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PARA MATAR A SAUDADE 5ª Tradição de A.A. QUINTA TRADIÇÃO CADA GRUPO TEM APENAS UM PROPÓSITO PRIMORDIAL-LEVAR A SUA MENSAGEM AO QUE AINDA SOFRE. “Sapateiro, cinge-te ao teu oficio!”… É melhor fazer uma coisa extremamente bem do que muitas ,mal. Este é o termo central desta tradição . Em torno dele a nossa sociedade agrupa-se em unidade .A própria vida da comunidade requer a preservação deste princípio. ALCOÓLICOS ANÓNIMOS pode comparar se a um grupo médicos que encontra uma cura para o cancro e de cujo trabalho concertado

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PARA MATAR A SAUDADE

5ª Tradição de A.A.

QUINTA TRADIÇÃO

CADA GRUPO TEM APENAS UM PROPÓSITO PRIMORDIAL-LEVAR A SUA MENSAGEM AO QUE AINDA SOFRE.

“Sapateiro, cinge-te ao teu oficio!”… É melhor fazer uma coisa extremamente bem do que muitas ,mal. Este é o termo central desta tradição . Em torno dele a nossa sociedade agrupa-se em unidade .A própria vida da comunidade requer a preservação deste princípio.ALCOÓLICOS ANÓNIMOS pode comparar se a um grupo médicos que encontra uma cura para o cancro e de cujo trabalho concertado dependa a solução para os sofredores destas doenças. Neste caso em tal grupo médicos poderia por vezes desejar lidada , cada um desse medico poderia por vez de trabalho por vezes desejar dedicar-se á sua área específica em vez de trabalhar somente em equipa .Porem tendo eles descoberto a cura e tornando se óbvio que só pelo seu esforço

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conjugado ela é possível, então todos iriam sentir-se obrigados a dedicar-se exclusivamente ao tratamento do cancro. No esplendor deste descoberta miraculosa, qualquer medico piorio de parte as suas outras ambições, qualquer que fosse o custo pessoal.Igualmente vinculados pela obrigação estão os membros de ALCOÓLICOS ANONIMOS que demonstraram que podem ajudar bebedores problema como outros raramente podem, o raro talento dos AA para se identificar com o recém-chegado eOrientá-lo na caminha da recuperação não depende de maneira alguma dos seus conhecimentos da sua eloquência ou de outra qualquer capacidade especial. A única coisa que importa é que ele é um alcoólico que encontrou o caminho da sobriedade .Entre alcoólicos este legados de sofrimento e de recuperação são partilhados com toda a espontaneidade. Esta é a divida que deus nos deu e passá-la a outros como nós é o único propósito que hoje anima os AA de todo o mundo.Há uma outra razão para este singularidade de propósito.Sabemos que o grande paradoxo de AA é que raramente podemos manter a preciosa dádiva de sobriedade,A não ser a passagem a outros. Se um grupo de médicosTivesse a cura do cancro, iria ter problemas de consciência se falhasse nessa missão por motivos egoístas .Conosco ,se negligenciarmos aqueles que ainda estão doentes, estaremos permanentemente a pôr em risco as nossas vidas e a nossa sanidade. Sobe estas compulsões de auto preservação dever e de amor, não é de estranhar que a Associação tenha concluído que a única importante missão de que se sente incumbida é levar a mensagem de AA àqueles que não sabem que há uma saída.Realçando a sabedoria do propósito única de AA uma dos seus membros conta a seguinte história:“Certo dia agitado por uma forte inquietação, senti que o melhor era fazer trabalho de décimo segundo passo.Talvez devesse acautelar-me contra um deslize. Mas, primeiro, tinha de encontrar um alcoólico com quem trabalhar.Assim apanhei o metropolitano para o Towns Hospital onde perguntei ao DrSILKWORTH se tinha algum candidato .Nada muito promissor “disse o pequeno medico “.Só há um individuo no terceiro andar que pode ser uma possibilidade, mas é um irlandês extremamente rude .Nunca vi um homem tão obstinado .Diz aos grupos que se o sócio o tratasse melhor e a mulher o deixasse em paz resolveria o problema de alcoólico .Já teve um ataque grave de deliriam termos está muito confuso e desconfia de todos .Parece um caso difícil, não é? Mas trabalhar como ele poderá ajudá-lo a si: por que não experimentar?Daí a pouco estava eu sentado ao lado de um homenzarrão Decididamente pouco amigável fixava-me com olhos quem eram fendas na sua cura vermelha e inchada. Tive de concordar parecia não estar nada bem contudo contei-lhe a minha historia. Expliquei-lhe que tínhamos uma maravilhosa comunidade em que nos compreendíamos bem uns aos outros.Realcei a falta de esperança do alcoólico. Insistir que outros alcoólicos poderiam reabilitar-se sem ajuda mas que nos nossos grupos conseguíamos fazer juntos troça e assegurou que ele mesmo se encarregaria da mulher, do sócio e do alcoolismo. Sarcasticamente

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perguntou “quanto custa o seu plano?”Senti-me satisfeito por lhe dizer “Nada”.“Claro que a reposta foi: A minha própria sobriedade e um vida feliz”.”Ainda duvidoso, perguntou quer mesmo dizer que a única razão por estar por que estar aqui é para tentar ajudar-me e ajudar-se a si próprio? “Sim,disse eu .É apenas isso .Não há qualquer artimanha”.”a seguir,hesitante aventurei-me a falar do espiritual do nosso programa.Que olhar gelado me deito aquele alcoólico ! Assim que a palavra “espiritual” me saiu da boca explodiu logo.Agora percebo! Você anda a tentar arranjar prosélitos para uma maldita seita religiosa qualquer. De onde vem essa coisa de não haver artimanha? Eu pertenço a uma igreja que é tu para mim. Que grande lata vir aqui falar de religião! Graças aos céus que encontrei uma resposta adequada. Esta resposta estava diretamente baseada no único propósito de AA você tem fé, disse-lhe. Talvez uma fé mais profunda que a minha. Sem dúvida saber mais de religião do que eu .Por isso não lhe posso dizer nada sobre religião. Nem sequer quero tentar. Aposto, também ,que você me poderia dar uma definição perfeita de humildade mas por aquilo que me disse de si próprio e dos seus problemas e de como se propõe resolve-los acho que sei o que é que está errado!”Está bem disse ele .Diga-me então o que tem a dizer”.BEM disse eureka penso que você é apenas um irlandês presunçoso que pode controlar tudo.Aquilo realmente abalou-o mas á medida que ia acalmando começou mesmo a ouvir-me enquanto eu tentava mostrar-lhe que a humildade era a principal chave para a sobriedade . Finalmente viu que não estava a tentar mudar as suas idéias religiosas e que queria que ele encontrasse na sua religião a graça que o iria ajudar na recuperação .Desse momento em diante passamos a entender-nos .Agora Conclui o membro antigo suponhamos que eu tivesse sido obrigado a falar a este homem em termos religiosos? Suponhamos que a minha resposta tivesse sido que AA precisava de muito dinheiro que AA se envolvia com educação ,hospitais e reabilitação? Suponhamos que me tivesse proposto ajudá-lo nos seus assuntos domésticos e profissionais? aonde teríamos ido para? A lado nenhum ,claro. Anos mais tarde ,este obstinado irlandês gostava de dizer “ o meu padrinho vendeu-me uma ideia a da sobriedade .Na altura era a única coisa que eu poderia comprar”.A.A. em sua comunidade

Como a Irmandade de A.A. trabalha em sua Comunidade para ajudar alcoólicosA história de A.A. está repleta de nomes de não alcoólicos, profissionais e leigos, que se interessaram pelo programa de recuperação de A.A. Milhões de nós devemos nossas vidas a essas pessoas e nossa dívida de gratidão não tem limites.

A Posição de A.A. no Campo do AlcoolismoAlcoólicos Anônimos é uma irmandade mundial de homens e mulheres que se ajudam mutuamente a manter a sobriedade e que se oferecem

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para compartilhar livremente sua experiência na recuperação com outros que possam ter problemas com seu modo de beber.

A Irmandade funciona através de mais de 112.000 Grupos locais em 181 países. Milhões de alcoólicos têm alcançado a sobriedade em A.A., mas seus membros reconhecem que seu programa não é sempre eficaz com todos os alcoólicos e que alguns necessitam de aconselhamento e tratamento profissional.

A.A. preocupa-se unicamente com a recuperação pessoal e contínua dos alcoólicos que procuram socorro na Irmandade. O movimento não se dedica a pesquisas sobre alcoolismo ou ao tratamento médico ou psiquiátrico, e não apoia quaisquer causas, embora os membros de A.A. possam participar como indivíduos.

O movimento adotou a política de "cooperação mas não afiliação" com outras organizações que se dedicam ao problema do alcoolismo.

Alcoólicos Anônimos é autossuficiente através de seus membros e Grupos, recusando contribuições de fontes externas. Os membros de A.A. preservam seu anonimato pessoal em nível de imprensa, filmes e outros meios de comunicação.

Como A.A. vê o Alcoolismo?O alcoolismo é, em nossa opinião, uma doença progressiva, espiritual e emocional (ou mental) tanto quanto física. Os alcoólicos que conhecemos parecem ter perdido o poder para controlar suas doses de bebidas alcoólicas.

Como A.A. funciona?A.A. pode ser descrito como um método para recuperação do alcoolismo, no qual os membros ajudam-se mutuamente, compartilhando entre si uma enorme gama de experiências semelhantes em sofrimento e recuperação do alcoolismo.

Que são os Grupos de A.A.?A unidade básica em A.A. é o Grupo local (do bairro ou cidade) que é autônomo, salvo em assuntos que afetem outros Grupos de A.A. ou à Irmandade como um todo. Nenhum Grupo tem poder sobre seus membros.

Os Grupos geralmente são democráticos, assistidos por "comitês de serviços" de curtos períodos de mandato. Desta maneira, nenhum Grupo de A.A. tem uma liderança permanente.

A A. Informando e cooperando com as autoridades da Justiça

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Dra. Rita de Cássia Lima Rocha Meritíssima Juíza de Direito da Primeira Vara do Juizado Especial da Competência Geral do Paranoá - Distrito Federal.

 

A parceria Justiça e Alcoólicos Anônimos tem sido exitosa. Esta parceria iniciou-se por volta de 2.000, quando eu era Juíza do 2° Juizado Especial de Competência Geral do Gama/DF e percebi que muitos processos envolviam alcoólicos em situação de violência, principalmente doméstica.A Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Criminais, prima pela aplicação de penas alternativas (prestação de serviços à comunidade ou doação de cestas básicas a instituições carentes), como uma forma de punir e prevenir o que denomina "delitos de menor potencial ofensivo", como tais aqueles punidos com pena de até dois anos de detenção, praticados por pessoas que não tem passagens pela policia.Observei que essas penas são inadequadas e ineficazes para punir e prevenir certos crimes, especialmente aqueles praticados por alcoolistas e/ou em situações de violência doméstica, pois essas penas não combatem a raiz do problema.Na grande maioria das vezes, eu percebia durante as audiências, que as vítimas diziam que seus companheiros eram pessoas maravilhosas quando não bebiam, mas que a bebida as transformava em uma outra pessoa.As vítimas ficavam indignadas quando os autores do fato recebiam uma proposta de prestar serviços à comunidade e, principalmente, de pagar cestas básicas a instituições carentes, pois nesses casos, tirava-se da própria vitima e de seus filhos o sustento e pior de tudo - sem fazer cessar o problema.Foi então que a Defensora Pública, pessoa muito atenta aos problemas sociais e de grande sensibilidade às questões humanas, me falou sobre Alcoólicos Anônimos.Decidi assim formar essa parceria deixando que os autores do fato pudessem ter a opção de tentar resolver definitivamente o grande

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problema de suas vidas.É com grande satisfação que lhes digo que tenho visto muitas pessoas resgatarem as rédeas de suas vidas; voltarem a seus lares de cabeça ergui da; serem novamente amados e respeitados por seus familiares, vizinhos e amigos, conseguirem um emprego ou até mesmo um diploma em nível superior gratuitos, tão simples e, ao mesmo tempo, fundamentais à vida.Contudo, o que temos observado é que temos nos esquecido de nossa dimensão espiritual, porque nos esquecemos também do amor; o amor fraterno, a compaixão para com o próximo, a disposição para auxiliar aqueles que precisam.E isso ocorre em todos os nossos papéis: dentro da família, em nossa profissão, como cidadãos, como amigos...Nada disso seria possível sem a parceria com Alcoólicos Anônimos.Mas porquê?Porque vivemos em uma época em que a dimensão integral do Ser Humano está esfacelada.Ouvi certa vez em um evento de Alcoólicos Anônimos que somos seres espirituais vivendo uma experiência humana e não seres humanos vivendo uma experiência espiritual. Este princípio para mim é a base de tudo.Assim como o simples ato de respirar é o que une nosso corpo físico a nosso corpo sutil e é a razão de nossa vida física, o amor é o que une o ser humano ao ser espiritual. Ambos são gratuitos, tão simples e, ao mesmo tempo, fundamentais à vida. Contudo, o que temos observado é que temos nos esquecido de nossa dimensão espiritual, porque nos esquecemos também do amor; o amor fraterno, a compaixão para com o próximo, a disposição para auxiliar aqueles que precisam. É isso que ocorre em todos os nossos país:dentro da família, em nossa profissão, como cidadãos, como amigos... A necessidade de sobrevivermos em um mundo de crescentes exigências materiais onde o dinheiro, o trabalho, a competição, o poder e os bens materiais passaram a ser a prioridade, tem nos deixado distante de nossa dimensão espiritual.Isso explica o fracasso e o esfacelamento da família, da escola, das igrejas de maneira geral, da medicina, da justiça, enfim, de todas as

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nossas instituições.Estamos deixando de ver o homem e a mulher - inclusive a nós mesmos - como seres espirituais; há falta de tempo para orientarmos nossos filhos sobre os valores morais, éticos, sobre as virtudes e mesmo para lhes dar amor.

Afinal, é mais importante trabalhar muito para ganhar muito dinheiro para dar a nossos filhos um ipod, ou o último modelo do tênis Nike.As igrejas têm se voltado mais para os temas mundanos e para o sucesso financeiro do que para a cura espiritual.As escolas têm transformado as crianças em grandes competidores, prontos para passarem em vestibulares.A medicina tem se esquecido de que muitas doenças físicas possuem um fundo emocional e a justiça se esquece de que as partes possuem sentimentos, emoções.Alcoólicos Anônimos surge, então, como uma possibilidade de fazer esse resgate do lado espiritual, tão negado pela ciência e pela filosofia e, conseqüentemente, pelos profissionais de modo geral, o que explica, por fim, a crise da sociedade contemporânea e de nossas instituições mais caras.Quanto à Justiça, especificamente, deposita-se na lei a confiança dogmática de que sua aplicação dará respostas prontas e acabadas para todos os problemas; infelizmente, nem sempre é assim...Muitas vezes uma decisão judicial necessita de um acompanhamento posterior para se fazer efetiva.Este é o caso, por exemplo, das pessoas envolvidas com alcoolismo. Elas estão sofrendo, assim como seus familiares.Enquanto a Justiça prende, oprime e pune, Alcoólicos Anônimos, ao resgatar a dimensão espiritual, significa a própria emancipação, a libertação do sofrimento, a solução adequada e eficaz para o problema e a possibilidade de se evitar a reincidência, prevenindo-se novos delitos.A parceria com Alcoólicos Anônimos me é muito cara.Sinto que posso fazer algo mais pelas pessoas que necessitam, apontando lhes o caminho correto.

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A Revista Vivência é de grande importância para a veiculação do trabalho feito por Alcoólicos Anônimos e, assim como toda a literatura de A.A. tem sido bastante esclarecedora para mim, na qualidade de Amiga de A.A., para poder divulgar e indicar o trabalho da Irmandade.A Oração da Serenidade faz parte do meu dia-a-dia. O Terceiro Legado me faz lembrar que também a Justiça somente atinge seu verdadeiro objetivo quando serve, com presteza e efetividade, aqueles que a buscam.

A consciência de grupo é um conceito fundamental!

A Consciência de Grupo é um dos princípios que diferencia nossa Irmandade de outros movimentos

É provável que a maioria de nós membros, ainda divaguemos sobre “Consciência de Grupo” de Alcoólicos Anônimos, sobre o que isso realmente significa para a saúde estrutural e espiritual de nossa Irmandade. “Consciência de Grupo” é um conceito que se tornou parte fundamental para o funcionamento de nossa Irmandade desde seus primeiros dias.

É um conceito que Bill W. tirou sua inspiração de movimentos anteriores à Alcoólicos Anônimos, entre eles: os Grupos Oxford, isto é, o hábito de depender da “Consciência de Grupo”. Sua primeira aplicação prática na Irmandade aconteceu em 1937, antes que o movimento completasse o seu terceiro ano de existência, e antes mesmo que ele ganhasse seu nome definitivo, Bill W. fez questão de deixar registrado na Segunda Tradição de Alcoólicos Anônimos, a história da profunda negativa que o primeiro Grupo de Nova Iorque lhe deu; ao saber da tentadora proposta que Charlie B. o dono do Towns Hospital lhe fez; para que ele, Bill, fosse trabalhar como ‘terapeuta leigo’ em seu hospital ganhando muito dinheiro. E apesar do aperto financeiro pelo qual Bill estava passando, o Grupo fez objeção a que seu cofundador os abandonasse para tornar-se um membro profissional. Bill não aceitou o trabalho, submetendo-se ao posicionamento tomado pela pequena, mas decisiva consciência coletiva presente naquela reunião.

É certo imaginar que muitos dos que vão ler esse trabalho já conhecem bem essa história. Mas também é correto pensar

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que muitos só ouviram falar, e que outros nem sequer ouviram. Assim sendo, eu penso ser prudente compartilhar com os leitores membros, ou não; pequenos trechos do próprio Bill W. narrando sobre essa primeira decisão tomada a partir do questionamento “de um dos membros do Grupo.” Os trechos que vou transcrever, estão nas páginas 91/92 do livro Alcoólicos Anônimos Atinge a Maioridade, a décima quarta impressão de 1989, num comentário feito por Bill W. sobre a Segunda Tradição, e que juntos eles dizem exatamente assim: “Charlie foi até sua escrivaninha e voltou com um antigo balanço financeiro. Entregando-o a mim, continuou dizendo: “Isto mostra os lucros desse hospital no princípio de 1930. Milhares de dólares por mês. O mesmo deveria estar acontecendo agora, mas não está. Estaria se você viesse ajudar. Porque você não transfere o seu trabalho para cá? Eu lhe daria um escritório, uma boa conta corrente e uma grande parte dos lucros. O que lhe proponho é perfeitamente válido do ponto de vista da ética. “Você pode se tornar terapeuta leigo e terá maior sucesso do que qualquer outro.” Ele me convenceu. Senti certo remorso, mas finalmente percebi que a proposta do Charlie era válida do ponto de vista da ética.Pedi ao Charlie um prazo para pensar, entretanto, já tinha resolvido o que fazer. Voltando de metrô para o Brooklin, senti algo que me pareceu uma orientação divina. Foi apenas uma simples frase, mas muito convincente. Na realidade, ela veio diretamente da Bíblia. Uma voz ficava me dizendo: “o trabalhador é digno de seu salário.” Ao chegar em casa, encontrei a Lois cozinhando como de costume, enquanto três bêbados esfomeados que estavam morado na nossa casa, a contemplavam da porta da cozinha. Eu a chamei de lado e lhe dei a grande notícia.Pareceu interessada, mas não se entusiasmou tanto como eu esperava. Nessa noite, havia reunião. E apesar de poucos alcoólicos, daqueles que hospedávamos parecerem estar sóbrios, outros estavam. E com suas esposas, eles encheram nossa sala de estar no andar de baixo.

Imediatamente lhes contei a história de minha oportunidade. Nunca esquecerei suas fisionomias impassíveis e olhares fixados em mim. Com pouco entusiasmo, contei minha história até o fim. Houve um longo silêncio. E quase timidamente, um de meus amigos começou a falar: “Sabemos  de suas dificuldades financeiras, Bill. Isso nos preocupa muito. Constantemente temos nos perguntado o que poderíamos fazer a esse respeito, mas acho que falo por todos os presentes quando digo que o que você nos propôs nos preocupa muito mais.” A voz do orador foi ficando mais firme. “Não percebe –  ele continuou – que você jamais poderá tornar-se um profissional? Por mais generoso que Charlie tenha sido conosco, você não percebe que não podemos ligar esse tipo de coisa com o hospital dele ou com

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outro qualquer? Você nos disse que a proposta do Charlie é válida do ponto de vista da ética. Certamente que é, mas o que temos não funcionará apenas com o fundamento da ética; tem que ser mais que isso. Certamente que a ideia do Charlie é muito boa, mas não é boa o suficiente. Trata-se de uma questão de vida e morte, Bill, e nada a não ser o melhor servirá.” “Bill, você não tem muitas vezes falado aqui mesmo em nossas reuniões, que o bom é às vezes inimigo do melhor? Pois bem, esse é um caso igual. Você não pode fazer isso conosco.” Assim falou a “Consciência do Grupo.” O grupo tinha razão e eu estava errado;  a voz que ouvi no metrô não era a voz de Deus. Aqui estava a verdadeira voz, jorrando de meus amigos. “Eu ouvi e – graças a Deus obedeci.” Bill W.E foi assim; que o conceito “Consciência de Grupo de A.A.” ficou definido formalmente em nossa Irmandade após a publicação em 1946, da Segunda Tradição de Alcoólicos Anônimos. A Tradição que declara: “Somente uma autoridade preside, em última análise, ao nosso propósito comum – um Deus amantíssimo que se manifesta em nossa consciência coletiva”.

“Nossos líderes são apenas servidores de confiança; não tem poderes para governar.” Embora ainda não seja muito bem compreendida entre nós, a “Consciência de Grupo” como é expressa na Segunda Tradição, é um “conceito básico e poderoso” que possibilita que pessoas com procedência e temperamentos diferentes, possam ir além de suas ambições pessoais e unir-se num objetivo comum.

Uma Consciência bem informada, é aquela cujo os componentes (membros) conheçam e pratiquem os princípios e obedeçam as normas do procedimento sugeridos para os Alcoólicos Anônimos. É necessário também, que todas as informações necessárias sobre o assunto a ser votado, tenham sido discutidas e que todos os pontos de vista sejam expostos antes do Grupo votar. Agindo assim; nós estaremos cumprindo fielmente o que é sugerido na “Garantia Quatro do Artigo 12”. Que todas as nossas decisões importantes sejam tomadas através da discussão, votação e sempre que possível, por substancial unanimidade.

Este princípio espiritual que torna possível para nós, definir formalmente “a vontade de Deus como nós o concebemos, e ele é também; um dos princípios que diferencia nossa Irmandade de outros movimentos”.

Do meu ponto de vista, qualquer assunto que diz respeito aos Grupos e à Alcoólicos Anônimos como um todo, satisfaz plenamente os requisitos para que seja consultada a “Consciência do Grupo”. Precisamos ficar atentos; se realmente estamos consultando uma autêntica “Consciência

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do Grupo A.A.”, por exemplo, verificar se todos que irão votar são membros e são frequentes no Grupo.

Para ser uma autêntica “Consciência do Grupo” uma decisão deve satisfazer dois critérios: Primeiro – A decisão só deve ser tomada, depois que todos os membros tenham completo conhecimento do assunto; e depois de terem efetuado uma exaustiva discussão sobre o mesmo, ter ouvido as minorias com muita atenção; considerar o assunto enfocando sempre os princípios de A.A. “Segundo – A decisão deve ser com requisito de unanimidade substancial – que a Conferência de Serviços Gerais define como uma maioria de dois terços, mas na prática, é sempre maior.” Nesta altura, é provável que surjam algumas indagações. Por exemplo: Quanto tempo se deve tomar para anunciar a questão a ser discutida nas reuniões, antes que se atue sobre ela? E quantos membros devem estar presentes para que se comece a discutir a questão proposta? As experiências compartilhadas por alguns Grupos mostram que é uma boa ideia “notificar” com bastante antecedência todos os membros que possam tomar parte da reunião; normalmente, duas semanas seriam suficientes, porém, pode não ser sempre possível reunir tantos membros. De acordo com suas experiências, “cada Grupo de A.A estabelece suas próprias regras referentes à proporção necessária de votos, mas sempre com o objetivo de alcançar uma “Unanimidade Substancial.” Está escrito na “Quarta Garantia do Artigo 12” da Ata de Constituição da Conferência: “Quando uma decisão que foi tomada com uma unanimidade substancial tem um resultado equivocado, não pode haver recriminações acaloradas”. Todos podem dizer: “Bem, debatemos a questão, tomamos a decisão que resultou não ser uma boa decisão”. – Que tenhamos mais sorte na próxima vez.” Doze Conceitos para Serviços Mundiais pag. 113. “O que nós, os membros da Irmandade, não devemos nunca, é fechar a nossa mente, para não dar a devida importância à formação do conceito “Consciência do Grupo.” Pois conforme o que está escrito; este é “Um conceito fundamental” para a Unidade e sobrevivência de A.A., sem Unidade, e sem a “Consciência do Grupo” Alcoólicos Anônima não pode sobreviver.” E nem nós. – Pense nisso!

A Espiritualidade das Tradições no Programa de A.A.

“Mesmo estando sóbrios há alguns anos, continuamos tendo boa disposição para colaborar nos Serviços de A.A.?”

Depois de conhecer a mensagem de AA, torna-se responsabilidade de cada um dos membros, entender que o grupo tem de sobreviver para

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que o doente em recuperação que lá se encontra não venha a perecer. E que assim possa proporcionar aos que ainda chegarão um dia, uma mensagem viva, fortalecedora, renovadora, cheia de amor e de gratidão!

AA é um programa espiritual e de vida! De uma nova vida! Não basta “botar a rolha na garrafa”. Requer dos seus membros o estudo e a prática dos princípios espirituais, para que continue havendo um verdadeiro compartilhar e Unidade! 

Na Reflexão Diária do dia 20 de março -  AMOR E TOLERÂNCIA – diz: “Nosso código é o amor e a tolerância pelos outros” -  “Alcoólicos Anônimos, pág. 104”. Em seguida, comenta a leitura: “Descobri que preciso perdoar aos outros em todas as situações, a fim de manter um verdadeiro progresso espiritual. A importância vital do perdão pode não ter sido óbvia para mim à primeira vista, mas meus estudos me diziam que todo grande professor espiritual tinha insistido fortemente nisso. Devo perdoar as injúrias, não apenas por palavras, ou como formalidade, mas dentro do meu coração. Não faço isto por amor às outras pessoas, mas para o meu próprio bem. Ressentimento, raiva ou desejo de ver alguém punido, são coisas que apodrecem minha alma. Tais coisas me prendem a mais dificuldades. Elas me amarram a outros problemas que não têm nada a ver com meu problema original”.

A maioria de nós tem aprendido que a recuperação do alcoolismo não é uma dádiva para ser agarrada egoisticamente para si. Significa também responsabilidade por servir a outros, tanto dentro como fora de AA.

Através de nossas Doze Tradições, temos nos colocado contra quase todas as tendências do mundo lá fora. Temos negado a nós mesmos o governo pessoal, o profissionalismo e o direito de dizer quais deverão ser nossos membros. Abandonamos o fanatismo, a reforma e o paternalismo. Recusamos o dinheiro de caridade e decidimos viver à nossa própria custa. Procuramos cooperar com praticamente todos, mas não permitimos por filiação, que nossa Irmandade seja unida a nenhuma. Não entramos em controvérsia pública e não discutimos

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mesmo entre nós, assuntos que dividem a sociedade: religião e política. Temos um único propósito, que é o de levar a mensagem de AA para o doente alcoólico que deseja. E assim, para o nosso bem como Irmandade, deve continuar.

“Tomamos essas atitudes, não porque pretendemos ter virtudes especiais ou sabedoria; fazemos essas coisas porque a dura experiência tem ensinado que precisamos, se o AA quiser sobreviver num mundo conturbado como é o de hoje!”

Graças ao Poder Superior, cada vez mais, os grupos de AA estão compreendendo que eles são entidades espirituais, e não pontos de organizações de negócios ou criados para outras finalidades, senão única, a de levar a mensagem ao alcoólico que ainda sofre.

O passar dos anos nos tem trazido belíssimos princípios desta Sabedoria. Um dos mais preciosos reside exatamente na auto sustentação que a Irmandade deve ter por seus próprios membros. Outro é a Prudência. Auto suficiência e prudência juntas, mostram-nos que tudo podemos.

Ao longo de nossa vivência dentro de AA, verificamos que são inúmeras as dádivas que recebemos depois de sóbrios: um verdadeiro lar, o resgate de um nome, uma família, o recomeço de uma vida saudável e feliz! E, acima de tudo os bens espirituais que se traduzem no reencontro consigo mesmo! no amor por si, para consigo e para com os outros. Diante disto, que maneira mais original para uma retribuição? Muitos ainda desconhecem, mas é através do verdadeiro entendimento da auto suficiência que tanto necessita a Irmandade, somada a Prestação de Serviços.

É muita vaidade e mesmo egoísmo, chegarmos no nosso grupo base, apenas para ouvir os depoimentos, dar alguns “desabafos”, ir embora muitas vezes antes do término da reunião ou então não participarmos dos problemas e das necessidades do Grupo!

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É muito estranho, o grupo não ter literaturas para o ingressante. Não estar com a sua sala bem organizada e limpa. Não ter o seu Comitê de Serviços ou o Comitê Orientador. Não ter a sua autonomia bem alicerçada, por falta de Servidores de Confiança!

É difícil de se entender, a existência de um Órgão de Serviço, criado pelos Grupos para lhes servir e para fazer pelos grupos aquilo que os mesmos não podem, visto a sua primordial destinação   e, logo em seguida, este Escritório de Serviços não poder executar suas ações pela falta de contribuições destes grupos que o criou e que está naquele local lhes servindo direta ou indiretamente, quase todos os dias.

Muitas vezes, quando são feitas referências ao AA e aos Serviços de AA numa Comunidade, tanto por membros AAs como por pessoas não AAs, o fato deveria contagiar a todos de orgulho e felicidade.  Porém,  também invariavelmente, se percebe que muitos poucos membros se interessam como aquilo foi feito ou o que se gastou para se fazer ou porque foi feito!

"Deus se interessa por nós, seres humano, quando realmente O buscamos”.

O ser humano tende a buscar felicidade de acordo com suas próprias fórmulas, transformando a vida em busca desenfreada de sucesso, prazeres e fugindo dos seus medos.

Ao longo desse processo, sofre e faz sofrer. Libertar-se desse ciclo escravizante significa tornar-se mais livre e mais feliz.

Deus nos faz mais fortes com cada vitória. É mais ou menos como uma vacina: Ele nos dá pequenas doses para não pegarmos a doença e de uma forma constante e gradual, aumentar nossa resistência. Às vezes somos postos à prova, quando desafiamos os nossos Princípios...

Ocasiões para refletir se tornam necessárias. É aí onde nós encontramos as luzes dos  princípios que norteiam nossas vidas dentro e fora de AA. Isto deveria ser entendido como fatores de grande importância, principalmente se levarmos à sério e com bastante fé!

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Fé é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.

A fé  se relaciona com os verbos acreditar, confiar ou apostar. Ter fé é nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo amor, pelo que acredita, confia e aposta. A fé  não é baseada em evidências físicas, reconhecidas pela comunidade científica. É um sentimento nutrido em relação a uma pessoa, um objeto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião, uma crença popular e até um conjunto de regras, princípios ou tradições.

A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais e a motivos nobres ou estritamente pessoais. Pode estar direcionada a alguma razão específica ou mesmo existir sem razão definida.

A fé emotiva é aquela que vem de imediato.  Acontece ali,  na hora, levada pela emoção. Já a fé racional age com a razão, levando o indivíduo a ter esperança. E com esperança se adquire Amor e com amor você demonstra gratidão e com gratidão se pratica a doação!

Para se exercitar a espiritualidade das Tradições é preciso ter estas noções que abordaram sobre a fé. Se não for assim, você não aceita e até poderá criticá-la ou mesmo desprezá-la!

É oportuno mencionar o que disse Santa Terezinha de Jesus:  “Onde tem Amor, pondes amor e encontrarás mais Amor”, para agradecermos ao Poder Superior, Deus como O concebemos, pelas dádivas que todos nós temos recebido. E se isto foi e é possível é graças ao nosso respeito a espiritualidade de nossos princípios.

A espiritualidade das Tradições é real e precisa. É igual a espiritualidade dos Doze Passos. É igual a espiritualidade dos Doze Conceitos para os Serviços Mundiais. Resta-nos descobri-la a cada dia, exercitá-la e

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respeitá-la incondicionalmente, tanto por nós quanto pelo nosso próximo, mesmo que não esteja tão próximo!

Que o Poder Superior nos Abençoe!!!

CAMPOS S./Brasília-DF

A História de A.A. em São Paulo

Na década de 50 (temos gravações no ESG) Harold esteve em São Paulo com outras pessoas que lançaram a semente do movimento e voltaram para o Rio de Janeiro; os que aqui ficaram tentaram esse “aparente” A.A. em São Paulo, pois achavam que esse direcionamento de Passos... não ter ninguém que manda... de não aceitar dinheiro de fora etc... não ia dar certo, e, dando outro enfoque às propostas, sem aceitar o programa de Alcoólicos Anônimos, transformaram este início na Associação Anti-Alcoólica. Donald nasceu nos Estados Unidos e veio para o Brasil. Alcoólatra, em 1965, passando muito mal, foi internado no Hospital Samaritano, onde foi abordado por um Padre americano que lhe falou sobre A.A. e lhe deu o “Livro Grande”. Depois de lê-lo, aceitou conversar com uma AA, Dorothy, que tinha uma agência de empregos no Rio de Janeiro e filial em São Paulo onde vinha uma vez por semana. Depois desta conversa, Donald, já abstêmio, comprou a ideia de iniciar com Dorothy um Grupo em São Paulo.

A primeira tentativa de abrir um Grupo foi no Largo do Arouche, mas não deu certo. Continuaram os contatos, até que conheceram Madre Cristina, não alcoólica, da Faculdade SED Sapiens, que conseguiu uma sala na parte de trás da entidade, que dava para a Rua Caio Prado, 120, uma travessa da rua da Consolação (atualmente um Departamento da PUC), e era necessário começar o movimento. Dr. João, um médico que freqüentava a Associação Anti-Alcoólica, mencionou ter uma pessoa lá, chamada Melo, que não aceitava as colocações da AAA e já tinha uma noção do que era Alcoólicos Anônimos. O doutor fez o contato entre os dois, que conversaram, juntamente com Dorothy, e iniciaram no dia 9 de abril de 1965 (data oficial), o GRUPO SAPIENS.

No começo, ingressaram alguns companheiros, como: Fernando P., Stephenson e outros que vieram da Anti-Alcoólica, como Valdomiro e o Barbosa, que sabendo da existência de um Grupo de A.A. passaram a freqüentar o Grupo. Entre 1965 e 1969, as reuniões de terça e sábado eram abertas e só de depoimentos – a proposta era “falar”.

Havia praticamente dois encargos, o Coordenador do dia e um Tesoureiro. Não existiam livros, a não ser trechos traduzidos e mimeografados. Depois vieram os Livros Brancos, traduzidos no Brasil e impressos na A.A. Word Service que os enviava de volta. Por iniciativa de uma freira da Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, em 27 de maio de 1967, foi formado o Grupo Irmã Odila, posteriormente, Grupo São José, que deu início às atividades de Alcoólicos Anônimos na região do Vale Paraíba. Entre 67 e 68, Lafayete M. e Orlando C. ingressam no Sapiens e, em 7 de junho de 1968,

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realizam a primeira reunião da Baixada Santista, na rua Conselheiro Nébias, na Sociedade Espírita “Anjo da Guarda” que depois mudou-se para São Vicente com o nome de Grupo Conselheiro.

Em 1968, a Assistente Social do Centro de Obras Sociais de Piracicaba procurou o Grupo Sapiens, onde foi recebida por Donald e Melinho, com a finalidade de realização de Palestras Informativas. Isso se deu em setembro. Em 26 de outubro, formou-se o Grupo Piracicaba com o ingresso do primeiro companheiro. Em 69, começaram a acontecer coisas na História de A.A. No Brasil, Donald consegue a autorização de A.A. Word Service para a publicação do Livro Azul – Alcoólicos Anônimos – em português.

Como não tínhamos dinheiro, A.A. dos EUA nos emprestou uma importância para a primeira edição e, para fazer essa impressão foi criado o CLAAB, cuja primeira diretoria era composta por Donald, Nascimento, Melinho e Fernando P., e instalado na Sampaio Vidal, apartamento do Donald. Em 1970, mais ou menos em outubro, alguns companheiros: Donald, Eloy, Cel. César, Melinho, Nascimento e Zelina acharam que nas reuniões abertas deveriam ser escolhidos companheiros para falar sobre a Recuperação e o Programa de A.A., pois vinham muitas pessoas de fora. Por essa iniciativa, esses companheiros foram praticamente banidos do Grupo Sapiens.

Em 69, havia começado um Grupo chamado Belém – conhecido durante algum tempo como Grupo Carvalho – na rua Cajuru e que, por coincidência, quem havia conseguido uma sala tinha sido outra freira (Irmã Carrijo) –sala no porão. Ela, o companheiro Carvalho e João Belém abriram o Grupo que logo teve um ingressante – o Edson Baixo. Com todo o problema da Caio Prado, os companheiros foram todos para o Grupo Belém, que tinha uma reunião por semana e passou a funcionar diariamente. Em 70, o comp° Brasil abril o Grupo Permanente de Osasco na paróquia Cristo Operário e o Donald, aos domingos, conseguiu a parte de trás da igreja do Perpétuo Socorro, na Sampaio Vidal, para fazer palestras informativas, gerando o Grupo Jardim Paulistano, hoje Grupo Jardins. Por esses anos havia também o Grupo São Paulo, do qual não possuímos nenhum histórico.

A partir do Grupo Belém foram se formando outros Grupos tais como: Vila Rica, Jerusalém, Gomes Cardim, e outros na Zona Sul: Bibi (hoje Tabapuã) e Vila Nova Conceição. O companheiro Jepherson saiu do Belém e abriu, na rua do Orfanato, o Grupo Vila Prudente, de onde se originaram outros Grupos. Em 23 de novembro de 1969, iniciam-se as atividades do grupo de Graça e, em 1970, o Hei de Vencer de Mogi das Cruzes.

No ano de 71, o companheiro André D. sentiu a necessidade de formar um grupo em Campinas e, através de Donald, encontra-se com o comp° Otávio. Trocam experiências e arrumam uma sala, onde, em 28 de maio de 1974, é aberto o Grupo Albatroz.

Dois médicos psiquiatras franciscanos, Dr. Elesbão Barbosa de Paula e Dr. Rubens Jacinto Conrado, interessaram-se pelo movimento de A.A. que havia em Casa Branca e, através deles, pacientes tornaram-se sóbrios e formaram,

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em 17 de julho de 1975, o Grupo Francano.

Em agosto de 1973, Jepherson abre um Escritório Central Paulista para prestar serviço aos Grupos dentro do espírito de uma Intergrupal, que funcionava na Casper Líbero. Em 1974, já com diversos Grupos, fazem um Estatuto, legitimando definitivamente o que seria a futura Central de Serviços de Alcoólicos Anônimos do Estado de São Paulo. Na seqüência cronológica seguiram as seguintes Intergrupais de Serviços: 1975 – Campinas; 1978 – Baixada Santista; 1988 – Piracicaba; 1991 – Vale do Paraíba e Litoral Norte (Taubaté); 1994 – Franca e 1995 – Centro Oeste – Paulista (Jaú).

A História de A.A. em Minas Gerais

“Parece que foi ontem... mas, lá se vão 50 anos! Como acontece ainda hoje, com todos os que se encontram nessa fase, um cidadão residente em Juiz de Fora, cidade da região da Zona da Mata de Minas Gerais, que vamos mencionar aqui como S., vivia os seus dias de verdadeiro martírio, mergulhando em copos e copos de bebida e desespero. Uma pequena nota no jornal chamou-lhe a atenção: “Se você quer beber, o problema é seu; se você quer parar de beber, o problema é nosso”. E a seguir, o número de uma caixa postal. Relutante, entre a desilusão e a esperança, S. escreve pedindo ajuda. Algum tempo depois, a resposta, com os mínimos detalhes para um possível primeiro encontro com homens e mulheres que trocavam experiências, forças e esperanças, por uma vida melhor, sem a bebida alcoólica. O calendário registrava o ano de 1959 e S., depois de se ingressar no Grupo Central do Brasil, no Rio de Janeiro, inicia uma série de viagens semanais, pela antiga Estrada União e Indústria, que separava a cidade maravilhosa, por mais de cinco longas horas da cidade de Juiz de Fora, conhecida por sua potência industrial, por Manchester Mineira. O sacrifício era o preço; a sobriedade em minúsculas doses, o retorno tão esperado. Dois anos de idas e vindas, durante este tempo S. descobre que ‘nada melhor para manter-se sóbrio que o trabalho intensivo com outros alcoólatras’ e assim, em 11 de junho de 1961, com o apoio do companheiro Glicério, um Juiz de Fora , residente no Rio de Janeiro, inicia as atividades do Grupo Juiz de Fora de A.A.” Em seguida, houve a formação de outros grupos em Juiz de Fora e na região da Zona da Mata de Minas Gerais.

A.A. chega a nossa capital querida, Belo Horizonte.

No início do ano de 1960, o companheiro que idealizou a formação do primeiro grupo de A.A. em Belo Horizonte conseguiu um local pequeno e simples na Avenida Santos Dummont, 330 – Centro, para trabalhar com consertos de calçados. Nesta mesma avenida junto com dois amigos, Bichico e Pedro, parte da tarde desse dia, chovia torrencialmente. Entre um gole e outro, embriagado, o companheiro Ilídio de Oliveira disse: - Vamos descobrir um nome para a oficina. E cada um dava sua sugestão. Quando de repente parou de chover,

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aparecendo um sol radiante, seu amigo Pedro, exclamou: - Que tarde azul! Ilídio, também embriagado, disse: - Pedro, para ficar na história nossa cachaça, vou colocar o nome de minha sapataria de Tarde Azul. Em seguida, pegou um pedaço de papelão e escreveu: Sapataria Tarde Azul. Mais tarde, a sapataria mudou-se para a Rua Manoel Macedo e posteriormente para a Rua Jundiaí, 33 – Bairro Concórdia. No ano de 1963, Ilídio de Oliveira. em um bar próximo a sua casa, também na Rua Jundiaí, leu no Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, um texto que dizia: “Se o seu caso é beber, o problema é seu; se o seu caso é parar de beber, o problema é nosso”, incluindo o número 5.218 de uma caixa postal para possíveis contatos. Lembrou-se então de seu amigo e companheiro Pedro Batista, que era ingressado em A.A. no Rio de Janeiro e residia em Belo Horizonte. Por incentivo de amigos, escreve então para o grupo de A.A., pedindo socorro. Veio a resposta e uma troca de correspondência por nove meses. Em 19 de abril de 1964 foi ao Rio de Janeiro e fez seu ingresso no Grupo Lapa, Rua Lapa, 807, 8o andar. Um amigo emprestou-lhe dinheiro para a viagem. Regressando com folhetos, o Livro Branco e fichas, com a incumbência de formar um grupo de A.A. em Belo Horizonte. De imediato, recebeu uma carta do Rio, solicitando uma abordagem, que foi feita e aceita pelo companheiro José Vieira. Marcaram então, a 1a reunião para iniciarem o grupo. O início contou com a presença de dois convidados, ou seja, participação de quatro pessoas. Local: Sapataria Tarde Azul, Rua Jundiaí, 33 – Concórdia. Com uma toalha pequena forraram a banca de consertos e fecharam a porta. Ilídio leu a Prece da Serenidade, fizeram o ingresso de dois companheiros e já tendo em mãos pedido de abordagem para Sete Lagoas, o pedido foi providenciado imediatamente. Por sugestão do companheiro José Vieira todos aprovaram para que o grupo recebesse o nome de Tarde Azul, em agradecimento à sapataria onde ocorreu a primeira reunião. Foi providenciada a caixa postal número 1896 e também cartazes com o slogan: “Se seu caso é beber, o problema é seu; se seu caso é parar de beber, o problema é nosso”, e o número da caixa postal 1896. Sendo assim, às 13h30min do dia 01-05-1964, iniciava suas atividades em Belo Horizonte, o Grupo Tarde Azul de Alcoólicos Anônimos. Amigos que ajudaram na divulgação no início do grupo: Jornalista Oswaldo Nobre, Jornal Debate, Pe Ari de Freitas, Dom Serafim, Ivone Borges Botelho (radialista) e Dr. José De Laurentis e muitos outros.A.A. em Minas Gerais e a Estrutura de Serviço: Pequeno histórico do ESL/JF-MG.

O início da década de 70 marcou a chegada de alguns companheiros que viriam a manifestar o interesse em conhecer em maior profundidade a filosofia e o modo de vida de A.A. também se preocupavam em buscar informações sobre a melhor maneira de se implantar a Estrutura do Serviço.O ano de 1974 marca o início das reuniões em São Paulo, durante os dias de carnaval, denominados de Conclave de carnaval, e que iriam evoluir para a formação da Conferência de Serviços Gerais e também das Convenções.

Nessa época, para discutir assuntos relativos aos grupos e às reuniões, o ponto de encontro era um bar, na Rua São João, onde trabalhava um companheiro. Um passava, deixava recado que precisava falar com fulano ou beltrano, e que às “x” horas ali estaria de volta. O Bar do Bolão, então, era o ponto onde eram discutidos os assuntos referentes aos problemas dos grupos de A.A. de Juiz de Fora e das cidades vizinhas (exceção, naturalmente, do Grupo Juiz de Fora); uma

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espécie de escritório intergrupal.Vindo daqui e dali, surgiam várias publicações. Em Espanhol, em Inglês e até traduções livres de companheiros do Rio de Janeiro. Entre estas, uma falava da formação dos Intergrupos, Centrais de Serviços, Escritórios de prestação de serviços aos grupos e atendimento à comunidade (A.A. Guidelines).Sem uma discussão mais profunda, foi alugada a sala 204 da Galeria Constança Valadares, e colocada uma placa com a inscrição “Central de Serviços de A.A. de Juiz de Fora”. Rapidamente, uma folha de papel almaço pautado registrava 53 assinaturas de companheiros que se comprometiam contribuir com a importância de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) para pagar as despesas da sala. Se fosse possível recuperar esse papel, poderiam se comprovar assinaturas de pessoas que só se comprometeram. Nunca pagaram.A partir daí, os companheiros de Juiz de Fora, interessados em dar continuidade ao movimento, partiram para a busca de informações que permitissem a elaboração de um estatuto, para normalizar e efetivar a Central de Serviços.

Estatuto do Escritório Intergrupal de Campos-RJ, da Entidade para Recuperação de Alcoólicos – ERA (movimento iniciado por membros do Grupo Juiz de Fora, com procuração para o vereador por vários mandatos, Olavo Gomes), com a finalidade de construir um hospital para atender portadores de alcoolismo, além de outras entidades, forneceram subsídios para a elaboração do Estatuto da Central de Serviços de Alcoólicos Anônimos da Zona da Mata de Minas, aprovado em Assembléia Geral Extraordinária do dia 04 de maio de 1975, conforme cópia xérox da ata, constante do livro de atas do referido organismo. Mais tarde, por decisão da Conferência de Serviços Gerais, que recomendou que a nomenclatura Central fosse prerrogativa dos escritórios instalados nas capitais, passou a chamar-se Intergrupal de serviços. Atualmente, a razão social, também por decisão da CSG, é Escritório de Serviço Local.Pequeno histórico do ESL/BH-MG.Início de 1976, os companheiros Wilson Machado e Lúcio Pinto convidam companheiros dos grupos existentes na época, para iniciarem a Central de Serviços de Alcoólicos Anônimos de Minas Gerais, para prestar serviços aos grupos como repasse da Literatura oficial, organização de eventos, trabalhar e divulgar os Três Legados de A.A. – Recuperação, Unidade e Serviço.Foram realizadas várias reuniões nas dependências do Grupo Tarde Azul, concluindo que para conseguir o resultado positivo deveríamos então nos reunirmos na Rua Guarani, 431 – Centro, em local cedido pelo Sindicato dos Empregados do Comércio de Belo Horizonte. Todos os grupos participaram com seus representantes e outros interessados, concluindo então que poderíamos dar início ao trabalho, elaborando um anteprojeto do Estatuto, que teve a participação de oito companheiros com experiência, sendo dois advogados, facilitando assim a elaboração no sentido jurídico.

A assembléia de instituição da Central Mineira de Serviços de Alcoólicos Anônimos (CEMISAA), bem como a aprovação do Estatuto, aconteceu em 27 de fevereiro de 1977 e estiveram presentes 22 grupos. Foi registrado no Cartório Jero Oliva em 21/07/1977 e em seguida foi publicado no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais.A primeira diretoria foi eleita em 24/07/1977, com a presença de 33 grupos. Nesta reunião, os grupos decidiram alugar uma sede, sendo esta na Avenida Santos Dumont, 482 – sala 407.

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Como não tínhamos ainda uma contabilidade e não tínhamos C.N.P.J. o contrato foi feito em nome do companheiro Jair Pinto, também tendo como avalistas dois outros companheiros. Em 15 de agosto de 1977, abríamos pela primeira vez a porta de nosso organismo de serviço, que inicialmente foi conhecido por CEMISAA, mais tarde, atendendo a estrutura nacional, teve os nomes de AAESMG, CENSAA-MG e, por último, ESL/BH-MG, sendo que as principais cidades do Estado foram contempladas com um E.S.L., que realiza o trabalho de cada região. Até o ano de 1983, os escritórios existentes na capital e no interior, estes com o nome Intergrupal , realizaram o trabalho legal e o tradicional. Suas reuniões em assembléia e eram compostas pelo Conselho Intergrupal, com um R.I. de cada grupo. Em 29.05.1983, a CEMISAA fez a convocação para uma assembléia dos R.Is., a ser realizada no auditório do IMACO, com o apadrinhamento do companheiro Mota, delegado de São Paulo, fizeram a explanação para a formação da Área de Minas Gerais, e em clima de muita alegria naquela data deu o início a formação dos Distritos por todo o Estado, que passariam então a trabalhar o tradicional e a CEMISAA e intergrupais continuariam com a parte legal na sede da CEMISAA; em outra sala funcionava um grupo com o nome de Triagem, que pouco tempo depois encerrou suas atividades e esta sala ficou com o Comitê de Área.

Possuíamos nestas dependências, uma oficina que gravava fichas com dois funcionários e mais um terceiro que atendia ao balcão do escritório. Este comércio, na época, era a fonte de renda que proporcionou equipar todo escritório, com secretária eletrônica, duas máquinas Xerox, dois telefones (cujos preços naquela época eram caríssimos), realização de viagens de servidores ao interior para formarem os Distritos, enfim, não era o melhor para a irmandade usar o recurso comercial para realizar o início do trabalho, pois os grupos eram poucos e os recursos não chegavam. Mas, com a chegada do tradicional, os Distritos, R.S.Gs. e outros, foram trabalhando unificados e com a sua manutenção pela Sétima Tradição e o repasse da Literatura. Nossa participação na estrutura nacional, desde 1976, tem sido considerável, sempre com os delegados presentes, participação de seis Custódios alcoólicos e um não-alcoólico, um presidente do C.L.A.A.B., um Administrador do E.S.G., membros dos vários Comitês da Junta, um Delegado à Reunião Mundial de Serviço.

Encontros Estaduais

Em virtude da realização de um encontro informal entre companheiros de São Gonçalo-RJ e de Juiz de Fora-MG, em 1977, nas dependências do Colégio Academia de Comércio/Colégio Cristo Redentor, começou a ser alimentada a idéia da realização de um evento similar, mas que congregasse membros de A.A. de toda nossa região.Nas dependências da então Central de Serviços de A.A. da Zona da Mata de Minas, casualmente se encontravam os companheiros Pedro Paiva, Nelson, Adauto, Godinho e Fábio. Numa conversa informal, cogitou-se da possibilidade da realização de um Encontro Regional, entre os Grupos de A.A. da Zona da Mata de Minas. Primeiro, foi pensada a realização em Cataguases. Em face de uma melhor estrutura em Leopoldina, o consenso migrou a realização para esta.

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Também, por sugestão do Adauto, por que ficar no “regional” se podíamos partir para o “estadual”?Representantes dos grupos Cataguases e Progresso, e também AAs de Juiz de Fora, estiveram em Belo Horizonte, na Central Mineira de Serviços de A.A. – CEMISAA – de onde receberam integral apoio para a realização do que viria a ser o primeiro Encontro de A. A. do Estado de Minas Gerais, nos dias 27 e 28 de outubro de 1978, ns Escola Estadual Professor Botelho Reis.Durante o Encontro foi observado na platéia, um simpático jovem senhor, gravador em punho, em busca de informações sobre o funcionamento de A.A. Ao perceberem, e descobrirem que se tratava de um médico do Sul de Minas, os companheiros da coordenação logo o “intimaram” a falar na reunião. Meio tímido e sem saber exatamente o que dizer, pois estava ali apenas para conhecer o nosso movimento, o médico fez sua explanação de tal forma que chamou a atenção dos presentes.Daí pra frente, foram muitas visitas à cidade de Baependi-MG, levando sempre as informações mais recentes para aquele que viria a ser, depois de devidamente apadrinhado pelos companheiros de Juiz de Fora e região, o primeiro presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil: Dr.José Nicoliello Viotti.

Os primeiros encontros estaduais foram:1o. – Leopoldina (1a. participação do Dr. Viotti)2o. – Divinópolis3o. – Governador Valadares4o. – Sete Lagoas5o. – Caxambu (participação do Dr. Nelson Senise, autor do livro “Pare de Beber”; do Dr. José De Laurentis, presidente da Associação Médica de Minas Gerais).

Eventos importantes, área de Minas Gerais

-Com a nomenclatura de Grupos Tarde Azul, o grupo promoveu e coordenou a realização em Belo Horizonte-MG da II Conferência de Serviços Gerais e o V Conclave Nacional, na Semana Santa de 1978. Esteve presente o Dr. Jack Norris, Presidente da Junta de Serviços Gerais de A.A. do EUA/Canadá.A Conferência foi realizada no Hotel Brasil Palace (onde os Delegados se hospedaram) e o V Conclave nas dependências da Secretaria de Saúde.- todos os Encontros Estaduais;- I Seminário de A.A.da Região Sudeste, em Juiz de Fora, em 9 e 10 de outubro de 1988, com uma Reunião de Informação ao Público, no Cine Theatro Central, para uma platéia de 1.800 pessoas; - 40 anos de A.A. Minas Gerais, em Juiz de Fora, em 7, 8 e 9 de setembro de 2001;- Ciclos de Passos, de Tradições e de Conceitos;- Conferências simuladas;- Painéis de C.T.O.;- Seminários diversos;- Intergrupos;

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- Intersetoriais- 1º. Encontro dos Servidores da Estrutura de A.A. no Brasil, em 19, 20 e 21 de abril de 2008, em Baependi, entre outros.1982 – Com a participação dos companheiros de Juiz de Fora , houve a formação do primeiro Comitê de Distrito de Minas Gerais, em Cataguases. O Comitê de Área ainda não havia sido instituído em Minas Gerais. Na data da oficialização estiveram presentes representantes da Estrutura Nacional, inclusive o presidente do CLAAB, companheiro Walker, de Belo Horizonte.

Algumas reuniões Históricas

Reunião de reconhecimento ao trabalho de Alcoólicos Anônimos, em duas ocasiões:1ª. – Assembléia Legislativa de Minas Gerais, representados pelo Custódio não-alcoólico, General Olympio;2ª. – Assembléia Legislativa de Minas Gerais, representados pelo Custódio não-alcoólico, Pastor Joaquim Luglio.Instituição Destaque na cidade de São João Del Rei, representados pelo Custódio não-alcoólico, General Olympio.Troféu Personalidade Anônima do Ano, em 1985, em Juiz de Fora, oferecido pelo Jornal Tribuna de Minas, também representados pelo General Olympio.

Assembléias do C.R.I. (R.I.)14-07-1985. Local: Sindicato dos Bancários. Destituição da Diretoria da Central de Serviços.Observação: Todos os companheiros de ilibada reputação, porém o trabalho não estava atendendo aos anseios dos Grupos, principalmente pela ausência do Presidente por longo período. Assumiu, interinamente, o companheiro Fulgêncio, Delegado de Área.Em dezembro desse mesmo ano foi realizada nova eleição, no auditório do Sindicato dos Bancários. A Diretoria eleita trabalhou durante o ano de 1986 e no segundo semestre de 1987 houve a renúncia de toda a Diretoria, em Assembléia do C.R.I.1995 – Assembléia do C.R.I. no auditório do IMACO. Decisão em que a CENSAA deveria ser mantida apenas com as contribuições através da Sétima Tradição, encerrando as gravações de fichas e as vendas de outros produtos.Assembléia de Área no segundo semestre de 1984, no auditório do Sindicato dos Bancários: Toda a Junta de Custódios convocada para dar explicações sobre um sorteio ou rifa – procedimento fora dos nossos princípios, mas cuja intenção era salvar da falência o E.S.G. Muito debate, calorosa discussão e desentendimento entre servidores e Custódios alcoólicos, diante dos Custódios não-alcoólicos, que não sabiam como proceder diante da situação.

Por fim, decidiu-se pela continuidade da rifa em nível nacional, porém com o repúdio e contestação da Área de Minas Gerais.Delegados da Área de Minas GeraisDelegados Período Delegados PeríodoLúcio Pinto – BH 1976 Adauto – JF 1976/1977Pedro Batista – BH 1977/1978 Godinho – JF 1078/1979

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Lúcio – BH 1979/1980 Adauto – JF 1980/1981Walker – BH 1981/1982 Lindolpho – JF 1982/1983Alvarenga – BH 1983/1984 W. Expeditus – JF 1984/1985Fulgêncio – BH 1985/1986 Carlos Alberto – JF 1986/1987Maciel – BH 1987/1988 José Pinto – JF 1988/1989Tarcísio – BH 1989/1990 Airton Borges – BH 1990/1991Alencar – BH 1991 Hermógenes – BH 1991/1992Jane – JF 1992/1993 Maria José – BH 1993Moacir – BH 1993/1994 Liu – BH 1994/1995Fábio – JF 1995/1996 Tadeu – BH 1996/1997Ferreira – Cel. Fabriciano 1997/1998 João de Deus – BH 1998/1999Cláudio – Ouro Preto 1999/2000 Lindolpho – JF 2000/2001Hermógenes – BH 2001/2002 Antônio Eustaquio – BH 2002/2003Silvério – BH 2003/2004 Figueiredo – Cataguases 2004/2005Eustáquio – BH 2005/2006 Mário – BH 2006/2007Silvestre – João Monlevade 2007/2008 Hugo – BH 2008/2009

Custódios Regionais – Região Sudeste – Área de Minas GeraisCustódios PeríodoAdauto – JF 1984/1986Lúcio – BH 1984/1986Fulgêncio – BH 1987/1989Fábio – JF 1988/1991Airton Borges – BH 1994/1996Cláudio – Ouro Preto atual

Outros1989 – Mudança da CENSAA para a Rua Aarão Reis, 538 – 2º andar.15 de novembro de 1999: mudança da CENSAA para a Avenida dos Andradas, 302 – salas 522-523-524-530.Janeiro de 2000: Trabalho unificado, modificando o nome de CENSAA para ESL/BH-MG, sede da Área de Minas Gerais. As Intergrupais passaram a se denominar ESL.Observação: Em 1990, de acordo com recomendação da Conferência, a Central de Serviços de A.A. da Zona da Mata de Minas mudou a denominação para Intergrupal de Serviço de A.A. – ISAA-JF. Nomes anteriores ao ESL/BH-MG1º) CEMISAA – Central Mineira de Serviços de A.A.;2º) A.A.E.C.S. – Alcoólicos Anônimos Escritório Central de Serviços de Minas Gerais;3º) CENSAA-MG – Central de Serviços de Alcoólicos Anônimos de Minas Gerais; e4º) ESL/BH-MG – Escritório de Serviço Local de Belo Horizonte-Minas Gerais.

Servidores de Minas na estrutura Nacional

Walker: Presidente do Centro de Distribuição de Literatura de A.A. para o Brasil – CLAAB 1984;Godinho: Trabalho administrativo no CLAAB, residindo em São Paulo;Fulgêncio: Diretor do ESG – 1987/1989, permanecendo 10 dias por mês em São

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PauloFábio: Comitê Editorial da Revista Brasileira de A.A., Comitê de Informação ao Público-CIP da Junta;Airton Borges: Comitê de Literatura da Junta;Adauto: Tesoureiro do CLAAB e membro do Conselho Fiscal, 1984/1986;Lindolpho: membro do Conselho Fiscal do ESG.“Hoje, dos que fazem funcionar a Estrutura do Terceiro Legado de A.A. (Serviço), somos mais de 500 grupos em Minas. Sem contar aqueles que, por inúmeros motivos, ainda percorrem os caminhos do desconhecimento dos princípios da Irmandade(...)Pesquisando, descobrimos que o S. é de Salvador.Teria sido esse nome revestido de algum significado místico, ou tudo não passou de uma maravilhosa e feliz coincidência?”

“Parece que foi ontem... mas, vivendo um dia de cada vez, lá se vão 47 anos!”Assim, até agora, Deus nos ajudou.Pedimos a Ele que continue nos ajudando, porque precisamos seguir passando adiante a mensagem de Alcoólicos Anônimos.Estas informações foram obtidas através de anotações e atas de reuniões dos Grupos de Juiz de Fora e de BH e de depoimentos de companheiros e companheiras que participaram dos fatos na época da chegada de A.A. em nosso Estado. . BH-MG, 07/2008il;ões foram obtidas através de anotações e atas de reuniões dos Grupos de Juiz de Fora e de BH e de depoimentos de companheiros e companheiras que participaram dos fatos na época da chegada de A.A. em nosso Estado.

A importância do anonimato

Tradicionalmente, os membros de A.A. sempre cuidaram de manter seu anonimato em nível público: na imprensa, no rádio, na televisão, no cinema e, mais recentemente, na Internet.

Nos primeiros dias de A.A., quando a palavra "alcoólico" levava um estigma maior do que hoje, era fácil entender este receio de identificar-se publicamente.

À medida que Alcoólicos Anônimos foi crescendo, logo se tornaram evidentes os valores do anonimato.

Primeiro, sabemos, por experiência, que muitos bebedores-problema vacilariam em recorrer a Alcoólicos Anônimos se acreditassem que seu problema seria assunto de discussão pública, ainda que por descuido. Os novatos devem ter a possibilidade de buscar ajuda com total segurança de que sua identidade não será revelada a ninguém fora da Irmandade.

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Ademais, acreditamos que o conceito de anonimato pessoal tem também um significado próprio para nós - que contribui para refrear os impulsos de reconhecimento pessoal e de poder, prestígio e riqueza que provocaram tantas dificuldades em outras sociedades. Nossa eficácia relativa ao trabalho com os alcoólicos poderia ver-se prejudicada em alto grau se buscássemos ou aceitássemos o reconhecimento público.

Ainda que todo membro de A.A. tenha perfeita liberdade de interpretar as Tradições de A.A. como melhor lhe aprouver, não se reconhece a nenhum indivíduo a legitimidade como porta-voz da Irmandade em nível local, nacional ou internacional. Cada membro fala unicamente por si mesmo.

Alcoólicos Anônimos tem uma dívida de gratidão com todos os meios de comunicação pelo que eles têm contribuído, ao longo dos anos, em reforçar a Tradição de Anonimato. O CTO/JUNAAB envia correspondência regularmente aos meios de comunicação para explicar-lhes essa Tradição e pedir-lhes que cooperem para que ela seja ***prida.

Por diversas razões, um membro de A.A. pode "romper" seu anonimato deliberadamente perante o público. Já que isso é um assunto de escolha e consciência pessoais, obviamente a Irmandade como um todo não tem nenhum controle sobre tais desvios da Tradição. Não obstante, fica bem claro que os membros que o fazem, não têm a aprovação da maioria esmagadora de seus companheiros de Alcoólicos Anônimos.

A.A. e a Religião

A exemplo do que acontece com médicos amigos, também alguns religiosos participam, e participam ativamente, dos serviços organizados de A.A., em diversos países.

Embora não adotando nenhuma religião em particular, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos assimilou e incorporou aos seus princípios básicos, alguns dos ensinamentos espirituais e morais, comuns a todas as denominações religiosas. Profunda, gratificante, e sobretudo inspiradora, foi a assistência recebida pelos co-fundadores de A.A. de parte do Padre Ed. Dowling, da Ordem Jesuíta

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de St. Lous, e do Clérigo Episcopal Sam Shoemaker, tido como o principal inspirador dos Doze Passos de A.A.

Em todos os países onde se instalaram grupos de A.A.,a Irmandade tem encontrado estímulo e apoio por parte dos líderes religiosos local, independentemente da religião predominante em qualquer desses países. A essa regra geral não foge o Brasil, onde até mesmo a grande maioria dos grupos está instalada em salões paroquiais, predominando, como é natural, os pertencentes às igrejas católicas.

A exemplo do que acontece com médicos amigos, também alguns religiosos participam, e participam ativamente, dos serviços organizados de A.A., em diversos países.

(extraído do livreto Alcoólicos Anônimos Primeiras Noções para o Público em geral, com aut.da JUNAAB)

As promessas de A.A.

1. Se formos cuidadosos nesta fase de nosso desenvolvimento, ficaremos surpresos antes de chegar à metade do caminho.

2. Estamos a ponto de conhecer uma nova liberdade e uma nova felicidade.

3. Não lamentaremos o passado, nem nos recusaremos a enxergá-lo.

4. Compreenderemos o significado da palavra serenidade e conheceremos a paz.

5. Não importa até que ponto descemos, veremos como a nossa experiência pode ajudar outras pessoas.

6. Aquele sentimento de inutilidade e auto-piedade irá desaparecer.

7. Perderemos o interesse em coisas egoístas e passaremos a nos interessar pelos nossos semelhantes.

8. O egoísmo deixará de existir. 9. Todos os nossos pontos de vista e atitudes perante a

vida irão se modificar. 10. O medo das pessoas e da insegurança

econômica nos abandonará. 11. Saberemos, intuitivamente, como lidar com

situações que costumavam nos desconcertar. 12. Perceberemos, de repente, que Deus está

fazendo por nós o que não conseguíamos fazer sozinho

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Serão estas promessas extravagantes?

Achamos que não. Estão sendo cumpridas entre nós - às vezes depressa, outras devagar.

Sempre se tornarão realidade se trabalharmos para isto.

Alcoólicos Anônimos, Capítulo 6, Entrando em Ação, página 103 da edição brasileira do cinqüentenário de AA, página 65 da edição portuguesa) publicado com autorização.Direitos autorais de Alcoholics Anonymous World Services, Inc.; publicado com permissão

As relações públicas

Em 1956 formou-se a primeira Comissão de Informação ao Público da Junta de Serviços Gerais (EUA/Canadá), e sua correspondente na Conferência de Serviços Gerais (EUA/Canadá) foi estabelecida em 1961. A Conferência de Serviços Gerais (EUA/Canadá) estabeleceu esta norma de procedimento para a Informação Pública de A.A.:

"Em todas as relações públicas, o único objetivo de A.A. é ajudar ao alcoólico que ainda sofre. Tendo sempre em conta a importância do anonimato pessoal, cremos que se pode alcançar esse objetivo informando ao alcoólico que ainda sofre, e a todos que possam estar interessados em seu problema, a nossa experiência como indivíduos e como Irmandade, de aprender a viver sem álcool.

Cremos que nossa experiência deva ser posta livremente à disposição de todos os que mostram um interesse sincero. Cremos também que todos os nossos esforços neste campo devam refletir tanto nosso agradecimento pelo dom da sobriedade, como nossa consciência de que muita gente fora de A.A. se preocupa igualmente pelo grave problema do alcoolismo."

Em 1973, a Conferência de Serviços Gerais (EUA/Canadá) confirmou que: "Temos de reconhecer que nossa competência para falar de alcoolismo se limita ao tema de Alcoólicos Anônimos e seu programa de recuperação."

Essas declarações refletem a Tradição de A.A. já estabelecidas há muitos anos, que aconselha não buscar divulgação com fins publicitários, mas sim estar sempre disposta a cooperar com

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representantes de todos os meios que solicitem informações sobre o programa de recuperação ou sobre a estrutura da Irmandade. O Escritório de Serviços Gerais responde a milhares de solicitações de informações desse tipo, a cada ano.

Aos repórteres e jornalistas são sempre dadas boas-vindas nas reuniões abertas, nos encontros regionais e outros eventos similares de Alcoólicos Anônimos. A única limitação é que pedimos que não revelem o nome de nenhum membro de A.A. Por razões óbvias, também não se podem tirar fotos que possam identificar os membros, nas reuniões ou eventos de A.A.

NOTA: Em muitas Áreas, os membros de A.A. estabeleceram, dentro dos CTOs, Comissões de Cooperação com a Comunidade Profissional e Comissões de Informação ao Público, para auxiliar os representantes dos meios de comunicação locais a obter informações exatas sobre a Irmandade. Outros materiais informativos e históricos podem ser obtidos junto a essas Comissões.

As reuniões de Alcoólicos Anônimos

Os dois tipos de reunião mais comuns em A.A. são:

Reuniões Abertas: Como indicam as palavras, as reuniões desse tipo são abertas aos alcoólicos e suas famílias, bem como a qualquer pessoa que se interesse em solucionar seu problema com bebida alcoólica ou em ajudar outra pessoa a solucionar um problema de alcoolismo.

A maioria das reuniões abertas segue um roteiro mais ou menos fixo, ainda que em alguns lugares se tenha verificado diversas variações. A Conferência recomenda a leitura do Preâmbulo de A.A. em todas as reuniões. O Coordenador descreve o programa de A.A. em forma resumida para os novatos que estão na sala e em seguida apresenta um ou mais oradores, que contam suas próprias histórias de bebedores e como estão se recuperando em A.A. e podem, às vezes, dar suas interpretações pessoais de A.A.

Na metade da reunião, normalmente há um período para dar os avisos locais de A.A. e o Tesoureiro recolhe as contribuições espontâneas para pagar o aluguel da sala de reuniões, os gastos

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com literatura e outros custos. Geralmente, depois da reunião, os presentes se reúnem informalmente para tomar cafezinho ou refrescos e "papear".

Nas reuniões abertas, sempre se lembra aos convidados de que as opiniões e interpretações que escutarem ali são unicamente as do orador que as apresenta. Todos os membros têm total liberdade de interpretar o programa de recuperação segundo seu próprio parecer, mas ninguém pode falar pelo Grupo local ou por A.A. em sua totalidade.

Reuniões Fechadas: Essas reuniões são somente para os alcoólicos. Nelas os membros encontram uma oportunidade de compartilhar, uns com os outros, tudo o que se refere aos problemas relacionados com formas e costumes de beber, assim como seus esforços para alcançar uma sobriedade estável. Também é possível discutir diversos elementos do programa de recuperação e estudar a literatura de A.A. Da mesma forma que as abertas, há espaço para ler a correspondência e os avisos e recolher as contribuições voluntárias para cobrir as despesas do Grupo. O cafezinho ou os refrescos são componentes indispensáveis durante os bate-papos informais, no meio ou no final das reuniões.

Como Funciona

Raramente vimos alguém fracassar tendo seguido cuidadosamente nosso caminho.

Os que não se recuperam são pessoas que não conseguem ou não querem se entregar por completo a este programa simples, em geral homens e mulheres que, por natureza, são incapazes de ser honestos consigo mesmos.

Existem pessoas assim. Não é culpa sua, parecem ter nascido assim. São naturalmente incapazes de aceitar e desenvolver um modo de vida que requeira total honestidade. Suas chances são inferiores à média. Existem, também, as que sofrem de graves distúrbios mentais e emocionais, mas muitas delas se

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recuperam, se tiverem a capacidade de serem honestas.

Nossas histórias revelam, de uma forma geral, como costumávamos ser, o que aconteceu e como somos agora. Se você chegou à conclusão de que quer o que nós temos e deseja fazer todo o possível para obtê-lo, então está pronto para dar alguns passos.

Diante de alguns, nós recuamos. Achamos que poderíamos encontrar um modo mais fácil e mais cômodo. Mas não conseguimos. Com toda a veemência a que somos capazes, pedimos que você seja corajoso e cuidadoso, desde o início. Alguns de nós tentamos nos agarrar a nossas velhas idéias e o resultado foi nulo, até que nos rendemos incondicionalmente. Lembre-se de que estamos lidando com o álcool - traiçoeiro, desconcertante, poderoso! Sem ajuda, é demais para nós. Mas há Alguém que tem todo o poder - este Alguém é Deus. Que você possa encontrá-lo agora!Extraído do Livro Alcoólicos Anônimos, Capítulo 5, publicado em português pela JUNAAB e com autorização de A.A. World Services, Inc.

Informações sobre Alcoólicos Anônimos

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.

O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber.Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições.

A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas.

Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar

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outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.

A.A. é para você?

1. Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?

 

Muitos de nós "largamos a bebida" muitas vezes antes de procurar A.A. Fizemos sérias promessas aos nossos familiares e empregadores. Fizemos juramentos solenes. Nada funcionou até que ingressamos em A.A. Agora não lutamos mais. Não prometemos nada a ninguém, nem a nós mesmos. Simplesmente esforçamo-nos para não tomar o primeiro gole hoje. Mantemo-nos sóbrios um dia de cada vez.

2. Ressente-se com os conselhos dos outros que tentam fazê-lo parar de beber?

 

Muitas pessoas tentam ajudar bebedores-problema. Porém, a maioria dos alcoólicos ressente-se com os "bons conselhos" que lhes dão. (A.A. não impõe esse tipo de conselho a ninguém. Mas, se solicitados, contaríamos nossa experiência e daríamos algumas sugestões práticas sobre como viver sem o álcool.)

3. Já tentou controlar sua tendência de beber demais, trocando uma bebida alcoólica por outra?

 

Sempre procurávamos uma fórmula "salvadora" de beber. Passamos das bebidas destiladas para o vinho e a cerveja. Ou confiamos na água para "diluir" a bebida. Ou, então, tomamos nossos goles sem misturá-los. Tentamos ainda beber somente em determinadas horas. Porém, seja qual for a fórmula adotada, invariavelmente acabamos embriagados.

4. Tomou algum trago pela manhã nos últimos doze meses?

 

A maioria de nós está convencida (por experiência própria) de que a resposta a esta pergunta fornece uma chave quase infalível sobre se uma pessoa está ou não a caminho do alcoolismo, ou já se encontra no limite da "normalidade" no beber.

5. Inveja as pessoas que podem beber sem criar problemas?

  É óbvio que milhões de pessoas podem beber (às vezes muito) em seus contatos sociais sem causar danos sérios a si

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mesmos, ou a outros. Você parou alguma vez para perguntar-se por que, no seu caso, o álcool é, tão freqüentemente, um convite ao desastre?

6. Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?

 

Todos os fatos médicos conhecidos indicam que o alcoolismo é uma doença progressiva. Uma vez que a pessoa perde o controle da bebida, o problema torna-se pior, nunca desaparece. O alcoólico só tem, no fim, duas alternativas: (1) beber até morrer ou ser internado num manicômio, ou (2) afastar-se do álcool em todas as suas formas. A escolha é simples.

7. A bebida já criou problemas no seu lar?

 Muitos de nós dizíamos que bebíamos por causa das situações desagradáveis no lar. Raramente nos ocorria que problemas deste tipo são agravados, em vez de resolvidos, pelo nosso descontrole no beber.

8. Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?

 Quando tínhamos de participar de reuniões deste tipo, ou nos "fortificávamos" antes de chegar, ou conseguíamos geralmente ir além da parte que nos cabia. E, freqüentemente, continuávamos a beber depois.

9. Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?

 Iludir a si mesmo parece ser próprio do bebedor problema. A maioria de nós que hoje nos encontramos em A.A., tentou parar de beber repetidas vezes sem ajuda de fora. Mas não conseguimos.

10.

Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?

 Quando bebíamos e perdíamos dias de trabalho na fábrica ou no escritório, freqüentemente procurávamos justificar nossa "doença". Apelamos para vários males para desculpar nossas ausências. Na verdade, enganávamos somente a nós mesmos.

11.

Já experimentou alguma vez ‘apagamento’ durante uma bebedeira?

  Os chamados "apagamentos" (em que continuamos funcionando sem contudo poder lembrar mais tarde do que

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aconteceu) parecem ser um denominador comum nos casos de muitos de nós que hoje admitimos ser alcoólicos. Agora sabemos muito bem quais os problemas que tivemos nesse estado "apagado" e irresponsável.

12.

Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?

 

A.A., em si, não pode resolver todos os seus problemas. No que se refere, porém, ao alcoolismo, podemos mostrar-lhe como viver sem os "apagamentos", as ressacas, o remorso ou o desconsolo que acompanham as bebedeiras desenfreadas. Uma vez alcoólico, sempre alcoólico. Portanto, nós em A.A. evitamos o "primeiro gole". Quando se faz isto, a vida se torna mais simples, mais promissora e muitíssimo mais feliz.

Qual foi a contagem?Respondeu SIM quatro vezes ou mais?Em caso positivo, é provável que você tenha um problema sério de bebida, ou poderá tê-lo no futuro. Por que dizemos isto? Somente porque a experiência de milhares de alcoólicos recuperados nos ensinou algumas verdades básicas a respeito dos sintomas do alcoolismo - e de nós mesmos. Você é a única pessoa que poderá dizer, com certeza, se deve ou não procurar o A.A. Se a resposta for SIM, teremos satisfação em mostrar-lhe como conseguimos parar de beber. Se ainda não puder admitir que você tem um problema de bebida, não faz mal. Apenas sugerimos que você encare sempre a questão com mentalidade aberta. Se algum dia precisar de ajuda, teremos satisfação em recebê-lo em nossa Irmandade.

Os Jovens em A.A.

Todos nós sentimos o mesmo quando chegamos em A.A. – que éramos jovens demais para sermos alcoólicos.

Jovens demais?

Todos nós sentimos o mesmo quando chegamos em A.A. – que éramos jovens demais para sermos alcoólicos. Alguns de nós

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não havíamos bebido por muito tempo. Alguns de nós não havíamos tomado bebida forte. Alguns de nós não chegamos a cair ou ter perda de memória.

"É só sentar-se e prestar atenção", foi o que nos disseram. "Você pode voltar a beber a hora que quiser. Mas, primeiro, tente assistir a algumas reuniões de A.A. porque, se não tivesse problema algum com a bebida, não estaria aqui."

Logo ouvimos dizer que tanto faz quanto bebemos, onde bebemos, o que bebemos ou a idade que temos – o que importa é o que o álcool faz dentro de nós. Ninguém melhor do que você mesmo para avaliar se tem ou não problema. E você sabe disso intimamente – se você se sente culpado, isolado, envergonhado; se o álcool está interferindo em sua vida, este livrete talvez possa ajudá-lo a se decidir.

Todos nós nos sentimos estranhos indo para A. A. Mas acabamos percebendo que A.A. salvou nossas vidas e deu-nos um novo começo – foi o melhor que podia ter-nos acontecido.

Para o recém ingressado em A.A.

Para quem encaminha pessoas para A.A.

Estas informações são tanto para pessoas que acreditam que tem problemas com a bebida como para aqueles que convivem com quem tem, ou acreditam que tenham problema. Muitas destas informações estão disponíveis em maiores detalhes na literatura publicada de A.A. Este resumo conta o que se espera de Alcoólicos Anônimos. Ele descreve o que A.A. é, O que A.A. faz, e o que A.A. não faz.

O que é A.A.?

Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo.

O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições.

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A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum partido político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas.

Nosso propósito primordial é manter-nos sóbrio e ajudar outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.

Simplicidade de propósito e outros problemas além do alcoolismo.

Alcoolismo e droga adicção são freqüentemente abordados como "Abuso de Substancias" ou "Dependência Química". Alcoólicos e não-alcoólicos, são então, encorajados e freqüentar as reuniões de A.A. Qualquer um pode estar presente numa reunião aberta de A.A. Mas somente aqueles que realmente tem problemas com a bebida pode participar de reuniões fechadas ou ingressar em A.A. como membro. Pessoas com problemas outros que o alcoolismo são aceitos como membros de A.A. se tiverem problemas com a bebida.

O que A.A. faz?

1. Membros de A.A. dividem suas experiências com qualquer um que procure ajuda com problemas de alcoolismo; eles dão depoimento cara a cara em reuniões ou apadrinhando o alcoólico recém chegado em A.A.

2. O programa de A.A. é proposto em Doze Passos, que proporciona ao alcoólico uma maneira de desenvolver satisfatoriamente a vida sem o álcool.

3. Este programa é apresentado nas reuniões de grupo de A.A.

a. reuniões abertasb. temáticas abertasc. reuniões fechadasd. reuniões de passos e. reuniões em instituições e clínicasf. reuniões de C.T.O.

O que A.A. não faz.

Recrutar membros, ou tentar aliciar alguém para juntar-se ao A.A.

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Manter registro de seus membros ou de suas histórias. Acompanhar ou tentar controlar seus membros. Fazer diagnósticos ou prognósticos clínicos ou psicológicos. Providenciar hospitalização, medicamentos ou tratamento psiquiátrico.Fornecer alojamento, alimentação, roupas, emprego, dinheiro ou outros serviços semelhantes.Fornecer aconselhamento familiar ou profissional.Participar de pesquisas ou patrociná-las.Filiar-se a entidades sociais (embora muitos membros e servidores cooperem com elas).Oferecer serviços religiosos.Participar de qualquer controvérsia sobre álcool ou outros assuntos.Aceitar dinheiro pelos seus serviços ou contribuições de fontes não A.A..Fornecer cartas de recomendação a juntas de livramento condicional, advogados, oficiais de justiça, escolas, empresas, entidades sociais ou quaisquer outras organizações ou instituições.

Conclusão O propósito primordial de A.A. é de levar a mensagem ao alcoólico que sofre pela bebida.

A "Técnica" do Acolhimento em A.A

Ana Lúcia Mesquita M. Massoni - Psicóloga

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que conheci A.A. Era uma noite muito quente em pleno janeiro de 1993. (O que eu não podia imaginar era que dentro da sala eu me depararia com um calor humano ainda maior e fora do comum.)

O coordenador ia lendo o roteiro da reunião, explicando a proposta de recuperação da Irmandade, mas o ponto alto era a sucessão de depoimentos de homens e mulheres que tinham a coragem de falar de si mesmos, de suas fraquezas e dificuldades de forma extremamente honesta.

Fui me emocionando cada vez mais, enquanto tentava aproveitar cada palavra dita naquele grupo tão diferente e especial.

Como se não bastasse, fui cercada de atenções e acolhimento na hora do intervalo, assim como o rapaz que eu acompanhava, que era um alcoólico procurando ajuda.

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A sensação era de que finalmente havíamos encontrado um lugar em que o alcoolismo dele seria compreendido e também que ali teria chance de mudar o rumo de sua vida.

Naquele mesmo ano, fui procurar especialização na área de álcool e drogas, visando oferecer a meus clientes um trabalho mais eficiente do que a psicologia que até então eu praticava. Aquilo que eu tinha aprendido na faculdade absolutamente "não dava conta" da problemática dos alcoólicos. Ao contrário, aquelas reuniões de depoimentos que passei a frequentar pareciam "empurrar" as pessoas para profundas modificações.

Observei e comparei, com as técnicas que conhecia, os "ingredientes" dessa fa-bulosa Irmandade que obtém tantos resultados, no entanto, sem nunca utilizá-los para fins outros que não a própria recuperação.

Em primeiro lugar está o já citado calor humano, cheio de compreensão sobre o problema e o oferecimento de companheirismo e "amor incondicional". O indivíduo é aceito de verdade, seja qual for sua condição física, material, emocional ou moral; de agora em diante "o problema é nosso", diz um dos lemas de A.A.

Vocês podem não saber, mas esse é um dos princípios de qualquer técnica psicológica. O profissional deve oferecer condições para o cliente ser exatamente quem ele é, sem exigências de modificações que o mesmo não queira realizar, ou seja, o "amor incondicional" é oferecido a partir de um longo treinamento pa-ra não impor nada pessoal a quem está sofrendo e precisando encontrar o "seu próprio jeito" de lidar com a situação por si só angustiante.

Um grande psiquiatra francês, conhecido na área de adicções, Claude Olivenstein, diz até que o psicoterapeuta tem que se prestar "a ficar no lugar da droga", oferecendo toda a sua psique (alma em latim) para que o paciente possa se fortalecer na relação humana e abandonar o uso químico.

Assim, vemos que a principal "técnica" de A.A., que na minha opinião é o ACOLHIMENTO, tem até respaldo científico!

 

Fonte: Revista Vivência nº 74 - Novembro/Dezembro 2001

Os Irresponsáveis de ontem, tornaram-se os responsáveis de hoje!Inicio o trabalho, com essa afirmação contida na sétima tradição que, aliás, ela em sua segunda frase diz que é o termômetro, a indicação que houve mudanças profundas em cada um de nós. E sabemos que a ferramenta que A.A. nos dispõe para que tais mudanças ocorram é o

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programa dos doze passos. Assim se eu não estou sendo responsável é um sintoma que não pratico o programa e se eu não me interesso pelos passos é um sintoma que não quero ser responsável esquecendo-me que: Eu não sou culpado por ser alcoólico mais devo ser responsável pela minha recuperação. Assim é que o programa tem no inicio a finalidade de esclarecer-me que sou um doente e esclarecido disso sem reservas me mostra que devo ser responsável por seguir os passos (tratamneto) que produzirão em mim a modificação da personalidade alcoólica indispensável para que o processo se inicie, ocorrido isso devo ser responsável por disseminar essa mensagem contida nos passos que como diz o Dr. Silkworth a recuperação se dá pela transmissão desses princípios (Doze Passos) a outros assim não dá para conceber o fato de estar eu participando de atividades de CTO , levando a mensagem se eu não tenho sido responsável por estudar, compartilhar experiências e tentado colocado em pratica essa mensagem (Doze Passos) na minha vida diária, antes de oferecer o programa aos outros devo primeiro adotá-lo como um modo de vida. Não da pra aparecer uma vez por ano na sala de um grupo pra pegar um objeto de plástico e dizer que amo a irmandade na verdade tem uma frase numa canção conhecida que diz:QUEM AMA, CUIDA!Muitos amam coisas e usam pessoas em vez de usar as coisas e amar as Pessoas ou irmãos (irmandade) O que tem de gente que se torna ou quer se tornar servidor da irmandade sem entrar realmente nessa irmandade! o que não se dá pelo fato de pegar um cartão e um objeto plástico mais sim através de um desejo de modificar o caráter e se tornar responsável colocando a recuperação a frente do serviço de A.A. inclusive, por utilizar e transferir os princípios da irmandade a começar pelo primeiro RECUPERAÇÃO é isso que significa legados utilizar e transferir á próxima geração. Estamos sendo responsáveis por preservar, manter e transferir esses legados a uma geração futura? Pela nossa conduta hoje poderemos estar seguros de que A.A. estará aqui amanhã para os nossos netos? Ou temos transformado A.A. em um local para suing troca de casais, eventos que tem o caráter de produzir essas orgias? Ou temos a finalidade de produzir Honrarias e méritos a pessoas com o personalismo usando até mesmo os que chegam pra nos inflarmos em balões orgulhosos pelo fato dela estar na sala querendo aparecer disputando quem irá ser o padrinho? Depois outra revista escreve sobre isso e queremos condená-los, mas falam mentira quando publicam tais matérias?Ou é isso que passamos para eles? Se um jornalista infiltrar em nosso meio verá o que viu Jack Alexander? Estamos nos esquecendo de sermos afilhados, como está cada vez menos chegando gente em A. A. estamos nos tornando uma irmandade que só tem padrinhos. Precisamos ser humildes nos lembrando que Sabemos pouco Deus sempre nos revelará mais se relacionarmos com Ele (Fazemos meditação matinal?). Tenho visto grupos que só falam do programa quando chega um recém chegado mesmo assim apenas lendo, alegam: Vamos bater papo ou falar de terceiro legado se chegar um novato abrimos a reunião e falamos dos princípios enquanto isso falam da vida alheia, dos grupos vizinhos, nutrem ressentimentos sujam a casa (sala) e impedem Deus de entrar nela, e perdem seu tempo que podia ser utilizado como uma preparação para oferecerem uma

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mensagem salvadora aos que estão por vim. Não temos sido responsáveis com a mensagem de A.A. pelo contrário em muitos lugares Algumas pessoas tem sido responsáveis pelo sangue (morte) de muitos alcoólicos precisamos ser responsáveis, saber Que Deus nos deu um talento para falar com outros alcoólatras de uma forma que não foi dada a médicos e catedráticos e estamos enterrando nosso talento. Estou agora aproveitando para fazer um desabafo como um todo. Voltemos-nos para Deus vamos pesquisar profundamente nos livros “Os Doze Passos” e “Alcoólicos Anônimos” e verificar que a finalidade do programa é nos conscientizar do Poder de Deus em nossas vidas que Ele tem muitos milagres a operar em nós que vai além de apenas trocar o conteúdo do copo. A coisa mais importante a que o programa quer nos levar é a conscientização da Presença de Deus. Quando quiserem poderei discorrer mais sobre esse tema “Presença de Deus” citando os diversos pontos literários que demonstram isso. Aqui na região é grande o numero de membros de A.A. que estão suicidando (direta ou indiretamente) sem nem mesmo voltar ao primeiro gole. Está cada vez mais comum o encerramento de reuniões principalmente de terceiro legado com o termo de responsabilidade que diz: “Eu sou responsável, quando qualquer um seja onde for estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali e Por isso eu sou responsável”. Penso que esse desabafo seja um ato responsável de minha parte em muitos lugares a Mão de A.A. já não está mais presente.Antes de assumir responsabilidade pelo bem estar dos outros que é o espírito central do nosso nono passo preciso assumir responsabilidade comigo mesmo e com a irmandade de A.A. a começar pelo meu grupo. Se todos fossem como eu como seria o meu grupo? Posso me lembrar a última vez que cheguei antes da reunião começar e fiquei até o final da mesma? Qual foi a ultima vez que contribui com mais do que cinco reais com a sétima tradição? Ou só apresento minhas contribuições altas para dar vazão a minha busca de prestigio e poder fora da sacola o que é um ato irresponsável como também atenta a tradição sete?Tenho um grupo base ou estou cada dia em um grupo diferente pouco me importando se eles lutam pra permanecerem abertos ou não? Quando chego penso que eles (o grupo ) é que precisam de mim e não o contrário? Quero arrancar da reunião algo para mim e não me preocupando em o que eu posso oferecer ao encontro? Sou um guardião dos princípios, tomo parte na confecção do manto que protege a irmandade ou sou mais um entre tantos que rasgam esse manto proporcionando ou participando cheio de auto justificativas de eventos que nada tem a ver com o propósito para o qual nossa irmandade foi criada? Preciso ser responsável para construir essa irmandade ao redor de mim como diz o livro azul, gostaria de agradecer o convite para discorrer sobre o assunto que me desperta reflexões. Já recebi inúmeros convites para liderar até mesmo congregações religiosas e neguei, pois percebo que meu chamado é para esse trabalho que considero meu ministério: Alcoólicos Anônimos, fomos chamados a uma única e elevada missão e quem tem missão segundo o dicionário que tenho é um Missionário. Muito Obrigado Max

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Grupo Mente Aberta Ubá MG

AS TRADIÇÕES, PALESTRA REALIZADA EM CURITIBA,PARANÁ.

Dr. Lais Marques da Silva, ex-Custódio e Presidente da JUNAAB.

Estamos aqui reunidos na cidade de Curitiba, numa das muitas cidades do Estado do Paraná, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos países do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo a fora e, melhor, temos a sólida esperança de que assim deverão permanecer para sempre. Mas essa certeza e essa expectativa que acalmam o espírito nem sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso, ameaçou fazer em pedaços a instituição que ainda estava sendo consolidada. Ao mesmo tempo, esse crescimento muito acelerado, exponencial, chamava a atenção e merecia uma análise cuidadosa na busca de explicações.

Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de A.A. aumentou subitamente de 2.000 para 8.000 e para 96.000, em 1950. Os grupos foram de 500 em 1944 para 3.500, em 1950. Acompanhando esta onda de crescimento, muitos não alcoólicos dos campos da medicina, da religião e da mídia estavam ficando cada vez mais conscientes de que Alcoólicos Anônimos representavam uma solução para alcoólicos aparentemente sem esperança, e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Para se ter uma idéia dos problemas e das dificuldades observadas nos primeiros tempos da vida de A.A., um breve quadro será composto usando apenas com as suas linhas mais gerais. Assim, havia o temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais antigos na obra se julgavam donos e consideravam ter direitos adquiridos, e mais, serem portadores de permissão para conduzir a Irmandade. Era necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos. Como os grupos

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iriam se relacionar entre si? Qual o conceito de grupo? Qual o seu propósito primordial? Deveria o A.A. se envolver com movimentos sociais? Entrar na área educacional? Tornar-se uma instituição reformadora? Outra dificuldade estava em levar a termo os problemas de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas. Como resolver o problema da tendência ao profissionalismo? Como lidar com o aparecimento de núcleos internos de governo e com o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o conseqüente envolvimento em controvérsias públicas. Como lidar com a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a embarcação para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.

Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento, tanto interno quanto das repercussões externas conseqüentes das atividades dos grupos, Bill se deu conta de que a nova Irmandade poderia facilmente ser esmagada pelo seu próprio sucesso, a menos que um corpo de princípios norteadores e uma política de relações com o público fosse formulada. Bill W. se apercebeu da necessidade de estabelecer linhas de procedimento que orientassem as relações internas e externas da Irmandade em face do crescimento de A.A. e da necessidade de manter a unidade; de criar um sistema de proteção para a comunidade recém-criada e de garantir o seu progresso.Identificou também as ameaças potenciais para a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder. Os de propriedade foram afastados evitando-se que A.A. se tornasse proprietário e fazendo com que pudesse se manter, daí a formulação das Tradições Sexta e Sétima.

Assim, foram afastadas as ideias de criação de linhas mestras que fossem chamadas de leis, regulamentos, regras ou qualquer coisa semelhante, pois transmitiriam uma ideia de autoritarismo e trariam consequências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá-las de “Os Doze Pontos Para Garantir a Nossa Sobrevivência Futura”. No entanto, alguns desses pontos já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências. Daí passarem a ser chamados de “Tradições”.

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Da experiência acumulada dentro da Irmandade, surgiram as ideias básicas para as Doze Tradições de A.A.. Elas têm a finalidade de oferecer soluções para problemas da vida diária da Irmandade e, ainda, de ajudar na comunicação com a comunidade fora de Alcoólicos Anônimos. Nelas encontramos assuntos relacionados com a existência de A.A. e a maneira pela qual a Irmandade poderia continuar atuando dentro da sociedade em geral. As Tradições fornecem as ferramentas necessárias para a sobrevivência de A.A., ensinando as condições para que os alcoólicos sejam membros da Irmandade, a autonomia dos grupos, a unidade de propósitos, a não-aceitação de apoio externo, o anonimato, o profissionalismo, a questão das controvérsias públicas e a autossuficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Desse modo, não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram no período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial, foi forjada graças ao desenvolvimento de princípios calcados em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos como tradicionais, e nascidos a partir da solução de problemas do cotidiano dessas estruturas e capazes de, sendo observados, mantê-las em unidade. Esses princípios foram estudados e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses princípios, cristalizados a partir da experiência, da vida de A.A. nos primeiros tempos, se constituem num instrumento poderoso que permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto em chamar a atenção para esses primeiros tempos da vida da Irmandade porque foi aí que surgiram dificuldades e problemas e, a partir deles, as Tradições. Isso parece muito natural e ficamos hoje tranquilos, mas é preciso lembrar sempre que o não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar a severas dificuldades e a enormes turbulências, inconvenientes para o processo de recuperação dos portadores da síndrome da dependência do álcool e que, ademais, poderão conduzir a rupturas de consequências imprevisíveis.

Além do mais, o estudo das Tradições encanta pela grande sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos pelo fato estranho de neles existir tanta inspiração, tanto discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda essa riqueza tenha sido encontrada por aqueles que os conceberam. Acontecimentos como esse não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente, predomina a

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insensatez, entendida como a tomada de atitudes contrárias aos seus próprios interesses.

Penso que é também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das palavras legado e tradição. Legado é definido como dádiva deixada em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a ideia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como sendo costume, hábito, uso ou crença, especialmente a que passa de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular. Mas, se, por um lado, as Tradições significam para a Irmandade, como um todo, progresso, proteção e unidade, para os membros de A.A., que as praticam, representam uma linha de crescimento espiritual na medida em que colocam o outro em primeiro lugar e passam a valorizar o bem-estar comum.

Os fatos históricos aqui descritos, de grande importância e que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A. serão ainda muito úteis para avivar no nosso espírito a idéia de que precisamos estudar as Tradições com grande dedicação, mantendo a lembrança de que estes princípios que salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. Espero que este relato possa concorrer para formar a consciência de que o não estudo e a não observância desse legado poderá resultar na perda da unidade, indispensável para que possamos levar adiante a mensagem de A.A. pelo mundo.

Quando falamos de alguma coisa e usamos a expressão mundial, que abrange o mundo inteiro, por todos os cantos do mundo, fica a ideia de um certo ufanismo. Os brasileiros cantaram em prosa e verso o fato de terem o maior estádio de futebol do mundo, de serem os melhores jogadores do mundo, de fazerem o melhor carnaval do mundo, etc. Resultou que essas expressões ficaram um pouco desgastadas ainda porque foram usadas para qualificar outros aspectos da nossa terra. Mas, quando me refiro nestes termos à Irmandade de Alcoólicos Anônimos, o faço a partir de experiências pessoais. Assim, em 1991, estando a passeio, visitei o ESG da França. Fui no 21, Rue Trousseau, em Paris, e lá fui carinhosamente recebido pela chefe do serviço. Conversamos longamente sobre as características do A.A. da França e do Brasil e ela, aproveitando a oportunidade, me mostrou uma coleção de Vivência colocada numa prateleira. Eram revistas que o ESG enviava

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regularmente para vários escritórios de serviços gerais. Disse-me que não entendia a língua, mas que tinha uma empregada portuguesa que lia para ela os artigos das revistas. Cerca de um mês mais tarde, fui à cidade de York, na Inglaterra, para fazer, entre outras, uma visita ao GSO. Novamente, fui recebido com muita alegria, carinho e atenção, além de surpresa, naturalmente. Lá havia também uma coleção de revistas Vivência. Mostraram-me algumas publicações do GSO e, entre os companheiros que me receberam, estava um que, mais tarde, eu iria reencontrar como delegado na 11ª Reunião Mundial, realizada em Nova York.

Nesta reunião mundial, convivi com companheiros de mais de quarenta países do mundo. A agenda de trabalho era muito intensa, mas não eram menos intensas as conversas de corredor. Muita experiência foi também trocada no decorrer dos grupos de trabalho e nas refeições que juntos fizemos. Experiências muito enriquecedoras foram vividas. Ainda na referida cidade, fui a duas reuniões de grupo e pude observar que em tudo eram semelhantes às que fazemos aqui no nosso país.

O que aqui relato é, exatamente, fruto da existência e da prática das 12 Tradições e reflete a importância e o poder desses princípios para a vida de A.A., como uma instituição mundial. A importante conclusão que tirei dessas experiências aqui relatadas e de outras mais, é que somos todos, membros de A.A., um só corpo, um organismo só, integrado e uno.

Na certeza da importância dos trabalhos que aqui seriam realizados é que aceitei o convite que me foi feito pelos companheiros para participar deste ciclo. Vim do Rio de Janeiro, fiz uma longa viagem e isso traduz a convicção que tenho da importância do estudo das Tradições de A.A.. Vim trazer a minha fé nos destinos desta Irmandade mundial a partir da prática das 12 Tradições.

Ciclo d’AS DOZE TRADIÇÕES

Realizado em Leopoldina-MG

O segundo Legado, na visão do Dr. Laís Marques da Silva.

Ex-Custódio e Presidente da Junaab.

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Estamos aqui unidos na cidade de Leopoldina, numa das muitas cidades do Estado de Minas Gerais, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos paises do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo a fora e, melhor, temos a esperança de que assim deverão permanecer. Mas essa certeza e essa expectativa que acalmam o espírito nem sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso, ameaçou fazer em pedaços a instituição que ainda estava sendo consolidada. Ao mesmo tempo, esse crescimento muito acelerado, exponencial, era um fato que chamava a atenção e que merecia uma análise respeitosa na busca de uma explicação.

Para dar uma idéia dos problemas e das dificuldades observadas nos primeiros tempos da vida de A.A., um breve quadro será composto usando apenas as suas linhas mais gerais. Assim, havia o temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais antigos na Irmandade se julgavam donos e consideravam ter direitos adquiridos, e mais, serem portadores de permissão para conduzi-la. Era necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos. Como os grupos iriam se relacionar entre si? Qual o conceito de grupo? Qual o seu propósito primordial? Deveria o A.A. se envolver com movimentos sociais? Entrar na área educacional? Tornar-se uma instituição reformadora? Outra dificuldade estava em levar a termo os problemas de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas. Como resolver o problema da tendência ao profissionalismo? Como lidar com o aparecimento de núcleos internos de governo e com o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o conseqüente envolvimento em controvérsias públicas. Como lidar com a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a balsa para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.

Não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram neste período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial, foi forjada graças ao desenvolvimento de princípios calcados em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos

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como tradicionais, e nascidos a partir da solução de problemas do cotidiano dessas estruturas e capazes de, sendo observados, mantê-las em unidade. Esses princípios foram estudados e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses princípios, cristalizados a partir da experiência, da vida de A.A. nos primeiros tempos, se constituem num instrumento poderoso que permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto em chamar a atenção para esses primeiros tempos porque neles surgiram dificuldades e problemas e, a partir deles, as Tradições. Isso parece muito natural e ficamos tranqüilos, mas é preciso lembrar sempre que o não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar a severas dificuldades e a enormes turbulências, inconvenientes para o processo de recuperação dos portadores da síndrome da dependência do álcool e que, ademais, poderão conduzir a rupturas de conseqüências imprevisíveis.

Além do mais, o estudo das Tradições encanta pela grande sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos pelo fato estranho de neles existir tanta inspiração, tanto discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda essa riqueza tenha sido encontrada por aqueles que os conceberam. Acontecimentos como esses não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente, predomina a insensatez, entendida como a tomada de atitudes contrárias aos seus interesses.

Penso que é também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das palavras legado e tradição. Legado é definido como dádiva deixada em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a idéia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como sendo costume, hábito, uso ou crença, especialmente a que passa de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular.

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Isto posto, vamos considerar alguns fatos históricos, de grande importância, que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A. e que, ainda mais, irão avivar no nosso espírito a idéia de que precisamos estudar as Tradições com grande dedicação, mantendo a lembrança de que estes princípios que salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. O relato concorrerá para formar a consciência de que o não estudo e a não observância desse legado poderá resultar na perda da unidade, indispensável para que possamos levar adiante a mensagem de A.A. mundo afora.

Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de AA saltou de 2000 para 8000 e para 96000, em 1950. Os grupos foram de 500 em 1944 para 3.500 em 1950. Acompanhando esta onda, muitos não alcoólicos dos campos da medicina, da religião e da mídia estavam ficando cada vez mais conscientes de que Alcoólicos Anônimos representavam uma solução para alcoólicos aparentemente sem esperança e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento tanto interno quanto externo, Bill se deu conta de que a nova Irmandade poderia facilmente ser esmagada pelo seu próprio sucesso, a menos que um corpo de princípios norteadores e uma política de relações com o público fosse formulada.

Naqueles tempos, Bill W. se apercebeu da necessidade de estabelecer linhas de procedimento que orientassem as relações internas e externas da Irmandade em face do crescimento de AA e da necessidade de manter a unidade; de criar uma proteção e de garantir o progresso.

Bill W., co-fundador de A.A., identificou as ameaças potenciais para a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder. Os de propriedade foram afastados evitando-se que A.A. se tornasse proprietário e fazendo com que se pudesse manter. Daí as Tradições Sexta e Sétima.

Foram afastadas as idéias de criação de linhas mestras que fossem chamadas de leis, regulamentos, regras ou qualquer coisa semelhante, pois transmitiriam uma idéia de autoritarismo e trariam conseqüências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá-las de “Os Doze Pontos Para Garantir a Nossa Sobrevivência Futura”. No entanto, alguns desses pontos já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências, daí que passaram a ser chamados de Tradições.

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Portanto, da experiência acumulada dentro da própria Irmandade, surgiram as idéias básicas para a elaboração das Doze Tradições de A.A.. Elas têm a finalidade de oferecer soluções para problemas da vida diária da Irmandade e, ainda, ajudar na comunicação com a comunidade, fora de Alcoólicos Anônimos. Nelas encontramos todos os assuntos relacionados com a existência de A.A. e a maneira pela qual a Irmandade pode continuar atuando dentro da sociedade em geral. As Tradições fornecem as ferramentas necessárias para a sobrevivência de A.A., ensinando as maneiras para que os alcoólicos sejam membros da Irmandade, a autonomia dos grupos, a unidade de propósitos, a não-aceitação de apoio externo, o anonimato, o profissionalismo, controvérsias públicas e auto-suficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Se, por um lado, as Tradições significam para a Irmandade, como um todo, progresso, proteção e unidade, para os membros de A.A., que as praticam, representam uma linha de crescimento espiritual na medida em que colocam o outro em primeiro lugar e passam a valorizar o bem-estar comum.

Quando falamos de alguma coisa e usamos a expressão mundial, que abrange o mundo inteiro, por todos os cantos do mundo, fica a idéia de um certo ufanismo. Os brasileiros cantaram em prosa e verso o fato de terem o maior estádio de futebol do mundo, de serem os melhores jogadores do mundo, de fazerem o melhor carnaval do mundo, etc. Resultou que essas expressões ficaram um pouco desgastadas ainda porque foram usadas para qualificar outros aspectos da nossa terra. Mas, quando me refiro nestes termos à Irmandade de Alcoólicos Anônimos, o faço a partir de experiências pessoais. Assim, em 1991, estando a passeio, visitei o ESG da França. Fui no 21, Rue Trousseau, em Paris, e lá fui carinhosamente recebido pela chefe do serviço. Conversamos longamente sobre as características do A.A. da França e do Brasil e ela, aproveitando a oportunidade, me mostrou uma coleção de Vivência colocada numa prateleira. Eram revistas que o ESG enviava regularmente para vários escritórios de serviços gerais. Disse-me que não entendia a língua, mas que tinha uma empregada portuguesa que lia para ela os artigos das revistas. Cerca de um mês mais tarde, fui à cidade de York, na Inglaterra, para fazer, entre outras, uma visita ao GSO. Novamente, fui recebido com muita alegria, carinho e atenção, além de surpresa, naturalmente. Lá havia também uma coleção de revistas Vivência. Mostraram-me algumas publicações do GSO e, entre os companheiros que me receberam, estava um que, mais tarde, eu iria reencontrar como delegado na 11ª Reunião Mundial, realizada em Nova York.

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Nesta reunião mundial, convivi com companheiros de mais de quarenta países do mundo. A agenda de trabalho era muito intensa, mas não eram menos intensas as conversas de corredor. Muita experiência foi também trocada no decorrer dos grupos de trabalho e nas refeições que juntos fizemos. Experiências muito enriquecedoras foram vividas. Ainda na referida cidade, fui a duas reuniões de grupo e pude observar que, em tudo, eram semelhantes às que fazemos aqui no nosso país.

O que aqui relato é, exatamente, fruto da existência e da prática das 12 Tradições e reflete a importância e o poder desses princípios para a vida de A.A., como instituição mundial. A importante conclusão que tirei dessas experiências aqui relatadas e de outras mais, é que somos todos, membros de A.A., um só corpo, um só organismo, integrado e uno.

Na certeza da importância dos trabalhos que aqui seriam realizados é que aceitei o convite que me foi feito pelos companheiros para participar deste ciclo de Tradições. Vim do Rio de Janeiro, fiz uma longa viagem e isso traduz a convicção que tenho da importância do estudo das tradições de A.A.. Vim trazer a minha fé nos destinos desta Irmandade mundial a partir da prática das 12 Tradições.

AS TRADIÇÕES, PALESTRA REALIZADA EM CURITIBA, PARANÁ

Dr. Lais Marques da Silva, ex-Custódio e Presidente da JUNAAB.

Estamos aqui reunidos na cidade de Curitiba, numa das muitas cidades do Estado do Paraná, um dos 26 Estados do Brasil, um grande país entre os muitos paises do mundo. Sabemos que os companheiros de A.A. estão unidos mundo a fora e, melhor, temos a sólida esperança de que assim deverão permanecer. Mas essa certeza e essa expectativa que acalmam o espírito nem sempre estiveram presentes nas mentes dos primeiros membros da Irmandade. No início da vida de A.A., houve um crescimento rápido e espantoso no número de grupos e de pacientes em recuperação e esse crescimento, não obstante ser um fato auspicioso, ameaçou fazer em pedaços a instituição que ainda estava sendo consolidada. Ao mesmo tempo, esse crescimento muito acelerado, exponencial, era um fato que chamava a atenção e que merecia uma análise cuidadosa na busca de uma explicação.

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Em 1941, com a publicação do trabalho de Jack Alexander no Saturday Evening Post, o número de membros de AA salta de 2.000 para 8.000 e para 96.000, em 1950. Os grupos foram de 500 em 1944 para 3.500, em 1950. Acompanhando esta onda, muitos não alcoólicos dos campos da medicina, da religião e da mídia estavam ficando cada vez mais conscientes do que Alcoólicos Anônimos representavam uma solução para alcoólicos aparentemente sem esperança, e pediam informações sobre o AA. Da mesma forma, uma inundação de cartas chegava aos escritórios.

Para dar uma idéia dos problemas e das dificuldades observadas nos primeiros tempos da vida de A.A., um breve quadro será composto usando apenas as suas linhas mais gerais. Assim, havia o temor das recaídas e dos romances fora do casamento. Afloraram os desejos de poder, fama e dinheiro. Os mais antigos na obra se julgavam donos e consideravam ter direitos adquiridos, e mais, serem portadores de permissão para conduzir a Irmandade. Era necessário conter os dominadores de plantão e as personalidades autoritárias. Havia o medo do aparecimento nos grupos de pessoas esquisitas ou indesejáveis ou mesmo de criminosos. Como os grupos iriam se relacionar entre si? Qual o conceito de grupo? Qual o seu propósito primordial? Deveria o A.A. se envolver com movimentos sociais? Entrar na área educacional? Tornar-se uma instituição reformadora? Outra dificuldade estava em levar a termo os problemas de dinheiro. Com idéias grandiosas, alguns membros julgavam que precisariam de grandes somas. Como resolver o problema da tendência ao profissionalismo? Como lidar com o aparecimento de núcleos internos de governo e com o aparecimento de sanções a serem aplicadas? Infratores deveriam ser expulsos? E o que fazer com a tendência a opinar sobre questões alheias à Irmandade com o conseqüente envolvimento em controvérsias públicas. Como lidar com a divulgação em que se faziam promessas, o que se constituía em propaganda? A busca pelo poder e pelo prestígio sempre ocorria.

Esse quadro, muito resumido, mostra que a Irmandade, no início da sua existência, era como uma balsa de náufragos navegando em mar muito perigoso. Era preciso não balançar e estabilizar a balsa para que todos não ficassem em pânico e não corressem perigos.

Diante dos desafios trazidos pelo intenso crescimento, tanto interno quanto das repercussões externas conseqüentes das atividades dos grupos, Bill se deu conta de que a nova Irmandade poderia facilmente ser esmagada pelo seu próprio sucesso, a menos que um corpo de princípios norteadores e uma política de relações com o público fosse formulada.

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Naqueles tempos, Bill W. se apercebeu da necessidade de estabelecer linhas de procedimento que orientassem as relações internas e externas da Irmandade em face do crescimento de A.A. e da necessidade de manter a unidade; de criar um sistema de proteção para a comunidade recém-criada e de garantir o seu progresso.

Bill W., o co-fundador de A.A., foi capaz de identificar as ameaças potenciais para a existência de Alcoólicos Anônimos: problemas de propriedade, prestígio e poder. Os de propriedade foram afastados evitando-se que A.A. se tornasse proprietário e fazendo com que pudesse se manter, daí a formulação das Tradições Sexta e Sétima.

Foram afastadas as idéias de criação de linhas mestras que fossem chamadas de leis, regulamentos, regras ou qualquer coisa semelhante, pois transmitiriam uma idéia de autoritarismo e trariam conseqüências negativas para a Irmandade. Dessa forma, Bill começou por chamá-las de “Os Doze Pontos Para Garantir a Nossa Sobrevivência Futura”. No entanto, alguns desses pontos já eram tradicionalmente praticados por muitos grupos de A.A. com base nas suas experiências. Daí passarem esses pontos a serem chamados de “Tradições”.

Da experiência acumulada dentro da Irmandade, surgiram as idéias básicas para as Doze Tradições de A.A.. Elas têm a finalidade de oferecer soluções para problemas da vida diária da Irmandade e, ainda, ajudar na comunicação com a comunidade fora de Alcoólicos Anônimos. Nelas encontramos todos os assuntos relacionados com a existência de A.A. e a maneira pela qual a Irmandade poderia continuar atuando dentro da sociedade em geral. As Tradições fornecem as ferramentas necessárias para a sobrevivência de A.A., ensinando as condições para que os alcoólicos sejam membros da Irmandade, a autonomia dos grupos, a unidade de propósitos, a não-aceitação de apoio externo, o anonimato, o profissionalismo, a questão das controvérsias públicas e a auto-suficiência. Todo este conjunto de princípios deu origem às Tradições de A.A..

Não obstante a existência das ameaças de desunião e de colapso que aconteceram neste período de crescimento, a unidade de A.A., a nível mundial, foi forjada graças ao desenvolvimento de princípios calcados em procedimentos existentes em alguns grupos, já então tidos como tradicionais, e nascidos a partir da solução de problemas do cotidiano dessas estruturas e capazes de, sendo observados, mantê-las em unidade. Esses princípios foram estudados e consolidados e, no seu conjunto, se constituem naquilo que, hoje, para o nosso conforto e paz, são chamados de as Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Esses princípios, cristalizados a partir da experiência, da vida de A.A. nos primeiros tempos, se constituem num instrumento poderoso que

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permite transpor obstáculos e resolver os problemas do dia a dia da vida da Irmandade. Por meio da observância do segundo legado, permanecemos em unidade.

Insisto em chamar a atenção para esses primeiros tempos porque neles surgiram dificuldades e problemas e, a partir deles, as Tradições. Isso parece muito natural e ficamos tranqüilos, mas é preciso lembrar sempre que o não conhecimento desses princípios ou a omissão quanto à sua prática poderá nos levar a severas dificuldades e a enormes turbulências, inconvenientes para o processo de recuperação dos portadores da síndrome da dependência do álcool e que, ademais, poderão conduzir a rupturas de conseqüências imprevisíveis.

Além do mais, o estudo das Tradições encanta pela grande sabedoria existente em cada um dos seus princípios ao mesmo tempo em que espanta os estudiosos pelo fato estranho de neles existir tanta inspiração, tanto discernimento, tanta visão, tanto conhecimento, tanto de humanismo e, ainda, que toda essa riqueza tenha sido encontrada por aqueles que os conceberam. Acontecimentos como esses não são comuns na história da humanidade em que, infelizmente, predomina a insensatez, entendida como a tomada de atitudes contrárias aos seus interesses.

Penso que é também oportuno que nos detenhamos sobre o significado das palavras legado e tradição. Legado é definido como dádiva deixada em testamento e dádiva é definida como donativo, presente, oferta. A palavra legado, portanto, está mais associada a coisas imateriais e, por isso, penso que a sua adoção é mais adequada do que a da palavra herança, com nítida conotação de coisa material e, por isso, ligada ao mundo das coisas e até à possibilidade da existência de conflitos. Fica, desse modo, a idéia de algo imaterial, precioso e enriquecedor do espírito, que é o que se aplica ao uso que fazemos em A.A. da palavra legado. Também é válido se deter sobre o significado da palavra tradição como sendo costume, hábito, uso ou crença, especialmente a que passa de geração em geração. Ou seja, um corpo de hábitos e crenças tidas como sendo de valor por uma cultura particular.

Se, por um lado, as Tradições significam para a Irmandade, como um todo, progresso, proteção e unidade, para os membros de A.A., que as praticam, representam uma linha de crescimento espiritual na medida em que colocam o outro em primeiro lugar e passam a valorizar o bem-estar comum.

Relembramos alguns fatos históricos, de grande importância, que convergiram para o aparecimento das Tradições de A.A. e que irão avivar no nosso espírito a idéia de que precisamos estudar as Tradições

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com grande dedicação, mantendo a lembrança de que estes princípios salvaram, naqueles tempos, a nossa Irmandade da desintegração. O relato concorrerá para formar a consciência de que o não estudo e a não observância desse legado poderá resultar na perda da unidade, indispensável para que possamos levar adiante a mensagem de A.A. mundo afora.

1ª TRADIÇÃO

“Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar, a reabilitação individual depende da unidade de A.A.”

O bem-estar comum é muito valorizado em A.A. e, sem ele, não pode haver o bem-estar pessoal, indispensável à recuperação.

A situação do membro de A.A. é semelhante à de náufragos que estivessem em uma balsa navegando em mar muito perigoso. É preciso não balançar a balsa para não colocar todos em pânico e em perigo. Os víveres devem ser repartidos. É interessante observar que numa situação como esta não há glutões.

De início, havia o temor das recaídas, o que causava pânico, e também o temor dos romances fora do casamento. Outras ameaças vinham do desejo de poder, domínio, fama e dinheiro por parte dos membros da Irmandade. O orgulho, o medo e a raiva já eram importantes inimigos do bem-estar comum.

Por outro lado, a harmonia e o amor fraterno fortaleciam os companheiros de A.A..

2ª TRADIÇÃO

“Somente uma autoridade preside, em última análise, o nosso propósito comum – um Deus amantíssimo, que se manifesta na nossa consciência coletiva. Nossos lideres são apenas servidores de confiança; não têm poderes para governar”.

A consciência do grupo é a única autoridade a conduzir a discussão dos assuntos da Irmandade.

Os mais velhos, muitas vezes, pensam que foram eles, com mais experiência e com a sua orientação e liderança, que levaram uma vida nova para os alcoólicos. Pensam que têm direitos adquiridos e até permissão para conduzir a Irmandade indefinidamente. Pensam

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também que têm direito de escolher os seus sucessores. Mas os outros membros dos grupos não pensam dessa forma.

A consciência do grupo era quase sempre mais sábia do que a de qualquer dos seus membros separadamente.

Há dois princípios no enunciado da 2ª Tradição:

1. A não existência de uma autoridade humana com poderes para governar. Ou seja, existência de apenas uma autoridade espiritual.

2. A possibilidade de a autoridade espiritual manifestar-se por meio da consciência coletiva.Bill relata, em janeiro de 47, na Grapevine, que tentou controlar e

dirigir o A.A., mas sem resultado. Quando dirigia críticas a grupos ou pessoas, recebia de volta o dobro de críticas e, às vezes, era chamado de ditador. Assim, também a 2ª Tradição, como as demais, resultou de experiências fracassadas. Bill concluiu que somos um grupo de pessoas difíceis de serem comandadas.

Nas reuniões evitamos o ar professoral, como se quiséssemos ensinar a arte de viver. Isso não funciona. Assim, cada um conta apenas a sua história.

Essa rebeldia, embora não possa ser considerada uma virtude, mas o fato é que, dentro dos limites da Irmandade, tem servido para nos proteger dos dominadores de plantão, das personalidades autoritárias que, se tivessem autoridade, agiriam como agentes desagregadores.

A irmandade existe há 67 anos e não tem nem nunca teve uma estrutura de comando. Há apenas diretrizes acompanhadas de cobrança de resultados.

Da mesma forma que os companheiros procuram praticar os Doze Passos, os grupos agem da mesma forma em relação às Tradições. Do mesmo modo que não praticar os Passos leva à tristeza, à depressão, à bebida e à morte, a não observância das Tradições pode levar à desintegração do grupo e tornar problemática a recuperação pessoal dos seus membros.

Sobre a possibilidade de uma autoridade espiritual manifestar-se na consciência coletiva, fica a necessidade de compreender bem o que ela é porque, afinal, é ela que conduz a nossa irmandade e ainda pode manifestar a vontade de Deus.

Um membro de AA pode, ao praticar o 11º Passo, melhorar o seu contacto consciente com Deus para que Ele possa agir por seu

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intermédio. A prática desse Passo pode preparar cada membro de A.A. para participar da formação da consciência coletiva.

Confiança e fé são as palavras-chave da Segunda Tradição.

3ª TRADIÇÃO

“Para ser membro de AA, o único requisito é o desejo de parar de beber”.

Quando o A.A. passou pela fase de forte crescimento, surgiram dúvidas quanto ao aparecimento de outros tipos de pessoas. Até aquela época, o problema era apenas com bêbados. Não apareceriam criminosos, pessoas esquisitas ou socialmente indesejáveis? Na prática, e ao longo dos anos, todos os tipos de pessoas têm encontrado caminho em A.A.. Nos grupos estão hoje todos os tipos de pessoas sem que problemas tenham ocorrido em decorrência de se terem tornado membros de A.A..

O resultado desses temores foi que, de início, havia grupos com tantas regras a serem observadas para que as pessoas pudessem ser membros da Irmandade que, se tivessem prevalecido, ninguém poderia ingressar em A.A.. Para muitos alcoólicos, o A.A. é a última salvação e como fechar as portas dos grupos para eles? É preciso aceitar o risco de aceitar os alcoólatras. Ninguém em A.A. aceita o papel de juiz, de jurado e, muito menos, de carrasco de um companheiro alcoólico.

Assim, a 3ª Tradição diz: “você é um membro de AA se você o disser. Não importa o que tenha feito ou o que ainda venha a fazer, você é um membro de AA, contanto que você o diga”.

Com o enunciado da Terceira Tradição, foram superadas as regras e condições para o ingresso de alcoólicos nos grupos de A.A..

4ª TRADIÇÃO

“Cada grupo deve ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito a outros grupos ou ao A.A. em seu conjunto”.

A partir dos locais em que os grupos nasceram, eles se irradiaram para outras cidades. E como isso seria feito? Qual o modelo de relacionamento? Como poderiam ser passadas as experiências já vividas? Logo, ficou claro que, para os companheiros que adotavam o exemplo e o modelo, se havia muita coisa boa, a decisão de adotá-las seria deles próprios. Os grupos decidiram que eles mesmos iriam encontrar o modo de resolver os assuntos que lhes eram próprios.

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Resolveram não aceitaram um governo localizado em New York ou em qualquer outro lugar. Serviço sim, mas governo não.

Desta atitude, resultou a tradição de autonomia de grupo. Essa tradição logo se consolidaria diante da manifestação da vontade dos grupos de incluir o direito de estarem errados.

Na sua forma longa original, a 4ª Tradição diz: “quando duas ou três pessoas estiverem reunidas com o propósito de alcançar a sobriedade, podem chamar a si mesmos de um grupo de A.A. contanto que, como grupo não tenha outra afiliação”. Isso significa que esses três ou quatro poderiam alcançar a sobriedade da forma que quisessem. Poderiam até estar em desacordo com os princípios de A.A. e, mesmo assim, se chamariam de grupo de A.A.. É uma forma dotada de extrema liberdade, mas o fato é que acabariam por adotar alguns princípios de AA para permanecerem sóbrios.

Por outro lado, se encontrassem outros caminhos e pudessem melhorar os métodos usados, eles poderiam ser adotados por outros grupos. Isso era muito importante porque evitava que a Irmandade acabasse por ter princípios rígidos e dogmáticos e que não pudessem ser mudados quando claramente errados.

O A.A. vive de ensaio e erro, mas o importante é não ter outra afiliação, pois isso desfiguraria a Irmandade em situações criadas, como por exemplo, da existência de grupos de católicos de A.A., grupos de protestantes de A.A., grupos comunistas de A.A., etc. O nome de Alcoólicos Anônimos deve ser reservado apenas para a Irmandade de A.A..

Da existência dessa tradição resulta que o A.A. ficou muito diferente do modo em que se vive neste mundo, onde tem que haver lei, força, sanção, penalidade e isso tudo administrado por pessoas autorizadas. Mas o fato é que os membros de A.A. não precisam de nenhuma autoridade humana. O A.A. só tem duas autoridades, uma benigna - Deus - e outra maligna, - a bebida alcoólica. É melhor você fazer a vontade de Deus ou eu o matarei, diz o álcool. Para os membros de A.A. é fazer ou morrer. Há ditadura suficiente, autoridade suficiente, amor suficiente, penalidade suficiente, sem que haja nenhum ser humano manejando o poder.

Os membros de A.A. aceitam os Passos e as Tradições porque desejam aceitar e essa é a prova da presença da Graça e do amor de Deus entre nós.

A autonomia decorrente da Quarta Tradição resulta em autogoverno. O grupo age com autonomia, mas guiado pela consciência coletiva, que leva à liberdade e também à responsabilidade. As ações

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de um grupo não podem prejudicar outros grupos e o bem-estar comum deve ser sempre observado.

5ª TRADIÇÃO

“Cada grupo é animado de um único propósito primordial, o de transmitir a mensagem ao alcoólico que ainda sofre”.

Aqui fica claro que o foco é executar bem uma só tarefa. Tudo fica simples desta forma. É a idéia central dessa Tradição. Embora o interesse pessoal dos membros de A.A. possa se voltar para assuntos relacionados ao alcoolismo, que pode ser enfocado sob diversos pontos de vista, a Irmandade não pode se desviar do seu propósito primordial.

Há um fato de grande importância que deve ser sempre considerado, que é a facilidade que têm os alcoólicos membros de A.A. em face das suas experiências pessoais relacionadas ao alcoolismo, de se aproximar de outros alcoólicos sofredores.

6ª TRADIÇÃO

“Nenhum grupo de A.A. deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar o nome de A.A. a qualquer sociedade parecida ou empreendimento alheio à Irmandade, para que problemas de dinheiro, propriedade e prestígio não nos afastem do nosso objetivo primordial”.

De início, o espaço estava aberto para uma grande expansão em campos do conhecimento humano como educação e pesquisa, mas para isso era preciso dispor de recursos. Pensava-se em construir hospitais próprios, em educar o público por meio de publicações e livros didáticos. Também em reformular leis e entrar no mundo da dependência das drogas em geral e da criminalidade. Grandes ideais, grandes sonhos. Intensa busca da perfeição.

A coisa não funcionou. Os hospitais fracassaram. As coisas terminaram confusas. O A.A. era um projeto educacional? Era espiritual ou médico? Era um movimento de reforma? A idéia de criar e mudar leis resultou em agitações e o risco da entrada no mundo da política.

Os membros de A.A. não poderiam ser tudo e fazer tudo. Dificuldades apareceram ao emprestar o nome de A.A. para empreendimentos de fora. De tudo isso resultaram dificuldades, sérias dificuldades.

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Por paradoxal, descobriu-se que quanto mais se preocupava com os seus próprios assuntos, maior influência a Irmandade exercia na sociedade como um todo. O fato é que as idéias e a experiência de A.A. começaram a serem usadas em diversos campos de trabalho e de pesquisa. O desenvolvimento que queriam forçar acabou ocorrendo por iniciativas próprias de membros da sociedade e não do que os alcoólicos pensavam em realizar.

7ª TRADIÇÃO

“Todos os grupos de A.A. deverão ser absolutamente auto-suficientes, rejeitando quaisquer doações de fora”.

Foi preciso também chegar a termos com o problema de dinheiro, que pode fazer muitas coisas boas, mas não existe mal que não possa causar. Depois de muitos tropeços, os membros de AA despertaram para o fato de que não precisavam de muito dinheiro. Sem as idéias grandiosas, não sobraram muitas coisas para pagar.

A Sétima Tradição é muito clara quando diz que todo grupo de A.A. deve se manter, negando-se a receber contribuições de fora. Nesta Tradição, vemos dois princípios fundamentais: a auto-suficiência, sinônimo de independência econômica, e a recusa em receber qualquer doação de pessoa não filiada à Irmandade. As contribuições externas dariam, certamente, o direito aos doadores de se intrometerem nas normas que conduzem a Irmandade. O velho ditado mostra bem esta realidade: “quem paga o músico escolhe a música que vai ser tocada”.

A existência de doações levou os custódios da Junta a analisar com profundidade e prudência o problema da aceitação ou não de doações vindas de fora. Escreveram então uma página memorável na história de A.A.: declararam que, por princípio, o A.A. deveria permanecer sempre pobre e a norma de procedimento deveria ser a de ter os recursos necessários para as despesas razoáveis de funcionamento e mais uma reserva prudente.

Com a autossuficiência, desenvolveu-se o princípio da igualdade entre os membros de A.A.. Tanto os companheiros de maior poder aquisitivo, quanto os mais modestos, do ponto de vista econômico, podem exercer qualquer encargo. E isso porque todos contribuem, de forma anônima, para que os compromissos e as despesas possam ser pagas. Ainda mais, essas contribuições também cobrem os custos relativos à presença de representantes do grupo junto aos órgãos de serviço, independentemente de esses representantes terem ou não condições econômicas para arcar com os custos ligados à atividade que exercem. De outra forma, somente os que tivessem maior poder

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aquisitivo poderiam arcar com os ônus de movimentação, hospedagem, etc ligadas a muitas atividades desenvolvidas pelo todo da Irmandade. Deste modo, a Irmandade se tornou ainda mais democrática.

Até mesmo estando desempregado, um membro do grupo poderá assumir encargos, pois as suas despesas em serviço serão custeadas pelo dinheiro de todos os membros que generosamente fazem doações. Oferecem com gratidão o seu tempo e também os recursos para que a irmandade possa se manter em ação.

O A.A. não tem dono nem protetores. Ninguém poderia querer assumir individualmente a responsabilidade de manter a Irmandade e de arcar com os custos ligados às atividade de A.A.. Todos os seus membros são igualmente responsáveis e a eles cabe assumir os custos e mostrar que espírito e matéria podem andar juntos oferecendo o suporte financeiro para o desenvolvimento espiritual dos companheiros de A.A.. Somos materialistas quando usamos os nossos recursos materiais egoisticamente, apenas para nós mesmos, mas quanto os usamos em benefício de outros, então o material ajuda o espiritual. Dinheiro e espiritualidade são os fundamentos da Sétima Tradição.

A autossuficiência decorre do desenvolvimento, entre os membros da Irmandade, do senso de responsabilidade que, por sua vez, é o resultado do processo de recuperação que leva à maturidade emocional. Bill W. afirmou que “Felizmente, as despesas de A.A. por pessoa são pequenas. Deixarmos de atendê-las seria fugir a uma responsabilidade que nos beneficia”.

8ª TRADIÇÃO

“Alcoólicos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, embora nossos centros de serviços possam contratar funcionários especializados”.

Isso significa que não haverá terapeutas profissionais na Irmandade. É dar de graça o que de graça se recebeu. Ficam separados, o dinheiro que resulta da atividade profissional, e a espiritualidade. O profissionalismo é válido, mas não dentro da Irmandade. Em todas as vezes que se tentou profissionalizar o 12º Passo, o propósito da Irmandade foi derrotado. Há tarefas a serem realizadas e é possível contratar profissionais para realizá-las, mas quando no tratamento cara a cara de um bêbado, aí a regra é jamais receber.

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A experiência de um alcoólico pode ser valiosa para o desempenho de muitas funções, como por exemplo, as ligadas à educação e à terapia e, nestes casos ele pode receber pelo trabalho realizado. É claro que não é válido usar o nome de A.A. com o propósito de obter publicidade ou de arrecadar dinheiro. Também, nestas situações, o anonimato deve ser preservado. Procedendo desta forma, não fica caracterizado o profissionalismo, o “ganhar dinheiro usando o A.A.”.

É preciso ter em mente que o A.A. não é uma sociedade fechada em que experiências e conhecimentos ficam em segredo, mas, se por um lado nunca deve ser paga a atividade de levar a mensagem, por outro, as pessoas que prestam serviços aos alcoólicos merecem ser pagas.

Ocorre que, muitas vezes, os profissionais de saúde que atuam em centros de recuperação são também membros de A.A.. Neste caso, a atividade é profissional. Os especialistas estão sujeitos ao cumprimento de horários e estão colocados dentro de uma hierarquia funcional e inseridos numa equipe de trabalho, além de ter que apresentar qualificações que implicam na feitura de cursos de especialização. De um modo inteiramente diverso, no grupo, as atividades são totalmente voluntárias. Também diferentemente, os pacientes nos centros de recuperação são submetidos a um rígido esquema disciplinar, que é compulsório, sendo que esses pacientes podem até ser desligados do tratamento em certas circunstâncias.

Em 1946, Bill W escreveu na Grapevine que nada impedia que um membro de AA fosse trabalhar como terapeuta remunerado, se tivesse qualificação para tal, desde que evitasse publicamente declarar-se filiado ao A.A. e que a clínica em que trabalhassem também evitasse declarações desse tipo para o público em geral, ficando claro que o A.A. não mantêm clínicas, não faz convênios, não avaliza nem condena qualquer tipo de tratamento. O problema não está no trabalho realizado, mas no respeito ao anonimato, como definido nas Décima-Primeira e Décima-Segunda Tradições.

Num artigo publicado na Grapevine em 1993, está escrito o seguinte: “... nós somos tipicamente alcoólicos nesta controvérsia, que tem seu lado irônico. Durante anos, tentamos despertar o interesse de médicos e hospitais para o Programa de Doze Passos, sem conseguir nada. No momento em que alguns deles começam a nos escutar e passam a se utilizar os Passos em seu trabalho, ficamos irados e passamos a agir como se Deus nos tivesse dado direitos exclusivos sobre eles. Na realidade, os Doze Passos não são propriedade de A.A..

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Eles podem ser livremente utilizados por qualquer pessoa que queira usá-los, inclusive médicos e conselheiros em alcoolismo”.

A questão pode ser tornada mais clara entendendo que, antes de tudo, devemos deixar a orientação profissional e tudo o mais que é externo à Irmandade no lugar em que devem ficar: fora de A.A..

Os membros de A.A. colaboram com os profissionais que se mostram receptivos à mensagem da Irmandade, desde que continuem fiéis aos seus princípios de anonimato e de autonomia.

9ª TRADIÇÃO

“A.A. jamais deverá organizar-se como tal; podemos, porém, criar juntas ou comitês de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços”.

O A.A., como um todo, jamais deverá ser organizado e isso significa que o A.A. nunca poderá ter uma direção organizada no governo.

Todas as formas de associação humana possuem regulamentos para os seus integrantes que impõem disciplina a seus membros. Exigem obediência a normas e regulamentos. A alguns de seus integrantes são delegados poderes para impor obediência, punir ou expulsar infratores. Tem-se aí um governo administrado por seres humanos. A.A. se constitui numa exceção a essa regra, pois não se adapta a padrões de governo. A Conferência, a Junta de Serviços Gerais e nem o Comitê do Grupo podem emitir diretrizes e fazê-las cumprir e, menos ainda, punir.

Mas há um fato sempre observado ao longo de muitos anos e que não pode ser desconsiderado: é o de que se cada membro de A.A. não puder, da melhor maneira que puder, seguir os 12 Passos sugeridos para a recuperarão, ele estará quase assinando a sua própria sentença de morte.

Embriaguez e desintegração não são penalidades impostas por nenhuma autoridade; são a conseqüência da não obediência aos princípios espirituais.

O mesmo ocorre com os grupos em relação as Doze Tradições - os grupos que se afastam das Tradições podem se desestruturar e acabar. Por isso, geralmente obedecem a princípios espirituais.

Cada membro de A.A. busca a própria sobriedade e os serviços procuram colocar a sobriedade ao alcance de todos que a queiram. O

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A.A. é uma sociedade sem organização, mas animada pelo espírito de serviço.

10ª TRADIÇÃO

“Alcoólicos Anônimos não opina sobre questões alheias à Irmandade; portanto, o nome de A.A. jamais deverá aparecer em controvérsias publicas”.

O resultado prático desta Tradição é que a Irmandade nunca foi dividida por polêmica de maior importância. Não se ouvem discussões sobre religião, política, reformas, etc. Não se discutem esses assuntos em A.A. e esse comportamento acabou se tornando uma forma de agir dos membros de A.A. tanto enquanto convivendo nos grupos de A.A. como quando fora deles. Sem dúvida, os membros são capazes de discutir, mas em momento certo, quando necessário e da maneira adequada e não por instinto de luta, pois que a luta resulta em destruição. Assim, as pessoas em A.A. se tornam mais amenas. Além do mais, as nossas diferenças religiosas, políticas, sociais, etc se tornam imperceptíveis diante do que se tem em comum, que é o problema do alcoolismo. Há até um dito muito interessante para quem ainda não vive esta realidade: você pensa que é diferente.

Em A.A. há um clima espiritual e os seus membros se tornam mais pacíficos, fazendo parte de uma grande e feliz família. Existem os velhos resmungões e os “fariseus” mal humorados, mas isso não muda o clima, além do fato de que eles são úteis para fazer crescer a tolerância em todos os membros, o que os prepara para trabalhar e viver juntos, em harmonia.

O A.A. não entra em controvérsia pública pois, assim, haveria sempre prejuízos para a Irmandade sem se pudesse avaliar as suas conseqüências. Os membros de A.A. têm o entendimento de que a sobrevivência de A.A. e a sua expansão são mais importantes de qualquer outra causa.

11ª TRADIÇÃO

“Nossas relações com o público baseiam-se na atração em vez de promoção; cabe-nos sempre preservar o anonimato pessoal na imprensa, no rádio e em filmes”.

O A.A. cresceu muito e, em grande parte, este crescimento se deve a uma legião de pessoas de boa vontade e amigas da Irmandade que, ao longo da sua existência, têm divulgado o A.A.. Uma boa parte

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desta divulgação é feita pelos escritórios de serviços aos quais são dirigidas solicitações de esclarecimento e ajuda, sendo que essas solicitações são feitas não só por alcoólicos e seus familiares, mas também por profissionais de saúde, por religiosos, por profissionais da mídia, etc.

Assim foi desde o início da existência da Irmandade, e isso levou ao desenvolvimento de uma política de relações públicas. Com o tempo e como resultado de erros e acertos, foi adotado o princípio da atração em vez da promoção. O resultado desta atitude foi muito interessante pois, ao contrário do que podia parecer, resultou em mais publicidade favorável ao A.A..

A Irmandade tinha que ser divulgada de alguma forma e os seus membros decidiram que isso deveria ser deixado para os seus amigos, que têm feito este trabalho surpreendentemente bem. É verdade que os profissionais da mídia freqüentemente se mostraram frustrados diante da insistência dos membros de A.A. em manter o anonimato. Custaram a entender essa posição, mas hoje compreendem o valor desta atitude. Desejava-se divulgar a entidade, mas não os seus membros, individualmente, e dessa posição resultou que os citados profissionais acabaram ficando satisfeitos e ainda mais amigos da Irmandade, acerca da qual têm falado com um grande entusiasmo.

Essa nova atitude é também o resultado de numerosas correspondências enviadas pelos Escritórios de Serviços em que explicam aos profissionais a política de relações públicas de A.A.

Outro fato que é preciso destacar é o de que a 11ª Tradição é mais do que uma política de relações públicas, pois que também se constitui num lembrete permanente de que a ambição pessoal não tem lugar em A.A. e que está nela implícito que cada membro dever ser guardião ativo da Irmandade em suas relação com o público em geral.

12ª TRADIÇÃO

“O anonimato é o alicerce espiritual das nossas tradições, lembrando-nos sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades”.

O anonimato é fundamental para a construção de um futuro promissor para a Irmandade. Sendo esquecido, abrir-se-ia a “Caixa de Pandora” e os espíritos do dinheiro, do poder e do prestígio estariam soltos e esses gênios malignos poderiam arruinar a Irmandade. Por isso,

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entender e aplicar o conteúdo desta tradição é fundamental. Ela é a chave da sobrevivência.

Na mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher a habitar a Terra. Tinha todos os atributos de beleza e bondade e foi dada a Epimeteu, irmão de Prometeu, que o havia advertido para nada aceitar do deus Zeus, pois este desejava contrabalançar a bênção do fogo que havia sido roubado dos deuses por Prometeu. Os deuses deram presentes a Pandora e, entre eles, estava uma caixa que nunca poderia ser aberta. Mas a curiosidade de Pandora prevaleceu e ela acabou abrindo a misteriosa caixa e delas saíram numerosas pragas para o corpo e tristezas para a mente. Apavorada, ela fechou a caixa, mas dentro dela ficou apenas a esperança, a única coisa boa que a caixa continha. A esperança permaneceu para conforto da humanidade nas suas desgraças.

Para manter o anonimato, é preciso fazer um sacrifício, pois temos que esquecer os anseios pessoais em favor do bem comum, que é o fundamento das Doze Tradições. Elas nasceram dos temores e resultaram em confiança em relação ao futuro. Para crescer e também alcançar os alcoólicos que ainda sofrem, a Irmandade não podia ser secreta, mas também não podia ser transformada em espetáculo de circo. Por outro lado, o ambiente do grupo tinha que ser seguro e a intimidade e as experiências pessoais relatadas nos depoimentos tinham que ser protegidas.

No início, os grupos queriam alcançar imediatamente tantos alcoólicos quanto fosse possível e uma boa maneira encontrada foi a realização de reuniões abertas aos amigos interessados e ao público de modo que pudessem constatar o que era a Irmandade. Seguiram-se os pedidos para realização de palestra em que a referencia a nomes completos e a fotos eram evitadas. Isso resultou numa onda de aprovação por parte do grande público. A solução era o anonimato.

O anonimato é a verdadeira humildade em ação e é a qualidade espiritual que está presente no modo de atração da Irmandade.

É interessante observar que aquilo que é secreto, o é por força de regulamento, enquanto que a característica do que é anônimo é a espontaneidade. No secreto há a exclusividade que leva à vaidade enquanto que no anonimato está a opção que resulta da humildade. A importância desta distinção que cria um modo de agir na vida está ligada ao Décimo-Segundo Passo que fala da prática destes princípios em todas as nossas atividades. Aponta para um comportamento anônimo, para um modo de vida muito especial.

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O anonimato tem sido enfocado do ponto de vista de se preservar o caráter confidencial do que é ouvido, para manter para si o conteúdo dos desabafos, para não comentar depoimentos, para não mascarar fofocas por trás de aparente ajuda.

Muito tem sido dito acerca dos prós e contras da abertura do anonimato para a família, para os profissionais de saúde, para os companheiros de trabalho etc, mas um outro aspecto muito importante é o que se refere ao comportamento, ao modo de ser e de viver do alcoólico em recuperação. Aí se chega à frase bíblica: “que a tua mão esquerda não saiba o que a direita faz” que traduz, sobretudo, num novo modo de viver.

Isso é muito importante porque é freqüente ouvirmos coisas que debaixo de uma aparência inofensiva, revelam um comportamento pouco humilde. Em aniversários se ouve falar: “eu estava aqui quando você chegou”. Isso pode significar que “lembro do dia em que você chegou”, mas também que “eu já estava aqui, antes de você”. De um modo ou de outro, muitos buscam se diferenciar por declarações ou atitudes. Sair de um anonimato completo. A vaidade, freqüentemente, escorrega por debaixo dos panos.

Tudo que se venha a acrescentar ao “meu nome é x e eu sou um alcoólatra em recuperação” traduz a intenção de ser diferente, de sair do anonimato, de dar vazão à vaidade. Qualquer detalhe a mais que se acrescente em relação à vida particular de cada um foge do que é importante, que é manter a unidade, foco principal das tradições e se afasta do único ponto de identidade que os alcoólicos têm entre si, que é o alcoolismo. É a identidade que os une. O que cada um é mais do que isso não contribui para a unidade. O que se acrescenta faz do depoente um alcoólatra não igual aos outros e representa um afastamento do comportamento de anônimo. Também relatar o quanto têm feito, quantos afilhados têm, que encargos foram desempenhados ou quantos grupos criaram traduz um desejo de reconhecimento por ter sido mais e, portanto diferente dos outros. O anonimato aponta para um programa de vida em si, enquanto que, buscá-lo é uma tarefa para toda a vida.

CONCEITO IV

Dr. Lais Marques da Silva

Ex-Custódio e Presidente da JUNAAB

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Através da estrutura da nossa Conferência, deveríamos manter em todos os níveis de responsabilidade um tradicional “Direito de Participação”, tomando cuidado para que a cada setor ou grupo de nossos servidores mundiais seja concedido um voto representativo em proporção correspondente à responsabilidade que cada um deve ter.

Para iniciar a exposição de um Conceito para Serviços Mundiais, no nosso caso, o Conceito IV, será necessário nos determos sobre o significado da palavra conceito. Aí é preciso que, pelo pensamento, possamos representar as características gerais daquilo que desejamos transmitir. Vemos então que estamos no mundo da abstração, das idéias. Teremos que definir, caracterizar por meio de palavras essas idéias e opiniões.

Estamos, portanto, no mundo da abstração, bem mais difícil de lidar. Enquanto que, no caso dos Passos e das Tradições, há idéias-síntese que dão clareza ao que se quer expor, como: “Os Passos são para o alcoólico viver e as Tradições são para a Irmandade viver” ou “os Passos ensinam a viver e as Tradições ensinam a conviver”, em relação aos Conceitos fica difícil condensar ou apresentar sínteses claras, como estas.

A idéia básica, existente no IV Conceito, é a da participação, entendida como ato ou efeito de participar, ou seja, de ter ou tomar parte, de associar-se pelo pensamento, pelo sentimento ou por meio de ação. A participação está relacionada às nossas necessidades espirituais e todos nós sentimos profundamente o desejo e a necessidade de tomar parte. Para isso, a Irmandade de Alcoólicos Anônimos foi idealizada como um grupamento humano, constituído por irmãos, irmanado. Temos como ideal comum, e mais importante, que a união espiritual dos membros de A.A. não permita o aparecimento de grupos de membros de primeira e de segunda classes e, para isso, entendemos que a ampla participação de todos os membros deva sempre ser assegurada.

O IV Conceito se constitui numa salvaguarda contra a autoridade absoluta, suprema. Isso porque, toda vez que se abre espaço para o aparecimento de uma autoridade absoluta, surge a tendência para um domínio excessivo, que se expande para todas as coisas, grandes e pequenas.

A experiência tem mostrado que nunca se pode colocar num grupo de pessoas toda a autoridade e em outro grupo toda a responsabilidade porque, sempre que isso ocorre, a harmonia

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verdadeira perde o espaço indispensável para existir e, sem ela, não há condições para viver uma vida feliz e pacífica. É aí que a participação se coloca como elemento essencial para a prevenção de situações de desgaste que contém no seu bojo o germe da desintegração, o agente que corrói a unidade. É preciso buscar sempre o equilíbrio entre autoridade e responsabilidade. Quem tem a responsabilidade por alguma coisa precisa de um grau de manobra que possibilite dar conta da responsabilidade que tem e esse poder de manobra precisa estar associado um grau de autoridade. Tudo na medida adequada, dentro da harmonia, fundamental ao bem-estar comum, à paz.

O princípio da participação faz com que nenhum grupo de membros seja colocado com autoridade absoluta sobre um outro, sendo que isso leva a uma forma incorporada de existir, entendida a palavra “incorporada” como um modo de fazer parte de um corpo. Acresce que, sendo esta característica acrescida do fato de não existir autoridade absoluta, o que resulta é uma forma horizontal de relacionamento e a inexistência de uma hierarquia, que é uma forma vertical de relacionamento comum nas instituições governamentais e, em especial, nas organizações militares.

Uma forma pela qual se manifesta o direito de participação é o direito de voto que todo membro de A.A. possui sendo que, no ato da votação, não há superiores nem inferiores.

O direito de participação é uma salvaguarda e é indispensável para evitar o mau uso e as asperezas causadas por uma autoridade suprema. Participar, por outro lado, implica em ajustar-se ao todo, ao corpo social e implica em aceitar uma saudável e necessária disciplina, pois que só assim teremos condições para nos tornarmos os “servidores de confiança” de que fala a Segunda Tradição de A.A., sem ter poderes para governar.

O ajustamento a um corpo social e a participação nas suas atividades tem uma importância fundamental para a recuperação do alcoólico e para uma significativa mudança no seu comportamento. Em primeiro lugar, o seu novo modo de ser o leva a uma forma de convivência inteiramente diferente da que tinha e que vai se tornando cada vez mais pacífica, em decorrência do crescimento espiritual que o convívio em A.A. proporciona. A participação no grupo social cria condições para uma troca de conhecimento e de experiências entre os membros de um grupo de A.A. que, por seu lado, leva a um acentuado enriquecimento de cada ser humano que, caracteristicamente, cresce espiritualmente no convívio com outros seres humanos.

É importante notar que, com o tempo, a participação evolui para uma condição mais rica e enriquecedora de relacionamento, que é a de

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cooperação. Aí já está presente a aceitação do outro, o reconhecimento da sua individualidade, do seu valor. Fica estabelecida uma forma de existir mais dinâmica e evoluída nos relacionamentos interpessoais que resulta em um ganho de dimensão humana significativo. Isso ocorre quando se passa para a cooperação porque o convívio entre seres humanos mostra que só coopera quem ama e só se ama quem coopera. Aí, amar o próximo, aceitar o outro como é e como irmão é de inestimável importância para o crescimento na dimensão humana, para o crescimento que todo membro de A.A. experimenta ao longo da sua convivência nos grupos.

De um ponto de partida aparentemente tão simples, de um singelo “Direito de Participação”, resulta um fato da maior importância para qualquer ser humano, que é crescer espiritualmente, ganhar dimensão humana, realizar-se dentro do seu projeto de vida, viver uma vida verdadeiramente humana e de continuo enriquecimento pessoal. Então, teremos todos a felicidade de desfrutar de uma serena sobriedade, de uma qualidade de vida que nos torna imensamente felizes em A.A. e é isso que vivenciamos intensamente em cada encontro de A.A. e por esta razão estamos hoje, aqui, vivendo as alegrias de um convívio de irmãos que se amam, que desfrutam de serena sobriedade.

CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Dr. Laís Marques da Silva, ex-Custódio e Presidente da JUNAAB.Palestra proferida por ocasião da XVI Convenção Nacional de Alcoólicos Anônimos – São Paulo, abril de 2003.VIDA ESPIRITUAL“Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual,... somos seres espirituais passando por uma experiência humana”.Teilhard de Chardin

É freqüente que as pessoas tenham a idéia errada de que a vida espiritual é alguma coisa diferente e que deva ser vivida em separado, num cantinho lá do céu, num ambiente etéreo e místico. Pensam também que o nosso dia a dia está ligado a uma outra realidade que não é lá estas coisas, se comparada com o que concebem como sendo a vida espiritual, além de muito mundana. É também comum pensar que, para ser uma pessoa espiritual, é preciso não dar importância à nossa vida do dia a dia e ir para uma outra dimensão inteiramente diferente, um reino especial. Separamos e dividimos o que é uno e isso acontece com freqüência. Ademais, a dimensão do que se entende por vida espiritual vai muito além da repetição inconsciente de um ritual ou de uma oração. Por vezes, nos damos conta do potencial que temos de crescimento, mas é preciso ter em

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mente que ele não acontece por si mesmo. Há caminhos a serem percorridos, programas e passos a nos orientar a fim de termos esse potencial realizado. É preciso estar conscientes do modo como agimos, de como nos relacionamos conosco, com o nosso corpo, com as pessoas que nos rodeiam porque tudo isso cria uma espécie de mundo, interior e exterior, dentro do qual vivemos. Ao evoluir nesses aspectos das nossas vidas, iremos criar condições para viver melhor e para crescer espiritualmente e, nesse ponto, estaremos optando pela liberdade ou pelo sofrimento. Desenvolver a dimensão espiritual é próprio da vida dos seres humanos.

Pode ser difícil andar nas nuvens ou caminhar sobre as águas, mas fazer exatamente isso sobre a terra tem-se mostrado um enorme desafio, uma tarefa que apresenta novas dificuldades a cada momento. Tornar-se um ser com um individualismo ameno e afável é, provavelmente, o milagre maior que podemos realizar, o objetivo maior que temos na vida. O grande milagre é tornar-se um ser espiritualizado, pois a vida a todos nós tem ensinado que uma pessoa que tenha uma mente poderosa, se não tiver um bom coração, este poder não será de qualquer valia e pode ainda ser desvantajoso. Para caminhar sobre a terra, cada indivíduo tem que partir do fato de que possui uma consciência e de que é um ser único no mundo. Nada e ninguém é igual e isso implica em que o ser humano é só, sente a sua solidão. Possui uma identidade única, é singular. Além de diferenciado no momento da concepção, vive em ambientes diferentes e se desenvolve de um modo que lhe é próprio. Tem que ser ele mesmo dentro do seu espaço de liberdade. O senso de autonomia e autodeterminação lhe traz a idéia de ser responsável por si mesmo, uma vez que é o capitão do seu barco e mestre do seu destino. Percebe que só pode afirmar as suas potencialidades concretizando a própria individualidade. Mas aí entra a idéia de limite, pois que se vai longe demais nesta linha de desenvolvimento, acaba se tornando um ser orgulhoso, degenerado e autodestrutivo. Há também o fato não menos real de que, como ser social, necessita das outras pessoas não só para sustento e companhia, mas também para encontrar significado e sentido para a sua própria vida. Assim, há duas realidades distintas e em oposição e ambas são reais. Chamamos a isso de paradoxo e é a partir dele que temos que crescer espiritualmente. O indivíduo é impulsionado para o desenvolvimento total das suas possibilidades, mas tem que reconhecer que é incompleto e, como tal, tem a sua fraqueza. Trabalha com a individuação de um lado e com a sua dependência, de outro. O desenvolvimento que se faz mais calcado em uma das vertentes do paradoxo desequilibra a equação. As oposições geram ou são a origem de conflitos, mas se os opostos forem unificados, não haverá tensão, conflito ou medo. O eu torna-se mestre de si mesmo e a vida pode vir a ser o que o indivíduo deseja. Surge a liberdade, o domínio e a unificação. O desenvolvimento espiritual permite encontrar um ponto de equilíbrio entre essas duas tendências. É esse desenvolvimento harmonioso que evita possíveis desvios. Se caminha pelo lado do individualismo, acentua a independência e a autossuficiência e aí, como não consegue ser autossuficiente nem independente completamente, é levado a falsificar, ocultando fraquezas e falhas. Tenta ser super-homem e controlar totalmente a sua vida. O individualismo, no entanto, leva ao isolamento social, à solidão que condena a viver um inferno existencial e, numa dimensão maior, à fragmentação da sociedade. Mais adiante, o indivíduo aprende que é natural e humano sentir ansiedade, depressão e abandono e percebe que é no convívio com os outros que pode compartilhar estes sentimentos sem medo ou culpa e ainda sem julgamento, se encontra o nível necessário de entendimento.

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A partir deste quadro simplificado e, sendo membro de A.A., o companheiro cresce espiritualmente e passa a desenvolver a ética de um individualismo suave. Por outro lado, a vida mostra que, para cultivar um bom coração, não é suficiente dizer a nós mesmo que devemos ser bons, pois dizer o que devemos ser, sentir ou fazer não nos faz viver deste modo, mas nos abarrota de “deverias”, que muitas vezes nos fazem sentir culpados porque nunca somos como pensamos que deveríamos ser. O que realmente é necessário, é transformar as nossas mentes e comportamentos aceitando um fato bem caracterizado pelo mito do dragão. Os mitos são uma maravilhosa fonte que nos ajudam a compreender os complexos e multidimensionais aspectos da natureza humana porque representam uma determinada realidade. O dragão é uma criatura mitológica que vem sendo usada por diferentes culturas há muitos séculos. Ele simboliza os seres humanos, já que são cobras com asas, vermes que podem voar e é isso que nós somos. Rastejamos como répteis, atolados na lama de pecaminosas tendências e preconceitos culturais resultantes da mente fechada. Mas, como pássaros ou anjos, podemos voar e transcender a realidade de réptil porque somos espírito e capazes de alcançar os céus. Esta é uma visão clara da nossa realidade. No mundo ocidental costumamos separar o físico do espiritual. A tecnologia tem desenvolvido conhecimentos que melhoram a nossa qualidade de vida e a nossa condição física pessoal e, particularmente, a nossa saúde. Mas vale dizer que a ênfase maior caberia ao lado espiritual, já que o espírito é entendido por nós como sendo eterno, imortal. Aqui fica uma importante pergunta: seria possível, com a tecnologia de guerra existente nos nossos dias, sobreviver dentro desta posição de manter separado o físico do espiritual? Tudo indica que, para salvarmos a nossa pele, teremos que salvar primeiro as nossas almas. Logo, desenvolvimento espiritual não é retórica abstrata e sem sentido prático. Não parece ser possível melhorar a confusão em que colocamos o mundo de hoje sem pensarmos em alguma espécie de cura espiritual. UM PROCESSO Feitas as colocações iniciais, passamos a observar e a apreciar o que acontece num grupo de A.A. e também a identificar o modo pelo qual ocorre o despertar e o crescimento espirituais, em alguns de seus aspectos. Dentre as muitas realidades com que se defronta um recém-chegado a um grupo de A.A., destaca-se a de que, embora fique claro que o objetivo principal seja evitar o primeiro gole e assumir que é só por hoje, ele se dá conta de que há uma mensagem não escrita, que está no ar, e que aponta para o fato de que não basta que apenas viva como um alcoólico sóbrio, em abstinência. Percebe que não é suficiente apenas estar sóbrio, mas que precisa ganhar condições de permanecer sóbrio. Ou seja, ele observa que os companheiros ali presentes não estão apenas sóbrios. Muitos permaneceram sóbrios por longo tempo e estão bem, compostos e felizes. Além do mais, são educados, afáveis, atenciosos e ainda exibem uma atitude de boa vontade e de abertura em relação aos demais companheiros. Tudo isso a indicar que houve um progresso na recuperação. Assim, descobre que há um caminho a ser percorrido, que há uma proposta para esse caminho e, mais adiante, vai ver que progredir ao longo deste caminho é bem mais complexo do que se manter sóbrio. É preciso construir novas referências, estabelecer prioridades, deixar brotar novas esperanças, livrar-se de antigos comportamentos. A porta aberta do grupo dá acesso a uma nova realidade, a um caminho iluminado por luz libertadora.

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COMUNICAÇÃO EM PROFUNDIDADE A seguir, observa que as reuniões do grupo são marcadas pela fala, são reuniões em que se fala, e que o silêncio por parte dos que ouvem, usualmente, é completo. Assim, aquele que fala encontra no silêncio dos outros uma atitude de respeito em relação ao companheiro que faz o seu depoimento, e que isso estabelece uma abertura, traduz uma disponibilidade da parte dos companheiros do grupo. O homem se realiza como pessoa através da comunicação; na comunicação o indivíduo sai de si em direção ao outro, passa a existir espiritualmente, ao mesmo tempo em que oferece a sua interioridade. Ganha a noção de si mesmo, da sua singularidade espiritual, e não só passa a ser gente, mas se realiza como gente quando se projeta sobre o outro. O isolamento faz crescer o sentimento de insegurança, o medo, mas o grupo responde à necessidade de superar a separação, de realizar a união, de transcender a vida individual, de entrar em sintonia com os outros. No grupo de A.A. todos se relacionam entre si, numa complexa interação. Estar fora dos relacionamentos é como estar fora da vida, e o homem sofre intensamente quando se sente isolado, fora do sistema de relações. Por outro lado, necessita recompor a sua auto-estima, ser aceito e que alguém diga: “Seja bem-vindo ao nosso grupo, você é a pessoa mais importante para nós”. A rejeição que sente, da parte dos que compõem o seu ambiente social, o faz sentir uma experiência de morte e, muitas vezes, o alcoólico nem é chamado pelo nome, apenas tem apelido. Mas o silêncio de quem escuta um depoimento transmite a quem o faz a seguinte mensagem: eu sei que você tem valor, que é apenas um doente, que é um ser humano como eu, que sofre de uma enfermidade devastadora e, por isso, você merece o meu silêncio, a minha atenção e o meu respeito. Você tem valor e merece a minha compreensão e eu sou capaz de compreender porque tenho a “qualidade” de ser um alcoólico e de ter sido batido pelo mesmo demônio, o alcoolismo. O silêncio permite uma interação, um relacionamento direto e profundo, de olho no olho. Possibilita que se estabeleça uma empatia, significando que se sente precisamente o sentimento e o significado do que está sendo relatado. Aquele que faz o depoimento encontra um lugar para os outros dentro do seu mundo pessoal, o que é indispensável para a sua própria realização existencial. Por outro lado, o silêncio permite que ele seja ouvido e compreendido e não apenas escutado. Neste ambiente, o companheiro pode abri-se inteiramente, baixar a guarda, pode estar presente de corpo e alma. O outro ganha existência real e a comunicação inter-humana, com todo o seu potencial, é restabelecida e, não menos importante, fica aberta a porta para o ganho da auto-estima. Compartilha porque tem a mesma necessidade e porque sabe que os companheiros da A.A. podem cicatrizar uns aos outros. A comunicação profunda, assim estabelecida, quebra o isolamento do alcoólico e integra os membros do grupo dentro de um todo. É estabelecida uma relação intensa e profunda entre os membros do grupo, ao contrário dos contactos sociais superficiais e usualmente ligados a interesses. O relacionamento estabelecido é gratuito porque aquele que faz o seu depoimento oferece a sua experiência pessoal e os demais companheiros, no seu silêncio respeitoso, a sua compreensão e o seu amor de irmão. O silêncio permite a manifestação da palavra, com todo o seu poder, e induz uma relação de reciprocidade, entendida como um mecanismo totalizador que envolve a todos os que estão no grupo. Estão imersos numa só atmosfera. Essa relação interpessoal profunda é o fundamento da existência de A.A.. É nela que

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se ganha dimensão humana e espiritualidade, e isso, numa época em que as pessoas se permitem esquecer do que é mais característico do homem, que é a sua humanidade. Estabelece-se um ambiente sagrado, vivem-se momentos mágicos e todos sentem essa realidade, sendo usual que os companheiros que fazem os seus depoimentos os encerrem dizendo: “Obrigado pelo silêncio de vocês”.

VALORES ESPIRITUAIS Identificada a existência de um caminho a ser percorrido, de um programa, e restabelecida a comunicação social numa dimensão muito especial, em algum momento deverá acontecer que um companheiro se aperceba de que uma lágrima rola em seu rosto no decurso de um depoimento. É que terá emergido nele um dos sentimentos mais poderosos que um ser humano pode sentir, que é a compaixão, e isso representa um importante marco no crescimento espiritual. A compaixão, entendida como a consciência profunda do sofrimento de uma outra pessoa associada ao desejo de aliviá-la, é a resposta espontânea de um coração que está aberto para os outros companheiros. Não há sentimento mais enriquecedor e mais denso do que a compaixão. Nem a nossa própria dor pesa tanto quanto a dor que sentimos com alguém e por alguém. Esta dor é amplificada pela nossa imaginação quando, mais tarde, dialogamos conosco e começamos a imaginar como deve ter sido grande o sofrimento do companheiro diante dos fatos que nos foram relatados no seu depoimento. Ocorre também que esta dor é prolongada por muitos ecos, que são as lembranças que conservamos e que voltam posteriormente à nossa consciência repetidas vezes. Ter compaixão não é ter pena. A pena coloca as pessoas em situação de superioridade. Compaixão é sofrer junto com quem sofre, caminhar com quem caminha, é atender as necessidades do outro, é não abandoná-lo na sua necessidade. Esse sentimento compõe a espiritualidade e aumenta a nossa dimensão humana. Abre um espaço para o outro dentro de nós e cria as condições para o surgimento do amor ao próximo. Embora não haja a recomendação para que amassem uns aos outros, este sentimento começa a fluir a partir desta experiência de grande intensidade emocional. O egocentrismo é amenizado, o egoísmo arrefece, o individualismo áspero se abranda sem que as pessoas tenham repetido oralmente qualquer intenção ou que tenham fixado um plano especial para isso. Essa expansão do sentir, do ser, ocorre dentro da atmosfera do grupo, que é marcada por uma comunicação feita em profundidade e no silêncio respeitoso dos que empaticamente escutam. Isso ocorre num ambiente de compreensão, de respeito e de não julgamento, marcado pela preservação do anonimato que garante, numa palavra, a existência de um ambiente seguro. As pessoas que não conhecem a Irmandade, mas sabem dos sofrimentos intensos da destruição, em todas as dimensões do ser, que ocorrem como decorrência do alcoolismo a um paciente, imaginam que o ambiente dos grupos seja marcado pela dor e pela tristeza. Mas lá estão pessoas vencedoras que, em vez de serem tristes, mostram grande riqueza espiritual e até alegria. É que a atmosfera está sempre impregnada pelo sentimento de compaixão e talvez, por isso, seja tão agradável estar no grupo e desfrutar de toda essa riqueza. Os depoimentos fazem surgir a compaixão e não a tristeza que viria com o sentimento de pena, que torna o outro menor. HONESTIDADE

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Estando na ativa, um dos passatempos preferidos pelos alcoólicos é abusar da boa-fé dos que estão à sua volta e, com o tempo, desenvolvem uma grande habilidade para manipular e acabam se tornam manipuladores deles mesmos. Este comportamento desonesto acabaria, com o tempo, por desintegrar as suas próprias vidas. A desonestidade torna-se um hábito, uma adição tão falaciosa e poderosa quanto o alcoolismo em si. No tempo do alcoolismo ativo, a desonestidade se tornara uma maneira de vida, do que decorre que permanece nas mentes e nas emoções por longo tempo. Acontece, no entanto, que ela dói; é como estar ferido por saber que não se é a pessoa que pensava ser e, ainda mais, por precisar beber. O alcoólico vive num mundo de ilusões difícil, para ele, de ser identificado como sendo diferente do mundo real, porque não se apercebe como um ser separado da realidade. Continua mentindo quando dizer a verdade seria mais fácil e conveniente. A verdade é que a vida na bebida exigia que fosse desonesto e para mudar isso leva tempo, além de exigir esforço e também o convívio com pessoas honestas. Estando sóbrio, o alcoólico começa a desfrutar a vida com os sentidos limpos, claros, e se torna capaz de apreciar as realidades do mundo tal como elas são, sem a cortina da substância química, da droga. Ao freqüentar um grupo, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer que o alcoólico irá fazer o seu primeiro depoimento, no qual irá oferece a sua experiência pessoal, sempre única. Nessa oportunidade, irá se defrontar com uma situação inteiramente nova na sua vida. Valorizado pelo silêncio respeitoso, pela atenção dos companheiros, ciente do anonimato, da compreensão confortadora oferecida pelos companheiros e de não ser julgado, ele começa a abrir o seu coração, só que dentro de uma circunstância muito particular: é que todos ali são alcoólicos e passaram por tudo o que ele passou e, os que não tiveram essas experiências, as conheceram a partir dos relatos de outros companheiros, por terem ouvido os seus depoimentos ao longo de anos. Nesta ocasião, surge um obstáculo intransponível que, num primeiro momento, pode não ser perfeitamente identificado, mas é percebido e que estará sempre lá. É que surge uma situação inteiramente nova: como manipular os companheiros que ouvem com atenção e respeito? Como abusar da sua boa-fé? Todos têm a “qualidade” de serem alcoólicos, todos já progrediram no caminho da verdade, no caminho das atitudes conscientes. Eles sabem tudo. Todos já tiveram, em algum grau, a alegria de viver uma realidade muito especial, a de que a verdade liberta. Tornaram-se, com o tempo, capazes de penetrar nas suas racionalizações e reações de defesa. Mas há muita culpa, muita vergonha, muito remorso e muita dor moral e todos estão atentos e em silêncio. Aí, cada um que faz o seu depoimento encontra o seu caminho diante desta condição irremovível, não contornável, de que a honestidade dos que ouvem ajuda o depoente a encontrar a sua própria honestidade. A honestidade de cada um induz a honestidade de todos. Também, neste aspecto particular, há uma reciprocidade porque aquele que faz o depoimento sente que, no convívio, na interação com os companheiros do grupo, ele não pode ser desonesto, nem com eles nem consigo mesmo. Os que estão presentes necessitam da sua honestidade e o depoente, da mesma forma, precisa da honestidade dos que ouvem o seu depoimento. A honestidade, estabelecida desta maneira, cresce e se expande para áreas cada vez maiores das suas vidas, resultando que, na sobriedade, a honestidade ultrapassa, de muito, a da primeira admissão e isso porque é tão impossível, como diz Platão na República, implantar a verdade na alma de um homem quanto dar a visão a um

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cego de nascença. A verdade dos que ouvem ajuda aquele que faz o depoimento a encontrar a sua verdade, progressivamente, por si mesmo, ao longo do tempo. Não há outro caminho possível e, se optar por continuar manipulando, encontrará, depois, algum companheiro que lhe dirá de maneira gentil e com palavras de amor doídas: “você esteve por inteiro dentro de um ”show”, poderia o você real se levantar? Para ser honesto, qual é o seu eu verdadeiro?” A aquiescência e o aceno de cabeça dos companheiros que estão à volta o fará encontrar o caminho para a resposta. É que os alcoólicos em recuperação conhecem bem as falácias da negação e do ocultamento. Esse momento é muito difícil, mas há muita energia e muito apoio na atmosfera do grupo, e isso faz a diferença. Como esses momentos usualmente são de grande sofrimento, recomenda-se ao alcoólico recém-chegado que freqüente, se possível, diariamente um grupo de A.A. pelo período de um mês. É preciso receber suporte, compreensão e solidariedade por parte dos companheiros de forma continuada. A honestidade marca o início da recuperação, quebra a negação e abre para a admissão da impotência diante do álcool e para o fato de que a vida do alcoólico se tornou inadministrável. Quem não for capaz de ser honesto consigo mesmo terá dificuldade de entrar no Programa de Recuperação de A.A.. A honestidade é indispensável para o crescimento espiritual e também para usufruir tudo que a sobriedade e a vida têm para dar. Para uma pessoa honesta, fica fácil continuar sendo honesta, enquanto que uma mentira sempre leva a uma outra mentira e o hábito da mentira faz do mentiroso um trapaceiro que sempre tem que proteger e preservar a mentira. Pelo contrário, a dedicação à verdade leva a uma vida de honestidade e as pessoas honestas vivem como que ao ar livre e, pela coragem de assim viver, se tornam livres também do medo. A verdade, como fundamento da libertação, tem que ser total, inteira. O mito de Orestes desvenda aspectos complexos da natureza humana em relação ao poder libertador da honestidade. O mito diz que Agamenon, guerreiro grego e pai de Orestes, que participara da Guerra de Tróia, ao retornar à pátria, vitorioso, foi assassinado pela sua mulher Clitemnestra e pelo seu amante, Egisto. Este fato colocou Orestes num beco sem saída. A maior obrigação de um grego era vingar seu pai em caso de assassinato mas, por outro lado, a coisa mais abominável que um jovem poderia fazer era assassinar a sua mãe. Orestes decidiu matar a mãe, foi condenado e os deuses decidiram que as Fúrias, que eram deidades vingadoras na mitologia grega, e em número de três, iriam rodear Orestes tagarelando culpas nos seus ouvidos e causando alucinações que o levariam à loucura. Por anos, as Fúrias o perseguiram até que Orestes resolveu pedir aos deuses que o aliviassem da pena. Houve um novo julgamento em que o deus Apolo foi seu defensor, e nele mostrou que Orestes não tivera nenhuma possibilidade de uma outra escolha que não as que lhe haviam sido impostas e, por isso, não podia ser considerado culpado. Os deuses do Olimpo resolveram então absolver Orestes que, neste exato momento, e para espanto de todos, se opôs a Apolo dizendo que se achava culpado, pois que não tinham sido os deuses e sim ele mesmo que matara a sua mãe, com as suas próprias mãos. Nunca antes outro ser humano havia colocado a verdade dos fatos de tal forma que lhe fosse tão adversa, especialmente depois de haver sido absolvido. Diante disso, os deuses decidiram manter a suspensão da pena e as Fúrias foram substituídas pelas Eumênides, também outras três deidades da mitologia grega, que eram as “portadoras da graça”. Eram, pelo contrário, vozes de sabedoria, dos espíritos ligados à Terra e associados à fertilidade, tendo também funções

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sociais e morais. O mito mostra que a verdade, levada ao extremo, foi capaz de transformar a doença mental em saúde e o preço foi a verdade a qualquer custo. O programa de recuperação de A.A. nos mostra que o caminho da verdade tem que ser percorrido continuamente. É uma busca, um trabalho para toda a vida porque meia verdade ainda é uma mentira. Por outro lado, embora a verdade tenha que ser total e completa, conforta a lembrança de uns pensamentos de A.A. que dizem que se deve preferir o “progresso e não a perfeição” e que se deve “ir de vagar, mas ir”. É preciso ver clara e diretamente a verdade da nossa experiência a cada momento vivido, estar atento, estar consciente. De outra forma, a maior parte da nossa vida é conduzida por um piloto automático que funciona na base da ganância, do medo, da agressão, da busca de segurança, de afeição, de poder, de sexo, de riqueza, de prazer e de fama. Se vivermos agindo de modo a causar sofrimentos para nós e para os que nos cercam, é impossível que a mente se torne serena e centrada como é também impossível abrir o coração. A concentração e a sabedoria se desenvolvem rapidamente na mente baseada na generosidade e na verdade. Por outro lado, não podemos cair numa historinha que ouvi contar, chamada de “A Caverna da Verdade”. Sabendo da existência dessa caverna, algumas pessoas decidiram conhecê-la. Fizeram uma longa viagem e, finalmente, ao chegarem à entrada, encontraram um guarda e perguntaram se aquela era a Caverna da Verdade, ao que o ele respondeu que sim. Perguntaram se podiam entrar e ele respondeu questionando o quão profundamente eles queriam ir caverna adentro. Conversaram entre si e retornaram dizendo que gostariam de entrar na caverna, mas só o suficiente para dizer que tinham estado lá. Essa história vem à lembrança quando resolvemos desenvolver uma maneira de vida que requer uma honestidade total. É preciso que não se queira ser honesto apenas na medida necessária para dizer que apenas visitamos a verdade e a honestidade. Temos que ir até o fundo, na caverna, para crescermos na honestidade. Uma outra dificuldade encontrada nessa busca é o medo das conseqüências e da dor que a honestidade pode trazer. Mas, ao compartilhar as suas experiências pessoais no grupo, o alcoólico vai chegar à conclusão de que a desonestidade é ainda mais dolorosa e perigosa. As conseqüências, a curto prazo, de ser honesto são melhores do que as de continuar na desonestidade e é importante destacar que os benefícios que resultam da honestidade serão colhidos logo em seguida. Até aqui o foco foi colocado sobre o presente e o passado. Mais adiante, na recuperação, a honestidade vai deixar claro que a vida do companheiro tem propósito e sentido, que pode ser útil aos outros, que passa a fazer a diferença e que, se não significa nada para muita gente, torna-se muito importante para os companheiros do seu grupo e para ele próprio. E como ser honesto? É não ter a intenção de enganar, nem a si nem os outros e nem o Poder Superior. É como parar de beber, é parar. Não há alternativas para essas situações. Cabe aqui uma lembrança: é preciso ir com cuidado e ter paciência neste caminho porque ser brutalmente honesto pode ser mais brutal do que honesto. Finalizando, vimos que o outro, agora, não só existe e ocupa um espaço no interior de cada um companheiro, mas que também é percebido como de fundamental importância para progredir na recuperação, para encontrar a verdade da vida vivida em comunidade e, por isso, enriquecida. Para alcançar um novo equilíbrio, um grau de harmonia indispensável à paz interior e os outros também são indispensáveis para encontrar a honestidade. A TRANSFORMAÇÃO COPERNICANA DO EU

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O ideal superior, livremente escolhido e assumido, de manter as portas do grupo abertas para poder estender a mão àquele que ainda sofre nas garras do alcoolismo e de levar a mensagem de A.A. faz com que os membros do grupo cooperem entre si e, com essa atitude, favoreçam o aparecimento de um clima de entendimento e de harmonia, do qual resulta que o comportamento dos membros do grupo, como um todo, se torna mais social. Vale, neste ponto, enfatizar que a harmonia e a sociabilidade eram tudo o que não ocorria com o alcoólico no tempo da ativa. No grupo, desenvolvem a capacidade de acolher, de serem solidários e cooperativos, de conviver com o diferente, com o outro. Ao cooperar, o companheiro aprende a amar e ama porque coopera com os membros do grupo para alcançar este importante objetivo. Caminha para a solidariedade deixando para trás de si, muitas vezes, a indiferença de um orgulhoso individualismo. O amor é a conseqüência natural da cooperação com os demais membros do grupo e uma decorrência dessa cooperação. Amar o próximo é algo próprio do ser humano, é manifestação do seu poder de se relacionar com o mundo. Dentro desse clima, o grupo passa a desempenhar o papel de um equipamento coletivo no qual o alcoólico se desloca do egocentrismo e do individualismo para o sociocentrismo. Vivendo nesse ambiente e participando dessa dinâmica, o membro do grupo caminha para uma ampla e completa cooperação e é na socialização que ele se torna mais homem e mais humano. O homem só pode se realizar e ser feliz em ligação e solidariedade com os seus semelhantes. Em Alcoólicos Anônimos, o alcoólico deixa de ser o centro dos seus próprios interesses e um outro companheiro passa a se constituir num novo pólo mobilizador dos seus esforços, fora de si mesmo, e que vai mudar a sua maneira de se sentir e de ver o mundo que o cerca. O Décimo-Segundo Passo é mais do que uma invocação a se amarem uns aos outros. A sua prática se torna a própria instrumentalização do amor ao próximo. Representa um forte estímulo para que se desenvolva o sentimento de amor ao próximo de modo objetivo, real e eficaz. É como um exercício que desenvolve e fortalece o amor ao próximo, do mesmo modo que o exercício físico desenvolve e fortalece o corpo. O companheiro, participando da vida do seu grupo, evolui na arte de viver e nela ele é, ao mesmo tempo, o artista e o objeto da sua arte, o escultor e o mármore, o médico e o paciente. Em tempos passados, existiu um astrônomo chamado Ptolomeu que dizia que a Terra estava no centro do universo e que os astros giravam à sua volta. Isso era muito claro e bastava observar o céu. Muito tempo depois, um outro cientista e astrônomo, Copérnico, descobriu que a verdade era bem diferente, pois que os astros realmente não giravam em torno da Terra e sim do Sol. A Terra deixou de ser o centro e o verdadeiro centro dos movimentos passou a ser o Sol. Por estranho que possa parecer, algo semelhante acontece com o alcoólico no convívio com os membros do seu grupo. Ao praticar o 12º Passo, o alcoólico deixa de ser o centro e o irmão que ainda sofre passa a ser o novo pólo em torno do qual giram a sua motivação e os seus esforços, o que leva a uma profunda modificação nos seus interesses e na sua conduta. Essa mudança traz consigo o deslocamento do egoísmo para uma nova condição, ditada pelo amor ao próximo, que ocorre graças à riqueza do 12º Passo. O Terceiro Legado é uma dádiva no caminho de recuperação do alcoólico.

RESPONSABILIDADE AUTO-ATRIBUÍDA O fato de assumir o ideal maior de manter as portas abertas e de levar a mensagem de A.A. aos que ainda sofrem coloca a Irmandade em ação, leva aos

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serviços. Cria a necessidade imperiosa de responder a um ideal assumido, ou seja, conduz à responsabilidade porque torna o membro do grupo capaz de dar uma resposta racional a uma atitude racional, feita tanto a si mesmo quanto aos outros companheiros, e é isso que o torna responsável, um indivíduo moral. Sabiamente, este entendimento faz com que os companheiros sintam-se responsáveis e assumam individualmente, de per si, a execução dos serviços. Aí está a qualidade de ser ela auto-atribuída. Se fosse imposta por alguém ou por alguma norma, poderia ser rejeitada ou não cumprida, mas como é auto-atribuída e como existe até uma importante e fundamental declaração de responsabilidade que costumeiramente é feita pelos presentes a uma reunião de grupo, esta responsabilidade se torna real e tanto é assim que os milhares de grupos existentes em todo mundo são sustentados pelas suas próprias contribuições.

Como decorrência, cada membro de A.A. irá, com o tempo e na medida do seu progresso ao longo do programa de recuperação, se sentindo crescentemente responsável. Declarar-se e sentir-se responsável representa um notável ganho espiritual. No entanto, há algo mais neste caminho, que é a contribuição que se faz na sacola. Aí não é só dizer ou assumir, mas fazer. O ato da doação torna-se um exercício, um ato real que é feito com as próprias mãos e, mais importante, um ato de vontade. Atua da mesma maneira que a ginástica age sobre o corpo; é uma ginástica da responsabilidade, que fortalece a vontade e muda o comportamento ao longo do tempo.

Um outro aspecto de grande importância que é oportuno destacar no que respeita a contribuição na sacola é que não há o estabelecimento de normas ou critérios quanto ao valor da contribuição. Qualquer forma de imposição de valores, ou até mesmo uma simples sugestão, tiraria o grande benefício que recebe aquele que faz a contribuição. É que, se a ordem ou sugestão viesse de fora, o ato deixaria de ser a decorrência de uma decisão pessoal, que parte da vontade livre de quem faz a contribuição. Como tal, deixaria de ter conteúdo próprio, de ser ato de responsabilidade tomado livremente a partir da própria consciência, de entender que precisa sentir gratidão pelo que recebeu, que é ato de amor pelo irmão que ainda sofre e, também, de ter a característica de ser um ato de poder pessoal, que contribui para desenvolver a auto-estima. Fica a sensação de que não pode tudo nem que não pode nada, mas que tem poder em relação a algumas coisas. Só dessa forma, o ato de contribuição se torna o exercício vivo e prático de responsabilidade, da capacidade de responder e se transforma em ginástica da responsabilidade, de exercício que a fortalece.

Vale lembrar que um dos problemas de vida no tempo do alcoolismo ativo era a irresponsabilidade e não se pode avaliar o número de vezes que um alcoólico, na ativa, foi chamado de irresponsável. O contraste de comportamento acentua o enorme ganho espiritual e a forma de auto-atribuição da responsabilidade não poderia ser melhor porque, desta maneira, funciona. Há ainda um outro desdobramento não menos importante. Tudo isso poderia ser comprometido se o grupo aceitasse contribuições de fora, de outras pessoas que não fossem membros do grupo. Todo esse ganho espiritual estaria comprometido, todo este mecanismo maravilhoso de construção de uma personalidade sadia seria anulado. Mas não se aceitam contribuições financeiras

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ou aquelas que possam resultar em ganho financeiro e fica assim assegurada a evolução espiritual. Pode-se identificar, dentro deste ganho espiritual, um importante deslocamento em direção à revolução copernicana do eu, à atenuação de egos inflados e do individualismo áspero. OPÇÃO POR SER E NÃO POR TER O recolhimento de recursos financeiros poderia levar a sérios problemas, a conflitos insuperáveis. Alguém, muito importante no mundo dos negócios e que conhecia muito de dinheiro, advertiu, no início da vida da Irmandade, para o fato de que o dinheiro poderia estragar aquele movimento. Mas o perigo foi superado na opção feita pela pobreza, por querer ser e não por ter. Despreocupados com os problemas do ter, os membros de A.A. têm o espaço aberto para desenvolver o ser. Estão conscientes de que a nossa importância, como seres humanos, não se origina a partir das coisas que apenas possuímos de modo tão passageiro. Querer ter mais, possuir mais não significa ser mais. Como não há limite para a vontade de possuir mais, o desejo de ter mais leva ao egoísmo e ao individualismo que, por sua vez, não conduz à harmonia nem à paz. Sabemos que a cobiça e a paz se excluem mutuamente. O desejo de querer ter sempre mais leva ao antagonismo entre as pessoas. Uma sociedade, baseada predominantemente no ter, é uma sociedade doente, constituída por pessoas doentes. Não obstante, no mundo que nos cerca, o objetivo maior das pessoas é ter, de tal forma que se pensa que se uma pessoa nada tem, nada é. Mas o sentido da vida é ser muito e não ter muito. É necessário, isto sim, ter o suficiente para poder ser. Quando uma associação humana como o A.A. se volta para o modo ser de existência, ela faz com que as pessoas dos alcoólicos sejam o centro das atenções, dos esforços e das atitudes, em oposição ao modo ter em que tudo se volta para as coisas. No A.A., o importante é a pessoa do doente alcoólico e esse objetivo não se desloca para o desejo tão generalizado de ter porque a Irmandade optou por ser pobre e se programou para ter apenas o que é essencial ao seu funcionamento e, com isso, evita que o foco das suas atenções se desloque das pessoas para as coisas. O desejo de ter é tão generalizado que as pessoas chegam a se orgulhar de ter um horrível reumatismo, de ter um grande problema e vemos até que alguns dos nossos desejam ter a maior história de desgraças para relatar. O desejo de ter é de tal forma generalizado, tão enraizado na mente das pessoas, que elas querem ter até coisas que são abstratas e, assim, dizem que têm uma idéia e não que pensam ou que concebem, que têm amor e não que amam, que têm ódio e não que odeiam, que têm desejo e não que desejam, que têm saudade e não que sentem falta, que têm vontade e não que querem; isto é, preferem usar mais o substantivo, que define a coisa, do que o verbo. É difícil que as pessoas entendam que há um outro modo de vida, um modo voltado para ser, que é o modo de Alcoólicos Anônimos. Em A.A., os seus membros procuram ser: dignos, honestos, fraternos, bons companheiros, compreensivos e amáveis, bons pais, bons amigos, bons filhos, bons cônjuges, etc., representando tudo isso um ganho espiritual e um novo potencial de desenvolvimento. Os modos de ter e de ser caracterizam dois tipos diferentes de comportamento, de pessoas que têm maneiras diversas de sentir, de pensar e de agir. No modo ter, as pessoas querem possuir tudo e todos enquanto que o modo ser traduz vitalidade e força espiritual que leva a um relacionamento amoroso e pacífico.

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Com vitalidade e força, o modo ser traduz-se em atividade, processo, movimento. Ser é vida, nascimento, renovação, fluidez, criatividade. Ser quer dizer mudança e transformação para melhor porque mudança e crescimento são qualidades do processo, daquilo que tem vida, e o Programa de Recuperação é todo de crescimento espiritual, é todo um processo de mudança interior, de reformulação de vida, que encontra no modo ser do grupo o ambiente ideal para o pleno desenvolvimento dos membros de A.A..

CONHECE-TE A TI MESMO O Programa de Recuperação de A.A. é constituído por Doze Passos, quase todos voltados para o autoconhecimento. Ao praticar esses passos, o membro de A.A. inicia uma jornada para dentro de si mesmo que lhe dará valor e grandeza espiritual, além de melhorar a única parte do mundo que depende só de nós, que somos nós mesmos. Praticar os passos representa um esforço que os membros de A.A. realizam para ter um melhor conhecimento de si mesmos. É comum observarmos que as pessoas dediquem seus esforços para conhecer as coisas do mundo e pouco ou nenhum para conhecer a si mesmos. Mas sempre e, em primeiro lugar, o homem precisa saber sobre si mesmo e responder à pergunta: quem sou eu? Em Alcoólicos Anônimos, a jornada rumo ao interior começa logo no Primeiro Passo, quando o companheiro reconhece e admite a sua impotência perante o álcool e identifica a perda do domínio em relação à sua vida. No Segundo Passo, ele encontra o Poder Superior dentro de si mesmo, encontra o sopro divino, a força criadora que deu origem à sua própria existência. Identifica no Terceiro Passo o enorme poder desta Força que o criou e que, ao mesmo tempo, está no seu interior. Tudo acontece como está escrito: “Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremendal de lama, colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”. No Quarto Passo esmiúçam as suas entranhas cuidadosamente e identificam as origens das suas culpas e vergonhas. O Quinto Passo leva ao conhecimento, a ter consciência de toda a sua trajetória de vida e com ele conhece a natureza exata das suas falhas. Nos Sexto e Sétimo Passos, o membro de Alcoólicos Anônimos entra em comunhão com aquela força que lhe foi dada como herança, a herança de si mesmo, dada pelo Criador. Ao praticar o Oitavo Passo, o companheiro dá início à solução de um grande número de problemas, começa a se harmonizar com o mundo exterior e consigo mesmo e a desfrutar de uma grande paz. Num plano mais elevado e dispondo de maior lucidez e de discernimento, aprofunda o conhecimento de si mesmo e, por último, estreita o seu contacto com o Poder Superior nos Décimo e Décimo Primeiro Passos. Enquanto os membros de Alcoólicos Anônimos estiverem praticando o programa de recuperação, eles serão sempre seres humanos voltados para o conhecimento e para a conquista de si mesmos. Caminham em direção aos seus interiores e, no fim das suas jornadas, encontrarão a subjetividade, encontrar-se-ão como sendo seres únicos na Criação, com valor e conteúdo interior que darão sentido às suas vidas. Por último, perceberão que são um fim em si mesmo e que têm espírito próprio. O programa de recuperação está voltado para a descoberta do mundo interior, para o encontro da espiritualidade, para a solução dos problemas mais íntimos, para a percepção do próprio valor e para o encontro da subjetividade. Uma das maneiras de se evitar a dor é apagar a consciência e aí uma boa solução é tomar uma anestesia ou usar drogas psicoativas. Mas embora a consciência seja a causa da dor, ela também é a nossa salvação porque a saída

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do problema da dor se faz pelo processo de nos tornarmos crescentemente conscientes, e isso é o que ocorre ao longo do caminho sugerido pelo Programa de Recuperação.

HUMILDADE Por último, vamos enfocar um atributo que é absolutamente indispensável à recuperação, a humildade. Ela está presente em cada Passo do Programa de Recuperação, está no fundamento de todo o progresso alcançado ao longo do caminho percorrido em direção à recuperação. Para entender melhor o significado da palavra, consultamos o dicionário e vimos que humildade é a qualidade de ser modesto ou respeitoso e modesto é não ter ou expressar uma opinião muito elevada acerca das suas próprias realizações ou habilidades; não ser exibido, arrogante ou pretensioso. Neste aspecto da evolução espiritual, vamos nos deparar com uma realidade que nos levará, para o seu estudo, a um modo diferente de abordagem. Só é possível enxergar a partir de um determinado ângulo. É preciso abordar o assunto a partir de uma ótica própria, a da humildade. Pela sua importância, este é um tema freqüentemente abordado em reuniões de estudo porque sabemos que representa uma pré-condição para o crescimento indispensável, não só para manter sóbrio o alcoólico mas também para que possa progredir na sua recuperação. Por outro lado, é um tema que se tem mostrado difícil de abordar. É que há uma realidade que precisamos considerar. Neste momento, optei por escrever algo do que venho aprendendo durante anos e posso escrever agora porque tenho todas as condições para isso. Mas não posso querer que alguém vá ler o que escrevo. De um lado, eu posso optar por usar os meios necessários para escrever, mas de outro, posso apenas e tão somente procurar uma orientação, uma direção, um contexto que, espero, possa levar as pessoas a lerem o que escrevo, mas não mais do que isso. Posso escrever, mas não posso querer que alguém leia o que escrevo, posso continuar escrevendo agora, mas não posso querer que alguém continue lendo. Humildade é outra coisa que o alcoólico não pode querer, como quero escrever porque tenho os meios. Ele pode não ingerir o primeiro gole, ir a uma reunião de grupo ou trabalhar os Passos do Programa. De outro modo, como sem esforço pego a caneta, ele pode fazer a coisa fácil de pegar o telefone para falar com o padrinho ou pegar o carro para ir ao grupo, mas o que ocorre quase sempre é que acaba indo comprar bebida. Os dois modos de agir são profundamente diferentes. Da mesma forma, posso desejar conhecimento, mas não sabedoria, submissão, mas não humildade; autoafirmação, mas não coragem; proximidade física, mas não intimidade emocional. O fato é que podemos querer e ter algumas coisas, mas outras ficam fora da nossa vontade e podem acontecer ou não. Sobriedade, sabedoria, humildade, coragem e amor não são objetos e o que podemos fazer é optar por nos movermos em direção a elas. Como vemos, a humildade está nesta categoria. Ela não pode ser comprada e também não se pode decidir ter. É conseguida indiretamente ao trabalhar os Passos. Somos limitados porque somos humanos e por não haver absolutos e nem ilimitados no nosso poder humano é que o A.A. aconselha que devemos procurar “progresso e não perfeição”. Assim, os companheiros irão progredindo e se tornando crescentemente humildes. O alcoólico é como a criança a quem chamamos de reizinho. Quer porque quer e quando quer; o mundo tem que suprir as suas necessidades. Daí o

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comportamento grandioso. Costumam pagar a conta de quem não conhecem e dão presentes estapafúrdios. A recuperação depende basicamente de assumir atitude humilde e de aceitar a sua impotência diante do álcool e também de admitir que perdeu a capacidade de governar a sua vida. Embora geralmente seja menos visível, costuma também existir uma baixa auto-estima, que se identifica no comportamento que oscila entre posso tudo e não posso nada, mas sempre achando que é diferente. No trabalho com os 12 Passos, o alcoólico desenvolve um senso mais profundo e seguro de auto-estima. Embora os alcoólicos relutem em admitir que necessita de ajuda, em aceitar que o Poder Superior possa devolver a sanidade às suas vidas, essa é uma atitude de humildade indispensável para o progresso espiritual e os fazem reconhecer que tanto são únicos como comuns porque compartilham de todas as coisas que são importantes com o resto da humanidade. Também a 12ª Tradição os relembra para colocar os princípios acima das personalidades, e essa é mais uma lição de humildade. Adiante, estando dispostos a aprender, os alcoólicos vão admitir que necessitam da ajuda dos outros para iniciar a sua recuperação e aprender com esses outros a crescerem na sobriedade. Não podem crescer sozinhos e, por outro lado, ninguém pode fazer isso por eles. A aceitação das conseqüências das suas ações ajuda a perceber a relação de causa e efeito que rege a vida. Aqui, já estão uns primeiros passos e a humildade trabalha entre os dois extremos de comportamento do alcoólico. Os outros, em algum momento, passarão a existir no seu interior e, depois, o companheiro verá que eles continuarão sendo necessários ao longo da recuperação. Freqüentar reuniões, ler a literatura e compartilhar os seus problemas com o padrinho são de grande valia para se manter sóbrio e também para crescer na humildade. Por outro lado, humildade e humor estão relacionados. O A.A. lembra: “não se leve tanto a sério”. Os companheiros do grupo, às vezes, furam os balões da grandiosidade de um companheiro e, em outras ocasiões, os tiram das profundezas da autopiedade. Isso os faz progredir no caminho da humildade. Rir do passado não significa ter uma atitude irresponsável, mas apenas ver em perspectiva e perceber que as suas ações, pensamentos e sentimentos não estão no centro do universo. Além do mais, tudo isso ajuda a tirar o foco de cima do álcool. Afinal, ninguém, estando bem, resolve ir para o A.A.. É preciso reconhecer que essa atitude é tomada a partir de uma vida de dor, medo, frustração e raiva. Com o tempo, os alcoólicos em recuperação se dão conta de que estão menos autocentrados, de que as suas vidas estão enriquecidas e a sobriedade é percebida como sendo compensadora. A vida passa a ser organizada também em torno do que podem fazer pelos outros e passam a compartilhar com eles o que têm recebido. Isso já significa o despertar da humildade. A humildade é também buscada quando resolvem ter a gratidão como um modo de vida e isso porque os ajuda a ver a vida a partir de uma perspectiva diferente. Uma boa maneira de desenvolver este sentimento é anotar todas as coisas em relação às quais devem ser gratos no decurso de um dia. Passam a reconhecer o que lhes foi dado e se importam menos com o que realizam. Um outro modo é desenvolver o hábito da admiração. Admirar o por do sol, o mar, a chuva, etc, porque os tira de dentro de si mesmos de uma maneira sadia. Os serviços realizados no grupo também ajudam a desenvolver a humildade. Ouvir e compartilhar leva a uma saudável e feliz sobriedade. Com a humildade surge o agradecimento, que é a resposta natural à generosidade com que os alcoólicos são recebidos no grupo. É um sentimento profundo e, estando agradecidos, se

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doam aos outros, de tudo resultando a amizade, o amor e, numa palavra, a solidariedade. Os que conquistaram um estágio mais avançado de crescimento espiritual, uma maior consciência, são possuídos por uma feliz humildade. Conscientes da sua ligação com um Poder Superior, têm o grande desejo de que “seja feita a Vossa vontade – fazei de mim o Vosso instrumento”.

SER SANTO Muitas vezes ouvi companheiros dizerem que se fossem seguir os princípios de A.A. se tornariam santos e, por causa disto, não se empenham tanto no Programa de Recuperação. Mas, ao admitirem que “um Deus amantíssimo Se manifesta na nossa consciência coletiva” e, portanto, que está entre eles, no convívio enriquecedor de verdadeiros irmãos, é inevitável assumir que estão crescendo em direção à divindade. Esta é uma idéia muito simples, mas também muito exigente. Se podem alcançar a divindade, então terão que cuidar do crescimento espiritual, buscar níveis progressivamente mais altos de consciência e de atividade amorosa. Assim, o trabalho nunca estará feito, acabado. O crescimento espiritual é um anseio para toda a vida, além do que, é também um caminho trabalhoso, que exige esforço. Talvez esta seja uma desculpa para explicar as dificuldades que encontram ao praticar os Passos porque elas ocorrem naturalmente, uma vez que é preciso coragem, determinação, empenho, constância e coração forte e não é sempre que encontramos pessoas com estes atributos. Entendo também que nascemos para ser santos e o problema é que não conseguimos realizar todo o potencial que temos dentro de nós nem, usualmente, ir tão longe no caminho que nos é sugerido pelo A.A.. No entanto, no meu julgamento, encontrei, ao longo dos mais 30 anos de convívio com membros de A.A., alguns companheiros que penso que são santos. São pessoas maravilhosas, que irradiam uma paz muito grande e possuem uma riqueza interior deslumbrante. Muitos se constituem em figuras exemplares. São excelentes em virtudes e em santidade. São luzes que guiam mais pelo exemplo que pelas palavras. Com os seus depoimentos, estimulam a sermos mais fraternos, termos mais compaixão, sermos mais humanos e espirituais. Tenho desfrutado de grande felicidade na companhia deles. Para mim, são santos e as suas atitudes têm a pureza, a retidão e a reverência como fundamento.

AS INCERTEZAS E OS QUESTIONAMENTOS Até aqui, as minhas certezas. O que vi e ouvi. O meu entendimento. Não a partir de uma visão idealizada, mas sim a partir da constatação da existência de um ideal perfeitamente realizável e, muitas vezes, realizado. Um caminho que, realmente, está aberto e posto como opção: de percorrer ou não ou até o ponto que se consiga ou deseje alcançar. Fica a idéia de busca a ser empreendida ao longo de um caminho delineado. A lenda do Graal possui uma vitalidade mágica e por isso é uma lenda viva, que existe há mais de 900 anos e desperta a imaginação e o espírito. Ela também traz a idéia de busca, a busca do Santo Graal. Falar do Santo Graal desperta a imaginação e mobiliza para alguma coisa que está no inconsciente coletivo. A lenda tem origem numa história que resultou de uma mistura e de uma fusão de crenças e lendas populares, chegando a uma imagem sonhada e arquetípica de uma busca final e definitiva para todos e para todas as coisas.

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Na época em que a lenda apareceu, a Europa vivia tempos particularmente difíceis, com o poder político fragmentado, onde grupos armados errantes saqueavam as colheitas. Havia fome, epidemias, guerras, tudo isso levando a um profundo empobrecimento da população e gerando insegurança e ansiedade. Nesse ambiente, e como ocorreu em outras épocas, surgiu um grande fervor religioso não só entre cristãos, mas entre os outros povos da região. Inicialmente, a lenda do Santo Graal era celta e, portanto, pagã, e estava muito ligada aos feitos da cavalaria. Mais tarde, foi cristianizada pelos monges da Ordem de Císter que não tanto a mudaram, mas sim, lhe deram conteúdo cristão. Resultou que o Santo Graal ficou sendo entendido como sendo o cálice usado por Cristo na Santa Ceia e que, mais tarde, foi usado por José de Arimatéia para recolher o sangue que escorreu das feridas do Cristo, quando da crucificação. Ao retornar à Bretanha, o cálice passou de geração em geração, dentro da família de José. O Graal tinha propriedades milagrosas e podia fornecer alimento aos sem pecado, mas cegar os impuros e fazer ficar mudos os irreverentes. Na lenda, estava implícita a busca de um objetivo geralmente tido como sendo um cálice que só poderia ser alcançado por um ser humano puro. Essa lenda teve evolução diferente em diversas regiões. Na que hoje é a França, a lenda deu origem aos ideais de cavalaria, aos cavaleiros e aos trovadores que cantaram e difundiram os fatos e lendas daquele tempo. Eram cavaleiros galantes que cantavam os grandes ideais e a beleza de nobres senhoras. Na região em que hoje está a Alemanha, a lenda evoluiu para o aparecimento de seres perfeitos e puros que tinham condições de alcançar o Graal. Sobressai aí a figura de um grande personagem, Parsifal. Na Irlanda e na Gran Bretanha houve forte influência de poderes mágicos e de fatos extraordinários ocorridos na corte do rei Artur e do mago Merlin; havia o sentido do fantástico, dos poderes misteriosos, do sobrenatural. Nesta corte, nasceu Galahad, herói e cavaleiro perfeito, sem qualquer defeito de caráter, que se lançou na busca do Santo Graal, sendo essa a parte central da literatura arturiana e do romance medieval de Parsifal. A grande aventura era chegar ao Santo Graal, sem defeitos, e o contacto com ele, tendo no seu interior o sangue de Cristo, seria o contacto direto com o Cristo e, por meio dele, com o Criador, o Poder Superior. Mas isso só os puros podiam fazer. Comecei a me perguntar se não seria o crescimento espiritual em A.A. um caminho de purificação de modo a tornar alguns companheiros santos. Não teriam eles tido, uma vez que sem defeitos de caráter, algum contacto simbólico com o Santo Graal que os teria tornado santos? Não seria o caminho do crescimento espiritual uma busca, uma trajetória, da mesma forma que o caminho percorrido pelos cavaleiros puros na busca do Santo Graal? Aqueles que alcançassem um nível espiritual elevado, como Galahad e Parsifal, teriam a ventura, rara, de alcançar o Santo Graal. Alguns dos santos que conheci em A.A. foram chamados e moram em algum reino situado além das galáxias, mas outros ainda andam por aqui e vim à Convenção para ter a ventura de conviver um pouco mais com eles e para conhecer mais alguns.

SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL-ALCOOLISMO

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Dr. Laís Marques da Silva

Ex-custódio e Ex-presidente da JUNAAB

Em Alcoólicos Anônimos o que importa não é o alcoolismo, mas sim o alcoólico. Não se fazem estudos ou pesquisas sobre o alcoolismo mas dedicam-se todas as atenções e cuidados às pessoas que sofrem dessa doença. É o ser humano, é o doente que importa.

Além do mais, a Irmandade resolve o problema do diagnóstico de uma forma adequada. Ninguém faz diagnóstico, ninguém rotula ninguém mas, depois de algum tempo de convivência com membros do grupo de A.A. e chegando às suas próprias conclusões diante do que viu e ouviu nas reuniões, é o próprio alcoólico que decide ser ou não um membro do grupo e é também ele quem diz se é ou não um alcoólico. Mas as pessoas, depois de passarem por tratamentos médicos e ao se reconhecerem como alcoólicos, passam, como é natural, a ter um interesse, uma curiosidade em relação à sua doença. Desejam conhecer um pouco acerca do alcoolismo.

A palava alcoolismo foi usada pela primeira vez em 1849 pelo médico sueco Magnus Huss no seu trabalho “Alcoolismo Crônico”, expressão essa que se tornou o modo corrente de tratar os que apresentavam embriagues habitual, chamados a partir daí de alcoólatras, alcoólicos ou alcoolistas. Bebem repetida e excessivamente bebidas alcoólicas com prejuízos para si mesmos e para outras pessoas sendo que os danos se expandem para áreas tão diferentes como mentais, econômica, sociais, legais, etc.

Por ser o controle voluntário muito pequeno e o beber compulsivo, o alcoolismo é considerado como adição e como doença. Daí que, numa visão simples, é tido como sendo a doença que resulta do beber compulsivo e crônico.

N No entanto, do ponto de vista farmacológico e fisiológico, o alcoolismo é entendido como uma adição química que leva à necessidade de beber doses crescentes para produzir os efeitos desejados ou aliviar o desconforto da abstinência e que pode resultar na síndrome de abstinência quando esse beber é interrompido. Mas, diferentemente da adição que ocorre pelo uso de outras drogas, nem sempre o alcoólico necessita de doses crescentes da substância. Por outro lado, o alcoólico desenvolve graus variáveis e baixos de tolerância ao álcool de modo que a dose letal, aquela que leva à morte, só ocasionalmente pode ser alcançada ou ultrapassada

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Do ponto de vista do comportamento, o alcoolismo é uma desordem em que o álcool se torna muito importante na vida de uma pessoa que experimenta a perda de controle em relação ao seu beber. Aí, com dependência ou não, o consumo do álcool é suficientemente intenso para causar problemas físicos, mentais, sociais, econômicas, legais, etc. A desordem é entendida como doença porque persiste por anos, é fortemente hereditária, progressivamente incapacitante e importante causa de morte. O álcool compromete a livre decisão de beber ou não e de quando parar. Ainda, diferentemente da maioria dos maus hábitos, a força de vontade vale pouco em relação ao álcool.

Do ponto de vista sociológico, o alcoolismo é tido como um desvio social mas, ele deveria desaparecer com a maturidade, como ocorre em muitas outras formas de desvio social, mas isso não acontece com o alcoolismo. Como é quase impossível submeter todo um grande grupo de indivíduos a estes o entendimento do alcoolismo pode ficar por conta da quantidade e da freqüência em que é ingerido, pelo número de internações relacionadas ao álcool, pela freqüência de mortes por cirrose ou por prisões decorrentes de mau comportamento relacionado com o uso de álcool.

É preciso ainda discernir três condições diferentes: o uso do álcool, o abuso e a dependência. Abusa do álcool aquele que tem um comportamento social desviante em relação ao seu consumo, que bebe regularmente e, o mais importante, que apresenta problemas de saúde, além de sociais e/ou profissionais em conseqüência da ingestão do álcool. O abuso pode evoluir para a dependência e aí encontraremos a compulsão para a ingestão de álcool a fim de experimentar os seus efeitos ou para evitar o desconforto da sua falta. Aqui, na dependência, também são importantes os componentes sociais e comportamentais e, mais ainda, os componentes biológicos e psíquicos traduzidos na tolerância e na compulsão, respectivamente. Nos conceitos de abuso do álcool e na síndrome de dependência do álcool está o que é entendido por alcoolismo. A psicose alcoólica, a cirrose hepática, a gastrite alcoólica, etc, ficam como complicações. Em rápidas palavras, beber sem problemas traduz o beber social, beber com problemas se constitui no abuso do álcool e beber com problemas e apresentando a dependência química caracteriza a Síndrome de Dependência do Álcool.

Acontece que um alcoólico na ativa pode procurar um médico porque está tendo problemas sexuais e para ele alcoolismo pode ser a perda de potência. Para a sua mulher, que foi espancada, o alcoolismo está ligado ao espancamento. Quando, por essa razão, ela o leva ao hospital e lá o médico faz vários testes e as provas de funções hepáticas se mostram alteradas, a enzima gama glutamil transferase se encontra elevada e o volume dos glóbulos vermelhos está aumentado, o médico

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o considera um alcoolista em face do quadro clínico e dos exames complementares realizados. Já um pouco melhor, no dia seguinte, o paciente sai dirigindo alcoolizado e os vizinhos dizem que ele é um alcoólico porque dirige alcoolizado. Então, afinal, o que é o alcoolismo?

Do ponto de vista da quantidade de bebida consumida, uma pessoa com 100 quilos pode beber uma grande quantidade de bebida alcoólica sem apresentar muitas manifestações, mas a mesma quantidade de bebida seria catastrófica para uma pessoa com pouco peso e epilética ou ainda para um piloto de avião com uma úlcera no estômago. Um taberneiro francês que beba mais de dois litros de vinho por dia pode não ser considerado um alcoólico pelos seus parentes e amigos próximos, mas será visto como portador de alcoolismo por um membro da família que seja israelita. Então o que vale não é a quantidade da bebida ingerida mas os sintomas que resultam.

Por outro lado, uma pessoa pode ter um problema emocional e passar a beber diariamente por um tempo e ficar preocupada com o alcoolismo enquanto que outra pessoa pode beber despreocupada pela vida a fora até que surja uma grave insuficiência hepática. Quem bebe, por algum problema específico, freqüentemente permanece capaz de controlar o uso do álcool, embora relate uma dependência psicológica, o que não ocorre com as pessoas que abusam do álcool.

Para complicar ainda mais as coisas, uma pessoa que estude a literatura sobre o alcoolismo fica com a idéia de que ele é também um problema econômico, psicológico, fisiológico ou ainda social, isso para excluir outros aspectos do problema.

A Organização Mundial de Saúde declarou que o alcoolismo é doença em 1951 ou, mais exatamente, certas formas de alcoolismo. Mas, de modo oficial, também declararam que o alcoolismo é uma doença as seguintes associações: a Associação Médica Americana, a Associação Americana de Psiquiatria, a Associação Americana de Saúde Pública, a Associação Americana de Hospitais, a Associação Americana de Psicologia, a Associação Nacional de Assistentes Sociais e o Colégio Americano de Médicos.

A dependência do álcool pode ser tomada como sinônimo de "adição alcoólica", como "dependência fisiológica", como o alcoolismo gama de Jellineck ou ainda e simplesmente entendida como alcoolismo.

Os critérios médicos para definir a doença do alcoolismo se baseiam nas complicações médicas e nos sintomas resultantes do beber, enquanto que os problemas sociais são mais enfatizados em outras classificações. O fato é que existe uma forte correlação entre a síndrome de dependência do álcool e as incapacidades sociais que ele

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ocasiona. Os parâmetros que definem o modelo médico têm correlação com os desvios sociais. Isso quer dizer que médicos e sociólogos estão falando da mesma síndrome. No entanto, nem sempre a abstinência do álcool se acompanha da recuperação social. O alcoolismo não é só um problema médico em si mas também inclui todo um conjunto de situações que resultam do beber continuado.

Mas como penetrar nesta floresta, que linhas e direções podem facilitar a compreensão do que seja o alcoolismo? Talvez a idéia mais fácil e curta seja a do Conselho Nacional de Alcoolismo dos Estados Unidos da América do Norte: "A pessoa portadora de alcoolismo não pode, de maneira segura e consistente, predizer, em qualquer ocasião em que beber, o quanto vai beber e durante quanto tempo".

Como veremos em seguida, não é a especificidade de um problema que define o que o que é entendido como alcoolismo mas sim o número e a freqüência dos problemas relacionados com o uso do álcool. De uma maneira geral, todos os sintomas têm igual valor. Em outros termos, o diagnóstico do alcoolismo é feito pela variedade dos problemas relacionados com o álcool e não pela especificidade dos problemas. Nenhum sinal ou sintoma define, isoladamente, o alcoolismo.

As coisas ficam mais claras quando abordamos a síndrome a partir dos estudos do Prof. Dr. Griffith Edwards, da Universidade de Londres, que propôs uma descrição da síndrome a partir de sete parâmetros:

1. empobrecimento do repertório,

2. maior importância da bebida,

3. aumento da tolerância ao álcool,

4. aparecimento da síndrome de abstinência,

5. prevenção ou alívio da síndrome de abstinência pela ingestão de mais bebida,

6. percepção subjetiva da compulsão para beber e

7. reinstalação do quadro após um período de abstinência.

1. O empobrecimento do repertório se traduz em ir fixando o tipo de bebida, a freqüência, as ocasiões em que é ingerida, em de beber mais rapidamente e em quantidades maiores a ponto de esse fato ser notado pelas pessoas mais próximas, em beber sozinho.

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2. O beber vai ganhando prioridade maior em relação às atividades com a família e com os amigos, em relação à vida profissional e ao próprio corpo. As outras fontes de gratificação vão esmaecendo e a bebida vai ficando cada vez mais importante. O comportamento vai mudando em função da bebida. Trajetos organizados, freqüência a compromissos sociais em que se faz uso da bebida alcoólica, etc.

3. Em consequência do aparecimento da tolerância, doses cada vez maiores são necessárias para alcançar os mesmos efeitos desejados. Com as doses maiores, vêm também efeitos tóxicos mais intensos. Há casos de dependência avançada em que ocorre o fenômeno inverso, isto é, o paciente se embriaga com doses pequenas, que antes eram bem toleradas.

Estes três parâmetros se instalam ao longo do tempo.

4. A síndrome de abstinência talvez seja a mais importante manifestação da dependência. Nela ocorrem, ao acordar, usualmente pela manhã: tremores, suores, náuseas acompanhadas ou não de vômitos, ansiedade, agitação, etc. Nos casos mais severos, o paciente pode sofrer alucinações auditivas e visuais ou ainda apresentar convulsões e evoluir para o quadro de "delirium tremens”. A síndrome da abstinência revela a condição de dependência em relação ao álcool e se instala em função dos níveis baixos de álcool no sangue, sendo essa a razão pela qual costuma aparecer pela manhã, ao despertar, após serem passadas algumas horas sem a ingestão de bebidas.

5. Os sintomas de abstinência podem ser evitados ou aliviados pela ingestão de mais álcool. É o gole matinal.

6. Compulsão para beber. É entendida como sinônimo de perda de controle. Pode haver uma perda de controle ou uma desistência do controle.

7. A reinstalação, após um período de abstinência, implica na volta rápida do quadro de tolerância ao álcool. Isso pode ocorrer após anos de abstinência. Quanto maior o grau da dependência anterior, mais rápida é a reinstalação da tolerância. É uma espécie de "memória bioquímica” que permanece no organismo. É como se diz em A.A., o doente recomeça de onde terminou.

Uma pequena história dentro de uma grande história

Dr. Lais Marques da Silva, Ex-Presidente da JUNAB

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Há uma pequena história, muito antiga, que nos ajuda a entender a fragilidade dos seres humanos, a sua necessidade de cooperar e, sobretudo, a entender o quanto dependemos uns dos outros.

Na mitologia grega, os deuses resolveram habitar o mundo e criar a humanidade. Criaram os mortais, os seres vivos, e também as condições para a existência de todas as espécies que iriam coabitar na Terra. Encarregaram Epimeteu, cujo nome significa reflexão posterior, ou seja, aquele que só se da conta da coisa errada depois que a fez, de prover os futuros seres vivos com as qualidades necessárias à sua sobrevivência. Assim, foram dados a cada espécie os equipamentos necessários para que se alimentassem e resistissem às intempéries, como: peles, lã, carapaça, etc. e ainda para se defender uns dos outros: as garras, chifres e velocidade na corrida.

Todas as espécies foram equipadas mas, no momento de criar o homem, nada havia sobrado. Epimeteu tinha sido esquecido dele e, assim, o homem continuava nu e desarmado. Para que essa espécie não desaparecesse, Prometeu, cujo nome significa previdente, foi chamado pelo imprevidente irmão, Epimeteu, e encarregou-se de roubar dos deuses o fogo e as artes para dá-las aos homens. Distribuiu as artes de que dispunha mas que não eram suficientes em número para dar um conjunto completo a todos os homens e assim deu talentos diferentes a cada um de modo que, para sobreviverem, deveriam intercambiar as suas dádivas e, portanto, cooperar e o que resultou é que todos se tornaram dependentes uns dos outros. Prometeu também moldou os homens de forma mais nobre e os capacitou a caminhar de forma ereta. Desse modo, puderam se alimentar e resistir ao frio, mas continuaram não podendo se defender contra outras espécies por não possuíram armas. Mas o presente do fogo que Prometeu deu à humanidade foi mais valioso do que quaisquer um dos que haviam sido dados aos animais.

Os homens procuraram então estar reunidos para se defender dos animais e se agruparam em cidades, mas não conseguiram viver juntos porque disputavam entre si e frequentemente guerreavam uns contra os outros. Como conseqüência, dispersaram-se pela floresta e foram novamente ameaçados de extinção pelas outras espécies de animais. Dessa vez, foi o próprio Zeus, o Deus mitológico maior, que salvou os homens dotando-os de qualidades morais, de senso de justiça e de respeito de si mesmos, o que permitiu que cada um pudesse viver em coletividade com os outros. O gênero humano foi salvo e por isso, hoje, os homens vivem em comunidades e não isolados, como a maioria dos outros animais. Mas os homens continuaram frágeis e desamparados e

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é isso que nós somos e a nossa sobrevivência continua dependendo de que troquemos as nossas dádivas, as nossas riquezas interiores.

A vida é difícil. Encontrar o caminho que se vai trilhar na vida é difícil. O caminho tem que ser feito em solo árido e pedregoso, e machuca. Não há indicações nem avisos. Nenhuma orientação. Em realidade, cada um de nós faz o seu próprio caminho ao longo da vida e o caminho é feito tão somente ao caminhar. Mas a boa notícia é que não temos que fazer o caminho sozinhos e podemos recorrer a um poder maior que nos dá força e do qual a maioria das pessoas tem consciência. Ainda mais, na medida em que vamos fazendo o nosso caminho, podemos nos ajudar uns aos outros, intercambiar os talentos que recebemos. Podemos trocar nossas riquezas interiores. Podemos trocar experiências, forças e esperanças. Podemos cooperar uns com os outros. Podemos nos solidarizar. Podemos ser tolerantes. Podermos ser solidários e desenvolver o amor ao próximo. Podemos nos compadecer. Podemos entender que somos irmãos. Assim, Ele não estará apenas no meio de nós, como que espalhado num grupo de seres humanos, mas entre nós. Presente a partir do nosso relacionamento fraterno. Então, teremos condições de vislumbrar o caminho e encontrar a coragem para trilhá-lo.Como não é possível simplificar as coisas e obter respostas fáceis, é preciso pensar de modo abrangente, aceitar os mistérios e os paradoxos da vida e não desanimar ante a multidão de causas e conseqüências que são inerentes a cada experiência humana. Enfim, aceitar e valorizar o fato de que a vida é complexa.

Agora, vamos ao homem e às suas instituições. No caso do A.A., à Irmandade, como um todo e, especificamente, aos serviços que definem a ação. O A.A. é uma irmandade em ação. No mundo em que vivemos, existem as autoridades, os líderes, os governantes, os chefes, o Papa, etc. e, desde pequenos, nos acostumamos a recorrer à autoridade dos nossos pais e a essas outras autoridades. Resumindo, nos acostumamos a procurar uma orientação que vem de fora. Essas autoridades se apóiam em dogmas, em normas estabelecidas ao longo do tempo, na força da imposição, ou seja, numa estrutura de poder, que pode ser definida como a capacidade de mudar o comportamento do outro. Mas tudo isso é muito estranho ao A.A.. Ele é fruto de uma concepção muito melhor, muito mais perfeita do que isso que acabamos de ver.Historicamente, os co-fundadores eram solicitados para dar orientações, idéias, sugestões ou até para buscar soluções para as novas realidades que iam surgindo em decorrência do fato de o A.A. ser uma Irmandade viva, em ação. Mas eles se deram conta de que as suas vidas eram finitas e que a irmandade, tal como era, tinha que encontrar, em si mesma, os melhores caminhos para continuar viva e em ação. Seria algo como desenvolver um processo de auto-gestão, gestão que vem de dentro, e esse modelo se assenta no processo de busca da consciência coletiva que se constitui no alicerce desse modelo. É a chave para o seu funcionamento, baseado no fato de que o Poder Superior se manifesta em um determinado momento da troca de riquezas interiores e de cooperação e feita ao longo dessa busca da consciência coletiva.

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Outro aspecto que gostaria de enfocar é o que revela um paradoxo. Mais presentes do que pensamos nas nossas vidas, apesar do desconforto que causam à nossa formação racionalista. Diz-se até que alguma coisa só é verdadeira quando contém o paradoxo. É que o A.A. não muda, pois tem princípios sólidos, cuja vitalidade tem-se mostrado extraordinária ao longo de 72 anos da sua existência. Não muda mas muda. Aí está um paradoxo. Os animais pré-históricos que não mudaram também não mais existem e o A.A. não tem vocação para se tornar um dinossauro. O fato é que não muda na sua essência, mas se renova, se adapta, se atualiza a cada ano, porque a cada ano se repensa, se mantém com vitalidade renovada, mais especificamente, após cada Conferência.Essa é a idéia-força que está subjacente a todo o processo da Conferência e que precisa ser identificada. Alias, é essencial que seja identificada para que os membros que dela participam tenham plena consciência da importância do trabalho que realizam. A Conferência tem uma exterioridade, ela é bonita, mas tem, sobretudo, uma essência, um conteúdo interior maior e mais importante. Tem uma roupagem e um corpo igualmente muito bonito e, por certo, mais importante. Outro aspecto que é preciso destacar é que a realidade com que, a todo o momento, nos defrontamos não tem nada de simples. O mundo não é feito apenas em preto e branco, mas também de muitos tons de cinza e de todas as cores e suas nuances. A realidade se apresenta sempre sob múltiplos aspectos. Frequentemente, não somos capazes de identificar, sozinhos, toda a complexidade de uma determinada situação. Mas, se ela for analisada também por outros companheiros, aí teremos a possibilidade de, participando da busca conjunta da consciência coletiva, alargar o nosso campo de visão e conhecer melhor para melhor decidir e melhor agir. Finalmente, vale ressaltar que, se a Conferência é colocada frente às realidades do A.A. do Brasil, isso não levará à conclusão de que resultariam irmandades muito diferentes nos diversos países do mundo. E isso porque são realizadas reuniões mundiais, a cada dois anos, em que numerosos países participam e nas quais também se busca a consciência coletiva, a integração em um só corpo, sendo que as diferenças locais apenas enriquecem o todo e o A.A. será eterno, enquanto assim funcionar.

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS  -  HISTÓRIA

  O nosso DÉCIMO SEGUNDO PASSO, que leva a mensagem, é o serviço básico que a irmandade de A.A. oferece. É o nosso principal objetivo e a razão primordial de nossa existência. Portanto, A.A. é mais do que um conjunto de princípios; é uma sociedade de alcoólicos em ação. Precisamos levar a mensagem, caso contrário, nós mesmos poderemos recair e aqueles a quem não foi dada a verdade podem perecer. Portanto, um serviço em A.A. é tudo aquilo que nos ajuda a alcançar um pessoa que sofre - o chamado Décimo Segundo Passo propriamente dito - pelo telefone ou por uma xícara de café, assim como o Escritório de Serviços Gerais de A.A. para ação nacional ou

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internacional. A soma total de todos esses serviços é o nosso Terceiro Legado de Serviço. Os serviços incluem locais de reunião, cooperação com hospitais e escritórios intergrupais; significam também, folhetos, livros e boa publicidade de qualquer natureza. Requerem Comitês, Delegados, Custódios e Conferências e não deve ser esquecido que eles necessitam de contribuições voluntárias em dinheiro, provenientes dos membros da irmandade. Bill W

O Movimento Whashingtoniano Na tarde de 02 de abril de 1840, quase cem anos antes do nascimento de A.A., seis companheiros de bebedeiras se reuniram em um botequim da cidade de Baltimore, Estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América.

Quanto mais bebiam, mais falavam sobre o tema da temperança, que era um dos assuntos mais populares da época. Essa reunião, assim como os encontros posteriores, deram origem à formação, para a curta mas espetacular existência do Movimento dos Washingtonianos, que chegou a contar com mais de 400.000 membros "alcoólicos recuperados", para poucos anos depois, da noite para o dia, desaparecer totalmente.

A história do Movimento dos Washingtonianos demonstra nitidamente, a importância das Doze Tradições de A.A. como guia de comportamento para os nossos grupos e organismos de Serviço, montadas que foram para proteger-nos de um destino semelhante. O hábito de desprezar nossas Tradições, ou de ignorá-las, nos legou, pelo menos, alguma marca negativa em nosso inventário.

Até a já mencionada reunião de 1840, prevalecia a opinião de que nada era possível fazer pelos doentes do alcoolismo e, mesmo as palavras "alcoólico" ou "alcoolismo", não era de uso comum. Os poucos casos conhecidos de recuperação de alcoólicos, não influíam no pessimismo geral sobre aspossibilidades de recuperação. E, como se acreditava que o álcool era a causa do alcoolismo, muitos movimentos de temperança, então existentes, orientavam sua atuação no sentido de evitar que os não-alcoólicos no alcoolismo ingressassem. Seu lema era:"Mantenhamos sóbrios os sóbrios; os bêbados que morram e nos deixem em paz".Em 05 de abril de 1840 os seis companheiros já referidos, novamente se reuniram no mesmo botequim, ao redor de uma garrafa de bebida alcoólica e, alegremente, brindaram as virtudes da temperança, enquanto condenavam a maldição do alcoolismo.

Embora existisse um bom número de Grupos de Temperança, nenhum deles parecia interessar a esses seis companheiros. Como bons bebedores que eram, decidiram formar seu próprio grupo;

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elegeram-se diretores e firmaram uma promessa de total abstinência, com o seguinte texto:

"Nós, cujas assinaturas aqui constam, com o propósito de constituir, para o nosso próprio benefício e para proteger-nos de costumes perniciosos que são prejudiciais à nossa saúde, à nossa reputação, às nossas famílias, nos comprometeremos, como cavalheiros, a não ingerir qualquer bebida alcoólica, nem licores, nem vinhos de cidra".

Escolheram o nome Sociedade de Temperança Washington, em homenagem a George Washington, estabelecendo uma cota de inscrição em dinheiro, junto com uma contribuição mensal. Com calorosos abraços se despediram, ficando combinado que, cada um deles, traria um novo sócio ao botequim para a próxima reunião. E se mantiveram sóbrios.

Como resultado do crescimento do número de associados e, devido às solicitações desesperadas do dono do botequim, o grupo decidiu alugar uma sala e, ao mesmo tempo, tornar habitual as reuniões semanais.

Nessas reuniões desenvolveram um método único de procedimento, onde cada orador contava sua própria história, calcada no seguinte:"Como era eu; o que me aconteceu e, como sou agora".Esta idéia obteve sensacional aceitação, contribuindo para enorme e rápido crescimento ao Movimento. A abstinência total parecia um milagre.

Em novembro de 1840, realizaram sua primeira reunião pública. Os jornais deram ampla cobertura ao acontecimento nas reportagens incluindo o nome completo dos fundadores. A quantidade de público fora tão grande, que só havia poucos lugares de pé. Tanto aos alcoólicos, como os não-alcoólicos; a todos os que se comprometiam à total abstinência; deu-se boas-vindas ao Grupo.

Uns cinco meses mais tarde, o Movimento Washingtoniano declarava constar de seus quadros mais de 1000 alcoólicos recuperados e uns 5000 membros indecisos quanto à conclusão se eram, ou não, alcoólicos, mas que já haviam se comprometidos a manter uma abstinência absoluta, bem como outros 1000 que defendiam uma temperança total, em todos os sentidos e que viam com muito entusiasmo o crescimento da cruzada dos Washingtonianos.

Como bons e entusiasmados propagandistas que eram, os membros organizaram e participaram de um espetacular desfile, com banda de música, balizas, estandartes, que foi presenciado por mais de 40.000 pessoas em Baltimore. Após o desfile, houve uma grande reunião ao ar livre para pulgação de sua mensagem do "12º Passo". Diziam;

"Alcoólico, venha até nós. Você pode se recuperar. Ainda esta manhã

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estivemos com um homem que se recuperou já faz 4 semanas e estava feliz com a sua abstinência. Não desprezamos os alcoólicos, amamo-nos, guiamos, assim como uma mãe guia seus filhos nos primeiros passos".

As lágrimas caíam copiosamente sobre a mesa da secretária, na medida em que centenas de pessoas subiam ao palanque para assinar seus compromissos de total abstinência. A atmosfera emocional estava saturada de uma contagiante esperança. Os grupos religiosos aceitaram seu programa.

Samuel F. Holbrook, o primeiro Presidente da Sociedade, explodia em altas palavras, com relação ao papel desempenhado por Deus na recuperação dos alcoólicos. Dizia:

"Ao cambaleante alcoólico que encontramos na sarjeta, ou retiramos de seu meio, damos apoio, falamos como amigos, levamos às nossas reuniões. Em nosso grupo ele se encontra rodeado por novos amigos, não do que mais temia, a polícia. Todos lhe estendem as mãos; começa a recuperar-se e, quando já se sente sóbrio, assina o compromisso de manter-se abstêmio e volta à rua como um homem recuperado. E seu caso não termina aí, ele cumpre a sua promessa e, dentre seus companheiros de bebedeiras, logo trás outros que, de sua parte, assinarão o mesmo compromisso, trarão outros. Esses são fatos positivos que se pode constatar."

Então pergunto: - Pode algum movimento da humanidade demonstrar isso por si só? A minha resposta é um redondo "NÃO". Nós temos o testemunho invariável de um vasto número de homens recuperados que dizem publicamente que dizem publicamente que haviam deixado de beber persas vezes para, logo a seguir, recair nas bebedeiras e, entendem que, seu atual comportamento, deriva da total confiança da força desta nova decisão, sem qualquer preocupação de olhar um pouco mais alto. Depois, sentem que, necessitam da ajuda de Deus que, uma vez conseguida torna a recuperação completa. Louvado seja Deus".

Não foi possível manter os milagres dos Washingtonianos dentro de seus limites geográficos. Seus membros estavam convencidos de que deles dependiam o socorro para os mais aflitivos casos; os alcoólicos recuperados e em atividade dentro do Movimento comprovaram, com seus exemplos, quepodiam ajudar aos alcoólicos e estavam possuídos de uma extraordinária disposição de levar sua mensagem. Depois, essa campanha se ampliou no sentido de evitar o mesmo sofrimento, pela persuasão, aos ainda não atingidos pelo alcoolismo, objetivando que prosseguissem com a sobriedade através de uma total abstinência. Os líderes mais influentes do Movimento eram de opinião de que necessitavam de bons "vendedores" para espalhar a mensagem de prevenção e, os membros dos Grupos Washingtonianos,

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proporcionaram uma vasta relação de pessoas disponíveis.

A cidade de Nova Iorque lhes serviu de cenário. Em março de 1842, Washingtonianos e espectadores se reuniram na igreja da Rua Gren; no transcurso do primeiro discurso, um jovem que estava no auditório se levantou cambaleando e disse: - "Não haverá alguma esperança para mim? Deus do céu, não haverá esperança? Vocês podem me ajudar?". O ajudaram a chegar até o palco e, ali mesmo, manifestou sua vontade de assumir o compromisso, partir de então, de absoluta abstinência.

Outros o seguiram; uns jovens como ele; outros, de cabeças grisalhas. Os Washingtonianos receberam a todos eles e, uma organização paralela feminina, conhecida como Sociedade Martha Washington, alimentava e vestia os mais necessitados, enquanto buscava apoio e adeptos dentro do próprio sexo.

Em menos de quatro anos da relatada reunião no botequim, o número de Washingtonianos chegava ao máximo. Nessa época, se estimava que o Movimento incluía, no mínimo 100.000 "alcoólicos recuperados”; 300.000 "bebedores normais" que, também, se mantinham em total abstinência, bem como incontável número de admiradores entre os membros dos Movimentos de Temperança.

Mas logo chegaria ao esquecimento total. Pelo ano de 1848, tudo o que restava da espetacular e poderosa organização como método original de tratamento do alcoolismo, era o Asilo dos Decaídos, em Boston. Essa organização, assim mesmo, sofreu numerosas modificações, no nome e na orientação e, atualmente funciona com o nome de Hospital Washingtoniano, se dedicando ao tratamento do alcoolismo mediante sistemas médicos modernos e técnicas sociais. Nos demais aspectos o Movimento se autodestruiu por completo. Com ele, desapareceu a esperança de milhares de alcoólicos de sua época.Tendo a breve história anterior por exemplo, é possível efetuar uma limitada comparação entre o Movimento Washingtoniano e Alcoólicos Anônimos e, meditar sobre as possibilidades de A.A. ter um destino semelhante.As semelhanças são as seguintes:• 1) Alcoólicos se ajudando mutuamente; • 2) Reuniões semanais; • 3) Experiência compartilhada; • 4) Permanente disponibilidade para ajudar os grupos e seus membros; • 5) Confiança em um Poder Superior e, • 6) Total abstinência ao álcool.

Embora seja óbvio que o programa dos Washingtonianos fosse incompleto, contendo limitadas possibilidades para a modificação da personalidade se comparado aos Doze Passos de Alcoólicos

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Anônimos, nasceu da experiência dos que conseguiram a sobriedade; mesmo que por pouco tempo; de milhares de alcoólicos. Porém, falhou em não oferecer um método de conduta, para membros e grupos, que fosse comparável às Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Como não existiam garantia de salvaguarda para o Movimento em seu conjunto, este morreu. A maioria dos problemas dos Washingtonianos se situaram em áreas que estão amplamente protegidas em nossas Tradições:• 1) O preâmbulo e nossa 5ª Tradição nos aconselham a proteger nosso único objetivo; a 1ª Tradição nos aconselha cautela, para conservar nossa Unidade. Sem essas orientações, o Movimento Washingtoniano se converteu em um monstro de 3 cabeças: a primeira, o programa para atingir a recuperação dos alcoólicos; a Segunda, o convite ao público em geral para conseguir a temperança através da persuasão moral e, a terceira, a exigência de total temperança nacional pelos meios legais. Homens de enorme influência controlavam a ação de cada uma das cabeças e, não levou muito tempo, as cabeças lutavam entre si. • 2) As táticas carnavalescas de promoção e a absoluta falta de qualquer princípio de anonimato criaram uma atmosfera de crescimento espetacular; porém, conduziram ao mesmo tempo, às lutas entre as personalidades que buscavam prestígio e poder. Cem anos depois Alcoólicos Anônimos adotou as 11ª e 12ª Tradições que indicam que devemos basear nossas relações com o público na atração, no lugar da promoção; a manter o anonimato pessoal ao nível da imprensa; a considerar o anonimato como "fundamento espiritual...” que nos recorda que devemos sempre que os princípios estão acima das personalidades. • 3) Não há nada que possa pidir um grupo com maior rapidez do que a controvérsia política ou religiosa. A 10ª Tradição diz que: "Alcoólicos Anônimos não tem qualquer opinião sobre assuntos alheios às suas atividades" e que o membro de Alcoólicos Anônimos nunca deve envolver-se em polêmicas públicas. Sem possuir esta Tradição, os Washingtonianos ingressaram nesse campo. Chegou ao conhecimento de alguns líderes religiosos que, alguns alcoólicos recuperados, proclamavam publicamente que, "eles, entre outras coisas, é que estavam praticando verdadeiramente o Cristianismo, não alguns pastores que conheciam e que apenas falavam em Cristo". Em represália o Reverendo Hiram Mattison, ministro da Igreja Metodista Episcopal de Watertown, N.Y., tornou pública a seguinte comunicação: - "Nenhum cristão tem liberdade para selecionar ou adotar algum sistema, organização, agência ou métodos de reforma moral da humanidade, com exceção daqueles prescritos e reconhecidos por Jesus Cristo".

Acrescentava que sua igreja havia sido escolhida junto com o seu Evangelho, como o sistema da verdade e único para reformar a humanidade. Isto era a guerra. Outras igrejas reagiram da mesma forma, até fecharem suas portas aos Grupos Washingtonianos. • 4) E como se esse fato grave fosse pouco, alguns membros do

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Movimento se tornaram oradores profissionais, por não contar com a orientação de uma 8ª Tradição. Dessa forma, sua mensagem de "alcoólico para alcoólico", perdeu toda força de atração. O ponto final da destruição aconteceu quando, alguns influentes líderes de movimentos não-alcoólicos, decidiram que a necessidade de os ex-bebedores recuperarem outros alcoólicos já havia sido Ultrapassada e, agora, se deveria concentrar todo esforço na criação de novas leis destinadas a promover a temperança. Enquanto efetuava as investigações para escrever este artigo, várias vezes me ocorreu o seguinte pensamento: - "Depois que os Washingtonianos se autodestruíram, o que teria ocorrido com os seus milhares de membros?" E, esse pensamento se converteu numa indagação pessoal: - "O que aconteceria comigo?"

Durante os primeiros tempos do programa, especialmente antes de elaboradas as Doze Tradições, Alcoólicos Anônimos passou por muitos dos problemas que destruíram os Washingtonianos. O fato de havermos sobrevivido aos mesmos perigos, é um dos milagres de Alcoólicos Anônimos.

Porém o dia só tem 24 horas!

Por D. P. de Ogden, Utah.Traduzido da Revista Plenitud, MéxicoPublicação original de Grapevine, USA/CanadáPublicado no Bob nº 33, jan/fev 1985Antes do início - Os Grupos Oxford O que apresentaremos a seguir não é literatura oficial de A.A. simplesmente é uma compilação de obras da literatura de A.A. e de pessoas ligadas à Irmandade que viveram esses momentos.Tem somente o caráter de informar historicamente a sequência dos acontecimentos.

Este um esforço para montar uma seqüência dos vários acontecimentos que se sucederam nos anos de 1908 a 1935 que fizeram possível a reunião em Akron, Ohio entre os fundadores de AA, o Dr. Bob Smith e Bill Wilson, e que resultou no subseqüente nascimento de Alcoólicos Anônimos. É uma coletânea de fatos recolhidos das seguintes publicações:• a.. Alcoholics Anonymous • b.. AA Comes of Age • c.. Pass It On • d.. Dr. Bob and the Good Old Timers • e.. Not God (by Ernest Kurtz) • f.. For Sinners Only (by A.J. Russell) • g.. On the Tail of a Comet (by Garth Lean) • h.. Akron Genesis of Alcoholics Anonymous (by Dick B.) • i.. The Oxford Group & Alcoholics Anonymous (by Dick B.) Você conhece algum desses nomes?Frank Buchman--Sam Shoemaker--Rowland Hazard--Jim Newton--

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Eleanor Forde--Ebby Thatcher--Shepard Cornell--Henrietta Seiberling--Rev. Walter Tunks--Norman Shepherd--Russell Firestone--T. Henry & Clarace Williams?

Todas estas pessoas foram importantes num cenário que contribuiu para que fosse possível essa reunião histórica na Gate House of the Seiberling em Akron que foi o lugar de nascimento de Alcoólicos Anônimos. Se não fosse por estas pessoas, essa reunião nunca podia ter acontecido, e o companheirismo que vive hoje entre todos nós nunca existiria. 

Onde os passos se originaram?

Em "AA Comes of Age" , (p.39), Bill escreveu:

"AA no seu início recebeu é idéias de autoconhecimento, reconhecimento de defeitos de caráter, reparação para dano causado, e trabalhando com outros diretamente dos Grupos de Oxford e diretamente de Sam Shoemaker, o primeiro líder desse grupo na América, e em nenhum outro lugar."

Começaremos esta história com o relato de Frank Buchman, o fundador do Grupo de Oxford. Verá como foram traçados os caminhos de Dr. Bob e Bill Wilson anos antes de eles se encontrarem, como o Grupo Oxford e o supracitado molde de caráter atuou nessa fase e como foi que Bill Wilson chegou a Akron.

FRANK BUCHMAN E O OXFORD

O que era o Grupo Oxford?

Em 1908, um secretário da YMCA chamado Frank Buchman teve uma transformação espiritual que mudou sua vida. Ao graduar-se em junho desse ano, ele fundou uma igreja na Philadelphia (Church of the Good Shepherd) com uma doação de dezessete dólares. A igreja prosperou, e começou um asilo para jovens que se espalhou para outras cidades, e então ele começou um novo projeto. Frank teve nessa ocasião uma discussão violenta com o comitê gestor porque cortaram o orçamento e a cota de alimento. Renunciou e foi para a Europa, acabando por parar numa grande Convenção Religiosa em Keswick, Inglaterra. A transformação espiritual ocorreu quando ouviu uma conversa da mulher do orador sobre a cruz de Cristo. Sentiu o abismo que o separava de Cristo, e um sentimento que não pode suportar. Voltou a sua casa e escreveu estas palavras a cada um dos seis procuradores na Philadelphia:

"Meu caro amigo. Guardei rancor de você. Sinto muito. Você me perdoará? Sinceramente, Frank."

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Sobreveio um sentimento forte um desejo compartilhar esta experiência. Quando foi à Universidade de Oxford formou um grupo evangélico entre os líderes de estudante e atletas.

Com o tempo esse movimento se alastrou, e nos próximos vinte anos outros grupos formaram-se na Inglaterra, Escócia, Holanda, Índia, África do Sul, China, Egito, Suíça, América do Norte e a do Sul. Praticaram rendição absoluta, direção de suas vidas por um Espírito Santo, compartilhar experiências, companheirismo, mudança de vida, fé e oração. Apontaram para padrões absolutos de Amor, Pureza, Honestidade, e eliminação do total do egoísmo, que foram introduzidos nos primeiro grupos de AA em Akron e Cleveland e Nova Iorque. Acima de tudo no grupo existia um companheirismo: "O Companheirismo Cristão do Primeiro Século." Levavam sua mensagem agressivamente aos outros. Reuniam-se em igrejas, universidades, e lares.

O Grupo de Oxford e seus princípios foram levados aos Estados Unidos de modo que existiam em ambas as cidades de Nova Iorque e Akron, quando Bill Wilson e Dr. Bob Smith encontraram-se usavam seus respectivos bottons. Estes dois grupos amparariam e ensinariam seus princípios aos nossos co-fundadores, que ingressam nos grupos de fledgling como Dry Drunk (bêbado seco) e Anonimous Drunk (bêbado anônimo), e ingressaram praticamente na mesma época.

Como o Grupo de Oxford chegou aos Estados Unidos?

Um já membro dos Oxford, Ken Twitchell, freqüentou a Universidade de Princeton e tinha um irmão na Cidade de Nova Iorque que era um precursor na Igreja de Episcopal do Calvário. Essa é uma das muitas coincidências. Em 1918 durante suas viagens, Frank Buchman encontrou um trabalhador jovem da YMCA, Sam Shoemaker , na China e o converteu aos princípios do Grupo de Oxford. Anos mais tarde, Sam tornou-se o ministro dessa Igreja do Calvário em Nova Iorque, e essa mesma igreja tornou-se o quartel general titular para o Grupo de Oxford nos Estados Unidos. (O nome foi mudado em 1928 de "Companheirismo Cristão do Primeiro Século" para "Grupo de Oxford.")

A popularidade dos grupos chegou ao ponto máximo durante este período. Havia 10.000 pessoas em uma reunião em Stockbridge nas Montanhas de Berkshire. As equipes de abordagem começaram a ter seus "representantes em várias cidades".

Em 1931 em Inglaterra, um redator de jornal de Londres, A. J. O Russell, ajudou um Grupo de Oxford com a intenção de pulgar o grupo. Depois escreveu, "Vim como um observador e tornei-me um convertido!" (Russell mais tarde editou "Deus Chamando", que pode ser visto no meio do material usado pelos primeiros AAs.) Uns 9 anos

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mais tarde, em 1940, Richmond Walker of the Quincy, grupo de Massachusetts escreveu o livro 24 horas ainda hoje usado por nós. Isto foi feito depois que Russell escreveu "Deus Chamando " mas foi modelado longe do tema espiritual. O livro do Russell," For Sinners Only", descreveu sua viagem de filho pródigo ao Grupo de Oxford e tornou-se um best seller em 1930 na Inglaterra e nos Estados Unidos, e foi impresso em oito idiomas.

Um capítulo do livro foi dedicado à Igreja Episcopal de Calvário da Cidade de Nova Iorque aonde é reitor, Sam Shoemaker . A Igreja de Calvário tornou-se o quartel general Americano para o Grupo de Oxford durante os anos 30. E estava lá, (na missão da igreja), aquele amigo de Bill Wilson, Ebby Thatcher, que presenciou os últimos momentos de bebedeira de Bill.

COMO A MENSAGEM CHEGOU A BILL W.

Em 1932 e 1933, um homem chamado Rowland Hazard, filho de um Senador e proprietário bem sucedido de um engenho da Ilha de Rhode, tinha tornado-se um Alcoólico sem esperança, e foi procurar ajuda com um psiquiatra de fama mundial, Carl Jung. Jung falou que não havia nenhuma esperança para ele ali, que voltasse para casa e que talvez encontraria essa ajuda em algum grupo religioso. Foi o que fez ingressou no Grupo de Oxford nos Estados Unidos e tornou-se sóbrio. Ensinaram -lhe certos princípios que ele aplicou a sua vida. Este relato está documentado por Ed no Livro Azul.

Em 1934, Ebby Thatcher, amigo de infância de Bill Wilson, estava para ser preso como um bêbado crônico em Bennington , Vermont. Foi visitado por três homens de um Grupo de Oxford; Shep Cornell, Rowland Hazard, e Cebra Graves. (Num trabalho precursor do nosso 12 Passo!) Eles posteriormente enviaram sozinho Rowland Hazard para ver Ebby. Agiu como um tipo de padrinho e contou seu relato. Ensinou os preceitos que ele tinha aprendido para Ebby no Grupo de Oxford. Mais tarde, como sabemos, em dezembro desse ano, Ebby teve sua oportunidade de transmitir estes preceitos para Bill Wilson. Aqui estão esses preceitos, transcrito de uma fita de uma das conversas de Bill sobre A.A.:• a.. Admitimos somos impotentes. • b.. Seremos honestos conosco mesmos. • c.. Falaremos sobre isso com outra pessoa. • d.. Faremos reparação a quem prejudicamos. • e.. Levaremos essa mensagem a outros de graça. • f.. Oramos a um Deus que nós o entendemos. Agora começaremos a ver os acontecimentos em Akron e na área de Nova Iorque no período de dez ano anterior ao início de AA. Veremos como, pelo mecanismo do Grupo de Oxford e seus principais líderes, Frank Buchman e Sam Shoemaker, as sucessões dos acontecimentos possibilitaram tornar possível a reunião entre Bob e Bill em Akron em 1935. Shep Cornell, Rowland Hazard, e Cebra Graves eram três

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membros de Grupo de Oxford. Faziam parte da equipe de abordagem que trabalhavam ao redor do país em várias cidades. Em novembro de 1934, Ebby entregou sua vida a Deus na Igreja de Episcopal de Calvário por intermédio de Sam Shoemaker . (Sam tinha encontrado Frank Buchman na China em 1918, e por volta de 1934 era considerado como um líder importante do movimento Grupo de Oxford nos Estados Unidos e mantinha seu quartel general.) O Ebby ingressou nessa missão. Bill W. vai até lá bêbado procurando por Ebby, não o achou, e vai ao Towns Hospital.

Bill Duval recorda em uma carta, "Bill W. contou-nos que ele tinha ouvido que Ebby, no domingo anterior na Igreja de Calvário, tinha testemunhado que com a ajuda de Deus ele tinha ficado sóbrio alguns de meses". Bill disse que se Ebby pode receber ajuda aqui, então ele (Bill) também pode. Bill pareceu-nos próspero comparado com os freqüentadores normais daquela missão, (realmente, usava um terno da Brooks Brother's comprado numa revista por $5.00!), então concordamos que ele fosse ao Towns Hospital onde Ebby e outros do grupo estavam a fim de poder conversar com ele.

Depois de sua experiência espiritual em Towns Hospital, Bill imediatamente tomou uma decisão tornar-se muito ativo no trabalho do Grupo de Oxford, e assim traria outros Alcoólicos do Towns Hospital ao grupo. Frequentou as reuniões da missão Grupo de Oxford e o hospital diariamente por quatro ou cinco meses, direto até chegar a viagem de Akron. Ninguém por ele abordado permaneceu sóbrio.

BILL W. E O TRABALHO DE GRUPO OXFORD(Jim Newton entra a cena)

Rowland Hazard, que abordou Ebby em agosto de 1934, teve uma doutrinação completa nos ensinos do Grupo Oxford e passou muito destes ensinamentos aprendidos a Ebby e a Bill W. Então depois desse acontecimento de Towns Hospital no final de 1934, Bill e o resto do contingente Alcoólico do Grupo de Oxford iniciaram uma reunião na Cafeteria do Stewart em Nova Iorque transformando-a numa reunião regular. Shep Cornell, então um membro da equipe de abordagem do Grupo de Oxford que incluíam Rowland, Sam Shoemaker , e Hanford Twitchell, era também recuperados. Lois Wilson falou de presença regular nas reuniões do Grupo de Oxford de Bill, Shep, e Ebby. James Houck, e membros não alcoólicos do Grupo de Oxford como Frederick , Maryland, declarando que Bill W. foi a muitas reuniões do Grupo de Oxford no Francis Scott Key Hotel em Frederick e que sempre o tema central era alcoolismo. Ele estava obcecado com a idéia de transmitir a mensagem. A conclusão é que Bill teve um largo conhecimento nos círculos do Grupo de Oxford, não apenas confinado a Sam e a Casa do Calvário. Bill contou a Houck que trabalhou com 50 bêbedos nos primeiros 6 meses sem nenhum êxito. A Casa de Calvário era a residência do Sam e continha uma

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livraria de Grupo de Oxford. A Missão de Calvário estava em outra localização, no distrito de "gas house". Milhares das pessoas compareciam à missão onde conseguiam alojamento, refeições, e reuniões de Grupo de Oxford todas as noites. Tex Francisco era seu superintendente em 1934 quando Bill apareceu por lá.

Agora entra em cena o homem que muito provavelmente foi o responsável pela reunião fatídica de Akron entre Bill e o Dr. Bob. Jim Newton.

Essas situações circunstanciais surpreendentes serão mostradas a seguir:

Jim com 20 anos de idade era um vendedor de malas em Nova Iorque e tempos atrás encontrou um Grupo de Oxford acidentalmente (realmente, procurava pertimento e jogos naquela noite!) Quando estava em Massachusetts em 1923 quando tinha 18 anos de idade. Foi convertido numa festa, e a partir daquele instante deixou que Deus controlasse sua vida. Encontrou uma senhora chamada Eleanor Forde que o influenciou fortemente dentro do movimento. (Ele e Eleanor casaram-se 20 anos mais tarde em 1943.)

Vários entrelaçamentos e voltas de destino colocaram Jim Newton em Akron, Ohio que instalou lá o modelo de reforma de caráter. que era tanto um Grupo de Oxford como uma missão do Grupo de Oxford. Conversaremos sobre as relações entrelaçadas de Henrietta Seiberling, o Dr. Walter Tunks , Harvey e Russell Firestone, Sam Shoemaker, Frank Buchman, T T. Henry and Clarace Williams, e Anne e o Dr. Bob Smith.

Jim Newton foi a Ft. Myers, Florida em 1926, estava com 21 anos, visitar seu pai, e eles compraram uma área de 35 acre de terras em frente à propriedade Thomas Edison. Jim Newton tornou-se como um filho adotivo do Sr. e Sra. Edison, e freqüentador assíduo das grandes festas e aniversario dos Edison que recebiam pessoas famosas como Henry Ford, Harvey Firestone, e muitos líderes mundiais famosos, pessoas de negócio e personalidades.

Aqui se inicia uma circunstância que preparou o caminho para Akron, Ohio. Sr. Harvey Firestone, oferece a Jim um trabalho como secretário na Firestone Tire and Rubber Company em 1926, e leva para Akron, Ohio colocando-o numa residência no Portage Country Club ao lado à Propriedade da Firestone. O Jim trabalhou para Firestone onze anos e estava sendo preparado para ser o presidente da companhia quando renunciou e foi dedicar-se exclusivamente aos Grupos Oxford. O clérigo da Firestone era Rev. Walter Tunks. O Jim uniu-se Tunks na igreja e tornou-se ativo no comitê de comitê de aniversário e festas.

O Jim tinha estado em Nova Iorque para ver a luta entre Jack Dempsey e Gene Tunney. Foi quando confessou a Frank Buchman

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que sua vida estava em tumulto e ele estava pensando em desistir de tudo e sumir. Buchman enviou-o para se encontrar Sam Shoemaker na Igreja de Calvário quando ele fez uma confissão a Sam nos moldes do Grupo de Oxford (Quinto Passo de A.A.) e então depois disso foi convidado a unir-se um das equipes de abordagens do Grupo de Oxford.

Essas equipes de abordagem eram grupos de homens que faziam tentativas para converter outros ao método de espiritualidade do Grupo de Oxford. Jim freqüentemente encontrou com o Shep Cornell e Rowland Hazard. Encontrou T. Henry e Clarace Williams, marido e mulher membros do Grupo de Oxford de Akron e membros da Walter Tunks. A equipe de abordagem distribui-se em festas, nos hotéis e clubes em várias cidade. Em janeiro de 1933, Frank Buchman , liderando uma equipe de trinta homens e mulheres, foram a Akron para numa primeira etapa para darem testemunhos no Mayflower Hotel e nas igrejas de Akron, e iniciar as pessoas nas experiências do Grupo de Oxford. Aqui nós claramente podemos ver claramente o trabalho de Jim Newton no comitê de festas e aniversário com Firestone e a Igreja Episcopal de Tunks influenciar na escolha de Akron como o local deste esforço, antes que alguma outra cidade. Tivesse Jim não sido membro de equipa de abordagem em Akron, muito provavelmente que Buchman jamais teria escolhido esta cidade, bastante desconhecida, pequena, como um lugar para colocar seus esforços de evangelização. O Jim era o porta-voz que introduziu Buchman definitivamente nos meios sociais nessa semana em Akron.

Faltam aparecer em cena, entretanto, Henrietta Seiberling, Anne e Bob Smith, T. Henry e Clarace Williams.

Quando Jim chegou a primeira vez em Akron foi recepcionado pela família Firestone , e tornou-se rapidamente amigo de um dos filhos, Russell (Bud) Firestone. O Bud tinha um problema sério com bebidas e já tem sido enviado a vários hospitais a nada resolvia. Jim foi com Bud tentar novamente numa clínica, Hudson River em Nova Iorque, e permaneceu lá num programa de 30 dias. Então levou Bud a uma Conferência Episcopal em Denver a que as pessoas do Grupo de Oxford tinha sido convidadas. No trem depois do Encontro, ele teve a chance apresentar Bud a seu velho ministro do Grupo de Oxford, Sam Shoemaker . Ficando só com Sam, Bud rendeu sua vida a Deus, num vagão privativo do trem. Sua vida mudou, e suas situações na família e no casamento foram restabelecidas.

"Agora Akron estava no lugar onde AA seria fundado. Jim Newton tinha ajudado a trazer à cidade a mensagem de Grupo de Oxford através de seu amigo de Alcoólico, Bud Firestone. A mensagem levou a uma recuperação "milagrosa" Bud. A mensagem e a recuperação foram transmitidas a uma comunidade interessada por um pai agradecido, Sr. Harvey, Firestone e por notas na imprensa."

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Clarace Williams estava lá, e uniu-se o Grupo de Oxford junto com T. Henry Williams, e começaram assistindo as reuniões regularmente. Ao mesmo tempo, uma senhora chamada Henrietta Seiberling, a esposa de John Seiberling da Seiberling Tire and Rubber Company, achou se com problemas conjugais pessoais, e separou de seu marido. Veio ao Grupo de Oxford e assistiu as primeiras reuniões no Hotel de Mayflower. Foi acompanhada de uma mulher chamada Anne Smith, a esposa de um conhecido cirurgião de Akron que estava em problemas com a bebida.

Os personagens agora assumem seus papéis. Uma família missionária bondosa, os Willians, ficaram impressionados com a mensagem de Grupo de Oxford, ofereceram seu lar para um ponto de encontro. Uma senhora compassiva chamada Henrietta Seiberling, que tinha dominado alguns princípios de grupo de Oxford, teve a visão de que com os princípios bíblicos ajudaria seu bom amigo, o Dr. Bob Smith, no seu problema com a bebida. Adicione a esta mistura os esforços de Anne a esposa, arrumaram livros e leituras espirituais, princípios da Bíblia, o Grupo de Oxford, e vários outros escritos cristãos, e orando para uma solução para seu marido aparentemente sem esperança com a bebedeira. Com seu talento como cirurgião o Alcoólico tornou-se o foco de todos estes esforços. Fez muita leitura espiritual, assistiu muitas reuniões, mas permanecia bêbado.

Agora como tudo se converge, e este relato se funde aos fatos que todos sabemos através de nossa literatura de AA.

Dentro dessa cena chegando de uma "rum hound" de Nova Iorque, na qual Bill Wilson e Henrietta Seiberling sentiram-se guiados por Deus. Bill tinha recuperado da sua doença, e ficou determinado permanecer sóbrio ajudando outro bêbado. O "rum hound from New York", (na própria descrição de Bill quando fez a ligada fatídica a Henrietta), "somente aconteceu" para trazer para Akron algumas soluções até agora nunca aplicadas em nenhum lugar e especialmente para uma única pessoa.• 1.. Algum conhecimento importante sobre a doença de alcoolismo acumulado pelo trabalho de o Dr. Silkworth em Towns Hospital em Nova Iorque. • 2.. Uma solução espiritual importante para o problema foi passada por Dr. Carl Jung a Rowland Hazard e então para Bill por Ebby Thatcher. • 3.. Uma validação desta solução espiritual pelos estudos eruditos do Professor de William James. • 4.. Uma ligação entre o problema de alcoolismo, e esta solução esse Deus podia e resolveria o problema se um relacionamento for mantido com Ele, por usar o programa prático do Grupo de Oxford de ação, que era já provado pelos resultados experimentado por Rowland e Ebby quando seguiram o programa de Grupo de Oxford. Em Akron, T. Henry e Clarace Williams e Henrietta Seiberling

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assistiam reuniões de Grupo de Oxford no Hotel de Mayflower e em toda parte. O Dr. Bob Smith também assistiu com sua esposa, Anne. Ele negava assumir publicamente seu problema, e continuava bebendo. Henrietta sugeriu a T. Henry se seria possível fazer uma reunião menor mais privada para que Dr. Bob pudesse sentir-se mais a vontade e com mais tranqüilidade e fosse capaz de fazer uma confissão no estilo de Grupo de Oxford (Nosso Quinto Passo), e um compromisso a sobriedade. O lar do Henry foi escolhido para esta reunião especial e estas reuniões começaram numa quarta-feira em abril de 1935 - um mês antes de Bill Wilson chegar a Akron. Estas reuniões normalmente foram dirigidas por Henry T. , Henrietta, ou Florence Main, e em uma destas o Dr. Bob seria capaz de confessar que ele era um beberrão e que precisava de ajuda e que não conseguia parar. Isto era o mesmo lugar que tornou-se o lar ao " about to begin" Alcoholic Contingent of the Oxford Group .

Nós agora podemos ver como todos estes acontecimentos contribuíram para colocar o Dr. Bob e Bill numa reunião no lar de Henrietta Seiberling na propriedade da Gate House of the Firestone, e tornou possível se fundar Alcoólicos Anônimos.

AKRON - 11 de maio, 1935

Nós não conseguimos achar nenhuma referências em qualquer lugar que indicasse que Bill Wilson considerou ou fez qualquer esforço ciente para localizar um membro de Grupo de Oxford quando fez sua ligada de desespero no Hotel de Mayflower em Akron. Henrietta Seiberling escreveu como segue:

"Bill olhou para a sala de cocktail. Bem, eu apenas entrarei e ficarei bêbado e será o fim para tudo isso!"

Em vez disso , tendo estando cinco meses sóbrios no Grupo de Oxford, ele fez uma oração. Virou seu olhar uma placa de guia dos ministros e uma coisa estranha aconteceu. Pôs o seu dedo em um nome -- O Rev. Tunks. que era ministro da Harvey Firestone, e Firestone era quem tinha trazido Buchman e trinta membros de Grupo de Oxford a Akron para os dez dias em gratidão pela ajuda dada a seu filho, Russell, um bêbado.

Pelo ato de gratidão desse pai, esta corrente inteira começou.Pesquizado e Traduzido pelo CAI - SPO Nascimento de A.A. e seu Desenvolvimento Alcoólicos Anônimos iniciou-se em 1935, em Akron, Ohio, com o encontro de Bill W., um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e o Dr. Bob, um cirurgião de Akron. Ambos haviam sido alcoólicos desenganados.

Antes de se conhecerem, Bill e o Dr. Bob tinham tido contato com o Grupo Oxford, uma sociedade composta, em sua maior parte, por

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pessoas não alcoólicas, que defendia a aplicação de valores espirituais universais na vida diária. Naquela época, os Grupos Oxford da América eram dirigidos pelo renomado clérigo episcopal Dr. Samuel Shoemaker. Sob sua influência espiritual, e com a ajuda de seu velho amigo, Ebby T., Bill havia conseguido sua sobriedade e vinha mantendo sua recuperação trabalhando com outros alcoólicos, apesar do fato de que nenhum de seus "candidatos" haver se recuperado. Entretanto, o fato de ser membro do Grupo Oxford não havia oferecido ao Dr. Bob a suficiente ajuda para alcançar a sobriedade.Quando finalmente o Dr. Bob e Bill se conheceram, o encontro produziu no Dr. Bob um efeito imediato. Desta vez encontrava-se cara a cara com um companheiro alcoólico que havia conseguido deixar de beber. Bill insistia que o alcoolismo era uma doença da mente, das emoções e do corpo. Esse importantíssimo fato fora-lhe comunicado pelo Dr. William D. Silkwoth, do Hospital Towns, de Nova Iorque, instituição em que Bill fora internado várias vezes. Apesar de médico, o Dr. Bob não tivera conhecimento de que o alcoolismo era uma doença. Bob acabou convencido pelas idéias contundentes de Bill e logo alcançou sua sobriedade, e nunca mais voltou a beber.

Ambos começaram a trabalhar imediatamente com os alcoólicos internados no Hospital Municipal de Akron. Como conseqüência de seus esforços, logo um paciente alcançou sua sobriedade. Apesar de ainda não existir o nome Alcoólicos Anônimos, esses três homens constituíram o núcleo do primeiro Grupo de A.A. No outono de 1935, o segundo Grupo foi tomando forma gradualmente em Nova Iorque. O terceiro Grupo iniciou-se em Cleveland, em 1939. Havia-se gasto mais de quatro anos para conseguir 100 alcoólicos sóbrios, nos três Grupos iniciais.

Em princípio de 1939, a Irmandade publicou seu livro de texto básico, Alcoólicos Anônimos. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se a filosofia e os métodos de A.A., a essência dos quais se encontram agora nos bem conhecidos Doze Passos de recuperação. A partir daí, A.A. desenvolveu-se rapidamente.

Também em 1939, o Cleveland Plain Dealer publicou uma série de artigos sobre Alcoólicos Anônimos, seguida por alguns editoriais muito favoráveis. O Grupo de Cleveland, composto por uns 20 membros, logo se viu inundado por incontáveis pedidos de ajuda. Os alcoólicos que chegavam, logo após algumas semanas de sobriedade, eram encarregados de trabalhar com os novos casos. Com isso, deu-se ao movimento uma nova orientação, e os resultados foram fantásticos. Passados poucos meses, o número de membros de Cleveland havia crescido para 500. Pela primeira vez havia evidência de que a sobriedade poderia multiplicar-se, em massa.

Enquanto isso, o Dr. Bob e Bill haviam estabelecido em Nova Iorque,

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em 1939, uma Junta de Custódios para ocupar-se da administração geral da Irmandade recém-nascida. Alguns amigos de John Rockefeller, Jr. integravam esse conselho, junto com alguns membros de A.A. Deu-se à Junta o nome de Fundação Alcoólica. No entanto, todas as tentativas de se conseguir grandes quantias de dinheiro fracassaram porque o Sr. Rockfeller havia chegado à conclusão prudente de que grandes somas poderiam atrapalhar a nascente Irmandade. Apesar disso, a Fundação conseguiu abrir um pequeno escritório em Nova Iorque, para responder aos pedidos de ajuda e de informações e para distribuir o livro de A.A., um empreendimento, diga-se de passagem, que havia sido financiado principalmente pelos membros de A.A.

O livro e o novo escritório logo se revelaram de grande utilidade. No outono de 1939, a revista Liberty publicou um artigo sobre Alcoólicos Anônimos e, como conseqüência, logo chegaram ao escritório cerca de 800 urgentes pedidos de ajuda. Em 1940, o Sr. Rockfeller organizou um jantar, para dar pulgação à A.A., ao qual convidou muitos de sus eminentes amigos nova-iorquinos. Esse acontecimento suscitou outra onda de pedidos. Cada pedido era respondido com uma carta pessoal e um pequeno folheto. Além disso, fazia-se menção ao livro Alcoólicos Anônimos e logo começou-se a distribuir numerosos exemplares do livro. Ao final do ano, A.A. já tinha 2.000 membros.

Apareceu então, em março de 1941, no Saturday Evening Post, um excelente artigo sobre Alcoólicos Anônimos e a reação foi tremenda. No final daquele ano o número de membros subira a 6.000 e o número de Grupos multiplicara-se proporcionalmente. A Irmandade crescia a passos gigantescos por todas as partes dos EUA/Canadá.

Em 1950, havia no mundo inteiro perto de 100 mil alcoólicos em recuperação. Por mais impressionante que tenha sido esse desenvolvimento, a década de 1940 a 1950 foi de grande incerteza. A questão crucial era se todos aqueles alcoólicos volúveis poderiam viver e trabalhar juntos em seus Grupos. Poderiam manter-se unidos e funcionar com eficácia? Esta pergunta ainda pairava sem resposta. Manter correspondência com milhares de Grupos relativamente a seus problemas particulares chegou a ser um dos principais trabalhos do escritório de Nova Iorque.

Não obstante, no início de 1946, já era possível tirar algumas conclusões bem razoáveis sobre as atitudes, costumes e funções que se ajustariam melhor aos objetivos de A.A. Esses princípios, que haviam surgido a partir das árduas experiências dos Grupos, foram codificadas por Bill, sendo hoje conhecidos pelo nome de As Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Em 1950, o caos dos anos anteriores quase havia desaparecido. Havia-se conseguido enunciar e por em prática, com êxito, uma fórmula segura para a unidade e o funcionamento de A.A. (Ver a Estrutura de Serviços Gerais dos

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EUA/Canadá.)

Durante essa frenética década, o Dr. Bob dedicava seus esforços ao assunto da hospitalização dos alcoólicos e à tarefa de incutir-lhes os princípios de A.A. Os alcoólicos chegavam em grande número a Akron para obter cuidados médicos no Hospital Saint Thomas, uma instituição administrada pela Igreja Católica. O Dr. Bob se integrou ao corpo médico desse hospital e ele e a irmã Ignatia, também do pessoal do hospital, prestaram cuidados médicos e indicaram o programa a cerca de 5.000 alcoólicos internados. Após a morte do Dr. Bob, em 1950, a irmã Ignatia seguiu trabalhando no Hospital da Caridade, em Cleveland, onde contava com a ajuda dos Grupos de A.A. locais e onde outros 10.000 alcoólicos internados encontraram Alcoólicos Anônimos pela primeira vez. Esse trabalho foi um grande exemplo de boa vontade, que permitiu comprovar que A.A. cooperava eficazmente com a medicina e a religião.

Naquele ano, Alcoólicos Anônimos realizou em Cleveland sua primeira Convenção Internacional. Nessa Convenção o Dr. Bob fez seu último ato perante a Irmandade e, em sua fala de despedida, se deteve na necessidade de se manter simples o programa de A.A. Junto com os outros participantes, ele viu os Delegados aprovarem entusiasmados As Doze Tradições de A.A., para uso permanente da Irmandade em todo o mundo. Faleceu em 16 de novembro de 1950.

No ano seguinte, ocorreu outro acontecimento muito significativo. As atividades do escritório de Nova York haviam sido grandemente ampliadas e passaram a incluir trabalhos de relações públicas, conselhos aos novos Grupos, serviços em hospitais, nas prisões, junto aos Internacionalistas e Solitários e cooperação com outras agências no campo do alcoolismo. O escritório também publicou livros e folhetos "padrão" de A.A. e supervisionava a tradução dessas publicações para outros idiomas. Nossa revista internacional, A.A. Grapevine, já tinha uma grande circulação. Essas atividades, e outras mais, se tornaram indispensáveis para A.A. em sua totalidade.

Não obstante, esses serviços vitais estavam ainda em mãos de uma isolada Junta de Custódios, cujo único vínculo com a Irmandade havia sido Bill e o Dr. Bob. Como os co-fundadores haviam prevista alguns anos atrás, era imperativo vincular os Custódios dos Serviços Mundiais de A.A. (hoje a Junta de Serviços Gerais de A.A.) à Irmandade a qual serviam. Para isso, convocou-se uma reunião de Delegados de todos os estados e províncias dos EUA/Canadá. Assim constituído, esse organismo de serviços mundiais se reuniu pela primeira vez em 1951. Apesar de certa apreensão suscitada pela proposta, a assembléia teve grande êxito. Pela primeira vez, os Custódios, anteriormente isolados, eram diretamente responsáveis perante A.A. na sua totalidade. Havia-se criado a Conferência de Serviços Gerais de A.A. e dessa maneira assegurado o funcionamento global de A.A. para o futuro.

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A segunda Convenção Internacional teve lugar em Saint Louis, em 1955, comemorando os 20 anos da Irmandade. Naquela época, a Conferência de Serviços Gerais já havia demonstrado seu real valor. Nessa ocasião, em nome de todos os pioneiros de A.A., Bill transferiu à Conferência e a seus Custódios a futura vigilância e proteção de A.A. Nesse momento a Irmandade tomou posse daquilo que era seu: Alcoólicos Anônimos atingiu sua maioridade.

Se não fosse pela ajuda dos amigos de A.A. nos seus primeiros dias, é provável que Alcoólicos Anônimos nunca tivesse existido. E se não contasse com a multidão de amigos que, desde então, têm contribuído com seu tempo e sua energia - especialmente nossos amigos da medicina, da religião e dos meios de comunicações - A.A. nunca poderia ter crescido e prosperado. A Irmandade expressa sua perene gratidão pela amistosa ajuda.

No dia 24 de janeiro de 1971, Bill faleceu de pneumonia em Miami Beach, Flórida, onde - havia sete meses - pronunciara diante da Convenção Internacional do 35º aniversário suas últimas palavras aos companheiros de A.A.: "Deus os bendiga, a vocês e a Alcoólicos Anônimos, para sempre."

Desde então A.A. se tornou uma Irmandade mundial, demonstrando que a maneira de viver de A.A. hoje pode superar quase todas as barreiras de raça, de credo e de idioma. A Reunião de Serviço Mundial, realizada pela primeira vez em 1969, vem ocorrendo a cada dois anos desde 1972, alternando sua sede entre Nova Iorque e uma cidade de outro pais. Os Delegados à RSM reuniram-se em Londres (Inglaterra); Helsinki (Finlândia); San Juan del Rio (México); Guatemala (Guatemala); Munique (Alemanha) e Cartagena (Colômbia).Carta de Bill W. a Carl Jung Aqui está um capitulo de vital importância na história dos inícios do A. A., primeiramente publicado na GRAPEVINE, em janeiro de 1963, sendo reeditado em janeiro de 1968 e em novembro de 1974.CARTA DE BILL, W. Janeiro 23, 1961.Meu Caro Dr. Jung,

Esta carta há muito lhe deveria ter sido enviada.

Devo primeiramente apresentar-me ao Senhor como Bill W. um dos co-fundadores das sociedades dos Alcoólicos Anônimos. Embora seja provável que o Sr. Já tenha ouvido falar de nós, com certeza ignora que uma conversa que manteve com um de seus pacientes, Mr. Rowland, nos idos de 1930, tornou-se uma das regras fundamentais da nossa Sociedade.

Embora Mr. Rowland tenha nos deixados há muito tempo, o registro de sua inesquecível experiência, enquanto sob os seus cuidados,

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passou definitivamente para a nossa história e é a que passo a lhe relatar: Tendo Mr. Rowland esgotado todos os recursos para livrar-se do alcoolismo, tornou-se em 1931 seu paciente, permanecendo em tratamento, se não me engano durante mais ou menos um ano; após este tempo deixou-o cheio de confiança e com a mais irrestrita admiração pelo Senhor. Contudo para a sua enorme consternação, retornou ao velho hábito.

Convencido de que o senhor era a sua “tábua de salvação”, voltou ao tratamento. O relato do diálogo entre ambos veio a torna-se o primeiro elo de uma corrente de acontecimentos, que terminaram por induzir a fundação de nossa Sociedade.

A minha lembrança deste relato do encontro entre ambos é que se segue: primeiramente disse-lhe o Senhor francamente que não via esperanças para ele em novos tratamentos, fossem eles médicos ou psiquiátricos. Esta sua posição sincera e humilde foi, sem dúvida, a primeira pedra em que fundamentamos a nossa Sociedade.

Tal afirmação, vinda de quem ele tanto confiava e admirava produziu sobre ele o mais violento impacto.

Quanto ele lhe perguntou se então não haveria para ele alguma esperança, o Senhor lhe respondeu que poderia haver sim e que esta seria a de tornar-se o sujeito de uma genuína experiência espiritual ou religiosa - em resumo, de uma autêntica conversão. Tal experiência poderia motivá-lo mais que outra qualquer, disse-lhe o Senhor. Mas preveniu-o de que conquanto tais experiências tivessem acontecido a alguns alcoólicos, elas eram comparativamente raras. E recomendou-lhe que se colocasse em uma atmosfera religiosa e que esperasse. Esta foi a substância do seu conselho.

Prontamente Mr. Rowland juntou-se ao Oxford Group, um movimento evangélico de grande sucesso na Europa, movimento este que lhe deve ter sido familiar.

Certamente o Senhor se lembrara da grande ênfase que davam aos princípios de autovigilância, da confissão, da reparação e da doação pessoal ao serviço dos outros. Eles também praticavam a meditação e a prece intensivamente. E foi nesta prática que Mr. Rowland encontrou a experiência de conversão, que o libertou, finalmente, da compulsão de beber.

Voltando à Nova York tornou-se membro ativo do Oxford Group, entidade então conduzida pelo Dr. Samuel Shoemaker. Dr. Shoemaker havia sido um dos fundadores daquele movimento e a sua poderosa personalidade era carregada de imensa sinceridade e convicção.

Neste tempo (1932-34) o O. G. já havia recuperado um número de

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alcoólicos e Rowland, sentindo que poderia identificar-se com aqueles sofredores lançou-se, ele mesmo, no auxílio de outros. Um desses eram um velho companheiro de colégio meu, chamado Edwin T. (Ebby). Ele havia sido tratado por outra instituição, mas Mr. H. e um outro ex-alcoólico do O. G. contataram-se com ele e convenceram a retornar à sobriedade.

Enquanto isto, eu percorria os caminhos do alcoolismo, tentando cura-me por mim mesmo.

Felizmente, acabei sendo cliente do Dr. William D. Silkworth, que era maravilhosamente capaz de entender os problemas alcoólicos. E assim como o Sr. resgatou Rowland, assim também ele me resgatou do álcool.

Sua teoria era a de que o alcoolismo tinha dois componentes: por um lado uma obsessão que compelia o sofredor a beber, contra seu desejo e, por outro lado, uma espécie de dificuldade metabólica que ele chamava de alergia. A compulsão ao álcool garantia que o hábito de beber prosseguiria e a alergia fazia com que o sofredor entrasse em decadência, enlouquecesse ou morresse. Embora eu fosse um dos que havia julgado ser possível ajudar, acabou sendo obrigado a me confessar que já não via mais esperança para o meu caso. Eu deveria considerar o meu tratamento encerrado. Para mim isto foi uma bofetada. Assim como Rowland foi preparado pelo Senhor para a sua experiência de conversão, meu maravilhoso amigo também me preparou para semelhante experiência ao dar-me tal terrível veredicto.

Ouvindo falar sobre a minha recaída, meu amigo Edwin T. veio ver-me em minha casa, onde eu estava bebendo. Era novembro de 1934 e já fazia muito tempo que eu registrara meu amigo Edwin como um caso incurável. No entanto, ali estava ele, no mais evidente estado de sobriedade. Este estado de sobriedade certamente estava relacionado ao curto período em que ele esteve ligado ao Oxford Group e era naquele momento tão evidente, tão distinto de sua usual depressão que me foi tremendamente convincente. Por ser ele um irmão-sofredor comunicou-se comigo em tal profundidade que eu imediatamente senti que deveria buscar uma experiência igual a sua ou então morrer.

Voltei então aos cuidados do Dr. Silkworth; onde pude tornar-me novamente sóbrio, ganhando assim nova visão sobre a experiência da libertação do meu amigo e novo enfoque no caso de Howland H.

Livre mais uma vez do uso do álcool passei a me sentir terrivelmente deprimido, o que me pareceu ser devido a minha inabilidade de adquirir qualquer tipo de fé. Edwin T. visitou-me novamente nesse período, repetindo as mesmas fórmulas do tratamento do O. G. Quando ele me deixou, recaí na mais profunda depressão.

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Desesperado, então gritei: - “Se existir um deus, que ele se mostre para mim”. Imediatamente, uma iluminação de enorme impacto e dimensão envolveu-me, uma coisa extraordinária que tentei descrever no meu livro Alcoholics Anonymous, bem como em “A.A. Come of Age”, textos básicos que lhe estou enviando agora.

Meu desligamento da obsessão pelo álcool foi imediato. Senti que me havia tornado um homem livre.

Logo em seguida a esta minha experiência recebi no hospital, das mãos de Edwin o livro de William James, “Varieties of Religious Experience”, livro este que veio me conscientizar que a maior parte das experiências religiosas, as mais variadas têm um denominador comum que é o colapso do ego, a sua queda no maior desespero. O inpíduo tem que se encontrar em uma situação extrema, frente a um dilema insolúvel. No meu caso esta situação, este dilema insolúvel nasceu da minha compulsão à bebida e um profundo sentimento de desespero mais ainda tomou conta de mim quando o meu amigo alcoólico comunicou–me o seu veredicto de incurável, dado a Rowland H.

Durante a minha experiência religiosa tive a inspiração de uma sociedade de alcoólicos em que cada um se identificasse com o outro e lhe transmitisse a sua experiência, em uma espécie de cadeia. Se cada sofredor tinha que dar a notícia do veredicto de incurável que a ciência médica conferia ao ingresso no tratamento, deveria também lhe colocar a possibilidade de uma abertura a uma experiência de transformação espiritual. Este conceito provou ter sido a base de posteriores conquistas dos alcoólicos anônimos. Isto fez com que as experiências da conversão, quase tão múltiplas quanto as citadas por W. James se tornassem disponíveis em larga escala.

Nossos associados somavam no último quarto de século o número de 300.000. Na América e através de todo o mundo eles chegam a formar 8.000 grupos de A. A.

Assim sendo, nós do A. A. fomos extremamente beneficiados pelo Senhor, pelo Dr. Shoemaker do Oxford Group, por William James e pelo nosso amigo, o médico Dr. Silkworth.

Como vê o Senhor claramente agora, esta espantosa cadeia de acontecimentos realmente começou há muitos anos, na sala do seu consultório e foi desencadeada pela sua humildade e profunda percepção.

Muitos elementos do A. A. são estudiosos de sua obra. O Senhor endereçou-se especialmente em sua direção devido a sua convicção de que o homem é mais que o intelecto, as emoções e dois dólares de medicamentos.

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Os panfletos e outros materiais que lhe envio mostrar-lhe-ão o quanto a nossa sociedade vem crescendo, desenvolvendo o seu espírito de unidade e como ela vem estruturando as suas bases.

O Senhor gostará provavelmente de saber que além da experiência espiritual, muitos A. A. vêm ingressando em outras experiências psíquicas, com considerável força cumulativa.

Outros membros, depois de recuperados nos A. A. têm sido muito ajudados pelos seus assistentes e alguns são estudiosos do I Ching e do admirável prefácio que o senhor fez para este livro.

Esteja certo de que como ninguém mais o senhor ocupa destacada posição no afeto e na história de nossa sociedade.

Muito grato ao Senhor,

William G. W.________________________________________RESPOSTA DE JUNG. Janeiro 30, 1961.Caro Sr. W.,

A sua carta foi-me realmente bem-vinda.

Não tive mais notícias de Rowland H. e muitas vezes desejei conhecer o seu destino.

O diálogo que mantivemos, ele e eu, e que ele muito fielmente lhe transmitiu teve um aspecto que ele mesmo desconheceu. A razão pela qual não pude dizer-lhe tudo foi que naquela época eu tinha que ser excessivamente cuidadoso com tudo o que dizia. Eu havia descoberto que estava sendo de todas as maneiras mal interpretado.

Portanto, tive que ser muito cuidadoso ao conversar com Rowland H. Mas o que eu realmente concluí sobre o seu caso foi o resultado das minhas inúmeras experiências com casos semelhantes ao dele.

A sua fixação pelo álcool era o equivalente, em nível mais baixo, da sede espiritual do nosso ser pela totalidade, expressa em linguagem medieval, pela união com Deus.

Como poderia alguém expor tal pensamento sem ser mal interpretado em nossos dias?

O único caminho correto e legítimo para tal experiência é que ela aconteça para você na realidade e ela só pode acontecer se você procurar um caminho que o leve a uma compreensão mais alta. E você poderá ser conduzido a esta meta pela ação da graça, pela convivência pessoal honesta com os amigos ou através de uma

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educação mais alta da mente, para além dos limites do mero racionalismo. Vi pela sua carta que Rowland H. escolheu a segunda opção que, nas suas circunstâncias era, sem dúvida, a melhor.

Estou firmemente convencido de que o princípio do mal prevalecente no mundo conduz as necessidades espirituais, quando negadas à perdição, se ele não for contrabalançado por uma experiência religiosa ou pelas barreiras protetoras da comunidade humana. Um homem comum desligado dos planos superiores, isolado de sua comunidade, não pode resistir aos poderes do mal, muito propriamente chamados de demônio. Mas o uso de tais palavras nos leva a tais enganos que temos que nos manter afastados delas, tanto quanto possível.

Eis as razões porque não pude dar a Rowland H. plena e suficiente explicação. Estou arriscando-me a dá-las a você por ter concluído pela sua carta decente e honesta, que você já adquiriu uma visão superior do problema do alcoolismo, bem acima dos lugares comuns que, via de regra, se ouvem sobre ele.

Veja você, “álcohol” em latim significa “espírito”, e você, no entanto, usa a mesma palavra tanto para designar a mais alta experiência religiosa como para designar o mais depravador dos venenos.

A receita então é “spiritus” contra “spiritum”.

Agradecemos você novamente por sua amável carta, eu me reafirmo.

Seu sinceramente,

C. G. Jung.Os AAs de Cleveland deixam o Grupo Oxford Em alguns aspectos, é possível ver o início de 1939 como uma época mais feliz e mais simples, no que diz respeito aos AAs de Akron. Muitos se lembram dela dessa forma. As primeiras lutas haviam terminado; existia um livro; e os membros, reunidos em afeto e camaradagem por uma união mais íntima do que existe em muitas famílias, sabiam que conseguiriam permanecer sóbrios no programa.

Havia apenas uma reunião – o fato mais importante da semana para todos. Entre uma e outra, diariamente, havia café e conversas, uma festa nas noites de sábado e alguns novos bêbados para visitar no City Hospital. A.A. estava crescendo, mas ainda não tão rápido que pudesse incomodar alguém.

Na verdade, a situação não era idílica. Existia um verdadeiro problema com o Grupo Oxford.

Bob E. colocou: "Começamos com apenas alguns poucos sujeitos que

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foram bem-vindos a uma reunião do Grupo Oxford. Crescemos em número e barulho até tomarmos posse do lugar. Em vez de sermos o pessoal alcoólico do Grupo Oxford, éramos os líderes, tínhamos sempre que decidir, ou seja, fazer as coisas funcionarem.

"Mas estávamos limitados. Não podíamos questionar a orientação. Costumávamos nos sentar em círculo quando começamos, porque éramos poucos. T. Henry e Clarace, Florence Main e Henrietta Seiberling conduziam as reuniões. Eram os líderes.

"Metade do tempo tínhamos de ficar em silêncio, esperando ouvir a orientação. Isso fazia com que os bêbados ficassem, impacientes. Não conseguíamos agüentar. Ficávamos nervosos. À medida que aumentou o número de membros e nossa influência, o silêncio foi quase eliminado. Os não-alcoólicos podiam ver que suas regras não estavam sendo seguidas.

"Fazíamos parte do Grupo Oxford até que nos mudamos para outro espaço. Falou-se muito sobre o desgaste do carpete de T. Henry – eram muitos sujeitos entrando. Mas esse não era o problema, apesar de que ele precisou colocar cerca de 30 cadeiras até o final, e realmente precisávamos de mais espaço”.

"Isso é claro, explica muitas coisas. A maioria dos alcoólicos aceitou algumas partes do programa do Grupo Oxford e rejeitou outras. A insistência do Grupo no fato de que o membro tinha de praticar tudo de uma só vez não convencia os alcoólicos.

Bill observou que a prática do Grupo Oxford de "comprovar” (o julgamento de um membro sobre a autenticidade de orientação pina que outro dizia ter recebido) dava aos alcoólicos a sensação de que os líderes do G.O. estavam tentando controlá-los. Também citava a técnica de fazer com que as pessoas se sentissem indesejadas ou pouco à vontade até concordarem com algum ponto de visto do G.O.

Como Bill colocou, os bêbados "não aceitavam qualquer tipo de pressão, exceto do próprio Dom Álcool... Não agüentavam o evangelismo um tanto agressivo do Grupo Oxford. Não aceitavam, também, o princípio da 'orientação em equipe' para suas próprias vidas."

Se os alcoólicos não se sentiam muito à vontade com os participantes do Grupo Oxford, nem estes se sentiam inteiramente à vontade com os alcoólicos.

Alguns oxfordianos podem ter considerado essa associação com os bêbados uma espécie de trabalho social, já que muito da “orientação” que recebiam e transmitiam parecia ser direcionada para o pessoal alcoólico mais do que para eles próprios. Posteriormente, isso se tornou conhecido como "fazer o inventário de

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outro", uma prática em que até mesmo os AAs podem ser peritos.

Outros oxfordianos achavam que a participação dos alcoólicos diminuía o prestigio pessoal deles, e informaram a T. Henry, Clarace e Henrietta a respeito disso. Esperava-se, apesar de tudo, que se concentrassem em atrair os líderes da comunidade - a elite. A maioria dos alcoólicos estava longe de ser líder da comunidade. Alguns oxfordianos até mesmo sugeriram que os alcoólicos fossem selecionados, para que somente os mais aceitáveis socialmente fossem admitidos.

Um certo número de alcoólicos de Akron que ingressou no programa em 1939 falou mais claramente sobre o assunto do que Bob ou Bill pudessem ter feito. "Não nos queriam", foi talvez o comentário mais gentil feito sobre a maioria dos não-alcoólicos do Grupo Oxford, que tinham suas próprias reuniões e não se associavam ao pessoal alcoólico. "Não queriam os peões", disse John R. (marido de Elgie). "Queriam as pessoas com dinheiro. Com exceção de T. Henry, que não se importava com o que você era. Era um grande cara."

Como mencionado anteriormente, Frank Buchman nunca gostou muito desse famoso desmembramento de seu Grupo Oxford. E no que diz respeito a ele e a outros líderes oxfordianos, uma ruptura era considerada conveniente também por outras razões.

De certa forma, os AAs como grupo tinham a tendência de limitar suas abordagens somente a outros alcoólicos – o que nós agora temos como "nosso propósito primordial." Por outro lado, o Dr. Buchman achava que o alcoolismo era apenas parte do que estava errado com o mundo – um sintoma, talvez.

Além disso, os alcoólicos estavam se tornando mais insistentes quanto ao anonimato em nível público – um princípio que ia contra o programa de Buchman de anunciar a "mudança" no rumo da vida das pessoas como uma maneira de atrair outras para a organização.

Ademais, o Grupo Oxford estava começando a ter problemas em nível local. Houve separações e controvérsias em Akron nos ambientes social, religioso e empresarial. Quando o filho do magnata da borracha (cuja "mudança" tinha, incidentalmente, sido altamente pulgada) voltou a beber, muitas pessoas da Igreja defenderam o Grupo Oxford. O Grupo também se envolveu na resolução ou no julgamento de questões éticas dos negócios entre as grandes companhias de borracha. Esse procedimento não foi bem visto pelos industriais da cidade. Afinal, mudar as pessoas era uma coisa – mudar os negócios, outra.

Henrietta Seiberling acreditava que A.A. não devia se envolver com a arrecadação de dinheiro, pois esse era o meio que o diabo usaria para destruir A.A., e discutiu essa questão com Bill e Dr. Bob. Ao

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mesmo tempo, achava que os AAs não estavam dando ênfase o suficiente a Deus.

"Nos primeiros dias", recordou ela, "Bill me disse: 'Henrietta, não acho que devemos falar tanto sobre religião ou Deus'. Eu retruquei: 'Bem, não temos obrigação de agradar aos alcoólicos.. Eles têm feito o que querem durante todos esses anos. Temos obrigação de agradar a Deus. Se não se falar sobre o que Deus faz, sobre sua fé e orientação, então podemos ser um Rotary Club ou qualquer coisa desse tipo, porque Deus é sua única fonte de poder'. Finalmente, ele concordou".

Bill pode ter concordado, como muitos outros. Ainda assim havia muitos AAs que não mudaram ou se renderam a tal ponto. Faziam todo o possível para abranger o Primeiro Passo e não estavam totalmente prontos para encarar os outros. O conceito deles, de um Poder Superior, era diferente daquele dos oxfordianos, que não estavam preparados para aceitar os focos de luz e os ônibus da Terceira Avenida como exemplo de "Deus como eu O concebo." Anos depois, Henrietta ficou desapontada com as conversas que ouviu em uma grande reunião de A.A., dizendo: "Deduzi que estavam dando uma descrição do trabalho que um psiquiatra fez com eles. Não havia espiritualidade ou conversa sobre o que Deus havia feito em suas vidas”. Isso, também, foi uma atitude que representou uma diferença fundamental entre os AAs e os oxfordianos. Os AAs tinham cada vez mais a tendência de permitir que os novos membros chegassem a um conceito de um Poder Superior de acordo com seu próprio tempo e maneira.

Considerando todos esses fatores, além dos comentários de Bill e outros, Dr. Bob muito provavelmente estava ciente, não somente de que uma ruptura estava para acontecer, mas que era inevitável. Entretanto, era um homem prudente quando se tratava de fazer mudanças. Pode ter estado disposto a esperar e permitir que o inevitável acontecesse.

Outra coisa: Uma das características mais acentuadas em Dr. Bob era a lealdade – não somente a Bill, mas também a Henrietta Seiberling, T. Henry e Clarace Williams. Esses três haviam feito muito para ajudá-lo antes de parar de beber, e depois – enfrentando as críticas dos membros de seu próprio Grupo Oxford -, dando muito apoio a ele e aos primeiros membros nos anos cruciais que se seguiram.

Então, quando ocorreu a primeira ruptura em Ohio, aconteceu em Cleveland, antes de Akron. E as razões que diretamente a provocaram foram quase que inteiramente diferentes dos fatores básicos mencionados anteriormente. Além disso, foi vista por alguns como sendo quase tanto uma ruptura dos AAs de Akron como foi do Grupo Oxford.

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(págs: 162-168) continua o capítulo XII ... (Dr. Bob e os Bons Veteranos – 2ª ed. 06/05)

No início de 1939, Clarence S. tornou-se o ponto de partida do contingente de A.A. em Cleveland. Todas as semanas, ele e Dorothy levavam homens para a reunião na casa de T. Henry. Muitos deles eram católicos. Clarence lembrou-se de lhes ter dito que as reuniões do Grupo Oxford não interfeririam em suas religiões. "Entretanto, o testemunho dado pelos membros nas reuniões lhes parecia uma confissão pública, e isso não era permitido. Além disso, a idéia de receber orientação não encaixava bem com eles. E para piorar ainda mais, eles (os oxfordianos) estavam usando a Bíblia errada. Em conseqüência, acabei por ouvir muitas reclamações no caminho de volta para casa", contou Clarence.

Dorothy (que na época era sua esposa) chamou atenção para o fato de que o crescimento do contingente de Cleveland era por si próprio uma razão importante para a ruptura. "Por muito tempo, estivemos discutindo sobre ter reuniões em Cleveland", disse ela. "Acho que éramos cerca de 13 pessoas, e não se tratava apenas do esforço de reunir todas em Akron, mas achávamos que estávamos sobrecarregando Bob com a hospitalização. Ele estava ficando muito ocupado em Akron”.

Doroty citou, também, o problema dos membros católicos. Contudo, nem todos os membros dessa religião achavam que havia algum problema. Deve-se observar ainda que alguns protestantes olhavam com desdém para o Grupo Oxford. Logo após Clarence ficar sóbrio, Dorothy voltou a ver o reverendo Dilworth Lupton, o famoso pastor da igreja unitária que havia anteriormente lhe contado sobre sua falta de êxito na ajuda aos alcoólicos.

"Disse-lhe: 'Temos uma solução', e lhe contei sobre Clarence e as reuniões. Pedi a ele que participasse de uma delas. 'Haverá outras mulheres que se sentarão aqui em seu escritório, tal como fiz. Gostaria que soubesse que realmente existe alguma esperança', eu disse."

"Bem, fiquei desapontada, porque o reverendo não foi. Ele disse que, à medida que A.A. estivesse misturado com o Grupo Oxford, então estaria destinado a fracassar; que um movimento tão extraordinário como esse nunca deveria ser confundido com uma organização religiosa. Como ele estava certo"

Há várias versões de como ocorreu a separação, para não mencionar os porquês; quem estava certo ou errado; quem tinha ressentimentos; e quem não os deixou falar durante vários anos.

A maioria das pessoas envolvidas nessa situação hoje em dia está

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morta. E muitas das que ainda vivem eram, na época, tão novas no programa que realmente não faziam idéia das tendências ocultas e das tramas. Muito felizes por estarem sóbrias, ainda não estavam prontas para participar do que um Grupo de A.A. chama, atualmente, de suas reuniões de serviços.

De qualquer forma, Clarence lembrou-se de ter falado com Dr. Bob sobre o problema que os colegas católicos estavam tendo com os métodos do Grupo Oxford.

"Não estamos afastando os católicos da Igreja – a Igreja é que está”, disse ele ser a resposta de Dr. Bob. "Não podemos fazer nada a respeito."

"Sim, podemos", disse Clarence.

"O que você tem em mente?"

"Formar um grupo sem todos esses disparates que são ofensivos a outras pessoas. Agora temos um livro, os Passos, os absolutos. Qualquer um pode viver através desse programa. Podemos iniciar nossas próprias reuniões."

"Não podemos abandonar essas pessoas", contestou Doc. “Devemos nossas vidas a elas."

"E daí?, replicou Clarence. “Também devo minha vida elas. E quanto aos outros?"

"Não podemos fazer nada quanto a eles", disse Doc.

"Ah, sim, podemos."

"Como o quê?"

"Você verá", concluiu Clarence.

"A essa altura", disse Clarence, "Al G. (às vezes chamado de "Abby") estava internado no City Hospital sendo desintoxicado com paraldeído e todas as outras coisas que Doc lhe dava. Eu fui antes para vê-lo, com Bill Wilson. Depois, Bill e minha esposa Dorothy o levaram de carro para o hospital. Al era um conceituado advogado e tinha uma grande casa em Cleveland. Então perguntei à sua esposa se podíamos ter as reuniões lá. Não perguntei a Al."

Dorothy lembrou-se de que demorou quatro horas para levar Al até Akron, porque ele queria parar em todos os bares do caminho. "Nunca esquecerei de quando desapareceu no final do corredor com a enfermeira", disse ela. "Virou-se, acenou dramaticamente em sinal de despedida e disse: 'Se funcionar, nunca esquecerei este dia e nem

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vocês dois.'

"Abby tinha uma boa educação, e o que me chamou a atenção foi a pessoa em Akron que mais o impressionou; era um homem que não tinha nem terminado a quarta série. De qualquer forma, quando saiu do hospital, manifestou a vontade de abrir sua casa para as reuniões de Cleveland”.

Clarence disse: "Anunciei ao Grupo Oxford que aquela era a última vez que o pessoal de Cleveland estava lá como um contingente – que estávamos formando um Grupo em Cleveland que estaria aberto somente aos alcoólicos e suas famílias. Também que estávamos dando a ele o nome do livro 'Alcoólicos Anônimos'.

"O teto da casa caiu. 'Clarence, você não pode fazer isso!’ disse alguém.

" 'Está feito.’

" 'Precisamos conversar sobre isso'

" 'É tarde demais', eu disse.

"A reunião foi marcada para a semana seguinte (11 de maio de 1939). Cometi o erro de dar o endereço a essas pessoas. Elas invadiram a casa e tentaram interromper nossa reunião. Um sujeito tentou me bater. Tudo isso dentro do espírito de puro amor cristão! Mas nós não cedemos."

As lembranças de Dorothy diferem ligeiramente. "Não tínhamos nenhum nome", explicou ela, "mas deixamos todo mundo saber que definitivamente não era um Grupo Oxford. Apenas alcoólicos."

"Anne e Bob, é claro, achavam, também, que deviam desligar-se da dominação do Grupo Oxford", acrescentou. "Mas sentiam, por lealdade a T.Henry e Clarace, que seria uma coisa muito difícil.

"Na verdade, em uma de nossas primeiras reuniões, todo o contingente que era estritamente do Grupo Oxford veio de Akron e foi muito desagradável. Achavam que estávamos sendo extremamente desleais com todos eles ao fazer isso. Foi um grande passo termos saído de Akron."

Al G. recordou sua entrada no hospital no dia 17 de abril. Antes de sair, Dr. Bob veio vê-lo e lhe perguntou se tinha intenção de seguir o programa. "Dr. Bob então puxou sua cadeira com um de seus joelhos e tocou o meu, dizendo; 'Quer rezar comigo pelo seu sucesso?' Fez uma linda oração. Muitas vezes no trabalho com candidatos de A.A., sinto-me culpado por não fazer a mesma coisa."

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Naquela noite, Al foi à reunião na casa de T. Henry. "Freqüentei várias dessas reuniões antes de descobrir que nem todas as pessoas eram alcoólicas", explicou ele. Mas apesar de ser católico, sua reação às reuniões foi boa.

"Fomos para Akron durante várias semanas", contou ele, "antes de finalmente ter decidido empreender a organização do Grupo de Cleveland. Em meados de maio de 1939 foi feita a primeira reunião nessa sala. Naquele encontro, estavam pessoas de Akron e todas as de Cleveland."

"Quando começamos a ter as reuniões, houve um considerável debate sobre o nome que daríamos ao Grupo. Vários nomes foram sugeridos. Nenhum parecia servir, então começamos a nos referir a nós mesmos como 'Alcoólicos Anônimos.' "

Seja qual for a conversa que Doc possa ter tido com Clarence antes do começo do Grupo de Cleveland, ele lhe deu seu total apoio desde o início, assim como fizeram muitos outros membros AAs de Akron."

"Dr. Bob esteve presente em todas essas primeiras reuniões que tiveram lugar em nossa casa", contou Al em uma carta a Bill.

Quando perguntaram a John R. se lembrava de algum rancor por parte de Doc, ele disse: "Mas, por Deus, se Doc, Anne, minha esposa (Elgie) e eu íamos até lá para as reuniões – as primeiras reuniões que tiveram.

"Lembro-me de que fomos até lá uma noite, e na volta – Doc era no fundo um garoto, você sabe – saiu da rodovia e começou a dirigir ao longo do caminho que beira o rio River Road. Estava chovendo. Então eu disse: 'Por que você pegou esse caminho? Por aqui vamos ficar presos em algum lugar.' "

" 'Ah não, não vamos', retrucou ele. E foi em direção a Portage Path Hill. Seguimos três quartos do caminho e tivemos de voltar. Ele ria muito. Deve ter pensado que conseguiria passar. Sim, Doc era um grande sujeito. Lembro-me que ele tinha uns 60 anos na época, e era um garotão, sim senhor."

É difícil avaliar a posição de Dr. Bob na questão da separação de Cleveland. Alguns observadores a estabeleceram colocando-o no centro de tudo: "A única coisa que os mantinha em equilíbrio (os AAs locais) era a sabedoria de Dr. Bob. Parecia um milagre seu modo de ser cauteloso. Lá estava ele no meio de um bando de pessoas instáveis, sem experiência."

Talvez Dr. Bob apenas tenha dado a volta por cima. Segundo uma citação atribuída a ele na época, "não há motivo para preocupação a respeito dessas coisas. À medida que as pessoas tenham fé e

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acreditem, isso (A.A.) seguirá em frente."

Um fato importante para o futuro de A.A. aconteceu em Cleveland: Por qualquer razão, um Grupo de A.A. poderia se separar de outro – sem necessariamente colocar em risco o velho ou o novo Grupo. Segundo membros anônimos observaram, "tudo que se precisa para começar um novo Grupo de A.A. é um ressentimento e uma garrafa térmica."

Na época, Clarence e Dorothy estavam mantendo uma afetuosa e ativa correspondência com Nova Iorque – quer dizer, com Bill Wilson, Hank P. e Ruth Hock, a secretária não-alcoólica do que posteriormente se tornaria o Escritório de Serviços Gerais de A.A.

Em 4 de junho de 1939, poucas semanas depois de o Grupo de Cleveland iniciar suas reuniões, Clarence escreveu para Hank P.: Bill J., Clarace William, eu e etc., etc. tivemos um choque definitivo há algumas semanas, e eles decidiram nos deixar sozinhos e limitar suas atividades a outro território. Perdemos a ajuda de três ou quatro bêbados, mas acho que tem de ser dessa forma.

"Tal como analiso, o problema principal foi que o Grupo Oxford queria aplausos, e também o fato de que fui eu quem tomou a iniciativa de formar nosso Grupo de Cleveland. Bill J. reteve Lloyd T., Charlie J. e Rollie H"., Esses quatro eram, evidentemente, parte do contingente de Cleveland. Rollie era um jogador de beisebol que ficou sóbrio apenas poucas semanas ou dias, na época.

"Não há nada que incomode Bill ou qualquer outra pessoa aqui, atualmente, e realmente esperamos fazer muito trabalho", continuou Clarence. “A maior parte das pessoas (15 ou 16) está intensamente interessada e anda por aí trabalhando e fazendo algo a respeito."

"Nossa política será principalmente essa”, escreveu ele. “Não colocar muita ênfase sobre questões espirituais nas reuniões. Discutir depois das reuniões qualquer assunto ou dúvidas que possam surgir, e muito companheirismo durante todo o tempo.

"Os líderes de reuniões eram escolhidos, até então, pelo tempo em que estavam no Grupo”, disse ele. "Cooperar com visitas aos internados no hospital de modo a não invadir o quarto do paciente com muitas pessoas, mas de preferência um ou no máximo dois rapazes para vê-lo de uma vez. Temos um hospital ideal e um médico alcoólico para atendê-lo. Doc Smith veio a semana passada e conversou com o superintendente do hospital e com o médico residente, e os dois mostraram muita simpatia e entusiasmo. Lá já tínhamos um paciente passando pela experiência, e esperamos mais dois ou três para a próxima semana.

"Pretendemos enfatizar a hospitalização em todos os casos possíveis.

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De fato, estamos tentando alcançar cerca de 100 por cento dos casos. O homem que arranjar o novo paciente assume a responsabilidade por ele, pelas visitas, pelos dólares, etc.. Depois que a neblina se dissipa, tentamos conhecê-lo a fundo, damos-lhe o livro e conversamos muito com ele. Nosso livro certamente tem sido uma ajuda formidável. Também entramos em contato com seus familiares enquanto ele está no hospital, conversamos com eles e lhes damos o livro. Temos a experiência anterior de Nova Iorque e Akron para nos orientar, e achamos que agora estamos em uma boa posição. Esperamos que você e Bill possam nos ajudar e, em breve, conheçam nossa turma e nos ensinem um pouco de suas experiências e sabedoria."

Bob e Anne tinham viajado para Nova Iorque em junho. “Bob, Anne e o pequeno Bob vão ficar dois ou três dias", é o que diz uma anotação de 23 de junho no diário de Lois. Sem dúvida Bob e Bill discutiram a questão de Cleveland, entre outras coisas, mas tudo o que Lois disse foi: "Fomos de carro a Montclair (Nova Jersey) com Bob e Anne Smith., Boa reunião. Vinte e seis pessoas presentes". Nessa época, á claro, Grupos fora de Nova Iorque haviam se formado no Leste.

Dorothy recordou que Warren C. juntou-se ao Grupo no mês seguinte (julho de 1939). "Ele era um de nossos melhores trabalhadores na época. Estava completamente falido, mas era uma dessas pessoas orgulhosas que não aceitaria um centavo nem para pagar o ônibus. Esperava até que seu filho voltasse do trabalho de 'carregador de tacos' em um campo de golfe, a fim de conseguir um pouco de dinheiro para pequenos gastos", contou.

"Não sabia o preço da hospitalização quando me internei” recordou Warren, cujo filho "carregador de tacos" celebrou seu próprio 25° aniversário de A.A. em 1977. "Foi uma experiência rara, o primeiro que participou do programa em Cleveland sem hospitalização. Havia algumas pessoas que não me queriam no programa a menos que eu fosse internado, mas Clarence S. lutou para que eu permanecesse.

"Depois que Clarence conversou comigo em minha casa, outros também vieram. Não lhe permitiam que entrasse em uma reunião somente porque uma pessoa havia conversado com você, como fazem agora. Achavam que você deveria saber algo sobre o que ouviria e sobre o objetivo do programa.

"Depois Clarence me fez ir à casa de um dos novos membros todas as noites por três meses, e lá havia nove ou dez pessoas que conversavam comigo. Tive de ler o Livro Grande antes de ir à minha primeira reunião. Como conseqüência, acho que compreendi melhor o que estavam tentando fazer.

"Quando fui à casa de Al G., havia uma mistura de Grupo Oxford mais aqueles novos que haviam se juntado, como eu. Em novembro de

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1939, formou-se o primeiro Grupo de A.A. na cidade de Cleveland – o velho Grupo Borton. Esse foi o primeiro Grupo onde não havia a mistura das pessoas do Grupo Oxford e dos AAs.

"Ainda continuamos indo até Akron - seis de nós em um carro", disse Warren.

"Ao mesmo tempo, havia provavelmente meia dúzia de pessoas que vinham para Cleveland – Doc Smith, os meninos S. (Paul e Dick), Bill D. (AA número três), e assim por diante; não toda semana, mas de vez em quando. Dávamos apoio um ao outro no início."

Esse apoio mútuo foi indicado numa carta de Bob a Bill em setembro de 1939, na qual ele observou: "Participei de uma reunião do Grupo de Cleveland, como faço uma ou duas vezes por mês, e apreciei uma maravilhosa reunião. Acho que agora eles têm cerca de 38 na turma – refiro-me somente aos homens. Nossas reuniões ainda têm 75 ou 80 toda semana, incluindo homens e mulheres."

"Além de ir à reunião na casa de Al e a Akron, nove ou dez de nós nos encontrávamos todas as noites", contou Warren C. "Revelávamos nossos problemas do dia e conseguíamos a fortificação de que precisávamos para o novo dia que estava por vir.' "

"É claro, nessa parte do país, Dr. Bob era o nosso homem", observou Warren. "Esse é o resultado de conhecê-lo e estar em contato com ele como estivemos. Trabalhava com você as visitas do Décimo Segundo Passo e conversava com todas as pessoas que iam ao hospital. Tinha consideração e transmitia esse sentimento, também. Quero dizer, nós o adorávamos."

Extraido do LivroDr. Bob e os Bons Veteranos – 2ª ed. 06/05

 

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS E A COMUNIDADE PROFISSIONAL

UMA VISÃO PESSOALDR. YOSHIAKI ICHIHARA

Juiz de Direito Substituto em 2º Grau, atualmente auxiliando na 9ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Professor Titular de Direito Tributário da UniFMU, Mestre e Doutor em Direito Público (área de concentração em Direito Tributário) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

1.Introdução

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Escrevi este trabalho com o desejo sincero de melhorar, um pouco que seja, o mundo em que vivemos.As notícias contidas nas informações de massa, mais se ocupam dos aspectos negativos do que dos positivos.Sou um profissional lato senso que acredita na eficácia do programa de Alcoólicos Anônimos na recuperação do doente alcoólico.Pretendi responder à grande pergunta: porque não existe um entrosamento maior entre a comunidade profissional e Alcoólicos Anônimos?Para tanto, venho estudando a questão do alcoolismo há quase 20 anos e cada vez mais acredito no ser humano e que os alcoólicos precisam de ajuda dos profissionais, especialmente, e das pessoas não portadoras da doença, que somam mais de 80% da população.Fiz algumas considerações sobre a doença do alcoolismo, do doente alcoólico e do profissional. A seguir, tracei um perfil e as características do profissional e dos membros de Alcoólicos Anônimos.Todos podem ajudar um bêbado que ainda sofre, seja profissional ou não profissional, já que o doente alcoólico, mais do que qualquer outra pessoa, precisa de ajuda de todos.Defendo a possibilidade de um entrosamento integral do profissional e dos membros de Alcoólicos Anônimos, da Comunidade de Profissionais e da irmandade de Alcoólicos Anônimos, sem qualquer contradição ou incompatibilidade, já que um é “profissional” e o outro “ não profissional”.Por fim, apresento as conclusões, até como uma sugestão explícita de uma diretriz para um entrosamento sem incompatibilidades: uma soma possível e útil.

2. Doença do alcoolismo, o doente e o profissional.

Na visão da maioria, alcoolismo e embriaguês são quase sinônimos, tendo como causa a falta de firmeza de caráter ou uma sem-vergonhice, próprios das pessoas que usam o álcool como muleta para fazer tudo aquilo que não conseguem na normalidade.Poucas são as pessoas que já ouviram falar que é uma doença. Muito mais restrito é o número de pessoas que acreditam que o alcoolismo seja uma doença.Uma doença até simples e comum, já que pelo menos 10% dos bebedores habituais podem carregar o estigma da doença, evidentemente, sem saber e nem imaginar.Doença cuja causa eficiente É A FALTA DE CONTROLE OU COMPULSÃO DESENFREADA NO MODO DE BEBER . Ingerido o primeiro gole, os portadores da doença do alcoolismo não conseguem parar no limite da razoabilidade.Incompreensível para muitos, sem cura, falta de caráter ou vício, para outros, mas a verdade é que existem maneiras de estancar a doença.O alcoólico, na maioria das vezes, é visto apenas como um bêbado, o que não é uma verdade. É apenas e, acima de tudo, uma pessoa doente que precisa de ajuda, especialmente dos familiares, amigos, profissionais etc...

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Não se pode esquecer que atrás de todo o bêbado existe um homem que luta contra a doença, na maioria das vezes, sem saber que é doente, mas acompanhado de muito sofrimento e dor.Com efeito, se o alcoólico sequer tem consciência de que é doente, muito mais difícil é saber sobre a natureza da doença ou que não possui controle sobre o seu beber imoderado, muito menos que precisa da abstinência total. Entretanto, só a abstinência é insuficiente para estancar a doença: é preciso compreender o que é sobriedade.Nesse contexto, o profissional que poderá ser no seu sentido estrito (médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais etc...) ou lato senso (professores, advogados, juízes de direito, promotores de justiça, policiais, gerentes de recursos humanos etc...), que quando conhece o doente alcoólico ou a característica da doença, sem dúvida tem uma importância inegável.O doente precisa de ajuda, já que dificilmente e por conta própria dirá: Hoje é um bom dia para iniciar o meu tratamento!Não existe competição e nem incompatibilidade entre o trabalho profissional estrito ou lato senso e o trabalho desenvolvido pelos programas de auto-ajuda, como é o caso dos Alcoólicos Anônimos.

3. Perfil da Irmandade.

A irmandade de Alcoólicos Anônimos foi fundada em junho de 1935, em Akron, Ohio, nos Estados Unidos da América, depois de um encontro casual entre um corretor da Bolsa de Nova York (Bill) e um Médico de Akron(Dr.Bob).Conta literatura de A.A. que ambos eram bebedores que tinham perdido o controle sobre a bebida, não obstante profissionalmente terem sido competentes em suas respectivas áreas de atuação.No início o desenvolvimento de A.A. foi aos trancos e barrancos, contabilizando sucessos e fracassos, pois até atingir a maioridade percorreu-se um caminho tortuoso de muitas dores e também alegrias.Desde o início e até que fossem escritos os programas pessoal (Doze Passos) e de grupo (Doze Tradições), fica evidente a importância das experiências vividas pelos co-fundadores Bill e Dr. Bob, além do apoio dos hospitais, profissionais da área médica, religiosos, familiares, entre muitos outros.É um programa não profissional, alicerçado na honestidade, humildade, amor e serviço, enfim, um verdadeiro programa de vida.Atualmente existem cerca de 5.000 grupos no Brasil, sendo aproximadamente 500 no Estado de São Paulo e 185 na Grande São Paulo. O primeiro grupo no Brasil foi instalado na cidade do Rio de Janeiro, no dia 05/09/1947 e em São Paulo, no dia 09/04/1965.Os membros de A.A., como programa individual, adotam os Doze Passos, que se constituem em um programa espiritual, e na essência resumem-se no “amor e serviço”.Os Doze Passos, como um caminhar em direção à recuperação, sugerem: 1º (reconhecimento da impotência); 2º (começo da fé); 3º(entregar o problema a um Poder Superior); 4º(exame de consciência); 5º(disciplina e confissão); 6º(transformação e

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arrependimento); 7º(transformação do caráter); 8º(reparação dos erros); 9º(disciplina na reparação); 10º(recuperação e conversão); 11º(prece e meditação) e 12º(realização de tudo-amor e serviço).As Doze Tradições de A.A., como programa de grupo, estabelecem os princípios de unidade coletiva da irmandade, isto é, formam a consciência coletiva dos princípios acima das personalidades.

Nas Doze Tradições, que é uma espécie de Constituição ou Estatuto do grupo (1º ou 12º), contém os princípios dos grupos de A.A., ou seja, sem unidade de A.A. não há grupo; obediência dos princípios: um por todos e todos por um; consciência coletiva; auto-suficiência ou não receber ajuda financeira de fora, pois propriedade e prestígio poderão ser um desastre;manter-se não profissional e não se organizando como tal; não se envolver em controvérsias; nas relações com o público que são baseadas na atração e não na promoção; anonimato=alicerce espiritual e princípios acima das personalidades.(grifei)Os membros de A.A. são todos alcoólicos em recuperação, portanto, não profissionais. Através da troca de experiências amoldadas dentro de um programa individual e coletivo, praticam a verdadeira fraternidade.Prestam um serviço ao próximo baseados nos princípios do amor e da solidariedade, apenas alicerçado no princípio de que o que recebeu de graça e com amor, retribuem àquele que pedir ajuda, com responsabilidade e amor a ajuda necessária.É preciso uma total mudança de personalidade e do caráter para que o doente alcoólico possa estancar a doença do alcoolismo, que na essência consiste na compulsão de beber imoderadamente, apenas porque – quando começam a beber – não conseguem parar.Assim sendo, somente pode ser rotulado de AA, aquele que conseguiu uma total transformação da personalidade, não só assimilando e praticando os Doze Passos e as Doze Tradições, mas praticar a verdadeira fraternidade de uma pessoa que pode dizer com total honestidade, humildade e amor ao próximo, sem nenhum perigo de erro: faça o que eu faço e não somente aquilo que eu falo. Este é o perfil de Alcoólicos Anônimos e de seus membros.

4. Perfil da comunidade profissional.

Ao contrário, de um modo geral, o profissional precisa de uma formação acadê mica, que nem sempre é fácil, pois precisa de uma dedicação pessoal intensa e passar uma fase razoável investindo tempo e dinheiro.Quando se forma, ou seja, com o diploma na mão, além da competição natural existente no mercado de trabalho, precisa continuar estudando e investindo na formação do seu perfil profissional, na busca da concretização de um conceito profissional, uma posição social de destaque, inclusive sob o ponto de vista econômico e da estabilidade geral.Ainda mais, pode-se dizer que qualquer profissional desde o momento em que consegue o seu diploma e até o momento em que ocorre a realização, não só de afirmação como profissional, mas, inclusive e principalmente, ser reconhecido como tal, leva no mínimo 10 anos.Portanto, devem ser levados em consideração todos esses fatores no

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relacionamento de A.A. com a comunidade profissional.Os membros de A.A. precisam compreender essa realidade, especialmente diante da divergência de comportamentos.A rigor, os profissionais estrito senso, vendem os seus conhecimentos, precisam se destacar para que sejam reconhecidos na profissão que abraçaram.De outra parte, as pessoas integrantes da comunidade profissional são pessoas, seres humanos com todas as virtudes e defeitos, bom que se diga: mais virtudes do que defeitos, já que todos são filhos de Deus.Conheço profissionais de ponta, a maioria está preocupada com o próximo e sabem da responsabilidade que carregam por sua condição privilegiada na sociedade e, sem dúvida, estão ávidos de poder ajudar aqueles que mais necessitam.Por último, é possível visualizar diferenças brutais no perfil e nos objetivos do profissional e dos membros de Alcoólicos Anônimos.

5. Alcoólicos Anônimos e a comunidade profissional:

Entrosamento aqui e agora. Conheci Alcoólicos Anônimos em 1984, quando judiquei na Comarca de Pirassununga. Fui procurado por membros dos Grupos Padre Gusmão e Redenção para assistir as reuniões abertas e encaminhar eventuais pessoas que em virtude do alcoolismo precisassem de ajuda.Comecei a encaminhar as pessoas que julgava com necessidade de ajuda, logicamente sem esperar muito resultado.Encaminhados, todavia, a surpresa da transformação que sofriam o bêbado era brutal e inesperada. Tomado por uma curiosidade e na busca do por quê, aqui estou até hoje, evidentemente, sem ser um doente alcoólico.Apesar da profissão que exerço, a ajuda aos alcoólicos que exige um contato pessoal, na abordagem ou no aconselhamento, nunca fui colocado numa situação difícil, nem houve pedidos de membros que fossem incompatíveis com a independência, a imparcialidade, a dignidade que o cargo exige, entre outros.O entrosamento AQUI E AGORA, no meu entender, entre a comunidade profissional, seja no sentido estrito ou lato senso, sem dúvida, é possível.O profissional mantendo-se como tal e Alcoólicos Anônimos, sem agredir os princípios e as regras dos Doze Passos e Doze Tradições, podem somar seus esforços e obterem um resultado maior e melhor.Com efeito, se os médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros etc... são profissionais, Alcoólicos Anônimos não são profissionais, o que, na realidade, facilita a aproximação e o trabalho em conjunto.Na questão do autoconhecimento, o profissional poderá levar conhecimentos técnicos através de palestras, reuniões etc... e, de outro lado, os alcoólicos poderão fornecer a experiência e informações sobre as características da doença, como aconteceu nos Estados Unidos.O alcoólico precisa de orientação e intervenção do profissional, seja pelo atendimento específico que a situação exige, tais como: prescrição de remédios, internação hospitalar, orientação psicológica, entre outros.Em contrapartida, os grupos de Alcoólicos Anônimos poderão fornecer um trabalho não-profissional ao alcoólico em tratamento, seja através

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do apadrinhamento, abordagem ou esclarecimento ao doente, inclusive, uma espécie de o que fazer depois que o paciente tem alta médica, por exemplo.Nunca conheci um verdadeiro AA que se recuse a socorrer um alcoólico que pede ajuda.Em termos de resultado na recuperação, o profissional terá muitas pessoas à disposição no acompanhamento e uma vigília constante para que o doente possa se recuperar ou estancar a doença do alcoolismo e evitar as armadilhas da recaída.O profissional será respeitado pela comunidade como um bom médico, psicólogo, assistente social etc..., o doente terá maior possibilidade de recuperação e os membros de A.A. a oportunidade de serem úteis à causa, readquirindo a auto-estima e a paz que tanto buscam.Aos profissionais aqui denominados de lato senso, inclusive, os familiares, vizinhos, colegas de trabalho, integrantes da comunidade, professores, advogados, policiais, delegados, juízes de direito, promotores de justiça etc..., o ato de dar um voto de confiança a Alcoólicos Anônimos e em seu programa de recuperação, a rigor, já estão fazendo muita coisa.

Para tanto, basta olhar o alcoólico como um doente que precisa de auxílio, encaminhá-lo a um grupo de Alcoólicos Anônimos ou pedir ajuda.A safisfação que se sente ao ver o seu amigo, vizinho, colega de trabalho, familiar etc..., um bêbado transformado em um homem útil e integrado, é incomensurável.É o meu desejo sincero.

6. Conclusões.

1. O alcoólico é um doente e não um sem-vergonha, sem caráter ou coisa parecida.2. A doença do alcoolismo caracteriza-se por uma falta de controle ou compulsão desenfreada no modo de beber.3. O doente alcoólico, mais do que qualquer outra pessoa, precisa de ajuda.4. O alcoólico não sabe que não tem controle sobre o seu beber imoderado.5. Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de auto-ajuda, não-profissional, auto-suficiente, com um programa de recuperação denominado de “Doze Passos”.6. As Doze Tradições se constituem num programa de grupo, preserva a unidade, a auto-suficiência, os princípios acima das personalidades, não profissional e nas relações com o público são baseadas na atração e não na promoção.7. O perfil de Alcoólicos Anônimos, além de não profissional, está calcado na solidariedade, humildade e amor ao próximo.8. Qualquer pessoa, profissional no sentido estrito ou lato, ainda, o não profissional (familiares, vizinhos, colegas de trabalho etc...) poderão ajudar o doente alcoólico levando a mensagem de esclarecimento ou pedindo ajuda a um grupo de A.A..

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9. A comunidade profissional, ao contrário, além de precisar de uma formação acadêmica, busca a realização pessoal através do exercício da profissão.10. Considerando as características de Alcoólicos Anônimos e a comunidade Profissional, sem qualquer incompatibilidade, é possível a união de esforços visando a maior eficácia na recuperação do doente alcoólico, visando, especialmente, evitar as recaídas.

FONTE> Revista Brasileira de Alcoólicos Anônimos “Vivência”, nº 83, mai/jun 2003, páginas 18 a 23.

Alcoólicos Anônimos está preparado para receber os jovens?

Ainda me faço essa pergunta

A idade não é uma barreira para quem quer deixar de beber, mas infelizmente a mentalidade do jovem alcoólico pode questionar essa situação. Quando comecei a frequentar as reuniões, havia no grupo apenas três companheiros com mais de 60 anos de idade. E a pergunta que veio em minha mente foi: será que vai dar certo para mim?

Eu já conhecia um pouco dos Doze Passos, devido a uma internação que passei quando estava prestes a fazer 18 anos e que me fez chegar até A.A., mas achei que pela diferença de idade não iríamos “falar a mesma língua”.

Mesmo assim, continuei frequentando as reuniões, prestando muita atenção em tudo, sempre ouvia falar que a frequência nas reuniões iria me ajudar a entender melhor como funciona, e que a surpresa estava na próxima reunião. Fui persistente.

Entendi que a doença do alcoolismo não tem preconceito, independe da idade, sexo, cor ou posição social. Comecei a me sentir parte do grupo. Chegava mais cedo, ajudava fazer

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o café, comecei a entender o que é responsabilidade. Nossas diferenças estavam apenas da porta para fora. Perante a doença do alcoolismo somos todos iguais.

Mas algo ainda me incomodava muito. Tive outros problemas além do álcool. Tive um sério problema com outros tipos de drogas. E eu tinha necessidade de falar sobre isso! Mas com quem? Algumas coisas do meu passado ainda me assombravam, e falar disso durante as reuniões poderia incomodar os demais que ali estavam. O que fazer? Bem, tive que tomar coragem, e aos poucos comecei a falar deste outro problema.

É claro que os companheiros que me ouviam naquela época não tinham passado por isso, seria até difícil ser apadrinhado assim. Mas eles tiveram uma atitude que foi o melhor apadrinhamento que eu poderia receber: ouviram-me atentamente. Simplesmente me aceitaram como sou e isso fez toda a diferença.

Alcoólicos Anônimos é o lugar onde me sinto seguro para falar coisas que se disser fora da reunião poderei ser chamado de louco, escutar piadas, entre outras coisas que possam ser desagradáveis. Não há mais espaço para mentiras, pois estaria mentindo para mim mesmo.

Quanto à pergunta feita no começo do texto? Bem, eu me preocupo de verdade, pois nossa realidade é muito diferente de 20 ou 30 anos atrás, onde poucos tinham acesso a outros tipos de drogas. Tenho percebido que a maioria dos jovens que chegam a Alcoólicos Anônimos enfrenta o problema da dupla dependência. E não apenas os jovens, mas pessoas com idades avançadas também.

Nossa Terceira Tradição é clara com relação a esses acontecimentos e diz: “Para ser membro de A.A., o único requisito é o desejo de parar de beber”.

Os outros problemas que tive além do alcoolismo estão sendo resolvidos praticando os Doze Passos. Não posso deixar de dar de graça aquilo que recebi. Por isso continuo voltando nas reuniões, para não esquecer como cheguei e receber aqueles que vão chegar, podendo à luz de nossa Terceira Tradição ouvir, apadrinhar e guardar com carinho aquilo que eles têm a nos oferecer.

                        ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

                                    NO BRASIL

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                    (DATAS E FATOS ANOTADOS)

  

 

 

 

 

 

                                        Autor: Luiz M./92 – RJ

                         Redigitado: Ricardo Gorobo – G. Paquetá

 

A presente literatura poderá ser reproduzida sem prévia autorização

do Autor, nada sendo estabelecido como forma de retribuição, exceto

para os organismos de Serviços Estaduais,Municipais e/ou Federal.

GRUPO CENTRAL DO BRASIL DE A.A.

Rua Prof. Clementino Fraga Filho, nº 22

(Igreja de Santana – Reuniões 3ª e 6ª feiras

Caixa Postal : 16.070

CEP : 20.221 – Rio – R.J. 

 

 

 

 

 

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AOS LEITORES

                A presente obra, produto de muito esforço e recordação, foi criada com o exclusivo objetivo de sanar uma antiga reclamação de muitos companheiros e, na medida da memória do autor, contar o que ele ouviu, viu e participou nesses anos todos.

                Não visa lucro, mas quer dispor de condições para, sendo o caso, reeditar novos exemplares para atender à natural curiosidade de muitos outros companheiros. Seu custo é menor do que muitas revistas de histórias em quadrinhos vendidas nas bancas de jornais, pois custa, no momento, o valor de Cr$ 5.000,00, mais o selo de remessa.

                Muita coisa, muitos fatos nela foram relatados, muita coisa, muitos fatos ficaram sepultados na memória do autor que, com gratidão, espera que você documente-o com mais e variado material, com vistas a uma nova e mais ampla edição.

                Agradecido fica, o

                              AUTOR

                               ALCOOLISMO NO BRASIL 40 ANOS

                Dados e fatos relatados pelo saudoso e querido companheiro

                                                  LUIZ M.   ( LUIZÃO )

Nascimento: 9-5-1929

Ingresso:  4 de Agosto de 1953

Falecido: 11 de Julho de 1992

NOSSA HOMENAGEM E NOSSA GRATIDÃO

AOS

FUNDADORES DE “A-A” NO BRASIL

A)     FUNDADORES E ATUANTES DO “RIO NUCLEOS GROUP”:

NOME:                    INGRESSO:         PAÍS DE ORIGEM:

HERBERTH L.D.          1943     Chicago, USA, onde ingressou

ANTONIO P.G.         1946      Rio de Janeiro, RJ, onde ingressou

FRANCK R.                 1948      Irlanda, onde viveu. Ingressou no Rio

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MANOEL V.                               1949      Rio de Janeiro, onde ingressou

PAULO M.S.              1950      Rio de Janeiro, onde freqüentou o Rio Nu-

                                                       cleos Group fundou o G Central do Brasil.

HENRIQUE R.            1949      Alemanha.Ingressou no Rio Nucleos Group

WERNECK                   1950      Rio de Janeiro

LAERT                           1951      Rio de Janeiro, onde também ajudou a

                                                       fundar  o Grupo Central do Brasil

MARTINS                    1951      Idem,idem

ARMANDO G.           1951      Idem,idem

FELIPE                          1951      Idem,idem

PAULO F. ou              1951      Rio de Janeiro, onde ajudou a fundar os

PAULO II                                     Grupos Central do Brasil e Metropolitano

 

B) FUNDADORES DO PRIMEIRO GRUPO DO INTERIOR (NOVA FRIBURGO):

AMARO DO V.          1953      Nova Friburgo, RJ

M. RAPIZO                 1953      Idem,idem

CRUZ                            1953      Idem,idem

B)      FUNDADORES DO SEGUNDO GRUPO NA CAPITAL (Central do Brasil) E     DO SEGUNDO GRUPO DA CAPITAL (Grupo Metropolitano):

Já acima citados:Paulo M.S., Laert , Martins, Manoel V., Paulo II.

         BITÃO                         1952      Rio de Janeiro, Grupo Central do Brasil

         LUIZ ( Luizão )          1953      Idem, Grupo Metropolitano

         DRUMOND               1953      Idem, idem

          AYRTON                    1956      Idem, idem

          EXPEDITO                 1956      Idem, idem

          MARIA F.                  1956      Idem, idem

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1945

05 de julho -       BOB VALENTINE, um membro de A.A. amigo de Bill W., escreve aos Escritórios em N.Y., indicando o nome de um novo membro residente no D.F.( hoje RJ  ) Lynn Goodale para ser o correspondente A-A aqui na então Capital Federal. Em resposta os escritórios N.Y., informam que o AA está crescendo muito no mundo: 2 Grupos na Austrália + 01 Grupo em Honolulu + 1 Grupo sendo iniciado no Alasca + cerca de 500 Grupos nos Estados Unidos e Canadá.    

29 de julho -       LYNN GOODALE  escreve aos escritórios em N.Y. informando haver  ingressado em A.A. em 22.03.1945, e se coloca à inteira disposição para ser correspondente no RJ (DF)

1946

19 de junho        HERBERTH  LEROY DAUGHERTY e sua esposa ELIZABETH ( por ele tratada carinhosamente, de LIB ou LIBITA ), escrevem aos escritórios em N.Y., informando sua chegada ao RJ

                               

BIOGRAFIA DE HERBERT

                                - 22.01.1904, NASCE EM Findlay, Ohio

                                - Pais: Eric Oliver Daugherty e Georgia M. Leroy Daugherty

                                - Profissão :   Publicitário

- Instrução: “Carnegie Institute of Technology” e “Art                                             Institute of Chicago”.

                                -  Ingresso em A.A.: 1943, madrinha Grace Cultice. Ele ingressou no então único grupo de Chicago, após assistir ao suicídio de um companheiro de trabalho ( se atirou pela janela do edifício onde trabalhavam) e seu companheiro de bebedeiras.

                                - Casamento: em 28.7.1945 com Elizabeth Lee Treadwell ( ela por ele tratada carinhosamente, por “LIBBY” ou “LIB” ou, ainda, por “LIBITA”). Ela,ainda neste ano de 1988 vive em Fort Lauderdale, Miami, Florida, cidade onde faleceu, em 13.02.1973, o Herberth.

      Junho             Atuando por instruções vindas de N.Y., Herbert tenta localizar Lynn Goodale, não o conseguindo, mesmo seguindo recomendação posterior para localizá-la através de um seu amigo Don Newton, outro membro de A.A. no Brasil.

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      Junho             HERB escreve a N.Y. relatando a enorme dificuldade de localizar membros A.A. por aqui. Catálogo mundial de então informa a existência de 6 membros no RJ, o que HERB desconhece.

1947

07 de julho         - DOUGLAS CALBER, outro membro vindo dos USA, chega ao RJ com o nome e o endereço do HERB. Mais tarde, no prédio do DOUG seriam realizadas quase todas as reuniões, quase porque tinham o hábito de, em cada semana, realizar as reuniões em aptos de outros companheiros, que eram avisados por telefone ou bilhetinhos.

10de julho          - Os escritórios de N.Y. informam ao HERB que, LYNN GOODALE e DON NEWTON haviam regressado aos EUA.

16 de outubro   -HERBERTH escreve um artigo ( o 1º no Brasil sobre a existência, os propósitos e os princípios de A-A ) que é publicado na primeira página do jornal “ O GLOBO “, dando como endereço para contato com o A-A a Portaria do jornal (nota - nada havia, nem reuniões, nem local ).

   Novembro       -HERBERTH escreve a N.Y. informando a existência de 02 membros ( um sria o por ele intitulado “ o nº 1 “, o Antonio P.G., o primeiro brasileiro? ). Mas nenhum grupo ainda formado.

1948

11 de fevereiro -HERBERTH escreve a N.Y informando a existência de 02 membros americanos ( ele e DOUGLAS C. )e de 04 brasileiros. Nesta mesma data, HERB consegue fazer publicar uma série de artigos no jornal “ BRAZIL HERALD “, editado no RJ para a colônia de idioma inglês.

13 de março       - PRIMEIRO ENCONTRO DE HERB E HAROLD W. na casa do irmão desta, no bairro do Ingá,Niterói – RJ. HERB aconselha-o a, na medida em que fosse esvaziando a cachaça do copo, fosse completando com água, para ir se afastando da bebida. Dá-lhe a incumbência de traduzir para o português um folheto criado por um grupo dos E.U.A.

17 de março       - SEGUNDO ENCONTRO entre HAROLD W. e HERB, a este sendo exibida a tradução do folheto (nosso atual folheto brando0 e, ao ser informado de que em pouco tempo a tradução ficaria pronta, considera iniciado o A-A no Brasil, o que, evidentemente, era apenas um sonho seu.

1949

Maio                     -HERBERTH L. DAUGHERTY volta aos E.U.A.  Naquela semana, os poucos companheiros, prestaram-lhe singelas homenagens ,entre as quais uma placa de cerâmica com os seguintes dizeres: - “QUEM VEM, QUE DEUS O TRAGA; QUEM PARTE, QUE VÁ COM DEUS”. Esta placa o Herb conservou na parede do hall de entrada de seu apartamento até a morte. Na véspera da partida HERB passou a

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secretaria do A-A do Brasil ( uns poucos papéis ) ao 1º secretário brasileiro, o companheiro Antonio P.G.

1949                      DADOS E FATOS DO BRASIL :

                                LOCAL DAS REUNIÕES : Em cada semana , no apto de algum companheiro e, também na sede da A.B.I. , na Rua Araujo Porto Alegre,R.J. Primeiros anos

                                CAIXA POSTAL : Este meio de contato foi cedido pela ACM e era de nº 254, que foi usada até os inícios dos anos 50, quando alugamos uma própria de nº 5218 que foi muito divulgada pelo Brasil.

                                A CONVERSA COM O ASCENSORISTA : O Pânico do Anonimato e a mudança de local para a Trav. Dos Barbeiros, foi motivado pela conversa de um companheiro retardatário com o cabineiro.

                                LUZES FRACAS NA SALA : Questão de anonimato, no princípio.

                                CHAPÉU E VÉU : Anonimato para Miss Helen, americana ,  a 1ª mulher no A-A brasileiro e que muito trabalhou o 12º Passo, com sacrifício do idioma e posição social, era representado pelo seu chapéu com véu que sempre usava.

23 dezembro     - REPORTAGEM do jornal “ A NOITE”, do RJ, conta o encontro entre o HERB e o HAROLD W.,este,em 1992,o membro de A-A mais antigo do Brasil.

31 dezembro     - Atendendo solicitação por carta, HAROLD W. vai à capital de São Paulo, ao encontro de OLINDO G. que pretendia iniciar lá o A-A. Depois de outros encontros, Harold chegou a conclusão de que era coisa semelhante ao A-A o que ele pretendia fazer e, assim, nasceu pouco depois o “A-A-A “ de São Paulo,uma instituição, então, anti-alcoólica.

1950                      - Chega ao nosso conhecimento o lançamento, com sucesso, nos E.U.A., de uma campanha dentro de A-A intitulada “ CAMPANHA DO NÍQUEL NO TELEFONE “  que consistia em animar sempre o neófito a trazer sempre no bolso um níquel e o número do telefone do seu padrinho, o lema era: - “ NÃO BEBA AGORA, NESTE MOMENTO “ não se falava em PRIMEIRO GOLE e em 24 HORAS. Como telefone era coisa rara no Brasil de então, foi dado o célebre “ jeitinho bem brasileiro “ e, como os cassinos haviam sido fechados fazia pouco tempo, as casas de venda de materiais próprios estavam com estoques encalhados, e compramos e adotamos aquelas fichas como lembrete do A-A.

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08 agosto            -PRIMEIRA REUNIÃO  do Grupo Rio de Janeiro ( o Rio Nucleos Group sonhado pelo Herberth ) , já com a presença de 15 membros.

29 agosto            -O GRUPO RIO DE JANEIRO, em ata de reunião desta data, registram que sua 1ª reunião fora em 05.9.47, data em que o HERBERTH ainda não havia se encontrado com o HAROLD W.

16 novembro     -FALECE O DR. BOB

                                - Nessa época passam a realizar reuniões na sede da “A.C.M.”, então na r. Araujo Porto Alegre, cujo Presidente, amigo de alguns de nossos membros permite, inclusive, o uso e a divulgação como nossa de sua CAIXA POSTAL Nº 254.

1951

06 junho              - Carta do Arcebispo Anglicano pedindo a alguns companheiros que se reunião em uma sala sua na Cinelândia (R.J.) que desocupassem a sala.

                                TENTATIVAS DE FORMAÇÃO DE NOVOS GRUPOS

                                - GRUPO BOTAFOGO, Fundado pelo Franck R. com reuniões   

                                                                           No I.B.E.U. ( Praia de Botafogo )

                                - GRUPO VOLUNTÁRIOS: Fundado pelo Henrique R., em sua

                                                                                  Casa , na Rua Voluntários da Pátria.

                                                                                  Ambos deixaram de funcionar

                                                                                   Pouco depois.

                                LITERATURA DE ENTÃO:

                                - “ O FOLHETO BRANCO”, traduzido pelo Harold W.

                                - folheto “ COMO COOPERAR PARA UMA OBRA MERITÓRIA”

                                - FOLHETO “ AS DOZE TRADIÇÕES “

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10 maio                - É lançado em S. Paulo, pela instituição “A-A-A” o nosso FOLHETO BRANCO, sem autorização, fazendo campanha anti-alcoólica, trazendo na contra-capa a metade de um rosto de mulher apoiado sobre uma taça e vertendo lágrimas, seguindo a frase: “Em cada copo de álcool há lágrimas de mães, esposas e filhos.” Esses fatos, para prese4rvar as Tradições de não –vinculação, obrigaram os companheiros a registrar em Cartório o A.A. do Brasil e a se valer da ajuda do saudoso amigo Dr. PAULO ROBERTO para, nos seus programas de rádio em S. Paulo, informasse ao povo que A.A. não era contra quem pode beber álcool,mas, sim, a favor dos que não podiam.

Junho                   - Falece, de acidente profissional, o 1º AA brasileiro e o 1º Secretário brasileiro, ANTONIO P.G.             

1952

19 fevereiro       - Fundado, no Rio, o GRUPO CENTRAL DO BRASIL, ainda atuante neste ano de 1988. Quase não realiza reuniões de palestras -  apenas de troca de experiência. Foi o desencadeador do A-A pelo Brasil; de seus quadros ( ou dos quadros de outros grupos fundados por membros dele saídos ) saindo os mensageiros pelo Brasil inteiro. Foi o iniciador de reuniões em  hospitais, em indústrias. Promoveu a PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL (em 1965). Lançou o 1º Boletim Nacional de Notícias. Traduziu e mandou mimeografar, distribuindo gratuitamente, cerca de 34 títulos de literaturas. Lançou a SACOLA da 7ª . Lançou a ficha de 5 anos, já que, até então,apenas as fichas iam até a verde-gravada de 2 anos.

                                PRIMEIROS MEMBROS DO GRUPO CENTRAL:

                                Paulo S., Laert, Martins, Manoel V., Paulo II, Armando G. Henrique

                                SEUS LOCAIS DE REUNIÕES:

                                DIAS E HORAS: 3ª feiras, 19 às 21 horas

                                1º local: rua Tarumã nº 14 (Bairro Humaitá – R.J.)

                                2º local: Av. 13 de Maio ( escritório comp. Nonato)

                                3º local: Av. 13 de Maio ( escritório Dr. H.L. Mellmann)

                                4º local: Av. Mar. Floriano, 181 – sobrado

                                5º local: Idem (auditório cedido pelo INAMPS )

                             6º local: r. Alexandre Mackenzie,108 – sobrado

                                7º local: (ATUAL) – Por baixo da Igreja de Santana, na rua do

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                                                                      mesmo nome , Praça 11.

                                GRANDES AMIGOS DIVULGADORES:

1)      Rádio Nacional: Programas “Nada Além de Dois Minutos”

Todos do saudoso amigo      “Gente Que Brilha”

Dr. Paulo Roberto                    “ Obrigado Doutor”.

2)      RÁDIO NACIONAL:  Lourival Marques e seu diário

Programa: “Seu Criado ... “

3)      Radio globo: Programa: “Mesas Redondas do Tio Kurtzs”

4)      JORNAL “ O GLOBO “ – Coluna constante de Elsie Lessa

5)      JORNAL “O GLOBO”- Coluna constante de Henrique

                                           Pongetti

18 agosto            - Fundado o 2º grupo de brasileiros, o GRUPO NOVA  

                               FRIBURGO, nesse Município Serrano do R.J., pelo comp.

 Amaro do V., Ingressado no Grupo Central.

- A. Horta, que havia conseguido solucionar seu grave

Problema de bebida freqüentando, no então D. Federal

( hoje  capital do R. de Janeiro),  as reuniões do Grupo de

AA que havia conhecido, ao voltar a B. Horizonte –M.G. 

Funda ali o 1º Grupo do Estado, no centro de saúde local.

- Em Conselheiro Lafaiete,em sua loja, o Comp. Filipe fundou

Um grupo local. Chamava a atenção da cidade o letreiro em

Sua marquise, onde eram bem maiores todos os “A” do

Nome da loja, que era “cAsA AurorA”...

08 dezembro     - Por causa do surgimento de uma entidade paralela, nascida

                                na Capital de S. Paulo, a “A-A-A”  - ASSOCIAÇÃO ANTI-ALCOÓLICA, e que  havia passado a usar literaturas

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nossas,decidiu-se registrar o A-A em Cartório para preservar suas Tradições, princípios e propósitos  

Dezembro          - O PROF. JOÃO MENDONÇA, Catedrático da Faculdade de Medicina de Salvador – BA, faz enorme divulgação de AA pela  RÁDIO CULTURA,  o que resultaria na formação do 1º Grupo, orientado pelo comp. Veloso.

31 maio                - Um repórter sensacionalista da “ REVISTA DA SEMANA”, muito lida então no RJ, dizendo-se alcoólico marca um encontro em um restaurante com o HAROLD e, seu fotógrafo, dissimuladamente, fez várias chapas. Saiu a reportagem com foto do companheiro, reproduzindo o folheto branco que ele lhe dera com autógrafo, causando diversos e graves transtornos na vida de HAROLD pois, a família dizia: “Você não satisfeito em envergonhar a família com suas loucas bebedeiras, agora coloca o fato e o nosso nome nessa revista!” O Patrão lhe disse: Como posso mandar aos meus clientes um auditor que se declara alcoólico? Despediu-o. Os próprios companheiros de A-A passaram a evitá-lo achando que ele ferira as Tradições de anonimato. O resultado foi o seu afastamento da família, do A-A e a perda de um bom emprego...    a REVISTA DA SEMANA nem sequer deu abrigo à longa carta esclarecedora remetida pelo HAROLD, não a publicando.

1953

                               - Nesse ano, por interferência do Prof. Décio Parreiras, nosso secretário-geral, PAULO S., foi nomeado Técnico em Alcoolismo, membro leigo da SUB-COMISSÃO NACIONAL DE ALCOOLISMO, um órgão do Min. Das Relações Exteriores. Isto não foi bom para o companheiro, e não foi bom para o A-A trazendo o problema das vinculações.

                               - Foi realizada uma importante reunião com as maiores autoridades médicas, no campo da psiquiatria, no Palacete da Lagoa do Dr. Mauricio Vilela. Alí estavam os Profs. Adauto Botelho, Henrique Roxo, Maurício de Lacerda, Pedro Pernambuco Filho, Heitor  Peres e o radialista Dr. Paulo Roberto, que também era médico. O jornal “ A NOITE “, do RJ cometendo uma “barrigada” , em edição de 10.11, “funda” o A-A no Brasil.

08abril                  - Surge grande confusão por causa dos “dinheiros de A-A” e, os companheiros decidem liquidar aquela “fortuna” de Cr$ 5.000,00 doando pijamas, toalhas, lençóis , ao Hospital Santa Catarina de Alexandria, montado para a recuperação de alcoólicos e dirigido pelo nosso amigo Dr. Jaques Mongruel.

04 agosto            - DATA DWE MEU INGRESSO EM “A-A”.

07 a 21 nov         - PRIMEIRAS REUNIÕES EM SALVADOR – BA com a participação de nosso secretário-geral Paulo S. e dos membros a seguir:

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Veloso, Teresa, Sampaio, Leone (ainda vivo), Sebastião e Herdy. Este grupo foi fundado pelo empenho do amigo Prf. Mendonça, já citado aqui.

                               FATOS DESTACÁVEIS PARA O PERÍODO :     

                               - Dna. Branca, uma não-alcoólica, é quem tratava das correspondências. Seria a 1ª Alanon ?

                               - Uma rica irmã grata de um companheiro, nos manda procurar a melhor sala na Cidade que ela doaria ao A-A. Agradecemos, mas não aceitamos.

                               LITERATURAS DO PERÍODO : 

                               - “Folheto Branco” + “Como Cooperar Para Uma Obra Meritória” + “As 12 Tradições” , além de folhas datilografadas por alguns, de artigos que liam a respeito do alcoolismo.

1954                      - Fui, junto com os mais antigos do A-A, visitar em Piraí – RJ, o Comp. Leôncio que havia tido uma triste recaída, nos contando sua história.

                               -  O Comp. André L., de Catanduva – SP , inicia semanal correspondência comigo e, mais tarde, junto com a M. Felícia, fundam um Grupo  em Baurú – SP

1955                      - 12 GRUPOS – 180 MEMBROS – Apucarana, Ponta Grossa, Curitiba, Belo Horizonte, Caratinga, Itajubá, Teófilo Otoni, Salvador (BA), Mundo Novo, RJ. Na verdade, todos esses grupos estavam registrados em N.Y., mas a maioria era apenas sonho.

                               - Traduzido,editado e distribuído em português, o artigo de Jack ALEXANDERS, saído na revista “FORTUNE MAGAZINE” , EDIÇÃO DE 1951:

                               - Nas fotos de propaganda na porta do cinema Metro, do filme “EU CHORAREI AMANHÔ , extraído do livro da comp. Lilian Roth, vejo uma que parecia uma de nossas salas de reuniões e, no quadro negro na parede, uma frase. Não sabendo inglês, copiei as palavras que, traduzidas em casa, diziam: - “SE O SEU CASO É BEBER, O PROBLEMA É SEU; MAS, SE O SEU CASO É PARAR DE BEBER, O PROBLEMA É NOSSO.” Vibrei e levei o assunto aos meus companheiros do Grupo Central que certamente, decidiram adotá-la como slogam do Grupo.

1955                      OS FATOS MARCANTES :

                               - RECAÍDA de Paulo S. era ele o Secretário Geral de “A-A” no Brasil. Fundou o Grupo Central do Brasil. (sucesso, fama, vaidade?)

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                            - COMP. BRASIL : sua vida,seu progresso,cabarets,etc...          ida em minha casa de madrugada   –   minha aclamação – título enorme  -  primeira equipe: Expedito, Airton, Maria Felícia.   -   SACOLA NA PAREDE. RAZÃO. CONTRIBUIÇÃO DE TODOS.   -   DR. MELMANN traduzir Livro Azul. Licença negada pelo G.S.O   -   FICHA BRANCA. 5 ANOS.RAZÃO   -   SECRETÁRIO E VENDEDOR. 2 PASTAS   - 14 TIPOS DIF. DE LITERATURAS TRADUZIDAS---1º BOLETIM NAC. DE NOTÍCIAS É LANÇADO   -   FOI UM DOS GRANDES EXEMPLOS NO ANTIGO “A-A” .

1956                      13 GRUPOS  -  241 MEMBROS:  ( CATÁLOGO MUNDIAL) .

                               OS FATOS MARCANTES :

                               - REUNIÕES INSTITUCIONAIS, EQUIPE NO CENTRO PSIQUIÁTRICO NACIONAL, NO BAIRRO ENG. DENTRO – RJ

                               - Lançado, impresso, folheto: “ INTERESSA O “A-A” PARA VOCÊ?” , um teste que era fornecido aos neófitos ou remetidos junto com as cartas.

                               - Primeiras tentativas junto ao G.S.O. para imprimir diversas literaturas básicas em português. Não concederam alegando que deviam “preservar os direitos autorais” (sic). Direitos autorais valia mais do que recuperação?

1957                      - Fundado o GRUPO METROPOLITANO que, em 1988, ainda funcionava na Lapa – RJ

                               - Iniciadas REUNIÕES INSTITUCIONAIS no ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO, ali, depois, passando a funcionar regularmente em grupo, com todo apoio dos médicos e Assistentes-Sociais.

                               - Já dispúnhamos de 24 TIPOS DE LITERATURAS, traduzidas gratuitamente pela Dra. Helena Daher, que eram distribuídas gratuitamente.

                               - MARIA FELÍCIA, JUNTO COM ANDRÉ L., inicia o trabalho do 12º Passo em Baurú ( Casa de Saúde Dr. Smith), Catanduva e Campinas. Lançaram uma boa semente, que deu seus frutos, em 26.9 nascendo o GRUPO CATANDUVA.

1958                      FATOS MAIS MARCANTES :

              - Com o falecimento do nosso amigo Dr. Henrique L. Melmann, a família nos pediu para desocupar a sala que nos cedera. Estávamos desabrigados e sem saber o que fazer. Decidimos ir procurar na Rádio Nacional ao nosso saudoso amigo Dr. Paulo Roberto que, imediatamente, nos encaminhou à presença do Prefeito, que nos encaminhou ao seu Secretário de Saúde, que nos pediu um

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requerimento, que nos deu um protocolo, que nos fez andar muito para, ao final, nada resolver.                                                                            Outro amigo nos levou à presença do Dr. Telêmaco Gonçalves Maia, que mantinha um serviço de atendimento médico gratuito para pobres e que, simplesmente, depois de nos ouvir, se levantou e com um gesto largo em direção ao salão, apenas nos perguntou se nos servia. Claro, respondemos e, a partir de então e durante muitos anos nos reunimos na Av. MARECHAL FLORIANO Nº 181 – SOBRADO , sem que esse amigo jamais entrasse na sua sala quando estávamos reunidos, jamais nos pediu um voto como candidato, jamais nos pediu a ajuda de um único centavo. Nossa gratidão! Para a “mudança” desde a Cinelândia até as proximidades da E.F. Central do Brasil, foi um belo espetáculo dos companheiros, pelas muitas ruas, carregando cadeiras e outro dos nossos objetos na cabeça.

1959                         -  Lançada, mimeografada, a tradução do livro “QUANDO O A-A ATINGE A MAIORIDADE” , tradução gratuita feita pela Dra. Helena Daher. Cópias distribuídas gratuitamente a todo o Brasil.

1961

11 junho                 - Fundado o GRUPO JUIZ DE FORA,  o pioneiro nesse município de Minas Gerais, tendo como fundadores os comp. Glicério (meu afilhado) e Salvador T.

                                   - É criada, pelo GRUPO CENTRAL DO BRASIL (RJ), a ficha/amarela-gravada, correspondente a 10 (dez) anos de sobriedade e participação.

06 setembro         - Através correspondência, a ABBR – Associação Brasileira Beneficiente de Recuperação, nos convida – e atendemos ao convite – para fazer palestras sobre alcoolismo, para alunos da cadeira de PSICOLOGIA Aplicada e Reabilitação.

1962 - É eleito secretário –geral o comp. Raymundo R. que viria a apresentar uma administração profícua, pois: na sede da Av. Marechal  Floriano nº 181 – sobrado, criou mais (02) dois grupos, passando a funcionar dois (02) às terças-feiras e (02) dois às quintas-feiras. Para evitar trânsito de companheiros no final de uma e início da outra reunião ( uma de 17 às 19 horas e, outra de 19:30 às 21:30 horas) , mandava fechar  a porta do prédio meia-hora após o início da primeira reunião, com a medida desagradando muitos retardatários. Lançou, por outro lado, a idéia de uma sala própria, só nossa, alugada e, pouco depois, isso se tornaria realidade, nascendo a sede da rua da Lapa nº 120 – 8º andar onde, aos poucos, foram sendo criados outros grupos, que atualmente realizam uma média de três (03) reuniões por dia e uma aos domingos pela manhã. De suas variadas realizações, apenas uma criou sérios e divergentes problemas no A-A brasileiro – a criação da ficha feita em ouro para homenagear os companheiros quando

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completassem dez (10) anos de sobriedade e participação; uns alertaram para o fato de que, sendo o A-A uma irmandade calcada na espiritualidade, o ouro,  como o mais

completo símbolo do poder material, seria um  símbolo inadequado em nosso meio; outros alegavam que, sendo o A-A uma irmandade pobre e que assim devia permanecer, como poderia oferecer fichas de ouro e, finalmente, havia os que argumentavam que, naquele momento ou nos imediatos anos seguintes, seria fácil brindar os poucos companheiros que estavam ou estariam completando dez (10) anos, mas, mais adiante, esse número de companheiros iria crescendo e, os grupos, não tendo condições para adquirir essas FICHAS DE OURO, criariam dentro de A-A duas castas: a dos que tinham fichas de ouro, e a dos que não podiam ter. De qualquer forma, a ficha foi introduzida no A-A e, atualmente, muitos são os companheiros que completaram os seus dez (10) anos e não receberam a  FICHA DE OURO.

1963                         - Levando em conta os crescentes problemas de administração dos grupos – desviando-os de sua finalidade primordial de ajudar os alcoólicos que nos procuravam – de despesas de Correios; de aluguel de Caixas Postais; de tradução, impressão e distribuição de literaturas; de encomenda e distribuição de fichas, para retirar essas tarefas dos grupos, depois de muitas reuniões e de muitos debates , foi criada a “A-R-A” que, se tivesse permanecido em atividade poderia, no mínimo, ter transmitido a experiência que acumulara aos ESG/BR e CLAAB, organismos com a mesma finalidade criados anos após.

28 setembro         - Inaugurada sede própria (auto-suficiência?) da Lapa, nesse bairro, com a presença de 40 membros, materializando-se um trabalho do secretário-geral , comp. Raymundo R. e com a reunião sendo conduzida pelo membro conhecido como de sobriedade regular mais antigo no Brasil, o comp. Paulo II, que foi, também,junto com outros, fundador do grupo Central do Brasil

23 novembro        - Pela dinâmica atuação do comp. Nelson K., ingressante do Grupo Central do Brasil, nasce o GRUPO PETROPOLITANO, pioneiro desse município serrano do Rio de Janeiro. Desse belo embrião, e ainda pelo incansável trabalho do Nelson K., naquele município, hoje funcionam nos diversos bairros, 26 GRUPOS, com reuniões nos mais variados horários e em todos os dias da semana

1964

01 julho                   - Ingressa na sede Lapa-RJ o comp Drault (falecido em maio/86) que poucos anos depois, com enorme sacrifício, iniciaria as atividades “A-A” no nordeste, junto com outros criando os seguintes grupos: EM RECIFE (PE); EM CAMPINA GRANDE E JOÃO PESSOA  (PB), o primeiro em julho e, os outros dois, em agosto.

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19 agosto               - PRIMEIRA REUNIÃO do GRUPO RECIFE (PE), com a presença dos companheiros Drault, Sylas, Romero, Lins, Cícero, Hibernon, realizada na rua Baixa Verde, no bairro Derby.

                                   - O GRUPO JOÃO PESSOA funcionou regularmente até 1966, fez alguns intervalos para, finalmente, ficar firme.

26 agosto               - REALIZADA A PRIMEIRA REUNIÃO DE “A-A”, em Campina Grande (PB).

                                   - Depois do trabalho realizado pelo comp. Alberto H., nos inícios da década de 50, em Belo Horizonte - MG que se encerraria poucos anos depois, nasce o GRUPO TARDE AZUL, como resultado do trabalho do comp. Ilídio, este grupo funcionando com muitas presenças de membros até este ano de 1988.

                                   - Nasce em Duque de Caxias, município do RJ um grupo com esse nome, trabalho da saudosa companheira Maria Vitória e do Rubens, grupo em plena atividade.

Novembro             - Editado em português pelo AAWS os folhetos “ A OPINIÃO DO MÉDICO” e “AS DOZE TRADIÇÕES COMENTADAS” e “ QUARENTA E QUATRO PERGUNTAS E RESPOSTAS” , a partir de traduções remetidas pelo Grupo Central do Brasil-RJ.

01 dezembro        - Atendendo cartas de solicitação da Assistente Social da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, Moiara Ribeiro Ferreira, passamos a realizar aí reuniões institucionais para operários e funcionários, o que mais tarde resultaria no surgimento de diversos grupos no município de João Monlevade – MG. Essa amiga Assistente social fez bem mais pela divulgação de A-A: conseguiu realizar um filme com nossa mensagem e o número da Caixa Postal, que foi exibido durante muito tempo pelas emissoras de televisão de Belo Horizonte – MG e do Rio de Janeiro –RJ

02 dezembro        - O DIÁRIO OFICIAL em fls 22.598, publica o resumo dos estatutos modificados de A-A, que fora registrado em Cartório de Pessoa Jurídica.

15 dezembro        - É criado o CONSELHO ADMINISTRATIVO DE A-A , composto pelos membros veteranos, que na mesma data realizou sua 1ª reunião elegendo os seus membros, providenciou o registro em Cartório, emitiu a 1ª Circular para os Grupos e mandou publicar no DO. Conselheiros: Paulo II, Bitão, Luiz M., Drumond, Drault, Rubens A., Severino, Tupinambá, Mercedes, Augusto M. e S. Santiago.

1965                         NOTÍCIAS SOBRE NOVOS GRUPOS :

                                   - Nasce o GRUPO CABO FRIO – RJ, trabalho do companheiro Salvador M.

                                   - Idem, o GRUPO MACEIÓ-AL, comp. Abelardo L. e Benedito Moura.

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                                   - Idem, o GRUPO ANHANGUERA, de GOIÂNIA-GO, trabalho dos comp. Souza e Cerqueira

                                   - Idem, o GRUPO BENVINDO, de Florianópolis-SC, trabalho da comp. Charlote

                                   - Idem, o GRUPO ARACAJÚ, nessa Capital de Sergipe, trabalho do comp. Cavalcanti

26 março                - Lançada grande campanha pela TV – Itacolomi , de Belo Horizonte –MG, promovida pelo Serviço Social da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira

12 abril                    - Waneta N., secretária de AAWS confirma o recebimento de nossa remessa de exemplares do “ Folheto Branco”  (dizendo que não o conheciam, que não era da autoria deles ), e de muitas outras traduções, feitas pela Dra. Helena Daher.

13 a 19 abril           - Série de grande sucesso de reportagens, de autoria de Araken Távora, com entrevistas, reproduções de trechos de literaturas, acaba virando um belo folheto por ele editado e que nos é dado de forma gratuita. Este belo trabalho se esgotou e não mais foi reproduzido.

                                   - Waneta N. secretária do GSO, me pede para mandar fazer orçamento aqui de todas as literaturas traduzidas, informando que o GSO estava disposto a financiar essas edições.

03 julho                   - Doroty N., uma companheira do RJ comparece à Conferência Mundial de Serviços, realizada em Toronto,Canadá, representando o A-A do Brasil.

20 julho                   Waneta N., secretária do GSO acusa o recebimento das novas traduções remetidas: “ Interessa o A-A para você?” , “ A Doença do Alcoolismo” e “ Apadrinhamento”.

24 agosto               - Os responsáveis  pelos GRUPOS DA SENADOR DANTAS, comunicam ao Conselho Administrativo de A-A a criação da PRIMEIRA CENTRAL DE SERVIÇOS.

Setembro              - Fundado o 1º grupo da capital de S. Paulo – o GRUPO SAPIENS, sob orientação de Donald L.

14 setembro         - Fundado o GRUPO COPACABANA, nesse bairro do R.J., tendo como scretário ocomp. Saulo S.

24 setembro         - É expedida para todos os grupos do Brasil a PRIMEIRA CIRCULAR SOBRE A PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL.

29 outubro            - Alguns companheiros ingressam na Justiça para impedir a realização da PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL, mandando

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citar companheiros em seus locais de trabalho, com quebra de anonimato, de princípios e de propósitos.

30 outubro a         - É realizada a  PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL DE “A-A”

02 novembro        com a presença de companheiros de diversos Estados do norte, nordeste, centro-sul, sul e , principalmente , do Rio. Os eventos foram realizados na sede do Pen Club e no Colégio Talmud Torah. Dito evento só pode ser realizado pelo apoio de diversos amigos de A.A, tais como: Dr. Francisco Laport, Embaixados Paschoal Carlos Magno, e Dr. Oswald de Moraes Andrade.

                                   - Nasce o GRUPO CENTRAL DE FORTALEZA –CE, trabalho dos companheiros Vinícios, Gladstone e Cerqueira.

                                   - Na Conferência Mundial de Serviços, realizada em Toronto, Canadá, Bill W. lança o lema: - “EU SOU RESPONSÁVEL.”

                                   GRUPOS E MEMBROS (Catálogo Mundial) :

                                   20 GRUPOS e 1468 MEMBROS.  ( Minas, S.Paulo, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, Brasília e Rio de Janeiro).

1966                         - 40 GRUPOS e 2118 MEMBROS

02 FEVEREIRO       - Fundado o GRUPO ÉGIDE, no bairro da Lapa-RJ, trabalho do companheiro Chagas que, anos depois se transferiu profissionalmente para Brasília-DF.

30 maio                   - Fundada ALANON pelas esposas de companheiros Sandra Emília e Bernadete. Antes desse fato e como preparação, na sede da Lapa-RJ, foram realizadas inúmeras reuniões de familiares de membros de “A-A”.

01 junho                 - fundado o GRUPO ESPERANÇA, institucional, dentro do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro

                                   - Mantido o trabalhos institucional, realizado junto e com total apoio daas Assistentes Sociais, do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.

14 junho                 - Realizada a SEGUNDA REUNIÃO PÚBLICA DE ALANON

                                   - Criada a FICHA AZUL GRAVADA, para 15 anos de A-A

04 agosto               - Carta do GSO, distribuída aos grupos pelo Claab, nega o direito de impressão e distribuição de literaturas aprovadas.

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                                   - É traduzido o excelente livro de Bill W.:”Caminhos da Vida”, contendo os seus mais belos pensamentos, livro que ainda não pode ser impresso e distribuído pelo CLAAB. Essa tradução foi mais uma gentileza da nossa saudosa amiga Dra. Helena Daher.

1967                         - GRUPOS 52 + MEMBROS 2201 ( Catálogo Mundial )

19 janeiro               - Carta do Comp. Donald L. na qualidade de Presidente do CLAAB, pede minha colaboração na tradução do LIVRO AZUL, mandando cópia do manuscrito. Mandei minhas sugestões que, talvez por não chegar em tempo, não foram aproveitadas.

24 maio                   - Reunião Pública em Niterói-RJ, no auditório da Associação Médica Fluminense, com a participação de médicos, parlamentares, juízes, psicólogos e religiosos.

01 agosto               - Registrada em Cartório a PRIMEIRA CENTRAL DE SERVIÇOS, organismo criado pelos comp. da Senador Dantas.

05 outubro            - Criado o Grupo Paraná, que se reunia na sede da Representação daquele Estado, destinado a estudos e debates de Passos,Tradições e Serviços. Este Grupo deixou de funcionar em 01.08.68.

30 novembro        - Por iniciativa da Prof. Conceição Távora, com vistas ao trabalho que realizava no Centro Psiquiátrico Nacional ( bairro de Eng. De Dentro – RJ), é exibido em cinema deste subúrbio o filma “ EU CHORAREI AMANHÔ , com roteiro retirado do livro de mesmo título de uma comp. norte-americana, artista precoce que enveredou pelo alcoolismo, Lilian Roth, contando sua triste experiência. Por volta de 1955, quando esse filme foi exibido no cinema Metro Passeio vi, em uma das fotografias de propaganda, uma sala com váris pessoas, fazendo lembrar uma reunião de A-A ; na parede, em um quadro negro, escrito com giz, uma frase que copiei para, não sabendo esse idioma, traduzir em casa e, o resultado, foi o seguinte: - “SE O SEU CASO É BEBER, O PROBLEMA É SEU; MAS, SE O SEU CASO É PARAR DE BEBER, O PROBLEMA É NOSSO.” Esse resultado, submetido aos companheiros do grupo, resultou em ser adotado pelo GRUPO CENTRAL DO BRASIAL para, depois , pouco a pouco, ir sendo adotado pelos demais grupos do Brasil.

1968                         - GRUPOS: 69 + MEMBROS:  1906 (Catálogo Mundial )

29 maio                   - Recebo carta-convite dos coordenadores dos Grupos Liberdade, Nova Vida. Nova Esperança, Duque de Caxias, Renovação, Humildade e Pacificados para, como um dos fundadores de “A-A” no município de Duque de Caxias-RJ, comparecer a uma reunião conjunta de 1º Aniversário, no dia 16.06 às 16 horas

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                                   - Fundado em João Pessoa-PB o GRUPO TABAJARA que, logo após , parou, voltou a funcionar em 1971, depois parando definitivamente.

1969                         - GRUPOS:  109

10 Abril                    - É assinada carta-contrato entre o AAWS e o comp. Donald L., para tradução, impressão e distribuição das literaturas aprovadas, com empréstimo de US$2.000,00 determinando a rápida instalação de um Escritório de Serviços Gerais, a quem deveria ser transferida essa concessão.

06 agosto               - Carta do Donald L. ao meu afilhado Expedito D., acusando o recebimento da tradução do livro “Caminhos da Vida”, de Bill W., e prometendo imprimir dentro de um (1) ano. Até hoje não ocorreu.

20 setembro         - Fundado na Capital de S. Paulo o CLAAB, com o lançamento da 1ª edição em português do livro “ALCOÓLICOS ANÔNIMOS”.

                                   - Fundado o GRUPO ALVORADA, pioneiro de Brasília, D.F., pelos comps. Leão e Karl.

                                   - Fundado em João Pessoa-PB, o GRUPO PARAÍBA, no Hospital Colônia, só funcionando por três (3) meses.

1970                         - GRUPOS: 148

18 outubro            - Viajando ao R.G. do Sul, o comp. Wallace pratica o 12º Passo e funda o GRUPO SULINO, com a presença dos comp. Darwin, Ary, Sergio, Irmã Isabela, Ivone, Juracy, Severiano,João G. e João C.

                                   - Fundado pelo comp. Julio L. o grupo pioneiro em Mato Grosso do Sul, na Capital, Campo Grande.

                                   -  Em reunião especial entre os comp. Sebastião Américo, Dolores, Zuleika, ficam superadas as divergências entre os grupos Sen.Dantas, Lapa e Central do Brasil.

1971

06 janeiro               - Carta do AAWS, encaminhada pelo CLAAB ao GRUPO ÉGIDE, co sede na Lapa-RJ, proibindo-o de continuar editando em fascículos o livro “CAMINHOS DA VIDA” , DE Bill W., traduzido gratuitamente pela Dra. Helena Daher e nunca editado pelo CLAAB.

01 dezembro        - São convocados os membros dos grupos da Lapa, da Sem. Dantas e do Grupo Central do Brasil, para a aprovação dos estatutos de um ESCRITÓRIO NACIONAL DE SERVIÇOS (ENSAA).

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11 dezembro        - Criado o ENSAA – ESCRITÓRIO NACIONAL DE SERVIÇOS DE “A-A” na sede da R. Sen. Dantas. Esse ENSAA depois foi substituído pelo ESG/BR em S. Paulo.                                      Diretoria : Isis N.S., Argentino, Marinho, Wala, Helio, Coelho,Fernando, Ribamar, J. Cunha, Lewi e Naziazeno.

                                   - Criada a FICHA ROSA GRAVADA, para os membros com 2º anos de abstinência e participação

                                   - Fundada ALANON em Belo Horizonte – MG, por Florita de Oliveira

1972                         - GRUPOS: 175  +  MEMBROS: 3803 ( SE + MG + RJ + SP + SC + DF + PB + PR + CE + PE + AL + RN + BA + RS )

24 ABRIL                 - Fundado em P.Alegre o segundo (2º) GRUPO CORAGEM

1973                         - GRUPOS : 244

13 fevereiro          - MORRE nos E.U.A., na cidade de Fort Lauderdale, Flórida, HERBERT LEROY DOUGHERTY, fundador do AA no Brasil. Conforme seu expresso desejo, foi cremado e, conforme sua expressão, teve suas cinzas “ espalhadas pelo generoso Oceano Atlântico.”

                                   - Realizado na Capital de S. Paulo o “ PRIMEIRO CONCLAVE DE CARNAVAL”.

                                   - Exibido, pela vez primeira, um filme colorido sobre BILL   LOIS

                                   - Editado pelo ENSAA o primeiro catálogo de endereços de grupos, dele constando apenas 22.

1974                         - GRUPOS: 300

26 janeiro               - Fundado o A-A em Vitória-ES, na Loja Maçônica “Domingos Martins”, na ilha dos Principes, presentes os comp. Arlon J.O.,Augusto L.R.,Dirceu S.B., Raymundo J.J., Jadic C. e o médico-psiquiatra Dr. João Oswaldo de Almeida Motta.                                                                                              1º Pres.: Augusto L. ; Sec.: Raymundo; Coord.: Arlon. Reuniões aos sábados de  19 às 21 horas.

Fevereiro               - CLAAB é considerado ORGANISMO NACIONAL DE SERVIÇOS, com aprovação do 1º CONCLAVE NACIONAL DE “A-A”, realizado na Capital de S. Paulo.

                                   - O ENSAA encerra suas atividades no Rio de Janeiro.

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                                   - Realizada a PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL , na capital de S. Paulo, denominada “Conclave”

                                   - Fundado o GRUPO POTIGUAR, em Natal – RN

05 abril                    - Fundado o GRUPO ARACAJÚ, na Capital de Sergipe, pioneiro no Estado, pelos comp. Hamilton (Pai), e Nonato (Filho), ambos ingressados em Maceió.

08 a 11 fevereiro  - Durante a realização do  PRIMEIRO CONCLAVE NACIONAL, a irmandade se reencontra com o 2º ( segundo ) brasileiro recuperado pelo Herberth – trata-se do comp. Harold W, em 1988 morando em S. Paulo.

                                   - É eleita a PRIMEIRA DIRETORIA DO CLAAB . NO CONSELHO FISCAL, a presença de dois (2) não-alcoólicos, a saber: Dr. José Ferraz Salles (SP) e Reverendo José Ribola (SP).

1975                         GRUPOS : 500  -  MEMBROS :

19 fevereiro          - Nasce a PRIMEIRA INTERGRUPAL, em P. Alegre – RS

28 a 29 julho          - Realizado o PRIMEIRO ENCONTRO de AA do R.G. Sul

Outubro                 - Fundada a CENTRAL DE SERVIÇOS DA PARAÍBA pelo comp. Guerton. Funcionou até Nov/75,reabriu em Nov/77, reabriu em março/82, fechou em maio, reabrindo em definitivo em 01.01.84.

Novembro             - Nova carta da Diretoria Executiva do CLAAB, concitando os grupos a fundarem uma JUNTA NACIONAL.

                                   - renasce o A-A no R.G. do Norte, em Caicó, com o GRUPO SERIDÓ, fundado por comp. da Paraíba.

1976                         - GRUPOS :  600

29 fevereiro          - É fundada a JUNAAB, contando com 27 Delegados, representando 16 Estados

01 março                - Aprovados os ESTATUTOS DO CLAAB, na Capital de S. Paulo, na III CONVENÇÃO NACIONAL.

Setembro              - Fundado em Niterói-RJ, o COMITÊ DE ÁREA VILA DA SOBRIEDADE.

Outubro                 - DonaldL. E J. Inácio, os dois (2) primeiros Delegados nacionais, comparecem à CONFERÊNCIA MUNDIAL DE SERVIÇOS, realizada em NOVA YORK – U.S.A.

27 novembro        - Fundado o GRUPO NATAL, nessa Capital do R.G.N., trabalho dos companheiros da Paraíba.

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                                   - Criada a FICHA VERMELHA GRAVADA, correspondente a 25 anos de abstinência e participação,pelos membros do Grupo Central do Brasil.

1977                         - GRUPOS  : 855

31 janeiro               - Carta ameaça aos grupos, remetida pelo CLAAB, na alegação de Direitos Autorais. Uma cópia foi recebida pelo GRUPO RADIALISTA PAULO ROBERTO, do bairro da Tijuca-RJ.

27 fevereiro          -Instalada a CENTRAL MINEIRA DE SERVIÇOS GERAIS ( CEMISAA). Em Belo Horizonte – MG. Em 1982 passou a ser denominada “AAECSMG”.

Abril                      - Fundado em P. Alegre –RS, o ESCRITÓRIO REGIONAL DE                          SERVIÇOS DO R.G. DO SUL.

05 a 07 abril           - Realizada em Recife - PE a I CONFERÊNCIA NACIONAL DE SERVIÇOS

07 a 10 abril           - Realizado em Recife - PE o IV CONCLAVE NACIONAL

06 abril                    - Aprovados em Recife - PE o ESTATUTO DA JUNAAB, e delegado ao CLAAB a função de ESCRITÓRIO DE SERVIÇOS GERAIS DA JUNTA

11 setembro         - Fundado o GRUPO MINAS GERAIS, em B. Horizonte - MG

                                   - Fundado o GRUPO FILIPÉIA,  em João Pessoa – PB

1978                         - GRUPOS : 1060

20 a 22 março       - realizada em B. Horizonte a IICONFERÊNCIA NACIONAL DE SERVIÇOS e o V CONCLAVE NACIONAL.

                                   - Na semana anterior da que estava escalada para nos prestar mais um grande favor, participando do Programa da TV Globo “8 ou 80” no qual iria responder sobre “A-A”, com base nos livros que para nós traduzira, “Caminhos da Vida” e “O A-A Atinge a Maioridade”, faleceu nossa grande aliada e colaboradora, Dra. Helena Daher. Durante vários anos, gratuitamente, usou muito de seu precioso tempo e de seu saber, traduzindo cerca de 24 tipos diferentes de nossas literaturas.

19 novembro        - Falece meu grande afilhado Expedito D., já com mais de 20 anos de abstinência, durante os quais foi um incansável aliado do Legado de Serviços, sem cuja ajuda e muito estímulo pouco poderia eu haver realizado das tarefas que me confiavam.

                                   - GRUPOS EM 1978: 1060

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1979                         - GRUPOS EM 1979: 1249

12 a 14 abril           - Realizada na Capital de S. Paulo a III CONFERÊNCIA NACIONAL DE SERVIÇOS

08 julho                   - Realizada na Capital de S. Paulo a 1ª REUNIÃO DA “CEREA” – Comissão Especial de Reforma dos Estatutos de A-A, presidida pelo comp. Nilton F., de Natal-RN

1980                         - GRUPOS EM 1980: 1350

31 março/03 abril – Realizada e P. Alegre a IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE SERVIÇOS: estimulado pelo nosso Delegado, o comp. Olmar, de saudosa lembrança, compareci ao primeiro evento nacional, já que, desde 1965, apenas passara a freqüentar meu grupo.

04 a 06 abril          

Realizado em P. Alegre o VI CONCLAVENACIONAL, quando se ficou informado de que, no Estado, havial 104 grupos atuantes.

                                   - Eloy T e Roy P. , como delegados Nacionais, compareceram a VI REUNIÃO MUNDIAL DE SERVIÇOS, realizada em Nova York – USA.

1981                         - GRUPOS EM 1981 : 1500

01 abril                    - Para surpresa de não poucos companheiros,de diversos estados, é recebida uma carta-circular de um comp. de Feira de Santana –BA, oferecendo seus serviços profissionais, baseados em técnica adquirida na Clínica Rendal, de S. Paulo-SP

Abril                         -  Realizado o “ Encontro de A-A do Norte/Nordeste” com a presença de comp. de muitos outros Estados.

16 a 18 abril           - Realizado na Capital de S. Paulo a V CONFERÊNCIA NACIONAL DE SERVIÇOS e, também, a CONVENÇÃO ESTADUAL DE SÃO PAULO

Setembro              - realizado o PRIMEIRO SEMINÁRIO NACIONAL DE PREVENÇÃO DO ALCOOLISMO, PROMOVIDO PELA DINSAN, ORGÃO DO MIN. DA SAÚDE, dele participando nosso Delegado, comp Olmar, representando a JUNAAB. O evento foi realizado em Brasília-DF.

07 novembro        - Instalado o ESG/BR , na Capital de S. Paulo

15 novembro        - O comp. Saulo s. edita, em Brasília-DF e distribui para todo o Brasil, um trabalho sobre a HISTÓRIA DE “A-A” NO BRASIL, abrangendo o período entre 1948 e 1981, contido em 21 fls.

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Dezembro             - Lançado pelo ESERJ – Escritório de Serviços do R.J. um belo Boletim de Notícias, impresso, encadernado, trabalho do comp. Edison H., trabalho que terminou no nº 8 , em agosto/82

1982                         - GRUPOS EM 1982: 1700

                                   - Fundada na Capital do RJ a CLÍNICA VILA SERENA, que se divulga misturando-se com o programa e os princípios de A-A. Essa Clínica vem apoiada em grande multinacional farmacêutica.

                                   - Fundada na Capital de S. Paulo uma firma de nome IMCORPS, promovendo o “PRIMEIRO CURSO DE TREINAMENTO DE MONITORES DE REUNIÕES DO A-A “. Cobrando e fornecendo diplomas de conclusão do curso.

12 janeiro               - Falece na Capital de S. Paulo o inesquecível “TIO NICA “ , grande dirigente reformulador do CLAAB.

05 a 06 fevereiro – Realizado o “VI ENCONTRO A-A DE M.G.”, em B. Horizonte

                                   - Realizado o “SEGUNDO ENCONTRO DE DELEGADOS SUL/CENTRO SUL”, em B. Horizonte – MG.

-  Realizado o “III ENCONTRO DA REGIÃO SUL”, no Município de Guarapuava – PR.

-  realizado o “ENCONTRO ESTADUAL DE GOIÂNIA – GO”.

- Realizado o “ENCONTRO ESTADUAL DE BRASÍLIA-DF”.

09 abril                  - Instalada a “VII CONVENÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS” e o   “IV ENCONTRO NACIONAL” em Fortaleza-CE.

Julho                        - Realizado em Salvador-BA, com a presença de comp. de outros estados, o “VI ENCONTRO DE DELEGADOS NORTE/NORDESTE”.

1983

05 a 06 fevereiro – Realizado o “3º Encontro dos A-As do Sul/Centro Sul” , em Guarapuava – PR

27 fevereiro       - Realizado  na cidade de Macaé – RJ , o “30º Encontro do “A-A” do Rio de Janeiro”.

Abril                      - Realizado a “VII Conferência Nacional de Serviços Gerais”, no Hotel São Paulo na Capital deste Estado, no qual estive presente e na qual foram aprovados os nomes dos Custódios classes “A” e “B” .

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Dr. Harry M. Tiebout

O primeiro psiquiatra a reconhecer o trabalho de Alcoólicos Anônimos e a usar os princípios de A.A. em sua prática profissional foi o Dr. Harry Tiebout.

Desde sua primeira exposição para nossa Irmandade, em 1939, o Dr. Harry continuou a recomendar A.A. para a classe psiquiátrica.

Junto com os Drs. Kirby Collier, Foster Kennedy, A. Wiese Hammer, Dudley Saul e outros, o Dr. Tiebout acelerou e aprofundou a aceitação mundial de A.A. entre os homens da medicina.

Mecanismo Terapêutico de Alcoólicos Anônimos.

Alcoólicos Anônimos é o nome que se aplica a um grupo de ex alcoólicos que, através de um programa terapêutico que inclui um definido elemento religioso, tem lutado com o alcoolismo com muito sucesso. O grupo origina-se do esforço de um homem - o Sr. "X" - que em 1934 encontrou a resposta para seu problema de bebida numa experiência religiosa pessoal. Ele foi capaz de traduzir essa experiência em termos que foram compreendidos pelos outros. Desde então muitos alcoólicos têm alcançado a sobriedade utilizando seu processo. O trabalho de Alcoólicos Anônimos tem um triplo aspecto. Primeiro, o grupo tem reuniões semanais, onde as experiências são relatadas e os problemas discutidos. Segundo, recomenda-se a todos que leiam o livro “Alcoólicos Anônimos”, que contém os princípios básicos, a fim de se chegar a compreender o programa. Terceiro, os membros trabalham com prováveis membros que estão fazendo seu primeiro contato com o grupo. Ajudar os outros é uma via de mão dupla, uma vez que isso não somente dá assistência ao principiante, em seus primei-ros esforços, como também ajuda o membro mais antigo, que dá de seus esforços algo que é essencial para sua sobriedade contínua.

As estatísticas do escritório da organização, em New York, dizem o seguinte:

5 recuperados no final do primeiro ano.

15 recuperados no final do segundo ano.

40 recuperados no final do terceiro ano.

100 recuperados no final do quarto ano.

400 recuperados no final do quinto ano.

2.000 recuperados no final do sexto ano.

8.000 recuperados no final do sétimo ano.

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Alcoólicos Anônimos reivindica uma taxa de recuperação de 75 por cento daqueles que realmente tentam seus métodos. Essa cifra, unida a seu crescimento rápido, impõe respeito e exige explicação.

Embora totalmente consciente do valor do grupo, da irmandade, da ajuda dada a cada membro por seus esforços para ajudar os novos e do clima geral de esperança e encorajamento que emana de qualquer pessoa que foi tratada com sucesso, vejo que essas pessoas dependem de uma força terapêutica central que é a religião - uma verdade que espero que fique clara no final deste artigo, e uma conscientização que se desenvolveu através de muitas entrevistas com o Sr. "X".

Meu primeiro contato com o grupo veio por meio de uma paciente de trinta e quatro anos, que tinha estado sob meus cuidados no Sanatório Blythewood durante alguns meses. Ela tinha sido uma alcoólica crônica por muitos anos, apesar de sua inteligência, posição familiar e sucessos anteriores, tinha praticamente chegado à sarjeta, depois de uma perda total de sua fortuna que a tinha deixado sem um centavo. Nenhum outro paciente quis tanto ficar bem ou cooperou com a melhor boa vontade no programa de tratamento do que ela, mas os resultados eram muito insatisfatórios. Finalmente, ficou claro que ela possuía uma estrutura de caráter que, a despeito de seus melhores esforços e dos meus, persistia inabalável e era claramente responsável pela continuação de sua embriaguez. Certo dia chegou às minhas mãos uma cópia mimeografada do livro Alcoólicos Anônimos. Eu a li e descobri que continha uma des-crição muito precisa da natureza do problema que eu tinha visto em minha paciente.

Com intenção de fazê-la vibrar um pouquinho, entreguei-lhe o livro e pedi que o lesse. Para minha surpresa, ela ficou tão impressionada que se preparou para ir a uma reunião de Alcoólicos Anônimos e logo veio a ser um membro ativo e bem sucedido do grupo. Ainda mais surpreendente foi a descoberta que, com o processo de assimilação desse programa, sua estrutura de caráter, que estava bloqueando qualquer ajuda, desapareceu e foi substituída por uma outra que permitiu a essa paciente ficar sem beber. Alguma coisa tinha acontecido debaixo de meu nariz, da qual eu não poderia ter dúvida e que não poderia ser explicado como mera coincidência.  Fazia  a mim mesmo esta pergunta: O que aconteceu? Minha resposta é que a paciente tinha tido uma experiência espiritual ou religiosa. Portanto, a resposta  não parecia muito esclarecedora, e não demorou muito para que eu começasse a perceber o verdadeiro significado dela.

Antes de tentar explicar como se desenvolveu a compreensão do significado do fator religioso, é necessário discutir a estrutura do caráter que tinha desaparecido. Apesar de existir muitas informações contrárias, há um crescente reconhecimento de certas características comuns que estão normalmente nos alcoólicos, com exceção daqueles que têm latente uma boa condição espiritual. É uma característica do chamado alcoólico típico ser egocêntrico e narcisista, ser dominado pelos sentimentos de onipotência e ter intenção de manter a todo custo sua integridade interior. Embora essas características sejam

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encontradas em outros desajustamentos, elas aparecem em sua forma relativamente pura em todos os alcoólicos. Num cuidadoso estudo de uma série de casos, Sillman recentemente informou que ele sentia que poderia discernir os perfis de uma estrutura de caráter comum entre os bebedores problema, e que os melhores termos que ele poderia encontrar para o grupo de características apontadas eram individualidade desafiante" e "grandiosidade". Em minha opinião, essas palavras foram muito bem escolhidas. Interiormente o alcoólico não aceita ser controlado pelo homem ou por Deus. Ele, o alcoólico, é e precisa ser o dono de seu destino. Lutará até o fim para preservar essa posição.

Sabendo então da presença mais ou menos constante desses defeitos de caráter, é fácil ver como a pessoa que os possui tem dificuldade para aceitar Deus e a religião. A religião, exigindo que o indivíduo reconheça a presença de um Deus constitui um desafio para a verdadeira natureza do alcoólico. Mas por verdadeiramente aceitar a presença outro lado, e esse ponto é básico em minha palestra, se o alcoólico pode de um Poder Superior, ele, com esse simples passo, modifica pelo menos temporária e possivelmente de forma permanente sua mais profunda estrutura interior e quando faz isso sem ressentimento ou esfor-ço, então já não é mais um alcoólico típico. E a coisa estranha é que se o alcoólico pode manter essa sensação interior de aceitação, pode e permanecerá sóbrio para o resto de sua vida.

Para seus amigos e familiares, ele aceitou a religião! Para os psiquiatras, ele aceitou uma forma de auto hipnose ou o que vocês preferirem. Seja o que for que tenha ocorrido no interior do alcoólico, ele pode ficar sem beber. Essa é a argumentação de Alcoólicos Anônimos, e acredito que ela é baseada em fatos.

Voltemos à minha paciente para descrevê-la depois de sua experiência em Alcoólicos Anônimos. Em seu estado inicial, ela estava exatamente igual à descrição já dada da estrutura de caráter do alcoólico. Depois que Alcoólicos Anônimos começou a atuar, mudanças em sua personalidade tornaram-se evidentes. A agressão começou a diminuir consideravelmente, desapareceu a sensação de estar em desavença com o mundo, e com isso se desvaneceu a tendência de suspeitar dos motivos e atitudes dos outros. Uma sensação de paz e tranqüilidade diminuiu a tensão interior; as linhas de seu rosto ficaram mais suaves e ela se tornou mais tolerante e mais gentil. Aquele difícil e amargo íntimo estava sendo alterado, alterado o suficiente para levar a sobriedade da paciente a um período de cinco anos.

Qual foi o tipo de experiência que mexeu com essa paciente, quando ela ingressou em Alcoólicos Anônimos? A resposta é que algum tipo de crença ou força espiritual despertou nela. O Sr. "X" afirma que o êxito do grupo, com qualquer alcoólico, depende do grau alcançado pelo indivíduo numa conversão ou despertar espiritual. A própria experiência dele foi do tipo impetuoso e catastrófico que o tirou de seu desespero e o levou ao auge do êxtase e da felicidade, onde permaneceu durante algumas horas. Esse estado foi então se-guido de uma sensação de paz,

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serenidade e convicção profunda de que ele estava livre da escravidão da bebida alcoólica. Ele afirma que aproximadamente dez por cento ingressam em Alcoólicos Anônimos, baseando-se numa experiência como essa. Os restantes noventa por cento que ficam sem beber alcançam os mesmos resultados, ao desenvolver lenta e muito mais gradualmente o lado espiritual de sua natureza, seguindo os vários passos do programa já descritos. Segundo a experiência de Alcoólicos Anônirnos, a velocidade com que o despertar espiritual ocorre não depende da profundidade da aceitação nem do tempo de sobriedade. Contudo, a entrega religiosa, ainda que pequena no princípio, inicia o processo; O programa ajuda a levá-lo a uma conclusão bem sucedida.

O que é então um despertar espiritual?

Novamente a experiência pessoal do Sr. "X" é informativa. Homem de energia, dinamismo e grande capacidade, aos trinta anos, ele se encontrou completamente atolado na bebida. Pelo menos durante cinco anos lutou com o processo de decadência em que estava indo sem obter sucesso. Duas semanas antes de sua última permanência no hospital, recebeu a visita de um antigo amigo alcoólico que tinha alcançado a sobriedade através do Buchmanismo (movimento religioso que prega a volta ao cristianismo primitivo-nota do tradutor). O Sr. "X" tentou sem sucesso aproveitar-se dos ensinamentos de seu amigo e finalmente decidiu que ficaria sóbrio, internando-se num conhecido lugar de desintoxicação onde ele poderia clarear sua mente da bebida alcoólica e fazer experiência com  idéias de seu amigo e com as suas, pelo método livre do Sr. "X" de afastar-se do álcool. Ele estava desesperado, deprimido, sem ânimo para lutar. Estava disposto a tentar qualquer coisa, porque sabia que a alternativa que o esperava era um hospital estadual e uma vida de insanidade permanente. Na noite de seu primeiro dia de internação, recebeu novamente a visita de seu a-migo, que mais uma vez lhe explicou os princípios que lhe tinham devolvido a saúde. Depois que seu amigo se retirou, o Sr. "X" entrou numa depressão mais profunda ainda, que ele mesmo descreve como uma "profunda sensação de melancolia e completa desesperança". De repente, nesse pior estado de espírito, ele suplicou em voz alta: "Se existe Deus, que Ele se manifeste agora." E com esse apelo começou sua experiência religiosa. Ele salienta, e acredito verdadeiramente, que só quando se tomou totalmente humilde é que pôde voltar-se para Deus, a fim de buscar a ajuda que estava ali.

Em outras palavras, à luz da própria experiência do Sr. "X", um despertar espiritual ou religioso é o ato de deixar de confiar na própria onipotência. A individualidade desafiante já não continua a desafiar, mas aceita a ajuda, a orientação e o controle que vêm de fora. E quando o indivíduo abandona seus sentimentos vingativos e agressivos, em relação a ele mesmo e à vida, ele se encontra envolvido por sentimentos fortemente positivos, tais como o amor, a amizade, a tranqüilidade e a satisfação, cujo estado é a antítese exata da antiga intranqüilidade e irritabilidade. E o fato significativo é que com esse novo estado de espírito, o indivíduo já não se sente "impelido a beber".

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Um entendimento maior do fenômeno da mudança espiritual veio de um outro paciente, cujo caso quero agora citar. Ele é um homem de uns quarenta anos. De uma família rica e o mais jovem dos irmãos; era o filho predileto de uma mãe neurótica e hipocondríaca. Começou a beber logo na adolescência. Quase imediatamente aprendeu a contar com a bebida para ajudá-lo a enfrentar as situações sociais, e com o passar dos anos, essa dependência tomou-se mais pronunciada. Finalmente, depois de uma prolongada bebedeira, ele foi internado no Sanatório Blythewood.

Provou que era um paciente muito responsável, disposto a reconhecer sua tendência alcoólica, e rapidamente se tomou interessado em Alcoólicos Anônimos. Depois de ficar no sanatório durante um mês, ele se convenceu de que podia controlar o problema. Contudo, depois de pouco tempo, começou a bebericar novamente e quatro meses mais tarde voltou ao sanatório, depois de algumas semanas de bebedeira ininterrupta. Novamente se pôs à disposição para entrevistas, mas agora estava claro que havia uma verdadeira batalha à frente e que era exatamente a mesma batalha enfrentada anteriormente, na primeira conversa com o paciente. Os defeitos, já descritos, apresentavam-se como barreiras insuperáveis para a terapia.

Durante as semanas que estivemos discutindo essas dificuldades, o paciente começou novamente a beber uma vez ou outra e finalmente entrou numa bebedeira que só terminou quando o levaram de volta ao Sanatório Blythewood.

Como acontece com todos os alcoólicos quando param de beber, ele estava cheio de remorsos, sentimentos de culpa e uma grande sensação de humildade. A personalidade desafiante foi golpeada pelos excessos de sua própria conduta e, nesse estado, estava inteiramente seguro de que nunca mais tomaria um trago. Todavia, no terceiro dia de sua recuperação, ele me pediu, duran-te uma entrevista, que gostaria que eu fizesse algo a respeito disso, e quando lhe perguntei a que "isso" se referia, replicou: " Minha antiga sensação estava voltando; estou com vergonha de vocês e de tudo isso que aconteceu." A indiferença em relação a seu problema, a agressiva segurança, a completa carência de qualquer verdadeiro sentimento de humildade, sentimento de culpa e todos os defeitos de caráter, que ele tinha, chegaram a identificar-se com a disposição de espírito que o levava a beber; estavam voltando e impedindo a entrada dos sentimentos, dos pensamentos, quase as mesmas sensações que ele tinha quando saía de suas bebedeiras. Ele sabia que se esses sentimentos voltassem, iriam apoderar-se dele mais cedo ou mais tarde, e ele voltaria a beber. Compreendeu que de alguma maneira precisaria agarrar-se às atitudes que tinha, quando se encontrasse desintoxicado.

No dia seguinte começou sua entrevista com esta afirmação: "Doutor, eu a tenho." Daí contou que tinha tido uma experiência na noite anterior. Denominou essa experiência, na falta de um melhor termo, de "um despertar psicológico". O que aconteceu foi um raio repentino de entendimento, a respeito de si mesmo como pessoa. Isso ocorreu por

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volta das vinte e três horas, e quando se deitou, ficou acordado até às quatro horas da madrugada, aplicando seus novos discernimentos e compreensão ao conhecimento de si mesmo.

Não é fácil reconstruir os acontecimentos desse período de cinco horas, ainda que aqueles acontecimentos constituíssem uma experiência importante na vida desse paciente que teve uma percepção básica de si mesmo como alcoólico. Além do mais, pela primeira vez, ele pôde ver a si mesmo, como sempre tinha sido e também pôde perceber que tipo de pessoa precisaria vir a ser, se quisesse permanecer sóbrio. Sem ser inteirado disso, na época, tinha transferido seu ponto de vista totalmente egocêntrico e subjetivo a uma compreensão objetiva e madura de si mesmo e de sua relação com a vida.

Revendo o passado, claro que o paciente ficou a par de seu egocentrismo. Pela primeira vez, foi capaz de penetrar em suas racionalizações e reações de defesa e ver que ele sempre havia se colocado em primeiro lugar. Para falar a verdade, ele não se dava conta que existiam outras almas, exceto quando o afetavam de alguma forma. Também não tinha consciência de que essas almas tinham existências separadas, parecidas, ainda que diferentes da sua, e isso nunca tinha se apresentado com um aspecto de realidade. Agora, ele já não se sentia o ser onipotente que enxergava o mundo somente em relação a si mesmo.

Em vez disso, ele pôde ver-se em relação ao mundo e pôde compreender que era somente uma pequena fração de um universo povoado por muitos outros indivíduos. Pôde compartilhar a vida com os outros. Já não tinha a necessidade de dominar e de lutar para manter essa dominação. Podia relaxar e lidar mais facilmente com as coisas.

Sua nova orientação pode melhor ser descrita nas próprias palavras do paciente como ele as colocou:

"Porque, doutor? você sabe que eu tenho sido uma mentira em toda a minha vida, e nunca soube disso. Eu costumava pensar que estava interessado nas pessoas, mas isso não era verdade. Eu não estava interessado em minha mãe que estava doente, como pessoa. Não compreendia que ela, como pessoa, poderia estar sofrendo; eu somente pensava o que me aconteceria, quando ela morresse. As pessoas costumavam me apontar como um filho exemplar, e eu acreditava nisso. Mas não era nada disso. Eu estava simplesmente ansioso para tê-la a meu lado, porque ela me fazia sentir melhor. Ela nunca me criticava e sempre me fazia sentir que tudo o que fizesse estava bem."

Novos conhecimentos iluminaram seus relacionamentos anteriores com as pessoas. Com respeito a isso, ele comentou:

"Você sabe, estou começando a me sentir mais perto das pessoas. Posso pensar nelasalgumas vezes. E eu me sinto mais à vontade com elas. Talvez isso seja porque acredito que elas não estão contra mim,

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desde que eu não sinta que estou contra elas. Agora acredito que talvez elas possam gostar realmente de mim."

Poderiam ser citadas muitas outras frases a respeito de si mesmo e de sua relação com o mundo, mas apenas acrescentariam mais provas de que a maneira de pensar desse paciente, pela primeira vez em sua vida, tinha se tomado verdadeiramente objetiva. Contudo, essa mudança para a objetividade é apenas a metade da história. Associada à mudança, houve uma alteração igualmente surpreendente no tocante aos sentimentos. Com palavras que me fizeram recordar as do Sr. "X", em sua experiência espiritual, o paciente descreveu suas novas atitudes:

"Eu me sinto bem, mas diferente de quando bebia. É muito diferente; sinto-me calmo, sem ansiedade e querendo vida ativa. Estou muito contente de estar assim e não acho que vou me preocupar demais. Consigo relaxar, apesar de me sentir mais capacitado para enfrentar a vida, agora, do que antes."

Ele então continuou: "Tenho uma idéia diferente a respeito de Deus. Não tenho idéia de Alguém aqui manejando as coisas, agora que não as quero manejar por mim mesmo. Na realidade, estou contente de poder sentir que existe um Ser Supremo que pode fazer com que as coisas saiam bem. Suponho que talvez isso seja algo como o sentimento espiritual que falam. Seja o que for, tenho esperança de que continue, porque nunca me senti tão em paz, em toda a minha vida."

Com essa afirmação, o paciente manifesta uma atitude diferente em relação a Deus, e ele mostra também que ficou a par de que à medida que ele usa o esforço para manter sua individualidade, consegue relaxar e gozar a vida em calma, até mesmo de maneira satisfatória. Tais sentimentos são, como ele mesmo disse, nitidamente espirituais na qualidade, e ele estava certo em sua apreciação, porque está sendo capaz de manter-se abstêmio há um ano, aproximadamente. A mudança para a objetividade e a mudança de sentimentos provaram ser aquilo de que ele precisava para permanecer sóbrio. Apesar de seu período relativamente curto de abstenção, o paciente sente que está muito mais firme. Antes, durante os períodos de abstenção, ele lutava constantemen-te com a bebida. Agora ele tem a verdadeira paz de espírito, porque sabe do que é preciso para manter-se pensando sobriamente.

Esse caso é citado porque descreve um indivíduo que teve uma rápida reorientação psicológica, cujo resultado foi uma vida totalmente nova, com diferente padrão e perspectivas de vida. Ainda que alguém possa questionar a permanência desse novo padrão, não se pode duvidar do fato de que a experiência em si mesma ocorreu.

De muito maior significado para o propósito deste artigo é o fato de que o paciente, como resultado de sua experiência, usou as mesmas palavras para descrever seus novos sentimentos como fez o Sr. "X", seguindo sua experiência religiosa, e como fez minha outra paciente

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depois que as atividades de Alcoólicos Anônimos começaram a ter sentido e a atuar nela. O Sr. "X" me informa que dos 10 por cento que têm um despertar rápido, alguns o alcançam com base numa verdadeira experiência religiosa e outros como resultado de um acontecimento psicológico, tal como aconteceu a meu paciente. Os outros 90 por cento atingem o mesmo resultado de maneira mais gradual, como atingiu aquela paciente já mencionada. Sem levar em consideração o caminho pelo qual esse resultado é alcançado, parece não haver dúvidas de que todos terminam com essa sensação de paz e segurança, que eles associam com o lado espiritual da vida. O componente de narcisismo do caráter é submerso, pelo menos por enquanto, e em seu lugar há uma pessoa muito mais objetiva e mais madura, que pode enfrentar as situações da vida, positiva e afirmativamente, sem fugir para o álcool. De acordo com o Sr. "X", todos os membros de Alcoólicos Anônimos, que conseguiram permanecer abstêmios, mais cedo ou mais tarde são submetidos à mesma mudança na personalidade. Eles precisam perder o permanente narcisismo, do contrário, o programa de Alcoólicos Anônimos funciona só por uns tempos.

Permitam-me fazer mais duas observações.

Primeira, existe uma grande diferença no mundo entre um sentimento religioso verdadeiro, emocional e a crença intelectual, vaga, tateante, cética, que passa por um sentimento religioso na mente de muitas pessoas. Independentemente de sua concepção desse Poder, a menos que o indivíduo obtenha no curso do tempo um sentido da realidade e a proximidade de um Poder Superior, sua natureza egocêntrica reafirmará com intensidade crescente, e a bebida entrará novamente em cena.

Segunda, a maioria dos indivíduos que finalmente alcança o necessário estado espiritual o faz unicamente seguindo o programa de Alcoólicos Anônimos e sem ainda experimentar, conscientemente, qualquer acesso repentino do sentimento espiritual. Em lugar disso, cresce lentamente, mas sem dúvida até um estado mental que, depois de ter permanecido durante algum tempo, pode de repente reconhecer que é muito diferente daquele que tinha anteriormente. Para sua surpresa, descobre que seus pontos de vista e perspectivas tiveram um colorido muito espiritual.

Portanto, o efeito central de Alcoólicos Anônimos é desenvolver na pessoa um estado espiritual que servirá como uma força direta para neutralizar os alimentos egocêntricos do caráter do alcoólico. O paciente permanecerá abstêmio, se e quando esse estado se integre completamente em novos padrões de comportamento. O Sr. "X" diz que esse processo de integração acontece dentro de alguns anos, e que se não houver mudanças perceptíveis na estrutura da personalidade, depois de seis meses, o lado espiritual provavelmente sucumbirá para um retomo do ego submerso do alcoólico. Em outras palavras, a menos que o ímpeto religioso de Alcoólicos Anônimos efetue uma mudança nos componentes mais profundos da personalidade, a influência do programa não é muito durável. É muito significativo que essa mudança,

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que é típica, aconteça sem a ajuda psiquiátrica; entretanto, como o Sr. "X" a descreve, tem características que nós, como psiquiatras, esperamos encontrar em nossos pacientes que estão melhorando. Em resumo, ele recapitula suas observações com as palavras: "O alcoólico precisa progredir em objetividade e maturidade, do contrário não permanecerá sóbrio."

Concluindo, acredito que o valor terapêutico do método de Alcoólicos Anônimos origina-se da utilização de uma força religiosa ou espiritual para atacar o narcisismo fundamental do alcoólico. Com o desarraigar desse componente, o indivíduo experimenta uma nova série de pensamentos e sentimentos que são de natureza positiva e que o impelem em direção ao crescimento e maturidade. Em outras palavras, esse grupo confia numa força emocional, que é a religião, para alcançar um resultado emocional, isto é, a destruição da série de emoções negativas e hostis, substituindo-as por uma série positiva, na qual o indivíduo não mais precise manter sua individualidade desafiante, mas que possa viver em paz e harmonia com seu mundo, compartilhando e participando livremente.

Um comentário final. A psiquiatria atual é especialmente cuidadosa nas curas puramente emocionais. A cura é considerada suspeita, até que qualquer mudança se ligue à mente e ao intelecto firmemente. A ênfase hoje está na análise que confia na mente para pôr às claras as causas do fracasso e para alcançar um estado de síntese, que é realmente uma condição emocional de libertação do conflito e da tensão. Supõe-se que à medida que os bloqueios das emoções são descobertos e libertados, por meio de análise, em seu lugar, aparecerão emoções positivas e sintéticas. É igualmente muito lógico, então, usar as emoções para mudá-las e depois, uma vez obtida a mudança, pôr a mente e o intelecto em ação para ancorarem o conjunto novo de emoções, dentro da estrutura da personalidade. Em certo sentido, isso é o que ocorre em Alcoólicos Anônimos; a religião atua sobre o narcisismo e o neutraliza para produzir uma sensação de síntese.

Referindo-se a sua própria experiência espiritual, o Sr. "X" a denomina muitas vezes de uma "grande experiência sintetizadora, na qual tudo pela primeira vez se tomou claro para mim. Foi como se uma grande nuvem se levantasse e tudo tivesse uma iluminação indescritível". Meu segundo paciente, ao referir-se a isso, disse: "Eu me sinto novo agora.

Sinto o conjunto, sem sair correndo em todas as direções ao mesmo tempo." E foi sob a luz de seu conjunto novo de emoções que o paciente pôde e respondeu mais satisfatoriamente a uma discussão, a respeito do que tinham sido suas dificuldades prévias e o que agora poderia fazer para evitar as complicações posteriores. Depois dessa experiência sintetizadora, ele foi pela primeira vez realmente capaz de fazer um trabalho decente e honesto de auto conhecimento.

A lição para os psiquiatras é clara, na minha opinião. Confesso que apesar de nos ocuparmos com problemas emocionais, nós, como um grupo que tende a ser intelectual, duvidamos muitíssimo das emoções.

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Ficamos constrangidos e um pouco envergonhados, quando somos forçados a usá-las, e sempre nos desculpamos com nossos colegas, se suspeitamos que eles têm razão para pensar que nossos métodos são muito emocionais.

Entretanto, outros menos presos à tradição vão em frente para conseguir resultados negados a nós. É sumamente importante para nós, cientistas presu-mivelmente com a mente aberta, observar sábia e longamente os resultados dos outros em nosso campo de trabalho. Podemos estar mais cegos do que pensamos.

Dr. W. W. Bauer

Membro da Associação Médica Americana

Como um autofalante ambulante, tenho enfrentado inúmeros auditórios. Um de meus funcionários disse-me há pouco tempo que eu tinha feito mais de mil discursos, o que é um magnífico tributo á paciência dos americanos. Geralmente não tenho receio de falar em público, mas tive um convite há mais ou menos um ano, quando a A.M.A. se reuniu em São Francisco para falar numa reunião aberta de A.A., no centro dessa cidade, e devo confessar que nunca tive tanto medo em toda a minha vida na expectativa dessa reunião, porque não via nenhuma boa razão por que deveria ser apresentado ali para falar a vocês AAs.

Lembrei-me do jovem reitor da Igreja Episcopal a qual pertenço. Ele foi consagrado Bispo, o que naturalmente foi um grande evento na vida desse jovem clérigo episcopal. Depois da solene cerimônia de consagração, houve um banquete e a mesa dos oradores foi colocada numa plataforma para que todos pudessem ver o novo Bispo. Antes de sua apresentação, fizeram-lhe grandes elogios, e quando chegou sua vez de responder, ele disse: "Eu me sinto como o cavalheiro ligeiramente inebriado, numa noite de luar, que caminhou até o meio da ponte olhou para a água e ao ver a lua refletida nela, sacudiu a cabeça e disse para si mesmo: "Diabo, como vim parar aqui em cima?"

Não me sinto tão apreensivo neste momento, porque aquela audiência de AAs provou ser igual às demais; foram muito atenciosos e amáveis com o orador; ouviram-me com cortesia, depois tiveram a amabilidade de dizer que tinham gostado. Mas a razão pela qual me sinto em casa neste momento é devido ao que aconteceu com minha esposa que me acompanhava nesse dia. Depois da reunião, ficamos de pé junto a um grupo de AAs e de convidados, suponho, e como estávamos batendo papo, um cavalheiro uniu-se ao grupo e foi apresentado à roda. Quando viu minha esposa, olhou para ela e atenciosamente lhe perguntou: "Onde você tem estado? Há dois anos você não freqüenta uma reunião."

Isso foi muito engraçado, porque minha esposa é praticamente uma abstêmia.

Minha experiência com A.A. vai desde a época em que costumava transmitir programas radiofônicos na cadeia NBC, semanalmente, e tive

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o privilegio de colocar no ar um programa sob orientação e direção de um dos membros de A.A. da área de Chicago. Desde essa época, comecei a entender um pouco o que era A.A. Naturalmente, uma pessoa como eu nunca poderia entender isso completamente. Não sou psiquiatra como o Dr. Tiebout, de maneira que meu conhecimento prático é somente aquele de clínica médica. Não sou membro de A.A., portanto não tenho a experiência que vocês têm e afirmo com toda a sinceridade que me sinto muito humilde nessa posição, perante um grupo de pessoas como vocês.

Tudo o que posso fazer é tentar expressar-lhes o sentimento da classe médica, um sentimento que vem crescendo permanentemente através do desenvolvimento da organização de vocês e que agora, acredito, pode-se dizer que está totalmente cristalizado - um sentimento de que A.A. tem uma parte muito grande e importante nas respostas que agora temos para o problema do alcoolismo.

Sabemos perfeitamente que o alcoólico é uma pessoa doente. Essa é uma frase muito simples. É hoje em dia uma frase aceita, e nós ainda sabemos que não faz muito tempo o alcoólico era olhado como um estorvo, uma peste, uma pessoa que poderia mudar de repente para melhor, se realmente quisesse. Era olhado como um ser mimado e como uma pessoa inútil. Hoje em dia sabemos que é um indivíduo doente, numa área onde nosso entendimento talvez seja menor que o de qualquer setor da medicina, ou seja, a doença das emoções.

Estamos hoje em dia, em alguns aspectos, na mesma posição com relação à doença emocional que estávamos há cinqüenta anos com referencia à tuberculose. Minha memória não vai tão longe. Há somente trinta e nove anos saí da faculdade de medicina, mas pela literatura anterior sei que na mente de muitas pessoas persistia a idéia de que a tuberculose, uma doença contagiosa que ataca as pessoas sem que exista culpa por parte delas, era uma desgraça. As famílias escondiam frequentemente a pessoa tuberculosa, assim como hoje em dia escondem o alcoólico. Posso me lembrar muito bem, e assim podem todos o médicos que estão nesta reunião, quanto tínhamos a mesma atitude com respeito ao câncer. O câncer era visto como um estigma, uma maldição, algo para ser escondido, porque era um reflexo sobre a família. Hoje em dia sabemos que o câncer é uma calamidade, e estamos começando a entender que devemos adotar a mesma atitude com relação às doenças mentais e emocionais que temos lenta e penosamente adotado com referência à tuberculose e câncer. A doença das emoções não é alguma coisa de que se possa envergonhar mais do que a doença do corpo. Não deveríamos mais hesitar em consultar um psiquiatra, a não ser pela falta desses importantes especialistas, da mesma forma que não deveríamos hesitar em consultar um ortopedista por um problema no pé.

Há muito que ver nas atitudes. A estrela cinematográfica do passado, Clara Bow, disse certa vez que se ela dissesse que seus pés estavam doendo, obteria a compreensão de todos; se dissesse: "Meus pés estão me matando" ririam. Tudo é questão de atitude, e devemos aprender a

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consultar o psiquiatra com a mesma atitude que o fazemos com qualquer outro especialista, sem o sentimento de vergonha, sem o sentimento de que é um estigma. Há certas frases que os médicos são obrigados a usar, para que possamos aprender a entender, aceitar e aplicar.

Temos que aprender com a medicina, e o público como um todo vai ter que aprender com as tremendas diferenças individuais que há entre as pessoas. Diferenças de resistência, por exemplo. Algumas pessoas se cansam mais facilmente do que outras. Existem pessoas que são vítimas de infecção mais facilmente por causa da diferença de metabolismo. Há diferenças marcantes, como vocês sabem, na inteligência das pessoas e precisamos também aprender a reconhecer as diferenças na estabilidade emocional. Há pessoas que podem "suportar" mais do que outras. Ser capaz de suportar é geralmente visto como uma virtude, e assim é maravilhoso quando alguém tem uma virtude. A coragem também é uma coisa admirável, e mesmo assim quando se pergunta a  eminentes soldados e líderes militares se nunca tiveram medo no campo de batalha, a resposta, se forem honestos, será realmente: "Naturalmente que sempre tenho medo no campo de batalha. Eu seria um idiota se não tivesse. Há perigo aí."

Devemos também aprender que há situações de batalha, para nós, nas quais devemos ter medo, alguns mais que outros. Não é grande mérito para mim, como indivíduo, não ser tentado pelo álcool. Tenho minhas próprias tentações. Sou tentado pelo tabaco, sou tentando pela comida e há justamente tanta intemperança em ceder a essas tentações como há para alguns de vocês e muitos outros, que são ou foram tentados pelo álcool.

Por isso, nós da classe médica, estamos satisfeitos por colaborar com A.A. Precisamos da colaboração de vocês, assim como precisam da nossa, para resolver esse problema que é o alcoolismo. Vocês têm chegado, por seus próprios caminhos, a algumas das mesmas soluções que a medicina chegou com relação ao tratamento do alcoolismo. Temos aprendido, por exemplo, como vocês também aprenderam, o valor da terapia de grupo em muitas situações. Suponho que a primeira indicação da terapia de grupo na medicina, pelo menos na medicina moderna, foram as aulas para futuras mães, que muitas jovens grávidas tinham, onde aprendiam tudo a respeito do que estava acontecendo com elas e por que e o que fazer a esse respeito.

Então a idéia foi difundida, e um médico muito corajoso, que foi quase ridicularizado na profissão, achou que não havia nenhuma boa razão para que um homem não devesse aprender a fazer uma mamadeira e a trocar uma fralda. Assim houve aulas para futuros pais. E naquela ocasião descobrimos que a terapia de grupo era um fator poderoso no campo da saúde mental e emocional. Em algumas de nossas instituições para doentes mentais, o recurso de representar um papel (psicodrama) é usado para permitir às pessoas que expressem sua hostilidade latente, que se não puder ser de forma construtiva, pelo menos que seja de forma inofensiva.

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Temos aplicado a terapia de grupo até numa de nossas maiores tentações, o campo da alimentação, e tem sido seriamente sugerido que se organizem "Obesos Anônimos" ou algo parecido. Não gostaria de ver A.A. ser sempre imitado, e muito menos com respeito a assuntos de menos importância. Mas o fato é que pessoas com excesso de peso podem fazer uma dieta mais alegremente em grupos do que sozinhas. Li num artigo do boletim de A.A., algo a respeito de um membro solitário, e posso imaginar o quanto deve ser mais difícil para membros solitários do que para seus grupos, porque eles não têm o apoio direto nem a simpatia dos outros que conhecem seu problema.

Na medicina, temos aprendido muito a respeito do tratamento físico do alcoólico. Temos aprendido acerca da nutrição e a importância de uma dieta totalmente voltada para vitaminas e sais minerais. Não as consideramos como curas para o alcoolismo, porque não acreditamos que a falta de vitaminas seja a causa do alcoolismo; isso é simples demais. Mas sabemos que essas coisas são necessárias no tratamento e reabilitação física do alcoólico. Sabemos também que vários tipos de desintoxicação e outras formas de terapia têm falhado. Não são suficientes por si mesmos. Precisamos de algo mais.

A exortação religiosa também tem falhado, como os conselhos de pessoas que não entendem o problema, que simplificam muito, pessoas que vêem o alcoólico como uma pessoa perpetuamente ansiosa, com uma grande compulsão pelo álcool, pessoas que não sabem que muitos alcoólicos odeiam o álcool mais do que o veneno, quando estão sóbrios, porque sabem perfeitamente que ele é um veneno.

Aprendemos a futilidade das promessas a longo prazo, que são muito difíceis de ser mantidas.

Vocês nos têm ensinado todas essas coisas, mais do que qualquer outro grupo que eu conheça. Tenho muitos amigos em A.A. Acho que tenho mais amigos em A.A. do que possa imaginar, talvez porque alguns de meus amigos não tenham ainda me contado que são AAs. Que eu me lembre, depois de alguns programas de rádio que fizemos, fui parado na rua da cidade onde resido, perto de Chicago, por pessoas que eu conhecia há muitos anos que vieram expressar seus agradecimentos pelos programas radiofônicos. Fiquei bastante surpreso com essas pessoas, mas à medida que o tempo foi passando, a surpresa foi diminuindo, à medida que via a eficiência do trabalho de vocês, com um homem de grande talento, meu amigo íntimo, que trabalhava numa profissão criativa, a qual não irei revelar porque isso possivelmente o identificaria, um homem que era quase um gênio. O álcool traiçoeiramente invadiu sua carreira, seus relacionamentos com os familiares e sua posição na comunidade. Vi sua esposa acobertando-o quando ela descrevia suas freqüentes doenças, que aos poucos viemos a saber que eram doenças, mas não do tipo que ela queria nos fazer acreditar; presenciei quando estava a ponto de perder o emprego. Acompanhei a sua rendição quando foi despedido e completamente desesperado dizia:

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"Não posso sair dessa sozinho. Preciso de alguém que me ajude"

E com a ajuda espiritual de seu clérigo e de A.A., esse homem voltou a uma posição de comando, em seu campo de trabalho, um homem que está hoje sóbrio e tão bem como qualquer pessoa neste auditório. Tenho fé de que ele vai continuar assim.

Esse é somente um dos muitos que tenho visto, e que outros médicos também têm visto.

Assim, mais e mais estamos começando a perceber que vocês têm em seus princípios – rendição, humildade, procura de orientação divina, sobriedade dia após dia e acima de tudo anonimato - a segurança de que ninguém vai ficar famoso como líder de Alcoólicos Anônimos. Esses princípios são todos de vital importância. Vocês que têm visto o que o álcool pode fazer em suas vidas estão trabalhando unidos, em grupos e individualmente, bem como causando o maior impacto sobre o problema do álcool, jamais conseguido antes, Precisamos desse impacto no mundo de hoje, um mundo no qual o medo domina.

O alcoolismo é uma fuga - de quê?

Bem, de situações intoleráveis em sua própria vida, e o mundo inteiro esta numa situação intolerável hoje em dia. Não é de admirar que o alcoolismo cresça. Não somente isso, mas estamos numa situação social, onde as tentações alcoólicas estão por toda a parte. Acredito que esta seja a única convenção, com exceção talvez das convenções estritamente religiosas, e nem todas elas, onde realmente não há consumo de álcool. Não sei se vocês são bem recebidos nas cidades onde há convenção. Certamente não fazem um grande favor aos bares.  

Pessoas, que na época em que eu era criança, teriam olhado de esguelha para alguém que tomasse uma bebida, estão agora servindo socialmente aperitivos em suas casas. Nossos filhos estão crescendo num ambiente inteiramente alcoólico. Por cartazes, radio, televisão, em anúncios de todos os tipos, as qualidades das bebidas alcoólicas estão sendo exaltadas. Juntemos esses dois fatores - um mundo vivendo sob o domínio do medo e um mundo cheio de álcool e sugestões em relação ao álcool – e vocês podem ver como é importante que as pessoas percebam o que na verdade o alcoolismo é: uma doença emocional profunda que deve ser tratada de acordo com os princípios psicossomáticos. A palavra "psicossomático" simplesmente significa corpo e alma. Hoje em dia ouvimos falar muito a respeito da medicina psicossomática, mas permita-me dizer a vocês que qualquer médico que realmente seja digno desse título, em todos os tempos, tem praticado a medicina psicossomática.

O Sr. William Osler disse: "Não é tão importante saber que doença o paciente tem, mas que tipo de paciente tem a doença." Essa é uma das coisas que vocês de Alcoólicos Anônimos tem percebido.

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Por isso vim aqui e estou muito agradecido por terem me convidado. Vim, como disse, para me colocar diante de vocês e admirar suas grandes realizações, bem como dizer que nós da classe médica temos a confiança de que tais realizações crescerão mais e de forma significativa, à medida que o tempo passar, porque vocês se propuseram a crescer, têm se mantido unidos e estão oferecendo ajuda, estendendo a mão àqueles que dela precisam.

Não sou psiquiatra, mas com fé digo a vocês, como tenho dito a milhares de pacientes, que a coisa de que mais precisamos neste mundo de hoje é a tranquilidade da mente. Vários nomes foram dados para essa expressão. Alguns livros a esse respeito têm sido muito populares.

Alguns chamam de poder do pensamento positivo, outros de paz do espírito, ou então de paz da alma, mas estou inclinado a concordar com Billy Graham e chamar esse estado mental de paz com Deus. Essas são as coisas de que precisamos.

E uma organização como a de vocês, num mundo que parece ter ido a um extremo materialismo, nos dá a coragem para acreditar que ainda há esperança, que ainda há idealismo e que vamos superar muitos, muitos de nossos problemas, dos quais um dos mais sérios é o alcoolismo.

O Primeiro Amigo de A.A.

O primeiro amigo de A.A., no campo da medicina, Dr. William Duncan Silkworth.

Esse foi o médico que tratou de Bill no princípio e esteve com ele durante sua experiência espiritual no Hospital Towns. Tinha mais fé em nossa Irmandade do que nós mesmos tínhamos no começo. Ele nos encorajou e nos apoiou publicamente, quando éramos quase desconhecidos. Ele nos proporcionou o conhecimento a respeito da natureza de nossa doença, com estas palavras: "alergia física mais obsessão mental".

Sua contribuição foi indispensável para o desenvolvimento do Programa de recuperação de A.A.

Durante sua vida toda, "o bondoso médico baixinho" tratou de 40.000 alcoólicos.

O Dr, Silkworth simboliza a grande compreensão e ajuda que Alcoólicos Anônimos tem recebido da classe médica.

Escreveu a declaração e carta a seguir que constam em nosso primeiro livro publicado, de cujo título foi extraído o nome da nossa Irmandade.

A Quem Possa Interessar:

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Especializei-me no tratamento do alcoolismo há muitos anos. Em fins de 1934, atendi um paciente que, embora tivesse sido um competente e bem sucedido homem de negócios, era um alcoólico de uma espécie que eu viera a considerar sem esperanças.

Durante seu terceiro tratamento, ocorreram-lhe algumas idéias a respeito de um possível método de recuperação. Como parte de sua reabilitação, ele começou a apresentar seus conceitos a outros alcoólicos, convencendo-os de que deveriam fazer o mesmo com outros mais.

Isto se tornou a base de uma sociedade, em rápida expansão, destes homens e de suas famílias. Este homem, e mais de cem outros, parece terem-se recuperado. Conheço pessoalmente um grande número de casos do mesmo tipo, com os quais outros métodos haviam falhado por completo.

Os fatos acima parecem ter extrema importância para a medicina. Devido às extraordinárias possibilidades de rápida expansão do trabalho dessas pessoas, isto pode caracterizar o início de uma nova era nos anais do alcoolismo. Estes homens podem perfeitamente ter um remédio para milhares de situações semelhantes.

Pode-se confiar inteiramente em tudo o que eles dizem a respeito de si mesmos.

Foi, portanto, com real satisfação que recebi o convite para contribuir com algumas palavras a respeito de um assunto que é, nestas páginas, abordado com riqueza de detalhes.

Nós, médicos, percebemos há bastante tempo que algum tipo de psicologia moral era de extrema importância para os alcoólicos, mas sua aplicação apresentava dificuldades que ultrapassavam nossa compreensão. Entre nossos padrões ultramodernos e nosso enfoque científico diante de tudo, talvez não estejamos bem equipados para aplicar as forças do bem que subsistem fora de nosso conhecimento sintético.

Há vários anos, um dos principais colaboradores deste livro esteve sob nossos cuidados neste hospital e, durante sua estada, ocorreram-lhe algumas idéias que ele pôs imediatamente em prática.

Mais tarde, solicitou autorização para contar sua história para outros pacientes aqui internados e, com certa apreensão, nós a concedemos. Os casos que acompanhamos foram bastante interessantes; na verdade, muitos foram surpreendentes. À medida que passamos a conhecê-los, a falta de egoísmo desses homens, a total ausência de motivos interesseiros e seu espírito comunitário são realmente inspiradores para alguém que trabalhou exaustivamente e por muito tempo no campo do alcoolismo. Eles acreditam em si mesmos e, mais ainda, no Poder que arranca os alcoólicos crônicos das garras da morte.

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Não há dúvidas de que um alcoólico precisa ser libertado de sua compulsão pelo álcool e, com freqüência, isto requer um indiscutível tratamento hospitalar antes que medidas psicológicas possam ser inteiramente proveitosas. Acreditamos, e assim sugerimos há alguns anos, que a ação do álcool sobre estes alcoólicos crônicos é a manifestação de uma alergia, que o fenômeno, da compulsão limita-se a esta categoria de pessoas jamais acontece com o bebedor moderado médio. Essas pessoas alérgicas nunca podem, sem correr riscos, consumir álcool de qualquer espécie. E, tendo criado o hábito e descoberto que não conseguem abandoná-lo, tendo perdido sua autoconfiança, sua fé nas coisas humanas, seus problemas se avolumam e sua resolução passa a ser extremamente difícil.

Apelos emocionais superficiais raramente dão resultado. A mensagem capaz de interessar e influenciar os alcoólicos precisa ter profundidade e peso. Em praticamente todos os casos, seus ideais devem ter como base um poder superior a eles mesmos, caso desejem reconstruir suas vidas.

Se alguém considerar que, para psiquiatras na direção de um hospital para alcoólicos, parecemos um tanto sentimentais, que venha por algum tempo ficar ao nosso lado na frente de combate, observar as tragédias, as esposas desesperadas, os filhos pequenos.

Deixe que a solução destes problemas se torne parte de seu trabalho diário, e até mesmo de suas horas de sono, e o maior dos céticos não se surpreenderá com o fato de termos aceitado e encorajado este movimento. Estamos certos de que, após vários anos de experiência, nunca encontramos algo que tenha contribuído mais para a reabilitação destas pessoas do que o movimento altruísta que hoje se desenvolve entre eles.

Homens e mulheres bebem, essencialmente, por gostarem do efeito produzido pelo álcool. A sensação é tão ilusória que, embora admitindo que isto é prejudicial, eles não conseguem, depois de algum tempo, distinguir o verdadeiro do falso. Para eles, a vida de alcoolismo parece ser a única vida normal. Tornam-se inquietos, irritáveis e descontentes, a não ser que possam ter novamente a sensação de alívio e conforto que chega logo após tomarem alguns goles - goles que eles vêem os outros tomarem sem problemas.

Depois de ter novamente sucumbido a este desejo, como tantos fazem, e depois que se desenvolve o fenômeno da compulsão, eles passam pelos bem conhecidos estágios da bebedeira, da qual emergem cheios de remorso, com o firme propósito de não beber outra vez.

Isto se repete inúmeras vezes e, a menos que essa pessoa possa sofrer uma radical mudança psíquica, há muito pouca esperança ele recuperação.

Por outro lado - por mais estranho que isto possa parecer aos que não com-preendem - quando ocorre uma mudança psíquica, aquela mesma

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pessoa que parecia condenada, que tinha tantos problemas a ponto de perder as esperanças de resolvê-los algum dia, de repente se vê capaz de, com facilidade, controlar seu desejo de beber, precisando para isto apenas do esforço necessário para seguir algumas regras simples.

Houve homens que me imploraram, num apelo sincero e desesperado: "Doutor, não posso continuar assim! Tenho todos os motivos para viver! Preciso parar, mas não consigo! O senhor precisa me ajudar!"

Diante deste problema, e sendo honesto consigo mesmo, um médico precisa, às vezes, admitir sua própria incapacidade. Embora dando tudo de si, muitas vezes não é o suficiente. Sente que algo maior do que o poder humano é necessário para produzir a mudança psíquica indispensável. Ainda que o total de recuperações resultantes do esforço psiquiátrico seja considerável, nós, médicos, precisamos admitir que fizemos muito pouco diante do problema como um todo. Várias pessoas não reagem ao enfoque psicológico usual.

Não concordo com aqueles que acreditam ser o alcoolismo um problema unicamente de controle mental. Tenho tratado de vários homens que, por exemplo, trabalharam durante meses num problema ou transação de negócios que deve-ria ser resolvida em determinada data, que lhes seria favorável. Um ou dois dias antes dessa data, eles tomavam uma bebida e, então, o fenômeno da compulsão tomava-se mais forte do que quaisquer outros interesses e o compromisso importante não era cumprido. Esses homens não estavam bebendo por fuga, bebiam para satisfazer uma compulsão acima de seu controle mental.

Há várias situações que se originam no problema da compulsão e levam os homens a sacrificarem suas vidas, em vez de continuarem lutando.

A classificação dos alcoólicos parece muito difícil e, sob vários aspectos, foge ao propósito deste livro. Existem, sem dúvida, os psicopatas, que são emocionalmente instáveis. Estamos todos familiarizados com este tipo. Eles estão sempre "largando a bebida pra valer". Sentem-se super-arrependidos e fazem vários planos, mas nunca tomam uma decisão.

Há o tipo de homem que reluta em admitir que não pode tomar uma bebida. Planeja várias maneiras de beber. Muda de marca, ou de ambiente. Há o tipo que sempre acredita que, tendo se livrado inteiramente do álcool por algum tempo, pode tomar um gole sem perigo. Há o tipo maníaco depressivo, que talvez seja o menos compreendido por seus amigos e a respeito do qual poderia ser escrito um capítulo inteiro. E há os tipos absolutamente normais sob todos os aspectos, a não ser quanto ao efeito exercido sobre eles pelo álcool. Trata-se, frequentemente, de pessoas capazes, inteligentes e cordiais. Todos estes, e muitos outros, possuem um sintoma em comum: não podem começar a beber sem desenvolver o fenômeno da compulsão. Este fenômeno, como já sugerimos, pode ser a manifestação de uma alergia que diferencia tais pessoas e as coloca numa categoria especial. Nunca foi definitivamente erradicado por meio de quaisquer dos

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tratamentos que nos são familiares. O único alívio que podemos sugerir é a total abstinência. Isto nos lança imediatamente num caldeirão fervente de debates. Muito tem sido escrito a favor e contra, mas, entre os médicos, a opinião geral parece ser que a maioria dos alcoólicos crônicos está condenada.

Qual a solução?

Talvez eu possa responder melhor a esta pergunta com a narrativa de uma de minhas experiências. Cerca de um ano antes desta experiência, me foi trazido um homem para ser tratado de alcoolismo crônico. Estava parcialmente recuperado de uma hemorragia gástrica e parecia ser um caso de deterioração mental patológica. Havia perdido tudo e vivia apenas, pode-se dizer, para beber. Admitia e acreditava sinceramente que, para ele, não mais havia esperança.

Após a eliminação do álcool, nenhum dano cerebral permanente foi encontrado. Ele aceitou o plano delineado neste livro.

Um ano mais tarde, veio me ver. Minha sensação foi muito estranha. Reconheci o homem pelo nome e, em parte, por seus traços, mas qualquer semelhança terminava ali. De uma ruína trêmula, desesperada e nervosa emergira um homem cheio de autoconfiança e alegria.

Conversei com ele durante algum tempo, mas não fui capaz de me convencer que o havia conhecido antes. Para mim, ele era um estranho e assim se despediu. Já se passou muito tempo e ele não voltou a beber. Quando preciso de estímulo mental, penso, muitas vezes, em outro caso, trazido por um eminente médico de New York. O paciente havia feito seu próprio diagnóstico e, concluindo ser sua situação irremediável, escondera-se num celeiro abandonado, determinado a morrer. Fora resgatado por uma equipe de salvamento e, em condições desesperadoras, trazido para mim.

Após sua reabilitação física, teve comigo uma conversa na qual declarou, com sinceridade, que considerava o tratamento um esforço inútil, a menos que eu pudesse lhe garantir o que ninguém jamais fizera, que no futuro ele teria a "força de vontade" de resistir ao impulso de beber.

Seu problema alcoólico era tão complexo e sua depressão tão grande que acreditamos que sua última esperança estaria no que chamávamos então de "psicologia moral". E duvidávamos que até mesmo aquilo pudesse surtir algum efeito.

Entretanto, ele se entregou às idéias contidas neste livro. Não toma um só gole de bebida há muitos e muitos anos. Vejo-o de vez em quando e ele é, sem dúvida, o exemplo de homem que qualquer um gostaria de conhecer.

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Sinceramente aconselho a todos os alcoólicos que leiam este livro até o final. Embora talvez venham para zombar, pode ser que fiquem para uma prece.

Atenciosamente,

William D. Silkworth

Médico

Dr. Carl Gustav Jung

Com o objetivo de formalizar a gratidão de A.A. a um incontável número de pessoas que considerava responsáveis pela criação da Irmandade de A.A. um dos pioneiros membros escreveu uma carta para o Dr. Carl Gustav Jung, datada de 23 de janeiro de 1961.

Depois de se apresentar, Bill W. escreveu:

Duvido que o senhor esteja ciente de que uma determinada conversa que teve certa vez com um dos seus pacientes, um certo Sr. Roland [sic] H., no início da década de 1930, desempenhou um papel crítico na fundação de nossa Irmandade. Nossa lembrança das declarações de Roland H., sobre a experiência que teve com o senhor, é a seguinte:

Uma vez esgotados os outros meios de recuperação do alcoolismo, foi em torno de 1930 que ele se tornou seu paciente. Acredito que tenha permanecido sob seus cuidados talvez durante um ano. A admiração dele pelo senhor era ilimitada e ele voltou para casa com uma sensação de grande confiança.

Para sua grande consternação, logo recaiu na intoxicação. Certo de que o se-nhor era o "Tribunal de última Instância", ele se confiou novamente aos seus cuidados. 

Houve então a conversa entre ambos que deveria se transformar no primeiro elo de uma corrente de acontecimentos que levou à fundação de Alcoólicos Anônimos.

Antes de mais nada, o senhor contou francamente a ele sobre a sua falta de esperança em relação a qualquer tratamento médico ou psiquiátrico que pudesse estar envolvido. Essa sua afirmação cândida e humilde foi sem dúvida a pri-meira pedra do alicerce sobre os quais nossa Irmandade foi desde então construída.

Vindo isso do senhor, alguém a quem tanto admirava e em quem confiava, o impacto sobre ele foi imenso. Quando lhe perguntou em seguida se havia alguma outra esperança, o senhor disse a ele que poderia haver, desde que conseguisse se tornar objeto de uma experiência espiritual ou religiosa - em poucas palavras, uma conversão autêntica. O senhor salientou como essa experiência, caso ocorresse, poderia remotivá-lo quando nada mais podia. Mas o senhor lembrou,

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todavia, que embora essas experiências tivessem resultado ocasionalmente na recuperação de alcoólicos, elas eram no entanto relativamente raras. O senhor recomendou a ele que se rodeasse de uma atmosfera religiosa e esperasse pelo melhor. Essa foi, acredito eu, a essência dos seus conselhos.

Pouco tempo depois, o Sr. H. ingressou nos Grupos Oxford, um movimento evangélico então no auge do sucesso na Europa, com o qual sem dúvida o senhor está familiarizado.

O senhor deve se recordar da grande ênfase nos princípios do auto conhecimento, da confissão, da reparação e da dedicação ao serviço dos outros. Os Grupos enfatizam muito a meditação e a oração. Nesse ambiente, Roland H. encontrou uma experiência de conversão que o livrou por enquanto da sua compulsão para beber.

Esse conceito provou ser o alicerce do grande sucesso que Alcoólicos Anônimos teve desde então. Isso tornou a experiência de conversão disponível numa base quase de liquidação.

Como o senhor pode ver claramente, essa impressionante corrente de acontecimentos começou na verdade há muito tempo, no seu consultório, e se baseou diretamente na sua própria humildade e profunda percepção.

Muitos AAs ponderados são estudiosos das suas obras. Devido à sua convicção de que o homem é algo mais do que intelecto, emoção e dois dólares de compostos químicos, o senhor é especialmente caro para nós.

Esteja certo de que seu lugar na afeição e na história de nossa Irmandade não tem comparação.

Subscrevo-me muito agradecido.

A resposta de Jung, datada de Kusnacht-Zurich, 30 de janeiro de 1961, disse na totalidade:

Prezado Sr. Wilson:

Sua carta foi na verdade muito bem recebida.

Não tive mais notícias de Rowland H. e imagino frequentemente o que terá acontecido com ele. Nossa conversa, que ele narrou corretamente ao senhor, teve um aspecto que ele não percebeu. O motivo de não poder contar tudo a ele foi que, naqueles dias, tinha que ser extremamente cuidadoso com o que dizia. Constatei que era mal compreendido de todas as formas possíveis. Assim, tive muito cuidado quando conversei com Rowland H. Mas aquilo que realmente pensava era o resultado de muitas experiências com pessoas desse tipo.

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A compulsão dele pelo álcool era equivalente a um baixo nível de anseio espiritual pela totalidade do nosso ser, expressa na linguagem medieval como a união com Deus. Como seria possível formalizar essa percepção em uma linguagem que não fosse mal compreendida nestes dias?

A única forma correta e legítima para essa experiência é aquilo que acontece com você na realidade e isso só pode acontecer quando se trilha um caminho que leva a uma maior compreensão. Você pode ser levado a atingir essa meta por um ato de graça ou através do contato pessoal e honesto com amigos, ou ainda através de uma educação superior da mente, ultrapassando os limites do mero racionalismo. Noto a partir da sua carta que Rowland H. escolheu o segundo caminho, que era, naquelas circunstâncias, obviamente o melhor.

Estou plenamente convencido de que o princípio do mal, prevalecente neste mundo, leva a necessidade espiritual despercebida à perdição, se não for contrabalançado pela verdadeira  percepção religiosa ou pelo muro protetor da co-munidade humana. O homem comum, não protegido por algo vindo de cima e isolado na sociedade, não consegue resistir ao poder do mal, chamado muito adequadamente de Demônio. Mas o uso dessa palavra suscita tantos erros que deve-se manter tanta distância dela quanto seja possível.

Foi por essas razões que não pude fornecer uma explicação completa e suficiente a Rowland H., mas posso arriscar-me com o senhor porque concluí, a partir da sua carta tão decente e honesta, que o senhor consolidou um ponto de vista acima das banalidades desorientadoras que se ouve normalmente acerca do alcoolismo.

Em latim álcool é spiritus, e o senhor usa essa mesma palavra em relação tanto à experiência religiosa mais elevada quanto ao veneno mais depravador. Consequentemente, a fórmula útil seria ”spiritus contra spiritum”.

Agradecendo mais uma vez sua delicada carta, permaneço sinceramente seu,

 C. J. Jung.

Jack Alexander

Alcoólicos Anônimos

por Jack Alexander – Jornalista

A publicação do artigo "Alcoólicos Anônimos" pelo jornalista Jack Alexander, no número de março de 1941 do "Saturday Evening Post", representou um marco na história da Irmandade.

Abaixo o artigo na integra:

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Em uma tarde, há algumas semanas, três homens estavam sentados à volta da cama de um paciente alcoólico, na ala de psicopatas do Hospital Geral da Filadélfia. O homem deitado, que era um completo estranho para os três, tinha aquele olhar desgastado e ligeiramente estúpido que os bebedores apresen-tam, enquanto estão se desintoxicando após uma bebedeira prolongada. Com exceção do contraste óbvio entre a bem cuidada aparência dos visitantes e a-quela do paciente, a única coisa importante a observar era o fato de que cada um deles já havia passado pelo mesmo processo de desintoxicação várias ve-zes. Eles eram membros de Alcoólicos Anônimos, um bando de ex bebedores problemas, que se dispuseram com satisfação a ajudar outros alcoólicos a vencer o hábito da bebida.

O homem na cama era um mecânico de profissão. Seus visitantes tinham estu-dado nas Universidades Princeton, Yale e Pensilvânia e eram profissionalmen-te: um vendedor, um advogado e um publicitário. Menos de um ano antes, um deles tinha estado nesta mesma ala do hospital, amarrado à cama. Um de seus companheiros tinha sido do tipo mais conhecido como "interno vaivém" de sanatórios. Mudou-se de uma instituição para outra, infernizando as equipes médicas das mais importantes instituições de tratamento de alcoólicos do país. O outro desperdiçou 20 anos de sua vida, fora dos muros de instituições, tor-nando a vida insuportável para ele mesmo, para sua família e seus patrões, bem como para diversos parentes bem intencionados que cometeram a temeridade de tentar intervir no problema.

A atmosfera da ala do hospital estava carregada com o cheiro de paraldeído, ou seja, um odor desagradável de coquetel enjoativo, cheirando como uma mistura de éter com álcool de que os hospitais lançam mão, ocasionalmente, com a finalidade de acalmar o bêbedo e aliviar suas tensões nervosas. Os vi-sitantes pareciam ignorar tal fato e também a atmosfera deprimente que está sempre presente mesmo nas mais bem cuidadas alas de psicopatas. Eles fu-maram e conversaram com o paciente, por cerca de 20 minutos e partiram após darem-lhe seus cartões de visita. Antes de sair, disseram ao homem deitado na cama que, se ele acreditasse gostar de rever qualquer um deles, bastaria uma chamada telefônica.

Também deixaram claro que estariam dispostos a deixar seus afazeres, ou levantar-se da cama no meio da noite, para atendê-lo prontamente, caso ele de fato estivesse querendo parar de beber. Os membros de Alcoólicos Anôni-mos não correm atrás, nem "paparicam" novo companheiro ingressante, mas ardiloso, visto que eles conhecem muito bem as manhas de um alcoólico, da mesma forma que um trapaceiro regenerado continua conhecendo a arte de iludir o próximo.

Nisto repousa grande parte da força de um movimento que, nos últimos 6 a-nos, trouxe a recuperação a cerca de 2.000 homens e mulheres, dos quais uma grande percentagem tido sido considerada sem remédio pela medicina. Médicos e sacerdotes - quer trabalhando em separado ou em conjunto - têm sempre conseguido recuperar alguns casos. Em alguns casos isolados, bebe-dores problemas têm encontrado métodos próprios

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de parar de beber. Mas as incursões na área do alcoolismo não têm apresentado resultado significativo e ele continua sendo um dos maiores problemas de saúde pública não resolvi-dos.

Sensível e desconfiado por natureza, o alcoólico gosta de ser deixado consigo mesmo, para resolver seu próprio quebra cabeças e possui um meio conveni-ente de ignorar a tragédia que inflige àqueles que o cercam. Ele se agarra de-sesperadamente à convicção de que, apesar de não ter sido capaz de controlar o álcool no passado, seria bem sucedido, de agora em diante, em tornar-se um bebedor controlado.

O alcoólico é um dos mais estranhos animais da medicina e pode ser ou não uma pessoa acentuadamente inteligente. Ele discute habilmente com profis-sionais e com parentes que tentam ajudá-lo e obtém uma maldosa satisfação com o fato de manipulá-los em uma discussão.

Não existe artimanha ou desculpa para beber de que um A.A., anteriormente na ativa, não tenha ouvido falar ou não tenha utilizado ele próprio para beber. Quando alguém, abordado, racionaliza seus motivos para se embriagar, eles o confrontam com meia dúzia de outros de sua própria experiência. Isto irrita o novo companheiro em potencial e o coloca na defensiva. Ele observa as roupas limpas e bem passadas, os rostos bem barbeados de seus interlocutores e os acusa de serem uns retrógrados privilegiados que não têm a mínima idéia do que seja lutar com o álcool.

Os AAs retrucam relatando suas próprias estórias: os uísques duplos, os co-nhaques, antes do café da manhã; o vago sentimento de desconforto que precede uma bebedeira prolongada; o despertar depois de uma bebedeira, sem conseguir se lembrar do que aconteceu nos últimos dias e o medo an-gustiante de possivelmente ter atropelado alguém com o seu carro.

Eles contam das garrafas de bebida escondidas atrás de quadros ou em qual-quer canto da casa, do porão ao sótão; sobre passar dias inteiros dentro de um cinema para afugentar a tentação de um trago; de sorrateiramente ausentar-se do escritório durante o dia, para tomar uma dose bem rápida a cada meia ho-ra. Contam sobre perdas de empregos e o roubo de dinheiro da bolsa de suas esposas; de colocar pimenta na bebida para torná-la mais forte; de tomar be-bidas amargas com sedativos, além de tomar perfume e loção para a barba; sobre ficar esperando por 10 minutos até que o botequim da vizinhança abra. Eles descrevem como suas mãos tremiam tanto, que não podiam levar o copo à boca sem derramar; de pôr a bebida dentro de uma caneca de cerveja para poder agarrá-la com as duas mãos e com mais firmeza, mesmo com o risco de quebrar os dentes incisivos; de amarrar uma ponta da toalha num copo e a outra no pescoço e com a outra mão tentar levar o copo à boca; falam de mãos tão trêmulas que pareciam querer se soltar dos braços e sair voando; de sentar-se em cima das mãos, por horas, para evitar que tudo isto acontecesse.

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Esta e outras noções de vivência alcoólica são normalmente suficientes para convencer o alcoólico de que ele está falando com "irmãos de sangue". Um laço de afinidade, portanto, se estabelece, numa experiência que o médico, o reli-gioso ou o infortunado parente desconhecem. Com base nestas afinidades, os alcoólicos de A.A., que se dedicam à abordagem, dão a conhecer pouco a pouco os detalhes de um programa de vida que vem funcionando para eles e que pode funcionar para qualquer outro alcoólico. Os AAs não consideram dentro de seu alcance aqueles que já sofrem de problemas neurológicos. Mas, ao mesmo tempo, tomam todas as providências para que os ingressantes tenham toda assistência médica necessária.

Muitos médicos e suas equipes, de instituições através do país, estão agora in-dicando Alcoólicos Anônimos aos seus pacientes com problemas de bebida. Em algumas cidades, os tribunais e oficiais de justiça cooperam com os grupos locais. Os membros de A.A recebem os mesmos privilégios que os da equipe terapeuta, nas divisões de tratamento psicopático de algumas cidades. O Hos-pital Geral de Filadélfia é um deles. O Dr. John F. Stouffer, psiquiatra chefe, diz:

Os alcoólicos que temos aqui são, em sua maioria, aqueles que não podem ar-car com as despesas de um tratamento particular e, portanto a cooperação dos AAs é, sem a menor dúvida, a melhor coisa que lhes podemos oferecer. Mesmo dentre aqueles que ocasionalmente retornam aqui, observamos profundas mu-danças em suas personalidades. Dificilmente outros os reconheceriam.

O "Illinois Medical Journal", em um editorial de dezembro último, foi mais além do que o Dr. Stouffer, afirmando:

É sem dúvida um milagre quando uma pessoa que tenha estado por muitos a-nos, em maior ou menor proporção, sob a influência do álcool e em quem seus amigos tenham perdido toda a confiança, venha a sentar-se a noite inteira ao lado de um bêbado e a intervalos prescritos pelo médico administrar-lhe peque-nas doses de bebida sem que ele próprio tome uma só gota.

Isto é uma referência ao aspecto peculiar de aventuras das "Mil e Uma Noites", a que os AAs se dedicam. Freqüentemente isto implica sentar-se junto a uma pessoa intoxicada, participando intimamente de todas as suas atividades, uma vez que o impulso de jogar-se por uma janela parece ser uma idéia atraente para muitos alcoólicos, no momento de suas crises. Somente um alcoólico para imobilizá-lo e fazer isto transmitindo um misto de autoridade e simpatia.

Durante uma recente viagem ao Oeste e Meio Oeste, conversei com um grande número de membros AAs, como se autodenominam, e observei que são pes-soas incomumente calmas e tolerantes. De alguma forma, eles parecem mais bem-integrados entre si do que outros grupos de indivíduos não-alcoólicos. As suas transformações, passando de criadores de caso com a polícia, habituais comedores de restos de comida nos lixos e, em alguns casos, espancadores de esposas, foram

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sem dúvida surpreendentes. Em um dos jornais mais influentes do país soube que o editor-assistente e um repórter conhecido em todo o país eram AAs e tinham a mais completa confiança de seus superiores.

Em outra cidade, presenciei um juiz entregar em liberdade condicional um mo-torista, preso por dirigir embriagado, a um membro de A.A. Este, durante seus dias de bebedeira, destruiu diversos carros e teve sua própria licença de moto-rista suspensa. O juiz o conhecia e estava feliz em poder confiar nele. Um bri-lhante executivo de uma agência de propaganda contou que, dois anos atrás, estava na mendicância, dormindo debaixo do viaduto. Na época ele tinha um lugar favorito que dividia com outros vagabundos e, periodicamente, retorna ao local, para se certificar de que não está sonhando.

Em Akron, como em outros centros industriais, os grupos têm um forte contin-gente de membros que são trabalhadores braçais. No Clube Atlético de Cleve-land, almocei com cinco advogados, um contador, um engenheiro, três vendedores, um agente de seguros, um comprador, um barman, um sócio gerente de uma loja, um gerente de uma rede supermercados e um representante industrial. Eles eram membros de um comitê central que coordena os trabalho de nove grupos vizinhos. Cleveland, com mais de 450 membros, ó o maior dos centros de A.A. Em seguida os maiores estão situados em Chicago, Akron, Filadélfia, Los Angeles, Washington e New York, existindo, no total, grupos em cerca de 50 cidades e municípios.

Quando discutindo o seu trabalho, os AAs explicavam que sua recuperação de bêbados era em realidade o seu próprio "autosseguro". Afirmaram que a expe-riência dentro do grupo mostrou que, uma vez que um bebedor em recupera-ção reduz o ritmo de sua atividade de levar a sua mensagem a um alcoólico que ainda sofre, então existe maior possibilidade dele mesmo voltar a beber. Todos eles concordam em que não existe a personagem do ex-alcoólico. Cada alcoólico, ou seja, um indivíduo incapaz de beber normalmente será sempre um alcoólico até a sua morte, de forma semelhante a um diabético. A sua me-lhor expectativa é estacionar o processo da doença, utilizando a interrupção do ato de beber, como se fosse sua insulina. Pelo menos, é esta a afirmação dos AAs, que tende a ser confirmada pela opinião dos médicos envolvidos. Com raras exceções, todos afirmaram ter perdido todo seu desejo pelo álcool. Por ocasião da visita de amigos a suas residências, a maioria dos AAs serve bebidas alcoólicas a seus amigos e até mesmo vai a bares com companheiros que bebem. Os AAs somente bebem refrigerantes e café.

Um deles, um gerente de vendas, serve bebidas no bar durante a reunião anu-al de sua companhia em Atlantic City e, durante toda essa noite, leva partici-pantes para suas respectivas camas. Somente um número muito reduzido de alcoólicos em recuperação deixa de ter a certeza que, no exato minuto em que tomarem impensadamente o primeiro gole estará despertando uma compulsão descomunal e incontrolável em relação à bebida e de conseqüências desas-trosas. Um AA, que é um funcionário administrativo numa cidade do Leste, afirma

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que, apesar de não ter tomado uma única dose de bebida em três anos e meio, ainda passa apressadamente por bares, de modo a evitar a antiga compulsão; ele, no entanto, certamente é uma exceção. A ressaca dos dias tormentosos que afligiram um AA certamente é o único pesadelo remanescente. Nesse sonho ele se encontra no centro de um turbilhão, tentando freneticamente ocultar sua condição da comunidade. No entanto, até mesmo este sintoma desaparece, a curto prazo, na maioria dos casos. Surpreendentemente, o percentual, entre essas pessoas, que encontra emprego e trabalho, quando anteriormente haviam perdido todos seus empregos, em virtude da bebida, é da ordem de 90%.

Alcoólicos Anônimos declara que é de 100% a eficiência de seu programa, para bebedores não psicóticos que sinceramente desejam parar de beber. Os AAs acrescentam que o programa não trará resultados, em relação àqueles que a-penas querem poder parar de beber por temerem perder suas famílias ou seus empregos. Afirmam que o desejo objetivo deve ter como origem um interesse pessoal verdadeiramente esclarecido e iluminado; o iniciante deve querer livrar-se da bebida alcoólica para evitar a prisão ou morte prematura. Ele precisa es-tar totalmente exaurido da solidão social que cerca o bebedor descontrolado e deve querer pôr alguma ordem em sua vida desregrada.

Como é impossível desqualificar todos os candidatos que se apresentam, a por-centagem de recuperação não chega a 100%. De acordo com estimativas de A.A., cinqüenta por cento dos alcoólicos filiados recuperam-se quase imediata-mente; vinte e cinco por cento melhoram após uma dou duas recaídas e o restante permanece em dúvida. Este índice de sucesso é excepcionalmente elevado. Pela inexistência de dados estatísticos sobre curas através da medi-cina tradicional ou da religião, a estimativa é de que a recuperação por tais métodos não atinge mais do que dois ou três por cento.

Embora ainda seja muito cedo para afirmar que Alcoólicos Anônimos é a res-posta definitiva para o alcoolismo, os resultados obtidos em pouco tempo são impressionantes e têm recebido apoio promissor. John D. Rockefeller Jr. ajudou no custeio das despesas iniciais do movimento e procurou de todas as formas interessar outros cidadãos preeminentes no assunto.

A contribuição de Rockefeller foi muito pequena, atendendo aos pedidos insis-tentes dos fundadores de que o movimento fosse mantido em base voluntária e em regime não profissional. Não há organizadores assalariados, obrigações, administradores contratados e nenhum controle central. Nos grupos, os aluguéis de salas de reunião são pagos através de coleta feita durante as reuniões. Em pequenas comunidades, nem mesmo são feitas coletas porque as reuniões são realizadas em residências particulares. Um pequeno escritório no centro de New York atua meramente como central de informações. Não existe nenhum nome na porta e a correspondência é recebida anonimamente através de uma caixa postal. A única receita é a exatamente resultante da

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venda de um livro que descreve o trabalho de A.A. e é administrada pela Fundação Alcoólica, uma junta composta por três alcoólicos e quatro não alcoólicos.

Em Chicago, vinte e cinco médicos trabalham em estreita cooperação com Alco-ólicos Anônimos, contribuindo com seus serviços e encaminhando seus pró-prios pacientes alcoólicos para os grupos, atualmente cerca de 200. A mesma cooperação existe em Cleveland e, em menor escala, em outras cidades. Um médico, o Dr. W.D. Silkworth, da Cidade de New York, deu ao movimento seu primeiro encorajamento. No entanto, muitos médicos continuam incrédulos. O Dr. Foster Kennedy, um eminente neurologista de New York, provavelmente tinha em mente atingir alguns destes médicos, quando declarou, em uma reunião um ano atrás, que: "O propósito daqueles que estão envolvidos neste esforço contra o alcoolismo é elevado; seu sucesso tem sido considerável e eu acredito que a classe médica bem intencionada deveria dar-lhes apoio".

A ajuda ativa de dois médicos de boa vontade, Drs. A. W. Hammer e C. Dudley Saul, tem colaborado enormemente para que o grupo de Filadélfia seja um dos mais eficientes daqueles recentemente fundados. O movimento teve início em Filadélfia de um modo improvisado, no mês de fevereiro de 1940, quando um empresário que tinha ingressado no A.A. foi transferido de New York para a Filadélfia. Com receio de recair por não ter como ajudar alcoólicos, o recém chegado abordou três bebedores crônicos que freqüentavam estabele-cimentos da pior qualidade, na redondeza, e começou a trabalhar com eles. Conseguiu mantê-los sóbrios e o quarteto formado começou a investigar detalhadamente outros casos. Por volta de 15 de dezembro último, noventa e nove alcoólicos tinham se juntado a eles.

Destes, oitenta e seis conseguiram manter finalmente total abstinência, sendo que trinta e nove mantiveram-se abstêmios por um período variando de três a seis meses e vinte e cinco no intervalo de seis a dez meses. Cinco membros que se filiaram em outras cidades estavam sem beber por períodos variando de um a três anos.

A Cidade de Akron, que foi o berço do movimento, mantém o recorde interno de tempo de permanência em abstinência. De acordo com uma pesquisa re-cente, dois membros estão seguindo o programa de A.A. há cinco anos e meio; um pelo mesmo período, com uma recaída; três por três anos e meio, com uma recaída cada; um, por dois anos e meio e treze, por dois anos.

No passado, muitos dos membros de A.A. das cidades de Akron e Filadélfia não tinham conseguido abster-se de álcool por mais do que algumas semanas.

No Meio Oeste (dos EUA) o trabalho tem sido quase exclusivamente entre pes-soas que nunca foram internadas. O grupo de New York, que tem um núcleo semelhante dá uma atenção especial aos pacientes alcoólicos internados em instituições e tem conseguido resultados

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extraordinários. No verão de 1929, o grupo começou a trabalhar com alcoólicos internados no Hospital Estadual de Rockland em Orangeburg, que é um enorme sanatório para doentes mentais e recebe os alcoólicos sem expectativa de recuperação dos grandes centros populacionais. Com o estímulo do Dr. R.E. Blaisdell, o superintendente médico, um grupo foi formado dentro do hospital e as reuniões eram realizadas na sala de recreação. AAs de New York iam a Orangeburg para fazer palestras e, nas tarde de domingo, os pacientes eram levados em ônibus estaduais para o clube que o grupo de Manhattan alugava no lado Oeste.

Em primeiro de julho último, isto é, onze meses depois, registros mantidos no hospital demonstraram que, dos cinquenta e quatro pacientes entregues a Al-coólicos Anônimos, dezessete não tiveram nenhuma recaída e quatorze apenas uma. Dos restantes, nove voltaram a beber em suas comunidades de origem, doze voltaram ao hospital e dois não puderam ser localizados. O Dr. Blaisdell escreveu favoravelmente sobre o trabalho de A.A. ao departamento Estadual de Higiene mental e enalteceu-o oficialmente em seu último relatório anual.

Resultados ainda melhores foram obtidos em duas instituições públicas de New Jersey – Greystone Park e Overbrook que atraem pacientes de melhores con-dições econômicas e sociais do que os de Rockland, devido a sua proximidade a regiões mais prósperas. Em 2 anos, de sete pacientes que receberam alta da instituição de Greystone Park, cinco abstiveram-se de álcool por períodos de um a dois anos, de acordo com registro do A.A. Oito de dez pacientes de Overbrook que tiveram alta abstiveram-se de álcool por mais ou menos o mesmo período. Os outros tiveram uma ou diversas recaídas.

As autoridades não conseguem concordar no motivo pelo qual algumas pes-soas tornam-se alcoólicas. Alguns pensam que qualquer um pode "nascer alcoólico". Uma pessoa pode nascer, dizem eles, com uma predisposição hereditária ao alcoolismo, assim como outra pode nascer com uma vulnerabilidade à tuberculose. Os demais parecem depender do ambiente em que vivem, bem como sua experiência, embora uma teoria afirme que algumas pessoas são alérgicas ao álcool da mesma forma como outras sofrem de febre do feno e alergia a pólen. Apenas uma característica parece ser comum a todos os alcoólicos: imaturidade emocional. Estreitamente relacionada a isto existe a observação de que um número muito grande de alcoólicos inicia suas vidas como filhos únicos, filhos caçulas, único filho homem em uma família de mulheres ou única filha em uma família de meninos. Muitos têm estórias de precocidade infantil e eram crianças mimadas.

Frequentemente, a situação é complicada pela atmosfera familiar, onde um dos pais é indevidamente rigoroso e o outro superindulgente. Qualquer combi-nação desses fatores, acrescida de um divórcio ou dois, tende a produzir crianças neuróticas que estão indevidamente equipadas emocionalmente para encarar as dificuldades normais da vida adulta. Para escapar disso, alguns trabalham de forma exagerada,

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dedicando á suas atividades profissionais doze a quinze horas por dia, ou em esportes, ou em alguma atividade artística paralela. Outros encontram o que acreditam ser uma fuga prazerosa na bebida. A bebida exacerba seu autoconceito, encobre temporariamente qualquer sentimento de inferioridade social que possa ter. E passa a beber cada vez mais. Os amigos e a família se afastam e os patrões tornam-se intolerantes. O bebedor se afoga em ressentimentos e autopiedade. Ele se permite racionalizações infantis para justificar sua maneira de beber: tem trabalhado duro e merece relaxar; sua garganta dói de uma antiga operação de amídalas e um drinque aliviaria a dor; está com dor de cabeça; sua mulher não o entende; seus nervos estão à flor da pele; todo mundo está contra ele; e por aí afora. Inconscientemente se transforma em um auto-enganador crônico.

Sempre que ele está bebendo, diz a si mesmo e àqueles que se intrometem em seus assuntos que pode realmente tornar-se um bebedor controlado se assim o quiser. Para demonstrar sua força de vontade, fica várias semanas sem beber uma gota de álcool. Ele faz grande alarde em ir a seu bar favorito a determinada hora, a cada dia e ostensivamente ficar tomando leito aos goli-nhos ou um refrigerante sem se dar conta de que está incorrendo em um exibicionismo juvenil. Falsamente encorajado, ele volta à rotina de uma cerveja por dia e isto é mais uma vez o começo do fim. Cerveja leva inevitavelmente a mais cerveja e depois a bebidas fortes. Bebidas fortes conduzem a mais outra bebedeira monumental. Estranhamente, o gatilho que detona a explosão pode ser tanto uma vitória comercial como uma maré de má sorte. Um alcoólico não pode suportar nem a prosperidade nem a adversidade.

A vítima fica perplexa ao sair do nevoeiro alcoólico. Sem que ele se apercebes-se, aquilo que era um hábito tornou-se gradualmente uma obsessão. Depois de algum tempo, não precisa de racionalizações para justificar o primeiro drinque fatal. Tudo que ele sabe é que se sente inundado de desconforto ou de júbilo e, antes que perceba o que está acontecendo, está defronte do balcão do bar com um copo de uísque vazio à sua frente e uma sensação estimulante na garganta. Por algum ardil peculiar de sua mente, foi capaz de esquecer a dor intensa e o remorso causados pelas bebedeiras precedentes. Depois de muitas experiências deste tipo, o alcoólico começa a perceber que não se entende e fica imaginando por que sua força de vontade, que é eficaz em outras situações, não funciona em sua defesa contra o álcool. Ele pode seguir tentando derrotar sua obsessão e terminar em um sanatório. Ele pode desistir da luta, considerando-a sem esperanças, e tentar o suicídio. Ou pode procurar ajuda de terceiros.

Se apelar para os Alcoólicos Anônimos, ele é antes de mais nada ajudado a admitir que o álcool o derrotou e que tinha perdido o domínio sobre sua vida. Tendo atingido esse estado de humildade intelectual, recebe uma dose de re-ligiosidade no seu sentido mais amplo. Pede-se a ele que acredite em um Poder Superior a ele, ou que pelos menos mantenha a mente aberta a respeito do assunto, enquanto prossegue com o restante do programa. Qualquer conceito de Poder Superior é

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aceitável. Um cético ou agnóstico pode escolher seu próprio Ser Superior entre, por exemplo, o milagre do crescimento, uma árvore, o deslumbramento do homem face ao universo, a estrutura do átomo, ou meramente o infinito matemático. Qualquer que seja a forma de visualização do Poder Superior, o novato é ensinado e deve, a seu próprio modo, orar a esse Poder para que forças lhe sejam dadas.

Em seguida, ele faz uma espécie de inventário moral de si mesmo com o auxí-lio particular de outra pessoa, um de seus padrinhos de A.A., um religioso, um psiquiatra ou outra pessoa de seu agrado. Se ele assim o desejar e se isto vier a constituir-se alguma forma de alívio, pode levantar-se em uma reunião e relatar seus infortúnios, embora não seja obrigado a isto. Ele restitui o que eventualmente tenha roubado enquanto bêbado e empenha-se em pagar velhas dívidas e honrar cheques sem fundo; faz reparações a pessoas  a quem  tenha ofendido e, em geral, realiza a melhor limpeza possível em seu passado. Não é incomum que padrinhos lhe emprestem dinheiro para ajudá-lo em seu reinício.

Esta catarse é considerada importante devido à compulsão que um sentimento de culpa exerce sobre a obsessão alcoólica. Como nada empurra mais um al-coólico para a garrafa do que ressentimentos pessoais, o novato faz uma lista de seus ressentimentos e decide não ser abalado por eles. A partir desse momento, ele está pronto para começar a trabalhar com outros alcoólicos na ativa. Pelo processo de extroversão que o trabalho envolve, ele consegue pensar menos em seus próprios problemas.

Quanto mais bebedores ele conseguir atrair para A.A., tanto maior será sua responsabilidade com relação ao grupo. Ele não pode embriagar-se agora sem afetar negativamente pessoas que provaram ser seus melhores amigos. Está começando a crescer emocionalmente e deixando de ser um dependente. Se tiver sido educado de acordo com uma religião, geralmente, mas não sempre, poderá tornar-se novamente um freqüentador regular.

De forma simultânea a seu processo de reconstrução, o alcoólico inicia o pro-cesso de reajuste em sua maneira de viver. Esposa ou marido de alcoólicos e também filhos tornam-se freqüentemente neuróticos pela exposição aos excessos alcoólicos que tenham ocorrido durante um longo período de tempo. Reeducação da família é uma parte essencial no programa de acompanhamento que foi delineado.

Alcoólicos Anônimos, que é uma síntese de velhas idéias, em vez de uma des-coberta nova, deve sua existência à colaboração de um corretor da Bolsa de New York e de um médico de Akron, Ohio. Ambos alcoólicos encontraram-se pela primeira vez a pouco menos de seis anos. Em trinta e cinco anos de bebedeiras periódicas, o Dr. Armstrong – para dar ao médico um nome fictício – bebeu a ponto de quase abandonar a prática da medicina. Armstrong tentou de tudo, para abandonar a bebida, inclusive o Grupo Oxford, sem conseguir nenhuma melhora. No Dia das Mães do ano de 1935, ele voltou para casa

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cambaleando, à moda típica dos bêbados, abraçado a um caríssimo vaso de plantas que depositou no colo de sua mulher. Então subiu as escadas e desmaiou.

Nesse mesmo instante, perambulando nervosamente pelo hall de um hotel de Akron, achava-se o corretor de New York, a quem chamaremos arbitrariamente de Griffith. Griffith estava com sérios problemas. Na tentativa de obter o con-trole acionário de uma firma e recuperar sua situação financeira, ele tinha vindo a Akron e estava empenhado numa disputa legal para conseguir procurações de acionistas dessa firma. Tinha perdido a disputa. Estava devendo a conta do hotel e quase absolutamente sem dinheiro. Griffith estava com vontade de beber.

Durante sua carreira em Wall Street, Griffith realizara negócios de grande vulto e prosperara, mas, por força de episódios desastrosos com bebida, tinha per-dido suas oportunidades mais importantes. Por um período de cinco meses, antes de viajar para Akron, tinha-se mantido abstêmio em relação a bebidas alcoólicas, graças aos ensinamentos do Grupo Oxford de New York. Fascinado com o problema do alcoolismo,  ele voltara muitas vezes, como visitante, a um hospital de desintoxicação no Central Park West, onde tinha estado como paciente e conversara com os doente internados. Ele não efetivou nenhuma recuperação, mas percebeu que, trabalhando com outros alcoólicos, conseguia afastar sua compulsão pelo álcool.

Sendo um estranho em Akron, Griffith não conhecia nenhum alcoólico com quem pudesse discutir abertamente seus problemas com o álcool. Uma lista telefônica com números de igrejas, pendurada no saguão em frente ao bar, deu-lhe uma idéia. Ele telefonou para um dos clérigos relacionados na lista e através dele entrou em contato com um membro local do Grupo Oxford. Essa pessoa era amiga do Dr. Armstrong e, assim sendo, pode realizar as respec-tivas apresentações durante o jantar. Desta maneira, o Dr. Armstrong tornou-se realmente o primeiro discípulo de Griffith. No começo ele estava muito trêmulo. Depois de algumas semanas de abstinência, foi para o oeste dos EUA participar de uma convenção médica e voltou numa bebedeira deplorável. Griffith, que tinha ficado em Akron para finalizar a resolução de impasses surgidos na disputa legal das procurações, colaborou com ele em seu retorno à sobriedade. Isto foi em 10 de junho de 1935. Os goles que o médico tomou da garrafa oferecida por Griffith naquele dia foram os últimos drinques em sua vida.

Os problemas da demanda judicial de Griffith estavam-se prolongando, man-tendo-o em Akron por seis meses. Ele mudou-se para a casa dos Armstrong e, juntos, em dupla, trabalharam outros alcoólicos. Antes de Griffith retornar a New York, ambos conseguiram converter mais duas pessoas em Akron. Nesse ínterim, ambos, Griffith e Armstrong, tinham-se desligado do Grupo Oxford, porque sentiram que seu evangelismo, por demais agressivo e outros de seus métodos eram empecilhos no trabalho com alcoólicos. Eles passaram a usar técnica própria, estritamente em bases de "pegue ou deixe" e assim a mantiveram.

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O progresso foi lento. Após o regresso de Griffith para o Leste, o Dr. Armstrong e sua esposa, graduada em Wellesley, transformaram sua residência em um refúgio gratuito pra alcoólicos e num laboratório experimental para estudar o comportamento dos hóspedes. Um dos hóspedes que, sem que seus anfitriões soubessem, era maníaco depressivo e alcoólico, enfureceu-se uma noite, apos-sando-se de um facão de cozinha. Ele foi subjugado antes de ter podido esfaquear alguém. Depois de um ano e meio, um total de dez pessoas tinha respondido ao programa, permanecendo abstêmio em relação ao álcool. O restante das economias da família tinha-se esgotado com esse trabalho. A nova sobriedade do médico proporcionou-lhe reativar sua clínica, mas não o suficiente para arcar com as despesas extras. Os Armstrongs, apesar de tudo, prosseguiram por meio de recursos obtidos através de empréstimos. Griffith, cuja esposa tinha hábitos espartanos, transformou sua casa de Brooklin em uma réplica da casa de Akron. A Sra. Griffith, oriunda de uma tradicional família de Brooklin, empregou-se em uma loja de departamentos e nas horas vagas praticava enfermagem junto aos embriagados. Os Griffith também tomaram dinheiro emprestado, e Griffith conseguiu realizar pequenos negócios e ganhar algum dinheiro em transações nas corretoras de valores. Por volta da primavera de 1939, os Armstrongs e os Griffiths tinham, entre si, conduzido cerca de cem alcoólatras à sobriedade.

Em um livro publicado naquele tempo, os bebedores recuperados descreviam o programa de cura e relatavam suas histórias pessoais. O título era "Alcoólicos Anônimos". Foi adotado, como denominação para o próprio movimento, que até então não tinha nenhum nome. Quando o livro entrou em circulação, o movimento difundiu-se rapidamente.

Hoje o Dr. Armstrong ainda está lutando para reconstruir sua prática na profis-são médica. A tarefa é árdua. Ele está totalmente absorvido devido a suas contribuições ao movimento e ao tempo gratuito que devota aos alcoólicos. Sendo uma pessoa-chave no grupo, ele é incapaz de negar-se a atender as solicitações de ajuda que assoberbam seu consultório.

Griffith se encontra em muito pior situação. Nos últimos dois anos, ele e sua mulher não têm tido o que se pode considerar como um lar no sentido normal da palavra. Da mesma maneira como os primitivos cristãos, eles têm-se man-tido em permanente condição de mudança, encontrando abrigo nas casas de companheiros AAs e, eventualmente, vestindo roupas emprestadas.

Tendo iniciado um movimento da maior importância, ambos desejam afastar-se de seu centro nervoso, de modo a reajustar-se financeiramente. Eles consideram que da maneira como a coisa vai indo, o movimento é virtualmente auto-operacional e irá automultiplicar-se. Devido à ausência de personalidades de renome e ao fato de não existir nenhuma sociedade formal a ser promovida, eles não temem que a Irmandade de Alcoólicos Anônimos possa degenerar-se em culto.

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A natureza espontânea do movimento torna-se aparente, de acordo com as cartas arquivadas no escritório de New York. Diversas pessoas têm escrito, relatando que pararam de beber assim que terminaram a leitura do livro e fizeram de suas casas locais de reunião para pequenos núcleos locais. Até mesmo um grupo de grandes proporções, como o de Little Rock, iniciou-se desta forma. Um engenheiro civil de Akron e sua esposa, num gesto de gratidão por sua cura há quatro anos, vêm trazendo assiduamente alcoólicos para sua residência. De um total de trinta e cinco desses iniciantes, trinta e um se recuperaram.

Vinte visitantes de Cleveland absorveram a idéia em Akron e voltaram a seus locais de origem para iniciar um grupo próprio. De Cleveland, por diversos meios, o movimento se alastrou para Chicago, Detroit, St. Louis, Los Angeles, Indianópolis, Atlanta, San Francisco, Evansville e outras cidades. Um jornalista alcoólico de Cleveland que tinha um pulmão arruinado cirurgicamente mudou-se para Houston por questões de saúde. Ele conseguiu um emprego em um jornal de Houston e, através de uma série de artigos escritos para esse mesmo jornal, iniciou um grupo de A.A. que, no momento, conta com trinta e cinco membros. Um membro de Houston mudou-se para Miami e está agora se esforçando para atrair para a Irmandade alguns dos mais eminentes bebedores daquele balneário de inverno. Um vendedor-viajante de Cleveland é responsável pelo início de pequenos grupos em várias partes diferentes do país. Menos da metade dos membros de A.A. jamais viu Griffith ou o Dr. Armstrong.

Para um estranho, que fique intrigado, como muitos de nós ficamos, com o comportamento esquisito dos amigos bebedores-problema, os resultados que têm sido alcançados são surpreendentes. Tal fato é especialmente verdadeiro em relação aos casos mais desesperados, alguns dos quais estão abaixo descritos sob nomes fictícios.

"Sarah Martin era um produto da geração de F. Scott Fitzgerald. Nascida em berço de ouro, em uma cidade do Oeste, foi estudar em internatos no Leste e encontrou-se mudando para Paris. Depois de apresentada à sociedade de Paris, casou-se. A partir desse acontecimento, Sarah passava suas noites bebendo e dançando até o amanhecer. Ela era conhecida como uma moça que podia beber enormes quantidades. Seu marido era uma pessoa frágil e ela ficou desgostosa com ele. Rapidamente se divorciaram. Depois que a fortuna de seu pai chegou ao fim em 1929, Sarah arranjou um emprego em New York e conseguiu sustentar-se.

Em  1932, em busca de uma vida aventurosa, foi morar em Paris e montou um negócio próprio em que foi bem sucedida. Continuou a beber muito e ficava bêbada mais tempo do que o normal. Depois de uma longa bebedeira em 1933, foi-lhe informado que ela havia tentado atirar-se de uma janela. Em outra bebedeira ela de fato se atirou – ou caiu -, ela não se lembrava como foi, de uma janela do primeiro andar. Ela caiu com o rosto na calçada e ficou acamada por seis meses, sendo recuperada através de cirurgias dos ossos, recuperação dentária e cirurgia plástica.

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Em 1936, Sarah Martin conclui que se mudasse de ambiente, retornando aos EUA, poderia beber normalmente. Essa crença infantil em mudança geográfica é uma ilusão clássica, que todo alcoólico vivencia durante algum tempo. Ela esteve bêbada durante toda a viagem de navio da volta. New York a amedrontou e ela bebeu para escapar ao medo. Seu dinheiro terminou e ela passou a pedir emprestado a amigos. Quando os amigos a ignoraram, ela passou a freqüentar continuamente os bares da Terceira Avenida, mendigando drinques de desconhecidos. Até este estágio ela havia diagnosticado seu problema como uma crise nervosa. Somente após internar-se em diversos sanatórios é que ela conscientizou-se, através de leitura, quer era uma alcoólica. Aconselhada por um médico da equipe de um sanatório, ela iniciou contato com um grupo de A.A. Hoje em dia, tem outro ótimo emprego e passa muitas de suas noites sentadA ao lado de mulheres bêbadas histéricas, para evitar que tentem jogar-se pela janelas. Em seus trinta e poucos anos, Sarah Martin é agora uma mulher atraente e serena. Os cirurgiões de Paris fizeram um belo trabalho nela."

"Watkins é um encarregado de despachos de mercadoria numa fábrica. Tendo sofrido um acidente de elevador que o aleijou, em 1927, foi licenciado com remuneração por sua companhia, que ficou muito grata por ele não a ter processado por danos físicos. Nada tendo a fazer durante a longa convalescença, Watkins passou a vagar pelos botequins escusos. Se anteriormente ele era um bebedor moderado, começou então a tomar bebedeiras que duravam meses. Em seguida, sua mobília foi penhorada e sua mulher o abandonou levando os filhos. Em onze anos, Watkins foi preso doze vezes e foi sentenciado oito vezes a trabalhos forçados. Uma vez, durante um acesso de delirium-tremens, ele circulou um boato entre os prisioneiros de que as autoridades responsáveis estavam envenenando a comida, de modo a reduzir a população carcerária e reduzir despesas. O resultado foi um motim no refeitório da prisão. Durante outro acesso de delirum-tremens, no qual ele imaginou que seu companheiro da cela de cima estava "tentando" derramar chumbo derretido nele, Watkins cortou seus próprios pulsos e garganta, com uma lâmina de barbear. Enquanto se recuperava em um hospital fora da prisão, com oitenta e seis pontos pelo corpo, ele jurou nunca mais beber. Estava bêbado antes que os últimos curativos tivessem sido removidos. Dois anos atrás, um antigo companheiro de bebedeiras levou-o ao A.A. e desde então ele nunca mais tocou em álcool. Sua mulher e seus filhos voltaram e sua casa tem mobília nova. Retornando ao trabalho, Watkins pagou a maior parcela dos 2.000 dólares de dívidas e pequenos roubos e agora está desejando adquirir um carro novo."

"Aos 22 anos de idade, Tracy, um filho precoce de pais bem sucedidos, era gerente de crédito de um banco de investimentos, cujo nome tornou-se um símbolo do turbulento mercado financeiro da época. Depois do colapso da bolsa, que arruinou seu banco, ele foi trabalhar em publicidade. Ocupou um posto que lhe rendia US$ 23,000 ao ano. Um dia, quando nasceu seu primeiro filho, Tracy ficou muito entusiasmado. Ao invés de comparecer a Boston, onde deveria fechar

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um grande contrato de publicidade, foi a uma farra e acabou acordando, assustado, em Chicago, deixando de realizar o contrato em Boston, por perder o prazo. Continuamente um bebedor forte, transformou-se num bêbado vagabundo. Ele tomava bebidas alcoólicas aquecidas numa latinha; ingeria tônicos para cabelos e mendigava de policiais que são sempre acessíveis quando se trata de até 10 centavos. Numa noite em que nevava, Tracy vendeu seus sapatos para tomar um drinque e calçou um par de galochas, que encontrara numa soleira de porta, forrando-as com jornal para manter seus pés aquecidos.

A partir daí começou a internar-se em sanatórios, mais para escapar do frio do que por qualquer outro motivo. Em uma dessas instituições, um médico conseguiu despertar seu interesse no programa de A.A. Como parte dele, Tracy, um católico, fez uma confissão total e voltou a freqüentar a igreja que tinha abandonado há muito tempo. Ele retornou ao álcool tendo algumas recaídas, mas depois de uma recaída em fevereiro de 1939, Tracy não bebeu mais. Desde então reiniciou sua carreira, atingindo novamente a faixa salarial de US$ 18,000 anuais, por seu trabalho na área de publicidade."

"Vitor Hugo teria se deliciado em conhecer Brewster, um aventureiro do tipo musculoso que escolheu viver da maneira mais difícil. Brewster foi lenhador, vaqueiro e aviador na guerra. Durante o pós-guerra ele incorporou-se à bebida e logo estava fazendo turismo na excursão dos sanatórios. Em um deles, depois de ouvir falar em cura por eletrochoques, ele subornou com cigarros um atendente negro encarregado do necrotério, para que o deixasse entrar todas as tardes para meditar ao lado de um cadáver. O plano funcionou muito bem até o dia em que um morto, por uma contorção facial adquirida ao morrer, parecia estar sorrindo. Brewster encontrou-se com A.A. em dezembro de 1938 e, depois de alcançar a abstinência, conseguiu um emprego de vendedor que envolvia longas caminhadas. Nesse intervalo, ele contraiu catarata nos dois olhos. Uma das cataratas foi removida, deixando-lhe apenas visão a distância com o auxílio de grossas lentes. A outra vista ele usava para visão próxima, mantendo-a dilatada através de pinga-gotas de uma solução que lhe permitia evitar ser atropelado no trafego de rua. Então ele foi acometido de uma trombose na perna e, com essas desvantagens, Brewster perambulou pelas ruas por seis meses antes de poder regularizar sua situação financeira. Hoje, com cinqüenta anos, embora ainda atribulado por essas deficiências físicas, ele está fazendo suas visitas a clientes e está ganhando cerca de 400 dólares por mês."

Para os Brewsters, os Martins, os Watkinses, os Tracys e outros alcoólicos recuperados, existe companhia adequada agora. Aquela que é disponível em qualquer lugar em que estejam. Nas grandes cidades, AAs se encontram  diariamente em restaurantes, para almoçar juntos. Os grupos de Cleveland realizam festas no ano-novo, e em outros feriados, em que litros e litros de café e refrigerantes são consumidos. Chicago mantém grupos funcionando nas sextas, nos sábados e domingos, alternadamente, nas zonas Norte, Oeste e Sul – de modo que nenhum alcoólico solitário necessite retornar à bebida durante os fins de semana por falta de companhia. Alguns jogam canastra, ou bridge e

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o ganhador de cada mão contribui para o pagamento das despesas da diversão. Outros ouvem rádio, dançam, comem ou apenas conversam. Todo alcoólico bêbado ou sóbrio gosta de conversar. Eles se encontram entre aqueles que mais amam a convivência social, fato este que pode ajudar a explicar por que eles tiveram que ser alcoólicos em primeiro lugar.

Nota: Embora um outro artigo de âmbito nacional tenha sido publicado anteriormente, o relato do "Saturday Evening Post", sobre um grupo de homens e mulheres que alcançaram a sobriedade através do A.A., foi, em grande parte, responsável pela onda de interesse que sedimentou a Irmandade em termos nacionais e internacionais.

Dr. Oscar Rodolpho Bittencourt Cox

“Furor Curandis”

Como médico, fui atraído para as questões que envolvem a doença do alcoolismo pela forma dos resultados obtidos no meu trabalho quando comecei encaminhar ou sugerir ao cliente a ida a Alcoólicos Anônimos. A doença, considerada como tal pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é incurável, progressiva e de determinação fatal. Quando não interrompido o seu processo, compromete o homem em toda sua estrutura física, psíquica, comportamental, emocional, laborativa, afetiva, portanto, vivencial, de forma tal que compromete e deteriora o próprio habitat deste animal "homo sapiens".

Assim sendo, o alcoolismo estará influenciando meu trabalho como médico perito da Previdência Social é aquele médico responsável pela avaliação da capacidade laborativa. Seja doença do trabalho ou previdenciária, as questões do alcoolismo influenciam. Eu, assim como os colegas, não tinha paz de labor em função dos tumultos muitas vezes cotidianos. Não sei em que momento comecei a sugerir àqueles que na minha frente apareciam alcoolizados ou mesmo cheirando a cachaça às 7 horas da manhã que procurassem A..A., que funciona próximo, no interior de uma igreja. Com o passar do tempo observava melhor tranqüilidade no meu local de trabalho e conseqüente melhor produtividade.

Coincidiu haver um encontro de Alcoólicos Anônimos na cidade em que trabalhava para o qual, médico conhecido da localidade, iria falar. Fui lá para assistir, passar o dia, ou seja, momentos com Alcoólicos Anônimos. Houve almoço comunitário (mocotó e feijoada) oferecido a todos os presentes pelo Escritório Local de A.A. Lá, surpresa eu tive, quando alguém se aproximou e  ofertou-me o livro "12 Passos de A.A.”

O livro verde com a dedicatória parecida com:

"Ao médico, pelo que nos têm ajudado.

A.A. agradecido/Nilópolis.

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- O que eu ajudei? - A quem ajudei? - Como ajudei? - Quando ajudei?

Todo o programa de recuperação ligado a Alcoólicos Anônimos é de atração e não de promoção. Vi-me atraído pelos meus resultados no trabalho após o singelo ato de apenas citar a presença de Alcoólicos Anônimos.

Saí em campo para saber do que se tratava e nesta caminhada meu currículo soma o ser médico em centros de recuperação para dependentes químicos; exercer encargos em associações ligadas ao estudo do álcool e outras drogas como a ABRAD (associação Brasileira de Alcoolismos e Drogas); participação em congressos, encontros e seminários; participação na elaboração, instalação e funcionamento de centros de recuperação pelo Brasil; escrever trabalhos e teses; ministrar cursos; exercer o encargo de Custódio Não Alcoólico na Junta de Serviços Gerais de A.A. no Brasil, portanto, participar da estrutura de serviços da irmandade que naqueles idos de 1980 mal sabia me expressar a respeito destas questões.

Foi necessária esta apresentação como exemplo do que acho quanto à maneira com que os profissionais são atraídos a estes conhecimentos sobre doença tão avassaladora como abrangente. É o método atual de abordagem terapêutica, a partir da ação de A.A . As faculdades na área da saúde nos preparam para que possamos curar e para tal assumimos total responsabilidade no fluxograma te-rapêutico a partir da elaboração do diagnóstico.

Ledo engano! Iremos nos envolver como cita o autor Luiz Renato Carazzaina sua brilhante síntese: "FurorCurandís" a semelhança "vista apenas nos familia-res mais envolvidos".

Carazzai, brilhantemente, aplica aos 12 Passos de A.A. para o profissional que se sentindo atraído pelo programa de recuperação, parte para aplicar estes conhecimentos em sua clínica e ou em seu trabalho profissional. Sugiro que trabalhando com alcoólicos que estão em negação, resistências e vivenciando todos os meandros "malignos" da doença, freqüentemos os grupos de famili-ares e amigos de alcoólicos Al-Anon (Al de Alcoólico e Anon de Anônimo),pois acabamos nos envolvendo com a doença como familiares. Nós passamos descontando as horas de repouso ou mesmo de sono. Não diria mais sonhos, pois podemos adoecer de tal modo que vivenciaremos pesadelos.

As negações, as resistências que caracterizam a doença, têm fundamento na bioquímica cerebral e agora podemos colocar dois lembretes como substrato para o nosso entendimento e aceitação das sugestões já que a impotência do profissional para com os resultados do tratamento é total:

1º - Proteínas agem nos circuitos de recompensa do cérebro criando comandos que impedem o exercício da vontade de escolher beber ou não. Cria circuitos de recompensa traduzidos pela negação que se

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cronifica. Há ações de proteí-nas que neste nível regulam a expressão ou atividade dos genes.

2º - Parando de beber, havendo queda nas proteínas acima citadas, surgem novas proteínas que estimularão por outras vias, recordações prazerosas do beber quando acionadas lembranças, recordações e mesmo contrariedades. Também estas proteínas neste nível estarão regulando a expressão ou atividade dos genes.

Somos impotentes e percebam:

"Uma parte central do Circuito de Recompensa do Cérebro modifica sua atividade e estrutura depois do uso crônico de substâncias que induzem a dependência (o álcool é uma delas): a via que se estende dos neurônios produtores de Dopamina (Neurotransmissor) da área tegmental ventra - A.T.V. Até as células sensíveis a Dopamina no Núcleo Acumbens (N.A.). Essas alterações con-tribuem significativamente para a tolerância, a dependência e o desejo insaciável que provocam o uso repetitivo da droga e levam às recaídas mesmo depois de longos períodos de abstinência". Os usuários ficam extremamente sensíveis a coisas que lembrem o consumo passado, vulneráveis a recaídas sob estresse e incapazes de controlar sua necessidade de procurar drogas.

Participei durante anos, na década de 80, no Espírito Santo, do Conselho Regional do Serviço Social do Estado, de reuniões aos sábados, onde Assistentes Sociais de grandes empresas capixabas se reuniam para estudos sobre alcoolismo. Quando questionado por uma assistente social que mais tarde se tomou professora em alcoolismo dando cursos para empresas sob patrocínio de Empresa de Medicina do Trabalho em Belo Horizonte e hoje, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que não podia trabalhar na área por não ter este problema e, portanto não ter identificação.

Perguntei-lhe:

- Qual o problema que tinha?

Respondeu: - Quando bebo leite passo mal e fico irritada etc.

Disse-lhe: - Então, comente com seus clientes na empresa, quando necessário, estas suas questões humanas.

Na seguinte reunião do grupo, esta assistente social apresentava "um sorriso de orelha a orelha", pois tinham acabado as barreiras entre ela, profissional, e seus clientes, funcionários da empresa. Não há condição de uma abordagem à questão do alcoolismo se a parte humana de todos - profissional e doente - não vier em forma de comparação, similitude e mesmo conforto.

Passaremos agora a citar passo a passo atenções ou complementos do que Carazzai também sintetiza: Os 12 Passos para Profissionais.

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Neste ciclo entendo como aprofundamento importante:

1 ° Passo: Passo da Importância e do Desgoverno: "A Chamada".

Do alto dos meus mais de 15 anos de formado em medicina vejo que não curo nada. Posso com o meu saber ajudar aqueles que desejam melhorar sua qualidade de vida. Portanto, posição oposta àquela com que saímos das faculdades. Há de se modificar a escola. Nos dois primeiros anos de formado, o pro-fissional de saúde já se acha desmotivado, ou procura sua realização por outros caminhos ou se acomoda ao sistema. Eu sempre procurei e procuro outros caminhos. Também conheço profissionais e terapeutas que procurando "tratar" seus pacientes, adoeceram, e muitos já morreram.

Em se tratando de alcoolismo estamos diante de uma questão de energia e precisamos aprender técnicas de "salvamento" como é necessário aprender quando salvamos alguém de morrer afogado em mar revolto. Ao profissional também é sugerido o desligamento emocional da questão em pauta para poder passar ao seu cliente alcoolista fundamento básico de tomar consciência plena da necessidade de mudar, evidenciando na vida do alcoolista sequelas da doença em todos os seus aspectos da vida. Necessidade de reavaliação do ser humano. Para evitar a sabotagem ao tratamento, há necessidade de se estar preparado para os sucessivos confrontos com fatos.

2° Passo: Passo do acreditar na existência de forças superiores a si mesmo.

Como já citado, minha percepção mostra verdadeiros milagres (etimologica-mente é tudo aquilo que causa admiração) com meus clientes. Há algo maior do meu modo de atuar logo, eu profissional, só preciso criar espaços para esta energia maior (para A.A. é um Poder Superior P.S. como cada um o conceba) atuar. Este espaço será maior quão maior for a consciência da impotência e mais profundo o contato com seu próprio descontrole. Para os resultados na aplicação deste passo, a medida exata oportunismo e envolvimento necessários a um aconselhamento objetivo e prático. Hora da sua própria experiência de vida à semelhança daquele leite que tanto perturbava a assistente social. O suporte psicossocial à abstinência (A.A. sugere que 1º gole seja evitado) se faz necessário para que a área temporal do cérebro comece a se desenvolver já que é a sede da espiritualidade segundo pesquisas mais recentes (espirituali-dade é a autoestima, ou seja, como eu me trato e consequentemente irei tratar o outro). É esta área do cérebro que bioquimicamente se interpões às es-truturas compulsivas acima mencionadas. Portanto, compreensão e identidade são fundamentais, assim como objetividade, similitude, conhecimento da realidade do paciente, seus medos, suas angústias, suas dúvidas, seus anseios e suas crenças.

3° Passo: Agora que abstêmio, consciente de mim mesmo e com crenças em uma energia maior, tenho que entregar-me totalmente a ela.

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Partimos do princípio que o indivíduo tem a experiência de ter que do controlar o seu beber e obteve insucessos e decepções com seu resultado. Observou os "malignos" já referidos, portando compete ao profissional não "atrapalhar" facilitando com explicações, desculpas, que atuam na realidade do paciente fa-cultando o poder de manipulação da doença. O paciente deve se entregar à sua recuperação, ter uma observação aguda para o fenômeno o que depende da confiança entre o profissional e o cliente. A confiança é mola mestre do 3° passo. É o combustível que moverá o mecanismo terapêutico. A consciência do passado é a mola propulsora neste passo e a observação das questões conflitantes no grau da compreensão do cliente é a fundamental. Nada forçado, apenas confrontando à consciência. Ao profissional compete a criatividade no aumentara percepção do cliente em seu ritmo de opções e escolhas. Se o profissional tiver a vivência do processo, poderá atuar reforçando sempre a certeza de que o tratamento indicado é extremamente necessário e tão eficaz quanto mais ampla for a participação do paciente. Por causa dessas necessidades, nos E.D.A. é sugerido que estes profissionais freqüentem os grupos de mútua ajuda para familiares e amigos como também, antes de serem admitidos nos centros de tratamento, passem pelo processo como pacientes. Para que eu acredite no tratamento, é necessário a percepção e o contato com os benefícios que ele  raz.

4° Passo / 5° Passo / 6° passo / 7° Passo:

São passos para que possamos saber o que estamos entregando a esta ener-gia maior e o desenvolvimento de sentidos mais sutis como a intuição e a con-centração. Biologicamente o homo sapiens do dizer do astrônomo norte americano Carl Sagan (1934-1996) é o primeiro momento que o cosmos toma consciência de si mesmo. Também temos a definição de ser o animal portador de consciência interna, ou seja, consciência da existência de si mesmo. Posso, então, através o conhecimento dos meandros de minha existência, conversar comigo mesmo, pedir a esta energia maior que abastece já tenho agora as percepções dos ganhos e benefícios que a recuperação está me proporcionando o que desejo para mim: remoções de defeitos e possibilidade para expor e exercer meus dons. Os profissionais possibilitam ao paciente meios concretos para desenvolver um inventário: apresentar roteiros objetivos, questionários, identificação de características morais e atitudes a serem avaliadas; estimular, reforçar e reativar motivações; incentivar participação em grupos para haver trocas de experiências identificadoras. O profissional passa a uma atitude colaboradora e compreensiva, mas nunca protecionista e permissiva. É programa reformador numa ampla proposta de discussão de todos os dados levantados sem quaisquer bloqueios pessoais. São passos do profissional ouvir o paciente e criatividade de cada vez mais estimulá-lo na abertura de si mesmo. Pessoas da mistura exata da eterna busca da perfeição com a consciência da impossibilidade em alcança-la. O processo tem que estar em andamento sem inter-rupção de obstáculos concretos ou abstratos, desmascarados pelo profissional ao criar subsídios necessários à crescente percepção do cliente. O

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profissional deve estar preparado para identificar sérios e graves entraves à progressão do tratamento. A motivação pela motivação.

8° Passo / 9° Passo: Agora é o levantamento das pessoas prejudicadas e a a-ção nas reparações salvo impedimentos quanto ao envolvimento de terceiros.

Cada vez mais urge ao profissional estimular conhecimento da história de vida do cliente. Percebe-se quão importante ao próprio profissional não ter medo da similitude com sua própria história e neste ponto é significativo o fato do desligamento emocional deste terapeuta quando é balizado com cliente que consegue dar soluções melhores que as suas. Humildade e Aceitação qualidade a serem buscadas pelo educador terapeuta. Por isto, ordem de prioridades são buscadas.

10° Passo: Inventário diário para se manter aprumado e pareado com a recuperação.

A percepção de sentimentos, sua identificação e ação em explicitá-los. A estratégia de aperfeiçoamento é fundamental. "As chamadas armadilhas podem e devem ser desfeitas, antes que o desconforto originado seja mais forte que a perspectiva de alívio e o indivíduo recorra ao recurso já conhecido, o álcool". "Evidenciar ganhos enquanto estes não são tão evidentes e possibilitar conquista de novos enquanto se processa a reeducação social, esse são os objetivos do 10º Passo". Inventário com clareza, objetividade, imparcialidade. O profissional possibilita espaço para catarse, esclarecimento, aprendizado, obtenção de alívio.

11º Passo: Todos os outros passos culminam na condição de meditar com as energias maiores segundo a própria concepção, de modo que, se desenvolva a concentração e intuição já citadas. Surge um vínculo maior que Carl Yung (1975 - 1961) cita como "consciente coletivo". Na região católica aprende-se como "Fonte de Água Viva", por exemplo. Treinar o "parar para pensar" condicionado à confirmação consciente da necessidade de aceitar suas limitações.

12º Passo: Corresponde à distribuição de todos os novos conhecimentos, expe-riências, vivências da nova qualidade de vida em todas as atividades seja do cliente como do profissional. Ambos imbuídos da assertividade de suas próprias vivências: é o chamado despertar - motivação básica  que orienta e impulsiona todas as ações do indivíduo. Trata-se de uma recuperação e resgate espiritual.

Lembrete:

O médico desempenha papel importante:

- Falta aos médicos: Identificação do alcoolista;

- Tratamento das síndromes clínicas / psiquiátricas associadas ao etilismo;

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- Condução do processo de desintoxicação;

- Encaminhamento aos programas de reabilitação;

- Aconselhamento dos pacientes quanto ao tratamento hospitalar/ambulatorial;

- Regular o tratamento medicamentoso durante a reabilitação.

- Diagnosticar os problemas relacionados ao uso do álcool com freqüência, em todas as especialidades, principalmente nos estágios inicias.

- Reconhecer o abuso do álcool como sendo problema primário.

- Conhecimento e treinamento específicos.

- Programas de treinamento formal em alcoolismo educação médica continuada.

Para encerrar, conto uma história:

Jesus foi procurado por um seguidor no Mar da Galiléia que lhe perguntou o que deveria fazer para seguir o caminho do mestre já que, os milagres ele, seguidor, via como muito longe de suas possibilidade.

Jesus respondeu com a oração do Pai Nosso.

Paralelo dos 12 Passos de A.A. com o Pai Nosso:

1º Passo: Admitimos que éramos impotentes perante o álcool e que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas:

O sinal para a chamada: “Pai nosso que estais nos corações, nos céus, santificado seja o vosso nome”.

2° Passo: Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolvermos a sanidade.

“Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como no céu".

3º Passo: Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos:

“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.  Lema: Só por hoje.

4° Passo: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos:

“Perdoai as nossas ofensas”.

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5° Passo: Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas:

6° Passo: Prontificamos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7° Passo: Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8° Passo: Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

“Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

9° Passo: Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sem-pre que possível salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10° Passo: Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

“E não nos deixeis cair em tentação”.

11 ° Passo: Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos rogando apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade.

“Mas, Livrai-nos do mal”

12º Passo: A finalidade, o resultado de todo este processo: Tendo experimenta-do um Despertar Espiritual graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem e praticar estes princípios em todas as atividades. Os 12 Passos na Espiritualidade que dão força a cada pessoa para viver bem e estar bem, um dia de cada vez:

1° Passo: Honestidade

2° Passo: Esperança

3° Passo: Fé

4° Passo: Coragem

5° Passo: Integridade

6° Passo: Boa Vontade

7° Passo: Humildade

8° Passo: Autodisciplina

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9° Passo: Amor

10° Passo: Perseverança

11° Passo: Espiritualidade

12° Passo: Serviço

Bibliografia:

1 Compartilhando a Sobriedade JUNAAB- Jan.2003.

2 Você e o Alcoolismo Ricardo Esch Qualitymark Editora 1991.

3 "Cérebro Viciado" Eric Nestler / Robert Malenka Schientific American Ano 2

Abr, 2004 P. 56 63

Fonte: Revista Vivência nº 110

Dr. Bernard Smith

Este advogado de New York serviu como Custódio e Presidente da Junta de Serviços Gerais de 1951 a 1956.

Sua imensa boa vontade e ajuda direta foram indispensáveis para o progresso de A.A.  Em 1955 proferiu a palestra a seguir por ocasião do Vigésimo aniversá-rio de A.A

Há pouco tempo, eu estava voando sobre os desertos de nosso sudoeste. Aqui e ali, saindo quase do nada, havia pequenos trechos viçosos de vegetação, ro-deados de enormes extensões de deserto pardo, sem vida. Comecei a pensar nas grandes fontes dagua situadas nesse grande deserto que, se drenadas, levariam o deserto inteiro a florescer.

E pensei que Deus fornece a água, mas temos que cavar os poços. Comparei aqueles trechos viçosos, verdes, com os grupos de A.A. onde, com a fé extraída dos Doze Passos, cavamos os poços que fizeram com que os trechos no deser-to da vida florescessem. E refleti que temos aprendido que nós, sozinhos, pão poderíamos transformar o deserto no qual vivíamos; não poderíamos cavar a-queles poços sozinhos, porque em A.A. o todo é verdadeiramente maior do que a soma de todas as suas partes.

Os grupos desta Irmandade extraem, de cada um, muito mais do que qualquer um sozinho pode dar. Cada um, por sua vez, extrai do reservatório espiritual da Irmandade a coragem e a vontade, as quais os fazem mais fortes e a Ir-mandade maior.

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As verdades que emergem de uma sociedade materialista são determinadas, em certas ocasiões, a ser paradoxais. Consideremos, por exemplo, esta sim-ples afirmação:

"Eu sou um alcoólico."

A primeira vez que um homem ou uma mulher põe-se diante de nós e diz: "Eu sou um alcoólico", ele/ela pronuncia essas palavras quando já não está toman-do bebida alcoólica. Assim, quando chega o momento em que os membros se descrevemcomo alcoólicos, a sociedade deixa de olhá-los assim. Mas é somen-te no momento em que um membro pára de beber que ele afirma ter o direito de descrever-se como um alcoólico.

Quando os alcoólicos vivem de forma materialista e bebem excessivamente, e-les recusam aceitar a qualificação de "alcoólico". Mas quando eles param de beber e dizem para si mesmos e para o mundo, "Nós somos alcoólicos", o mundo recusa-se a vê-los assim.

O que um mundo irrefletido pode considerar como derrota, os alcoólicos em A.A. conhecem como um triunfo do espírito, um triunfo de humildade sobre o falso orgulho e o egocentrismo. Poucos seres humanos, em qualquer ocasião, têm a coragem de colocar-se diante de seus semelhantes e, com humildade, descrever-se verdadeiramente, dizendo:

"Isso é o que eu realmente sou."

Há dois momentos em que a declaração das palavras: "Eu sou um alcoólico" tem um grande significado.

Um deles é quando pela primeira vez um membro pronuncia essas palavras numa reunião de A.A.

Há, entretanto, uma outra ocasião anterior que talvez seja de muito maior sig-nificado. É o momento em que um homem diz a seu padrinho, na escuridão e desespero de sua alma:

"Eu sou um alcoólico." E esse momento indica um outro paradoxo em AA. O paradoxo é que o membro de A.A. aproxima-se de seu companheiro alcoólico sofredor, não com a superioridade e força de sua posição de recuperado, mas com a compreensão de sua própria fraqueza.

O membro fala ao recém chegado, não com espírito de poder, mas com espíri-to de humildade e fraqueza. Ele não fala da desorientação que tem o alcoólico que ainda sofre; fala da desorientação que teve no passado. Não se coloca co-mo juiz de outra pessoa, mas como juiz de si mesmo.

A sociedade, ao referir-se ao alcoólico, usa a expressão "o escravo do álcool".

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Para o membro de AA, essa afirmação é também paradoxal num sentido muito especial, no caso de ser verdade. O fato é que o membro nunca foi escravizado pelo álcool.

O álcool simplesmente serviu como uma fuga da escravidão pessoal para os falsos ideais de uma sociedade materialista.

Entretanto, se aceitamos a definição da sociedade do estado anterior do alcoó-lico como de escravidão pelo álcool, o membro de A.A., não pode continuar res-sentido, porque isso tem servido para livrá-lo de todas as armadilhas materia-listas colocadas em todos os caminhos que atravessam a selva de nossa socie-dade.

O alcoólico teve primeiro que encarar o materialismo como uma enfermidade da sociedade, antes de poder se libertar da doença do alcoolismo e libertar-se dos males sociais que fizeram dele um alcoólico. Os homens e mulheres que usam o álcool como uma fuga não são os únicos que têm medo da vida, que são hostis para com o mundo, que fogem dele para viver em solidão.

Milhões que não são alcoólicos estão vivendo hoje em dia em mundos de ilu-sões, alimentando as ansiedades e inseguranças básicas da existência huma-na, em vez de enfrentar sua própria situação com coragem e humildade. Para essas pessoas, A.A. pode oferecer uma cura que não é uma poção mágica, uma fórmula química ou uma droga poderosa, mas pode mostrar a elas como usar as ferramentas da humildade, da honestidade, da dedicação e do amor, que certamente são o coração dos Doze Passos de A.A. para a recuperação.

Há ainda uma outra afirmação paradoxal da sociedade humana que se aplica especialmente a A.A. Essa afirmação é como diz o ditado: "Uma corrente é tão forte quanto seu elo é fraco."

A conotação aceita é a de que uma corrente é forte somente se ela não tiver e-los fracos.

O paradoxo dessa afirmação, aplicada a AA, é de que, em A.A, a corrente é tão forte quanto seu elo é fraco, porque a interminável corrente de AA. cresce em força, na medida em que ela é capaz de alcançar os elos fracos, que são os homens e mulheres alcoólicos que ainda sofrem a nosso redor. Nessa verdade paradoxal, descansa a certeza da sobrevivência da Irmandade.

A perpetuação de A.A. está fundamentada na assim chamada fraqueza daque-les seres humanos, que fogem das bases materialistas da sociedade, através do álcool.”

Dr. Lais Marques da Silva

 

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Nascido em 29 de junho de 1933, na cidade do Rio de Janeiro, formou-se em Medicina na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em 1959. Tra-balhou no Instituto Nacional de Câncer durante seis anos e no Pronto Socorro do Hospital Getúlio Vargas durante dois anos. Entrou para o Corpo de Saúde da Marinha do Brasil, tendo passado para a reserva no posto de capitão de mar e guerra, no ano de 1989. Entre outras funções, foi chefe dos departamentos de saúde do Navio Aeródromo Minas Gerais e da Base de São Pedro, vice diretor dos hospitais Nossa Senhora da Glória e Marcílio Dias, tendo criado uma unida-de de recuperação para dependentes químicos na Unidade Integrada de Saúde Mental. Foi condecorado com as medalhas do Mérito Tamandaré e do Mérito Naval. Fez curso Superior e de Política e Estratégia Marítima na Escola de Guer-ra. Fez curso de Medicina de Aviação na School of Aviation Medicine, Florida, USA, na Naval Air Station, US Navy. Fez curso de pós  graduação em Anestesio-logia e em Administração Hospitalar. Foi conselheiro do Conselho Estadual de Entorpecentes. Foi, por nove anos, diretor do Hospital da Missão de São Pedro e membro do Conselho de Cultura do Município de Cabo Frio. Iniciou as ativi-dades em Alcoólicos Anônimos em 1973 tendo participado da fundação de gru-pos de A.A. na Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro. Desempenhou atividade contínua junto à Irmandade desde o ano de 1973, tendo participado das atividades comemorativas dos 40 Anos do A.A. no Brasil. Foi eleito Custó-dio não alcoólico em 1988 e exerceu as funções de Vice Presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil por três anos e de Presidente por seis anos, até 1997, ano do Cinqüentenário do A.A., no Brasil. Participou, como delegado do A.A. do Brasil, na XI Reunião Mundial de Alcoólicos Anôni-mos, realizada em Nova York, em 1992.

Dentre os inúmeros trabalhos realizados para Alcoólicos Anônimos, destaca-mos:

DA DESONESTIDADE ÀS VIRTUDES

Desonestidade, manipulação, negação, racionalização, projeção. Essas são, u-sualmente, realidades por demais conhecidas dos alcoólicos, quando na ativa.

O alcoólico na ativa costuma negar, racionalizar e projetar. Negação é simples-mente o ato de negar. Por meio da racionalização procura explicar o inexplicá-vel ao elaborar raciocínios sobre falsas razões com o intuito de justificar. Já a projeção é um mecanismo de defesa que consiste em projetar impulsos, con-flitos internos. Em considerá-los como provenientes de outrem ou, de forma mais geral, do mundo exterior.

Pensar e agir dessa forma conduz a um comportamento dominado pela deso-nestidade e pela constante manipulação de fatos e de pessoas. No entanto, estando sóbrio, o alcoólico quer saber o que é bom. Fazer o que é certo, servir ao que é justo, ou seja, fazer a coisa certa. Embora sejam metas que exigem esforço, persistência e determinação, é comum encontrar companheiros que lutam por “fazer a coisa certa”.

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Estando sóbrio, ironicamente, ele precisa vencer a sensação que às vezes ocorre de que a vida no alcoolismo é mais divertida que na virtude. Mas as atitudes viciosas fazem as coisas funcionarem mal en-quanto que a virtude sustenta o bem estar e é o fundamento de uma vida feliz e plenamente realizada.

Então, vamos tratar do oposto, ou seja, da: verdade, fidelidade, integridade e fé. Todos intimamente interligados.

O que vamos tratar é abstrato e árido, mas vai ao mistério profundo da nossa vida interior mais secreta e à origem dos nossos atos externos. Em algum mo-mento das nossas vidas, temos que voltar a nossa atenção para dentro de nós mesmos porque descobrimos que a felicidade não depende dos bens materiais que possuímos, dos relacionamentos que temos ou das nossas realizações.

VERDADE

Os mitos são um modo muito rico de abordar aspectos complexos e multidi-mensionais da natureza humana. O mito de Orestes mostra claramente a ne-cessidade e a importância da verdade, da verdade completa e não da meia verdade, que ainda é uma mentira, para se poder desfrutar de boa saúde mental.

O Mito de Orestes

Orestes era filho de Agamenon e de Clitemnestra. Com a Guerra de Tróia, hou-ve o longo afastamento do lar por parte de Agamenon. Clitemnestra havia so-frido um trauma intenso com o sacrifício de Ifigênia, quando da partida da es-quadra para Tróia. Estando Agamenon ausente, Clitemnestra se junta ao a-mante, Egisto, e os amantes assassinam Agamenon quando do seu regresso à pátria. Orestes fica, então, com um terrível e insolúvel dilema: a maior obriga-ção de um jovem grego era vingar o pai assassinado e a pior coisa que um jo-vem grego poderia fazer era assassinar a sua mãe. Orestes matou a mãe e o amante e foi penalizado pelos deuses do Olimpo com as Fúrias, que eram 3 Hárpias, que continuamente o rodeavam e tagarelavam no seu ouvido, causan-do-lhe alucinações e levando-o à loucura. Orestes corre mundo mas, sendo sempre perseguido, pediu um novo julgamento aos deuses para que a sua pe-na fosse aliviada. O deus Apolo fez a defesa de Orestes e disse no julgamento que todo o fiasco não era senão a culpa dos próprios deuses que não deram a Orestes nenhuma melhor escolha e que, assim, ele não poderia ser considera-do culpado.

Os deuses concordaram, mas Orestes se levantou e, opondo-se a Apolo, disse que tinha sido ele mesmo quem havia matado a mãe e não os deuses e por isso era culpado. Nunca, antes, ninguém tinha sido tão verdadeiro a ponto de, tendo sido passada a culpa aos deuses, afirmar que a culpa era realmente sua.

Em razão deste fato, os deuses resolveram suspender a pena de Orestes e as Fúrias foram substituídas pelas Eumênides, cujo nome

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significa "portadoras da Graça". Não eram mais vozes tagarelantes, irritantes e negativas, mas sim vo-zes de sabedoria.

Este mito mostra a transformação da doença mental em extraordinária saúde e a verdade é o preço de tão maravilhosa transformação.

O grupo de A.A. é o local de encontro com a verdade.

A verdade tem vitalidade, tem vida própria, do mesmo modo que a unidade tem poder.

A freqüência aos grupos é indispensável. Notamos que muitas pessoas esque-cem os princípios, que não os aprendem bem ou os aplicam de modo deficien-temente de modo que não são transformados em hábitos regulares e formas de pensamento habituais. Ao longo do tempo, perdem a motivação e a inspira-ção e param de tentar. A motivação é como o fogo; as chamas se apagarão se o fogo não for alimentado.

A verdade de quem escuta ajuda a quem faz o depoimento a encontrar a sua verdade, fundamento da recuperação.

A qualidade de ser alcoólico. Essa é a característica que permite que quem es-cuta um depoimento seja capaz de compreender, de aceitar o que é relatado, de não julgar.

Coragem por parte do companheiro e compreensão por parte dos membros do grupo são essências para uma perfeita comunicação.

Um depoimento enriquecedor só é possível num ambiente sentido como sendo seguro, isto é, em que haja compreensão, não censura, não julgamento, ne-nhum comentário posterior. Mas em que haja empatia e a experiência prévia dos seus membros não os leve a se escandalizar.

Não importa como chegamos ao Programa de Recuperação, de crescimento es-piritual. A verdade é que ele sempre esteve aqui, esperando por nós.

FIDELIDADE

Analisemos o oposto, isto é, a infidelidade que é a incapacidade de sermos fi-éis a nós mesmos, ao que pensamos, ao que amamos, ao que dissemos, ao que prometemos. A infidelidade é como uma rachadura num dique, termina em avalanche.

É um inimigo insidioso do ser humano no plano psíquico e ainda mais destrui-dor nos planos intelectual e espiritual, onde o equilíbrio é indispensável à felici-dade.

Ser infiel implica na autodestruição invisível da nossa unidade pessoal.

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Quem não é fiel coloca-se abaixo da sua própria humanidade e uma das mai-ores alegrias que se pode ter está em ajudar as pessoas entenderem e desen-volverem a sua própria humanidade.

A esse respeito, a história do profeta Jonas é muito ilustrativa. A palavra Jonas vem de iona, que quer dizer a pomba de asas cortadas. Jonas foi chamado pa-ra Nínive, onde muita coisa ruim estava acontecendo e a cidade caminhava pa-ra a destruição. Mas não acreditou nele mesmo, não foi fiel ao seu compromis-so e resolveu ir a passeio para um outro lugar, atendendo ao convite sedutor da fraqueza. Isso fez com que ficasse doente pois não estava em paz, não es-tava bem consigo mesmo. O fato de não estar em paz adoece as pessoas. A doença é um fax que recebemos e é preciso entender o que está acontecendo quando se fica doente. O problema surge quando nos desviamos do nosso ca-minho, quando nos desviamos da nossa fé. Mas veio a tempestade, que ocorre sempre que não se está bem consigo mesmo, com a própria consciência, com quem não tem integridade. Foi jogado ao mar e, já na barriga da baleia, re-conheceu que havia fugido da palavra dada, do compromisso e decidiu reassu-mi-lo novamente. Depois, foi jogado na praia e podemos entender este fato como o início de uma nova vida.

Temos que vencer o nosso Jonas interior, ser fiel ao que pensamos, acreditar no que somos e agir com integridade.

Fidelidade à palavra é uma prova de caráter. A prova oral sendo mais impor-tante do que a escrita.

Fidelidade é coerência, é permanência. Ser fiel é ir do não ser para o ser. É permanecer no ser. É essencial para a coesão da personalidade.

A fidelidade é a virtude socrática por excelência, "conhece-te a ti mesmo". O passado e o futuro são plásticos e podem ser modelados pela memória en-quanto que o presente é obtuso e obstinado, o presente simplesmente é.

A fidelidade é o caminho natural para a fé, suprema virtualidade transcenden-tal, para o encontro da verdade.

A fidelidade não é a nota típica ou dominante na onda do relativismo pessoal, intelectual, moral ou político que está corrompendo a nossa civilização.

INTEGRIDADE

Ser íntegro é ser inteiro. Ou seja, é não estar dividido internamente. A divisão gera tensão e instabilidade emocional. Sem integridade não há paz interior. E mais, a integridade é o fundamento da autenticidade.

Significa pensar, dizer e fazer uma só coisa. Significa coerência nos três planos. Coerência entre pensamentos, atos e palavras.

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A integridade é o estágio final do desenvolvimento psicossocial do indivíduo e resulta de uma autodisciplina, da verdade interior e da decisão inabalável de ser honesto nas nossas respostas a todas as situações de vida.

O turbilhão interior se desfaz e estamos em paz interior quando optamos por viver vidas plenas de verdade.

É na paz que encontramos todas a verdades. Todas as escolhas e decisões são muito mais fáceis quando nos comprometemos em viver com total honestida-de. O fato de desenvolvermos valores permanentes é fundamental para nos ancorar, para nos dar estabilidade emocional e psíquica.

Cuide da sua integridade, ela é parte permanente de você. É um componente importante da autoestima e da autoimagem. A integridade dos pais é o fun-damento do respeito dos filhos. A integridade no casamento assegura o mais profundo sentido de confiança e de comprometimento, o solo perfeito para o crescimento do amor. A integridade no relacionamento entre amigos assegura uma condição que é essencial para a vida. A integridade no trabalho assegura o respeito permanente. A despeito de grande tentação, tente não se desfazer da sua integridade. A perda da integridade leva à vergonha, ao desgaste do espírito, mais do que à culpa.

FÉ – Definição no dicionário Aurélio

1)      Crença religiosa. De tanto sofrer, perdeu até a fé.

2)      Conjunto de dogmas e doutrina que constituem um culto. Fé muçulmana, fé católica.

3)      A primeira virtude teologal. Adesão e anuência pessoal a Deus, seus de-sígnios e manifestações.

4)      Firmeza na execução de uma promessa ou de um compromisso.

5)      Crença, confiança.

6)      Assunção de algum fato.

7)      Testemunho autêntico que determinados funcionários dão por escrito acerca de certos atos, e que tem força em juízo.

Fé conjugal – fidelidade conjugal.

Fé de ofício – a fé que se funda na honra do cargo ou da profissão de quem atesta ou abona.

Fé pública – presunção legal de autenticidade, verdade ou legitimidade de ato emanado de autoridade ou de funcionário devidamente autorizado, no exercício de suas funções.

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DESENVOLVIMENTO

A fé é uma atitude inteira do ser que inclui tanto a vontade quanto o intelecto, dirigida a uma pessoa, a uma idéia ou, no caso de uma fé religiosa, a um ser divino.

Os teólogos modernos enfatizam o caráter total e existencial da fé e fazem u-ma distinção da concepção popular que a identifica como crença, em oposição aconhecimento. A fé inclui a crença, mas vai muito além.

A descrição mais clara do que é a fé, contida no Novo Testamento, está em Hebreus 11:1 em que a fé é proclamada como sendo o firme fundamento “das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem”. Aqui, a palavra fé denota o ato de confiar, de acreditar”. O Novo Testamento amplia o antigo conceito hebraico da fé como a qualidade de estabilidade e de confiança em que se assenta a relação entre dois seres viventes. No Novo Testamento a fé está no centro da relação do crente com Jesus Cristo, mas vai além no conceito de “acreditar em” ou de “acreditar que”.

Nem todos os cristãos acreditam que as exigências da fé são compatíveis com as da razão. São Paulo e o teólogo Tertuliano insistiram em que a fé parece tola aos olhos daqueles que não se abriram para a Graça de Deus. Nessa linha, o filósofo holandês Kierkgaard identificou um abismo que separa a razão da fé e afirma que aquele que se propõe ser uma pessoa que crê, deve dar o “salto da fé” por sobre o abismo para obter a salvação. Abraão, ao se dispor a sacri-ficar o seu filho, dá o “salto da fé”, que o leva de uma atitude ética para uma atitude religiosa. Obedece a ordem de Deus sem a entender e não procura as suas razões, aceitando-a cegamente porque tem fé. De um modo geral, os teólogos protestantes modernos enfatizam, como Kierkgaard, o aspecto subje-tivo e individualista da fé e se concentram no risco e no esforço moral dos que tentam levar uma vida na fé, mais do que na aceitação das crenças como uma expressão de fé.

Uma pequena história pode servir para entender o que é a fé:

Certa vez, chegou a uma cidade um equilibrista que se propunha a, caminhan-do sobre um cabo de aço, atravessar do alto de um edifício para outro, passan-do por cima de uma rua. No dia e hora marcados, uma multidão se reuniu no entorno de onde ia acontecer o espetáculo. Estendido o cabo, o equilibrista, u-sando um bastão, mostrou toda a sua habilidade ao atravessar por cima da multidão, indo de um edifício a outro. O povo aplaudiu e ele então se propôs a atravessar de volta mas só que sem o uso do bastão.

Era uma temeridade. Isso foi anunciado ao povo, que ficou perplexo pois era uma temeridade, uma morte quase certa. Mas o equilibrista atravessou perfei-tamente e sem nenhuma hesitação. Era um equilibrista exímio, extremamente bem dotado, um campeão que se mostrava com toda segurança para o imenso público. Então, um

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anunciante, usando um aparelho de som, disse que o equi-librista iria passar de um lado para o outro levando um carrinho de mão por so-bre o fio e perguntou ao povo se eles achavam que ele conseguiria. O povo se manifestou dizendo que sim, tendo em vista a fantástica habilidade demons-trada até então.

O anunciante perguntou se o povo tinha certeza e o povo gritou que sim. Aí ele perguntou novamente se o povo tinha realmente certeza e o povo gritou outra vez mais que sim. Então o anunciante pediu que, diante de tanta certeza, que um voluntário subisse para entrar no carrinho de mão que seria levado sobre o cabo de aço. Ter fé é entrar no carrinho.

A REALIDADE DOS NOSSOS DIAS

Vivemos num mundo que nos induz a duvidar. Recebemos diariamente uma grande quantidade de informações e acabamos por adotar uma atitude, sauda-velmente cética, que nos leva a indagar sobre onde querem nos levar e sobre o que ganham as pessoas que participam deste contexto. Mas não podemos du-vidar de tudo. As pessoas precisam acreditar em alguma coisa, mesmo que im-provável, e é por isso que os cultos e as causas sociais são abundantes nos dias de hoje. Deste modo, a fé também é abundante num mundo de corrupção e de cinismos espalhados por toda parte. Isso porque a fé é uma afirmação do valor humano e por esta razão é saudável, sendo felizes os que têm uma sóli-da fé e um bom julgamento.

A fé não é alguma coisa que se mostra dentro de um modelo de certo ou erra-do, como uma aposta. É um ato, uma intenção, um projeto. A fé é algo que faz saltar para o futuro, avançar, que lança para muito além do tempo em direção à eternidade, que não é o fim dos tempos ou um tempo imenso e infinito, mas sim o eterno.

É surpreendente que algumas pessoas consigam viver o dia de hoje sem se preocupar com o futuro ou lamentar o passado entendendo que esses são dois dias sobre os quais não podem fazer nada: o amanhã e o ontem. A maior par-te das pessoas gosta de fantasiar sobre esses dois dias. Aí pensam, que teria acontecido se Napoleão tivesse morrido de pneumonia quando criança? Ou via-jam numa imaginaria máquina do tempo em direção ao futuro. Mas isso não leva a nada e é preciso acordar para o fato de que passado e futuro são inven-ções nossas e a única realidade é o presente. É verdade que o passado contri-bui para o hoje e o hoje contribuirá para o futuro, mas não podemos fazer na-da acerca deles porque simplesmente estão fora do nosso alcance.

O que se observa, no entanto, é que os que têm uma fé vigorosa são os que são mais aptos a viver o momento presente. Viver o presente e cuidar da qua-lidade da vida que se leva são uma atitude de fé na própria vida. O presente é valioso e a fé nos ensina que ele é tudo o que temos.

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A verdade é que somos nós que temos em mãos “os pinceis e as tintas” e podemos pintar o paraíso e ir para dentro dele. Podemos saudar o nosso dia com um sorriso de confiança e descobrir que ele contém uma grande promes-sa, da mesma dimensão da nossa capacidade. Podemos entender que é me-lhor viver com fé e sem a sensação de culpa, tendo o reino dentro de nós, rei-no significando ter um espírito em paz. Isso a partir da simples constatação de que quando estamos felizes, nos sentimos abençoados. No entanto, duvida-mos de que seja possível viver assim, com esperança e alegria e, sobretudo, sem arrependimento, sem medos, sem culpa na consciência. Mas, quando aprendemos a nos amar e a nos aceitar porque somos bons, aquele reino se torna nosso. A fé com que vivemos é pacífica, cheia de esperança, e tem origem na bondade do nosso espírito.

Kierkegaard

Tido como o fundador do moderno existencialismo, reagiu contra o idealismo absoluto de Hegel que dizia ter desenvolvido um entendimento racional total da humanidade e da história. Kierkegaard enfatizou a ambiguidade e o absur-do da situação humana. A resposta a isso consiste em viver inteiramente devo-tado à vida e este comprometimento só pode ser entendido por quem fez a o-pção. O indivíduo deve sempre estar preparado para desafiar as normas da sociedade, para ter a mais alta autoridade de uma maneira pessoalmente vá-lida da vida. Defendia o “salto da fé” para uma vida cristã que, embora incompreensível e cheia de risco, era o único compromisso que ele acreditava poder salvar o indivíduo do desespero.

Conclusão

O conhecimento da verdade, a prática da fidelidade e a construção de uma personalidade íntegra, são os fundamentos para o desenvolvimento de um nú-cleo de valores interiores e de crenças, estável e imutável, que é o alicerce da fé. Esse núcleo é de importância fundamental para nossa existência porque vi-vemos num mundo de mudanças explosivas que se constituem em solo fértil para o aparecimento da incerteza, da insegurança e da ansiedade.

Os seres humanos precisam acreditar e, por isso, são muitos os cultos religio-sos e as causas sociais. Ter fé é saudável e se constitui numa afirmação de valor, ao mesmo tempo em que oferece a sensação de continuidade.

Em A.A., muito da alegria e da felicidade que as faces expressam está em viver neste mundo com fé e sem a sensação de culpa.

Com a fé vem, naturalmente, a crença em si mesmo, indispensável para rea-lizar alguma coisa, para construir uma boa auto imagem e para viver uma sólida autoconfiança. Devemos estar mais atentos para o que somos do que para a quantidade do que fazemos.

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O círculo se completa com o fato de que, tendo fé, melhor se pode identificar a verdade.

Fidelidade e fé são valores espirituais. Com eles aumenta o nosso nível de consciência e cresce a nossa humanidade.

A fé é um ato, uma intenção, um projeto, algo que projeta para o futuro, para longe, para frente, para além do tempo, para a eternidade.

Há dois dias em que nada podemos fazer. Eles são: ontem e amanhã. Passado e futuro são invenções e estão fora do nosso alcance. A única rea-lidade é o presente, ele é tudo que nós temos. Mas as pessoas não agem em conformidade com esse entendimento. E as pessoas que têm fé são as melhor dotadas para viver o momento presente.