portugues.uol.com.br/public/conteudo/images/anuncio-publicitario(1).jpg
Quadro 07 – Oficina 4: Aspectos Estruturais do Anúncio Publicitário
OBJETIVO
• Reconhecer o produto/ideia que está sendo anunciado, bem como o slogan e a marca.
• Identificar os elementos semióticos (verbal e não verbal) do anúncio publicitário.
CONTEÚDO
Características estruturais do gênero anúncio publicitário.
DURAÇÃO
1h/a
PROCEDIMENTOS
56
A pesquisadora apresenta dois anúncios (ANEXO C) para os alunos, em slide, e
apresenta a folha tarefa 2 (APÊNDICE H) com as seguintes questões:
1- É possível inferir que tipo de produto ou ideia está sendo anunciado?
2- Que ideia você acha que os anúncios querem transmitir?
3- O que chama mais a sua atenção nos anúncios, o texto verbal ou o não verbal?
4- Quais são os slogans dos anúncios?
5- O que vocês acham que as duas imagens dos anúncios revelam ao leitor?
6- O que, além dos slogans, contribui para que a ideia sugerida pelos anúncios seja
transmitida ao leitor?
RECURSOS
Datashow, slides, anúncios publicitários impressos.
AVALIAÇÃO
Observar a participação e o envolvimento da classe durante as atividades realizadas.
REFERÊNCIAS
http://www.colunistas.com/anos/pc2011/br/print/AGENCIA3-lugares(jor)-1.jpg
http://www.colunistas.com/anos/pc2011/br/print/AGENCIA3-lugares(jor)-3.jpg
Quadro 08 – Oficina 5: Aspectos Discursivos do Anúncio Publicitário
OBJETIVOS
• Conhecer aspectos relacionados à estrutura discursiva do gênero anúncio publicitário.
57
• Identificar os interlocutores do discurso do anúncio publicitário e seu papel social.
CONTEÚDO
Características da estrutura discursiva do anúncio publicitário.
DURAÇÃO
2h/a
PROCEDIMENTOS
A pesquisadora apresenta, em slide, um anúncio publicitário (ANEXO D), e suscita
questões interpretativas a partir da folha tarefa 3 (APÊNDICE I):
Quem são seus autores (argumentador)?
Para quem escrevem (destinatário)?
Qual o objetivo desse texto (finalidade)?
Onde podem ser encontrados (suporte)?
O texto traz o recurso da intertextualidade. Com que outro texto podemos relacionar esse
anúncio?
Com que intenção o(s) autor(es) fazem uso desse recurso?
RECURSOS
Datashow, slides, anúncios publicitários impressos, impressa, caderno do aluno.
AVALIAÇÃO
Observar a participação e o envolvimento da classe durante as atividades realizadas.
REFERÊNCIAS
http://hortiflix.com.br/site/wp-content/uploads/2016/01/cartaz-incrivel-rucula.jpg
Quadro 09 – Oficina 6: Aspectos Discursivos do Anúncio Publicitário
OBJETIVO
Identificar/reconhecer os recursos utilizados a fim de persuadir o leitor/espectador.
58
CONTEÚDO
Recursos persuasivos.
DURAÇÃO
2h/a
PROCEDIMENTOS
A pesquisadora apresenta aos alunos uma folha tarefa 4 (APÊNDICE J) contendo uma
tirinha (ANEXO E) e instigam os alunos com os questionamentos:
a) De modo geral, de que tratam esses quadrinhos?
b) Esses quadrinhos contêm uma pequena narrativa. Resuma essa pequena
narrativa.
c) A personagem Mafalda reproduz o texto dos anúncios a que assistiu na TV. Que
argumentos são utilizados por esses anúncios visando à persuasão?
d) Com base na tirinha, considere a seguinte afirmação: “O grande público sempre
demonstra passividade diante da mídia.” Vocês concordam com essa afirmação?
Por quê?
RECURSOS
Slides, atividade xerocopiada, lápis, canetas.
AVALIAÇÃO
Por meio da exposição oral, das discussões, e das respostas apresentadas na
interpretação escrita.
REFERÊNCIAS
FARACO, MOURA, MARUXO Jr. Língua Portuguesa: Linguagem e interação. 3 ed. São
Paulo: Ática, 2016. p. 295.
QUINO. Toda Mafalda. São Paulo. Martins Fontes, 2003. p. 344.
Quadro 10 – Oficina 7: Aspectos Linguísticos do Anúncio Publicitário
59
OBJETIVO
Conhecer aspectos relacionados à estrutura linguística do gênero anúncio publicitário.
CONTEÚDO
Introdução aos aspectos linguísticos do gênero anúncio publicitário.
DURAÇÃO
1h/a
PROCEDIMENTOS
A pesquisadora entrega aos alunos uma folha tarefa 5 (APÊNDICE K) contendo um
anúncio do Ministério da Saúde (ANEXO F):
a) Qual é a relação entre o texto verbal e a imagem?
b) Tendo em vista a análise feita no item anterior, explique a frase “Não fique em
silêncio” no contexto em que é apresentada.
c) Na opinião de vocês, por que a palavra “racismo” está destacada?
d) A frase “Racismo faz mal à saúde”, remete a que?
RECURSOS
Slides, atividade xerocopiada, lápis, canetas.
AVALIAÇÃO
Por meio das respostas apresentadas na interpretação escrita e nas discussões.
REFERÊNCIAS
https://cellulablog.wordpress.com/2014/11/26/governo-lanca-telefone-para-denuncia-de-
racismo-em-hospitais-e-postos/
Quadro 11 – Oficina 8: Aspectos Linguísticos do Anúncio Publicitário
OBJETIVO
60
Reconhecer o modo verbal mais recorrente nos anúncios publicitários.
CONTEÚDO
Modos verbais e aspectos linguísticos do anúncio publicitário.
DURAÇÃO
2h/a
PROCEDIMENTOS
Entrega da folha tarefa 6 (APÊNDICE L) com os seguintes questionamentos:
a) Na imagem lemos três frases fundamentais do anúncio. Qual o modo verbal em
que estão as formas verbais destes três períodos?
• “Seja doador de órgãos.”
• “Não deixe a vida se apagar.”
• “Fale com sua família.”
b) Na linguagem publicitária é muito comum esse modo verbal. Por quê?
c) Na frase “Não deixe a vida se apagar”, a palavra apagar está sendo utilizada em
que sentido?
RECURSOS
Slides, atividade xerocopiada, lápis, canetas.
AVALIAÇÃO
Acompanhar a participação, envolvimento e produção dos alunos nas atividades
solicitadas.
REFERÊNCIAS
https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2013/09/25/noticias-saude,193779/brasil-dobra-
o-numero-de-doacoes-de-orgaos-em-dez-anos.shtml
Na etapa três, foram desenvolvidas as produções finais dos anúncios, em que
cada grupo criou um anúncio publicitário, buscando aplicar os conhecimentos
adquiridos no decorrer da sequência didática.
61
Quadro 12 – Oficina 9: Produção Final do Anúncio Publicitário
OBJETIVO
Produzir anúncios publicitários.
CONTEÚDO
Produção de anúncios publicitários.
DURAÇÃO
2h/a
PROCEDIMENTOS
Produção de anúncios publicitários com temática livre por parte dos grupos.
Após a produção, os anúncios serão expostos na unidade escolar para a apreciação de
toda comunidade.
RECURSOS
Cartolinas, revistas diversas, pincéis, tesouras, cola.
AVALIAÇÃO
Observar a participação e o envolvimento da classe durante as atividades realizadas e
recolher o texto final para avaliação de todo o processo de intervenção.
REFERÊNCIAS
62
5 ANÁLISE DE DADOS
Neste capítulo, exporemos a análise dos dados obtidos na pesquisa com o
desenvolvimento da intervenção pedagógica e registrados nas produções inicial e
final, assim como nas atividades realizadas na SD, a partir das três categorias
elencadas nos quadros 1,2 e 3.
Em conformidade com o objetivo fundamental desta pesquisa que é possibilitar
aos alunos o desenvolvimento da leitura e da interpretação de textos multimodais
por meio do gênero anúncio publicitário, elaboramos um questionário diagnóstico
com o qual pretendíamos verificar o quanto os alunos participantes da pesquisa
gostavam de ler, o quanto se interessavam pelo gênero estudado e também seus
conhecimentos prévios acerca do tema abordado.
Nas etapas seguintes, foram realizadas tarefas com o objetivo de contemplar
os assuntos destacados sobre o anúncio publicitário, a sua leitura e escrita.
De acordo com a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
2008, p. 23), tomamos o gênero textual como objeto de ensino, ao passo que o
consideramos, em conformidade com Bakhtin, nas suas dimensões temática,
composicional e estilística, já citadas anteriormente.
É importante ressaltar que não foi feita nenhuma correção ou adequação à
norma padrão na transcrição dos textos produzidos pelos alunos no decorrer da SD,
já que não era esse o intuito da pesquisa.
A seguir, analisaremos os dados obtidos em cada etapa da pesquisa.
5.1 QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO (DESENVOLVIDO NA OFICINA 1)
A princípio, como pesquisadora, apresentei aos alunos todos os dados da
pesquisa, assim como sua questão motivadora. Também, foi lido juntamente com os
alunos, o folder explicativo (APÊNDICE C), tendo a intenção de explicar e esclarecer
todos os objetivos e relevância do estudo para que diante do esclarecimento das
informações os alunos se sentissem mais confortáveis e seguros em participar.
A fim de melhor direcionar as atividades propostas na sequência didática,
utilizamos, após a apresentação da proposta de pesquisa aos alunos, um
questionário diagnóstico (APÊNDICE D), uma vez que este instrumento de produção
de dados nos permite identificar fatores relevantes para o andamento da pesquisa,
63
assim como considerar expectativas acerca do estudo. O objetivo principal do
questionário era observar se os alunos têm contato com o gênero anúncio
publicitário e de que forma isso ocorre.
A partir da análise do questionário diagnóstico, observamos que, dos 30
alunos participantes da pesquisa, 18 têm 15 anos, e 12 têm 14 anos (Questão1).
Constatamos ainda, que 22 alunos responderam que gostam de ler e 8
responderam que não (Questão 2). Quanto ao que eles mais gostam de ler, 19
alunos responderam revistas, 8 responderam livros e 3 alunos não responderam
(Questão 3). Salientamos que os alunos poderiam marcar mais de uma alternativa
nesta questão, porém todos os alunos marcaram apenas uma alternativa. Esses
números podem ser observados no seguinte gráfico:
GRÁFICO 1 – Questão 3 – O que os alunos mais gostam de ler?
Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora com base nos dados da pesquisa.
Com relação à questão 4, sobre quantos livros, panfletos ou revistas leem por
mês, 20 responderam mais de três e 10 responderam de 1 a 2.
Com base nesses dados, podemos perceber que a maioria dos alunos se
interessa por leitura, contudo o gosto deles é, geralmente, voltado para algo que se
aproxima mais da realidade deles. Dessa forma, é fundamental alicerçar a
construção do processo de leitura a partir dos conhecimentos prévios dos alunos,
buscando criar condições para que eles aproximem os conhecimentos aprendidos
na escola à sua vivência. Portanto, concebemos a leitura como um processo
dialógico, nos apoiando em Geraldi (1997) que afirma que a leitura é um processo
64
de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. Essa perspectiva nos conduziu,
também, a eleger o anúncio publicitário como objeto de estudo da pesquisa, pois o
olhar de pesquisadora apontou este gênero como um ponto de partida familiar e
cotidiano dos alunos para a abordagem do texto multimodal.
Dessa forma, o conhecimento de mundo dos alunos e suas experiências como
leitores devem ser reconhecidos e valorizados como ponto de partida para a
construção de novas significações de leitura. Esse pensamento pode ser validado
por Lajolo, quando acrescenta que:
[...] Se ler livros geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na chamada escola da vida: [...] a leitura independe da aprendizagem formal e se perfaz na interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros. (LAJOLO, 2009, p. 7).
Conforme notamos nas questões seguintes, o anúncio publicitário desperta
muito o interesse dos alunos por possuir uma linguagem multimodal, que atrai a
atenção e aguça a curiosidade dos leitores jovens.
Direcionando as questões para o gênero estudado, perguntamos aos alunos se
eles leem os anúncios publicitários veiculados nos diversos suportes (Questão 5). A
maioria, 21 alunos, respondeu que sim, apenas 9 alunos responderam que não. Na
questão 6, foi perguntado se o gênero anúncio publicitário faz parte do cotidiano
deles, sendo que 19 alunos responderam que sim e 11 responderam que não.
Esses dados nos apontam que o gênero discursivo anúncio publicitário é um
importante recurso para ampliar o universo de leitura dos alunos e desenvolver suas
competências discursivas, destacando a modalidade persuasiva e o caráter
multimodal presentes nesses textos.
Na análise da questão 7, percebemos que 24 alunos, responderam que
encontram dificuldades para entender alguns anúncios publicitários. Isso ocorre,
geralmente, pois a maioria dos alunos faz uma leitura superficial do texto, não
observa informações importantes presentes nos elementos verbais e não-verbais do
anúncio publicitário.
Os suportes que os alunos, frequentemente, mais observavam a presença de
anúncios publicitários (Questão 8) são: outdoors (11 alunos), revistas (10 alunos) e
cartazes ( 9 alunos).
65
Conforme já observado, notamos a partir da análise das questões anteriores,
que os alunos se interessam pelo anúncio publicitário, e que este gênero discursivo
atrai a atenção e o interesse dos jovens.
Já que o gênero anúncio publicitário constitui o cerne da nossa pesquisa, as
questões 9, 10, 11 e 12 são mais específicas, buscando perceber o nível de análise
que os alunos fazem ao se deparar com os textos publicitários. Na questão 9,
queríamos saber o que mais chamava a atenção do aluno em um anúncio
publicitário, se a linguagem verbal ou não-verbal. Dos trinta alunos participantes, 11
responderam a linguagem verbal, 10 responderam a linguagem não-verbal, e 9
alunos responderam que ambas as formas de linguagem atraem a atenção deles.
Sobre qual parte do anúncio publicitário mais atraia a atenção do aluno
(Questão 10), obtivemos as seguintes respostas: título e imagem (9 alunos), imagem
e slogan (10 alunos), corpo do texto (3 alunos), imagem (5 alunos) e imagem e
corpo do texto (3 alunos).
Com os resultados obtidos nessa questão, notamos que, para a maioria dos
alunos, a parte visual do anúncio é algo importante e interessante. A imagem é um
apelo visual funcional, básico e marcante, que é determinante na decisão do leitor
no momento da compra. Como diz o ditado popular “uma imagem vale mais que mil
palavras”, pois ela rompe fronteiras e alcança um público mais amplo. Sobre isso
retomamos Silveira (2005, p. 113) que corrobora que dentre as vantagens de um
texto constituído por imagens, destaca-se o fato de torná-lo universal, transpondo a
barreira da linguagem, podendo ser compreendido por pessoas de língua e cultura
diversas, além também, de permitir uma leitura em menos tempo.
Portanto, a imagem tem um papel fundamental na linguagem publicitária, pois
além de atrair mais facilmente a atenção do leitor, ainda aguça a sua observação e o
seu sentido para as demais informações contidas no texto.
Na questão 10, pretendíamos saber se os alunos já tinham se interessado em
comprar algum produto por causa de um anúncio publicitário. Sobre isso, a maioria
dos alunos, 23, disseram que sim e a maioria justificou que o anúncio torna o
produto mais interessante. Registramos, também, que 21 alunos já compraram um
produto por causa de anúncio publicitário, e 9 alunos responderam que nunca
realizaram uma compra com base em anúncios (Questão 11).
Por fim, queríamos saber se os alunos já haviam deixado de comprar algo por
causa de anúncio (Questão 12). Dos 30 alunos entrevistados, 16 responderam que
66
sim, e desses, 9 alunos, justificaram que o anúncio não parecia confiável, e 14
responderam que não, sendo que 4 alunos justificaram que queriam comprar o
produto mesmo, independente de anúncio, e 10 não apresentaram justificativa.
O objetivo dessas questões era observar o quanto os anúncios determinam o
interesse dos alunos. Observamos com isso, que a maioria dos alunos leva em
consideração um anúncio publicitário e esse gênero faz parte da vida dos alunos,
mas também, que a maioria não sabe julgar e avaliar criticamente seus conteúdos.
A seguir, um gráfico ilustrativo sobre a influência do gênero anúncio publicitário
na vida dos alunos.
GRÁFICO 2 - Influência do anúncio publicitário na vida dos alunos.
Fonte: Gráfico elaborado pela pesquisadora com base nos dados da pesquisa.
5.2 PRODUÇÃO INICIAL (OFICINA 2)
De acordo com Marcuschi (2008), não se pode tratar o gênero do discurso
independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades
humanas. Haja vista a afirmação, escolhemos o gênero anúncio publicitário como
base para a nossa pesquisa e como meio de buscar o desenvolvimento das
habilidades de leitura e interpretação de texto multimodal com os alunos, porque
este faz parte do cotidiano dos alunos, e por isso, o elegemos como objeto de
67
ensino. Koch explica que os textos do cotidiano auxiliam a exercitar a capacidade
metatextual3. Sobre isso afirma:
O contato com textos da vida quotidiana, como anúncios, avisos de toda a ordem, artigos de jornais, catálogos, receitas médicas, prospectos, guias turísticos, literatura de apoio à manipulação de máquinas etc., exercita a nossa capacidade metatextual para a construção e intelecção de textos.. (KOCH, 2011, p. 53).
Por conceber o anúncio publicitário como um texto que os alunos têm
familiaridade e interesse, partimos para a produção inicial do gênero.
Dessa forma, na aula 2, a turma foi dividida em seis grupos compostos por
cinco alunos cada. A divisão da turma em grupos se justifica por considerarmos que
o trabalho em equipe favoreceria o desenvolvimento das atividades, além de
promover uma participação interativa entre os alunos. Tendo em vista que a
concepção interacionista é o fio condutor do nosso trabalho, a realização das
atividades em grupo possibilitou observar uma aprendizagem cooperativa, assim
como promoveu a construção dos conteúdos de forma coletiva. Bakhtin (2014)
considera o locutor como um ser social, logo, ao serem concebidos dessa forma, os
locutores são construídos ao mesmo tempo pela interação entre eles e pelas
relações com o extralinguístico e a sociedade.
Em seguida, foi entregue aos alunos a folha tarefa 1 (APÊNDICE E) a fim de
orientar a atividade, na qual cada grupo deveria escolher na caixa de texto a imagem
de produto/ideia para criar a partir dela um anúncio publicitário e, posteriormente,
apresentar a elaboração para a turma.
Ao analisar tanto as produções iniciais quanto as produções finais dos grupos,
tomamos como base as categorias elencadas nos quadros 1, 2 e 3, que se seguem,
nos quais destacamos elementos dos aspectos estruturais, discursivo e linguístico
do anúncio publicitário. Portanto, reapresentamos os quadros que nortearam as
análises de dados das produções dos grupos:
Quadro 1: Anúncio publicitário – Aspectos estruturais do anúncio publicitário
3 De acordo às ideias de Gombert (1992), esta capacidade está relacionada à forma de tratar o texto
como objeto de reflexão, e não apenas com vistas ao que se quer comunicar.
68
Produto/ideia Título
Marca
Slogan
Elementos
semióticos (Texto
verbal e não-
verbal)
Tipo Textual:
Argumentativo, Narrativo ou
Descritivo
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
Quadro 2: Anúncio publicitário – Aspectos Discursivos
Anunciante
(intencionalidade)
Quem produz?
Para quem
produz?
Leitor
(Interesses)
Quem
lê/compra?
Recursos de estilo
(intertextualidade,
comparações, etc)
Selecionar/ formular
argumentos para
convencer o destinatário.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
Quadro 3: Anúncio publicitário – Aspectos Linguísticos
Organizadores
argumentativos
Verbos Imperativos Vocabulário conotativo
(Escolhas lexicais)
Fonte: Elaborado pela pesquisadora com base em Dolz e Schneuwly, 2004, p. 56 e 57.
Observamos que, inicialmente, os alunos estavam receosos se iriam conseguir
concluir a atividade, a maioria demonstrava preocupação na incerteza se seria
capaz de elaborar um anúncio.
Contudo, no transcorrer da atividade foi possível notar a interação entre os
alunos em cada grupo e isso se refletiu na criatividade demonstrada por eles nas
produções.
FIGURA 2 – Texto produzido pelo Grupo 1 (APÊNDICE L)
69
Transcrição do texto do grupo 14
Lacta - Produtos lacta trazendo o melhor pra você.
100 anos - Desde 1917
Fonte: Dados da pesquisa
Dessa forma, notamos que o grupo 1 não produziu um texto criativo, pois
reproduziu parte do anúncio referente ao produto original, mas utilizou alguns
elementos estruturais elencados no quadro 1.
Podemos perceber a presença de diferentes elementos semióticos, tais como
ilustrações, cores e formato da letra. Esses elementos semióticos carregam em si
uma intencionalidade por parte do autor. A forma como esses elementos estão
dispostas no texto são decisivas para conduzir ao efeito argumentativo pretendido
pelos autores.
O grupo deixa claro, no texto, o anunciante, e é possível identificar o público-
alvo do anúncio. O argumento principal para convencer o leitor é o slogan utilizado
pelo grupo. Não foram identificados na PI do grupo os elementos categorizados no
quadro 3.
4 Ressaltamos que a transcrição dos textos foi feita conforme a escrita dos alunos, em cada
grupo, não houve nenhuma correção ou adequação à norma padrão, já que não era esse o intuito da
pesquisa.
70
FIGURA 3 – Texto produzido pelo Grupo 2 (APÊNDICE M)
Transcrição do texto do grupo 2
Tô de cachos: Para obter cabelos cedozos e macios, sem frizz e
com um brilho impecável, use SEDA, ele cuidará da sua beleza.
Fonte: Dados da pesquisa.
Observamos que o grupo 2 utilizou os elementos estruturais categorizados no
quadro 1, como o produto, título, e marca.
Percebemos que o grupo produziu um anúncio destinado ao público feminino e
faz o uso adequado da imagem e do texto verbal, por meio de elementos semióticos,
como cores e a ilustração do coração que tem um forte apelo argumentativo.
Notamos, também, que o grupo utiliza a rima como recurso de estilo, “... use
seda, ele cuidará da sua beleza” como um novo argumento para convencer o leitor.
Essa frase utilizada pelo grupo nos remete a Vestegaard e SchrØder (2004) que
afirmam que os argumentos conduzem o leitor a acreditar que ao adquirir o produto,
este se reveste de poderes mágicos, e consequentemente, atribui ao consumidor
suas características.
71
Linguisticamente, o grupo faz uso da forma verbal no imperativo “use”, que
denota certeza. Esse recurso é amplamente utilizado na linguagem publicitária, pois
não conduz a dúvidas ou vacilações, induzindo, assim, o leitor á persuasão.
FIGURA 4 - Texto produzido pelo Grupo 3 (APÊNDICE N)
Transcrição do texto do grupo 3
Smartphone
Black Friday – Só hoje! Garanta já o seu.
Fonte: Dados da pesquisa.
O grupo 3 produziu um anúncio de smartphones, em que a linguagem não-
verbal prevalece sobre a linguagem verbal, contudo esta última se apresenta de
forma coerente e integrada às imagens utilizadas.
Notamos que as escolhas lexicais dos termos “Black Friday”, “Só hoje” e
“Garanta já o seu” agregam um forte apelo argumentativo, pois são termos que
atraem de imediato a atenção do leitor, que se sente impelido a adquirir logo um
produto.
72
FIGURA 5 – Texto produzido pelo Grupo 4 (APÊNDICE O)
Transcrição do texto do grupo 4
Não deixe para amanhã o que você pode comer hoje.
Fonte: Dados da pesquisa
O grupo 4 criou um anúncio misto, a princípio confuso, pois não se pode
determinar de imediato o produto anunciado. A ideia do grupo era realmente
anunciar diferentes produtos alimentícios, porém para um leitor que desconhece a
intenção do grupo, o anúncio parece ser do supermercado.
Vale destacar, contudo, o slogan criativo idealizado pelo grupo de alunos “Não
deixe para amanhã o que você pode comer hoje”, que traz uma intertextualidade
divertida com o ditado popular “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”.
Com isso, notamos a intenção do grupo em agregar o recurso estilístico da
intertextualidade a um novo recurso, o humor, atribuindo ao anúncio produzido um
caráter descontraído e uma linguagem divertida, que contribui para atrair mais
facilmente a atenção do leitor.
FIGURA 6 – Texto produzido pelo grupo 5 (APÊNDICE P)
73
Transcrição do texto do grupo 5
Moda Social - Todo dia é um desfile de moda e o mundo é a
sua passarela.
Fonte: Dados da pesquisa.
O grupo 5 produziu um anúncio sobre tendências de moda, no qual a
linguagem visual predomina sobre a linguagem verbal. O título do anúncio sugere
que a moda anunciada seja mais direcionada para ser usada no ambiente de
trabalho ou ambientes mais formais. Notamos que o corpo do texto é coerente com
a temática abordada pelo grupo, assim como as imagens utilizadas para representar
a ideia anunciada.
FIGURA 7 – Texto produzido pelo Grupo 6 (APÊNDICE Q)
74
Transcrição do texto do grupo 6
Johnson‟s baby – Um sonho de cuidado para o seu bebê.
Na hora do banho seu bebê pede Johnson‟s baby, um cheirinho que vai
amar!
Toda criança precisa de cuidados. Na Johnson‟s baby temos produtos que
necessita para cuidar da pele e cabelo do seu bebê!
Fonte: Dados da pesquisa.
Percebemos que o grupo 6 criou um anúncio sobre produtos ligados à higiene
do bebê. Utilizaram um título pouco criativo, pois é muito semelhante ao slogan
usado pela marca.
O corpo do texto é adequado e pertinente ao tema pretendido pelo anúncio, e
também a linguagem visual utilizada pelo grupo, os quais em conjunto tentam
transmitir ao leitor as características e a relevância dos produtos.
Assim, observamos que as produções iniciais dos alunos foram bastante
pertinentes. Todos os grupos recorreram à linguagem visual para anunciar seus
produtos, utilizando imagens condizentes com o tema escolhido. Percebemos,
também, que todos os grupos atribuíram um título para o anúncio. A apropriação e
compreensão dos demais elementos estruturais, discursivos e linguísticos de um
anúncio serão adquiridas no decorrer da sequência didática.
5.3 MÓDULOS
5.3.1 Módulo I – Aspectos estruturais do anúncio publicitário (Oficina 3)
Tomamos o estudo do gênero anúncio publicitário, considerando-o sob a
classificação bakhtiniana de tema, composição e estilo. O anúncio, no tocante a sua
composição, agrega palavras e imagens que se fundem e interagem criando
multissemioses. Esta diversidade de semioses encontradas hoje nos diferentes tipos
de texto, reforça o que dizem Rojo e Moura (2012) acerca da necessidade do aluno
adquirir outras habilidades de leitura e escrita, ampliando a noção de letramento
para letramentos múltiplos.
Diante da complexidade do gênero, buscamos nesse módulo, construir
conceitos e destacar as principais características estruturais do anúncio publicitário,
75
portanto relacionamos o estudo desse módulo à classificação composicional do
gênero estudado, em que buscamos destacar os elementos semióticos que
compõem o anúncio, tais como imagem, texto verbal, marca e slogan.
Para este módulo, foram planejadas duas oficinas distribuídas em três aulas,
sendo duas delas geminadas. Nas duas primeiras aulas (oficina 3), foi feita uma
exposição participada de slides acerca do conceito e as características estruturais
do anúncio publicitário (APÊNDICE F).
Após a discussão, apresentamos dois anúncios em slides (ANEXOS A e B) e
suscitamos questionamentos verbalmente, aos quais os alunos responderam
prontamente e de forma coerente.
FIGURA 8 - Anúncio de O Boticário (ANEXO A)
Fonte: https://creativitate2013.files.wordpress.com/2013/03/960x720_287.jpg
FIGURA 9 - Anúncio do creme dental Sorriso (ANEXO B)
Fonte: http://portugues.uol.com.br/public/conteudo/images/anuncio-publicitario(1).jpg
76
O objetivo principal dessa atividade era observar se os alunos seriam capazes
de mobilizar seus os conhecimentos prévios sobre o gênero estudado, relacionando-
os com as novas informações adquiridas durante a exposição participada. A ideia de
realizar os questionamentos de forma oral, inicialmente, tinha o intuito de fazer com
que os alunos se sentissem à vontade para se expressar e interagir uns com os
outros, além de criar um ambiente mais agradável e sociável, o que de fato, ocorreu.
Quanto à identificação do gênero dos textos apresentados nos slides, a turma
de imediato respondeu que se tratava de anúncios publicitários, assim como quanto
à finalidade dos textos, a maioria dos alunos respondeu que tinha o objetivo de
vender um produto, outros alunos responderam que o intuito era convencer o leitor
de que o produto era bom.
Quando questionados sobre a qual era o público principal do anúncio 1
(ANEXO A), observamos que a turma pareceu dividida, pois grande parte dos alunos
imediatamente respondeu que era destinado às mulheres, ao público feminino,
contudo, uma outra parte dos alunos respondeu que era destinado aos namorados,
noivos e esposos a fim de presentearem as mulheres. Notamos, com essas
respostas, o senso de observação e reflexão dos alunos quanto à análise dos
anúncios.
No tocante à identificação da marca e slogan dos anúncios, a turma, de forma
geral, conseguiu localizar essas informações. O questionamento sobre qual
linguagem, a verbal ou não verbal, atraiam mais atenção deles, notamos que
novamente a turma se dividiu quanto às respostas, já que alguns alunos
responderam a linguagem verbal, e outros alunos responderam a linguagem não-
verbal, houve ainda, alunos que responderam que as duas linguagens atraíram a
atenção deles.
Nas duas últimas questões relativas ao primeiro anúncio apresentado,
pudemos anotar as mais diversas respostas. A questão sobre onde podemos
encontrar esse tipo de anúncio, os alunos responderam revistas, propaganda
televisiva, panfletos de lojas e outdoors. Já a questão sobre quais os recursos
utilizados para chamar a atenção do leitor para o produto anunciado, os alunos
responderam: a beleza da mulher que se parece com uma princesa, os sapatos
iguais ao da bela adormecida, muitos homens “encantados” pela beleza da mulher, e
um aluno respondeu o corpo do texto.
77
Com relação às questões específicas ao segundo anúncio apresentado no
slide (ANEXO B), observamos respostas coerentes e interessantes dos alunos. Na
primeira questão sobre qual a relação entre a modelo e o termo “sorriso amarelo”, a
maioria dos alunos respondeu que para ter o sorriso da modelo, o leitor deve
comprar o creme dental do anúncio. Um dos alunos apontou que há uma relação de
oposição, sugerindo que apenas o produto anunciado poderia tornar os dentes mais
brancos.
No segundo questionamento sobre se a mensagem veiculada teria o mesmo
efeito caso a modelo não tivesse um belo sorriso, os alunos se limitaram a
responder que não, apenas dois alunos acrescentaram que a imagem da modelo
com um belo sorriso induz o leitor a querer comprar o creme dental.
5.3.2 Módulo I – Aspectos estruturais do anúncio publicitário (Oficina 4)
Nessa aula, apresentamos dois anúncios publicitários (ANEXOS C), em slides,
para os alunos, a fim de que os grupos identificassem as principais características
estruturais do gênero anúncio publicitário.
FIGURA10 – Anúncios da Agência Shangri-lá (ANEXOS C)
Anúncio 1: Anúncio 2:
Fonte: http://www.colunistas.com/anos/pc2011/br/print/AGENCIA3-lugares(jor)-1.jpg
http://www.colunistas.com/anos/pc2011/br/print/AGENCIA3-lugares(jor)-3.jpg
78
Nesse módulo, introduzimos como conteúdo a identificação do produto/ideia,
assim como o slogan, a linguagem verbal e não-verbal, pois esperamos que os
alunos utilizassem esses elementos na produção de um anúncio.
Ao analisar as imagens apresentadas, os alunos receberam a folha tarefa 2
(APÊNDICE G) com questões acerca das imagens. Percebemos que todos os
grupos conseguiram identificar que “viagens” era a ideia que estava sendo veiculada
por ambos os anúncios (Questão 1). Durante toda realização da atividade, os grupos
interagiram e debateram as questões, analisando as imagens e refletindo acerca da
estrutura do anúncio publicitário.
Na questão 2, os alunos mostraram criatividade nas respostas, mas todos os
grupos perceberam a ideia que os anúncios queriam transmitir.
FIGURA 11 – Resposta do grupo 2
O grupo 1 foi único que fez referência ao dia da semana destacado no anúncio,
a segunda-feira, ao observar que sendo um lugar diferente, possivelmente
pretendiam dizer “especial”, não se leva em consideração o dia da semana.
FIGURA 12 – Resposta do grupo 1
Com relação à terceira questão, a maioria dos grupos consideraram que a
linguagem não-verbal atrai mais a atenção do leitor que a verbal, com exceção do
Transcrição: Esta transmitindo a ideia de conhecer novos lugares.
Transcrição: A segunda é um dia chato, mas se você está viajando
num lugar diferente, tudo muda.
79
grupo 5, que considerou a linguagem verbal mais atrativa, justificando a resposta
dando destaque aos slogans dos anúncios.
FIGURA 13 – Resposta do grupo 5
Quatro dos cinco grupos conseguiram facilmente identificar os slogans dos
anúncios, apenas o grupo 3 não interpretou a questão corretamente e formulou uma
resposta diferente da esperada.
FIGURA 14 – Resposta do grupo 3
A questão cinco originou respostas criativas, mas nenhuma revelou fuga da
temática proposta pelos anúncios.
FIGURA 15 – Resposta do grupo 4
Transcrição: A linguagem verbal, por que os slogans foram
marcantes.
Transcrição: Sala de trabalho, pessoas indo au trabalho, pessoas nas
ferias.
Transcrição: Que devemos investir bem o dinheiro, com momentos.
80
Na questão seis, todos os grupos responderam que além dos slogans, as
imagens contribuem para que a mensagem sugerida pelos anúncios seja
transmitida.
Identificar os aspectos estruturais do anúncio publicitário possibilitou aos
alunos a percepção de que os gêneros se apropriam de características que lhes
auxiliam na sua construção composicional. Bakhtin caracteriza a estrutura
composicional do gênero como a organização do enunciado, de forma geral.
Podemos concebê-la como a estrutura formal do gênero sem, no entanto, considerá-
la rígida, pois os gêneros são, de acordo com o autor, dinâmicos e relativamente
estáveis.
Ao final da atividade, os alunos demonstraram satisfação e comprometimento.
Constatamos, ainda que a maioria dos alunos conseguiu identificar e analisar
significativamente a estrutura formal do gênero estudado.
5.3.3 Módulo II – Estrutura discursiva do anúncio publicitário (Oficina 5)
Neste módulo, analisamos as atividades realizadas pelos alunos, as quais
tinham como objetivo principal identificar os interlocutores do discurso, além de
analisar o modo como o produtor organiza discursivamente o gênero textual, ou
seja, quais recursos são utilizados por ele a fim de persuadir o leitor. Relacionamos
o conteúdo desse módulo à classificação temática de Bakhtin, ressaltando os
elementos constitutivos do anúncio utilizados com a finalidade de conduzir o leitor ao
convencimento, à persuasão.
O discurso sedutor do anúncio publicitário tem o intuito de induzir o leitor a
acreditar que ao adquirir um produto alcançará as qualidades atribuídas a ele, e
essa ideia de transferência culmina com a compra do produto. Isso é confirmado por
Vestegaard e SchrØder (2004, p. 241) quando atestam que o valor simbólico de um
produto é criado em campanhas planejadas e transferido às pessoas que o
adquirem e o consomem.
Logo, percebemos que, cada vez mais, os anúncios publicitários interferem e
determinam o estilo de vida e o interesse das pessoas.
Notamos que, de maneira geral, os anúncios produzidos pelos alunos, tanto na
PI quanto na PF, revelam uma preocupação dos seus autores em apresentar
argumentos para promover seus produtos e ideias. Nas produções finais, estes
81
recursos podem ser observados mais claramente, já que os grupos se posicionaram
de forma mais original, tentando criar seus próprios argumentos de convencimento.
Na primeira atividade do módulo, foi apresentado aos alunos, um anúncio
publicitário (ANEXO D), a fim de que os alunos identificassem no texto aspectos
relacionados ao discurso e seus interlocutores.
FIGURA 16 – Anúncio da Hortifruti (ANEXO D)
Fonte: http://hortiflix.com.br/site/wp-content/uploads/2016/01/cartaz-incrivel-rucula.jpg
Na primeira questão da folha tarefa 3 (APÊNDICE H), os grupos identificaram,
facilmente, o argumentador (autor) do anúncio.
FIGURA 17 – Resposta do grupo 3
A única exceção foi o grupo seis, que por falta de uma análise mais apurada,
apontou o produto anunciado como argumentador (autor) do anúncio.
Transcrição: Hortifruti que e uma empresa de alimentos.
82
FIGURA 18 – Resposta do grupo 6
Observamos que, na segunda questão, os grupos responderam de forma
simples e geral, não buscaram especificar o principal público-alvo do anúncio,
contudo não se afastaram da resposta pretendida.
Quanto à identificação do objetivo do anúncio, notamos que os grupos
identificaram a finalidade da mensagem. Os grupos 1 e 3 analisaram e construíram a
resposta de forma mais elaborada.
FIGURA 19 – Resposta do grupo 1
FIGURA 20 – Resposta do grupo 3
Da mesma forma, todos os grupos enumeraram suportes adequados ao
anúncio trabalhado.
Com relação à intertextualidade com o filme “O incrível Hulk” presente no
anúncio, dois grupos, apenas, não conseguiram identificar. Percebemos, com isso,
Transcrição: A incrível rúcula.
Transcrição: Divulgar a venda de rucula para os consumidores atraves do
slogan.
Transcrição: Influenciar as pessoas a utilizar a rúcula em seu cardápio.
83
que a falta de um conhecimento de mundo mais amplo, por parte de alguns alunos,
pode ter contribuído para que estes não percebessem a relação clara com um tema
que é comum ao universo infanto-juvenil, como é o caso do super-herói Hulk.
O autor da peça publicitária trabalhada conta com o conhecimento de mundo
partilhado do leitor para construir sua persuasão com o auxílio do recurso da
intertextualidade. Para que haja o entendimento do texto, é preciso que ocorra entre
o autor e o leitor uma troca fluida de informações. Koch e Travaglia (2004, p.77)
afirmam que, quanto maior for o grau de completude de informações entre ambos,
menor será a necessidade de explicitude do texto. Também, relacionamos a
intertextualidade, à ideia de dialogismo teorizada por Bakhtin, na qual se percebem
nos textos, na enunciação, um eco de diversas vozes.
Percebemos que os alunos que observaram a intertextualidade do anúncio com
o filme, elaboraram respostas mais significativas, como o grupo 1 e o grupo 4, pois
citaram a relação da rúcula com as fontes de vitaminas, que deixam as pessoas
mais fortes e saudáveis.
FIGURA 21 – Resposta do grupo 1
FIGURA 22 – Resposta do grupo 4
Transcrição: Com a intenção de se as pessoas comerem a rúcula ficarão
incrivelmente forte porque a rúcula é rica em proteina.
Transcrição: Intenção das crianças comerem rucula pois tem vitaminas.
84
5.3.4 Módulo II – Estrutura discursiva do anúncio publicitário (Oficina 6)
Nesta aula, apresentamos uma tirinha da personagem Mafalda (ANEXO E), em
slide, para os alunos com o objetivo de observar e identificar os argumentos de
persuasão utilizados no texto.
Após a leitura e análise da tirinha, os alunos responderam a alguns
questionamentos da folha tarefa 4 (APÊNDICE I).
FIGURA 23 – Tirinha de Mafalda (ANEXO E)
A primeira questão se referia à temática da história, de que se tratava a tirinha.
Foi muito interessante observar como todos os grupos captaram de forma efetiva a
mensagem transmitida pelos quadrinhos. Com respostas variadas, todos os grupos
perceberam a intenção do autor em fazer o leitor perceber a influência exercida pela
mídia na vida das pessoas. Destacamos aqui a resposta do grupo 1:
FIGURA 24 – Resposta do grupo 1
Transcrição: Trata-se de que os argumentos certos tem o poder de convencer
as pessoas.
85
Este grupo expressou claramente o poder dos argumentos no convencim das
pessoas. O gênero anúncio publicitário, conforme dito anteriormente, possui um
discurso prioritariamente argumentativo. Em consonância com Carvalho (2014, p.
70), diferentes componentes devem se combinar para construir parte do processo
argumentativo, chamada de opinião/tese. Ou seja, é preciso que esses elementos
estejam inseridos no âmbito de um questionamento que poderá conduzir a um ato
persuasivo. Os alunos conseguiram, com êxito, perceber os argumentos utilizados
pela personagem Mafalda para convencer a mãe a deixá-la brincar na praça.
Esta percepção ficou ainda mais notória a partir das respostas da segunda e
terceira questões. Percebemos que todos os grupos conseguiram resumir de forma
clara a tirinha, além de conseguirem identificar e elencar os argumentos utilizados
pelos anúncios assistidos por Mafalda, visando à persuasão do telespectador.
Na última questão da atividade, observamos que, exceto o grupo 2, que
discorda da afirmação apresentada, os demais grupos concordaram com a
afirmação “O grande público sempre demonstra passividade diante da mídia”. A
maioria dos grupos apresentou justificativas coerentes para argumentar porque
concordam com a frase. Vejamos a resposta do grupo 1:
FIGURA 25 – Resposta do grupo 1
Dois grupos não conseguiram expor de forma clara suas justificativas. Contudo,
notamos um progresso significativo na aprendizagem dos alunos no decorrer desse
módulo, os envolvidos participaram de forma efetiva das atividades, e essa evolução
é possível de ser percebida nas produções finais dos alunos.
Transcrição: Sim. Porque a maioria das pessoas são convencidas muito
rápido pelos anuncios e muitas das vezes acaba arrependido pela compra do
produto por não ser aquilo tudo que o vendedor dissera do produto.
86
5.3.5 Módulo III – Estrutura linguística do anúncio publicitário (Oficina 7)
A análise desta categoria foi realizada a partir da observação das unidades
linguísticas destacadas presentes nos anúncios publicitários trabalhados neste
módulo, observando os três aspectos selecionados previamente, a saber:
organizadores argumentativos, verbos imperativos e vocabulário conotativo.
Relacionamos o conteúdo trabalhado nesse módulo, ao estilo do gênero destacado
por Bakhtin em sua classificação, em que as escolhas linguísticas feitas pelo autor
concorrem para a construção de sentidos do texto.
Nesta primeira etapa, foi apresentado para os alunos um anúncio de
propaganda do Ministério da Saúde (ANEXO F), em slide, com o objetivo de analisar
as escolhas lexicais feitas pelo autor do texto para transmitir uma mensagem.
FIGURA 26 - Anúncio do Ministério da Saúde (ANEXO F)
Fonte:https://cellulablog.wordpress.com/2014/11/26/governo-lanca-telefone-para-denuncia-de-
racismo-em-hospitais-e-postos/
A primeira questão da folha tarefa 5 (APÊNDICE J) aborda sobre qual a
relação entre o texto verbal e a imagem, esperava-se que os alunos observassem a
relação de contradição, de oposição entre as duas linguagens. Todos os grupos
perceberam que a imagem e o texto escrito mantêm uma relação de adversidade, de
contradição, e apresentaram respostas coerentes.
Os grupos explicaram de forma clara e objetiva a frase “Não fique em silêncio”
presente no anúncio, conseguindo relacionar o texto verbal à imagem contraditória,
87
e estabelecer, assim, uma relação de oposição. Notamos que esta característica do
texto se apresenta como um recurso retórico que, em consonância com Carvalho
(2014), é uma característica da linguagem publicitária que faz uso desses efeitos,
ressaltando itens lexicais, jogos de palavras e convidam, assim, o leitor a participar
de universo lúdico.
Na terceira questão acerca do anúncio sobre o destaque dado à palavra
“silêncio”, todos os grupos apresentaram respostas coerentes e dentro do esperado.
Mais uma vez se faz presente um recurso linguístico utilizado como estratégia usada
para atrair a atenção do leitor à mensagem divulgada.
Percebemos que o grupo 5 se posiciona de forma crítica e ideológica quanto ao
silêncio diante de atos de racismo.
FIGURA 27 – Resposta do grupo 5
Notamos com isso, que todos os recursos utilizados no anúncio publicitário
revelam ideologias, e isso nos remete a Bakhtin (2014) ao afirmar que o indivíduo
enquanto autor, apresenta-se como um fenômeno puramente sócio-ideológico.
Da mesma forma, a última questão proporcionou respostas pertinentes e
reflexivas acerca da temática do anúncio trabalhado. Vejamos:
FIGURA 28 – Resposta do grupo 2
Transcrição: Porque é para as pessoas se consciêntizarem que elas tem o
direito de reinvidicarem e não aceitar o racismo como se fosse normal.
Transcrição: Faz mal à saúde refere-se a dor que o racismo causa na alma da
pessoa.
88
A partir dessa atividade, percebemos uma aprendizagem significativa dos
alunos na análise de aspectos relacionados à linguagem de textos publicitários.
5.3.6 Módulo III – Estrutura linguística do anúncio publicitário (Oficina 8)
Nessa etapa do módulo, selecionamos os elementos linguísticos ligados ao
modo verbal mais recorrente na linguagem publicitária, e também, às escolhas
lexicais do anúncio. A peça publicitária escolhida foi um anúncio de propaganda do
Ministério da Saúde (ANEXO G) sobre a doação de órgãos.
FIGURA 29 – Anúncio do Ministério da Saúde (ANEXO G)
Fonte:https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2013/09/25/noticias-saude,193779/brasil-
dobra-o-numero-de-doacoes-de-orgaos-em-dez-anos.shtml
Para esta atividade, utilizamos apenas uma aula, na qual foi apresentado, em
slide, o anúncio para os alunos com o objetivo de observar e analisar os aspectos
previamente destacados.
Com relação à primeira questão da folha tarefa 6 (APÊNDICE K), todos os
grupos identificaram facilmente o modo verbal das formas verbais presentes no
anúncio analisado. Também, justificaram o uso predominante desse modo verbal
nos anúncios ligando-o ao convencimento e à persuasão do leitor. De acordo com
Carvalho (2014, p. 59), os verbos desempenham um papel importante cujo objetivo
é persuadir o consumidor a comprar o produto anunciado, sendo o imperativo a
forma verbal mais usada.
89
Na questão seguinte, esperava-se que os grupos explicassem o sentido em
que a palavra “apagar” estava sendo empregado na frase: “Não deixe a vida se
apagar”. Percebemos que mesmo não se expressando de forma clara, os alunos
perceberam o significado conotativo atribuído à palavra. Dois grupos perceberam a
relação entre a escolha lexical da palavra “apagar” e a mensagem de
conscientização acerca da doação de órgãos transmitida pelo anúncio. Vejamos:
FIGURA 30 – Resposta do grupo 4
Observamos, com a realização desse módulo, que os alunos conseguiram
observar e identificar os aspectos linguísticos selecionados para o trabalho com o
gênero anúncio publicitário, e buscaram introduzir esses elementos, ainda que de
forma sutil, nas suas produções finais.
5.4 Produção Final do anúncio publicitário (Oficina 9)
Nessa etapa, esperava-se que os alunos produzissem anúncios publicitários
diversos utilizando os conhecimentos adquiridos acerca do gênero estudado,
levando em consideração os aspectos destacados durante o percurso de
aprendizagem, ou seja, o objetivo era observar, se após estudos, os alunos
compreenderam os aspectos estruturais, discursivos e linguísticos do anúncio
publicitário, e se fariam uso desses conhecimentos nas produções finais.
Ressaltamos que os anúncios publicitários produzidos pelos grupos foram expostos
na unidade escolar para a apreciação de toda comunidade.
Percebemos nas produções inicial e final dos grupos, a presença do
dialogismo, preconizado por Bakhtin (2011), evidenciado nas relações de interação
que perpassam pela temática, composição e estilo utilizados nas produções dos
Transcrição: Pelo fato de que nós mesmo depois de mortos temos a capacidade
de preservar alguns anos de vida de outro alguém. Doando assim um órgão.
90
alunos. Conforme dito anteriormente, a noção de dialogismo está intrinsicamente
relacionado ao conceito de compreensão responsiva ativa, em que o entendimento
se dá a partir da mobilização de vivências sociais e históricas por parte do
interlocutor para emitir uma certa resposta a um discurso. Esta compreensão
responsiva ativa pode ser percebida nos anúncios publicitários por meio do
convencimento, da persuasão do leitor.
Notamos, também, diferentes recursos semióticos que caracterizam um texto
multimodal nos anúncios produzidos.
De forma geral, pudemos observar que a maioria dos grupos buscou inserir os
conteúdos apresentados durante os módulos em suas produções finais.
Tomemos para análise as produções finais dos grupos participantes da
pesquisa:
FIGURA 31 – Produção Final do grupo 1 (APÊNDICE R)
Transcrição do texto do grupo 1
Meio Ambiente
Seus filhos vão poder enxergar o verde? Preserve o verde.
Preserve a vida. Preserve o que há de melhor.
Fonte: Dados da pesquisa
91
Notamos que o grupo 1 optou por um anúncio publicitário de conscientização
acerca da preservação do verde na natureza. Esse tipo de anúncio não tem como
foco o consumo ou aquisição de algum produto, mas sim a possibilidade de reflexão
sobre uma temática. Na maioria das vezes, esses anúncios são simples e diretos,
porém criativos, trazendo, por vezes, indagações com o objetivo de tornar os
anúncios mais reflexivos. Podemos observar essa característica no anúncio
produzido pelo grupo 1, que traz como título para a seguinte questão: “Seus filhos
vão poder enxergar o verde?”.
Notamos, ainda, que a repetição da forma verbal no imperativo “Preserve”, é
um recurso linguístico utilizado pelo grupo com o intuito de denotar persuasão, pois
segundo Carvalho (2014) os verbos no imperativo atribuem certeza, conduzindo,
portanto, ao convencimento.
Após o título, o grupo traz como corpo do texto, frases ligadas à preservação
do verde e da vida, além de imagens apropriadas relativas ao tema escolhido.
Observamos uma perceptível evolução do grupo em relação à PI, pois valorizou
melhor os elementos estruturais do anúncio, utilizando um questionamento
adequado como título da produção, além de trabalhar melhor a estrutura discursiva
do anúncio, selecionando de forma mais adequada os argumentos de
convencimento do leitor, e fazendo também escolhas lexicais mais elaboradas.
FIGURA 32 – Produção Final do grupo 2 (APÊNDICE S)
92
Transcrição do texto do grupo 2
Suícidio - O seu modo de agir pode mudar uma vida...
Aprendam:
Não faça bullying.
Não aponte
Não descremine
Não julgue
Não despreze
Não espalhe rumores. Preste atenção as suas atitudes, seu amigo pode ser o
próximo.
“Alguns de vocês se importam.
Nenhum de vocês se importou o suficiente.”
Fonte: Dados da pesquisa
Assim como o grupo 1, o grupo 2, também produziu um anúncio publicitário de
conscientização. Percebemos que o grupo buscou, com sua produção, relacionar as
práticas do bullying ao suicídio de jovens. Escolheram uma temática polêmica e
93
trouxeram um título chocante e chamativo: “Suicídio – o seu modo de agir pode
mudar uma vida...”. Percebemos também, que as imagens utilizadas pelo grupo
trazem mensagens de conscientização pertinentes ao tema abordado.
Na estrutura linguística do anúncio, o grupo também faz o uso abundante dos
verbos imperativos, na forma do imperativo negativo para tentar convencer o leitor a
refletir sobre o tema. Essa característica conduz o anúncio a revelar o
comprometimento ideológico do grupo, pois cada signo, cada palavra cada recurso
usado no discurso revelam valores. E isso nos direciona, novamente, ao que diz
Bakhtin (2014) sobre todo signo ser social por natureza, tanto o exterior quanto o
interior, tão social quanto a ideologia. Assim, o grupo desnuda-se, mostrando por
meio dos recursos utilizados o que pensam e o que defendem acerca da temática.
FIGURA 33 – Produção Final do grupo 3 (APÊNDICE T)
Transcrição do texto do grupo 3
Turismo em Jequié
Venha conferir!
Jequié é um município brasileiro no estado da Bahia. Esta a 365 km de
Salvador, no sudoeste da Bahia, na zona limitrofe entre a caatinga e a
zona da mata. Em 2017 a população estima-se em 162.209 habitantes.
Principais atrações, pontos turísticos tais como:
Fonte: Dados da pesquisa
94
O grupo 3 produziu um anúncio promovendo o turismo na cidade de Jequié-BA,
no qual utiliza o corpo do texto para apresentar algumas características da cidade,
como localização, vegetação, população.
Percebemos que no anúncio prevalece o discurso descritivo que, de acordo
com Carvalho (2014), é empregado com o intuito de descrever e intensificar, nesse
caso, a cidade. Todavia, notamos que a descrição é usada pelo grupo para causar
um convencimento por parte do leitor, sendo assim, uma forma de argumentar.
O grupo utilizou um título direto e claro, além de imagens de referências e
pontos turísticos da cidade. A linguagem não-verbal do anúncio prevalece, mas há
uma relação interativa com a linguagem verbal que se encarrega de transmitir a
mensagem pretendida pelo grupo. De acordo com Dionísio (2006), imagem e
palavra mantêm uma relação cada vez mais próxima, mais integrada e cada vez
mais se observa a combinação de material visual e escrita.
FIGURA 34 – Produção Final do grupo 4 (APÊNDICE U)
Transcrição do texto do grupo 4
JequiéEcoturismo
Esta pensando em viajar? Com conforto e segurança? Você esta no
lugar certo!
Venha comprar passagens!
No Ecoturismo viagens...
Fonte: Dados da pesquisa.
95
O anúncio produzido pelo grupo 4, também foi sobre a cidade de Jequié -BA,
contudo, o objetivo principal é promover o ecoturismo na cidade, assim como a
agência fictícia “Ecoturismo Viagens”.
Observamos que o grupo utilizou perguntas retóricas como recurso linguístico
para induzir o leitor a uma reflexão, isto é, ao convencimento em adquirir uma
viagem para a prática do ecoturismo. Segundo Bakhtin (2011), o sujeito não apenas
se expressa, ele age juntamente com seu interlocutor, atribuindo a cada ação
interlocutiva, diferentes vozes. Dessa forma, o papel do leitor é essencial para
construir o significado do anúncio, e por sua vez, alcançar o objetivo pretendido.
Logo em seguida às interrogações, há uma afirmação explícita “Você esta no
lugar certo!”, que é usado para atingir o que se espera com o texto, isto é, conduzir o
leitor à persuasão.
FIGURA 35 – Produção Final do grupo 5 (APÊNDICE V)
Transcrição do texto do grupo 5
O bem é seu
O cuidado é nosso.
Fonte: Dados da pesquisa.
Observamos que o grupo 5 produziu um anúncio simples de produtos de
limpeza, em que se nota apenas um slogan e imagens.
96
O slogan utilizado pelo grupo é criativo e condizente com o tema abordado no
anúncio, porém como foram anunciados diferentes produtos, de variadas marcas,
sem maiores informações, não é possível identificar o anunciante.
Apesar da simplicidade do anúncio, evidenciamos que o discurso
argumentativo se estabelece por meio da interação entre o texto verbal e o não-
verbal, no qual as imagens se destacam, mas exercem um papel fundamental na
construção do sentido do texto. Segundo Silveira (2005), entre as vantagens
apontadas de um texto constituído por imagens é que esta permite uma leitura em
menos tempo do requerido pelo texto escrito, tornando-o mais atraente aos leitores.
FIGURA 36 – Produção Final do grupo 6 (APÊNDICE X)
Transcrição do texto do grupo 6
Venda e Troca
Procura aqui
Quer vender?
Quer comprar?
Fonte: Dados da pesquisa.
97
O grupo 6 escolheu produzir um anúncio no formato de classificados, intitulado
“Venda e Troca”, no qual anuncia diferentes produtos e o consumidor pode vender,
comprar ou até mesmo trocar.
O corpo do texto é formado por perguntas diretas ao consumidor, usadas como
apelo para convencê-lo a adquirir, trocar ou vender um produto.
No quadro seguinte, podemos sintetizar o aparecimento ou não das categorias
elencadas nos quadros 1,2 e 3, tanto nas produções iniciais quanto finais
analisadas dos grupos. O quadro tem como objetivo a melhor visualização dos
recursos empregados pelos grupos na constituição dos anúncios.
QUADRO 13 – Critérios de análise de anúncios publicitários.
Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora.
QUADRO 14 – Legenda dos critérios de análise de anúncios publicitários.
Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora.
A partir dos dados do quadro, podemos notar que de forma geral, os grupos
progrediram quanto às categorias elencadas nos quadros de análises. Ressaltamos
a evolução criativa, assim como o desenvolvimento discursivo e linguísticos dos
alunos envolvidos na pesquisa quanto ao gênero estudado.
98
CONCLUSÃO
O presente estudo objetivou investigar o processo de ensino e aprendizagem
com texto multimodal do gênero anúncio publicitário com alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental no Colégio Estadual PFS, na cidade de Jequié, na Bahia. A fim de
atingir tal objetivo, desenvolvemos uma intervenção pedagógica por meio de uma
Sequência Didática, baseada na estrutura dos autores Joaquim Dolz, Michèle
Noverraz e Bernard Schneuwly (2004).
Com o propósito de sistematizar e analisar os dados obtidos a partir do
desenvolvimento das oficinas e das produções inicial e final dos alunos envolvidos
na pesquisa, constatamos que nas três categorias analisadas - Aspectos Estruturais
do anúncio publicitário, Aspectos discursivos e Aspectos linguísticos -, houve um
progresso na leitura, interpretação e escrita do gênero anúncio publicitário.
A maior motivação para esta pesquisa foi a percepção, no decorrer da prática
pedagógica, de que a maioria dos alunos, mesmo no final do Ensino Fundamental,
tem grande dificuldade em ler e interpretar textos, principalmente, multimodais.
Percebemos que apesar de todos os avanços alcançados na escola, as práticas de
leitura, às vezes, ainda se mantêm dissociadas da construção de sentidos, e isso
dificulta a compreensão do aluno, além de causar entraves na aprendizagem.
Observamos esses problemas no decorrer do processo da intervenção
pedagógica. As dificuldades diagnosticadas no início do processo foram sendo
trabalhadas e aos poucos minimizadas. A realização da Sequência Didática acerca
do gênero anúncio publicitário nos permitiu observar um desenvolvimento
significativo dos alunos nas práticas de leitura e interpretação de texto multimodal,
assim como avanços na escrita do gênero trabalhado.
Todavia, ressaltando que as produções escritas dos alunos se mostram em
processo de desenvolvimento, não podendo ser comparadas a textos multimodais
mais elaborados, contudo vale destacar e considerar as aquisições apreendidas
pelos estudantes no decorrer de cada etapa, que são apenas pontos de partidas
para a descoberta de novas aprendizagens.
Diante disso, destacamos como contribuição deste estudo, que o trabalho com
gêneros discursivos específicos a partir da vivência e experiências dos alunos
podem contribuir para o desenvolvimento de competências leitoras e habilidades
interpretativas, auxiliando-os na formação reflexiva e crítica da realidade, pois
99
acreditamos que a competência em ler e escrever somente é bem desenvolvida a
partir de atividades de leitura e escrita, que ocorram por meio de uma prática
docente que tenha como objetivo implementar estratégias para que os alunos
aprendam a refletir sobre o que leem e adquiram autonomia intelectual enquanto
leitor.
Assim, salientamos a importância do ensino de língua pautado na noção de
interação verbal e na construção de conhecimentos, levando em consideração os
diferentes fatores, tais como sociais, históricos, culturais e psicológicos dos sujeitos,
a fim de que estes possam interpretar a realidade e construir significados. Essa
perspectiva vai de encontro ao que preconizam os PCN quando afirmam que “[...] o
domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística,
são condições de possibilidade de plena participação social” (BRASIL, 1998, p. 19).
Quando pensamos em aprimorar a prática pedagógica sempre refletimos em
como as medidas elaboradas podem implicar uma melhoria na aprendizagem dos
alunos. Mas diante de tais considerações acerca da pesquisa, além do
aprimoramento das habilidades de leitura, interpretação e escrita sobre o tema
estudado por parte dos alunos, ressalto o quão enriquecedora foi todo esse
processo de pesquisa para mim, enquanto educadora e professora de Língua
Portuguesa. Todas as experiências vividas me permitiram refletir, conhecer e
aperfeiçoar a minha prática pedagógica.
Ademais, ressaltamos que com este estudo, esperamos instigar novas
contribuições e investigações, fomentando novos caminhos e possibilidades de
discussão acerca dos gêneros discursivos multimodais, como o anúncio publicitário,
que podem ser mais ainda mais praticados nos ambientes escolares.
100
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. 8. Ed. São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
2011.
BAKHTIN, Mikhail. & VOLOCHINOV, Valentin. N. Marxismo e Filosofia da
Linguagem. 16ª ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
BARROS, Diana L. P. de. Dialogismo, polifonia e enunciação. In: BARROS,Diana L.
P. de; FIORIN, José Luiz (orgs). Dialogismo, polifonia, intertextualidade: Em
torno de Bakhtin. São Paulo: Edusp, 1994, p. 1-9 (Coleção Ensaios de Cultura).
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à
pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
BRAIT, Beth. Análise e teoria do discurso. In: ______. (Org.). Bakhtin: outros
conceitos-chave. São Paulo, Contexto, 2006, p. 9-31.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – Documento
preliminar. MEC. Brasília, DF, 2017.
BRASIL (1998) Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros
curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,
1997.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa, vol. 1. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
CARVALHO, Nelly de. O texto publicitário na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2014.
101
__________. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 1996.
DIONÍSIO, Angela. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARKOVSKI, A.
M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Org.). Gêneros textuais: reflexões e ensino.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p. 131-144.
DIONÍSIO, Angela, MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria Auxiliadora.
Gêneros textuais & Ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
DIONÍSIO, Angela. P. Gêneros textuais e multimodalidade. In: KARWOSKI, A. M.;
GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São
Paulo: Parábola, 2006.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. (Tradução e organização: Roxane Rojo;
Glaís Sales Cordeiro).
FARACO, MOURA, MARUXO Jr. Língua Portuguesa: Linguagem e interação. 3 ed.
São Paulo: Ática, 2016.
FÁVERO, Leonor. L.; KOCH, Ingedore. G. V. Linguística textual: uma introdução.
3. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
GERALDI, João W. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação.
Campinas: Mercado de Letras, 1996.
______. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.
______. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
HALLIDAY, Michael. A. K. An introduction to functional grammar. London:
Edward Arnold, 1994.
102
______. Part A. In: HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, context, and text:
aspects of language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University
Press, 1989.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 7.ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
______, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à linguística textual. São Paulo:
Martins Fontes, 2004a.
______, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do
texto. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2013.
______, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 2. Ed. São Paulo:
Contexto, 1998.
KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 2004.
KRESS, Gunther. R. & Van LEEUWEN, Theo. Multimodal discourse: the modes
and media of contemporary communication. New York: Oxford University, 2001.
KRESS, Gunther. R. & Van LEEUWEN, Theo. Reading Images: a Grammar of
Visual Design. Londres: Routledge, 1996.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática,
2009.
MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In: BRAIT, Beth. (Org.) Bakhtin: conceitos-
chave. São Paulo: Contexto, 2005, p. 151-166.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
103
MINAYO, Maria C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 2001.
PETERMANN, Juliana. Imagens na publicidade: significações e persuasão.
UNIrevista, vol.1, nº 3, 2006. Disponível em:
http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Linguagem%20Visual/imagens_na_publicidade_
siginificacoes_e_persUasao.pdf Acesso em: 18 jul. 2017.
ROJO, Roxane H. R.; BARBOSA, Jacqueline P. Hipermodernidade,
multiletramentos e gêneros discursivos. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
ROJO, Roxane H. R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de
linguagens na escola. In: ROJO, Roxane Helena Rodrigues; MOURA, Eduardo
(orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012, p. 11-32.
SANDMANN, Antônio. A linguagem da propagada. São Paulo: Contexto, 2001.
SANT‟ANNA, Armando; JUNIOR, Ismael R; GARCIA, Luiz F. D. Propaganda: teoria,
técnica e prática. 8.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e col. Gêneros orais e escritos na escola.
Tradução e organização de Roxane H. R. Rojo e Glaís S. Cordeiro. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2004.
SILVEIRA. Jane Rita Caetano da. A imagem: interpretação e comunicação. In:
Linguagem em (Dis)curso – Lem.D, Tubarão, v. 5, n. esp., p. 113-128, 2005.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998.
XAVIER, Antonio. C. Como se faz um texto: a construção da dissertação
argumentativa. Catanduva: Rêspel, 2006.
104
THE NEW LONDON GROUP. A Pedagogy of Multiliteracies: designing social
futures. Harvard Educational Review, Spring 1996; 66, 1; Research Library pg. 60.
Disponível em:
http://vassarliteracy.pbworks.com/f/Pedagogy+of+Multiliteracies_New+London+Grou
p.pdf Acesso em: 29 jun. 2017.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 18ª ed. São Paulo, Cortez,
2011.
TRAVAGLIA, Luiz. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de
gramática no 1º e 2º graus. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
VERTERGAARD, Torben; SHRØDER, Kim. A linguagem da propaganda. 2.ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1994.
105
APÊNDICES
106
APÊNDICE A
APÊNDICE B
107
APÊNDICE C
108
APÊNDICE D
109
110
APÊNDICE E
111
112
113
APÊNDICE F
114
APÊNDICE G
115
116
APÊNDICE H
117
APÊNDICE I
118
APÊNDICE J
119
APÊNDICE K
120
APÊNDICE L
121
ANEXOS
122
ANEXO A
123
ANEXO B
124
ANEXO C
IMAGEM 1
IMAGEM 2
125
ANEXO D
126
ANEXO E
127
ANEXO F
128
ANEXO G