VÍRGULA1

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I. ETC. E A VÍRGULA a) Afinal, existe ou não vírgula antes de etc.? Independentemente de qualquer outra razão, a presença da vírgula antes de etc. tornou-se praticame obrigatória a partir de 1943. O motivo: um conjunto de normas chamado Formulário Ortográfico, que regul as questões de grafia no Brasil, inclui sempre a vírgula antes de etc. Esse documento, oficial, te caráter de lei. Por isso, o uso do sinal antes de etc. terminou por se generalizar. Hoje, praticamente todas as gramáticas e dicionários do idioma seguem essa prática. Há, porém, exemplos mais antigos: na edição de 1933 do seu livro A Língua Nacional, o filólogo João Ribeiro j utilizava a vírgula antes de etc. Portanto, escreva sem receio: Trouxe maçãs, pêras, caquis, etc. (Suplemento ESTADINHO, 29/11/03:O leitor Eurico Fernando Alves alega que usava vírgula antes de etc. a que uma ex-secretária-executiva o convenceu da inexistência do sinal nesse caso. (...) O raciocíni o que muitas pessoas invocam: a abreviatura etc., redução do latim et cetera, significa e os outros, assim por diante, e já tem e (o et de etcetera).) b)Vírgula antes de etc. pode ser opcional É justo admitir, porém, que muitas autoridades da língua portuguesa consideram a vírgula facultati nesse caso, o que leva muitos jornais e revistas editados no Brasil a não adotarem o sinal de pontuação antes de etc. Por isso, os tradicionalistas, para os quais em etcetera já existe o e (que dispensa a vírgula), podem continuar a escrever sem o sinal antes da abreviatura. c) Algumas observações a respeito do tema ─ Embora etcetera queira dizer “e as demais coisas”, a redução da palavra, pela extensão do sentid aplica-se hoje também a pessoas: Chamou os amigos, colegas, parentes, etc. ─ Não se deve usar e antes de etc. (afinal, o et de etcetera já significa e). Assim, nunca escreva Gostava de pássaros, cães, gatos “e” etc. O certo: Gostava de pássaros, cães, gatos, etc. ─ Se etc. vier no fim da frase, não duplique o ponto: etc. e não etc.. (Suplemento ESTADINHO, 6/12/03: A coluna anterior apontou uma série de razões que justificam o empreg de vírgula antes da abreviatura etc. A principal delas é o fato de o Vocabulário Ortográfico, da Academia Brasileira de Letras, sempre recorrer ao sinal nessas condições.)

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I. ETC. E A VÍRGULA

a) Afinal, existe ou não vírgula antes de etc.?Independentemente de qualquer outra razão, a presença da vírgula antes de etc. tornou-se praticamente obrigatória a partir de 1943. O motivo: um conjunto de normas chamado Formulário Ortográfico, que regula as questões de grafia no Brasil, inclui sempre a vírgula antes de etc. Esse documento, oficial, tem caráter de lei. Por isso, o uso do sinal antes de etc. terminou por se generalizar.Hoje, praticamente todas as gramáticas e dicionários do idioma seguem essa prática. Há, porém, exemplos mais antigos: na edição de 1933 do seu livro A Língua Nacional, o filólogo João Ribeiro já utilizava a vírgula antes de etc. Portanto, escreva sem receio: Trouxe maçãs, pêras, caquis, etc.

(Suplemento ESTADINHO, 29/11/03:O leitor Eurico Fernando Alves alega que usava vírgula antes de etc. até que uma ex-secretária-executiva o convenceu da inexistência do sinal nesse caso. (...) O raciocínio é o que muitas pessoas invocam: a abreviatura etc., redução do latim et cetera, significa e os outros, e assim por diante, e já tem e (o et de etcetera).)

b)Vírgula antes de etc. pode ser opcionalÉ justo admitir, porém, que muitas autoridades da língua portuguesa consideram a vírgula facultativa nesse caso, o que leva muitos jornais e revistas editados no Brasil a não adotarem o sinal de pontuação antes de etc.Por isso, os tradicionalistas, para os quais em etcetera já existe o e (que dispensa a vírgula), podem continuar a escrever sem o sinal antes da abreviatura.

c) Algumas observações a respeito do tema─ Embora etcetera queira dizer “e as demais coisas”, a redução da palavra, pela extensão do sentido, aplica-se hoje também a pessoas: Chamou os amigos, colegas, parentes, etc.─ Não se deve usar e antes de etc. (afinal, o et de etcetera já significa e). Assim, nunca escreva: Gostava de pássaros, cães, gatos “e” etc. O certo: Gostava de pássaros, cães, gatos, etc.─ Se etc. vier no fim da frase, não duplique o ponto: etc. e não etc..

(Suplemento ESTADINHO, 6/12/03: A coluna anterior apontou uma série de razões que justificam o emprego de vírgula antes da abreviatura etc. A principal delas é o fato de o Vocabulário Ortográfico, da Academia Brasileira de Letras, sempre recorrer ao sinal nessas condições.)

II. ANTES DE “e”

Regra geral: a vírgula deve ser evitada antes da conjunção aditiva (E)Ex: O diretor e os assessores se reuniram ontem à tarde. / Nesta empresa, os funcionários podem trabalhar e estudar.

Exceções:a) – A vírgula deve ser usada antes da conjunção E com valor ADVERSATIVO. Ex.: Já são dez horas, e

(=mas) a reunião ainda não terminou.b) – A vírgula deve ser usada quando o conectivo E liga orações com sujeitos diferentes. Ex.: Os

funcionários reclamaram, e a direção atendeu.c) – A vírgula deve ser usada quando o conectivo E tem valor consecutivo ou enfático. Ex.:Os

trabalhadores se reuniram, discutiram, e decidiram agir. / Chegou, e viu, e lutou, e venceu finalmente.

(PORTUGUÊS SEM COMPLICAÇÃO — VII – PONTUAÇÃO, Sergio Nogueira)

III.DEPOIS DE E

Só se houver uma intercalação entre o e e o elemento ligado por ele (intercalação quer dizer duas vírgulas). Portanto: depois do e, ou duas vírgulas ou nenhuma. Uma só é sempre um lamentável equívoco. Exemplos: E, soltando um suspiro, pulou da cadeira. / Sentimento humano e, diríamos, filantrópico. / Sem representação e, muito menos, mordomia. / Lutamos e, unidos, venceremos qualquer obstáculo.

Se houver uma intercalação também antes, teremos o e entre vírgulas: Pedro levantou-se, irritado, e, sem preâmbulos, deu o seu parecer.

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Geralmente se omitem as vírgulas nas intercalações breves: E sobre a lata vinha uma metade de tijolo. / E ao dizer isso sua voz chegou a ficar doce e lisa.

(A vírgula, Celso Pedro Luft)

IV. CONJUNÇÕES COORD. CONCLUSIVAS (LOGO, POR ISSO, ASSIM, PORTANTO, ENTÃO)

CONCLUSIVAS

Exemplos corretos: Estou escrevendo. Logo, quero silêncio. / Está tudo errado. Assim, refaça o exercício./ Está tudo errado; assim, refaça o exercício./ Não suporto lamentações; portanto, nada de choro.

Se a oração anterior for separada por vírgula, não se coloca outra vírgula depois da conjunção, para não caracterizar uma intercalação ou encaixe: Ele está meditando, logo não quer barulho./ Não suporto lamentações, portanto nada de choro.

Há conjunções conclusivas que também se usam intercaladas: A princício, portanto, não existem planos pra o mercado de automóvel. / Me atacou verbalmente; pude, então, contra-atacar.

POIS, como conjunção conclusiva (com o significado de portanto, por isso, consequentemente), vem sempre depois do verbo, entre vírgulas: Estou lendo; não quero, pois, que me interrompam. / O turismo é o setor que mais cresce. Receberá, pois, grandes investimentos do Estado.

(Só vírgula – MÉTODO FÁCIL EM VINTE LIÇÕES, M. Teresa de Queiroz Piacentini)

V.GERÚNDIO

a.A vírgula separa orações reduzidas de gerúndio, de particípio e de infinitivo quando equivalem a orações adverbiais e vêm antes da oração principal.

Exs.: SABENDO disso (=quando soube disso), ele se afastou. / PASSADO o vendaval (=quando ou depois que passou), atracamos o barco. / AO RECEBER o troféu (=quando recebeu o troféu), desmaiou.

b. É separado por vírgula o GERÚNDIO:

(1) anteposto à oração principal: Confirmando o sucesso de suas promoções, o Centro Social realizará um bingo amanhã. / Observando que não há recursos suficientes para todos, o presidente pede o apoio do Congresso à reforma tributária.

(2) colocado depois da oração principal, que equivale, na maioria das vezes, a uma oração coordenada iniciada pela conjunção E: O mediador tomou seu lugar à mesa, aguardando o momento de iniciar o debate. / Ganhar a taça é uma questão de honra para a Chapecoense, aumentando a emoção entre os jogadores. / Oito usinas foram fechadas, deixando sem trabalho milhares de agricultores.

(3) que tem a função de uma oração adjetiva (construção pouco comum e nem sempre recomendável): A atriz paulistana Cristiana Reali, morando em Paris desde os sete anos, não aceitou nenhum dos convites para filmar no Brasil.

c. Não se usa a vírgula antes do GERÚNDIO ou da oração gerundial que:

(4) denota MEIO, MODO ou INSTRUMENTO (responde à pergunta COMO?): Fez a cirurgia conversando. / Mandou pintar o edifício empregando mão-de-obra local. / Mostramos nosso trabalho fora da capital pondo dinheiro do próprio bolso.

(5) tem a função de uma oração adjetiva restritiva: Vi um menino domando uma fera. / É comum encontrarmos loucos

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falando sozinhos. / A ministra Dorothea patrocinou projeto de lei proibindo tal importação.

(6) equivale a uma oração adverbial na sua ordem habitual (não anteposta nem intercalada): Emitiu nota oficial informando que os culpados seriam punidos. / Ele se demitiu objetivando facilitar as investigações. / Minutos antes do casamento, ligou pra a irmã dizendo que ia viajar.

(Só vírgula – MÉTODO FÁCIL EM VINTE LIÇÕES, M. Teresa de Queiroz Piacentini)

VI.JR.

a. Regra geral.

Quando há vírgula antes de Jr. e a frase continua, é preciso colocar vírgula depois de Jr. também para não separar o sujeito do verbo. Nunca devemos separar o sujeito do seu verbo. Caso haja alguma intercalação entre o suj. e o verbo e formos usar vírgula, há necessidade de duas: uma antes e outra depois da expressão intercalada.

Correto: Henry Louis Gates, Jr., é professor de...Errado: Henry Louis Gates, Jr. é professor de....

b.No exemplo abaixo, a abreviatura só não é seguida da segunda vírgula porque a frase pára em Jr.

Júnior: Emprega-se (às vezes, abreviadamente) após o nome de uma pessoa para indicar que é a mais jovem da família que tem aquele nome: Raimundo Magalhães Júnior; Carlos Araújo, Jr.

VII.INVERSÃO OU INTERCALAÇÃO, PORÉM INVERSÃO DO SUJEITO SEM VÍRGULA

a. Usa-se vírgula para indicar inversão ou intercalação de algum elemento da frase, fazendo-a sair da ordem direta. Ex.: Ao final da audiência, os advogados requereram prazo para memoriais. / Os advogados requereram, ao final da audiência, prazo para memoriais.

b Entretanto, a posposição do sujeito ao verbo normalmente não vem marcada pela vírgula. Ex.: Não redundará em condenação a sentença destes autos.

Outros exemplos: Foi demitido o gerente por sua má administração. / Falaram todos em cadeia de rádio.

(Só vírgula - Método Fácil em Vinte Lições, Maria Tereza Q. Piacentini)

c. Quando a intercalação ou a inversão se dão com uma só palavra ou com expressão de poucas palavras, as vírgulas que marcam tal ocorrência acabam sendo optativas. Exemplos corretos: Displicentemente, o réu segurava o queixo com a mão. / Displicentemente o réu segurava o queixo com a mão. / O réu segurava, displicentemente, o queixo com a mão. / O réu segurava displicentemente o queixo com a mão. – Observe que quando há intercalação com vírgula optativa, ou se usam ambas as vírgulas, ou não se utiliza nenhuma delas.

(Manual de Redação Profissional, José Maria da Costa)

d. Inversão com vírgula necessária (o termo invertido não é sujeito): Que você consiga vencer a prova, todos esperam.

(Gramática Ilustrada, Hildebrando A. de André)

VIII.TAMBÉM

a.Vírgulas inúteis para tambémNão se deve "entalar", "ensanduichar" a partícula de inclusão TAMBÉM entre vírgulas como nos usos inadequadosabaixo:As novas regras, também, não atingem a Caderneta de Poupança Programada. / Participe você, também, da promoção.

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O adequado é: As novas regras também não atingem a Caderneta de Poupança Programada. / Participe você também da promoção.

b.O advérbio não precisa estar necessariamente entre vírgulasNão se deve pôr entre vírgulas o advérbio situado entre o verbo e o complemento. O autor condena o uso das vírgulas separando os advérbios ONTEM, AINDA, AGORA, etc., como nos exemplos abaixo, a não ser "num caso excepcional de ênfase ou de cabível relevo".Chegou, ontem, de São Paulo. / Não recuperou, ainda, os sentidos. / Comprou, agora, duas casas.O adequado é: Chegou ontem de São Paulo. / Não recuperou ainda os sentidos. / Comprou agora duas casas.

(A vírgula, Celso Pedro Luft)