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O lado cmico de Vargas: proposta de anlise de charges na revista Careta Daniele Leonor Moreira Gonalves (org.) Flvio Luiz de Oliveira Senna Alan Miranda Estudantes do curso de Histria Universidade Federal de Viosa

Resumo A imagem de Getlio Vargas quando presidente no foi monopolizada pela propaganda governista. Outros elementos da sociedade expuseram sua opinio sobre a imagem de Vargas. A imprensa no governista produziu suas opinies sobre as certezas e conturbaes do governo Getulista. A Careta revelou-se como uma porta voz de idias descoladas da propaganda oficial varguista. Pelas suas charges, a revista humorstica traou um Vargas cmico com caractersticas muitas vezes distintas daquelas mostradas pela imprensa oficial. Diferente do mito positivo construdo pela base varguista, a Careta formulou a sua verso cmica sobre uma figura que no dava para ser indiferente a ela.

Palavras chaves: Careta; Getlio Vargas; Mito; Comicidade; Charges.

The comic side of Vargas: analysis proposal of charges on the carete magazine Abstract The Getlio Vargas image as President it was not monopolized by government propaganda. Other elements of the society presented their opinions of views about his image. The government press produced no pressure about it views and disturbances of the Getulista government. The Careta proved to be a spokesman of ideas detached from the official propaganda varguista. For its charges, the comic magazine drew a humorous Vargas with characteristics often different from those shown by the official press. Unlike the positive myth built by varguista basis, the Careta formulated his version of a comic figure that was not to be indifferent to it. Keywords: Careta, Getlio Vargas, myth, comicality, charges.

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E em nada se estampa melhor a alma de uma nao, do que na obra de seus caricaturistas. Parece que o modo de pensar coletivo tem seu resumo nessa forma de riso. Monteiro Lobato Introduo A proposta no presente trabalho refletir sobre um Vargas cmico atravs de uma reviso bibliogrfica e da anlise de charges da Revista humorstica Careta. O nosso objetivo analisar como a conjuntura poltica, econmica e social influenciaram na construo dessa comicidade, ressaltando que apesar do grande apoio conquistado ainda existiam crticas a figura de Getlio Vargas. Primeiramente, iremos discutir sobre o percurso de Getlio Vargas no cenrio poltico da dcada de 1930. Como o mesmo fez e desfez alianas para permanecer no poder e a importncia da aliana com os militares para a aplicao do Golpe de 1937. Em seguida, discutiremos sobre o mito positivo construdo pela propaganda getulista, da relao das qualidades atribudas a Vargas com as decises tomadas no seu governo e da importncia desse mito para legitimar um governo que mostrava uma face um tanto autoritria. Posteriormente, enfocaremos na criao e na atuao da Revista Careta na sociedade no ps Revoluo de 30 atravs da anlise de charges, possibilitando uma viso crtica do Governo Vargas partindo-se da criao da Constituio de 1934, passando pela tentativa de golpe dos comunistas em 1935 at o Golpe de 1937. A dcada de 1930 A dcada de 1930 caracterizou-se pela crise mundial do liberalismo, iniciada com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, nos EUA, e se alastrou por toda economia mundial. A defesa por um Estado com mais fora para intervir na economia tornou-se um pensamento comum e objetivo de muitos governantes. Em diversos pases surgiram governos que defendiam uma ao mais enrgica do Estado como foi caso do nazismo na Alemanha e o fascismo na Itlia. No Brasil, com a Revoluo de 1930, Getlio Vargas tornou-se presidente e promoveu significativas mudanas, adotando concepes corporativistas e atuando no sentido de cada vez mais centralizar o governo na figura do Executivo em prejuzo do Legislativo, no entanto encontrou resistncias no Congresso Nacional por parte de estados, como So Paulo que defendiam o federalismo liberal. Havia uma intensa discusso entre Vargas e os estados a respeito da centralizao do poder nas mos do Executivo em detrimento da desvalorizao do poder estadual. Essas conturbaes polticas que assolavam o pas refletiram na necessidade de mudanas ocasionando a criao da Constituio de 1934. (CAMARGO, 1989) Segundo ngela de Castro, a Constituio de 1934 no pode ser vista como um simples episdio da escalada getulista e nem como uma mera conseqncia da Revoluo de 1930, tendo em vista que foi formulada atravs de intensos debates e alianas polticas que se dividiram entre uma ordem poltica almejada pelos os militares , e uma ordem legal como queriam as oligarquias dissidentes. A frgil Constituio de 1934 caracterizou-se pela ordem liberal-democrtica que proibiu a reeleio e limitou de certa maneira a ao do Executivo. O Legislativo e o Executivo encontravam-se em equilbrio perante a Constituio o que desagradou profundamente ao presidente Vargas e as Foras Armadas. Para se fortalecer, Vargas buscou apoio entre os militares que estavam em grave crise de unidade. O exrcito saiu da Revoluo de 1930 como um segmento vitorioso que se viu diante de recursos e condies para modernizar-se. No entanto, existiam diversos projetos que ansiavam direcionar a modernizao o que estimulou um processo de fragmentao interna (COSTA, 1985). De acordo com

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ngela de Castro, na ambio pelo poder civil, muitos componentes do exrcito fizeram alianas com governos regionais e outros com o prprio governo central, como a aproximao de Ges Monteiro. Segundo Jos Murilo de Carvalho(CARVALHO, 1982, p.111), as foras armadas estavam em situao interna catica, no havia at 1937 uma faco dominante que poderia dizer-se porta-voz dos militares. Constantemente o exrcito via-se em conflito com as elites civis dos grandes estados por questes como adotar um regime centralizador ou federalista. As verbas no oramentrias que o governo concedia as foras armadas reforavam a aliana dos mesmos. Tanto Vargas como os tenentes defendiam um Estado autoritrio, isto , uma interveno que controlasse a poltica, a economia e as organizaes sociais (CARVALHO, 1982, p.143). O Estado intervencionista e corporativo comandado por Vargas esbarrou nos interesses liberais, entretanto com o apoio dos militares, efetivou-se com o Golpe de 1937. Muitos apoiaram o golpe na tentativa de acabar com a conjuntura poltica instvel do governo constitucional, Vargas e o golpe de 1937 passaram a ser vistos por uma maioria como a nica soluo possvel para corrigir a instabilidade poltica provocada pela luta das diversas faces polticas. O mito positivo De incio preciso ressaltar que o Mito Vargas no surgiu a partir de uma expresso popular ou nacional, e sim de uma relao entre a ideologia nacionalista e a ao da mquina estatal, o que contribuiu para a manuteno de Getlio Vargas no poder. Portanto para se compreender este mito fundamental que se reflita sobre dois aspectos: a agitao intelectual e a mquina propagandista. O primeiro deles, segundo Ricardo Benzaquem, foi o de uma agitao intelectual em torno de uma valorizao de Getlio Vargas sendo visto como a chave central para compreender e incorporar a sociedade moderna que se formava. O mito popular encarado como uma expresso espontnea da cultura popular e nacional. J o segundo aspecto, refere-se construo do mito por parte da mquina propagandista autoritria do Estado Varguista. Havia um interesse estatal em manipular a opinio pblica para adquirir a obedincia e submisso da populao.J no teto de Francisco Campos, inversamente, ao desprestgio da razo ir corresponder valorizao do mito, que deixa de ser uma sobrevivncia, um eco do passado, para transformar na chave do futuro, no atalho que ir breviar a transio e conseguir uma nova arrumao para ordem social. (ARAJO, 1986)

Essa passagem reflete que a cultura de massa possuiu duas importantes caractersticas: a homogeneizao das massas, tratando-a como algo uniforme; e o primado do irracionalismo, abolindo qualquer espcie de discusso entre partidos no Congresso para posteriormente investir no mito como estratgia de governo. Devido a sua irracionalidade, as massas no possuem condies de absorver um mito abstrato como o da nao, fazendo-se urgente construir um mito mais concreto. Para Francisco Campos o melhor mito seria o da personalidade que controlaria toda a massa irracional. Na construo do Mito Vargas a valorizao do chefe em uma posio de destaque originou-se de uma influncia nazista que, em representaes iconogrficas, se localizava no centro ou no alto e as massas reduzidas em segundo plano. De acordo com Maria Helena Capelato (CAPELATO, 1998, p.65)a inteno era mostrar a superioridade do chefe perante uma massa inferiorizada. Nos discursos de Vargas havia um constante apelo s massas no sentido delas manterem suas posies pacficas, como sempre foram. nesse contexto intelectual que se estrutura o mito, uma tentativa de reordenar o quadro poltico nacional e estabelecer uma relao mais efetiva com as massas. Inmeras foram as qualidades atribudas ao presidente. Segundo Maria Helena Capelato a

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generosidade fazia parte dos atributos que a propaganda varguista dava a seu lder: Vargas era o pai dos pobres que em um ato de bondade concedia inmeros benefcios aos trabalhadores (CAPELATO, 1998, p.67). Outra caracterstica atribuda a Vargas foi o de ser de um homem de ao que mostrava estar em pleno combate na vida, numa relao de proximidade ntima com o povo. Seguindo a anlise Ricardo Benzaquem, foi a partir desse processo de exaltao que Vargas passou a figurar como o representante da cultura nacional, isto , um homem que sempre respeitou as tradies, um homem civilizado, mas nunca submisso aos fundamentos da Repblica Velha. Ao relatar a trajetria poltica de Vargas, a propaganda getulista mostra-o como um hbil poltico que hesita em entrar no cenrio poltico da Repblica Velha por discordar da forma como a mesma funcionava. Posteriormente, com a adeso a essa poltica, passa a ser caracterizado com uma postura de questionador dessa ordem, justificada atravs da Revoluo de 1930 (ARAJO, 1986). Outro predicado muito difundido foi:A primeira dessas qualidades, de sabor nitidamente anti-oligrquico, e anti-clientelismo, refere-se curiosamente ao verdadeiro culto que Getlio dispensaria impessoalidade no trato dos negcios pblicos. Opondo-se decididamente adulao e ao puxa-saquismo que pretensamente grassavam na Repblica Velha, ele teve a inteno de organizar um Governo rigorosamente imparcial, justo e independente, absolutamente incapaz de beneficiar ou prejudicar quem quer fosse em funo da sua maior ou menor proximidade dos centros de poder. (ARAJO, 1986)

Junto a essa impessoalidade muito se divulgou a qualidade de ser caridoso. Segundo Ricardo Benzaquem, a propaganda getulista mostrava um Vargas caridoso que ajudava independentemente o outro sem importar se era amigo ou inimigo. A partir da tem-se toda uma moral crist envolvida de um homem impessoal e de corao. A imagem de um Getlio muito envolvido com o trabalho compunha umas das principais caractersticas do Mito Vargas, esse aspecto era reforado pela divulgao da poltica trabalhista realizada pelo Governo Provisrio e tambm na Ditadura Estadonovista:Ora, que d mais sentido a esta administrao, entre todos esses critrios, justamente a imagem de um presidente que no s trabalha duro, furiosamente, como tambm e este me parece ser o ponto fundamental no restringe sua atividade esfera da poltica, gesto dos negcios do Estado, mas dedicar-se a intervir sistematicamente na sociedade, tentando curar a suas mazelas, ordenar o seu comportamento e promover o bem geral. (ARAJO, 1986)

4Tipo de imagem divulgada pela imprensa oficial. Nota-se de passagem o presidente Vargas sorrindo.

Com o estabelecimento do Estado Novo o Mito Vargas vai concentrar toda a soberania em si, sendo que a cidadania no vai ser restringida, e sim regulada por sua imagem de pai dos pobres, pai do povo e chefe da famlia brasileira cada vez mais reforada. Entretanto, a propaganda getulista no possua o monoplio do mito, outros elementos da imprensa no

ligados propaganda positiva do governo, como a revista humorstica Careta, tambm comentavam sobre as aes tomadas por Getlio Vargas de forma mais crtica, refletindo as suas estratgias e mudanas polticas. A Revista Careta A ilustrada Careta foi um peridico semanal, que circulou na cidade do Rio de Janeiro de 1908 a 1960. Segundo Cludio de S (MACHADO, 2006, p.01) a Careta tinha um design ousado para sua poca devido provavelmente aos experimentalismos grficos do seu fundador. A revista possua um carter humorstico presente tanto em seu aspecto textual como iconogrfico; no seu campo iconogrfico fez intenso uso de charges, que surgiram no rio de janeiro em meados do sculo XIX com a vinda de imigrantes, segundo Luiz Teixeira (TEIXEIRA , 2001, p.) as charges ganham vigor com o exotismo de nossos costumes e a precariedade de nossas instituies. A Careta fundada por Jorge Schmidt teve como colaboradores alguns dos principais chargistas do pas, como J. Carlos, contribuindo com seu padro editorial e grfico e para sua grande aceitao entre os intelectuais da poca, discutindo os impasses poltico-sociais de seu perodo....uma das maneiras de representao desses impasses e dessas temporalidades diversas da histria brasileira, no perodo inaugurado pela abolio e pela repblica, foram os registros cmicos; eles constituram, talvez, no apenas mais umas das formas de representar a repblica, mas uma forma privilegiada para representar as condies de possibilidade das vivncias e das sociabilidades cotidianas no pas. (SALIBA, 1998, p. 297)

Os espaos na qual eram debatidas as mais diversas questes, segundo Mnica Pimenta , constituam para os intelectuais um rico local de sociabilizao na qual novas formas de expresso foram criadas e difundidas pelas caricaturas e experimentos poticos....mediante percepes cotidianas, difundidas pelas crnicas e caricaturas nas revistas semanais de humor, esboam-se mais distintas vivncias e receptividades em relao ao moderno. a questo ganha nfase na figura do intelectual que consegue sintetizar e expressar as ambigidades sociais, atravs da linguagem satrico-humorista. (VELLOSO, 2006, p.329)

A revista era uma publicao de variedades com projeo social, que possua uma ousadia grfica para a sua poca, focalizava os costumes, retratava a vida da sociedade carioca e a moda, recriando personagens tpicos da cidade. Possua tambm um carter de contestao poltica atravs de suas charges...a caricatura demonstrou, no decorrer da histria, seu grande potencial para promover questionamentos, despertar protestos e principalmente, formar opinies. durante o estado novo, as charges da revista careta, funcionaram como uma oposio inteligente propaganda oficial do governo de Getlio Vargas, no qual o riso dbio e ideolgico revelado pelos humoristas estabelecia um confronto direto com o sorriso paternalista divulgado nos folhetos de propaganda.( GARCIA,2004, p.10)

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Segundo Luiz Teixeira (TEIXEIRA, 2001) a charge consegue fincar razes no Brasil, mais especificamente no rio de janeiro, por dois motivos principais: primeiro nomeia a poltica como elemento distinto para a exposio de sua forma e revelao de seu contedo; o segundo em decorrncia do sucesso do seu discurso est organicamente ligado sociedade na qual se introduziu. Anlise de charges Antes de entrar na anlise da charge propriamente dita faremos ressalvas perante o desafio que para o historiador trabalhar como principal fonte histrica as imagens. Ao trabalhar com imagens devese ter sempre em mente procedimentos tericos - metodolgicos prprios delas. Inseridas nas imagens temos as charges que com suas especificidades tambm requer um tratamento prprio. Porm como poder ser notado no decorrer da anlise ainda no encontramos um referencial terico que sistematize as charges como fonte histrica. Segundo Marcos Silva ao trabalhar com imagens deve-se articul-las com seus contextos sociais. E no tom-las como ilustrao ou reproduo da realidade, mas como uma possvel fonte histrica. (SILVA, 1991/1992, p. 117-134) Para compreendermos melhor a trajetria getulista na dcada de 1930, analisaremos algumas charges da Revista Careta de 1934 at 1937, que atravs de uma perspectiva humorstica, porm carregada de ideologia crtica, retrata bem o percurso varguista pela dcada de 1930. Pode-se notar que a anlise das charges no ser feita por si mesma, mas est engajada em um projeto. O que segundo Martine Joly d uma validade maior ao trabalho. (JOLY, 1996, p.42). Entendemos aqui que o discurso das charges no se resume apenas no aspecto iconogrfico, mas o as palavras tambm exercem sua funo que por si essencial. As legendas e ttulos contidos nas charges da revista direcionam de certa maneira o olhar analtico do leitor. Concordamos com o fato de que a charge pode desencadear diferentes interpretaes, mas isso no significa qualquer interpretao, pois h elementos formais sejam eles lingsticos ou pictricos que direcionam os sentidos ali presentes. (MACHADO, 2000) Assim o funcionamento humorstico das charges consiste no exagero de certos traos de indivduos ou acontecimentos junto a chacota, a ironia e a zombaria originrias tambm do discurso lingstico. Ambos os discursos compem trilha humorstica das charges na qual no presente trabalho procuramos a medida do possvel, captar as referncias cmicas relacionadas a Vargas > 1934

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Z: No tem medo de cair, Excia? Getlio: Absolutamente. Estou garantido pelas duas fortes correntes Revista Careta, 02/1934

Na charge possvel observar as manobras polticas utilizadas por Getlio Vargas para se manter no poder. Na primeira, onde se encontra Estou garantido pelas duas fortes correntes... a uma clara referncia a ligao com as foras armadas e as oligarquias. Vargas usou essas duas distintas correntes, que o acompanhava desde a revoluo de 1930, para continuar no poder at meados da de 1940.

Z V. Ex no receia ficar envolvido com tantas correntes? Getlio No h motivos. Eu tambm conheo o true de desvencilhar dellas... Revista Careta, 31/03/1934, pag.01

Em seguida, em Eu tambm conheo o truc de me desvencilhar dellas... percebe-se a capacidade de mudana e efetivao de conchavos polticos visando concretizao de uma estratgia poltica. Para Aspsia Camargo caracteriza-se assim uma notvel habilidade que Getlio possua de manipular as alianas que fazia com as mais diferentes correntes polticas. Devido a essa hbil capacidade conseguiu dar sustentao poltica s suas decises, inclusive em 1937 quando aplicou o golpe de estado com apoio das foras armadas. Em ambas as charges apresentadas podemos notar metaforicamente a referncia feita pela Careta habilidade de Vargas de manipular as correntes que o sustentariam no governo. Talvez possamos pensar de como nas charges h certa zombaria em relao s prprias foras que sustentam Vargas, ou seja, essas grandes foras como exemplo as oligarquias e os militares, so expostas como meras correntes manipulveis pelo um presidente sorridente e descolado na qual em ambas as charges temos um Vargas nada preocupado com as correntes. Nesta outra charge, fica claro a manobra poltica realiza por Vargas para conquistar as mudanas centralizadoras necessrias para a conservao do governo:Para contornar o impasse, coube ao governo tal como o fez depois Pern, na Argentina afastar as velhas lideranas e estimular a emergncia de novos lideres, no comprometidos com a autonomia

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sindical do passado, e, portanto mais maleveis colaborao com o Ministrio do Trabalho e com o governo. (CAMARGO,1989)

Revista Careta, 17/02/1934, pg. 01

Entretanto, como explicita a frase: O Velho Cordo da Gente Nova, Vargas tinha como um dos seus principais pilares polticos as oligarquias, as mesmas que caracterizaram a Repblica Velha revelando um possvel descompasso entre discurso e prtica, pois Vargas dizia que seu governo era isento da politicagem da repblica velha ao mesmo tempo em que tinha como um dos seus pilares oligarquias como a de Minas. Porque ser que atrs do suposto grupo novo h uma multido em festa? No nos faria refletir sobre uma chacota com o grupo novo na qual eles se resumiriam em uma folia? Na frente de do grupo e da multido temos o chefe da nao. Novamente observamos uma meno, cmica por sinal, da capacidade de Vargas de liderar e manipular grupos.

> 1935

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Getlio No faas caso. So as novas cantigas de caranaval... Revista Careta, 05/01/1935, pg. 31

A charge anterior faz aluso revoluo de 1930 na qual Vargas participou e saiu dela como o mais novo presidente do Brasil. Os ideais prometidos na Revoluo de 1930 no estavam mais presentes no Governo Constitucional, o que se via era uma ntida ambio de continuar no poder, como podemos ver no desagrado manifestado por Getlio com a aprovao da Constituio de 1934 que o impedia de tentar reeleio em 1938. Assim em 1935 mesmo dizendo estar atuando em nome da revoluo, muitos j diziam que no havia mais em Vargas os objetivos revolucionrios, o que deixou a poltica nacional aberta a novas correntes ideolgicas. Como notamos na charge, a cantiga chama a ateno para a sinceridade dos ideais da revoluo de 1930, comandada por Getlio. Uma possvel interpretao seria o povo, representado pelo violeiro, acusando a revoluo de 1930 de no ter cumprido suas promessas. Na qual por outro lado, Vargas tenta desviar a ateno da revoluo de 1930 dos reclames do violeiro acusando serem cantigas de carnaval. cmico de se notar a diferena de estatura de Vargas em relao a moa revoluo de 1930 e o corpo esbelto da mesma. Ser que podemos pensar pela charge que a diferena no tamanho no seria que a crena na Revoluo de 1930 era maior do que em Getlio Vargas propriamente dito? E Por que ser que a moa olha para o violeiro e no para Vargas? Interessante de se notar como a Careta zomba da relao Vargas com os reclames daqueles que pediam sinceridade da revoluo de 1930 ao colocar na boca de Vargas que os reclames se reduzem a cantigas de carnaval. A charge ao lado divulga uma das poucas referncias claras da Careta s influncias comunistas que rondavam o pas no ano 1935 que levaram a tentativa de golpe dos comunistas. Na frase O vermelho est nos atrapalhando. caracteriza a transformao do pensamento comunista atrelado ao movimento de esquerda como inimigo nacional, o que acelerou reaes de direita aproximando as elites polticas que se encontravam afastadas. Com o desgosto da revoluo de 1930 vrias correntes polticas se posicionaram contra Vargas. Uma delas foram os comunistas, que com seus planos de tomarem o poder, revelaramse como um impasse para o presidente. A charge de forma cmica nos remete a refletir a situao de impasse entre o carro do governo, tendo como um dos passageiros uma mulher, a oposio dos comunistas Os passageiros - Como isso? O carro anda ou no anda? O motorista Calma, senhores. Temos que esperar o sinal verde ou amarelo. representada pelo empecilho de um sinal vermelho. A revista O vermelho est nos atrapalhando. Revista Careta, 26/01/1935, pg. 01 brinca ao colocar esse delicado impasse em uma cotidiana

e

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situao de trnsito na qual se aguarda a passagem do vermelho (comunistas) para o amarelo e verde (Governo e / ou Brasil) para se seguir em frente.

Z - Qual o fim dessa tal Liga de Segurana, Exa.? Getlio - Ora, muito simples: segurar e prender. Revista Careta, 09/02/1935, pg. 19

Antes mesmo do levante de 1935, Vargas inicia no Brasil uma onda anticomunista. A criao da Lei de Segurana Nacional citada na charge compe a poltica autoritria que passa a empreender, usando como justificativa o combate ao comunismo.J em abril de 1935, a Cmara havia aprovado a Lei de Segurana Nacional (LSN), que serviria de instrumento legal para o fechamento da ANL. Com ela, criavam-se os instrumentos complementares de controle da ordem poltica e social, alm do recuso ao estado de stio, previsto pela Constituio de 1934. (CAMARGO, 1989)

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Ao fazer uso dessas aes repressivas, o governo faz com que a Constituio liberal-democrtica de 1934 figure como letra morta, pois os direitos garantidos so suspensos passando a vigorar cada vez a centralizao poltica autoritria pretendida por Getlio Vargas. interessante de se notar a forma irnica que a Careta trata da Lei de Segurana Nacional, pois que a principio o presidente alegava que a lei era para garantir a segurana da nao e a Careta reverte a segurana em um cmico cinto que segura e prende. O que para o governo seria segurana na charge traduz-se em segurar. Nas duas ultimas charges analisadas talvez podemos mencionar certa gozao da revista para com o clima anticomunista promulgado pelo governo. Em ambas a Careta deixa nos transparecer certa esperteza e manipulao por parte do presidente ao estar dirigindo o carro e segurando o cinto. Outra curiosidade da charge o olho que se localiza em cima do corcovado no Rio de Janeiro. Engraado a forma espantada com a qual o olho observa Vargas e um dos personagens segurando o cinto de segurana. Quem poderia se aquele olho? A sociedade carioca? Ou a Brasileira ? Ou algum grupo em especifico? Como os prprios comunistas que vo ser o alvo principal dessa lei?

O Governo Provisrio foi fortemente caracterizado > 1936 como um perodo de instabilidade poltica, que exigiu de Getlio Vargas uma articulao forte e impetuosa a fim de equilibrar as diversas foras polticas ativas no pas. Grande parte destas foras era partidria da Revoluo de 30 e digladiavam entre si pelos esplios da derrocada dita Repblica Velha, o que ocasionou numa desconfiana evidente sobre a honestidade da revoluo, que piorou quando o Tribunal Especial foi dissolvido em 32 por no ter encontrado nada que condenasse os os honrados polticos da Repblica Velha. A partir desta expresso, que condena a nojustificativa da Revoluo de 30, a crescente desconfiana popular se manifesta com a expresso irnica os homens sinceros de 1930, presente na charge a esquerda, onde se v o cochicho da populao pelas ruas, podendo tanto representar o descrdito do populacho atravs do deboche ou do riso malandro dos agentes polticos confiantes em sua vitria sobre seus adversrios e do vendido povo. Interessante de se notar como novamente a Careta cobra a sinceridade de 1930 ao colocar na boca do personagem a fala E onde iro ach-los?. Neste quadro onde o Governo Provisrio de Vargas alm da dificultosa articulao poltica - Dizem que o candidato vae ser escolhido tem que lidar com a entre os homens sinceros de 1930... incmoda crise do caf e - E onde iro acha-los ? conseqentemente uma Revista Careta, 14/11/1936, pg. 19 crise generalizada na economia brasileira. Sendo o governo de Vargas altamente criticado pela incmoda situao naturalmente comea a se questionar o modelo liberal-democrata, insinuando-se que este seria to confuso quanto o cmbio econmico nacional. Assim se v na charge direita, onde um pndego tenta se equilibrar com dificuldade no topo de um prdio e o cidado no sabe identificar se o cmbio cambaleante ou a liberal democracia que est prestes a cair em descrdito seja pela sua no funcionalidade como pela sua no aplicao real, j que falta ao cidado o idealizado por Toqueville: uma realizao do ser individual com excelncia educacional e embasamento poltico fundamentado na liberdade e na tica, algo muito distante da realidade social brasileira da poca. A personalizao que a revista d ao cmbio e a liberal democracia nos remete a um desequilbrio de ambos. Ironizado pela Careta ao chamar de equilbrio instvel. Quem seria aquele que tenta subir no prdio atrs da personificao? As visinhas - Que ser, seu Malaquias? Seria uma chacota da revista O visinho - No estou bem certo; ou no tocante a uma possvel o Cambio ou a Liberal Democracia. tentativa do governo de salvar Revista Careta, 21/11/1936, pg. 34

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a o cmbio e a liberal democracia? Com a falta de um referencial fixo e acreditvel para a poltica, o chargista faz, no desenho ao lado, graa da incerteza sobre o futuro poltico do Brasil, j prevendo de certa forma que Vargas ficaria muito tempo no poder. Pois ao no quebrar a tradio de se manter longussimos anos seria, sarcasticamente, o esperado de Vargas. Vale lembrar que a charge datada de 1936 e que supostamente as eleies Revista Careta , 12/09,1936, pg. 34 ocorreriam em 1938, porque ser que a Careta em vez de fazer meno s eleies fez a uma suposta vontade do presidente de continuar no poder? Ser que a charge no zomba de uma ento possvel desconfiana das pessoas com a suposta inteno do presidente de se perpetuar no poder? Engraado como a Careta brinca com esse raciocnio ao titular a charge de Respeito tradio, a tradio seria a ambio de permanecer longo tempo no poder. A meno a Borges de Medeiros foi devido o mesmo ter sido governador do Rio Grande do Sul por 25 anos, e ainda faltavam a Vargas 19 anos de poder para que se equivalessem, e s assim chegasse vez de Medeiros. Previso esta que se confirmaria em 1937, revelando desta forma, que a falta de credulidade no quadro poltico brasileiro e a inoperncia do sistema poltico perante a balbrdia ps-30 s viria a conhecer fim dcadas depois, e que a estabilidade governamental, pelo menos por hora, viria apenas com o governo de mos firmes de Vargas, forte utilizador de uma propaganda pessoal, que criaria um verdadeiro mito de homem do povo pelo povo e s assim, controlaria os nimos exaltados de seus concorrentes e eleitores. Na prxima charge pode-se apreender uma crtica sutil ao governo do presidente Getlio Vargas, caracterizado por uma forte centralizao poltica e tambm pela conservao do carter nacionalista presente desde o incio de sua atuao poltica. Atravs do Mito Vargas, na qual era representado como um homem inteligente, patriota e trabalhador que estimulava a industrializao no Brasil procurando, em seu governo, articular interesses de diferentes grupos, tais como: trabalhadores, militares e oligarcas. Dentro dos elementos da figura, destaca-se um trono simbolizando a centralizao poltica, agregado de armas militares e faca e queijo representando a situao favorvel em que Vargas se encontrava devido ao apoio das foras armadas. Ainda na imagem possvel notar a presena de diversos animais da fauna brasileira, alm de elementos religiosos o que relacionado com a frase Agora, sim. O trono est tomando um aspecto ultranacionalista.. conveniente de se notar como a charge retrata de forma cmica a multiplicidade dos elementos que compe o nacionalismo de Vargas. Vrios elementos, dos mais distintos, caracterizam a abrangncia do nacionalismo varguista, desde um tatu at uma caveira. J na charge abaixo nos d uma boa idia sobre a trajetria getulista, a partir da revoluo de 1930 at por volta de 1937. De forma humorstica ela revela como a Repblica Velha impulsionou Vargas para o Governo Provisrio, nascido da Revoluo de 1930. A grande matrona, intitulada Repblica Velha,

parece estar narrando toda a trajetria poltica do garoto Getlio pela dcada de 1930, dos tempos do governo provisrio, quando ainda era uma criana de carrinho empurrado pela matrona, at o perodo constitucional, quando j estava mais crescidinho. A matrona analisa-o com um ar de aprovao ao elogi-lo de garoto sabido. Ela refere-se a Borges por esse ter sido um importante poltico do sul que deu grande base para Vargas quando esse surgiu no cenrio poltico. > 1937 Na charge ao lado se pode apreender uma crtica sutil ao governo do presidente Getlio Vargas, caracterizado por uma forte centralizao poltica e tambm pela conservao do carter nacionalista presente desde o incio de sua atuao poltica. Atravs do Mito Vargas, na qual era representado como um homem inteligente, patriota e trabalhador que estimulava a industrializao no Brasil procurando, em seu governo, articular interesses de diferentes grupos, tais como: trabalhadores, militares e oligarcas. Dentro dos elementos da figura, destacase um trono simbolizando a centralizao poltica, agregado de armas militares e faca e queijo representando a situao favorvel em que Vargas se encontrava devido ao apoio das foras armadas. Ainda na imagem possvel notar a presena de diversos animais da fauna brasileira, alm de elementos religiosos o que relacionado com a frase Agora, sim. O trono est tomando um aspecto ultranacionalista.. conveniente de se notar como a charge retrata de forma cmica a multiplicidade dos elementos que compe o nacionalismo de Vargas. Vrios elementos, dos Agora, sim. O trono est tomando um aspeto ultra-nacionalista. mais distintos, caracterizam a abrangncia Revista Careta, 04/09/1937, pg. 01 do nacionalismo varguista, desde um tatu at uma caveira. J na prxima charge nos d uma boa idia sobre a trajetria getulista, a partir da revoluo de 1930 at por volta de 1937. De forma humorstica ela revela como a Repblica Velha impulsionou Vargas para o Governo Provisrio, nascido da Revoluo de 1930. A grande matrona, intitulada Repblica Velha, parece estar narrando toda a trajetria poltica do garoto Getlio pela dcada de 1930, dos tempos do governo provisrio, quando ainda era uma criana de carrinho empurrado pela matrona, at o perodo constitucional, quando j estava mais crescidinho. A matrona analisa-o com um ar de aprovao ao elogi-lo de garoto sabido. Ela refere-se a Borges por esse ter sido um importante poltico do sul que deu grande base para Vargas quando esse surgiu no cenrio poltico.

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A charge endossa o argumento desenvolvido por Boris Fausto de que a Revoluo de 1930 no foi uma revoluo na qual se rompeu com a Repblica Velha, pois nos seus bastidores havia a presena de oligarquias dissidentes, como os polticos mineiros. Apesar de a propaganda getulista exaltar que mesmo nascendo do bojo poltico tradicional, Vargas nunca concordou com a poltica da Repblica das Oligarquias, observase na comicidade da charge que o mesmo teve grande impulso da Repblica Velha - Eta, garoto sabido! Depois a adolescncia, a maturidade, a velhice... O Borges para tornar-se e manter-se perdeu a taa. presidente.Quando chega ao Revista Careta, 03/04/1937. pg. 18 fim o Governo Provisrio, no trmino de 1933, Vargas encontra-se em uma situao delicada. De acordo com ngela de Castro, ambicionando continuar no poder, procura efetivar alianas no Congresso que o possibilitem alcanar, com a Constituio de 1934, uma forma de permanecer na presidncia. Getlio Vargas consegue uma maioria no Congresso que o elege para presidente, no entanto teria que ocorrer uma eleio em 1938, na qual no poderia candidatar-se. A partir de 1935, quando houve a tentativa de putsch comunista, Vargas passou a governar sob constante Estado de Stio, o que lhe deu direito de fazer uso intenso de muitas emendas. Ao aproximar-se das eleies de 1938, mais precisamente em 1937, a agitao poltica no Brasil ganha foras e depois de conturbadas alianas polticas Vargas com o apoio de militares aplica um golpe de Estado sem grandes resistncias, o que Aspsia Camargo chama de Golpe Silencioso. A charge, que datada anterior ao golpe, mostra Vargas sentado em um livro com o nome Constitucional, assim a revista caoa do que seria o fim do governo constitucional e inicio do Estado Novo. Por essa breve anlise das charges podemos desenvolver o argumento de que o discurso imagtico das charges nos transportou a uma verso de um Vargas nada convencional. Nas charges mapeamos elementos constantes como o sorriso um tanto sarcstico do presidente. Assim...uma determinada cultura poltica no escapa ao pattico e ao cmico registrados pelas narrativas visuais e textuais de caricaturistas e memorialistas. A verve satrica e o estilo irnico seriam, pois, dois elementos tropolgicos de vital importncia para a compreenso de certas tradies republicanas. (Flores, 2001, p. 134)

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Ou seja, o humor da Careta apresenta-se como um importante veculo no somente para compreender a repblica, mas tambm para estudar uma figura poltica que no escapou das garras da zombaria.

Consideraes Finais Ao subir a presidncia com a revoluo de 1930 e permanecer no pode por vrios anos, Getlio Dornelles Vargas despertou paixes e dio. Os meios de comunicao getulista procuram construir uma figura de pai dos pobres, pai do povo entre outros. No entanto outras opinies tambm foram dadas sobre o presidente. Dentre alguma delas temos o discurso chargista da Careta. Em suas caricaturas a revista brincou e zombou do ento, baixinho e sorridente, Vargas. Segundo Rodrigo Motta as caricaturas mostram os atores polticos como seres ridculos e derrisrios, ou seja, como pessoas de quem se deve rir. Tornar uma personalidade pblica objeto de riso no ato fortuito, mas ao carregada de implicaes polticas. (MOTTA, 2007, p.197) seguindo esse raciocnio que tentamos mapear quais os aspectos a Careta explorou para tornar o presidente ridculo e derrisrio. Em todas as caricaturas do presidente nas charges acima existem uma constante que o sorriso do presidente. A Careta explora o sorriso de Vargas reforando certa esperteza que a revista parece atribuir ao mesmo, alis, no somente esperteza com a leitura das legendas e ttulos das charges acreditou que uma meno a malcia do presidente tambm possvel. A Careta poderia estar caoando da propaganda varguista na qual procurava sempre mostrar o presidente sorrindo. Outro ponto comum a brincadeira com que a Careta faz da posio de comando de Vargas. Enquanto muitos historiadores apontam a capacidade de fazer alianas do presidente, a Careta zomba dessa capacidade colocando-o em situaes na qual a habilidade com alianas reverte-se em habilidade de manipular os polticos aliados e manusear os acordos. Algo que direto apontado nas charges a suposta sinceridade dos revolucionrios de 1930. A chacota da revista consiste em cobrar a sinceridade dos revolucionrios de 1930 em situaes no muito convencionais como em uma cantiga. Em murmrios pela rua, a Careta coloca a sinceridade no somente dos revolucionrios como o de seu chefe. Interessante em observar que a dvida sobre sinceridade exposta de forma sutil nesses mecanismos (cantiga e murmrios), a ironia transforma uma crtica que poderia ser brusca em uma piada que provoca risos. Em suas vastas charges a Careta explorou um Vargas nada oficial. Como anteriormente dito a imprensa oficial no monopolizou a figura do presidente. Outros agentes da sociedade construram a sua verso sobre Getlio, em outras palavras, elaborou cada a seu estilo um Vargas diferente. A Careta usou de vrias caractersticas divulgadas pela imprensa governista para ironiz-las, dentre elas o riso. Assim a revista fez careta para o baixinho, no perdoou os seus defeitos de governante e zombou de suas qualidades.

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