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 32 Pensamos ser este veículo importante sob um duplo aspecto: por um lado, pela crescente e generalizada intervenção que leva em conta a importância da interdisci plinaridade, e, por outro, a consideração de algumas dificuldades no exercício profissional do psicólogo. Conforme mostram Bastos e Gomide, “as dificuldades no exercício profissional que têm intensidade de ocorrência mais elevada são as provocadas pela  A Re pr esen ta çã o So ci al do T rabalho do Psicológo The social representation of the Psychologist’s work O presente trabalho apresenta um sumário dos principais resultados de uma pesquisa realizada em 1999, como disciplina do Curso de Graduação de Psicologia da Universidade Gama Filho, sobre a representação social da práxis do psicólogo. Os sujeitos da pesquisa foram 375 universitários do penúltimo ano de cursos de graduação da área da saúde de uma universidade da cidade do Rio de  Janeiro. Kátia Botelho Diamico Praça Psicóloga. Mestre em Psicologia Social. Especialista em Psiquiatria Social. Professora do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Gama Filho. Heliane Guimarães  Vieites Novaes Psicóloga. Mestre em Psicologia Social, Especialista em Educação. Professora dos cursos de Psicologia e Pedagogia da Universidade Gama Filho. Resumo:  O presente trabalho apresenta um sumário dos principais resultados de uma pesquisa que teve como objetivo conhecer as representações sociais da Psicologia e do trabalho do psicólogo. Os sujeitos foram 375 estudantes do penúltimo ano de graduação dos cursos da área da saúde e que responderam a um questionário com cinco questões abertas e oito fechadas. Neste trabalho, analisaremos as respostas dadas a nove questões. Constatou-se que as representações acerca da Psicologia e do trabalho do psicólogo apontam para uma visão altamente subjetivista e individualista, em que as condições sociais, históricas e culturais presentes nas experiências subjetivas são excluídas. O estudo indica a urgência de uma reflexão sobre a responsabilidade social e ética do psicólogo. Palavras-Chave: Psicologia, trabalho do psicólogo, representação social, responsabilidade social, ética.  Abstract: This work presents a summary of the main results of a research that aims to know the social representations of Psychology and the psychologi st’s work. The subjects were about 375 stu dents of the graduation courses in the health ground of the University Gama Filho. They answered a questionaire with five opened questions and eight closed ones. In this work we’ll analyse nine answers. We prove that representations about Psychology and the psychologist’s work indicate a top personal and subjective vision where the social, historical and cultural conditions in the subjective practices are eliminated. The work indicates the psychologist’s need of an essential reflection about his social responsibility and ethics. Key Words: Psychology, the psychologist’s practice, social representation, social responsibility, ethics.      J     u     p       i     t     e     r      i     m     a     g      e     s PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (2), 32-47

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    Pensamos ser este veculo importante sob um duploaspecto: por um lado, pela crescente egeneralizada interveno que leva em conta aimportncia da interdisciplinaridade, e, por outro,a considerao de algumas dificuldades noexerccio profissional do psiclogo. Conformemostram Bastos e Gomide, as dificuldades noexerccio profissional que tm intensidade deocorrncia mais elevada so as provocadas pela

    A Representao Socialdo Trabalho do Psicolgo

    The social representation of the Psychologists work

    O presente trabalho apresenta um sumrio dosprincipais resultados de uma pesquisa realizadaem 1999, como disciplina do Curso de Graduaode Psicologia da Universidade Gama Filho, sobrea representao social da prxis do psiclogo. Ossujeitos da pesquisa foram 375 universitrios dopenltimo ano de cursos de graduao da rea dasade de uma universidade da cidade do Rio deJaneiro.

    Ktia BotelhoDiamico Praa

    Psicloga. Mestre emPsicologia Social.

    Especialista emPsiquiatria Social.

    Professora do Curso deGraduao em

    Psicologia daUniversidade Gama Filho.

    Heliane GuimaresVieites Novaes

    Psicloga. Mestre emPsicologia Social,

    Especialista emEducao. Professora

    dos cursos dePsicologia e Pedagogiada Universidade Gama

    Filho.

    Resumo: O presente trabalho apresenta um sumrio dos principais resultados de uma pesquisa que tevecomo objetivo conhecer as representaes sociais da Psicologia e do trabalho do psiclogo. Os sujeitosforam 375 estudantes do penltimo ano de graduao dos cursos da rea da sade e que responderam aum questionrio com cinco questes abertas e oito fechadas. Neste trabalho, analisaremos as respostasdadas a nove questes. Constatou-se que as representaes acerca da Psicologia e do trabalho do psiclogoapontam para uma viso altamente subjetivista e individualista, em que as condies sociais, histricas eculturais presentes nas experincias subjetivas so excludas. O estudo indica a urgncia de uma reflexosobre a responsabilidade social e tica do psiclogo.Palavras-Chave: Psicologia, trabalho do psiclogo, representao social, responsabilidade social, tica.

    Abstract: This work presents a summary of the main results of a research that aims to know the socialrepresentations of Psychology and the psychologists work. The subjects were about 375 students of thegraduation courses in the health ground of the University Gama Filho. They answered a questionaire withfive opened questions and eight closed ones. In this work well analyse nine answers. We prove thatrepresentations about Psychology and the psychologists work indicate a top personal and subjective visionwhere the social, historical and cultural conditions in the subjective practices are eliminated. The workindicates the psychologists need of an essential reflection about his social responsibility and ethics.Key Words: Psychology, the psychologists practice, social representation, social responsibility, ethics.

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    ages

    PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2004, 24 (2), 32-47

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    poltica socioeconmica do Pas e as relacionadasao desconhecimento, por outros profissionais, dacontribuio que o psiclogo pode oferecer(1989, p.14).

    Tambm Carvalho (1988) alerta que, por partedos prprios profissionais da rea, impera (ou pelomenos, na poca, imperava) uma avaliaopessimista do exerccio profissional, com baixacredibilidade da profisso junto populao eaos profissionais de outras reas.

    Por outro lado, vrios estudos vm interrogando oprofissional que estamos formando, propondoreflexes cruciais acerca da Psicologia e dopsiclogo, apontando principalmente paraquestes polticas e sociais pertinentes s anlisese aes desse profissional, muitas vezes ausentes(Bastos, A. V. B., 1988; Bettoi, W. e Simo, L. M.,2000; Bock, A. M. B., 1997; Branco, M. T. C.,1999; Contini, M. L. J., 2000; Moura E. P. G., 1999).

    Historicamente, sabe-se que a profisso depsiclogo surge ligada s demandas de um regimedisciplinar de adequar, ajustar, adaptar. Opsiclogo aplicava testes para selecionar ofuncionrio certo para o lugar certo, paraclassificar o escolar numa turma que lhe fosseadequada, para treinar o operrio, para programara aprendizagem etc. Pensamos, como Figueiredo(1997), que essas funes ainda so importantesna definio da identidade profissional dopsiclogo, evidenciando que a vinculao daPsicologia s demandas de um regime disciplinaresto presentes at hoje.

    Recentemente, Bock (2000), atravs de umapesquisa realizada entre os anos 1992 e 1997,com psiclogos registrados no Conselho Regionalde So Paulo, mostrou que a maioria das respostasdadas pelos profissionais referentes viso dehomem, de mundo, de fenmeno psicolgico eda prpria prtica profissional revelam, de formapredominante, uma concepo liberal de homem,onde se naturaliza o fenmeno psicolgico, ouseja, o homem pensado como possuidor de umaessncia originria, que faria parte de umanatureza. A autora tambm enfatiza a concepodo termo social, que, praticamente, refere-seapenas existncia de outros homens.Conseqentemente, no surpreende que, emrelao perspectiva sobre a prtica profissional,questes sociopolticas sejam ignoradas ouinexistentes para a grande maioria dos profissionaisque participaram deste estudo.

    Concordamos com Moura (1999) que, aoproblematizar questes fundamentais a respeitoda Psicologia e dos psiclogos que temosproduzido, deixa patente a consagrao de uma

    A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    interveno profissional voltada para aconformidade e o ajustamento do homem aomeio, o que denota a grande ausncia dadimenso social na concepo da Psicologia sobreseu objeto de estudo. Ignoram-se, tambm, osprocessos de produo de subjetividadecontemporneos.

    Tambm enfocando a questo da formao dopsiclogo e sua identidade profissional, Contininos diz que A formao, hoje, via de regra, estcalcada em um modelo conservador de promoode sade... sustentado por teorias que tm o seufoco voltado para a descrio dos comportamentospatolgicos... Essa situao tem contribudo parauma consolidao da identidade do psiclogomarcada exclusivamente pelo seu carterteraputico, dificultando a construo de um outroprofissional que possa atender diferentes situaes,como as institucionais e comunitrias (p.53).

    A partir dessas reflexes, temos como objetivoprincipal deste trabalho analisar at que ponto asrepresentaes sociais aqui encontradas refletemuma viso que inclui a dimenso poltico-socialno saber-fazer do psiclogo, ou seja: o psiclogo visto como um profissional crtico acerca dasquestes polticas e sociais presentes no contextoonde se d sua interveno, voltado para aproduo de novas formas de relaes na vida, ou visto como um profissional comprometido coma adaptao social, com a legitimao de formasinstitudas, hegemnicas de ser em nossasociedade?

    Entendemos o conceito de representao socialatravs da concepo de Serge Moscovici, poisesta possibilita a compreenso de um objeto sociala partir de representaes que refletem a cultura ea sociedade na qual o sujeito est inserido, o quevai de encontro ao nosso propsito aqui. Asrepresentaes sociais, para Moscovici, so ...oconjunto de conceitos, explicaes e afirmaesque se originam na vida diria, no curso decomunicaes interindividuais (1981, p.47). Soentidades quase tangveis, que se articulam e secristalizam por meio de gestos, falas, encontros, deforma ininterrupta, no universo cotidiano,impregnando a maioria de nossas relaes sociais.

    Ao inaugurar uma nova perspectiva de investigaoem Psicologia Social, Moscovici demonstra ainevitvel indissociao entre indivduo, grupo esociedade na apreenso do saber cotidiano. Pode-se dizer que, a partir de seu estudo sobre arepresentao social da Psicanlise (1961), surgeuma abordagem terico-metodolgica indita,que trata da compreenso dos processos deconstruo e transformao das representaessociais produzidas e reproduzidas dentro de grupos

    Auxiliares de pesquisa:

    Alunos do Curso de Graduaoem Psicologia da UGF:

    Anglica MartinsPerdigo GomesAnglica Cecilia de CarvalhoBruna dos Santos FerrazCaroline Carvalho DenioloJoselinda Silva SantanaLuciana ChagasPessoa de MelloLuciana Ozrio LapaMilena Azevedo Gomes deMagalhesRoberto Carvalho Alves FilhoRosngela SimonettiSabrina Venturini RamosTatiane Braga BellienyVanessa Alves Moraes

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    sociais. Assim, a recuperao dos sujeitos comoaqueles que constroem tanto o mundo, como asi prprios, atravs de suas atividades e relaescom a sociedade, torna-se fundamental para abase de sua teoria. Importa, ento, perceber arelao essencial entre o universal e o particular.

    A teoria das representaes sociais reside na idiade que os sujeitos buscam explicaes, criamteorias prprias sobre uma srie infindvel deassuntos que prendem a ateno e a curiosidade,demandando compreenso e pronunciamentosquotidianos a respeito de temas sociaiscontemporneos como a escola, a moral, a religio,a poltica, a cultura, a sade, a doena, a violncia,a tecnologia, as desigualdades sociais, econmicasetc. Tais explicaes no so simples opinies, maspossuem uma lgica prpria, baseada nas maisdiferentes informaes e julgamentos valorativosadquiridos por diferentes fontes, alm defundamentarem-se tambm em experinciaspessoais e grupais.

    Para maior entendimento da teoria, importantedestacarmos a existncia de duas classes distintasde universo de pensamento: os universosconsensuais e os reificados. Nos universosreificados, encontramos as cincias e o pensamentoerudito em geral. Nos consensuais, viajam ospensamentos e idias que, freqentemente, tiveramorigem nos universos reificados, mas foramreapropriados pelos demais integrantes dasociedade de uma forma particular, atravs de umalgica diversa daquela em que se produzem osconhecimentos cientficos, colaborando, portanto,para a existncia das representaes sociais.Portanto, representar algo no simplesmenterepeti-lo, mas, sim, reconstitu-lo, modificando-lheo texto.

    Ao recuperar a inter-relao do individual com osocial e ver os sujeitos como capazes de oporem-se ao que j est dado e inventado, resistindo aosmodelos hegemnicos, abre-se espao para astransformaes e representaes modificadas.

    Importa, tambm, assinalar que as representaessociais, da forma aqui entendida, so criadas parapossibilitar a comunicao entre sujeitos. Somediaes sociais e permitem que saberesestranhos se tornem familiares. A construoimaginativa e simblica do mundo ocorre nainterseo entre conhecimentos prvios,tradicionais (j conhecidos, mas nuncacompletamente abandonados) e a necessidade dereformul-los, dar-lhes nova roupagem, recriando-os e, dessa forma, introduzindo o novo. Aconstruo das representaes d-se medidaque os sujeitos retornam suas memrias, suastradies e experincias e mesclam esses antigos

    elementos aos novos, dando prosseguimento produo do mundo de idias e imagens quevivemos. O resultado das representaes reificadas(inicialmente estranhas), amalgamadas com osconhecimentos prvios, altamente criativo einovador no seio da vida quotidiana. Asrepresentaes sociais de objetos sociais so, assim,produtos do comportamento criador do homem.Segundo Moscovici, O objeto est inscrito numcontexto ativo, dinmico, pois que parcialmenteconcebido pela pessoa ou a coletividade comoprolongamento de seu comportamento, e s existepara eles enquanto funo dos meios e dosmtodos que permitem conhec-lo (1978, p.52).

    Importa, ainda, assinalarmos dois processosfundamentais nessa elaborao das representaessociais, a saber: a ancoragem e a objetivao.

    A ancoragem diz respeito a um processo de trazerpara categorias e imagens j conhecidas aquiloque ainda no est classificado e (ou) rotulado.

    A objetivao reside no processo de transformaruma abstrao em algo tangvel, quase fsico.Implica descobrir o aspecto icnico de uma idia.Observa-se, ento, que as representaes sociaistratam de fornecer um enquadre que contextualizaos sistemas de categorizao de uma sociedade. Asclassificaes, dessa forma, no so constataesde fatos, mas encontram seu lugar em umaharmonia criada pelas representaes. Quando oleigo diz que psiclogo maluco, isso deve serentendido a partir de uma rede de significaesprovenientes das representaes sociais sobre opsiclogo.

    Metodologia

    Amostra: A amostra constou de 375 estudantesuniversitrios do penltimo ano de graduao deuma universidade da cidade do Rio de Janeiro,dos seguintes cursos: Psicologia, Nutrio,Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Biologia,Odontologia e Educao Fsica.

    Instrumento: A partir da aplicao de um pr-teste, foi elaborado um questionrio com cincoquestes abertas e oito questes fechadas. Nopresente trabalho, analisaremos as respostas dadasa nove questes, a saber: 1- Na sua opinio, oque Psicologia?(aberta), 2-Na sua opinio, qualo principal objeto de estudo daPsicologia?(fechada), 3- Em que locais podemosencontrar psiclogos trabalhando?(fechada), 4-Na sua opinio, qual o principal objetivo dopsiclogo em seu trabalho?(fechada), 5- Do queo psiclogo se utiliza em sua prtica?(fechada),6- Que caractersticas voc atribuiria aoprofissional de Psicologia?(fechada), 7- Voc

    Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    Ao recuperar a inter-relao do individualcom o social e ver os

    sujeitos como capazesde oporem-se ao que

    j est dado einventado, resistindo

    aos modeloshegemnicos, abre-

    se espao para astransformaes e

    representaesmodificadas.

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    acredita que um trabalho psicolgico produzabons resultados?(aberta), 8- Voc buscaria algumservio psicolgico se sentissenecessidade?(aberta) e 9- Escolha a frase quemais se aproxima de seu pensamento acerca daPsicologia e do psiclogo(fechada).

    Procedimento: Na investigao para identificaodo contedo das representaes sociais daprofisso do psiclogo, foi realizada uma anlisede contedo, em funo da qual as opinies ecomentrios foram submetidos anlise temticabaseada em um sistema de categorias. Com opropsito de anlise, foram computadas asfreqncias com que os vrios contedostemticos apareceram e, posteriormente,calculadas as percentagens de suas incidncias.Realizou-se, tambm, uma anlise comparativaentre as respostas dos estudantes de Psicologia e asrespostas dos estudantes dos outros cursos. Caberessaltar que o clculo de incidncia das categoriasteve como base o nmero de sujeitos. Foramcriadas nove categorias, respectivamente, de acordocom as nove questes em anlise, j citadas.

    A primeira categoria foi caracterizao daPsicologia, tendo seis subcategorias: estudo docomportamento, estudo de fenmenospsicolgicos, estudo da relao do homem como social, estudo do ser humano, funoassistencialista e promoo da sade (tabela 1). Asegunda categoria, denominada objeto deestudo, tem como subcategorias: mente, alma,comportamento, inconsciente, subconsciente,conscincia e subjetividade (tabela 2). A terceiracategoria foi chamada local de trabalho,abrangendo as subcategorias: condomnio,comunidades carentes, sindicatos, associaesesportivas, clnica, escola, hospital, consultrio,presdio, igreja, centro esprita e empresa (tabela3). Na quarta categoria, objetivo profissional,temos como subcategorias: tratar doenas dosnervos, ajudar as pessoas, promover sade,melhorar a qualidade de vida, curar, mudarcomportamentos e integrar-se s normas sociais(tabela 4). A quinta categoria, denominadainstrumentos do psiclogo, inclui assubcategorias: medicao, entrevistas, dinmica degrupo, cristais, brinquedos, testes psicolgicos,mapa astral, florais de bach, ouvir as pessoas eterapia de vidas passadas (tabela 5). A sextacategoria, caractersticas do psiclogo apresentacomo subcategorias: cientista, observador,manipulador, honesto, maluco, charlato,confivel, culto, equilibrado, problemtico (tabela6). A stima categoria, credibilidade no trabalhodo psiclogo, e a oitava categoria, busca deservios psicolgicos, tm, como subcategorias ,sim, no e talvez. A nona categoria, imagem daPsicologia e do psiclogo, apresenta as

    subcategorias: tenho amigos, psiclogo maluco,de mdico, psiclogo e louco, Psicologia sade,terapia para rico, coisa de mulher, serviossuprfluos e no tem o que fazer.

    Anlise e Discusso dos Resultados

    De acordo com a tabela 1, na categoriacaracterizao da Psicologia, a maioria dasrespostas revela uma imagem da Psicologia comoestudo do comportamento e de fenmenospsicolgicos. Essa representao revela-se emexpresses como: a Psicologia estuda ocomportamento humano e a mente humana,...avalia os seres humanos nos seus aspectospsicolgicos.

    Ao que parece, a dita avaliao baseia-se emcritrios de adequao ou no do homem e refere-se dimenso comportamental, explicada, a,como efeito de fenmenos puramente individuaise naturalizantes dos fenmenos psicolgicos. Emoutras palavras, o comportamento humano e osfenmenos psicolgicos aparecem como fazendoparte de algo intrnseco ao homem, como umaessncia que o caracterizaria. Dessa forma, exclui-se a dimenso histrica e social presente noindividual. Ignora-se, assim, que o humano no algo dado aprioristicamente, mas, sim, umaconstruo que se d no processo dialticopresente nas relaes estabelecidas com outros.

    Outro dado que deve ser ressaltado refere-se subcategoria funo assistencialista, revelando arepresentao da Psicologia como aquela quepode dar ajuda incondicional ao outro. Podemosnotar isso a partir de declaraes como: aPsicologia ajuda nos problemas, ...resolve ecompreende os problemas..., cuida das pessoas,ajuda no autoconhecimento, ajuda a lidar coma vida, ajuda em uma nova viso de mundo.

    As subcategorias referentes aos fenmenospsicolgicos e ao assistencialismo remetem ao quemostra Magalhes e Keller (2001), em estudorealizado sobre a escolha vocacional emPsicologia, na perspectiva de quem estingressando no Curso de Graduao emPsicologia. Na pesquisa desses autores, a maiorparte das declaraes expressam o desejo deajudar o outro associado a interesses por assuntospsicolgicos (a mente humana, gnese da psiqu)e seu desenvolvimento. A ajuda ao outro, assimcomo no presente trabalho, implica mudana deviso de mundo e melhoria das relaes com osoutros e com a sociedade em geral.

    Cabe observar a roupagem onipotente com quese veste a Psicologia e, conseqentemente, aquelesque trabalham com ela. Cincia capaz de mudar,

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    melhorar, resolver a vida e as relaes estabelecidas. Quanto poder!!! No por acaso que o profissionalda rea (e o estudante tambm) tem o esteretipo comum e antigo de adivinhar o que os outros pensam,tem bola de cristal etc.

    Bock, A. B. M., em estudo realizado entre 1992 e 1999, tendo como amostra psiclogos registrados noConselho Regional de Psicologia de So Paulo, j mostrou como os psiclogos evidenciam, em seusdiscursos, principalmente quando relatam seus trabalhos, uma noo onipotente da profisso e de siprprios como profissionais, acreditando que tm nas mos a possibilidade de fazer do outro um homemfeliz, de coloc-lo em movimento. Esse discurso, porm, acompanhado da idia de que ...mas opsiclogo no muda o homem, apenas contribui para que ele prprio se modifique. A autora alerta-nospara o fato de que, a, a onipotncia se traveste de humildade (2000, p.23).

    importante observar, neste ponto, a relao existente entre os universos reificados, representados aquipela Psicologia, e os consensuais, isto , a forma de apropriao das idias e pensamentos ligados Psicologia.

    Na subcategoria estudo da relao do homem com o social, evidencia-se o percentual de 6,9%, ondeencontramos idias como: a cincia que estuda a relao do homem com a sociedade, a cinciaque integra o homem ao social, procura adaptar o homem e melhorar suas relaes com as outraspessoas. Cabe salientar, nessas respostas, a presena de uma noo dicotmica das relaes do homemcom a sociedade. O homem parece ser pensado como uma imanncia independente do social e docultural. Ao ignorar que a sociedade diz respeito a uma rede de significados simblicos produzidos ereproduzidos pela atividade humana, que, ao produzir sua cultura e sua histria, o homem produz a simesmo, s resta mesmo pens-lo como objeto a ser ajustado e adaptado a uma realidade social, vistacomo uma espcie de engrenagem, parte de questes relativas subjetividade.

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    Na categoria objeto de estudo, fica evidenciado um alto ndice percentual na subcategoriacomportamento (49,6%), tanto nos estudantes de Psicologia (44%), como nos estudantes dos outroscursos (50,4%). Repete-se, aqui, como na primeira categoria, uma representao individualizante eadaptativa da Psicologia, como j mostrado, de certa forma, por diversos autores (Carvalho, A. M.A., 1988; Magalhes, M. e Keller, M. S. M., 2001; Bock, A. B. M., 2000; Figueiredo, L. C. e Santi, P.L. R.,1997 e Moura, E. P. G., 1999).

    Sobressai, nesse quadro, a diferena nas subcategorias mente e subjetividade entre os estudantes dePsicologia e os outros. Enquanto, para os primeiros, encontramos um percentual de 16% paramente e 24% para subjetividade, para os segundos, constata-se um percentual de 27,4% para mentee apenas 2,5% para subjetividade. Verifica-se, tambm, um dado um pouco surpreendente. Asubcategoria conscincia apresenta um percentual de 0% nas respostas dos alunos de Psicologia; jna subcategoria inconsciente, o percentual de 10% das respostas. Em relao aos alunos dos outroscursos, h um certo equilbrio percentual entre essas duas subcategorias.

    A no-considerao, pelos alunos de Psicologia, da conscincia como objeto de estudo e a altaincidncia de respostas na subcategoria comportamento parece apontar para representaes acercade seu objeto de estudo sustentadas, principalmente, por referncias tericas da Psicanlise e doComportamentalismo. Esse dado vai de encontro ao trabalho de Bastos e Gomide (1989) com umaamostra de 2448 psiclogos de diferentes regies do Pas. Os autores mostram, quanto orientaoterico-metodolgica de psiclogos, um predomnio da Psicanlise (como esperavam) e, em segundolugar, da Anlise do Comportamento.

    Tabela 1: caracterizao da Psicologia

    Estudo do estudo do estudo estudo do funo promo- outros brancocomporta- fenmeno relao ser assisten- vermento psicolgico homem/ humano cialista sade social

    Enfermagem 7 p. (23) 6 10 2 1 2 0 0 0Enfermagem 6 p. (19) 2 9 0 5 2 2 1 0Medicina 10 p. (27) 0 11 6 0 2 0 0 0Biologia 5 p. (7) 5 4 1 0 1 0 0 0Nutrio 5 p. (16) 4 6 1 0 0 0 0Nutrio 6 p. (17) 7 4 2 0 2 0 0 2Odontologia 6 p. (22) 12 9 2 0 1 0 0 5Odontologia 5 p. (16) 6 13 1 2 3 0 1 0Educao fsica 6 p. (22) 16 7 0 1 2 0 1 2Educao fsica 4 p. (22) 8 9 0 4 3 0 1 0Fisioterapia 6 p. n. (32) 9 14 4 2 4 1 0 2Fisioterapia 6 p. m. (38) 17 20 4 1 2 0 0 0Fisioterapia 4 p. m. (29) 7 16 0 3 2 0 0 0Fisioterapia 5 p. n. (35) 16 13 0 2 1 0 0 2

    Total (325) 115 145 23 21 27 3 4 13 % 35,4 44,6 7,1 6,5 8,3 0,9 1,2 4,0

    Psicologia 7 p. n. (12) 3 4 2 1 2 0 0 0Psicologia 7 p.m. (10) 4 4 0 0 1 0 0 0Psicologia 8 p. n. (16) 12 10 1 1 0 2 0 0Psicologia 8 p. m. (12) 0 7 0 1 0 0 1 0

    Total (50) 19 25 3 3 3 2 1 0 % 38,0 50,0 6,0 6,0 6,0 4,0 2,0 0Total (375) 134 170 26 24 30 5 5 13 % 35,7 45,3 6,9 6,4 8,0 1,3 1,3 3,5

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    Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    Tabela 2: objeto de estudo

    mente Alma Compor- Incons- sub-cons- cons- subjeti- TOTAL tamento ciente cincia cincia vidade

    Enfermagem 7 p. 7 11 3 2 23Enfermagem 6 p. 2 1 9 2 2 3 19Medicina 10 p. 4 3 14 2 1 3 27Biologia 5 p. 3 1 2 1 7Nutrio 5 p. 5 2 5 1 1 2 16Nutrio 6 p. 4 1 10 1 1 17Odontologia 6 p. 5 13 1 1 1 1 22Odontologia 5 p. 4 6 1 3 2 16Educao fsica 6 p. 11 10 1 22Educao fsica 4 p. 3 1 15 1 1 1 22Fisioterapia 6 p. n. 7 21 1 2 1 32Fisioterapia 6 p. m. 10 2 21 1 2 2 38Fisioterapia 4 p. m. 13 10 1 2 3 29Fisioterapia 5 p. n. 11 1 17 3 3 35Total 89 12 164 13 19 20 8 325% 27,4% 3,7% 50,4% 4,0% 5,8% 6,2% 2,5% 100%

    Psicologia 7 p. n. 1 7 4 12Psicologia 7 p.m. 2 1 6 1 10Psicologia 8 p. n. 2 6 5 3 16Psicologia 8 p. m. 3 2 3 4 12Total 8 3 22 5 12 50% 16,0% 6,0% 44,0% 10,0% 0% 0% 24,0% 100%Total 97 15 186 18 19 20 20 375

    A categoria local de trabalho importante, na medida em que propicia uma reflexo sobre o compromissodo profissional de Psicologia com a sociedade em que vive e trabalha. A questo que se coloca : osservios psicolgicos continuam associados s demandas de uma elite ou h alguma mudana nessesentido? Observando a tabela 3, encontra-se um elevado ndice de respostas, principalmente nassubcategorias: hospital (93,1%), escola (91,2%), clnica (88,5%) e presdio (84,8%), ficando, porm,evidenciado um alto ndice percentual na maioria das outras subcategorias, o que revela certo equilbriopercentual. Exceo a isso pode ser observada nos itens condomnio (17,1%), sindicatos (29,1)%, igrejas(27,5%) e centro esprita (17,1%).

    Esses dados parecem indicar uma representao mais diversificada do trabalho do psiclogo, ou seja, umreconhecimento maior da contribuio que o psiclogo pode oferecer em diversos espaos sociais, assimcomo um reconhecimento da interdisciplinaridade presente em sua prxis, pois sabe-se que, emestabelecimentos como hospitais e escolas, por exemplo, a idia de um trabalho interdisciplinar bastantepresente, principalmente considerando nossa amostra.

    Outro dado que deve ser ressaltado, embora apresentando um pequeno ndice percentual, a incidnciade respostas que aparecem nas subcategorias igreja e centro esprita. No causa estranheza o percentualmaior nas respostas dos estudantes de Psicologia (54% e 38% respectivamente), j que esto mais atentos aoque acontece na rea, mas o que mais importa, no entanto, a questo de uma representao daPsicologia vinculada a crenas religiosas, a insero de determinadas prticas por profissionais da rea quepodem ser seriamente questionadas, tanto em seus aspectos terico-metodolgicos, como em seus aspectosticos.

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    A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    Tabela 3. local de trabalho

    condo- Com. sindi- espor- clni- esco- hospi-com- pre- Igre- cen- em- mnio Caren- catos te ca La tal sult- s- Ja tro pre-

    te rio dio sa

    Enfermagem 7 p. 3 14 7 12 21 19 23 17 16 5 4 18Enfermagem 6 p. 2 13 6 11 17 19 19 14 14 8 3 18Medicina 10 p. 3 20 10 13 25 26 26 18 25 8 6 24Biologia 5 p. 2 7 3 6 6 7 7 6 7 4 4 6Nutrio 5 p. 2 9 4 10 11 11 11 11 10 4 5 11Nutrio 6 p. 1 10 2 9 14 14 15 15 14 2 1 12Odontologia 6 p. 2 15 3 17 17 19 21 19 19 6 2 18Odontologia 5 p. 4 13 7 14 14 16 16 14 15 7 4 14Educao fsica 6 p 4 15 5 21 21 20 21 20 17 5 4 18Educao fsica 4 p 4 13 4 18 18 19 16 18 18 4 2 20Fisioterapia 6 p. n. 2 24 10 26 31 29 30 27 28 9 5 29Fisioterapia 6 p. m. 3 21 6 28 30 29 30 25 29 7 1 27Fisioterapia 4 p. m. 0 24 6 17 29 29 29 26 26 2 0 22Fisioterapia 5 p. n. 3 28 7 23 28 35 35 31 31 5 4 30Total 35 226 80 225 282 292 299 261 269 76 45 267

    % 10,8 69,5 24,6 69,2 86,8 89,8 92,0 80,3 82,8 23,4 13,9 82,2

    Psicologia 7 p. n. 8 12 10 12 12 12 12 12 12 8 5 12Psicologia 7 p.m. 5 10 5 10 10 10 10 10 10 5 2 10Psicologia 8 p. n. 8 16 9 16 16 16 16 16 16 10 9 16Psicologia 8 p. m. 8 11 5 12 12 12 12 11 11 4 3 12Total 29 49 29 50 50 50 50 49 49 27 19 50

    % 58,0 98,0 58,0 100 100 100 100 98,0 98,0 54,0 38,0 100Total 64 275 109 275 332 342 349 310 318 103 64 317

    % 17,1 73,3 29,1 73,3 88,5 91,2 93,1 82,7 84,8 27,5 17,1 84,5

    A categoria objetivo profissional, revela alguns dados curiosos. O maior ndice percentual encontra-se nasubcategoria melhorar a qualidade de vida (44,2%). Constata-se, tambm, nessa tabela, que, para osestudantes dos outros cursos, o item ajudar as pessoas (24,3%) aparece em segundo lugar; j para osestudantes de Psicologia, aparece promoo de sade (34%). Pode-se inferir, porm,que essa representaoestaria muito mais associada idia de melhoria de qualidade de vida no sentido de assistencialismo, comosurge na primeira categoria (caracterizao da Psicologia), naquela viso individualizante do outro, do que qualidade de vida das pessoas num sentido de conscientizao, de cidadania, mais voltada para acoletividade, para trocas intersubjetivas. Essa suposio tambm encontra apoio se levarmos em conta acategoria objeto de estudo, pois cabe aqui a pergunta: O psiclogo melhora a qualidade de vida a partirdo trabalho que incide sobre o comportamento?

  • Tabela 4: objetivo profissional doena Ajudar prom. Qualidade curar mudar integrar TOTAL nervos pessoas Sade de vida comp.

    Enfermagem 7 p. 6 3 9 2 3 23Enfermagem 6 p. 3 4 11 1 19Medicina 10 p. 3 2 16 1 1 4 27Biologia 5 p. 1 4 2 7Nutrio 5 p. 1 6 5 2 2 16Nutrio 6 p. 4 3 2 2 1 5 17Odontologia 6 p. 12 1 7 1 1 22Odontologia 5 p. 6 8 1 1 16Educao fsica 6 p. 5 7 2 7 1 22Educao fsica 4 p. 6 8 2 6 22Fisioterapia 6 p. n. 1 8 2 15 2 4 32Fisioterapia 6 p. m. 9 3 16 3 2 5 38Fisioterapia 4 p. m. 5 14 1 3 6 29Fisioterapia 5 p. n. 10 2 15 1 7 35Total 1 79 26 137 9 26 47 325

    % 0,3% 24,3% 8,0% 42,1% 2,8% 8,0% 14,5% 100%

    Psicologia 7 p. n. 1 6 4 1 12Psicologia 7 p.m. 2 8 10Psicologia 8 p. n. 5 11 16Psicologia 8 p. m. 6 6 12Total 3 17 29 1 50

    % 0% 6,0% 34,0% 58,0% 0% 2,0% 0% 100%

    Total 1 82 43 166 9 27 47 375% 0,3% 21,9% 11,5% 44,2% 2,4% 7,2% 12,5% 100%

    40

    Um dado que, caberessaltar, embora

    apresente um ndicepercentual

    relativamentepequeno, a

    representao dasubcategoria terapia

    de vidas passadas(33,3%) como

    instrumento dopsiclogo, o quemostra um certo

    desconhecimento ecerta confuso do

    que seja umaintervenopsicolgica.

    Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    A tabela 5, referente categoria instrumento do psiclogo, revela altos ndices percentuais em instrumentosreconhecidos como psicolgicos: ouvir (89,3%), entrevistas (87,2%), testes (87,2%) e dinmica de grupo(84,5%).

    Um dado que, cabe ressaltar, embora apresente um ndice percentual relativamente pequeno, arepresentao da subcategoria terapia de vidas passadas (33,3%) como instrumento do psiclogo, o quemostra um certo desconhecimento e certa confuso do que seja uma interveno psicolgica.

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    A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    Tabela 5: instrumentos do psiclogomedi- entre- din- cris- brinq. testes mapa Florais ouvir Terapia VPcao vistas mica tais astral

    Enfermagem 7 p. 2 22 22 11 19 2 24 11Enfermagem 6 p. 17 17 3 6 14 1 3 15 5Medicina 10 p. 3 27 27 3 13 27 1 5 21 12Biologia 5 p. 3 7 6 6 6 7 3Nutrio 5 p. 1 11 11 1 6 11 1 1 11 4Nutrio 6 p. 2 10 11 3 13 13 4Odontologia 6 p. 15 19 19 1 7 15 1 2 20 7Odontologia 5 p. 1 16 14 4 8 14 1 3 14 10Educao fsica 6 p. 6 18 17 4 6 18 2 4 20 8Educao fsica 4 p. 7 18 14 2 11 20 21 7Fisioterapia 6 p. n. 4 27 30 2 15 28 1 3 29 11Fisioterapia 6 p. m. 2 32 21 4 12 35 1 3 31 15Fisioterapia 4 p. m. 1 26 25 11 25 1 2 28 10Fisioterapia 5 p. n. 3 27 33 10 33 2 32 14Total 65 277 267 24 125 278 12 28 286 121 % 20,0 85,2 82,2 7,4 38,5 85,5 3,7 8,6 88,0 37,2

    Psicologia 7 p. n. 12 12 9 11 12 1Psicologia 7 p.m. 10 10 1 11 10 1 10 1Psicologia 8 p. n. 16 16 16 16 15 1Psicologia 8 p. m. 12 12 12 12 12 1Total 50 50 1 48 49 1 49 4 % 0 100 100 2,0 96,0 98,0 0 2,0 98,08,0Total 65 327 317 25 173 327 12 29 335 125 % 17,3 87,2 84,5 6,7 46,1 87,2 3,2 7,7 89,3 33,3

    Na categoria caractersticas do psiclogo, o profissional de Psicologia representado principalmentecomo observador (85,6%), equilibrado (46,9%) e confivel (43,2%). Importa salientar o pequeno ndicepercentual na subcategoria cientista (18,2%) para os estudantes dos outros cursos. Esse fato parece implicarum no-reconhecimento do psiclogo como um cientista, o que vai de encontro a alguns resultados dacategoria instrumentos do psiclogo, onde, como visto, aparecem instrumentos utilizados nas chamadasprticas alternativas ou terapias de auto-ajuda. A considerao desses dados pode refletir uma questofundamental em relao representao que se tem da profisso no que diz respeito s prticas referidasacima.

    Figueiredo j mostrou a tendncia, que cresce significativamente, aumentando seu mercado, das terapiasde auto-ajuda e que so associadas Psicologia. Como diz o autor, ... numa mistura de concepesdo senso comum ou baseadas em teorias psicolgicas, em pressupostos humanistas sobre a liberdade dohomem e num estilo de administrao empresarial, nitidamente comportamentalista...(1997, p.87).

    Tambm Rolnik chama ateno para as drogas oferecidas no mercado em tempos de globalizao:...h ainda a droga oferecida pela literatura de auto-ajuda...essa categoria inclui a literatura esotrica, oboom evanglico e as terapias que prometem eliminar o desassossego, entre as quais a neurolingustica,programao behaviorista de ltima gerao(2000, p.2).

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    Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    Tabela 6: caractersticas do psiclogo cien- observa manipu- hones malu- char- confi- culto equili Proble- tista dor lador to co lato vel brado Mtico

    Enfermagem 7 p. 4 22 7 3 14 8 7 2Enfermagem 6 p. 2 17 2 1 8 3 5Medicina 10 p. 2 26 6 5 1 1 5 14 2Biologia 5 p. 4 4 1 1 1 1 4Nutrio 5 p. 4 10 3 3 4Nutrio 6 p. 3 13 4 1 5 4 6Odontologia 6 p. 1 19 4 5 3 11 2 11 3Odontologia 5 p. 6 15 4 9 3 7 1Educao fsica 6 p. 2 19 2 5 1 8 6 18 1Educao fsica 4 p. 4 18 3 7 1 9 6 9 2Fisioterapia 6 p. n. 6 28 1 5 4 14 8 13Fisioterapia 6 p. m. 3 29 4 11 5 1 16 7 19 2Fisioterapia 4 p. m. 7 25 4 7 2 12 4 12 4Fisioterapia 5 p. n. 11 30 3 10 1 13 8 15 1Total 59 275 30 72 21 2 124 68 144 18 % 18,2 84,6 92,2 22,2 6,5 0,6 38,1 20,9 44,3 5,5

    Psicologia 7 p. n. 7 11 6 10 5 8Psicologia 7 p.m. 5 9 5 6 7 5Psicologia 8 p. n. 9 14 1 9 12 6 13 1Psicologia 8 p. m. 9 12 8 1 10 10 6Total 30 46 1 30 1 38 28 32 1 % 60,0 92,0 2,0 60,0 2,0 76,0 56,0 64,0 2,0Total 89 321 31 102 21 3 162 96 176 19% 23,7 85,6 8,3 27,2 5,6 0,8 43,2 25,6 46,9 5,1

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    A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    Constata-se, tambm, um elevado ndice percentual na busca de servios psicolgicos (74,9%), havendo,porm, maior incidncia de respostas positivas dos estudantes de Psicologia, o que era de se esperar.Sobressai, aqui, o pequeno percentual (6%) de estudantes de Psicologia que no buscariam serviospsicolgicos se sentissem necessidade.

    Quanto categoria credibilidade do trabalho do psiclogo, encontra-se uma representao altamentepositiva (87,2%), tanto nos estudantes de Psicologia (92%) como nos estudantes dos outros cursos (86,4%).

    Tabela 7: credibilidade no trabalho do psiclogoSIM NO TALVEZ BRANCO TOTAL

    Enfermagem 7 p. 21 - 2 23Enfermagem 6 p. 15 - 4 19Medicina 10 p. 22 - 4 1 27Biologia 5 p. 6 1 - - 7Nutrio 5 p. 16 - - - 16Nutrio 6 p. 16 - 1 - 17Odontologia 6 p. 18 1 2 1 22Odontologia 5 p. 12 2 2 - 16Educao fsica 6 p. 17 2 1 2 22Educao fsica 4 p. 16 - 6 - 22Fisioterapia 6 p. n. 30 - 2 - 32Fisioterapia 6 p. m. 35 - 3 - 38Fisioterapia 4 p. m. 28 - 1 - 29Fisioterapia 5 p. n. 29 1 2 3 35Total 281 7 30 7 325% 86,4 % 2,2 % 9,2% 2,2% 100%Psicologia 7 p. n. 12 - - - 12Psicologia 7 p.m. 7 - 3 - 10Psicologia 8 p. n. 15 1 - - 16Psicologia 8 p. m. 12 - - - 12Total 46 1 3 - 50

    % 92,0% 2,0% 6,0% 0% 100%

    Total 327 8 33 7 375 % 87,2% 2,1% 8,8% 1,9% 100%

  • Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    Tabela 8 : busca de servios psicolgicosSIM NO TALVEZ BRANCO TOTAL

    Enfermagem 7 p. 20 3 - - 23Enfermagem 6 p. 16 3 - - 19Medicina 10 p. 20 6 - 1 27Biologia 5 p. 5 2 - - 7Nutrio 5 p. 13 2 - 1 16Nutrio 6 p. 13 4 - - 17Odontologia 6 p. 13 8 - 1 22Odontologia 5 p. 10 5 1 - 16Educao fsica 6 p. 14 8 - - 22Educao fsica 4 p. 12 9 1 - 22Fisioterapia 6 p. n. 26 5 - 1 32Fisioterapia 6 p. m. 25 13 - - 38Fisioterapia 4 p. m. 19 9 - 1 29Fisioterapia 5 p. n. 28 3 - 4 35Total 234 80 2 9 325% 72,0 % 24,6 % 0,6% 2,8% 100%

    Psicologia 7 p. n. 11 1 - - 12Psicologia 7 p.m. 9 1 - - 10Psicologia 8 p. n. 15 1 - - 16Psicologia 8 p. m. 12 - - - 12Total 47 3 - - 50 % 94,0% 6,0% 0% 0% 100%

    Total 281 83 2 9 375% 74,9% 22,2% 0,5% 2,4% 100%

    A ltima categoria analisada ,imagem da Psicologia e do psiclogo apresenta alguns dados curiosos.Inicialmente, surge a representao da Psicologia como sade, com uma incidncia de respostas bemmaior nos estudantes de Psicologia (96%) do que nos de outros cursos (56,9%). Pode-se atribuir esse fato,em parte, prpria formao dos estudantes de Psicologia no curso de graduao. A subcategoria demdico, psiclogo e louco todo mundo tem um pouco mostra um ndice percentual de 37,9% para osestudantes de outros cursos e, para os de Psicologia, 14%. Considerando que, nessa subcategoria, estpresente a representao de que o psiclogo maluco, vista a equiparao entre psiclogo e louco, surgeuma contradio em relao aos dados encontrados na categoria caractersticas do psiclogo. Caberelembrar que, l, o profissional de Psicologia visto como observador, equilibrado e confivel.

    Outro dado que, embora com baixa incidncia de respostas, vale ressaltar, a subcategoria tenho amigos,com percentual de 12,93% para estudantes de outros cursos, o que parece implicar uma representaodo psiclogo como amigo. Surpreende, nessa tabela, o ndice percentual de 18% na subcategoria quemfaz psicoterapia no tem o que fazer, para estudantes da rea. Significa uma no-credibilidade na profissoque almejam? Uma representao da Psicologia como um saber-fazer que nada serve?

    44

  • A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    Tabela 9: imagem da Psicologia e do psiclogotenho psi de mdico psicolog s rico para supr- no temamigo maluco e louco sade mulher fluo q. fazer

    Enfermagem 7 p. 2 4 18 2 1Enfermagem 6 p. 1 4 4 9 2 1Medicina 10 p. 4 12 9 10 1 1Biologia 5 p. 3 5 1 1Nutrio 5 p. 2 10 1Nutrio 6 p. 1 7 8 1Odontologia 6 p. 2 1 6 13Odontologia 5 p. 2 3 9 3Educao fsica 6 p. 3 1 10 10 3 3 2Educao fsica 4 p. 9 1 13 6 5 1 1Fisioterapia 6 p.n. 3 2 17 17 1 1 1Fisioterapia 6 p.m. 5 14 27 2Fisioterapia 4 p.m. 5 3 14 19 1 2 1Fisioterapia 5 p.n. 3 1 14 25 4 1 1Total 40 13 123 185 36 3 9 7% 12,3% 4,0% 37,9% 56,9% 11,1 % 0,9% 2,8 2,2%

    Psicologia 7 p. n. 1 11 1 8Psicologia 7 p.m. 10Psicologia 8 p. n. 3 16 1Psicologia 8 p. m. 3 11 Total

    7 48 1 9 % 0% 0% 14,0% 96,0% 2,0% 0% 18,0%Total 40 13 130 223 37 3 9 16 % 10,7% 3,5% 34,7% 59,5% 9,9% 0,8% 2,4% 4,3%

    Concluso

    Visto que as representaes sociais refletem acultura e a sociedade na qual o sujeito est inserido,cabe, aqui, colocar em questo a prpriaPsicologia, j que ela um dos objetos de nossacultura. Nesse sentido, consideramosprincipalmente trs aspectos importantes parareflexo: uma perspectiva liberal da Psicologiaenquanto cultura, a formao do psiclogo e aresponsabilidade tica e social do psiclogo.

    Considerando que as explicaes dadas adeterminado objeto social possuem lgica prpria,baseadas em informaes e julgamentosvalorativos, pode-se afirmar, concordando comFigueiredo, que, ao serem incorporadas vidaquotidiana de algumas camadas da populao,as psicologias convertem-se, quase sempre,numa viso de mundo altamente subjetivista eindividualista (1997, p.87), visto encontrar-se essaviso na prpria emergncia da Psicologia comocincia.

    Ao que parece, tal perspectiva encontra-se nesteestudo. Essa representao da Psicologia vincula-se, historicamente, ao pensamento liberal, onde ohomem pensado como ser livre e autnomo, eas experincias subjetivas so vistas de forma

    individualizante, excluindo as condies sociais,histricas e culturais presentes nessas experincias.

    Surge, ento, nesse cenrio, um terreno frtil parauma psicologizao da vida quotidiana e umpensamento acrtico em relao ao contextohistrico-social. Parece que o psiclogo representado como um profissional que nada tema ver com a dimenso sociohistrica da sociedadeem que vive e trabalha.

    45

    ...ao seremincorporadas vidaquotidiana dealgumas camadasda populao, aspsicologiasconvertem-se, quasesempre, numa visode mundo altamentesubjetivista eindividualista.

    Figueiredo

  • Ktia Botelho Diamico Praa & Heliane Guimares Vieites Novaes

    Dessa forma, constata-se que inexiste uma reflexosobre a responsabilidade tica do psiclogo noseu trabalho, sobre a sua funo social (sim, poisno cabe mais a negao ou rejeio da idia deque, como ser sociohistrico, qualquer atividadedo homem uma atividade poltica).

    Admitindo que o fazer psicolgico efeito, emgrande parte, da formao que o profissionalrecebe, pergunta-se: durante sua formao, dadoao futuro psiclogo oportunidades de se perguntarsobre a vertente poltica de sua profisso e sobreseu lugar tico?

    Aqui, torna-se fundamental pensar que, medidaque a Psicologia e os psiclogos so aindarepresentados como agentes de adequao eintegrao social, no h espao para a tica, pois,dessa forma, o sujeito torna-se objeto. Cabe aopsiclogo (e tambm aos estudantes) interrogar-seconstantemente sobre seu saber-fazer de formacrtica. Agente de transformao ou agente deadequao?

    46

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    A Representao Social do Trabalho do Psicolgo

    Recebido 03/10/02 Aprovado 08/08/04

    Ktia Botelho Diamico Praa &Heliane Guimares Vieites Novaes

    Universidade Gama Filho Rua Conde de Bonfim, 838/1404 Tijuca- Rio de Janeiro. Cep 20530-002.

    E-mail: [email protected].

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