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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS GABRIELLY DA ROCHA FONSECA DE SOUZA Interações acolhedoras e não acolhedoras presentes no filme “Como estrelas na Terra: Toda criança é especial” sob a perspectiva da afetividade. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie SÃO PAULO 2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

GABRIELLY DA ROCHA FONSECA DE SOUZA

Interações acolhedoras e não acolhedoras presentes no filme “Como estrelas

na Terra: Toda criança é especial” sob a perspectiva da afetividade.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade

Presbiteriana Mackenzie

SÃO PAULO

2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

GABRIELLY DA ROCHA FONSECA DE SOUZA

Interações acolhedoras e não acolhedoras presentes no filme “Como estrelas

na Terra: Toda criança é especial” sob a perspectiva da afetividade.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Centro de Ciências

Biológicas e da Saúde na

Universidade Presbiteriana

Mackenzie como requisito parcial à

obtenção do grau de Licenciado em

Ciências Biológicas.

Orientador: Prof.º Dr. Adriano Monteiro de Castro

SÃO PAULO

2015

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Dedico esse trabalho as minhas

irmãs, Alexia e Maitê que todos os

dias me ensinam como ser uma

melhor irmã e o que é o amor.

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AGRADECIMENTOS

Quando estava no segundo ano do curso um homem sábio disse para

mim “Gaby, você vai tirar de letra essa faculdade”, bom, não foi tão fácil porque

o caminho foi árduo, mas hoje compreendo suas palavras de incentivo, muito

obrigada tio Douglas, você está na minha memória em cada momento difícil por

meio das suas palavras.

Durante o curso também tiveram professores que me incentivaram,

motivaram e estimularam desde o primeiro semestre, como os professores

Adriano, Rosana e Magda, assim como no decorrer do curso apareceram

outros que certamente ficarão em minha memória para sempre, cada um de

uma forma singular foram importantes para o meu desenvolvimento como

pessoa e futura docente, obrigada Débora Moura, Ana Paula Ferreira, Ana

Paula Pimentel, Bahia, Cássio e Fuzaro.

Professor Adriano, obrigada por ser um orientador que soube detectar

em duas simples frases o que gostaria de fazer como trabalho de conclusão de

curso e me orientar por um caminho cheio de descobertas, medos e desafios,

em todas nossas reuniões o senhor transmitiu a serenidade que necessitava.

Professora Rosana, muito obrigada por compartilhar o seu conhecimento

e não vou me esquecer das aulas de oficinas, durante essas aulas pude

exercitar a criatividade e imaginação.

Professora Magda muito obrigada, porque a senhora contribuiu muito

com esse trabalho de conclusão de curso nas suas aulas de Projetos

Educacionais para o Ensino de Ciências e Biologia quando escolhi como tema

para o meu relatório a afetividade, todas suas sugestões foram essenciais para

a construção desse trabalho e para o meu amadurecimento como pessoa.

Professoras Débora Moura e Ana Paula Ferreira é uma honra ter vocês

em minha banca, sou muito grata.

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Mas hoje só é possível agradecer aos meus mestres porque tive o apoio

dos meus familiares, da minha querida mãe Gildete (in memorian), do meu Pai

Alexandre e sua esposa Juliana, das minhas irmãs Alexia e Maitê, tia Alice, tio

Douglas, primo Matheus e meus avós Valdemar e Maria de Fátima, obrigada.

Agradeço também pelo apoio da minha segunda família Rosana, Felipe,

Rosina, Roseli e Celso que me apoiaram no momento mais difícil da minha

vida, sou eternamente grata.

E como não agradecer aos meus amigos que ao meu lado enfrentaram

os desafios que surgiram por meio de conselhos, conversas, apoio e resumos

dos semestres anteriores, Thais, Daniele Cardoso, Flávia Martins, Luiz Baran,

Marianna Manes, Mariana Aranha, Aline Zandoná, Alberto, Roberta Ganem,

Roberta Queli, Jessica Soria e Fernanda Guimarães, muito obrigada queridos

amigos.

E um agradecimento especial para Carolina Nakamura e Victória Oda

por me aguentarem nos meus momentos de angustia com o TCC, por

acreditarem que conseguiria chegar até o fim do trabalho e pelo inesquecível

dia do exame de triglicérides, obrigada meninas.

Obrigada Rômulo Almeida, meu namorado, por me apoiar

principalmente na reta final da entrega do meu TCC, você foi a força e a luz

que precisava.

Agradeço a todos que de forma direta ou indiretamente contribuíram

para que eu chegasse até aqui.

“Algumas pessoas marcam a nossa vida para sempre, umas porque nos

vão ajudando na construção, outras porque nos apresentam projetos de sonho

e outras ainda porque nos desafiam a construí-los”.

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RESUMO

Esse trabalho apresenta um breve estudo sobre as interações que

podem aparecer no meio social Escola. Serão abordados temas como a

valorização das diferenças, abordagem inclusiva e afetividade. Para analisar as

interações que podem ocorrem na escola foi escolhido o filme “Como estrelas

na Terra: Toda criança é especial” e a partir desse objeto de estudo foram

obtidos os dados que posteriormente foram classificados como interações

acolhedoras e não acolhedoras, os resultados permitiram exemplificar e discutir

o quanto o tipo de interação construída pode influenciar de forma significativa

na vida do indivíduo. Além disso, fica evidenciado o valor do filme analisado

para a promoção de reflexões sobre a temática da inclusão.

Palavras-chave: Interações – afetividade – Como estrelas na Terra:

Toda criança é especial – inclusão.

ABSTRACT

This paper presents a brief study of the interactions that may appear in

the social environment School. Topics will be addressed as the appreciation of

differences, inclusive approach and affection. To analyze the interactions that

may occur at school was chosen the film "Like Stars on Earth: Every child is

special" and from that object of study data were obtained that were later

classified as warm and not warm interactions, the results illustrate allowed and

discuss how the type of building interaction can have a significant impact on an

individual's life. In addition, it is evident the value of the film analyzed to promote

reflections on the theme of inclusion.

Keywords: Interactions - affection - As stars on earth : Every child is

special - inclusion.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - As categorias................................................................................. 16

Quadro 2 - Interações presentes na cena 01 ……………………………………17

Quadro 3 - Interações presentes na cena 02…………………………………….19

Quadro 4 - Interações presentes na cena 03 ……………………………………20

Quadro 5 - Interações presentes na cena 04 ……………………………………21

Quadro 6 - Interações presentes na cena 05 ……………………………………21

Quadro 7 - Interações presentes na cena 06 ……………………………………23

Quadro 8 - Interações presentes na cena 07 ……………………………………26

Quadro 9 - Interações presentes na cena 08 …………………………………....28

Quadro 10 - Interações presentes na cena 09 ………………………………..…30

Quadro 11 - Interações presentes na cena 10 …………………………………..30

Quadro 12 - Interações presentes na cena 11 …………………………………..32

Quadro 13 - Interações presentes na cena 12 …………………………………..32

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Folder do objeto de estudo…………………………………………...…14

Figura 2: Nikumbh observa os desenhos de Ishaan………………………….....23

Figura 3: Imagem da filmagem………………………………………………….....30

Figura 4: Imagem da filmagem…………………………………………………….30

Figura 5: Ishaan abraça o professor Nikumbh…………………………………...31

Figura 6: Imagem da contracapa do anuário……………………………………..32

Figura 7: Gráfico demonstrando a porcentagem de interações acolhedoras e

não acolhedoras……………………………………………………………………...33

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................2

2. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................3

2.1 As diferenças.............................................................................................3

2.2 Abordagem inclusiva nas escolas.............................................................5

2.3 A afetividade como facilitador da comunicação na sala de aula e fator de

inclusão e aprendizagem ....................................................................................7

3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................14

3.1O Objeto de estudo: “Como estrelas na terra: Toda criança

é especial ..........................................................................................................14

4. RESULTADOS..................................................................................................16

4.1 As categorias..........................................................................................16

4.2 As cenas Observadas.............................................................................17

5. DISCUSSÃO......................................................................................................34

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 39

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................40

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso é baseado na análise do

filme “Como estrelas na terra: Toda criança é especial”, que tem como tema

central a afetividade, aspecto de relevância para o processo de ensino e

aprendizagem quando o docente entende que por meio da afetividade é

possível desenvolver as relações sociais e a cognição.

A afetividade também pode ser como aspecto facilitador da inclusão de

um discente que apresenta alguma deficiência ou dificuldades na

aprendizagem, já que a afetividade proporciona o estabelecimento de uma

relação de proximidade entre o professor e aluno, entre alunos, assim como do

aluno com o seu objeto de estudo, podendo resultar em impactos positivos no

desenvolvimento da sua vida pessoal e social culminando na sua autonomia.

Portanto para compreender como a afetividade contribui no

desenvolvimento do indivíduo, o trabalho tem como objetivos: identificar as

interações acolhedoras e não acolhedoras presentes no filme, principalmente

entre professor-aluno; analisar como a afetividade pode colaborar para que as

interações se tornem acolhedoras, propiciando um ambiente que promova a

valorização das diferenças, inclusão e processo de aprendizagem; e avaliar o

potencial do filme para a mobilização de discussões sobre a educação

inclusiva.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. As diferenças

O que são diferenças? Ao consultar a definição no dicionário Michaelis

(online) entende-se por diferente: Que difere que não é semelhante, desigual,

alterado, mudado, modificado, variado e inexato. Já, para Amaral (1998), pode-

se referir a características como o tipo cabelo, preferências de cores e comida.

Entretanto, como lembra a autora, a diferença pode se basear critérios de

normalidade, por exemplo, para a estatística tudo que está acima ou abaixo da

média pode ser considerado diferente ou anormal. Adotando-se outro critério,

como estrutura ou funcionalidade de órgãos na espécie humana que tem

determinadas características, a presença de alterações são consideradas como

diferentes, anormais ou até mesmo como deficiências. Quando é usada a

comparação entre sujeitos como critério para estabelecer a diferença, surge a

ideia do tipo ideal: há, por exemplo, um tipo ideal de criança, de mulher, de

aluno etc. e quem foge desse tipo ideal é identificado como diferente.

O ideal é construído num contexto social tornando-se o desejo por

aqueles que o compartilha, por exemplo, se o ideal é

dominar determinados conteúdos de biologia em três anos do ensino médio e a

pessoa tem dificuldades, não alcança tal objetivo, é caracterizada como

diferente, porque a aproximação é a idealização e o afastamento é

caracterizado como diferença (AMARAL, 1998).

Quando se entra em contato com o diferente Farias et al. (2008)

observaram em seu estudo sobre a interação professor-aluno com autismo que

existe medo por parte dos professores por não saberem como atuar ao se

confrontarem com a possibilidade de não obterem respostas diante de uma

intervenção.

Em outro trabalho com o estudo de caso envolvendo a dislexia e suas

consequências sociais e emocionais, uma estudante foi acompanhada por um

período e foram observadas as situações de discriminação, tratamento

inadequado, negligência no apoio e humilhação, poucos são os professores

que sabem lidar com a situação, por isso existe a necessidade de

uma formação para a diferença (CARVALHAIS e SILVA, 2007).

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Amaral (1998) alerta que é necessário desconstruir a conotação

pejorativa das palavras diferente, divergente, desviante, anormal e deficiente, a

partir do reconhecimento de que existe normalidade e anormalidade, mas é

necessário problematizar os critérios que as definem e a partir desses

questionamentos pensar em algo inovador e não como pejorativo, mas como

expressão da diversidade da natureza e condição humana.

Para Xavier e Canen (2008), as diferenças não constituem

incompletudes ou defeitos, mas sim se caracterizam como uma pluralidade de

formas de ver, de ser e de estar no mundo. Entretanto quando as diferenças

não são vistas dessa forma na sociedade, pode se tornar um fator de

preconceito e contribuindo para exclusão.

O preconceito pelas diferenças em nossa sociedade é infelizmente

incrustado culturalmente, por exemplo, Moura (2013) cita o caso da sua filha

com Síndrome de Down, dizendo que seu nascimento foi marcado por

sofrimento, frustação, rejeição e desespero, porque na época as pessoas eram

desinformadas sobre o que era a Síndrome de Down e que as famílias com

pessoas “diferentes” eram escondidas, não tinham oportunidades e eram

tratadas como incapazes. Mas Moura (2013) teve uma postura divergente,

optou por dar as mesmas oportunidades que foram dadas ao filho mais velho,

embora com alguns facilitadores a fim de alcançar o mesmo objetivo do irmão.

Já que as mesmas oportunidades foram atribuídas a Débora (filha de

Moura), ela pode entrar em conflito com a sua própria diferença, aceitá-la,

enfrentar dificuldades e ultrapassa-las, o que a possibilitou criar sua própria

identidade e não ser estereotipada como mongol ou

mongolóide. Moura ressalta que durante a caminhada com a sua filha, o afeto

foi fundamental e o sentimento que permeou foi o amor:

.... Que jamais poderá ser o amor-coitado, o amor-caritativo, o amor-

superprotetor. Mas o amor genuíno que engloba um plexo de

fazeres que legitimam o educar, sempre sob a égide da ternura,

acreditando nas possibilidades desse filho ou aluno (MOURA, 2013,

p.49).

Transpondo a realidade de Débora para a área da educação, na sala

de aula, quando se desenvolve o respeito o mesmo que Moura (2013) teve por

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sua filha, as características e diferenças individuais com a intenção de tornar

seus alunos mais humanos e solidários, como consequência esses terão a

possibilidade de serem pessoas que compreendem como lidar com a diferença

de cada um e sem preconceitos (ZLUHAN; RAITZ, 2014). Ou seja, o ambiente

escolar tem que ter como perspectiva a produção de experiências escolares

que levem em consideração a singularidade dos indivíduos e as diferenças

concretas constituintes do ser humano (GARCIA, 2006).

O professor sob essa perspectiva não procurará eliminar as diferenças

em favor de falsa homogeneidade, ao contrário, estará atento à singularidade

que existe na sala de aula, promovendo o diálogo entre elas, contrapondo-as e

complementando-as, ou seja, incluindo e jamais excluindo (MANTOAN, 2013).

2.2Abordagem inclusiva nas escolas

A primeira reflexão que deveria ser feita é se a escola inclui ou

integra, porque existem diferenças entre incluir e integrar uma pessoa no

ambiente escolar regular. Na integração só ocorre à inserção parcial do aluno

na sala de aula, já na inclusão o aluno é inserido só que a escola é

transformada para atender as diferenças dos alunos com e sem deficiências

(MANTOAN, 2013).

Xavier e Canem (2008) caracterizam como deveria ser a inclusão e,

assim como Mantoam (2013), acreditam que incluir é mais do que o ingresso à

escola:

Dessa forma, incluir deve ser muito mais do que o acesso à educação. Incluir significa possibilidade de acesso, ingresso, permanência (...). A inclusão deve ser uma ação de garantia de direitos constitucionais e educacionais a todos os indivíduos, independentemente de sua origem, classe social, cultura, etnia, gênero, sexualidade, religião, características psicofísicas, etc (XAVIER CANEM, 2008, p.229).

Mattos (2012) diz que a inclusão em educação é aquela que valoriza

qualquer diferença, que olha o aluno como é, trazendo a sua cultura para sala

de aula, estimulando a criação de práticas, transpondo o conteúdo para torná-

lo crítico, reflexivo, criativo e garantindo a participação de todos.

Ao valorizar a participação de todos pode-se perceber que cada

indivíduo tem algo a contribuir, tem direito de estar presente, participar,

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colaborar trazendo algo único e ter as suas necessidades específicas

atendidas criando oportunidades de desenvolver habilidades (CARDOSO-

BUCKLEY, 2011).

Para Fleuri (2006), a valorização da inclusão busca:

Reconhecer o outro como produtor de significados, no sentido de acolhê-lo e compreendê-lo mediante múltiplas linguagens e estratégias relacionais responder-lhe de modo respeitoso e criativo, estabelecer laços de comunicação e de reciprocidade.

Em um ambiente educativo que ensina os alunos a valorizar a inclusão

e as diferenças pela convivência, pelo exemplo dos professores, pelo ensino

ministrado nas salas de aula, pelo clima socioafetivo das relações

estabelecidas em toda comunidade escolar, sem tensões, competições de

forma solidaria e participativa, escolas assim concebidas não excluem nenhum

aluno de suas classes, das atividades e do convívio escolar. São contextos

educacionais em que todos os alunos têm possibilidade de aprender,

frequentando uma mesma e única turma (MANTOAN, 2013).

Portanto, pode-se questionar o que é normalidade, diferenças e ir muito

mais além do estereótipo, dessa forma, o professor tem um papel fundamental

na inclusão e desenvolvimento de um discente que tem algum tipo de

deficiência ou dificuldade na aprendizagem, então, o docente para desenvolver

o seu aluno deve reconhecer o seu nível de desenvolvimento intelectual

proximal para conduzi-lo a estágios superiores (FARIAS; MARANHÃO;

CUNHA, 2008).

Luckesi (1998) aborda uma forma de reconhecer o nível no qual o

discente está, por meio da avaliação diagnóstica, porque o diagnóstico tem

como objetivo criar condições para obtenção de maior qualidade daquilo que se

esteja buscando ou construindo e também tem por objetivo a inclusão, então a

avaliação pode ser vista como um ato acolhedor.

Luckesi (1998) define acolhimento como:

O acolhimento integra, o julgamento afasta. Todos necessitamos do acolhimento por parte de nós mesmos e dos outros. Só quando acolhidos, nos curamos. O primeiro passo para a cura é a admissão da situação como ela é. Quando não nos acolhemos e/ou não somos acolhidos, gastamos nossa energia nos defendendo e, ao longo da existência, nos acostumamos às nossas defesas, transformando-as em nosso modo permanente de viver (LUCKESI, 1998, p. 172).

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Contudo, as escolas regulares detêm certa resistência quanto a essa

percepção de inclusão, Fávero (2013) fala que algumas instituições de ensino

interpretam de forma equivocada a lei 7.853 art. 8º que prevê como crime

punível com pena de reclusão condutas que vão contra o direito das pessoas

com deficiência à educação, deduzindo de forma que confirmem a intenção de

manter os estudantes com deficiência em ambientes segregados, por exemplo,

a escola especial atenderia ao direito do acesso à educação, já que as escolas

regulares são despreparadas, só que essa interpretação apenas mascara o

verdadeiro motivo, a resistência perante alunos com deficiência por

apresentarem diferenças, limitações físicas, sensórias ou intelectuais

significativas e esses necessitam de instrumentos e apoio que os demais

alunos não necessitam.

Enquanto as instituições de ensino regular compreendem que a escola

especial é a garantia do acesso à educação, Mantoan (2013) alerta que desde

a Constituição Federal de 1988 já compreendia que a escola especial ou

melhor “o atendimento educacional especializado” é a complementação à

formação dos alunos com deficiência.

Ou seja, deve ser oferecido uma escola comum a todos os alunos

porque a escola especial segrega, limita e exclui, entretanto, é necessário

garantir o atendimento educacional especializado paralelo e de preferência na

escola comum para que não sejam desconsideradas as especificidades dos

estudantes. (MANTOAN, 2013).

2.3 Afetividade como facilitador da comunicação na sala de aula

e fator de inclusão e aprendizagem

A afetividade é um recurso que defende as reflexões sobre as

desigualdades sociais, a diversidade, discriminação, assim como as condições

básicas de sobrevivência, dentre eles a educação, comprovando que as inter-

relações sociais interferem nas ações, reações e decisões que são vivenciadas

durante o cotidiano (MATTOS, 2012).

Dois autores se destacam quando o tema afetividade é abordado são

Wallon e Vygostky. Ambos consideram que a dimensão afetiva tem como

ênfase a construção da pessoa e do conhecimento e que a afetividade e a

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inteligência são inseparáveis na evolução psíquica, opondo-se à concepção

dualista (MATTOS, 2012).

Na concepção dualista, a razão e a emoção são reconhecidas como

dimensões independentes e muitas vezes a razão era entendida como superior

a emoção. Nessa compreensão, o homem é visto como um indivíduo que ora

pensa, ora sente. Com a ênfase no racionalismo as práticas educacionais

foram direcionadas para aspectos cognitivos dos conteúdos, mediados pela

razão e a afetividade ficando a parte no processo da educação e aprendizagem

(LEITE e GAZOLI, 2012).

A partir do século XVII, a concepção dualista passou a ser contestada,

mas só com o aparecimento de teorias filosóficas, sociológicas e psicológicas

centradas nas questões culturais possibilitaram o aparecimento da concepção

monista, cujas dimensões emoção e razão são entendidas como

indissociáveis, pois essas mantêm múltiplas relações, sendo assim não são

passíveis de serem analisadas separadamente (LEITE e GAZOLI, 2012).

Vasconcelos (2004) fala que quando o estudo do comportamento foi

considerado sujeito a princípios universais e que se admitiu a ciência

psicológica como possível, ainda prevalecia à divisão entre os aspectos razão

e emoção, pois muitos estudiosos diziam que para fazer ciência era necessário

medir separadamente os aspectos. O autor complementa dizendo que essa

cisão foi mantida intocável até o início do século XX, porque as teorias

empiristas e inatistas dominavam as discussões sobre o conhecimento,

pensamento, comportamento e sentimentos humanos, só que a empirista era

mais ligada aos aspectos da razão, enquanto a inatista da emoção. Após a

consolidação de teorias psicológicas como a Gestalt, a psicanálise, o

behaviorismo, a epistemologia genética, a psicologia cultural e a psicologia

sócio-histórica a discussão da relação entre a cognição e a afetividade

começou a surgir, mas mesmo assim algumas teorias ainda insistiam na

separação entre a cognição e a afetividade.

A emoção é apenas uma das manifestações da afetividade, se faz

necessário explicar que o termo afetividade é abrangente, englobando o

sentimento, paixão e emoção. As emoções constituem-se em reações

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instantâneas que se diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo, já o

sentimento e a paixão são manifestações que se tornam reguladoras ou

ativadoras dos fenômenos mentais (ALMEIDA, 2009). Para Amorim (2012) a

emoção é considerada como uma força que impulsiona as relações e o

desenvolvimento.

No ambiente educacional é inegável a influência da concepção

dualista, cujo desenvolvimento cognitivo é centrado na razão e os currículos e

programas desenvolvidos são direcionados no desenvolvimento da dimensão

racional-cognitiva (LEITE, 2012).

Alguns professores possuem essa concepção, então eles dividem o

aluno em duas metades, de acordo com Vasconcelos (2012) p.617:

É comum, ainda hoje, no âmbito escolar, o uso de uma concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse dualismo é um dos maiores mitos presentes na maioria das propostas educacionais da atualidade [...]. Acredita-se que apenas o pensamento leve o sujeito a atitudes racionais e inteligentes, cujo expoente máximo é o pensamento científico e lógico-matemático. Já os sentimentos, vistos como "coisas do coração", não levam ao conhecimento e podem provocar atitudes irracionais [...] Seguindo essa crença, as instituições educacionais caminharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se relaciona diretamente ao mérito intelectual.

Para romper essa cisão é necessário que o professor busque

referencias teóricos, tenha momentos de reflexão sobre sua prática e entenda

que a escola é um ambiente heterogêneo (ALMEIDA, 2009).

Quando o professor compreende que o ambiente escolar é

heterogêneo, consequentemente admite que existem diferenças entre os

alunos, talentos particulares e necessidades específicas que devem ser

consideradas e atendidas, com esse pensamento pode-se dizer que todos são

únicos, insubstituíveis, cada um com suas deficiências e necessidades

requerem reconhecimento e algum tipo de ação (CARDOSO-BUCKLEY, 2011).

Para acontecer esse reconhecimento é necessário que o professor

conheça o seu educando, assim como a sua família, saber o seu histórico de

vida com o objetivo de estabelecer um vínculo, portanto a afetividade é um

caminho para incluir qualquer estudante no ambiente escolar e que se torna

mediadora entre a aprendizagem e os relacionamentos desenvolvidos em sala

de aula, quando a diferença é compreendida como a especificidade de cada

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um facilita a permanência do educando na escola, porque ele compreende que

foi aceito, chegando a refletir na sua motivação e autoconfiança, fatores que

além de facilitarem a sua permanência vão facilitar a aprendizagem (MATTOS,

2012).

Em ambiente com a presença de heterogeneidade os conflitos podem

ser recorrentes, entretanto essenciais, porque são capazes de romper

estruturas prefixas, estimulando o desenvolvimento dos indivíduos na medida

em que forem ultrapassados com serenidade, equilíbrio entre a razão e

emoção (ALMEIDA, 2009).

Segundo Mizukami (1986) a abordagem tradicional do ensino tem

como características o professor ser o centro do processo de aprendizagem e

os alunos sendo ensinados através da transmissão do conhecimento, sendo

assim, a inteligência é medida por quanto o aluno é capaz de acumular

informações, resultando na reprodução do conhecimento adquirido. Neste

modelo a interação estabelecida entre educador e educando é vertical, nessa

relação o professor parece superior ao aluno. Porém quando o educador se

opõe a essa abordagem, passando para uma interação horizontal, suas ações

tendem a ter como finalidade a compreensão do seu aluno, enxergando a sua

especificidade na medida em que é estabelecida uma comunicação promove a

superação das dificuldades.

Mauri (2006) diz que nessa relação baseada na comunicação o

professor atua como mediador do processo da construção do conhecimento

entre o objeto de estudo e o estudante que aprenderá na medida em que entra

em contato com o objeto, isto é, os alunos têm papel ativo na sua

aprendizagem.

Araújo (1999) cita um exemplo envolvendo o conflito de respeito na

escola quando, um dia, conversando com os professores, um deles disse que o

maior problema da educação hoje é que os estudantes não respeitam seus

professores e as suas palavras receberam apoio da maioria de seus colegas. O

autor perguntou o porquê e sua resposta foi que no passado os alunos ouviam

os seus professores, obedeciam às suas ordens, antigamente era regra

aguardar o professor em pé em frente às carteiras até a entrada do professor e

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somente depois da sua autorização os alunos se sentavam, que isso era sinal

de respeito, mas que esse tipo de sinal havia desaparecido. Ao ouvir, lembrou-

se da sua época de estudante e que permanecia de pé, mas não por respeito

ao professor, e nos “bastidores” os alunos sempre planejavam vingança contra

o autoritarismo que eram submetidos. Após essa reflexão tinha a hipótese clara

que existia um conflito instalado, enquanto alguns professores achavam que os

alunos tinham por eles era respeito, na verdade sentiam medo e raiva.

O respeito, no contexto apresentado no parágrafo anterior, é a junção

de dois sentimentos, o amor e o temor, por exemplo, uma criança respeita seus

pais porque os ama e teme perder o seu amor ou sofrer uma punição. O que

acontece frequentemente é o respeito com sentido único, não existe

reciprocidade e quando esse tipo de respeito se estabelece o que prevalece é

o medo, então o aluno respeita o professor porque tem medo de alguma

punição, para transpor esse respeito unilateral, se faz necessário o mínimo de

afetividade ou haverá apenas obediência, enquanto o professor tiver

instrumentos de coação (ARAÚJO, 1999).

Em situações de conflito, a relação que é estabelecida entre professor

e aluno tem grande influência, por isso é crescente os trabalhos com o tema

afetividade, sendo um suporte necessário à atuação do professor (ALMEIDA,

2009). Um exemplo de trabalho é o da Silva (2011), que em seu trabalho de

conclusão de curso com o tema afetividade analisou interações afetivas na sala

de aula de dois filmes e um documentário, descreveu as cenas que continham

interações afetivas, analisou e identificou como marcadores afetivos. Cerca de

35 marcadores afetivos foram encontrados, para Silva (2011) marcadores

afetivos são atitudes, ações ou posturas que os professores possuem dentro

da sala de aula, por exemplo: valorização do aluno com palavras de incentivo,

conhecimento do meio sociocultural do discente, interesse pelo aluno,

indiferença dos professores, falta de apoio, supervalorização da infração,

entres outros.

Por isso quando professor tem clareza dos elementos que provocam

os conflitos dentro da sala de aula, terá também a possibilidade de controlar as

reações emocionais e consequentemente torna-se possível encontrar

caminhos para solucioná-los. E dependendo de como for usada a mediação

pedagógica, que também tem caráter afetivo, poderá resultar em um efeito

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positivo ou negativo na relação professor-aluno e com o conteúdo (LEITE,

2012).

O ambiente escolar deve ser acolhedor, e um dos fatores que

influenciam são as ações do professor (o professor inicia a aula

cumprimentando os alunos, faz a chamada ou vai direto para a lousa),

determinadas ações acarretam em um ambiente afetivo acolhedor ou não

acolhedor, o afeto do professor pode significar até a continuação da

permanência do aluno na escola, para isso o docente deve ter clareza sobre o

que é emoção, como funciona para poder administrá-la em si e no outro

(ALMEIDA, 2009). Segundo Souza (2011), a emoção permite a construção dos

conhecimentos sobre o mundo do início da vida até a construção da

personalidade, ideia do eu.

Outro ponto fundamental é a concepção teórica da abordagem de

aprendizagem que o professor conheça, esse aspecto afetará a forma como

será tratado o conteúdo dentro da sala de aula, mostra como serão as relações

que vão ocorrer no ambiente escolar, quando essa é bem escolhida as

chances de aprendizado e a aproximação afetiva positiva com o conteúdo

ensinado aumentam e dependendo da atividade proposta é possível identificar

relações interpessoais entre alunos e alunos, professores e alunos (LEITE,

2012). Por exemplo, na abordagem Construtivista existe não só a preocupação

do que ensinar, mas também de que forma ensinar, então as relações

desenvolvidas entre professores e alunos são intensificadas e os aspectos

afetivos e a comunicação tornam-se parte do processo de construção do

conhecimento.

De acordo com Almeida (2009 p. 104):

O indivíduo, como um ser geneticamente social, necessita, sem dúvida, do outro para se delimitar como pessoa. Nessa trajetória de extensão de si, tudo o que lhe é estranho representa, potencialmente, uma oportunidade para expressão e realização individual.

Ou seja, o meio social é fundamental para construção do eu, imaginar

a construção do indivíduo fora do meio social, é o mesmo que dizer que a

escola e a família são irrelevantes. A família é o primeiro grupo social de uma

criança, cujas primeiras posturas sociais são aprendidas (ALMEIDA, 2009).

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Por isso, a relação que é estabelecida entre professor e aluno é

importante para a construção do indivíduo, seja na forma de chamar a atenção

do aluno para dar limites a uma determinada situação ou até em uma conversa

que aproxima o professor do seu aluno, nessas situações o aluno se sente

valorizado porque o professor está enxergando as suas especificidades e os

estudantes percebem quando o professor é interessado e compromissado com

o seu trabalho (LEITE, 2005).

Uma das formas do aluno sentir-se valorizado acontece quando o

professor demonstra que confia na capacidade de seu aluno, que ao ensinar

está promovendo o desenvolvimento do estudante e o seu também

(MAHONEY; ALMEIDA, 2005).

Então, a escola permite interações diversas e também proporciona

situações e experiências essenciais para a construção do indivíduo como

pessoa. Almeida (2009) diz que por meio das experiências com o mundo

social, especificamente eu-outro, que o organismo vai elaborando um aspecto

que nos caracterizam como humanos, o aspecto afetivo, e não apenas no nível

interpessoal, mas também em relação à cultura.

Portanto a afetividade, pelo seu caráter social, torna-se um elemento

essencial para o desenvolvimento do indivíduo e possibilita também o

desenvolvimento da cognição já que muitos conhecimentos são adquiridos

culturalmente, ou seja, todos os dias algo é aprendido, então a afetividade e a

razão se complementam, a primeira dando suporte de ação para segunda que

possibilita a identificação dos desejos, sentimentos, então quando o professor

estabelece vínculo de afeto conhece seu aluno, o inclui e facilita o processo de

aprendizagem.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho apresenta uma análise das interações acolhedoras

e não acolhedoras negativas existentes no filme “Como estrelas na Terra: Toda

criança é especial” que mostra a vida de um estudante chamado Ishaan e as

intervenções de um educador. A obra foi selecionada a partir de uma lista de

filmes que retratam o cotidiano de um ambiente escolar, sendo que o critério

para escolha foi embasado nas interações e como essas contribuíram no

processo da aprendizagem do personagem principal.

A partir do filme foi feita a coleta de dados a seleção de cenas que

contemplam o primeiro objetivo específico, a identificação das interações

acolhedoras e não acolhedora, que foram transcritas a partir das falas e ações

dos personagens.

Posteriormente essas interações foram analisadas com base no

referencial teórico adotado para esse trabalho, ressaltando a importância da

afetividade nas interações desenvolvidas em sala de aula.

3.1 O Objeto de estudo: “Como estrelas na terra: Todas as

crianças são especiais”

Objeto de estudo é o filme “Como estrelas na terra: Todas as crianças

são especiais” (FIGURA 1).

FIGURA 1: Folder do objeto de estudo. Fonte: Website Taare zameen par (2015).

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Título original: Taare Zameen Par: Every child is special

País de Origem: Índia

Gênero: Drama

Tempo de duração: 165 minutos

Data de lançamento:

Cinema: 21 de dezembro de 2007

DVD: 25 de julho de 2008

Direção: Aamir Khan

Sinopse retirada do site Taare Zameenpar (2015):

Ishaan Awasthi é uma criança de oito anos de idade, cujo mundo está

cheio de maravilhas que ninguém mais parece apreciar; cores, peixes, cães e

papagaios parecem não ser importantes no mundo dos adultos, que estão

muito mais interessados em coisas como trabalhos de casa, marcas e asseio.

E Ishaan não consegue fazer nada direito em sala de aula.

E assim, ele entra em muito mais problemas do que os pais podem

lidar, e é enviado para um colégio interno para 'ser disciplinado ". As coisas não

são diferentes em sua nova escola, e Ishaan tem de lidar com o trauma

adicional a separação de sua família.

Um dia, um novo professor de arte entre em cena, Ram Shankar

Nikumbh, que contagia os alunos com alegria e otimismo. Ele quebra todas as

regras de "como as coisas são feitas", pedindo-lhes para pensar, sonhar e

imaginar, e todas as crianças respondem com entusiasmo, todos, exceto

Ishaan. Nikumbh logo percebe que Ishaan não está feliz de estar na escola, e

define a descobrir porquê. Com o tempo, paciência e cuidado, ajuda Ishaan

encontrar a si mesmo.

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4. RESULTADOS

Os resultados serão apresentados em dois momentos, o primeiro é

composto pela transcrição de cenas destacadas do filme e posteriormente

essas foram categorizadas em interações acolhedoras e não acolhedoras

(FIGURA 2).

4.1 As categorias:

QUADRO 1: As interações

INTERAÇÕES

ACOLHEDORAS NÃO ACOLHEDORAS

Atenção Interação entre professor – aluno

Displicência durante a aula

Interação entre aluno – objeto de estudo

Experiência para evitar o conflito

Interação entre professor – aluno

Conflito Interação entre professor – aluno

Demonstração de carinho

Interação entre professor – aluno

Inexperiência para evitar o conflito

Interação entre professor – aluno

Interesse Interação entre professor – aluno

Falta de apoio Interação entre Escola – aluno.

Valorização Interação entre professor – aluno

Desvalorização Interação entre professor – aluno. Interação entre diretor - professor

Incentivo à autonomia

Interação entre professor – aluno

Desrespeito Interação entre professor – aluno

Agradecimentos Interação entre professor – aluno

Autoritarismo Interação entre professor – aluno

Elogios Interação entre aluno – professor

Desmotivação Interação entre aluno – objeto de estudo

Conflito Interação aluno – objeto de estudo

Preconceito Interação entre professor – aluno

Desconfiança Interação entre professor – aluno

Exclusão Interação entre professor – aluno.

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4.2 Cenas observadas:

Cena 1: Tentativa de leitura do Ishaan (22’’26’”)

Ishaan está observando pela janela uma poça d’ água.

Professora: Vão para página 38, capítulo 4, parágrafo 3, vamos

assinalar adjetivos hoje. Isso serve para você também, Ishaan Awasthi, página

38, capítulo 4, parágrafo 3. Posso ter um minuto de sua atenção, Ishaan?

Ishaan! Eu disse página 38, capítulo 4, parágrafo 3, leia a primeira sentença e

destaque os adjetivos, página 38, Ishaan. Adit Lamba, ajude ele.

Ishaan tenta ler, mas não consegue.

Professora: Ok, vamos marcá-los juntos, apenas leia para mim. Apenas

leia a frase, Ishaan.

Ishaan: Elas.... Estão dançando

Todos na sala riem

Professora: Ah, estão dançando?

Ishaan faz um gesto com a cabeça afirmando que sim.

Professora: Ok, então leia as letras dançarinas, engraçadinho, né?

Então Ishaan começa a ler baixo e a professora diz: -Leia Alto e bom

som!

Ishaan começa a ler alto e balbuciando palavras incompreensíveis, os

colegas riem e a professora diz: Já chega! Pare com isso! Sai da sala, fora!

QUADRO 2- Interações presentes na cena 01

Interações não acolhedoras Refere-se a:

Displicência durante a aula Ação de observar a poça d’água pela

janela.

Conflito Dificuldade na leitura pelo estudante.

Inexperiência para evitar o conflito A docente não soube lidar com a

dificuldade do seu aluno.

Exclusão Ação de retirar o estudante da sala de

aula.

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Cena 02: Reunião com os pais (43’’55’’’)

Professora A: Não há melhora nas atividades em sala nem do dever de

casa, ele continua no mesmo patamar que estava ano passado. Os livros ainda

são seus inimigos, ler e escrever são como castigos para ele, as vezes sua

escrita em inglês parece russo, repete o mesmo erro de propósito, nunca

presta atenção às aulas!

Professora B: O tempo todo pedindo licença para ir ao banheiro, “Estou

com sede”, “Quero ir ao banheiro”, atormenta a turma toda com suas

brincadeiras bobas. Vocês devem ter visto suas provas, não é mesmo? Zero

em todas as matérias.

Mãe do Ishaan: Você mandou as provas?

Professora A: Quarta passada para os pais assinarem e as deles

nunca retornaram.

Professora B: As provas foram enviadas para senhora Awasthi, na

verdade enviei junto uma carta solicitando uma reunião

Professora A: Veja essa prova três vezes nove igual a três e isso é

tudo, não respondeu nenhuma outra questão, ninguém vai acreditar que ele é

irmão de Yohan.

Diretora: Senhor Awasthi...

Pai do Ishaan: Sim?

Diretora: Esse é o segundo ano de seu filho na terceira série, desse

jeito não poderemos mais ajudá-lo, talvez ele tenha um problema.

Pai do Ishaan: O que você quer dizer?

Diretora: Talvez ele… Algumas crianças têm menos sorte, para eles

existem escolas especiais.

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QUADRO 3 - Interações presentes na cena 02

Interações não acolhedoras Refere-se a:

Inexperiência para lidar o com

conflito

Ações das professoras e diretora

Falta de apoio Ao corpo docente e administrativo

Desvalorização Quando aconteceu a comparação

entre Rajan e Ishaan.

Exclusão Recomendação de uma escola

especial.

Cena 03: Interpretação de poesia (57’’40’’’)

Professor: O tema hoje é interpretação de poesia, página 28,

“Perspectiva”, Rajan Damodaran você vai recitar o poema e Ishaan

Nandkishore Awasthi vai interpretá-lo certo? Vá em frente Rajan.

Rajan: “Perspectiva

Quando olho de cima

Você é um pedaço de céu cheio de nuvens

Até aparecer um elefante sedento,

Ou meus amigos pularem,

Talvez uma buzina de bicicleta,

Um pedregulho ou dois...

Até a bengala de um cego serve.

Então, a imagem se dissipa, e você

Torna-se nosso rio outra vez."

Professor: Excelente! Agora explique o significado do poema

Ishaan: Bem, eu acho que… O que não vemos não sentimos, mas as

vezes o que na verdade não é e o que não vemos na verdade é. Quero dizer…

Professor: O que são todos esses “é”? “Não é”? Minu Patel, explique.

Minu Patel: O poeta diz que quando vê o rio, vê o céu refletido, usando

diferentes objetos ele destrói o reflexo e percebe então que é um rio.

Professor: Muito bem! Sente-se Minu Patel.

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No final da aula Rajan fala para Ishaan: Você explicou o verdadeiro significado

do poema, os outros apenas repetem o que ele diz. O senhor Tiwari é muito

exigente. Lembre-se do que ele diz e imite-o.

QUADRO 4 - Interações presentes na cena 03

Interações não acolhedoras Refere-se a:

Desconfiança Desconfiança da capacidade de

interpretação.

Desrespeito Interrupção exercida pelo professor

Desvalorização A rejeição da explicação feita pelo

Ishaan.

Cena 04: Aula de artes (1’00’’49’’’)

Professor: Crianças abram o caderno de desenho e peguem seus

lápis. Sem régua, copiem as figuras, as linhas devem estar perfeitamente retas

ou levarão cinco palmatórias.

Ishaan olhava pela janela e o professor percebe e faz um ponto na

lousa com o giz, depois joga em Ishaan o giz e diz:

Professor: Ei novato, olha a lousa e nos diga, onde fiz o ponto? Mostre-

nos.

Ishaan observa a lousa e não responde.

Professor: Por que me olha com esses olhos de sapo? Onde fiz o

ponto? Mostre-nos!

Ishaan: Não consigo vê-lo.

Professor Não consegue? Styajit Bhatkal...

Styajit Bhatkal: Sim, senhor?

Professor: Venha aqui e mostre onde está o ponto

Styajit Bhatkal levanta e mostra a onde está o ponto.

Professor: Agora vê? Venha aqui, rápido! Cinco palmatórias para ver

se presta atenção, mostre a mão, feche o punho.

E o professor dá as cinco palmatórias.

Professor: Agora volte a estudar, quero formas perfeitas, se não mais

cinco palmatórias na outra mão, vá!

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QUADRO 5 - Interações presentes na cena 04

Interações não acolhedoras Refere-se a:

Displicência durante a aula Ação de olhar pela janela

Autoritarismo Ação das cinco palmatórias.

Cena 05: Novo professor de artes (1’11’’13’’’)

Um novo professor de artes entra na sala de aula cantando e tocando

flauta. Depois o professor passa a lição do dia que é desenhar e um aluno

levanta a mão e diz: “O que devemos pintar, senhor? Não há nada na mesa. ”

Professor: Nessa mesa? Essa mesa é pequena demais perto da sua

imaginação, olhe em sua mente, pegue uma imagem e cole-a no papel.

Divirtam-se, agora estão livres!

E durante a atividade o professor percebe que Ishaan não está

desenhando e diz “Perdido em algum lugar meu amigo? Procurando

inspiração? Sem problema, não temos pressa” e faz um carinho na cabeça de

Ishaan.

QUADRO 6 - Interações presentes na cena 05

Interações

acolhedoras

Refere-se a: Interações não

acolhedoras

Refere-se a:

Atenção Observação por

parte do

professor que um

aluno não está

desenhando

Desmotivação A atitude de não

desenhar

Experiência para

evitar o conflito

Atitude de espera

do professor.

Demonstração de

carinho

Ação do carinho

na cabeça de

Ishaan.

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Cena 06: Na sala dos professores (1’23’’09’’’)

Professor A: Por que está colocando isso aí?

Professor de artes novo (Nikumbh): É o dever de sala das crianças.

Professor A: E daí? Holkar nunca usou esse espaço, é destinado a

livros.

Nikumbh: Então onde guardo isso?

Professor A: Devolva aos garotos, para que iriam servir mesmo?

Professor B: Mas que bagunça estão fazendo em sua aula, Nikumbh,

parece uma feira.

Nikumbh: Eles são crianças, é natural, se não expressarem suas

emoções numa aula de arte aonde expressarão?

Professor B: Pode ser, mas vá com calma. O diretor gosta de

disciplina.

Professor C: É verdade que você cantou e tocou flauta?

Nikumbh: Sim, cantei e toquei flauta, se as crianças estão felizes, eu

estou feliz.

Professor A: Mas nossos estudantes não são como aqueles

Nikumbh: O que quer dizer?

Professor A: Bom, você dá aula no colégio Tulipa para crianças

anormais e retardados não é mesmo? Lá faça todos os seus experimentos,

afinal que diferença faz? Eles não têm futuro mesmo.

Professor B: Sério Nikumbh, essa é uma escola formal, seu estilo de

cantar e dançar não funciona aqui. Aqui preparamos as crianças para a batalha

da vida, crianças têm de competir, fazer sucesso, vencer!

Professor A: O lema da nossa escola é Ordem, Disciplina e Trabalho.

Os três pilares do sucesso, fundação de uma educação completa.

Nikumbh levanta da cadeira que está sentado e faz o gesto que Hitler

fazia e diz algo em alemão.

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QUADRO 7 - Interações presentes na cena 06

Interações não acolhedoras Refere-se a:

Preconceito Forma pejorativa da professora com

os alunos do colégio Tulipa.

Desconfiança Desconfiança da capacidade dos

alunos do colégio Tulipa.

Cena 07: Nikumbh vai até a casa dos pais de Ishaan (1’36’’42’’’)

Mãe: Sim?

Professor: Olá, me chamo Ram Shankar Nikumbh, dou aula no colégio

Nova era

Mãe: Entre.

Professor: Por acaso são livros da terceira série?

Mãe: Sim

Professor: Quem fez isso?

Mãe: Ishaan

Professor: Ishaan gosta de pintar?

Mãe: Sim, ele adora.

E o professor começa a ver os desenhos de Ishaan (FIGUARA 2)

FIGURA 2: Nikumbh observa os desenhos de Ishaan. Fonte: website Taare zameen par

(2015).

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Professor: Por que o mandaram para longe? Por que?

Pai: Não havia opção. Ano passado ele repetiu a terceira série, dá para

acreditar nisso? E não houveram sinais de melhora. Meu filho mais velho é o

primeiro em todas as matérias, mas Ishaan.

Professor: O que você pensa ser o problema?

Pai: Atitude, o que mais? Perante aos estudos e todo o resto, sempre

ardiloso, difícil e desobediente.

Professor: Quero saber o problema, não os sintomas. Você diz que ele

tem uma febre, isso eu já sei, quero saber o porquê, qual é a causa?

Pai: Por que não conta? Vá em frente.

Professor: Vocês notaram um padrão que se repete no que ele faz?

Mesmos erros que ele repete?

Pai: Padrão? Que padrão? São apenas erros sempre

Professor: Então não perceberam. Veja, b no lugar de d e d no lugar de

b, ele confunde letras similares, s e r invertidos como muitas outras, veja… h e

t, imagens refletidas. Animal, três grafias distintas na mesma página, então não

significa que ele aprendeu a escrever errado. E aqui, ele mistura palavras com

grafia parecidas, como anda e nada, sólido vira “soiledo”, e por que? É burro?

Preguiçoso? Não, na minha opinião ele tem dificuldade em reconhecer as

letras, quando você lê maça sua mente conjura a imagem de uma maça,

Ishaan não consegue ler a palavra, portanto não entende o significado, para

alguém conseguir ler e escrever é essencial relacionar sons e símbolos, saber

o significado das palavras. Ishaan não consegue atender à essa necessidade

básica.

Pai: Besteira, são desculpas para não estudar.

Nesse momento o professor se levanta e pega uma caixa que tem

frases em chinês e diz:

Professor: Por favor, leia isso.

Pai: E como eu poderia? Está em chinês.

Professor: Vamos, concentre-se!

Pai: Que absurdo, como eu conseguiria ler isso?

Professor: Você está sendo insolente! Sua atitude é errada, você está

se comportando mal. A mesma prerrogativa de Ishaan para não conseguir

entender as palavras. Essa dificuldade em ler e escrever se chama dislexia, as

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vezes as crianças podem ter problemas adicionais como dificuldade em seguir

múltiplas ordens. Vá para página 65, capítulo 9, parágrafo 4, linha 2 ou

coordenação mecânica ruim ou péssima. Ishaan tem dificuldade de abotoar a

camisa, amarrar os sapatos?

Mãe: Sim

Professor: Se você lançar uma bola ele consegue pegar?

Irmão: Ele nunca consegue.

Professor: Porque ele não consegue relacionar o tamanho, velocidade

e distância. Qual é o tamanho da bola? A distância? A que velocidade viaja?

Quando consegue já é tarde demais. Pense, uma criança de oito ou nove anos

que não consegue ler ou escrever, não consegue fazer coisas simples, falha

em tarefas que crianças da mesma idade fazem sem esforço, imaginem o que

ele está passando. Sua autoconfiança deve estar destruída, escondendo suas

inabilidades atrás de mal comportamento, foi assim que enfrentou o mundo,

deve ter criado uma rebelião aqui. Por que admitir “não consigo” ao invés de

“não quero”? Nada diferente de um adulto, mas até a sua rebelião foi destruída,

lá naquele lugar, sinto em dizer, ele parou até de pintar. É muito triste.

Mãe: Mas por que o Ishaan?

Professor: Não há resposta para tal, pode acontecer com qualquer um,

as vezes é genético, simplificando, seria um problema na fiação do cérebro.

Pai: Então você quer dizer que meu filho é anormal? Retardado

mental?

Professor: Você é um homem esquisito! Veja isso (nesse momento o

professor aponta para os desenhos de Ishaan) é uma mente afiada com

imaginação viva, muito mais talentosa que eu e você.

Pai: E o que ganharia com isso?

Professor: E porque busca ganhos?

Pai: O que mais eu deveria buscar? O que vai ser dele? Como vai

competir? Terei de alimentá-lo a vida toda?

Professor: Eu sei, lá fora há um mundo cruel e competitivo em que

todos querem criar vencedores, todos querem ser o melhor, medicina,

engenharia, administração, menos que isso não serve. 95.5, 95.6, 95.7, menos

que isso é sacrilégio, correto? Pelo amor de Deus, pense cada criança tem

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capacidades e habilidades únicas, mas não, todos preferem apontar o dedo e

julgar, vá em frente, mesmo que o dedo se quebre.

QUADRO 8 - Interações presentes na cena 07

Interações acolhedoras Refere-se a:

Interesse Ação do professor de ir até a casa dos

pais de Ishaan.

Valorização Valorizar as capacidades e habilidades

individuais.

Cena 08: Contando história na sala (1’49’’06’’’)

Professor: Amigos, hoje irei contar a história de um garoto.

“Era uma vez um garoto, não me pergunte de onde, que não sabia ler

ou escrever, mesmo tentando muito, ele não conseguia lembrar que o B vem

depois do A para fechar. As palavras então se tornaram suas inimigas,

dançavam como formigas, assustando-o e atormentando-o, os estudos

causavam terror. Mas quem compartilhava de sua dor? Seu cérebro estava

cheio, nada fazia sentido no meio, o alfabeto dançava em devaneio. Certo dia,

o pobre garoto falhou, mas sua coragem ninguém arrancava e um dia ele

achou ouro. O mundo ficou maravilhoso com a teoria que ele contou, podem

adivinhar quem ele era? ”

Nesse momento Ishaan fica apreensivo e então o professor mostra a

foto e um aluno grita: “Albert Einstein”.

Professor: Correto Rajan, Albert Einstein, um grande cientista, o

homem que sacudiu o mundo com sua teoria da relatividade, movimento

Browniano, o efeito fotoelétrico, pelo qual recebeu o prêmio Nobel em 1921,

agora o que é isso?

E o professor mostra a foto de um Helicóptero.

Alunos: Helicóptero.

Professor: Não é qualquer helicóptero, o grande cientista e inventor

Leonardo Da Vinci, quem?

Alunos: Leonardo Da Vinci.

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Professor: Sim. Ele inventou isso aqui, um esboço de um helicóptero,

sabem quando? No século XV, 400 anos antes do primeiro avião levantar voo.

Mas Leonardo Da Vinci tinha dificuldades em ler e escrever, ele escrevia mais

ou menos assim ...

E o professor escreve na lousa: “Meu nome é Ram Shankar Nikumbh”

(só que escreve o nome invertido)

Professor: Conseguem ler?

Alunos: Não

E posteriormente coloca um espelho do lado

Professor: E agora?

Todos os alunos conseguem ler e depois batem as palmas

Professor: Ishaan, acenda a luz, por favor? Quem acendeu o mundo

com eletricidade?

Ishaan: Thomas Alva Edison.

Professor: Correto Ishaan, muito bem, o coitado também não

conseguia entender o alfabeto. Sente-se, deixe a luz acesa. Vamos celebrar o

brilho de Edison.

Ishaan passa pelo professor e recebe um carinho na cabeça.

Professor: Ok, todos conhecem esse sujeito (mostra a foto de um

homem)

Alunos: Abhishek Bachchan!

Professor: Quando criança, ele achava difícil ler e escrever, agora ele é

o cara!

Nesse instante Ishaan começa a sorrir.

Professor: E tem mais Pablo Picasso, famoso pintor cubista nunca

conseguiu entender o número 7, dizia que era o nariz do tio de ponta cabeça,

quem é o pai de Mickey Mouse?

Aluno: Walt Disney

Professor: Correto. Walt Disney, perturbado com as letras, deu vida

aos desenhos animados, Neif Diamond, cantor famoso afagou sua vergonha

em suas canções. Agatha Christie, famosa escritora de mistérios, imaginem

uma escritora que não conseguia escrever quando criança? Mas por que,

assim de repente estou contando-lhes isso? Para mostrar que entre nós

existem essas pedras preciosas que desafiaram os caminhos do mundo, pois

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podiam olhá-los com olhos diferentes, seu pensamento era distinto e nem

todos os entendiam, eles enfrentaram oposição e ainda assim eles venceram e

o mundo ficou maravilhado. Vamos dedicar a aula de hoje à esses famosos

prodígios, vamos lembrar deles e ir lá fora criar algo diferente com o que quer

que possam encontrar, pedras, palitos, galhos, lixo, vamos ao lago!

Os alunos saem correndo da sala de aula, mas o professor chama

Ishaan e diz:

Professor: Sabia que há um nome que eu não disse, talvez porque ele

não é assim tão famoso, mas o seu problema é igual, seu nome é Ram

Shankar Nikumbh e quando criança ele também teve problemas de

aprendizado, meu pai nunca me entendeu, pensava que eu estava sendo

travesso, criando desculpas para não estudar, ele havia me rotulado, o que

pode um idiota, um tonto conseguir? E bem, aqui estou, vamos?

QUADRO 9 - Interações presentes na cena 08

Interações acolhedoras Refere-se a:

Conflito O comportamento apreensivo de

Ishaan

Valorização A valorização das habilidades

Cena 09: Nikumbh conversa com o diretor (1’59’’20’’’):

Diretor: Sim Nikumbh, entre.

Professor: Senhor preciso falar com você sobre um aluno, Ishaan

Awasthi, terceiro D, aluno novo.

Diretor: Ah, já sei, outros professores também reclamaram, não acho

que ele vá durar o ano.

Professor: Não senhor, ele é um garoto brilhante, apenas tem um

problema com a leitura e escrita, você deve ter ouvido falar de dislexia?

Diretor: Você facilitou minha vida, estava me perguntando o que diria

ao seu pai, ele foi indicado por um conhecido, então uma escola especial é o

seu lugar.

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Professor: Não senhor, ele é uma criança com inteligência acima da

média, ele tem todo direito de estar numa escola normal, tudo o que precisa é

de nossa ajuda e no mundo todas as crianças, não importa o problema que

tenham, estudam juntas. Na verdade, até meus alunos do Tulipa têm direito à

estar em qualquer escola, estou apenas repetindo o que diz a lei do nosso páis,

a lei “Educação para todos” lhes dá esse direito, o problema é que poucas

escolas a seguem.

Diretor: Diga-me como esse garoto poderá se virar aqui? Matemática,

história, geografia, ciências, idiomas!

Professor: Ele conseguirá com ajuda dos professores

Diretor: E como eles teriam tempo para tal? Atender um numa classe

de quarenta? Isso é impossível Nikumbh.

Professor: Senhor, não é tão difícil assim, duas a três horas por

semana, eu me disponibilizo, além do mais ele apenas precisa passar nessas

matérias, suas habilidades estão em outro ramo.

Diretor: Então todas as matérias que ensinamos exceto a sua são

inúteis?

Professor: Não senhor, mas toda criança tem seu talento, Oscar Wil diz

“Quem quer um cínico que sabe o preço de tudo e não conhece o valor de

nada? ” Senhor, por favor olhe as pinturas do garoto. A descrição de uma

batalha de 1087, um soldado cava uma trincheira e escapa, uma concepção

maravilhosa, pinceladas seguras, uso incrível das cores, sem medo! E veja

senhor, um “flip-book” único com a história de sua separação, que criatividade

para oito anos de idade, poucos dentre nós conseguem enxergar fora da

moldura, por favor senhor, tudo o que ele precisa é uma chance ou se perderá!

Diretor: O que você quer de mim?

Professor: Por enquanto deixemos que sua letra e sua ortografia sejam

ignoradas e que ele seja testado oralmente, conhecimento é conhecimento,

escrito ou oralmente, enquanto isso trabalharei com sua leitura e escrita,

gradualmente ele terá melhoras.

Diretor: Espero não causarmos dano permanente com os conselhos de

um professor temporário.

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QUADRO 10 - Interações presentes na cena 09.

Interações

acolhedoras

Refere-se a: Interações não

acolhedoras

Refere-se a:

Interesse A ação do professor

de ir conversar com

o diretor

Exclusão Quando o diretor

diz que já tem uma

desculpa para o pai

de Ishaan

Valorização A ação de elogiar

Ishaan para o

diretor.

Desconfiança A desconfiança do

diretor para com o

professor

Cena 10: As horas extras com Ishaan (2’03’’22’’’)

No decorrer dessa cena o professor tem diversas ações (figura 3) com

Ishaan, a primeira delas é mostrar a ele um dos seus cadernos, depois exercita

a grafia e coordenação motora por meio da sensibilidade com uma caixa de

areia, pintura em papel, massinha de modelar, na lousa, jogos no computador

(figura 4), exercita a matemática nos degraus do colégio e a interpretação

através de obras de pintores e leitura.

FIGURA 3 (à esquerda) imagem da filmagem mostrando as ações do professor como pintura no papel, letras feitas com massinha de modelar e a caixa de areia. FIGURA 4 (à direita) imagem da filmagem com a ação por meio dos jogos no computador. Fonte: website taare zameen par (2015).

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QUADRO 11 - Interações presentes na cena 10

Interações acolhedoras Refere-se a:

Incentivo à autonomia Ações exercidas pelo professor com

Ishaan.

Cena 11: A competição de desenho (2’27’’16’’’)

Anúncio do vencedor:

Diretor: Que venham os resultados do concurso, nossa convidada

Senhorita Lalitha Lajmi esteve em apuros, presa no dilema entre duas pinturas,

foi um empate, ela disse que ambas deviam ser consideradas como a “melhor

pintura da Feira de Artes”, mas isso não é possível, pois a pintura vencedora

estará na capa do anuário do colégio e não podemos ter duas capas, então o

que fazer? Senhorita Lajmi estava com problemas, mas depois de muito pensar

ela chegou à uma conclusão e escolheu o discípulo ao invés do mestre, sim

pessoal o Senhor Nikumbh foi derrotado e o aluno que o derrotou foi o pequeno

de nove anos de idade Ishaan Nandkishore Awasthi do terceiro D.

Ao anunciar seu nome, Ishaan parece não acreditar, posteriormente

Ishaan dá um abraço em seu professor Nikumbh (figura 5).

FIGURA 5: Ishaan abraça o professor Nikumbh. Fonte: (EN)CENA (2015).

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QUADRO12 - Interações presentes na cena 11

Interações acolhedoras Refere-se a:

Valorização Ao reconhecimento das habilidades de

Ishaan.

Agradecimento Ao abraço.

Cena 12: Os pais de Ishaan vão até a escola verificar o seu

progresso (2’31’’34’’’)

Os pais de Ishaan vão à escola verificar suas notas e das mãos do

diretor recebe o anuário do colégio contendo a pintura de Ishaan na capa e na

contracapa está a pintura com o rosto de Ishaan feita pelo professor Nikumbh

(figura 6). Depois vão conversar com os professores de gramática e

matemática que relatam o progresso de Ishaan em matemática, gramática,

dizem que é um artista com perspectiva única, um verdadeiro achado,

brilhante, os pais agradecem, entretanto, os professores disseram para

agradecer ao professor Nikumbh, dizendo que ele era o grande responsável.

FIGURA 6: Imagem da contracapa do anuário. Fonte: website Taare Zameen Par

(2015).

QUADRO 13 - Interações presentes na cena 12

Interações acolhedoras Refere-se a:

Valorização O reconhecimento do trabalho exercido

pelo professor Nikumbh

Elogios Elogios dos professores

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Total de cenas observadas: 12.

Total de interações observadas: 32 interações, sendo que 18 foram

consideradas como interações não acolhedoras e 14 foram classificadas como

acolhedoras, ou seja, 44% acolhedoras e 56% não acolhedoras. (Figura 7).

Figura 7: Gráfico demonstrando a porcentagem de interações acolhedoras e não acolhedoras presente nas 12 cenas observadas.

Nas cenas foram observadas 19 interações distintas, sendo que 8 foram

consideradas como acolhedoras e 10 como não acolhedoras e uma interação,

conflito, se repete em ambas categorias, isso porque essa interação pode ser

acolhedora quando ocorre internamente e promove o autoconhecimento e não

acolhedora quando, por exemplo, o educador não consegue contornar as

dificuldades enfrentadas dentro da sala de aula.

A maioria das interações apareceram uma ou duas vezes, entretanto

algumas se destacaram, na interação acolhedora foi a valorização que foi

observada cinco vezes e na interação não acolhedora foi a exclusão que

apareceu três vezes.

14, 44%

18, 56%

Interações

Acolhedoras

Não acolhedoras

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5. DISCUSSÃO

Em todas as cenas observadas foi possível identificar interações entre

professor e estudante, professor e professor, educadores e familiares,

demonstrando que a escola tem caráter social e essas interações dentro do

mundo social Escola proporcionam experiências para a construção da

personalidade do indivíduo e das relações que esse exercerá com os outros,

como Almeida (2009) relata.

Na convivência com outras pessoas é inevitável que não sejam

observadas e vivenciadas situações de conflito, essas que podem ter caráter

acolhedor ou não acolhedor, por exemplo, nas cenas 01, 02 e 09 aconteceu a

interação conflito. Nas cenas 01 e 02 os conflitos foram classificados como não

acolhedores porque em ambas as cenas as professoras parecem demonstrar

inexperiência para lidar com a situação e evitar o conflito.

Na cena 1Ishaan está olhando pela janela uma poça d’água em vez de

prestar a atenção na aula de gramática, esse momento pode ser classificado

como displicência durante a aula e a professora ao perceber chamou sua

atenção e ordenou que realizasse a leitura de um texto, porém Ishaan

apresentou dificuldades em compreender o que a educadora solicitava e no

decorrer da leitura. Nessa situação a professora achou que Ishaan estaria

sendo desobediente e “engraçadinho”, o que a motivou ter a ação de tirá-lo da

sala de aula, ou seja, excluiu Ishaan e permitiu que o conflito fosse instalado.

Na cena 02 houve também a inexperiência para mediar o conflito por

parte das professoras de Inglês e matemática que, ao conversarem com os

pais, apenas souberam reclamar e dizer que Ishaan era um mau aluno, em

nenhum momento foi observada a tentativa pelas educadoras saber o porquê

do Ishaan apresentar tanta dificuldade. Outra interação não acolhedora

presente nessa cena é a desvalorização do Ishaan quando uma das

professoras o compara com o seu irmão mais velho, ao dizer que “Nem parece

irmão Yohan”, revelando duas concepções que a educadora compartilha, a

primeira é do aluno ideal (o que tem boas notas) e a segunda é a falta de

compreensão que todos são diferentes, portanto cada um tem o seu tempo de

aprendizagem. Foi possível observar que a diretora da mesma forma

compartilha dessas concepções quando faz a sugestão ao pais de colocá-lo

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em uma escola especial, expondo a falta de apoio pelo corpo docente e

administrativo, nessa situação a diretora preferiu se eximir da responsabilidade,

excluindo da escola em vez de Incluí-lo.

Na cena 09 foi observado também um conflito, entretanto categorizado

como positivo em razão de ocorrer internamente no Ishaan quando reconheceu

as suas dificuldades em pessoas famosas como Albert Einstein, Leonardo da

Vinci, Thomas Alva Edison, Walt Disney, Agatha Christie e no seu próprio

professor não tão famoso Ram Shankar Nikumbh, portanto Ishaan percebeu

que essas pessoas mesmo com as suas dificuldades se tornaram brilhantes.

Esse conflito interno e a ação do professor foram importantes para despertar

Ishaan do seu estado quase “letárgico” em sala de aula, possibilitando o

primeiro passo para a aceitação e compreensão da sua diferença, assim como

Débora, filha de Moura (2008) teve a oportunidade, ou seja, nesse caso o

professor parece exercer o mesmo papel de Moura (2008), mediador do

processo de descoberta e aceitação.

Quando não se sabe lidar ou respeitar o diferente, a interação não

acolhedora preconceito fica mais aparente, Moura (2008) disse que o

preconceito pelas diferenças na nossa sociedade é incrustado culturalmente

podendo levar a exclusão, essa percepção foi observada na cena 06 quando

um dos educadores na sala dos professores fez a afirmação “Bom, você dá

aula no colégio Tulipa para crianças anormais e retardados não é mesmo? Lá

faça todos os seus experimentos, afinal que diferença faz? Eles não têm futuro

mesmo. ”

Outras interações não acolhedoras apareceram no filme como

demonstração da desconfiança da capacidade nas cenas 03, 06 e 10. Na cena

03 verificou-se a desconfiança da capacidade do aluno porque Ishaan ao tentar

explicar o poema, foi interrompido por seu professor e ainda solicitou para que

outro aluno interpretasse, nesse caso o educador desrespeitou o seu tempo e o

desvalorizou ao chamar outro aluno para interpretar. Quando Rajam aconselha

Ishaan imitar e repetir a fala do professor, parece revelar a perspectiva sobre a

aprendizagem que esse educador detém, a tradicional, na qual, segundo

Mizukami (1986) o professor é o centro do processo da aprendizagem, no qual

os alunos são instruídos e ensinados por meio da transmissão do

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conhecimento ou seja, a inteligência é caracterizada por quanto o aluno é

capaz de acumular informações e o produto desse processo normalmente é a

reprodução do conhecimento adquirido ou como Rajam disse a repetição/

imitação. Outra característica que pode ser evidenciada no ensino Tradicional é

o uso do autoritarismo, utilizada pelo professor na cena 04 quando Ishaan não

consegue mostrar o ponto na lousa e leva cinco palmatórias em sua mão.

Na cena 06 além do fator preconceito ficar evidente na fala do

professor, a demonstração da desconfiança da capacidade também foi

mostrada ao dizer que eles (alunos do colégio Tulipa) não tem futuro, já na

cena 10 o diretor diz ao professor Nikumbh “Espero não causarmos dano

permanente com os conselhos de um professor temporário”, nessa afirmação

também parece ter a desconfiança da capacidade do diretor para com o

professor.

Quase todas as interações citadas anteriormente têm posições não

acolhedoras porque podem culminar na incapacidade da percepção por parte

do professor de que seu aluno apresenta dificuldades na aprendizagem, assim

como pode criar um ambiente desagradável e até mesmo a exclusão de um

aluno que é diferente dos outros, mesmo que esse esteja presente em sala de

aula.

No caso do Ishaan no filme “Como estrelas na Terra: Toda criança é

especial” a causa da sua dificuldade de aprendizagem não foi vista pela escola

e nem por seus familiares que apenas desconfiavam da sua capacidade, não

compreendiam a sua displicência durante a aula. Com a inexperiência para

lidar com a situação (conflito), a ferramenta mais utilizada era o autoritarismo,

entretanto opondo-se a essa ferramenta existe a afetividade, essa quando é

exercida possibilita o desenvolvimento do indivíduo e sua cognição, porque a

dimensão afetiva tem como ênfase a construção da pessoa e do conhecimento

(MATTOS, 2012), no caso do Ishaan no momento em que um professor novo

de artes chamado Ram Shankar Nikumbh surge é notável que suas ações

resultaram na mudança da forma como Ishaan se enxergava e comportava.

Na cena 05 o professor parece ser atencioso ao perceber que Ishaan

não está desenhando e demonstra capacidade para lidar com a situação

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quando diz “não existe problema, não tenha pressa”, ação distinta dos outros

professores que o pressionava, no entanto Ishaan não foi contagiado por

nenhuma das ações exercidas pelo educador, indicando desmotivação naquele

instante para desenhar. O ato de observar possibilita reconhecer o seu aluno

(cena 07) e quando Nikumbh foi até a casa de Ishaan demonstrou interesse

pelo aluno, aspecto afetivo importante para conhecer seu educando e sua

história, segundo Mattos (2012) o reconhecimento sucede quando o professor

conhece o seu aluno e sua família com o objetivo de estabelecer um vínculo,

no entanto que só nessa cena Nikumbh faz a descoberta da paixão de Ishaan

pelo desenho, até então não demonstrado em suas aulas.

Nessa cena é possível dizer que tanto os familiares como o professor

descobriram mais sobre o Ishaan, o professor desmitificou que Ishaan era

desinteressado e desobediente (desvalorização) ao falar que a sua dificuldade

em ler e escrever seria a dislexia, assim como foi possível perceber que os pais

desconheciam a dislexia ao questionar o professor dizendo que seu filho seria

anormal, retardo mental, como iria competir, entretanto a sua resposta revelam

suas concepções ao dizer “cada criança tem capacidades e habilidades únicas”

(valorização), evidenciando o que Amaral (1998) disse que a diferença pode

ser algo inovador e não pejorativo, mas sim expressão da diversidade da

natureza e condição humana.

A partir do reconhecimento, Nikumbh começa a realizar suas ações,

primeiro demonstra em uma aula para seus alunos, cena 08, que todos os

indivíduos são diferentes, pois apresentam talentos e habilidades distintas, ou

seja, nessa cena o professor estava fazendo uma reflexão sobre as diferenças

e dificuldades superadas, valorizando-as pela convivência com os seus pares,

sem competições ou tensões (MANTOAN, 2013). Ao valorizar as diferenças e

dificuldades superadas, Ishaan começa a despertar, se reconhecer em seu

próprio professor e enxergar novas perspectivas.

Na cena 09 o professor novamente demonstrou interesse por seu aluno

e seu futuro na conversa com o diretor pedindo a permissão para estudar com

Ishaan e o valorizou ao defendê-lo quando disse que era uma criança com

inteligência acima da média e tinha direito de estar em uma escola regular,

essa ação do professor coibiu a atitude de exclusão que o diretor pensou em

efetivar.

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Na cena 10 o professor demonstra incentivo à autonomia do seu

estudante nas diferentes ações nas horas extras como: auxilio na grafia e

ortografia ao mostrar seu caderno, parecia desenvolver a sua coordenação

motora e sensibilidade quando escreveu as letras em uma caixa com areia,

pintura em papel, massinha de modelar, na lousa, no caderno e jogos no

computador, também desenvolveu a leitura e a interpretação conhecendo as

obras de pintores.

A consequência do desenvolvimento do Ishaan pode ser vista nas

cenas 11 e 12. Na cena 11 verificaram-se duas interações acolhedoras, a

valorização das habilidades do Ishaan quando o diretor diz que o discípulo

superou o mestre e na cena 12 quando os professores fazem elogios sobre sua

habilidade e perspectiva única. Nessas cenas também foram demonstrados o

agradecimento e a valorização pelo trabalho do professor, primeiro quando

Ishaan emocionado vai ao encontro de Nikumbh e o abraça, transparecendo

ser uma ação de agradecimento e reconhecimento do seu trabalho, e na cena

12 volta a repetir as mesmas interações acolhedora quando os professores

reconhecem Nikumbh como o verdadeiro responsável pelo progresso do

Ishaan.

Portanto das 33 interações observadas nas cenas, cerca de 45% foram

não acolhedoras, sendo que a primeira interação acolhedora aconteceu após o

surgimento do professor Nikumbh, sua presença modificou o cenário que até

então era cheio de desvalorização, desmotivação e exclusão e passou a ser

um cenário de atitudes de inclusão, valorização das diferenças e habilidades e

a busca pela autonomia, demonstrando que as ações e atitudes que o

educador exerce em seu aluno refletem no seu comportamento, reações,

autoestima e aprendizagem.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho tem como intenções identificar as interações acolhedoras

e não acolhedoras presentes no filme, principalmente entre professor-aluno;

analisar como afetividade pode colaborar para que as interações se tornem

acolhedoras, propiciando um ambiente que promova a valorização das

diferenças, inclusão e processo de aprendizagem e avaliar o potencial do filme

para a mobilização de discussões sobre a educação inclusiva.

A primeira intenção foi alcançada através da análise das cenas

observadas do filme “Como estrelas na Terra: Toda criança é especial” e

quando as interações foram identificadas como interações acolhedoras e não

acolhedoras permitiu analisar como a afetividade contribui para a criação de

um ambiente que promove a valorização das diferenças, inclusão e processo

de aprendizagem.

Ao analisar como a afetividade contribuía para promoção de um

ambiente com valorização das diferenças, inclusão e processo de

aprendizagem foi possível detectar que as atitudes e ações do educador com

seu aluno refletem em diversos aspectos como no seu comportamento,

autoestima e aprendizagem, essas ações ou atitudes quando foram

identificadas como acolhedoras tinham caráter afetivo porque tiveram a

intenção de conhecer o seu educando, de aproximação, ou seja, criar um

vínculo para tomada de ações que auxiliaram no desenvolvimento do indivíduo

e na sua inclusão; e quando as ações eram identificadas como não

acolhedoras o ambiente se tornava hostil que favorecia a rejeição pelas

especificidades, a desvalorização da relação professor-aluno e a exclusão.

Portanto o filme “Como estrelas na Terra: Toda criança é especial” pode

ser considerado um instrumento que estimula a discussão e reflexão sobre

diversos temas como valorização das diferenças, preconceitos, relação

professor-aluno e principalmente a inclusão, por isso esse filme poderia ser

utilizado no ensino superior de licenciaturas e projetos de formação continuada.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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