UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Maria Fernanda de Lima e...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Maria Fernanda de Lima e Oliveira Jabbur
O ENFERMEIRO E A GESTÃO DOS SERVIÇOS DE
ENFERMAGEM
CURITIBA
2011
Maria Fernanda de Lima e Oliveira Jabbur
O ENFERMEIRO E A GESTÃO DOS SERVIÇOS DE
ENFERMAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Auditoria e Gestão em Saúde apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista. Orientador(a): Prof. MSc. Sandra Regina Jacopetti.
CURITIBA
2011
TERMO DE APROVAÇÃO
Maria Fernanda de Lima e Oliveira Jabbur
O ENFERMEIRO E A GESTÃO DOS SERVIÇOS DE
ENFERMAGEM
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de especialista em Auditoria e
Gestão em Saúde do Curso de Pós Graduação da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, ___ de março de 2011.
_______________________________________________
Auditoria e Gestão em Saúde
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador(a): Prof. MSc. Sandra Regina Jacopetti
Prof.
Prof.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................6
2. OBJETIVOS ..................................... .......................................................8
3. METODOLOGIA DA PESQUISA ....................... ....................................9
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................... ...................................10
4.1 As Teorias Administrativas ....................................................................10
4.2 O surgimento da Administração em Enfermagem ................................14
4.3 O enfermeiro como gestor contemporâneo dos serviços de saúde ......18
4.4 O amparo legal para o exercício da gerência .......................................28
4.5 O papel da universidade na formação do enfermeiro gestor ................29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................... ........................................33
6. REFERÊNCIAS .....................................................................................34
RESUMO
Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica acerca do papel do enfermeiro gestor. São abordadas as principais Teorias Administrativas, que embasaram os primeiros estudos sobre a gestão dos serviços de saúde, bem como as tendências atuais para o exercício da gerência de enfermagem. Trata-se de um estudo relevante que pretende subsidiar as ações para os profissionais da área.
Palavras-chave: gestão em enfermagem; enfermeiro gestor; gestão em saúde.
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1 INTRODUÇÃO
No atual contexto, a figura de um líder torna-se indispensável em qualquer
instituição, seja ela pública ou privada. Nos estabelecimentos de saúde, onde o
contingente de trabalhadores é cada vez maior e mais complexo, as relações
interpessoais devem ser administradas da melhor forma possível, evitando conflitos
e priorizando a qualidade do serviço oferecido à população.
O serviço de enfermagem, dentre as profissões da área da saúde, destaca-
se como a área que apresenta nítida hierarquização das esferas de trabalho e maior
quantitativo de trabalhadores. Segundo Montenegro (2010), a enfermagem não só
abrange o maior contingente de força de trabalho em saúde, mas também
corresponde ao grupo profissional que possui os mais diversos papéis, funções e
responsabilidades.
Os profissionais graduados em enfermagem tornam-se chefes de equipe,
sendo estas compostas por trabalhadores com vários anos de experiência na área.
Os conflitos são propensos a surgir, uma vez que o ser humano naturalmente
apresenta resistência a mudanças de rotina (MOTTA, 2004). Costa (2009) afirma
que crenças e valores fazem parte da vida pessoal e profissional, porém, podem
dificultar a aceitação de novas ideias.
De forma a gerenciar os conflitos que naturalmente surgem, o enfermeiro
precisa estar preparado para assumir a posição de líder e não apenas de chefe. Ele
deve possuir embasamento teórico e saber aplicá-lo na prática, mantendo sua
equipe motivada e consciente da importância do trabalho executado. O enfermeiro
deve conquistar a confiança do seu colaborador, fazendo com que este se sinta
7
apoiado pelo seu superior e, dessa forma, tenha segurança para integrar um grupo
de pessoas com o mesmo objetivo: a qualidade do serviço prestado (RUTHES,
FELDMAN e CUNHA, 2010).
A graduação tende a priorizar a parte assistencial da profissão, preparando o
enfermeiro para desempenhar com destreza os procedimentos que surgirão no dia a
dia. Porém, a realidade que o enfermeiro encontra, após concluir o curso superior, é
de um trabalho voltado para a área administrativa (WEHBE e GALVÃO, 2005;
JORGE et al, 2007).
Diante da necessidade imposta pelo mercado de trabalho, este estudo
propõe a análise das tendências apontadas pela literatura no que concerne a gestão
dos serviços de enfermagem, visando subsidiar as ações do enfermeiro nesta área.
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2 OBJETIVOS
Caracterizar o surgimento da administração nos serviços de enfermagem.
Realizar um levantamento à luz da teoria sobre o papel gerencial do
profissional enfermeiro.
Mapear as competências necessárias a um gestor de serviços de
enfermagem.
9
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica constituída por artigos científicos
que abordaram a temática “administração e gerência de enfermagem nos serviços
de saúde”, publicados entre 2004 e 2010 na base de dados do SciELO. Optou-se
por utilizar apenas artigos científicos devido à acessibilidade deste tipo de
publicação.
Os descritores pesquisados foram: “administração”, “gerência”, “gestão”,
“perfil do enfermeiro gestor/gerente” e “liderança”.
Procedeu-se, então, à análise de todo o material, seguindo-se as etapas:
leitura exploratória de todos os artigos; leitura seletiva para selecionar aqueles
pertinentes ao tema desta pesquisa; e leitura analítica para apreciação e julgamento
das informações, destacando-se os principais aspectos abordados sobre o tema.
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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 AS TEORIAS ADMINISTRATIVAS
A administração é uma ciência cujos princípios básicos visam à execução
racional das funções de um único indivíduo ou grupo, de modo que os objetivos
propostos pela instituição sejam alcançados com qualidade e redução de custos
(MARTINS e SANNA, 2005). Algumas teorias administrativas serviram como base
para a Administração em Enfermagem; estas foram, resumidamente, descritas a
seguir de acordo com Bertalanffy (1973); Motta (1995); Laranjeira (1999);
Chiavenato (2002); e Matos e Pires (2006):
A Teoria da Administração Científica , proposta por Frederick W. Taylor,
visa ao alcance da máxima produtividade, utilizando métodos da ciência positiva,
racionalista e metódica para lidar com problemas administrativos. Para aumentar a
produtividade, foram propostos métodos de racionalização das ações e de disciplina
do conhecimento operário. Os mais aptos para a realização das tarefas eram
selecionados rigorosamente e havia fragmentação e hierarquização do trabalho.
Taylor realizou estudos de tempos e movimentos, visando aprimorar a eficiência do
trabalhador, e propôs que as atividades complexas fossem divididas em etapas mais
simples de modo a racionalizar e padronizar o processo de produção. Taylor ainda
propôs incentivos salariais e prêmios, partindo do pressuposto que os trabalhadores
são motivados unicamente por interesses salariais e materiais.
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Em 1913, Henry Ford iniciou a tecnologia da linha de montagem na
fabricação de automóveis, conhecida como Fordismo , utilizando os mesmos
princípios desenvolvidos por Taylor. A diferença é que Ford utilizou máquinas e
ferramentas especializadas numa linha de montagem em esteira, com crescente
divisão do trabalho.
A fusão dos modelos taylorista e fordista propagou-se pelo mundo,
influenciando praticamente todos os ramos de produção. Alguns pontos negativos
desses modelos são: fragmentação do trabalho (separando-se a concepção da
execução, o que causa desmotivação e alienação dos trabalhadores quando
associada à rígida hierarquia) e cargas de trabalho excessivas e extenuantes.
A Teoria Clássica de Fayol complementou o trabalho de Taylor,
substituindo a abordagem analítica e concreta por uma sintética, global e universal,
propondo a racionalização da estrutura administrativa. A empresa passou a ser
percebida como uma síntese dos diversos órgãos que a compunham. Fayol também
deu ênfase às operações internas, além de ter estabelecido os princípios das
funções do administrador: organizar, planejar, coordenar, comandar e controlar.
A Teoria Burocrática de Max Weber identificou certas características da
organização voltadas exclusivamente para a racionalidade e para a eficiência.
Muitos dos aspectos do modelo burocrático são encontrados também nas teorias de
Taylor e Fayol, como exemplo: a divisão especializada do trabalho; hierarquia e
autoridade; regras e regulamentos para os direitos e deveres dos trabalhadores;
sistema de normas e rotinas; impessoalidade nas relações interpessoais e
promoções/seleções baseadas em competência técnica.
O Movimento das Relações Humanas surgiu da crítica à Teoria da
Administração Científica e à Teoria Clássica. Esse modelo transferiu o foco da
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administração para as relações dos grupos informais, havendo, ainda, incentivos
psicossociais por entender que o ser humano não pode ser reduzido a esquemas
simples e mecanicistas de trabalho. A expectativa era motivar o indivíduo a trabalhar
para atingir os objetivos da organização, defendendo também a participação do
trabalhador nas decisões relacionadas à tarefa. Porém, essa participação deve estar
de acordo com o padrão de liderança adotado pela organização.
A Teoria Estruturalista aproximou-se conceitualmente da Teoria das
Relações Humanas, partindo do declínio desta e da análise do modelo burocrático.
Demonstra um avanço em relação às demais teorias por reconhecer a existência do
conflito nas organizações, assumindo que este é inerente aos grupos e às relações
de produção.
A Teoria Comportamentalista enfatiza as ciências do comportamento e
procura por soluções flexíveis e democráticas para os problemas organizacionais.
Há uma maior preocupação com os processos e com a dinâmica da organização do
que com a estrutura da mesma. Nessa teoria, há uma intensa discussão sobre a
motivação humana com base nas teorias de Maslow (motivação) e de Herzberg
(fatores que orientam o comportamento das pessoas). Ganhou impulso no início da
década de 80 com os princípios provenientes da administração japonesa (conhecida
como Teoria Z da administração): estabilidade no emprego; baixo nível de
especialização; avaliação permanente do desempenho; valorização dos indivíduos;
democracia e participação nas decisões.
A Teoria dos Sistemas foi proposta pelo biólogo alemão Ludwig Von
Bertalanffly em textos publicados entre 1950 e 1968. Para Bertalanffly, um sistema é
um complexo de elementos relacionados que interagem entre si, sendo que o
comportamento desses elementos é modificado se houver uma alteração na relação.
13
A Teoria do Desenvolvimento Organizacional surgiu a partir de um
conjunto de ideias a respeito da tríade “ser humano, organização e ambiente”,
visando propiciar o crescimento e desenvolvimento da instituição. São adotadas
estratégias de ação através de modelos de diagnóstico, intervenção e de mudanças,
que envolvem modificações estruturais e comportamentais para a melhoria tanto da
eficiência quanto da eficácia das organizações.
A Abordagem Contingencial surgiu da busca por modelos de estruturas
organizacionais eficazes que se relacionassem também com o ambiente. Este
modelo caracterizou-se pela grande flexibilidade, descentralização e
desburocratização, sendo colocado como opção para ambientes em constante
mudança e condições instáveis. Além disso, esta abordagem privilegia a análise
tecnológica e engloba a participação do trabalhador, reconhecendo os fatores
contingenciais que interferem nas organizações e nas relações funcionais.
Da combinação de teorias e técnicas das ciências comportamentais surgiu a
Abordagem Sociotécnica , com ênfase nas relações entre os indivíduos, no técnico
(máquinas, equipamentos, procedimentos etc) e na preocupação com evolução e
aprendizado contínuo. Tais características demonstram a oposição dessa
abordagem ao modelo taylorista-fordista.
Nota-se que, a partir dos anos 80, várias teorias e abordagens de gestão
começaram a buscar a superação dos modelos tradicionais de Taylor e Ford. Era
nítido o interesse em promover a participação dos trabalhadores nos processos de
tomada de decisão, a acessibilidade dos níveis hierárquicos superiores, o auto-
gerenciamento por setores e áreas, a delegação de tarefas e a responsabilidade
compartilhada (MATOS e PIRES, 2006).
14
Entretanto, muitas teorias acerca da organização do trabalho ainda estão
bastante centradas no aumento da produtividade e eficiência da organização, sendo
o trabalhador deixado em segundo plano, embora, nem sempre de forma explícita. A
discussão acerca dos modelos tidos como participativos busca justamente aliar a
produtividade da instituição à participação dos indivíduos (MATOS e PIRES, 2006;
MEDEIROS et al, 2010).
4.2 O SURGIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM
As enfermeiras brasileiras formadas nos anos 40 demonstravam bastante
dificuldade em lidar com as situações administrativas que surgiam no âmbito da
enfermagem. Diante dessa dificuldade, elas foram se conscientizando da
importância da administração e de como os princípios dessa ciência poderiam
auxiliá-las no dia a dia (MARTINS e SANNA, 2005). Assim, a Administração em
Enfermagem surgiu a partir das teorias administrativas (SANNA, 2007) e reproduzia
no seu cotidiano toda a fundamentação tecnicista e positivista, percebendo o
trabalhador como um objeto e não como pessoa que tem inteligência, criatividade,
intuição e necessidade de ser reconhecido pelo seu desempenho (JORGE et al,
2007).
A literatura de interesse para a enfermagem, nos anos 40, resumia-se a
artigos em inglês traduzidos para o português. Com o passar do tempo, os
enfermeiros brasileiros começaram a produzir seus próprios artigos científicos,
gerando um aumento na quantidade de publicações sobre o tema na Revista
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Brasileira de Enfermagem, que, na época, era conhecida como “Anais de
Enfermagem” (CARVALHO, 1947).
Um dos marcos iniciais do processo de desenvolvimento da administração
em enfermagem foi a adoção de um sistema de anotações e relatórios diários. Tais
documentos permitiam um controle das atividades já executadas e possibilitavam a
criação de um banco de dados para posterior consulta. As informações registradas
auxiliariam no desenvolvimento de ações estratégicas a serem aplicadas
futuramente (MARTINS e SANNA, 2005).
A Administração em Enfermagem apresentou avanços e o cargo de
supervisora foi criado, baseado nos modelos americanos. A função, que inicialmente
não era bem definida, com o tempo aprimorou-se e possuía como objetivos:
aumentar a produtividade e eficiência das organizações; melhorar os cuidados e o
bem estar do paciente; agir, reagir e liderar para obter melhores resultados; e
aperfeiçoar o trabalho executado (MARTINS e SANNA, 2005).
Com a evolução na área, surgiu também a função de auditor que, na época,
não exigia vasta experiência ou conhecimentos especializados. O enfermeiro
auditor deveria saber liderar, de forma a criar condições para avaliar continuamente
as ações de enfermagem. Assim, a auditoria promoveu a descentralização dos
serviços de enfermagem, permitindo que houvesse planejamento, implementação,
coordenação e controle mais eficaz do trabalho. O serviço de enfermagem obteve
ótimos resultados, comprovados pelos relatórios de qualidade das instituições, cujos
dados estatísticos possibilitavam a avaliação das ações executadas (MARTINS e
SANNA, 2005; FERNANDES et al, 2010).
Com relação à aplicação das teorias administrativas à enfermagem, as
teorias clássicas (como as de Taylor e Fayol) não atendem às expectativas do
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cenário atual. Os modelos voltados ao tecnicismo e à visão do trabalhador apenas
como instrumento estão ultrapassados (ROSSI e LIMA, 2005; JORGE et al, 2007).
Estudos recentes demonstram que, uma vez satisfeitos com a empresa, os
trabalhadores produzem mais e melhor. Consequentemente, são obtidos resultados
muito mais eficazes e eficientes (WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004).
Entretanto, não é simples adotar os modelos mais modernos. Mesmo após a
evolução das teorias administrativas aplicadas à saúde, alguns enfermeiros
demonstram que as correntes administrativas tradicionais encontram-se
impregnadas negativamente em suas formações. Algumas ações são
desempenhadas por esses profissionais de forma mecânica, em decorrência do
costume ao modelo tradicionalista. Assim, o enfermeiro demonstra, por vezes, uma
postura submissa para atender às exigências impostas pelos seus superiores
(JORGE et al, 2007).
Em 1968, investigando a distribuição do trabalho de enfermagem em um
dado hospital, percebeu-se que as enfermeiras dedicavam aproximadamente 20%
de seu tempo em atividades secundárias (não relacionadas à profissão), ficando a
assistência em segundo plano. Esse fato contrariava os anseios de muitas
profissionais, pois o trabalho, na prática, diferia muito do preconizado durante a
formação (FERREIRA-SANTOS, 1973).
Em 1978, as funções dos enfermeiros no referido hospital foram novamente
analisadas, através de observação da prática e entrevistas. Foi constatado o
seguinte: das 853 atividades realizadas por enfermeiros, 575 eram atividades
administrativo-burocráticas, 164 eram atividades que deveriam ter sido delegadas
aos auxiliares ou a outras pessoas, 83 correspondiam à assistência direta ao
paciente e 31 estavam vinculadas ao ensino e à pesquisa. Notou-se, assim, que a
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maioria das funções desempenhadas não estava relacionada às competências
adquiridas durante a formação em enfermagem. No mesmo estudo, 70% dos
enfermeiros relataram que a falta de tempo para realizarem atividades assistenciais
gerava frustração e insatisfação (TREVIZAN et al, 2006).
Uma década depois, constatou-se que 74% das funções administrativas
eram de caráter burocrático. É importante que o enfermeiro assuma e exerça
funções gerenciais, porém, essas funções devem focalizar a assistência ao cliente.
Assim, conciliando gerência e assistência, o profissional manter-se-ia motivado para
exercer suas atividades (TREVIZAN et al, 2006).
Em 1995, os enfermeiros continuavam realizando suas funções gerenciais
predominantemente orientados para a burocracia hospitalar. Segundo Trevizan et al
(2006), era angustiante ver o profissional enfermeiro envolto a atividades vazias de
conteúdos de enfermagem, sendo necessárias mudanças no papel desse
profissional. O que se percebe, nesses casos, é que a assistência ao paciente fica
delegada aos demais membros da enfermagem e, a partir do momento em que o
enfermeiro assume somente as funções relacionadas à gerência, conflitos internos
ficam propensos a surgir na equipe (JORGE et al, 2007).
Alguns autores relatam a dificuldade que o enfermeiro tem em conciliar as
atividades burocráticas à prestação direta do cuidado ao cliente; assim, ele é
desviado de sua função principal para ocupar-se com atividades originalmente
destinadas a outros profissionais. Muitos veem o enfermeiro como aquele
profissional que “apaga incêndios”, o que ocasiona uma diminuição do tempo
dedicado à assistência, ao planejamento do cuidado e à supervisão direta da equipe.
Como consequência desse afastamento do enfermeiro, tem-se a falta de
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reconhecimento de seus esforços e desvalorização de seu trabalho por parte dos
pacientes e da própria equipe de enfermagem (BECCARIA e FÁVERO, 2000).
Assim, é perceptível que o enfermeiro, no exercício de altos cargos
administrativos, afasta-se cada vez mais da assistência direta ao paciente e do
convívio com os demais membros da equipe de enfermagem. A fim de se evitar isso,
foram feitas reflexões acerca da possibilidade de surgir um novo profissional: o
Administrador em Saúde, que teria, como formação básica, a graduação em
enfermagem (CHRISTOVAM e SANTOS, 2005).
4.3 O ENFERMEIRO COMO GESTOR CONTEMPORÂNEO DOS
SERVIÇOS DE SAÚDE
Atualmente, percebe-se que a evolução tecnológica e as mudanças nas
relações socioeconômicas tem determinado, significativamente, alterações nos
padrões da assistência prestada pelo serviço de enfermagem. Essas alterações vem
sendo objeto de interesse para a realização de estudos sobre a administração em
enfermagem, contribuindo para o aprimoramento dos profissionais da área (SOUZA
e SOARES, 2006).
A produção científica, no que concerne o Gerenciamento em Enfermagem,
tem se mostrado bastante significativa, principalmente quando os cursos de Pós-
Graduação são considerados. Ressalta-se que as pesquisas complementam e
integram o processo gerencial, consistindo em ferramentas para consulta e
aprimoramento do gestor (KURCGANT e CIAMPONE, 2005).
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O propósito da gerência é o desenvolvimento e a eficiência organizacional
(FERNANDES et al, 2010). Porém, é uma atividade que exige mais do que
habilidades técnicas e analíticas; exige a capacidade de enfrentar as cobranças, os
riscos e as incertezas, além de um comprometimento com os resultados a serem
atingidos. Devido a mudanças nos âmbitos social, político e econômico, surgiram
novas abordagens e perfis diferentes de gerenciamento. A gerência contemporânea
precisa ter uma visão multifocal: centrada nas pessoas, nas relações interpessoais e
nas equipes de trabalho (e em seus conflitos, próprios das relações humanas). Um
ambiente de trabalho saudável contribui para a satisfação e a realização das
pessoas como profissionais (WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004; ROSSI e LIMA,
2005).
Um assunto bastante discutido na atualidade, quando se fala em gerência,
são as competências necessárias a um gestor. Competência pode ser definida como
conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (conhecido pela sigla “CHA”)
necessários para que determinada pessoa desenvolva suas atribuições e
responsabilidades, usando criatividade e inovação. Porém, o fato de as pessoas
possuírem conhecimentos, habilidades e atitudes não é garantia de que elas terão
um ótimo desempenho nas instituições em que trabalharem (FELDMAN, RUTHES e
CUNHA, 2008).
Quando se fala em competência, os estudos atuais enfatizam bastante a
competência interpessoal. Os primeiros estudos abordando esse tema surgiram na
década de 1960, quando se observou que esse conhecimento aprimorava o
desempenho do grupo na execução de tarefas, na capacidade de produção e na
satisfação dos sujeitos envolvidos. Na década de 1970, a competência interpessoal
foi definida como um conjunto de atitudes e aptidões adquiridas, relacionadas entre
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si, importantes para o exercício da liderança de um grupo de trabalho (MUNARI e
BEZERRA, 2004).
O desenvolvimento de habilidades no campo das relações humanas é
extremamente importante para um profissional que assuma funções gerenciais.
Quando consideramos a gestão dos serviços de saúde, especialmente a gestão dos
serviços de enfermagem, fica evidente a necessidade dessas habilidades
(WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004). Isso é devido ao fato de que a área da
saúde é, provavelmente, uma das maiores empregadoras de trabalhadores
especializados nas mais diversas áreas. E, quando o percentual do capital humano
de uma instituição de saúde é analisado, percebe-se que a maior parte está
concentrada na enfermagem, uma vez que o cuidado ao paciente é a atividade fim
de tal instituição (RUTHES e CUNHA, 2009).
É importante que os enfermeiros gestores e supervisores aprimorem as
competências interpessoais, de modo a facilitar as relações que ocorrem no
cotidiano da organização. Quando as ações adotadas possuem um maior cunho
profissional, as dificuldades tornam-se mais fáceis de serem resolvidas. Dessa
maneira, há uma maior interação, cooperação e produtividade nas equipes de
trabalho, culminando no respeito à atuação do outro sem perder o foco na satisfação
do cliente. A melhoria do atendimento é consequência dessa postura do gestor
(MUNARI e BEZERRA, 2004).
Torna-se nítido, portanto, que o desenvolvimento da competência
interpessoal pode ser uma poderosa ferramenta de transformação da prática
gerencial do enfermeiro. Assim, tem-se um líder que consegue avaliar e
dimensionar os problemas de modo universal, construindo relações significativas
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que permitem o exercício de seu papel com segurança e transparência (MUNARI e
BEZERRA, 2004).
Outra competência com grande enfoque atual é a liderança, sendo esta uma
função gerencial (CHRISTOVAM e SANTOS, 2005) constantemente valorizada por
vários estudiosos da área (WEHBE e GALVÃO, 2005). O enfermeiro, no exercício de
suas atividades, deve saber assumir a postura de líder e saber administrar, sendo
estas condições absolutamente necessárias para um eficiente desempenho
profissional (SOUZA e SOARES, 2006).
Quando o enfermeiro age inspirando sua equipe a alcançar as metas
estabelecidas pela instituição, o resultado obtido é a melhoria da assistência. O líder
promove o desenvolvimento da organização e dos recursos humanos, refletindo
diretamente na qualidade do cuidado oferecido ao cliente; ele também valoriza
aspectos como motivação, criatividade, entusiasmo, participação, envolvimento e
comprometimento da equipe. É importante ressaltar que são os membros da equipe
que fazem a qualidade acontecer, não bastando, somente, a atuação isolada do
enfermeiro (WEHBE e GALVÃO, 2005; RUTHES, FELDMAN e CUNHA, 2010).
Para atuar como líder, não apenas chefe, o enfermeiro deve procurar usar
sua criatividade no desempenho de suas funções, além de bom senso, ética e
linguagem não verbal. A equipe de enfermagem precisa ser envolvida no processo
de trabalho, sendo sensibilizada com relação às necessidades de cada paciente sob
seus cuidados. É importante que os membros da equipe enxerguem o enfermeiro
como seu representante junto à alta gerência da instituição, e que se sintam
valorizados como trabalhadores e como pessoas (RUTHES, FELDMAN e CUNHA,
2010).
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A questão da liderança foi abordada em um modelo proposto por Hersey e
Blanchard, denominado Liderança Situacional. A base desse modelo é a relação
entre os chamados “comportamento tarefa”, “comportamento de relacionamento” e
“maturidade”. O primeiro item refere-se ao tempo utilizado pelo líder para explicar
quais são os deveres e responsabilidades de cada membro do grupo. Nesse
momento, é determinada não somente a tarefa, mas também como, quando, onde e
por quem ela será realizada. O segundo item contempla o envolvimento do líder com
a equipe, abrangendo o ato de ouvir, facilitar e apoiar o subordinado. Já o último
item refere-se à capacidade de uma pessoa em executar determinada tarefa, de
forma motivada e segura (WEHBE e GALVÃO, 2005).
De forma resumida, esse modelo de liderança em questão propõe quatro
tipos de liderança: E1 – determinar; E2 – persuadir; E3 – compartilhar; e E4 –
delegar. Já a maturidade dos subordinados, que é definida como “capacidade e
disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio
comportamento”, é apresentada, também, em quatro níveis: M1 – baixo; M2 – baixo
a moderado; M3 – moderado a alto; e M4 – alto. A estratégia é identificar qual o nível
de maturidade do subordinado para, então, saber a forma de se posicionar como
líder (HERSEY e BLANCHARD, 1986).
O estilo E1 é compatível com o nível de maturidade M1. Para o trabalhador
classificado nesse nível, o líder deve definir como, quando e onde a tarefa deve ser
realizada. Para o trabalhador M2, o líder deve adotar a postura E2, em que ele
encoraja e reforça a disposição do liderado. No caso do trabalhador M3, o estilo
apropriado para o líder é o E3, em que ambos participam do processo de tomada de
decisão a respeito de uma determinada tarefa. E, por fim, o líder deve assumir uma
postura E4 quando o nível de maturidade do funcionário corresponder ao M4; nesse
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caso, delegar é uma ação eficaz e o liderado decide quando, como e onde
desenvolver uma determinada tarefa. O líder E4 colabora somente quando é
solicitado para apresentar novas orientações ou esclarecer alguma dúvida (HERSEY
e BLANCHARD, 1986).
O modelo de Liderança Situacional é uma forma de contribuir para
fundamentar o exercício da gestão do enfermeiro, principalmente em unidades de
emergência. A eficácia vai depender da habilidade do enfermeiro em adaptar o seu
estilo de liderança ao nível de maturidade do membro da equipe. Ressalta-se que
nem todas as ações do funcionário serão classificadas como um único tipo de
maturidade; para determinadas tarefas, ele pode assumir uma postura M3, por
exemplo, e, para outras, M1. O enfermeiro deve conhecer sua equipe a ponto de
saber como agir frente às situações que surgem no dia a dia (WEHBE e GALVÃO,
2005).
Outro aspecto importante a ser observado pelo gestor é a promoção de um
bom ambiente de trabalho, não só entre ele próprio e a equipe de enfermagem, mas,
também, entre os demais membros da organização (serviço administrativo, médico
etc). Alguns autores consideram que o ponto de equilíbrio dentro da organização é
feito pelo tripé “administração, enfermagem e medicina”. Quando os gestores dessas
três especialidades trabalham em conjunto e em harmonia, é mais fácil atingir a
excelência do serviço, a qualidade da assistência e, consequentemente, a satisfação
do usuário (RUTHES, FELDMAN e CUNHA, 2010).
Neste contexto, principalmente nos setores onde o trabalho é dinâmico (UTI,
pronto socorro etc), as equipes médica e de enfermagem precisam atuar em
sincronia, fornecendo um atendimento que deve ser ao mesmo tempo eficaz e
eficiente (WEHBE e GALVÃO, 2005).
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Como já foi mencionado, o exercício da gestão em enfermagem envolve
atividades burocráticas e assistenciais, porém, o foco agora também está no
indivíduo prestador de serviços. O enfermeiro precisa conhecer e abraçar a missão,
a cultura e a política da instituição, incutindo-as à sua equipe. Porém, é necessário
manter o foco das ações sempre direcionado às necessidades e à satisfação dos
pacientes (FERRAZ, GOMES e MISHIMA, 2004; RUTHES, FELDMAN e CUNHA,
2010).
Vários estudos apontam a necessidade de mudança do paradigma gerencial
adotado nos serviços de Enfermagem. A visão burocrática, individualista e
hierárquica deve ser substituída por uma postura mais participativa, flexível e
centrada na dimensão coletiva, valorizando mais o potencial humano (JORGE et al,
2007; RUTHES e CUNHA, 2009; MEDEIROS et al, 2010).
Assim, além de manter o foco no paciente, o gestor precisa atender aos
anseios dos trabalhadores a ele subordinados. Alguns autores denominaram
endomarketing essa estratégia de abordar os funcionários da instituição como
clientes internos. E a satisfação do cliente deve sempre ser prioridade (WEIRICH,
MUNARI e BEZERRA, 2004).
Segundo o endomarketing, se a equipe de enfermagem está motivada, isso
refletirá na produtividade e na qualidade da assistência prestada ao paciente. Além
disso, um funcionário que se sente valorizado pela instituição passa a atuar como
um colaborador, abraçando e defendendo os objetivos do local onde trabalha. Tudo
isso contribui para diminuir a rotatividade e o absenteísmo dos indivíduos. Uma das
maneiras de se valorizar o trabalhador é investir em sua capacitação e atualização.
Assim, custear cursos, incentivar a participação em congressos e fornecer um
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serviço de educação continuada atuante são bons exemplos de como a instituição
pode demonstrar que reconhece a importância do profissional (BEKIN, 2004).
Para que os princípios do endomarketing sejam atingidos, é necessário que
o enfermeiro conheça a realidade na qual está inserido (missão e objetivos da
empresa) e os anseios e potenciais de cada membro de sua equipe, de forma a
direcionar as ações para atender o ser humano nas mais variadas situações que
requerem o cuidado (WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004).
Há outra teoria que vem sendo abordada desde a década de 60: a “Teoria
do Capital Humano”. Em função das mudanças que ocorreram na forma de se
conduzir o gerenciamento do trabalho, essa teoria alcançou grande prestígio nos
últimos 10 anos. Como o próprio nome indica, há uma ênfase no trabalhador e em
seus conhecimentos e capacidades. Os diferentes graus de especialização
determinam quais os trabalhadores são mais indicados para o desempenho de cada
tarefa proposta e muitas instituições já enxergam que o diferencial para obter uma
vantagem competitiva é a forma de gerenciar esse capital humano (RUTHES e
CUNHA, 2009).
Um ponto importante que também vem sendo abordado nos estudos
recentes é a criatividade do profissional. Criatividade é definida como o ato de
realizar, de forma mais eficaz e eficiente, aquilo que já vinha sendo realizado.
Inovação difere-se de criatividade, pois o primeiro conceito assume o sentido de
buscar caminhos ainda não percorridos, como, por exemplo, a criação de novas
tecnologias, novos equipamentos, novos processos. De qualquer maneira, percebe-
se que ambas as qualidades são imprescindíveis para o gerenciamento dos serviços
de enfermagem, seja em organizações públicas, privadas ou mistas (FELDMAN,
RUTHES e CUNHA, 2008).
26
A criatividade permite associar conceitos e transformá-los. As descobertas e
invocações que ocorreram em todas as áreas foram realizadas por aqueles com alta
capacidade de observação e que, por isso, perceberam de uma maneira diferente
alguns fatos tidos como inquestionáveis (FELDMAN, RUTHES e CUNHA, 2008).
Porém, não são todos os ambientes de trabalho que proporcionam
oportunidade para que os funcionários colaborem com suas ideias (FELDMAN,
RUTHES e CUNHA, 2008). O enfermeiro encontra no cotidiano do exercício da
gestão vários obstáculos relacionados à estrutura da instituição e à sua própria
formação acadêmica. A abordagem tradicionalista da Administração, muitas vezes, é
insustentável na prática; porém, a alta gerência permanece na ideia de manter uma
estrutura formal, extremamente hierarquizada, com uma enorme lista de normas e
tarefas a serem cumpridas; no entanto, o funcionário tem pouca ou nenhuma
acessibilidade ao chefe. Nesse contexto, diante da realidade encontrada, o
enfermeiro tende a ficar insatisfeito e frustrado com o seu trabalho (WEHBE e
GALVÃO, 2005; JORGE et al, 2007).
A postura da alta gerência é que determina as facilidades e/ou dificuldades
com que o enfermeiro gestor lidará. Não são necessários apenas conhecimentos e
tecnologias de ponta para que haja mudanças nos processos: é necessária,
também, uma mudança profunda de valores e de culturas, de forma a se atingir uma
assistência mais humana, global e de qualidade. O enfermeiro deve se conscientizar
do seu potencial para transformar a realidade, pois pelo seu trabalho é possível
inovar tanto a forma de se fornecer o cuidado ao paciente quanto a de gerenciar
uma equipe (JORGE et al, 2007; PIRES e GÖTTEMS, 2009).
O desafio do enfermeiro gestor é construir (se já não existir) um clima
apropriado ao exercício da criatividade da sua equipe. A organização deve incentivar
27
a proposição de novas ideias e sugestões daqueles que desempenham o trabalho.
Dessa forma, será possível repensar e aprimorar as maneiras de atender aos
anseios dos pacientes e da própria instituição (MUNARI e BEZERRA, 2004;
FELDMAN, RUTHES e CUNHA, 2008).
É interessante que o enfermeiro gestor encare as situações como desafios e
se sinta motivado a enfrentá-los. O profissional só tem a ganhar se, constantemente,
refletir sobre a melhor maneira de agir mais rápida e eficientemente. Isso é buscar
um comportamento criativo e inovador; são profissionais com esse perfil que as
instituições estão procurando para terem como colaboradores. E as boas ideias
podem surgir de qualquer nível hierárquico (FELDMAN, RUTHES e CUNHA, 2008).
Assim, percebe-se que talvez o maior foco da gestão esteja na área de
recursos humanos. E, nesse âmbito, um aspecto a ser considerado é a importância
do estabelecimento de pessoal em qualidade e quantidade ideais (GONÇALVES et
al, 2004). Mas também é importante ressaltar que, apesar de a maior parte da
produção do gerenciamento em enfermagem estar voltada aos recursos humanos,
há outras áreas que também devem ser contempladas por esse profissional. Como
exemplo, destacam-se as áreas de custo, de regulação e de avaliação dos
resultados (FERNANDES et al, 2010).
O controle de atividades, de materiais e de pessoas caracteriza os saberes
clássicos da Administração e é prática vivenciada no cotidiano do gestor enfermeiro.
Em alguns estudos, há declarações dos enfermeiros demonstrando que o controle
da unidade e da equipe é importante e necessário para que as ações sejam
executadas com qualidade (JORGE et al, 2007).
Grande parte dos materiais de consumo de uma instituição de saúde é
utilizada pela equipe de enfermagem. A utilização de sistemas de gerenciamento de
28
custos é importante, pois a visão da instituição é sempre voltada para a contenção
de gastos sem a perda da qualidade do serviço prestado. O líder dessa equipe,
portanto, deve estar consciente do seu papel nesse processo, contribuindo para o
conhecimento específico na criação, implementação e controle desse sistema
(LOURENÇO e CASTILHO, 2006).
Atualmente, há diversos tipos de sistemas de informações disponíveis, que
consistem em ferramentas úteis ao gestor. O enfermeiro que possui essa função
deve saber selecionar essas ferramentas, extraindo delas o melhor para auxiliá-lo
em sua área de atuação (RUTHES e CUNHA, 2009).
Assim, nota-se que várias concepções surgiram e continuam a surgir acerca
do gerenciamento. Espera-se que a transformação da prática gerencial seja
fundamentada por essas concepções, pois o sujeito deve ser visto não como objeto,
mas como principal agente dessa ação (JORGE et al, 2007).
Nos últimos anos, o setor de saúde apresentou grande taxa de crescimento
no que concerne a oferta de trabalho, aumentando cerca de 80% no período de
1996 a 2006. A tendência é que esse crescimento se mantenha, porém, a posição
ocupada pelo funcionário na instituição dependerá, cada vez mais, da postura desta
aliada ao conhecimento construído pelo indivíduo ao logo de sua trajetória (RUTHES
e CUNHA, 2009).
4.4 O AMPARO LEGAL PARA O EXERCÍCIO DA GERÊNCIA
A palavra gerenciamento é utilizada como definição para as ações de
direção de um indivíduo, de uma organização ou de um grupo de pessoas. A
29
enfermagem vem utilizando o gerenciamento como ferramenta para desempenho do
seu trabalho, buscando adequar modelos administrativos ao seu cotidiano para
manter o foco de atenção no paciente. “Gerenciamento” é um termo recente, que
substitui a palavra "administração", apesar de muitos autores utilizarem ambas com
o mesmo significado. Administração é uma palavra que nos remete às teorias
clássicas, cujo foco era no resultado do trabalho. Gerência, no entanto, é um termo
que contempla, além dos resultados, a utilização e valorização dos recursos
humanos, físicos e ambientais (JORGE et al, 2007). Portanto, pela sua amplitude, o
termo “gestão” foi escolhido para ser utilizado no decorrer deste estudo.
A atividade de gerência é conferida privativamente ao enfermeiro de acordo
com o que determina a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. No 11º artigo, sobre a
regulamentação do exercício da profissão no Brasil, está disposto que o enfermeiro
exerce todas as atividades de enfermagem, porém, são privativas: a direção dos
órgãos de enfermagem da instituição de saúde pública e privada; a chefia de serviço
e de unidade de enfermagem; a organização e a direção dos serviços de
enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras
desses serviços; e o planejamento, a organização, a coordenação, a execução e a
avaliação dos serviços de assistência de enfermagem (JORGE et al, 2007).
4.5 O PAPEL DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO
GESTOR
Apesar de ser o gerenciamento uma atividade conferida por lei, nota-se que
os conhecimentos adquiridos durante a graduação não atendem satisfatoriamente à
30
necessidade apresentada pelo mercado de trabalho. Deve haver interação entre
teoria e prática, relacionando o conhecimento transmitido ao cotidiano do
gerenciamento em enfermagem (JORGE et al, 2007).
As instituições de ensino possuem o desafio e a responsabilidade de formar
profissionais preparados para assumir as atividades gerenciais nas equipes de
enfermagem. Além disso, eles devem ser sensibilizados a promover o
desenvolvimento dos membros da equipe, visando a atingir produtividade e
resolutividade (WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004).
Porém, não é uma tarefa simples preparar o acadêmico enfermeiro para o
exercício da gerência. A maioria das escolas privilegia a formação técnica da
profissão (WEIRICH, MUNARI e BEZERRA, 2004). É perceptível nos profissionais
recém-formados a dificuldade para aliar a teoria à prática. Muitas vezes a instituição
de ensino se prende ao mundo ideológico, filosófico e teórico, não proporcionando
ao acadêmico experiências reais de aprendizagem. Principalmente na disciplina de
gestão, o que se observa é uma carga teórica sucinta seguida por breves momentos
de observação da prática. Essa metodologia pode gerar desinteresse dos
estudantes, que tendem a se voltar mais para a parte técnica da profissão: execução
de procedimentos, manuseio de equipamentos etc. Assim, são formados
enfermeiros que possuem domínio técnico, porém, carecem de habilidades para
gerenciar a equipe de enfermagem e o setor de trabalho. E é importante ressaltar
que saber dominar a técnica não garante ao profissional um bom desempenho como
gerente (JORGE et al, 2007).
Na enfermagem, a atualização da formação dos profissionais ocorre em
ritmo mais lento do que a transformação das práticas. Isso ocorre porque as
exigências impostas pelo mercado mudam constantemente. Há estudos que
31
comprovaram que as abordagens utilizadas nas disciplinas de Administração em
Enfermagem estavam fundamentadas, principalmente, nos modelos tradicionais,
sendo que isso ocorria tanto na graduação quanto na especialização. A pós-
graduação strictu senso era a única que contemplava as abordagens
contemporâneas, o que reforça a ideia de que, durante a graduação, a visão de
gerenciamento passada aos acadêmicos é unidimensional e linear (JORGE et al,
2007).
Talvez a maior dificuldade na formação do enfermeiro seja prepará-lo para
assumir a posição de líder de equipe. E é evidente que a formação acadêmica é de
grande influência para as futuras ações profissionais (CHRISTOVAM e SANTOS,
2005).
A graduação tem buscado aprimorar a qualidade da assistência prestada ao
cliente, utilizando novas teorias como a Sistematização da Assistência de
Enfermagem baseada em diagnósticos, porém, há lacunas relacionadas à forma de
se "administrar" essas mudanças, de supervisionar as ações desenvolvidas e de
motivar a equipe (CHRISTOVAM e SANTOS, 2005; JORGE et al, 2007). O
enfermeiro deve procurar atualizar-se e desenvolver as habilidades necessárias a
um gestor. O profissional não pode ficar obsoleto, ou seu lugar será ocupado por um
profissional que possua domínio das competências técnicas e organizacionais
(RUTHES e CUNHA, 2009).
Na formação do enfermeiro para o exercício da gestão, é fundamental
entender as atuais necessidades do mercado de trabalho para saber como
direcioná-lo. Saber desempenhar a parte técnica é fundamental, mas gerenciar um
serviço de saúde exige o desenvolvimento de algumas habilidades específicas. O
mercado de trabalho exige que o enfermeiro saiba tomar decisões, liderar com
32
segurança, planejar ações profissionais, utilizar ferramentas desenvolvidas
especificamente para a gerência e, acima de tudo, fazer do processo de gestão uma
oportunidade constante de aprendizado para si e para todos os membros de sua
equipe. Assim, para que o enfermeiro consiga desempenhar uma gestão de
qualidade, a compreensão da importância dessas características é essencial, bem
como a aplicação dessas habilidades na prática profissional (MUNARI e BEZERRA,
2004).
33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As teorias administrativas clássicas embasaram a Administração em
Enfermagem, porém, atualmente há a necessidade de se considerar, além do
tecnicismo e dos resultados, os recursos humanos disponíveis. Se o indivíduo sente-
se valorizado e estimulado a demonstrar iniciativa e criatividade, ele tende a abraçar
os valores e a missão da instituição. Um ambiente de trabalho favorável é primordial
para promover o rendimento e a satisfação dos trabalhadores.
As instituições de ensino, durante a formação do enfermeiro, devem estar
atualizadas com relação às novas teorias e tendências de administração e gestão,
preparando-o para o desempenho dessas funções, uma vez que os conhecimentos
adquiridos durante a graduação exercem grande influência na vida profissional.
Porém, o enfermeiro não deve assumir uma postura passiva com relação ao
conhecimento, esperando que apenas a graduação seja suficiente para embasá-lo
em suas ações. O profissional deve buscar sempre atualizar-se, inteirando-se das
novas técnicas de gestão. Além disso, ele deve conhecer sua equipe, identificando
seus anseios, potenciais e dificuldades, de forma a intervir da melhor forma,
promovendo um ambiente de trabalho agradável a todos.
Saber gerenciar é tão importante quanto conhecer as técnicas relacionadas
ao lado assistencial profissão. Assim, se o enfermeiro assume a postura de “líder” e
34
não apenas de “chefe” de equipe, ele saberá conduzi-la em direção aos melhores
resultados e a uma maior interação positiva entre os sujeitos.
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