Viva o tango

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SALVADOR SÁBADO 29/9/2012 3 2 O topless da duquesa O rei está nu. Esta frase saiu da moda, primeiro porque os reis se multiplicam em todas as ati- vidades; segundo porque a banda podre, de tão habitual, deixa de incomodar o nariz. Mas, se alguém da realeza bri- tânica se deixa surpreender desnudo, e principalmente se é mulher com atrativos, então o escândalo sacode de indigna- ção o reino de Elizabeth II. Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge, não chega a ser uma dessas vadias ucranianas fornidas que tiram a roupa em público para protestar contra qualquer bobagem. Foi descan- sar do tédio da vida mansa, com o marido, príncipe William, no sul da França. Deviam pou- pá-los, porque, muito brancos, precisam de um bronzeado que o fog londrino lhes veda. Habituada à discrição que di- zem ser marca registrada ingle- sa, Kate facilitou. Fotos da du- quesa seminua correram mun- do. Claro, quem vai perder um rico flagrante? Escreveram que ela estava “de topless”. Não en- tendi e não entendo. A prepo- sição “de” entra aqui de gaiata. Deveria ser “estava topless” ou fazia topless, isto é, mostra- va-se sem a parte de cima. Sem o sutiã, naturalmente, já que ninguém a decapitara. A corte tratou logo de pro- cessar judicialmente jornais e revistas. Nada, que se saiba, de reprimendas a Kate. Sequer um leve, simbólico puxão de ore- lhas, para que, da próxima vez que se desnude, olhe antes os arredores, se certifique de que somente os olhos ainda fasci- nados do príncipe William lhe seguem o descomprometido ensaio sensual. Bem, o escândalo amainou. Foi mais uma bolha de sabão neste mundo cheio de proble- mas e pendências mortais. O casal real se diverte em ilhas do Pacífico, onde, por sinal, as na- tivas andam topless. Foram conduzidos em liteiras que lembravam os jinriquixás dos contos do colonialista Ru- dyard Kipling, plantaram mu- das de coqueiro, nadaram em águas azuladas, beberam rum com suco de abacaxi e prati- caram outras proezas, entre as quais a de acocorar-se para ou- vir a lenga-lenga intraduzível dos meninos seus súditos. Só não estiveram nas ilhas Mal- vinas, que eles chamam Fal- kland. Deixemos o casal em paz. Que volte revigorado para as duras tarefas da corte. A du- quesa já provou que, apesar de inglesa, e branquela, não é ne- nhuma spinster: o príncipe teve gosto. E façamos votos para que em outras viagens de férias ela não perpetre outro vacilo. Palavra aborrecida, esta. Ain- da não foi dicionarizada, salvo no Houaiss. Mas todos, em es- pecial os divulgadores espor- tivos, enchem a boca: vacilo. Além dos penteados estranhos, dos brincos, da fala estropiada e das dancinhas ridículas em caso de gol, nossos futebolistas cometem tantos vacilos que so- mos inclinados a considerá-los bacilos. O vocábulo pegou: va- cilação ou hesitação ou falha ou deslize estão banidos. Fato semelhante, de resis- tência obstinada à gramática, ocorre na proverbial expressão “não deu em nada”, que sig- nifica pizza. Se nada resultou de concreto, por que o “não”? O que não dá em nada sempre gera um fato concreto. Ou não passo de um cronista caturra? A arte de escrever despenca ladeira a baixo, ou naufraga. Quando escrevia para o sau- doso Jornal do Brasil, Carlos Drummond de Andrade rebe- lou-se contra o uso inadequado da expressão “a nível de”. In- corretíssima até à alma. Quase todos dizem ou escrevem as- sim, e não apenas os analfa- betos funcionais. Em nível de Brasil burro, têm lá suas razões ou justificativas. Chegou o momento do fecho desta crônica, preciso pegar um avião para São Paulo. Se o leitor me acompanhou até aqui, te- nho o dever de escoltá-lo ao final e continuarmos amigos. Quem sabe a duquesa Kate Middleton me salvará? Veja- mos: a nível de vacilos ela por- tou-se com alguma negligên- cia. O casal é jovem, consta que continua apaixonado, ainda vi- vem um para o outro e se bas- tam. O topless é bom termô- metro, sobretudo para quem nasceu e cresceu cercado da- quele fog denso que encobria as vilanias de Jack, o Estripador – piores, bem piores que a in- discrição dos fotógrafos. Ainda bem que o episódio não deu em nada; e que a duquesa não teve de ser arrastada pelo asfalto por um grupo de policiais robustos, qual loura ucraniana vadia. Habituada à discrição que dizem ser marca registrada inglesa, Kate Middleton facilitou Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia LANÇAMENTO Projeto cultural lança site e CD virtual de Nicinha e grupo Raízes de Santo Amaro MARCOS DIAS Difícil vai ser fazer a sambadeira Nicinha, 63, ficar quieta neste domingo, quando os ataba- ques, pandeiros e maracas do seu grupo de samba-de-roda to- car em Santo Amaro. É que ela se submeteu a uma cirurgia de ponte de safena há dois meses. Ao mesmo tempo, tem muito a comemorar: neste dia, será lan- çado o CD virtual Samba de Ni- cinha: Raízes de Santo Amaro, durante o Caruru de São Cosme e Damião na Casa do Samba. “Isso é uma glória, uma vi- tória, não tenho do que recla- mar porque Deus é sempre ma- ravilhoso para mim”, diz ela, que começou a sambar com 17 anos. “Hoje está tudo numa boa para nós, sambadores antigos, com pé rachado, pé no chão”. Nora do lendário Popó do Ma- culelê, ela também foi casada com o mestre de capoeira Vavá. O grupo Raízes de Santo Amaro foi fundado em 24 de junho de 1978 e, ao lado do maculelê de Vavá, também fazia um afoxé “para chamar a multidão”. Em 1982, Nicinha fez sua pri- meira viagem ao exterior, para Dacar (Senegal), e já se apre- sentou várias vezes na Europa. “Mas ninguém achou nada de mão beijada, não. Naquele tem- po, a gente não tinha nem roupa para vestir. Hoje, tem vários gru- pos. Antigamente, se procurava e não achava, hoje se você to- mar uma topada está em cima de um”. Do sangue Filha de Iansã com Ogum, Maria Eunice Martins Luz acredita que sambar é algo inato: “Vem do eu da pessoa, do sangue, por- que aqui ninguém ensina a nin- guém. Hoje em dia tem aulas e as pessoas aprendem, mas no meu tempo a gente dançava nas Lapinhas, nos carurus de São Cosme, de São Roque, de São Crispim, tudo era samba. Hoje é pagode”. O lançamento é fruto dos es- forços do produtor santo-ama- rense (“nascido, criado, conhe- cido e considerado”) Antônio Uzeda, da Plataforma de Lan- çamento, que inscreveu o pro- jeto no Programa Petrobras Cul- tural de 2010 para gravação di- gital. Amanhã, o disco estará disponível para download em www.sambadenicinha.com. Com o projeto, ele diz que fecha um ciclo. Em 2009, pro- duziu o CD Samba Chula de São Braz, pela Funarte, e ainda pre- tende editar o disco físico de Nicinha, que tem samba corri- do, maculelê e cânticos para Ie- manjá e Oxum. “O samba de Nicinha é mais performático. Ela é apoteótica. Elas fazem uma superprodu- ção”, diz ele. As gravações ocor- reram no estúdio Casa das Má- quinas, em Salvador, com di- reção artística de Cássio Nobre e Katharina Doring. LANÇAMENTO DO CD VIRTUAL SAMBA DE NICINHA: RAÍZES DE SANTO AMARO / AMANHÃ, 16 HORAS/ CASA DO SAMBA (SANTO AMARO) / ENTRADA FRANCA Adenor Godim / Divulgação A sambadeira Nicinha e o grupo Raízes de Santo Amaro numa de suas concorridas performances O samba de roda foi tombado em 2004 como Patrimônio Imaterial da Humanidade “Encontrei essas músicas desde que nasci. Desde que minha tataravó nasceu, encontrou” DONA NICINHA, sambadeira No endereço www. sambadenicinha.com é possível baixar o CD com 13 faixas, fotos e informações adicionais CURTAS Ted Boy Marino morre aos 72 anos O ator e ex-praticante de luta livre Ted Boy Marino morreu na noite de quinta-feira, no Rio, aos 72 anos, vítima de uma parada cardíaca sofrida após uma cirurgia de emergência de- vido a uma trombose. Nascido em Fuscaldo Marina, na Itália, em 1939, aos 12 anos Ted Boy se mudou para a Argentina com os pais e os cinco irmãos. Aos 22 anos já atuava como lutador em eventos de telecatch na Argen- tina e no Uruguai. O ator se mudou para o Brasil em 1965 e foi contratado pela TV Excelsior para atuar como lutador. Arquivo / Ag. A TARDE Ted ficou famoso nos anos 1960 e 1970 como astro de telecatch DANÇA Apesar de serem indissociados da música, são os passos e movimentos que atraem mais interesse entre os soteropolitanos Presença de músicos de tango ainda é tímida no cenário artístico baiano VERENA PARANHOS No tango, embora dança e mú- sica sejam indissociáveis, a dan- ça ainda é o que desperta maior interesse, de modo que poucos artistas se dedicam a tocar o gênero na cidade. Em Salvador, não existe nenhuma orquestra especializada no ritmo que Car- los Gardel tornou conhecido, nem músico que toque o ban- doneón, principal instrumento da orquestra de tango. “O interesse maior é na dan- ça, que tem uma coisa muito corporal, de sedução. Mas a dança não existe sem a música, é um diálogo. Para a gente, é ótimo fazer o som ao vivo nos bailes, porque é como se fosse um espelho: há uma interação entre os músicos e os dança- rinos”, defende Inácio Azpeitia, argentino que toca violão e can- ta na Milonga do Bem. Do clássico ao novo Nos bailes e milongas locais, Inácio toca um pouco de tudo: desde os clássicos de Carlos Gar- del, preferido do grande públi- co, a Ástor Piazzolla, compositor de tango mais importante da segunda metade do século 20 e precursor do nuevo tango, mais marcado e dançante, que traz influências do jazz e inovações nos quesitos ritmo, timbre e har- monia. Os apreciadores do gê- nero que nasceu instrumental na região do Rio da Prata (Ar- gentina e Uruguai) e só depois ganhou as famosas letras tristes geralmente se dividem entre es- tas duas correntes e travam dis- cussões sobre a preservação do ritmo mais tradicional e a in- corporação de novas tendên- cias, como o tango eletrônico do grupo Gotan Project. Para Inácio Azpeitia, o cres- cimento do interesse pelo tango é consequência das viagens de brasileiros para Buenos Aires. “Muita gente gosta do que vê lá e quando volta quer encontrar alguma coisa similar, por isso começa a fazer aulas e apreciar a música”, justifica o portenho. Esse é o caso de Alexandre Ribeiro, que praticava outras CAJA /Divulgação Ástor Piazzolla foi o principal inovador do tango, na segunda metade do século 20 danças de salão, mas só se in- teressou pelo tango depois de uma viagem de férias à capital argentina, há quatro anos. “Cos- tumo dizer que o vírus do tango entrou na minha veia, me apai- xonei. E olhe que sou engenhei- ro, cartesiano”, brinca. Nos três anos seguintes, Ale- xandre e a esposa retornaram à cidade para aperfeiçoar a téc- nica em aulas e milongas. “O tango não é só uma questão de dança. Envolve toda uma cultura e uma história”. “Antes, quando você falava de tango, as pessoas só pensavam na Argentina. Agora você já tem espaço para dançar e ouvir aqui”, destaca a praticante da dança Joseli Nunes. Alexandre também se diz apaixonado pelo tango enquanto música: “Já te- nho uma discografia e uma vi- deoteca boa sobre o assunto”. Programação especial Para celebrar os três anos do reconhecimento do tango como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a Abatango rea- liza neste fim de semana uma programação especial. Hoje, às 19 horas, a associação promove um curso com o professor Paulo Araújo, fundador do Instituto Brasileiro do Tango (IBT), e ama- nhã, às 18h30, o primeiro Tango na Praça. O projeto, que visa a divulgar e despertar a cultura do tango nas comunidades de Sal- vador, vai reunir 15 casais para dançar o ritmo na Praça Segre- dos de Itapuã, em Piatã. QUEM ESCUTAR CARLOS GARDEL Dá voz aos famosos tangos Mi Buenos Aires Querido, El Dia Que Me Quieras e Mi Noche Triste JUAN D’ARIENZO Resgatou o primitivo 2x4 do tango. Conhecido por Milonga Brava, Chirusa e El Vino Triste ÁSTOR PIAZZOLLA Conhecido pelo nuevo tango, com inovações no timbre e na harmonia. Vale ouvir Libertango e Adiós Nonino

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Tombado pela Unesco há três anos, ele é cada vez mais procurado nas academiasCaderno 2+, Jornal A Tarde, 29 de setembro de 2012

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SALVADOR SÁBADO 29/9/2012 32

O topless da duquesa

O rei está nu. Esta frase saiu damoda, primeiro porque os reisse multiplicam em todas as ati-vidades; segundo porque abanda podre, de tão habitual,deixa de incomodar o nariz.Mas, se alguém da realeza bri-tânica se deixa surpreenderdesnudo, e principalmente se émulher com atrativos, então oescândalo sacode de indigna-ção o reino de Elizabeth II.

Kate Middleton, a Duquesade Cambridge, não chega a seruma dessas vadias ucranianasfornidas que tiram a roupa empúblico para protestar contraqualquer bobagem. Foi descan-sardotédiodavidamansa, como marido, príncipe William, nosul da França. Deviam pou-pá-los, porque, muito brancos,precisam de um bronzeado queo fog londrino lhes veda.

Habituada à discrição que di-zem ser marca registrada ingle-sa, Kate facilitou. Fotos da du-quesa seminua correram mun-do. Claro, quem vai perder umrico flagrante? Escreveram queela estava “de topless”. Não en-tendi e não entendo. A prepo-sição “de” entra aqui de gaiata.Deveria ser “estava topless” oufazia topless, isto é, mostra-va-se sem a parte de cima. Semo sutiã, naturalmente, já queninguém a decapitara.

A corte tratou logo de pro-cessar judicialmente jornais erevistas. Nada, que se saiba, dereprimendas a Kate. Sequer umleve, simbólico puxão de ore-

lhas, para que, da próxima vezque se desnude, olhe antes osarredores, se certifique de quesomente os olhos ainda fasci-nados do príncipe William lheseguem o descomprometidoensaio sensual.

Bem, o escândalo amainou.Foi mais uma bolha de sabãoneste mundo cheio de proble-mas e pendências mortais. Ocasal real se diverte em ilhas doPacífico, onde, por sinal, as na-tivas andam topless.

Foram conduzidos em liteirasque lembravam os jinriquixásdos contos do colonialista Ru-dyard Kipling, plantaram mu-das de coqueiro, nadaram emáguas azuladas, beberam rumcom suco de abacaxi e prati-caram outras proezas, entre asquais a de acocorar-se para ou-vir a lenga-lenga intraduzíveldos meninos seus súditos. Sónão estiveram nas ilhas Mal-vinas, que eles chamam Fal-kland.

Deixemos o casal em paz.Que volte revigorado para asduras tarefas da corte. A du-quesa já provou que, apesar deinglesa, e branquela, não é ne-

nhuma spinster: o príncipe tevegosto.E façamosvotosparaqueem outras viagens de férias elanão perpetre outro vacilo.

Palavra aborrecida, esta. Ain-da não foi dicionarizada, salvono Houaiss. Mas todos, em es-pecial os divulgadores espor-tivos, enchem a boca: vacilo.Além dos penteados estranhos,dos brincos, da fala estropiadae das dancinhas ridículas emcaso de gol, nossos futebolistascometem tantos vacilos que so-mos inclinados a considerá-losbacilos. O vocábulo pegou: va-cilação ou hesitação ou falha oudeslize estão banidos.

Fato semelhante, de resis-tência obstinada à gramática,ocorre na proverbial expressão“não deu em nada”, que sig-nifica pizza. Se nada resultou deconcreto, por que o “não”? Oque não dá em nada sempregera um fato concreto. Ou nãopasso de um cronista caturra?

A arte de escrever despencaladeira a baixo, ou naufraga.Quando escrevia para o sau-doso Jornal do Brasil, CarlosDrummond de Andrade rebe-lou-se contra o uso inadequado

da expressão “a nível de”. In-corretíssima até à alma. Quasetodos dizem ou escrevem as-sim, e não apenas os analfa-betos funcionais. Em nível deBrasil burro, têm lá suas razõesou justificativas.

Chegou o momento do fechodesta crônica, preciso pegar umaviãoparaSãoPaulo.Seo leitorme acompanhou até aqui, te-nho o dever de escoltá-lo aofinal e continuarmos amigos.Quem sabe a duquesa KateMiddleton me salvará? Veja-mos: a nível de vacilos ela por-tou-se com alguma negligên-cia.

O casal é jovem, consta quecontinua apaixonado, ainda vi-vem um para o outro e se bas-tam. O topless é bom termô-metro, sobretudo para quemnasceu e cresceu cercado da-quelefogdensoqueencobriaasvilanias de Jack, o Estripador –piores, bem piores que a in-discrição dos fotógrafos. Aindabem que o episódio não deu emnada; e que a duquesa não tevedeserarrastadapeloasfaltoporum grupo de policiais robustos,qual loura ucraniana vadia.

Habituada àdiscrição quedizem ser marcaregistrada inglesa,Kate Middletonfacilitou

Hélio PólvoraEscritor, membro da Academiade Letras da Bahia

LANÇAMENTO

Projeto cultural lança site e CD virtual deNicinha e grupo Raízes de Santo AmaroMARCOS DIAS

Difícil vai ser fazer a sambadeiraNicinha, 63, ficar quieta nestedomingo, quando os ataba-ques, pandeiros e maracas doseu grupo de samba-de-roda to-car em Santo Amaro. É que elase submeteu a uma cirurgia deponte de safena há dois meses.Ao mesmo tempo, tem muito acomemorar: neste dia, será lan-çado o CD virtual Samba de Ni-cinha: Raízes de Santo Amaro,durante o Caruru de São Cosmee Damião na Casa do Samba.

“Isso é uma glória, uma vi-tória, não tenho do que recla-mar porque Deus é sempre ma-ravilhoso para mim”, diz ela,que começou a sambar com 17anos. “Hoje está tudo numa boapara nós, sambadores antigos,com pé rachado, pé no chão”.

NoradolendárioPopódoMa-culelê, ela também foi casadacom o mestre de capoeira Vavá.O grupo Raízes de Santo Amarofoi fundado em 24 de junho de1978 e, ao lado do maculelê de

Vavá, também fazia um afoxé“para chamar a multidão”.

Em 1982, Nicinha fez sua pri-meira viagem ao exterior, paraDacar (Senegal), e já se apre-sentou várias vezes na Europa.“Mas ninguém achou nada demãobeijada,não.Naqueletem-po,agentenãotinhanemroupapara vestir. Hoje, tem vários gru-pos. Antigamente, se procuravae não achava, hoje se você to-mar uma topada está em cimade um”.

Do sangueFilha de Iansã com Ogum, MariaEunice Martins Luz acredita quesambar é algo inato: “Vem doeu da pessoa, do sangue, por-que aqui ninguém ensina a nin-guém. Hoje em dia tem aulas eas pessoas aprendem, mas nomeutempoagentedançavanasLapinhas, nos carurus de SãoCosme, de São Roque, de SãoCrispim, tudo era samba. Hoje épagode”.

O lançamento é fruto dos es-forços do produtor santo-ama-

rense (“nascido, criado, conhe-cido e considerado”) AntônioUzeda, da Plataforma de Lan-çamento, que inscreveu o pro-jeto no Programa Petrobras Cul-tural de 2010 para gravação di-gital. Amanhã, o disco estarádisponível para download emwww.sambadenicinha.com.

Com o projeto, ele diz quefecha um ciclo. Em 2009, pro-duziu o CD Samba Chula de SãoBraz, pela Funarte, e ainda pre-tende editar o disco físico deNicinha, que tem samba corri-do, maculelê e cânticos para Ie-manjá e Oxum.

“O samba de Nicinha é maisperformático. Ela é apoteótica.Elas fazem uma superprodu-ção”, diz ele. As gravações ocor-reram no estúdio Casa das Má-quinas, em Salvador, com di-reção artística de Cássio Nobre eKatharina Doring.

LANÇAMENTO DO CD VIRTUAL SAMBA DE

NICINHA: RAÍZES DE SANTO AMARO /

AMANHÃ, 16 HORAS/ CASA DO SAMBA

(SANTO AMARO) / ENTRADA FRANCA

Adenor Godim / Divulgação

A sambadeira Nicinha e o grupo Raízes de Santo Amaro numa de suas concorridas performances

O samba de rodafoi tombadoem 2004 comoPatrimônioImaterial daHumanidade

“Encontrei essasmúsicas desde quenasci. Desde queminha tataravónasceu, encontrou”DONA NICINHA, sambadeira

No endereço www.sambadenicinha.comé possível baixar oCD com 13 faixas,fotos e informaçõesadicionais

CURTAS

Ted Boy Marinomorre aos 72 anos

O ator e ex-praticante de lutalivre Ted Boy Marino morreu nanoite de quinta-feira, no Rio,aos 72 anos, vítima de umaparada cardíaca sofrida apósuma cirurgia de emergência de-vido a uma trombose. Nascidoem Fuscaldo Marina, na Itália,em 1939, aos 12 anos Ted Boyse mudou para a Argentina comos pais e os cinco irmãos. Aos 22anosjáatuavacomolutadoremeventos de telecatch na Argen-tina e no Uruguai. O ator semudou para o Brasil em 1965 efoi contratado pela TV Excelsiorpara atuar como lutador.

Arquivo / Ag. A TARDE

Ted ficou famoso nos anos 1960e 1970 como astro de telecatch

DANÇA Apesar de serem indissociados da música, são os passos emovimentos que atraem mais interesse entre os soteropolitanos

Presença de músicos detango ainda é tímida nocenário artístico baianoVERENA PARANHOS

No tango, embora dança e mú-sica sejam indissociáveis, a dan-ça ainda é o que desperta maiorinteresse, de modo que poucosartistas se dedicam a tocar ogênero na cidade. Em Salvador,não existe nenhuma orquestraespecializada no ritmo que Car-los Gardel tornou conhecido,nem músico que toque o ban-doneón, principal instrumentoda orquestra de tango.

“O interesse maior é na dan-ça, que tem uma coisa muitocorporal, de sedução. Mas adança não existe sem a música,é um diálogo. Para a gente, éótimo fazer o som ao vivo nosbailes, porque é como se fosseum espelho: há uma interaçãoentre os músicos e os dança-rinos”, defende Inácio Azpeitia,argentino que toca violão e can-ta na Milonga do Bem.

Do clássico ao novoNos bailes e milongas locais,Inácio toca um pouco de tudo:desde os clássicos de Carlos Gar-

del, preferido do grande públi-co, a Ástor Piazzolla, compositorde tango mais importante dasegunda metade do século 20 eprecursor do nuevo tango, maismarcado e dançante, que trazinfluências do jazz e inovaçõesnos quesitos ritmo, timbre e har-monia. Os apreciadores do gê-nero que nasceu instrumentalna região do Rio da Prata (Ar-gentina e Uruguai) e só depoisganhou as famosas letras tristesgeralmente se dividem entre es-tas duas correntes e travam dis-cussões sobre a preservação doritmo mais tradicional e a in-corporação de novas tendên-cias, como o tango eletrônico dogrupo Gotan Project.

Para Inácio Azpeitia, o cres-cimento do interesse pelo tangoé consequência das viagens debrasileiros para Buenos Aires.“Muita gente gosta do que vê láe quando volta quer encontraralguma coisa similar, por issocomeça a fazer aulas e apreciara música”, justifica o portenho.

Esse é o caso de AlexandreRibeiro, que praticava outras

CAJA /Divulgação

Ástor Piazzolla foi oprincipal inovador dotango, na segundametade do século 20

danças de salão, mas só se in-teressou pelo tango depois deuma viagem de férias à capitalargentina,háquatroanos.“Cos-tumo dizer que o vírus do tangoentrou na minha veia, me apai-xonei. E olhe que sou engenhei-ro, cartesiano”, brinca.

Nos três anos seguintes, Ale-xandre e a esposa retornaram àcidade para aperfeiçoar a téc-

nica em aulas e milongas. “Otango não é só uma questão dedança.Envolvetodaumaculturae uma história”.

“Antes,quandovocêfalavadetango, as pessoas só pensavamna Argentina. Agora você já temespaço para dançar e ouviraqui”, destaca a praticante dadança Joseli Nunes. Alexandretambém se diz apaixonado pelo

tango enquanto música: “Já te-nho uma discografia e uma vi-deoteca boa sobre o assunto”.

Programação especialPara celebrar os três anos doreconhecimento do tango comoPatrimônioCultural ImaterialdaHumanidade, a Abatango rea-liza neste fim de semana umaprogramação especial. Hoje, às

19 horas, a associação promoveum curso com o professor PauloAraújo, fundador do InstitutoBrasileirodoTango(IBT),eama-nhã, às 18h30, o primeiro Tangona Praça. O projeto, que visa adivulgar e despertar a cultura dotango nas comunidades de Sal-vador, vai reunir 15 casais paradançar o ritmo na Praça Segre-dos de Itapuã, em Piatã.

QUEM ESCUTAR

CARLOS GARDEL Dá voz aosfamosos tangos Mi BuenosAires Querido, El Dia Que MeQuieras e Mi Noche Triste

JUAN D’ARIENZO Resgatou oprimitivo 2x4 do tango.Conhecido por Milonga Brava,Chirusa e El Vino Triste

ÁSTOR PIAZZOLLA Conhecidopelo nuevo tango, cominovações no timbre e naharmonia. Vale ouvirLibertango e Adiós Nonino

EDITORA-COORDENADORA: SIMONE RIBEIRO / [email protected]

SÁBSALVADOR29/9/2012

SEG PERSONATER POPQUA VISUAISQUI CENASEX FIM DE SEMANAHOJE LETRASDOM TELEVISÃO

atarde.com.br/caderno2mais

LITERATURA FALTA MAGIA EMTHE CASUAL VACANCY, DIZEMCRÍTICOS SOBRE LIVROADULTO DE J. R. ROWLING, DASÉRIE HARRY POTTER 6

PROJETO SAMBADEIRA NICINHA GANHA SITEE CD VIRTUAL, AMANHÃ, EM SANTO AMARO 3

tango

Fotos Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE

“Até mesmo pelasensualidade,também é umaexcelente terapiade casal”ALEXANDRE RIBEIRO, da Abatango

VERENA PARANHOS

Não é preciso estar na Argentinapara dançar ou escutar tango.Em Salvador, também pode-sever aquele movimento bemmarcadoporcruzadasdepernase acompanhar o contato visualde um par, embalado por clás-sicos de Gardel ou Piazzolla.

Apesar de ainda ser uma dasdanças de salão menos prati-cadas, o tango tem ganhado es-paço na terra do axé e sido re-gularmente ensinado nas aca-demias e em aulas particulares.O ritmo argentino também ga-nhou bailes dedicados a ele, aMilonga do Bem, que desde ju-lho é promovida no segundosábado do mês, no Villa do BemCafé Bar (Pituba) pela Associa-ção Baiana dos Amantes de Tan-go (Abatango).

Professores acreditam que oaumento do interesse dos baia-nos pouco tem a ver com a de-claração da modalidade pelaUnesco como Patrimônio Cul-tural Imaterial da Humanidade,data que completa três anosamanhã e conta com progra-mação especial em Piatã (verpágina 3).

“O tango ainda não é tão pro-curado, como o forró, por exem-plo. Mas, em 12 anos, sempretivemos cursos regulares destadança. Atualmente temos trêsturmas, com 50 alunos”, contaLuísa Canda, da Academia Ba-hiana de Dança de Salão.

Rubens Marcacini, presidenteda Abatango, também vê cres-cimento da procura nos últimosanos.“Antigamente,quandoto-cava tango nos bailes de dançade salão, as pessoas saíam e sóos professores dançavam. Ago-ra, muita gente já fica na pista edança”, conta.

DificuldadeMuitas vezes, o que afasta osdançarinos é a crença em seualto grau de dificuldade, aspec-to minimizado pelos professo-res. “As pessoas ficam com aimagem do tango show, dospalcos. O que se costuma tra-balhar nas academias é o tangode salão, em que se conseguedançar como as outras dançasde salão”, acrescenta Luísa.

“O difícil é conhecer o corpo.As movimentações vão aconte-cendo à medida que você apren-

de a controlar o corpo, por issopode se tornar difícil para al-gumas pessoas”, opina VictorRocha, que dá aulas a gruposparticulares. “É refinado, comuma condução de tronco do ca-valheiro mais técnica. Depois de9 meses de aulas a pessoa jádança bem, é uma gestação”,completa Rubens.

A secretária executiva JoseliNunes pratica o ritmo há quatroanos e acrescenta que o equi-líbrio é fundamental no ritmo.“Eu adoro dançar em geral, maso tango exige uma performancediferente das outras. É encan-tadora, elegante, bonita”.

Além de trabalhar o equilí-brio, a postura e a musicalidade,Alexandre Ribeiro, um dos con-selheiros da Abatango, vê outrobenefício nas aulas: “Até mes-mo pela sensualidade, tambémé uma excelente terapia de ca-sal. Costumo dizer que eu e aminha esposa não precisamosde terapeuta, a nossa terapia éo tango”.

Rafael Rodrigues, de 14 anos,foi conquistado pela beleza dotango há um ano, quando viuuma apresentação de fim deano da turma da mãe. “Nãoacho difícil. É como a escola. Sevocê prestar atenção, vai saberfazer”, compara o garoto.

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2Alunos aprendemos passos do tangona AcademiaBahiana deDança de Salão

ONDE PRATICARA MODALIDADE

ASSOCIAÇÃO BAIANA DETANGO Rua Santa Bárbara,62, Piatã / 9981-5569 /abatango.blogspot.com.br

ACADEMIA BAHIANA DE DANÇADE SALÃO Rua Clovis Veiga,167, Costa Azul / 3272-1213 /www.abds.com.br

ACADEMIA VILLA SALUTE RuaGraça, 275, Graça /3011-1792

STUDIO DANCE BALADI RuaGabriel Passos, 554, Stiep /3342-2290 /www.dancebaladi.com.br/

VICTOR ROCHA E BIANCA LIMAAulas particulares individuaise para grupos / 9979-7358

DANÇA Tombado pela Unescohá três anos, ele é cada vezmais procurado nas academias

Viva o

O casal Luísa Candae Pedro Françaensina a dançaportenha há 15anos em Salvador

Ian West / EFE