Escola de Ciências Sociais
Departamento de Psicologia
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira
e satisfação com a vida
Mestranda: Sara Cristina Figueira Cabeça
Orientação: Prof. Doutor Paulo Miguel da Silva Cardoso
Mestrado em Psicologia
Área de especialização: Psicologia da Educação
Dissertação
Évora, 2017
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
I
Agradecimentos
Em primeiro lugar, e como não poderia deixar de ser, um obrigado reforçado ao
Professor Paulo Cardoso, por todo o apoio, pelas aprendizagens que me fizeram crescer,
pelo tempo que sempre me dispensou, por acreditar em mim, e por tantas outras coisas
que não terei espaço para referir.
Um obrigado muito especial a todos os participantes do presente estudo, bem
como aos Diretores e Docentes das Escolas Secundárias Gabriel Pereira em Évora e Dr.
Hernâni Cidade em Redondo.
Quero agradecer à minha família, à minha Mãe, ao meu Pai e aos meus Irmãos,
pelo apoio em horas necessárias e compreensão ao longo de todo este percurso.
Um agradecimento mais do que especial à minha tia Leopoldina, que embora já
não se encontre presente fisicamente, foi quem me deu forças para começar a minha
formação, que sempre esteve ao meu lado, que sempre acreditou nas minhas
capacidades, que sempre me transmitiu motivação para continuar e que nunca me
deixou sem um olhar ou uma palavra nos piores momentos, continuando a ser uma
influencia constante na minha vida.
Ao meu namorado, Pedro Sousa, que esteve presente em todos os altos e baixos
de quem escreve uma dissertação, sempre com um sorriso e uma palavra de força.
Obrigada por estares sempre ao meu lado e por me apoiares em todos os momentos,
pois tu tornas as coisas boas em coisas excelentes, as coisas menos boas em futuros
sorridentes e não me deixas baixar os braços por nada na vida. És uma força
incondicional e eu sei que nunca a vou perder. Sem ti nunca seria possível.
Um obrigado destacado à Beatriz Sousa por se preocupar em cada instante
passado, por tornar uma amizade naquilo que todas deveriam ser: um ambiente familiar
repleto de amor, segurança, compreensão, preocupação e muita força. Obrigado por
estares ao meu lado Bea, e pela tua alegria na minha vida.
Obrigado ao Tio Carlos, ao Sr. João e à Francisca por serem como uns pais para
mim, me auxiliarem em tudo e demonstrarem uma preocupação tão genuína que se
traduz num abraço ao coração.
Obrigado a todos os que fizeram parte da minha vida e deste meu percurso
académico, obrigado a todos os que acreditaram, e aos que não acreditaram, de alguma
forma o vosso contributo me fez crescer e ser o que sou hoje.
Obrigado, tenho-vos sempre no meu coração.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
II
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira e satisfação com a vida
Resumo
Com o objetivo de estudar a relação entre a indecisão vocacional, adaptabilidade e
funcionamento psicossocial nos adolescentes, foram utilizadas medidas de avaliação
destes construtos numa amostra de 273 estudantes do 9º e 12º ano de escolaridade: o
Career Decision Difficulties Questionnaire, a Escala de Adaptabilidade na Carreira e a
Escala de Satisfação com a vida. Os resultados demonstraram correlações negativas e
significativas entre dificuldades de tomada de decisão, adaptabilidade e satisfação com a
vida, bem como relações positivas entre adaptabilidade e satisfação com a vida. Não
foram evidenciadas diferenças estatisticamente significativas referentes ao género dos
participantes. Relativamente ao nível de escolaridade, foram identificadas diferenças
significativas favoráveis aos participantes do 9º ano. Os participantes do 12º ano
Profissional apresentam médias superiores para as variáveis prontidão e dificuldades
relativas a informação inconsistente. Os resultados são discutidos considerando as suas
implicações para a investigação e prática.
Palavras-chave: Adolescentes, Indecisão Vocacional, Adaptabilidade; Funcionamento
Psicossocial.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
III
Vocational indecision, Career adaptability and life satisfaction
Abstrat
In order to study the relationship between vocational indecision, adaptability and
psychosocial functioning in adolescents, in a sample of 273 students in 9th
and 12th
grade the following measures were applied: The Career Decision Difficulties
Questionnaire scale, the Adaptability in Career scale, and the Life Satisfaction scale.
The results showed negative and significant correlations between difficulties of
decision-making, career adaptability and life satisfaction, as well as positive relations
between career adaptability and life satisfaction. No statistically significant differences
regarding participant’s gender were obtained. Regarding participant’s school level
results revealed statistic significant differences between grade 9 and 12 students,
favorable to grade 9 participants. Relatively to 9 grade students, 12 grade participants
revealed significant higher levels of readiness and difficulties related to inconsistent
information. Results were discussed considering their research and practical
implications.
Keywords: Adolescents, Vocational Indecision, Adaptability; Psychosocial functioning.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
IV
Índice
Agradecimentos ............................................................................................................................ I
Resumo ......................................................................................................................................... II
Abstrat ........................................................................................................................................ III
Índice de Figuras e Tabelas ....................................................................................................... V
Introdução .................................................................................................................................... 1
Parte I – Enquadramento teórico .............................................................................................. 5
1. Indecisão vocacional versus indecisão vocacional crónica........................................... 5
2. As dificuldades na tomada de decisão vocacional na perspetiva de Itamar Gati ...... 6
2.1. Especificação das Dificuldades ...................................................................................... 8
2.2. Career Decision Difficulties Questionnaire – CDDQ ............................................. 12
3. Das dificuldades de tomada de decisão aos perfis de indecisão ................................. 13
3.1. Avaliação de perfis de indecisão ............................................................................. 15
4. A Adaptabilidade de carreira e o Processo de Decisão Vocacional .......................... 18
4.1. A adaptabilidade e a construção de um percurso vocacional .................................. 18
5. Desenvolvimento de carreira e satisfação com a vida ................................................ 24
Parte II – Estudo empírico ....................................................................................................... 27
1. Objetivos e questões de investigação ........................................................................... 27
2. Metodologia ................................................................................................................... 28
2.1. Participantes .......................................................................................................... 28
2.2. Instrumentos ............................................................................................................ 29
2.3. Procedimento ........................................................................................................... 29
3. Análise dos dados .......................................................................................................... 30
4. Resultados ...................................................................................................................... 30
4.1. Precisão dos Resultados nas Escalas .................................................................... 30
4.2. Relação entre as variáveis Dificuldades de Tomada de Decisão, Adaptabilidade
e Satisfação com a Vida .................................................................................................... 31
4.3. Diferenças entre grupos ........................................................................................ 33
5. Discussão dos Resultados .............................................................................................. 36
6. Limitações e implicações futuras ................................................................................. 39
7. Conclusão ....................................................................................................................... 40
Referências Bibliográficas .................................................................................................... 43
Anexos ........................................................................................................................................ 47
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
V
Índice de Figuras e Tabelas
Figura 1. Taxonomia inicial do modelo teórico sobre dificuldades na tomada de decisão
vocacional (Gati et al, 1996)…………………………………………………………....8
Figura 2. As 44 Dificuldades incluídas na Taxonomia proposta por Gati, Krausz e
Osipow (1996)………………………………………………………………………….9
Figura 3. Avaliação das dimensões da Teoria da Construção da Carreira na escala
CAAS………………………………………………………………………………...…20
Tabela 1. Matriz de correlações para as variáveis do CDDQ, Escala de Adaptabilidade
e Escala de Satisfação com a Vida………………………………………………….….31
Tabela 2. Diferenças entre médias de resultados em função do
género…………………………………………………………………………………..33
Tabela 3. Diferenças entre médias de resultados em função da idade……………..….34
Tabela 4. Diferenças entre médias de resultados em função do nível de
escolaridade…………………………………………………………………………….35
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
Introdução
A presente dissertação visa explorar a relação entre Indecisão Vocacional,
Adaptabilidade de Carreira e Satisfação com a Vida. Estrutura-se em duas partes
principais: a primeira parte referente ao enquadramento teórico, em que se encontram os
conceitos em estudo e os respetivos modelos teóricos; e em segundo plano a parte
metodológica em que se descreve a amostra e os instrumentos utilizados. Por fim, serão
apresentadas conclusões, contributos e limitações ao estudo, bem como a sugestões para
investigações futuras.
A temática da indecisão vocacional tem enfatizado ao longo do tempo,
constrangimentos e dificuldades inerentes ao processo de tomada de decisão vocacional.
Dada a importância que detém na vida de cada indivíduo, a indecisão vocacional
tornou-se uma das questões centrais na investigação em Psicologia, nomeadamente
numa das suas vertentes: o aconselhamento de carreira (Gati, Krausz & Osipow, 1996).
Um dos objetivos centrais do aconselhamento de carreira é facilitar o processo de
tomada de decisão vocacional e, em particular, ajudar o indivíduo a ultrapassar as
dificuldades que encontra durante este processo, no que concerne às discrepâncias entre
os atributos pessoais (valores, habilidades, qualidades) e as alternativas de formação
profissional, elevando deste modo, o autoconhecimento e a autoexploração (Gati;
Davidovitch; Asulin-Peretz & Gadassi, 2010).
Relativamente às dificuldades de tomada de decisão vocacional, inicialmente
existia uma visão dicotómica do problema, considerando duas categorias: indivíduos
decididos ou indivíduos indecisos. Por outro lado, a maioria das abordagens tradicionais
classificavam os indivíduos segundo um único estilo de tomada de decisão dominante
(por exemplo: racional; compatível; emocional; impulsivo; agonizante; fatalista;
intuitivo…) (Gati; Gadassi; Mashian-Cohen, 2012). Nesta linha, a investigação das
últimas duas décadas tem permitido uma reflexão relativamente aos estilos de tomada
de decisão, tendo alguns investigadores indicado que os indivíduos podem apresentar
mais do que um estilo de tomada de decisão, utilizando uma diversidade de estratégias
de escolha para as diferentes decisões que realizam.
A investigação também tem procurado identificar as características de
indivíduos com ou sem dificuldades de tomada de decisão vocacional. Tem-se
1
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
2
verificado que os participantes que apresentam maior facilidade no processo de tomada
de decisão usufruem de um sentido mais objetivo de identidade pessoal e vocacional
correspondente à fase de desenvolvimento em que se encontram. A identidade pessoal e
vocacional definida, ser mais velho e ter níveis superiores de individuação, os
acontecimentos de vida e o ambiente em que o indivíduo está inserido relacionam-se
com o processo de decisão face a uma profissão (Brousseau, & Hunsaker, 1990; Sigh &
Greenhaus, 2004 citado por Gati et al, 2012). Verificou-se que a indecisividade e a
ansiedade relacionavam-se com menor investimento na escolha de um curso superior e
menor estabilidade na escolha (Germeijs & Boeck, 2003). Por sua vez, Gati e
colaboradores (2012) verificaram que universitários com perceções mais pessimistas e
níveis mais elevados de ansiedade e uma identidade e autoconceito menos claros,
tendiam a ser mais indecisos ao longo do tempo. Um estudo com jovens do 9º ano de
escolaridade, evidenciou que os rapazes revelavam um maior índice de certeza
vocacional, identidade vocacional e autoestima do que as raparigas (Simões, 2014). Este
conjunto de resultados aponta para uma conceção multidimensional da indecisão
vocacional.
Relacionado com a Indecisão Vocacional, está o tema da Adaptabilidade de
Carreira na medida em que tem a ver com a prontidão do individuo para lidar com as
tarefas de desenvolvimento e transições que se colocam ao longo do ciclo de vida
(Savickas & Porfeli, 2012). Deste modo, a adaptabilidade na carreira é facilitadora da
tomada de decisão na carreira. De fato, no mundo do trabalho, a adaptabilidade surge
como um constructo essencial da escolha e da decisão aquando de oportunidades que
permitam ao indivíduo permanecer produtivo, recompensado e realizado. A
adaptabilidade, em qualquer etapa da vida, é um elemento crucial da escolha e decisão
profissional (Baltes, Lindenberger & Staudinger, 1998 citado por Hartung, Porfel &
Vondracek, 2008). De modo a entender esta relação entre a adaptabilidade e indecisão
vocacional, Donald Super (1949, citado por Savickas 1995), pretendeu explorar os
diferentes padrões de desenvolvimento de carreira, desenvolvendo ao longo dos seus
estudos um novo conceito, o conceito de maturidade vocacional. Por forma a
compreender melhor os mecanismos e estratégias que direcionam o indivíduo na
escolha e na decisão de uma profissão, surgiu uma diversidade de investigações sendo
um dos constructos o conceito de Adaptabilidade de Carreira (Savickas & Porfeli,
2012). Mais tarde, Savickas (1997, citado por Ambiel, 2014) considerou a teoria de
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
3
Super (1957) colocando o seu foco nas influências contextuais e sociais e,
essencialmente, as potenciais mudanças que estas influências poderiam exercer na vida
de um indivíduo.
Considerando a importância do trabalho na vida das pessoas, coloca-se uma
questão relevante: saber em que medida apoiar a resolução da indecisão vocacional e a
promoção da adaptabilidade na carreira contribuem para a satisfação da vida dos
indivíduos. De fato, a adolescência é um período do ciclo vital no qual os jovens são
confrontados com tarefas de desenvolvimento cuja resolução pode contribuir para a sua
satisfação com a vida. Na presente dissertação, a influência de fatores de indecisão nas
variáveis psicológicas e no desenvolvimento psicossocial em análise será tida em
consideração face ao nível de satisfação com a vida dos adolescentes.
A satisfação com a vida traduz-se num processo de avaliação pessoal no qual os
indivíduos avaliam a qualidade da própria vida, com base em aspetos únicos da sua
personalidade (Pavot & Diener, 1993 citado por Silva & Gamboa, 2014). Diener (1984),
na sua conceção sobre satisfação com a vida, refere um processo de julgamento
cognitivo que depende da comparação das circunstâncias do próprio indivíduo com o
que este considera adequado e positivo ao seu desenvolvimento. Ao abordar a variável
satisfação com a vida pretende-se abordar uma das suas vertentes, neste caso, a
indecisão vocacional. Essencialmente, este tipo de abordagem implica comparações
pessoais entre vida real e vida ideal com o intuito de avaliar vários aspetos do
desenvolvimento psicossocial e da experiência de vida bem como, consequentemente, a
satisfação com a mesma (Diener, 1984).
De acordo com Diener (1984), a satisfação com a vida pode ser avaliada na sua
globalidade ou em domínios específicos, sendo que neste caso em particular o estudo irá
incidir no domínio profissional face a aspetos de indecisão vocacional dependendo,
deste modo, do desenvolvimento psicossocial na interação com o meio ambiente que
rodeia o individuo e a sua própria perceção e avaliação de vida. Nesta linda, utilizando
como ferramenta de investigação estudos desenvolvidos por Itamar Gati, e por base os
dois modelos deste autor, “dificuldades de tomada de decisão” e “perfis de indecisão, a
presente investigação surge numa perspetiva construtivista do desenvolvimento vital
sendo este um processo contínuo e trabalhoso ao longo das diferentes etapas da vida de
um indivíduo. Neste sentido, o processo de tomada de decisão é indicado ao longo da
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
4
presente investigação como um processo contínuo e trabalhoso e explorado à luz de
uma etapa específica da vida: a adolescência. Assim, o presente estudo foca-se na
relação entre a indecisão vocacional com a adaptabilidade e o funcionamento
psicossocial dos adolescentes.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
5
Parte I – Enquadramento teórico
1. Indecisão vocacional versus indecisão vocacional crónica
As investigações acerca de indecisão vocacional, têm despertado interesse no
entendimento de quais as intervenções mais adequadas a esta temática. No processo de
tomada de decisão vocacional, os indivíduos podem diferenciar-se quanto ao momento
da vida em que se situam - enquanto alguns indivíduos não têm nenhuma alternativa
pensada ou têm apenas uma opção geral, outros poderão ter já decidido de entre opções
as específicas que desejam explorar, e outros podem já ter explorado uma opção de
interesse. Contudo, não é possível determinar com exatidão as características e padrões
de personalidade face à indecisão dos diferentes tipos de indivíduos (Betz, 1992;
Gordon, 1998 citado por Santos, 2000). Para um entendimento da indecisão vocacional,
torna-se pertinente articular dois tipos de indecisão que se destacam na literatura: a
indecisão vocacional enquanto um tipo de indecisão de carácter transitório e
desenvolvimentista que envolve todas as barreiras inerentes ao processo de exploração
vocacional de um indivíduo no confronto das suas características pessoais com a
diversidade de escolhas que se lhe apresentam; e a indecisão generalizada que, por sua
vez, é a evidência da incapacidade de realizar uma escolha de modo autónomo, não só
ao nível vocacional mas também em outros aspetos do quotidiano do indivíduo
(acompanhado por características psicológicas negativas inerentes a características
específicas e particulares da personalidade de cada um). A indecisão vocacional crónica
é, assim, uma extensão da indecisão do individuo noutras dimensões da sua vida.
Conhecer estes dois tipos de indecisão é essencial para evitar que não surja a
possibilidade de confusão aquando de uma proposta de intervenção adequada ao
indivíduo em específico. Tendo subjacente esta clarificação concetual relativamente à
indecisão vocacional passamos a referir diferentes modelos multidimensionais da
indecisão vocacional.
Contudo, existem atualmente três grandes modelos que operacionalizam a
perspetiva multidimensional, nomeadamente, a perspetiva de Steven Brown & Lent
(2008) que a partir de estudos meta-analíticos desenvolveu o modelo dos 4 fatores.
Germeijs & Boeck (2003) também propôs um modelo normativo para a tomada de
decisão vocacional, o qual fornece informações acerca de como os indivíduos devem
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
6
realizar boas decisões vocacionais. A terceira abordagem mais relevante ao tema da
indecisão vocacional é perspetiva multidimensional de Gati, Landman, Davidovitch
Asulil-Peretz & Gadassi (2010) sobre as dificuldades de tomada de decisão, a qual
evoluiu para uma conceção perfis de indecisão vocacional. Ao longo deste trabalho
optámos por focar a abordagem de Itamar Gati como forma de dar continuidade aos
estudos de adaptação deste modelo à realidade portuguesa.
2. As dificuldades na tomada de decisão vocacional na perspetiva de Itamar
Gati
Uma boa decisão deve partir da escolha de uma alternativa com a maior
utilidade possível - a utilidade de cada alternativa é o reflexo da diferença entre a
perceção individual de interesses e as características, capacidades e qualidades do
indivíduo. A teoria da utilidade, proposta por Gati, Krausz e Osipow (1996) é um
modelo normativo que pode ser considerado um preditor para o melhor método de
tomar decisões (Baron, 1988; Brown, 1990, citado por Gati et al, 1996).
Sabemos que uma decisão é tanto melhor quanto maior for a consciência do
indivíduo perante os seus próprios objetivos e metas a atingir – sendo também estes
representativos das suas preferências e interesses tal como das suas características e
qualidades pessoais, a reter no presente modelo. Posto isto, no que concerne ao processo
de tomada de decisão, a teoria da utilidade torna-se uma premissa essencial podendo ser
inicialmente considerada como um fator basilar no processo de investigação acerca de
qual melhor forma ou método de tomar decisões: se o indivíduo tem que tomar uma
decisão com base numa variedade de alternativas, há também muitos aspetos e atributos
pessoais que devem ser tidos em conta face à comparação e avaliação das mesmas
aquando do processo de tomada de decisão vocacional (Lofquist & Dawis, 1978, citado
por Gati et al, 1996). Contudo, as dificuldades com que cada indivíduo se depara,
inseridas em categorias específicas como referido anteriormente, poderão também estar
relacionadas entre si – não podem nem devem estar completamente independentes umas
das outras (Campbell e Heffernan, 1983, citado por Gati et al, 1996).
A incerteza de tomar uma decisão desempenha um importante papel no que
respeita às características tanto do indivíduo (preferências e perspetivas face ao presente
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e satisfação com a vida
7
e ao futuro) como das alternativas vocacionais existentes e da sua natureza. O processo
de tomada de decisão vocacional envolve um conjunto de detalhes, uma série de
alternativas a selecionar, e muitos outros atributos ou aspetos que são considerados na
comparação e na avaliação das possíveis opções (Gati et al, 1996). Normalmente, o
número de alternativas apresentadas ao indivíduo é bastante elevado (Ex.: profissões,
faculdades, possíveis entidades empregadoras), existindo também uma quantidade
elevada de informações disponíveis para cada uma. Torna-se, deste modo, necessário
considerar um determinado e específico número de aspetos (Ex.: condições da
profissão, grau de independência, tipo de relacionamento necessário a ter com as
pessoas, entre outros) para adequadamente caracterizar as opções e as preferências do
indivíduo de uma forma detalhada e significativa (Gati et al, 1996). Desta feita, focando
a da teoria da utilidade, Gati, Krausz & Osipow (1996) deram lugar ao termo "ideal
career decision maker". Este termo refere-se a um indivíduo que está consciente da
necessidade de tomar uma decisão de vocacional, que está disposto a tomar uma
decisão, e que é capaz tomar uma boa decisão, ou seja: tomar uma decisão utilizando
um processo apropriado e mais compatível com os seus objetivos.
Nesta linha, os autores referidos propuseram um modelo multidimensional das
dificuldades de tomada de decisão. Este modelo fundamenta-se na perspetiva de que o
processo de tomada de decisão vocacional poderá estar dividido em componentes
distintos envolvendo diferentes tipos de dificuldades subjacentes ao indivíduo. Nesta
perspetiva define-se uma classificação hierárquica na qual as grandes categorias de
dificuldades estão divididas em categorias específicas, e posteriormente em
subcategorias com distinções particulares no seu conteúdo, tendo por base diferentes
critérios ao longo da sua exploração e confirmação da sua validade empírica: se as
dificuldades pertencem à mesma fase ou componente do processo de tomada de decisão
de vocacional; se as dificuldades provêm da mesma fonte; se as dificuldades têm
similaridade entre si; ou se usufruem de semelhanças no tipo de intervenção necessária
para serem ultrapassadas. Assumido também que um determinado indivíduo pode ter
uma única dificuldade ou uma combinação das mesmas, com a possibilidade de ser
identificado numa única ou em várias categorias propostas no presente modelo.
No presente modelo, passamos a enumerar as três grandes e principais categorias
propostas pelo autor, denominadas categorias major (Gati et al, 1996) (Tabela 1): a falta
de prontidão (Lack of Readiness), que inclui quatro categorias de dificuldades que
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e satisfação com a vida
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antecedem o processo de tomada de decisão; a falta de informação (Lack of
Information) e a informação inconsistente (Inconsistent Information) que incluem três
categorias de dificuldades cada uma), resultando num total de 10 categorias de
dificuldades e 44 dificuldades específicas (Campbell & Heffernan, 1983 citado por Gati
et al, 1996).
Figura 1. Taxonomia inicial do modelo teórico sobre dificuldades na tomada de decisão vocacional (Gati
et al, 1996)
Hierarquia de dificuldades na tomada de decisão vocacional
Antes de iniciar o
processo de tomada
de decisão
vocacional
Falta de prontidão
devido a
Falta de motivação
Indecisão
Mitos disfuncionais
Falta de conhecimento sobre o processo (Etapas)
Durante o processo
de tomada de
decisão vocacional
Falta de
informação sobre
Si mesmo
Ocupações
Formas de obter informações
Informação
inconsistente
devido a
Informação não confiável
Conflitos internos
Conflitos externos
2.1. Especificação das Dificuldades
O modelo teórico explorado por Gati e colaboradores (1996), inclui 44
dificuldades específicas (ou subcategorias) - cada uma dessas 44 dificuldades
específicas representam um tipo distinto de problema, sendo estas distinções
consideradas à luz de um significado prático aparente (Tabela 2). Contudo, é importante
ressaltar que o grau de diferenciação não é igual entre as 10 categorias.
Figura 2. As 44 Dificuldades incluídas na Taxonomia proposta por Gati, Krausz e Osipow (1996)
Especificação das dificuldades na tomada de decisão vocacional
Antes de iniciar o processo de tomada de decisão vocacional
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
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Falta de prontidão
devido a
Falta de motivação:
1. Falta de vontade para tomar uma decisão vocaciona
2. O trabalho não é percebido como algo determinante na vida
3. Sentimento de que a passagem do tempo irá ajudar na
tomada de decisão vocacional
Indecisão:
1. Dificuldade na tomada de decisão vocacional
2. Necessidade de confirmação e suporte para tomar uma
decisão
3. Tendência para evitar compromissos
4. Medo de fracassar
Mitos disfuncionais:
1. Crença de que a escolha de uma profissão irá resolver
problemas pessoais
2. Crença acerca da existência de uma profissão considerada
ideal à luz dos interesses pessoais
3. Crença de que a escolha de uma profissão é algo único e
uma obrigação ao longo da vida
Falta de conhecimento sobre o processo (Etapas)
1. Falta de conhecimento sobre as etapas envolvidas no
processo de tomada de decisão vocacional
2. Falta de conhecimento acerca dos fatores a ter em
consideração
3. Falta de conhecimentos sobre como relacionar e conciliar as
alternativas de carreira existente com os seus próprios
interesses e características pessoais
Durante o processo de tomada de decisão vocacional
Falta de
informação sobre
Si mesmo:
1. Falta de informação sobre as próprias habilidades
2. Falta de informação sobre os próprios traços de
personalidade
3. Falta de informação sobre as alternativas profissionais e
consciência das preferências pessoais face às mesmas.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
10
4. Falta de informação sobre como será no futuramente
5. Falta de informação sobre oportunidades futuras
6. Falta de informação sobre as próprias preferências futuras
Ocupações:
1. Falta de informação sobre a variedade de alternativas
profissionais e formação
2. Falta de informação sobre as características das alternativas
profissionais face aos interesses pessoais
3. Falta de informação sobre a variedade de alternativas
profissionais futuras ou de formação profissional
4. Falta de informação sobre as características das alternativas
profissionais futuras de ou de formação profissional
Formas de obter informações:
1. Falta de informação sobre formas de obtenção de
informações adicionais sobre si mesmo
2. Falta de informação sobre formas de obtenção de
informações adicionais sobre alternativas profissionais
Informação
inconsistente
devido a
Informação não confiável:
1. Informações vagas
2. Informações não confiáveis sobre os próprios traços de
personalidade
3. Informações não confiáveis sobre alternativas profissionais
de interesse
4. Informações não confiáveis sobre as próprias preferências
relacionadas profissão
5. Informações não confiáveis sobre a existência de uma
alternativa profissional
6. Informações não confiáveis sobre as características de uma
profissão
Conflitos internos:
1. Falta de vontade de compromisso
2. Alternativas profissionais igualmente atraentes
3. Indiferença a alternativas profissionais acessíveis
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e satisfação com a vida
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4. Alternativas profissionais indesejáveis
5. Preferências que não conjugam com as alternativas
profissionais existentes
6. Capacidades insuficientes para as exigências da alternativa
profissional de interesse
7. Capacidades que excedam os requisitos da alternativa
profissional de interesse
Conflitos externos:
1. Desacordo entre um significativo e o indivíduo
relativamente à alternativa profissional desejável
2. Desacordo entre um significativo e o indivíduo sobre as
características desejáveis relacionadas à profissão
3. Desacordo entre as diferenças pessoais significativas
relativas à alternativa profissional recomendada
4. Desacordo entre os diferentes significativos acerca das
características relacionadas à profissão recomendada.
No conteúdo da categoria de falta de informação (lack of information) foi
realizada uma distinção entre a falta de informação acerca das preferências e interesses
do individuo ("O que quero?") e falta de informação acerca das capacidades
reconhecidas pelo próprio indivíduo ("O que posso fazer?"). Cada uma destas duas
subcategorias foi dividida em dificuldades associadas à falta de informações no presente
e a dificuldades associadas à incerteza perante o futuro. Na mesma linha, dentro da
categoria de falta de informação sobre ocupações (lack of information about
occupations), foi realizada uma distinção entre falta de informação sobre a existência de
alternativas de trabalho e a falta de informação sobre as características dessas
alternativas. As duas subcategorias foram divididas em falta de informação acerca do
presente e falta de informação acerca do futuro. Dentro da categoria de falta de
informação sobre formas de obtenção de informações adicionais (lack of information
about ways of obtaining additional information), foi feita uma distinção entre formas de
obtenção de informações sobre o si próprio (por exemplo, através da utilização dos
serviços de aconselhamento de carreira) e sobre os métodos de obtenção de informações
sobre profissões. No conteúdo da categoria informação inconsistente (inconsistent
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
12
Information), a falta de fiabilidade pode ser relacionada com as preferências do
indivíduo, ou com a sua capacidade de perceção acerca de alternativas ocupacionais
consideradas ou não como relevantes no processo de tomada de decisão. Na categoria
conflitos internos (internal conflicts), existe uma distinção entre os conflitos associados
a preferências incompatíveis com a realidade da sua conceção e aquelas que decorrem
da diferença entre as preferências e capacidades pessoais plausíveis de serem realizadas.
A primeira subcategoria foi dividida em conflitos subjacentes a aspetos preferidos:
conflitos entre uma ocupação e um aspeto desejável. A segunda subcategoria foi
dividida em habilidades e capacidades insuficientes face às alternativas. Por último, na
categoria conflitos externos (external conflicts), destaca-se uma distinção entre os
conflitos entre as suas fontes externas - entre conflitos pessoais e uma fonte externa.
Cada uma destas subcategorias de conflitos foi dividida em conflitos expressos em
termos de aspetos relevantes (ou seja, quais os critérios ou fatores para levar em
consideração na tomada de decisão), como também em termos de alternativas (ou seja,
o que o indivíduo deve escolher) (Gati et al, 1996).
A partir deste modelo concetual, Gati e colaboradores propuseram-se construir
uma medida que avaliasse as dificuldades de tomada de decisão na carreira, surgindo
deste modo o Career Decision Difficulties Questionnaire (CDDQ; Gati, Landman,
Davidovitch, Asulin-Peretz & Gadassi 2010).
2.2.Career Decision Difficulties Questionnaire – CDDQ
Com a finalidade de testar a taxonomia proposta pelo modelo anteriormente
descrito, Gati, Krausz e Osipow (1996) procederam à realização do CDDQ. Este
questionário inclui 34 afirmações correspondentes às 34 dificuldades na tomada de
decisão vocacional, incluídas no presente modelo teórico. Foi aplicado em dois
contextos culturais distintos: a uma amostra de jovens adultos israelenses que estavam
no início do seu processo de tomada de decisão de vocacional e a uma amostra de
estudantes universitários americanos – a utilização das duas amostras culturalmente
distintas permitiu examinar a generalidade da taxonomia proposta (Gati et al, 1996).
A página inicial do CDDQ inclui a informação geral do indivíduo: idade, sexo,
habilitações literárias, ocupação, o grau em que o participante está a considerar uma
decisão vocacional (muito, pouco, indiferente), se o participante tem alguma alternativa
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
13
vocacional previamente pensada, o grau de confiança nessa alternativa (numa escala de
9 pontos). As páginas seguintes incluem 44 itens, cada um correspondendo a uma
dificuldade particular. No estudo em questão, realizado por Gati et al (1996), esta
medida (CDDQ) foi utilizada com a finalidade de testar a classificação proposta no
anterior modelo acerca das dificuldades que se subjugam ao processo de tomada de
decisão vocacional, em que os participantes foram solicitados a classificar (numa escala
de 9 pontos) o grau em que a dificuldade representada por cada item interferia ou não no
seu próprio processo de decisão (por exemplo, no item "Geralmente, é difícil para mim
tomar uma decisão" a classificação terá a pontuação de: 1 = não me descreve a 9 =
descreve-me bem).
3. Das dificuldades de tomada de decisão aos perfis de indecisão
Itamar Gati e colaboradores (2010) evoluíram de um foco para a caracterização
das dificuldades de tomada de decisão para o foco na definição de perfis de indecisão.
Partiram de uma perspetiva construtivista em que não se define a indecisão vocacional
como um conjunto de dificuldades de tomada de decisão, mas sim como um sinal do
desenvolvimento vital sugerindo este um processo contínuo e trabalhoso ao longo das
diferentes etapas da vida de um indivíduo. Deste modo, sugerem a tomada de decisão
como um processo contínuo e trabalhoso que ocorre ao longo das diferentes etapas da
vida de um indivíduo. A indecisão vocacional surge neste modelo como uma
experiência normal do ciclo de vida, implicando um conjunto de oportunidades
existentes e a possibilidade de avaliação das mesmas ao objetivar a construção de uma
identidade profissional e de um bem-estar subjetivo individual.
Segundo Gati, Gadassi & Cohen (2012), uma das características da tomada de
decisão vocacional é o modo como os indivíduos se percecionam a si mesmos,
traduzido inicialmente como estilo de tomada de decisão – um traço de personalidade
relativamente estável, caracterizando um padrão típico do comportamento do indivíduo
quando confrontado com a necessidade de escolha. Como resposta a esta abordagem
dominante das caraterísticas individuais traduzidas em estilos de tomada de decisão, e
às críticas que lhes estão subjacentes, Gati, Landman, Davidovitch, Asulin-Peretz e
Gadassi (2010), propuseram um novo modelo que conceitua a abordagem dos
indivíduos no processo de tomada de decisão vocacional em termos de perfis de tomada
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
14
de decisão, substituindo o termo estilos: são evidenciadas mais características para além
das características da personalidade do indivíduo, referidas anteriormente como estilo
de tomada de decisão. O termo perfil em vez de estilo implica um complexo
multidimensional, em vez de um único traço dominante como acontecia a partir da
avaliação das dificuldades de tomada de decisão. Assim, a partir de uma análise
sistemática da literatura sobre desenvolvimento vocacional e os estilos de tomada de
decisão, Gati et al (2010) desenvolveu uma proposta em alternativa que corresponde ao
modelo multidimensional para a caracterização da tomada de decisão vocacional.
Especificamente, este modelo refere-se à utilização do termo perfis em vez
estilos de tomada de decisão. O termo perfil em vez de estilo é utilizado tendo em conta
duas razões. Em primeiro lugar, para indicar que se está a abordar ou a trabalhar numa
construção complexa, multidimensional, em vez de um único traço dominante. Portanto,
as diversas características são necessárias e bastante relevantes para caracterizar de
forma adequada o modo como o indivíduo toma decisões (ou seja, os indivíduos podem
diferir em muitas dimensões, embora o seu traço dominante seja sempre o mesmo). Em
segundo lugar, ser utilizado como estilo de tomada de decisão implica o foco de
características específicas da personalidade, assim utilizar o termo perfil de tomada de
decisão de vocacional destaca tanto a personalidade como as influências situacionais
refletidas no comportamento de tomada de decisão do indivíduo.
Alguns autores têm argumentado que, para além de um principal estilo de
tomada de decisão, os indivíduos também têm um estilo secundário, isto é, ao passo que
a abordagem de um indivíduo a uma dada tarefa de decisão possa ser caracterizada por
um traço dominante, existem características de outros estilos que também podem estar
presentes (Harren, 1979, citado por Gati et al, 2010). Os indivíduos utilizam uma
diversidade de estratégias de escolha, e tendem a usar as combinações dessas estratégias
em situações particulares (Singh & Greenhaus, 2004, Gati et al, 2010). Payne, Bettman
e Johnson (1993, Gati et al, 2010) afirmam também, nesta linha, que os indivíduos
adotam diferentes estratégias quando enfrentam diferentes decisões. Se de fato são
utilizados mais do que um único estilo de tomada de decisão numa dada situação, bem
como diferentes estratégias face a diferentes decisões, caracterizar os indivíduos através
de único estilo predominante pode estar a ser realizada uma descrição simplificada
acerca da forma como estes tomam decisões de carreira.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
15
Deste modo, o modelo multidimensional proposto foi desenvolvido com base em
diferentes premissas:
1. Os indivíduos diferem na abordagem que utilizam face à tomada de decisão,
ou seja, no seu perfil e características de tomada de decisão;
2. No seu processo de tomada de decisão, os indivíduos podem ser melhor
descritos através de um perfil multidimensional, sem destacar uma única característica
dominante;
3. Cada dimensão descreve um contínuo entre dois polos extremos, ao longo dos
quais o indivíduo pode ser caracterizado;
4. Embora as dimensões não sejam independentes, cada tem uma contribuição
única;
5. Como medidas relacionadas com a personalidade, as dimensões não podem
ser combinadas para produzir uma única pontuação;
6. Dependendo da dimensão, um polo é muitas vezes mais adaptativo no
processo de tomada de decisão do que o outro;
7. Enquanto algumas dimensões são principalmente relacionadas com a
personalidade e, normalmente, mais consistentes, existem outras que são mais
situacionais e podem depender do processo específico de tomada de decisão que o
indivíduo está a enfrentar no momento, ou da etapa do processo de tomada de decisão
em que o indivíduo se encontra.
Estas medidas tornam-se importantes para a validade do modelo apresentado
face à aplicação da medida referida seguidamente.
3.1.Avaliação de perfis de indecisão
Como referido, o modelo multidimensional derivou de uma análise sistemática
dos diferentes estilos de tomada de decisão vocacional. Em primeiro lugar, foi descrita a
lógica do modelo de integração proposto para caracterizar as diferenças individuais na
carreira ao tomar uma decisão. Seguidamente, o modelo permitiu a construção de uma
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
16
medida de avaliação: o Career Decision-Making Profile questionnaire (CDMP; Gati,
Davidovitch, Asulin-Peretz & Gadassi, 2010).
O modelo conceptual que foi originalmente composto por 11 dimensões
relevantes à caracterização da tomada de decisão de vocacional:
1. A recolha de informações (abrangente vs. mínima) - o grau em que os
indivíduos são minuciosos na recolha e organização da informação.
2. Processamento de informação (analítica vs. holística) - o grau em que os
indivíduos analisam e processam as informações de acordo com as suas componentes.
3. O foco do controlo (interno vs. externo) - o grau em que os indivíduos
acreditam que controlam o seu futuro profissional e sentem que suas decisões afetam as
suas oportunidades de carreira.
4. Esforço investido no processo (muito vs. pouco) - a quantidade de tempo e
esforço que os indivíduos investem no processo de tomada de decisão.
5. Procrastinação (alta vs. baixa) - o grau em que os indivíduos evitam ou adiam
o início do processo de tomada de decisão.
6. Velocidade de tomar a decisão final (rápida vs lenta) - o comprimento do
tempo que os indivíduos precisam para chegar a uma decisão final, depois da recolha e
compilação de informações.
7. Consultar os outros (frequente vs. raro) - a medida em que os indivíduos
consultam outras pessoas durante as várias fases do processo de tomada de decisão.
8. Dependência de outros (alta vs. baixa) - o grau em que os indivíduos esperam
que os tomem decisões por eles de modo a evitar aceitar a responsabilidade total para
decidir ele mesmo.
9. Querer agradar aos outros (alto vs. baixo) - o grau em que as pessoas tentam
satisfazer as expectativas dos outros significativos (por exemplo, pais, parceiros,
amigos).
10. Aspiração para uma profissão ideal (alta vs. baixa) - a medida em que os
indivíduos se esforçam ter uma profissão que consideram perfeita.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
17
11. Compromisso (muito vs. pouco) - a medida em que os indivíduos estão
dispostos a ser flexíveis acerca de uma alternativa ou oportunidade de interesse aquando
do confronto com as dificuldades da sua real realização.
Estas dimensões permitiram estruturar o CDMP. Trata-se de um questionário de
auto-relato e inclui 39 afirmações que representam as 11 dimensões mencionadas
anteriormente (3 afirmações para cada dimensão). Cada uma das afirmações representa
um dos dois extremos de uma dimensão. Por exemplo, a afirmação: "Quando tomo uma
decisão, confio basicamente na minha intuição” representa o extremo elevado da
dimensão “Consultar os outros", e a afirmação “Prefiro que outras pessoas partilhem a
responsabilidade pela minha decisão representa o extremo baixo da dimensão
“Consultar os outros”. A avaliação é realizada numa escala de Likert de 7 pontos
representando o grau em que os indivíduos concordam com cada afirmação (1 - Não
concordo mesmo nada, 7 – concordo completamente).
Num primeiro estudo, Gati e colaboradores (2010) testaram o modelo
multidimensional a partir de análise fatorial exploratória numa amostra de jovens
adultos num período fulcral da tomada de decisão acerca do seu percurso profissional
futuro. Num segundo estudo, os autores testaram o modelo, através da mesma medida.
A análise fatorial exploratória confirmou que, em ambos os estudos, as 11 dimensões
incluídas no modelo são realmente distintas, mesmo que não sejam completamente
independentes. A percentagem da variância explicada nas diferentes dimensões variou
entre 8,0% para o compromisso e 5,9% para dependência dos outros. Tais resultados
podem ser interpretados como refletindo a relevância semelhante entre as 11 dimensões.
Assim, os resultados evidenciados suportaram a proposta multidimensional do presente
modelo.
O modelo em questão, verificou-se assim compatível com outros estudos e
investigações anteriores, em que diferentes autores sugeriram e confirmaram, como
mencionado anteriormente, que os indivíduos podem utilizar mais do que um único
estilo ao mesmo tempo (Driver et al., 1990, citado por Gati el al, 2010). O modelo
proposto utiliza as 11 dimensões em paralelo para descrever o percurso de tomada de
decisão do indivíduo, identificando, portanto, que os indivíduos usufruem de um
reportório de padrões de comportamento para lidar com o desafio e a importância de
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
18
tomar uma decisão, e que estes as combinam, dependendo da situação em que se
encontram.
4. A Adaptabilidade de carreira e o Processo de Decisão Vocacional
Relacionado com a Indecisão Vocacional está o tema da Adaptabilidade de
Carreira, tendo este recebido uma especial atenção ao longo das últimas décadas de
investigação, surgindo assim um lugar de destaque e interesse neste âmbito, não apenas
em termos teóricos de um modo generalista, como também no contexto específico da
psicologia vocacional.
Ao longo do século XX foram realizados inúmeros estudos, desenvolvidos em
práticas direcionadas a distintos contextos e etapas do ciclo de vida de um indivíduo,
que se traduziram em diversas reflexões e teorias. Denotou-se, ao longo deste tempo,
uma preocupação em procurar descrever da melhor forma possível os mecanismos
psicológicos internos, inerentes às escolhas vocacionais e aos processos
desenvolvimentistas que levam o indivíduo a tomar determinadas decisões e a chegar a
determinadas escolhas. As alterações e mudanças nos contextos em que determinado
indivíduo se insere, essencialmente sobre a influência social do mundo do trabalho
levaram a uma corrente de investigações acerca do modo como este atua e se constrói a
si mesmo (Savickas & Porfeli, 2012 citado por Ambiel, 2014).
4.1.A adaptabilidade e a construção de um percurso vocacional
Savickas (1997, citado por Ambiel, 2014) sugeriu que, em vez de apenas ser
destacada a capacidade de adaptação de um indivíduo à mudança, o desenvolvimento de
carreira fosse percecionado como um contínuo de respostas às necessidades de uma
nova carreira ou uma nova situação. Desta feita, o autor definiu a adaptabilidade de
carreira como “um constructo psicossocial que denota a prontidão e os recursos de um
indivíduo para lidar com tarefas atuais e iminentes de desenvolvimento de carreira,
transições ocupacionais e traumas pessoais”, (Savickas & Porfeli, 2012). Atendendo à
ideia de Super (citado por Savickas, 1995) acerca do conceito de maturidade vocacional
apenas se aplicar à fase da adolescência, Savickas (1995), indica o conceito de
adaptabilidade de carreira como tendo um potencial de ajustamento a qualquer fase do
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
19
desenvolvimento, desde a infância, a par coma exploração de atividades e formação de
interesses, até á terceira idade, onde o indivíduo se prepara para a reforma.
Nesta linda, Savickas (1995) apresentou uma abordagem que teve como objetivo
evoluir a teoria do desenvolvimento de carreira de Super (1957, citado por Savickas,
1995): desenvolveu a Teoria da Construção da Carreira (Career Construction Theory) -
a carreira passou a ser percecionada como a sequência das diferentes ocupações ao
longo da vida e do seu desenvolvimento num processo construtivo, pessoal e social
através dos significados atribuídos às escolhas profissionais realizadas. Ou seja, é a
tradução do resultado de experiências passadas, experiências atuais e aspirações futuras.
Esta teoria engloba três dimensões, a dimensão diferencial, a dimensão dinâmica e a
dimensão desenvolvimental, que procuraram responder a três questões acerca do
comportamento vocacional indicadas como o resultado da personalidade vocacional
(vocational personality), da adaptabilidade de carreira (career adaptability) e dos temas
de vida (life themes) estabelecidos pelo indivíduo: o quê?, como? e porquê? – sendo
considerado essencial, como referido também por Donald Super, o processo de
implementação do Self.
Relacionado com os três conceitos acima mencionados, personalidade
vocacional, adaptabilidade de carreira e temas de vida, surge o conceito de
adaptabilidade como um processo contínuo e dinâmico resultante das estratégias que o
indivíduo utiliza nas mais variadas situações do mundo do trabalho às quais é exposto.
Savickas & Porfeli (2012) revelam a importância da aquisição de competências
comportamentais necessárias à adaptação, destacando 4 dimensões essenciais ao seu
desenvolvimento: as preocupações (concern), o controlo (control), a curiosidade
(curiosity) e a confiança (confidence) – estas representam os recursos e as estratégias
adaptativas que o indivíduo utiliza para gerir determinadas tarefas e mudanças ao longo
do desenvolvimento de carreira. Tais recursos consistem em capacidades de
autorregulação, aplicadas à resolução de problemas que podem surgir ao longo do
desenvolvimento vocacional.
Posteriormente, Savickas e Porfeli (2012) alertaram que os recursos utilizados e
a capacidade de adaptação às circunstâncias (subjacentes às dimensões: preocupações,
controlo, curiosidade e confiança) são inerentes, não só indivíduo, mas essencialmente à
intersecção pessoa-ambiente e, por isso, considerados constructos psicossociais. De
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
20
modo a proceder a uma avaliação mais detalhada da adaptabilidade, destaca-se a
construção da escala Career Adapt-Abilities Scale (CAAS) realizada por um grupo a
partir de um grupo de investigação intercultural.
A primeira versão da CAAS era constituída por 100 itens, repartidos em 25 itens
referentes a cada dimensão proposta na Teoria da Construção da Carreira de Savickas -
preocupação, controlo, curiosidade e confiança (Tabela 3) - que, por meio de três
estudos inicialmente desenvolvidos nos Estados Unidos da América, utilizando análises
fatoriais exploratórias dos resultados, foram reduzidos a quatro conjuntos de 11 itens
(44 itens). Deste modo, Savickas e Porfeli (2012) avaliaram os dados e procederam a
novos ajustamentos dos conjuntos de itens, de modo a que estes garantissem a validade
do modelo teórico proposto, levando à confirmação de que a CAAS é capaz de avaliar
as 4 dimensões propostas no mesmo.
Figura 3. Avaliação das dimensões da Teoria da Construção da Carreira na escala CAAS
Dimensões
Preocupação Avaliação da capacidade de reflexão acerca do
próprio percurso vocacional bem como da
capacidade de planeamento e preparação para
futuros desafios.
Controlo Avaliação da capacidade de disciplina, esforço e
persistência de modo autónomo no controlo e
preparação face a oportunidades e desafios
existentes e que possam surgir.
Curiosidade Avaliação da capacidade de exploração do Self e
de cenários futuros, por forma a colocar-se
em várias situações e diferentes papéis.
Confiança Avaliação da capacidade de realizar escolhas tendo
em vista a implementação de planos prévios,
aspirações e interesses.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
21
Um estudo realizado em Portugal, utilizando uma adaptação da Career Adapt-
Abilities Scale, considerou as variáveis género, escolaridade e ocupação, sendo que a
amostra incluiu 916 participantes - 255 alunos do 9º, 10º, 11º e 12º ano, 65% deles
frequentam o 9º ano, com uma média de idades de 15,04 anos (DP = 1,39) -; 395
adultos empregados com idade média de 46, 62 anos (DP = 4,29) e 266 adultos
desempregados inscritos em ações de formação, com uma média de idades de 22,43
anos. (Duarte, Soares, Fraga, Rafael, Lima, Paredes, Agostinho & Djaló, 2012). Tendo
em conta os resultados, foi possível perceber que o género feminino demonstrou
maiores níveis de preocupação e confiança não se verificando diferenças significativas
encontradas nos subgrupos desempregados e empregados. A análise relativa ao variável
nível de escolaridade revelou que, nos adultos, a preocupação e a curiosidade nos
participantes com níveis superiores de escolaridade apresentam resultados mais
significativos do que os participantes com um nível de escolaridade médio. No que
respeita ao estatuto ocupacional, verificaram-se resultados mais elevados no grupo de
desempregados em dimensões normais de exploração, de controlo e curiosidade em
comparação com os adultos que exercem uma ocupação.
Como referido anteriormente, o avanço teórico e empírico apresentado por
Savickas e Porfeli (2012) permite perceber que conceito de adaptabilidade de carreira se
traduz num constructo essencial para explicar e compreender as potenciais mudanças ao
longo do desenvolvimento de carreira e do processo de tomada de decisão. Na Teoria da
Construção de Carreira, a adaptabilidade é uma característica da personalidade do
indivíduo que se traduz na flexibilidade à mudança. Nesse sentido, é importante que o
indivíduo se adapte a possíveis desequilíbrios, sendo necessária a exploração do self e
dos mais variados contextos relacionais. As adaptações necessárias a novas situações
normalmente induzem sentimentos de angústia relacionados com a motivação e o
esforço exigido pela mudança - cada indivíduo difere na sua disposição ou prontidão
para efetuar uma mudança (Savickas & Porfeli, 2012).
No mundo do trabalho, a adaptabilidade surge como um constructo essencial da
escolha e da decisão. De facto, a investigação evidencia que a adaptabilidade, em
qualquer etapa da vida, é um elemento crucial da escolha profissional e,
consequentemente, do sucesso no trabalho, cada vez mais variado e competitivo (Baltes,
Lindenberger & Staudinger, 1998 citado por Hartung, Porfeli & Vondracek, 2008).
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
22
Numa uma amostra de 1991 alunos com baixas qualificações Duffy (2010,
citado por Bernardo, 2013), examinou a relação entre o sentido de controlo e
adaptabilidade de carreira, e a sua capacidade de funcionar como um mediador para
outros preditores estabelecidos. Os alunos que provaram um maior sentido de controlo
pessoal reconheciam-se como adaptáveis ao mundo do trabalho. A forte relação
encontrada entre o sentido de controle e a adaptabilidade sugere que os alunos que
exercem controlo sobre as suas vidas tendem a perceber-se como adaptáveis no
processo desenvolvimento de carreira. Considerando as definições de adaptabilidade de
Savickas (1995), Duffy (2010, citado por Bernardo, 2013) considerou que indivíduos
que endossam um maior sentido de controlo pessoal usufruem de uma maior capacidade
de ingressar no mundo do trabalho, uma vez que esta característica os ajusta
proactivamente. Para os estudantes universitários, em particular, ter um maior sentido
de controlo nesta fase específica da vida pode ser essencialmente fundamental, dada a
crescente importância da adaptabilidade.
Num estudo experimental com recém-formados, realizado por Koen, Khele &
Vianen (2012), foram examinandas quais mudanças relacionadas à formação da
Adaptabilidade de Carreira, bem como se essas mesmas alterações permaneciam
estáveis durante um período de seis meses, enfatizando a importância do impacto a
longo prazo do desenvolvimento de carreira (Heppner & Heppner, 2003, citado por
Koen et al, 2012). Deste estudo participaram 93 indivíduos, dos quais 49,5% (n = 46)
constituíram o grupo experimental e 50,5% (n = 47), o grupo de controlo. Os resultados
evidenciaram que o grupo experimental apresenta um maior aumento das dimensões
curiosidade e controlo de carreira em comparação com o grupo de controlo seis meses
após a formação, constituindo um indicador de que a componente formação é
reveladora de resultados significativos no aumento do controlo e da curiosidade de
carreira do participante.
Bernardo (2013) investigou a eventual relação entre Adaptabilidade de Carreira,
Personalidade e Temas de Carreira. Numa amostra comunitária, os participantes do
estudo, selecionados por amostra de conveniência, totalizaram 55 indivíduos adultos
trabalhadores entre os 21 e os 39 anos de idade, com diferenças ao nível das habilitações
literárias. Cerca de 62% dos participantes eram do sexo feminino e cerca de 38% são do
sexo masculino. Ao nível da idade, cerca de 66% dos participantes tinham entre 21 e 30
anos e cerca de 34% tinham entre 31 a 39 anos de idade. Os indivíduos com idades
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
23
compreendidas entre os 31 e os 39 anos apresentam resultados mais elevados nas
dimensões Preocupação, Curiosidade e na adaptabilidade do que os indivíduos com
idades compreendidas entre os 21 e os 30 anos. Este aspeto, torna-se percetível na
dimensão Preocupação tendo em conta a fase de Estabelecimento (entre os 25 e os 44
anos), do ciclo de vida do indivíduo, concretamente na tarefa de desenvolvimento
consolidar, onde o indivíduo mostra preocupação na procura de segurança no trabalho,
bem como a tarefa de desenvolvimento promover, onde o indivíduo tem a preocupação
de procurar autonomia e melhores condições financeiras. Por outro lado, contrariamente
ao esperado na presente investigação, a dimensão Curiosidade não mostrou maior
impacto na faixa etária mais jovem. Neste estudo, a extroversão mostrou uma correlação
positiva às dimensões da Adaptabilidade, especificamente o Controlo e a Confiança, do
que a Abertura à Experiência, que mostrou correlações moderadas com a Confiança e
com a Curiosidade. Estes resultados foram, parcialmente, ao encontro do que era
esperado - os indivíduos extrovertidos são, consequentemente, indivíduos sociáveis, que
facilmente assumem papéis de liderança. Foi encontrada uma correlação positiva entre a
Extroversão e o Controlo que pode ser compreensível, uma vez que os indivíduos
extrovertidos tendem a ser dominantes, ambiciosos e assertivos (características ligadas
ao Controlo), assumindo um sentido de agência pessoal e capacidade de tomada de
decisão.
Um estudo longitudinal desenvolvido por Silva & Gamboa (2014), procurou
avaliar, durante um período de aproximadamente quatro meses, a relação entre as
qualidades percebidas do estágio curricular (autonomia, variedade de tarefas, feedback,
suporte social) nas diferentes dimensões da Adaptabilidade de Carreira (curiosidade,
controlo, confiança e preocupação). Participaram neste estudo 60 alunos do 12º ano de
escolaridade, matriculados em cursos Profissionais de uma escola secundária e que
realizaram um estágio curricular. Dos participantes, 34 eram rapazes (56.7%) e 26 eram
raparigas (43.3%), situando-se a faixa etária entre os 17 e os 20 anos, com uma média
de 18 anos. Os resultados sugeriam a relevância da qualidade do estágio ao nível das
diferentes dimensões da adaptabilidade da carreira. Quanto às correlações encontradas
entre as dimensões da Adaptabilidade e da Qualidade de Estágio, os resultados desta
investigação evidenciam-se parcialmente concordantes com as investigações que
reconhecem a importância da qualidade das experiências de trabalho no
desenvolvimento da carreira dos adolescentes, não só a curto, mas também a longo
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
24
prazo (Gamboa et al, 2013; Mortimer & Zimmer-Gembeck, 2007, citado por Silva &
Gamboa, 2014), uma vez que uma maior perceção da qualidade surge positivamente
associada a níveis mais elevados de adaptabilidade de carreira, remetendo para a
relevância do papel do suporte social e do apoio emocional, em diferentes dimensões da
adaptabilidade de carreira.
Por sua vez, Salimi & Nilforooshan (2016) desenvolveram um estudo onde
examinaram o papel da adaptabilidade de carreira como mediador entre as dimensões da
personalidade e a ligação profissional, numa amostra estudantil iraniana. Os
participantes incluíram 201 estudantes universitários na Universidade de Isfahan, no
Irão. Dos participantes 101 eram do sexo feminino (50,2%) e 100 do sexo masculino
(49,8%). A idade média foi 23,87 (DP = 3,84, Min = 18, Max = 40); 64,2% eram
licenciados, 29,9% eram mestrandos e 5% eram doutorados. Em geral, os resultados
revelaram o papel mediador da adaptabilidade de carreira entre as dimensões específicas
da personalidade (atividade, neuroticismo e procura de sensações) e o compromisso
e/ou ligação profissional. Os resultados mostraram que as dimensões de adaptabilidade
de carreira mediaram parcialmente a relação entre a atividade e a profissão, de tal forma
que o aumento da atividade laboral, direta e indiretamente através das dimensões da
personalidade, revelou um aumento do envolvimento na carreira. Este facto sugere que
os indivíduos que são mais ativos são também mais propensos a ter recursos
psicossociais para lidar com as mudanças. A compulsão ao trabalho, a motivação
inerente à prática de uma atividade profissional e o potencial de sucesso no trabalho
podem constituir um desafio face ao processo de tomada de decisão, ao
desenvolvimento de comportamentos em prol da aquisição de informações e às
competências necessárias ao desenvolvimento de carreira.
5. Desenvolvimento de carreira e satisfação com a vida
A Satisfação com a Vida é definida como uma das medidas do bem-estar subjetivo.
Refere-se ao julgamento global e subjetivo que os indivíduos elaboram acerca da
qualidade da sua vida, através de padrões e critérios definidos por si, podendo ser
dividida pelos vários domínios e contextos da vida dos mesmos (Diener, 1984). Trata-se
de um conceito multidimensional e também de um constructo dinâmico, uma vez que se
encontra em constante alteração ao longo da passagem do tempo e das diferentes etapas
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
25
do ciclo vital. A presente investigação não se limita a avaliar um domínio ou um
contexto em concreto, mas sim avaliar ao nível global a satisfação com a vida do
indivíduo, destacando a perspetiva de Diener (1984) que refere que os mecanismos de
comparação social e cognitiva são por vezes os maiores preditores do bem-estar
subjetivo. A satisfação com vida deverá envolver aos aspetos positivos da mesma e não
se referir apenas à ausência de fatores negativos (Diener, 2005).
Ao abordar esta variável pretende-se compreender duas das suas vertentes, neste
caso, a componente cognitiva e a componente social. Tipicamente, este tipo de
abordagem implica comparações pessoais entre vida real e vida ideal com o intuito de
avaliar vários aspetos da experiência de vida e consequentemente a satisfação com a
mesma. (Diener, 2006). Nesta investigação utilizaremos a perspetiva proposta por
Diener, Escala de Satisfação com a Vida. Esta variável, na presente dissertação, terá o
estatuto de consequente.
O tema do desenvolvimento de carreira relaciona-se com o do bem-estar com a vida
na medida em que o desenvolvimento de carreira assume a decisão, a escolha
profissional e a adaptação às condições impostas pelo meio como aspetos propulsores
do bem-estar com a vida. A avaliação individual do trabalho, dos papéis
desempenhados, a adaptação a estratégias para lidar com tarefas de desenvolvimento,
transições e mudanças, as experiências, histórias e narrativas que indicam padrões de
motivação, os temas que definem a vida, a aptidão, os interesses e a personalidade que
determinam o autoconceito de um indivíduo são aspetos que, intrinsecamente,
promovem ou dificultam o sentimento a satisfação com a vida (Hartung & Taber, 2008).
Neste sentido, a investigação tem evidenciado que a adaptabilidade profissional está
positivamente relacionada com o bem-estar e satisfação com a vida (Santilli,
Marcionetti, Rochat, Rossier, Nota, 2017). O bem estar com a vida também tem surgido
positivamente ligado ao estatuto de emprego, satisfação na carreira e sucesso na
carreira, estando de igual modo associado a baixos níveis de stress no trabalho e baixa
ansiedade profissional (Guan, 2013; Pouyaud., 2012; Johnston, 2013 citado por Santilli,
Marcionetti, Rochat, Rossier, Nota, 2017).
Num dos seus estudos, Neto e Barros (2007) examinaram o nível de satisfação com
a vida em adolescentes com famílias emigrantes. Ao focar a variável contexto, os
resultados deste estudo mostraram que a satisfação com a vida dos adolescentes
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
26
portugueses que vivem na Suíça não difere daqueles que vivem em Portugal. Os fatores
psicológicos foram os que mais denotaram influência no bem-estar dos participantes,
enquanto os fatores demográficos demonstraram exercer uma forte influência nos
fatores psicossociais. Em Portugal, os adolescentes do sexo masculino apresentaram
pontuações mais altas nos níveis de satisfação com a vida do que as adolescentes do
sexo feminino (Neto, 1993, citado por Neto e Barros, 2007). Contudo, ressalta-se a
importância de investigações futuras que comprovem a veracidade deste facto na
realidade Portuguesa. Os indivíduos que apresentaram um maior nível de domínio sobre
a sua vida, foram os que apresentaram também um maior sentimento de satisfação com
a vida (Lachman & Wearer, 1998; Neto, 1995; Sam, 1998, citado por Neto & Barros,
2007).
Dada a situação socioeconômica que afeta atualmente uma grande parte dos
adolescentes no mundo, Santilli et all (2017) desenvolveram um estudo que teve como
objetivo avaliar a relação entre a adaptabilidade profissional, a esperança, o otimismo e
a satisfação com a vida em jovens suíços e italianos, entre os 12 e os 16 anos de idade.
De acordo com Hirschi (2009) que observou relações diretas entre adaptabilidade à
carreira e a satisfação com a vida, com estudos realizados por Karademas (2005) e
Scioli (2010) onde foram observadas relações entre recursos sociais e pessoais com a
esperança e o otimismo, Santilli et al (2017) colocaram a hipótese de que a
adaptabilidade profissional, direta ou indiretamente, prevê a satisfação com a vida neste
tipo de população, os adolescentes. Os resultados obtidos indicaram uma mediação
parcial entre os adolescentes italianos, ao revelar que a variável capacidade está direta e
indiretamente relacionada à satisfação com a vida. Quanto aos adolescentes suíços, os
resultados revelaram uma mediação completa, mostrando que a adaptabilidade
profissional está indiretamente relacionada com a orientação positiva para o futuro
(esperança e otimismo). Os dados das investigações anteriormente referidas, sugerem
que o contexto psicossocial de um indivíduo pode exercer efeito sobre como a
adaptabilidade profissional tem impacto na sua satisfação com vida, trazendo
implicações para a prática e escolha de uma profissão, nomeadamente, a importância da
promoção da adaptabilidade como facilitador de um bem estar subjetivo.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
27
Parte II – Estudo empírico
1. Objetivos e questões de investigação
A presente investigação tem como objetivo estudar a indecisão vocacional e a
sua relação com a adaptabilidade de carreira e a satisfação com a vida dos adolescentes,
bem como perceber as diferenças existentes tendo em conta o género, a idade e a
escolaridade dos participantes.
O referido objetivo prende-se com a necessidade de compreender as diferenças
existentes nas faixas etárias encontradas na amostra escolhida, bem com o género e o
nível de escolaridade, uma vez que estas podem influenciar a experiência psicossocial, a
adaptabilidade e o bem-estar com a vida do adolescente. Desta forma, procuramos dar
um contributo para o entendimento da indecisão vocacional na adolescência através
dum estudo relacionando esse tipo de dificuldade no comportamento vocacional com a
adaptabilidade e satisfação da vida de adolescentes portugueses. Para explorar a relação
entre as variáveis referidas partimos das seguintes hipóteses de investigação:
H1) Existe uma relação inversa e significativa entre dificuldades na tomada de
decisão, adaptabilidade na carreira e satisfação com a vida.
Esta hipótese justifica-se porque, sendo a adaptabilidade da carreira uma
dimensão relativa à prontidão para lidar com os desafios da carreira, então é possível
que dificuldades na tomada de decisão se relacionem com falta dessa prontidão. Sendo o
desenvolvimento de carreira uma dimensão importante na vida das pessoas, é
expectável que os adolescentes com dificuldades de tomada de decisão evidenciem
menos satisfação com a vida (Gati et al, 2010).
H2) Existe uma relação positiva entre adaptabilidade na carreira e satisfação
com a vida.
Esta hipótese justifica-se por ser expectável que pessoas com mais
adaptabilidade consigam lidar melhor com os desafios da carreira e, consequentemente,
mais satisfação com a vida (Savickas, 2005).
H3) Existem diferenças relativas à indecisão vocacional nos adolescentes no
que se refere à faixa etária.
Espera-se que os participantes em fases de desenvolvimento etário mais
avançado sejam mais confiantes na sua escolha futura, tenham maiores níveis satisfação
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
28
com a vida e menores níveis de dificuldades de tomada de decisão. A hipótese
fundamenta-se na própria definição de adaptabilidade na carreira que a coloca como
prontidão para lidar com os desafios da carreira (Savickas, 2013) e em estudos indicam
que adaptabilidade de carreira é maior em pessoas com maior nível etário (Cardoso,
2007; Creed & Patton, 2003; Patton & Creed, 2001).
H4) Existem diferenças entre rapazes e raparigas quanto à dificuldade de tomar
uma decisão.
Esperam-se que os participantes do género feminino evidenciem níveis
inferiores de adaptabilidade de carreira e de satisfação com a vida, uma vez que a
maioria dos estudos tem demonstrado maiores níveis de preocupação e confiança e
níveis elevados de dificuldades de tomada de decisão (Duarte, Soares, & Fraga, 2012).
H5) Existem diferenças na capacidade de tomada de decisão relativamente ao
nível de escolaridade.
Espera-se que os participantes de 12º ano de escolaridade evidenciem baixos
níveis de dificuldade de tomada de decisão e níveis altos de adaptabilidade e satisfação
com a vida. Esta hipótese justifica-se porque os jovens do 12º ano de escolaridade estão
numa fase do desenvolvimento da carreira em que as escolhas já estão mais
especificadas e, com isso, o percurso da carreira também mais definido. Na sequência
do elaborado nas hipóteses 1 e 2, também se esperam níveis altos de adaptabilidade na
carreira e satisfação com a vida.
2. Metodologia
2.1.Participantes
A amostra deste estudo é uma amostra por conveniência, constituída por alunos
provenientes de duas instituições de ensino diferentes: Agrupamento de Escolas nº 2 de
Évora e Escola Básica e Secundária Dr. Hernâni Cidade em Redondo.
O presente estudo envolveu uma amostra de 273 participantes, sendo 137 raparigas
(50.2%) e 136 rapazes (49.8%). Na amostra total, 148 participantes frequentavam o 9º
ano de escolaridade e as suas idades variavam os 13 e 17 (M =14.43; D.P. =.71).
Frequentavam o 12º ano 125 jovens, com idades compreendidas entre os 15 e 20 (M =
17.42; D.P. = .74). Os participantes do 12º ano frequentavam diferentes formações, isto
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
29
é, 107 dos participantes frequentavam cursos Científico-Humanísticos e 18 dos
participantes frequentavam Cursos Profissionais.
2.2.Instrumentos
Os instrumentos de avaliação utilizados na presente investigação permitiram a
recolha de dados através da administração direta de três questionários:
a. Career Decision Difficulties Questionnaire (CDDQ; Gati, 2010). Este
questionário inclui 34 afirmações correspondentes às 34 dificuldades na tomada
de decisão vocacional, tendo por objetivo classificar (numa escala de 9 pontos) o
grau em que a dificuldade representada por cada item interfere ou não no próprio
processo de tomada de decisão do indivíduo.
b. Escala de Adaptabilidade na Carreira (EAC; Duarte, Soares, Fraga, Rafael,
Lima, Paredes, Agostinho & Djaló, 2012). Constituída por 28 itens, esta medida
avalia quatro dimensões da adaptabilidade na carreira: preocupação, controlo,
curiosidade e confiança (Savickas, 2013).
c. Escala de Satisfação com a vida. (SWLS – Satisfaction With Life Scale)
elaborada por Diener et. al (1985), adaptada à população portuguesa por Simões
em 1992. O objetivo da escala é demonstrar o juízo subjetivo que os indivíduos
fazem sobre a qualidade das próprias vidas. É constituída por 5 itens que,
aquando da adaptação para a população portuguesa, foram aperfeiçoados para
facilitar a compreensão do conteúdo a todas as pessoas, tal como também foi
adaptada a amplitude da escala, que passou de 7 para 5 pontos: Discordo muito
(1), Discordo um pouco (2), Não concordo, nem discordo (3), Concordo um
pouco (4) e Concordo muito (5).
2.3.Procedimento
Depois de pedir autorização ao Ministério da Educação e Direções das Instituições
de ensino, colaborantes neste estudo, todos os participantes e os seus encarregados de
educação preencheram um documento de consentimento informado. Posteriormente a
esta primeira etapa, foram realizadas as aplicações coletivas dos três instrumentos de
avaliação em turmas do 9º e 12º ano de escolaridade de dois estabelecimentos de ensino
público distintos, em contexto de sala de aula. Referiu-se sempre que todos estes dados
recolhidos seriam confidenciais e anónimos mencionando que o objetivo que se
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
30
pretendia avaliar na investigação e a importância da sua colaboração para o sucesso da
mesma.
O preenchimento dos questionários aplicados não excedeu um máximo de 15
minutos dispensados pelos Diretores de turma dos participantes em horário letivo de
aulas. Cada indivíduo deveria preencher o questionário de forma responsável e com
atenção, para que não ocorressem riscos de enviesamento. Estes questionários
revelaram-se de preenchimento acessível e rápido tendo uma linguagem comum, o que
também facilitou a disponibilidade da amostra para a sua realização.
Os dados foram recolhidos nos meses de Fevereiro e Março de 2017, tendo sido o
seu retorno de acesso imediato às respostas por parte dos elementos da investigação, ou
seja, no momento em que os participantes terminaram o seu preenchimento. Foram
revistas todas as respostas para se verificar que não havia falta de alguma resposta, pois
no caso de questionários incompletos teriam de ser excluídos da amostra, o que não se
verificou pois os 273 indivíduos preencheram corretamente.
3. Análise dos dados
Quanto ao desenho metodológico, trata-se de um estudo correlacional pelo que
foram usadas análises estatísticas que envolveram estudos de correlação, estudos de
diferenças entre grupos e estudos de regressão. Foram utilizadas análises de estatística
descritiva para a caracterização sociodemográfica dos participantes e dos resultados
globais às escalas de adaptabilidade, satisfação com a vida e indecisão vocacional.
O software utilizado para o tratamento estatístico dos dados foi o Statistical Program
for Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 20.
4. Resultados
4.1. Precisão dos Resultados nas Escalas
Com vista a avaliar a precisão dos resultados do CDDQ, da Escala de
Adaptabilidade e da Escala de Satisfação com a Vida efetuou-se o cálculo do Alpha de
Cronbach. Refira-se que este índice dá indicadores relativos à consistência interna de
cada uma das medidas usadas.
Considerando que os valores do Alpha de Cronbach variam entre 0 e 1, sendo
este aceite quando superior a 0.70, pode-se verificar que o CDDQ apresenta uma boa
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
31
consistência interna, sendo o valor do α global igual a 0.93. A Escala de Adaptabilidade
e a Escala de Satisfação com a Vida apresentam também uma boa consistência interna,
sendo o valor do α 0.91 e 0.81 respetivamente, podendo estes valores considerarem-se
excelentes (Laureano & Botelho, 2012).
Relativamente à precisão dos resultados de cada uma das escalas, podemos
observar que se encontram acima de 0.70, designadamente: no CDDQ – falta de
informação (α= 0.95), dificuldades relativas a informação inconsistente (α = 0.88),
apresentando apenas a falta de prontidão um valor inferior a 0.70 (α= 0.65); na Escala
de Adaptabilidade - Preocupação (α= 0.80), Controlo (α= 0.83), Curiosidade (α= 0.85) e
Confiança (α= 0.72). Podemos assim denotar que a precisão dos resultados é elevada
tanto na escala completa dos instrumentos utilizados, como em cada uma das dimensões
das mesmas.
4.2. Relação entre as variáveis Dificuldades de Tomada de Decisão,
Adaptabilidade e Satisfação com a Vida
De forma a compreender a relação entre e as diversas dimensões do dos
instrumentos utilizados foram utilizadas correlações de Person (r). Os resultados obtidos
podem ser observados na Tabela 1.
Tabela 1. Matriz de correlações para as variáveis do CDDQ, Escala de Adaptabilidade
e Escala de Satisfação com a Vida.
Nota: Correlações estatisticamente significativas a p < 0,01** e p < 0,05*.
DII – Dificuldades relativas a informação inconsistente.
Escalas 1 2 3 4 5 6 7 8
1.Falta de Prontidão
2. Falta de Informação
3. DII
4. Preocupação
5. Controlo
6. Curiosidade
7. Confiança
8. Satisfação com a Vida
,56**
,56** ,73**
-,08 -,19** -,16**
-,16** -,16** -,20** ,51**
-,06 -,11 -,10 ,59** ,63**
-,08 -,15* -,11 55** ,65** ,61**
-,05 -,11 -,20** ,27** ,39** ,29** ,35** -
Média 4,3 4,4 3,6 3,8 4,0 3,7 3,9 3,6
Desvio Padrão 1,2 1,9 1,8 0 ,6 0,6 0,7 0,7 0,9
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
32
Podemos observar que todas as dimensões do CDDQ, estão correlacionadas
positivamente entre elas, revelando correlações positivas significativas. Assim,
podemos denotar que existem correlações positivas entre a dimensão Falta de prontidão
e a dimensão Falta de Informação (r =.57, p =.001); entre a dimensão Falta de
prontidão e a dimensão Dificuldades relativas a informação inconsistente (r =.56, p
=.001); entre a dimensão Falta de Informação e a dimensão Dificuldades relativas a
informação inconsistente (r =.73, p =.001). Observa-se também que todas a dimensões
da Escala de Adaptabilidade se correlacionam positivamente entre si, isto é, entre a
dimensão Preocupação e a dimensão Controlo (r =.51, p =.001), entre a dimensão
Preocupação e a dimensão Curiosidade (r =.60, p =.001), entre a dimensão
Preocupação e a dimensão Confiança (r =.56, p =.001), entre a dimensão Controlo e a
dimensão Curiosidade (r =.63, p =.001), entre a dimensão Controlo e a dimensão
Confiança (r =. 66, p =.001), entre a dimensão Curiosidade e a dimensão Confiança (r
=.61, p =.001).
É possível verificar que existem correlações negativas e significativas entre as
dimensões do CDDQ e as dimensões da Escala de Adaptabilidade. Deste modo,
denotamos correlações negativas entre a dimensão Preocupação e a dimensão Falta de
informação (r =-.195, p =.001), entre a dimensão Preocupação e a dimensão
Dificuldades relativas a informação inconsistente (r =-.161, p =.001), entre a dimensão
Controlo e a dimensão Falta de prontidão (r =-.16, p =.001), entre a dimensão Controlo
e a dimensão Falta de informação (r =-16., p =.001), entre a dimensão Controlo e a
dimensão Dificuldades relativas a informação inconsistente (r =-.20, p =.001) e entre a
dimensão Confiança e a dimensão Falta de informação (r =-.15, p =.001). Observa-se
assim um padrão entre as dimensões dos dois instrumentos utilizados, o CDDQ e a
Escala de Adaptabilidade, variando em sentido inverso.
A Escala de Satisfação com a Vida correlaciona-se positivamente e
significativamente com todas a dimensões da Escala de Adaptabilidade, verificando-se
correlações positivas entre a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão
Preocupação (r =.28, p =.001), a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão
Controlo (r =.39, p =.001), a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão
Curiosidade (r =.29, p =.001) e a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão
Confiança (r =.35, p =.001). Denota-se uma correlação negativa forte entre a Escala de
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
33
Satisfação com a Vida e a dimensão Dificuldades relativas a informação inconsistente
do CDDQ (r =-.206, p =.001)
Os resultados obtidos permitem observar que não existem correlações entre a
dimensão Curiosidade da Escala de Adaptabilidade e as dimensões do CDDQ
(prontidão (r = -.06, p = .267); falta de informação (r = -.116, p = .056); Dificuldades
relativas a informação inconsistente (r =-.102, p = .091)), tal como não existem
correlações entre a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão Falta de prontidão (r
=-.056, p = .360), entre a Escala de Satisfação com a Vida e a dimensão Falta de
informação (r =-. 112, p =.064), entre a dimensão Preocupação e a dimensão Falta de
prontidão (r =-.088, p =.146).
4.3. Diferenças entre grupos
Para estudar diferenças entre grupos relativamente às variáveis consideradas
realizaram-se estudos de análise da variância ANOVA one-way por forma a comparar a
média dos resultados das escalas tendo em conta o género, a idade e o nível de
escolaridade dos participantes.
Relativamente ao género (tabela 2), os resultados não evidenciaram diferenças
estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas.
Tabela 2. Diferenças entre médias de resultados em função do género
Escalas
Rapazes
N= 136
Raparigas
N= 137
F
Média D.P Média D.P
Falta de Prontidão 4,3 1,2 4,3 1,2 ,02
Falta de Informação 4,3 1,7 4,4 2,0 ,00
Dificuldades relativas a
informação inconsistente
3,6 1,6
3,5 1,8
,03
Preocupação 3,7 ,57 3,8 0 ,6 1,8
Controlo 3,9 ,65 4,0 0,6 0,1
Curiosidade 3,7 ,67 3,8 ,63 1,9
Confiança 3,9 ,72 3,9 ,62 ,03
Satisfação com a Vida 3,7 ,87 3,6 ,84 ,03
Nota: Todas as correlações são estatisticamente significativas a p < 0,01** e p < 0,05*.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
34
Em função da variável idade (Tabela 3), os participantes foram agrupados em 2
níveis (1- 13 a 16 anos e 2- 17 a 20 anos):
Tabela 3. Diferenças entre médias de resultados em função da idade
Escalas
1
N= 148
2
N= 125
F
Média D.P Média D.P
Falta de Prontidão 4,4 1,1 4,2 1,2 1,9
Falta de Informação 4,4 1,8 4,3 1,9 ,11
Dificuldades relativas a
informação inconsistente
3,4 1,6 3,8 1,8 1,9
Preocupação 3,8 ,59 3,8 ,59 ,00
Controlo 3,9 ,67 4,0 ,57 ,20
Curiosidade 3,7 ,68 3,7 ,62 ,20
Confiança 3,9 ,67 3,9 ,67 ,01
Satisfação com a Vida 3,8 ,75 3,4 ,93 12,6**
Nota: Todas as correlações são estatisticamente significativas a p < 0,01** e p < 0,05*.
Relativamente às variáveis do CDDQ (Falta de prontidão, Falta de Informação
e Dificuldades relativas a informação inconsistente) e às variáveis da Escala de
Adaptabilidade (Preocupação, Controlo, Confiança e Curiosidade) não foram
encontradas diferenças significativas, como se pode verificar na tabela 3.
Para Escala de Satisfação com a Vida [F(1, 271)=12.582, p < .01] existem
diferenças significativas favoráveis aos participantes que se encontram entre os 13 e os
16 anos de idade (1).
No que diz respeito ao nível de escolaridade frequentado pelos participantes,
como se pode constatar na tabela 4, verificaram-se diferenças significativas para as
varáveis Prontidão [F(1, 270)= 3,975, p < .05], Dificuldades relativas a informação
inconsistente [F(1,270)= 5,195, p < .01] e Escala de Satisfação com a vida [F(1, 270)=
7,226, p < .01]. Comparações múltiplas a posteriori evidenciaram que os participantes
do 12º ano Profissional apresentam médias superiores para as variáveis Falta de
prontidão e Dificuldades relativas a informação inconsistente [F(3,975)= 4,8410, p <
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
35
.05] e [F(5,195)= 4,8185, p < .05], respetivamente. Por sua vez, os participantes do 9 º
ano de escolaridade apresentam médias superiores para a variável Satisfação com a
Vida, observando-se na tabela 4, [F(7,226) = 3,8095, p < .05].
Tabela 4. Diferenças entre médias de resultados em função do nível de escolaridade
Nota: Todas as correlações são estatisticamente significativas a p < 0,01** e p < 0,05*.
Comparações múltiplas à posteriori revelaram diferenças significativas entre os
3 níveis de escolaridade considerados (9º ano, 12ºano, 12º profissional) para as
variáveis Satisfação com a Vida, Falta de prontidão e Dificuldades relativas a
informação inconsistente. É possível verificar que para a variável Satisfação com a Vida
são os participantes de 9ºano que apresentam uma média mais elevada em comparação
com os restantes níveis de escolaridade. No que diz respeito às variáveis Falta de
prontidão e Dificuldades relativas a informação inconsistente, estas apresentam
resultados significativos ao nível de escolaridade 12º profissional em comparação com o
nível de escolaridade 12º ano, denotando-se também uma variância significativa ao
nível de escolaridade 9º ano face à variável Dificuldades relativas a informação
inconsistente.
Escalas
9º ano
N= 148
12º ano
N= 107
12º Profissional
N=18
F
Média D.P Média D.P Média D.P
Falta de Prontidão 4,4 1,1 4,1 1,2 4,8** 1,1 3,9
Falta de Informação 4,4 1,8 4,3 2,0 4,9 1,5 ,89
Dificuldades relativas
a informação
inconsistente
3,5 1,6 3,6 1,8 4,8** 1,6 5,1
Preocupação 3,7 ,59 3,8 ,58 3,5 ,53 2,8
Controlo 3,9 ,68 4,0 ,56 3,7 ,46 2,5
Curiosidade 3,7 ,68 3,8 ,62 3,5 ,46 2,1
Confiança 3,9 ,67 3,9 ,70 3,8 ,47 ,14
Satisfação com a Vida 3,8** ,74 3,5 ,93 3,1 ,96 7,2
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
36
5. Discussão dos Resultados
A presente discussão pressupõe uma síntese reflexiva dos resultados obtidos, e
anteriormente descritos, bem como uma resposta às questões de investigação. Com este
estudo procurou-se estudar a indecisão vocacional na adolescência através da relação
entre a dificuldade no comportamento vocacional, a adaptabilidade na carreira e a
satisfação com vida, bem como estudar diferenças entre as médias de resultados em
função do género, idade e escolaridade dos participantes.
Antes de testar as hipóteses fez-se o estudo da precisão das medidas a fim de obter
importante indicador da qualidade das medidas na população estudada. Os resultados
confirmaram bons índices de precisão dos resultados das medidas usadas, através de
valores superiores a 0.70 em todas as suas dimensões. Este resultado está na linha dos
obtidos noutros estudos nacionais (Duarte, Soares, & Fraga, 2012; Bernardo, 2013;
Silva & Gamboa, 2014, Neto & Barros, 2007) e internacionais (Gati, Krausz, &
Osipow, 1996; Driver et al, 1990; Harren, 1979; Duffy, 2010; Koen, Khele & Vianen,
2012) com estas medidas.
Relativamente à H1, esta confirma-se através dos resultados obtidos, uma vez que se
evidenciam correlações inversas e significativas entre as dimensões do CDDQ
relativamente às escalas de Adaptabilidade na Carreira e Escala de Satisfação com a
Vida. Estes resultados estão em concordância com a literatura. De fato Gati (2010)
refere que a indecisão vocacional surge no modelo de perfis de decisão como uma
experiência normal do ciclo de vida. O conjunto de oportunidades existentes e as
experiencias vividas de um individuo, bem como a possibilidade e capacidade de
avaliação das dificuldades que lhe possam surgir aquando da construção de uma
identidade profissional, são um elemento essencial na resolução das dificuldades de
tomada de decisão, contribuindo assim para a promoção e de um bem-estar subjetivo
individual que, ao longo do ciclo vital, se encontra em constante alteração. Nesta linda,
em investigações posteriores, Santilli et al (2017) revelaram que a variável capacidade
está direta e indiretamente relacionada à satisfação com a vida, mostrando que a
adaptabilidade profissional está indiretamente relacionada com a orientação positiva
para o futuro, ou seja, para a conquista de um bem-estar subjetivo.
A segunda hipótese também foi confirmada uma vez que se verificaram correlações
positivas entre todas as dimensões da Escala de Adaptabilidade e a Escala de Satisfação
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
37
com a Vida. Os resultados estendem-se para além do conceito de adaptabilidade
traduzido como a capacidade de mudança perante para novas ou diferentes situações e
circunstâncias (Savickas, 1995), caraterizando indivíduos que se comprometem e se
envolvem no papel que desempenham ao longo do ciclo vital, por forma a dar resposta
às exigências inerentes, criando e concretizando oportunidades de forma proativa.
Como é possível confirmar ao longo da revisão da literatura que suporta esta
investigação, num dos estudos desenvolvidos por Salimi e Nilforooshan (2016),
evolvendo participantes adultos, os resultados mostraram que as dimensões de
adaptabilidade de carreira mediaram parcialmente a relação entre a atividade laboral e a
profissão propriamente dita, de tal forma que o aumento da atividade laboral, direta e
indiretamente através das dimensões da personalidade, revelou um aumento do
envolvimento na carreira. Este facto sugere, à luz da Teoria da Construção de Carreira
de Savickas, que os indivíduos que são mais proactivos, ou seja, com níveis mais
elevados de iniciativa pessoal, são também mais propensos a ter recursos psicossociais
para lidar com as mudanças (Savickas, 1995). Os dados das investigações referidas,
sugerem também que o contexto psicossocial de um indivíduo pode exercer efeito no
modo como a adaptabilidade profissional tem impacto na satisfação com vida. Assim,
estes resultados trazem implicações importantes para a prática e escolha de uma
profissão, nomeadamente, a importância da promoção da adaptabilidade na carreira para
facilitar a satisfação com a vida.
Para a H3, era expectável que os participantes em fases de desenvolvimento etário
mais avançado fossem mais confiantes na sua escolha futura e obtivessem maiores
níveis satisfação com a vida e menores níveis de dificuldades de tomada de decisão. Os
resultados obtidos não verificaram a hipótese formulada. Ao contrário do que se
esperava para esta hipótese, são os participantes entre os 13 e os 16 anos de idade que
apresentam diferenças significativas favoráveis ao apresentarem níveis superiores de
satisfação com a vida. Não existem estudos que permitam justificar o resultado
encontrado pelo que emerge, assim, a necessidade de novos estudos que procurem
aprofundar neste tipo de população a relação entre o nível etário dos participantes e os
níveis de confiança face ao futuro.
A H4 não foi confirmada pois não foram encontradas diferenças significativas entre
rapazes e raparigas em nenhuma das dimensões em estudo. Este resultado não está de
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
38
acordo com os obtidos num estudo de Duarte, Soares e Fraga (2012) onde participantes
do género feminino evidenciaram maiores níveis de preocupação e confiança do que os
participantes do género masculino. De fato, outros estudos têm evidenciado que,
tendencialmente, as raparigas têm níveis de adaptabilidade e maturidade vocacional
relativamente aos rapazes (Duarte et al, 2012; Patton & Lokan, 2001), pelo que será
importante futuras investigações procurarem aprofundar diferenças de género no que diz
respeito à prontidão e confiança na realização de uma escolha vocacional. Considerando
a importância da cultura no desenvolvimento de carreira e que a amostra do estudo é
uma amostra de conveniência que envolveu apenas dois estabelecimentos de ensino,
então é possível que especificidades da amostra possam explicar os resultados obtidos.
No que concerne à H5, esta não se confirma. Assim, não se confirmou que os
adolescentes que frequentam níveis superiores de escolaridade demonstrassem menos
dificuldades de decisão vocacional e níveis mais altos de adaptabilidade na carreira e de
satisfação com a vida. O resultado obtido não está em linha com os resultados obtidos,
por exemplo, por Duarte, Soares e Fraga (2012) em que os participantes com maiores
níveis de escolaridade evidenciavam níveis de preocupação e a curiosidade
significativamente mais altos do que os participantes com um nível de escolaridade
mais baixo. O fato da hipótese não ter sido confirmada pode justificar-se por falta de
informação escolar e profissional dos participantes do 12º ano. De fato, a maioria dos
participantes do 12º ano de escolaridade respondeu “9 – descreve-me bem” para a
subescala do CDDQ “falta de informação”, numa escala de likert com pontuação de 0 a
9. O resultado aponta para a necessidade de trabalhar com esta população as suas
necessidades de informação como uma das formas de preparar para a transição de
carreira que vão confrontar.
Para esta hipótese, foram ainda realizadas comparações múltiplas à posterior,
através de três níveis distintos de escolaridade, 9º ano, 12º ano, 12º ano profissional,
tendo sido verificado que os participantes do 12º ano de escolaridade apresentam
médias superiores para as variáveis prontidão e dificuldades relativas a informação
inconsistente, não existindo diferenças acentuadamente significativas nos restantes
níveis de escolaridade em estudo. Para a prontidão, os resultados podem ser justificados
pela especificidade da área de estudos que os participantes do 12º ano profissional
frequentam, experienciando e familiarizando-se com uma determinada área profissional.
Quanto à variável dificuldades de informação inconsistente, os dados obtidos reforçam
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
39
o que foi referindo na justificação da hipótese anterior relativamente ao facto dos
participantes considerarem que têm pouca informação de carreira.
Contudo, a variável satisfação com a vida evidencia-se favorável aos participantes
do 9º ano de escolaridade. Esta evidência pode explicar-se através dos diferentes papéis
desempenhados ao longo da vida como um resultado da sua exigência. Em dados de
observação direta, foi também possível perceber que no 9º ano de escolaridade os
alunos ainda não se confrontaram com a exigência de realizarem determinadas escolhas
que iniciem o seu processo de desenvolvimento de carreira. Verificou-se igualmente que
os alunos não se encontram consciencializados para a importância da tomada de decisão
de carreira em períodos precoces do seu ciclo vital.
6. Limitações e implicações futuras
O objetivo geral das investigações realizadas nos últimos anos tem sido
identificar o maior número possível de variáveis que possam estar subjacentes aquando
do processo de desenvolvimento vocacional. Como qualquer estudo, também este
apresenta limitações a resolver em futuras investigações. A primeira limitação tem a ver
com o número limitado de estabelecimentos de ensino, dado ser uma amostra de
conveniência ao estudo. Outra importante limitação que se encontra, prende-se com o
facto de a amostra do estudo ser de reduzido tamanho, não representativa da população
que se pretende estudar. No seu conjunto estas duas limitações acabam por reduzir as
possibilidades de generalização dos resultados.
Atualmente, as mudanças existentes em contexto familiar, profissional e social
justificam uma visão mais abrangente e sinergética, ao nível da investigação e
intervenção por parte do psicólogo, dos processos de exploração e indecisão vocacional.
Assim, destaca-se a importância premente do desenvolvimento de novas escalas de
avaliação da indecisão vocacional, para que deste modo a intervenção e avaliação do
psicólogo, possa mais facilmente identificar um maior número de variáveis influentes e
alargar a complexidade das dimensões causais, que originam as dificuldades na escolha
vocacional.
Tendo em conta as limitações referidas, seria importante que em futuros estudos
fossem consideradas amostras mais heterogéneas de modo a permitir maiores
possibilidades de generalização dos resultados. De igual modo, poderá ser necessário
incluir nesta linha de investigação um maior número de questões acerca da presente
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
40
temática, na medida em que seja possível compreender um maior número de contextos
envolventes dos participantes e estudar a sua relação com as dificuldades de tomada de
decisão emergentes. Em posteriores estudos será igualmente necessário um maior
número de participantes de forma verificar em que medida algumas relações não
significativas verificadas se deveram à dimensão das amostras usadas ou a outras
especificidades das populações estudadas.
Relativamente às implicações práticas do presente estudo para a área da
Psicologia da Educação, é de referir que os resultados obtidos poderão apoiar o
desenvolvimento de programas de intervenção com vista a promover o desenvolvimento
de carreira em adolescentes, explorando interesses e aptidões à luz do meio ambiente
em que este se move, tendo em conta a suas experiências de vida passadas. Estes
programas, sendo adaptados à sociedade, poderão influenciar em larga escala os
resultados alcançados nos mesmos.
Os resultados, evidenciando a importância da promoção da adaptabilidade na
carreira para a redução de dificuldades de tomada de decisão e para a satisfação com a
vida, reforçam o papel que a intervenção vocacional pode ter na satisfação com a vida
dos indivíduos. Esta sugestão é reforçada por estudos que evidenciam a importância da
promoção do desenvolvimento vocacional para desenvolvimento da identidade do
adolescente (Erikson, 1968; Habermas, Ehlert-Lerche,S., & de Silveira, 2009) e,
consequentemente para o seu bem-estar e satisfação com a vida (Keller, Bergmann &
Semmer, 2014).
Por forma a obter uma compreensão mais pormenorizada da indecisão
vocacional nos adolescentes, torna-se essencial, para além do foco na faixa etária e no
género dos participantes, incidir na recolha de informações acerca das influências
sociais e ambientais dos mesmos.
7. Conclusão
O principal objetivo deste estudo foi analisar os fatores relativos ao processo
de indecisão vocacional em adolescentes do 9º ano ao 12º ano de escolaridade.
Considerou-se pertinente analisar esta temática devido à existência de inúmeros alunos
com indecisão vocacional, de modo a prever novas formas de melhorar o seu percurso e
as suas escolhas académicas.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
41
Uma boa decisão deve partir da escolha de uma alternativa com a maior
utilidade possível - a utilidade de cada alternativa é o reflexo da diferença entre a
perceção individual de interesses e as características, capacidades e qualidades do
indivíduo. A teoria da utilidade proposta por Gati, Krausz & Osipow (1996),
fundamentada ao longo da presente investigação, é um modelo normativo que pode ser
considerado um preditor para o melhor método de tomar decisões (Baron, 1988; Brown,
1990, citado por Gati et al, 1996). A incerteza de tomar uma decisão desempenha um
importante papel no que respeita às características tanto do indivíduo (preferências e
perspetivas face ao presente e ao futuro) como das alternativas vocacionais existentes e
da sua natureza. O processo de tomada de decisão vocacional envolve um conjunto de
detalhes, uma série de alternativas a selecionar, e muitos outros atributos ou aspetos que
são considerados na comparação e na avaliação das possíveis opções (Gati et al, 1996).
Nesta linha, Gati et al (1996) propôs um modelo multidimensional das dificuldades de
tomada de decisão que se fundamentou na perspetiva de que o processo de tomada de
decisão vocacional poderá estar dividido em componentes distintos envolvendo
diferentes tipos de dificuldades subjacentes ao indivíduo. Assim, o modelo das
dificuldades de tomada de decisão de Gati e colaboradores (1996), utilizado neste
estudo, pressupõe três grandes fatores – a falta de prontidão, a falta de informação, e
dificuldades de informação inconsistente – para fundamentar tomada de decisão
vocacional.
Ao estudar a relação entre as variáveis do CDDQ com as variáveis
adaptabilidade de carreira e satisfação com a vida, procurou-se avaliar também a
prontidão para tomar uma decisão vocacional e a relação disso com a satisfação com a
vida em geral. Deste modo, olhar o comportamento vocacional na interface com o
desenvolvimento psicossocial.
O estudo foi guiado por cinco hipóteses que pretenderam conhecer a relação
entre as variáveis referidas bem com também analisar diferenças relativamente ao
género, à escolaridade e à faixa etária. Os resultados, no que concerne à relação entre
dificuldades de tomada de decisão, adaptabilidade e bem estar-subjetivo, permitiram
concluir a existência de uma relação positiva e significativa: os indivíduos que
apresentam menores níveis de falta de informação, prontidão e dificuldades de
informação inconsistente, apresentam também maiores níveis de adaptabilidade de
carreira e satisfação com a vida. Quanto às restantes variáveis do presente estudo,
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
42
verificou-se que não se relacionam significativamente com o processo de tomada de
decisão vocacional, nomeadamente que se refere à etapa do ciclo vital restrita neste
estudo (dos 16 aos 20 anos de idade). Relativamente aos resultados das hipóteses
colocadas, verificou-se que existem diferenças significativas ao nível da relação entre os
três grandes fatores do CDDQ nos constructos adaptabilidade e satisfação com a vida,
contudo, relativamente às variáveis faixa etária, ao nível de escolaridade, não se
verificam diferenças relevantes.
Desta feita, perante os resultados obtidos na presente investigação, retomamos
ao tema colocado em evidência no enquadramento teórico deste estudo quanto às
dificuldades de tomada de decisão fazerem parte do ciclo vital (Gati; Landman;
Davidovitch; Asulin-Peretz & Gadassi, 2010). Assim, da mesma forma que a indecisão
vocacional se encontra ligada a fatores sociais, económicos, culturais que condicionam
o desenvolvimento e as escolhas vocacionais, a formação de uma identidade pessoal e
todas as variáveis individuais são de enorme importância no confronto com experiências
pessoais, acontecimentos e ambiente familiar, num processo de tomada de decisão
vocacional. Este e outros estudos pretendem identificar que dimensões se relacionam
com a indecisão vocacional e, deste modo contribuir para práticas mais eficazes.
Destaca-se assim a importância da realização de programas de intervenção com o
objetivo de os ajudar a lidarem com as suas dificuldades de tomada de decisão
vocacional e, deste modo, contribuir não só para o seu desenvolvimento de carreira
como também para o desenvolvimento pessoal.
Além das implicações práticas referidas ao longo da discussão dos resultados,
este estudo também estimulou a curiosidade para novas investigações, nomeadamente,
as que considerem variáveis contextuais no entendimento das dificuldades de tomada de
decisão. Tais estudos contribuíram para um olhar mais abrangente do problema. Tais
estudos, deverão ainda ter em conta amostras mais heterogéneas e maiores de forma a
permitir a generalização dos resultados obtidos, e assim tornarem-se percetíveis, por
parte do investigador, as mudanças existentes nos mais variados contextos do
participante, relacionadas com o seu processo de exploração e indecisão vocacional, e
uma mais pormenorizada identificação das variáveis influentes.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
43
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Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
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Anexos
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
48
Anexo I - Pedido de Autorização para Recolha de Dados nas Instituições
Departamento de Psicologia
Universidade de Évora
Apartado 94
7002 – 554 Évora
Ex.mo(a). Senhor(a)
Diretor da Escola Secundária Gabriel Pereira
No âmbito da recolha de dados para investigação sobre o tema “Indecisão
Vocacional, adaptabilidade na carreira e satisfação com a vida” eu, Sara Cristina
Figueira Cabeça, aluna do mestrado em Psicologia, área de especificação Psicologia da
Educação, sob a orientação de Paulo Cardoso, docente do Departamento de Psicologia
da Universidade de Évora, venho solicitar a autorização para aplicar três questionários,
um sobre indecisão vocacional, um sobre adaptabilidade na carreira e o outro sobre
satisfação com a vida, aos alunos desta instituição que frequentam o 9º e o12º ano de
escolaridade.
Os dados obtidos irão permitir informação sobre o impacto da indecisão
vocacional na adaptabilidade e no funcionamento psicossocial dos adolescentes. De
modo a garantir a confidencialidade dos dados, a resposta será anónima e a informação
será tratada quantitativamente e de forma global.
Os questionários serão por mim aplicados em data a combinar com a instituição
e seguindo todos os procedimentos éticos anteriormente assegurados, nomeadamente a
utilização de documentos de consentimento informado e o anonimato no preenchimento
dos referidos questionários.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
49
Antecipadamente grata pela atenção dispensada
________________________________
Évora, Dezembro de 2016
Departamento de Psicologia
Universidade de Évora
Apartado 94
7002 – 554 Évora
Ex.mo(a). Senhor(a) Diretor(a)
da Escola Básica 2,3 e Secundária Dr. Hernâni Cidade
No âmbito da recolha de dados para investigação sobre o tema “Indecisão
vocacional, adaptabilidade na carreira e satisfação com a vida” eu, Sara Cristina
Figueira Cabeça, aluna do mestrado em Psicologia, área de especificação Psicologia da
Educação, sob a orientação de Paulo Cardoso, docente do Departamento de Psicologia
da Universidade de Évora, venho solicitar a autorização para aplicar três questionários,
um sobre indecisão vocacional, um sobre adaptabilidade na carreira e o outro sobre
satisfação com a vida, aos alunos desta instituição que frequentam o 9º e o12º ano de
escolaridade.
Os dados obtidos irão permitir informação sobre o impacto da indecisão
vocacional na adaptabilidade e no funcionamento psicossocial dos adolescentes. De
modo a garantir a confidencialidade dos dados, a resposta será anónima e a informação
será tratada quantitativamente e de forma global.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
50
Os questionários serão por mim aplicados em data a combinar com a instituição
e seguindo todos os procedimentos éticos anteriormente assegurados, nomeadamente a
utilização de documentos de consentimento informado e o anonimato no preenchimento
dos referidos questionários.
Antecipadamente grata pela atenção dispensada
________________________________
Évora, Dezembro de 2016
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
51
Anexo II – Declaração de consentimento informado dos participantes
Declaração de consentimento informado
Designação do Estudo: “Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira e
satisfação com a vida”
Eu, _______________________________________________________________
fui informado(a) que a investigação acima mencionada se destina a analisar a relação
entre a indecisão vocacional com a adaptabilidade e o funcionamento psicossocial dos
adolescentes.
Sei que este estudo envolve a aplicação de dois questionários; um sobre
adaptabilidade na carreira e o outro sobre satisfação com a vida. Foi-me garantida a
confidencialidade dos dados através de resposta anónima aos questionários e de
tratamento global e quantitativo das respostas.
Sei que posso recusar-me a participar ou interromper a qualquer momento a
participação no estudo, sem nenhum tipo de penalização por este facto.
Compreendi a informação que me foi dada, tive oportunidade de fazer perguntas
e as minhas dúvidas foram esclarecidas.
Aceito participar de livre vontade no estudo acima mencionado.
Também autorizo a divulgação dos resultados obtidos no meio científico,
garantindo o anonimato.
Nome do Investigador (a): Sara Cristina Figueira Cabeça
Data Assinatura do Participante
___/___/_____ _________________________________________
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
52
Anexo III – Pedido de autorização aos Encarregados de Educação dos
participantes menores de idade
Departamento de Psicologia
Universidade de Évora
Apartado 94
7002 – 554 Évora
Ex.mo(a). Senhor(a)
Encarregado(a) de Educação
Eu, Sara Cristina Figueira Cabeça, aluna do mestrado em Psicologia, área de
especificação Psicologia da Educação, sob a orientação de Paulo Cardoso, docente do
Departamento de Psicologia da Universidade de Évora, estou a estudar em que medida a
indecisão vocacional se relaciona com a adaptabilidade e o funcionamento psicossocial
dos adolescentes.
Este estudo, intitulado “Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira e
satisfação com a vida”, implica a aplicação de três questionários, um sobre indecisão
vocacional, um sobre adaptabilidade na carreira e o outro sobre satisfação com a vida,
aos alunos desta instituição que frequentam o 9º e o12º ano de escolaridade.
De modo a garantir a confidencialidade dos dados, a resposta será anónima e a
informação será tratada quantitativamente e de forma global. Os participantes deverão
ter autorização prévia do encarregado de educação. Assim, para que o seu educando(a)
possa participar neste estudo, preencha o pedido de autorização abaixo, indicando se
autoriza a participação.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
53
Eu,____________________________________________________ autorizo que o meu
educando,____________________________________________________participe na
investigação - Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira e satisfação com a
vida.
Antecipadamente grata pela atenção dispensada
Évora, Dezembro de 2016
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
54
Anexo IV – Escala de Satisfação com a Vida
Idade: ____ Sexo: M F Ano de Escolaridade____
Por favor indica o teu grau de concordância em relação a cada uma das frases abaixo
indicadas colocando uma X no número que considerares mais correto para a tua
resposta. Utiliza a seguinte escala:
1 = Discordo Totalmente
2 = Discordo parcialmente
3 = Não concordo nem discordo
4 = Concordo parcialmente
5 = Concordo totalmente
1 2 3 4 5
Em muitos aspetos a minha vida aproxima-se do meu ideal.
As minhas condições de vida são excelentes.
Estou satisfeito com a minha vida.
Até agora tenho tido as coisas que considero mais importantes na minha vida.
Se eu pudesse viver a minha vida outra vez, não mudava quase nada.
Obrigada pela tua colaboração
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
55
Anexo V – Escala de Adaptabilidade
Idade: ____ Sexo: M F Ano de Escolaridade____
Considero que sou capaz de: Muito
pouco
Pouco Razoavelmente Bastante Muito
Planear as coisas importantes antes de começar
Pensar como vai ser o meu futuro
Compreender que as escolhas de hoje influenciam o
meu futuro
Preparar-me para o futuro
Tomar consciência das escolhas de carreira que tenho
de fazer
Planear como alcançar os meus objetivos
Estar preocupado(a) com a minha carreira
Manter sempre o ânimo
Tomar decisões por mim próprio(a)
Assumir a responsabilidade pelos meus atos
Defender as minhas convicções
Contar comigo próprio(a)
Fazer o que é melhor para mim
Arranjar forças para continuar
Explorar aquilo que me rodeia
Procurar oportunidades para me desenvolver como
pessoa
Explorar alternativas antes de fazer uma escolha
Estar atento(a) às diferentes maneiras de fazer as
coisas
Analisar de forma aprofundada questões que me
dizem respeito
Procurar informação sobre as escolhas que tenho de
fazer
Ser curioso(a) sobre novas oportunidades
Realizar tarefas de forma eficiente
Pessoas diferentes utilizam recursos diferentes para construir a sua carreira e a sua vida. Ninguém é bom
em tudo. Cada um procura dar o melhor de si. Por favor lê cada afirmação e depois, para indicares a tua
resposta, utiliza a seguinte escala assinalando com um X a resposta que para ti for a mais correta.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
56
Ser consciencioso(a) e fazer as coisas bem
Desenvolver novas competências
Dar sempre o meu melhor
Ultrapassar obstáculos
Resolver problemas
Enfrentar desafios
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
57
Anexo VI - Questionário das Dificuldades de Tomada de Decisão de Carreira
Com este questionário pretendemos localizar possíveis dificuldades relacionadas
com a tomada de decisão de carreira. Por favor pedimos-lhe que comece por
preencher a seguinte informação:
Idade: _____ Ano de escolaridade: _____ Sexo: F M
Já considerou qual a área em que gostaria de se especializar ou qual a ocupação que
gostaria de escolher?
Sim Não
Em caso afirmativo, até que ponto está confiante na sua escolha?
Nada confiante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito confiante
De seguida, ser-lhe-á apresentada uma lista de afirmações relativas ao processo de
tomada de decisão de carreira. Avalie o grau em que cada afirmação se aplica a si,
considerando a seguinte escala:
Não me descreve 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Descreve-me bem
Coloque um círculo à volta do número 1 se a afirmação não o descreve e do número 9
se o descreve bem. É claro que pode assinalar qualquer um dos níveis intermédios.
Por favor responda a todas as questões.
Indecisão Vocacional, adaptabilidade na carreira Sara Cabeça
e satisfação com a vida
58
Por favor, para cada afirmação coloque um círculo à volta do número que melhor
o descreve
1. Sei que tenho de escolher uma carreira, mas não tenho a motivação para tomar a decisão
agora (“não me apetece”).
Não me descreve 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Descreve-me bem
2. O trabalho não é a coisa mais importante na vida e, por isso, a questão da escolha de
uma carreira não me preocupa muito.
Não me descreve 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Descreve-me bem
3. Acredito que não tenho de escolher uma carreira neste momento, porque o tempo levar-
me-á à escolha da carreira “certa”.
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4. Habitualmente tenho dificuldade em tomar decisões.
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5. Habitualmente sinto necessidade de ter a confirmação e o apoio nas minhas decisões por
parte de um profissional ou de outras pessoas da minha confiança.
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6. Habitualmente tenho medo de falhar.
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7. Gosto de fazer as coisas à minha maneira.
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8. Espero que ao entrar na carreira que escolher se resolvam, também, os meus problemas
pessoais.
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9. Acredito que só há uma carreira adequada para mim.
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10. Espero realizar todas as minhas aspirações através da carreira que escolher.
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11. Acredito que a escolha de carreira é uma escolha única e um compromisso para toda a
vida.
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12. Faço sempre aquilo que me dizem, mesmo que isso vá contra a minha vontade.
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13. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque desconheço os passos
que tenho de tomar.
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14. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não sei que factores devo ter em atenção.
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15. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não sei como combinar a
informação que tenho sobre mim com aquela que tenho sobre as várias carreiras.
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16. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque continuo sem saber
quais as ocupações que me interessam.
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17. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque ainda não estou certo
acerca das minhas preferências de carreira (por exemplo, que tipo de relação quero ter
com as pessoas, que ambiente de trabalho prefiro).
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18. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque ainda não disponho de
informação suficiente sobre as minhas competências (por exemplo, capacidade
numérica, competências verbais) e/ou sobre os meus traços de personalidade (por
exemplo, persistência, iniciativa, paciência).
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19. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque desconheço quais serão,
no futuro, as minhas capacidades e/ou traços de personalidade.
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20. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não disponho de
informação suficiente sobre a variedade de ocupações ou os programas de formação
existentes.
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21. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não disponho de
informação suficiente sobre as características das ocupações e/ou os programas de
formação que me interessam (por exemplo, a procura do mercado, os rendimentos
típicos, as possibilidades de progressão, ou os pré-requisitos das alternativas de
formação profissional).
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22. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não sei como serão as
carreiras no futuro.
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23. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não sei como obter
informação adicional sobre mim (por exemplo, sobre as minhas capacidades ou traços
de personalidade).
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24. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não sei como obter
informação precisa e actualizada sobre as ocupações e os programas de formação
existentes, ou sobre as suas características.
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25. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque mudo constantemente de
preferências de carreira (por exemplo, por vezes quero ter um emprego por conta
própria e outras vezes trabalhador por conta de outrem).
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26. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque disponho de informações
contraditórias sobre as minhas capacidades e/ou traços de personalidade (por exemplo,
considero-me paciente com as outras pessoas, mas os outros dizem que sou
impaciente).
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27. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque disponho de dados
contraditórios acerca da existência ou das características de uma determinada ocupação
ou programa de formação.
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28. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque estou igualmente
interessado/a em várias carreiras e é-me difícil escolher entre elas.
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29. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque não gosto de nenhuma
ocupação ou programa de formação em que posso ser admitido.
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30. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque a ocupação em que estou
interessado/a tem características que me aborrecem (por exemplo, estou interessado/a
em medicina, mas não quero estudar durante tantos anos).
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31. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque as minhas preferências
não podem ser combinadas numa única carreira, e não quero abdicar de nenhuma delas
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(por exemplo, gostaria de trabalhar como freelancer, mas também desejo ter um
rendimento estável).
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32. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque as minhas competências
e capacidades não correspondem aquelas que são requeridas pela ocupação em que
estou interessado/a.
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33. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque as pessoas que são
importantes para mim (como os pais ou amigos) não concordam com as opções de
carreira que estou a considerar e/ou as características da carreira que desejo.
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34. Considero que é difícil tomar uma decisão de carreira, porque existem contradições
entre as recomendações de diferentes pessoas que considero importantes sobre as
carreiras mais adequadas para mim ou sobre as características das carreiras que devem
orientar as minhas decisões.
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Por último, como avaliaria o grau da sua dificuldade em tomar uma decisão de carreira?
Baixa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Alta
Obrigado pela colaboração
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