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Universidade Federal Rural do Semiárido UFERSA Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas - DCAT Bacharelado em Ciência e Tecnologia Bruna Rafaela de Oliveira Silva Construções Com Fardos de Palha Mossoró-RN 2013

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Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA

Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas - DCAT

Bacharelado em Ciência e Tecnologia

Bruna Rafaela de Oliveira Silva

Construções Com Fardos de Palha

Mossoró-RN

2013

Bruna Rafaela de Oliveira Silva

Construções Com Fardos de Palha

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

universidade Federal Rural do Semiárido –

UFERSA, departamento de Ciências

ambientais e tecnológicas para a obtenção do

título de bacharel em ciências e tecnologia.

Orientadora: Drª Professora Marineide Jussara

Diniz

Mossoró – RN

2013

Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação

da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA

S586c Silva, Bruna Rafaela de Oliveira.

Construção com fardos de palha / Bruna Rafaela de

Oliveira Silva. – Mossoró, RN: 2013 51f. : il.

Orientador: Profª. Dra. Marineide Jussara Diniz.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal Rural do

Semi-Árido, Graduação em Ciência e Tecnologia. 2013.

1. Construção. 2. Fardos. 3. Palha. I. Título.

CDD:

691.9

Bibliotecária: Marilene Santos de Araújo

CRB-5/1033

Bruna Rafaela de Oliveira Silva

Construções com fardos de palha

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

universidade Federal Rural do Semiárido –

UFERSA, departamento de Ciências

ambientais e tecnológicas para a obtenção do

título de bacharel em ciências e tecnologia.

APROVADA EM: _11_/_09__/_2013_

BANCA EXAMINADORA

Ao meu Deus uno e trino que com Sua infinita

misericórdia e Seu infinito amor me guia e me

sustenta sempre.

À minha mãe que desde sempre foi meu

modelo de fortaleza e fé.

Aos meus irmãos que tantas vezes me

ajudaram.

A todos que de alguma forma contribuíram

para o meu crescimento como pessoa e como

profissional.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que está comigo desde todo o sempre, mas em especial me ampara, me guia,

me sustenta e me livra de todos os males desde que comecei a minha vida escolar. Ele esteve

comigo em todos os anos de estudo, difíceis, principalmente os de ciência e tecnologia, mas

agradeço a Ele por ter sido minha força sempre.

Agradeço à minha mãe que sempre lutou para que eu e meus irmãos pudéssemos ter o melhor

para estudarmos, se esforçou para que buscássemos o nosso futuro, mesmo com todas as

adversidades que passou em várias épocas. Foi forte e não desistiu de nos ver crescer como

pessoas e como profissionais.

Agradeço ao meu pai, que do jeito dele e com todas as suas fraquezas e limitações, contribuiu

como soube para a minha formação.

Agradeço aos que se fizeram meus amigos, seja nas horas difíceis, seja, nos momentos de

glória, mas que acreditaram em mim e procuraram me ajudar doando nem que fosse seus

ouvidos para me ouvir dizer o quanto esteve muitas vezes difícil. E que me suportaram nas

horas em que estive chata, estressada, triste e que se alegraram comigo quando pude festejar.

Agradeço aos meus irmãos de caminhada na Renovação Carismática Católica que muitas

vezes rezaram por mim e foram suporte para mim e para a minha fé e que direta ou

indiretamente nunca me deixaram perder as esperanças.

Agradeço a toda a minha família que soube me dar força quando muitas vezes esteve difícil.

Agradeço aos meus muitos professores por todo o conhecimento e aprendizado que me

passaram. Que bom que Deus os criou com a vocação de fazer de muitos conhecedores da

ciência para ser o futuro do desenvolvimento no mundo.

Agradeço em especial à minha orientadora Marineide Jussara pela paciência e compromisso

comigo e com o meu trabalho.

Agradeço aos professores da banca examinadora pela paciência e disponibilidade.

“Os que confiam no Senhor são como o monte

Sião, eternamente firme.”

(Bíblia Sagrada, 2009).

RESUMO

Construir com fardos de palha é um processo de construção não convencional, simples

e que utiliza material renovável e de fabricação de certa forma limpa, apesar de ter seu uso

restrito a alguns países e por isso necessita ser estudado e desenvolvido. O seguinte trabalho

traz uma revisão de literatura onde se busca conhecer mais acerca do método construtivo com

fardos de palha, bem como conhecer alguns dos processos construtivos e os materiais que se

utiliza. Desse modo, o trabalho ressalta a importância e aborda utilização dos fardos de palha

em algumas partes do mundo e mostra que no Brasil ainda são escassas ou mesmo

inexistentes as construções com fardos de palha para fins habitacionais.

Palavras-chave: Construção. Fardos. Palha.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Casa de palha em Alliance na Nebraska..................................................................16

Figura 2 – Construção de palha mais antiga da Europa, casa Feuillette em Montargis............16

Figura 3- Casa de campo feita de fardos de palha em Heeze na Holanda em 1944.................17

Figura 4 - Fardo em “flat”.........................................................................................................19

Figura 5 - Fardo em “ edge”......................................................................................................19

Figura 6 - Fardos de dois e três fios..........................................................................................20

Figura 7 - Detalhes parede modelo portante.............................................................................21

Figura 8 - Casa na Irlanda feita com paredes portantes............................................................22

Figura 9 – Relação entre altura e espessura das paredes...........................................................23

Figura 10 - Abertura nas paredes de fardos de palha................................................................23

Figura 11 - Esquema de casa de paredes não portantes............................................................24

Figura 12 - Casa em fardos não portantes no Uruguai..............................................................25

Figura 13 - Serrim.....................................................................................................................28

Figura 14 - Cal hidratada..........................................................................................................28

Figura 15 - Cimento.................................................................................................................28

Figura 16 – Ilustração de telhado de fardos de palha com isolamento.....................................36

Figura 17 – Ilustração de telhado isolante com fardos de palha e telhas..................................37

Figura 18 - Piso com câmara de ar............................................................................................38

Figura 19 – Fachada frontal da casa espiral em Castlebar nas Irlanda.....................................39

Figura 20 – Casa pré-fabricada localizada em Hitzendorf na Áustria......................................40

Figura 21 – Fachada de casa pré-fabricada localizada em Hitzendorf na Áustria....................40

Figura 22 – Casa de fardos de palha em Disentis na Suíça.......................................................41

Figura 23 – Construção de aldeia infantil Salem na Rússia......................................................42

Figura 24 – Aldeia infantil Salem na Rússia.............................................................................42

Figura 25 – Fazenda Trout na Califórnia, Estados Unidos.......................................................43

Figura 26 – Habitação em Carolina do Norte, nos Estados Unidos..........................................44

Figura 27 – Centro de meditação Vipassana na Austrália........................................................45

Figura 28 – Construção da habitação no centro de Montreal, Canadá.....................................46

Figura 29 – Habitação em Montreal com acabamento.............................................................46

Figura 30 – Encaixamento dos fardos nas estruturas de madeira no estúdio............................47

Figura 31 – Estúdio com acabamento.......................................................................................48

Figura 32– Ilustração da planta baixa do protótipo...................................................................49

Figura 33– Construção das paredes do protótipo......................................................................49

Figura 34– Protótipo Sentinela do Sul pronto...........................................................................50

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dimensões dos fardos de dois e três fios.................................................................19

Tabela 2 – Resultados do projeto de Kalinigrado....................................................................30

Tabela 3 - Coeficiente de Poisson e módulo de elasticidade fardos de

palha..........................................................................................................................................33

Tabela 4 - Resultado dos ensaios de compressão nas paredes..................................................33

Tabela 5 - Ensaio de compressão três a três paredes de fardos de palha..................................35

Tabela 6 - Resultados ensaios de resistência paredes de fardos de trigo..................................35

SUMÁRIO

1 OBJETIVOS..........................................................................................................................

1.1 GERAIS.............................................................................................................................

1.2 ESPECÍFICOS..................................................................................................................

2 METODOLOGIA................................................................................................................

3 INTRODUÇÃO....................................................................................................................14

4 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................15

4.1 HISTÓRICO DO USO DE FARDOS DE PALHA EM CONSTRUÇÕES.......................15

4.2 PALHA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO..........................................................17

4.3 FORMATO E QUALIDADE DOS FARDOS DE PALHA...............................................18

4.4 TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO COM FARDOS DE PALHA......................................20

4.4.1 Técnica de paredes portantes........................................................................................20

4.4.2 Técnica de paredes não portantes.................................................................................24

4.5 FUNDAÇÕES EM EDIFICAÇÕES DE FARDOS DE PALHA.......................................25

4.6 REBOCOS INTERIORES PARA PAREDES DE FARDOS DE PALHA........................25

4.6.1 Reboco de terra argilosa................................................................................................26

4.7 REBOCOS PARA PAREDES EXTERIORES.................................................................7.1

Reboco de terra......................................................................................................................

4.7.2 Reboco de cal.................................................................................................................

4.7.3 Reboco de cimento........................................................................................................

4.8 CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS UTILIZADAS.......8

4.9 CUSTOS ..........................................................................................................................

4.10 TEMPO DE COSNTRUÇÃO........................................................................................

4.11 PERMISSÃO PARA CONSTRUÇÃO COM FARDOS DE PALHA..............................

4.12 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS FARDOS DE PALHA COMO MATERIAL

DE CONSTRUÇÃO.................................................................................................................

4.13 CARACTERISTICAS MECÂNICAS DE FARDOS DE PALHA..................................32

4.13.1 Ensaios de compressão fardos de palha não rebocados..........................,.................32

4.13.2Ensaios de compressão de fardos e paredes de palha rebocados..............................34

4.14CONTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA.................................................................36

4.14.1 Construção de telhados com isolamento térmico.....................................................36

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4.14.2 Construção de pisos.....................................................................................................37

4.15 CONSTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA NO MUNDO....................................38

4.15.1A casa espiral em Castlebar, Irlanda..........................................................................38

4.15.2 Casa unifamiliar pré-fabricada Hitzendorf na Áustria............................................39

4.15.3 Casa de fardos de palha portantes em Disentis na Suíça........................................41

4.15.4 Aldeia infantil Salem na Rússia.................................................................................41

4.15.5 Fazenda Trout na Califórnia, Estados Unidos.........................................................43

4.15.6 Habitação em Carolina do Norte, nos Estados Unidos............................................44

4.15.7 Centro de meditação Vipassana na Austrália..........................................................44

4.15.8 Habitação no centro de Montreal no Canadá..........................................................45

4.15.9 Estúdio de som em Forstmehren na Alemanha........................................................47

4.16 CONSTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA NO BRASIL......................................48

4.16.1 Protótipo de casa de baixo custo em Sentinela do Sul, Brasil..................................48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................52

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1 OBJETIVOS

1.1 GERAIS

Estudo bibliográfico sobre a existência e a aplicação de técnicas de construção com

fardos de palha no Brasil e no mundo.

1.2 ESPECÍFICOS

Trabalho que objetiva fazer uma revisão bibliográfica sobre construções com fardos de

palha, mostrando sua importância do ponto de vista ambiental, além de expor especificamente

alguns processos e técnicas construtivas, bem como mostrar vantagens e desvantagens de

fardos de palha como material de construção, algumas caracterizações mecânicas expondo

algumas edificações existentes no mundo.

2 METODOLOGIA

A metodologia abordada para a composição desse trabalho resulta de estudos e

observações de outros trabalhos já existentes, como artigos, monografias, arquivos virtuais e

livros especializados no assunto, de modo a obter um melhor esclarecimento do assunto

trabalhado.

A pesquisa bibliográfica foi uma atividade constante durante todo o trabalho. Fez-se

uma revisão de literatura sobre o material e as técnicas construtivas empregadas em

edificações feitas com fardos de palha, por ser um material considerado não convencional, a

fim de esclarecer aspectos técnicos e conceituais.

14

3 INTRODUÇÃO

Atualmente, a preocupação com o ambiente faz com que o homem tenha cada vez

mais interesse em utilizar materiais naturais e sustentáveis como fizeram os seus antepassados

nos diversos continentes. A expressão “construção ecológica” designa a concepção de

edifícios que utilizam de forma razoável os recursos materiais, humanos e energéticos. Assim,

a construção ecológica é sinônimo de uma construção que procura o equilíbrio entre as

necessidades do utilizador e dos recursos despendidos na sua concepção e na manutenção.

A busca por construções mais sustentáveis transcende à simples melhoria da eficiência

energética da edificação. Nos edifícios sustentáveis existem esforços para reduzir os impactos

relacionados aos materiais no que concerne à energia incorporada e à origem dos mesmos. O

uso de materiais renováveis que são naturalmente repostos, requer o mínimo processamento,

energia e transporte, são materiais naturais e saudáveis e que não emitem substâncias tóxicas

durante sua produção, instalação e uso da edificação.

Desde a evolução da industrialização no século XIX, as técnicas de construção

tradicionais vêm sendo abandonadas. As pessoas com poucos recursos financeiros têm menos

acesso aos produtos industrializados e seguem fazendo o uso das técnicas antigas, como o

adobe, o pau-a-pique e a taipa de pilão. Estas técnicas são associadas à população de baixa

renda, o que gera o preconceito que permanece até os dias de hoje.

Atualmente vive-se uma época de rompimento desse preconceito. Isto se deve tanto à

valorização dos materiais originais dos monumentos históricos quanto a uma preocupação

crescente com o meio ambiente, já que é sabido que a construção civil é uma das atividades

que mais consome energia e recursos naturais do planeta. Cada vez mais, organizações do

mundo todo buscam um resgate do modo tradicional de construção, incorporando tecnologias

novas para otimizar os processos construtivos.

Este trabalho consistirá em uma revisão bibliográfica de visões de autores diferentes,

com o intuído de conhecer mais acerca de construções com fardos de palha, abrangendo

histórico do uso da palha como material de construção e as características dele no que diz

respeito às suas vantagens e resistência mecânica, dentre outras abordagens.

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 HISTÓRICO DO USO DE FARDOS DE PALHA EM CONSTRUÇÕES

Para Magwood (2000) a utilização da palha como material construtivo, foi empregada

na construção de habitações há milhares de anos, sendo utilizado de diversas formas,

adaptando-se às correntes necessidades da época.

Na forma de fardos, a palha começou a ser utilizada final do século XIX em Sandhills

no noroeste da Nebraska, nos Estados Unidos da América. Esse tipo de construção teve início

pelo fato de a região não ter facilidade de acesso a outros materiais de construção como a

madeira, por exemplo. Como o local tinha relevo de montanhas de areia, havia a dificuldade

de o material chegar até lá, sendo que o relevo não era propício ao plantio de árvores; O que

existia em abundância no local, eram gramados. Na época, haviam surgido as primeiras

máquinas enfardadeiras e a partir daí, surgiu a ideia de construir casas feitas com fardos de

palha.

A primeira edificação de fardo de palha na Nebraska se deu por volta de 1886.

Inicialmente as construções eram temporárias. Entretanto, ao fazer uso delas, percebeu-se que

proporcionavam isolamento térmico e acústico e que eram duradouras. A partir de então,

procurou-se aperfeiçoar as técnicas e as construções em si e passou-se a revesti-las com

argamassa para fazer delas moradias. Para Chirras (2000), a palha nunca se consolidou e

passou por um período de decaimento. Ele indica que o material voltou a ser bem utilizado

novamente somente entre os anos de 1970 e 1980 nos Estados Unidos por causa da procura

por materiais não convencionais de construção que trouxessem soluções para o desmatamento

e alternativas para evitar o possível esgotamento de recursos naturais.

A indústria da construção foi mudando e os materiais mais populares e conhecidos

hoje em dia como madeira, pedra, concreto e aço tornaram-se os materiais mais utilizados

como afirma Vardy (2009). Daí a razão da queda no uso de fardos de palha que perdurou por

muitos anos. Para Mahlke (2005), entre os anos de 1995 e 2001 houve muitas publicações

sobre o assunto nos Estados Unidos e o número de edificações feitas de palha teve

crescimento considerável na Europa.

Vardy (2009) afirma que este tipo de construção ganhou mais adeptos entre os anos de

1980 a 1990, mas foi no início do milênio que a tecnologia se disseminou por todo o mundo,

continuando a crescer.

15

Sabe-se que as construções de palha são extremamente duradouras e tem-se notícia de

uma edificação em Alliance na Nebraska que data do ano de 1903. Ela foi abandonada por

volta de 1956 e ainda estava de pé por volta do ano de 2005 como mostra a (Figura 01).

Figura 1 - Casa de palha em Alliance na Nebraska.

Fonte: Minke, 2005.

Segundo Minke e Mahlke (2013) na Europa, a primeira construção de palha foi feita

na França na região de Montargis, no ano de 1921 (Figura 02).

Figura 2 – Construção de palha mais antiga da Europa, casa Feuillette em Montargis.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

16

Outra edificação antiga que se tem conhecimento foi feita na Holanda por volta de

1944 em Heeze (Figura 3).

Figura 3 - Casa de campo feita de fardos de palha em Heeze na Holanda em 1944.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

O uso da palha como matéria-prima para as edificações é crescente no mundo,

especialmente na Europa. Outros países como a Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suíça,

Portugal, têm feito cada vez mais o uso desse material que não só é um material menos

agressor ao meio ambiente e mais barato, como também um material que satisfaz

necessidades específicas por ter excelente isolamento térmico e acústico, além de ser

duradouro e de rápida execução.

4.2 PALHA COMO MATERIAL DE CONTRUÇÃO

Segundo (Summers 2003 apud. Hellena 2011) “A palha define-se como sendo a parte

do talo tubular de certas gramíneas, chamadas vulgarmente de cereais (trigo, cevada, aveia,

centeio, arroz), cortada quando a ceifa e rejeitada após ser liberta das respectivas sementes”.

Apud. Bohadana (2007):

A palha é um material de construção renovável que cresce todos os anos. É

um recurso naturalmente reciclável e que não possui qualquer problema de

disposição final, visto que no caso de demolição de uma edificação, pode ser

totalmente separada dos demais materiais e usada como um componente

para melhorar as propriedades do solo, em jardins ou na agricultura.

17

Consiste de celulose, lignina (substância que dá consistência à madeira) e

sílica e possui uma casca que contém cera e é repelente à água. “A produção

dos fardos de palha e o transporte para o local da construção consomem

relativamente pouca energia, se comparados com a produção de outros

materiais de construção, portanto, este material quase não apresenta impacto

negativo para o meio ambiente” (Minke; Mahlke, 2005).

Para Magwood (2006) a palha é vista como material barato, à vista de outros como a

madeira e o concreto. Apesar disso, o preço de construir com palha se equipara ao de

construções convencionais pelo fato de as paredes representarem somente cerca de 10% a

15% do custo total de uma construção.

4.3 FORMATO E QUALIDADE DOS FARDOS DE PALHA

Sabe-se que os fardos podem e devem ter formatos diferentes dependendo de sua

finalidade em uma construção e da posição em que ele será utilizado.

Segundo Hellena (2011):

Um fardo de qualidade para a construção civil deverá apresentar

essencialmente as seguintes características: deve ser isento de humidade;

deve ser composto por “hastes” rígidas e flexíveis; deve estar bem

comprimido e ter um tamanho aproximadamente uniforme. Os fardos que

apresentarem zonas cinzentas ou pretas, onde os esporos de bolor

começaram a proliferar são indicadores de que os fardos estiveram sujeitos a

um ambiente com condições de humidade variáveis, e por tal, deverão ser

rejeitados para a construção de habitações. Pelas suas características e se

usada de forma cuidada, a palha é um material com grande potencial devido

à sua durabilidade, ao seu poder isolante, à sua elevada disponibilidade e ao

seu baixo custo.

Os fardos podem ser assentados de duas formas que são conhecidas por denominações

que vêm do inglês, “edge” e “flat”, que estão assentados sobre a base de menor e maior

respectivamente (Figuras 04 e 05).

18

Figura 4: Fardo em “ Flat”. Figura 5: Fardo em “ edge”

Segundo Bohadana (2007) os fardos de palha são produzidos em diversos formatos,

sendo que os menores têm geralmente dimensões de 35x50x50 a 120 cm, sendo que as

dimensões de altura e largura dos fardos variam em função da seção da enfardadeira e o

comprimento mais comum varia de 80 a 90 cm e a densidade varia de 80 a 120 kg/m³, sendo

que fardos de densidade menor são inadequados para a construção. A partir desses dados

pode-se estimar a quantidade de fardos de palha necessários para uma construção.

Os fardos de palha mais comuns em construções são os de dois e de três fios. Eles são

assim chamados pelo fato de estarem amarrados por dois ou três fios que podem ser arame ou

cordão. O departamento de energia dos Estados Unidos afirma que os fardos de dois e três

fios têm geralmente as seguintes dimensões mostradas na tabela 1.

Tabela 1- Dimensões dos fardos de dois e três fios

Tipo Dimensões Peso

Fardos de dois fios

45 cm X 35 cm x 90

cm

25 a 30 kg

Fardos de três fios

57,5 cm x 40 cm x

105 cm

37,5 a 40 kg

Fonte: Departamento de energia dos Estados Unidos.

Fonte: Hellena 2011. Fonte: Hellena 2011.

19

A figura 6 ilustra os fardos de palha de dois e três fios respectivamente.

Bohadana (2007) apud Mylman e MacDonald (1999) afirma que o fardo de palha será

melhor para a construção à medida que estiver mais seco e tiver compactação suficiente, já

que se faz mais importante o fardo estar seco e compactado do que ser de palha com melhores

propriedades.

4.4 TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO COM FARDOS DE PALHA

4.4.1 Técnica de paredes portantes

Para Bohadana (2007) “Existem duas técnicas de construção com fardos de palha:

sistema de paredes portantes ou técnica de Nebraska e sistema de paredes não portantes.” A

técnica de paredes portantes consiste na construção de paredes com fardos de palha

empilhados, que transmitem a carga do telhado diretamente às fundações.

Acerca da técnica de construção de paredes portantes se pode dizer que “As normas

indicam que a altura das paredes deve ser no máximo cinco vezes a largura” (Minke; Malhke,

2013).

Figura 6 - Fardos de dois e três fios.

Fonte: Hellena 2011.

20

Para Minke e Mahlke (2005) a técnica de paredes portantes é atrativa devido à

simplicidade estrutural, ao pouco tempo necessário para a construção e ao baixo custo. A

figura 7 esquematiza a arrumação dos fardos em paredes portantes.

Fonte: Chirras 2000.

Faz-se interessante ver um modelo real de edificação com paredes do tipo portante. A

figura 8 mostra uma construção feita no ano de 2002 na Irlanda, sendo uma das primeiras a

receber autorização para ser construída por lá, como afirma Bohadana (2007). Ela afirma

ainda que “a casa possui fundações em pedra do local e revestimento em argamassa de cal”

(Minke; Mahlke, 2005).

Figura 7: Detalhes parede modelo portante.

21

Figura 8 - Casa na Irlanda feita com paredes portantes.

Fonte: Chirras 2005.

É interessante ressaltar que em alguns países não se autoriza o uso desta técnica para a

construção de edificações. Minke e Mahlke (2013) afirmam que na Alemanha não é permitido

construir paredes do tipo portante de fardos de palha. O que segundo os autores em questão

não acontece na Suíça e na Áustria onde se tem permissão oficial para se construir com essa

técnica.

Para Minke e Mahlke (2013), como os fardos de palha são comprimidos por cargas, é

necessário que se tenha algumas prioridades nas construções do tipo portante:

- As cargas devem estar distribuídas uniformemente ao longo de todas as paredes e não deve

haver carregamento concentrado em nenhum ponto.

- A relação entre a altura e a espessura das paredes deve ser no máximo 5:1 como mostra a

figura 9.

22

Figura 9 – Relação entre altura e espessura das paredes.

Fonte: Minke e Mahlke (2013).

- Os fardos devem estar bem comprimidos e sua densidade deve ser superior a 90 kg/m³.

- As aberturas devem ser estreitas e nunca mais espessas do que alturas como mostra a figura

10.

Figura 10 - Abertura nas paredes de fardos de palha

Fonte: Minke e Mahlke (2013).

23

4.4.2 Técnica de paredes não portantes

Em relação às paredes não portantes, sabe-se que elas são utilizadas somente para a

vedação da edificação. Minke e Mahlke (2005) apud. Borradana (2007), afirma que a função

estrutural em edificações construídas com esta técnica é desempenhada por outras estruturas

construídas especificamente para isso, como por exemplo, postes de madeira. A função dos

fardos, segundo Bohadana (2007), é de vedação e isolamento térmico, sendo que eles devem

ser amarrados aos elementos estruturais. A figura 11 mostra um esquema de uma construção

feita com paredes não portantes de fardos de palha.

Figura 11 - Esquema de casa de paredes não portantes.

Fonte: Myhrman e Macdonald 1999.

A figura 12 mostra uma casa no Uruguai localizada em Punta Ballena que feita com

paredes não portantes.

24

Figura 12 - Casa em fardos não portantes no Uruguai.

Fonte: Minke e Mahlke 2006.

Segundo Minke e Mahlke (2013) algumas das edificações mais antigas muitas vezes

foram construídas utilizando-se as duas técnicas, de fardos portantes e não portantes.

Entretanto, segundo eles, sistemas construídos com técnicas diferentes comportam-se de

maneira diferente, respondendo a esforços de compressão e flexão de maneiras diferentes, o

que pode ocasionar patologias nas construções; por isso não é recomendado que se construa

utilizando as duas técnicas simultaneamente.

4.5 FUNDAÇÕES EM EDIFICAÇÕES DE FARDOS DE PALHA

Segundo Minke e Mahlke (2013), os diferentes materiais e soluções acerca das

fundações de edificações de fardos de palha dependerão, sobretudo, da profundidade do

lençol freático e da resistência do solo. Para esses autores, fundações para paredes portantes

devem ser de maior dimensão por causa da carga que irão suportar.

4.6 REVESTIMENTOS INTERIORES PARA PAREDES DE FARDOS DE PALHA

Para Minke e Mahlke (2013) os revestimentos interiores são de grande importância

para o endurecimento e o alisamento das paredes, servindo de proteção também contra o fogo.

Segundo eles, os rebocos podem ter componentes como terra, gesso, cal e cimento. Os cantos

25

das paredes rebocadas devem ser reforçados, assim como nas junções de materiais diferentes.

A seguir serão abordados alguns desses revestimento.

4.6.1 Revestimento de terra argilosa

“Devido a sua estabilidade e sua capacidade de balancear a umidade do ar, o

revestimento de terra tem uma vantagem substancial frente a outros materiais.” (Minke;

Mahlke, 2013). Para Minke e Mahlke (2013), esse revestimento deve ser feito em três etapas:

- A primeira deve ser para alisar a superfície dos fardos e acomodar as saliências presentes

neles. O revestimento deve ter uma consistência líquida para penetrar um pouco na superfície

dos fardos.

- A segunda camada deve ser mais “fraca” e deve ser de areia ou cascalho fino. Nessa camada

podem ser colocados aditivos como serragem. A tarefa principal dessa camada é a preparação

da superfície para a camada final.

- A terceira camada é a mais importante. Ela deve ter entre 5 e 10 mm de espessura. Materiais

como areia grossa, fibras de palha fina podem ser misturados à terra para melhorar a

aparência final e evitar rachaduras.

Para Minke e Mahlke (2013) alguns cuidados são necessários: deve-se deixar a

segunda camada secar antes de aplicar a terceira para evitar fissuras e desprendimento de

materiais. Antes da aplicação da terceira camada deve-se também umedecer a superfície e

para um melhor resultado; pode-se lixá-la. Segundo eles, a soma das camadas de revestimento

deve oscilar entre 3 a 6 cm, sendo que o isolamento térmico da parede será maior quanto mais

espesso for esse revestimento.

4.7 REVESTIMENTO PARA PAREDES EXTERIORES

Para Minke e Mahlke (2013), a função principal dos revestimentos exteriores é

impedir a entrada de umidade nos fardos de palha, sendo que seu estado ideal é que fossem

permeáveis ao vapor de água para que qualquer condensação interior possa sair. Os principais

tipos de revestimentos exteriores são os de cal, cimento e terra.

26

4.7.1 Revestimento de terra

“O revestimento de terra somente é apropriado para uso exterior se está protegido

contra a chuva por meio de aditivos ou pinturas que incrementem sua resistência à água”

(Minke; Mahlke, 2013). Para Minke e Mahlke (2013), uma capa de cimento sobre uma de

terra não é aconselhável, uma vez que o cimento é muito menos elástico que a terra e isso

poderia ocasionar o aparecimento de fissuras.

4.7.2 Revestimento de cal

“O de cal e areia, que às vezes é usado também com um pouco de cimento como

aditivo, é um material de reboco exterior confiável” (Minke; Mahlke, 2013). Para Minke e

Mahlke (2013) é de grande importância que a superfície dos fardos seja a mais lisa possível e

que todos os espaços entre os fardos sejam previamente preenchidos com terra misturada com

palha. Para eles, deve-se ter cuidado com o revestimento, pois a cal quando em contato como

CO2 pode resultar em carbonato de cálcio. É indicado que se preserve o revestimento dos raios

solares para evitar a perda de água de composição. Assim sendo, o revestimento deve ser

molhado regularmente durante as primeiras 24 horas.

Segundo Minke e Mahlke (2013), durante as primeiras semanas, o revestimento deve

ser protegido das chuvas devido a sua fragilidade inicial; é aconselhável colocar 5% de

cimento nesse reboco para acelerar o processo de endurecimento.

4.7.3 Revestimento de cimento

Para Minke e Mahlke (2013), sob o ponto de vista contemporâneo, o revestimento de

cimento não é recomendado para paredes exteriores por ser muito quebradiço e ter um

coeficiente de difusão de vapor muito alto. Para eles, o revestimento de cimento era

largamente utilizado nas primeiras construções com fardos de palha na Nebraska e esse uso se

dava principalmente pela falta de estudos acerca do assunto. Segundo Minke e Mahlke

(2013), esse método pode ser eficaz quando utilizado na primeira camada para tapar as fibras

de palha. Nos Estados Unidos, Canadá e Áustria, utiliza-se revestimento de cimento mesmo

com as desvantagens. Minke e Mahlke (2013) afirmam que na Europa Central, esse tipo de

revestimento não é recomendado, sobretudo por causa do clima.

27

4.8 CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS UTILIZADAS

O tipo de argamassa utilizada para revestir as paredes de fardos faz a diferença no que

diz respeito à resistência das paredes e também na proteção dos fardos contra proliferação de

insetos e bactérias, contra a entrada de umidade e até mesmo serve de camada protetora contra

incêndios.

A argamassa utilizada depende do tipo de parede construída e podem ser de materiais

diferentes; dentre os materiais utilizados nas argamassas, utiliza-se cimento, terra e cal

hidratada que é utilizada para estabilizar a argamassa. Um material utilizado é o serrim que é

conhecido como farelo de madeira. Armaud (2009) apud. Hellena (2011), afirma que o serrim

diminui a densidade e aumenta a porosidade da argamassa o que proporciona um acréscimo

na transferência de vapor de água entre o corpo da parede e o material que o envolve. As

figura 13, 14 e 15 mostram materiais que compõem os revestimentos.

Figura 13 - Serrim. Figura 14 - Cal hidratada.

Fonte: internet. Fonte: internet.

Figura 15 - Cimento

Fonte: Cimento Itambé.

28

4.9 CUSTOS

Minke e Mahlke (2013) afirmam que não existe uma resposta universal para o

questionamento sobre se é mais barato construir com fardos de palha do que com materiais

convencionais. Segundo eles, em questão de isolamento térmico, construir com fardos de

palha portantes é consideravelmente mais barato que gastar para fazer tal isolamento em uma

parede convencional. No caso de paredes de fardos de palha não portantes, o custo depende

do tipo e posição da estrutura de sustentação.

O custo maior é o processo de revestimento que requer três camadas em ambos os

lados, o preenchimento prévio das juntas e o alisamento da superfície dos fardos; Minke e

Mahlke (2013) afirmam que tudo isso ocasiona um custo muito maior que no caso de muros

de alvenaria.

“Os revestimentos interiores com placas de terminação fibrosa, placas ou produtos

derivados da madeira, dão menos trabalho e dão resultados mais econômicos na Europa”

(Minke; Mahlke, 2013).

Um fator decisivo para favorecer a viabilidade financeira de uma construção com

fardos de palha é a contribuição do cliente e/ou de sua família e amigos no processo

construtivo com mão-de-obra. Para Minke e Mahlke (2013) a construção de paredes de fardos

pode ser mais econômica se pessoas, ainda que não especializadas, ajudarem no trabalho.

4.10 TEMPO DE COSNTRUÇÃO

Segundo Minke e Mahlke (2013), é interessante ressaltar que a construção das paredes

somente representa 18% do tempo da obra, enquanto que a suavização da primeira camada de

revestimento, bem como a terminação representa 20%. “De todos os modos os revestimentos

levam sempre o dobro de tempo que a levantada das paredes”.

Na tabela 2, pode-se verificar o tempo para a realização de algumas atividades em

construções com fardos de palha. É importante ressaltar que o trabalho durante a realização do

projeto de Kalinigrado feito para possibilitar conhecer esse tempo das atividades, eram

pessoas não especializadas na construção com fardos de palha.

29

Tabela 2 – Resultados do projeto de Kalinigrado.

Tarefa Tempo de

realização

Levantamento de 116m²de paredes com fardos

Enchimento de vazamentos e suavização de superfícies com tesouras de podar

Enchimento de espaços entre teto e paredes, reboco com palha e lama na

superfície de paredes.

Preparação de lama com palha e nivelação de superfícies

Preparação de mistura para rebocos e transporte da mesma, 230 m² de

argamassa líquida (1ª camada) e 35 m² de argamassa aplicada à mão como 2ª e

3º camadas.

Aplicação da primeira camada de reboco líquido em ambos os lados da parede

e nivelação de superfície de 230 m².

Aplicação da 2ª e 3ª camadas de reboco 35 m².

Direção da obra e documentação

1,2 hora/m²

0,3 hora/m³

0,8 hora/m²

1,0 hora/m²

1,7 hora/m²

0,3 hora/m²

1,3 hora/m²

1,0 hora/m²

Fonte: Adaptado de Minke e Mahlke 2013.

4.11 PERMISSÃO PARA CONSTRUÇÃO COM FARDOS DE PALHA

“Em alguns países, tanto as paredes de palha portantes como nos portantes estão

oficialmente permitidos” (Minke; Mahlke, 2013).

Vários estados criaram regulamentações para construções com fardos de palha,

estipulando a umidade máxima dos fardos, a largura mínima das paredes, a carga máxima

permitida e o tipo de acabamento das paredes.

Países como Dinamarca, França, Grã-Bretanha, Holanda, Irlanda e Suíça, já se dá

permissão para a construção de edifícios com fardos de palha portantes. Em outros países

como Canadá e Escócia, já se deu permissão para a construção de edifícios de dois andares

com paredes de fardos de palha portantes.

No Brasil não há demanda de construções desse tipo, por isso, é desconhecido que

haja permissões para construir com fardos de palha.

30

4.12 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS FARDOS DE PALHA COMO MATERIAL

DE CONSTRUÇÃO

Qualquer material construtivo que se utilize, apresenta vantagens e desvantagens.

Alguns apresentam menor custo, outros poluem menos, já outros são mais eficientes. Com a

palha não poderia ser diferente.

Minke (2005) afirma que a alta ductilidade dos fardos de palha faz com que seja um

material excelente para lugares onde haja elevado risco sísmico, sendo capaz de absorver a

energia cinética liberada em um sismo.

Chirras (2000) afirma que por ser uma tecnologia não convencional, o uso de fardos

de palha em construções é muitas vezes limitado por dificuldades como a de financiamento e

recursos, dificuldade de permissão para se construir. Restrições apresentadas pelo material

também são desvantagens como a necessidade de proteção das paredes para evitar

apodrecimento e mofo, além do fato de não se poder construir no subsolo com esses fardos e a

dificuldade na execução dos projetos hidráulico e elétrico. Ressalta ainda que é preciso ter

cuidado na quantidade de palha desviada da agricultura para a construção civil, pois a palha é

responsável por renovar nutrientes vitais nos solos.

A palha é um material renovável e abundante, subproduto da produção de grãos, sendo

em sua maior parte, queimada se não for utilizada. Há redução do uso da madeira e

consequentemente do desmatamento; o fato de ser isolante térmico e acústico e de ter baixa

energia embutida em sua produção; também a flexibilidade de construção combinada com

outros materiais e a facilidade de construção com esse material. Muitas outras vantagens

poderiam ser citadas como o baixo custo das paredes. “Normalmente, o custo de uma parede

em fardos de palha é um quarto do custo de uma parede convencional, de características

comparáveis” (Magwood, 2000).

Com relação aos impactos ao meio ambiente, Hellena (2011) a afirma que “A palha,

ao contrário dos outros materiais de construção possui a capacidade de armazenar dióxido de

carbono, pelo processo de fotossíntese, em quantidades superiores ao que é produzido na

realização das sementeiras do cereal, na produção dos fardos de palha e no transporte dos

mesmos”.

31

4.13 CARACTERISTICAS MECÂNICAS DE FARDOS DE PALHA

Faz-se importante o conhecimento do comportamento mecânico dos fardos de palha

nas construções nos quais são submetidos a esforços. Conhecer acerca da resistência mecânica

das paredes de fardos de palha possibilita garantir a segurança das edificações construídas

com esse material. Particularmente, é necessário que esses ensaios sejam feitos em fardos

rebocados e em fardos não rebocados para se ver a diferença no comportamento mecânico.

Bouter (2009) apud. Hellena (2011) “Nas construções em palha a diferença nas

propriedades mecânicas e físicas da construção não são influenciadas pelas diferentes

origens/espécies de palha”

O que deve influenciar nas propriedades mecânicas do material é a quantidade de

sílica, pois quanto maior a quantidade de sílica, mais a palha será resistente ao apodrecimento;

segundo ele a sua superfície ligeiramente eriçada, ou seja, encrespada, assegura maior coesão

entre as partículas e entre os fardos.

Para Minke e Mahlke (2013), as paredes de fardos de palha podem receber cargas

maiores quando estão estabilizadas lateralmente. Eles afirmam que para estabilizá-las, se pode

utilizar elementos horizontais e verticais e hastes de compressão.

Nas paredes do tipo portante, o espaçamento entre os fardos de palha deve ser maior

quanto menor for a compressão a ser recebida pelo fardo durante a sua fabricação e quanto

maior seja a carga a ser suportada.

4.13.1 Ensaios de compressão fardos de palha não rebocados

Dados como o coeficiente de Poisson e módulo de elasticidade foram determinados

em laboratório e expostos por alguns autores que abordam fardos de palha. Na tabela 3, tem-

se alguns resultados obtidos experimentalmente.

32

Tabela 3 - Coeficiente de Poisson e módulo de elasticidade fardos de palha

Autores Tipo de

palha

Tipo de

fardo

Posição do

fardo

Módulo de

Elasticidade

[mPa]

Coeficiente de

Poisson

Bou-Ali

1993

Trigo 3 fios Flat

Edge

0,7-2,4

0,67

0,30

Watts et

al

1995

Trigo,

aveia,

cevada

2 fios Flat 0,083-0,237 Longitudinal 0,37

Lateral 0,11

Zhang,

2002

Trigo 2 fios Flat

Edge

0,31

0,46

---------------------

Ashour

2003

Trigo 2 fios Flat

Edge

0,10-0,80

0,05-0,55

0,28-0,44

0,12-0,35

Fonte: Adaptado de (Bou-ali, 1993), (Watts, 1995), (Zhang, 2002) e (Ashour, 2003).

Blum, 2002 apud. Hellena (2011) afirma que realizou ensaios de compressão em

quatro paredes não rebocadas de 2,30 m de comprimento e 1,60 m de altura. As paredes “A” e

“B” foram feitas de fardos de palha de arroz do tipo edge. As paredes “C” e “D” foram feitas

de fardos de palha de aveia; esses fardos eram do tipo flat. Na tabela 4 tem-se o resultado dos

ensaios.

Tabela 4 - Resultado dos ensaios de compressão nas paredes

Parede Força

[KN/m]

Deslocamento

vertical

[cm]

Deslocamento

horizontal

[cm]

A 5,2 7 20

B 4,2 7,5 8

C 11 16,5 2,5

D 7 15 5

Fonte: Blum 2002 apud. Hellena (2011).

33

4.13.2 Ensaios de compressão de fardos e paredes de palha rebocados.

Zhang (2002) apud. Hellena (2011) realizou ensaios em fardos de palha de arroz,

sendo eles de dois fios. Ele utilizou fardos revestidos e não revestidos e com densidade de 100

kg/m³. Foram utilizados fardos flat e fardos edge e a carga foi aplicada na alma dos fardos

revestidos e não revestidos, sendo que o reboco não era carregado por último. Zhang (2002)

chegou à conclusão de que a argamassa adere aos fardos de forma diferente dependendo da

forma como são assentados e que é preciso comprimir os fardos cerca de 3% a 4% na altura

antes que seja colocado o reboco.

Apud. Hellena (2011):

Em 2004, Walker (2004) tinha como objetivos compreender a diferença do

comportamento mecânico entre os fardos rebocados de “flat” e de “edge”,

analisar o reboco e qual a influência da espessura do mesmo na resistência à

compressão. Os ensaios de compressão foram realizados em fardo de palha

de arroz, de aveia e de cevava. Com estes ensaios concluiu que a espessura e

a resistência da argamassa são os fatores que mais contribuem para a

resistência à compressão.

Para Ruppert (1999) apud. Hellena foram realizados por estes ensaios de compressão

até a rotura em nove paredes, analisadas três a três pelo tipo. Sabe-se que as paredes eram

construídas de fardos de palha de cevada e revestidas com argamassa composta por cimento,

cal hidratada e por areia com relação de volume de 1:1:4. Cada parede era de 3,7 m de

comprimento por 2,4 m de altura. A argamassa foi aplicada em duas camadas e depois de

rebocado, o período de secagem foi de 40 dias, o que ajudou a conferir ao reboco uma

resistência à compressão de 6,9 mPa. Sabe-se que a carga foi aplicada de forma linear. Os

resultados dessa análise estão na tabela 5.

34

Tabela 5 - Ensaio de compressão três a três paredes de fardos de palha.

Parede Tipo de parede Força de rotura

(Média de

3provetes)

Deslocamento

(Média de

3provetes)

A 60 cm de largura, fardos

de cevada; argamassa

reforçado com

polipropileno

47 KN/m

23 mm

B

60 cm de largura, fardos

de cevada, rede de

reforço de malha

hexagonal

52 KN/m

12 mm

C

45 cm de largura, fardos

de cevada, rede de

reforço de polipropileno

90 KN/m

11 mm

Fonte: Ruppert (1999) apud. Hellena (2011).

Faine (2002) apud. Hellena (2011) testou a resistência de paredes de fardos de palha

do tipo portantes a cargas aplicadas. Para isso foram construídas duas paredes de fardos de

palha de trigo com dimensões de 85 x 45 x 35 cm³, sendo que as paredes foram sujeitas à

compressão de forma a serem comprimidas 20 cm antes da aplicação do reboco. Segundo ele,

as paredes tinham 4,0 x 2,6m² e 2,7 x 2,6 m², foram revestidas de argamassa de cimento, cal

hidratada e areia à proporção de 1:1:8 e de argamassa de cimento, cal hidratada, terra e areia à

proporção de 1:3:3, respectivamente. Na tabela 6, pode-se verificar os resultados dos ensaios.

Tabela 6 - Resultados ensaios de resistência paredes de fardos de trigo

Parede Carga limite

em regime

elástico

[KN/m]

Deslocamento

Vertical [cm]

Carga de rotura

[KN/m]

Deslocamento [cm]

A 28 3 47 11

B 18 1 36 18

Fonte: Hellena apud. Faine (2002).

35

4.14 CONTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA

4.14.1 Construção de telhados com isolamento térmico

Construir telhados com isolamento térmico faz-se interessante e até necessário em

lugares onde exista essa demanda. Telhados com essas características podem trazer inclusive

certa economia em se tratando de energia para aquecer ou mesmo resfriar ambientes. Minke e

Mahlke (2013) afirmam que o isolamento térmico de telhados com fardos de palha podem

trazer certa economia, desde que previsto em projeto, já que para esse tipo de projeto, se faz

necessário que a altura das tesouras seja maior que a convencional. Quanto à resistência ao

fogo, utiliza-se uma placa de gesso ou cartão engessado de 12,5 mm. Uma alternativa para o

isolamento superior do telhado é a colocação de um teto verde a qual se pode colocar

diretamente sobre os fardos. A figura 16 é uma ilustração de um telhado de fardos de palha

com isolamento.

Figura 16- Ilustração de telhado de fardos de palha com isolamento

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Outra forma de construir telhados de fardos de palha é a colocação de telhas sobre os

fardos de forma a construir um telhado resistente a neve e vento, como afirmam Minke e

Mahlke (2013). Na figura 17 é possível visualizar um modelo desse tipo de telhado.

36

Figura 17 – Ilustração de telhado isolante com fardos de palha e telhas

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.14.2 Construção de pisos

Segundo Minke e Mahlke (2013) na Europa em casas feitas de fardos de palha, utiliza-

se pisos feitos desse material com a finalidade de obter isolamento térmico. Eles afirmam que

na execução de pisos com fardos de palha, os fardos devem estar completamente secos e a não

deve entrar em contato com os fardos qualquer umidade do solo. Uma maneira de evitar a

danos advindos da umidade dos solos é levantar os fardos de forma a criar uma câmara de ar

entre os fardos e o solo. Segundo eles, é possível também colocar uma camada de 10 cm de

cascalho sobre o solo com uma capa de areia de 3 cm e uma barreira de polietileno formando

assim uma barreira contra a umidade; a estrutura que sustentará os fardos pode ser de madeira

reciclada, formando uma estrutura ventilada. Na figura 18 se pode verificar ilustrações do piso

com câmara de ar.

37

Figura 18 - Piso com câmara de ar.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.15 CONSTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA NO MUNDO

Segundo Minke e Mahlke (2013):

A construção com fardos de palha tem sido praticada principalmente por

clientes privados, o que explica porque a maioria dos projetos são

residências particulares. Recentemente, sem embargo, um número de

edifícios maiores não relacionados com o uso familiar individual tais como

escolas, oficinas, centros de informação ou ainda fábricas tem-se levantado.

A seguir serão conhecidas algumas construções feitas com fardos de palha no mundo.

4.15.1 A casa espiral em Castlebar, Irlanda.

Segundo Minke e Mahlke (2013), essa foi a primeira construção de fardos de palha de

fardos portantes a receber permissão e a primeira do seu tipo a receber permissão na Europa.

A fundação é feita de pedra local, o reboco é de terra e cal. A casa foi concluída no ano de

2002 e sua área é de aproximadamente 110 m². Na figura 19 é possível ver a fachada frontal

da casa.

38

Figura 19 – Fachada frontal da casa espiral em Castlebar nas Irlanda.

Fonte: Minke e Mahlke (2013).

4.15.2 Casa unifamiliar pré-fabricada Hitzendorf na Áustria

Minke e Mahlke (2013) afirmam que a estrutura da casa é pré-fabricada com esqueleto

de madeira preenchida com fardos de palha; os elementos são armados como qualquer outra

estrutura pré-fabricada e consiste em painéis pré-fabricados isolados com fardos de palha. A

casa foi concluída no ano de 1999 com uma área de 135 m². Nas figuras 20 e 21 é possível

conhecer a estrutura em construção.

39

Figura 20 – Casa pré-fabricada localizada em Hitzendorf na Áustria.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Figura 21 – Fachada de casa pré-fabricada localizada em Hitzendorf na Áustria.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

40

4.15.3 Casa de fardos de palha portantes em Disentis na Suíça

Segundo Minke e Mahlke (2013) a casa se localiza nos Alpes Suíços. Foram medidas

experimentalmente antes da montagem da edificação e constatou-se que com cargas de 3 a 6

tonelas, os fardos de 74 cm são comprimidos de 7 cm. Para Minke e Mahke (2013), os fardos

foram rebocados com cal e cimento sobre uma engrenagem de metal; o edifício foi construído

sobre pilares de concreto por causa do declive do local de construção. A casa foi concluída em

2002 com uma área de 110 m². Na figura 22 é possível conhecer o exterior da edificação.

Figura 22 – Casa de fardos de palha em Disentis na Suíça.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.15.4 Aldeia infantil Salem na Rússia

Minke e Mahlke (2013) afirmam que essa edificação consiste de dez casas planejadas

para dez ou doze crianças órfãs. O edifício se baseia em uma planta octogonal econômica. A

edificação foi concluída no ano de 2003 com uma área de 270 m². Nas figuras 23 e 24 é

possível verificar a estrutura da edificação em construção e pronta.

41

Figura 23 – Construção de aldeia infantil Salem na Rússia.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Figura 24 – Aldeia infantil Salem na Rússia

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

42

4.15.5 Fazenda Trout na Califórnia, Estados Unidos.

Segundo Minke e Mahlke (2013), o conjunto da edificação compreende um estúdio de

desenho, uma oficina e um edifício residencial; toda a edificação levou um tempo médio de

oito anos para ser construída.

Uma parte da construção foi feita com fardos portantes e outra parte com fardos não

portantes; as paredes foram rebocadas com terra sem adição de pinturas. A obra foi construída

e concluída por partes; a oficina ficou pronta em 1996, o edifício residencial foi completado

em 1997 e o estúdio ficou pronto em 2002. As áreas da oficina, da residência e do estúdio são

de 327 m², 140 m² e 47 m², respectivamente (Figura 25).

Figura 25 – Fazenda Trout na Califórnia, Estados Unidos.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

43

4.15.6 Habitação em Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

“A estrutura (Figura 26) compreende paredes não portantes de fardos de palha com

estrutura primária de madeira” (Minke; Mahlke, 2013). A construção foi concluída no ano de

2001 e a área total da construção chegou a 220 m².

Figura 26 – Habitação em Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.15.7 Centro de meditação Vipassana na Austrália

Segundo Minke e Mahlke (2013), a edificação (Figura 27) é uma estrutura do tipo

portante de aço com painéis de fardos de palha rebocados com terra. O centro ficou pronto em

2002 e sua área alcançou os 450 m².

44

Figura 27 – Centro de meditação Vipassana na Austrália.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.15.8 Habitação no centro de Montreal no Canadá

“A casa consiste em uma estrutura de madeira com isolamento de palha em pisos e

paredes” (Minke; Mahlke, 2013). A estrutura foi rebocada com cal e cimento. A moradia

ficou pronta no ano de 1999 com uma área de 186 m². A figura 28 mostra a estrutura da

habitação em construção e a figura 29 mostra a construção já pronta.

45

Figura 28 – Construção da habitação no centro de Montreal, Canadá.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Figura 29 – Habitação em Montreal com acabamento.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

46

4.15.9 Estúdio de som em Forstmehren na Alemanha

Minke e Mahlke (2013) afirmam que o interior da edificação foi acabado com um

reboco de três camadas de terra que em alguns trechos foi misturada a aditivos com

finalidades específicas como a proteção contra o fogo; a “concha” consiste em fardos de palha

encaixados entre elementos estruturais de madeira. Os fardos foram montados verticalmente

formando uma camada isolante de 35 cm de espessura. A edificação tem 53 m² e foi

concluída no ano de 2003 (Figuras 30 e 31).

Figura 30 – Encaixamento dos fardos nas estruturas de madeira no estúdio.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

47

Figura 31 – Estúdio com acabamento.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

4.16 CONSTRUÇÕES COM FARDOS DE PALHA NO BRASIL

4.16.1 Protótipo de casa de baixo custo em Sentinela do Sul, Brasil.

No Brasil não se tem conhecimento de construções com fardos de palha por essa

prática não ser comum no país. Entretanto, em Sentinela do Sul foi construído um protótipo

de teste.

“Buscou-se adaptar uma planta de uma habitação típica da área, mas constituída em

sua totalidade com materiais naturais do lugar para provar assim seu baixo custo e alta

habitabilidade” (Minke; Mahlke, 2013). Ela foi construída no meio rural na cidade de

Camaquá no Rio Grande do Sul.

Existe uma estrutura portante exterior formada por eucaliptos tratados; as paredes

exteriores são formadas por fardos de palha de 35 cm de espessura apoiados em uma parede

dupla de tijolos de 60 cm de altura. Segundo os autores, o teto da edificação é do tipo verde e

de baixo custo que foi feito com terra e pasto do próprio lugar, protegendo a edificação do

48

calor do sol no verão e da perda de calor no inverno dos ambientes interiores. O protótipo

ficou pronto no ano de 2005 com 36 m² de área. A figura 32 ilustra a planta baixa do

protótipo. Já a figura 33 mostra a construção das paredes e a figura 34 mostra a edificação

pronta.

Figura 32– Ilustração da planta baixa do protótipo.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Figura 33– Construção das paredes.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

49

Figura 34– Protótipo pronto.

Fonte: Minke e Mahlke 2013.

Minke e Mahlke (2013) afirmam que a edificação foi concluída no ano de 2005, tendo

área habitável de 36 m².

50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como as técnicas construtivas ancestrais não foram alvo de desenvolvimento ao longo

dos anos, as construções em palha continuam associadas a técnicas construtivas simples que

passam pelo empilhamento dos fardos e por um revestimento de acabamento em argamassa,

em ambas as faces das paredes, que lhes confere um aspecto final idêntico a construções feitas

com outros processos construtivos. Isso torna a palha um material de qualidade para se

construir, embora com várias restrições como a impossibilidade de construir-se com vários

pavimentos ou no subsolo.

A utilização de materiais naturais e locais na construção ajuda a conservar energia e

recursos. Esses materiais possuem características que permitem a criação de edificações

confortáveis e eficientes energeticamente, de modo a economizar certas quantidades de

energia que seriam utilizadas em construções convencionais.

No Brasil, ainda são relativamente reduzidas às ações envolvendo pesquisas

acadêmicas sobre construções com palha, além de não terem sido identificados estudos sobre

construções com fardos de palha a não ser no campo acadêmico. Isso dificulta a divulgação e

a maior utilização de tecnologias, havendo, ainda, muita resistência à sua utilização.

Portanto considera-se importante o incentivo a estudos e pesquisas relativos à

construção com fardos de palha. Compreende-se que, dentro de uma visão de

sustentabilidade, a revitalização do uso da palha como material de construção seja de extrema

importância.

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