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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Pavimentos de lajes com vigotas treliçadas: análise dos detalhes de execução e comparação com procedimentos adotados em obras. José Vladir Vieira de Mattos Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador:Prof.Dr. Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho São Carlos 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Pavimentos de lajes com vigotas treliçadas: análise dos detalhes de execução e comparação com procedimentos adotados em

obras.

José Vladir Vieira de Mattos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil

Orientador:Prof.Dr. Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho

São Carlos2009

AGRADECIMENTOS

Ao professor Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho, pela orientação.

À todos os professores do Departamento de Engenharia Civil da Universidade

Federal de São Carlos, por seus ensinamentos.

A todos meus amigos do curso de Engenharia Civil, pelo companheirismo e pelos

momentos felizes que passamos juntos e que jamais esquecerei.

E finalmente aos meus pais, minha irmã e avós, em especial a minha mãe Rita, pelo

apoio incondicional e por estarem sempre presentes.

RESUMO

Este trabalho mostra as principais recomendações para a utilização das lajes

compostas com vigotas pré moldadas, elementos inertes de enchimento, armaduras

complementares e concreto lançado na obra. Descreve as características e recomendações

de fabricantes e da literatura dos materiais empregados e os principais processos

construtivos envolvidos, como técnicas de cura, cuidados na confecção de formas e no

lançamento do concreto, distância mínima entre escoras, utilização de contra flechas,

adequação com outros subsistemas a partir de elementos especiais, entre outros. Parte de

uma descrição histórica da evolução das lajes, mostrando em seguida sua importância como

componente de uma estrutura. Em seguida, faz-se uma descrição dos principais

componentes das lajes com vigotas pré moldadas, culminando em um aglomerado de

recomendações e constatações de aplicabilidade em obras, em sua maioria residenciais.

Verifica-se, para cada componente desse tipo de laje, se tais recomendações prescritas por

fabricantes e na literatura está sendo ou não cumprida nas obras visitadas e o porque de

possíveis descumprimentos, analisando-os.

Palavras-chave: lajes pré fabricadas, vigotas pré moldadas, lajes treliçadas.

ABSTRACT

This paper shows the main recommendations for the use of composite slabs with pre-

cast beams, elements inert filler, additional armor and cast into concrete work. Describes the

features and recommendations of manufacturers and the literature of the materials used and

the main construction processes involved, such as healing techniques, care in the

preparation of forms and the launching of concrete, minimum distance between anchors, the

use of arrows against, well suited to other subsystems from special items, among others.

Begins with a historical description of the evolution of the slabs, then showing its importance

as a component of a structure. Then, it is a description of the main components of the slabs

with pre-cast beams, culminating in a cluster of findings and recommendations for the use in

works, mostly residential. There is, for each component of such a slab, if these

recommendations prescribed by manufacturers and the literature is being fulfilled or not in

the works and visited because of potential breaches, analyzing them.

Key-words: lattice reinforcement joists, precast slabs, slab design

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Sistema Pré Moldado Monier (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991).......................5Figura 2. Sistema Coignet (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)............................................6Figura 3. Desenvolvimento das lajes ao longo do tempo (SISTEMA DE ARMAÇÃO

TRELIÇADA PUMA – Manual de Fabricação). ...............................................................8Figura 4. Diferentes tipos de vigotas pré moldadas (CARVALHO, notas de aula, 2006).......10Figura 5. Detalhes construtivos de lajes pré moldadas (MANUAL DE LAJES

MEDITERRÂNEA). ........................................................................................................11Figura 6. Componentes das lajes pré fabricadas (PEREIRA, 2002). .......................................12Figura 7. Treliça metálica espacial (PEREIRA, 2002).............................................................13Figura 8. Vigota treliçada (PEREIRA, 2002)...........................................................................14Figura 9. Vigota tipo trilho (SILVA, 2006). ............................................................................14Figura 10. Escoramentos metálicos (acervo do autor). ............................................................19Figura 11. Escoramentos de madeira (acervo do autor). ..........................................................19Figura 12. Espaçamento entre as escoras e emendas dos sarrafos (acervo do autor)...............20Figura 13. Emenda sobre o sarrafo de apoio (acervo do autor)................................................21Figura 14. Uso incorreto de escoramento (acervo do autor). ...................................................21Figura 15. Base de distribuição do carregamento no solo (acervo do autor). ..........................22Figura 16. Base sob pontalete (acervo do autor). .....................................................................23Figura 17. Solo compactado ao redor da base do pontalete (acervo do autor).........................23Figura 18. Manual Lajes Ibaté (acervo do autor). ....................................................................24Figura 19. Escoramentos contraventados na direção horizontal (acervo do autor)..................25Figura 20. Ligação entre pontaletes e tábua de escora (acervo do autor).................................25Figura 21. Contra flechas em lajes com duas e três linhas de escoras (FOLHETO

INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)..........................................................26Figura 22. Cunhas para realização de contra flecha (acervo do autor).....................................27Figura 23. Cabeça metálica com regulagem de altura (acervo do autor). ................................27Figura 24. Apoio de treliças em alvenaria não respaldada (acervo do autor). .........................28Figura 25. Vigotas apoiadas sobre vigas de concreto (acervo do autor). .................................28Figura 26. Vigotas apoiadas em cinta de amarração (acervo do autor)....................................29Figura 27. Viga invertida em laje inclinada – vista superior (Prof. Mauro Araújo). ...............30Figura 28. Viga invertida em laje inclinada - vista inferior (Prof. Mauro Araújo) . ................30Figura 29. (a) vigota apoiada. (b) detalhe da ausência de armaduras (acervo do autor). .........31Figura 30. Vigota apoiada até o bordo externo da viga lateral (acervo do autor). ...................31Figura 31. Vigota apoiada além do eixo da viga invertida (acervo do autor). .........................32Figura 32. Viga invertida - vista inferior (acervo do autor). ....................................................32Figura 33. Viga invertida - vista superior (acervo do autor). ...................................................33Figura 34. Laje montada (acervo do autor). .............................................................................33Figura 35. Dissolidarização da laje com uma parede intermediária (acervo do autor). ...........35Figura 36. Apoio de vigotas em elementos não recomendados (acervo do autor)...................36Figura 37. Execução da região maciça de concreto nos apoios. (CARVALHO E

FIGUEIREDO, 2001).......................................................................................................38Figura 38. Execução de região maciça em apoio intermediário (acervo do autor). .................38Figura 39. Patologias devido a movimentação do apoio laje/alvenaria (Eng. MARCOS

CARNAÚBA). .................................................................................................................40Figura 40. (A) Dispositivo especial que permite a rotação entre parede e laje. (B) Garantia de

mobilidade no apoio de lajes sobre alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA). .............41Figura 41. (A) Dispositivo de isolamento para lajes expostas diretamente ao sol. (B)

Dispositivo de isolamento para lajes sob coberturas (Eng. MARCOS CARNAÚBA)....41

Figura 42. Concretagem da capa da laje em conjunto com vigas. Na primeira figura a viga é normal enquanto que na segunda a viga é invertida (acervo do autor). ...........................43

Figura 43. Funcionário esparramando e nivelando o concreto de capeamento. Vibração da viga que está sendo concretada em conjunto com toda a capa da laje (acervo do autor). 43

Figura 44. Laje concretada mostrando as diversas camadas (acervo do autor)........................43Figura 45. Tábuas apoiadas nas treliças das vigotas (acervo do autor). ...................................44Figura 46. Espaçadores plásticos (www.fercimcal.com.br acesso 23.09.09)...........................46Figura 47. Tela eletrossoldada utilizada como armadura de distribuição (acervo do autor)....48Figura 48. Justaposição de vigotas (acervo do autor)...............................................................49Figura 49. Operário molhando as lajotas antes da concretagem (acervo do autor)..................50Figura 50. Numa mesma obra exemplo de montagem iniciando com vigotas e com lajotas,

que é o mais recomendado (acervo do autor). ..................................................................51Figura 51. Montagem da laje iniciada por lajotas (acervo do autor)........................................51Figura 52. Quebra do elemento de enchimento (acervo do autor). ..........................................52Figura 53. União de diferentes materiais como elementos inertes (acervo do autor). .............53Figura 54. Lajota em plástico com caixa de passagem elétrica (acervo do autor). ..................54Figura 55. Lajota em metal incorporada a laje.

(http://www.fazfacil.com.br/images/ref_laje_caixametal_3.jpg acesso 22.09.09) ..........54Figura 56. Método tradicional de fixação das caixas de passagem elétrica na laje

(http://www.fazfacil.com.br/images/laje_isopor_caixa.gif acesso 22.09.09). .................54Figura 57. (A) Caixas de passagem incorporadas as lajotas de concreto. (B) Moldagem na

obra de elementos com tubulações incorporadas (acervo do autor).................................55Figura 58. Detalhes do apoio das vigotas nas paredes (CAIXETA, 1998). .............................55Figura 59. Justaposição dos elementos pré moldados contínuos (CAIXETA, 1998). .............56Figura 60. Posicionamento das lajotas guias para ajuste da posição das vigotas (FOLHETO

INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)..........................................................57Figura 61. Apoio de vigota na cinta de amarração em alvenaira e inicio do posicionamento

das lajotas junto a parede paralela as vigas. (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000) .......................................................................................................57

Figura 62. Colocação das lajotas de guia para as treliças e posteriormente o preenchimento total do pano de laje com o restante das lajotas (acervo do autor). ..................................57

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distância entre escoras segundo o tipo de laje. ........................................................22Tabela 2. Causas mais comuns da fissuração externa e interna de revestimentos de alveranias

autoportantes e métodos preventivos................................................................................40

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1

1.1 Justificativa ...............................................................................................................2

1.2 Objetivos....................................................................................................................3

1.3 Estrutura do texto.....................................................................................................4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................5

2.1 Introdução .................................................................................................................5

2.2 Evolução das Lajes ...................................................................................................6

2.3 Importância da Laje como Elemento Estrutural ..................................................8

2.4 Lajes Pré Moldadas Nervuradas.............................................................................9

2.5 Elementos Construtivos de Lajes Nervuradas Pré Moldadas............................122.5.1 Armação Treliçada Eletrosoldada ........................................................................132.5.2 Vigotas Pré Fabricadas .........................................................................................132.5.3 Elementos de Enchimento ....................................................................................152.5.4 Concreto ...............................................................................................................152.5.5 Armaduras Complementares ................................................................................16

3. METODOLOGIA ............................................................................................................17

4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS E PROCEDIMENTOS ADOTADOS EM OBRAS PARA LAJES COM VIGOTAS PRÉ MOLDADAS. .............................................................18

4.1 Escoramentos ..........................................................................................................194.1.1 Espaçamento entre escoras ...................................................................................194.1.2 Preparo do apoio no solo ......................................................................................224.1.3 Contraventamentos e Cimbramentos....................................................................244.1.4 Data e Sequência de Retirada ...............................................................................26

4.2 Contra Flechas ........................................................................................................26

4.3 Apoios ......................................................................................................................274.3.1 Tipos de Apoios (Penetração das vigotas e Tipologias Construtivas)..................274.3.2 Garantia das Disposições Preconizadas em Projeto .............................................37

4.4 Concretagem ...........................................................................................................424.4.1 Concretagem simultânea de capas e vigas (ou regiões maciças)..........................424.4.2 Concretagens posteriores......................................................................................444.4.3 Transporte do concreto sobre a laje......................................................................444.4.4 Recomendações a respeito da cura do concreto. ..................................................45

4.5 Armaduras ..............................................................................................................464.5.1 Garantia do Posicionamento de Armaduras Negativas ........................................464.5.2 Armaduras Adicionais – Posicionamento e Quantidades.....................................47

4.6 Paredes Sobre Lajes. ..............................................................................................484.6.1 Paredes Paralelas aos Trilhos ...............................................................................484.6.2 Paredes Perpendiculares as Treliças .....................................................................50

4.7 Elementos de Enchimento......................................................................................504.7.1 Disposição de elementos na laje. Elementos especiais........................................53

4.8 Posicionamento e Montagem .................................................................................554.8.1 Posicionamento das treliças..................................................................................554.8.2 Posicionamento dos elementos de enchimento. ...................................................56

5. ROTEIRO TÉCNICO PARA VISITAS AS OBRAS E AVALIÇÃO DAS SITUAÇÕES ENCONTRADAS..................................................................................................................... 58

5.1 Relatório (Formulário) de Análise ........................................................................58

6. CONCLUSÕES................................................................................................................60

7. REFERÊNCIAS ..............................................................................................................62

8. ANEXOS ..........................................................................................................................64

8.1 Anexo 1 – Manuais e recomendações dos fabricantes.........................................64

8.2 Anexo 2 – Relatório de Análise das Obras ...........................................................65

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1. INTRODUÇÃO

Na elaboração de projetos arquitetônicos, particularmente das edificações,

engenheiros e arquitetos defrontam-se com diversas alternativas que dizem respeito a

escolha do tipo de laje. Constitue-se, pois, numa importante decisão, que poderá

representar sensíveis resultados no custo e qualidade da edificação. Além disso, a

construção civil, um dos grandes setores da economia, exige pela sua importância dentro da

realidade social do país, principalmente em relação ao deficit habitacional, uma

preocupação cada vez maior dos pesquisadores no aprimoramento e desenvolvimento de

novas e melhores técnicas construtivas.

Apesar de o desenvolvimento tecnológico ser constante, o processo de execução de

grande parte das edificações, principalmente as unifamiliares, não tem acompanhado num

mesmo ritmo estes avanços, ainda se utilizando de métodos muito antigos, em várias etapas

do processo construtivo. Normalmente, os estudos tem se voltado mais a aspectos

inovadores, com pouca ênfase nos processos convencionais. No entanto, a construção de

edifícios continua, embora persistam algumas dúvidas quanto ao uso de determinados

elementos na construção.

Um desses problemas está localizado na etapa de estrutura do edifício, onde o

projetista ou proprietário, na inexistência de informações mais precisas, escolhe um tipo de

laje para a sua construção que pode não ser a mais indicada para as suas reais

necessidades (NAPPI, 1993). Mais do que isso, acaba por utilizar um processo que lhe está

diponível muitas vezes apenas por ser o mais utilizado no momento, mas que é totalmente

inadequado ao que ele realmente precisa. Sendo assim, surgem carências quanto a

orientações para a construção, que podem vir a ser supridas com pesquisas e trabalhos

acadêmicos, como este.

Portanto, tem-se como alvo levantar as principais características das lajes treliçadas

pré moldadas, as principais recomendações de fabricantes quanto a sua utilização e o que

se tem feito academicamente nesse tema, de modo a constituir um guia que integre

pesquisa e aplicação, visando minimizar as falhas tanto de projeto quanto de execução

desse sistema construtivo.

As lajes a serem estudadas são caracterizadas por possuirem vigotes pré-moldados

de concreto armado, nos quais se apoiam blocos especiais de cerâmica ou de concreto.

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Estes elementos são manufaturados em fábricas e transportados, após a sua cura, para a

obra. Depois da colocação dos vigotes, blocos, armadura de distribuição, eletrodutos e

caixas de passagem, recebem uma camada fina de concreto em sua superfície superior,

chamada de capeamento.

Por ser apenas parcialmente pré moldada, ou seja, uma parte da laje ainda será

constituída no canteiro de obras, é que se faz presente a necessidade de coordenação

eficaz entre recomendações, projeto e executação. Uma vez que nesse tipo de laje está

presente um fator inerente a qualquer atividade que envolva fabricação in loco, que é a

atividade humana, tais instruções devem se fazer presentes em todas as etapas de

confecção do subsistema (da concepção a execução), guiando usuários, fornecendo

subsídios a pesquisas e aumentando o know how de fabricantes e construtores.

Assim, informações técnicas mais precisas sobre como realizar a correta execução

das lajes pré moldadas darão margem a redução de desperdícios de tempo, mão de obra,

insumos, evitando retrabalhos e poluição do meio ambiente. Mais do que isso, adequarão o

uso, atualmente indiscriminado, desse sistema construtivo as mais diversas aplicações as

quais ele se presta, sem adaptações inconvenientes.

1.1 JUSTIFICATIVA

As lajes treliçadas pré-moldadas vêm ganhando espaço na construção civil. De

acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Lajes, em 1990, as lajes

treliçadas detinham uma participação no mercado de apenas 5%. Hoje, o percentual saltou

para 40%. Sua utilização é de uso freqüente nos mais diversos tipos de edificações, pois

apresenta vantagens como a eliminação de formas de madeira e de parte do escoramento

necessário a concretagem. Além disso, é um sistema construtivo de fácil montagem e que

não requer mão de obra treinada. Aumenta a fração de industrialização da obra e o

desempenho em termos de velocidade executiva. No entanto, deve-se ressaltar o fato de

que esse tipo de laje pode apresentar problemas com relação à flecha, ou seja, aos valores

dos deslocamentos transversais, que podem ser elevados (quando comparados a outros

tipos de lajes, como as maciças) em função de dimensionamentos e escoramentos mal

executados. Esse último aspecto requer atenção especial pelo fato de que, embora seja

comumente chamada de pré-moldada, apenas o elemento portante primário (isto é, antes da

cura do concreto de capa) o é, ou seja, apenas um dos elementos constituintes da laje, a

vigota, é pré-moldada. O restante, como a capa de concreto, as lajotas, armaduras

complementares, escoramentos e demais formas são lançados e posicionados no canteiro.

Isso agrega a execução dessa tipologia de laje um fator que é o de estar atrelada a

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processos manuais, a soluções dependentes de regionalismos e informações técnicas

adequadas. O entrave passa a ser então o fato de que muitas vezes tais aspectos não estão

devidamente detalhados em projeto, abrindo espaço para que decisões importantes acabem

sendo tomadas no momento da execução, acarretando em soluções antieconômicas e

tecnicamente incorretas, levando a futuras patologias e retrabalhos. Portanto, o fato desse

tipo de laje ser parcialmente moldada in loco e apresentar problemas com deformações

excessivas, sendo o planejamento do escoramento de vital importância para evitá-las, leva a

necessidade de uma análise das mais variadas formas de aplicação e métodos executivos

comumente empregados na atualidade. O trabalho justifica-se então por poder se tornar

uma referência comparativa entre as prescrições oriundas dos manuais dos fabricantes com

as pesquisas acadêmicas recentes e o que é executado no canteiro de obras, formando um

circulo de informações úteis em vários âmbitos, como: ajudar fabricantes a adequarem seus

produtos as necessidades do mercado; orientar construtores a utilizarem técnicas

adequadas; proporcionar a aglutinação de informações de campo para o desenvolvimento

de novas pesquisas; ajudar na divulgação de novas e melhores técnicas, entre outras.

Também será possível detectar possíveis fontes de patologias devido a má aplicação dos

métodos executivos e a exeqüibilidade de metodologias propostas nas literaturas

pertinentes, explicitando assim a dualidade teoria e prática, de modo a aproximá-las.

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos do trabalho baseiam-se no levantamento dos principais métodos

executivos correntemente utilizados nos canteiros de obras para lajes pré moldadas e na

comparação destes com o prescrito na literatura e manuais de fabricantes. Assim, pretende-

se descrever, levantar dados e traçar um comparativo dos seguintes pontos:

- Interferência com outros subsistemas. Aplicações de soluções prontas como lajotas

onde estão embutidos ralos, caixas de passagem ou outros que facilitem a resolução de

interfaces.

- Soluções para paredes sobre lajes, sem viga de apoio.

- Lajes sobre vigas. Tipologias, formas de apoio e solidarização na concretagem.

- Laje apoiada em paredes nos bordos. Solidarização na concretagem com o auxilio

de forma de bordo.

- Necessidade de contra flecha. Recomendações dos fabricantes e métodos

executivos de contra flechas.

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- Espaçamento entre as escoras. Obediência as recomendações teóricas e de

fabricantes.

- Tipos de elementos de enchimento.

- Formas de lançamento do concreto e interferência com o tipo de escoramento.

- Armaduras complementares e tela de solidarização.

- Formas de se garantir a continuidade em apoios intermediários. Métodos

executivos.

- Patologias. Prevenções, causas, correções.

1.3 ESTRUTURA DO TEXTO

O presente trabalho está divido de modo que inicialmente haja uma breve introdução

sobre a importância de mais estudos relacionados ao tema abordado bem como sua

relevância frente aos atuais problemas encontrados na engenharia civil. Em seguida se faz

uma revisão bibliográfica dos conceitos relacionados às lajes pré moldadas nervuradas,

contemplando todo o aparato teórico necessário a obtenção das orientações técnicas que

foram verificadas em obra. O terceiro e quarto capítulos fazem um apanhado, com base nas

prescrições de fabricantes e na literatura, das principais recomendações executivas para

lajes nervuradas pré moldadas, esboçando-se assim um roteiro de verificações a serem

feitas em obra. O quinto capítulo descreve os fabricantes consultados. No sexto capítulo é

apresentado um roteiro de visitas às obras, que guiou as visitas e levou a conclusões a

respeito do cumprimento ou não dos principais métodos executivos levantados durante o

corpo do trabalho. Por fim, faz-se uma conclusão a respeito desses pontos, a partir da

análise dos roteiros preenchidos.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 INTRODUÇÃO

De modo a traçar uma linha temporal que ilustre a história e evolução das lajes,

culminando nas lajes pré fabricadas treliçadas que são o alvo desse trabalho, podemos

dizer que nos primórdios da civilização, com o intuito de prover abrigo das intempéres, o

homem lançou mão somente de materiais que a natureza pudesse oferecer como a madeira

e a pedra, usando-os como teto ou estrados de piso e como suporte de suas construções.

As pedras, após cortadas e adaptadas aos seus apoios, só conseguiam vencer vãos da

ordem de 5m. Já a madeira, limitada em suas dimensões naturais, também restringia o

tamanho dos vãos. Uma evolução importante são os arcos de pedra romanos (CAIXETA,

1998).

Com o advento do concreto e do aço, foi possivel o desenvolvimento de estruturas

planas, denominadas lajes, com capacidade para transpor vãos e suportar carregamentos

com segurança.

Joseph Monier (1823 - 1906), considerado o inventor do concreto armado, começou

a aplicar tal material em habitações, na forma de lajes e, para tanto, usava como armadura

principal, perfis metálicos em forma de I. Esse novo método, chamado de Sistema Monier,

permitia a execução de lajes com vão relativamente maiores.

Figura 1. Sistema Pré Moldado Monier (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)

Em 1861, François Coignet (1812 - 1895) publicou na França um trabalho sobre

cimento armado, precursor dos métodos de cálculo das atuais lajes pré moldadas, em que

foi dado destaque às lajes constituídas por nervuras e armadas exclusivamente com barras

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de aço de seção circular, criando em suas hipóteses de cálculo as primeiras vigas de seção

“T”.

Figura 2. Sistema Coignet (Manual de Lajes Mediterrânea, 1991)

Segundo Caixeta (1998), o sistema pré fabricado de lajes treliçadas originou-se

portanto na Europa e foi implantado no Brasil com a finalidade de atender as exigências da

arquitetura moderna e a crescente necessidade de racionalização na construção civil

(minimização de custos e prazos, bem como a utilização cada vez menor de materiais cuja

extração contribui para a agressão ao meio ambiente, como a madeira), como consequência

da evolução dos sistemas construtivos de lajes, buscando explorar e superar as limitações

técnicas e econômicas dos sistemas já utilizados.

O uso de lajes pré fabricadas tem se intensificado nos últimos anos. O que era, em

princípio, uma solução adotada para edificações de pequeno e médio porte se tornou viável

em grandes obras como prédios de diversos andares, edificações de grandes vãos e até

mesmo pontes. Grande parte desse aumento no uso ocorreu pela entrada no mercado de

duas grandes siderúrgicas que fabricam treliças metálicas para laje com vigotas treliçadas

(FLÓRIO, 2003).

2.2 EVOLUÇÃO DAS LAJES

Assim como as demais técnicas construtivas, as formas de se produzirem lajes

sofreram evoluções em todos os seus aspectos enquanto partes integrantes de

determinados sistemas construtivos. Assim, ao se avançarem os métodos de projeto e

execução, também os métodos das lajes o fizeram, surgindo portanto novas alternativas que

melhor se adaptam as situações encontradas, barateando o custo desse subsistema e

fazendo com que este fosse mais especifico a cada problema a ser resolvido. Desse modo,

é apresentado a seguir, uma breve descrição dos mais variados tipos de lajes encontrados

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no país, destacando-se as treliçadas pré moldadas, que são o escopo desse trabalho. É

importante lembrar nesse ponto que as lajes treliçadas surgiram como uma alternativa ao

uso de outras tipologias parcial ou totalmente moldadas in loco, em situações onde não se

fazia necessário toda a robustes (entre outras características) apresentadas por essas

últimas. Além disso, aliam sua alta capacidade de adaptação com maior economia em

diversos aspectos que serão explorados adiante (como a redução do uso de formas,

segurança, entre outros). Portando, podemos dizer que atualmente, os principais tipos de

lajes que estão sendo executados são:

Laje maciça: primeiro subsistema construtivo para lajes em concreto armado e que

são comumente utilizadas em alturas de até 15 cm, sendo que espessuras maiores se

prestam apenas a satisfazer condições limítrofes de flecha, aumentando o seu peso próprio

e o da estrutura como um todo. É certamente a tipologia mais cara, já que tem grande

consumo de formas, escoramento e mão de obra. É um processo dispendioso de tempo, já

que todas as operações são montadas no canteiro de obra (totalmente moldada in loco),

encarecendo ainda mais sua execução.

Lajes nervuradas moldadas in loco: são mais ecônomicas quando comparadas as

maciças, já que tem o consumo de concreto reduzido. Além da menor quantidade de

concreto, seus elementos de enchimento inertes (que acabam por substituir o concreto na

região onde esse não trabalha) são leves, o que reduz o peso prórpio e o da estrutura como

um todo. Além disso, são tecnicamente muito eficientes. Entretando, ainda apresentam o

inconveniente de serem totalmente moldadas no local, o que torna sua execução mais cara

e demorada.

Lajes Pré Fabricadas Comum (tipo trilho ou “T” invertido): emprega elementos

pré fabricados na forma de vigotas de concreto armado (ou protendido) com formato de T

invertido, sendo que o material de enchimento apoia-se nessas vigotas. Supera as lajes

anteriores nos quesitos de consumo de formas e escoramentos, uma vez que parte de seus

elementos são portantes antes da consolidação final da laje como um todo. Isso aumentou a

praticidade do sistema, diminuindo o tempo de execução e a quantidade de mão de obra.

Apresenta entretando como desvantagens o fato de haver má aderência entre o concreto da

capa de solidarização e o das vigotas e a impossibilidade de colocação de estribos nas

vigotas de modo a combater o cisalhamento.

Sistema Pré Fabricado de Lajes Treliçadas: sistema parecido com o anterior, com

a diferença de que a treliça que compõe a vigota pré moldada não é recoberta com concreto

na pré moldagem. Isso resolve o problema da falta de aderência anteriormente citado. São

constituidas então com o emprego de vigotas unidirecionais pré fabricadas do tipo treliça

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(placa de concreto armado, com armadura saliente e em forma de treliça espacial),

elementos de enchimento leves (blocos cerâmicos, de concreto celular, de poliestireno

expandido) posicionados entre as vigotas, e concreto moldado no local (concreto de

capeamento); na capa via de regra é colocada uma armadura de distrituição para controle

de fissuração (FERREIRA, 2005). No mais, apresenta as mesmas vantagens e limitações

que as lajes anteriores (redução do uso de formas, de escoramentos, de mão de obra, etc.).

É importante lembrar que embora os elementos inertes não sejam contribuintes da

resistência final da laje, é imperativo que esses sejam de boa qualidade, já que juntamente

com as treliças servirão de suporte ao concreto fresco, ao peso próprio e às ações de

montagem, sendo um dos elementos resistentes na etapa de montagem e concretagem.

Finalmente, podemos dizer que, com a fusão entre a estrutura tridimensional metálica

(armadura treliçada) e o concreto, as lajes nervuradas com armaduras em treliça permitem

obter grandes vãos e suportar ações elevadas, pois com este tipo de armadura cada

nervura fica armada ao cisalhamento pelo emprego de altura de treliça adequada à

espessura da laje. Assim, consegue-se uma redução do custo final da obra, graças a

utilização de uma laje de menor espessura e redução no número de vigas (CAIXETA, 1998).

Figura 3. Desenvolvimento das lajes ao longo do tempo (SISTEMA DE ARMAÇÃO TRELIÇADA PUMA – Manual de Fabricação).

2.3 IMPORTÂNCIA DA LAJE COMO ELEMENTO ESTRUTURAL

As lajes em geral figuram com dois papéis de extrema importância quando

analisadas do ponto de vista estrutural: como placas ao suportarem as ações verticais

aplicadas ao longo dos pisos, e como chapas, ao se constituírem em diafragmas rígidos

horizontais que distribuem pelos diferentes pilares da estrutura as forças horizontais

9

atuantes (CAIXETA, 1998). Nas estruturas dos edifícios, as placas de concreto usualmente

denominadas lajes, são normalmente construídas para suportar as ações verticais atuante

nos pavimentos. As lajes são submetidas essencialmente a esforços solicitantes de flexão,

momentos fletores e forças cortantes. Nas estruturas ditas convencionais, do tipo laje-viga e

pilar, as lajes tem outras funções importantes, como por exemplo, no contraventamento das

estruturas (como citado anteriormente), funcionando como diafragmas (infinitamente rígidos

no seu plano) que distribuem as ações horizontais atuantes entre as estruturas de

contraventamento, por exemplo pórticos formados por pilares e vigas. Outra função

importante das lajes é a de, quando construídas ligadas monoliticamente às vigas, para

momentos fletores positivos, funcionarem como mesas de compressão da seção T

(FERREIRA, 2005).

Assim, como será mostrado nesse trabalho, um dos aspectos a serem observados é

o de que se garanta essa monoliticidade durante a execução da concretagem da capa das

lajes. Como vimos acima, a laje com vigotas comum não se presta plenamente a essa

função, o que pode prejudicar seu funcionamento. Também determinados procedimentos

executivos que serão ilustrados mais adiante nos mostrarão como garantir essa

característica quando da execução da interface viga – laje. Tais procedimentos devem

sempre constar de projetos e estarem respaldados em experiências anteriores bem como

recomendações técnicas de fabricantes e pesquisadores.

Garantidos esses aspectos, a laje pode então desempenhar plenamente seus papéis

quando da constituição da estrutura, com segurança e de forma econômica.

2.4 LAJES PRÉ MOLDADAS NERVURADAS

Inicia-se agora uma descrição mais específica das lajes pré moldadas nervuradas.

Aqui não se fará distinção entre as lajes constituídas por vigotas tipo treliça ou as

constituídas por vigotas tipo trilho (que já vem com concreto recobrindo a parte superior da

treliça). Apenas nos importa nesse ponto descrever o sistema construtivo composto por tais

elementos.

O Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas classifica tal sistema construtivo da

seguinte forma: São lajes formadas por nervuras pré-moldadas (treliça), lajotas

(normalmente cerâmicas) e uma capa de concreto moldada no local. A armadura tipo treliça

é uma treliça espacial de aço composta por três banzos paralelos e diagonais laterais de

forma senoidal, soldadas por processo eletrônico aos banzos. Suas principais vantagens

são:

10

• Capacidade de vencer grandes vãos livres e suportar altas cargas;

• Capacidade de suportar paredes apoiadas diretamente sobre a laje, fazendo-se

previamente as considerações necessárias (aspecto importante que também será

tratado mais adiante);

• Possibilidade de redução da quantidade de vigas e conseqüentemente de pilares e

fundações do sistema estrutural de qualquer edificação. Com a redução da quantidade

de pilares, ganha-se espaço interno;

• Redução do custo final da estrutura, entre economia de aço, concreto, fôrma e mão de

obra;

• Menor peso próprio com conseqüente alívio das cargas em vigas, pilares e fundações;

• Redução do escoramento, devido ao baixo peso próprio;

• Eliminação do uso de fôrma para a execução das lajes;

• Facilidade de transporte horizontal e vertical, e maior agilidade na montagem;

• Dimensionamento uni ou bidirecional, dependendo da necessidade da estrutura;

• Eliminação da possibilidade de trincas e fissuras, pela condição de total aderência

entre as nervuras e o concreto de capeamento. Esta total aderência é oferecida

principalmente pela existência dos sinusóides (armadura diagonal que liga o ferro

superior aos inferiores), e também pela superfície rugosa da sapata pré moldada em

contato com o concreto de capeamento;

• Perfeita condição de monoliticidade da estrutura, possibilitando ser utilizada em

qualquer tipo de obra, seja horizontal ou vertical com altura elevada;

• Baixo índice de desperdício;

• Melhoria das características térmicas e acústicas, quando a laje é executada com

blocos de EPS.

Figura 4. Diferentes tipos de vigotas pré moldadas (CARVALHO, notas de aula, 2006)

11

A NBR 14859:2002 define como laje pré-fabricada unidirecional a laje nervurada

constituída por nervuras principais longitudinais (NL) dispostas em uma única direção.

Podem ser empregadas algumas nervuras transversais (NT) perpendiculares às nervuras

principais, cuja finalidade é a de travamento do pavimento.

Figura 5. Detalhes construtivos de lajes pré moldadas (MANUAL DE LAJES MEDITERRÂNEA).

Segundo Caixeta (1998), as lajes do tipo treliçadas pré moldadas são constituídas

com emprego de elementos pré fabricados do tipo treliça. Ela é formada por nervuras

principais resistentes, por elementos leves de enchimento colocados entre as nervuras e por

uma capa superior de concreto que juntamente com as nervuras principais vai formar a

seção transversal resistente à flexão. Devido a perfeita solidarização entre o elemento

treliçado e o concreto lançado em obra, a estrutura resultante é bastante rígida, podendo ser

tratada com uma estrutura monolítica. Diz ainda que o sistema treliçado permite a

construção de lajes nervuradas com emprego de vigotas pré fabricadas treliçadas, formadas

a partir de uma armadura treliçada de aço e uma placa (ou sapata) inferior de concreto

envolvendo as duas barras do banzo inferior da treliça que irão compor a armadura da face

tracionada da laje. É um sistema criativo que oferece grande flexibilidade de projeto, seja na

construção de casas, edifícios, estacionamentos, pontes, shopping centers, etc, permitindo a

elaboração de um projeto mais arrojado com espaços mais amplos, livres das restrições

12

impostas por vigamentos, comuns nos projetos convencionais, sendo que estes últimos

podem ser convertidos em projetos com o sistema treliçado através de cálculos específicos.

Um dos exemplos que podemos citar é o Sistema Treliçado Global, importado da

Itália pelo grupo Mediterrânea e que foi a solução adotada pela Cima Empreendimentos

para a construção do estacionamento do Shopping Center Tijuca, RJ, que terá 1.400 vagas.

O sistema de pré-lajes treliçadas autoportantes permitiu que fossem vencidos grandes vãos

com menor número de vigas e pilares, aumentando a quantidade de vagas. De acordo com

a direção da L.M. de Itaboraí, responsável pelo projeto, foi possível ainda reduzir os custos

em 36%, com a economia de madeira, aço e mão-de-obra.

Foram utilizados nos três pavimentos e nas rampas de acesso um total de quinze mil metros

quadrados de pré-lajes (sistema evoluido das lajes treliçadas convencionais) de vinte e

cinco centímetros de largura. A segurança foi um dos fatores da escolha do sistema

treliçado, por permitir grande redução da carga estrutural. Enquanto uma laje convencional

poderia atingir carga de 400 kg/m², a escolha do sistema treliçado combinado com EPS

possibilitou a redução para 290 quilos por metro quadrado. O Sistema Treliçado Global foi

utilizado também, entre outras obras: nas pontes da rodovia BR-174, que irá ligar Manaus a

Boa Vista e no Canal do Terminal Marítimo de Loloma, na Colômbia.

2.5 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DE LAJES NERVURADAS PRÉ MOLDADAS

Os elementos constituintes das lajes treliçadas unidirecionais são: as treliças, as

vigotas, os elementos de enchimento, a armadura inferior de tração e as armaduras

complementares, a capa de concreto, o concreto complementar e as nervuras de

travamento. A figura a seguir ilustra o detalhe de uma laje treliçada unidirecional e seus

elementos constituintes (PEREIRA, 2002).

Figura 6. Componentes das lajes pré fabricadas (PEREIRA, 2002).

13

2.5.1 ARMAÇÃO TRELIÇADA ELETROSOLDADA

Segundo Pereira (2002), a armação que compõe a treliça das vigotas pré moldadas

é uma treliça espacial, fabicada industrialmente em máquinas apropriadas que solidarizam

os fios de aço através de solda por eletrofusão. As treliças são fornecidas em medidas

padronizadas, sendo que existe uma grande variedade de combinações possíveis. Suas

partes são identificadas por banzo superior, diagonal (ou sinusóide) e banzo inferior. A

distância entre os nós soldados é conhecida como passo e a distância entre os banzos

inferiores chama-se abertura (mínimo de 8 cm e máximo de 12 cm).

Os dois fios do banzo inferior servem para entrar na composição da área de aço

necessária ao combate dos esforços de momento fletor. As duas diagonais presentes na

treliça tem importante função construtiva e de transporte. O espaçamento entre linhas de

escomento ou entre apoios, quando utilizado o recurso da autoportância, é definido pela

altura da armação treliçada e pelo diâmetro do fio do banzo superior e da diagonal

(PEREIRA, 2002).

Figura 7. Treliça metálica espacial (PEREIRA, 2002).

2.5.2 VIGOTAS PRÉ FABRICADAS

O elemento linear pré moldado, também chamado de vigota pré moldada, tem função

resistente, obtida da associação do concreto com armaduras; esses elementos são

moldados com concreto com resistência característica a compressão igual ou superior a 20

MPa, tem formato e dimensões constantes e são produzidos em mesas vibratórias com

14

fôrmas metálicas. O elemento linear pré fabricado e a capa trabalham como uma só peça,

formando a seção resistente da laje, que para efeito de cálculo é admitida como tendo a

foma de um T (FERREIRA, 2005).

Existem dois tipos básicos (que não envolvem protensão da armadura da treliça) de

vigotas pré moldadas. A primeira delas é conhecida como vigota tipo trilho e tem a armação

totalmente envolvida pelo concreto na pré moldagem. Segundo Ferreira (2005), essas

vigotas tem seção de concreto que usualmente formam um T invertido. O segundo tipo é a

vigota do tipo treliçada, formada por uma placa (sapata) de concreto que envolve

parcialmente a armadura treliçada e quando for necessário pode ser complementada com

armadura passiva inferior de tração que ficaria totalmente envolvida pelo concreto da

nervura (Flório, 2004). A Figura 8 e Figura 9 ilustram os dois tipos de elementos.

Figura 8. Vigota treliçada (PEREIRA, 2002).

Figura 9. Vigota tipo trilho (SILVA, 2006).

As vigotas apresentam peso da ordem de 10kg/m e podem ser usadas na fabricação

de lajes maciças, dispensando-se o uso do elemento de enchimento. Nesse caso, elas

seriam colocadas uma ao lado a outra, sem que fossem deixados espaços para os

elementos inertes.

15

2.5.3 ELEMENTOS DE ENCHIMENTO

A NBR 14859:2002 – 1 define os elementos de enchimento como sendo

componentes pré fabricados com materiais inertes diversos, sendo maciços ou vazados,

intercalados entre vigotas em geral, com a função de reduzir o volume de concreto, o peso

próprio da laje e servir como forma para o concreto complementar. Essa é uma das funções

primordiais do elemento de enchimento, pois faz com que não se necessite de formas para

a concretagem. Portanto ele é um dos responsáveis pelo atrativo econômico que é oferecido

por esse tipo de laje. São desconsiderados como colaborantes nos cálculos de resistência e

rigidez da laje (SANTINE, 2005). Também permite um acabamento mais regular (liso) na

sua parte inferior (que constitui o forro da edificação), poupando retrabalhos, material e

tempo quando da necessidade de acabamento dessa região. Os elementos de enchimento

podem ser de diversos materiais, entre eles: cerâmica (tijolo ou lajota furada), EPS, concreto

leve, tubo de papelão reforçado, bloco de concreto celular autoclavado, entre outros.

A leveza pode ser considerada a principal característica do elemento de enchimento.

Nesta direção tem sido muito difundido o uso do EPS, que além de aliviar bastante o peso

próprio da estrutura, por ser maciço impossibilita a perda de concreto do capeamento para o

interior do elemento de enchimento, como pode acontecer com os blocos de concreto e

lajotas (Pereira, 2002).

Também podem ser considerados como elementos de enchimento os blocos

canaleta que constituirão as nervuras transversais de travamento, aplicando-se a eles todas

as recomendações válidas para os demais elementos desse capítulo.

Por fim, é importante dizer que o elemento de enchimento deve apresentar faces

laterais providas de abas de encaixe para apoio nas vigotas pré fabricadas. Devem estar

isentos de partes quebradas e trincas que permitam a fuga do concreto complementar ou

que comprometa o seu desempenho. Os elementos de enchimento devem manter íntegras

as suas características durante a sua utilização.

2.5.4 CONCRETO

O concreto forma a placa superior da laje, com espessura medida a partir da face

superior do elemento de enchimento e tem importante papel estrutural. Sua espessura e

resistência devem estar indicadas no projeto da laje, não se permitindo a passagem de

eletrodutos ou qualquer material que diminua a espessura do concreto ou o seccione. O

concreto adicionado na obra deve ser preparado de acordo com a NBR 12655 (1996), com

16

resistência mínima de 20 MPa e serve para complementar as vigotas pré fabricadas,

formando nervuras transversais (PEREIRA, 2002).

2.5.5 ARMADURAS COMPLEMENTARES

Segundo Pereira (2002), armaduras complementares são todas aquelas colocadas

na laje durante a etapa de montagem da mesma. São divididas em:

Longitudinal: é aquela que complementa a armadura da treliça, ou seja, quando a

sapata de concreto não for capaz de incorporar toda a armadura adicional (armadura

passiva inferior de tração). Esta armadura é disposta sobre a sapata de concreto.

Transversal: é a armadura das nervuras de travamento e tem a função de combater

a formação de fissuras e de dar maior estabilidade ao pavimento.

Distribuição: colocada na parte inferior da capa de concreto, usualmente é composta

por uma tela eletrosoldada. Tem como funções combater a fissuração do concreto lançado

na obra, distribuir os esforços aplicados entre as nervuras e impedir a flexão da mesa. A

armadura de distribuição permite um melhor travamento da estrutura da laje e combate

também o cisalhamento entre abas e alma das vigotas. Esta armadura tem também por

objetivo promover um comportamento mais efetivo de chapa, na transferência de ações

horizontais (Pereira, 2002).

Negativa: armadura colocada na parte superior da capa de concreto e responsável

por combater os esforços devido ao momento negativo na ligação da laje com a estrutrua,

atuando também no controle da fissuração.

17

3. METODOLOGIA

Numa primeira etapa pretende-se levantar as principais tipologias de lajes, com suas

respectivas caracteristicas usualmente utilizadas no país. Para isso, será realizada uma

pesquisa bibliográfica na literatura pertinente, de modo a se obter as principais

recomendações de projeto e execução que estão presentes no meio acadêmico (em teses,

dissertações, artigos e periódicos). Ainda nessa etapa, será feito um levantamento de

catálogos e instruções técnicas de fabricantes de lajes, por meio de pesquisa eletrônica

(internet) e material impresso.

A segunda etapa será composta por visitas técnicas a obras que estejam executando

lajes pré moldadas. O material proveniente dessa etapa será composto por um pequeno

relatório (que pode ser do tipo check list) o qual deve conter informações que permitam um

comparativo entre as técnicas anteriormente levantadas e as que estão sendo efetivamente

executadas. Tal relatório deve conter perguntas do tipo: “sim ou não”; “executado ou não”;

“utilizou tal método ou não” entre outras. O importante é que, por se tratar de um relatório

que deve ser preenchido no ato da visita, esse seja de fácil compreensão e de respostas

que não exijam grandes textos, mas apenas checagens. Também é preferível que não

sejam feitas muitas perguntas, já que as visitas não podem se extender por um tempo muito

longo, devendo ser abrangentes a ponto de poderem descrever, suficientemente, as

técnicas e procedimentos utilizados em obra.

Outro material que é fruto dessa etapa são fotos das obras, retiradas pelo autor e

com autorização do pessoal de obra, que ilustrem as técnicas e materiais utilizados.

A terceira etapa será uma análise comparativa entre os materiais oriundos das duas

etapas anteriormente citadas. Para a sua realização será usado um computador pessoal,

compondo eletronicamente o texto do presente trabalho de conclusão de curso. Nessa

etapa serão anexadas as fotos, catálogos técnicos e observações do autor.

Por fim, será composto o texto final do trabalho, juntando à etapa anterior as

conclusões do autor, ainda com o auxilio do computador pessoal.

18

4. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS E

PROCEDIMENTOS ADOTADOS EM

OBRAS PARA LAJES COM VIGOTAS

PRÉ MOLDADAS.

Na aplicação das lajes, feita durante a etapa de execução da estrutura, os principais

cuidados se voltam para o posicionamento das escoras (com espaçamentos adequados

para a laje que será concretada), das armaduras complementares e a vibração adequada da

concretagem. O bom desempenho da execução do serviço depende do cumprimento das

especificações de projeto, do manuseio e da consolidação do elemento pré-fabricado aos

moldados in loco, de forma a obter-se monolitização das ligações especificadas para dar

apoio à laje.

A adequada resistência e durabilidade do elemento estrutural, bem como

deformações e vibrações conformes, dependem de um projeto adequadamente

dimensionado e detalhado, um posicionamento de escoras compatível com os elementos

pré-moldados que estão sendo utilizados e, tão importante quanto aos anteriores, uma cura

cuidadosa do concreto.

Na fase de projeto, um erro comum é especificar apenas a altura da laje, deixando a

cargo do fornecedor a definição do dimensionamento das placas. Porém, como o

desempenho da estrutura depende do conjunto de elementos que a compõem e não de

itens isolados, é necessário que o projetista especifique também o tipo de treliça desejado e,

se necessário, armaduras adicionais para compor a vigota ou painel treliçado. Além disso, o

projeto deve conter as armaduras complementares que garantem a ancoragem, armaduras

negativas e, quando for o caso, armadura de capeamento.

Na compra, recomenda-se também checar se o cobrimento cumpre as normas e

especificações de durabilidade (cobrimento, fck, resistência do concreto, fator água/cimento,

deformabilidade etc.); se a capacidade da laje é adequada às solicitações de projeto e se os

arranques previstos na produção são compatíveis ao bom funcionamento da estrutura.

19

4.1 ESCORAMENTOS

O escoramento ou cimbramento é uma estrutura provisória, destinada a auxiliar as

vigotas pré-fabricadas a suportar a carga de trabalho (vigotas, lajotas, ferragens auxiliares,

concreto, pessoas, etc.) durante a montagem da laje e período de cura do concreto

(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).

4.1.1 ESPAÇAMENTO ENTRE ESCORAS

O espaçamento entre as escoras deve estar entre 1,0 m e 1,5 m. Esses valores são

concenso entre fabricantes e a literatura. FLÓRIO (2004) comenta que ensaios realizados

mostram que o espaçamento entre escoras para lajes tipo trilho com condição determinante

de ruína é de 2,15m para as cargas usuais e para a condição determinante do estado de

deformação excessiva é de 1,5m, concluindo que é melhor optar por esse último valor. Já

CAIXETA (1998) apresenta uma tabela em função do tipo de laje, reproduzida na Tabela 1.

Figura 10. Escoramentos metálicos (acervo do autor).

Figura 11. Escoramentos de madeira (acervo do autor).

20

Das Figura 10 e Figura 11 é possível verificar uma proximidade entre as linhas de

escora que foge do que é recomendado na literatura e por alguns fabricantes. Isso pode ser

consequência do desconhecimento ou da falta de um projeto de escoramento, o que evitaria

desperdícios de material e mão de obra quando da execução desse elemento.

Outro ponto a ser destacado é a emenda dos sarrafos horizontais. Essa é feita sobre

os pontaletes verticais, o que contribui para que a estrutura de escoramento não fique

enfraquecida, evitando flechas construtivas e garantindo o posicionamento dos elementos.

Nesse sentido, os escoramentos metálicos mostrados na Figura 10 são mais eficientes, uma

vez que suas emendas se dão em dispositivos tipo “T”, roscados na ponta dos pontaletes

verticais.

Figura 12. Espaçamento entre as escoras e emendas dos sarrafos (acervo do autor).

Da Figura 12, percebe-se que, via de regra, há um exagero no número de linhas de

escoras que são utilizadas. Considerando-se que cada lajota tem, em média, 20 cm de

comprimento, é possível notar que o vão a ser vencido é aproximadamente 2,00 m. Assim,

uma única linha de escoras, espaçada de 1,00 m dos apoios laterais já seria o suficiente,

podendo a outra ser deslocada para um ponto mais crítico ou até mesmo inexistir. A falta de

orientação nesse caso leva a um desperdício de materiais e mão de obra, encarecendo o

produto final. Além disso, há um prejuízo para com o meio ambiente uma vez que mais

escoras (neste caso) significa maior utilização de madeira.

21

Figura 13. Emenda sobre o sarrafo de apoio (acervo do autor).

Na Figura 14, vê-se uma forma incorreta de utilização do escoramento. Feito dessa

forma, o escoramento pode causar tensões nas vigotas durante a concretagem, já que apoia

de maneira desigual as mesmas. O correto é sempre constituir linhas paralelas aos apoios,

de modo a não causar esforços preliminares nas vigotas, evitando patologias futuras e até

mesmo problemas durante a etapa de concretagem, como quebras por falta de apoio.

Figura 14. Uso incorreto de escoramento (acervo do autor).

22

Tabela 1. Distância entre escoras segundo o tipo de laje.

O fabricante de lajes LAJOTEC recomenda uma distância não superior a 1,20m.

Neste trabalho será recomendado que não se ultrapassem 1,50 m entre linhas de escoras.

O número de escoras é sempre ímpar, em função da contra flecha que deve ser

aplicada no meio do vão de cada painel, conforme indicações de projeto.

É fundamental que o cimbramento seja suficientemente rígido para não causar flecha

na fase de montagem e concretagem, pois se isso ocorrer o sistema já surgirá com flecha

que se extenderá por toda a vida da estrutura.

4.1.2 PREPARO DO APOIO NO SOLO

Em escoras apoiadas no solo deve haver um preparo preliminar para que elas não

afundem, e isto pode ser feito através da colocação de pedaços de tábuas sob cada escora.

Figura 15. Base de distribuição do carregamento no solo (acervo do autor).

23

Figura 16. Base sob pontalete (acervo do autor).

Figura 17. Solo compactado ao redor da base do pontalete (acervo do autor).

Também é necessário que o local onde as escoras forem apoiadas seja compactado,

de modo a evitar rebaixamento no momento da montagem e concretagem. Isso é feito com

um soquete de mão e no momento da montagem dos escoramentos. O fabricante LAJES

IBATÉ recomenda tal prática em seu manual de montagem, reproduzido na Figura 16 (o

manual completo pode ser visto no ANEXO 1). Na Figura 15 é possível perceber que a base

está sobre entulhos, aglomerados ao seu redor e soltos, o que poderia causar um recalque

quando do carregamento da laje pelas operações de montagem e concretagem. Já na

Figura 16 a base do pontalete parece estar sobre um piso mais firme, o que evitará

24

problemas futuros. Já na figura 17 o solo ao redor da base do pontalete foi escavado,

retirando o terreno mais frágil de modo a se buscar um suporte mais rígido para o

escoramento.

Figura 18. Manual Lajes Ibaté (acervo do autor).

4.1.3 CONTRAVENTAMENTOS E CIMBRAMENTOS

Quando as escoras forem esbeltas e oferecerem baixa rigidez, será necessário

contraventar o pontalete à meia altura. Isto também ocorre nos casos de pé direito elevado

ou duplo, onde poderá ser necessário mais do que uma linha de contraventamento. As

tábuas (pelo menos 30 cm de largura, 1”x30) devem ser posicionadas em espelho, e na

ligação das mesmas com os pontaletes deve ser colocada uma tala de enrijecimento de

ligação, não confiando apenas em pregos. As peças verticais não devem ter largura menor

que 5,0 cm. Na Figura 18 é possivel ver uma obra onde apenas pregos servem de ligação

entre os pontaletes e tábuas. Esse tipo de ligação pode levar a problemas durante a

concretagem, já que pode se romper, inutilizando essa linha de escoramento nesse ponto. O

fabricante LAJES IBATÉ também recomenta a utilização de contraventamentos entre as

linhas de escora, como pode ser visto na Figura 16.

25

Figura 19. Escoramentos contraventados na direção horizontal (acervo do autor).

Figura 20. Ligação entre pontaletes e tábua de escora (acervo do autor).

26

4.1.4 DATA E SEQUÊNCIA DE RETIRADA

A retirada do escoramento deve se dar preferencialmente após 21 dias da

concretagem, e nunca antes de 15 dias. O descimbramento deve ser feito de maneira a não

causar na estrutura esforços não previstos; assim em lajes biapoiadas o descimbramento

deve ser feito do meio para as extremidades, o que evita momentos negativos no bordo

superior da laje e consequentemente trincas, e no caso de balanços deve ser das

extremidades para os apoios, pelo mesmo motivo. É recomendável que o uso das lajes se

dê apenas após os 28 dias de idade. Ambos os fabricantes visitados também recomendam

em seus manuais a data de 21 dias para a retirada dos escoramentos (ver anexo 1).

4.2 CONTRA FLECHAS

Obtém-se o valor da contra flecha ainda na fase de projeto, quando é calculada a

flecha da laje levando-se em conta todas as ações permanentes. Essa flecha teórica é

aplicada como contra flecha de forma que, quanda na fase de serviço, tenha-se flecha

devido somente as ações acidentais. Dessa forma, por se tratar de um resultado oriundo da

fase de projeto, deve-se sempre seguir as orientações do projetista.

É importante observar que no centro da laje o concreto terá altura real da capa de

concreto especificada, garantida por meio de dispositivos específicos. Já nos apoios, existirá

uma altura maior devido a contra flecha. Essa altura maior nos apoios favorece o combate

aos esforços cortantes.

Por fim, recorda-se aqui que a contra flecha é específica para cada vão e carga e

varia com as condições de apoio, devendo-se portanto evitar generalizações quando da

confecção de diversos panos de lajes na mesma obra.

Figura 21. Contra flechas em lajes com duas e três linhas de escoras (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000).

27

A Figura 20 e a Figura 21 ilustram dispositivos simples que podem ajudar a garantir

as contra flechas requeridas em projeto. As cunhas de madeira são eficientes porém pouco

duráveis em atividades que exijam repetição do processo. Já as cabeças metálicas móveis

são reaproveitáveis, mas podem encarecer o escoramento. Elas são bastante difundidas e

estão presentes na maioria das obras visitadas.

Figura 22. Cunhas para realização de contra flecha (acervo do autor).

Figura 23. Cabeça metálica com regulagem de altura (acervo do autor).

4.3 APOIOS

4.3.1 TIPOS DE APOIOS (PENETRAÇÃO DAS VIGOTAS E TIPOLOGIAS CONSTRUTIVAS)

Os apoios para as vigotas que irão compor a laje podem ser de dois tipos: apoios

simples e engastamentos.

De uma forma geral, as nervuras devem, preferencialmente, estar apoiadas em vigas

de concreto armado, mas nos casos em que elas se apóiam sobre a alvenaria,

28

principalmente em edificações residenciais, recomenda-se uma cinta de amarração sobre a

parede, com a colocação de duas ou três barras; a concretagem deve ser simultânea

(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001). Os fabricantes LAJOTEC e LAJES IBATÉ

recomendam que em lajes apoiadas diretamente sobre paredes respaldadas com cintas de

amarração, a vigota deve penetrar pelo menos 50% no apoio (por exemplo, para uma

parede de 12 cm de espessura, a vigota deveria estar apoiada nos 6 cm iniciais). Na Figura

24, pode-se notar que não foi seguida a recomendação da cinta de amarração, estando as

vigotas diretamente apoiadas sobre a alvenaria. Já na Figura 25 vemos o apoio de vigotas

sobre vigas de concreto, entretando essas não foram concretadas simultaneamente, o que

prejudicará a monoliticidade da estrutura.

Figura 24. Apoio de treliças em alvenaria não respaldada (acervo do autor).

Figura 25. Vigotas apoiadas sobre vigas de concreto (acervo do autor).

29

Por fim, na Figura 26 vemos vigotas de uma laje para edificação residencial apoiadas

sobre uma cinta de concreto respaldando a parede. Tal prática é a mais recomendada na

literatura e nos manuais de fabricantes, pois cria uma pequena viga armada no topo da

parede, enrijecendo a mesma e evitando patologias, como o surgimento de trincas no

encontro laje/parede.

Figura 26. Vigotas apoiadas em cinta de amarração (acervo do autor).

a) Apoios simples

Caracterizam-se pela ausência de momento fletor na ligação, ou seja, estão

presentes nos apoios onde não se considera a continuidade da laje. Entretanto, é

encontrado na literatura que deve ser considerado um momento não inferior a ¼ do

momento positivo. As vigotas devem apoiar-se sobre as formas, após estas estarem

alinhadas, niveladas, escoradas e com a armadura colocada e posicionada. Elas devem

penetrar nos apoios pelo menos 5 cm e no máximo igual a metade da largura da viga. A

concretagem das vigas deve ser simultânea com a execução da capa (CARVALHO E

FIGUEIREDO, 2001). Ainda que nesse tipo de apoio não haja momentos fletores a serem

combatidos, recomenda-se a utilização de uma armadura de ancoragem, que pode provir da

própria vigota, sendo um prolongamento da armadura presente na sapata de concreto da

mesma ou ser adicionada na obra, antes da concretagem. Ainda é preferível, com será visto

mais adiante para outros tipos de armaduras adicionais, que se colocada em obra, a

armadura de ancoragem diste 1 cm da sapata de concreto, para garantir a perfeita

aderência entre ela e o concreto oriundo do capeamento. Em ambos os casos é

imprescindível evitar na região da viga um acúmulo de ferragens, o que atrapalharia a

operação de concretagem e a correta aderência do concreto com o aço.

30

Nos casos de vigotas apoiadas sobre vigas “T”, “L” ou vigas invertidas, não é

possivel que as mesmas penetrem nos apoios, pois estariam atravessando a região (mesa)

comprimida do concreto. Assim, embora ainda seja necessário que as vigotas penetrem 5

cm na forma das vigas, elas não atravessam seu eixo, prolongando-se apenas uma

armadura de ancoragem, como descrito anteriormente.

Nas Figuras 27 e 28 está exemplificada a execução de uma viga invertida em uma

laje inclinada. Essa obra mostra a versatilidade que esse tipo de laje apresenta.

Figura 27. Viga invertida em laje inclinada – vista superior (Prof. Mauro Araújo).

Figura 28. Viga invertida em laje inclinada - vista inferior (Prof. Mauro Araújo) .

A Figura 29 ilustra um apoio simples. Nota-se que não existem armaduras

complementares sobre as vigotas, apenas a tela de solidarização, que se extende por todo o

pano de laje. Também é possivel verificar que as vigotas não ultrapassam a metade da

largura da viga em que se apoiam, respeitando o preconizado anteriormente. Essas foram

31

posicionadas após as formas e armaduras de vigas estarem prontas, bem como a

concretagem de vigas e capeamento de concreto ocorrer de forma conjunta, obedecendo

mais uma vez ao que é disposto na maior parte da literatura sobre a importância da

simultâniedade dessa operação, contribuindo para monoliticidade da estrutura.

Figura 29. (a) vigota apoiada. (b) detalhe da ausência de armaduras (acervo do autor).

Já na obra ilustrada na Figura 30 a seguir, não é seguido o recomendado com

relação a penetração de vigotas nos apoios. É possivel ver pela imagem que a vigota

treliçada praticamente encosta na lateral externa da viga de apoio, o que na etapa de

concretagem dificultará o lançamento de concreto dentro das formas da mesma.

Figura 30. Vigota apoiada até o bordo externo da viga lateral (acervo do autor).

32

Figura 31. Vigota apoiada além do eixo da viga invertida (acervo do autor).

Novamente, na figura 31, podemos ver que as vigotas avançam além do meio da

viga invertida na qual se apoiam e que não existe um prolongamento de armaduras, seja da

região inferior da sapata de concreto ou de armaduras adicionais posicionadas em obra.

Em uma das obras visitadas encontrou-se a situação ilustrada nas Figuras 32 e 33.

Nela, aparece uma viga invertida sendo executada paralelamente as vigotas da laje. Ou

seja, as vigotas não estão se apoiando nessa viga, mas apenas nos apoios de extremidade.

Como está sendo executado, quem se apoia na viga intermediária são as nervuras de

travamento, engastadas por meio de uma armadura que penetra na viga.

Figura 32. Viga invertida - vista inferior (acervo do autor).

33

Figura 33. Viga invertida - vista superior (acervo do autor).

Uma das explicações para se ter adotado tal concepção estrutural pode ser o fato de

querer se evitar uma concentração muito grande de carregamento no local onde a viga se

apóia na parede (já que não há pilares na estrutura), uma vez que se as vigotas se

apoiássem nela, todo o carregamento da laje na direção das vigotas estaria concentrado em

apenas dois pontos na parede (da laje para a viga e da viga para a parede). Da forma como

esta sendo executado, o carregamento da laje está distribuido ao longo da parede, e

somente a carga proveniente das nervuras é que está sendo descarregada na viga, e dessa

para a parede. Nota-se que as nervuras, juntamente com a viga invertida constituem um

sistema de travamento para toda a laje, que pode ser visto na Figura 34.

Figura 34. Laje montada (acervo do autor).

Armadura de ancoragem das nervuras

34

b) Apoios engastados (engastamentos)

É sempre preferível que as lajes treliçadas sejam projetadas e montadas como

sendo simplesmente apoiadas. Isso reduz a quantidade de armaduras a serem utilizadas

nos apoios, o que é economicamente atraente e evita erros durante a etapa de montagem.

Ainda, a consideração de não engastamento nos apoios leva ao cálculo de lajes mais

seguras, uma vez que o momento positivo máximo oriundo do cálculo é sempre maior que o

que ocorre na realidade, dado a concretagem simultânea de capa e vigas de apoio. Essa

simultânedade leva a estruturas, quando não armadas para momentos negativos,

parcialmente monolíticas, o que acarreta em apoios parcialmente engastados. Entretando,

devido a fissuração do concreto e outros fatores, esse engastamento parcial não é levado

em conta. Assim, tem-se que o momento positivo real no meio do vão é menor do que o

calculado teoricamente, levando a uma certa “folga” no dimensionamento.

Por outro lado é sabido que um dos grandes problemas enfrentados pelas lajes

treliçadas pré moldadas é o fato de seus valores de flechas serem muito grandes. Assim,

projetar e executar lajes considerando a continuidade das mesmas é um fator favorável a

diminuição dessa flecha. Flechas menores abrem a possibilidade de lajes mais esbeltas,

diminuindo portanto o consumo de materiais. Também é importante lembrar que a

continuidade, por reduzir os momentos positivos, permite vencer vãos maiores. Em

contrapartida, há a necessidade de garantia de posicionamento das barras de momento

negativo (cuja presença é imprescindível para a configuração de engastamento) e a

necessidade, em alguns casos, de confecção de uma região maciça no apoio em

substituição ao elemento inerte, o que eleva o consumo de concreto. Segundo a norma

espanhola EF96, para que haja continuidade nos apoios, as nervuras devem ser ligadas as

vigas de três formas: a primeira com penetração das nervuras na viga de apoio, a segunda

pela penetração da armadura inferior das nervuras dentro da viga de apoio e a terceira pela

colocação de armadura adicional. Para o segundo caso, é importante que a armadura tenha

um valor igual ao comprimento de ancoragem necessário para absorver uma força de tração

igual ao esforço cortante, para apoios externos e metade desse valor para apoios internos

com momentos negativos. O comprimento da armadura de continuidade deve ser medidio a

partir da face do apoio em vigas de altura maior que a altura da laje, e nas vigas com altura

final igual a altura da laje, a partir do seu estribo. Caso a nervura (vigota) seja do tipo treliça,

esta deverá chegar até a face do apoio em vigas de altura maior que a da laje, e até ao

estribo da viga de mesma altura da laje. Em nenhuma hipótese o valor do prolongamento

será inferior a 10cm em apoios externos e a 6cm em apoios internos.

35

Para que a continuidade da laje seja mais eficiente recomenda-se que haja em todos

os apoios, uma região maciça, eliminando-se o material inerte de pelo menos 10cm. É

conveniente que a concretagem das vigas, capa e região maciça seja simultânea.

Quando não se deseja que a laje se apoie sobre uma parede (portanto, que não seja

nem apoio simples nem engaste) é tomada a medida representada na Figura 35. Tal

situação decorre do fato de não se querer carregar o pavimento inferior com as ações

oriundas da laje superior, que nesse caso é uma laje de forro. A parede da figura não possui

uma viga sob ela, nem vigotas pararelas justapostas, já que estava na direção perpendicular

as mesmas. Assim, o que se faz é montar a laje superior com os devidos pontos de apoio e

concretá-la, para só então fazer um encunhamento de fechamento da parede que não serve

de apoio. Assim, a laje superior não influenciará na laje inferior através dessa parede

divisória. Para todos os efeitos, a laje superior continua biapoiada (e não com três apoios) e

o carregamento na laje inferior é devido apenas a parede nessa região.

Figura 35. Dissolidarização da laje com uma parede intermediária (acervo do autor).

Outra condição de apoio bastante desfavorável ao bom funcionamento da estrutura

como um todo é o que pode ser visto na Figura 36. Nela, está ilustrada uma prática

extremamente não recomendável, pois implica em um alto grau de desperdício, tanto de

materiais, uma vez que a viga de apoio teve de ser quebrada, resultando em entulho, quanto

de mão de obra, necessária para realizar tal trabalho. Além disso, retirou-se concreto

justamente da parte onde este é mais importante na viga, ou seja, na região comprimida,

prejudicando o funcionamento estrutural à flexão. Também a armadura da viga ficou

exposta, o que numa concretagem futura, graças a oxidação e o acúmulo de impurezas no

aço, pode causar prejuízo da aderência entre o este e o concreto. Do outro lado do apoio

36

pode-se notar que a adaptação é ainda pior. As vigotas foram apoiadas sobre uma laje já

existente, sem que houvesse a preocupação de se criar ali um dispositivo de apoio como

uma viga ou até mesmo algum tipo de reforço com armadura e regiões maciças. Além disso,

a laje de suporte às treliças é um balanço, e que quando passar a receber carga em sua

extremidade terá o momento sobre seu apoio bastante aumentado. Certamente a armadura

desse apoio não foi dimensionada para tal esforço e patologias poderão vir a surgir nessa

região.

O correto nessas situações seria do lado em que o apoio se dá em sulcos criados

numa viga já existente, caso não se desejasse concretar vigas e capa em conjunto, que a

viga fosse concretada até a altura do fundo da laje e após seu periodo de endurecimento

deveriam ser posicionadas as vigotas e elementos de enchimento e decorrida a

concretagem da laje. Nessa configuração, as vigotas se apoiariam totalmente sobre a viga

criada, cruzando-a, uma vez que se deseja uma porção da laje em balanço.

No outro lado, seria imperativo que se criasse uma estrutura rígida de apoio, como

uma viga, de modo a evitar patologias futuras, dada a baixa espessura da laje na qual as

vigotas estão se apoiando.

Figura 36. Apoio de vigotas em elementos não recomendados (acervo do autor).

37

Embora não seja a utilização das vigotas e elementos de enchimento que estejam

erradas nessa obra (estão posicionadas do modo que tradicionalmente se recomenda) as

condições da infra-estrutura dos aparelhos de apoio para receber esse tipo de laje estão

completamente adversas as recomendações encontradas na literatura e dos fabricantes em

geral. A situação acima acaba por ilustrar um exemplo de como um sistema que tem um

grau elevado de industrialização pode ter seu uso bastante deturpado pela falta de projeto e

de orientação dos executores, provando a indiscriminação ainda presente nas construções,

principalmente na autoconstrução e construções de pequeno porte, da utilização desse

sistema.

4.3.2 GARANTIA DAS DISPOSIÇÕES PRECONIZADAS EM PROJETO

No projeto de qualquer tipo de estrutura são levantadas hipóteses de cálculo e de

comportamento dos elementos estruturais para compor um modelo que servirá de base para

a obtenção de esforços e de um resultado de dimensionamento. Esse modelo tenta

reproduzir o mais fielmente possivel os comportamentos reais apresentados pela estrutura.

Em contrapartida, também as hipósteses utilizadas devem ser reproduzidas quando da

confecção da estrutura. Assim, se dissermos que um apoio é simples, quando da confeção

da estrutura devem ser tomados os cuidados para que não haja engastamento nesse ponto.

Enumeram-se agora alguns procedimentos que são tomados em obra de modo a garantir a

reprodução das situações de cálculo e projeto, bem como as que evitam o surgimento de

patologias oriundas da má execução das lajes treliçadas pré moldadas.

a) Engastamentos e Continuidade em Apoios Intermediários

De modo a garantir que uma laje tenha continuidade, é imprescindível que haja uma

armadura negativa, além das demais armaduras construtivas. É fácil ver que, sem essa

armadura, o concreto da região submetida a momentos negativos vai fissurar, não resistindo

aos esforços de tração e, portanto permitindo o giro da peça. Isso caracterizaria um apoio

simples. A armadura negativa deve então cumprir o papel de resistir a esses esforços e em

conjunto com a aderência aço/concreto não permitir o giro da peça. Isso caracteriza portanto

um apoio engastado, com momento negativo sendo resistido pela armadura negativa

calculada na fase de projeto. Assim, se há o desejo de que os apoios de uma laje sejam do

tipo engastados, é necessário haver o cálculo e o detalhamento de uma armadura negativa

de tração. Em conjunto torna-se importantíssimo garantir que essa armadura seja

corretamente posicionada no momento da concretagem da laje, uma vez que nessa fase o

fluxo de operários e equipamentos é intenso, havendo a possibilidade de que esses retirem

38

as barras dos seus locais corretos. Uma série de dispositivos podem ser usados no

posicionamento dessa armadura, como será visto mais a frente.

Outra recomendação importante para a garantia de engastamento é que seja

executada uma região maciça nas proximidades dos apoios. Ele é obtido com a substituição

do material de enchimento, no trecho pré estabelecido pelo cálculo, por concreto modado no

local que será lançado sobre uma tábua que se apóia nas guias e pontaletes. Essa solução

deve ser empregada nos trechos de lajes onde o momento fletor negativo resultou maior

que o momento resistente da nervura.

Figura 37. Execução da região maciça de concreto nos apoios. (CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).

A Figura 38 ilustra a execução de uma região maciça. Nota-se que além de sevir a

todas as funcionalidades citadas, tal região ainda faz a compatibilização dos diversos

sistemas construtivos utilizados nessa obra, ou seja, está associando uma viga metálica a

laje pré moldada treliçada no apoio intermediário.

Figura 38. Execução de região maciça em apoio intermediário (acervo do autor).

39

b) Liberdade de Giro em Apoios Laterais para Evitar Patologias

Quando não há a preocupação de que seja garantido o engastamento no encontro

entre apoios laterais e lajes, tornando-o portanto um apoio simples, algumas medidas

devem ser tomadas para evitar o aparecimento de patologias nas edificações. Alguns

problemas comuns como o aparecimento de trincas, descolamentos de revestimentos e em

casos mais extremos o destacamento vertical da alvenaria são, via de regra, oriundos da

falta de cuidado na fase de execução das lajes. Todos esses problemas são agravados

quando estamos tratando de lajes expostas diretamente ao sol, sem nenhum tipo de

proteção e que sofrem grandes variações térmicas. Tais variações implicam em

movimentação e culminam em problemas patológicos. Também a retração durante a cura

do concreto é responsável por movimentações no pano da laje.

As fissuras que surgem no último pavimento de edificações são muito comuns e têm

características bastante específicas em relação a causa e a aparência. São resultado da

falta de uma concepção cuidadosa da interface entre a alvenaria e a laje de cobertura –

última e mais exposta camada da estrutura – e dos detalhes construtivos que a envolvem

(CARVALHO E FIGUEIREDO, 2001).

Ainda com relação as fissuras em revestimentos, pode-se dizer que algumas delas

são causadas pelo giro excessivo da região de apoio da laje nos contornos. Isso se deve ao

fato de que não foi considerado, quando da fase de projeto, que após a retirada dos

escoramentos a laje pode fletir, rotacionando o apoio.

A seguir, são enumeradas algumas medidas que devem ser tomadas na fase de

execução da laje que visam sanar tais patologias.

40

Tabela 2. Causas mais comuns da fissuração externa e interna de revestimentos de alveranias autoportantes e métodos preventivos.

Figura 39. Patologias devido a movimentação do apoio laje/alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA).

Alguns dispositivos especiais podem ser executados, como mostram as Figuras 40 e 41.

41

Figura 40. (A) Dispositivo especial que permite a rotação entre parede e laje. (B) Garantia de mobilidade no apoio de lajes sobre alvenaria (Eng. MARCOS CARNAÚBA).

Figura 41. (A) Dispositivo de isolamento para lajes expostas diretamente ao sol. (B) Dispositivo de isolamento para lajes sob coberturas (Eng. MARCOS CARNAÚBA).

42

4.4 CONCRETAGEM

A concretagem a qual se refere esse item é a da capa do concreto. Essa operação

requer atenção especial, pois é ela que introduz nesse tipo de laje já bastante industrializado

o fator manufatureiro, ou seja, é por conta da necessidade de um capeamento do conjunto

vigotas + lajotas (ambos materiais que são totalmente industrializados e que apenas

necessitam ser posicionados para a montagem da laje) que se necessita grande parte da

mão de obra. Também a concretagem induz a erros comuns (de cura do concreto, de altura

insuficiente no meio dos vãos, entre outros) que então devem ser estudados e sanados para

o melhor desempenho do sistema como um todo após a secagem.

A norma brasileira exige que o concreto a ser usado na capa tenha fck mínimo de 20

MPa. Esse controle é tanto melhor quanto mais industrializado for o processo de confecção

do concreto (batido na obra, pré misturado e concreto usinado). Tanto essa capa de

concreto como qualquer outra concretagem complementar deve sempre seguir os preceitos

estabelecidos nas normas vigentes de concreto, incluindo técnicas adequadas de vibração e

cura.

4.4.1 CONCRETAGEM SIMULTÂNEA DE CAPAS E VIGAS (OU REGIÕES MACIÇAS)

Sempre é preferível que a concretagem ocorra de forma simultânea entre vigas e o

capeamento da laje. Isso garante uma maior monoliticidade a estrutura e evita problemas de

aderência na interface concreto/concreto que se criaria caso vigas e lajes fossem

concretadas separadamente. Também evita esforços desconhecidos nas peças estruturais

devido a movimentação de operários e equipamentos, já que toda a infraestrutura

necessária a concretagem é montada uma única vez na concretagem simultânea.

As Figuras 43 e 44 mostram concretagens simultâneas de capas e vigas, tanto

invertidas quando vigas normais. É possivel notar pelas figuras que os operários sempre

evitam o acúmulo de concreto em um único ponto, o que sobrecarregaria a laje e poderia

ocasionar o rompimento das vigotas e lajotas.

43

Figura 42. Concretagem da capa da laje em conjunto com vigas. Na primeira figura a viga é normal enquanto que na segunda a viga é invertida (acervo do autor).

Figura 43. Funcionário esparramando e nivelando o concreto de capeamento. Vibração da viga que está sendo concretada em conjunto com toda a capa da laje

(acervo do autor).

Na Figura 44 podemos ver o resultado final de uma concretagem da capa, mostrando

os diversos extratos desse tipo de laje. A figura também indica outra característica desse

tipo de laje, que é ter o fundo plano e poder receber revestimentos com espessuras bastante

reduzidas, como é o caso do gesso que foi aplicado nesse caso.

Figura 44. Laje concretada mostrando as diversas camadas (acervo do autor).

44

4.4.2 CONCRETAGENS POSTERIORES.

Quando se executam vigas invertidas cuja altura final seja maior que a altura final da

laje, em alguns casos, é colocada a armadura da viga, montada a laje e se concreta a capa

e a viga até a altura da laje. Posteriormente são montadas as formas do restante da viga, e

efetua-se a concretagem da altura final da viga. Dessa forma, fica facilitada a montagem da

forma da viga, que se apoia sobre a laje já concretada. Entretando, podem surgir problemas

de aderência entre o concreto já lançado e o novo concreto a ser executado. Esse

procedimento também pode aumentar o custo da laje como um todo, uma vez que requer a

montagem da infraestrutura de concretagem duas vezes. A primeira de viga + laje e a

segunda para complementar a viga. Montar toda a forma da viga para uma única

concretagem, por outro lado, requer um pouco mais de prática e cuidado dos operários,

principalmente no que diz respeito a manutenção de posições.

4.4.3 TRANSPORTE DO CONCRETO SOBRE A LAJE.

Para o transporte do concreto sobre a laje, devem ser tomadas medidas no sentido

de impedir que os materiais de enchimento sofram impactos ou sejam submetidos às cargas

concentradas, uma vez que estes são feitos de cerâmica, que é um material frágil e de

pouca resistência a impactos. É recomendável que sejam colocadas tábuas de madeira

sobre a superfície a ser concretada e, de preferência, que estas estejam acima do nível dos

materiais cerâmicos (o que é conseguido colocando-se caibros para apoio das tábuas), ou

que a altura da viga treliça seja superior à altura dos materiais de enchimento, como

mostram as figuras que se seguem. O transporte sobre tábuas que se apoiam diretamente

sobre os materiais de enchimento é aceitável, mas não é recomendado (CAIXETA, 1998).

Figura 45. Tábuas apoiadas nas treliças das vigotas (acervo do autor).

45

4.4.4 RECOMENDAÇÕES A RESPEITO DA CURA DO CONCRETO.

A cura é um processo mediante o qual se mantém o grau de umidade satisfatório,

evitando a evaporação da água da mistura, garantindo ainda uma temperatura favorável ao

concreto durante o processo de hidratação dos materiais aglomerantes, de modo a se obter

um concreto com as qualidades esperadas. A boa cura ajuda a controlar um dos processos

mais importantes que ocorrem nas estruturas de concreto, a sua retração (FLORIO, 2004).

FLORIO (2004) faz recomendações, que aqui serão tomadas como prescritivas, a

respeito da cura do concreto de capeamento:

“Para controlar a retração hidráulica é suficiente impedir a perda de água

do concreto. A proteção nos primeiros dias fará com que a retração do concreto só

ocorra quando sua resistência já tiver sido aumentada. Já a retração térmica é mais

difícil de ser controlada. Um ambiente quente e úmido permite uma cura e pega

mais rápida e um aumento da resistência do concreto.”

Existem dois métodos básicos para se realizar uma boa cura do concreto e obter

uma perfeita hidratação do cimento:

- Criação de um ambiente úmido quer por mieo de aplicação contínua ou frequente

de água, por meio de alagamento, molhagem, vapor de água ou por materiais de

recobrimento saturados de água, como manta de algodão, juta, terra, areia e outros.

- Previnir a perda de água de amassamento por meio de materiais selantes como

folhas de papel ou plásticos impermeabilizantes ou por aplicação de compostos líquidos

para a formação de membranas de cura no concreto recém lançado, tomando o cuidado

para que esses materiais ao secarem, não absorvam a água do concreto.

O tempo de cura, pela norma vigente é de sete dias contados a partir da data do

lançamento. Esse tempo varia conforme o tipo de cimento utilizado e as viabilidades

econômicas da obra e está entre 2 a 10 dias, conforme pesquisas recentes. Cabe ao

engenheiro decidir qual o tempo adequado para cada obra, tendo sempre em mente que

essa etapa é primordial na garantia de condições mínimas de resistências assim como

características elásticas do concreto executado (FLÓRIO, 2004).

46

4.5 ARMADURAS

4.5.1 GARANTIA DO POSICIONAMENTO DE ARMADURAS NEGATIVAS

Esse item trata da utilização de dispositivos ou técnicas que garantam o correto

posicionamento das armaduras durante as etapas de montagem e concretagem da laje.

Como qualquer outra estrutura de concreto armado, tais dispositivos devem garantir os

cobrimentos mínimos recomendados pela NBR 6118:2003. Eles podem ser espaçadores

plásticos, que são bastante práticos e amplamente encontrados no mercado e que garantem

que as armaduras, principalmente as de vigas incorporadas às lajes, tenham um cobrimento

mínimo; ou construídos de aço, como os “caranguejos” para apoio das armaduras negativas.

Ainda existem dipositivos niveladores que impedem que a altura da capa de concreto seja

não uniforme devido a possíveis contra flechas requeridas em projeto.

O posicionamento de armaduras negativas requer atenção especial. Uma vez que tal

armadura, quando colocada fora de seu devido lugar, pode não garantir a continuidade de

apoios requerida em projeto (cujas implicações já foram descritas anteriormente), fazendo

com que o modelo estrutural adotado para o cálculo da laje não corresponda ao que está

sendo executado, é imprescindível que as barras da armadura negativa fiquem exatamente

na posição determinada no cálculo, estajam colocadas rigidamente e não saiam da posição

durante a concretagem. Seu posicionamento correto é na face superior da laje, respeitando-

se o cobrimento mínimo segundo a classe de agressividade do ambiente (NBR 6118:2003)

e deve ser colocada sobre as nervuras, e não sobre o elemento de enchimento.

As figuras abaixo ilustram os dispositivos mais comumente utilizados como

posicionadores de armaduras em lajes nervuradas pré moldadas.

Figura 46. Espaçadores plásticos (www.fercimcal.com.br acesso 23.09.09).

47

4.5.2 ARMADURAS ADICIONAIS – POSICIONAMENTO E QUANTIDADES

As armaduras adicionais visam suprir a quantidade de aço requerida em projeto e

que não foi atendida apenas pela armadura presente nas vigotas. São compostas por barras

complementares longitudinais, transversais, armadura de distribuição, armadura de

cisalhamento e armaduras negativas (essas últimas são assim classificadas apenas por não

estarem incorporadas as vigotas, entretanto sempre que se deseja garantir continuidade nos

apoios devem estar presentes, não complementando outras armaduras mas sim fazendo o

papel principal de resistir a momentos negativos).

Para resistir aos momentos negativos, EL DEBS (2000) recomenda que no

detalhamento da armadura longitudinal deve-se dedicar especial atenção à ancoragem junto

aos apoios, principalmente nos externos, e que para possibilitar melhores condições de

ancoragem a adoção da região maçica citada anteriormente é bastante importante. Medida

adicional reside também em colocar armadura adicional transpassando a armadura

longitudinal. Além de resistir aos momentos negativos, essas barras servem também para

fazer a ligação entre lajes e vigas proporcionando rigidez e monoliticidade ao conjunto e

para combater as fissuras (CARVALHO E FIQUEIREDO, 2001). Em apoios externos, deve

ser colocada uma armadura superior capaz de resistir no mínimo a um momento fletor igual

a ¼ do momento do vão. Essa armadura deverá se estender a partir da face exterior do

apoio de um comprimento não menor que 1/10 do tamanho do vão mais a larguda do apoio.

Na face exterior do apoio a armadura deverá ser prolongada verticalemnte com dimensão

no mínimo igual a altura da laje (recomendações da norma espanhola EF-96).

A armadura adicional longitudinal deve ser disposta dentro da vigota, mas se isto não

for possível devido ao espaçamento mínimo a ser respeitado, pode-se dispor esta armadura

em duas camadas: uma situada dentro da sapata (colocada na fábrica) e outra colocada na

obra; nesta última, as barras devem ser amarradas na armação treliçada distantes pelo

menos 1 cm da sapata de concreto para garantir uma boa aderência. Cuidados especiais

devem ser tomados com relação a altura útil quando da utilização dessa técnica.

Para barras adicionais requeridas para vencer momentos positivos, nem todas

necessitarão chegar aos apoios (o que causaria um congestionamento nessa região e

dificultaria a concretagem), mas pelo menos 50% delas sim, sendo ancoradas corretamente.

Segundo recomendação do fabricante Lajotec (São Carlos, SP), nervuras

transversais ao sentido das vigotas, com a finalidade de travamento da laje e sem função

estrutural devem ser executadas espaçadas igualmente e com distância não inferior a 1,5m

entre elas. Nessas nervuras, geralmente compostas por elementos tipo canaleta (vide tópico

48

sobre elementos de enchimento), é colocada uma armadura transversal de no mínimo 1

barra de diâmetro de 6,3mm. Essa é a armadura a qual se refere como sendo a transversal.

Os esforços de cisalhamento são comumente combatidos pela armação treliçada das

vigotas. No entanto, quando necessário, devem ser usados estribos adicinais posicionados

desde a sapata de concreto até a altura da laje, descontado o devido cobrimento.

Por fim, é necessária uma armadura de distribuição posicionada na capa no sentido

transversal e longitudinal para distribuição de tensões oriundas de cargas concentradas e

para controle da fissuração. Tanto a NBR 14859 – 1:2002 quando o fabricante LAJOTEC

indicam que essa malha deve ser de no mínimo 0,6cm² de aço por m² de laje, contendo pelo

menos 3 barras por metro. O fabricante citado utiliza um produto cuja especificação é Q61.

O aço que compõe o banzo superior das armações treliçadas pode ser considerado como

de armadura de distribuição, segundo a norma brasileira pertinente. A Figura 47 ilustra essa

armadura de distribuição.

Figura 47. Tela eletrossoldada utilizada como armadura de distribuição (acervo do autor).

Na Figura 47 pode-se notar que na emenda entre as telas apenas é deixada uma

região de transpasse, sem a necessidade de amarrações.

4.6 PAREDES SOBRE LAJES.

4.6.1 PAREDES PARALELAS AOS TRILHOS

Os principais inconvenientes de se colocar paredes diretamente sobre as lajes são a

possibilidade de ocorrência de trincas e elevados deslocamentos.

49

A recomendação geral, tanto de fabricantes de lajes treliçadas quanto a encontrada

na literatura é a de que, quando haver a necessidade de se apoiarem paredes de alvenaria

sobre as lajes, que sejam justapostas nervuras sobre tal parede, eliminando o elemento de

enchimento. Assim, a depender da espessura da parede, duas ou três nervuras justapostas

serviriam de apoio rígido (quase que como se comportanto como laje maciça) para a parede

sobre a laje, evitando deformações excessivas e carregamentos concentrados em

determinadas regiões do pavimento. Entretando, segundo CAIXETA (1998), só as vigotas

justapostas não suportam o peso da parede. É necessário que seja feita uma distribuição da

carga concentrada da parede sobre uma faixa de influência. É recomendável, segundo

CARVALHO E FIGUEIREDO (2001) só começar a fazer a parede quando a capa de

concreto tiver pelo menos 14 dias de idade, pois antes disso quem resiste aos esforços é

somente a vigota.

A figura 48 ilustra a prática de se colocar treliças uma ao lado da outra em regiões da

laje que receberão paredes.

Figura 48. Justaposição de vigotas (acervo do autor).

Vale aqui citar que a justaposição dos elementos pré moldados pode também ser

utilizado nas lajes cujas bordas paralelas às vigas são livres, a fim de combater a redução

de rigidez característica desta situação evitando, assim, as deformações excessivas e

diferenciadas nas regiões próximas às bordas livres.

50

4.6.2 PAREDES PERPENDICULARES AS TRELIÇAS

Não há muitas menções na literatura a respeito de cuidados especiais a serem

tomados quando a parede está alinhada perpendicularmente a direção das vigotas. Não

para menos, é cabível interpretar essa “despreocupação” pelo fato de que, nessa

configuração, o carregamento oriundo das paredes ficaria distribuído em várias vigotas,

representando a elas uma carga puntual. É portanto necessário verificar o cisalhamento, já

que muitas vezes essa carga pode ser elevada.

Quando a parede é apoiada sobre a laje perpendicularmente às vigotas, deve ser

calculada uma carga distribuída equivalente dividindo-se o peso da parede pela área de

uma faixa dedistribuição que, neste caso, corresponde a (1/2)L. Se existirem mais paredes

perpendiculares às vigotas em um mesmo painel, as faixas de distribuição deverão ser

limitadas pela metade da distância que as separa, e a carga equivalente adotada será a

maior obtida.

Fica então a sugestão de que, assim como nas nervuras de travamento, para

paredes perpendiculares as vigotas, pode-se substitiur o elemento de enchimento por

canaletas e por elas passar uma determinada armadura, compondo assim uma viga plana

(de mesma altura final da laje) que enrijeceria o conjunto e evitaria possíveis deformações

da laje.

4.7 ELEMENTOS DE ENCHIMENTO.

As lajotas cerâmicas deverão ser abundantemente molhadas antes do lançamento

do concreto, pois caso contrário elas absorverão a água necessária à hidratação do mesmo.

Tal fato apresenta-se na Figura 49, onde o umedecimento da laje está sendo feito antes da

concretagem da capa da mesma.

Figura 49. Operário molhando as lajotas antes da concretagem (acervo do autor).

51

Na execução da laje, ao colocar as vigotas e elementos cerâmicos deve-se começar

sempre da borda para dentro, preferencialmente com as lajotas; a razão disso é que a lajota

é mais barata que vigota, além de facilitar as instalações hidráulicas e elétricas embutidas

que exigem rasgo na parede, pois é muito melhor encontrar no topo da parede, para

quebrar, lajota cerâmica do que vigota de concreto armado.

Nem sempre tal recomendação é seguida. Como podemos ver na Figura 50, em

algumas obras começam-se os panos de laje pelas vigotas. Entretando, não há informação

se nessas paredes existirão prumadas hidráulicas ou elétricas e portanto as imagens são

ilustrativas da montagem começada por vigotas, não cabendo análises críticas mais

profundas. É cabível que na ausência de informações a respeito das instalações, na medida

do possível sejam colocadas sempre as lajotas e posteriormente as vigotas no encontro com

apoios paralelos. Na figura 51 está um exemplo de montagem iniciada por lajotas.

Figura 50. Numa mesma obra exemplo de montagem iniciando com vigotas e com lajotas, que é o mais recomendado (acervo do autor).

Figura 51. Montagem da laje iniciada por lajotas (acervo do autor).

52

A distância entre nervuras (intereixo) é função do tipo de material de enchimento a

ser utilizado, que deve ter garantida sua capacidade portante durante a fase de

concretagem da laje, para que não haja sua ruptura sob o peso do concreto ainda fresco.

Quanto maior o intereixo adotado, menor será o consumo de concreto da laje; por

outro lado maior será a armadura em cada nervura, mas de qualquer forma, maiores

intereixos levam, via de regra, a lajes mais econômicas. Também é necessário que os

operários caminhem sobre passarelas de tábua sobre a laje, e essa recomendação é tanto

mais necessária quanto maiores forem os intereixos adotados, uma vez que lajotas maiores

são mais frágeis. Ou seja, apesar de não serem necessários para o sistema após a cura do

concreto, a boa qualidade do material de enchimento é importante para a segurança nas

fases de montagem e concretagem da laje, pois eles são reponsáveis por transferir o peso

do concreto ainda fresco às vigotas que se apóiam sobre as linhas de escoras. Assim

sendo, torna-se necessária uma resistência mínima para este material, devendo-se evitar o

uso de elementos com pequena altura e grandes intereixos.

Na figura 52 mostra-se um caso onde a má qualidade do elemento de enchimento

ocasionou sua quebra deste durante a etapa de concretagem da capa, fazendo com que

houvesse desperdício de concreto e retrabalhos.

Figura 52. Quebra do elemento de enchimento (acervo do autor).

Em face de grandes variabilidades nas formas e dimensões, conferem características

regionais às lajes, dificultando a elaboração de projetos padronizados ou mesmo a utilização

de tabelas para o dimensionamento das mesmas (SANTINE, 2005).

No caso de lajes com EPS o revestimento pode ser feito com um chapisco

convencional (aplicado com a colher) usando um aditivo de base acrílica para melhorar a

aderência; depois do chapisco seco pode-se aplicar as demais camadas do revestimento,

53

pois embora reduzam significativamente o peso próprio da laje, existem ainda problemas de

aderência entre os revestimentos internos e o enchimento em EPS.

Como o EPS não absorve o excesso de água da argamassa, a água de

amassamento pode ser reduzida.

Elementos de enchimento mistos tem sido desenvolvidos, combinando o EPS com a

cerâmica, de modo a possibilitar maiores alturas de lajes sem acréscimos significativos no

peso próprio da mesma, como pode ser visto na figura 53.

Figura 53. União de diferentes materiais como elementos inertes (acervo do autor).

4.7.1 DISPOSIÇÃO DE ELEMENTOS NA LAJE. ELEMENTOS ESPECIAIS

Existem atualmente no mercado produtos que visam permir que sejam incorporados

as lajes elementos como caixas de passagem elétrica e tubulações, entre outros. Tais

elementos evitam adaptações em canteiro e agilizam o processo de montagem do pano de

laje, vindo de encontro com o grau de industrialização que elas incorporam. As

recomendações, no caso de elementos que substituem as lajotas, como os apresentados

nas Figuras 54 a 57 são as mesmas para o material de enchimento normal. Ou seja, devem

ser tomados os mesmos cuidados que são tomados com as lajotas comuns: cuidados de

manuseio e transporte; molhar em abundância o elemento antes da concretagem; garantir

que o mesmo não esteja com defeito e caso isso ocorra substituí-lo antes do capeamento,

verificar se o encaixe é perfeito, evitando vazamentos durante a operação de concretagem,

entre outros.

54

Figura 54. Lajota em plástico com caixa de passagem elétrica (acervo do autor).

Figura 55. Lajota em metal incorporada a laje. (http://www.fazfacil.com.br/images/ref_laje_caixametal_3.jpg acesso 22.09.09)

Figura 56. Método tradicional de fixação das caixas de passagem elétrica na laje (http://www.fazfacil.com.br/images/laje_isopor_caixa.gif acesso 22.09.09).

55

Figura 57. (A) Caixas de passagem incorporadas as lajotas de concreto. (B) Moldagem na obra de elementos com tubulações incorporadas (acervo do autor).

4.8 POSICIONAMENTO E MONTAGEM

4.8.1 POSICIONAMENTO DAS TRELIÇAS.

Segundo CAIXETA (1998), as operações de montagem iniciam-se com o

posicionamento das vigotas sobre o cimbramento e sobre os apoios.

É recomendável que as treliças sejam centralizadas no vão e que penetrem nos

apoios de forma igual em ambos os lados, nunca inferior a 5cm.

Ainda segundo CAIXETA (1998), as vigotas treliçadas devem sempre estar apoiadas

pela sapata de concreto e nunca pelas barras de espera da armadura longitudinal de tração,

como ilustrado na Figura 58.

Figura 58. Detalhes do apoio das vigotas nas paredes (CAIXETA, 1998).

56

Segundo a EF-96, quando se deseja levar em conta a continuidade da laje, é

conveniente que as nervuras que chegam ao apoio estejam alinhadas. Entretanto, admite-se

um desvio dos seus eixos de um valor menor que a distância entre as faces das nervuras e

em situações em que a viga de apoio está em balanço recomenda-se que o desvio não seja

maior que 5 cm.

Figura 59. Justaposição dos elementos pré moldados contínuos (CAIXETA, 1998).

No segundo caso ilustrado pela Figura 59 deve-se cortar as barras de forma a uní-

las como no primeiro caso, dando continuidade à vigota. O terceiro caso é ruim quando se

tem momentos fleotres negativos, uma vez que as vigotas devem ser alinhadas para

favorecer a continuidade da laje. Já para momentos fletores positivos a situação seria

aceitável (CAIXETA, 1998).

4.8.2 POSICIONAMENTO DOS ELEMENTOS DE ENCHIMENTO.

Após o posicionamento das vigotas sobre o cimbramento, segue-se a colocação

alternada do material inerte. As vigotas treliçadas devem estar perfeitamente espaçadas

pelo material inerte, proporcionando o encaixe perteito entre estes. Assim, o material inerte

servirá de gabarito (guia) para o posicionamento das vigotas, ou seja, após estas estarem

posicionadas sobre os apoios, a colocação do material interte servirá para um ajuste “fino”

do posicionamento final das vigotas. Dessa forma, todo o conjunto deverá estar

perfeitamente encaixado e assim torna-se imperativo que as lajotas tenham sempre o

57

mesmo tamanho. A primeira e a última carreiras de lajotas podem ser apoiadas na própria

cinta de amarração ou nas vigas de bordo. As Figuras 60 e 61 ilustram tais operações.

Figura 60. Posicionamento das lajotas guias para ajuste da posição das vigotas (FOLHETO INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000).

Figura 61. Apoio de vigota na cinta de amarração em alvenaira e inicio do posicionamento das lajotas junto a parede paralela as vigas. (FOLHETO

INFORMATIVO MÃOS A OBRA, ABCP, 2000)

Figura 62. Colocação das lajotas de guia para as treliças e posteriormente o preenchimento total do pano de laje com o restante das lajotas (acervo do autor).

58

5. ROTEIRO TÉCNICO PARA

VISITAS AS OBRAS E AVALIÇÃO

DAS SITUAÇÕES ENCONTRADAS.

As visitas as obras serão guiadas por um relatório. Esse tem como função auxiliar na

verificação das prescrisções construtivas descritas nesse trabalho. Será levado as visitas e

acompanhado por registros fotográficos dos locais analisados.

5.1 RELATÓRIO (FORMULÁRIO) DE ANÁLISE

Esse relatório é composto por uma síntese das recomendações enumeradas nos

itens anteriores. De modo a avaliar a execução de lajes em obras, ele foi pensado para que,

estando o observador em obra, não necessite fazer muitas anotações, mas apenas rápidas

checagens em itens pré-definidos. Ele é alimentado por constatações in locu, e que serão

ilustradas, numa análise posterior, por meio de fotografias. Seu conteúdo é composto por

uma série de perguntas cujas respostas podem ser dadas de forma objetiva (por exemplo,

sim ou não), concisas e não ambíguas, fazendo com que a verificação das sugestões

fornecidas por fabricantes e também as descritas na literatura possam ser confrontadas de

imediato com os métodos que estão sendo executados nas obras.

Para exemplificar a forma de utilização e para explicitar a finalidade deste tipo de

documento, tomemos como exemplo a verificação, em obra, da altura do capeamento da

laje. Nesse momento, o relatório acima descrito deveria nos fornecer como perguntas qual a

altura da capa de concreto da laje e quais os cuidados que estão sendo tomados para

garantir esse valor. Também se exitem prescrições em projeto, fck do concreto, dimensões

do pano de laje e equipamentos/materiais utilizados. Não cabe nesse momento verificar se

tal altura é coerente ou não com os dados fornecidos, mas apenas os métodos usados para

garantia do valor.

Outro exemplo é o da verificação da adequação das linhas de escoramento. O

formulário de análise imediata verificará se essas estão adequadas as recomendações,

analisando aspectos como distanciamento, se existe ou não a execução de contra flecha e

59

qual o seu valor, sem entretanto se importar, nesse momento, se este é adequado ou não.

Também verificará as condições de apoio no solo e a existência de travamentos.

No anexo 02 encontra-se o relatório/formulário elaborado nesse trabalho e utilizado

para as visitas as obras.

60

6. CONCLUSÕES

Nesse trabalho procurou-se apresentar as principais recomendações para a

utilização das lajes pré fabricadas, em especial em edifições residenciais, dando-se ênfase

aos métodos construtivos mais comumente utilizados e recomendados, comparando-os ao

que usualmente se executa nos canteiros de obras.

Foi possível notar que a maioria das prescrições de fabricantes estão sendo

atendidas, entretando algumas vezes certas recomendações são relegadas a segundo

plano, seja por desconhecimento dos executores ou mesmo pela falta de orientação de

quem vende e produz esse tipo de laje.

Uma dessas recomendações é o fato de que, embora não tenha uma importância

estrutural, iniciar a montagem do pano de laje com lajotas paralelamente aos apoios laterais

facilita e muito a execução de instalações prediais posteriores.

Também recomendações com relação ao escoramento nem sempre foram atendidas

nas obras visitadas. Nesse item, vê-se claramente que os executores tem certo receio em

utilizar espaçamentos de escoras corretos, acabando muitas vezes por exagerar e utilizar

mais linhas de escoramento que o necessário. Isso leva a um encarecimento do custo desse

tipo de laje, principalmente quando são utilizados elementos de madeira para tal finalidade.

Em edificações térreas, não foi constatada a utilização de contraventamentos nos

cimbramentos, dado a baixo pé direito. Embora esse seja um dos principais elementos do

sistema de laje estudado, já que dá suporte a todo o conjunto antes da cura do concreto,

não se verifica uma preocupação em obra com sua execução. Na maior parte dos casos ele

está relegado a experiência dos operários, sem que seja feito de forma racionalizada e

como recomendada por fabricantes e na literatura pertinente.

Ainda com relação aos escoramentos, na maior parte dos casos pode-se perceber

que havia uma preocupação com sua base em contato com o solo e também com os

dispositivos que visavam garantir a contra flecha indicada em projeto.

No que diz respeito as armaduras, quando eram necessárias, essas estavam

posicionadas de forma adequada, principalmente as emendas em telas de solidarização e

armaduras em canaletas de travamento.

Nos apoios, pode-se perceber uma infinidade de soluções adotadas e que nem

sempre seguiam o que é designado na literatura. Em algumas obras apenas encontrou-se

61

treliças apoiadas em respaldos nos topos de paredes, que é uma das principais orientações

encontradas nos manuais dos fabricantes e na literatura.

Por fim, a flexibilidade de adaptação das lajes treliçadas com diferentes objetos

inertes, o fácil acesso e custo baixo em relação aos outros sistemas a tornou um dos

sistemas construtivos mais utilizados, não só em pequenas mas em grandes obras, tanto

residenciais quanto comerciais.

62

7. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2002). NBR 14859-1:2002. Laje pré-fabricada – Requisitos. Parte 1: Lajes unidirecionais. Rio de Janeiro, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2002). NBR 14859-2:2002. Laje pré-fabricada – Requisitos. Parte 2: Lajes bidirecionais. Rio de Janeiro, 2002.

CAIXETA, D. P. Contribuição ao estudo de lajes pré-fabricadas com vigas treliçadas. 29/09/1998. 168 fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas). Faculdade de Engenharia Civil, Universidade de Campinas, Campinas, 1998.

CARVALHO, R. C.; FILHO, J. R. F. Pavimentos de Edificações com Lajes Nervuradas Unidirecionais de Vigotas Pré-moldadas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil. 2006. 37 p. Apostila do curso de Pós-Graduação em Construção Civil.

CARVALHO, R. C.; FILHO, J. R. F. Disposições Construtivas, recomendações e patologias de lajes com nervuras pré-moldadas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil. 2006. 42 p. Apostila do curso de PósGraduação em Construção Civil.

CARVALHO, R. C.; FILHO, J. R. F. Cálculo e detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado. 2ed, 374p. São Carlos: EdUFSCar, 2004

DA SILVA, F. B. Lajes Mistas e Pré-Moldadas. São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi, 2006. 60 p. Trabalho de Conclusão de Curso.

FERREIRA, M. A. Projeto e construção de lajes nervuradas de concreto armado. 10/08/2005. 239 fls. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005.

FLÓRIO, M. C. Projeto e execução de lajes unidirecionais com vigotas de concreto. 12/12/2003. 240 fls. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004.

FORNI, D. Custos de lajes formadas por vigotas treliçadas considerando a produção, o transporte, a montagem e a concretagem. 24/10/2005. 141 fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil – Engenharia de Estruturas). Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.

GASPAR, R. Análise da segurança estrutural das lajes pré-fabricadas na fase de construção. 1997. 112 fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas).

63

Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

MORAIS, F.C. Resposta Técnica – Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. 21.05.07.

NAPPPI, S.C.B. Análise Comparativa entre Lajes Maciças, com Vigotes Pré Moldados e Nervuradas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 1993.

PEREIRA, R. L. Estudo experimental de emenda em vigotas treliçadas. 09/10/2002. 269 fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO.

SANTINE, C. R. Projeto e construção de lajes pré-fabricadas de concreto armado. 07/10/2005. 165 fls. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. SPOHR, V. H. Análise comparativa: sistemas estruturais convencionais e estruturas de lajes nervuradas. 25/04/2008. 108fls. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil – Área de Construção Civil e Preservação Ambiental). Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2008.

ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. Mãos a Obra – Folheto explicativo. http://www.abcp.org.br/downloads/arquivos_pdf/M_OBRA.pdf. acesso 22.09.09.

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8. ANEXOS

8.1 ANEXO 1 – MANUAIS E RECOMENDAÇÕES DOS FABRICANTES

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8.2 ANEXO 2 – RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS OBRAS