Variedades da Língua Portuguesa (APRESENTAÇÃO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE)

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 VARIEDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA EM PERSPECTIVA: CAMINHOS E PERCALÇOS NO EST ABELECIMENTO DA RELAÇÃO INTERLOCUTIVA NO ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA MATERNA ALEXANDRE FERREIRA MARTINS (UFRGS/UC) RENATA BLESSMANN FERREIRA (UFRGS) INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta os resultados da aplicação de um projeto de ensino de língua portuguesa para o Ensino Fundamental que buscou retratar a realidade linguística do português. Associada ao reconhecimento e à legitimação de variedades geográficas e sociais, a escolha dos textos que constituíram o projeto deu-se em função da aproximação de subtemáticas com a realidade social dos alunos, por entender a relevância do estabelecimento da relação interlocutiva em leitura e em escrita para o fomento ao direito à palavra e à autoria. É nesse movimento de constante reflexão do fazer docente que este trabalho se insere, traçando tanto os caminhos quanto os percalços de um projeto que procurou romper com as velhas práticas escolares e estimular o estabelecimento de leitores ativos e críticos   bons usuários de sua língua materna, portanto. REFERENCIAL OBJETIVO Verificar de que maneira as relações interlocutivas foram estabelecidas durante o contato dos alunos com o repertório textual e pela subsequente reflexão linguística neles suscitada. a partir da compreensão da legitimidade de uma variedade de língua perante os laços que a une a outras, em função das identidades inerentes a cada uma delas.  METODOLOGIA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Como base para as reflexões da prática docente experienciada, este trabalho buscou esteio em Bakhtin/Volochínov (2013), para quem, de acordo com a teoria dialógica da linguagem, nenhum enunciado poder ser atribuído a apenas um locutor, uma vez que o homem, o sujeito, emerge do outro e, num sentido amplo, seu enunciado é produto de uma situação social mais complexa e apresenta um sujeito dialogicamente constituído. A análise do projeto de ensino apoiou-se também em Brait (2001), que propõe que um texto escrito aponta, em uma primeira orienta ção, para si mesmo, relativamente aos aspectos intralinguísticos e, em uma segunda orientação, esse mesmo um texto seria singular em função da primeira orientação e apontaria “[...] para fora, para o momento histórico, cultural, social recortado, apreendido, entrevisto e aí expresso” (p. 79). Por fim, o trabalho compactua com o que Mignolo (2003) define como pensamento liminar, uma vez que as obras selecionadas para a prática retratada neste trabalho refratam realidades que lhe são exteriores ao mesmo tempo em que buscam romper com outros discursos.  As propostas levadas para a sala de aula, por mais percalços que tenham encontrado, muitos deles em decorrência da privação dos estudantes para com hábitos de leitura e de escrita, evidenciaram a preocupação em fomentar nos alunos o apelo do direito à palavra e também do direito que todos eles possuem, enquanto cidadãos, de se tornarem bons usuários de sua língua. Apesar disso, o reconhecimento e a legitimação de outras variedades da língua portuguesa, no contato com gêneros textuais, alcançou-se, sem dúvida, pela aproximação das subtemáticas com a vida dos estudantes. Entre o estabelecimento de razões de ordem histórica dos países onde os textos haviam sido produzidos e a discussão sobre as configurações das subtemáticas na realidade brasileira, a experiência docente mostrou ser possível o rompimento com as velhas práticas escolares, embora demande uma longa reflexão sobre as próprias práticas em relação às que tanto se procura evitar. O trabalho promoveu, embasado nos referenciais teóricos supracitados, a análise crítica da prática docente, n a medida em que foram tematizadas as inúmeras relações interlocutivas dos alunos para com os textos selecionados, provenientes de países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Moçambique e Portugal). Inicialmente, um momento para a leitura silenciosa era despendido para que, em seguida, fosse feita pelos estagiários uma leitura em conjunto. Antes da apreciação semântica d os textos, os alunos eram estimulados a sanar as dúvidas de aspectos linguísticos (ou semióticos), tendo em vista tratarem-se de textos de diferent es variedades da língua; a partir disso, as temáticas dos textos eram discutidas tanto relativamente ao conteúdo textual em sua situação sócio-histórica , como também ao que se poderia aludir à realidade brasileira e à deles próprios. Quanto às atividades de produção escrita, estas correspondiam ao gênero do discurso trabalhado, o que, por vezes, revelou percalços em função de os alunos apresentarem dificuldades para confluir a estrutura composicional, a temática e o estilo, prendendo-se apenas à primeira. Entre as atividades propostas, incluíam-se uma entrevista a respeito do surgimento da Língua Portuguesa e seu ensino; a criação de uma paródia, tendo como mote um fado português, a respeito da expansão da língua (tema de um teatro português) ou do racismo no cotidiano (presente em uma crônica brasileira); a escrita de uma conto na qual estivesse presente um roteiro turístico, com base em uma crônica brasileira; a produção de um diário, cuja preparação consistiu no contato com os diários de uma obra da chamada literatura marginal.

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Apresentação de Pôster no evento III Congresso Linguagem e Interação (UNISINOS)

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7/18/2019 Variedades da Língua Portuguesa (APRESENTAÇÃO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE)

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VARIEDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA EM PERSPECTIVA:

CAMINHOS E PERCALÇOS NO ESTABELECIMENTO DA RELAÇÃOINTERLOCUTIVA NO ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA MATERNA

ALEXANDRE FERREIRA MARTINS (UFRGS/UC)RENATA BLESSMANN FERREIRA (UFRGS)

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta os resultados da aplicação de um projeto de ensino de língua portuguesa para o Ensino Fundamental que buscou retratar arealidade linguística do português. Associada ao reconhecimento e à legitimação de variedades geográficas e sociais, a escolha dos textos queconstituíram o projeto deu-se em função da aproximação de subtemáticas com a realidade social dos alunos, por entender a relevância doestabelecimento da relação interlocutiva em leitura e em escrita para o fomento ao direito à palavra e à autoria. É nesse movimento de constante

reflexão do fazer docente que este trabalho se insere, traçando tanto os caminhos quanto os percalços de um projeto que procurou romper com asvelhas práticas escolares e estimular o estabelecimento de leitores ativos e críticos  – bons usuários de sua língua materna, portanto.

REFERENCIAL

OBJETIVO

Verificar de que maneira as relações interlocutivas foram estabelecidas durante o contato dos alunos com o repertório textual e pela subsequentereflexão linguística neles suscitada. a partir da compreensão da legitimidade de uma variedade de língua perante os laços que a une a outras, emfunção das identidades inerentes a cada uma delas.

 

METODOLOGIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Como base para as reflexões da prática docente experienciada, este trabalho buscou esteio em Bakhtin/Volochínov (2013), para quem, de acordocom a teoria dialógica da linguagem, nenhum enunciado poder ser atribuído a apenas um locutor, uma vez que o homem, o sujeito, emerge do outroe, num sentido amplo, seu enunciado é produto de uma situação social mais complexa e apresenta um sujeito dialogicamente constituído. A análisedo projeto de ensino apoiou-se também em Brait (2001), que propõe que um texto escrito aponta, em uma primeira orientação, para si mesmo,

relativamente aos aspectos intralinguísticos e, em uma segunda orientação, esse mesmo um texto seria singular em função da primeira orientação eapontaria “[...] para fora, para o momento histórico, cultural, social recortado, apreendido, entrevisto e aí expresso”  (p. 79). Por fim, o trabalhocompactua com o que Mignolo (2003) define como pensamento liminar, uma vez que as obras selecionadas para a prática retratada neste trabalhorefratam realidades que lhe são exteriores ao mesmo tempo em que buscam romper com outros discursos.

 As propostas levadas para a sala de aula, por mais percalços que tenham encontrado, muitos deles em decorrência da privação dos estudantespara com hábitos de leitura e de escrita, evidenciaram a preocupação em fomentar nos alunos o apelo do direito à palavra e também do direito quetodos eles possuem, enquanto cidadãos, de se tornarem bons usuários de sua língua. Apesar disso, o reconhecimento e a legitimação de outrasvariedades da língua portuguesa, no contato com gêneros textuais, alcançou-se, sem dúvida, pela aproximação das subtemáticas com a vida dosestudantes. Entre o estabelecimento de razões de ordem histórica dos países onde os textos haviam sido produzidos e a discussão sobre asconfigurações das subtemáticas na realidade brasileira, a experiência docente mostrou ser possível o rompimento com as velhas práticas escolares,embora demande uma longa reflexão sobre as próprias práticas em relação às que tanto se procura evitar.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem . São Paulo: Hucitec Editora, 2013.BRAIT, Beth. “Diálogos produtivos entre língua e literatura”. In: PEREIRA, Maria T.; VALENTE, André C. (org). Língua Portuguesa: descrição e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.GERALDI, João W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003.MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais. Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.

O trabalho promoveu, embasado nos referenciais teóricos supracitados, a análise crítica da prática docente, na medida em que foram tematizadasas inúmeras relações interlocutivas dos alunos para com os textos selecionados, provenientes de países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil,Moçambique e Portugal). Inicialmente, um momento para a leitura silenciosa era despendido para que, em seguida, fosse feita pelos estagiários umaleitura em conjunto. Antes da apreciação semântica dos textos, os alunos eram estimulados a sanar as dúvidas de aspectos linguísticos (ousemióticos), tendo em vista tratarem-se de textos de diferentes variedades da língua; a partir disso, as temáticas dos textos eram discutidas tantorelativamente ao conteúdo textual em sua situação sócio-histórica , como também ao que se poderia aludir à realidade brasileira e à deles próprios.Quanto às atividades de produção escrita, estas correspondiam ao gênero do discurso trabalhado, o que, por vezes, revelou percalços em função deos alunos apresentarem dificuldades para confluir a estrutura composicional, a temática e o estilo, prendendo-se apenas à primeira. Entre as

atividades propostas, incluíam-se uma entrevista a respeito do surgimento da Língua Portuguesa e seu ensino; a criação de uma paródia, tendocomo mote um fado português, a respeito da expansão da língua (tema de um teatro português) ou do racismo no cotidiano (presente em umacrônica brasileira); a escrita de uma conto na qual estivesse presente um roteiro turístico, com base em uma crônica brasileira; a produção de umdiário, cuja preparação consistiu no contato com os diários de uma obra da chamada literatura marginal.