AVALIAÇÃO
DISCIPLINA: CRÍTICA LITERÁRIA
PROFESSOR: LUIS EUSTÁQUIO SOARES
ALUNO: ANA CRISTINA ALVARENGA DE SOUZA
LIMA, Luiz Costa. “Estruturalismo e crítica literária”. In: Teoria da Literatura em suas fontes. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2002. p. 777-815.
Tendo em vista o texto Estruturalismo e crítica literária, respondam, com um mínimo de 5 linhas, as seguintes questões:
1. Quais as origens do estruturalismo e por que a fonologia, no âmbito da linguística, o inspirou?
2. O que pode ser chamado de mathema estruturalista e de que modo este tem na comparação e na
relação a base para a sua constituição infinita?
3. De que modo o mathema estruturalista pode contribuir para a análise literária? 4. Qual a
contribuição de Claude Lévi-Strauss para o estruturalismo e o que é, segundo este, o inconsciente
estrutural? 5. Como assinalado por Luiz Costa Lima, relativamente ao inconsciente estrutural de
Lévi-Strauss, por que a história foi recusada em nome da estrutura?
6. O que é o fetichismo estruturalista?
7. A incorporação da Teoria da Recepção, como um modo de resgatar a história no quadro do
pensamento estruturalista resolve o problema do fetichismo estrutural?
8. Qual a diferença do fetichismo da forma em relação ao fetichismo estruturalista?
RESPOSTAS:
Texto
As origens do estruturalismo se encontram no Curso de Linguística Geral, de Saussure, e nas
teses propostas pelo Círculo Linguístico de Praga. Foi inspirado pela fonologia, no âmbito da
linguística, a partir do trabalho do antropólogo Lévi-Strauss, que refletiu sobre o peso da “revolução
fonológica” em seu direcionamento antropológico, analisando o funcionamento do casamento como
sistema e possibilitando a apreensão de que a lógica não era privilégio de uma sociedade ou cultura,
de modo que tal raciocínio também poderia se estender a outras formas de relações. Essa análise das
culturas, a partir de conjuntos de relações, conduziu à percepção de que as mesmas também podem
ser pensadas a partir de uma estrutura.
A contribuição de Lévi-Strauss para o estruturalismo merece especial atenção uma vez que,
valendo-se da fonologia, pode constatar o poder de “imanência da relação”, demonstrando um
princípio regulador da estrutura acerca da possibilidade de se ter um valor racional sem que ele seja
concebido racionalmente e de exprimi-lo em fórmulas arbitrárias sem que seja privado de
significação. Para isso, se propôs a pensar o inconsciente fora dos parâmetros de uma biografia
pessoal, chegando ao que se pode denominar de inconsciente estrutural, ou seja, uma lógica
inconsciente (infraestrutura formal), ao invés de um vazio irracional ou a mera presença de
sentimentos e emoções. Esse inconsciente não seria oriundo de experiências e sensações sofridas
pelo indivíduo, mas estaria relacionado a uma armadura lógica e natural, sobre a qual se
estabelecem as instituições humanas e que permeia novas propostas para lidar com objetos da
sensibilidade, como o objeto literário.
É preciso considerar, no entanto, que esse inconsciente estrutural recusa o aspecto histórico
em favor da estrutura, pois, para o autor (Staruss), a história seria concernente à vivência de
determinado processo, negando tamanho prestígio conferido à dimensão temporal e questionando-a
quanto a sua situacionalidade e condicionamento pela posição do sujeito e possível caráter abstrato.
Tais aspectos contrapõem-se à estrutura, que não receberia interferência do seu observador,
justamente por sua caracterização de suficiente e absoluta
Dentro do funcionamento desse sistema, que traz consigo a sensibilidade teórica para pensar a
partir da estrutura – sendo importante para a criação e para o pensamento –, no mathema
estruturalista pode ser considerado as várias possibilidades de desdobramentos que a ideia de
estrutura carrega. Sendo o mathema um conjunto vazio, em potência, que se desdobra por conta
própria, com variáveis infinitas, a estrutura também deve ser ponderada com sendo algo em
potência e correlacionada ao mesmo no que tange aos desdobramentos. Dessa forma, ela
correlaciona-se ao mathema, também se ligando aos processos de comparações, já que pensar o
mathema estrutural consiste em fazer comparações, não se prendendo a uma única estrutura, mas
expandindo-o.
A justaposição do mathema na análise literária, portanto, implica na transposição de fronteiras
com relação ao estudo da literatura. Uma vez que ele pode ser expandido, permite o rompimento
das microestruturas nas quais os saberes literários se confinam, buscando relacioná-las e interligá-
las, considerando-as de maneira não isolada e convergindo com sua taxação de absolutas.
Essa totalidade conferida à estrutura (tudo em si mesma) pode ser aplicado ao conceito
marxista do fetichismo – para Marx, esse fetichismo foi atribuído à mercadoria, a partir de uma
personificação da mesma. No caso do fetichismo estruturalista , este ocorre quando a estrutura passa
a ser tudo, ou seja, é reificada, acarretando o niilismo, que, por sua vez, consiste em um
determinismo estrutural, que afirma a impossibilidade de alteração/mudança. Como resultado desse
fetichismo estruturalista, teve-se um estruturalismo estéril, fruto do modismo estrutural, que
também eliminava a história de sua constituição.
Em divergência a esse fatalismo da estrutura, torna-se válida a argumentação de que a
estrutura é algo produzido, logo, implica a importância do sujeito que a produz, de maneira que não
pode ser considerada isoladamente, além de que se tem história, não é absoluta. Com a incorporação
da Teoria da Recepção como forma de resgatar o componente histórico, houve uma retomada da
história a partir da figura do leitor. Entretanto, isso não deixou de consistir em outra forma de
reificação, pois o leitor é apenas parte da história, logo, apenas a sua retomada não é suficiente, uma
vez que ainda continua havendo isolamento e descontextualização.
Vale ressaltar que esse fetichismo da estrutura, no qual a mesma era colocada em evidência
primordial, diferencia-se do “fetichismo da forma”. Oriundo da teoria formalista (russa), que
defendia a primazia da forma sobre o conteúdo, havendo especial atenção a representação verbal,
essa modalidade de fetichismo tinha como centro a materialidade verbal (palavras, sons, letras,
formas gramaticais), muitas vezes, elaborada por meio de processos que tornavam sua percepção
complexa, dificultando-a. Desse modo, a análise do texto literário (poético) preocupava-se co ma
expressão e prezava que a literariedade era determinada, de fato, pela forma, acarretando isolamento
e afastamento do texto de suas finalidades de produção, o que, por sua vez, interferia na
interpretação e construção de sentido.
Muito bem, Ana. Gostei de seu ensaio. Você ousou arriscar e ao mesmo tempo se
experimentou, no pensamento. Talvez, como sugestão, um diálogo com Rancière, para pensar a
estrutura, teria possibilitado você a produzir argumentos ainda mais incisivos, inclusive com
exemplos no campo da literatura.
Conversemos sobre.
Abraço
Luis
Nota 9,0
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