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62 + MONET + DEZEMBRO + esporte >> 21H52 - 18/10 FINALMENTE: Após 28 horas desde o início de sua viagem, a equi- pe Palmeiras entra em campo pa- ra disputar mais um jogo do Brasi- leiro no Rio de Janeiro. MONET PASSA 48 HORAS COM O PALMEIRAS E MOSTRA OS BASTIDORES DE UMA VIAGEM DA EQUIPE NO BRASILEIRÃO Pé na estrada MUITOS TORCEDORES NÃO IMAGINAM AS DIFICULDADES QUE OS CLUBES enfrentam para disputar o Campeonato Brasileiro, principalmente quando os times têm que jogar fora de casa. Para uma simples viagem São Paulo–Rio de Janeiro para jogar uma partida de 90 minutos, um clube pode gastar até três dias. Para deslocar seus jogadores, as equipes precisam achar hospedagem para uma delegação de 30 pessoas e arranjar vôos que acomodem todos os profissionais e mais de meia tonelada de equipamento. Além de preparação da logística do deslocamento é necessário um planejamento dos membros da comissão técnica para que os atletas não sintam o desgaste do transporte e até o detalhe da alimentação não pode ser esquecido, para se obter um bom resultado. B FOTO: ALEXANDRE CASSIANO /AG. O GLOBO por humberto peron - textos e reportagem e bolívar ramos filho (petit)* - reportagem

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A logistica da viagem de um time no Campeonato Brasileiro

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+esporte

>> 21H52 - 18/10

FINALMENTE: Após 28 horasdesde o início de sua viagem, a equi-pe Palmeiras entra em campo pa-ra disputar mais um jogo do Brasi-leiro no Rio de Janeiro.

MONET PASSA 48HORAS COM OPALMEIRAS E

MOSTRA OSBASTIDORES DE

UMA VIAGEM DAEQUIPE NO

BRASILEIRÃO

Pé naestradaMUITOS TORCEDORES NÃO IMAGINAM AS DIFICULDADES QUE OS CLUBESenfrentam para disputar o Campeonato Brasileiro, principalmente quando os times têmque jogar fora de casa. Para uma simples viagem São Paulo–Rio de Janeiro para jogar umapartida de 90 minutos, um clube pode gastar até três dias. Para deslocar seus jogadores, asequipes precisam achar hospedagem para uma delegação de 30 pessoas e arranjar vôosque acomodem todos os profissionais e mais de meia tonelada de equipamento. Além depreparação da logística do deslocamento é necessário um planejamento dos membros dacomissão técnica para que os atletas não sintam o desgaste do transporte e até o detalheda alimentação não pode ser esquecido, para se obter um bom resultado.

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MALAS PRONTAS: Começa no dia 17 a mara-tona. A arrumação do material que vai ser levadoem uma viagem fica praticamente pronta um diaantes. Da rouparia são arrumados os dez jogos decamisas, calções e meias que são levados para ca-da viagem, além dos pares de chuteiras, chinelos,luvas para goleiros, ataduras, caneleiras e bolas,toalhas e material médico. No total, em cada via-gem são transportados aproximadamente 530 kgde material, distribuídos em quatro baús e dois sa-cos de lona. O equipamento segue para o aeropor-to uma hora e meia antes dos jogadores.

PARTIDA: Os jogadores embarcam no ônibus.A bagagem deles se resume a uma bolsa iden-tificada com as cores e o emblema do clube. Nu-ma viagem para o Rio de Janeiro, por exemplo,o trajeto de ônibus entre o centro de treinamen-to do Palmeiras e o aeroporto de Congonhas(55 minutos) demora mais que o tempo de vôoentre as duas cidades (40 minutos). B

>> 14H30 – 17/10

TREINO: Não é porque o time tem viagem marca-da que não treina. Se o horário do deslocamento forno final da tarde ou à noite, os jogadores entram emcampo para uma movimentação. Após a prática, umou dois jogadores e mais o treinador concedem en-trevista coletiva à imprensa. Após o banho, os atle-tas ainda têm a oportunidade de fazer um lanche an-tes de pegar o ônibus que levará a delegação, com-posta por 32 pessoas, ao aeroporto.

>> 15H30

>> 17H53

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Acompanhe o depoimento do vo-lante Marcinho Guerreiro so-

bre a rotina dos jogadoresdurante as viagens.

"Eu não gosto muito deviajar, mas não tem para on-

de correr. Na concentração,tem horas que você se sente

meio preso e isso é ruim, além deficar longe da família. Mas você dá umaboa descansada e esquece um pouco darotina. Confinada, a maioria dos jogado-res gosta de jogar videogame para pas-sar o tempo. Há aqueles que preferemusar o computador, ouvir música, assis-tir televisão, ou até dormir bastante. Euprefiro ter como companheiro de quar-to algum jogador com quem eu tenhamais afinidade. Não que seja um estra-nho, mas ficar com um companheiro comquem você não tenha tanta intimidade,deixa você pouco à vontade. Quando aviagem é muito longa, na hora da parti-da o jogador pode sentir fisicamente."

VIVENDO NA CONCENTRAÇÃO

Mesmo viajando de avião, os jogado-res sofrem grande desgaste com a roti-na de viagens durante o CampeonatoBrasileiro. Este ano, o Palmeiras, porexemplo, teve que fazer 17 deslocamen-tos. Ao todo, o time percorreu 24.216km – dessa distância, apenas 310 kmforam de ônibus. Só de horas de vôo, oelenco ficou aproximadamente 40 ho-ras no ar. Se for somado o tempo de des-locamento até os aeroportos, esse pe-ríodo totaliza cerca de 72 horas. No fi-nal do torneio surgiu mais um compli-cador. Com a operação-padrão dos con-troladores de vôo, o tempo de espera pe-los vôos aumentou. Em alguns casos,para fugir do caos dos aeroportos, hou-ve clubes que trocaram as viagens aé-reas por longas viagens de ônibus.

PROGRAMA DEMILHAGEM

HORA DO VÔO: A delegação chega aoaeroporto. O check in foi realizado antespor assessores e os atletas não enfren-tam filas para recebersuas passagens. Notrajeto entre o saguão e a sala de embar-que não faltam pedidos de autógrafos e,é claro, algumas provocações dos torce-dores adversários. O avião decola às 20h.No vôo, para passar o tempo, alguns jo-gadores fazem palavras cruzadas, a maio-ria conversa e poucos preferem dormir.

CONCENTRAÇÃO: A de-legação desembarca no Riode Janeiro. Os jogadores, di-rigentes e comissão técnicarapidamente vão para o ôni-bus. Já o mordomo João daSilva Araújo e o massagistaSérgio Luiz de Oliveira ficamno aeroporto para pegar omaterial esportivo do clube.Logo na chegada ao hotel,

os jogadores vão jantar. Apóso término da refeição, os jo-gadores vão para os quartose dormem. Às 3h, no andaronde estão os jogadores, nãohá nenhuma movimentação.Vale lembrar que os jogado-res não podem receber qual-quer tipo de visita. Para o dia18, a hora de despertar era li-vre e os jogadores tinham atéàs 10h para tomar café, mas poucos descerampara fazer essa refeição. Já o almoço acon-teceu às 12h com a presença de todos os atletas.No período da tarde, mais descanso, que só foi in-terrompido às 15h para um pequeno lanche.

>> 18H47

>> 15H

>> 20H43

>> 3H – 18/10

>> 21H08

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Uma das ocupações do prepa-rador físico Fábio Mahseredjianquando o time viaja é saber seexiste fuso horário e como seráa adaptação dos jogadores aonovo horário. Outra preocu-pação é o desgaste que os atle-tas têm devido à duração dos vôos,principalmente se a viagem vai levarmais que duas horas.

PREOCUPAÇÃO COM O DESGASTE

Não é exagero dizer que, sem a pre-sença do mordomo João da Silva Araú-jo (abaixo, à dir.) e do massagista Sér-gio Luiz de Oliveira (abaixo, à esq.), oPalmeiras teria sérios problemas paraentrar em campo. São eles que cuidamde todo o material que o clube leva emuma viagem. Sempre atentos, eles nãodesgrudam os olhos da bagagem, prin-cipalmente no embarque e desembar-que nos aeroportos, pois a falta de umitem pode causar um grande problema(imagine, por exemplo, os atletas, lon-ge de São Paulo, sem suas chuteiras).

Nos dias de jogos, os dois são os pri-meiros a chegar aos estádios. Além dearrumar o vestiário para os jogadores,eles não param de trabalhar enquan-to a partida acontece. Serginho fica nobanco de reservas pronto para atenderalgum jogador lesionado, ou passarrecados do treinador para os atletas.Já João pouco consegue ver aspartidas. Nos poucos minutoslivres que tem, ele acompanhaos lances da boca do tú-nel do Palmeiras. Depoisdo jogo, quando os jo-gadores já tomarambanho e estão voltan-do para o hotel, osdois ainda ficamno vestiário, ar-rumando to-do o equipa-mento para avolta.

MUITO TRABALHOE ORGANIZAÇÃO

MAIS PREPARATIVOS: Os jogadoressaem do hotel às 20h20, depois de jan-tar e de assistir à palestra técnica do trei-nador. Já nos vestiários, enquanto osatletas começam a se trocar, o médicoda delegação, Dr. Rubens Sampaio, co-meça a preparar o material para o con-trole antidoping e o assistente de im-prensa José Isaías prepara a planilhacom a escalação oficial do Palmeiras quevai entrar em campo.

ARRUMANDO O VESTIÁRIO: O material saido hotel quase duas horas antes dos jogado-res. O mordomo João e o massagista Sergi-nho vão arrumando o vestiário. Abrindo osbaús, rapidamente eles transformam o local.Com muita habilidade, João casa o material decada jogador com suas respectivas chuteiras.Ao mesmo tempo, Serginho monta sua bolsade trabalho, verifica o desfibrilador e monta

uma mesa de massagem. Os doistambém improvisam um peque-no altar com uma imagem deNossa Senhora Aparecida e umaBíblia. Nenhum detalhe é esque-cido, desde a preparação do iso-tônico que os jogadores usarãona partida até as ataduras do jei-to preferido de cada atleta, prin-cipalmente os goleiros.

>> 19H13

>> 18H54

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Além de tratar das contusõesdos jogadores, o médico Ru-bens Sampaio tem outra in-cumbência durante as via-gens do Palmeiras. O dou-tor passa para os hotéis o car-dápio das refeições dos atletas.A preocupação aumenta quandoo time vai jogar nas regiões Norte e Nor-deste, onde se usam temperos diferentesdos que os jogadores estão acostumados,o que pode causar distúrbios alimentares.

MUITO MAIS QUE 90 MINUTOS

AQUECIMENTO: Antes do início, algunsatletas recebem massagens. Quem coman-da o aquecimento é o preparador físico Fá-bio Mahseredjian. Os goleiros fazem umtrabalho especial com o treinador de golei-ros Jorge Luís Azevedo. Terminado os exer-cícios, os jogadores vestem a camisa queusarão no jogo, ouvem as últimas orienta-ções técnicas, fazem uma oração e vão pa-ra o túnel de acesso ao campo. Finalmentechegou a hora de jogar futebol.

>> 21H09

TROCA DE ROUPA: Aos poucos, os jo-gadores vão se trocando. Como num rituale com todo o cuidado, os atletas vestemsuas proteções, como as ataduras, chutei-ras meias e calções que serão usados napartida, mas a camisa que eles vestem nãoé a que será usada na partida, mas sim noaquecimento. Assim, os jogadores estãoprontos para a hora do aquecimento.

>> 20H55

[O INFILTRADO]

SÓ ACOMPANHANDO A VIAGEM DE UMA EQUIPE PODE-SE PERCEBERo número de pessoas que se envolvem no funcionamento de um time de fu-tebol. Além dos personagens já citados, existe uma grande quantidade de pro-fissionais (preparadores físicos, psicólogos, fisiologistas, enfermeiros, massa-gistas, mordomos e seguranças) que ficam em São Paulo para dar retaguardaaos que estão em deslocamento.

Foi possível perceber o quanto é dura e sacrificante a vida dos jogadores pro-fissionais que, em campeonatos longos, como o Brasileirão, ficam quase doismeses longe dos seus familiares em viagens. Isso sem contar a extenuante eestressante rotina de treinos e jogos, incluindo a pressão de torcedores e damídia para que um time grande, como o Palmeiras, tenha bons resultados.

B

ATENDIMENTOS E GASTRONOMIA

Jorge Luís Azevedo étreinador de goleiros.

Mesmo em viagens, a suarotina de trabalho não muda

muito. Ele se encarrega de todo otrabalho de aquecimento dos goleiros,feito à parte dos outros jogadores. Oprocesso dura cerca de 20 minutos, co-meçando pela preparação psicológica,seguida de alongamento e, finalmen-te, o aquecimento com bola.

TREINADORESPECÍFICO

O presidente Affonso Della MônicaNetto (abaixo, à esq.) e o diretor de fute-bol profissional Salvador Hugo Palaia sãoas autoridades do clube e têm a função dechefiar a delegação, de dar apoio ao elen-co e à comissão técnica e de tomar medi-das administrativas. Também segue naviagem o gerente de futebol Ilton José daCosta. Ele cuida da parte burocrática, ouseja, do planejamento do que a delegaçãoirá fazer durante a estadia longe de casa.

DIRETORIA EGERÊNCIA

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O segurança Adauto Gomes deLima é um dos encarregadosde cuidar dos jogadores. Nohotel, Adauto funciona co-mo um cão de guarda, evi-tando que os hóspedes in-comodem os atletas ou quealgum jogador fuja da concen-tração. No estádio, ele se desdobrapara evitar que os jogadores passempor algum problema na hora da che-gada e da saída e acompanha os diri-gentes do clube. Também está pre-sente o diretor de sede, José CarlosVinite. Ele cuida do planejamento dasegurança, como o melhor local parao desembarque da delegação, e do pa-trimônio do clube.

O jornalista Jose Isaías é oassessor de imprensa doPalmeiras. Durante as via-gens, ele tem de atender amídia do local da partida,além de ser procurado insis-tentemente por meios de comuni-cação de São Paulo que querem infor-mações da delegação. Isaías avisa que,por determinação do clube, são proibi-das entrevistas nos dias dos jogos. Ou-tra função do assessor é comprar jor-nais que possamconter informações pa-ra o treinador do time adversário.

Quando um time vai atuar fora do seuestado, pode-se contratar empresas quecuidam de toda a logística na cidade on-de ele vai se apresentar. Empresas comoa Off Side se especializaram em receberequipes e em contratar ônibus para o trans-porte da delegação e vans para levar o ma-terial esportivo, bem como providenciarum local onde o time possa treinar (quan-do necessário), além de contratar segu-ranças para a proteção dos visitantes.

RECEPÇÃO ETRASLADO

>> 23H58

MAIS ARRUMAÇÃO: Durante o intervalo, omassagista Serginho cuida de algum atleta le-sionado. Após o reinício da partida, o mordomoJoão precisa deixar o vestiário limpo e arrumado(veja na foto acima a situação do local depois dointervalo) para que os jogadores possam tomarbanho após a partida. Quase simultaneamenteao preparo das toalhas ele começa a guardar omaterial utilizado no primeiro tempo.

HORA DE IR: Após a parti-da, enquanto os jogadores to-mam banho, o assessor JoséIsaías organiza uma coletivacom o treinador da equipe. Osjogadores vão para o ônibuse voltam para o hotel. Em pou-co mais de quarenta minutosapós a partida, todo o mate-rial de apoio está arrumado.Agora é hora do jantar e de es-perar a volta para São Paulona tarde seguinte, após quase48 horas de viagem.

>> 23H05

Acompanhando os jogadores de perto, pode-se observar o comportamentode cada atleta dentro do elenco, a paciência que eles têm com o assédio de tor-cedores e qual é rotina deles na concentração. É uma grande oportunidade dever como os atletas se preocupam com os resultados do clube que defendem.É possível conferir que não existe um ambiente tão quieto e triste como o deum vestiário de time que acaba de perder. Pelas expressões dos jogadores apósum revés, fica difícil falar que um profissional pouco se importa com o resul-tado de um jogo. – Humberto Peron

*Bolívar Ramos Filho (Petit) viajou a convite da Sociedade Esportiva Palmeiras

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>> 0H25 – 19/10

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CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL (ÚLTIMA RODADA), dia 3,domingo, 16h, SporTV e Premiere Futebol Clube

SEGURANÇA ETRANQÜILIDADE

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