UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA DANIELLE GAYA MEN...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA DANIELLE GAYA MEN 1M BRUSCATO JOVENS E ADULTOS NO PROCESSO DE EN SINO- APRENDIZAGEM: QUEM SAO E 0 QUE PENSAM DO CURSO QUE FREQUENTAM CURITIBA 2003

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANADANIELLE GAYA MEN 1M BRUSCATO

JOVENS E ADULTOS NO PROCESSO DE EN SINO- APRENDIZAGEM:

QUEM SAO E 0 QUE PENSAM DO CURSO QUE FREQUENTAM

CURITIBA

2003

DANIELLE GAYA MENIM BRUSCATO

JOVENS E ADUL TOS NO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM:

QUEM SAO E 0 QUE PENSAM DO CURSO QUE FREQOENTAM

Trabalho de conclusao de cursoapresentado peln aluno DanielleGeya Menim BrusCC!lto comorequisito parcial para a conclw:liaodo wrso de Pedegogia.

Orientadora Prof RostlngelaCristina Guidelli

CURITIBA

2003

llNI\TRSIDADE TI illiT! 00 PAR\i\AFACl!LOADE DE CIENCIAS IWi\JANAS, LETRAS E ARTES

CLlnSO DE PEI)AGOGIA

TERJv!O DE APROVA~AO

NOME DO AL N : Danielle Gayn Menim Bruscnto

TiTIJLO: .Jonns c adultus no proccsso dl.' cnsino-aprcndiz:lgtm: quem s:to c 0 qu('p<"IlS:l1lI do CUI'SO que frt"quentnm

TRABALI-IO DE CONCLU, AO DE CUR 0 APROVADO COMO REQUISITO PARCIAL

PARA A OBTENcAO D GRAU DE LlCENCIADO EM PEDAGOGIA. CURSO DE

PEDAGOGIA DA FACULDADE DE CIEN 'lAS HUMANAS. LETRAS E ARTES. DA

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA.

ROS DA COMISSAo AVALIADORA\ <-." ck C ·;';tll.

Pit .lo Ro ng~!l Cristina GUI:lelhORIENTADORA

PROF' M1~.nllQPnsqunl ttMEMBR DA BANCA

7i:-..-:~.:"~-.,;>"PRQP-MnrinJ.,mlc· co Vilas Boa LeflerMEMBRO OA BANeA

OAT": 18111/2003.

MEOlA: _S,-,-,O::.... __

CURITIBA-I'ARANA2003

c...,~•••II4>o.•"i.I"""~"",,: 1to.i.>""""c;""'\,i •••Ro"a"l~",", ~"'. !\.o"tool~·C:H·t:lo:ll(j·nc· r "f. ,(!1"l11 "{>')I''''0; ill, )'1 ~~i~

C~"'l••.•E.Uo»'"j..•"."", ew.. ~"";Si,.., .••.".·I-t.v.)"4'-8loo<.<";I\.~ (Pt:"1"_141(\.f"-.:1.\)l&t1l1'~IF •••I~I\'/ ••'~:"II'II""Ct.o"..".._o, R.>.\h~C;M"'f.-'tJ~1I1, ~-hl~ •.•••·eE/>t'3J'~BO· r"'".:(~ltUlltl1lIF,u. (II/ I)11j.\IC-,"","~,I_\."t. ,.~"t{lC.,l~.~"'."t.t£I'"'I:!!I'l·)<J.iI·r "":t.\)313~SH;r~.·(.ll'1J~1.ue.mf""'!>oo."'" .~.E"If' ,,"-d~.h,," lB-""'t"·C~JOlOtle-~!Iti-f~.\~I)'!:;;.$J.4IFIP (1Ill.! "'10M.......,~""io..l•••""f· r",h ••DefoOV-I4...,:Jft.dtc-.II •••.7!<l·nl"Jinh,· E"!'8l!I'.•~:rttI-..,•••••(IT)))ll,,}lIF,,"_ (~I)-J-'"1'- Ic.m~". I " ••••.•~~.!J,F,;t<1" l!IIQ·J"-..:I~,IWI"'''' -!;E""'lj.OOQ-r...-..: li'I'!'("J.4~\lf_. E~l,~ll ,1;'1",r.I:.,-~, ••.•.•_t"JAil

itos IIU!Wiji{hos lUafhellS e Lorelli.o. nomell t!sposo Alt!..nmdr~. pe{os momellfmi!wblmldos de IWl"SO("(JIlril'io (! (I lodosilqu/!{es qlle dt! n{gllm(l formacOlllribulram pam a relltrzar1io deJlcIrllballlO.

Agrat/~cil1lt!mmi

A pl'(~rc.\'s()ra Rnsol/g..:/a CriXfinll (illit/elli, pl.'ln lIpoio, sugC.~fO('S, pacif:lIcia c ami::adc.

RESUMO

Considerando a necessidade de cursos de Educac;ao de Jovens e Adultos

(EJA). se toma fundamental conhecer a popula<;ijo atendida por essa modalidade

de ensina. Dessa forma, 0 presente estudo busca verificar quem sao e 0 que

pensam os alunos que freqOentam a educa~o de jovens e adultos de tres escolas

da rede municipal de Curitiba, PR. Para tanto, a autera recorre a teoda pertinente

ao assunto e II coleta de dados por meio de entrevistas com 40 alunos.

as resultados evidenciam que 0 grupo de alunos estudado e bastante

caracteristico da clientela deste tipo de ensina e apresenta uma visao de eseela

que revela sentimentos variados, entre aS mais marcantes 0 de crescimento

pessoal e profissional.

Palavras- chave: 1. jovens e adultos 2. analfabetismo 3. educa<;ijo de jovens e

adultos

SUMARIO

INTRODUCAO 7

1 A EDUCACAO DE JOVENS E ADUL TOS: ALGUNS ASPECTOS CONCEITUAIS,HISTORICOS ELEGAIS 9

2 0 ANALFABETISMO E 0 INDIViDUO ANALFABETO 15

METODOLOGIA DA PESQUISA 21

4 QUEM SAO E 0 QUE PENSAM OS ALUNOS 22

CONCLUSAO 28

REFERENCIAS 30

ANEXOS 33

INTRODU<;;AO

Para apresentar a proposta deste trabalho, e fundamental explicitar quem eo jovem e 0 adulto a que este se refere.

E 0 indi'liduo que frequenta CUr$O:5 de educa91to de jovens e adultas com a propOsito deobler mais uma vez, ou aquele que esta tendo II oportunidade de abler pela primeira vez,conhecimentoSi bilsicos numa sociedade oa qual 0 dominic da Jeilura, da escrita e docalculo eiementar escrito se torna, a cada die que pas!oa, condicao minima para 0 trabalhoe para a vida colidiana (GUIDElU,1996 p.11).

Assim, e 0 indivfduo que nao teve oportunidades educacionais em idade propria

au que a teve de forma insuficiente, nao logrando alfabetizar-se e abter

conhecimentos basicos correspondente as quatro primeiras series do ensina

fundamental.

Todo cidadao precise conhecer e explorar sues potencialidades de forma a

tornar-s9 atuante em sociedade, zelando por seus direitos e fazendo-os valero

Sendo assim, todo processo formativo deve ser embasado pelo saber escolar, 0

saber que vern do cotidiano e pelo conhecimento constante.

Freire (1987, p.88), assim escreveu:

( ... ) ~ educay!o libertllldora e uma das coisas que devemos fazer ;Unto com outras coisas,para transformar a realidade. Devemos e•.••ilar que flOS interpretem como sa esti •.••essemospen5ando que deveriamos primeiro educar as pesseas para serem Ii•.••res, para depoispodermoslransformar a 5OCie<:lade.( ... )

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE,

1999), 13,3% da populac;ao brasileira e composta por pessoas analfabetas.

incomoda, poram, saber que a educayao destinada a esta populac;ao nao tern

recebido a atenc;ao que mereee.

E e•.••idenle que a 5OIuyao efeti •.••a pora a supera(fAo do analfabetismo nao se restringe aexistencia de cursos para jovemi e adullos. Para diminuir as indices de anolfabetismo, ouffiesmo superC\-lo, • neces.saria que 0 pais tome medidas bastanle amplas. uma vez quees.la questao esta relacionada tanto com a efeti •.••a democratizayAo das oportumdadessociais quanta com tI uni •.••Ol'$a!iza~o e qualidade da educ:ayao infantil (GUIDELU, 1996,p.11)

Entretanto, entende-se que os cursos de educayao de jovens e adultos devem

ser implementados porque representam para a populst;ao analfabeta a (mica

oportunidade de realizar a sua escolarizac;ao.

Nesta perspectiva, a ampliayao da olerta de Educa9ao de Jovens e

Adultos, assim como 0 conhecimento sobre quem e esse indivfduo se torn a

imprescindivel. Assim, a pbjetivo deste trabalho e verificar e refletir sabre quem

sao e 0 que pensam da eseela que freqOentam jovens e adultos inseridos

tardiamente no processo de ensino·aprendizagem.

Este estudo justifies-se, portanto, pela necessidade crescente dos

educadores assumirem a tarefa de buscar urn ensina mais eficiente e condizentecom as alunos participantes nesta modalidade de ensina.

No primeiro capftulo -Educa9Bo de jovens e adultos: alguns aspectos

hist6ricos e legais·, procurou-se situar, ainda que de maneira breve, quest6es

hist6ricas e politicas pelas quais essa modalidade de ensino passou e quais Icram

as transformayaes ocorridas ao lango do tempo.

No segundo capitulo ·0 analfabetismo e a individuo analfabeto·, objetivou-

se conhecer 0 individuo participante da Educayao de Jovens e Adultos (EJA),

quais suas aspiray{>es, difieuldades e como este ve a processo de ensina-

aprendizagem pelo qual passa.

o terceiro capitulo, descreve a metodologia utilizada para a elaborayao da

pesquisa.

o capitulo quarto -Quem sao e 0 que pensam os alunos· apresenta os

resultados da pesquisa. Encerra-se a trabalha com algumas considerac;6es aearca

dos resultados obtidos.

1. EDUCACAO DE JOVENS E ADUL TOS: ALGUNS ASPECTOS HISTORICOS

E LEGAlS

Eo importante deixar claro 0 que se entende por Educa9ao de Jovens e

Adultos no presente trabalho: a educayao escolar destinada aqueles que nae

tiveram oportunidades educacionais em idade propria ou que a tiveram de forma

insuficiente, nao logrando alfabetizar-se e abler conhedmentos basicos

correspondentes as series iniciais do ensina fundamental.

A90es educativas com jovens e adultos no Brasil t~m suas origens no inicio

da colonizBt;ao portuguesa ao lado e atraves da educaty8.o elementar infantiL Os

jesuitas encarregactos, pela Coroa Portuguesa, de promover 0 ensina para as

crian9Bs indigenas, pretendiam influenciar indiretamente seus pais, a tim de

reeduca-Ios e conquista-Ios. Mas, apesar do analfabetismo nascer junto com 0Brasil, ainda hoje 0 pais tem milhiies de analfabetos.

A educayao de pessoas jovens e adultas no Brasil vern sendo reconhecida

como um direito, principal mente a partir da decada de 40, 50 e 60 . Com a criayao

do servi9Q de Educa9fio de Adullas do Ministerio da Educa9fio e Saude, em 1947,

foi elaborado um plano nacional de educa9fio supletiva para adolescentes e

adullos analfabetos 0 que resullou na Campanha de Adolescentes e Adullos

(CEAA). Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de educa9fio Rural (CNER) .

Em 1958 surge a Campanha Nacional de Erradica9fio do Analfabetismo (CNA),

em 1962 e 63 0 governo federal lan9Qu dois programas para a educa9fio de

adullos: a Mobiliza9fio Nacional Contra 0 Analfabetismo (MNCA) e 0 Programa de

Emerg/mcia (GUIDELlI, 1996)

Em mar9Q de 1963, tadas as campanhas foram extintas em fun9fio da

descentraliza9fio estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases, sancionada em

dezembro de 1961.

A partir de entao 0 governo federal devena participar apenas oferecendo

cooperayao financeira, assistencia tecnica aos programas e estabelecer os

objetivos gerais.

10

Em 1958, 0 "II Congresso Nacional de Educa.,ao de Adultos' tornoU-S8 urn

marco na area, pois reveiou a variedade de posit;:Oes ideologicas dos participantes

sobre reavalia.,ao, teorizac;ilo e metodologia para a EJA

La estava Paulo Freire, cuja biografia se confunde com a historia da

Educa.,ao brasileira, apresentando seu relatorio •A Educa.,ao de Adultos e as

Popula9Oes Marginais: 0 Problema dos Mocambos". Neste, Freire defendia e

propunha que a educa9Bo viesse estimular a colaborayAo, a tamada de

consciencia social e politica, para uma participac;ao critica dos sujeitos em sua

malidade.

Atrav8S de Paulo Freire, acontece uma mudan98 no paradigma te6rico

pedag6gico sobre a EJA: a introdu.,ao da Educac;ilo Popular enfraquece a visao

do adulto analfabeto como inca paz e marginal.

Retomando, no Congresso de 1958, surge a ideia de um programa

permanente de enfrentamento do problema da alrabetiza~o que desencadeou no

Plano Nacional de Alfabetizac;ilo de Adultos, dirigido par Paulo Freire. A educa.,ao

de Adultos era entendida a partir de uma visao das causas do analfabetismo.

Ap6s pouces meses de funcionamento, 0 Plano foi extinto peto Golpe Militar de

1964.

A partir do golpe de 1964, as experiencias e discussees sabre EJA, muitas

delas inspiradas na teoria de Freire sao freadas. Inicia-se uma epoca de

estagnayao, quando quatquer iniciativa, principal mente nas areas sociais, ebtoqueada por ser considerada uma "ameac;:a" ao grupo no poder. Urna das a90es

da ditadura foi proibir a uliliza9ao das propostas de Freire.

Durante os dois primeiros anos de governo militar, a educa~o de adultos edeixada de lado pelo Ministerio de Educagao e Cultura (MEC). Somente com

presseo internacional, exercida pela Organiza9Bo das Na90es Unidas para a

Educagao, a Ciencia e a Cultura (UNESCO), e que sao retomadas a90es nesta

area. Os criterios poHtico-ideologicos estavam orientados, principalmente, para a

formayao de mao-de-obra qualificada, 0 que demonstrava 0 privilegio aos crih9rios

econ6micos da a~o. AIEHn dis so, a alfabetizac;:ao passa a ser estrategica neste

II

momento, pois sua orienta9BO servia it despolitizac;ao, suavizando provaveis

conflitos.

No dia 15 de dezembro de 1967 e criado 0 Movimento Brasileiro deAlfabetiza"ao (MOBRAL).

Nessa epoca 0 Brasil vi ••.i. a perspecliv:l econ6rnica do desenvo/vimento; 0 enalfabelismo,portanto, deveri., SOl' errBdicado urns vez que ••falta de esco[2W"izac;Ao do polIO era urn desgrandes obstaculo ao progresso do pais. Anim, a educa~o dos jovens e dos adultosiletrados deveria voltar -se para as necessidades presentes e futuras de mAo de obra comurn minimo de escolariZB4;8o. Surgiam, ainda, novas lecnologias nas atividades induslril!lis,comerciais e n3 construy:io civil; a for~ de trabalho apenas br3t;a1, portanlo, js nao erasuficienle (GUIDElU, 1996, P 22.)

Urna Dutra questao que deve ser observada e que a ditadura militsr

regulamentou 0 en sino supletivo atraves da lei de reforma do ensino de 12 e 22

graus de 1971, a Lei n. 5692, a qual dedica todo 0 capitulo IV ao Ensino Supletivo,

trazendo ao mesmo uma conota~o mais ampla. Ate entao 0 ensino supletivo

abrangia a educa9Bo basica de jovens e adultos e os exames de madureza. Nao

existia uma articula9Bo rna is sistematica entre as experiencias de educa9~o de

jovens e adultos com 0 ensino de 12 e 22 graus. A partir da citada Lei, 0 ensino

supletivo passou a ser organizado em quatro func;6es basicas: Suplemcia,

Suprimento, Aprendizagem e Qualifica"ao. Cad a uma dessas fun<;6es sera

sumariamente descrita a seguir:

~: visa suprir a escolaridade regular para jovens e adultos que nao

tenham seguido ou concluido na idade prOpria. 0 MOBRAL incluiu-se nesta

fun"ao.

Suprimento: proporcionar estudos de aperfei90amento ou atualiza9iio para

os que ten ham seguido 0 en sino regular no todo ou em parte. E a fun~o mais

abrangente e aquela que mais S8 aproxima do conceito de educa~o permanente.

Aprendizagem: formar;ao no trabalho a cargo das empresas e das

instituic;:6es par estes criadas e mantidas.

Qualificacao: profissionalizat;8o e formar;ao de recursos humanos para 0

trabalho (HADDAD, 1988).

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Em 1985, 0 MOBRAL e substituido pela Funda<;iio EOUCAR, 0 Governo

Federal naa executa diretamente os programas, mas apoia financeira e

tecnieamente as a¢es de outros niveis publicos, de ONGs e de empresas.

Na Constitui<;iio de 1988, ficou garantida a extensao da obrigatoriedade da

educa~o basica para jovens e as adultos. Porem, com a emenda constituc1onal

nO 14, promulgada em 12/09/96, a EJA atraves da imposiyao de Iimites, e

pratieamente posta fora do Fundo de Manuten<;iio e Oesenvolvimento do Ensino

Fundamental e Valoriza<;iio do Magisterio (FUNOEF), pois este se apliearia

exclusivamente ao ensina fundamental regular, nao favorecendo a EJA au 0

ensina secundario. Dasse modo, vigorou apenas a gratuidade do ensina de jovens

e adultos.

No inicio dos anos 90, tern-sa de urn lado, 0 poder publico sofrendo

exig{mcias politico economicas (nacionais e internacionais) par ac;6es mais

efetivas no setor, e de Qutro, instrumentos governamentais e nao-governamentais

contribuindo com novas propostas e ideias.

Com a dissemina~o poiftica do pensamento e modele neo-liberais, os

gastos publicos sofreram uma grande diminui9iio, enxugamenta que levau a

Estado a procurar privilegiar a educayao para criancyas e adolescentes, com

idades entre 7 e 14 anos, dando consequentemente menos atenyao a EJA A

pressao internacional fez, porem, com que 0 governo federal assumisse a posiyaa

de articulador au mediadar de algumas ay6es alfabetizadoras (au seja, nao mais

de promotor), delegando aos estados e municipios 0 desenvolvimento das

paliticas e ac;Oes mais efetivas na area.

Em 1990, com 0 inicio do governo Collor, a Funda<;iio EOUCAR e extinta, e

o Governo Federal nao volta mais a atuar diretamente sabre a EJA, cabendo aos

Estados e Municfpios 0 compromisso com esta modalidade de educayao.

Na nova LOB (Lei de Oiretrizes e Bases para a Edueayao) de 1996, ha a

afirma<;iio do papel do apoio da Uniao as iniciativas loeais (Estados e Municipios)

e a descriya,o das atribuiyaes dos Estadas e Municipias com 0 ensina media e

fundamental. No que se refere a EJA, ao inves de se dar maior responsabilidade

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aos Municipios, que estao mais proximos para atuarem em nivel local, atribui-se a

ela ainda menor prioridade do que it educayao infanti!.

A Lei de Diretrizes e Bases da Edu<::ayAo Nacional, aprovada em 17 de dezembro de 1996,representou urn enorme retrocssso felOltivamente ao inedito processo de oonslruvAodemocratica' de urn projeto de lei, como tambem significou urn retrocesso para a educa~obrasileira, na medida em que retirou 0 es!encial do projeto I!nteriormente IIprovado pelsCAmara, car8cleriZllndo~se per lornar..,se uma lei "enxuta", pr6prill de conjunlura dedesregulamenta.;:.Ao na perspccliva do Estado minimo. Ao mesmo tempo em que sedisculia a LOB eram elaboradas medidas par maio de projetos de lei e de emend as aConstitui~o, conslruindo, na pratica a LOB real bem ao espfrito do neoliberalismo.(BALDEIJAO, 2003)

Os deficits do atendimenta na ensina fundamental resultaram, ao longo dos

anos, num grande numero de jovens e adultas que nao tiveram acesso au nao

lagraram terminar 0 ensina fundamental obrigat6ria.

Embora tenha havida progresso com relayao a essa questao, ° numero de

analfabetos e ainda excessivo e envergonha 0 Pais: atinge 16 milh6es de

brasileiros maiores de 15 anos.

Todos os indicadores apontam para a profunda desigllaldade regional na

oferta de oportunidades educacionais e a concentrac;ao de populac;ao analfabeta

ou insuficientemente escolarizada nos bols6es de pobreza existentes no Pais.

Cerca de 30% da popula~o analfabeta com mais de 15 anos esta localizada no

Nordeste. (IBGE, 1999)

Segundo as Diretrizes do Plano Nacional de Educac;ao (2000, p.107-1 08).

As profundas Iransformay6es que vem ocorrendo em escala mundisl, em virtude doacelerado avany¢ eientifico e tecnol6gico e do fen6meno da globa1iZ4J'Y~o, t6m implicary6esdiretas nos vetores culturai!, na organiz.a~o des rotinas individuais, nas rela(j6es sociais,na plIrticipac;:Ao politica, assim como na reOfganizayao do mundo do Ir2!lbalho. Anecessidade de continuo desenvolvimenlo de capacidades e compet6ncias para enfrentaressas transformayOes allerou a concepyao Iradiciooal de educa~o de jovens e adultos,nao mais reslrila a urn periodo p.;3rticular da vida au a uma finalidade circunscrita.Desenvolve-se 0 conceito de educayao 80 longo de toda 21Vidll, que ha de Ie inieiar com aalfabeljl~o. Mas nBo basta ensiner 21 ler e a escrever. Para inserir a populayAo noexereicio pleno da cidad.:mia, melhorar sua qualidade de vida e de frui~o do tempo livre eampliar suas oportunidade~ no mer~do de trabalt)(), il educay:to de jovens e adultos devecompreender no minimo, a oferta de uma formayeo equivalente as oito series iniciai, doensino fundamental.

14

Sabemos que a educac;ao e urn direito de todos e urn dever do Estado,

porem no governo de Fernando Henriqlle Cardoso, PO"CO se fez pela EJA. Se

soubermos que a grande maioria da populayao, principalmente as menos

favorecidos, n§o tem acesso a edllcac;ao de qualidade. ate ande podemos levar

essa afirma9Bo a serio?

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2 . 0 ANALFABETISMO E 0 INOIViouo ANALFABETO

Entende-se neste trabalho, que 0 analfabetismo no Brasil e consequ"mcia

das injustic;as socials que caracterizam a sociedade brasileira e esta intima mente

relacionado a distribui9iio distorcida de renda entre a popula~ao. Muitos dos

jovens e adultos analfabetos, jamais tiveram acesso a escola quando crianc;a,

devido as precarias condi¢es de vida de suas famflias, pois precisaram ingressar

no mercado de trabalho para poderem ajudar no sustento familiar. Qutros, mesmo

tendo acesso a escola, precisaram abandomi-Ia em razao do mesma motivo

apontado aeirna. Fai esse um dos obstaculos, criados pelas injustic;as sociais, que

impediu milh6es de brasileiros de realizar sua escolarizac;ao. Assim, como afirma

Gadotti (1995, p.28). '0 analfabetismo nao e doen"" ou erva daninha, como se

costuma dizer entre n6s. E a nega9iio de urn direito ao lado da nega9iio de outros

direitos"

Segundo dados do IBGE (1999), 13,3% da popula9iio brasileira com idade

acima de 15 anos e composta por pessoas snalfabetas.

Costuma-se considerar como alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever

urn pequeno bilhete sobre assunto de sua familiaridade. Embora nao seja do

conhecimento de todos, 0 analfabetisrno funcional e algo diferente. De rnaneira

simples, pode~se dizer que analfabetos funcionais sao pessoas que tern

dificuldade de entender textos de varios tipos na sociedade da informa~o, onde a

palavra escrita e os simbolos, em geral, sao usados intensivamente. (UNESCO)

Desse modo, se fossem computados a numero de analfabetos funcionais

no pais, os indices seriam bem mais altos.

Urn aspecto a coo5iderar diz respeito a forma como os jovens estao S9 fazendotrabalhadores em nosso pais (e no mundo em geral). A observ.3~o mais ampls diz que aexperi~ncia de trabBlho para as jovens, especialmente os da juventude operaria, quevivem a imagern de seus pais, de suas condiy6es insatisfat6rias de trabalho, vernproduzindo uma elabofayilo ~ativa em suas identidades em rela~o so emprego e aotrabalho. Ao malmo tempo, a inseryAo dos jovens 9 modifica¢es recentss ns nlrutursprodu!iva, em que as oportunidades de emprego e~tAo diminuidns, principal mente emfunyao das novas tecnologias e das exigEmciasde maior qualifics<;!o e 9xperiAncia, 0 queconcrelamente, 0 ;ov9m nAo tern (PIERRO e GRACIANO, 2003)

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E preciso compreender quem sao esses individuos e 0 que pensam da

escola que freqOentam.

Segundo Piconez (2002, p.98), experiencias tem revelado que para um

trabalho pedag6gico adequado a popula9iio jovem e adulta com pouca ou sem

nenhuma escolaridade, S8 faz necessaria refletir sabre alguns aspectos , entre

eles que S8 conhe<;a esse aluno, sua hist6na de vida, suas expectativas e

necessidades.

Os analfabetos sao vitimas freqDentes de baixa auto estima, sentern-se

incapazes e diminuidos diante dos Quiros, e com tamanha coragem partem em

busca da escola , na qual

procuram obler, mais uma vez, ou 16m a oportunidade de obler pela prime ira vez,conhecimenlos bilsioos numa sociedade na qU!lt a dominio da teitura. de escrita e docalcuto elementar escrilo se lorna a cada dis que passa, coodi9fto minima para 0 trabalhoe para a vida colidiana. E necessaria reconhecer tambem que, atem do instrumentalimediBto para 5e obler um emprego ou "um emprego melhor, mais leve, menes sujo" , 0analfabeto procura a escola "para enlander das cOIsas" "~ra enlender 0 que 2S pessoasfalam", para nAo ser enganado", "para ser va!orlz.ado pelas pessoas~, enfim, para realiZilr·se como cidadAo, como ser humane e sar Socill! (GU!DELLI, 1996, p. 4).

Segundo Arroyo "a educa9iio de Jovens e Adultos tem como sujeitos as

camadas rurais, os camponeses exclufdos da terra, e as camadas urban as

marginalizadas, excluidas dos espa<;os, dos bens das cidades· (2001, p. 18).

Para Oliveira (2001, p.15 e 16)

o adullo, que frequenta 0 EJA, 0:'0 e 0 estudanle universilario, 0 profissional qualifiCCldoque frequenta cursos de form~o conHnuada au de espedaliza<;:ao, au ., pessea aduttainteressade em aperfeiyoar seus conhecimentos em areas como artes, linguasestrangeirlls ou musica, por exemplo ... E 0 jovem, relativamenle recenlernenle incorporadoao lerrit6rio da anliga educa~o de aOO1l05, nao 6 aquale com uma hist6ria deescolaridade regular, 0 vestibu!ando au 0 aluno de cursos extra--curriculere.s em buscn doenriquecimento pennaL Nac eo tembltm 0 adolescente no !enlido de perti~i3 il umaelaps bio-psicol6gia de vida. sao homens e mulheres, trabalhadores, empregados edesempregados au em busc.a do prlmeiro emprego; filhos, pais e miles; moradore,urbanos de periferias, favela5 e vilas. sao sujeitos sociais e culturais, marginalizados nasesferas socioecon6micas e educacionais, privados do acesso a cultura tetrada e aos bensculturais e sociais, compromelendo urna participay:io mais aliv.!! no mundo do lrabalho, dapolitica e da culture. Vivem no mundo urbano, industrializado, burocratizado eescolariz.ado, em geral trabalhando em ocupa<;Oes rlOO qualificadas.Trazem a marca daexclus!io social, mas sao sujeitos do lempo presente e do tempo futuros, formados pelssmem6rias que os oonstituem enquanto seres temporais. Sao ainda, exduidos do sistemade ensillO, e apresentarn em gera! urn tempo maior de escolaridade devido a repetencias

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~cumuladas e interrup<;:6es na vida e3colar.Muilos nunca for.lm a escola ou deja tivefamque 58 afastar, quando crianyas, em funyllo da entrada precoce no mercado de trabalho,ou mesmo por falta de escolas. Jovens e adultos que, qunndo retornam 8. 8ioo18, 0 fazemguiado5 pelo Oesejo de rnelhor-ar de vida ou par exigencias ligadas i1Q munda do trabalho.Sao 5ujeito!l de direilos, tr8bslhadores que participam ooncretamente de garantia desobrevivimciOl do grupo familiar ao qual pertencem.

De acordo com Piconez (2002, p.95), os alunos do Programa de Educa9ao

de Jovens e Adultos da Faculdade de Educayilo da USP, assumiram

responsabilidade desde muito cedo, par quest6es de sobreviv~ncia. Exerceramatividades e ocupa¢es ligadas ao subemprego experimentaram a discrimina.yaosocial pela falta de escolarizac;aoe por utilizarem uma lingua gem oral diferente enao prestigiada socialmente. A autora revela tambem que as expectativas decidadania dos alunos estavam voltadas a melhoria da qualidade de vida, da

camunicayao e a canquista de trabalho melhor. Ainda segundo a autora mais dametade dos alunos e do sexo masculino, a maioria e casada, situa-se na faixa

eta ria entre 30 e 50 anos, menos da metade estudou poueo, a maloria exereiaoeupay5es relaeionadas a servi.yosgerais e de manutenyao.

o trabalho coordenado no Haddad sobre 0 Estado da Arte da Educayilo de

Jovens e Adultos no Brasil no perjodo de 1986 a 1998, revela uma clientela que

juntamente com seus familia res, tem carencias socioecanomieas e eulturais.Apresenta tamoom carencias afetivas e nao participa nos processos de decisaodos rumos que serao dadas ao seu destino profissional e societario (Guimaraesapud Haddad, 2002, p.49). Marques e Silva apud Haddad (2002) concluem que

existe uma inser~o cada vez maiar de mulheres e jovens nos programas de EJA.

Muitas alunos se consideram fracas e incapazes, isso revela queintrojetarama cancepyao da ideologia dominante do fracasso.

No que diz respeito a visao do aluno sobre a eseola que frequenta, aspesquisas de Escariao e Portaluppi apud Haddad (2002, p. 51) mostram que os

alunas consideram a eseela importante para ascender social e economicamente,porem deixam transparecer urn certo desencanto sabre 0 cotidiano escolar.

18

•Atribuem a eseela 0 papel de transmitir 0 conhecimento e, ao defini·la. nao

conseguem ultrapassar as prindpios que hoje a arientam".

Segundo Abilene Souza apud Haddad (2002, p.S1),

as alunos passam primeiro por urn momento de expectativa antes do ingresso na escola,depois, par urn momenta de decepyao, de desanimo, culminando com a desistt\ncia. Noentanlo, a valor que as alunos dao ill escola nllo decresce foi se fortalecendo no periodoem que ficaram fora dela.

Ragonesi (1990) ao realizar urn estudo sabre a el/asao em cursos de

educa.yao basicas para adultos constata mediante entrel/ista com alunos, entre

Qutros aspectos, que a maio ria era do sexo feminino, tinha entre 14 e 20 anos,

exercia ocupay5es que exigiam pouca ou nenhuma qualificacyao e que a principal

expectativa em relayao a eseela era a de conseguir um diploma para que

pudesse conseguir urn emprego melhor.

No que diz respeito a avaliayao dos alunos sobre 0 curso que freqOentavam

a autora chegou as seguintes conclus6es:

a maioria dos alunos considerava bons os conteudos trabalhados no

curse,

tados os alunos expressaram que 0 contato mais proximo e assish§ncia

mais direta do professor e condit;ao fundamental para seu processo de

aprendizagem e admitiram ter muitas dificuldades para aprender, apenas copiam

materia da lousa,

- com relayao ao material didatico utilizado a grande maioria considerou

bom, apesar de sentir dificuldades para estudar nos livros,

- no que diz respeito a avaliat;ao da aprendizagem, tados as alunos

consideram necessaria.

Defende-se a educac;:ao para todos, passados ou nao a "idade escolar"

apropriada, porem ha de se possibilitar meios para qua esta aluno tardio nao seja

desmotivado ao longo do processo, seja por causa da fadiga do cotidiano, seja

pel as dificuldades encontradas em sala de aula.

19

Hit decadas que sa buscam metodos e praticas adequadas ao aprendizado

de jovens e adultos, como par exemplo, com Paulo Freire:

Por isSio oil alfabetizavao nao pods fie f<lZef de eims para baixo, nem de fora para dentro,como urna do~o ou uma exposiy:io. melS de dentro para fora pelo pr6prio analfabeto,somente ajustado pelo educador. Esta e a raz:.o peli! qual procur!lmos urn metoda quefosse capez de fAZer instrumentp tambem do edLlC4tndo e nla 56 do eduoador e queidentificasse, como claramente observou Q sod610g0 brasileiro Celso Beisegel, 0 ContellOOda aprendizaoem com a procasso de aprendizagern. Por eua r;;tzao, nAo acre<iitamos nncartilhas que prete-ndam fazer uma montagem de sinalizayao grilfica como urna doa9l!o eque reduzern a analfabelo mais a condicao de objeto de alfabeli~o do que de sujeilo dBmesma. (FREIRE, 1979, p. 72).

Com isso, percebe-se que desde os anos 70, au ate mesmo antes, 0 usa

da cartilha e metodologias inadequadas na educa"ao de jovens e adultos

preocupavarn as educadores da epoca e, infelizrnente, essa problematica permeia

os tempos atuais:

... que a educayAo seja 0 proaesso atravct; do qual 0 individuo lorna a hisl6ria ern suaspf6prias maDs, a 1im de tTludar 0 fumo da milsma. Cornel? Acreditando no aducando, nasua capacidade de aprender, descobrir, cri'!f solu¢es, desefiar, enfrenlar, propor,escolher e assumir as consequencias de .sua esco!ha. Mas isso nlio sera passive! seoonlinulIrmmi bitolando os alfabelizandoii com desenhos pre-formutados para colorir, comtextos criados por outros para copiarem, com caminhos pontith.ad03 para seguir, comhist6rias que alienam, com metodos que nao levarn em conta a l6gica de quem aprende(FUGK, p, 14 e 15,1994)

Hoje, como ontem, a respeito a busca de novas praticas educativas

ganham for98 enos levam a refietir:

SOARES (1985, p.21) uniu estes dois pontos de vista e conceituou a alfabetiza91iocomo: "Alfabetiza"ao e urn processo de representat;Ao de fonemas em grafemas,e vice-versa, mas e tamoom urn processo de compreensaolexpressao designificados atraves do c6digo escrito"

Essa refiexao, partindo da busca de novas metodologias, adequadas arealidade do educando, nao segllindo a padroniza"ao da cartilha que reduz 0

aprendizado a simbolos pre-determinadas e que nao condjzem com 0 contexto:

"As cartilhas nao consideram a peculiar 100ica do desenvolvimento cognitiv~ do

aluno, apojando-se tao-samente na l6gica do sistema de escrita de ensinar·.

(FUCK, p. 14, 1994).

20

o papel do educador e mediar a aprendizagem, priorizando, nesse

processo, a bagagem de conhecimentos trazida par seus alunos, ajudando-os a

transpor esse conhecimento para 0 "conhecimento letrada".

A escrita nao e urn produto escolar. mas sim urn objeto cultural, resultado

do esfo,"", coletivo da humanidade.(FERREIRO ,2001, p. 43).

o professor, muitas vezes, nao passui formac;ao apropriada para 0 born

desenvolvimento de suas fungiies como docente diante uma classe de jovens e

adultos. Falta experiencia enquanto professor de EJA falta apoio pedagogico para

orientar 0 trabalho que exerce.

Muitos estudos revelam a de1-compasso nas melodologias utilizadas na Educ:.ayao deJovens e Adultos. Constantemente estes sao tratadmi como cria~s no que se refere asmelodologias utilizadas na sua alfabetizac;.ao. Davida alguns estudos reaHzados nestesentido, it passivel dizer que os alunos adull05 possuem caroclerlslicas pr6prias que osdiferencill das crianl):'ls e que prncisam .ar respeil.odol, embora nos primeiros mo .•..imentospara a erradicayao do analfabelismo, esla nAo tenha sido uma pl'"eoctlpayao(SOARES,1992, p.105)

Paulo Freire, este partia do pressuposto de que toda pessoa, alfabetizada

ou nao, trazia conhecimentos naseidos das diferentes relayc5es travadas por esta

pessoa durante sua vida. Estes eonhecimentos constituiam a materia prima para 0

aprendizado da eseMta. Assim, era necessario saber qual 0 universe de

conhecimentos dos alfabetizandos, pais somente desta forma garantia 0 dialogo

como instrumento pedag6gico. (BARRETO, 1998, p.99)

21

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

o objetivo deste trabalho, como ja foi explicitado, e verificar quem sao e 0

que pensam alunos que frequentam a Educa9ao de Jovens e Adultos. Para isso.

realizou-se a revisao bibliografica mediante a leitura e fichamento das obras

estudadas. as dados referentes a identidade dos alunos e a visao que tem da

eseela, foram obtidos por meio de entrevistas (anexo1), realizadas aleatoriamente

com as alunos, utilizando-se urn gravador, para melhor clareza das respostas.

Estas foram realizadas em tres escolas municipais de Curitiba no periodo de

maryo a maio de 2003. Foram entrevistados 40 alunos.

as resultados sao apresentados sob a forma de tabelas de frequencia

simples que indicam 0 numero de vazes que determinada res posta foi

manifestada.

Nas tres escolas nas quais foram coletados os dados, a autora deste

trabalho foi muito bern recebida. A maiaria das professoras demonstrou interesse

em saber os resultados obtidos, demonstrando assim, interesse em conhecer

melhor os seus alunos.

22

4. QUEM sAo E 0 QUE PENSAM OS ALUNOS

Ap6s a organiza\'iio dos dados chegou-se aos seguintes resultados:

TABELA 1- Faixa etariaFaixa etaria17-2020-3030-40

Total

Total

42313--------4-0-------

Como se pode observar, as idades variam entre 17 e 40 anos de idade. A

faixa etaria rna is representativa esta no intervale entre 20 aos 30 anos.

TABELA 2- SexoSexo Total

MasculinoFeminino

Total

241640

Dos 40 alunos entrevistados, 24 sao do sexo masculino e 16 do sexo

feminino.

TABELA 3- Estado civitEstado civil

2116

..__._. .340

TotalSolteiroCasadoViuvo--------Totaf---

Quanto ao estado civil, os dados apontam que a maiaria dos alunos esolteira.

7'-j

TABELA 4- Faixa etaria em que os alunos comecaram a estudar

_____ F~ix;~~aria ~~~al-----

11-20 021-30 1231-40 10----.-.- Total ------ ---.----.- 4-0-----

Pode-se observar que dos 40 alunos 18 comeyaram a estudar ate as 10

anos de idade. Portanto, conclui-se que a maioria dos alunos nao e egressa da

esco1a regular, urna vez que 22 alunos comecaram a estudar a partir dos 21 anos

de idade.

TABELA 5- Repetencia__ --'R"'e,.,petimcia

SimNao _Total

1624-·----40

Total

Do total de alunos, 16 js conviveu com 0 fracasso escolar. Cabe lembrar

que entre estes 18 sao egressos do ensina regular.

TABELA 6- Faixa eta ria em que comecaram a trabalharFaixa etaria Total

7-10 - -----. 1311-20 1121-30 1431-40 2.---~--- 40

Pode-s9 observar que na idade em que os alunos estavam au deveriam

estar freqOentando as 4 primeiras series do ensino fundamental, 13 deles ja

tinham ingressado no mercado de trabalho.

24

TABELA 7- Ocupa~ao atual~fl-a~o _

DomesticaZelador (a)

Auxiliar AlmoxarifeSeguran~

BabaServente

MaquinistaColetor de lixoServic;os geraisConstru~o civil

~-- Total-----~

Total------8

534481232~40

Os dados Beima mostram que a ocupa9Bo que os alunos exercem exigem

pouca qualifica~o, 0 que evidencia ums rela~o entre 0 nrvel de escolaridade e

oportunidades de emprego.

TABELA 8- Motivo pelo qual come~aram ou voltaram a estudarMotivo Total

~ntrar um trabalho me/hor -----2-2~Ajudar os filhos nas tarelas escolares 8

Entender 0 mundo 10Tot-a-I~- ---40~

No que S8 refere as razoes que ievaram os alunos a comec;ar au a voltar a

estudar, observa-se que a mais citada e a expectativa de se conseguir urn

emprego melhor. Qutros motivQs somam-se a este, como ajudar os filhos nas

tarefas escolares e ~entender0 mundo" Este ultimo diz respeito as necessidades

da propria vida social, ligado ao desenvolvimento pessoal.

25

TABELA9- Visao dos alunos sobre os conteudos trabalhados na escolaConteudos Total--- ------OificT! de €mtencier --~-~--.------- fs-

ATem coisa que nao precisava~ 18Bam 5

E born ter informa¢es sobre urn monte de 2coisas-------Total---------- 40

Dos 40 alunos entrevistados apenas 5 declararam considerar bons as

conteudos trabalhados no curso que frequentam e apenas 2 disseram que e born

saber muitas coisas. Jil, a maiaria, disse ter dificuldades em entender os

conteudos que suas professoras trabalham e que muitos conteudos sao

desnecessarios

TABELA 10- Visiio dos alunos sobre a forma que a professora ensina_Formagu-"a_P'9f,,~soJ:~~J:l§!'!a .__ ... Io]?!"Elae muitoboacoma gente" 7"Ela Irazmaterialdiferente" 10

"Ficafacil de aprenderdojeito queelaensina" 8__ ~I~t~ I12LJit,,-e!'Sien..ciae boavonta(je' 15

Total 40

Pelas respostas dos alunos fica bastante claro que todos aprovam a

maneira pela qual a professora os ensina. As respostas tornam evidente que a

maneira pela qual a professora trata os alunos e bastante valorizada par eles.

26

TABELA 11- Visao dos alunos sobre 0 material didaticoprofessora

utilizado pela

__~_ Material utilizado pela e!S'!esso-"'---_~ _"Ebom, mas nao posso comprar para estudar depois""Gosto da apostila e quando ela traz revista pra gente"

"Vejo 0 jamal aqui na sala com a professora, mas nem leiodepois

"E pouco, mas ta born"~- T~-

Total-1-4~-~-

108

8---4-0---

Dos alunos entrevistados, 14 deixam transparecer que apesar de

considerarem born 0 material didlitico utilizado pelas professoras, sentem falta do

material para poder estudar em casa. Oito dos alunos afirmam que veern 0 jarnal

na sala de aula com a professora, mas, no entanto, nao leem depois. IS50

evidencia que a unica oportunidade que esses alunos tern de estudar os

conteudos trabalhados e na pr6pria sala de aula. Tamoom pode-s8 observar que

10 alunos gostam quando a professora trabalha com revistas na sala de aula ,

porern, 8 alunos consideram que a professora utiliza poucos materia is.

TABELA 12- Visao dos alunos sobre a avalia~ao_ . _ Avalia~o _ Total

"E 0 jeito da professora saber se a gente sabe igual a ela" 16"Eu fico com medo de errar tudo" 12

"E dificillembrar tanta coisa" 12----1Ot-a-1 -- ._--- - ----.w.

Dos alunos entrevistados, 16 acreditam que 0 proposito da avahagBo e 0 de

fazer com que a professora saiba que eles aprenderam exatamente como ela

sabe 0 conteudo. 12 alunos, relatam ter medo do erro na prova e 12 alunos dizem

ser muito dificil lembrar tanta coisa.

27

TABELA 13- SugestOesdo aluno para melhorar 0 curso que freqGentamMelhorias Total

MA professora deveria explicar mais fadl, do noS-so j~- -7"Ter rna is aulas· 21

MPedir mais dos alunos~ 12- Tota.r----- ------- 40

A maior parte dos alunos, 21, acredita que tendo maior carga horari8poderiam aprender mais. 7 acham que a professora deveria adotar uma

linguagem mais parecida com a deles, isto e, mais simples e 12 alunos acreditamque a professora deveria explorar mais as capacidades dos proprios alunos,

exigindo mais.

TABELA 14 - Como e 0 relacionamento entre 0 professor e a alunoReiacionamento Total

"Ela tern-interessepor n65"----· __• ---1-1---

"Ela re5peitaa que e dificil pragente" 18" AJ)rofe550ra..9.o~a.doque faz' .____ 11

Total ·40-

Conforme citado pelos alunos, a professora demonstra respeito as

dificuldades e tamoom comprometimento em rela980 ao processo ensinaaprendizagem, tornando desta forma 0 ambiente escolar mais agradavel.

28

5. CONCLUSAO

o presente estudo objetivou conhecer as reais aspira90es e necessidades

destes indivfduos inseridos na modalidade de en sino tardia.

Esta modalidade de ensina se faz necessaria, frente ao enorme contingente

de pessoas que permanecem marginalizadas quanta a aquisiyao do conhecimento

sistematizado; seja par nao terem tido oportunidade de acesSQ e permanemcia na

escola em idade oportuna, pelas mais diversas razoes, OU pela escassez de

condi90es que possibilitasse tal ingresso.

Con forme mostrado nas tabelas anteriormente, a faixa eta ria ascila entre 17

e 40 anos, havendo maior Indice entre 20 e 30 anos. Quanta ao sexo dos alunos,

a maioria e composta par homens, enquanto as mulheres representam menor

numero. Sabre 0 estado civil, constatou~se atraves das entrevistas com os alunos

que a maiaria e de solteir05. Varios jei repetiram de serie, sendo que 18 alunos

sao egressos do ensino regular. A entrevista aponta ainda, que 13 destes alunos

ja haviam ingressado no mercado de trabalho quando deveriam estar

freqOentando as primeiras series do ensino fundamenta" 0 que mostra mais uma

vez a precocidade destes ao ingresso no mercado de trabalho. Denlre as

ocupayaes atuais dos alunos entrevistados, estas sao as mais diversas, porem

nota-58 que todas exigem pauca qualificayao. A maioria dos entrevistados procura

um emprego melhor, par esse motivo come90u ou voltou a estudar, dentre outras

expectativas, cita-se a necessidade e desejo de ~entender 0 mundo·, como a

grande maioria da populayao escolarizada. Sobre os conteudos, a maio ria

acredita que aprende assuntos desnecessarios a vida diaria. A professora, e vista

pela maioria como alguem que zela e dedica-se a estes alunos, demonstranda

boa vontade e paciencia para com os mesmos. Sabre 0 material utilizado nas

aulas, a maioria reconhece a valor, porem nao possui condic;6es de aquisi<;BO

para revis6es e releituras. Quanto a avalia~o, a maioria dos alunes acredita que

e a -forma da professora saber se sabemos do jeito dela·, aparecem ainda como

considerac;6es a respeito, 0 mede do erro e a dificuldade em assimilar todo a

conteudo estudado. Algumas sugestaes apresentadas pelos alunos da EJA como

29

a necessidade de haver mais aulas, demonstra 0 interesse e a necessidade

destes indivfduos no processo ensino-aprendizagem. Ainda convem ressaltar que

fcram citadas como sugest6es para melhoria do curso que frequentam, 0 Kpedir

mais dos alunos" , Kter mais aulas~ e -explicar de urn jeito mais facil, assim como

o nosso jeito". Percebe-se que os alunos pedem professores exigentes, porem

que desenvolvam seu trabalho de maneira acessivel.

Ressalta-se ainda, a preocupa9ao com a continuidade do processo de EJA,

no contexto de urna politica educacional voltada as peculiaridades dos alunos

trabalhadores e adultos; tao discriminados.

Constatou-se ainda, que os alunos veem a EJA como uma possibilidade de

rnelhoria de vida, seja pessoal au profissional. E e com esta visao que tantos dao

continuidade aos estudos e conseqOente aprimoramento pessoal.

Verificou-se ainda que 0 papel do professor de EJA e fundamental para 0

born desempenho e crescimento do aluno, proporcionando a este 0 desejo de ir

al8m no pracesso de aprendizagem. Professores estes, que tem a grande

responsabilidade de desenvolver em sala de aula, 0 despertar do interesse para

qlle 0 aprendizado proposto a todos seja va lido, engrandecendo e aprimorando 0

individuo como ser social e participante de todo 0 contexto social.

Segundo dados do IBGE, 13,3% da popula9iio brasileira e composta por

analfabetos, 0 que indica a necessidade cada vez mais urgente de maior

quantidade de cursos de EJA e mais profissionais qualificados para tanto.

Segundo OLIVEIRA apud FERREIRO (2001, p. 43) "A escrita nao e urn

produto escolar, mas sim urn objeto cultural, resultado do esfor90 coletivo da

humanidade~. Partindo desta afirmac;ao entende-se 0 processo de aprendizagem

como a1go estritamente necessario a formac;ao pessoal, nao sendo mais posslvel

que a sociedade de maneira geral nao se sensibilize e procure fazer alguma coisa

para que a situa~o seja outra no futuro.

30

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31

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setembro 2003.

33

ANEXOS

o questionaria a seguir fai utilizada para a coleta de dadas, distribuidas aos

40 alunos nas tres escalas onde foram realizadas as observay6es.

1. Idade:

2. Sexo:

3. Estado civil:

4. Idade que cornegou a estudar:

5. Ja repetiu alguma vez?

6. Com que idade corne90u a trabalhar?

7. Qual e sua ocllpag8o atual?

8. Quais foram os motivos que 0 levaram a comeyar au a valtar a estudar?

9. Qual e sua opiniao sobre os conteudos trabalhados na escola?

10.0 que voce acha da forma como a professora ensina?

11.0 que voce acha sobre 0 malerial utilizado pela professora?

12.0 que voce acha do sistema de avalial'ilo?

13. Quais sao suas sugest6es para melhorar 0 curso que frequenta?

14. Como e 0 relacionamento professor - aluno?

34