Universidade Presbiteriana Mackenzie
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ESTUDO ACERCA DOS ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS DA DEPRESSÃO INFANTIL
Amanda Cadenazzi Schmitz (IC) e Izabella Paiva Monteiro de Barros (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie
Resumo
Este projeto de iniciação científica visou o aprofundamento do estudo acerca dos aspectos biopsicossociais de 21 crianças com diagnóstico de depressão. Objetivou ainda, discutir a importância da percepção dos responsáveis pelas referidas crianças no diagnóstico de Depressão Infantil (DI), assim como a importância destes durante o tratamento; discutira percepção da escola acerca do fenômeno da DI, e o tipo de intervenção que deve ser realizada. Foram ainda objetivos específicos a identificação das queixas associadas à DI e a identificação dos instrumentos utilizados no diagnóstico. Para tanto, utilizou-se 21 prontuários de pacientes do serviço escola de uma Universidade particular do estado de São Paulo que se submeteram a psicoterapia breve infantil e/ou ao processo de psicodiagnóstico. Os prontuários que compuseram a amostra foram de crianças de até 12 anos de idade, de ambos os sexos, com queixa inicial de tristeza ou depressão. A presente pesquisa documental exploratória, de caráter quanti-qualitativo, enfocou uma compreensão dinâmica do objeto pesquisado. Os resultados mostram que em muitos momentos, o sintoma apresentado pela criança surge como representante de um conflito pertinente a estrutura familiar na qual está inserida. Dessa forma, pode-se concluir que a queixa sintomatológica nem sempre é decorrente de depressão DA criança, mas sim decorre de depressão NA criança. No entanto, são relevantes os prejuízos biopsicossociais na vida do sujeito infantil, o que aponta para uma urgência em tratá-la, o que inclui preferencialmente a escuta simultânea de seus pais.
Palavras-chave: depressão infantil, desamparo, transmissão psíquica
Abstract
This undergraduate research project aims to deepen the study on the biopsychosocial aspects of 21 children diagnosed with depression. Aimed to further discuss the importance
importance of the perception of practitioners in the diagnosis of Childhood Depression (DI), as
well as the importance of them during the treatment, the discussion on the perception of the
school about the phenomenon of DI, and the kind of intervention that should be used,
identifying the complaints associated with the DI and the identification of instruments used in diagnosis. For that we used the medical records of 21 patients of the clinic school of a private university in the state of São Paulo, who underwent brief psychotherapy for children and / or the psychodiagnostic process. The charts that were part of the sample are of children under 12 years of age, of both sexes, with initial complaint of sadness or depression. This exploratory
documentary research, quantitative and qualitative in nature, focused on a dynamic understanding of the researched object. The results show that in many cases, the symptoms presented by the child appears as a indicative of a familiar structural matter in witch he or she is inserted. In that matter, we can conclude that the symptoms are not always provided from depression of the child itself. However, the biopsychosocial harms in the life of the child,
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witch indicates, a certain urgency of treatment, that includes simultaneous listening from both of their parents.
Key-words: childhood depression, helplessness, psychic transmission
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INTRODUÇÃO
O presente estudo foi pensado a partir do grande interesse sobre a depressão infantil,
despertado no contato com crianças de 0 a 6 anos em ambiente escolar. Os
comportamentos observados e a maneira como as crianças se comunicam, tem despertado
interesse por diversas temáticas infantis, abrindo um leque imenso de variedades. Dentre
elas, a depressão infantil (DI) chama atenção devido à falta de estudos e importância dada à
mesma, além da falta de preparo dos familiares na percepção, diagnóstico e tratamento da
criança depressiva. Há também questionamentos referentes à postura e encaminhamento
que devem ser adotados pelos profissionais ligados à educação frente à percepção dos
sintomas. De acordo com Arfouilloux (1995), a tristeza é tão contagiosa quanto à gargalhada
e a felicidade, interfere na capacidade de percepção dos adultos com relação à
possibilidade de as crianças sofrerem de depressão.
O projeto apresenta grande relevância social, já que a depressão infantil é um tema atual
que vem ganhando destaque com o passar dos anos e que merece devida atenção. De
acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos próximos vinte anos a
depressão se tornará a doença mais comum do mundo, afetando a população mais do que
qualquer outro problema de saúde. Além disso, a depressão é considerada uma epidemia
silenciosa que atinge mais de 450 milhões de pessoas. Existem muitos estudos e pesquisas
sobre o tema, porém pouco tem se estudado sobre a incidência na infância. Até o presente
momento, se desconhecem pesquisas que se propuseram buscar aspectos biopsicossociais
da depressão infantil, pautadas pela valorização do acesso às informações de diagnóstico,
com intuito de proporcionar o aumento na qualidade de vida infantil. É por esse motivo que o
aprofundamento dos conhecimentos referente às características biopsicossociais de
crianças com diagnóstico da depressão, faz parte dos objetivos deste trabalho.
REFERENCIAL TEÓRICO
A criança entre 0 e 12 anos de idade: um breve recorte dos principais aspectos do
desenvolvimento
De acordo com Gesell (1998), é dos 0 aos 4 anos que ocorrem os maiores progressos na
vida infantil, é neste período que a criança avançará mais rápido em sua vida. Nesta fase os
avanços tendem a diminuir e as diferenças entre uma idade e outra já não são mais tão
perceptíveis. Aos 5 anos de idade a criança já desenvolve sua individualidade e o gosto pelo
brincar. É a fase da concentração. A figura da mãe é representativa e de grande
importância. O sexto ano representa a idade de transição, em que ocorrem modificações
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psicológicas e somáticas. Juntamente com os novos sentimentos aparece o interesse pelo
social. Nesta fase de dispersão, a criança apresenta comportamentos difíceis e explosivos.
Aos 7 anos inicia-se um período de calmaria, fase da reflexão, em que há entusiasmo e
energia. Quando chega aos 8 anos, a criança já apresenta um nível maior de maturidade,
continua sendo expansiva e comunicativa. Seu desenvolvimento psicomotor mostra-se
acelerado nesta fase. Demonstra facilidade em ser magoada e detesta ficar sozinha durante
as brincadeiras. Aos 9 anos, apresenta segurança, automotivação e aproveita o momento
para o aperfeiçoamento. Tenta reafirmar sua individualidade e apresenta sentimentos
quanto a isso. Está emotivamente mais sensível e mais sensata. Aos 10 anos, demonstra-se
calma e receptiva a informações sociais. A partir desta fase o desenvolvimento mantém-se
contínuo, porém não ocorrem mudanças tão significativas como anteriormente.
De acordo com Palangana (2001), Piaget divide o desenvolvimento em quatro períodos,
sendo esses: sensório motor (0 a 2 anos), pré-operacional (2 a 7 anos), operações
concretas (7 a 12 anos) e operações formais (12 anos em diante). No período sensório
motor a criança começa a diferenciação entre aquilo que lhe é próprio e aquilo que é do
ambiente, adquire noção de causalidade, espaço e de interação com o meio. No período
Pré-operacional acontece o desenvolvimento da capacidade simbólica e observa-se uma
conduta egocêntrica. No terceiro período surge a tendência à socialização e ocorre o
desenvolvimento da capacidade lógica. No último período que inicia-se aos doze anos de
idade, ocorre a utilização da linguagem como instrumento para elaboração de hipóteses.
Segundo Zimerman (1999) Freud divide o desenvolvimento nas fases oral, anal, fálica e
latência. A fase oral compreende o primeiro ano de vida da criança e caracteriza-se pela
libido oral e por suas gratificações. A Fase anal compreende o segundo e o terceiro ano de
vida, nesta fase a criança desenvolve sentimentos sádicos e masoquistas, além de noções
de poder e pertencimento. A fase fálica é caracterizada pela ocorrência da masturbação, da
curiosidade sexual e do complexo de Édipo. A última fase ocorre após os seis anos de idade
caracteriza-se pela repressão da sexualidade infantil e no reforço das aquisições do ego. É
no ultimo período que a formação do caráter do sujeito é consolidada.
O ambiente da criança: Família e Escola.
Gabarino (apud SHAFFER, 2005), coloca a família como unidade básica da experiência de
um ser humano. De acordo com Gesell (1998), as relações familiares são de extrema
importância na formação inicial da personalidade da criança.
Diversos aspectos da relação familiar foram verificados por Cohen e Marcelli (2009).
Segundo os autores ocorre freqüentemente a verificação positiva de antecedentes de
depressão nos pais, mais freqüentemente nas mães. Tais antecedentes e posterior sintoma
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na criança constituem um interjogo que pode ser explicado a partir dos mecanismos de
projeção e identificação caracterizando assim uma zona de mutualidade psíquica. Além
disso, pode-se verificar a relação dos sintomas depressivos na criança com a excessiva
severidade educativa e algumas condições em particular que vão a favor do
desenvolvimento da instância do superego de forma rígida e auxiliam na construção de um
estado depressivo.
No entanto, de acordo com Yoshida e Mito (2004), a identificação projetiva da mãe faz com
que a criança admita para si aquilo que é projetado sobre ela, tratando-o como seu, com
intuito de garantir o amor materno. As autoras acreditam serem decorrentes da relação com
a mãe os possíveis transtornos que a criança possa desenvolver. Além disso, afirmam que a
história dos pais tem estreita relação com a sintomatologia que a criança apresenta
atualmente.
Para Lacan (1969), a transmissão psíquica não passa de uma relação estabelecida com a
criança e com um desejo que não é seu, porém não é anônimo. Para Cramer (1974 apud
YOSHIDA; MITO, 2004), a transmissão transgeracional se aplica como base para que a
organização da personalidade infantil aconteça, frente à herança psíquica, aos valores
familiares e culturais.
DEPRESSÃO: Sintomatologia
O termo depressão tem sido utilizado para indicar um estado emocional, um sintoma, além
de ser utilizado também para nomear uma síndrome ou uma doença. (DEL PORTO, 1999).
Segundo Delouya (2001), o termo vem do latim, DE (para baixo) PREME (pressionar),
representando que o sujeito acometido, está pressionado para baixo. O estado deprimido é
representado por um momento em que a própria aparência humana se abranda (BUENO,
2002). Kehl (2003), afirma ser a depressão comparável a uma “dor de viver” que ocorre
frente um tempo que não cessa. De acordo com Delouya (2002), a representação que o
perigo tem perante a angústia é a mesma que a perda tem perante a depressão.
Segundo Del Porto (1999), a tristeza se caracteriza como uma resposta do sujeito frente a
situações que envolvam alguma adversidade, como a perda. O autor afirma ainda, que as
reações denominadas de luto que ocorrem como reação às situações de perda de entes,
caracterizam-se por uma tristeza profunda.
Freud (1917), em seu texto “Luto e Melancolia” quando define o luto, fala de uma perda de
alguém, ou de algo que tenha ocupado o lugar de certo alguém. O autor, afirma ser o luto
um processo que deve ser superado com o tempo, sendo um processo inevitável e
necessário para elaboração das perdas e que desaparece sem deixar marcas no individuo.
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De acordo com Del Porto (1999), a depressão enquanto doença é encontrada na literatura
como quadros de transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão do transtorno
bipolar, entre outros.
Deve-se salientar que embora a depressão infantil seja distinta da depressão dos adultos,
não há no CID-10 uma classificação nosográfica própria da infância. De acordo com Trad
(1994), embora as crianças e os adultos pertençam a grupos extremamente diferentes os
critérios utilizados para o diagnóstico da depressão são os mesmos. O CID-10 classifica os
episódios depressivos como leve, moderado ou grave, sendo que os critérios diagnósticos
levam em consideração os sintomas apresentados e suas respectivas durações.
Uma das características presentes para diagnóstico de depressão no DSM-IV-TR (2002), diz
respeito ao sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo social / ocupacional ou ainda em
outras áreas da vida do sujeito em questão causados pelos sintomas apresentados.
A utilização de ambos os manuais é de extrema relevância, porém fica claro que não
substituem o diagnóstico clinico que resulta de uma série de percepções entre terapeuta e
paciente.
Kehl (2003), em “Uma vida sem sujeito”, fala sobre os tratamentos farmacológicos e
questiona-se sobre a possibilidade de as doenças evoluírem juntamente com o
desenvolvimento medicinal ou se, ao contrário, as doenças seriam criadas pelas indústrias
farmacêuticas que produzem novos remédios. “Nós patologizamos o curável [...]. Assim que
tivermos uma droga para a violência, a violência será uma doença” (SOLOMON, 2002,
p.26). Tavares (2009), afirma que em um primeiro momento os pacientes buscam a evitação
do sofrimento através dos psicofármacos. No caso de não obterem êxito, buscam o
atendimento psicológico.
Depressão Infantil
Segundo Cohen e Marcelli (2009), a criança diagnosticada com depressão infantil apresenta
características como: desaceleração psicomotora e inibição motriz; rosto com pouca
expressão, pouca mobilidade e apresenta-se pouco sorridente. Algumas crianças podem
apresentar-se comportadas demais, chegando até a manifestar tendência à submissão.
Algumas apresentam comportamentos de agitação e inquietude, perda de autoestima,
culpabilidade, dificuldade de pensar e manter atenção em algo, concentração, incapacidade
de memorização, pode apresentar transtornos alimentares, perturbações no sono e idéias
de morte ou suicídio. O tempo de permanência dos sintomas, pelo menos cinco dos citados
acima simultâneos, e a mudança comportamental dão nome aos episódios depressivos.
A tristeza é tida como reação comum que ocorre de maneira saudável segundo Bowlby
(1998) e, na maior parte das vezes, está marcada por perdas ou pela previsão das mesmas.
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O luto é apresentado por Freud (1917), como um tipo de reação a perda em geral. De
acordo com Cohen e Marcelli (2009), a depressão infantil pode ainda estar ligada a
situações simples que podem fugir ao olhar dos adultos, tais como mudanças, afastamento
de colegas, morte de um animal de estimação, etc.
Para Catafesta (1990), na fase inicial da vida do indivíduo, determinados acontecimentos
podem marcar e deixar seqüelas eternas. Arfouilloux (1995), afirma que inúmeros
sofrimentos pequenos que exigem consolo imediato podem marcar a vida de uma criança.
Além disso, para uma criança não se conserva o direito de estar triste sem dar satisfações
disso a ninguém, assim, os outros não conseguem deixar de intervir para entender o que se
passa quando presenciam essa tristeza que é aparentemente inadequada se considerarmos
que a infância é a fase da felicidade, da despreocupação e da inocência.
Segundo Alsop (1999) e Arfouilloux (1995), afirma que os pais normalmente desconhecem e
ou negam não querendo entrar em contato com esse tipo de diagnóstico em seus filhos.
Sendo assim, a depressão infantil parece afrontar e ir contra tudo aquilo que se pensa como
característica do período da infância: a inocência, a alegria e a despreocupação.
Para Alsop (1999) há diferença entre a depressão dos adultos e a depressão infantil,
portanto é clara a relevância dos estudos sobre a doença durante a infância. No que se
refere ao contexto no qual a criança está inserida.
Trad (1994), afirma que crianças com pais depressivos possuem três vezes mais chances
de desenvolverem o transtorno. Segundo o mesmo autor, 13% das crianças com esse
diagnóstico, tem pais com a mesma patologia, porém afirma ainda, que embora exista um
aumento nas chances dessas crianças desenvolverem o transtorno quando seus pais já o
tem, este, não é fator pré-determinante para a depressão infantil, já que existem outros
fatores que contribuem.
Considerando a plasticidade do psiquismo das crianças é necessário que haja rápida
intervenção nos casos em que há distúrbio na interação entre os pais e o bebê, antes que
se instale um quadro patológico (FOLINO,2008). Folino (2008) enfatiza ainda que nos casos
em que haja depressão materna concomitante a depressão infantil, acredita que também
houve uma falha no ambiente que submeteu a criança diretamente a depressão desta mãe.
De acordo com Lacan (1969), em seu texto “Duas notas sobre criança”, o sintoma da
criança pode representar os sintomas presentes na estrutura familiar. O autor traz o sintoma
como representante de uma verdade do casal parental.
Segundo Freud (1930), em “O Mal-estar da cultura” não existe necessidade alguma de uma
criança que se sobreponha à necessidade de proteção paterna. Trad (1994) acredita que o
abuso físico e/ou psicológico, assim como a negligência, estão entre as causas mais
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freqüentes de depressão na infância, podendo trazer um efeito “esmagador” para a criança.
Bowlby (1998) acredita que a base segura oferecida a uma criança é fornecida por seus
pais. Levando-se em conta tais colocações, pode-se aferir o grau de importância dos pais no
processo de tratamento de crianças diagnosticadas com depressão infantil (DI).
Bowlby (1998) sustenta a afirmação de que os vínculos dos indivíduos se desenvolvem a
partir do momento em que ocorre a percepção da necessidade do outro para satisfação de
impulsos próprios.
A sociedade atual parece não oferecer referências sólidas para o sujeito, sendo a
transitoriedade contínua e a estabilidade incomum, o que pré condiciona o indivíduo a uma
vivência de desamparo (TAVARES, 2009).
Freud (1939 apud PEREIRA, 1999), qualifica o desamparo como a total falta de garantia do
sujeito que tende a ser compensada pela criação de Deuses. Em 1927 em seu texto “O
futuro de uma ilusão” Freud (1927 apud PEREIRA, 1999), afirma ser o desamparo
fundamental e insuperável. Além disso, acredita que este é atemporal, acompanhando o
sujeito por toda a sua vida. Em “Inibição, sintoma e angústia” Freud (1926, apud PEREIRA,
1999), o fato de o sujeito sentir-se amado representa para este proteção. Dessa forma, a
perda desse amor e a separação do ser que o protege corresponde ao que chama de
abandono e desamparo.
Pesquisas Relacionadas
Ao longo das leituras pode-se perceber que existem inúmeras pesquisas que abordam o
tema da depressão infantil, mas a maioria delas possui enfoques diferenciados entre si. Há
as de caráter histórico, aquelas que tratam da questão escolar, a hospitalização,
institucionalização, ambiente familiar e aspectos clínicos. Cada um trabalha com uma
especificidade. Os autores Barbosa e Lucena (1995); Ribeiro, et al. (2007); Andriola e
Cavalcanti (1999); Pires (2004); Wathier e Dell´aglio (2007); Bahls (2002); Cruvinel e
Boruchovitch (2009); Silvares (1993); Enéas, Faleiros e Sá (2000) e Gomes (1998), são
autores que se destacam no assunto e trazem discussões relevantes para o âmbito
científico. Devido a sua extensão o tema não será discutido nesta pesquisa.
MÉTODO
Tipo de Pesquisa
A presente pesquisa tem caráter quanti-qualitativo visto que, segundo Minayo, et al. (1994),
a junção dos dados qualitativos e dos dados quantitativos não representam oposição e sim
completude, já que abrangem realidades diferentes, porém de possível integração.
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A pesquisa qualitativa de acordo com Minayo, et al. (1994), demonstra uma preocupação
focada naquilo que não é quantificável, que está relacionado a uma realidade mais
profunda. É ainda, de acordo com Padua (1996), a que tem foco nos processos sociais e no
significado dos fenômenos. Richardson, et al. (1999), afirma que a pesquisa qualitativa pode
ser uma forma de compreensão da natureza de um fenômeno social.
Segundo Minayo, et al. (1994), a pesquisa quantitativa é indicada para aqueles que desejam
compreender a dinâmica de um processo. De acordo com Richardson, et al (1999), é um
método caracterizado pela quantificação na coleta de dados, que tem como intenção a
garantia de precisão das informações adquiridas.
Trata-se de uma pesquisa exploratória e documental. Este tipo de pesquisa proporciona a
criação de familiaridade com o problema de pesquisa. De acordo com a afirmativa de Padua
(1996), a pesquisa pode ser considerada documental desde que utilize conhecimentos fixos
materialmente, que possam ser utilizados para consulta e/ou estudo. Sem deixar de lado a
autenticidade de tais documentos. A pesquisa documental é realizada com materiais que
ainda não receberam tratamento analítico.
Vale ressaltar que os resultados não serão utilizados como levantamento estatístico e sim
como forma de comparação, excluindo-se o objetivo de generalização dos aspectos
analisados.
Amostra
Foi proposto inicialmente a utilização de 35 prontuários de pacientes que se submeteram ao
processo de psicoterapia breve infantil (PBI) e/ou de psicodiagnóstico. Porém, após a
triagem, só se encaixaram no perfil procurado 22 prontuários, sendo que um deles foi
descartado por não ter a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Segundo Shaffer (2005), o estirão de crescimento está intimamente relacionado com o inicio
da adolescência. Este estirão ocorre próximo aos 10 anos nas meninas e aos 13 anos nos
meninos, juntamente com ele ocorre a maturação sexual, o amadurecimento e transição da
infância para a idade adulta. Soma-se a isto o que apontam Cohen e Marcelli (2009), que o
episódio depressivo na criança ocorre entre 5 e 6 anos a 11 e 12 anos. Por estes motivos
optou-se por analisar os prontuários de pacientes de até 12 anos de idade, de ambos os
sexos, do serviço escola de uma universidade particular do estado de São Paulo.
Critérios de Inclusão
Prontuários de crianças de até 12 anos atendidas no serviço-escola, na modalidade de
psicoterapia breve infantil (PBI) e/ou na de Psicodiagnóstico, nos quais conste a informação
de queixa inicial de tristeza ou depressão.
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Critérios de Exclusão
Não foram utilizados prontuários que não possuíam termo de consentimento livre e
esclarecido devidamente assinados. Prontuários de atendimentos que ocorreram há mais de
10 anos atrás foram descartados. Para fim de maior sistematização da amostra, só foram
considerados os prontuários de pacientes que passaram por atendimento de Psicoterapia
Breve Infantil (PBI) que anteriormente tinham passado por psicodiagnóstico.
Procedimento de coleta de dados
Os procedimentos realizados para coleta de dados foram: 1. Encaminhamento de carta para
o Comitê de Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2. Encaminhamento de carta
de informação e termo de consentimento à Instituição; 3. Encaminhamento de carta para a
coordenação do serviço-escola solicitando autorização para utilização dos prontuários; 4.
Separação dos prontuários de acordo com os critérios de inclusão e exclusão; 5. Leitura
atenta dos prontuários.
Procedimento de análise dos resultados
Para a análise dos resultados, foi necessário primeiramente identificar os prontuários que
fariam parte da amostra. Em seguida, após leituras sucessivas do material selecionado
houve a criação de categorias a fim de facilitar a análise. Posteriormente fez-se a análise
dos conteúdos encontrados, à luz da teoria. Vale ressaltar que o presente projeto foi
encaminhado à Comissão de Ética em Pesquisa do CCBS e a pesquisa só teve inicio após
sua aprovação.
RESULTADOS E DISCUSSAO
A presente pesquisa buscando aprofundar conhecimentos acerca das características
biopsicossociais das crianças com Depressão Infantil, contou com a triagem de prontuários
de pacientes atendidos em Psicoterapia Breve Infantil e/ou Processo de Psicodiagnóstico,
entre 0 e 12 anos, de ambos os sexos, em um intervalo de dez anos. Após a realização da
triagem inicial, obteve-se 21 prontuários, que continham queixa inicial de tristeza e/ou
depressão, além de estarem com o termo de consentimento livre e esclarecido devidamente
assinados. Foi realizada, então, a leitura atenta dos prontuários e posterior categorização
das informações relevantes ali presentes.
Os dados foram tabulados em função de doze variáveis. Inicialmente foram colhidas
informações básicas como sexo; idade; escolaridade; ano de início, duração e modalidade
do tratamento; desfecho e testes realizados durante o processo com o paciente.
Posteriormente houve a categorização de informações referentes às características
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cognitivas, às características psicodinâmicas, às questões orgânicas associadas à queixa
apresentadas pelo paciente e às características dos familiares da criança. Foram elencadas
estas variáveis frente à possibilidade de estarem correlacionadas com o quadro sintomático
da criança em questão.
Dessa forma produziu-se gráficos comparativos e que visaram à ilustração dos principais
resultados obtidos. Pode-se perceber uma predominância de atendimentos no ano de 2005
(24% da amostra total). Durante a triagem realizada com os prontuários do ano 2000 ao ano
de 2010, pode-se perceber que alguns fatores externos foram citados como possíveis
fatores desencadeantes de mudança no comportamento das crianças, como os ataques do
PCC (facção criminosa) na cidade de São Paulo e o Tsunami que ocorreu na Indonésia.
Com relação ao ano de 2005 os eventos ocorridos no cenário mundial de grandes
proporções como a morte do Papa João Paulo II e o Furacão Katrina, não puderam ser
relacionados com a queixa nos prontuários analisados.
A maior parte dos pacientes triados é do sexo masculino e somam 57% dos prontuários
analisados, com um total de 12 casos. A idade predominante nos prontuários é de dez anos
(19% da amostra total), característica esta, que vem contrastando com os dados de
escolaridade dos pacientes, que indica predomínio na segunda série do ensino fundamental
(29% da amostra total). Este fato pode estar correlacionado a questão sócio-econômica dos
pacientes atendidos no serviço-escola da universidade, que é direcionado a comunidade da
região e se caracteriza pelo oferecimento do atendimento gratuito, indicando a
predominância de famílias desfavorecidas no fator sócio-econômico brasileiro.
A separação dos pais aparece como possível fator desencadeante dos sintomas com
predominância nos prontuários analisados (22% da amostra total). Além disso, o falecimento
de familiares próximos (14% da amostra total), o abandono (13% da amostra total) e a
ausência paterna (11% da amostra total) foram variáveis que apareceram relacionadas à
queixa de depressão na criança.
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12
22%
14%
13%
11%
3% 3% 3%3%
3%3%
22%22%
Fatores Desencadeantes
separação falecimento abandono
ausência paterna alcoolismo paterno rejeição
não elaboração do luto adoção presencia agressões entre os pais
processo de guarda Outros
rejeição materna, pai com depressão, pai não se vincula à criança, interferência na dinâmica familiar, mãe com mania, mãe com depressão, dificuldade no relacionamento paterno, constante mudança de cuidadores, maus tratos, ausência de figura masculina, mãe com síndrome do pânico, perda, agressão materna, vítima de abuso sexual
Gráfico 1- Fatores Desencadeantes
Freud (1917), em seu texto “Luto e Melancolia”, clarifica o fato de que tanto o luto, quanto a
melancolia, representam reações ligadas à uma situação de perda, não necessariamente a
uma situação de morte, mas de perda em si, perda do objeto de amor, fato este que
englobaria tanto a separação conjugal dos pais do paciente, quanto o falecimento de
familiares próximos, o abandono e a ausência paterna. Todos os fatores predominantes
como possíveis desencadeantes dos sintomas são ligados fortemente pela questão da
perda. Ainda de acordo com Freud (1917), sabe-se que a dificuldade de elaborar perdas e
lutos está intimamente ligada à depressão, o que poderia justificar os dados em questão.
Os casos atendidos pelo serviço escola com o perfil descrito anteriormente foram divididos
em duas modalidades de atendimento e tiveram uma média de duração de 2,09 semestres.
Os desfechos pré-determinados pela instituição dividem os prontuários em concluídos e
encaminhados, porém observa-se que dentre os concluídos 29% da amostra total, são
realmente concluídos e o restante esta dividido entre aqueles encaminhados para
Psicoterapia Breve de Adultos (41%) e encaminhamentos externos (29%).
Gráfico 2 – Desfecho dos atendimentos
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Com o objetivo de avaliar se o quadro sintomático dos pacientes estaria ligado ao
rendimento escolar destes, foram coletados dados referentes às características cognitivas.
Para fins de categorização dividiu-se os pacientes em dois grupos, aqueles que apresentam
queixas escolares (62% da amostra total) e aqueles que não apresentam queixas (38% da
amostra total). Dentre os 62% dos pacientes que apresentam queixas escolares,
encontramos a presença de desinteresse e desmotivação embora a maioria possua bom
nível intelectual de acordo com os dados obtidos nos prontuários analisados. Além disso,
em alguns prontuários há registros de reclamações dos professores relacionadas ao
comportamento da criança.
Com intuito de avaliar o aspecto psicodinâmico dos pacientes, foram elencadas algumas
características predominantes. A angústia (7,1%), a insegurança (6,3%) e a ideação suicida
(4,5%) aparecem como características predominantes. Além disso, 66,1% da amostra
apresenta características diversificadas como: necessidade de acolhimento e proteção;
sentimentos de abandono e desamparo; baixa tolerância a frustração, retraimento e
sentimentos ligados a separação dos pais.
Gráfico 3 – Variáveis Psicodinâmicas
Objetivando a verificação de características representativas que pudessem identificar a
presença de transmissão psíquica, foram pesquisadas características dos familiares das
crianças, características estas que por serem de extrema diversidade não puderam ser
apresentadas no formato de gráfico, sendo então demonstradas na tabela a seguir:
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CARACTERÍSTICAS CRIANÇA 1 CRIANÇA 2 CRIANÇA 3 CRIANÇA 4 CRIANÇA 5 CRIANÇA 6 CRIANÇA 7 CRIANÇA 8 CRIANÇA 9 CRIANÇA 10 CRIANÇA 11
ANO 2000 2001 2001 2002 2003 2004 2005 2005 2005 2005 2005
SEXO MASCULINO FEMININO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO MASCULINO
IDADE (ANOS) 10 7 10 7 8 11 8 5 10 9 9
ESCOLARIDADE 4ªSÉRIE 2ªSÉRIE NÃO CONSTA 2ªSÉRIE 3ªSÉRIE 6ªSÉRIE 2ªSÉRIE 2ªSÉRIE 4ªSÉRIE 2ªSÉRIE 4ªSÉRIE
CARACTERÍSTICAS FAMILIARES
MÃE: ENCAMINHADA PARA PBA,
CONHECEU SEU PAI BIOLÓGICO AOS
NOVE ANOS E NÃO MANTÉM CONTATO COM ESTE. MOROU
COM A IRMÃ EM DIVERSAS FAMÍLIAS,
POIS A MÃE TRABALHAVA.
VOLTOU A MORAR COM A MÃE AOS OITO ANOS. BUSCA AFETO DE SUA MÃE E TENTA
RECUPERAR O CARINHO QUE NÃO TEVE NA INFÂNCIA
MÃE: APRESENTA INSEGURANÇA E
SENTE-SE INCAPAZ DE ESTABELECER
VÍNCULOS. NÃO TEVE RELAÇÃO
AFETIVA COM SUA MÃE E AFIRMA QUE
ESSE É UM DOS MOTIVOS QUE DIFICULTA SUA
RELAÇÃO COM SUA FILHA. ACABA
PROJETANDO NESTA SUA INFANTILIDADE E INSEGURANÇA /
IRMÃO: É O "HOMEM DA CASA", ASSUME
UM PAPEL MADURO, ADULTO E
RESPONSÁVEL.
MÃE: A DEPRESSÃO DA CRIANÇA É
SINTOMA DA MÃE
MÃE: TEM DEPRESSÃO,
REJEITOU O FILHO E BATIA NA CRIANÇA COM O INTUITO DE IRRITAR O MARIDO. TENTOU SUICÍDIO E
NÃO ACEITA A SEPARAÇÃO.
_________________ ________________ _________________
MÃE: SENTE INSEGURANÇA NO CUIDADO COM O
FILHO
PAI: HISTÓRICO DE SÍNDROME DO PÂNICO / MÃE:
DIFICULDADE DE ACEITAR A
SEPARAÇÃO, PROJEÇÕES
NEGATIVAS COM O FILHO, APRESENTA INSEGURANÇA NO
CONTATO.
MÃE: INICIARÁ AVALIAÇÃO
PSIQUIÁTRICA
PAI: CHAMA O FILHO DE HIPERATIVO E
TEM O COSTUME DE BATER NELE
QUANDO FAZ ALGO ERRADO, NÃO
APRESENTA BOA RELAÇÃO COM A
CRIANÇA
CARACTERÍSTICAS CRIANÇA 12 CRIANÇA 13 CRIANÇA 14 CRIANÇA 15 CRIANÇA 16 CRIANÇA 17 CRIANÇA 18 CRIANÇA 19 CRIANÇA 20 CRIANÇA 21
ANO 2006 2006 2006 2007 2007 2007 2008 2009 2009 2010
SEXO FEMININO FEMININO FEMININO FEMININO FEMININO MASCULINO FEMININO FEMININO FEMININO MASCULINO
IDADE (ANOS) 12 6 4 11 6 3 9 6 10 7
ESCOLARIDADE 6ª SÉRIE 1ªSÉRIE JARDIM I / CRECHE 6ª SÉRIE 1ª SÉRIE CRECHE 3ª SÉRIE 1ª SÉRIE 5ª SÉRIE 2ª SÉRIE
CARACTERÍSTICAS FAMILIARES
_________________
PAI: TEVE DEPRESSÃO AOS 18
ANOS, APÓS O FALECIMENTO DE
SUA MÃE, REALIZOU ACOMPANHAMENTO PSIQUIÁTRICO / MÃE: TEM TDAH, PROJETA
SUAS CARACTERÍSTICAS
NA FILHA, SE IGUALA AO PAPEL DE FILHA
GERANDO ANGÚSTIAS NA
CRIANÇA ALÉM DA OCORRÊNCIA DE
QUADROS DEPRESSIVOS E
HIPERATIVOS / TIO AVÔ: INTERNADO EM
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
DEVIDO À DEPRESSÃO
MÃE: SEU PAI ABANDONOU SUA
FAMÍLIA DE ORIGEM. NÃO CONSEGUE
PERCEBER E ATENDER AS REAIS NECESSIDADES DA
FILHA.
MÃE: FOI ENCAMINHADA PARA
PBA, NÃO PARTICIPOU DA PBI,
FALTAS CONSTANTES.
_________________MÃE: ENCAMINHADA
PARA PBA.
PAIS BIOLÓGICOS: EX DROGADÍCIOS / PAIS ADOTIVOS: CRIANÇA
NÃO É ADOTADA LEGALMENTE.
ENCAMINHADAS (MÃE E FILHA) PARA TERAPIA FAMILIAR
EM OUTRA INSTITUIÇÃO,
DURANTE A SESSÃO SÓ APARECERAM
CONFLITOS NA DINÂMICA FAMILIAR.
MÃE: TEM A GUARDA DA CRIANÇA, APRESENTA
DIFICULDADE DE COMPREENDER SUA
FILHA E AS NECESSIDADES
DESTA; ABANDONO MATERNO POR TRES
GEREAÇÕES.
MÃE: APRESENTA HUMOR DEPRIMIDO
E ESTÁ EM ATENDIMENTO
PSICOLÓGICO / PAI: TRISTE (SIC) JÁ FREQUENTOU
PSIQUIATRA, TEM RANSENIASE E
CEGUEIRA DE UM OLHO DEVIDO A
DIABETES.
Tabela 1 – Características dos Familiares
Os testes realizados durante o processo de psicodiagnóstico e/ou de psicoterapia breve
registrados nos prontuários analisados foram: Teste das Fábulas, DFH (Desenho da Figura
Humana), Desenho família, Procedimento de Desenho-Estória, CAT (Teste de Apercepção
Infantil), Raven (Matrizes Progressivas), TAT (Teste de Apercepção Temática), HTP (House
Tree Person), Hora Lúdica, Colúmbia (Escala de Maturidade Mental) e WISC III (Escala de
Inteligência Wechsler para Crianças). Em 17% dos prontuários não houve aplicação de
nenhum dos instrumentos de avaliação psicológica. O procedimento mais utilizado foi Hora
Lúdica (24% da amostra total), seguida do Teste das Fábulas (19% da amostra total) e do
HTP (12% da amostra total).
Gráfico 4 – Testes Realizados
Universidade Presbiteriana Mackenzie
15
Com o intuito de equiparar as informações referentes aos aspectos psicodinâmicos dos
pacientes, realizou-se uma pesquisa quanto à presença ou ausência de aspectos orgânicos
concomitantes com a presença do quadro sintomático apresentado. Cerca de 67% dos
pacientes apresentaram algum aspecto orgânico concomitante a queixa inicial, os 33%
restantes não apresentaram queixa orgânica que pudesse ser destacada durante os
atendimentos. Dentre os 67% dos pacientes com queixas orgânicas, 35,7% apresentam
enurese noturna e os outros 31,3% se dividem entre: anemia, dores de barriga, crises de
vômito, encoprese noturna, dores no peito, anoxia, bronquite, labirintite, entre outros.
Para melhor avaliação da estrutura familiar dos pacientes analisados, produziu-se
genetogramas de cada uma das famílias. Este estudo possibilitou uma visão mais
aprofundada de algumas características predominantes, como o freqüente uso de álcool e
drogas pelos familiares próximos às crianças, além da constância de separações e perdas.
De acordo com Wendt e Crepaldi (2007), o genetograma tem como função detalhar a
estrutura familiar ao longo das gerações, além dos movimentos emocionais associados à
família analisada. Além disso, as mesmas autoras enfatizam que a utilização do
genetograma mostrou-se adequada frente a estudos que dizem respeito à dinâmica e a
estrutura familiar do paciente.
Em função da extensão e da riqueza do material obtido com as análises dos prontuários,
que possibilitariam uma interessante discussão, optou-se por apresentar apenas 2 dos 21
genetogramas confeccionados, considerados bastante reveladores dos resultados
alcançados.
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
16
CONCLUSÃO
O estudo em questão objetivou inicialmente aprofundar o conhecimento acerca dos
aspectos biopsicossociais das crianças com depressão infantil. Diante da revisão
bibliográfica e da análise dos prontuários que compuseram a amostra, os aspectos
biológicos, psíquicos e sociais associados à queixa de depressão puderam ser clarificados
durante a pesquisa.
A questão biológica pôde ser analisada através da presença ou da ausência de sintomas
orgânicos, no decorrer do processo psicoterápico, que pudessem estar relacionados com a
queixa. Observa-se um alto índice de pacientes com queixas orgânicas e deve-se destacar
a presença predominante da enurese noturna dentre estas queixas. A vertente psicológica
foi trazida por meio de características psicodinâmicas apresentadas pelas crianças. A
angústia e a insegurança aparecem como fatores predominantes, assim como a ideação
suicida. Tais aspectos servem de alerta para que seja dada devida atenção à propagação
do conhecimento objetivando a observação adequada da sintomatologia de depressão em
Universidade Presbiteriana Mackenzie
17
crianças. Os fatores sociais aparecem representados por características apresentadas pelos
familiares das crianças, características estas que fazem pensar na importante questão da
transmissão psíquica que está relacionada à maioria dos casos.
Objetivou-se também com esta pesquisa, discutir a importância da percepção dos pais no
diagnostico da Depressão Infantil (DI) e em seu tratamento. De acordo com os
genetogramas fica clara a interferência da dinâmica familiar nas características
psicodinâmicas dos pacientes e na sintomatologia destes. É temeroso pensar o quanto as
separações conjugais tem influenciado no desenvolvimento infantil, já que o desfazer dos
casamentos nos moldes tradicionais parece ser uma tendência na sociedade atual. O uso
de álcool e de outras drogas por familiares dos pacientes está freqüentemente associado ao
quadro sintomatológico. Além disso, nota-se predominância de falecimento e abandono
sofrido pelos pacientes. Fica uma sugestão para futuras pesquisas no que se refere à
importância de se avaliar se a criança encontra-se realmente deprimida ou se está em um
processo de enfrentamento necessário de luto, que irá cessar com o tempo.
Observou-se em muitos momentos desta pesquisa, o fato de a criança ser portadora de um
sintoma familiar, sendo porta voz de conflitos, tornando como ponto principal do estudo o
questionamento dos sintomas DA criança como sendo resultantes de um interjogo de
projeções e introjeções entre pais e criança. Fator importante a ser considerado no
momento de se pensar acerca do encaminhamento adequado para o tratamento
psicoterápico.
Muitos questionamentos surgiram com a análise dos prontuários e a formulação da
discussão, questionamentos estes, que se revelam pertinentes para o início de novas
pesquisas, como por exemplo a presença predominante de enurese noturna associada à
depressão, e as peculiaridades da estrutura e dinâmica familiar destas crianças.
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