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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Pavimentos de lajes com vigotas treliçadas: análise dos detalhes de execução e comparação com procedimentos adotados em
obras.
José Vladir Vieira de Mattos
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil
Orientador:Prof.Dr. Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho
São Carlos2009
AGRADECIMENTOS
Ao professor Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho, pela orientação.
À todos os professores do Departamento de Engenharia Civil da Universidade
Federal de São Carlos, por seus ensinamentos.
A todos meus amigos do curso de Engenharia Civil, pelo companheirismo e pelos
momentos felizes que passamos juntos e que jamais esquecerei.
E finalmente aos meus pais, minha irmã e avós, em especial a minha mãe Rita, pelo
apoio incondicional e por estarem sempre presentes.
RESUMO
Este trabalho mostra as principais recomendações para a utilização das lajes
compostas com vigotas pré moldadas, elementos inertes de enchimento, armaduras
complementares e concreto lançado na obra. Descreve as características e recomendações
de fabricantes e da literatura dos materiais empregados e os principais processos
construtivos envolvidos, como técnicas de cura, cuidados na confecção de formas e no
lançamento do concreto, distância mínima entre escoras, utilização de contra flechas,
adequação com outros subsistemas a partir de elementos especiais, entre outros. Parte de
uma descrição histórica da evolução das lajes, mostrando em seguida sua importância como
componente de uma estrutura. Em seguida, faz-se uma descrição dos principais
componentes das lajes com vigotas pré moldadas, culminando em um aglomerado de
recomendações e constatações de aplicabilidade em obras, em sua maioria residenciais.
Verifica-se, para cada componente desse tipo de laje, se tais recomendações prescritas por
fabricantes e na literatura está sendo ou não cumprida nas obras visitadas e o porque de
possíveis descumprimentos, analisando-os.
Palavras-chave: lajes pré fabricadas, vigotas pré moldadas, lajes treliçadas.
ABSTRACT
This paper shows the main recommendations for the use of composite slabs with pre-
cast beams, elements inert filler, additional armor and cast into concrete work. Describes the
features and recommendations of manufacturers and the literature of the materials used and
the main construction processes involved, such as healing techniques, care in the
preparation of forms and the launching of concrete, minimum distance between anchors, the
use of arrows against, well suited to other subsystems from special items, among others.
Begins with a historical description of the evolution of the slabs, then showing its importance
as a component of a structure. Then, it is a description of the main components of the slabs
with pre-cast beams, culminating in a cluster of findings and recommendations for the use in
works, mostly residential. There is, for each component of such a slab, if these
recommendations prescribed by manufacturers and the literature is being fulfilled or not in
the works and visited because of potential breaches, analyzing them.
Key-words: lattice reinforcement joists, precast slabs, slab design
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Sistema Pré Moldado Monier (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991).......................5Figura 2. Sistema Coignet (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)............................................6Figura 3. Desenvolvimento das lajes ao longo do tempo (SISTEMA DE ARMAÇÃO
TRELIÇADA PUMA – Manual de Fabricação). ...............................................................8Figura 4. Diferentes tipos de vigotas pré moldadas (CARVALHO, notas de aula, 2006).......10Figura 5. Detalhes construtivos de lajes pré moldadas (MANUAL DE LAJES
MEDITERRÂNEA). ........................................................................................................11Figura 6. Componentes das lajes pré fabricadas (PEREIRA, 2002). .......................................12Figura 7. Treliça metálica espacial (PEREIRA, 2002).............................................................13Figura 8. Vigota treliçada (PEREIRA, 2002)...........................................................................14Figura 9. Vigota tipo trilho (SILVA, 2006). ............................................................................14Figura 10. Escoramentos metálicos (acervo do autor). ............................................................19Figura 11. Escoramentos de madeira (acervo do autor). ..........................................................19Figura 12. Espaçamento entre as escoras e emendas dos sarrafos (acervo do autor)...............20Figura 13. Emenda sobre o sarrafo de apoio (acervo do autor)................................................21Figura 14. Uso incorreto de escoramento (acervo do autor). ...................................................21Figura 15. Base de distribuição do carregamento no solo (acervo do autor). ..........................22Figura 16. Base sob pontalete (acervo do autor). .....................................................................23Figura 17. Solo compactado ao redor da base do pontalete (acervo do autor).........................23Figura 18. Manual Lajes Ibaté (acervo do autor). ....................................................................24Figura 19. Escoramentos contraventados na direção horizontal (acervo do autor)..................25Figura 20. Ligação entre pontaletes e tábua de escora (acervo do autor).................................25Figura 21. Contra flechas em lajes com duas e três linhas de escoras (FOLHETO
INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)..........................................................26Figura 22. Cunhas para realização de contra flecha (acervo do autor).....................................27Figura 23. Cabeça metálica com regulagem de altura (acervo do autor). ................................27Figura 24. Apoio de treliças em alvenaria não respaldada (acervo do autor). .........................28Figura 25. Vigotas apoiadas sobre vigas de concreto (acervo do autor). .................................28Figura 26. Vigotas apoiadas em cinta de amarração (acervo do autor)....................................29Figura 27. Viga invertida em laje inclinada – vista superior (Prof. Mauro Araújo). ...............30Figura 28. Viga invertida em laje inclinada - vista inferior (Prof. Mauro Araújo) . ................30Figura 29. (a) vigota apoiada. (b) detalhe da ausência de armaduras (acervo do autor). .........31Figura 30. Vigota apoiada até o bordo externo da viga lateral (acervo do autor). ...................31Figura 31. Vigota apoiada além do eixo da viga invertida (acervo do autor). .........................32Figura 32. Viga invertida - vista inferior (acervo do autor). ....................................................32Figura 33. Viga invertida - vista superior (acervo do autor). ...................................................33Figura 34. Laje montada (acervo do autor). .............................................................................33Figura 35. Dissolidarização da laje com uma parede intermediária (acervo do autor). ...........35Figura 36. Apoio de vigotas em elementos não recomendados (acervo do autor)...................36Figura 37. Execução da região maciça de concreto nos apoios. (CARVALHO E
FIGUEIREDO, 2001).......................................................................................................38Figura 38. Execução de região maciça em apoio intermediário (acervo do autor). .................38Figura 39. Patologias devido a movimentação do apoio laje/alvenaria (Eng. MARCOS
CARNAÚBA). .................................................................................................................40Figura 40. (A) Dispositivo especial que permite a rotação entre parede e laje. (B) Garantia de
mobilidade no apoio de lajes sobre alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA). .............41Figura 41. (A) Dispositivo de isolamento para lajes expostas diretamente ao sol. (B)
Dispositivo de isolamento para lajes sob coberturas (Eng. MARCOS CARNAÚBA)....41
Figura 42. Concretagem da capa da laje em conjunto com vigas. Na primeira figura a viga é normal enquanto que na segunda a viga é invertida (acervo do autor). ...........................43
Figura 43. Funcionário esparramando e nivelando o concreto de capeamento. Vibração da viga que está sendo concretada em conjunto com toda a capa da laje (acervo do autor). 43
Figura 44. Laje concretada mostrando as diversas camadas (acervo do autor)........................43Figura 45. Tábuas apoiadas nas treliças das vigotas (acervo do autor). ...................................44Figura 46. Espaçadores plásticos (www.fercimcal.com.br acesso 23.09.09)...........................46Figura 47. Tela eletrossoldada utilizada como armadura de distribuição (acervo do autor)....48Figura 48. Justaposição de vigotas (acervo do autor)...............................................................49Figura 49. Operário molhando as lajotas antes da concretagem (acervo do autor)..................50Figura 50. Numa mesma obra exemplo de montagem iniciando com vigotas e com lajotas,
que é o mais recomendado (acervo do autor). ..................................................................51Figura 51. Montagem da laje iniciada por lajotas (acervo do autor)........................................51Figura 52. Quebra do elemento de enchimento (acervo do autor). ..........................................52Figura 53. União de diferentes materiais como elementos inertes (acervo do autor). .............53Figura 54. Lajota em plástico com caixa de passagem elétrica (acervo do autor). ..................54Figura 55. Lajota em metal incorporada a laje.
(http://www.fazfacil.com.br/images/ref_laje_caixametal_3.jpg acesso 22.09.09) ..........54Figura 56. Método tradicional de fixação das caixas de passagem elétrica na laje
(http://www.fazfacil.com.br/images/laje_isopor_caixa.gif acesso 22.09.09). .................54Figura 57. (A) Caixas de passagem incorporadas as lajotas de concreto. (B) Moldagem na
obra de elementos com tubulações incorporadas (acervo do autor).................................55Figura 58. Detalhes do apoio das vigotas nas paredes (CAIXETA, 1998). .............................55Figura 59. Justaposição dos elementos pré moldados contínuos (CAIXETA, 1998). .............56Figura 60. Posicionamento das lajotas guias para ajuste da posição das vigotas (FOLHETO
INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)..........................................................57Figura 61. Apoio de vigota na cinta de amarração em alvenaira e inicio do posicionamento
das lajotas junto a parede paralela as vigas. (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000) .......................................................................................................57
Figura 62. Colocação das lajotas de guia para as treliças e posteriormente o preenchimento total do pano de laje com o restante das lajotas (acervo do autor). ..................................57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distância entre escoras segundo o tipo de laje. ........................................................22Tabela 2. Causas mais comuns da fissuração externa e interna de revestimentos de alveranias
autoportantes e métodos preventivos................................................................................40
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1
1.1 Justificativa ...............................................................................................................2
1.2 Objetivos....................................................................................................................3
1.3 Estrutura do texto.....................................................................................................4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................5
2.1 Introdução .................................................................................................................5
2.2 Evolução das Lajes ...................................................................................................6
2.3 Importância da Laje como Elemento Estrutural ..................................................8
2.4 Lajes Pré Moldadas Nervuradas.............................................................................9
2.5 Elementos Construtivos de Lajes Nervuradas Pré Moldadas............................122.5.1 Armação Treliçada Eletrosoldada ........................................................................132.5.2 Vigotas Pré Fabricadas .........................................................................................132.5.3 Elementos de Enchimento ....................................................................................152.5.4 Concreto ...............................................................................................................152.5.5 Armaduras Complementares ................................................................................16
3. METODOLOGIA ............................................................................................................17
4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS E PROCEDIMENTOS ADOTADOS EM OBRAS PARA LAJES COM VIGOTAS PRÉ MOLDADAS. .............................................................18
4.1 Escoramentos ..........................................................................................................194.1.1 Espaçamento entre escoras ...................................................................................194.1.2 Preparo do apoio no solo ......................................................................................224.1.3 Contraventamentos e Cimbramentos....................................................................244.1.4 Data e Sequência de Retirada ...............................................................................26
4.2 Contra Flechas ........................................................................................................26
4.3 Apoios ......................................................................................................................274.3.1 Tipos de Apoios (Penetração das vigotas e Tipologias Construtivas)..................274.3.2 Garantia das Disposições Preconizadas em Projeto .............................................37
4.4 Concretagem ...........................................................................................................424.4.1 Concretagem simultânea de capas e vigas (ou regiões maciças)..........................424.4.2 Concretagens posteriores......................................................................................444.4.3 Transporte do concreto sobre a laje......................................................................444.4.4 Recomendações a respeito da cura do concreto. ..................................................45
4.5 Armaduras ..............................................................................................................464.5.1 Garantia do Posicionamento de Armaduras Negativas ........................................464.5.2 Armaduras Adicionais – Posicionamento e Quantidades.....................................47
4.6 Paredes Sobre Lajes. ..............................................................................................484.6.1 Paredes Paralelas aos Trilhos ...............................................................................484.6.2 Paredes Perpendiculares as Treliças .....................................................................50
4.7 Elementos de Enchimento......................................................................................504.7.1 Disposição de elementos na laje. Elementos especiais........................................53
4.8 Posicionamento e Montagem .................................................................................554.8.1 Posicionamento das treliças..................................................................................554.8.2 Posicionamento dos elementos de enchimento. ...................................................56
5. ROTEIRO TÉCNICO PARA VISITAS AS OBRAS E AVALIÇÃO DAS SITUAÇÕES ENCONTRADAS..................................................................................................................... 58
5.1 Relatório (Formulário) de Análise ........................................................................58
6. CONCLUSÕES................................................................................................................60
7. REFERÊNCIAS ..............................................................................................................62
8. ANEXOS ..........................................................................................................................64
8.1 Anexo 1 – Manuais e recomendações dos fabricantes.........................................64
8.2 Anexo 2 – Relatório de Análise das Obras ...........................................................65
1
1. INTRODUÇÃO
Na elaboração de projetos arquitetônicos, particularmente das edificações,
engenheiros e arquitetos defrontam-se com diversas alternativas que dizem respeito a
escolha do tipo de laje. Constitue-se, pois, numa importante decisão, que poderá
representar sensíveis resultados no custo e qualidade da edificação. Além disso, a
construção civil, um dos grandes setores da economia, exige pela sua importância dentro da
realidade social do país, principalmente em relação ao deficit habitacional, uma
preocupação cada vez maior dos pesquisadores no aprimoramento e desenvolvimento de
novas e melhores técnicas construtivas.
Apesar de o desenvolvimento tecnológico ser constante, o processo de execução de
grande parte das edificações, principalmente as unifamiliares, não tem acompanhado num
mesmo ritmo estes avanços, ainda se utilizando de métodos muito antigos, em várias etapas
do processo construtivo. Normalmente, os estudos tem se voltado mais a aspectos
inovadores, com pouca ênfase nos processos convencionais. No entanto, a construção de
edifícios continua, embora persistam algumas dúvidas quanto ao uso de determinados
elementos na construção.
Um desses problemas está localizado na etapa de estrutura do edifício, onde o
projetista ou proprietário, na inexistência de informações mais precisas, escolhe um tipo de
laje para a sua construção que pode não ser a mais indicada para as suas reais
necessidades (NAPPI, 1993). Mais do que isso, acaba por utilizar um processo que lhe está
diponível muitas vezes apenas por ser o mais utilizado no momento, mas que é totalmente
inadequado ao que ele realmente precisa. Sendo assim, surgem carências quanto a
orientações para a construção, que podem vir a ser supridas com pesquisas e trabalhos
acadêmicos, como este.
Portanto, tem-se como alvo levantar as principais características das lajes treliçadas
pré moldadas, as principais recomendações de fabricantes quanto a sua utilização e o que
se tem feito academicamente nesse tema, de modo a constituir um guia que integre
pesquisa e aplicação, visando minimizar as falhas tanto de projeto quanto de execução
desse sistema construtivo.
As lajes a serem estudadas são caracterizadas por possuirem vigotes pré-moldados
de concreto armado, nos quais se apoiam blocos especiais de cerâmica ou de concreto.
2
Estes elementos são manufaturados em fábricas e transportados, após a sua cura, para a
obra. Depois da colocação dos vigotes, blocos, armadura de distribuição, eletrodutos e
caixas de passagem, recebem uma camada fina de concreto em sua superfície superior,
chamada de capeamento.
Por ser apenas parcialmente pré moldada, ou seja, uma parte da laje ainda será
constituída no canteiro de obras, é que se faz presente a necessidade de coordenação
eficaz entre recomendações, projeto e executação. Uma vez que nesse tipo de laje está
presente um fator inerente a qualquer atividade que envolva fabricação in loco, que é a
atividade humana, tais instruções devem se fazer presentes em todas as etapas de
confecção do subsistema (da concepção a execução), guiando usuários, fornecendo
subsídios a pesquisas e aumentando o know how de fabricantes e construtores.
Assim, informações técnicas mais precisas sobre como realizar a correta execução
das lajes pré moldadas darão margem a redução de desperdícios de tempo, mão de obra,
insumos, evitando retrabalhos e poluição do meio ambiente. Mais do que isso, adequarão o
uso, atualmente indiscriminado, desse sistema construtivo as mais diversas aplicações as
quais ele se presta, sem adaptações inconvenientes.
1.1 JUSTIFICATIVA
As lajes treliçadas pré-moldadas vêm ganhando espaço na construção civil. De
acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Lajes, em 1990, as lajes
treliçadas detinham uma participação no mercado de apenas 5%. Hoje, o percentual saltou
para 40%. Sua utilização é de uso freqüente nos mais diversos tipos de edificações, pois
apresenta vantagens como a eliminação de formas de madeira e de parte do escoramento
necessário a concretagem. Além disso, é um sistema construtivo de fácil montagem e que
não requer mão de obra treinada. Aumenta a fração de industrialização da obra e o
desempenho em termos de velocidade executiva. No entanto, deve-se ressaltar o fato de
que esse tipo de laje pode apresentar problemas com relação à flecha, ou seja, aos valores
dos deslocamentos transversais, que podem ser elevados (quando comparados a outros
tipos de lajes, como as maciças) em função de dimensionamentos e escoramentos mal
executados. Esse último aspecto requer atenção especial pelo fato de que, embora seja
comumente chamada de pré-moldada, apenas o elemento portante primário (isto é, antes da
cura do concreto de capa) o é, ou seja, apenas um dos elementos constituintes da laje, a
vigota, é pré-moldada. O restante, como a capa de concreto, as lajotas, armaduras
complementares, escoramentos e demais formas são lançados e posicionados no canteiro.
Isso agrega a execução dessa tipologia de laje um fator que é o de estar atrelada a
3
processos manuais, a soluções dependentes de regionalismos e informações técnicas
adequadas. O entrave passa a ser então o fato de que muitas vezes tais aspectos não estão
devidamente detalhados em projeto, abrindo espaço para que decisões importantes acabem
sendo tomadas no momento da execução, acarretando em soluções antieconômicas e
tecnicamente incorretas, levando a futuras patologias e retrabalhos. Portanto, o fato desse
tipo de laje ser parcialmente moldada in loco e apresentar problemas com deformações
excessivas, sendo o planejamento do escoramento de vital importância para evitá-las, leva a
necessidade de uma análise das mais variadas formas de aplicação e métodos executivos
comumente empregados na atualidade. O trabalho justifica-se então por poder se tornar
uma referência comparativa entre as prescrições oriundas dos manuais dos fabricantes com
as pesquisas acadêmicas recentes e o que é executado no canteiro de obras, formando um
circulo de informações úteis em vários âmbitos, como: ajudar fabricantes a adequarem seus
produtos as necessidades do mercado; orientar construtores a utilizarem técnicas
adequadas; proporcionar a aglutinação de informações de campo para o desenvolvimento
de novas pesquisas; ajudar na divulgação de novas e melhores técnicas, entre outras.
Também será possível detectar possíveis fontes de patologias devido a má aplicação dos
métodos executivos e a exeqüibilidade de metodologias propostas nas literaturas
pertinentes, explicitando assim a dualidade teoria e prática, de modo a aproximá-las.
1.2 OBJETIVOS
Os objetivos do trabalho baseiam-se no levantamento dos principais métodos
executivos correntemente utilizados nos canteiros de obras para lajes pré moldadas e na
comparação destes com o prescrito na literatura e manuais de fabricantes. Assim, pretende-
se descrever, levantar dados e traçar um comparativo dos seguintes pontos:
- Interferência com outros subsistemas. Aplicações de soluções prontas como lajotas
onde estão embutidos ralos, caixas de passagem ou outros que facilitem a resolução de
interfaces.
- Soluções para paredes sobre lajes, sem viga de apoio.
- Lajes sobre vigas. Tipologias, formas de apoio e solidarização na concretagem.
- Laje apoiada em paredes nos bordos. Solidarização na concretagem com o auxilio
de forma de bordo.
- Necessidade de contra flecha. Recomendações dos fabricantes e métodos
executivos de contra flechas.
4
- Espaçamento entre as escoras. Obediência as recomendações teóricas e de
fabricantes.
- Tipos de elementos de enchimento.
- Formas de lançamento do concreto e interferência com o tipo de escoramento.
- Armaduras complementares e tela de solidarização.
- Formas de se garantir a continuidade em apoios intermediários. Métodos
executivos.
- Patologias. Prevenções, causas, correções.
1.3 ESTRUTURA DO TEXTO
O presente trabalho está divido de modo que inicialmente haja uma breve introdução
sobre a importância de mais estudos relacionados ao tema abordado bem como sua
relevância frente aos atuais problemas encontrados na engenharia civil. Em seguida se faz
uma revisão bibliográfica dos conceitos relacionados às lajes pré moldadas nervuradas,
contemplando todo o aparato teórico necessário a obtenção das orientações técnicas que
foram verificadas em obra. O terceiro e quarto capítulos fazem um apanhado, com base nas
prescrições de fabricantes e na literatura, das principais recomendações executivas para
lajes nervuradas pré moldadas, esboçando-se assim um roteiro de verificações a serem
feitas em obra. O quinto capítulo descreve os fabricantes consultados. No sexto capítulo é
apresentado um roteiro de visitas às obras, que guiou as visitas e levou a conclusões a
respeito do cumprimento ou não dos principais métodos executivos levantados durante o
corpo do trabalho. Por fim, faz-se uma conclusão a respeito desses pontos, a partir da
análise dos roteiros preenchidos.
5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 INTRODUÇÃO
De modo a traçar uma linha temporal que ilustre a história e evolução das lajes,
culminando nas lajes pré fabricadas treliçadas que são o alvo desse trabalho, podemos
dizer que nos primórdios da civilização, com o intuito de prover abrigo das intempéres, o
homem lançou mão somente de materiais que a natureza pudesse oferecer como a madeira
e a pedra, usando-os como teto ou estrados de piso e como suporte de suas construções.
As pedras, após cortadas e adaptadas aos seus apoios, só conseguiam vencer vãos da
ordem de 5m. Já a madeira, limitada em suas dimensões naturais, também restringia o
tamanho dos vãos. Uma evolução importante são os arcos de pedra romanos (CAIXETA,
1998).
Com o advento do concreto e do aço, foi possivel o desenvolvimento de estruturas
planas, denominadas lajes, com capacidade para transpor vãos e suportar carregamentos
com segurança.
Joseph Monier (1823 - 1906), considerado o inventor do concreto armado, começou
a aplicar tal material em habitações, na forma de lajes e, para tanto, usava como armadura
principal, perfis metálicos em forma de I. Esse novo método, chamado de Sistema Monier,
permitia a execução de lajes com vão relativamente maiores.
Figura 1. Sistema Pré Moldado Monier (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)
Em 1861, François Coignet (1812 - 1895) publicou na França um trabalho sobre
cimento armado, precursor dos métodos de cálculo das atuais lajes pré moldadas, em que
foi dado destaque às lajes constituídas por nervuras e armadas exclusivamente com barras
6
de aço de seção circular, criando em suas hipóteses de cálculo as primeiras vigas de seção
“T”.
Figura 2. Sistema Coignet (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)
Segundo Caixeta (1998), o sistema pré fabricado de lajes treliçadas originou-se
portanto na Europa e foi implantado no Brasil com a finalidade de atender as exigências da
arquitetura moderna e a crescente necessidade de racionalização na construção civil
(minimização de custos e prazos, bem como a utilização cada vez menor de materiais cuja
extração contribui para a agressão ao meio ambiente, como a madeira), como consequência
da evolução dos sistemas construtivos de lajes, buscando explorar e superar as limitações
técnicas e econômicas dos sistemas já utilizados.
O uso de lajes pré fabricadas tem se intensificado nos últimos anos. O que era, em
princípio, uma solução adotada para edificações de pequeno e médio porte se tornou viável
em grandes obras como prédios de diversos andares, edificações de grandes vãos e até
mesmo pontes. Grande parte desse aumento no uso ocorreu pela entrada no mercado de
duas grandes siderúrgicas que fabricam treliças metálicas para laje com vigotas treliçadas
(FLÓRIO, 2003).
2.2 EVOLUÇÃO DAS LAJES
Assim como as demais técnicas construtivas, as formas de se produzirem lajes
sofreram evoluções em todos os seus aspectos enquanto partes integrantes de
determinados sistemas construtivos. Assim, ao se avançarem os métodos de projeto e
execução, também os métodos das lajes o fizeram, surgindo portanto novas alternativas que
melhor se adaptam as situações encontradas, barateando o custo desse subsistema e
fazendo com que este fosse mais especifico a cada problema a ser resolvido. Desse modo,
é apresentado a seguir, uma breve descrição dos mais variados tipos de lajes encontrados
7
no país, destacando-se as treliçadas pré moldadas, que são o escopo desse trabalho. É
importante lembrar nesse ponto que as lajes treliçadas surgiram como uma alternativa ao
uso de outras tipologias parcial ou totalmente moldadas in loco, em situações onde não se
fazia necessário toda a robustes (entre outras características) apresentadas por essas
últimas. Além disso, aliam sua alta capacidade de adaptação com maior economia em
diversos aspectos que serão explorados adiante (como a redução do uso de formas,
segurança, entre outros). Portando, podemos dizer que atualmente, os principais tipos de
lajes que estão sendo executados são:
Laje maciça: primeiro subsistema construtivo para lajes em concreto armado e que
são comumente utilizadas em alturas de até 15 cm, sendo que espessuras maiores se
prestam apenas a satisfazer condições limítrofes de flecha, aumentando o seu peso próprio
e o da estrutura como um todo. É certamente a tipologia mais cara, já que tem grande
consumo de formas, escoramento e mão de obra. É um processo dispendioso de tempo, já
que todas as operações são montadas no canteiro de obra (totalmente moldada in loco),
encarecendo ainda mais sua execução.
Lajes nervuradas moldadas in loco: são mais ecônomicas quando comparadas as
maciças, já que tem o consumo de concreto reduzido. Além da menor quantidade de
concreto, seus elementos de enchimento inertes (que acabam por substituir o concreto na
região onde esse não trabalha) são leves, o que reduz o peso prórpio e o da estrutura como
um todo. Além disso, são tecnicamente muito eficientes. Entretando, ainda apresentam o
inconveniente de serem totalmente moldadas no local, o que torna sua execução mais cara
e demorada.
Lajes Pré Fabricadas Comum (tipo trilho ou “T” invertido): emprega elementos
pré fabricados na forma de vigotas de concreto armado (ou protendido) com formato de T
invertido, sendo que o material de enchimento apoia-se nessas vigotas. Supera as lajes
anteriores nos quesitos de consumo de formas e escoramentos, uma vez que parte de seus
elementos são portantes antes da consolidação final da laje como um todo. Isso aumentou a
praticidade do sistema, diminuindo o tempo de execução e a quantidade de mão de obra.
Apresenta entretando como desvantagens o fato de haver má aderência entre o concreto da
capa de solidarização e o das vigotas e a impossibilidade de colocação de estribos nas
vigotas de modo a combater o cisalhamento.
Sistema Pré Fabricado de Lajes Treliçadas: sistema parecido com o anterior, com
a diferença de que a treliça que compõe a vigota pré moldada não é recoberta com concreto
na pré moldagem. Isso resolve o problema da falta de aderência anteriormente citado. São
constituidas então com o emprego de vigotas unidirecionais pré fabricadas do tipo treliça
8
(placa de concreto armado, com armadura saliente e em forma de treliça espacial),
elementos de enchimento leves (blocos cerâmicos, de concreto celular, de poliestireno
expandido) posicionados entre as vigotas, e concreto moldado no local (concreto de
capeamento); na capa via de regra é colocada uma armadura de distrituição para controle
de fissuração (FERREIRA, 2005). No mais, apresenta as mesmas vantagens e limitações
que as lajes anteriores (redução do uso de formas, de escoramentos, de mão de obra, etc.).
É importante lembrar que embora os elementos inertes não sejam contribuintes da
resistência final da laje, é imperativo que esses sejam de boa qualidade, já que juntamente
com as treliças servirão de suporte ao concreto fresco, ao peso próprio e às ações de
montagem, sendo um dos elementos resistentes na etapa de montagem e concretagem.
Finalmente, podemos dizer que, com a fusão entre a estrutura tridimensional metálica
(armadura treliçada) e o concreto, as lajes nervuradas com armaduras em treliça permitem
obter grandes vãos e suportar ações elevadas, pois com este tipo de armadura cada
nervura fica armada ao cisalhamento pelo emprego de altura de treliça adequada à
espessura da laje. Assim, consegue-se uma redução do custo final da obra, graças a
utilização de uma laje de menor espessura e redução no número de vigas (CAIXETA, 1998).
Figura 3. Desenvolvimento das lajes ao longo do tempo (SISTEMA DE ARMAÇÃO TRELIÇADA PUMA – Manual de Fabricação).
2.3 IMPORTÂNCIA DA LAJE COMO ELEMENTO ESTRUTURAL
As lajes em geral figuram com dois papéis de extrema importância quando
analisadas do ponto de vista estrutural: como placas ao suportarem as ações verticais
aplicadas ao longo dos pisos, e como chapas, ao se constituírem em diafragmas rígidos
horizontais que distribuem pelos diferentes pilares da estrutura as forças horizontais
9
atuantes (CAIXETA, 1998). Nas estruturas dos edifícios, as placas de concreto usualmente
denominadas lajes, são normalmente construídas para suportar as ações verticais atuante
nos pavimentos. As lajes são submetidas essencialmente a esforços solicitantes de flexão,
momentos fletores e forças cortantes. Nas estruturas ditas convencionais, do tipo laje-viga e
pilar, as lajes tem outras funções importantes, como por exemplo, no contraventamento das
estruturas (como citado anteriormente), funcionando como diafragmas (infinitamente rígidos
no seu plano) que distribuem as ações horizontais atuantes entre as estruturas de
contraventamento, por exemplo pórticos formados por pilares e vigas. Outra função
importante das lajes é a de, quando construídas ligadas monoliticamente às vigas, para
momentos fletores positivos, funcionarem como mesas de compressão da seção T
(FERREIRA, 2005).
Assim, como será mostrado nesse trabalho, um dos aspectos a serem observados é
o de que se garanta essa monoliticidade durante a execução da concretagem da capa das
lajes. Como vimos acima, a laje com vigotas comum não se presta plenamente a essa
função, o que pode prejudicar seu funcionamento. Também determinados procedimentos
executivos que serão ilustrados mais adiante nos mostrarão como garantir essa
característica quando da execução da interface viga – laje. Tais procedimentos devem
sempre constar de projetos e estarem respaldados em experiências anteriores bem como
recomendações técnicas de fabricantes e pesquisadores.
Garantidos esses aspectos, a laje pode então desempenhar plenamente seus papéis
quando da constituição da estrutura, com segurança e de forma econômica.
2.4 LAJES PRÉ MOLDADAS NERVURADAS
Inicia-se agora uma descrição mais específica das lajes pré moldadas nervuradas.
Aqui não se fará distinção entre as lajes constituídas por vigotas tipo treliça ou as
constituídas por vigotas tipo trilho (que já vem com concreto recobrindo a parte superior da
treliça). Apenas nos importa nesse ponto descrever o sistema construtivo composto por tais
elementos.
O Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas classifica tal sistema construtivo da
seguinte forma: São lajes formadas por nervuras pré-moldadas (treliça), lajotas
(normalmente cerâmicas) e uma capa de concreto moldada no local. A armadura tipo treliça
é uma treliça espacial de aço composta por três banzos paralelos e diagonais laterais de
forma senoidal, soldadas por processo eletrônico aos banzos. Suas principais vantagens
são:
10
• Capacidade de vencer grandes vãos livres e suportar altas cargas;
• Capacidade de suportar paredes apoiadas diretamente sobre a laje, fazendo-se
previamente as considerações necessárias (aspecto importante que também será
tratado mais adiante);
• Possibilidade de redução da quantidade de vigas e conseqüentemente de pilares e
fundações do sistema estrutural de qualquer edificação. Com a redução da quantidade
de pilares, ganha-se espaço interno;
• Redução do custo final da estrutura, entre economia de aço, concreto, fôrma e mão de
obra;
• Menor peso próprio com conseqüente alívio das cargas em vigas, pilares e fundações;
• Redução do escoramento, devido ao baixo peso próprio;
• Eliminação do uso de fôrma para a execução das lajes;
• Facilidade de transporte horizontal e vertical, e maior agilidade na montagem;
• Dimensionamento uni ou bidirecional, dependendo da necessidade da estrutura;
• Eliminação da possibilidade de trincas e fissuras, pela condição de total aderência
entre as nervuras e o concreto de capeamento. Esta total aderência é oferecida
principalmente pela existência dos sinusóides (armadura diagonal que liga o ferro
superior aos inferiores), e também pela superfície rugosa da sapata pré moldada em
contato com o concreto de capeamento;
• Perfeita condição de monoliticidade da estrutura, possibilitando ser utilizada em
qualquer tipo de obra, seja horizontal ou vertical com altura elevada;
• Baixo índice de desperdício;
• Melhoria das características térmicas e acústicas, quando a laje é executada com
blocos de EPS.
Figura 4. Diferentes tipos de vigotas pré moldadas (CARVALHO, notas de aula, 2006)
11
A NBR 14859:2002 define como laje pré-fabricada unidirecional a laje nervurada
constituída por nervuras principais longitudinais (NL) dispostas em uma única direção.
Podem ser empregadas algumas nervuras transversais (NT) perpendiculares às nervuras
principais, cuja finalidade é a de travamento do pavimento.
Figura 5. Detalhes construtivos de lajes pré moldadas (MANUAL DE LAJES MEDITERRÂNEA).
Segundo Caixeta (1998), as lajes do tipo treliçadas pré moldadas são constituídas
com emprego de elementos pré fabricados do tipo treliça. Ela é formada por nervuras
principais resistentes, por elementos leves de enchimento colocados entre as nervuras e por
uma capa superior de concreto que juntamente com as nervuras principais vai formar a
seção transversal resistente à flexão. Devido a perfeita solidarização entre o elemento
treliçado e o concreto lançado em obra, a estrutura resultante é bastante rígida, podendo ser
tratada com uma estrutura monolítica. Diz ainda que o sistema treliçado permite a
construção de lajes nervuradas com emprego de vigotas pré fabricadas treliçadas, formadas
a partir de uma armadura treliçada de aço e uma placa (ou sapata) inferior de concreto
envolvendo as duas barras do banzo inferior da treliça que irão compor a armadura da face
tracionada da laje. É um sistema criativo que oferece grande flexibilidade de projeto, seja na
construção de casas, edifícios, estacionamentos, pontes, shopping centers, etc, permitindo a
elaboração de um projeto mais arrojado com espaços mais amplos, livres das restrições
12
impostas por vigamentos, comuns nos projetos convencionais, sendo que estes últimos
podem ser convertidos em projetos com o sistema treliçado através de cálculos específicos.
Um dos exemplos que podemos citar é o Sistema Treliçado Global, importado da
Itália pelo grupo Mediterrânea e que foi a solução adotada pela Cima Empreendimentos
para a construção do estacionamento do Shopping Center Tijuca, RJ, que terá 1.400 vagas.
O sistema de pré-lajes treliçadas autoportantes permitiu que fossem vencidos grandes vãos
com menor número de vigas e pilares, aumentando a quantidade de vagas. De acordo com
a direção da L.M. de Itaboraí, responsável pelo projeto, foi possível ainda reduzir os custos
em 36%, com a economia de madeira, aço e mão-de-obra.
Foram utilizados nos três pavimentos e nas rampas de acesso um total de quinze mil metros
quadrados de pré-lajes (sistema evoluido das lajes treliçadas convencionais) de vinte e
cinco centímetros de largura. A segurança foi um dos fatores da escolha do sistema
treliçado, por permitir grande redução da carga estrutural. Enquanto uma laje convencional
poderia atingir carga de 400 kg/m², a escolha do sistema treliçado combinado com EPS
possibilitou a redução para 290 quilos por metro quadrado. O Sistema Treliçado Global foi
utilizado também, entre outras obras: nas pontes da rodovia BR-174, que irá ligar Manaus a
Boa Vista e no Canal do Terminal Marítimo de Loloma, na Colômbia.
2.5 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DE LAJES NERVURADAS PRÉ MOLDADAS
Os elementos constituintes das lajes treliçadas unidirecionais são: as treliças, as
vigotas, os elementos de enchimento, a armadura inferior de tração e as armaduras
complementares, a capa de concreto, o concreto complementar e as nervuras de
travamento. A figura a seguir ilustra o detalhe de uma laje treliçada unidirecional e seus
elementos constituintes (PEREIRA, 2002).
Figura 6. Componentes das lajes pré fabricadas (PEREIRA, 2002).
13
2.5.1 ARMAÇÃO TRELIÇADA ELETROSOLDADA
Segundo Pereira (2002), a armação que compõe a treliça das vigotas pré moldadas
é uma treliça espacial, fabicada industrialmente em máquinas apropriadas que solidarizam
os fios de aço através de solda por eletrofusão. As treliças são fornecidas em medidas
padronizadas, sendo que existe uma grande variedade de combinações possíveis. Suas
partes são identificadas por banzo superior, diagonal (ou sinusóide) e banzo inferior. A
distância entre os nós soldados é conhecida como passo e a distância entre os banzos
inferiores chama-se abertura (mínimo de 8 cm e máximo de 12 cm).
Os dois fios do banzo inferior servem para entrar na composição da área de aço
necessária ao combate dos esforços de momento fletor. As duas diagonais presentes na
treliça tem importante função construtiva e de transporte. O espaçamento entre linhas de
escomento ou entre apoios, quando utilizado o recurso da autoportância, é definido pela
altura da armação treliçada e pelo diâmetro do fio do banzo superior e da diagonal
(PEREIRA, 2002).
Figura 7. Treliça metálica espacial (PEREIRA, 2002).
2.5.2 VIGOTAS PRÉ FABRICADAS
O elemento linear pré moldado, também chamado de vigota pré moldada, tem função
resistente, obtida da associação do concreto com armaduras; esses elementos são
moldados com concreto com resistência característica a compressão igual ou superior a 20
MPa, tem formato e dimensões constantes e são produzidos em mesas vibratórias com
14
fôrmas metálicas. O elemento linear pré fabricado e a capa trabalham como uma só peça,
formando a seção resistente da laje, que para efeito de cálculo é admitida como tendo a
foma de um T (FERREIRA, 2005).
Existem dois tipos básicos (que não envolvem protensão da armadura da treliça) de
vigotas pré moldadas. A primeira delas é conhecida como vigota tipo trilho e tem a armação
totalmente envolvida pelo concreto na pré moldagem. Segundo Ferreira (2005), essas
vigotas tem seção de concreto que usualmente formam um T invertido. O segundo tipo é a
vigota do tipo treliçada, formada por uma placa (sapata) de concreto que envolve
parcialmente a armadura treliçada e quando for necessário pode ser complementada com
armadura passiva inferior de tração que ficaria totalmente envolvida pelo concreto da
nervura (Flório, 2004). A Figura 8 e Figura 9 ilustram os dois tipos de elementos.
Figura 8. Vigota treliçada (PEREIRA, 2002).
Figura 9. Vigota tipo trilho (SILVA, 2006).
As vigotas apresentam peso da ordem de 10kg/m e podem ser usadas na fabricação
de lajes maciças, dispensando-se o uso do elemento de enchimento. Nesse caso, elas
seriam colocadas uma ao lado a outra, sem que fossem deixados espaços para os
elementos inertes.
15
2.5.3 ELEMENTOS DE ENCHIMENTO
A NBR 14859:2002 – 1 define os elementos de enchimento como sendo
componentes pré fabricados com materiais inertes diversos, sendo maciços ou vazados,
intercalados entre vigotas em geral, com a função de reduzir o volume de concreto, o peso
próprio da laje e servir como forma para o concreto complementar. Essa é uma das funções
primordiais do elemento de enchimento, pois faz com que não se necessite de formas para
a concretagem. Portanto ele é um dos responsáveis pelo atrativo econômico que é oferecido
por esse tipo de laje. São desconsiderados como colaborantes nos cálculos de resistência e
rigidez da laje (SANTINE, 2005). Também permite um acabamento mais regular (liso) na
sua parte inferior (que constitui o forro da edificação), poupando retrabalhos, material e
tempo quando da necessidade de acabamento dessa região. Os elementos de enchimento
podem ser de diversos materiais, entre eles: cerâmica (tijolo ou lajota furada), EPS, concreto
leve, tubo de papelão reforçado, bloco de concreto celular autoclavado, entre outros.
A leveza pode ser considerada a principal característica do elemento de enchimento.
Nesta direção tem sido muito difundido o uso do EPS, que além de aliviar bastante o peso
próprio da estrutura, por ser maciço impossibilita a perda de concreto do capeamento para o
interior do elemento de enchimento, como pode acontecer com os blocos de concreto e
lajotas (Pereira, 2002).
Também podem ser considerados como elementos de enchimento os blocos
canaleta que constituirão as nervuras transversais de travamento, aplicando-se a eles todas
as recomendações válidas para os demais elementos desse capítulo.
Por fim, é importante dizer que o elemento de enchimento deve apresentar faces
laterais providas de abas de encaixe para apoio nas vigotas pré fabricadas. Devem estar
isentos de partes quebradas e trincas que permitam a fuga do concreto complementar ou
que comprometa o seu desempenho. Os elementos de enchimento devem manter íntegras
as suas características durante a sua utilização.
2.5.4 CONCRETO
O concreto forma a placa superior da laje, com espessura medida a partir da face
superior do elemento de enchimento e tem importante papel estrutural. Sua espessura e
resistência devem estar indicadas no projeto da laje, não se permitindo a passagem de
eletrodutos ou qualquer material que diminua a espessura do concreto ou o seccione. O
concreto adicionado na obra deve ser preparado de acordo com a NBR 12655 (1996), com
16
resistência mínima de 20 MPa e serve para complementar as vigotas pré fabricadas,
formando nervuras transversais (PEREIRA, 2002).
2.5.5 ARMADURAS COMPLEMENTARES
Segundo Pereira (2002), armaduras complementares são todas aquelas colocadas
na laje durante a etapa de montagem da mesma. São divididas em:
Longitudinal: é aquela que complementa a armadura da treliça, ou seja, quando a
sapata de concreto não for capaz de incorporar toda a armadura adicional (armadura
passiva inferior de tração). Esta armadura é disposta sobre a sapata de concreto.
Transversal: é a armadura das nervuras de travamento e tem a função de combater
a formação de fissuras e de dar maior estabilidade ao pavimento.
Distribuição: colocada na parte inferior da capa de concreto, usualmente é composta
por uma tela eletrosoldada. Tem como funções combater a fissuração do concreto lançado
na obra, distribuir os esforços aplicados entre as nervuras e impedir a flexão da mesa. A
armadura de distribuição permite um melhor travamento da estrutura da laje e combate
também o cisalhamento entre abas e alma das vigotas. Esta armadura tem também por
objetivo promover um comportamento mais efetivo de chapa, na transferência de ações
horizontais (Pereira, 2002).
Negativa: armadura colocada na parte superior da capa de concreto e responsável
por combater os esforços devido ao momento negativo na ligação da laje com a estrutrua,
atuando também no controle da fissuração.
17
3. METODOLOGIA
Numa primeira etapa pretende-se levantar as principais tipologias de lajes, com suas
respectivas caracteristicas usualmente utilizadas no país. Para isso, será realizada uma
pesquisa bibliográfica na literatura pertinente, de modo a se obter as principais
recomendações de projeto e execução que estão presentes no meio acadêmico (em teses,
dissertações, artigos e periódicos). Ainda nessa etapa, será feito um levantamento de
catálogos e instruções técnicas de fabricantes de lajes, por meio de pesquisa eletrônica
(internet) e material impresso.
A segunda etapa será composta por visitas técnicas a obras que estejam executando
lajes pré moldadas. O material proveniente dessa etapa será composto por um pequeno
relatório (que pode ser do tipo check list) o qual deve conter informações que permitam um
comparativo entre as técnicas anteriormente levantadas e as que estão sendo efetivamente
executadas. Tal relatório deve conter perguntas do tipo: “sim ou não”; “executado ou não”;
“utilizou tal método ou não” entre outras. O importante é que, por se tratar de um relatório
que deve ser preenchido no ato da visita, esse seja de fácil compreensão e de respostas
que não exijam grandes textos, mas apenas checagens. Também é preferível que não
sejam feitas muitas perguntas, já que as visitas não podem se extender por um tempo muito
longo, devendo ser abrangentes a ponto de poderem descrever, suficientemente, as
técnicas e procedimentos utilizados em obra.
Outro material que é fruto dessa etapa são fotos das obras, retiradas pelo autor e
com autorização do pessoal de obra, que ilustrem as técnicas e materiais utilizados.
A terceira etapa será uma análise comparativa entre os materiais oriundos das duas
etapas anteriormente citadas. Para a sua realização será usado um computador pessoal,
compondo eletronicamente o texto do presente trabalho de conclusão de curso. Nessa
etapa serão anexadas as fotos, catálogos técnicos e observações do autor.
Por fim, será composto o texto final do trabalho, juntando à etapa anterior as
conclusões do autor, ainda com o auxilio do computador pessoal.
18
4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS E
PROCEDIMENTOS ADOTADOS EM
OBRAS PARA LAJES COM VIGOTAS
PRÉ MOLDADAS.
Na aplicação das lajes, feita durante a etapa de execução da estrutura, os principais
cuidados se voltam para o posicionamento das escoras (com espaçamentos adequados
para a laje que será concretada), das armaduras complementares e a vibração adequada da
concretagem. O bom desempenho da execução do serviço depende do cumprimento das
especificações de projeto, do manuseio e da consolidação do elemento pré-fabricado aos
moldados in loco, de forma a obter-se monolitização das ligações especificadas para dar
apoio à laje.
A adequada resistência e durabilidade do elemento estrutural, bem como
deformações e vibrações conformes, dependem de um projeto adequadamente
dimensionado e detalhado, um posicionamento de escoras compatível com os elementos
pré-moldados que estão sendo utilizados e, tão importante quanto aos anteriores, uma cura
cuidadosa do concreto.
Na fase de projeto, um erro comum é especificar apenas a altura da laje, deixando a
cargo do fornecedor a definição do dimensionamento das placas. Porém, como o
desempenho da estrutura depende do conjunto de elementos que a compõem e não de
itens isolados, é necessário que o projetista especifique também o tipo de treliça desejado e,
se necessário, armaduras adicionais para compor a vigota ou painel treliçado. Além disso, o
projeto deve conter as armaduras complementares que garantem a ancoragem, armaduras
negativas e, quando for o caso, armadura de capeamento.
Na compra, recomenda-se também checar se o cobrimento cumpre as normas e
especificações de durabilidade (cobrimento, fck, resistência do concreto, fator água/cimento,
deformabilidade etc.); se a capacidade da laje é adequada às solicitações de projeto e se os
arranques previstos na produção são compatíveis ao bom funcionamento da estrutura.
19
4.1 ESCORAMENTOS
O escoramento ou cimbramento é uma estrutura provisória, destinada a auxiliar as
vigotas pré-fabricadas a suportar a carga de trabalho (vigotas, lajotas, ferragens auxiliares,
concreto, pessoas, etc.) durante a montagem da laje e período de cura do concreto
(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).
4.1.1 ESPAÇAMENTO ENTRE ESCORAS
O espaçamento entre as escoras deve estar entre 1,0 m e 1,5 m. Esses valores são
concenso entre fabricantes e a literatura. FLÓRIO (2004) comenta que ensaios realizados
mostram que o espaçamento entre escoras para lajes tipo trilho com condição determinante
de ruína é de 2,15m para as cargas usuais e para a condição determinante do estado de
deformação excessiva é de 1,5m, concluindo que é melhor optar por esse último valor. Já
CAIXETA (1998) apresenta uma tabela em função do tipo de laje, reproduzida na Tabela 1.
Figura 10. Escoramentos metálicos (acervo do autor).
Figura 11. Escoramentos de madeira (acervo do autor).
20
Das Figura 10 e Figura 11 é possível verificar uma proximidade entre as linhas de
escora que foge do que é recomendado na literatura e por alguns fabricantes. Isso pode ser
consequência do desconhecimento ou da falta de um projeto de escoramento, o que evitaria
desperdícios de material e mão de obra quando da execução desse elemento.
Outro ponto a ser destacado é a emenda dos sarrafos horizontais. Essa é feita sobre
os pontaletes verticais, o que contribui para que a estrutura de escoramento não fique
enfraquecida, evitando flechas construtivas e garantindo o posicionamento dos elementos.
Nesse sentido, os escoramentos metálicos mostrados na Figura 10 são mais eficientes, uma
vez que suas emendas se dão em dispositivos tipo “T”, roscados na ponta dos pontaletes
verticais.
Figura 12. Espaçamento entre as escoras e emendas dos sarrafos (acervo do autor).
Da Figura 12, percebe-se que, via de regra, há um exagero no número de linhas de
escoras que são utilizadas. Considerando-se que cada lajota tem, em média, 20 cm de
comprimento, é possível notar que o vão a ser vencido é aproximadamente 2,00 m. Assim,
uma única linha de escoras, espaçada de 1,00 m dos apoios laterais já seria o suficiente,
podendo a outra ser deslocada para um ponto mais crítico ou até mesmo inexistir. A falta de
orientação nesse caso leva a um desperdício de materiais e mão de obra, encarecendo o
produto final. Além disso, há um prejuízo para com o meio ambiente uma vez que mais
escoras (neste caso) significa maior utilização de madeira.
21
Figura 13. Emenda sobre o sarrafo de apoio (acervo do autor).
Na Figura 14, vê-se uma forma incorreta de utilização do escoramento. Feito dessa
forma, o escoramento pode causar tensões nas vigotas durante a concretagem, já que apoia
de maneira desigual as mesmas. O correto é sempre constituir linhas paralelas aos apoios,
de modo a não causar esforços preliminares nas vigotas, evitando patologias futuras e até
mesmo problemas durante a etapa de concretagem, como quebras por falta de apoio.
Figura 14. Uso incorreto de escoramento (acervo do autor).
22
Tabela 1. Distância entre escoras segundo o tipo de laje.
O fabricante de lajes LAJOTEC recomenda uma distância não superior a 1,20m.
Neste trabalho será recomendado que não se ultrapassem 1,50 m entre linhas de escoras.
O número de escoras é sempre ímpar, em função da contra flecha que deve ser
aplicada no meio do vão de cada painel, conforme indicações de projeto.
É fundamental que o cimbramento seja suficientemente rígido para não causar flecha
na fase de montagem e concretagem, pois se isso ocorrer o sistema já surgirá com flecha
que se extenderá por toda a vida da estrutura.
4.1.2 PREPARO DO APOIO NO SOLO
Em escoras apoiadas no solo deve haver um preparo preliminar para que elas não
afundem, e isto pode ser feito através da colocação de pedaços de tábuas sob cada escora.
Figura 15. Base de distribuição do carregamento no solo (acervo do autor).
23
Figura 16. Base sob pontalete (acervo do autor).
Figura 17. Solo compactado ao redor da base do pontalete (acervo do autor).
Também é necessário que o local onde as escoras forem apoiadas seja compactado,
de modo a evitar rebaixamento no momento da montagem e concretagem. Isso é feito com
um soquete de mão e no momento da montagem dos escoramentos. O fabricante LAJES
IBATÉ recomenda tal prática em seu manual de montagem, reproduzido na Figura 16 (o
manual completo pode ser visto no ANEXO 1). Na Figura 15 é possível perceber que a base
está sobre entulhos, aglomerados ao seu redor e soltos, o que poderia causar um recalque
quando do carregamento da laje pelas operações de montagem e concretagem. Já na
Figura 16 a base do pontalete parece estar sobre um piso mais firme, o que evitará
24
problemas futuros. Já na figura 17 o solo ao redor da base do pontalete foi escavado,
retirando o terreno mais frágil de modo a se buscar um suporte mais rígido para o
escoramento.
Figura 18. Manual Lajes Ibaté (acervo do autor).
4.1.3 CONTRAVENTAMENTOS E CIMBRAMENTOS
Quando as escoras forem esbeltas e oferecerem baixa rigidez, será necessário
contraventar o pontalete à meia altura. Isto também ocorre nos casos de pé direito elevado
ou duplo, onde poderá ser necessário mais do que uma linha de contraventamento. As
tábuas (pelo menos 30 cm de largura, 1”x30) devem ser posicionadas em espelho, e na
ligação das mesmas com os pontaletes deve ser colocada uma tala de enrijecimento de
ligação, não confiando apenas em pregos. As peças verticais não devem ter largura menor
que 5,0 cm. Na Figura 18 é possivel ver uma obra onde apenas pregos servem de ligação
entre os pontaletes e tábuas. Esse tipo de ligação pode levar a problemas durante a
concretagem, já que pode se romper, inutilizando essa linha de escoramento nesse ponto. O
fabricante LAJES IBATÉ também recomenta a utilização de contraventamentos entre as
linhas de escora, como pode ser visto na Figura 16.
25
Figura 19. Escoramentos contraventados na direção horizontal (acervo do autor).
Figura 20. Ligação entre pontaletes e tábua de escora (acervo do autor).
26
4.1.4 DATA E SEQUÊNCIA DE RETIRADA
A retirada do escoramento deve se dar preferencialmente após 21 dias da
concretagem, e nunca antes de 15 dias. O descimbramento deve ser feito de maneira a não
causar na estrutura esforços não previstos; assim em lajes biapoiadas o descimbramento
deve ser feito do meio para as extremidades, o que evita momentos negativos no bordo
superior da laje e consequentemente trincas, e no caso de balanços deve ser das
extremidades para os apoios, pelo mesmo motivo. É recomendável que o uso das lajes se
dê apenas após os 28 dias de idade. Ambos os fabricantes visitados também recomendam
em seus manuais a data de 21 dias para a retirada dos escoramentos (ver anexo 1).
4.2 CONTRA FLECHAS
Obtém-se o valor da contra flecha ainda na fase de projeto, quando é calculada a
flecha da laje levando-se em conta todas as ações permanentes. Essa flecha teórica é
aplicada como contra flecha de forma que, quanda na fase de serviço, tenha-se flecha
devido somente as ações acidentais. Dessa forma, por se tratar de um resultado oriundo da
fase de projeto, deve-se sempre seguir as orientações do projetista.
É importante observar que no centro da laje o concreto terá altura real da capa de
concreto especificada, garantida por meio de dispositivos específicos. Já nos apoios, existirá
uma altura maior devido a contra flecha. Essa altura maior nos apoios favorece o combate
aos esforços cortantes.
Por fim, recorda-se aqui que a contra flecha é específica para cada vão e carga e
varia com as condições de apoio, devendo-se portanto evitar generalizações quando da
confecção de diversos panos de lajes na mesma obra.
Figura 21. Contra flechas em lajes com duas e três linhas de escoras (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000).
27
A Figura 20 e a Figura 21 ilustram dispositivos simples que podem ajudar a garantir
as contra flechas requeridas em projeto. As cunhas de madeira são eficientes porém pouco
duráveis em atividades que exijam repetição do processo. Já as cabeças metálicas móveis
são reaproveitáveis, mas podem encarecer o escoramento. Elas são bastante difundidas e
estão presentes na maioria das obras visitadas.
Figura 22. Cunhas para realização de contra flecha (acervo do autor).
Figura 23. Cabeça metálica com regulagem de altura (acervo do autor).
4.3 APOIOS
4.3.1 TIPOS DE APOIOS (PENETRAÇÃO DAS VIGOTAS E TIPOLOGIAS CONSTRUTIVAS)
Os apoios para as vigotas que irão compor a laje podem ser de dois tipos: apoios
simples e engastamentos.
De uma forma geral, as nervuras devem, preferencialmente, estar apoiadas em vigas
de concreto armado, mas nos casos em que elas se apóiam sobre a alvenaria,
28
principalmente em edificações residenciais, recomenda-se uma cinta de amarração sobre a
parede, com a colocação de duas ou três barras; a concretagem deve ser simultânea
(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001). Os fabricantes LAJOTEC e LAJES IBATÉ
recomendam que em lajes apoiadas diretamente sobre paredes respaldadas com cintas de
amarração, a vigota deve penetrar pelo menos 50% no apoio (por exemplo, para uma
parede de 12 cm de espessura, a vigota deveria estar apoiada nos 6 cm iniciais). Na Figura
24, pode-se notar que não foi seguida a recomendação da cinta de amarração, estando as
vigotas diretamente apoiadas sobre a alvenaria. Já na Figura 25 vemos o apoio de vigotas
sobre vigas de concreto, entretando essas não foram concretadas simultaneamente, o que
prejudicará a monoliticidade da estrutura.
Figura 24. Apoio de treliças em alvenaria não respaldada (acervo do autor).
Figura 25. Vigotas apoiadas sobre vigas de concreto (acervo do autor).
29
Por fim, na Figura 26 vemos vigotas de uma laje para edificação residencial apoiadas
sobre uma cinta de concreto respaldando a parede. Tal prática é a mais recomendada na
literatura e nos manuais de fabricantes, pois cria uma pequena viga armada no topo da
parede, enrijecendo a mesma e evitando patologias, como o surgimento de trincas no
encontro laje/parede.
Figura 26. Vigotas apoiadas em cinta de amarração (acervo do autor).
a) Apoios simples
Caracterizam-se pela ausência de momento fletor na ligação, ou seja, estão
presentes nos apoios onde não se considera a continuidade da laje. Entretanto, é
encontrado na literatura que deve ser considerado um momento não inferior a ¼ do
momento positivo. As vigotas devem apoiar-se sobre as formas, após estas estarem
alinhadas, niveladas, escoradas e com a armadura colocada e posicionada. Elas devem
penetrar nos apoios pelo menos 5 cm e no máximo igual a metade da largura da viga. A
concretagem das vigas deve ser simultânea com a execução da capa (CARVALHO E
FIGUEIREDO, 2001). Ainda que nesse tipo de apoio não haja momentos fletores a serem
combatidos, recomenda-se a utilização de uma armadura de ancoragem, que pode provir da
própria vigota, sendo um prolongamento da armadura presente na sapata de concreto da
mesma ou ser adicionada na obra, antes da concretagem. Ainda é preferível, com será visto
mais adiante para outros tipos de armaduras adicionais, que se colocada em obra, a
armadura de ancoragem diste 1 cm da sapata de concreto, para garantir a perfeita
aderência entre ela e o concreto oriundo do capeamento. Em ambos os casos é
imprescindível evitar na região da viga um acúmulo de ferragens, o que atrapalharia a
operação de concretagem e a correta aderência do concreto com o aço.
30
Nos casos de vigotas apoiadas sobre vigas “T”, “L” ou vigas invertidas, não é
possivel que as mesmas penetrem nos apoios, pois estariam atravessando a região (mesa)
comprimida do concreto. Assim, embora ainda seja necessário que as vigotas penetrem 5
cm na forma das vigas, elas não atravessam seu eixo, prolongando-se apenas uma
armadura de ancoragem, como descrito anteriormente.
Nas Figuras 27 e 28 está exemplificada a execução de uma viga invertida em uma
laje inclinada. Essa obra mostra a versatilidade que esse tipo de laje apresenta.
Figura 27. Viga invertida em laje inclinada – vista superior (Prof. Mauro Araújo).
Figura 28. Viga invertida em laje inclinada - vista inferior (Prof. Mauro Araújo) .
A Figura 29 ilustra um apoio simples. Nota-se que não existem armaduras
complementares sobre as vigotas, apenas a tela de solidarização, que se extende por todo o
pano de laje. Também é possivel verificar que as vigotas não ultrapassam a metade da
largura da viga em que se apoiam, respeitando o preconizado anteriormente. Essas foram
31
posicionadas após as formas e armaduras de vigas estarem prontas, bem como a
concretagem de vigas e capeamento de concreto ocorrer de forma conjunta, obedecendo
mais uma vez ao que é disposto na maior parte da literatura sobre a importância da
simultâniedade dessa operação, contribuindo para monoliticidade da estrutura.
Figura 29. (a) vigota apoiada. (b) detalhe da ausência de armaduras (acervo do autor).
Já na obra ilustrada na Figura 30 a seguir, não é seguido o recomendado com
relação a penetração de vigotas nos apoios. É possivel ver pela imagem que a vigota
treliçada praticamente encosta na lateral externa da viga de apoio, o que na etapa de
concretagem dificultará o lançamento de concreto dentro das formas da mesma.
Figura 30. Vigota apoiada até o bordo externo da viga lateral (acervo do autor).
32
Figura 31. Vigota apoiada além do eixo da viga invertida (acervo do autor).
Novamente, na figura 31, podemos ver que as vigotas avançam além do meio da
viga invertida na qual se apoiam e que não existe um prolongamento de armaduras, seja da
região inferior da sapata de concreto ou de armaduras adicionais posicionadas em obra.
Em uma das obras visitadas encontrou-se a situação ilustrada nas Figuras 32 e 33.
Nela, aparece uma viga invertida sendo executada paralelamente as vigotas da laje. Ou
seja, as vigotas não estão se apoiando nessa viga, mas apenas nos apoios de extremidade.
Como está sendo executado, quem se apoia na viga intermediária são as nervuras de
travamento, engastadas por meio de uma armadura que penetra na viga.
Figura 32. Viga invertida - vista inferior (acervo do autor).
33
Figura 33. Viga invertida - vista superior (acervo do autor).
Uma das explicações para se ter adotado tal concepção estrutural pode ser o fato de
querer se evitar uma concentração muito grande de carregamento no local onde a viga se
apóia na parede (já que não há pilares na estrutura), uma vez que se as vigotas se
apoiássem nela, todo o carregamento da laje na direção das vigotas estaria concentrado em
apenas dois pontos na parede (da laje para a viga e da viga para a parede). Da forma como
esta sendo executado, o carregamento da laje está distribuido ao longo da parede, e
somente a carga proveniente das nervuras é que está sendo descarregada na viga, e dessa
para a parede. Nota-se que as nervuras, juntamente com a viga invertida constituem um
sistema de travamento para toda a laje, que pode ser visto na Figura 34.
Figura 34. Laje montada (acervo do autor).
Armadura de ancoragem das nervuras
34
b) Apoios engastados (engastamentos)
É sempre preferível que as lajes treliçadas sejam projetadas e montadas como
sendo simplesmente apoiadas. Isso reduz a quantidade de armaduras a serem utilizadas
nos apoios, o que é economicamente atraente e evita erros durante a etapa de montagem.
Ainda, a consideração de não engastamento nos apoios leva ao cálculo de lajes mais
seguras, uma vez que o momento positivo máximo oriundo do cálculo é sempre maior que o
que ocorre na realidade, dado a concretagem simultânea de capa e vigas de apoio. Essa
simultânedade leva a estruturas, quando não armadas para momentos negativos,
parcialmente monolíticas, o que acarreta em apoios parcialmente engastados. Entretando,
devido a fissuração do concreto e outros fatores, esse engastamento parcial não é levado
em conta. Assim, tem-se que o momento positivo real no meio do vão é menor do que o
calculado teoricamente, levando a uma certa “folga” no dimensionamento.
Por outro lado é sabido que um dos grandes problemas enfrentados pelas lajes
treliçadas pré moldadas é o fato de seus valores de flechas serem muito grandes. Assim,
projetar e executar lajes considerando a continuidade das mesmas é um fator favorável a
diminuição dessa flecha. Flechas menores abrem a possibilidade de lajes mais esbeltas,
diminuindo portanto o consumo de materiais. Também é importante lembrar que a
continuidade, por reduzir os momentos positivos, permite vencer vãos maiores. Em
contrapartida, há a necessidade de garantia de posicionamento das barras de momento
negativo (cuja presença é imprescindível para a configuração de engastamento) e a
necessidade, em alguns casos, de confecção de uma região maciça no apoio em
substituição ao elemento inerte, o que eleva o consumo de concreto. Segundo a norma
espanhola EF96, para que haja continuidade nos apoios, as nervuras devem ser ligadas as
vigas de três formas: a primeira com penetração das nervuras na viga de apoio, a segunda
pela penetração da armadura inferior das nervuras dentro da viga de apoio e a terceira pela
colocação de armadura adicional. Para o segundo caso, é importante que a armadura tenha
um valor igual ao comprimento de ancoragem necessário para absorver uma força de tração
igual ao esforço cortante, para apoios externos e metade desse valor para apoios internos
com momentos negativos. O comprimento da armadura de continuidade deve ser medidio a
partir da face do apoio em vigas de altura maior que a altura da laje, e nas vigas com altura
final igual a altura da laje, a partir do seu estribo. Caso a nervura (vigota) seja do tipo treliça,
esta deverá chegar até a face do apoio em vigas de altura maior que a da laje, e até ao
estribo da viga de mesma altura da laje. Em nenhuma hipótese o valor do prolongamento
será inferior a 10cm em apoios externos e a 6cm em apoios internos.
35
Para que a continuidade da laje seja mais eficiente recomenda-se que haja em todos
os apoios, uma região maciça, eliminando-se o material inerte de pelo menos 10cm. É
conveniente que a concretagem das vigas, capa e região maciça seja simultânea.
Quando não se deseja que a laje se apoie sobre uma parede (portanto, que não seja
nem apoio simples nem engaste) é tomada a medida representada na Figura 35. Tal
situação decorre do fato de não se querer carregar o pavimento inferior com as ações
oriundas da laje superior, que nesse caso é uma laje de forro. A parede da figura não possui
uma viga sob ela, nem vigotas pararelas justapostas, já que estava na direção perpendicular
as mesmas. Assim, o que se faz é montar a laje superior com os devidos pontos de apoio e
concretá-la, para só então fazer um encunhamento de fechamento da parede que não serve
de apoio. Assim, a laje superior não influenciará na laje inferior através dessa parede
divisória. Para todos os efeitos, a laje superior continua biapoiada (e não com três apoios) e
o carregamento na laje inferior é devido apenas a parede nessa região.
Figura 35. Dissolidarização da laje com uma parede intermediária (acervo do autor).
Outra condição de apoio bastante desfavorável ao bom funcionamento da estrutura
como um todo é o que pode ser visto na Figura 36. Nela, está ilustrada uma prática
extremamente não recomendável, pois implica em um alto grau de desperdício, tanto de
materiais, uma vez que a viga de apoio teve de ser quebrada, resultando em entulho, quanto
de mão de obra, necessária para realizar tal trabalho. Além disso, retirou-se concreto
justamente da parte onde este é mais importante na viga, ou seja, na região comprimida,
prejudicando o funcionamento estrutural à flexão. Também a armadura da viga ficou
exposta, o que numa concretagem futura, graças a oxidação e o acúmulo de impurezas no
aço, pode causar prejuízo da aderência entre o este e o concreto. Do outro lado do apoio
36
pode-se notar que a adaptação é ainda pior. As vigotas foram apoiadas sobre uma laje já
existente, sem que houvesse a preocupação de se criar ali um dispositivo de apoio como
uma viga ou até mesmo algum tipo de reforço com armadura e regiões maciças. Além disso,
a laje de suporte às treliças é um balanço, e que quando passar a receber carga em sua
extremidade terá o momento sobre seu apoio bastante aumentado. Certamente a armadura
desse apoio não foi dimensionada para tal esforço e patologias poderão vir a surgir nessa
região.
O correto nessas situações seria do lado em que o apoio se dá em sulcos criados
numa viga já existente, caso não se desejasse concretar vigas e capa em conjunto, que a
viga fosse concretada até a altura do fundo da laje e após seu periodo de endurecimento
deveriam ser posicionadas as vigotas e elementos de enchimento e decorrida a
concretagem da laje. Nessa configuração, as vigotas se apoiariam totalmente sobre a viga
criada, cruzando-a, uma vez que se deseja uma porção da laje em balanço.
No outro lado, seria imperativo que se criasse uma estrutura rígida de apoio, como
uma viga, de modo a evitar patologias futuras, dada a baixa espessura da laje na qual as
vigotas estão se apoiando.
Figura 36. Apoio de vigotas em elementos não recomendados (acervo do autor).
37
Embora não seja a utilização das vigotas e elementos de enchimento que estejam
erradas nessa obra (estão posicionadas do modo que tradicionalmente se recomenda) as
condições da infra-estrutura dos aparelhos de apoio para receber esse tipo de laje estão
completamente adversas as recomendações encontradas na literatura e dos fabricantes em
geral. A situação acima acaba por ilustrar um exemplo de como um sistema que tem um
grau elevado de industrialização pode ter seu uso bastante deturpado pela falta de projeto e
de orientação dos executores, provando a indiscriminação ainda presente nas construções,
principalmente na autoconstrução e construções de pequeno porte, da utilização desse
sistema.
4.3.2 GARANTIA DAS DISPOSIÇÕES PRECONIZADAS EM PROJETO
No projeto de qualquer tipo de estrutura são levantadas hipóteses de cálculo e de
comportamento dos elementos estruturais para compor um modelo que servirá de base para
a obtenção de esforços e de um resultado de dimensionamento. Esse modelo tenta
reproduzir o mais fielmente possivel os comportamentos reais apresentados pela estrutura.
Em contrapartida, também as hipósteses utilizadas devem ser reproduzidas quando da
confecção da estrutura. Assim, se dissermos que um apoio é simples, quando da confeção
da estrutura devem ser tomados os cuidados para que não haja engastamento nesse ponto.
Enumeram-se agora alguns procedimentos que são tomados em obra de modo a garantir a
reprodução das situações de cálculo e projeto, bem como as que evitam o surgimento de
patologias oriundas da má execução das lajes treliçadas pré moldadas.
a) Engastamentos e Continuidade em Apoios Intermediários
De modo a garantir que uma laje tenha continuidade, é imprescindível que haja uma
armadura negativa, além das demais armaduras construtivas. É fácil ver que, sem essa
armadura, o concreto da região submetida a momentos negativos vai fissurar, não resistindo
aos esforços de tração e, portanto permitindo o giro da peça. Isso caracterizaria um apoio
simples. A armadura negativa deve então cumprir o papel de resistir a esses esforços e em
conjunto com a aderência aço/concreto não permitir o giro da peça. Isso caracteriza portanto
um apoio engastado, com momento negativo sendo resistido pela armadura negativa
calculada na fase de projeto. Assim, se há o desejo de que os apoios de uma laje sejam do
tipo engastados, é necessário haver o cálculo e o detalhamento de uma armadura negativa
de tração. Em conjunto torna-se importantíssimo garantir que essa armadura seja
corretamente posicionada no momento da concretagem da laje, uma vez que nessa fase o
fluxo de operários e equipamentos é intenso, havendo a possibilidade de que esses retirem
38
as barras dos seus locais corretos. Uma série de dispositivos podem ser usados no
posicionamento dessa armadura, como será visto mais a frente.
Outra recomendação importante para a garantia de engastamento é que seja
executada uma região maciça nas proximidades dos apoios. Ele é obtido com a substituição
do material de enchimento, no trecho pré estabelecido pelo cálculo, por concreto modado no
local que será lançado sobre uma tábua que se apóia nas guias e pontaletes. Essa solução
deve ser empregada nos trechos de lajes onde o momento fletor negativo resultou maior
que o momento resistente da nervura.
Figura 37. Execução da região maciça de concreto nos apoios. (CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).
A Figura 38 ilustra a execução de uma região maciça. Nota-se que além de sevir a
todas as funcionalidades citadas, tal região ainda faz a compatibilização dos diversos
sistemas construtivos utilizados nessa obra, ou seja, está associando uma viga metálica a
laje pré moldada treliçada no apoio intermediário.
Figura 38. Execução de região maciça em apoio intermediário (acervo do autor).
39
b) Liberdade de Giro em Apoios Laterais para Evitar Patologias
Quando não há a preocupação de que seja garantido o engastamento no encontro
entre apoios laterais e lajes, tornando-o portanto um apoio simples, algumas medidas
devem ser tomadas para evitar o aparecimento de patologias nas edificações. Alguns
problemas comuns como o aparecimento de trincas, descolamentos de revestimentos e em
casos mais extremos o destacamento vertical da alvenaria são, via de regra, oriundos da
falta de cuidado na fase de execução das lajes. Todos esses problemas são agravados
quando estamos tratando de lajes expostas diretamente ao sol, sem nenhum tipo de
proteção e que sofrem grandes variações térmicas. Tais variações implicam em
movimentação e culminam em problemas patológicos. Também a retração durante a cura
do concreto é responsável por movimentações no pano da laje.
As fissuras que surgem no último pavimento de edificações são muito comuns e têm
características bastante específicas em relação a causa e a aparência. São resultado da
falta de uma concepção cuidadosa da interface entre a alvenaria e a laje de cobertura –
última e mais exposta camada da estrutura – e dos detalhes construtivos que a envolvem
(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).
Ainda com relação as fissuras em revestimentos, pode-se dizer que algumas delas
são causadas pelo giro excessivo da região de apoio da laje nos contornos. Isso se deve ao
fato de que não foi considerado, quando da fase de projeto, que após a retirada dos
escoramentos a laje pode fletir, rotacionando o apoio.
A seguir, são enumeradas algumas medidas que devem ser tomadas na fase de
execução da laje que visam sanar tais patologias.
40
Tabela 2. Causas mais comuns da fissuração externa e interna de revestimentos de alveranias autoportantes e métodos preventivos.
Figura 39. Patologias devido a movimentação do apoio laje/alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA).
Alguns dispositivos especiais podem ser executados, como mostram as Figuras 40 e 41.
41
Figura 40. (A) Dispositivo especial que permite a rotação entre parede e laje. (B) Garantia de mobilidade no apoio de lajes sobre alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA).
Figura 41. (A) Dispositivo de isolamento para lajes expostas diretamente ao sol. (B) Dispositivo de isolamento para lajes sob coberturas (Eng. MARCOS CARNAÚBA).
42
4.4 CONCRETAGEM
A concretagem a qual se refere esse item é a da capa do concreto. Essa operação
requer atenção especial, pois é ela que introduz nesse tipo de laje já bastante industrializado
o fator manufatureiro, ou seja, é por conta da necessidade de um capeamento do conjunto
vigotas + lajotas (ambos materiais que são totalmente industrializados e que apenas
necessitam ser posicionados para a montagem da laje) que se necessita grande parte da
mão de obra. Também a concretagem induz a erros comuns (de cura do concreto, de altura
insuficiente no meio dos vãos, entre outros) que então devem ser estudados e sanados para
o melhor desempenho do sistema como um todo após a secagem.
A norma brasileira exige que o concreto a ser usado na capa tenha fck mínimo de 20
MPa. Esse controle é tanto melhor quanto mais industrializado for o processo de confecção
do concreto (batido na obra, pré misturado e concreto usinado). Tanto essa capa de
concreto como qualquer outra concretagem complementar deve sempre seguir os preceitos
estabelecidos nas normas vigentes de concreto, incluindo técnicas adequadas de vibração e
cura.
4.4.1 CONCRETAGEM SIMULTÂNEA DE CAPAS E VIGAS (OU REGIÕES MACIÇAS)
Sempre é preferível que a concretagem ocorra de forma simultânea entre vigas e o
capeamento da laje. Isso garante uma maior monoliticidade a estrutura e evita problemas de
aderência na interface concreto/concreto que se criaria caso vigas e lajes fossem
concretadas separadamente. Também evita esforços desconhecidos nas peças estruturais
devido a movimentação de operários e equipamentos, já que toda a infraestrutura
necessária a concretagem é montada uma única vez na concretagem simultânea.
As Figuras 43 e 44 mostram concretagens simultâneas de capas e vigas, tanto
invertidas quando vigas normais. É possivel notar pelas figuras que os operários sempre
evitam o acúmulo de concreto em um único ponto, o que sobrecarregaria a laje e poderia
ocasionar o rompimento das vigotas e lajotas.
43
Figura 42. Concretagem da capa da laje em conjunto com vigas. Na primeira figura a viga é normal enquanto que na segunda a viga é invertida (acervo do autor).
Figura 43. Funcionário esparramando e nivelando o concreto de capeamento. Vibração da viga que está sendo concretada em conjunto com toda a capa da laje
(acervo do autor).
Na Figura 44 podemos ver o resultado final de uma concretagem da capa, mostrando
os diversos extratos desse tipo de laje. A figura também indica outra característica desse
tipo de laje, que é ter o fundo plano e poder receber revestimentos com espessuras bastante
reduzidas, como é o caso do gesso que foi aplicado nesse caso.
Figura 44. Laje concretada mostrando as diversas camadas (acervo do autor).
44
4.4.2 CONCRETAGENS POSTERIORES.
Quando se executam vigas invertidas cuja altura final seja maior que a altura final da
laje, em alguns casos, é colocada a armadura da viga, montada a laje e se concreta a capa
e a viga até a altura da laje. Posteriormente são montadas as formas do restante da viga, e
efetua-se a concretagem da altura final da viga. Dessa forma, fica facilitada a montagem da
forma da viga, que se apoia sobre a laje já concretada. Entretando, podem surgir problemas
de aderência entre o concreto já lançado e o novo concreto a ser executado. Esse
procedimento também pode aumentar o custo da laje como um todo, uma vez que requer a
montagem da infraestrutura de concretagem duas vezes. A primeira de viga + laje e a
segunda para complementar a viga. Montar toda a forma da viga para uma única
concretagem, por outro lado, requer um pouco mais de prática e cuidado dos operários,
principalmente no que diz respeito a manutenção de posições.
4.4.3 TRANSPORTE DO CONCRETO SOBRE A LAJE.
Para o transporte do concreto sobre a laje, devem ser tomadas medidas no sentido
de impedir que os materiais de enchimento sofram impactos ou sejam submetidos às cargas
concentradas, uma vez que estes são feitos de cerâmica, que é um material frágil e de
pouca resistência a impactos. É recomendável que sejam colocadas tábuas de madeira
sobre a superfície a ser concretada e, de preferência, que estas estejam acima do nível dos
materiais cerâmicos (o que é conseguido colocando-se caibros para apoio das tábuas), ou
que a altura da viga treliça seja superior à altura dos materiais de enchimento, como
mostram as figuras que se seguem. O transporte sobre tábuas que se apoiam diretamente
sobre os materiais de enchimento é aceitável, mas não é recomendado (CAIXETA, 1998).
Figura 45. Tábuas apoiadas nas treliças das vigotas (acervo do autor).
45
4.4.4 RECOMENDAÇÕES A RESPEITO DA CURA DO CONCRETO.
A cura é um processo mediante o qual se mantém o grau de umidade satisfatório,
evitando a evaporação da água da mistura, garantindo ainda uma temperatura favorável ao
concreto durante o processo de hidratação dos materiais aglomerantes, de modo a se obter
um concreto com as qualidades esperadas. A boa cura ajuda a controlar um dos processos
mais importantes que ocorrem nas estruturas de concreto, a sua retração (FLORIO, 2004).
FLORIO (2004) faz recomendações, que aqui serão tomadas como prescritivas, a
respeito da cura do concreto de capeamento:
“Para controlar a retração hidráulica é suficiente impedir a perda de água
do concreto. A proteção nos primeiros dias fará com que a retração do concreto só
ocorra quando sua resistência já tiver sido aumentada. Já a retração térmica é mais
difícil de ser controlada. Um ambiente quente e úmido permite uma cura e pega
mais rápida e um aumento da resistência do concreto.”
Existem dois métodos básicos para se realizar uma boa cura do concreto e obter
uma perfeita hidratação do cimento:
- Criação de um ambiente úmido quer por mieo de aplicação contínua ou frequente
de água, por meio de alagamento, molhagem, vapor de água ou por materiais de
recobrimento saturados de água, como manta de algodão, juta, terra, areia e outros.
- Previnir a perda de água de amassamento por meio de materiais selantes como
folhas de papel ou plásticos impermeabilizantes ou por aplicação de compostos líquidos
para a formação de membranas de cura no concreto recém lançado, tomando o cuidado
para que esses materiais ao secarem, não absorvam a água do concreto.
O tempo de cura, pela norma vigente é de sete dias contados a partir da data do
lançamento. Esse tempo varia conforme o tipo de cimento utilizado e as viabilidades
econômicas da obra e está entre 2 a 10 dias, conforme pesquisas recentes. Cabe ao
engenheiro decidir qual o tempo adequado para cada obra, tendo sempre em mente que
essa etapa é primordial na garantia de condições mínimas de resistências assim como
características elásticas do concreto executado (FLÓRIO, 2004).
46
4.5 ARMADURAS
4.5.1 GARANTIA DO POSICIONAMENTO DE ARMADURAS NEGATIVAS
Esse item trata da utilização de dispositivos ou técnicas que garantam o correto
posicionamento das armaduras durante as etapas de montagem e concretagem da laje.
Como qualquer outra estrutura de concreto armado, tais dispositivos devem garantir os
cobrimentos mínimos recomendados pela NBR 6118:2003. Eles podem ser espaçadores
plásticos, que são bastante práticos e amplamente encontrados no mercado e que garantem
que as armaduras, principalmente as de vigas incorporadas às lajes, tenham um cobrimento
mínimo; ou construídos de aço, como os “caranguejos” para apoio das armaduras negativas.
Ainda existem dipositivos niveladores que impedem que a altura da capa de concreto seja
não uniforme devido a possíveis contra flechas requeridas em projeto.
O posicionamento de armaduras negativas requer atenção especial. Uma vez que tal
armadura, quando colocada fora de seu devido lugar, pode não garantir a continuidade de
apoios requerida em projeto (cujas implicações já foram descritas anteriormente), fazendo
com que o modelo estrutural adotado para o cálculo da laje não corresponda ao que está
sendo executado, é imprescindível que as barras da armadura negativa fiquem exatamente
na posição determinada no cálculo, estajam colocadas rigidamente e não saiam da posição
durante a concretagem. Seu posicionamento correto é na face superior da laje, respeitando-
se o cobrimento mínimo segundo a classe de agressividade do ambiente (NBR 6118:2003)
e deve ser colocada sobre as nervuras, e não sobre o elemento de enchimento.
As figuras abaixo ilustram os dispositivos mais comumente utilizados como
posicionadores de armaduras em lajes nervuradas pré moldadas.
Figura 46. Espaçadores plásticos (www.fercimcal.com.br acesso 23.09.09).
47
4.5.2 ARMADURAS ADICIONAIS – POSICIONAMENTO E QUANTIDADES
As armaduras adicionais visam suprir a quantidade de aço requerida em projeto e
que não foi atendida apenas pela armadura presente nas vigotas. São compostas por barras
complementares longitudinais, transversais, armadura de distribuição, armadura de
cisalhamento e armaduras negativas (essas últimas são assim classificadas apenas por não
estarem incorporadas as vigotas, entretanto sempre que se deseja garantir continuidade nos
apoios devem estar presentes, não complementando outras armaduras mas sim fazendo o
papel principal de resistir a momentos negativos).
Para resistir aos momentos negativos, EL DEBS (2000) recomenda que no
detalhamento da armadura longitudinal deve-se dedicar especial atenção à ancoragem junto
aos apoios, principalmente nos externos, e que para possibilitar melhores condições de
ancoragem a adoção da região maçica citada anteriormente é bastante importante. Medida
adicional reside também em colocar armadura adicional transpassando a armadura
longitudinal. Além de resistir aos momentos negativos, essas barras servem também para
fazer a ligação entre lajes e vigas proporcionando rigidez e monoliticidade ao conjunto e
para combater as fissuras (CARVALHO E FIQUEIREDO, 2001). Em apoios externos, deve
ser colocada uma armadura superior capaz de resistir no mínimo a um momento fletor igual
a ¼ do momento do vão. Essa armadura deverá se estender a partir da face exterior do
apoio de um comprimento não menor que 1/10 do tamanho do vão mais a larguda do apoio.
Na face exterior do apoio a armadura deverá ser prolongada verticalemnte com dimensão
no mínimo igual a altura da laje (recomendações da norma espanhola EF-96).
A armadura adicional longitudinal deve ser disposta dentro da vigota, mas se isto não
for possível devido ao espaçamento mínimo a ser respeitado, pode-se dispor esta armadura
em duas camadas: uma situada dentro da sapata (colocada na fábrica) e outra colocada na
obra; nesta última, as barras devem ser amarradas na armação treliçada distantes pelo
menos 1 cm da sapata de concreto para garantir uma boa aderência. Cuidados especiais
devem ser tomados com relação a altura útil quando da utilização dessa técnica.
Para barras adicionais requeridas para vencer momentos positivos, nem todas
necessitarão chegar aos apoios (o que causaria um congestionamento nessa região e
dificultaria a concretagem), mas pelo menos 50% delas sim, sendo ancoradas corretamente.
Segundo recomendação do fabricante Lajotec (São Carlos, SP), nervuras
transversais ao sentido das vigotas, com a finalidade de travamento da laje e sem função
estrutural devem ser executadas espaçadas igualmente e com distância não inferior a 1,5m
entre elas. Nessas nervuras, geralmente compostas por elementos tipo canaleta (vide tópico
48
sobre elementos de enchimento), é colocada uma armadura transversal de no mínimo 1
barra de diâmetro de 6,3mm. Essa é a armadura a qual se refere como sendo a transversal.
Os esforços de cisalhamento são comumente combatidos pela armação treliçada das
vigotas. No entanto, quando necessário, devem ser usados estribos adicinais posicionados
desde a sapata de concreto até a altura da laje, descontado o devido cobrimento.
Por fim, é necessária uma armadura de distribuição posicionada na capa no sentido
transversal e longitudinal para distribuição de tensões oriundas de cargas concentradas e
para controle da fissuração. Tanto a NBR 14859 – 1:2002 quando o fabricante LAJOTEC
indicam que essa malha deve ser de no mínimo 0,6cm² de aço por m² de laje, contendo pelo
menos 3 barras por metro. O fabricante citado utiliza um produto cuja especificação é Q61.
O aço que compõe o banzo superior das armações treliçadas pode ser considerado como
de armadura de distribuição, segundo a norma brasileira pertinente. A Figura 47 ilustra essa
armadura de distribuição.
Figura 47. Tela eletrossoldada utilizada como armadura de distribuição (acervo do autor).
Na Figura 47 pode-se notar que na emenda entre as telas apenas é deixada uma
região de transpasse, sem a necessidade de amarrações.
4.6 PAREDES SOBRE LAJES.
4.6.1 PAREDES PARALELAS AOS TRILHOS
Os principais inconvenientes de se colocar paredes diretamente sobre as lajes são a
possibilidade de ocorrência de trincas e elevados deslocamentos.
49
A recomendação geral, tanto de fabricantes de lajes treliçadas quanto a encontrada
na literatura é a de que, quando haver a necessidade de se apoiarem paredes de alvenaria
sobre as lajes, que sejam justapostas nervuras sobre tal parede, eliminando o elemento de
enchimento. Assim, a depender da espessura da parede, duas ou três nervuras justapostas
serviriam de apoio rígido (quase que como se comportanto como laje maciça) para a parede
sobre a laje, evitando deformações excessivas e carregamentos concentrados em
determinadas regiões do pavimento. Entretando, segundo CAIXETA (1998), só as vigotas
justapostas não suportam o peso da parede. É necessário que seja feita uma distribuição da
carga concentrada da parede sobre uma faixa de influência. É recomendável, segundo
CARVALHO E FIGUEIREDO (2001) só começar a fazer a parede quando a capa de
concreto tiver pelo menos 14 dias de idade, pois antes disso quem resiste aos esforços é
somente a vigota.
A figura 48 ilustra a prática de se colocar treliças uma ao lado da outra em regiões da
laje que receberão paredes.
Figura 48. Justaposição de vigotas (acervo do autor).
Vale aqui citar que a justaposição dos elementos pré moldados pode também ser
utilizado nas lajes cujas bordas paralelas às vigas são livres, a fim de combater a redução
de rigidez característica desta situação evitando, assim, as deformações excessivas e
diferenciadas nas regiões próximas às bordas livres.
50
4.6.2 PAREDES PERPENDICULARES AS TRELIÇAS
Não há muitas menções na literatura a respeito de cuidados especiais a serem
tomados quando a parede está alinhada perpendicularmente a direção das vigotas. Não
para menos, é cabível interpretar essa “despreocupação” pelo fato de que, nessa
configuração, o carregamento oriundo das paredes ficaria distribuído em várias vigotas,
representando a elas uma carga puntual. É portanto necessário verificar o cisalhamento, já
que muitas vezes essa carga pode ser elevada.
Quando a parede é apoiada sobre a laje perpendicularmente às vigotas, deve ser
calculada uma carga distribuída equivalente dividindo-se o peso da parede pela área de
uma faixa dedistribuição que, neste caso, corresponde a (1/2)L. Se existirem mais paredes
perpendiculares às vigotas em um mesmo painel, as faixas de distribuição deverão ser
limitadas pela metade da distância que as separa, e a carga equivalente adotada será a
maior obtida.
Fica então a sugestão de que, assim como nas nervuras de travamento, para
paredes perpendiculares as vigotas, pode-se substitiur o elemento de enchimento por
canaletas e por elas passar uma determinada armadura, compondo assim uma viga plana
(de mesma altura final da laje) que enrijeceria o conjunto e evitaria possíveis deformações
da laje.
4.7 ELEMENTOS DE ENCHIMENTO.
As lajotas cerâmicas deverão ser abundantemente molhadas antes do lançamento
do concreto, pois caso contrário elas absorverão a água necessária à hidratação do mesmo.
Tal fato apresenta-se na Figura 49, onde o umedecimento da laje está sendo feito antes da
concretagem da capa da mesma.
Figura 49. Operário molhando as lajotas antes da concretagem (acervo do autor).
51
Na execução da laje, ao colocar as vigotas e elementos cerâmicos deve-se começar
sempre da borda para dentro, preferencialmente com as lajotas; a razão disso é que a lajota
é mais barata que vigota, além de facilitar as instalações hidráulicas e elétricas embutidas
que exigem rasgo na parede, pois é muito melhor encontrar no topo da parede, para
quebrar, lajota cerâmica do que vigota de concreto armado.
Nem sempre tal recomendação é seguida. Como podemos ver na Figura 50, em
algumas obras começam-se os panos de laje pelas vigotas. Entretando, não há informação
se nessas paredes existirão prumadas hidráulicas ou elétricas e portanto as imagens são
ilustrativas da montagem começada por vigotas, não cabendo análises críticas mais
profundas. É cabível que na ausência de informações a respeito das instalações, na medida
do possível sejam colocadas sempre as lajotas e posteriormente as vigotas no encontro com
apoios paralelos. Na figura 51 está um exemplo de montagem iniciada por lajotas.
Figura 50. Numa mesma obra exemplo de montagem iniciando com vigotas e com lajotas, que é o mais recomendado (acervo do autor).
Figura 51. Montagem da laje iniciada por lajotas (acervo do autor).
52
A distância entre nervuras (intereixo) é função do tipo de material de enchimento a
ser utilizado, que deve ter garantida sua capacidade portante durante a fase de
concretagem da laje, para que não haja sua ruptura sob o peso do concreto ainda fresco.
Quanto maior o intereixo adotado, menor será o consumo de concreto da laje; por
outro lado maior será a armadura em cada nervura, mas de qualquer forma, maiores
intereixos levam, via de regra, a lajes mais econômicas. Também é necessário que os
operários caminhem sobre passarelas de tábua sobre a laje, e essa recomendação é tanto
mais necessária quanto maiores forem os intereixos adotados, uma vez que lajotas maiores
são mais frágeis. Ou seja, apesar de não serem necessários para o sistema após a cura do
concreto, a boa qualidade do material de enchimento é importante para a segurança nas
fases de montagem e concretagem da laje, pois eles são reponsáveis por transferir o peso
do concreto ainda fresco às vigotas que se apóiam sobre as linhas de escoras. Assim
sendo, torna-se necessária uma resistência mínima para este material, devendo-se evitar o
uso de elementos com pequena altura e grandes intereixos.
Na figura 52 mostra-se um caso onde a má qualidade do elemento de enchimento
ocasionou sua quebra deste durante a etapa de concretagem da capa, fazendo com que
houvesse desperdício de concreto e retrabalhos.
Figura 52. Quebra do elemento de enchimento (acervo do autor).
Em face de grandes variabilidades nas formas e dimensões, conferem características
regionais às lajes, dificultando a elaboração de projetos padronizados ou mesmo a utilização
de tabelas para o dimensionamento das mesmas (SANTINE, 2005).
No caso de lajes com EPS o revestimento pode ser feito com um chapisco
convencional (aplicado com a colher) usando um aditivo de base acrílica para melhorar a
aderência; depois do chapisco seco pode-se aplicar as demais camadas do revestimento,
53
pois embora reduzam significativamente o peso próprio da laje, existem ainda problemas de
aderência entre os revestimentos internos e o enchimento em EPS.
Como o EPS não absorve o excesso de água da argamassa, a água de
amassamento pode ser reduzida.
Elementos de enchimento mistos tem sido desenvolvidos, combinando o EPS com a
cerâmica, de modo a possibilitar maiores alturas de lajes sem acréscimos significativos no
peso próprio da mesma, como pode ser visto na figura 53.
Figura 53. União de diferentes materiais como elementos inertes (acervo do autor).
4.7.1 DISPOSIÇÃO DE ELEMENTOS NA LAJE. ELEMENTOS ESPECIAIS
Existem atualmente no mercado produtos que visam permir que sejam incorporados
as lajes elementos como caixas de passagem elétrica e tubulações, entre outros. Tais
elementos evitam adaptações em canteiro e agilizam o processo de montagem do pano de
laje, vindo de encontro com o grau de industrialização que elas incorporam. As
recomendações, no caso de elementos que substituem as lajotas, como os apresentados
nas Figuras 54 a 57 são as mesmas para o material de enchimento normal. Ou seja, devem
ser tomados os mesmos cuidados que são tomados com as lajotas comuns: cuidados de
manuseio e transporte; molhar em abundância o elemento antes da concretagem; garantir
que o mesmo não esteja com defeito e caso isso ocorra substituí-lo antes do capeamento,
verificar se o encaixe é perfeito, evitando vazamentos durante a operação de concretagem,
entre outros.
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Figura 54. Lajota em plástico com caixa de passagem elétrica (acervo do autor).
Figura 55. Lajota em metal incorporada a laje. (http://www.fazfacil.com.br/images/ref_laje_caixametal_3.jpg acesso 22.09.09)
Figura 56. Método tradicional de fixação das caixas de passagem elétrica na laje (http://www.fazfacil.com.br/images/laje_isopor_caixa.gif acesso 22.09.09).
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Figura 57. (A) Caixas de passagem incorporadas as lajotas de concreto. (B) Moldagem na obra de elementos com tubulações incorporadas (acervo do autor).
4.8 POSICIONAMENTO E MONTAGEM
4.8.1 POSICIONAMENTO DAS TRELIÇAS.
Segundo CAIXETA (1998), as operações de montagem iniciam-se com o
posicionamento das vigotas sobre o cimbramento e sobre os apoios.
É recomendável que as treliças sejam centralizadas no vão e que penetrem nos
apoios de forma igual em ambos os lados, nunca inferior a 5cm.
Ainda segundo CAIXETA (1998), as vigotas treliçadas devem sempre estar apoiadas
pela sapata de concreto e nunca pelas barras de espera da armadura longitudinal de tração,
como ilustrado na Figura 58.
Figura 58. Detalhes do apoio das vigotas nas paredes (CAIXETA, 1998).
56
Segundo a EF-96, quando se deseja levar em conta a continuidade da laje, é
conveniente que as nervuras que chegam ao apoio estejam alinhadas. Entretanto, admite-se
um desvio dos seus eixos de um valor menor que a distância entre as faces das nervuras e
em situações em que a viga de apoio está em balanço recomenda-se que o desvio não seja
maior que 5 cm.
Figura 59. Justaposição dos elementos pré moldados contínuos (CAIXETA, 1998).
No segundo caso ilustrado pela Figura 59 deve-se cortar as barras de forma a uní-
las como no primeiro caso, dando continuidade à vigota. O terceiro caso é ruim quando se
tem momentos fleotres negativos, uma vez que as vigotas devem ser alinhadas para
favorecer a continuidade da laje. Já para momentos fletores positivos a situação seria
aceitável (CAIXETA, 1998).
4.8.2 POSICIONAMENTO DOS ELEMENTOS DE ENCHIMENTO.
Após o posicionamento das vigotas sobre o cimbramento, segue-se a colocação
alternada do material inerte. As vigotas treliçadas devem estar perfeitamente espaçadas
pelo material inerte, proporcionando o encaixe perteito entre estes. Assim, o material inerte
servirá de gabarito (guia) para o posicionamento das vigotas, ou seja, após estas estarem
posicionadas sobre os apoios, a colocação do material interte servirá para um ajuste “fino”
do posicionamento final das vigotas. Dessa forma, todo o conjunto deverá estar
perfeitamente encaixado e assim torna-se imperativo que as lajotas tenham sempre o
57
mesmo tamanho. A primeira e a última carreiras de lajotas podem ser apoiadas na própria
cinta de amarração ou nas vigas de bordo. As Figuras 60 e 61 ilustram tais operações.
Figura 60. Posicionamento das lajotas guias para ajuste da posição das vigotas (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000).
Figura 61. Apoio de vigota na cinta de amarração em alvenaira e inicio do posicionamento das lajotas junto a parede paralela as vigas. (FOLHETO
INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)
Figura 62. Colocação das lajotas de guia para as treliças e posteriormente o preenchimento total do pano de laje com o restante das lajotas (acervo do autor).
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5. ROTEIRO TÉCNICO PARA
VISITAS AS OBRAS E AVALIÇÃO
DAS SITUAÇÕES ENCONTRADAS.
As visitas as obras serão guiadas por um relatório. Esse tem como função auxiliar na
verificação das prescrisções construtivas descritas nesse trabalho. Será levado as visitas e
acompanhado por registros fotográficos dos locais analisados.
5.1 RELATÓRIO (FORMULÁRIO) DE ANÁLISE
Esse relatório é composto por uma síntese das recomendações enumeradas nos
itens anteriores. De modo a avaliar a execução de lajes em obras, ele foi pensado para que,
estando o observador em obra, não necessite fazer muitas anotações, mas apenas rápidas
checagens em itens pré-definidos. Ele é alimentado por constatações in locu, e que serão
ilustradas, numa análise posterior, por meio de fotografias. Seu conteúdo é composto por
uma série de perguntas cujas respostas podem ser dadas de forma objetiva (por exemplo,
sim ou não), concisas e não ambíguas, fazendo com que a verificação das sugestões
fornecidas por fabricantes e também as descritas na literatura possam ser confrontadas de
imediato com os métodos que estão sendo executados nas obras.
Para exemplificar a forma de utilização e para explicitar a finalidade deste tipo de
documento, tomemos como exemplo a verificação, em obra, da altura do capeamento da
laje. Nesse momento, o relatório acima descrito deveria nos fornecer como perguntas qual a
altura da capa de concreto da laje e quais os cuidados que estão sendo tomados para
garantir esse valor. Também se exitem prescrições em projeto, fck do concreto, dimensões
do pano de laje e equipamentos/materiais utilizados. Não cabe nesse momento verificar se
tal altura é coerente ou não com os dados fornecidos, mas apenas os métodos usados para
garantia do valor.
Outro exemplo é o da verificação da adequação das linhas de escoramento. O
formulário de análise imediata verificará se essas estão adequadas as recomendações,
analisando aspectos como distanciamento, se existe ou não a execução de contra flecha e
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qual o seu valor, sem entretanto se importar, nesse momento, se este é adequado ou não.
Também verificará as condições de apoio no solo e a existência de travamentos.
No anexo 02 encontra-se o relatório/formulário elaborado nesse trabalho e utilizado
para as visitas as obras.
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6. CONCLUSÕES
Nesse trabalho procurou-se apresentar as principais recomendações para a
utilização das lajes pré fabricadas, em especial em edifições residenciais, dando-se ênfase
aos métodos construtivos mais comumente utilizados e recomendados, comparando-os ao
que usualmente se executa nos canteiros de obras.
Foi possível notar que a maioria das prescrições de fabricantes estão sendo
atendidas, entretando algumas vezes certas recomendações são relegadas a segundo
plano, seja por desconhecimento dos executores ou mesmo pela falta de orientação de
quem vende e produz esse tipo de laje.
Uma dessas recomendações é o fato de que, embora não tenha uma importância
estrutural, iniciar a montagem do pano de laje com lajotas paralelamente aos apoios laterais
facilita e muito a execução de instalações prediais posteriores.
Também recomendações com relação ao escoramento nem sempre foram atendidas
nas obras visitadas. Nesse item, vê-se claramente que os executores tem certo receio em
utilizar espaçamentos de escoras corretos, acabando muitas vezes por exagerar e utilizar
mais linhas de escoramento que o necessário. Isso leva a um encarecimento do custo desse
tipo de laje, principalmente quando são utilizados elementos de madeira para tal finalidade.
Em edificações térreas, não foi constatada a utilização de contraventamentos nos
cimbramentos, dado a baixo pé direito. Embora esse seja um dos principais elementos do
sistema de laje estudado, já que dá suporte a todo o conjunto antes da cura do concreto,
não se verifica uma preocupação em obra com sua execução. Na maior parte dos casos ele
está relegado a experiência dos operários, sem que seja feito de forma racionalizada e
como recomendada por fabricantes e na literatura pertinente.
Ainda com relação aos escoramentos, na maior parte dos casos pode-se perceber
que havia uma preocupação com sua base em contato com o solo e também com os
dispositivos que visavam garantir a contra flecha indicada em projeto.
No que diz respeito as armaduras, quando eram necessárias, essas estavam
posicionadas de forma adequada, principalmente as emendas em telas de solidarização e
armaduras em canaletas de travamento.
Nos apoios, pode-se perceber uma infinidade de soluções adotadas e que nem
sempre seguiam o que é designado na literatura. Em algumas obras apenas encontrou-se
61
treliças apoiadas em respaldos nos topos de paredes, que é uma das principais orientações
encontradas nos manuais dos fabricantes e na literatura.
Por fim, a flexibilidade de adaptação das lajes treliçadas com diferentes objetos
inertes, o fácil acesso e custo baixo em relação aos outros sistemas a tornou um dos
sistemas construtivos mais utilizados, não só em pequenas mas em grandes obras, tanto
residenciais quanto comerciais.
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7. REFERÊNCIAS
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2002). NBR 14859-2:2002. Laje pré-fabricada – Requisitos. Parte 2: Lajes bidirecionais. Rio de Janeiro, 2002.
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CARVALHO, R. C.; FILHO, J. R. F. Disposições Construtivas, recomendações e patologias de lajes com nervuras pré-moldadas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil. 2006. 42 p. Apostila do curso de PósGraduação em Construção Civil.
CARVALHO, R. C.; FILHO, J. R. F. Cálculo e detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado. 2ed, 374p. São Carlos: EdUFSCar, 2004
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GASPAR, R. Análise da segurança estrutural das lajes pré-fabricadas na fase de construção. 1997. 112 fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas).
63
Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
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